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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.

0007

A C Ó R D Ã O
7ª TURMA
VMF/db/drs

RECURSO DE REVISTA DA AMBEV – HORAS


EXTRAORDINÁRIAS – MANIPULAÇÃO E
FRAUDE DOS CONTROLES DE HORÁRIO –
REEXAME DE FATOS E PROVAS. Na
hipótese, a Corte local, ao decidir o
litígio, empreendeu acurada análise
do acervo probatório dos autos para a
formação de seu convencimento, em
especial a prova oral e documental.
Concluiu que efetivamente os
controles de ponto eram manipulados e
fraudados pela reclamada e que não
havia nos autos elementos suficientes
e capazes de invalidar a jornada
afirmada pelo autor. Assim, o
Tribunal Regional fixou o horário de
trabalho em conformidade com a
petição inicial do reclamante e de
acordo com a Súmula nº 338, I, do
TST. Nesse contexto, é inadmissível o
recurso de revista, pois, para se
chegar à conclusão pretendida pela
recorrente, é imprescindível o
revolvimento fático-probatório.
Incide a Súmula nº 126 do TST.
Recurso de revista não conhecido.
PROCESSO DE CONHECIMENTO -
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA - FATO
GERADOR – JUROS E MULTA DE MORA -
ART. 43 DA LEI Nº 8.212/91, COM A
REDAÇÃO DADA PELA MEDIDA PROVISÓRIA
Nº 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº
11.941/2009 – EFICÁCIA DESDE SUA
ENTRADA EM VIGOR – PRAZO NONAGESIMAL
OBSERVADO – PERÍODO DE PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO ANTERIOR À EDIÇÃO DA LEI.
Para os serviços prestados até
5/3/2009, quando o crédito
trabalhista é questionado
judicialmente, a obrigação
previdenciária é devida a partir do
segundo dia do mês seguinte à
liquidação da sentença, nos termos do
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art. 276, caput, do Decreto nº


3.048/1999. Ressalte-se que, sob pena
de ofensa ao princípio da
irretroatividade da lei, o art. 43, §
2º e § 3º, da Lei nº 8.212/90, com a
redação conferida pela Medida
Provisória nº 449, de 4/12/2008,
convertida na Lei nº 11.941/2009 -
que estabeleceu como fato gerador das
contribuições previdenciárias a data
da prestação dos serviços e
determinou a incidência dos
acréscimos moratórios desde a época
da prestação laboral -, somente tem
aplicação quando a prestação dos
serviços ocorrer após 5/3/2009.
Destaque-se que, nos termos do art.
195, § 6º, da Carta Magna, as
contribuições sociais só poderão ser
exigidas após decorridos 90 dias da
data da publicação da lei que as
houver instituído ou modificado.
Portanto, em virtude de a Lei nº
11.941, de 27/5/2009, ser originária
da conversão da Medida Provisória nº
449, de 3/12/2008, publicada no DOU
do dia 4/12/2008, o início da
contagem do mencionado prazo de 90
dias deve ser feito da publicação da
Medida Provisória, e não da lei
resultante da sua conversão.
Recurso de revista conhecido e
provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Recurso de Revista n° TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007, em que é
Recorrente COMPANHIA DE BEBIDAS DAS AMÉRICAS - AMBEV e Recorrido
LINO MOTA DA SILVA.

O 12º Tribunal Regional do Trabalho, mediante o


acórdão a fls. 778-794, deu parcial provimento ao recurso ordinário
interposto pela reclamada, para, entre outros tópicos, rejeitar as
preliminares de nulidade do processo por cerceamento do direito de
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defesa e de nulidade da sentença por negativa de prestação


jurisdicional e por julgamento extra petita, e, no mérito, para que
se observe o adicional de 50% para o cálculo das horas
extraordinárias e para excluir da condenação as diferenças dos
repousos semanais remunerados oriundas da integração das horas
extraordinárias no cálculo das férias, da gratificação natalina, do
aviso prévio e do FGTS, na forma do entendimento assentado na
Orientação Jurisprudencial nº 394 da SBDI-1 do TST.
Afirmando haver omissões e obscuridades no
julgado, a reclamada opôs embargos de declaração, a fls. 798-803.
A Corte local, a fls. 804-811, acolheu
parcialmente os embargos declaratórios para, concedendo efeito
modificativo ao julgado, determinar que a multa aplicada à ré pelo
oferecimento de embargos considerados meramente protelatórios no
primeiro grau de jurisdição seja calculada no importe de 1% sobre o
valor da causa, nos termos do parágrafo único do art. 538 do CPC.
Inconformada, a reclamada interpõe recurso de
revista, conforme petição e razões expendidas a fls. 816-849, no
qual busca a reforma da decisão proferida pela Corte regional,
arguindo as prefaciais de nulidade processual por cerceamento do
direito de defesa e de nulidade do acórdão regional por negativa de
prestação jurisdicional, bem como o reexame das questões atinentes
às horas extraordinárias, pagamento integral do intervalo
intrajornada parcialmente fruído, adimplemento em dobro dos repousos
semanais e das folgas trabalhadas, da multa decorrente da oposição
de embargos de declaração considerados meramente protelatórios,
indenização por danos morais e estéticos, e fato gerador das
contribuições previdenciárias.
O recurso de revista foi admitido pela decisão
singular a fls. 854-857.
Não foram apresentadas contrarrazões, conforme
certificado a fls. 859.
Em face do pedido de desistência parcial do
recurso de revista quanto ao tópico intitulado de "Danos Morais", o
Ministro Relator originário do feito, Ives Gandra Martins Filho,
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homologou-a nos termos dos arts. 501 do CPC e 106, V, do RITST,


determinando o prosseguimento do feito quanto aos demais temas, a
fls. 882.
Dispensado o parecer do Ministério Público do
Trabalho, nos termos do art. 83 do RITST.
É o relatório.

V O T O

1 – CONHECIMENTO
Presentes os pressupostos recursais extrínsecos
concernentes à tempestividade (fls. 812 e 816), à representação
processual (fls. 651-653) e ao preparo (fls. 757-758 e 850), passo
ao exame dos pressupostos específicos de admissibilidade.

1.1 - NULIDADE PROCESSUAL – CERCEAMENTO DE DEFESA


– PROVA EMPRESTADA
A Corte local rejeitou a preliminar de nulidade
processual por cerceamento de defesa arguida pela reclamada, sob os
seguintes fundamentos, a fls. 780-781:

PRELIMINAR DE NULIDADE DO PROCESSO POR


CERCEAMENTO AO DIREITO DE DEFESA
Argumenta a recorrente que por ocasião da audiência instrutória a
magistrada a quo determinou a juntada de documentos estranhos ao
presente feito e relativos a outros processos que tramitaram perante a Vara
de origem a fim de firmar seu convencimento quanto à inveracidade do
horário consignado nos cartões-ponto. Alega que o referido procedimento
viola o disposto nos arts. 128 e 460 do CPC, na medida em que a produção
de prova depende da iniciativa da parte.
Razão não lhe assiste.
De plano cabe destacar que o magistrado dispõe de ampla liberdade
na direção do processo (art. 765 da CLT), podendo determinar as provas

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necessárias à instrução do feito a fim de formar seu convencimento,


consoante orienta o art. 130 do CPC.
No caso dos autos, não se trata simplesmente de juntada de
documentos estranhos à lide, porquanto na sua essência remontam a análise
de prática adotada pela ré que prejudica o empregado no tocante as horas
efetivamente trabalhadas.
Rejeito a preliminar.

A reclamada, nas razões do recurso de revista,


alega que o reclamante, quando instado a falar sobre os documentos
que acompanharam a contestação, não apontou qualquer
incompatibilidade entre os horários anotados nos cartões-de-ponto e
os dias em que recebeu os equipamentos de proteção individual
(EPIs), ocorrendo preclusão do direito obreiro de apontar alguma
irregularidade existente nos referidos documentos ou eventuais
discrepâncias entre os cartões-de-ponto e as retiradas dos EPIs.
Sustenta que o juízo da instrução determinou a
juntada aos autos de documentos relativos a outros processos,
valendo-se, para tanto, do singelo argumento de que a colação desses
documentos seria necessária para "o fim de trazer elementos para
formar a convicção do Juízo" (fls. 544 e 817).
Argumenta que a condenação imposta na sentença e
mantida pelo Tribunal Regional decorreu da consideração do teor
dessa prova emprestada colacionada nos autos e também de outros
documentos que nem sequer foram juntados ao presente processo.
Alega, ainda, que não anuiu com a produção de
prova emprestada e que a juntada de documentos é faculdade da parte,
quando entender conveniente e de acordo com a manifestação da parte
adversa, circunstância que não restou observada no caso dos autos,
sendo certo que a reclamada nem sequer se manifestou sobre o teor da
prova emprestada, fato que somado aos demais relatados acima acabou
por macular a instrução do feito, ferindo a isonomia no tratamento
das partes.
Também sustenta que a decisão proferida no
primeiro grau de jurisdição ampliou os limites da controvérsia, o
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que corrobora a tese de nulidade, devendo ser determinado o retorno


