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UM VÁCUO*
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Leandro Henrique da Silva
ABSTRACT: The present work aims to carry out an analysis between the
geographical space and the social life in the city. In this sense, people's location in
periphery districts, for instance, points for the phenomena noticed in big metropolis,
but it sets up the other places as result of different reproduction strategies of the
capital accumulation process.
Key-words: Geographic space - nature of the city - social contradictions
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O presente texto foi produzido a partir da monografia de bacharelado em Geografia intitulada:
Espaço e Trabalho: uma análise geográfica dos trabalhadores em Londrina, defendida no
Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina em dezembro de 2007, sob
orientação do Profº Dr. Cláudio Roberto Bragueto. Cf. Silva (2007)
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Licenciado e bacharel em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina. Professor de
Geografia da Rede Estadual de Ensino em São Bernardo do Campo - SP.
INTRODUÇÃO
“O espaço não é apenas um receptáculo da história, mas condição de sua realização qualificada”.
Da mesma forma Santos (1986, p. 128), sustenta a idéia de o espaço ser encarado,
portanto, “[...] como realidade objetiva, um produto, isto é, resultado da produção,
um objeto social”. Esse espaço social, humano, de que fala o autor, abarca todos os
indivíduos, sendo o espaço de todos.
Nesta perspectiva Soja (1993), figura como outro autor responsável por uma
interpretação crítica ligada a contingência espacial e sua correspondente influência
nas relações sociais. Sua distinção entre o espaço per si e o espaço produzido, fruto
da organização e da produção é de extrema relevância. O primeiro representa a
forma objetiva da matéria, independente de correntes mecanicistas, dialéticas ou
materialistas. Já o espaço socialmente produzido advém das realizações humanas
erigindo estruturas como outras construções sociais. Isso não quer dizer que esse
espaço, como produto social, possua autonomia total com regras e lógicas próprias,
mas sim, uma autonomia relativa, pois, liga-se as demais estruturas de um modo de
produção.
Por isso, como propôs Smith (1988), o espaço geográfico deve ser entendido em
sua totalidade, pois a totalidade das relações espaciais organizadas implica padrões
passíveis de serem identificados, constituindo dessa forma, a expressão da estrutura
e do desenvolvimento do modo de produção capitalista.
Porém, uma ressalva importante realizada por Santos (1986), merece especial
atenção, pois, uma estrutura espacial, sendo um produto dos processos ocorridos na
sociedade, pertence a totalidade daquilo que se chama de estrutura, contudo,
somente na medida em que essa mesma estrutura interfere nas ações humanas.
Essa mesma produção pode ser vista, tal como assinala Harvey (2004, p. 85), como
um “[...] momento constitutivo da dinâmica da acumulação do capital e da luta de
classes”. Verifica-se a rejeição em aceitar a idéia de que as coisas são construídas,
tão somente, a partir do espaço.
O julgamento de Santos (1993, p.82), é bem rigoroso a esse respeito, diz ele: “[...] o
espaço não é uma estrutura de aceitação, de enquadramento ou coisa que o valha,
mas uma estrutura social como as outras”.
As ações advêm dos homens sob múltiplas formas, sendo inerente ao:
[...] próprio homem. Só o homem tem ação, porque só ele tem objetivo,
finalidade. A natureza não tem ação porque é cega, não tem futuro. As
ações humanas não se restringem aos indivíduos, incluindo, também, as
empresas, as instituições. [...] As ações resultam de necessidades, naturais
ou criadas. Essas necessidades: materiais, imateriais, econômicas, sociais,
culturais, morais, afetivas, é que conduzem os homens a agir e levam a
funções. Essas funções, de uma forma ou de outra, vão desembocar nos
objetos. Realizadas através de formas sociais, elas próprias conduzem à
criação e ao uso de objetos, formas geográficas (SANTOS, 2004, p. 82-83).
O autor enxerga a relação dos objetos presentes no espaço geográfico, uma casa,
uma plantação, uma indústria, entre outros, devidamente preenchidos e
intencionalmente incumbidos a desempenhar funções específicas na sociedade,
mediante ações advindas de decisões de governo ou pelo mercado. Esses objetos
seguem uma lógica e também são utilizados baseados em uma lógica de instalação
das coisas. O espaço assegura a continuidade das realizações dessas ações na
história.
