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“Porque afinal cada começo é só continuação” – sobre acasos, destinos,


amores e a carreira multimidiática de um poema de Wisława Szymborska

Article · September 2015

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Piotr Kilanowski
Universidade Federal do Paraná
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amores e a carreira multimidiática de um poema de Wisława Szymborska – Piotr Kilanowski

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“Porque afinal cada começo é só continuação” – sobre acasos, destinos, amores e a carreira
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Curso de Graduação em Artes Cênicas
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ISSN 2237-0617

Qualis (CAPES) – B5

Site sobre Ecopoesia


(Universidade de
Alberta/Canadá)

Sobre

Teatro na Praia/ Textos


Criativos »

“… à procura de Wisława Szymborska


autor”/Entrevistas »

Por mais que não combine com a imagem de vitalidade e bom humor da autora, o implacável
destino lamentavelmente colocou em fevereiro de 2012 um ponto final na vida de Wisława
Szymborska. Por mais triste que seja esse acontecimento, a poeta conseguiu fugir da sentença
do ponto final por meio da sua obra, que em franco contraponto, está marcada com o título de
um dos seus últimos livros de versos: Dwukropek, (Dois pontos). A amplitude significativa dos
poemas de Szymborska se expressa muito bem por meio deste sinal de pontuação. Ao mesmo
tempo simples e sofisticada, leve e profunda, universal e local, concreta e metafísica,
filosófica e brincalhona a obra de Szymborska ainda tem muito a dizer para os futuros
estudiosos dela. Dois pontos é algo que marca toda a expressão da poeta e permite que
leiamos múltiplos sentidos cuidadosamente colocados entre seus versos. O outro sentido
desse sinal de pontuação é a espera de algo que vem a seguir, uma pausa no viver, que
permite tanto perceber coisas como tomar fôlego. E aqui também a sua poesia se alinha sob
esse signo de suspensão do cotidiano, da espera pelo inesperado e pelo esperado, da dança
com toda a consciência de que na vida também tem que existir o espaço para o lúdico, para o
belo. O próprio Czesław Miłosz, outro grande poeta polonês do século XX, disse que “no mundo
de Szymborska dá para viver”. Ao lado das indagações óbvias para a literatura sobre aquilo o
que é doloroso, mortal, real, a poesia dela ultrapassa esse horizonte e nasce num lugar em
que é possível se libertar do fardo da existência humana. No lugar marcado pela espera e pela
suspensão da rotina cotidiana, onde nasce um olhar de perspicácia e inocência infantil,
conjugado com o silêncio do sábio, lugar marcado por dois pontos.

Por mais que o tema seja a história de um poema, é impossível falar dele fora do contexto dos
outros versos de Szymborska. Pois não é o único que trata de certos temas. Aliás, se
olharmos o resto da obra poética da autora, elementos como o grande amor, o destino, o
acaso e a sincronicidade traçam uma linha que liga alguns poemas e a vida de Szymborska. A
consciência da existência dessa linha, ou melhor, de um novelo, faz com que ela escreva
poemas que, de tanto levarem a olhar para o pretensamente comum, permitem enxergar o
inusitado e o único, que existe no que é comum. Pois o que é mais comum para nós do que a
nossa própria vida? É preciso um olhar meditativo, poético para poder, olhando para si
mesmo, enxergar o novelo do acaso, que se transformou em um destino. Como no poema
Ausência (Nieobecność ), que abre o livro Dois pontos (Dwukropek):

Ausência

Faltou pouco,

Para minha mãe se casar com

Senhor Zbigniew B. de Zduńska Wola.

E se tivessem uma filha, não seria eu

(Talvez teria melhor memória para rostos e nomes

e para cada música, ouvida apenas uma vez.

Sem errar reconhecendo qual pássaro é qual.

Com notas fantásticas em química e física

e piores em língua polonesa,

mas às ocultas escrevendo poemas

de imediato melhores que os meus.)

Ao mesmo tempo,

Faltou pouco,

para meu pai se casar com

Senhorita Jadwiga R. de Zakopane.

