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da Constituição
Presidente
Rodrigo Galindo
Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Danielle Leite de Lemos Oliveira
Juliana Caramigo Gennarini
Mariana Ricken Barbosa
Priscila Pereira Silva
Coordenador
Juliana Caramigo Gennarini
Revisor
Juliana Caramigo Gennarini
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Daniella Fernandes Hazure Manta
Flávia Mello Magrini
Leonardo Ramos de Oliveira Campanini
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
ISBN 978-85-522-0642-2
2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
TEMA 1
TEMA 2
TEMA 3
TEMA 4
constituições.
Introdução
São muitas as acepções do termo “constitucionalismo”, vez que diversos são os possíveis ângulos
de análise deste tema. Introduzido no vocabulário político e jurídico do mundo ocidental há pouco
mais de duzentos anos, esta palavra encontra-se, invariavelmente, associada às ideias antiabso-
lutistas de limitação do poder estatal e aos processos revolucionários francês e americano – muito
O constitucionalismo, portanto, pode ser identificado antes mesmo do surgimento das primeiras
constituições escritas, vez que sua origem trata-se de um fenômeno social, capitaneado pelo povo,
nha a história humana e será abordado de forma temporal, iniciando por seu aparecimento antigo,
passando pela sua ocorrência nos tempos modernos e, por derradeiro, será apreciado em sua rou-
Destarte, esta aula referente ao Constitucionalismo tem por intuito trazer ao aluno a compre-
ensão sobre esse fenômeno que deu ensejo às constituições e, obviamente, ao próprio Direito
Constitucional.
7
1. O que é constitucionalismo
Ao termo tem sido atribuída uma diversidade de significados. A plurivocidade é tamanha que se
dificuldade em se construir uma definição precisa do vocábulo, André Ramos Tavares identifica pelo
Em prosseguimento, importante apre- Para saber mais
José Joaquim Gomes Canotilho é um jurista
sentar as lições de J.J. Gomes Canotilho, português, licenciado e doutor em Direito pela
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,
que entende o constitucionalismo como
onde é Professor Jubilado catedrático e da qual foi
uma teoria que ergue princípios do governo Vice-Reitor. Autor de diversas obras emblemáticas
para o estudo do Direito – donde se destacam o
limitado, indispensável à garantia dos direi- “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”;
“Constituição, Dirigente e Vinculação do
tos na organização político-social de uma Legislador” e a “Constituição da República
Portuguesa Anotada” (com Vital Moreira) –, o
comunidade. Professor coimbrense em muito influencia o
pensamento constitucional pátrio.
1
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Cons-
titucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 21.
8
Em simplificação, pois, podemos entender o constitucionalismo como a ideia de limitação de
alteram em razão do local e período histórico em que o fenômeno ocorreu. Por tal motivo, o pró-
prio Professor Gomes Canotilho anota em teoria a existência de vários constitucionalismos, como o
designar o fenômeno.
Como já noticiado, o constitucionalismo tem historicidade, sua ocorrência está diretamente vin-
culada aos momentos históricos da civilização e precisa ser analisado em perspectiva mais geral,
abrangendo o ambiente que lhe deu causa ou lhe sofreu efeito. Nesse sentido é possível, para fins
2. Constitucionalismo antigo
Em verdade, é factível considerar que o Constitucionalismo surgiu em 1215, já na Idade Média,
quando da Magna Carta – documento que o Rei João Sem Terra subscreveu, obrigado pelos nobres,
para possibilitar sua ascensão ao poder desde que submetido às limitações lá constantes.