dos autos à Vara de origem para a reapreciação da matéria atinente
ao suposto trabalho realizado nos dias destinados a folgas e
feriados, sob a ótica estrita dos argumentos apresentados pelas
partes e dos documentos efetivamente juntados aos autos.
Aponta violados os arts. 794 e 818 da CLT, 128,
183, 333, I, e 460 do CPC e 5º, LV, da Constituição Federal.
Colaciona arestos com o intuito de demonstrar a divergência
jurisprudencial.
De   partida,   sinale­se   que,   ao   contrário   do
afirmado   pela   recorrente,   o   reclamante,   já   na   petição   inicial,
afirma que os cartões­de­ponto não são fidedignos, registrando que
"os   cartões   de   ponto   não   revelam   a   real   jornada   de   trabalho
laborada, ficando, desde já, impugnados" (fls. 8). 
Além   disso,   por   ocasião   da   manifestação   do
reclamante acerca dos documentos apresentados pela reclamada com a
defesa   (fls.   378­384),   ficou   registrado   o   fato   de   não   terem   sido
juntados   os   controles   de   horário   referentes   a   todo   o   contrato   de
trabalho.   Também   foram   impugnados   vários   cartões­de­ponto   por   não
conterem assinatura da reclamante e não registrarem o real horário
laborado. 
O   reclamante   afirmou,   naquela   ocasião,   que   o
sistema   de   registro   de   ponto   eletrônico   era   manipulado   pela
reclamada, tendo apresentado cópia da sentença proferida no processo
nº   TRT­2332/2002­029­12­00­5,  na   qual  foi   reconhecida  a   invalidade
das anotações constantes em registros de horário de outro empregado
da ré. 
Após   o   encerramento   da   instrução   na   audiência
realizada   no   dia   8/10/2009   (fls.   534),   o   julgador   de   origem,
salientou   a   existência   de   controvérsia   quanto   à   regularidade   dos
registros   de   horário   e   a   alegação   do   reclamante   acerca   da
manipulação   do   ponto   eletrônico.   Frisou   que   em   outro   processo   que
tramitava na 2ª Vara do Trabalho de Lages/SC de nº 01334­2008­029­
12­00­2, foi determinada a realização de perícia para constatar se é
possível a efetiva manipulação do referido ponto.
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Registrou "que o resultado de tal perícia pode ser
de   suma   importância   para   a   solução   de   alguns   pedidos   do   presente
feito" (fls. 536) e, diante de tais fatos,  determinou a reabertura
da instrução processual para que seja aguardada a conclusão do laudo
pericial naqueles autos. 
As   partes   foram   devidamente   intimadas   acerca   da
reabertura   da   instrução   processual   a   fls.   538,   no   dia   29/3/2010.
Também   foram   intimadas   acerca   da   audiência   de   nova   tentativa   de
conciliação designada para o dia 9/7/2010 (fls. 542). 
Na   ocasião   da   referida   audiência,   restou
consignado na ata que, nos autos do processo nº 01334­2008­029­12­
00­2,  a  perícia  determinada  no  registro  de  ponto  da  reclamada  foi
suspensa,  considerando  que  o  perito  demorou  mais  de  10  meses  para
entregar o laudo, que acabou não sendo realizado. 
Considerando tal fato, o juízo do primeiro grau de
jurisdição deu prosseguimento  à instrução do feito, determinando a
juntada aos presentes autos "de folhas de ponto e de fichas de EPIs
dos   processos   0637­2009­029­12­00­0,   02165­2009­029­12­00­0,   01540­
2009­007­12­00­6   e   00161­2009­007­12­00­9,   com   o   fim   de   trazer
elementos para formar a convicção" (fls. 544). Concedeu às partes o
prazo sucessivo de dez dias, a iniciar pelo autor, para a análise e
manifestação sobre tais documentos.
Ambas   as   partes   manifestaram­se   sobre   a   prova
emprestada, o reclamante a fls. 636 e a reclamada a fls. 638­639. 
O   obreiro,   após   examinar   os   novos   documentos,
salientou que seu teor é suficiente para provar a infidelidade dos
registros de jornada. Apontou, por exemplo, a informação constante
na   folha   de   entrega   de   EPI   ao   Sr.   Marcelo   Araújo   Ramos   no   dia
16/8/2008, dia que, segundo consta na folha de ponto como, era de
folga e no qual tal ex­empregado da reclamada não teria trabalhado.
Frisou   que   tal   situação   se   repete   em   várias   outras   ocasiões,
conforme se verifica pelo simples cotejo dos documentos colacionados
nos autos. 
A   reclamada,   em   sua   posterior   manifestação,
afirmou não concordar com a utilização da prova emprestada, pois diz
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respeito a pessoas diversas daquelas que figuram no presente feito.
Sinale­se   que   a   ré,   apesar   de   ter   ciência   do   pronunciamento   do
reclamante, nada referiu sobre seu teor.
Desse   modo,  não   prevalece   a   alegação   recursal   de
que houve preclusão do direito obreiro para apontar irregularidades
existentes   nos   documentos   ou   eventuais   discrepâncias   entre   os
registros de horário e as folhas de entrega dos EPIs, uma vez que a
invalidade de tais registros era a tese central do reclamante desde
a   petição   inicial,   foi   reiterada   por   ocasião   da   sua   manifestação
sobre   os   documentos   apresentados   com   a   defesa   e   sobre   a   prova
emprestada.
Além   disso,   beira   a   litigância   de   má­fé   o
argumento apresentado nas razões do recurso de revista da reclamada
no   sentido   de   que   "a   maioria   dos   casos   relatados   em   sentença
(mantida   no   TRT)   sequer   foi   submetida   à   apreciação   da   reclamada,
sendo que a mesma sequer se manifestou a este respeito nos autos, o
que   fere   a   ampla   defesa   (art.   5º,   LV,   CFB)"   (fls.   819).   Como
salientado   acima,   a   reclamada   foi   devidamente   intimada   para   se
manifestar   sobre   a   prova   emprestada,   tendo   acesso   aos   autos   e,
inclusive ao teor da manifestação já apresentada pelo reclamante, de
modo que foi respeitado o princípio da ampla defesa.
Verifica­se,   ainda,   que   o   julgador   de   origem
registrou na sentença que várias reclamações trabalhistas que contêm
a mesma alegação de manipulação e de fraude existente nos registros
de   horários   dos   empregados   da   reclamada   foram   ajuizadas   nas   duas
Varas de Trabalho de Lages/SC. Frisou que tal procedimento adotado
pela reclamada tem o objetivo de "reduzir a jornada laborada, com o
fim   de   compensar   um   maior   número   de   horas   extras   e   pagar   poucas
horas suplementares, para diminuir o custo dos produtos da empresa,
cumprir as metas e aumentar os lucros" (fls. 666).
Foi   salientado,   ainda,   na   sentença   que   a   prova
oral   produzida  nesses   inúmeros  processos   dificilmente  comprovava   a
alegação   de   manipulação   e   fraude   nos   registros   de   horário,   pois
algumas   testemunhas   diziam   que   a   manipulação   ocorria   por   meio   da
redução  do  número  de  horas  laboradas  no  dia,  outras  afirmavam  que
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ocorria com os registros de folgas em dias efetivamente laborados e
outras,   ainda,   com   a   afirmação   de   ocorrência   desses   dois
procedimentos.   Todavia,   apesar   da   fragilidade   da   prova   oral,   o
julgador de origem deixou claro que todas as testemunhas diziam que
"por mais que laborassem horas extras, às vezes em jornadas de doze
horas ou que chegavam a importar dois turnos seguidos, nunca havia
saldo positivo de horas a compensar ou, quando havia, era em número
muito   pequeno,   não   correspondente   ao   efetivamente   laborado"   (fls.
666).
A   corroboração   de   tal   procedimento   adotado   pela
reclamada   restou   evidenciada   quando   o   advogado   de   vários   dos
reclamantes,   após   analisar   os   inúmeros   documentos   apresentados,
verificou   que   os   empregados   da   reclamada,   por   diversas   vezes,
segundo   registrado   nas   folhas   de   entrega   de   EPIs,   retiravam   tais
equipamentos em dias de folgas, de faltas ou de férias, elencando, a
título exemplificativo, vários processos em que foi constatada tal
prática. 
Sinale­se   que,   por   outro   lado,   que   constituem
requisitos para a prova emprestada: que tenha ocorrido a produção da
prova   entre   as   mesmas   partes   ou   uma   das   partes   e   terceiro,   em
regular processo judicial; que no processo judicial em que produzida
a   prova,   tenham   sido   observados   o   devido   processo   legal   e   o
contraditório;   que   o   fato   provado   seja   idêntico.   Tais   requisitos
restaram   atendidos   no   caso,   sendo   certo   que   todos   os   processos
listados na sentença e nos quais restou evidenciada a manipulação e
fraude dos controles de jornada dizem respeito à mesma reclamada que
figura no presente feito.
Outrossim,   nos   termos   do   art.   131   do   CPC,   o
julgador tem a liberdade de apreciação da prova, desde que indique,
em sua decisão, os fundamentos que lhe levaram ao convencimento, o
que, no caso, restou observado.
Frise­se que o comando erigido no referido artigo
decorre da consagração de dois princípios: o princípio da primazia
da realidade sobre a forma, "poderoso instrumento para a pesquisa e

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encontro da verdade real em uma situação de litígio trabalhista", e
o princípio processual da persuasão racional do magistrado.
Da mesma forma, nos termos do art. 335 do CPC, o
juiz, em falta de normas jurídicas particulares, aplicará as regras
de   experiência   comum   subministradas   pela   observação   do   que
ordinariamente   acontece,   situação   ocorrida   nos   autos,   em   que   os
fatos ocorridos no âmbito da empresa reclamada em relação à prática
de   manipulação   e   fraude   dos   registros   de   horário   eram   de
conhecimento do julgador em face dos demais processos que passaram
por   sua   apreciação,   circunstância   que   possibilitou   a   colação   da
prova emprestada com o consentimento das partes, uma vez que na ata
da audiência em que foi determinada tal colação nenhuma das partes
postulou o registro de protesto contra a adoção desse procedimento.
Portanto,   os   trâmites   seguidos   pelas   instâncias
ordinárias   não   configuram   cerceamento   de   defesa   da   reclamada,   ao
revés,   a   alegação   de   nulidade   processual   diante   da   prática
comprovada   (em   vários   processos   e   neste   também)   e   reiterada   de
manipulação e fraude dos registros de horários dos empregados da ré,
beira a litigância de má­fé.
Por   fim,   é   de   se   registrar   que   o   juiz,   no
exercício do seu poder diretivo, deve "velar pela rápida solução do
litígio" (art. 125, II, do CPC), afastando os incidentes que possam
desnecessariamente retardar a prestação jurisdicional.
Dessa   forma,   no   caso   vertente,   não   restou
configurado o cerceamento de defesa da reclamada.
De outra parte, nos termos dos arts. 128 e 460 do
CPC  invocados  nas  razões  do  recurso  de  revista,  a  configuração  de
decisão  extra   petita  ocorre   quando   o   julgador   se   manifesta   sobre
matéria que não foi objeto da demanda.
No caso, a decisão regional afastou a alegação de
que houve julgamento extra petita, registrando expressamente que foi
postulado   na   exordial   o   pagamento   de   horas   extraordinárias.   Além
disso,   consoante   já   salientado   acima,   a   observância   dos   elementos
fático­probatórios   contidos   na   prova   emprestada   com   o   intuito   de
elucidar a controvérsia não implica julgamento extra petita.
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Incólumes,  portanto,   os  dispositivos   apontados  na


revista.
Ademais,   os   arestos   trazidos   a   cotejo   não   servem
ao   intuito   de   demonstrar   a   divergência   jurisprudencial,   pois   não
partem   das   mesmas   premissas   fáticas   analisadas   e   delineadas   no
acórdão   recorrido,   afigurando­se   inespecíficos.   Óbice   das   Súmulas
nºs 23 e 296 do TST.
Não conheço.

1.2   –   NULIDADE   DA   DECISÃO   DE   EMBARGOS   DE


DECLARAÇÃO PROFERIDA PELO TRIBUNAL REGIONAL – NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL
A   reclamada   alega,   nas   razões   do   seu   recurso   de
revista,   que   a   Corte  a   quo,   ao   julgar   os   embargos   de   declaração
opostos   pela   reclamada,   não   se   manifestou   sobre   os   seguintes
aspectos que eram essenciais à solução da controvérsia:
a)   no   tocante   às   folgas,   era   fundamental   a
delimitação   da   condenação   de   acordo   com   o   pedido   formulado   na
petição inicial;
b) no que diz respeito ao intervalo intrajornada,
não   foi   considerado   o   fato   de   eles   terem   sido   pré­assinalados,
tampouco analisada a controvérsia sob a ótica das normas atinentes à
distribuição do ônus da prova;
c)   quanto   à   multa   decorrente   da   oposição   de
embargos   de   declaração   considerados   meramente   protelatórios   pelo
juízo do primeiro grau de jurisdição, não foi considerado o fato de
o reclamante também ter oposto embargos declaratórios.
Aponta violados os arts. 832 da CLT, 458, II, do
CPC   e   93,   IX,   da   Constituição   Federal,   bem   como   traz   arestos   a
cotejo.
O   Tribunal   Regional   do   Trabalho,   ao   examinar   os
embargos de declaração opostos pela reclamada, consignou o seguinte,
a fls. 806­807:

2. Folgas. Limites da lide.


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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

Alega a embargante que ao serem deferidas as folgas semanais no


sistema 2X2 foi extrapolado os limites da lide.
Quanto ao particular a recorrente limitou-se a defender em sua peça
de recurso que sempre que ocorreu labor em dia destinado ao descanso
semanal (folga), houve a devida concessão de folga, nada referindo sobre as
folgas do labor no sistema 2X2 e decisão proferida fora dos limites da lide,
razão pela qual rejeita-se a pretensão da embargante.
Rejeito.
3. Intervalo intrajornada
Afirma a embargante que em se tratando de prova divida a questão
deve ser interpretada contrariamente ao litigante que tem o ônus de
comprovar sua tese. Neste passo, repisa a alegação de que a pré-assinalação
do cartão-ponto impede que a matéria seja enfrentada simplesmente pela
desconsideração dos cartões-ponto, como preconiza a Súmula 338 do TST.
A fundamentação do acórdão é nítida neste aspecto, porquanto
comprovada nos autos a manipulação dos registros de ponto, que os torna
absolutamente imprestáveis como meio de prova da jornada desenvolvida, e
tendo as testemunhas relatado que os intervalos intrajornada eram
habitualmente desrespeitados, não há como conferir validade à pré-
assinalação destes intervalos, devendo prevalecer as médias indicadas na
peça exordial.
Ademais, impende consignar que a análise dos depoimentos
testemunhais é efetuada conforme livre convencimento motivado do juiz,
aliado ao fato de que a pretensão da embargante é a reapreciação da prova,
contudo, a presente medida não se constitui em meio processual próprio
para rediscutir matéria julgada quando a parte embargante não demonstra a
existência de omissão, contradição ou obscuridade, na forma preconizada
pelos arts. 535 do Código de Processo Civil e 897-A da CLT.
Rejeito os embargos.
4. Multa por embargos protelatórios
O acórdão objurgado consta análise fundamentada pela qual se
entendeu que os embargos de declaração ofertados à sentença proferida em
primeira instância revestiam-se de cunho meramente protelatório, sendo
inexistente a alegada omissão, no particular.