E se tivessem uma filha , não seria eu

Talvez fosse mais teimosa para conseguir o que quer.

Sem medo mergulhando em águas profundas.

Suscetível às emoções das massas.

Sempre vista em diversos lugares ao mesmo tempo,

mas raramente em cima dos livros, com mais frequência na rua,

chutando bola junto com os garotos.)

Talvez ambas até se encontrassem

na mesma escola e na mesma turma.

Mas não formariam um par,

nem parentesco

na foto em grupo distantes uma da outra.

(Meninas, fiquem aqui


- gritaria fotógrafo -

as menores na frente, as maiores atrás.

E quando eu der o sinal, todo o mundo sorrindo bonito.

Mas primeiro contem,

estão todas aqui?

-Sim senhor, todas.)[iv]

Os seus pais formaram um par inusitado. Ao se casarem, ele estava com 47 anos e ela, 28.
Moraram em Zakopane, onde nasceu sua primeira filha Nawoja e onde foi concebida, um
pouco antes de mudarem para Kórnik a segunda filha, Wisława. Estranhamente, por uma obra
do mesmo acaso que juntou os seus pais, Wisława Szymborska ficou sabendo sobre “a
catástrofe de Estocolmo”, como se referia ao fato de ter recebido o prêmio Nobel de literatura,
em Zakopane, a poucos passos do lugar da sua concepção.

A casualidade e singularidade da existência (inclusive a sua própria), na obra de Szymborska


apresentam-se de modo gracioso e falsamente leve. Uma reflexão sobre o acaso que nos faz
pensar sobre o destino, feita em forma de uma meditação sobre o que poderia ser e não foi
ecoa o grito dramático do Pascal de seus Pensées:

“Quando penso sobre a curta duração de minha vida, absorvida na eternidade precedente e
seguinte, o pequeno espaço que ocupo e que vejo, precipitado na imensidão dos espaços que
ignoro e que me ignoram, me espanto e me surpreendo ao me ver aqui e não ali, porque não
existe nenhuma razão para estar aqui e não ali, agora e não em outro tempo.

Quem me colocou aqui? Por ordem e vontade de quem este lugar e este tempo foram
destinados a mim? O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora.” [v]

“No mundo de Szymborska dá para viver”- acho que a repetição de Miłosz aqui permite
entender o seu ponto. Em vez de drama, quase histeria, temos algo como uma conversa entre
chá e biscoitos, ou uma reflexão tecida como fio do destino no meio do crochê de uma
senhora sábia. No lugar de um fortissimo con dolore, um sotto voce piano[vi] . O tema volta em
uma outra dimensão no poema Entre muitos ( W zatrzęsieniu ).

Entre muitos

Sou quem sou.

Inconcebível acaso

como todos os acasos.

Fossem outros

os meus antepassados

e de outro ninho

eu voaria

ou de sob outro tronco

coberta de escamas eu rastejaria.


(No guarda-roupa da natureza

há trajes de sobra.

O traje da aranha, da gaivota, do rato do campo.

Cada um cai como uma luva

e é usado sem reclamar

até se gastar.

Eu também não tive escolha

mas não me queixo.

Poderia ter sido alguém

muito menos individual.

Alguém do formigueiro, do cardume, zunindo no enxame,

uma fatia de paisagem fustigada pelo vento.

Alguém muito menos feliz,

criado para uso da pele,

para a mesa da festa,

algo que nada debaixo da lente.

Uma árvore presa à terra

da qual se aproxima o fogo.

Uma palha esmagada

pela marcha de inconcebíveis eventos.

Um sujeito com uma negra sina

que para os outros se ilumina.

E se eu despertasse nas pessoas o medo,

ou só aversão,

ou só pena?

Se eu não tivesse nascido

na tribo adequada

e diante de mim se fechassem os caminhos?

A sorte até agora


me tem sido favorável.

Poderia não me ser dada

a lembrança dos bons momentos.

Poderia me ser tirada

a propensão para comparações.)

