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FRANCISCO CAMPOS'
O INTERROGATóRIO
A TEMATICA
Esta questão leva fàcilmente ao tema das apostilas, com seus de-
fensores e adversários, propiciando uma projeção das opiniões dos
professôres sôbre os alunos e, portanto, do espírito com que os
enfrentam.
Para os bombeiros: "Você recebe ordens para não aproximar-
se de determinada zona de perigo. Mas aparece nesse setor uma pes-
soa precisando de auxílio. Você pensa que o perigo não é tão iminen-
te se você lhe prestar auxílio imediatamente, mas se desobedecer se
arriscará a ser punido. O que fariam?" No transcurso da discussão:
"E se essa pessoa fôsse um colega?"
Com um pouco de experiência, as perguntas surgem quase que
por si mesmas. Convirá anotar as que suscitem maior interêsse para
empregá-las com mais freqüência. Convém também, por motivos que
depois diremos, variar as perguntas de um grupo para outro, quando
se trata de várias turmas de candidatos à mesma função. E, mais
importante do que tudo, é aproveitar qualquer oportunidade para
apresentar temas que despertem o interêsse geral e permitam o apa-
recimento de atitudes divergentes.
O REGISTRO DA ENTREVISTA
a) TEMAS A DISCUTIR:
QUADRO I
Tema Entrevistados
I Opiniões Qualificação
IE
A
I B
I
C
I D
I I
1 1 Defende democracia. Ordens Líder, pouco há-
devem ser explicadas bil
2 Concorda SubmisSão
3 I Ooncorda, discordando. Não Crítico
aceita sistema de tapinhas
4
I
I I nas costas
Defende-se, insistindo. Em- Argumentos
I pregado, pode ter boas fracos
idéias
5 O chefe deve saber decidir. Firmeza. Pouco
II l!: autoridade. Dúvidas do
chefe prejudicam a em-
tato
prêsa
6 Concorda. Sugestionável
7 Pede licença. Chefe deve sa- I Critico
\
ber mais, mas pode con-
l 8
sultar; os outros colabo-
rarão melhor
E quererão ser chefes Crítico.
9 Conta caso de sua experiên- A uto-referenJte.
: cia. Quis ser chefe para Recalque bem
mostrar aos chefes que não canalizado
~
precisa ser bêsta
10 Por que saiu? Agressão
11 f Havia mais bêstas. Ganha- Defesa imoderada
va pouco
(Entrevistador estimula B)
12 Analisa; diferentes situações Ponderaçãe
exigem soluções diferentes. Ar de superio-
Menores, mulheres ... ridade
1 I (Entrevistador introduz te-
ma 1.1)
Trabalhei com elas. Difíceis Auto-referente.
1.1 1 1
I pra xuxu. Mas depois é
fácil
Vulgar
o
diálogo, pouco depois de terminada a entrevista, foi recons-
truído da seguinte forma:
I - Pode.
c- Bem, eu creio que em nossos dias a gente não pode ser auto-
ritário. Ter que ser democrático. Não se pode pegar um cama-
rada e dizer para êle "faz isto", "faz aquilo" sem explicar mais
nada. Tem que ter jeito. (Pausa, expectativa geral.)
c- Acho que querer ser chefe ou não não depende de que ~outros
chefes consultem ou não. É até o contrário. (N arraconfusa e
pitorescamente o caso em que um colega dêle foi destratado por
um chefe autoritário e -ígnorante. O colega tinha razão, mas
foi despedido. Então C "matutou" de querer ser chefe para de-
mónstrar que Ee pode ser chefe e camarada. E foi promovido -)
,.
Uma impressão final, sem algum dado que a justüique, poderá ser
insuficiente. Enfim, cada pessoa deve resolver conforme suas con-
veniências.
Pode observar-se que já no comêço os papéis estão bastante de-
finidos. Na realidade, raras vêzes aparecem surprêsas ou reviravoltas.
O mais comum é os papéis se tornarem mais intensos. No caso ante-
rior, C continuou a liderar o grupo; A, após tentar resistir, preferiu
a retirada; fêz poucas intervenções, mas cada vez mais incisivas e
críticas.
AINTERPRETAÇAO
1 2 3 4 5
Inibição x- - - - x Desembaraço
Rudeza x - - - x Diplomacia e tato
Intempestividade x - - - X Sen.so da oportunidade
Sisudez x - - - - x Senso de humor
Intransigência x - - - - x Espírito de conciliação
Submissão x - - - x Agressividade
Apatia x - - - x Entusiasmo
QUALIDADES DO ENTREVISTADOR
curar significados ocultos, embora sabê-lo fazer possa ser útil. A' si-
tuação da entrevista coletiva não se presta a sutilezas; não faz mal
que só nos dê o verniz do comportamento. Na realidade, nas situa-
ções normais é o verniz o único que aparece. pàra explorar as tensões
internas e as motivações profundas, o psicólogo dispõe de outr~s
instrumentos.
ALGUNS RESULTADOS
o emprêgo que tenho feito da entrevista coletiva ê
esporádico,
embora date de longos anos. 'Por êsse motivo' não posso apresentar
resultados realménte válidos, mas apenas' indícios. Espero que outros'
possam apresentàr provas mais concretas.
O primeiro dêsses indícios foi um pequeno teste realizado. com
seis vigilantes, funcionários de um Banco, três dêles considerados
bons, três sofríveis. Submeteram-se a dois testes de inteligência, ao
questionário de Eysenck, a mais três testes de personalidade e à en-
trevista coletiva. O seguinte quadro exprime os resultados (+ bom;
~'sofrível) .
QUADRO II
, .., . ~
A + + + +
B + + + + + + + +
C + +'
D + +
.E -r + +
F + + + + + + + +
* * *
Resumindo nossa opinião, cremos que a Entrevista Coletiva é
um instrumento útil para a seleção de profissões em que a capacida-
de de relacionamento é um fator importante. Nunca, porém, deve ser
utilizada em caráter exclusivo. Também não pensamos que seja muito
valiosa para outros tipos de profissão.
Mesmo em profissões para as quais o relacionamento é essen-
cial, precisaremos examinar qual é o tipo de relacionamento. Poderá
êste ser predominantemente verbal com aspectos mais ou menos per-
suasivos ou coativos; ou poderá exigir eomponentes de criatividade
ou de capacidade de execução prática. Nestes casos, a entrevista co-
letiva de caráter meramente verbal não refletiria bem a situação do
trabalho real. Ao grupo entrevistado se lhe deve entãó dar um tra-
balho a realizar. Seria já quase um teste situacional. Poderíamos cha-
mar esta nova técnica de "Entrevista Ativa". A dificuldade principal
é se encontrar uma série de tarefas suficientemente simples em sua
aplicação, que possam fàcilmente ser substituídas entre si e que per-
mitam revelar tanto a capacidade de criação como de adaptação ao
trabalho em equipe. Tentamos alguma experiência nesse sentido, mas
por enquanto está num estágio muito rudimentar de seu desenvolvi-
mento. Sugerimos a idéia por considerá-la promissora, esperando que
alguém encontre possibilidades para pô-la em experiência.