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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

Contudo, de fato houve omissão quanto ao pleito sucessivo para que o


percentual de 1% fosse calculado sobre o valor da causa, e não sobre o
valor da condenação, como determinou-se em sentença.
Com efeito, observando o julgador que a ré opôs embargos de
declaração com finalidade incompatível com o disposto na lei, deveria ser
aplicada a multa de 1% do valor da causa à parte, nos exatos termos
estabelecidos no parágrafo único do art. 538 do CPC.
Acolho os embargos de declaração para, conceder efeito modificativo
ao julgado, determinar que a multa aplicada à ré pelo oferecimento de
embargos de declaração protelatórios em primeiro grau seja calculada no
importe de 1% sobre o valor da causa - parágrafo único do art. 538 do CPC.

Com efeito, verifica-se que a Corte a quo não se


furtou a entregar a totalidade da prestação jurisdicional a que se
encontra constitucionalmente afeta.
Em relação à primeira alegação da reclamada de que
"no tocante às folgas, era fundamental a delimitação da condenação
de   acordo   com   o   pedido   formulado   na   petição   inicial",   vale   o
registro   de   que   foi   deferido,   na   decisão   do   primeiro   grau   de
jurisdição,  o  pagamento  em  dobro  dos  dias  de  descanso  laborados  a
partir   de   15/6/2007,   a   serem   apurados   em   liquidação   de   sentença,
observando­se   o   direito   à   fruição   de   uma   folga   semanal,   com
reflexos. Além disso, foi determinada a consideração do sistema de
trabalho em dois dias seguidos e folgas nos dois subsequentes, mas
com a fruição real de apenas um terço dessas folgas (fls. 676). 
Nas razões de seu recurso ordinário, a reclamada
limitou-se a defender que seria indevida a condenação ao pagamento
em dobro das folgas trabalhadas, pois o labor nesses dias sempre foi
compensado com a fruição de descanso em outro. No apelo ordinário
patronal, não houve referência alguma ao total das folgas fruídas
pelo reclamante no período do contrato de trabalho em que o labor
foi prestado no regime 2X2.
Desse modo, pelo simples fato de não ter havido
arguição específica, nas razões do recurso ordinário, acerca do
extrapolamento do pedido pela condenação imposta na sentença e da
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desconsideração da causa   de   pedir   das   horas   extraordinárias,   em


especial da arguição de que o reclamante "trabalhava 1/3 das folgas
que teria direito a gozar" no lapso em que observado o regime de 2x2
(petição de embargos de declaração, a fls. 800),  não havia como o
Tribunal Regional manifestar-se sobre tal tese apresentada de forma
inovatória quando da oposição dos embargos de declaração.
De outra parte, quanto ao intervalo intrajornada,
foi registrado no acórdão e reiterado na decisão de embargos de
declaração o fato de a prova colacionada nos autos ter demonstrado a
manipulação e fraude perpetrada pela reclamada nos registros de
ponto, o que os torna imprestáveis para efeitos de demonstrar a
jornada efetivamente laborada pelo reclamante. Além disso, a prova
oral produzida evidenciou que o intervalo intrajornada era
habitualmente desrespeitado, não se afigurando válida a sua pré-
assinalação. Diante disso, a Corte a quo manteve a sentença na parte
em que considerou prevalentes as médias indicadas na petição
inicial.
Sinale-se que as normas concernentes à
distribuição do ônus da prova servem para socorrer o Juiz naquelas
hipóteses em que a prova não foi produzida ou se revelou
insuficiente, já que ao Judiciário não se confere o direito de
abster-se de resolver as demandas que lhe são propostas. No caso,
consoante salientado acima, o   Tribunal   Regional   decidiu   a
controvérsia atinente ao intervalo intrajornada com base na análise
dos   elementos   fático­probatórios   contidos   nos   autos,   afigurando­se
despicienda,   portanto,   a   manifestação   acerca   das   regras   de
distribuição do ônus da prova. 
Outrossim,   em   relação   à   multa   decorrente   da
oposição   de   embargos   de   declaração   considerados   meramente
protelatórios, os argumentos apresentados pela recorrente afiguram­
se totalmente desvinculados da realidade, uma vez que, ao contrário
do alegado nas razões do recurso de revista, o reclamante não opôs
embargos   de   declaração   perante   o   juízo   do   primeiro   grau   de
jurisdição,   tampouco   perante   o   Tribunal   Regional.   Ademais,   a
imposição da multa a uma das partes em face da oposição de embargos
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considerados protelatórios não tem qualquer vinculação com eventuais
embargos opostos pela outra parte.
Como se vê, é nítida a intenção da reclamada de,
por meio da arguição de defeitos no julgado, obter a reapreciação do
conjunto   fático­probatório   e   das   teses   estampadas   literalmente   no
acórdão embargado.
A natureza infringente dos embargos de declaração
opostos em segunda instância é cristalina.
O   órgão   julgador   não   precisa   rebater   todos   os
argumentos   da   parte,   mas   deve,   com   base   no   princípio   do   livre
convencimento   motivado   (art.   131   do   CPC),   apresentar   as   razões   de
sua decisão.
Todas   as   questões   essenciais   e   relevantes   para   o
desate da lide foram resolvidas fundamentadamente. 
Não houve negativa de prestação jurisdicional.
Dessa forma, inviável o conhecimento do recurso de
revista da reclamada neste tópico, pois intactos os arts. 93, IX, da
Carta Política; 832 da CLT e 458 do CPC.
Não conheço.

1.3   –  HORAS   EXTRAORDINÁRIAS   –   INVALIDADE   DOS


REGISTROS DE HORÁRIO 
A Corte regional manteve a sentença que considerou
inválidos os registros de horário, verdadeira a jornada de trabalho
apontada   na   petição   inicial   e   deferiu   o   pagamento   de   horas
extraordinárias, nestes termos, fls. 782­785:

HORAS EXTRAS. INVALIDADE DOS CARTÕES DE PONTO


Pretende a reclamada a reforma da sentença que invalidou os cartões-
ponto e fixou a jornada declinada na exordial, deferindo como extras as
excedentes da 8ª diária e reflexos. Sustenta, em síntese, a validade dos
controles de horários e a existência de contradição entre os depoimentos da
prova emprestada. Assevera que não houve prova pericial evidenciando
incorreções no sistema de ponto eletrônico da ré. Salienta que concordou
com a prova emprestada no tocante a validade dos registros e a jornada de
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fls.16

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trabalho, discordando, do procedimento do Juízo de juntar ao feito


documentos referentes a outros processos. Por fim, ressalta que a prova é
dividida e que foi aplicado equivocadamente o entendimento contido na
Súmula n. 338 do TST.
A questão em exame efetivamente é de suma relevância, pois, adentra
no campo da sonegação do mais elementar direito do trabalhador que é a
contraprestação da sobrejornada praticada. Tamanha é gravidade da
situação detectada, que a magistrada de origem invalidou os cartões-ponto e
fixou a jornada declinada na exordial, deferindo como extras as excedentes
da 8ª diária e determinou a expedição de ofícios ao Ministério Público do
Trabalho, Ministério Público Federal, à Delegacia Regional do Trabalho e à
Delegacia de Polícia Federal (fl. 343).
Não se ressente de irregularidade ou afronta a dispositivo legal a
determinação da Juíza que instruiu o presente feito requerer na audiência da
fl. 271 a juntada de folhas de ponto e de fichas de EPIs dos processos nºs
0637-2009-029-12-00-0, 02165-2009-029-12-00-0, 1540-2009-007-12-00-
6 e 00161-2009-007-12-00-9, nos quais constatou-se que nos dias que os
autores das referidas ações receberam EPIs estavam de folga ou faltaram ao
trabalho.
Assim, ao contrário do apregoado pela recorrente, na forma do art.
765 da CLT os Juízes terão ampla liberdade na direção do processo e
velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer
diligência necessária ao esclarecimento dela. É bom lembrar que diante da
dificuldade de se encontrar a verdade acerca de determinado fato, o
magistrado, na condição de condutor do processo deve envidar todos os
esforços para encontrá-la, e uma vez encontrada, não pode fugir dela, como
é o caso dos autos em que a jornada de trabalho registrada nos controles do
ponto da ré não retratam aquela efetivamente praticada pelo trabalhador.
Vencido o aspecto acima e adentrando na análise dos depoimentos
constantes desses autos, verifico que o depoimento em prol da invalidação
dos controles se mostra contundente e convincente, pois disse a testemunha
Fabricio Viapiana que ‘... o depoente registrava o horário de trabalho em
ponto eletrônico; diz que registrava corretamente os horários de entrada e
saída, mas que não constavam corretamente do ponto eletrônico, porque
sempre trabalhava horas extras e estava devendo sempre horas; reclamava
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fls.17

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

com o supervisor que se comprometia a consertar o registro, mas nunca de


fato arrumava, a ré tinha meta para que não ultrapassasse o número de
horas trabalhadas, considerando o banco de horas; o supervisor tinha a
senha por meio da qual poderia diminuir o número de horas trabalhadas;
poderia haver também aumento no número de horas, mas isso era raro,
ocorrendo apenas quando o empregado esquecia de anotar o horário de
trabalho’ (fls. 243/244). Em contraponto, em depoimento da testemunha da
ré disse que ‘... como supervisor, o depoente podia abonar registro de falta
quando o empregado passava o crachá; o depoente não podia alterar os
horários lançados; inicialmente disse que desconhece se o gerente pode
fazer tal tipo de alteração; sendo novamente indagado disse que nem o
gerente pode fazer tal tipo de alteração’ (fl. 244).
Pelas razões acima expostas, tem-se por escorreita a decisão
impugnada que invalidou os cartões-ponto e reconheceu a veracidade da
jornada declinada na exordial.
Dessa forma, porquanto não considerados válidos os referidos
registros de horário, não há falar em validade do sistema de banco de horas.
Destaco, por oportuno, que, em recente decisão proferida pela Seção I
Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho
decidiu aquela Corte que a compensação de jornada de trabalho de que trata
a Súmula nº 85 é inaplicável aos conflitos envolvendo banco de horas, de
forma que o correto não é o pagamento, como extraordinárias, das horas
excedentes à 44ª semanal e apenas do adicional para aquelas excedentes à
8ª diária, mas sim o reconhecimento da nulidade do banco de horas, com o
consequente pagamento das diferenças de horas extraordinárias
correspondentes (E-ED-RR-23240-15.2006.5.09.0654).
Por último, em respeito aos limites da lide impõe-se a reforma da
sentença a fim de que se observe o adicional de 50% para o cálculo das
horas extras (item 11.2 da inicial - fl. 12).
Dou provimento parcial para que se observe o adicional de 50% para
o cálculo das horas extras.