Poderia ser eu mesma – mas sem o espanto,

e isso significaria

alguém totalmente diferente.[vii]

O acaso “mostra as suas artimanhas” com certa frequencia na fala de Szymborska. Talvez faça
isso de um modo mais explícito no seu poema Sessão (Seans).

Sessão

O acaso mostra as suas artimanhas.

Tira da manga o cálice de conhaque,

Depois faz o Henryk sentar junto.

Entro no café e fico pasmo.

Henryk não é ninguém mais

que o irmão do marido de Agnieszka,

e Agnieszka é parente

do cunhado da tia Zosia.

Da fala resultou que temos um bisavô em comum.

O espaço entre os dedos do acaso

enrola e se desenrola

se alarga e se estreita

Mal era uma toalha de mesa,

E já virou lenço.

Adivinha que eu encontrei,

e ainda onde, no Canadá,

e por cima de tudo, depois destes anos todos.

Eu pensava que morreu,

e ele dentro de uma Mercedes.

De um avião para Atenas.


Em um estádio em Tóquio.

O acaso gira nas mãos o caleidoscópio.

Brilham nele milhares de vidrinhos coloridos.

E de repente o vidrinho de Joãozinho,

Tinguelingue – no vidrinho de Maria.

Imagina, no mesmo hotel.

Cara a cara, no elevador.

Na loja de brinquedos.

No cruzamento da Szewska com a Jagielońska.

O acaso anda enrolado numa capa.

Nela as coisas somem e se encontram

Tropecei nisso sem querer.

Me abaixei e apanhei do chão.

Olho e é a colher

do faqueiro que foi roubado.

Se não fosse pela pulseira, não reconheceria a Ola,

e esse relógio achei em Płock.

O acaso olha bem fundo nos nossos olhos.

A cabeça começa a pesar.

Os olhos vão se fechando.

Queremos rir e chorar.

Pois é inacreditável,

Da turma do terceiro ano, para este navio.

Aí tem algo.

Queremos gritar,

como o mundo é pequeno,

como é fácil pegá-lo nos braços abertos.

E por um momento ainda a alegria nos preenche,

esclarecedora e ilusória.[viii]

O acaso aqui aparece como um mágico de feira que faz os seus truques na frente do público.
O universo como um grande jogo, uma grande brincadeira é o que transparece nesse poema. A
visão do acaso como jogo vai aparecer também em Amor à primeira vista . Como no poema
visto acima o acaso ainda está perto demais para ser visto como o destino. Observado da
perspectiva microcósmica ele ainda nos ludibria, faz a cabeça e os olhos pesarem, provoca
vontade de rir e chorar. Ainda não conseguimos enxergar a sua perspectiva macrocósmica e a
alegria esclarecedora e ilusória de acreditar que compreendemos os desígnios maiores, que
domesticamos o inefável, faz com que acreditemos que o mundo cabe em nosso
entendimento. A alegria disfarça outros sentimentos como espanto, medo, terror. O universo,
por um momento domesticado, não precisará ser encarado na sua dimensão infinita, pelo
menos não por algum tempo[ix]. Mas a poeta explica o seu proceder em um outro poema. Sob
uma estrela pequenina (Pod jedną gwiazdką )

Sob uma estrela pequenina

Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.

Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.

(Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.

Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.

Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.

Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.

Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.

Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.

Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.

Me desculpem a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.

Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.

Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.

E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,

fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,

me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.

Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.

Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.

Verdade, não me dê excessiva atenção.

Seriedade, me mostre magnanimidade.

Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.

Não me acuse, alma, por tê-la raramente.

Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.

Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.)

Sei que, enquanto viver, nada me justifica

já que barro o caminho para mim mesma.

Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,

e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.[x]

Ao lado do acaso aparece nos seus versos também o grande amor, outro tema do poema de
Szymborska, Miłość od pierwszego wejrzenia (Amor à primeira vista) cuja incursão no mundo
multimídia será discutida a seguir.

Amor Feliz
Amor feliz. Será que é normal,

será que é sério, será que é proveitoso -

o que o mundo lucra com duas pessoas,

que não veem o mundo?