que havia sistemas de controle do poder com estabelecimento de limites no Estado Teocrático ao
exercício do poder político com a fiscalização por profetas, que utilizavam como parâmetro as escri-
turas sagradas. Consoante o autor alemão, o Estado Teocrático hebreu era fundado na Torah ou
Pentateuco (que compreende os cinco primeiros livros do Velho Testamento da Bíblia Cristã), docu-
mento responsável por estabelecer os limites do exercício do poder político pelo governante. Nas
9
“Os limites eram fixados pela Bíblia, sendo que cabia aos profetas, dotados de legitimidade
popular, acusar o governante quando este ultrapassasse aqueles limites. Este fenômeno
representa a primeira experiência constitucionalista de que se tem registro.”2
De outro lado, há a afirmação categórica de André Hauriou de que o constitucionalismo tem como
berço o Mediterrâneo Oriental, mais precisamente na Grécia Antiga. Ali, mais especificamente em
Atenas durante os séculos V a IV a.C, a relação entre governantes e governados era estabelecida
por meio da democracia direta – sendo relevante destacar que a participação política estava restrita
aos cidadãos, termo que abarcava, tão somente, os homens livres, sendo excluídas as mulheres, os
estrangeiros e os escravos. Não por outro motivo, há quem critique a noção de democracia ateniense
em razão da baixíssima participação popular, posto que os cidadãos que exerciam a democracia
direta não ultrapassavam a quantidade de um décimo da população total. Nada obstante, a despeito
limite do arbítrio do poder político, razão pela qual fica evidente a presença do constitucionalismo.
“Havia na Grécia um regime político que se preocupava com a limitação do poder das auto-
ridades e com a contenção do arbítrio. Contudo, esta limitação visava antes a busca do
bem comum do que a garantia de liberdades individuais. A liberdade, no pensamento grego,
cingia-se ao direito de tomar parte nas deliberações públicas da cidade-Estado, não envol-
vendo qualquer pretensão à não interferência estatal na esfera pessoal. Não se cogitava na
proteção de direitos individuais contra os governantes, pois se partia da premissa de que
as pessoas deveriam servir à comunidade política, não lhe podendo antepor direitos de
qualquer natureza. Tal concepção se fundava numa visão organicista da comunidade polí-
tica: o cidadão não era considerado em sua dignidade individual, mas apenas como parte
integrante do corpo social. O cidadão virtuoso era o que melhor se adequava aos padrões
sociais, não o que se distinguia como indivíduo. A liberdade individual não era objeto da
especial valoração inerente ao constitucionalismo moderno.”3
2
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 150.
3
SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: Teoria, História e Métodos de Trabalho.
1. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012.
10
Em verdade, percebendo o constitucionalismo ligado ao estado de direito e à democracia, não é
de se espantar sua identificação na civilização grega. Não bastasse as bases teóricas filosóficas sobre
as quais está fundada a civilização ocidental terem grande origem nos pensadores gregos, os estu-
dos históricos demonstram que a ideia de democracia e a ocorrência de certo regime democrático
deram-se com os povos gregos, com especial atenção aos atenienses.
Após atingir seu apogeu, a Grécia foi conquistada por Roma. Muito embora as ideias gregas
tenham também servido de inspiração para a formação e desenvolvimento da civilização romana,
sua organização política apresentou traços diferenciados à medida que a dominação sobre outros
povos aumentava. Luiz Roberto Barroso explica melhor:
Constata-se, pois, que houve constitucionalismos na época antiga, mas não com os contornos da
época moderna (com suas nomenclaturas e concepções teóricas), porém com o mesmo esforço de
criar limites para o exercício do poder político.
Assim, o constitucionalismo antigo compreende o período histórico em que, muito embora inexis-
tissem constituições escritas e rígidas, promoveu-se o desenvolvimento dos primeiros mecanismos
institucionais de contenção dos governantes no exercício do poder.
Destaca-se, por fim, que as experiências de constitucionalismos evidenciadas na Antiguidade se
esgotaram após a queda do Império Romano, momento a partir do qual pode-se afirmar que houve
um hiato constitucional.
4
BARROSO, Luis Roberto. Curso de Direito Constitucional. 4 ed. São Paulo - Saraiva, 2013. P.131
11
3. Constitucionalismo moderno
Após o hiato constitucional, podemos destacar (já na Idade Moderna) a
Carta Magna de 1215 assinada por João Sem Terra como um lampejo de
Estado (liberal) através da promulgação das primeiras constituições escritas e rígidas que, além de
limitar o poder dos governantes, afirmavam direitos políticos e individuais dos cidadãos.