A recorrente, em seu recurso de revista, aponta


ofensa aos arts. 818 da CLT, e 333, I, do CPC, além de contrariedade
à Súmula nº 338 do TST. Traz divergência jurisprudencial.
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Defende ser descabido o pagamento de horas


extraordinárias uma vez que o reclamante não se desincumbiu do seu
ônus de comprovar a existência de horas extraordinárias, porquanto
se limitou a impugnar os registros de horários apresentados pela
reclamada.
Sustenta que, caso não seja este o entendimento,
estar-se-ia diante de uma prova dividida em que, considerando que o
ônus da prova competia ao reclamante, a controvérsia deveria ser
decidida contrariamente a ele.
Alega que a Súmula nº 338 do TST não se aplica ao
caso em análise, pois o controle de horário possui registros
variados.
Na hipótese, a condenação ao pagamento das horas
extraordinárias resultou da desconsideração dos controles de
frequência como forma de registro de horário, porquanto a prova
colhida nos autos revelou que tais registros eram fraudados e
manipulados pela reclamada, não existindo nos autos prova capaz de
invalidar a jornada afirmada pelo autor na petição inicial.
É certo que as folhas de ponto, sobretudo quando
aprovadas em acordo ou convenção coletiva de trabalho, têm validade
formal e presunção de veracidade.
Entretanto, quando as demais provas dos autos
afastam esta presunção de veracidade, os controles de horário perdem
a sua validade.
Esse é o teor da Súmula nº 338, I e II, do TST:

JORNADA DE TRABALHO. REGISTRO. ÔNUS DA PROVA


I - É ônus do empregador que conta com mais de 10 (dez)
empregados o registro da jornada de trabalho na forma do art. 74, § 2º, da
CLT. A não-apresentação injustificada dos controles de freqüência gera
presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho, a qual pode
ser elidida por prova em contrário;
II - A presunção de veracidade da jornada de trabalho, ainda que
prevista em instrumento normativo, pode ser elidida por prova em
contrário.
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Estabelecidas tais questões, na hipótese, a Corte


local, ao decidir o litígio, empreendeu acurada análise do acervo
probatório dos autos para a formação de seu convencimento - em
especial a prova oral e documental - e concluiu que efetivamente os
controles de ponto eram manipulados pela reclamada e que não existia
nos autos prova capaz de invalidar a jornada afirmada pelo autor.
Assim, o Tribunal Regional manteve a sentença na parte em que fixou
o horário de trabalho em conformidade com a petição inicial do
reclamante.
É certo que os Tribunais Regionais são soberanos
na avaliação do conjunto fático-probatório.
Os recursos de natureza extraordinária não podem
constituir sucedâneo para o revolvimento do arcabouço probante. Ao
Tribunal Superior do Trabalho, Corte revisora, cabe somente a
apreciação das questões de direito.
Ultrapassar e infirmar as conclusões alcançadas no
aresto recorrido – validade dos controles de ponto - demandaria o
reexame dos fatos e das provas presentes nos autos, o que é
descabido na estreita via extraordinária.
Incide a Súmula nº 126 do TST.
Ademais, não se há de falar, ainda, em ofensa às
regras de distribuição do ônus da prova, porquanto, a reclamada, por
manter mais de dez empregados e não apresentar registros de ponto
idôneos descumpriu a norma contida no art. 74, § 2º, da CLT, e
atraiu para si o ônus de comprovar que o reclamante não estava
sujeito à jornada e ao labor extraordinário alegado na petição
inicial.
Assim, não havendo prova de que o reclamante não
se sujeitou à jornada declinada na petição inicial, deve aquela
prevalecer.
Os arestos juntados a fls. 823-824, por não
cuidarem de hipótese em que os registros de ponto juntados pela
reclamada foram desconsiderados por serem manipulados e fraudados,

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fls.20

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não se prestam a comprovar dissídio jurisprudencial, pois não


atendem à orientação contida na Súmula nº 296, item I, do TST.
Da mesma forma, o Tribunal Regional não se
manifestou expressamente acerca da existência de prova dividida e
seus efeitos jurídicos, o que inviabiliza o cotejo de entendimento
com os arestos apresentados às fls. 824-825.
Portanto, não desafia conhecimento o apelo de
revista neste tópico, pois necessário o reexame fático-probatório
dos autos para o acolhimento da pretensão recursal, o acórdão
regional está em perfeita conformidade com o posicionamento desta
Corte Superior, restando intactos os preceitos normativos invocados.
Aplicação do art. 896, § 4º, da CLT e da Súmula nº 333 do TST.
Não conheço.

1.4 – INTERVALO INTRAJORNADA


O Tribunal local manteve a condenação ao pagamento
de intervalo intrajornada não usufruído ou parcialmente usufruído,
nos seguintes termos, a fls. 785-786:

INTERVALO INTRAJORNADA
Alega a recorrente ser indevido o pagamento do intervalo
intrajornada, uma vez que o obreiro não fez prova de suas alegações.
Primeiramente, registro que a validade dos cartões ponto já restou
analisada no item anterior, não sendo documento hábil para comprovação
da concessão do intervalo intrajornada.
Informou o autor na inicial que usufruía do intervalo para descanso e
alimentação de no máximo 20 minutos. Fato confirmado pela testemunha
Fabricio Viapiana, que disse que o intervalo intrajornada era de 25 a 30
minutos.
Quanto à integralidade do pagamento restou demonstrada a redução
do intervalo intrajornada para 30 minutos, em descumprimento ao que
dispõe o art. 71 da CLT, devido o pagamento correspondente a uma hora
pela não concessão do intervalo intrajornada, por dia efetivamente
laborado, com acréscimo de 50%, nos termos do parágrafo quarto do artigo
71 da CLT.
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fls.21

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Nesse sentido é a OJ nº 307 do SDI-I do TST, que dispõe:


INTERVALO INTRAJORNADA (PARA REPOUSO
ALIMENTAÇÃO). NÃO CONCESSÃO OU CONCESSÃO
PARCIAL. LEI Nº 8.923/94. DJ 11.08.03. Após a edição da Lei nº
8.923/94, a não-concessão total ou parcial do intervalo intrajornada
mínimo, para repouso e alimentação, implica o pagamento total do
período correspondente, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o
valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT).
Destaque-se que o fundamento do intervalo intrajornada é propiciar
ao empregado tempo para se alimentar e descansar, recuperando suas
energias até o término da jornada. Essa é a finalidade da lei: permitir ao
empregado sua alimentação e a recomposição das suas forças. Por isso,
excepcionados os casos ressalvados em lei, não pode ser admitida a sua
supressão ou redução, visto que o fracionamento desse direito prejudica a
sua própria finalidade. Por isso que ele é devido em sua integralidade.
Nego provimento à súplica.

A   reclamada,   em   seu   recurso   de   revista,   indica


violação   do   art.   5º,   II,   da   Constituição   Federal   e   divergência
jurisprudencial.
Alega que a Súmula nº 338 do TST trata apenas dos
registros   de   entrada   e   saída   dos   empregados,   não   se   aplicando   ao
intervalo intrajornada, sobretudo, quando estes são pré­assinalados.
Sustenta   que   "não   se   pode   entender   pela   imprestabilidade   dos
registros,   ante   a   pré­assinalação   dos   intervalos   em   tela"   (fls.
828). 
Aduz   que   a   prova   produzida   nos   autos   demonstrou
que o intervalo intrajornada de uma hora do autor era pré­assinalado
nos   registros   de   horário.   Sustenta   que,   na   pior   das   hipóteses,   o
caso se encaminha para a prova dividida, devendo a controvérsia ser
solucionada   contrariamente   ao   reclamante,   a   quem   cabia   o   ônus   de
provar   o   fato   constitutivo   do   seu   direito,   do   qual   não   se
desincumbiu a contento.
Sucessivamente   pugna   que   a   condenação   seja
limitada ao tempo faltante para o cômputo da hora intervalar.
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fls.22

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

No   que   tange   aos   intervalos   intrajornadas,   ainda


que   considerados   inválidos   os   cartões   de   ponto   britânicos,   a   pré­
assinalação dos registros é autorizada por norma legal (art. 74, §
2º,   da   CLT),   gerando   presunção   relativa   de   veracidade   quanto   aos
horários assinalados.
Logo, na hipótese de apresentação de registros de
pontos   com   os   horários   de   intervalo   pré­assinalados,   não   incide   o
teor da Súmula nº 338 do TST, não sendo aplicável a inversão do ônus
probatório, permanecendo com o trabalhador o encargo de demonstrar o
descumprimento  do  período  de  repouso  e  descanso  para  fazer  jus   às
respectivas horas extraordinárias. Inteligência do art. 818 da CLT.
No  caso,  todavia,  a  Corte  regional  não  decidiu  a
lide com base nessa regra de distribuição do ônus probatório, mas,
sim,   com   respaldo   na   prova   colacionada   nos   autos,   em   especial   a
emprestada,   que   corroborou   as   alegações   constantes   da   petição
inicial   do   autor   de   que   os   controles   de   ponto   eram   manipulados   e
fraudados pela ré, circunstância suficiente para demonstrar o fato
constitutivo do direito pleiteado. 
Os   arestos   colacionados   a   fls.   827   desservem   ao
confronto   de   teses,   na   medida   em   que   reportam   situações   em   que   a
demanda foi decidida com base no ônus probatório. No presente caso,
como   dito,   tal   regra   de   julgamento   subsidiária   não   foi   usada,
porquanto   o   convencimento   do   órgão   julgador   se   firmou   sobre   o
conjunto de provas efetivamente produzido no processo. 
Do   mesmo   modo,   o   Tribunal   Regional   não   se
manifestou   expressamente   acerca   da   existência   de   prova   dividida   e
seus efeitos jurídicos, o que inviabiliza o cotejo de entendimento
com os arestos apresentados às fls. 828­829.
Inespecíficos os arestos trazidos, incide o  óbice
das Súmulas nºs 23 e 296, I, do TST.
Por fim, não houve análise pelo acórdão recorrido
acerca da limitação da condenação ao tempo faltante para completar
uma   hora   de   intervalo   intrajornada   e   os   embargos   de   declaração
opostos pela não abordaram esta questão. Óbice da Súmula nº 297, I e
II, do TST.  
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fls.23

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

Não conheço.

1.5 – FOLGA SEMANAL – JULGAMENTO FORA DOS LIMITES
DA LIDE
O Tribunal Regional manteve a sentença na parte em
que condenou a reclamada ao pagamento em dobro dos dias de descanso
laborados a partir de 15/6/2007, a serem apurados em liquidação de
sentença,   observando­se   o   direito   à   fruição   de   uma   folga   semanal,
com   reflexos.   Os   fundamentos   adotados   no   acórdão   regional   estão
lançados a fls. 787:

TRABALHO EM DIAS DE REPOUSO


Alega a recorrente que em razão de o autor já ter sido remunerado
pelo dia normal destinado ao repouso semanal, não lhe é devido o
pagamento em dobro.
Razão não lhe assiste.
As horas laboradas em dias destinados ao repouso devem ser
remuneradas em dobro, independentemente do salário mensal recebido pelo
empregado, sob pena de a contraprestação ser realizada de forma simples,
inferior inclusive às horas suplementares prestadas em dias úteis.
Este, aliás, é o entendimento consolidado na Súmula 146 do TST, in
verbis:
TRABALHOS EM DOMINGOS E FERIADOS, NÃO
COMPENSADOS. O trabalho prestado em domingos e feriados, não
compensado, deve ser pago em dobro, sem prejuízo da remuneração
relativa ao repouso semanal.
Nego provimento.

Em resposta à petição de embargos de declaração, a


Turma regional consignou o seguinte, a fls. 806-807:

Folgas. Limites da lide.


Alega a embargante que ao serem deferidas as folgas semanais no
sistema 2X2 foi extrapolado os limites da lide.

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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

Quanto ao particular a recorrente limitou-se a defender em sua peça


de recurso que sempre que ocorreu labor em dia destinado ao descanso
semanal (folga), houve a devida concessão de folga, nada referindo sobre as
folgas do labor no sistema 2X2 e decisão proferida fora dos limites da lide,
razão pela qual rejeita-se a pretensão da embargante.
Rejeito.