Enaltecidos um para o outro sem nenhum merecimento,

quaisquer uns de um milhão, mas convencidos,

que era destinado a ser assim – como um prêmio pelo quê? por nada;

a luz vem de lugar nenhum,

por que justo nesses e não em outros?

Será que isso ofende a justiça? Sim.

Será que abusa dos princípios cuidadosamente empilhados,

Derruba a moral? Derruba e joga, sim.

Olhem para esses felizes:

se pelo menos disfarçassem um pouco,

fingissem desânimo, revigorando assim os amigos!

Escutem como riem – ofensivamente.

Que língua usam – aparantemente compreensível.

E essas suas cerimônias, picuinhas,

Sofisticadas obrigações de um para com o outro -

Isso parece uma conspiração por trás da humanidade!

É até difícil de prever onde chegaríamos

se fosse possível seguir o exemplo deles.

Com que poderiam contar religiões, poesias,

o que seria lembrado, o que negligenciado,

quem gostaria de continuar na roda.

Amor feliz. Será que isto é necessário?

O tato e o bom senso mandam calar sobre ele,

como sobre um escândalo de altas esferas da Vida.

Pimpolhos formidáveis nascem sem a sua ajuda.

Nunca conseguiria povoar a terra,

pois acontece raramente.

Que as pessoas que desconhecem o amor feliz

afirmem, que não existe em canto algum o amor feliz


Com tal fé vai ser mais fácil para eles tanto viver quanto morrer [xi]

Na superfície a autora concorda com a afirmação de que o amor feliz é absolutamente


desnecessário para a espécie, mas no nível mais profundo discorda dessa afirmação
transformando o amor feliz em uma espécie de auge das possibilidades da experiência
humana. Algo que não acontece com todos, somente com alguns escolhidos, obra do destino,
parecendo arbitrário a todos que sonham com o amor feliz. Amor que permite transcender o
mundo cotidiano e vivê-lo num outro nível, amor que aparece como a suprema realização de
um ser humano, sacraliza a sua vida. Deixa a experiência de viver mais intensa e ajuda a
perceber a sua singularidade.

A sacralização do trivial, a conscientização de sua importância e a singularidade dele, o olhar


preparado para enxergar o inusitado, a percepção de uma moldura maior para os
acontecimentos que o olhar humano são os elementos presentes na sua obra e também no
poema que fez carreira cinematográfica. Assim como não é o caminho normal dos poetas
serem mundialmente famosos e venerados enquanto ainda vivos, a carreira no cinema não é o
destino corriqueiro dos poemas. Mas Szymborska e seus poemas nada tinham de corriqueiro.

Com uma obra tão aberta e que consegue uma proximidade tão grande com seus leitores, não
é de se estranhar que fosse também abundante em fatos inusitados. Dentre esses vários
fatos, trataremos aqui das sincronicidades e adaptações que se ligam a apenas um dos
poemas da autora, Miłość od pierwszego wejrzenia (Amor à primeira vista).

Ambos estão certos

de que uma paixão súbita os uniu.

É bela essa certeza,

mas é ainda mais bela a incerteza.

Acham que por não terem se encontrado antes

nunca havia se passado nada entre eles.

Mas e as ruas, escadas, corredores

nos quais há muito talvez tenham se cruzado?

Queria lhes perguntar,

se não se lembram -

numa porta giratória talvez

algum dia face a face?

um “desculpe” em meio à multidão?

uma voz que diz “é engano” ao telefone?

- mas conheço a resposta.

Não, não se lembram.

Muito os espantaria saber


que já faz tempo

o acaso brincava com eles.

Ainda não de todo preparado

para se transformar no seu destino

juntava-os e os separava

barrava-lhes o caminho

e abafando o riso

sumia de cena.

Houve marcas, sinais,

que importa se ilegíveis.

Quem sabe três anos atrás

ou terça-feira passada

uma certa folhinha voou

de um ombro ao outro?

Algo foi perdido e recolhido.

Quem sabe se não foi uma bola

nos arbustos da infância?

Houve maçanetas e campainhas

onde a seu tempo

um toque se sobrepunha ao outro.