Aliás, Santos (2004, p.37), reconhece o fato de que quando os geógrafos analisam a
sociedade atuando no espaço por meio dos sistemas de transportes ou
comunicação, por exemplo, o destaque maior a ser dado deva ser o estabelecimento
da relação entre “[...] espaço e fenômeno técnico, abrangendo [...] todas as
manifestações da técnica, incluídas as técnicas da própria ação”. Caso contrário
corre-se o risco de se contentar em visualizar espaços “industriais”, “agrícolas” ou
mesmo “espaços econômicos”, distanciando do espaço geográfico em sua
amplitude. A Geografia nestes termos volta suas preocupações para todas as
formas de existência.
Soma-se a isso o papel da escala de origem das variáveis que estão envolvidas na
produção dos eventos, bem como a escala de impacto, ou seja, da área de
ocorrência do fenômeno.
O problema da escala obriga ao geógrafo a pensar como Castro (1995, p.123), para
quem “[...] a escala é, na realidade, à medida que confere visibilidade ao fenômeno”.
Essa interpretação remonta a escala geográfica, isto é, segundo a autora, as
representações advindas do relacionamento entre a sociedade e as formas
geométricas, diferentemente da escala cartográfica, a expressão da representação
do espaço como forma geométrica.
A questão volta-se para a análise dos sistemas técnicos utilizados pelas empresas,
pelos indivíduos, pelas instituições etc., e a maneira pela qual este uso diferencial se
manifesta no espaço da sociedade.
Sendo assim, uma das formas de estudar o espaço humano ou social é analisar
como o trabalho encontra-se materializado, isto é, como as formas geográficas
adquiriram funções distintas no processo de reprodução da sociedade. Além dos
tipos de relações sociais que permitiram aos homens se organizarem de maneira
altamente complexa, como no exemplo das cidades técnica e com densidade
populacional elevada.
Nesta organização complexa em que se vive hoje, a cidade, há inúmeros fatores que
se interagem, quantidades enormes de variáveis possíveis de análises, logo, surgem
à necessidade do estudo das estruturas componentes de nossa sociedade. Essas
estruturas, por vezes, tacitamente abstraídas das relações cotidianas,
imprescindíveis na obtenção de respostas aos questionamentos do processo de
formação, divisão e manutenção da vida social urbana.
A autora reconhece este fato quando escreve sobre o espaço produzido pela
sociedade como base para “[...] recriar constantemente as condições gerais a partir
das quais se realiza o processo de reprodução do capital, da vida humana, da
sociedade como um todo” (CARLOS, 1997, p. 30).
Vale ressaltar que na cidade, como um objeto fixo, concreto, circulam diferentes
recursos: força de trabalho, capital, tecnologia, informação etc., regulados pela
lógica do sistema capitalista, o qual modifica, consome, segrega o espaço e,
conseqüentemente, os homens. De acordo com cada momento histórico esses “[...]
recursos são distribuídos de diferentes maneiras e localmente combinados, o que
acarreta uma diferenciação no interior do espaço total e confere a cada região ou
lugar sua especificidade e definição particular” (SANTOS, 2004, p.165).
Tanto a divisão social como territorial do trabalho dependem das decisões políticas
na sociedade e do papel do Estado, no que remete a evolução do espaço urbano.
Eis porque uma análise urbana deva levar em consideração a intervenção do
Estado, em favorecer certas atividades em detrimento de outras; ou mesmo no uso
do solo urbano, criando espaços industriais, por exemplo, mediante a valorização de
certas áreas do espaço urbano pelo poder de determinados agentes.
De outra forma Santos (1994, p.118) propõe uma economia política da cidade, quer
dizer, “[...] a forma como a cidade, ela própria, se organiza, em face da produção e
como os diversos atores da vida urbana encontram seu lugar, em cada momento,
dentro da cidade”. Essas duas economias políticas são inseparáveis, pois a
urbanização constitui um fenômeno espacial, além de social, econômico e político.
A NATUREZA EXCLUDENTE DO ESPAÇO URBANO
O mesmo pode-se dizer de Topalov (1974) apud Santos (1994, p. 123), que
desenvolveu está idéia nos seguintes termos:
Todas essas condições descritas pelo autor se inscrevem sobre uma materialidade
densamente desigual presente nas cidades. A existência de áreas dotadas de
melhores infra-estruturas a fim de garantir uma circulação de capital eficaz provoca
um paradoxo, pois, ainda há espaços carentes das condições básicas para a
população residente obter uma vida digna.
A partir disso, uma síntese elaborada por Santos (1993, p. 1), resulta em uma
verdadeira teoria geográfica:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MARX, Kl. O Capital: Crítica da Economia Política. São Paulo: Nova Cultural, 1994.
v.1
SANTOS, M. Por uma Geografia Nova. 3.ed. São Paulo: Hucitec, 1986.
______. Por uma Economia Política da cidade: o caso de São Paulo. São Paulo:
Hucitec, 1994.