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A lição desta semana trata da Obra do Espírito Santo em sua relação com as
Escrituras. Discute o papel do Espírito no que diz respeito à revelação e à
inspiração. Fala da veracidade das Escrituras, da atuação do Espírito Santo como
professor e Sua relação com a Palavra.
Significado de revelação
O termo “revelação” vem do latim revelare, que significa retirar o véu,
descobrir o que estava oculto. Revelação, portanto, significa tornar conhecido o que
é desconhecido, ou visível o que está oculto à vista de todos. Já a revelação bíblica
representa o ato divino pelo qual Deus Se permite descobrir a Si mesmo, Seu
caráter, Sua vontade e Seus planos, dando ao homem um conhecimento que ele
não poderia conseguir por si mesmo.
Conforme destaca Daniel 2:22, o grande Revelador é Deus: “Ele revela o
profundo e o escondido.” Deuteronômio 29:29 destaca que é Ele quem revela o que
quer que seja relevado aos homens, e o que não está revelado a Ele pertence.
Deus Se revela aos homens mostrando-Se não apenas o Revelador mas o objeto
da revelação, como se observa em 1 Samuel 3:21: “Continuou o Senhor a aparecer
em Siló, enquanto por Sua palavra o Senhor Se manifestava ali a Samuel”; e há
grande variedade de qualidades divinas descritas como tendo sido reveladas (a
Glória de Deus, Is 40:5; Rm 8:18; Sua justiça, Rm 1:17; Seu braço, Is 53:1; Sua ira,
Rm 1:18). De igual maneira, as Escrituras Sagradas apontam Deus como Autor das
verdades nelas reveladas, manifestando em seu conteúdo Sua vontade mediante a
inspiração do Espírito Santo (O capítulo introdutório de O Grande Conflito é
bastante esclarecedor a esse respeito. Ver em: Ellen G. White, O Grande Conflito.
Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985, p. 8-10).
Quanto aos instrumentos utilizados como meios de revelação, a teologia
analisa duas subdivisões da revelação divina: a revelação geral e a revelação
especial.
Revelação geral
A revelação geral é uma forma pela qual Deus desvenda parte de Seu
conhecimento e vontade, compartilhando com a humanidade Sua luz divina. É
chamada geral por ser direcionada a todos os homens, em todas as épocas e
lugares. (Ver: Raoul Dederen, Revelação e inspiração: uma perspectiva adventista
do sétimo dia. Brasília: Divisão Sul Americana da IASD, 1979, p. 19-20.)
A revelação geral se expressa através de três formas que possibilitam
reconhecer Deus, mesmo sem apelar à fé:
1) Natureza: Deus Se revela por meio das obras da Criação, conforme
destacou o apóstolo Paulo em Romanos 1:20.
2) Consciência: Pelo senso moral ou consciência, Deus Se revela ao ser
humano. As Escrituras Sagradas afirmam que a revelação divina se faz presente
por meio da consciência humana a todos os homens: “Quando, pois, os gentios, que
não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei,
servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu
coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos,
mutuamente acusando-se ou defendendo-se” (Rm 2:14, 15). Atos 17:23 mostra que
muitos honram a Deus sem O conhecerem.
3) História: Na história da humanidade, a revelação geral destaca a presença
divina, em especial na época do cativeiro do povo de Israel e Judá. Ezequiel 39:28
enfatiza a revelação divina dos acontecimentos, assim como a soberania de Deus
entre Seu povo e os demais povos da Terra: “Saberão que Eu sou o SENHOR, seu
Deus, quando virem que Eu os fiz ir para o cativeiro entre as nações, e os tornei a
ajuntar para voltarem à sua terra, e que lá não deixarei a nenhum deles.”
Assim, a presença de Deus é reconhecida no curso da História, revelando-Se
aos homens por meio de Sua participação nos acontecimentos que fizeram a
história da humanidade. Mediante Suas intervenções, Deus Se dirige pessoalmente
à humanidade, libertando Seu povo, ou mudando o curso da História, para Se fazer
conhecer e mostrar interesse por Seu povo.
Revelação especial
Significado de inspiração
A inspiração é um ato divino através do qual o Espírito Santo capacitou
homens a escrever as revelações a eles comunicadas por Deus, de forma fidedigna.
Analisando o termo “inspiração”, percebe-se que, embora seja aceito como
conceito bíblico, essa palavra não existe nos escritos originais. Em 2 Timóteo 3:16,
ao afirmar que “Toda a Escritura divinamente inspirada [...]” Paulo se referiu ao
termo grego theopneustos, que significa, literalmente “soprado por Deus”. Ou seja, a
ação de Deus, o processo pelo qual o Espírito Santo trabalha nos seres humanos
escolhidos por Deus, não representa exatamente uma inspiração, mas um sopro de
Deus sobre o homem, no sentido de movê-lo para que proclame as mensagens
recebidas. Nessa perspectiva, a revelação vem ao homem por meio da união da
mente e da vontade divina com a humana. Inspiração é, assim, o trabalho do
Espírito Santo na mente do profeta. Confirmando esse conceito, em 2 Pedro 1:21, o
apóstolo afirmou que “homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito
Santo”. Percebe-se que é o Espírito Santo quem toma a iniciativa, quem chama e
quem concede as revelações, movendo ou inspirando a pessoa escolhida (Je 36:1,
2; Lc 1:1-4). Assim sendo, os profetas e apóstolos não foram meros copistas do que
ouviam ou viam, mas, enquanto eram movidos pelo Espírito, escreviam,
envolvendo-se para realizar da melhor forma possível a tarefa deles requerida.