que as antigas treze colônias britânicas da América do Norte, sob a influência das ideias iluministas,
mundo moderno, foi promulgada apenas em 1787, instituindo uma república federativa presidencia-
lista, fundada na separação de Poderes, na igualdade e na rule of law (supremacia da lei). Seu texto
original, entretanto, não apresentava uma declaração de direitos, que só foi criada pelas emendas
12
constitucionais de 1791, conhecidas como Bill of Rights, contendo garantias estritas e permanentes
Na Europa, as ondas de revolta da burguesia, formada por ricos comerciantes que reivindica-
vam participação nas decisões políticas do Estado, deflagrou, em 1789, a Revolução Francesa. Sob
o lema “liberdade, igualdade e fraternidade” – valores estes sintetizados na Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão – o novo movimento revolucionário logrou derrubar o antigo regime e insti-
tuir uma nova forma de governo antiabsolutista que “pretendeu criar uma monarquia constitucional
e parlamentar, em que o rei deixava de ser soberano por direito próprio e passava a ser delegado
Conceitos Fundamentais e a Construção do Novo Modelo. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 48).
Em 1891, quando o texto da Constituição Francesa foi finalizado, a Europa conheceria sua primeira
cesa são bastante distintas, pois enquanto o texto da Constituição Americana continua em vigência
até hoje, tendo sofrido menos de 30 emendas ao longo dos seus mais de 230 anos, a França contou
com mais de uma dezena de constituições ao longo de sua turbulenta história política.
governante e a afirmação de direitos individuais, correspondendo, por isso, ao que se entende por
“[...] assentava-se numa estrita separação entre sociedade e Estado. Esse deveria velar pela
segurança das pessoas e proteger a propriedade, mas não lhe competia intervir nas rela-
ções travadas no âmbito social, nas quais se supunha que indivíduos formalmente iguais
perseguiriam os seus interesses privados, celebrando negócios jurídicos.5”
5
SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: Teoria, História e Métodos de Trabalho.
1. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012.
13
Em finalização ao tópico, façamos a síntese com Dalmo de Abreu Dallari:
“Aí estão os três objetivos, que, conjugados, iriam resultar no constitucionalismo: a afirma-
ção da supremacia do indivíduo, a necessidade de limitação do poder dos governantes e a
crença quase religiosa nas virtudes da razão, apoiando a busca da racionalização do poder.6”
4. Constitucionalismo contemporâneo
Muito embora os conceitos pensados e levados a efeito no Constitucionalismo Moderno vigorem
até hoje, há contornos recentes e problemáticas próprias da sociedade contemporânea que deman-
dam da Constituição o cumprimento de novos papeis e novas funções, o que podemos caracterizar
nazista, tiveram como sustentáculo ideológico – no âmbito do Direito – o positivismo jurídico, o qual
direito e moral e conferiu centralidade à Constituição e aos direitos fundamentais nela previstos.
Nesse contexto, as normas constitucionais passaram a ser reconhecidas também como normas
6
Dallari, Dalmo. Elementos de Teoria Geral do Estado. Saraiva. 2016. P.222
7
BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos Teóricos e Filosóficos do Novo Direito Constitucional Brasileiro (Pós-
Modernidade, Teoria Crítica e Pós-Positivismo). Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica,
v. I, n. 6, set. 2001. Disponível em: <https://bit.ly/VI1gcX>. Acesso em: 13 mar. 2018.
14
jurídicas (força normativa da Constituição) que comportam tutela judicial quando descumpridas,
ocasionando a expansão da jurisdição constitucional. Tais premissas forneceram as bases para a for-
matação do que se entende por neoconstitucionalismo – movimento que representa a ruptura com o
No Brasil, tais premissas puderam ser verificadas mais claramente a partir da promulgação da
Constituição Federal de 1988, tendo papel de destaque nesse processo o Supremo Tribunal Federal,
8
SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: Teoria, História e Métodos de Trabalho.
1. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012.
15
jurídico, notadamente por via da jurisdição constitucional, em seus
diferentes níveis. Dela resulta a aplicabilidade direta da Constituição
a diversas situações, a inconstitucionalidade das normas incompa-
tíveis com a Carta Consti-
tucional e, sobretudo, a inter-
pretação das normas infra-
Link
constitucionais conforme a <https://bit.ly/2sxIQ19>. Acesso em:
Constituição, circunstância 24 maio 2018.