Nas razões de seu recurso de revista, a reclamada
argumenta que deve ser declarada a nulidade do acórdão regional em
face   do   julgamento  extra   petita  ou   a   adequação   da   condenação   aos
limites da lide. 
Salienta   que   foi   deferido   na   sentença   e   mantido
pelo   Tribunal   Regional   o   pagamento   em   dobro   dos   dias   de   descanso
laborados a partir de 15/6/2007, a serem apurados em liquidação de
sentença,   observando­se   o   direito   à   fruição   de   uma   folga   semanal,
com reflexos. 
Todavia,   consoante   registrado   na   causa   de   pedir
constante no item "3.b" da petição inicial, o reclamante "laborava
dois   dias   e   folgava   dois  e   assim   sucessivamente,   no   horário
denominado das 6:00 às 18:00, no entanto, nesse período, trabalhava
1/3 das folgas que teria direito a gozar" (fls. 831). 
Desse modo, no lapso do contrato em que o obreiro
trabalhou no sistema 2x2, dois dias de labor por dois dias de folga,
eram fruídas de três ou quatro folgas por semana, não havendo como
remanescer a condenação imposta. 
Aponta   violação   dos   arts.   5º,   LIV   e   LV,   da
Constituição Federal; 128 e 460 do CPC; 1º da Lei nº 605/49.
No   caso,   como   salientado   no   tópico   "1.2"   deste
acórdão, por ocasião da análise da preliminar de nulidade do acórdão
regional   por  negativa   de  prestação   jurisdicional,  ficou   registrado
que a condenação imposta na sentença foi de pagamento em dobro dos
dias de descanso laborados a partir de 15/6/2007, a serem apurados
em liquidação de sentença, observando­se o direito à fruição de uma
folga   semanal,   com   reflexos.   Além   disso,   restou   determinada   a
consideração do sistema de trabalho em dois dias seguidos e folgas
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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

nos   dois   outros,   mas   com   fruição   real   de   apenas   um   terço   dessas
folgas (sentença, fls. 676). 
Como salientado na decisão de embargos de
declaração proferida pelo Tribunal Regional e após a leitura dos
termos das razões do recurso ordinário interposto pela reclamada,
verifica-se que não houve arguição de julgamento fora dos limites da
lide em relação ao tópico do pagamento em dobro das folgas
laboradas. Constou expressamente na decisão de embargos que, quanto
ao particular, a reclamada apenas argumentou, em sua peça de recurso
ordinário, que seria indevida a condenação ao pagamento em dobro das
folgas trabalhadas, pois, nas ocasiões em que houve tal labor, foi
concedida a compensação em forma de descanso em outro dia. No
recurso ordinário interposto pela reclamada não houve referência ao
total semanal das folgas fruídas pelo reclamante no período do
contrato de trabalho em que o labor foi prestado no regime 2X2.
Desse modo, pelo simples fato de não ter havido
arguição específica nas razões do recurso ordinário acerca do
extrapolamento do pedido pela condenação imposta na sentença, não
havia como o Tribunal Regional manifestar-se sobre argumento
apresentado de forma inovatória apenas quando da oposição dos
embargos de declaração pela reclamada.
Assim,   tendo   em   vista   que,   a   rigor,   o   Tribunal
Regional não se manifestou a respeito dos argumentos apresentados de
forma   inovatória   em   sede   de   embargos   declaratórios,   incide   no
particular o óbice da Súmula nº 297, I e II, do TST, a inviabilizar
a   discussão   das   teses   recursais   na   presente   instância
extraordinária.
Não conheço.

1.6 – MULTA DECORRENTE DA OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO CONSIDERADOS MERAMENTE PROTELATÓRIOS
O   Tribunal   Regional   confirmou   a   decisão   de
embargos   declaratórios   na   parte   em   que   condenou   a   reclamada   ao
pagamento da multa prevista no parágrafo único do art. 538 do CPC.

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Os fundamentos do acórdão regional foram lançados a fls. 791­792, in
verbis:

MULTA POR EMBARGOS PROTELATÓRIOS


Pretende a recorrente excluir da condenação o pagamento da multa de
1% aplicada sobre o valor da condenação aplicada na sentença de embargos
declaratórios, ao fundamento de que a referida medida não tinha caráter
protelatório.
Não procede o inconformismo.
Ao manejar os embargos declaratórios a ré trouxe questões analisadas
pela Julgadora de 1º grau. Ressalto que a questão do ponto eletrônico foi
plenamente julgada, sopesando a julgadora os argumentos que entendia
relevantes. O arbitramento a jornada de trabalho de acordo com o
informado na inicial, bem como ter deferido o pagamento do intervalo
intrajornada sonegado, haja vista a invalidade dos registros de ponto, seguiu
a mesma orientação. O fato de a Julgadora não ter acolhido os argumentos
da recorrente e ter decidido de forma contrária aos seus interesses, não
torna a prestação jurisdicional incompleta.
Com efeito, tem-se que a tese levantada em seus embargos de
declaração se revestiam do cunho meramente protelatório.
Ante o exposto, nego aqui provimento.

A Turma regional acolheu parcialmente os embargos
declaratórios   opostos   pela   reclamada   para,   concedendo   efeito
modificativo ao julgado, determinar que a multa aplicada à ré pelo
oferecimento   de   embargos   de   declaração   protelatórios   perante   o
primeiro grau de jurisdição seja calculada no importe de 1% sobre o
valor da causa. Os fundamentos estão consignados a fls. 808­809:

Multa por embargos protelatórios


O acórdão objurgado consta análise fundamentada pela qual se
entendeu que os embargos de declaração ofertados à sentença proferida em
primeira instância revestiam-se de cunho meramente protelatório, sendo
inexistente a alegada omissão, no particular.

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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

Contudo, de fato houve omissão quanto ao pleito sucessivo para que o


percentual de 1% fosse calculado sobre o valor da causa, e não sobre o
valor da condenação, como determinou-se em sentença.
Com efeito, observando o julgador que a ré opôs embargos de
declaração com finalidade incompatível com o disposto na lei, deveria ser
aplicada a multa de 1% do valor da causa à parte, nos exatos termos
estabelecidos no parágrafo único do art. 538 do CPC.
Acolho os embargos de declaração para, conceder efeito modificativo
ao julgado, determinar que a multa aplicada à ré pelo oferecimento de
embargos de declaração protelatórios em primeiro grau seja calculada no
importe de 1% sobre o valor da causa - parágrafo único do art. 538 do CPC.

Nas   razões   do   recurso   de   revista,   a   reclamada


sustenta   que   não   pretendeu   retardar   o   andamento   do   feito   com   a
oposição dos embargos de declaração, pois "a magistrada não tratou
da prova a respeito da jornada (o que poderia ensejar a supressão de
instância, se o assunto fosse discutido apenas no TRT)" (fls. 832).
Além   disso,   argumenta   que   a   sentença   não   continha   fundamentação
acerca   da   concessão   integral   do   período   referente   ao   intervalo
intrajornada parcialmente fruído. 
Alega  que  o  Tribunal  Regional,  ao  manter  a  multa
prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC, violou os princípios
constantes   na   Constituição   Federal   acerca   do   contraditório   e   da
ampla defesa.
Aponta   violados   os   arts.   5º,   LV,   da   Constituição
Federal e 538, parágrafo único, da CLT, bem como colaciona arestos
com o intuito de demonstrar a divergência jurisprudencial.
No caso, consoante registrado no acórdão regional
e   verifica­se   da   leitura   da   sentença,   da   petição   de   embargos   de
declaração opostos perante o juízo do primeiro grau de jurisdicional
e   da   decisão   de   embargos   proferida   pelo   julgador   de   origem,   que
todos   os   aspectos   da   controvérsia   suscitados   nos   embargos
declaratórios já haviam sido examinados na decisão embargada. 
A   questão   atinente   à   manipulação   e   fraude   dos
registros   de   horário   foi   plenamente   julgada,   tendo   sido   apontados
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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

todos os elementos de prova que ensejaram a declaração de invalidade
de tais registros. O arbitramento da jornada de trabalho de acordo
com os termos aduzidos na petição inicial, bem como o deferimento do
pagamento   do   intervalo   intrajornada   não   fruído,   decorreu   da
invalidade das anotações constantes nas folhas­de­ponto, da ausência
de prova apresentada pela ré com o intuito de afastar a presunção de
veracidade daquela jornada de labor indicada na exordial e diante da
prova produzida nos autos, inclusive no que diz respeito ao não gozo
da   totalidade   do   período   destinado   ao   referido   intervalo
intrajornada.
Desse  modo,  não  havia  vícios  a  serem  sanados  via
oposição de embargos declaratórios.
Observe­se   que   a   mera   alegação   de   que   não   era   o
intuito  da  parte  procrastinar  o  feito  não  elide  a  multa  aplicada,
pois o seu fato gerador independe de aspectos subjetivos daquele que
opõe os embargos de declaração, e sim da constatação objetiva de que
a   insurgência   formulada   não   se   adequava   às   finalidades   previstas
para o recurso em exame.
Se constatado que nada justificaria a oposição dos
embargos de declaração, a imposição da multa é mera consequência. 
À   parte   foram   garantidos   os   direitos   à   ampla
defesa   e   ao   contraditório.   Entretanto,   tais   direitos   devem   ser
exercidos   na   forma,   nos   limites   e   nas   condições   estabelecidos   por
lei.
O julgador do primeiro grau de jurisdição, atento
ao   bom   andamento   do   feito,   nos   termos   dos   arts.   130   e   765   da
Consolidação   das   Leis   do   Trabalho,   zelando   pela   celeridade
processual,   aplicou   a   penalidade.   Assim,   nada   mais   fez   do   que
exercer uma atribuição discricionária, que consiste na possibilidade
de, mediante um juízo de conveniência e de oportunidade, conforme as
circunstâncias dos autos permitirem apreender, obstar a tentativa de
abuso no exercício do direito de defesa pela parte.
Desse   modo,   restam   incólumes   os   dispositivos   da
Constituição Federal e de lei invocados no recurso de revista.

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Os arestos trazidos a cotejo não servem ao intuito
de   demonstrar   a   alegada   divergência   jurisprudencial.   Aquele
transcrito   a   fls.   832­836   diz   respeito   à   situação   fática   análoga
àquela   delineada   no   presente   feito,   em   que   a   aplicação   da   multa
decorreu   da   constatação   do   caráter   meramente   protelatório   dos
embargos   de   declaração   opostos   pela   reclamada   perante   o   juízo   do
primeiro grau de jurisdição. 
Aquele transcrito a fls. 836­837 trata de hipótese
fática   em   que   foi   reputada   pertinente   a   oposição   dos   embargos   de
declaração,   o   que   ensejou   a   exclusão   da   condenação   à   multa   de   1%
sobre   o   valor   da   causa,   situação   diversa   daquela   configurado   nos
presentes   autos,   em   que   restou   demonstrado   o   caráter   protelatório
dos embargos. 
Assim,   não   há   como   conhecer   da   revista   no
particular em face da incidência do óbice das Súmulas nºs 23 e 296,
I,  do  TST,  e  do  não  preenchimento  dos  requisitos  estabelecidos  no
art. 896, "a" e "c", da CLT.
Não conheço.