As malas lado a lado no bagageiro.

Quem sabe numa noite o mesmo sonho

que logo ao despertar se esvaneceu.

Porque afinal cada começo

é só continuação

e o livro dos eventos

está sempre aberto no meio.[xii]

Esse poema, o meu predileto entre várias obras-primas da poeta, teve a sua carreira
multimedial, inusitada para uma poesia. Que virasse uma canção – não se estranha, afinal é
algo que acontece com os poemas de quando em vez. Que essa canção fosse fruto de
sincronicidade de pensamento entre ela e outro gênio polonês do cinema, Krzysztof
Kieślowski, já nos põe a pensar. Que o poema inspirasse um livro de quadrinhos é mais raro
ainda, mas o fato de servir como a inspiração de um filme é raro. Se pensarmos que o filme
foi feito do outro lado do mundo, provando assim a universalidade da obra da poeta, e foi uma
tentativa inusitada de adaptação de um poema lírico à tela de cinema – é algo realmente
inédito.
A carreira cinematográfica da obra de Szymborska começou, como mencionei, com Krzysztof
Kieślowski, que depois do trabalho na última parte da sua trilogia das cores, Vermelho,
encontrou o poema e achou que este ilustraria perfeitamente a sua trilogia, principalmente o
último dos filmes. Como a parte de montagem já havia terminado, o poema foi incluído
somente na trilha sonora do filme. Citemos a esse respeito o próprio Krzysztof Kieślowski:

Após terminar o filme Vermelho, comprei em um horrível dia de inverno em Varsóvia o livro de
poemas de Wisława Szymborska (…) e folheando esse livrinho de repente encontrei o poema
Amor à primeira vista… Li os versos e vi que falavam exatamente sobre o tema de um filme
que havia feito há pouco tempo. Então duas pessoas em meados de 1993 – a senhora
Wisława em Cracóvia e eu em Paris – pensaram exatamente sobre o mesmo assunto e de
maneira idêntica. Para formular a ideia precisei de alguns milhares de dólares, a senhora
Szymborska – algumas linhas. Isso significa que existe a possibilidade de se pensar algo junto
com alguém, embora as pessoas nem se conheçam[xiii].

O fato de que Kieślowski acreditava nessa sincronicidade de pensar e criar é algo que vemos
refletido, por exemplo, no filme Azul, que inicia a trilogia, quando o flautista que toca a música
na rue Mouffetard, sem querer reflete na sua composição a música do falecido marido de Julie.
Duas pessoas pensando a mesma coisa num espaço de tempo relativamente próximo.

O poema, na verdade, reflete o pensar de toda a trilogia, já que essa trata de amor e de
acasos que rondam a nossa vida. O tema do acaso – destino foi frisado pelo diretor em várias
cenas que aparecem nos momentos cruciais (Antoine brincando com uma espécie de
malabares na hora do acidente, repetição de temas e de encontros nos filmes), como também
foi o assunto do seu filme Przypadek (O acaso). O tema do amor, por sua vez, perpassa toda a
trilogia. Em Azul Julie quer se libertar do passado e do amor, para não sofrer com as perdas,
para perceber que essa libertação seria também a libertação do que seria mais essencial na
vida. Quando percebe isso, decide abandonar a liberdade e se entregar à prisão libertadora do
amor, terminando a composição do marido com as palavras da epístola de São Paulo aos
Coríntios que fala sobre o amor.

Em Branco, o amor rejeitado e a humilhação levam Karol a arquitetar a vingança, que


humilharia a amada. O amor renasce no meio da armadilha e prende os dois, que mesmo
querendo, estão impossibilitados de viver juntos, pelas mesmas circunstâncias que fizeram
com que o sentimento voltasse (como veremos no final de Vermelho – a separação é
temporária).

Finalmente Vermelho – a obra-prima do diretor polonês – conta história semelhante à do


poema de Szymborska. Até é difícil de acreditar que não houvesse uma relação inspiradora
entre os dois. A sincronicidade, o acaso de que falam acabou acontecendo na vida real, não
só na arte.