“A Escritura Sagrada aponta Deus como seu Autor; no entanto, foi escrita por
mãos humanas (...). As verdades reveladas são dadas por inspiração de Deus;
acham-se, contudo, expressas em palavras de homens” (O Grande Conflito, p. 8).
Quanto das Escrituras é inspirado? Não existe na Bíblia nenhuma evidência
de que alguns trechos foram mais ou menos inspirados que outros. Toda a Escritura
foi inspirada por Deus (2Tm 3:16). Mesmo nos livros em que os autores faziam
maior uso de suas expressões, como nos salmos e livros poéticos, por exemplo, a
inspiração divina se sobrepõe à humana. A Bíblia é um livro divino-humano escrito
por pessoas escolhidas que registraram o que Deus lhes mandou.
Cremos que o Espírito Santo usou pessoas, os autores, não como meros
secretários. Ele usou mentes humanas e guiou os pensamentos de acordo com os
propósitos divinos.
“Não são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o
foram. A inspiração não atua nas palavras do homem nem em suas expressões,
mas no próprio homem que, sob a influência do Espírito Santo, é imbuído de
pensamentos” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 21).
Daí observamos na Bíblia estilos, linguagem, figuras diferentes, entretanto há
harmonia e sintonia, tanto nos profetas como nos poetas e apóstolos. Uma das
maravilhas da Bíblia é que ela não se contradiz, mas se completa. Foram cerca de
40 diferentes autores. Em épocas diferentes, culturas diferentes, situações
diferentes, mas todos escrevendo sob o sopro (inspiração) do Espírito Santo.
“Entretanto, as atuações do Espírito estão sempre em harmonia com a
Palavra escrita. Como sucede no mundo natural, assim também se dá no espiritual.
A vida natural é preservada a todo momento pelo divino poder; mas não é
sustentada por um milagre direto, porém mediante o uso de bênçãos colocadas ao
nosso alcance. De igual forma a vida espiritual é sustentada pelo uso dos meios
supridos pela Providência” (Atos dos Apóstolos, p. 284).
Conclusão
Um jovem muito desencaminhado fugiu de casa. Durante muitos anos seu
paradeiro foi desconhecido. Certo dia, ele soube que o pai havia falecido e voltou
para casa, onde foi bondosamente recebido pela mãe. Chegou o dia da leitura do
testamento do pai. Toda a família estava reunida. O advogado começou a ler o
documento. Para grande surpresa de todos os parentes, o testamento se referira
pormenorizadamente aos descaminhos do filho. Ele ergueu-se irado e saiu,
deixando a família sem notícia por três anos. Afinal, descobriam seu paradeiro.
Informaram-no de que o testamento, depois de se referir ao seu mau procedimento,
legava-lhe uma fortuna em dinheiro. Imagine de quanta tristeza ele teria se poupado
se tivesse ficado para ouvir até ao fim a leitura do testamento! Assim, muita gente lê
a Bíblia apenas pela metade, e dela se volve descontente.
“Devemos tomar um versículo, e concentrar a mente na tarefa de averiguar o
pensamento nele posto por Deus para nós. Convém que nos demoremos sobre
esse pensamento até que nos apoderemos dele, e saibamos “o que diz o Senhor”
(O Desejado de Todas as Nações, p. 390).
“Conta-se que, certa vez, um dos paroquianos de Moody foi ter com ele,
lamentando-se de não poder compreender certos passos da Escritura.”
– O senhor gosta de peixe?, perguntou-lhe o grande orador sacro.
– Gosto, como não!
– E que faz com as espinhas?
– Ora, separo-as com cuidado, deixando-as a um lado no prato.
– Pois faça o mesmo com a Palavra de Deus. Alimente-se de suas verdades
claras, compreensíveis, e deixe de lado aquilo que não puder compreender. Você
encontrará nela alimento em abundância, amigo!”
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: É rico Tadeu Xavier possui graduação
em Teologia Pastoral (1991) e mestrado (2000) pelo Seminario Adventista
Latino-Americano de Teologia; Mestrado em Ciências da Religião pela Universidad
Evangélica de las Américas, Costa Rica, e reconhecido pela EST - Escola Superior de
Teologia (2009); e Doutorado em Ministério pela Faculdade Teológica Sul Americana
(2004); Doutorado (PhD) pelo South African Theological Seminary (2011), reconhecido pela
PUC, Rio, em 2012. Pós-doutorado (2014) na área de teologia sistemática pela FAJE -
Faculdade de Filosofia e Teologia Jesuíta, de Belo Horizonte. Foi professor de teologia na
Bolívia e na Bahia, no SALT-IAENE. Atualmente é professor visitante no Mestrado em
Teologia do SALT-UNASP, e atua como pastor no Rio Grande do Sul. Autor de 11 livros e
mais de 40 artigos, em revistas da denominação e em revistas acadêmicas de seminários
adventistas, evangélicos e católicos. É casado com a psicopedagoga Noemi, com que tem
dois filhos, Aline e Joezer, que são casados e vivem no Paraná.