1.7 – ACIDENTE DO TRABALHO ­ INDENIZAÇÃO POR DANOS
ESTÉTICOS – CONFIGURAÇÃO – RESPONSABILIDADE DA EMPREGADORA
O   Colegiado   regional   manteve   a   sentença   na   parte
em  que  condenou  a  reclamada  ao  pagamento  de  indenização  por  danos
estéticos no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em decorrência
de   acidente   de   trabalho,   consignando   os   seguintes   fundamentos,   a
fls. 789­791:

ACIDENTE DE TRABALHO. DANO MORAL E ESTÉTICO


Sustenta a recorrente não ser aplicável a teoria objetiva na análise das
indenizações por acidente de trabalho, um vez que a própria Constituição
Federal disciplina que a indenização a cargo do empregador por acidente do
trabalho decorre de dolo ou culpa.
Diz que no presente caso não existe nenhuma comprovação de que o
acidente sofrido pelo autor tenha decorrido por culpa da recorrente, visto

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fls.30

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

que ele sempre foi orientado, treinado, possuindo todas as condições


necessárias para o desempenho seguro de suas atividades.
Razão não lhe assiste.
Entendo que a responsabilidade civil do empregador por acidente de
trabalho ou doença profissional equiparada, ocorrido com empregado seu, é
de natureza subjetiva, havendo a necessidade de comprovação do dolo ou
culpa para a caracterização da responsabilidade de indenizar.
Portanto, só haverá obrigação de indenizar se o causador do dano
tiver agido com culpa, em qualquer das modalidades, o que como se verá
não é o caso dos autos. Assim, o objetivo da presente ação é aferir se o
acidente de trabalho sofrido no desempenho das atividades laborais do
reclamante, junto à empresa ré, configura a responsabilidade civil dessa.
No entanto, não resta comprovado que a ré tenha agido com dolo ou
culpa no acidente sofrido pelo reclamante.
Resta incontroverso nos autos a ocorrência de acidente de trabalho,
constando da CAT da fl. 184 que ‘O funcionário estava operando o
equipamento LFG - lavadora - S01, ao levantar as garrafas, uma estava
quebrada, vindo a causar um ferimento contuso, aberto em seu dedo’. O
dedo lesado foi o polegar da mão esquerda.
Conforme se observa dos documentos juntados, a ré procedia à
entrega dos equipamentos de proteção individual (fls. 312/315), no entanto,
esses não foram suficientes para evitar o acidente, tanto que ele ocorreu e
causou o ferimento e a cicatriz.
Por isso, entendo ser procedente o pedido de indenização por danos
morais e estéticos.
Outrossim, considero que o valor estabelecido pelo Julgador de 1º
grau levou em conta o prejuízo de pequena monta no plano estético.
Por essas razões, nego provimento ao recurso, mantendo a
condenação o pagamento da indenização por danos morais no valor de R$
3.000,00 e danos estéticos no valor de R$ 5.000,00.

Nas   razões   do   recurso   de   revista,   a   reclamada


sustenta   que   não   basta   o   fato   de   o   reclamante   ter   adquirido   uma
cicatriz em face do acidente de trabalho ocorrido para que lhe seja
deferido o pedido de indenização por danos estéticos. Argumenta que
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tal condenação somente poderia remanescer acaso restasse provado que
tal cicatriz "o prejudicou ou prejudica em seu convívio pessoal ou
lhe   tenha   causado   prejuízos   de   ordem   emocional"   (fls.   843),
circunstância que não restou provada nos autos.
Colaciona   arestos   com   o   intuito   de   demonstrar   a
alegada divergência jurisprudencial.
Inicialmente, sinale­se que o dano estético ocorre
quando   a   lesão   compromete   a   harmonia   física   da   vítima   e   modifica
permanentemente o aspecto externo do corpo humano.
Trata­se   de   proteção   à   imagem   externa   da   vítima,
mas com aspectos internos, como vaidade, beleza e preconceito.
A rigor, o dano estético não pode ser considerado
um terceiro e destacado gênero de dano, estando incluído no âmbito
do dano moral.
Contudo, a natureza jurídica do dano estético não
impede o arbitramento de indenização específica e destacada para a
reparação dessa lesão individualizada.
Quando o acidente de trabalho causar dano estético
ao   trabalhador,   é   recomendada   a   fixação   de   montante   próprio   e
específico para a lesão estética, para que fique claro o objetivo de
indenizar o acidentado pelo comprometimento de sua aparência física,
sem prejuízo da indenização pelos outros transtornos morais sofridos
pelo obreiro.
No caso dos autos, constou no acórdão regional que
é  incontroversa  nos  autos  a  ocorrência  de  acidente  de  trabalho  no
dia em que o reclamante estava operando a lavadora de recipientes e
que ao levantar as garrafas, uma delas estava quebrada, causando um
ferimento contuso, aberto em deu dedo polegar da mão esquerda.
Ficou   consignado,   ainda,   que   apesar   de   o
reclamante   estar   usando,   na   ocasião,   EPIs,   estes   não   foram
suficientes para evitar o ferimento e a cicatriz que se formou na
mão do acidentado, o que lhe confere o direito ao percebimento de
indenização por danos estéticos.
O entendimento adotado pelo Tribunal Regional está
e consonância com a jurisprudência majoritária desta Corte, segundo
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fls.32

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a   qual   os   reflexos   visíveis   no   corpo   da   vítima   e   na   integridade


física   devem   ser   indenizados   a   título   de   danos   estéticos,   valendo
citar os seguintes precedentes nesse sentido:

ACIDENTE DE TRABALHO. INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS E DANOS ESTÉTICOS. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO.
O mesmo fato - acidente de trabalho - pode acarretar, além da indenização
por dano moral, o dano estético, caracterizado pelo sofrimento causado pela
alteração da harmonia física do trabalhador. A dor intrínseca e o abalo
psicológico são indenizáveis a título de dano moral, e os reflexos visíveis
no corpo da vítima, na integridade física, devem ser indenizados a título de
danos estéticos. Desse modo, o dano estético não se encontra englobado no
dano moral, mas é autônomo em relação a esse, o que autoriza a
indenização cumulada entre ambos, conforme entendimento desta Corte
consubstanciado nos precedentes transcritos na fundamentação. Recurso de
revista conhecido e desprovido. (RR-2001300-61.2006.5.09.0006, Rel.
Min. José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, DEJT de 20/6/2014)

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E ESTÉTICOS.


CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. O entendimento que vem se firmando
nesta Corte Superior é o de que não há óbice à cumulação de pedidos de
indenizações por dano moral e dano estético, pois têm fundamentos
distintos, já que um visa compensar o sofrimento psicológico decorrente do
acidente, e o outro tem por finalidade compensar deformidade ou defeito
físico que dele resultou. Recurso de revista de que se conhece e ao qual se
nega provimento. (RR-687-32.2011.5.09.0093, Rel. Min. Kátia Magalhães
Arruda, 6ª Turma, DEJT de 23/5/2014)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA -


DESCABIMENTO. 1. ACIDENTE DE TRABALHO. DANOS MORAL E
ESTÉTICO. CABIMENTO. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DAS
INDENIZAÇÕES. CONFIGURAÇÃO. Incontroverso que houve lesão
desfiguradora, decorrente de acidente de trabalho, que tornou a pessoa
visualmente desarmônica - dano estético -, e, ainda, desconforto íntimo -
dano moral -, direitos distintos foram lesados, não configurando - bis in
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fls.33

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

idem - a cumulação das indenizações. (AIRR-98000-31.2008.5.15.0125,


Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DEJT de
13/12/2013)

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E DANOS ESTÉTICOS.


CUMULAÇÃO DE PEDIDOS. POSSIBILIDADE. O dano moral não se
confunde com o dano estético, porquanto, ainda que possam advir da
ocorrência de um mesmo fato, possuem fundamentos diversos; resultando
esse de alterações na compleição física da vítima e aquele da angústia
provocada pelo próprio ilícito. (RR-57700-46.2007.5.09.0669, Rel. Min.
João Batista Brito Pereira, 5ª Turma, DEJT de 3/9/2010)

DANO MORAL E DANO ESTÉTICO. CUMULAÇÃO. VALOR DA


INDENIZAÇÃO. Não há que se falar em violação do art. 944, parágrafo
único, do CC, uma vez que o Regional, ao fixar o valor das indenizações se
baseou na extensão do dano e no grau de culpa da reclamada, observando,
portanto, os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Esta Corte já
firmou o entendimento de que é possível a cumulação de condenação em
danos morais e estéticos, uma vez que decorrem de reparações distintas. O
primeiro, consiste em dor e constrangimento decorrentes de ofensa aos mais
elevados sentimentos e valores morais, espirituais e profissionais. Já o
segundo, decorrente de uma lesão à integridade física, prolongada ou
permanente. Precedentes. Incidência da Súmula nº 333 desta Corte c/c o art.
896, §4º, da CLT. Recurso de revista não conhecido. (RR-163500-
08.2008.5.04.0333, Rel. Min. Milton de Moura França, 4ª Turma, DEJT de
26/8/2011)

Além  disso,  o  único  julgado  trazido  a  cotejo  não


trata   de   situação   fática   idêntica   àquela   delineada   no   presente
feito, pois nem sequer refere à hipótese de ocorrência de acidente
de   trabalho   que   causou   cicatriz   permanente   na   mão   do   empregado.
Assim, incide o óbice das Súmulas nºs 23 e 296, I, do TST.
Não conheço.

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fls.34

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

1.8 ­ CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS - FATO GERADOR


– JUROS DE MORA E MULTA
O Tribunal Regional manteve a sentença na parte em
que determinara a incidência de juros pela taxa "Selic" e de multa
moratórios sobre as contribuições previdenciárias a partir da época
da prestação dos serviços. Os fundamentos do acórdão recorrido estão
lançados a fls. 792:

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS - TAXA SELIC. FATO


GERADOR.
Afirma a recorrente que sobre as contribuições previdenciárias devem
incidir a taxa SELIC somente após o dia dois do mês subsequente a ciência
da conta de liquidação.
Razão não lhe assiste.
A aplicação da taxa SELIC decorre do atraso no pagamento das
contribuições previdenciárias devidas na época própria, reconhecendo-se
que o fato gerador é a prestação de serviço, conforme os artigos 30 e 35 da
Lei 8.212/91.
Dispõe o § 4º do art. 879 da CLT que a atualização do crédito devido
à Previdência observará os critérios estabelecidos na legislação
previdenciária, com fundamento nos art. 30 e 35 da Lei 8.212/91, inclusive
quanto à aplicação da taxa SELIC.
Nego provimento.

Em resposta à petição de embargos de declaração, a
Turma regional consignou o seguinte, a fls. 809­810:

Taxa SELIC e multa sobre as contribuições previdenciárias


Pretende a embargante prequestionar o disposto no art. 195, I, ‘a’, da
Constituição Federal, uma vez que tal dispositivo não estabelece como fato
gerador das contribuições previdenciárias incidentes sobre os créditos
decorrentes de condenação judicial a data de seu pagamento ao trabalhador.
Ressalto, por oportuno, que foi lançada tese explícita acerca do ponto
em debate. Ademais, o STF já decidiu que a matéria possui caráter
infraconstitucional, consoante jurisprudências que segue:
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fls.35

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A


CARGO DO EMPREGADOR SOBRE A FOLHA DE SALÁRIOS.
MOMENTO DE OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. PRECEDENTES. 1. O Supremo
Tribunal Federal possui entendimento consolidado de que possui
caráter infraconstitucional a discussão acerca do momento em que
ocorre o fato gerador e a exigibilidade da contribuição previdenciária
devida pelo empregador e incidente sobre a folha de salários.
Precedentes. 2. Agravo regimental improvido. (RE-437642 AgR,
Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em
17/08/2010, DJe-164 DIVULG 02-09-2010 PUBLIC 03-09-2010
EMENT VOL-02413-04 PP-00733).
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA DO EMPREGADOR. FATO GERADOR.
PRAZO PARA RECOLHIMENTO. I. - O estabelecimento do
momento em que se dá o fato gerador e a exigibilidade da
contribuição social devida pelo empregador, incidente sobre a folha
de salários, são questões a serem reguladas mediante legislação
ordinária, que não integra o contencioso constitucional. Precedentes.
II. - Agravo não provido. (AI-508398 AgR, Relator(a): Min.
CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 20/09/2005, DJ
14-10-2005 PP-00015 EMENT VOL-02209-06 PP-01155).
Assim, tendo o acórdão impugnado lançado tese explícita a respeito
da matéria torna desnecessário o prequestionamento das questões suscitadas
pelo embargante, consoante orienta a OJ 118 da SDI-I, do TST:
PREQUESTIONAMENTO. TESE EXPLÍCITA.
INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 297. Inserida em 20.11.97.
Havendo tese explícita sobre a matéria, na decisão recorrida,
desnecessário contenha nela referência expressa do dispositivo legal
para ter-se como prequestionado este.
Rejeito os embargos.