Tanto poema quanto o filme questionam um esquema de um melodrama clássico:

um encontro fortuito durante o qual a terra treme e as almas gêmeas se reconhecem à


primeira vista. Um encontro predestinado desses, quando os olhares se cruzam, faíscas saem,
e toda a vida pregressa, ou futura, longe do amor encantado perde o sentido, pode levar
posteriormente a um final feliz, que do ponto de vista do melodrama quer dizer viver juntos
para sempre, ou infeliz cheio de lágrimas, marcado pela separação física e memória eterna
dos amores vividos. Este esquema, de grande apelo popular desde suas origens, que me
parecem brotar da lenda arturiana, pode ser, no entanto, recontado de uma outra maneira. A
versão pela qual optam Szymborska e Kieślowski permite observar as idas e vindas do
destino, que se expressa pela incrível quantidade de acasos, enquanto o clímax destas
peripécias é o mágico encontro do casal.
Os espectadores vivenciam durante o filme Vermelho a expectativa de satisfação final, de
entrada no conhecido rito melodramático com o encontro dos protagonistas, que é retardada
até o final. Auguste e Valentine, o casal do filme, vivem na mesma cidade, continuamente
cruzando os mesmos caminhos, parecem feitos um para o outro, mas por obra do destino
nunca se encontram. Os traços de suas presenças, caminhos que se entrelaçam
continuamente dão ao espectador os sinais de que o encontro está sendo preparado pelos
fados. Somente no final, salvos de um desastre encontram-se pela primeira vez. O diretor não
nos permite saber se esse encontro vai resultar em um grande amor, mas o filme todo deixa
presumido que assim será.

Mesmo que o encontro dos dois resulte em uma espécie de clímax, o filme aproveita o
esquema melodramático para fazer uma série de indagações nada melodramáticas. O retardar
desse encontro provoca um temor e inquietação, mostra que nada nessa vida depende de nós
mesmos, que o destino e as suas artimanhas nos prendem tanto quanto a Édipo ou
Cassandra. Os acasos acontecem preparando um grande momento independentemente da
vontade dos personagens com os quais os espectadores se identificam. Os sinais que lhes
são enviados passam desapercebidos, a rede de acontecimentos pode os levar a uma vivência
grandiosa, ou à cansativa cotidianidade sem cores. Enquanto as Moiras (ou o diretor) tecem o
destino, os espectadores assaltados pelos sentimentos de terror e de piedade se vêem na
tela. Percebem que as coincidências e casualidades que podem salvar ou condenar os
protagonistas são iguais às das vidas deles, se vêem refletidos e refletem a respeito da
condição humana inerente a todos nós. Tanto no filme quanto no poema.

Creio que é justamente por esse apelo universal, que resgata os inícios da cultura ocidental,
que o poema de Szymborska virou “celebridade”. E a universalidade do tema que consagrou
Kieślowski como um dos maiores cineastas da história do cinema fez com que o poema de
Szymborska inspirasse uma graphic novel de Jimmy Liao e junto com essa fosse adaptado
para cinema por Johnnie To i Wai Ka-Fai.[xiv]

A obra de Jimmy Liao, editada em 1999 em Taiwan, chama-se Separate Ways (Caminhos
Separados). É composta de vários encantadores desenhos que contam o enredo e curtos
textos que complementam a parte gráfica. Foi traduzida e editada em vários países asiáticos e
europeus. Ganhou a sua tradução para polonês “Como o amor brinca conosco. Desde o
primeiro olhar até a felicidade”. Por enquanto ainda não tem a sua versão brasileira, mas a
recente versão portuguesa[xv] e a crescente popularidade de Jimmy Liao permite que
conservemos as esperanças de vê-la editada por aqui também. O início e o fim do livro já têm
duas versões em português brasileiro: uma de Regina Przybycien, outra de Henryk Siewierski e
Santiago Naud, trata-se pois da primeira e da última estrofe do poema de Szymborska. O
enredo é bem simples e a adaptação para o cinema é bastante fiel ao livro, algumas tomadas
praticamente imitando os desenhos de Liao.