<https://bit.ly/2szm34V>. Acesso em:
que irá conformar-lhes o sen-
24 maio 2018.
tido e o alcance. A constitu- <https://bit.ly/2Hb0nkN>. Acesso em:
24 maio 2018.
cionalização, o aumento da
demanda por justiça por
parte da sociedade e a ascen-
são institucional do Poder Judiciário provocaram, no Brasil, uma intensa judicialização das
relações políticas e sociais. Tal fato potencializa a importância do debate, na teoria constitu-
cional, acerca do equilíbrio que deve haver entre supremacia constitucional, interpretação
judicial da Constituição e processo político majoritário. As circunstâncias brasileiras, na qua-
dra atual, reforçam o papel do Supremo Tribunal Federal, inclusive em razão da crise de legi-
timidade por que passam o Legislativo e o Executivo, não apenas como um fenômeno con-
juntural, mas como uma crônica disfunção institucional no Brasil9.”
16
Pontuando
• O constitucionalismo pode ser identificado antes mesmo do surgimento das primeiras consti-
tuições escritas, vez quesua origem trata-se de um fenômeno social, capitaneado pelo povo,
rias do constitucionalismo.
que havia sistemas de controle do poder com estabelecimento de limites no Estado Teocrático
ao exercício do poder político com a fiscalização por profetas, que utilizavam como parâmetro
as escrituras sagradas.
• O constitucionalismo moderno, também chamado de liberal burguês ou clássico, foi fruto de,
pelo menos, duas grandes revoluções ocorridas no século XVIII, que simbolizam a luta pela
XX, e, no Brasil, após a Constituição de 1988. O ambiente filosófico em que floresceu foi o do
Glossário
Constituição: “Lei fundamental que rege a organização político-jurídica do país (Constituição
10
Glossário STF
17
Força normativa da Constituição: “as normas constitucionais são dotadas de imperatividade,
constitucionalismo. O tema é, por várias razões, bastante controverso. Tanto o rótulo em si, como
o significado a ele atribuído são assuntos polêmicos. Como será aqui explicado, o nome foi pro-
posto para identificar um conjunto de teorias bastante heterogêneas, e o foi por autores contrá-
rios a elas. Quer dizer: a proposta da denominação partiu de uma crítica à teoria denominada.
Ademais, boa parte dos autores das várias teorias associadas ao rótulo não o utilizou, de modo
que o próprio “nome” tornou-se bastante problemático. Muitos que aceitam as premissas neo-
rótulo. Muitos teóricos consideram equivocadas as premissas teóricas a ele associadas, e outros
11
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito. Pág. 7.
12
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. Pág. 10.
13
MARTINS, Ricardo. Enciclopédia Jurídica da PUC-SP. Tomo Direito Administrativo e Constitucional. Ed. 1, abril de 2017.
18
Verificação de leitura
QUESTÃO 1 - “No Brasil tivemos, até hoje, 8 (oito) Constituições: 1824, 1891, 1934, 1937, 1946,
1967, 1969 e 1988, muito embora alguns autores não considerem a emenda constitucional de 1969
como uma nova Constituição”. O texto:
a) Está totalmente incorreto.
b) Está totalmente correto.
c) Está correto só quanto às datas, estando incorreto quanto à ressalva sobre a emenda constitu-
cional de 1969.
d) Apresenta conteúdo que se baseia na doutrina do constitucionalista italiano Máximo Saleme, já
superada. Só as datas estão corretas.
e) Está incorreto em relação ao número de constituições, visto que no Brasil tivemos, até hoje, 9
Constituições, sendo duas imperiais.
19
QUESTÃO 3 - No que se refere à Constituição, julgue as assertivas abaixo:
I) O constitucionalismo fez surgir as constituições modernas que se caracterizam pela adoção de car-
II) De acordo com o denominado princípio do efeito integrador, deve-se dar primazia, na resolução
dos problemas jurídico-constitucionais, aos critérios que favoreçam a integração política e social e
III) Atendendo ao princípio denominado correção funcional, o STF não pode atuar no controle con-
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
II) A Emenda Constitucional nº 03/93, que instituiu a ação declaratória de constitucionalidade, esta-
III) A forma federativa de Estado foi prevista na Constituição de 1891, mas ainda assim não foi asse-
IV) A Constituição de 1937 previu o Supremo Tribunal Federal, mas extinguiu a Justiça Federal.
a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e IV, apenas.