No seu recurso de revista, a reclamada indica


afronta aos arts. 150, III, "a" e "b", 195, I, "a", da Constituição

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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

Federal, 105 e 106 do CTN, 12 e 13 do Decreto nº 4.176/2002 e 22, I,


da Lei nº 8.212/91, bem como traz arestos a cotejo.
Os   arestos   transcritos   nas   razões   do   recurso   de
revista, a fls. 845­846, oriundos do 15º e 22º Tribunais Regionais
do   Trabalho,   autorizam   o   conhecimento   do   recurso   de   revista,   pois
atendem   às   disposições   das   Súmulas   nºs   23,   296   e   337   do   TST,   e
consignam   tese   oposta   àquela   exarada   no   acórdão   recorrido,   no
sentido   de   que   o   fato   gerador   da   obrigação   ao   recolhimento   das
contribuições previdenciárias é o efetivo pagamento.
Assim,  conheço  do recurso de revista patronal, no
particular.

2 – MÉRITO

2.1 - CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS - FATO GERADOR


– JUROS DE MORA E MULTA
De início, impende registrar que a questão em
debate refere-se às contribuições previdenciárias incidentes sobre
as parcelas trabalhistas devidas no contrato de trabalho que
perdurou de 1º/8/2005 a 3/9/2007 (fls. 8 e 90).
Com efeito, é preciso considerar que a incidência
dos juros moratórios e da correção monetária somente tem lugar
quando há atraso no pagamento da parcela a que se obrigou o devedor,
seja por força de ajuste, seja por força de lei. Antes da mora, não
se cogita de incidência de juros moratórios ou correção monetária.
Nesse sentido, quando o direito é litigioso, como
no caso das sentenças trabalhistas que impõem condenação ao
pagamento de verbas remuneratórias sujeitas ao pagamento de
contribuições previdenciárias, não há como fazer incidir juros e
correção monetária antes do reconhecimento do direito e do
transcurso do prazo legal para o pagamento da parcela principal.
É certo que a sentença trabalhista que impõe
condenação ao pagamento de parcelas remuneratórias ostenta natureza
declaratória e condenatória, mas apenas com relação aos direitos

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fls.37

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

trabalhistas reconhecidos em juízo, não alcançando as contribuições


previdenciárias, que não foram objeto do processo de conhecimento.
Sendo assim, o próprio direito da Fazenda Pública
às contribuições previdenciárias estava condicionado à solução
judicial do conflito em torno das verbas remuneratórias que compõem
o salário de contribuição.
Os juros moratórios, como se disse, somente têm
lugar quando há atraso no pagamento da obrigação, o que ocorreu
apenas quando transitado o comando judicial que impôs a condenação
do empregador. Antes disso, havia mera expectativa do empregado e,
consequentemente, não se poderia falar em mora.
O art. 276, caput, do Decreto nº 3.048/99 deixa
clara a época do vencimento da obrigação relativa ao pagamento das
importâncias devidas à seguridade social decorrentes das sentenças
judiciais, estipulando que as contribuições sociais decorrentes de
direitos trabalhistas reconhecidos em juízo somente são devidas no
dia dois do mês seguinte ao da liquidação da sentença.
Confira-se, in verbis, a redação do citado
preceito regulamentar:

Art. 276. Nas ações trabalhistas de que resultar o pagamento de


direitos sujeitos à incidência de contribuição previdenciária, o recolhimento
das importâncias devidas à seguridade social será feito no dia dois do mês
seguinte ao da liquidação da sentença.

Assim, se o direito é litigioso, havendo incerteza


quanto a ser devido ou não ao trabalhador, somente depois de
ultrapassado o prazo para o seu pagamento e verificada a inércia do
devedor do tributo, é que se caracteriza a mora e tem lugar a
incidência dos juros de mora estabelecidos na legislação
previdenciária.
Por sua vez, o art. 879 e seus parágrafos da CLT
assim dispõem:

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fls.38

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

Art. 879 - Sendo ilíquida a sentença exeqüenda, ordenar-se-á,


previamente, a sua liquidação, que poderá ser feita por cálculo, por
arbitramento ou por artigos.
§ 1º - Na liquidação, não se poderá modificar, ou inovar, a sentença
liquidanda nem discutir matéria pertinente à causa principal.
§ 1o-A. A liquidação abrangerá, também, o cálculo das
contribuições previdenciárias devidas.
§ 1o-B. As partes deverão ser previamente intimadas para a
apresentação do cálculo de liquidação, inclusive da contribuição
previdenciária incidente.
§ 2º - Elaborada a conta e tornada líquida, o Juiz poderá abrir às
partes prazo sucessivo de 10 (dez) dias para impugnação fundamentada
com a indicação dos itens e valores objeto da discordância, sob pena de
preclusão.
§ 3o Elaborada a conta pela parte ou pelos órgãos auxiliares da
Justiça do Trabalho, o juiz procederá à intimação da União para
manifestação, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de preclusão.
§ 4o A atualização do crédito devido à Previdência Social
observará os critérios estabelecidos na legislação previdenciária. (g.n)

Na esfera trabalhista a incidência dos juros


moratórios somente tem lugar quando o reclamante provoca o Poder
Judiciário, correndo a partir do ajuizamento da reclamação
trabalhista, conforme preceitua o art. 883 da CLT.
Assim, o termo inicial da incidência dos juros
moratórios e da correção monetária sobre as contribuições
previdenciárias é a apuração do crédito devido ao empregado, sendo
devidos os encargos moratórios somente se ultrapassada a data limite
para o pagamento espontâneo da dívida trabalhista apurada em juízo,
que ocorre a partir do dia dois do mês seguinte ao da liquidação da
sentença.
Ressalte-se que a entrada em vigor da Medida
Provisória nº 449, de 4/12/2008, posteriormente convertida na Lei nº
11.941/2009, alterou a redação do art. 43, § 2º e § 3º, da Lei nº
8.212/91 e deu nova disciplina legal à questão, impondo a
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Superior do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
fls.39

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

modificação desse entendimento jurisprudencial e normativo a partir


de sua vigência, observado o prazo nonagesimal previsto nos arts.
150, III, "c" e 195, § 6º, da Constituição Federal.
A atual redação do art. 43, § 2º e § 3º, da Lei nº
8.212/91, modificada pelos arts. 24 da Medida Provisória nº 449/2008
e 26 da Lei nº 11.941/2009, é a seguinte:

Art. 43. Nas ações trabalhistas de que resultar o pagamento de


direitos sujeitos à incidência de contribuição previdenciária, o juiz, sob
pena de responsabilidade, determinará o imediato recolhimento das
importâncias devidas à Seguridade Social.
§ 1º Nas sentenças judiciais ou nos acordos homologados em que não
figurarem, discriminadamente, as parcelas legais relativas às contribuições
sociais, estas incidirão sobre o valor total apurado em liquidação de
sentença ou sobre o valor do acordo homologado.
§ 2º Considera-se ocorrido o fato gerador das contribuições
sociais na data da prestação do serviço.
§ 3º As contribuições sociais serão apuradas mês a mês, com
referência ao período da prestação de serviços, mediante a aplicação de
alíquotas, limites máximos do salário-de-contribuição e acréscimos
legais moratórios vigentes relativamente a cada uma das competências
abrangidas, devendo o recolhimento ser efetuado no mesmo prazo em que
devam ser pagos os créditos encontrados em liquidação de sentença ou em
acordo homologado, sendo que nesse último caso o recolhimento será feito
em tantas parcelas quantas as previstas no acordo, nas mesmas datas em
que sejam exigíveis e proporcionalmente a cada uma delas. (g.n.)

Percebe-se que o art. 43, § 2º, da Lei nº 8.212/91


realmente estabelece como fato gerador das contribuições
previdenciárias a data da prestação dos serviços.
Além disso, o art. 43, § 3º, da Lei nº 8.212/91 é
expresso em fixar que as contribuições previdenciárias devem ser
apuradas mês a mês, de acordo com período da prestação dos serviços,
devendo incidir as alíquotas, limites do salário de contribuição e

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Superior do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
fls.40

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

acréscimos legais moratórios relativamente a cada uma das


competências abrangidas.
De acordo com a parte final do mesmo art. 43, §
3º, da Lei nº 8.212/91, somente o recolhimento das contribuições
sociais é que deve ser efetuado no mesmo prazo em que devam ser
pagos os créditos encontrados em liquidação de sentença ou em acordo
homologado.
Logo, a partir da entrada em vigor da Medida
Provisória nº 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009, as
contribuições previdenciárias têm como fato gerador a prestação dos
serviços, devendo os juros e multa moratória incidir desde a data da
efetiva realização do trabalho.
Registre-se, no entanto, que conforme disposto no
artigo 195, § 6º, da Constituição Federal, as contribuições sociais
só poderão ser exigidas após decorridos 90 dias da data da
publicação da lei que as houver instituído ou modificado. Portanto,
em virtude de a Lei nº 11.941, de 27/5/2009, ser originária da
conversão da Medida Provisória nº 449, de 3/12/2008, publicada no
DOU do dia 4/12/2008, o início da contagem do mencionado prazo de 90
dias deve ser feito da publicação da Medida Provisória, e não da lei
resultante da sua conversão.
Nesse sentido, o seguinte julgado do Supremo
Tribunal Federal:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO


SOCIAL. MEDIDA PROVISÓRIA: REEDIÇÃO. PRAZO
NONAGESIMAL: TERMO INICIAL. I. - Não perde eficácia a medida
provisória, com força de lei, não apreciada pelo Congresso Nacional, mas
reeditada, por meio de nova medida provisória, dentro de seu prazo de
validade de trinta dias. II. - Princípio da anterioridade nonagesimal: C.F.,
art. 195, § 6º: contagem do prazo de noventa dias; medida provisória
convertida em lei: conta-se o prazo de noventa dias a partir da veiculação
da primeira medida provisória. III. - Precedentes do STF: RE 232.896/PA;
ADI 1.417/DF; ADI 1.135/DF; RE 222.719/PB; RE 269.428-AgR/RR; RE
231.630-AgR/PR. IV. - Agravo não provido. (RE 412567 AgR/RJ -
Firmado por assinatura eletrônica em 20/08/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal
Superior do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
fls.41

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

Relator(a): Min. Carlos Velloso, julgamento: 28/6/2005, Órgão Julgador:


Segunda Turma - publicação DJ 26/8/2005)

Desse modo, como a MP nº 449/2008 foi publicada em


4/12/2008, o marco para incidência dos acréscimos dos §§ 2º e 3º ao
artigo 43 da Lei nº 8.212/91, por meio da Lei nº 11.941/2009, é
5/3/2009, pelo que somente as prestações de serviços ocorridas a
partir dessa data é que deverão ser consideradas como fato gerador
da contribuição previdenciária para o cômputo dos juros e da multa
moratórios então incidentes.
Nessa linha de entendimento encontram-se os
seguintes precedentes desta Corte:

RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA


LEI Nº 11.496/2007 - EXECUÇÃO - ATUALIZAÇÃO DO CRÉDITO
PREVIDENCIÁRIO - FATO GERADOR - TERMO INICIAL - A
Constituição da República veda expressamente a cobrança de tributos em
relação aos fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que
os houver instituído ou aumentado, conforme alínea ‘a’ do inciso III do
artigo 150 da CF. A definição, portanto, a respeito da prestação do serviço
como o fato gerador da contribuição previdenciária somente tem efeito nas
prestações laborais ocorridas a partir da vigência da Medida Provisória n.º
449/08, convertida na Lei 11.941/2009. No caso em tela, como a prestação
de serviços que deu origem às diferenças salariais deferidas ocorreu em
período anterior à vigência da referida MP n. 449/2008, o fato gerador do
crédito previdenciário é a data do efetivo pagamento ao empregado dos
créditos trabalhistas deferidos. Embargos conhecidos e providos. (E-RR-
117500-66.2005.5.15.0100, Rel. Juiz Convocado Sebastião Geraldo de
Oliveira, SBDI-1, DEJT de 9/1/2012)