O nome desta adaptação Turn right, turn left (Vire para direita, vire para esquerda) se deve à
idéia de Liao que mandou os protagonistas morarem no mesmo prédio, separados só por uma
parede, mas ao sair de casa sempre escolher portas e direções opostas. Desta forma Jon Liu
e Eve Choi são impossibilitados de se encontrarem, mesmo estando tão perto. Para dramatizar
e enriquecer o enredo os diretores optaram por incluir alguns fios narrativos na trama urdida
por Liao. O poema de Szymborska faz parte desse enredo, aparecendo tanto em tradução
quanto nas tentativas de trazê-lo no original.

A cena inicial do filme nos mostra um dia de chuva em Taipei, capital de Taiwan. No meio de
multidão de guarda-chuvas pretos destacam-se o dele verde e o dela – vermelho. Em baixo
dos seus diferenciados guarda-chuvas levam os objetos que os caracterizam: John, que é o
músico, o violino, Eve, tradutora, o livro de Wisława Szymborska, do qual lê em polonês o inicio
do poema visto acima. O poema introduz o tema do filme, preconiza os acontecimentos e faz-
se parte integral do filme. Vai tornar a aparecer ao longo do filme, às vezes até com o objetivo
de mover a narrativa para diante.

Como no poema de Szymborska acaso brinca com os dois protagonistas. As suas


semelhanças e movimentos paralelos sugerem que estas seriam duas linhas paralelas
fadadas a se encontrar em algum momento. O acaso os aproxima e afasta. Embora caminhem
um do lado do outro, se cruzem no meio da solidão e caos da metrópole não conseguem achar
o amor ideal que tanto procuram. Os dois são sensíveis e incompreendidos: ele toca música
popular no restaurante, mas faz os recitais eruditos para os pombos no parque, ela é obrigada
a traduzir histórias de terror, mas lê os poemas de Szymborska para um gato na rua, em frente
do restaurante onde John trabalha.

Embora o filme seja esquemático e se desenvolve nas cenas e diálogos repetidos, quando ora
John, ora Eve se encontram na situação identicamente simétrica à do outro, traz consigo
também o traço de simpatia dos desenhos de Jimmy Liao. Está nele presente também o
desespero de que está tentando achar a sua outra metade platônica no meio de uma cidade
grande, sem sequer conhecer o seu nome, apenas desesperada e insanamente gritando no
meio da multidão um número. Sim, um número pois John e Eve se encontram no parque e
reconhecem como conhecidos de uma excursão na infância. Única coisa que conseguiram
guardar então eram os números de aluno bordados nos seus uniformes escolares. Durante
este encontro depois de anos, até trocam os números de telefone, mas a chuva que vem logo
em seguida borra as anotações, tornando os números ilegíveis.

Esse reconhecimento da infância lhes assegura que trata-se do destino. Mas o destino
continuamente brinca com eles: tempo todo passam um pelo outro sem conseguir se
encontrar. A irritante simetria dos acontecimentos que acontecem aos dois nada tem a ver
com o sofisticado jogo de sugestões e reflexos presente no filme do Kieślowski. Aqui tudo é
literal. No entanto somos brindados, além da tentativa da ecranização do poema de
Szymborska, também com uma magnífica intertextualidade, um diálogo poético com Li Zhiyi,
poeta chinês que viveu entre 1045 e 1125. A sua poesia Canção da garota do rio aparece no
filme e é até traduzida para polonês, de modo um pouco difícil de entender. Eve traduz o
poema, quando depois de muitas aventuras decide sair de Taiwan para trabalhar numa editora
americana, enquanto isso John igualmente cansado de tentar encontrá-la ganha a
oportunidade de tocar na orquestra de Vienna. Quando cansados enamorados desistem e
decidem viajar para fora depois de mais uma busca desesperada e pedidos feitos aos deuses
ou destino, acontece o milagre final: instantes antes de partirem acontece o terremoto que
derruba a parede entre os seus apartamentos e permite que finalmente se unam. Na cena final
os guarda-chuvas verde e vermelho ficam um do lado do outro na frente do apartamento
sugerindo o final feliz, o inicio que é continuação.