20
QUESTÃO 5 - Sobre o constitucionalismo, analise as assertivas abaixo expostas:
I) No Brasil, o constitucionalismo social inicia-se com a Constituição de 1934 que, à diferença das
Constituições de 1824 e de 1891, ressalvou que o direito de propriedade não poderia ser exercido
contra o interesse social ou coletivo, na forma determinada por lei, além de ter incorporado, em seu
Liberal Originário, inerente às revoluções liberalistas do século XVIII e desenrolar do século XIX, nos
Estados Unidos da América e Europa Ocidental, caracterizava-se, em linhas gerais, entre outros
aspectos, pelos seguintes pontos: afirmação da liberdade individual em sentido formal; afirmação
no Parlamento; presença de sistema eleitoral censitário; restrição do poder político aos limites da lei.
III) Em que pese parte da doutrina atribuir força normativa à Constituição, ainda predomina, sobre-
Liberal Originário, seja na Europa Ocidental, seja nas Américas, não estabeleceu regras firmes e
claras com relação à liberdade em sentido real e com relação à igualdade em sentido material. Tais
regras somente começaram a ingressar, ainda que em parte, no constitucionalismo a partir das pri-
meiras décadas do século XX, com a Constituição do México, de 1917, e a Constituição de Weimar, de
1919, além do papel de impacto, nessa área, cumprido pela Organização Internacional do Trabalho,
a partir de 1919.
21
Referências bibliográficas
CANOTILHO, J. J. Gomes; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz; MENDES, Gilmar Ferreira.
Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 24. ed. São Paulo: Saraiva,
2003.
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 10.
ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 33. ed. atual. São Paulo:
Malheiros, 2010.
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005.
VELOSO, Zeno. O Controle Jurisdicional de Constitucionalidade. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2000.
22
Gabarito
QUESTÃO 1 - Resposta B
Está correta a assertiva “b”. No Brasil, tivemos a Constituição de 1824 (Brasil Império); 1891
(Constituição Republicana); 1934 (Constituição Republicana); 1937 (Estado Novo); 1946 (Constituição
Republicana); 1967 (Regime Militar); 1969 (instituída pela Emenda nº 1); e 1988 (Constituição Cidadã).
Com efeito, a maioria da doutrina filia-se à ideia de que a Emenda Constitucional nº 1 de 1969 foi
utilizada como mecanismo de outorga de um novo texto constitucional, o qual, embora reafirmasse
parte dos dispositivos da Carta de 1967, acabou por alterá-la por completo.
QUESTÃO 2 - Resposta D
II) Assertiva verdadeira. Não mais se compreende como adequada uma interpretação “fechada”,
vinculada somente a um dos Poderes. Propugna-se, atualmente, por uma abertura hermenêutica
que possibilite aos demais órgãos públicos e setores sociais o oferecimento de “alternativas” para a
interpretação constitucional. É a tese defendida por Peter Haberle para concretizar uma sociedade
que não há hierarquia normativa, tampouco subordinação, entre as normas constitucionais; even-
tuais conflitos entre as normas originárias serão, pois, sanados por meio da tarefa hermenêutica. É
nesse sentido que no direito pátrio é inviável a declaração de inconstitucionalidade de uma norma
que o texto da Carta Maior seja compreendido como um todo unitário e harmônico, desprovido de
antinomias reais. Muito mais que um conjunto caótico de normas desconectadas e esparsas, o texto
23
QUESTÃO 3 - Resposta D
que são impostas, ditatoriais, estabelecidas sem qualquer resquício de participação popular.
II) Correto, como a finalidade primordial da Constituição é ordenar a vida em sociedade, inte-
grando-a a um Estado formalmente constituído, todas as suas normas devem ser interpretadas de
Nesse sentido vale apresentar a decisão do STF: “se a única interpretação possível para compatibi-
lizar a norma com a Constituição contrariar o sentido inequívoco que o Poder legislativo pretendeu
dar, não se pode aplicar o princípio da interpretação conforme a Constituição, que implicaria, em
verdade, criação de norma jurídica, o que é privativo do legislador positivo” (Rep. 1.417-DF, Rel. Min.
Moreira Alves).
QUESTÃO 4 - Resposta E
I) Assertiva falsa. A ação direta de inconstitucionalidade não estava originalmente inserida no texto
da Constituição de 1946, previsão que foi posteriormente estabelecida pela Emenda Constitucional
nº 16/1965.