RECURSO DE REVISTA - PROCESSO DE CONHECIMENTO -


CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA - FATO GERADOR - JUROS E
MULTA DE MORA. Quando o crédito trabalhista é questionado
judicialmente, o momento em que é devida a obrigação previdenciária
ocorre a partir do segundo dia do mês seguinte à liquidação da sentença,
Firmado por assinatura eletrônica em 20/08/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal
Superior do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
fls.42

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

nos termos do art. 276, caput, do Decreto nº 3.048/1999. Logo, os juros e a


multa moratória são aplicáveis somente a partir desse momento, e não
desde a prestação dos serviços. Recurso de revista não conhecido. (RR-
91000-15.2006.5.06.0411, 1ª Turma, Rel. Min. Vieira de Mello Filho, DJ de
12/8/2011)

RECURSO DE REVISTA - CONTRIBUIÇÕES


PREVIDENCIÁRIAS - FATO GERADOR - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
- ART. 43 DA LEI Nº 8.212/90 COM A REDAÇÃO DADA PELA
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 449, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/09 -
CONSTITUCIONALIDADE - EFICÁCIA DESDE SUA ENTRADA EM
VIGOR. O art. 195 da Constituição Federal não trata especificamente da
questão relativa ao fato gerador ou à hipótese de incidência das
contribuições sociais, apenas dispondo acerca das fontes de financiamento
da Seguridade Social, dentre elas as contribuições sociais que especifica. A
norma constitucional, quando muito, revela a base de cálculo das
contribuições sociais, ao aludir à incidência sobre a folha de salários e
rendimentos pagos, mas em nenhum momento trata da situação de fato
geradora da obrigação tributária, matéria afeta à legislação
infraconstitucional. O § 2º do art. 43 da Lei nº 8.212/90, com a redação
conferida pela Medida Provisória nº 449, convertida na Lei nº 11.941/09,
estabelece como fato gerador das contribuições previdenciárias a data da
prestação dos serviços. A norma infraconstitucional, portanto, veio, em seu
parágrafo segundo, a disciplinar a questão do fato gerador da contribuição
social, a qual não se confunde com as situações de hipótese de incidência e
base de cálculo já definidas no texto constitucional por meio do seu art.
195, I. Assim, ao tratar de questão eminentemente relegada ao âmbito
infraconstitucional e que, nesse sentido, não contraria em nada o texto
constitucional, não há inconstitucionalidade material na referida norma.
Também não se cogita de inconstitucionalidade formal, pois, nesse caso, o
vício condicionar-se-ia à constatação de que o art. 195, I, da Constituição
Federal exige a edição de Lei Complementar para disciplina da matéria,
status não ostentado pela normatização apontada. Ocorre que, não existindo
inovação consistente em instituição de contribuição social sobre as fontes
de custeio já existentes, não se cogita de exigência do quorum qualificado
das leis complementares para a disciplina tributária. A norma (Medida
Provisória nº 449, convertida na Lei nº 11.941/09), portanto, é válida e
Firmado por assinatura eletrônica em 20/08/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal
Superior do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
fls.43

PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

eficaz a partir de sua vigência. Após a entrada em vigor do novo texto do


art. 43 da Lei nº 8.212/93, o art. 276 do Decreto nº 3.048/99, que
regulamentava a redação anterior do dispositivo legal, resulta prejudicado.
Portanto, no caso, os juros de mora devem incidir apenas a partir da data do
vencimento da obrigação tributária, conforme o art. 276 do Decreto nº
3.048/99, com relação ao período compreendido entre 06.10.2008 e
3.12.2008, e, a partir dessa data até o final do contrato de trabalho, devem
incidir desde a prestação de serviços. Recurso de revista conhecido e
provido. (RR-362-59.2011.5.12.0033, 4ª Turma, Rel. Min. Vieira de Mello
Filho, DJ de 31/10/2012)

RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. CONTRIBUIÇÕES


PREVIDENCIÁRIAS. JUROS E MULTA. FATO GERADOR. VÍNCULO
DE EMPREGO ANTERIOR À VIGÊNCIA DA MEDIDA PROVISÓRIA
Nº 449/2008. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGESIMAL. Nos
termos do artigo 276, caput, do Decreto nº 3.048/99, nas ações trabalhistas
de que resultar o pagamento de parcelas sujeitas à incidência de
contribuição previdenciária, o recolhimento das importâncias devidas à
seguridade social será feito no dia dois do mês seguinte ao da liquidação da
sentença, relativamente às prestações de serviço ocorridas até 05/03/2009,
noventa dias após a vigência da Medida Provisória nº 449/2008, de
04/12/2008, em observância ao princípio da anterioridade nonagesimal,
previsto no artigo 195, § 6º, da Constituição Federal. Recurso de revista de
que se conhece e a que se dá provimento. (RR-44685-50.2009.5.12.0024,
Rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, 7ª Turma, DEJT de 29/11/2013)

RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. VÍNCULO DE


EMPREGO DE 1º.6.2004 A 11.10.2007. CONTRIBUIÇÕES
PREVIDENCIÁRIAS. FATO GERADOR. JUROS DE MORA. TERMO
INICIAL DE INCIDÊNCIA. ART. 43 DA LEI 8.212/91, COM A
REDAÇÃO CONFERIDA PELA MP 449/08, CONVERTIDA NA LEI
11.941/09. IRRETROATIVIDADE. 1. Esta Corte firmou o entendimento
no sentido de incidir juros e multa, em razão do inadimplemento das
contribuições previdenciárias, após o dia dois do mês seguinte ao da
liquidação da sentença, conforme interpretação dada ao art. 276, caput, do
Decreto 3.048/99, ao dispor que nas ações trabalhistas de que resultar o
pagamento de direitos sujeitos à incidência de contribuição previdenciária,
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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

o recolhimento das importâncias devidas à seguridade social será feito no


dia dois do mês seguinte ao da liquidação da sentença-. Precedentes da
SDI-I/TST. 2. De outra parte, consoante a jurisprudência deste Tribunal, a
nova redação do art. 43 da Lei n. 8.212/91, conferida pela MP n. 449, de
3.12.2008, posteriormente convertida na Lei n. 11.941/09, somente tem
aplicação a fatos geradores ocorridos antes da sua vigência, em homenagem
ao contido no art. 150, III, -a-, da Carta da República. Precedentes. Recurso
de revista conhecido e provido. (RR-285785-77.2009.5.12.0031, 1ª Turma,
Rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, DJ de 21/12/2012)

RECURSO DE REVISTA. PROCESSO ELETRÔNICO -


EXECUÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA DE
MULTA E JUROS DE MORA. FATO GERADOR. A aplicação da regra
contida no artigo 43, § 3º, da Lei nº 8.212/91, com redação dada pela
Medida Provisória n.º 449 e pela Lei n.º 11.941/09, a fatos ocorridos
anteriormente à sua vigência, viola o disposto no artigo 150, III, - a -, da
Constituição da República, segundo o qual é vedada a cobrança de tributos
pela União em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da
vigência da lei que os houver instituído. Assim, a multa e os juros de mora
somente incidirão sobre as contribuições previdenciárias a partir do dia dois
do mês seguinte ao da liquidação da sentença, nos moldes do art. 276 do
Decreto nº 3.048/1999. Recurso de Revista conhecido e provido. (RR-
279300-72.2010.5.03.0000, 8ª Turma, Rel. Min. Márcio Eurico Vitral
Amaro, DJ de 31/8/2012)

AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO PELA UNIÃO.


CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. FATO GERADOR. JUROS DE
MORA E MULTA. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ANTERIOR À
ENTRADA EM VIGOR DO ARTIGO 43, §§ 2º E 3º, DA LEI Nº 8.212/91,
DISPOSITIVO ALTERADO PELA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 449/2008,
CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. IMPOSSIBILIDADE DE
APLICAÇÃO RETROATIVA. Discute-se, no caso, a possibilidade de
conhecimento do recurso de revista interposto contra acórdão regional em
recurso ordinário, em que se decidiu que o fato gerador da contribuição
previdenciária é a data do pagamento do crédito devido ao empregado, e
não a data da efetiva prestação dos serviços, nos casos em que essa
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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

prestação ocorreu antes da entrada em vigor do artigo 43, §§ 2º e 3º, da Lei


nº 8.212/91, dispositivo alterado pela Medida Provisória nº 449/2008, a
qual foi posteriormente convertida na Lei nº 11.941/2009. Com efeito, a
Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais desta Corte, em sua
composição completa, na sessão do dia 12/9/2013, ao julgar o Processo E-
ED-RR-38000-88.2005.5.17.0101, Redator Designado Ministro João
Oreste Dalazen, publicado em 14/3/2014, decidiu, em caso idêntico ao ora
enfrentado, por maioria e com voto vencido deste Relator, que o recurso de
revista interposto contra acórdão regional em agravo de petição deverá ser
conhecido quando amparado em alegação de ofensa direta ao artigo 195,
inciso I, alínea -a-, da Constituição Federal. Na hipótese ora em análise, é
incontroverso, nos autos, que a pretensão deduzida em Juízo refere-se a
período anterior a edição da Medida Provisória n° 449/2008. A
jurisprudência majoritária desta Corte superior é no sentido de que os
dispositivos introduzidos no ordenamento jurídico pela Medida Provisória
nº 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009, não são aplicáveis nos casos
em que houve a prestação de serviços antes do início da vigência da citada
medida provisória. Com efeito, conforme disposto no artigo 195, § 6º, da
Lei Maior, as contribuições sociais só poderão ser exigidas após decorridos
90 dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado.
Como a MP nº 449/2008 foi publicada em 4/12/2008, o marco para
incidência dos acréscimos dos §§ 2º e 3º ao artigo 43 da Lei nº 8.212/91 é
5/3/2009, pelo que somente as prestações de serviços ocorridas a partir
dessa data é que deverão ser consideradas como fato gerador da
contribuição previdenciária para o cômputo dos juros e da multa moratórios
então incidentes. Assim, em face da inaplicabilidade da alteração legislativa
promovida pela Medida Provisória nº 449/2008, convertida na Lei nº
11.941/2009, deve ser mantida a decisão a quo em que se determinou, como
fato gerador da contribuição previdenciária, o pagamento do crédito ao
empregado e, como termo inicial para a atualização do crédito
previdenciário, o dia dois do mês seguinte ao da liquidação da sentença, e,
dessa forma, o pagamento de juros de mora e multa somente pode ser
exigido caso a contribuição previdenciária não seja recolhida na época
própria, nos termos do artigo 276, caput, do Decreto nº 3.048/99. Agravo de

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PROCESSO Nº TST-RR-294000-51.2008.5.12.0007

instrumento desprovido. (ARR-108900-74.2007.5.15.0136, Rel. Min. José


Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, DEJT de 20/6/2014)

Como já salientado acima, a questão em debate


refere-se ao fato gerador das contribuições previdenciárias
incidentes sobre as parcelas objeto de condenação no presente feito
e que dizem respeito ao contrato de trabalho firmado entre as partes
e que perdurou de 1º/8/2005 a 3/9/2007.
Logo, procede o inconformismo da reclamada. Com
base nos motivos expendidos, dou provimento ao recurso de revista no
tópico para, reformando o acórdão regional, determinar que a multa e
os juros de mora incidentes sobre as contribuições previdenciárias
tenham aplicação a partir do segundo dia do mês seguinte à
ocorrência da liquidação da sentença.

ISTO POSTO

ACORDAM  os   Ministros   da   7ª   Turma   do   Tribunal


Superior   do   Trabalho,  por unanimidade, conhecer do recurso de
revista apenas no tópico atinente ao fato gerador da contribuição
previdenciária, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, dar-
lhe provimento para, reformando o acórdão regional, determinar que a
multa e os juros de mora incidentes sobre as contribuições
previdenciárias tenham aplicação a partir do segundo dia do mês
seguinte à ocorrência da liquidação da sentença.
Brasília, 20 de agosto de 2014.

Firmado por Assinatura Eletrônica (Lei nº 11.419/2006)


MINISTRO VIEIRA DE MELLO FILHO
Relator

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