E como a vida não pára segue a carreira multimidiática do poema-celebridade. Em 2009 foi
usado em filme de Juan Pablo Martínez El hombre que corria tras el viento . O filme foi baseado
no conto “La dulce Carola” do cantautor espanhol Ismael Serrano e conta com seu roteiro e
atuação. Enquanto isso Szymborska continua fazendo sucesso no Extremo Oriente. Hebe Tien,
estrela taiwanesa de “mandopop” (musica popular em mandarim) gravou no fim de 2013 uma
canção intitulada Insignificancia, inspirada no poema de Szymborska citado acima Sob uma
estrela pequenina na qual recita um fragmento do poema (em polonês).

Para terminar essas reflexões sobre sincronicidades e inspirações artísticas gostaria de trazer
o poema de Li Zhiyi usado no filme Turn right, turn left , que além dos dois filmes e romance
gráfico é mais um exemplo de interpenetração das artes e da multiculturalidade das idéias.
Embora date do século XI, os seus reflexos na arte de mil anos depois falam da universalidade
da estranha experiência humana, registrada pelos poetas.
A canção da garota do rio (outro título: A adivinha)

Eu vivo na nascente do Rio Yangtzé

Você vive onde ele alcança o mar.

Sonho com você diariamente, sem te ver

Embora bebamos do mesmo Rio Yangtzé

Quando o Rio cessará de fluir?

Quando o meu coração cessará de doer?

Só te peço uma coisa: que o seu sentimento seja como meu

Assim sempre sentiremos saudade um do outro[xvi]

BIBLIOGRAFIA

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ZAWIŚLIŃSKI Stanisław (org.): Kieślowski, Warszawa: Skorpion, 1996

[i]

[ii] O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil. Autor agradece leituras, correções e
sugestões sobre o artigo e traduções dos poemas a Eduardo Nadalin, Eneida Favre e Patrícia
Silva Osório.

[iii] Professor de literatura polonesa na UFPR, doutorando em literatura na UFSC, tradutor.

[iv] As traduções quando não marcado diferente, são de minha autoria. Este poema, assim
como os outros discutidos neste artigo, foi publicado no Qorpus:
http://qorpus.paginas.ufsc.br/teatro-na-praia/edicao-n-013/2819-2/

[v]PASCAL, Blaise, Pensamentos , RJ: Nova Cultural, 1999, p. 88).

[vi] Devo tanto a associação com Pascal, quanto a ligação desta poesia com termos musicais
a excelente resenha de Dwukropek “Z dołu i góry” da autoria de Aneta Wiatr (WIATR, 2005)

[vii] SZYMBORSKA, Wisława. Poemas . Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. São
Paulo: Companhia de Letras 2011, p.100.

[ix] Uma excelente análise deste poema, que contribuiu para a elaboração do meu artigo,
encontra-se no livro de Tadeusz Nyczek dedicado a Szymborska Tyle naraz świata (NYCZEK,
2005, p. 198-208)

[x] SZYMBORSKA, Wisława. Poemas . Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. São
Paulo: Companhia de Letras 2011, p.50.

[xii] SZYMBORSKA, Wisława. Poemas . Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. São
Paulo: Companhia de Letras 2011, p.96.

[xiii]ZAWIŚLIŃSKI Stanisław (org.): Kieślowski, Warszawa: Skorpion, 1996, p. 82,

[xiv] A informação sobre o livro de Jimmy Liao e sobre o filme Turn right, turn left foi me
apresentada pelo artigo de Grażyna Stachówna “Filmowa kariera jednego wiersza”
(STACHÓWNA, 2006).

[xv] LIAO, Jimmy. Dencontros. Matosinhos: Kalandraka, 2014.

[xvi] Tradução minha, feita a partir da tradução inglesa, encontrada na internet.


http://breadpigz.blogspot.com.br/2005/04/fortune-teller-by-li-zhiyi.html, acesso em
18.09.2015
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Edição N. 18

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