II) Assertiva incorreta. Quando a ADC foi instituída pela EC nº 03/93, a legitimidade para sua pro-
positura abarcava apenas o Presidente da República, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Câmara
dos Deputados e o Procurador-Geral da República. Esse rol foi ampliado posteriormente, pela EC nº
45/2004 (Reforma do Poder Judiciário), que tornou a legitimidade para a propositura de ADC equi-
III) Correto. Com a promulgação da Constituição de 1891, o país tornou-se uma federação
Membros dotados de autonomia. Os Municípios, por sua vez, passaram a integrar a organização
24
político-administrativa da República Federativa do Brasil como entes da federação dotados de plena
IV) A assertiva é correta, pois de acordo com o que dispõe a Constituição de 1937, em seu art. 185
“O julgamento das causas em curso na extinta Justiça Federal e no atual Supremo Tribunal Federal
será regulado por decreto especial que prescreverá, do modo mais conveniente ao rápido anda-
mento dos processos, o regime transitório entre a antiga e a nova organização judiciária estabelecida
nesta Constituição”.
QUESTÃO 5 - Resposta D
Dentre as assertivas, todas estão corretas com exceção daquela constante do item III. Consoante
a doutrina de BARROSO “uma das grandes mudanças de paradigma ocorridas ao longo do século
XX foi a atribuição à norma constitucional do status de norma jurídica. Superou-se, assim, o modelo
que vigorou na Europa até meados do século passado, no qual a Constituição era vista como um
de Direito Administrativo, [s.l.], v. 240, p. 1-42, 21 jan. 2015. Fundação Getúlio Vargas, 2015, p. 5).
25
2
Introdução ao estudo
da Constituição
Objetivos
• Compreensão do conceito de Constituição.
Constituição.
Introdução
Esta aula se pretende introdutória ao estudo da Constituição. Seu intuito é o de municiar o
aluno com informações preambulares sobre o objeto central de estudo do Direito Constitucional: a
Constituição.
Aqui serão estudadas as diferentes concepções que o vocábulo possui, bem como os elementos e
as classificações da Constituição.
Por último, serão apresentadas as noções elementares referentes ao impacto da entrava em vigor
1. O conceito ou os conceitos de
Constituição
O termo “Constituição” se origina do verbo latino constituere, que exterioriza o ideal de constituir,
criar, delimitar, demarcar. Nessa acepção podemos considerar a Constituição o conjunto de normas
político-jurídica de um Estado.
Estado precisa estar devidamente conformado, com seus elementos essenciais organizados, com o
modo de aquisição e o exercício do poder delimitados, com sua forma de Governo e Estado definidas,
27
seus órgãos estabelecidos, suas limitações fixadas, os direitos fundamentais e as respectivas garan-
tias asseguradas.
Existem uma pluralidade de concepções que fornecem noções acerca do vocábulo ‘constituição’.
Ao conceito sociológico de Constituição, associa-se o alemão Ferdinand Lassalle que, em sua obra
“A essência da Constituição”, sustentou que esta seria o produto da soma dos fatores reais de poder
Segundo esta concepção, a Constituição é um reflexo das relações de poder vigentes em determi-
nada comunidade política. Assemelhada a um sistema de poder, seus contornos são definidos pelas
forças políticas, econômicas e sociais atuantes e pela maneira como o poder está distribuído entre
os diferentes atores do processo político. Isso significa que Constituição real (ou efetiva) é, para o
Oposta a esta, tem-se a Constituição escrita (ou jurídica) que, ao incorporar num texto escrito
esses fatores reais de poder, os converte em instituições jurídicas. Todavia, essa Constituição escrita
real, que seria a soma dos fatores reais de poder, isto é, das forças que
dicas vigentes.
Como num eventual embate entre o Para saber mais
O autor exemplifica a essencial
texto escrito e os fatores reais de poder, consonância entre o texto escrito e a realidade
fática com uma interessante metáfora: “Podem os
estes últimos sempre prevalecerão, deverá meus ouvintes plantar no seu quintal uma macieira
e segurar no seu tronco um papel que diga: “Esta
a Constituição escrita sempre se manter árvore é uma figueira”. Bastará esse papel para
transformar em figueira o que é macieira? Não,
em consonância com a realidade, pois, do
naturalmente. E embora conseguissem que seus
contrário, será esmagada (como uma sim- criados, vizinhos e conhecidos, por uma razão de
solidariedade, confirmassem a inscrição existente
ples “folha de papel”) pela sua incompati- na árvore de que o pé plantado era uma figueira,
a planta continuaria sendo o que realmente era e,
bilidade com o que vige na sociedade. quando desse frutos, destruiriam estes a fábula,
produzindo maçãs e não figos”.
A percepção de Carl Schmitt, elaborada
na clássica obra “Teoria da Constituição”,
28
ventila um novo olhar sobre o modo de se compreender a Constituição: não mais arraigada à distri-
buição de forças na comunidade política, agora a Constituição corresponde à “decisão política fun-
damental” que o Poder Constituinte reconhece e pronuncia ao impor uma nova existência política.
Sob o prisma político, portanto, pouco interessa se a Constituição corresponde ou não aos fatores
reais de poder, o importante é que ela se apresente enquanto o produto de uma decisão de vontade
que se impõe, que ela resulte de uma decisão política fundamental oriunda de um Poder Constituinte
capaz de criar uma existência política concreta, tendo por base uma normatividade escolhida.
Desta forma, constitucionais são somente aquelas normas que fazem referência à decisão polí-
Todos os demais dispositivos inseridos na Constituição, mas estranhos a esses temas, são mera-
mente leis constitucionais, isto é, nos dizeres atuais: somente formalmente constitucionais.
Esta concepção foi construída a partir das teses do mestre austríaco Hans Kelsen, que se tornou
mundialmente conhecido como o autor da Teoria Pura do Direito. Observe-se, porém, que a teo-
ria pura não é somente o título de uma obra, e sim de um empreendimento que tencionava livrar
o Direito de elementos estranhos à uma leitura jurídica de seu objeto – isto é, visava desconsiderar
psicológico, uma vez que estes em nada contribuíam para a descrição das normas jurídicas – possi-
que toda norma retira sua validade de outra que lhe é imediatamente superior.
Segundo o autor, no mundo das normas jurídicas uma norma só pode receber validade de outra,
de modo que a ordem jurídica sempre se apresente estruturada em normas superiores fundantes –
que regulam a criação das normas inferiores – e normas inferiores fundadas – aquelas que tiveram
29
Essa relação de validade culmina em um escalonamento hierárquico
do sistema jurídico, uma vez que as normas nunca estarão lado a lado,
matizado de normas, a doutrina, levando em conta a estrutura normativa e o conteúdo das normas
constitucionais, estruturou cinco grupos, que traduzem as principais categorias das normas. Isso
Parece-nos que a mais completa organização dos elementos formativos da Constituição é aquela
(Da Organização dos Poderes e do Sistema de Governo), Capítulos II e III do Título V (Das
2) elementos limitativos: estão presentes nas normas institutivas do rol de direitos e garantias
30
3) elementos sócio-ideológicos: são as normas que explicitam o compromisso social das
Constituições modernas com a proteção dos indivíduos e busca pela efetivação de um bem-
-estar social, como as do Capítulo II do Título II (Direitos Sociais) e as dos Títulos VII (Da Ordem
Econômica e Financeira) e VIII (Da Ordem Social);
4) elementos de estabilização constitucional: conjunto representado pela reunião das normas que
objetivam assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado
e das instituições democráticas, como as encontradas nos arts. 34 a 36 (Da Intervenção), 59,
I, 60 (processo de emendas à Constituição), 102, I, “a” (ação direta de inconstitucionalidade
e ação declaratória de constitucionalidade), 102 e 103 (consagradores da jurisdição constitu-
cional) e no Título V (Da Defesa do Estado e das instituições democráticas, especialmente o
Capítulo I, pois os Capítulos II e III, conforme vimos, integram os elementos orgânicos);
5) elementos formais de aplicabilidade: último grupo está representado pelas normas que ins-
tituem regras de aplicação das normas constitucionais; pode-se dizer que o preâmbulo é um
exemplo, bem como normas constitucionais de caráter transitório (presentes no ADCT) e,
ainda, o § 1º do art. 5º, quando determina que “as normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata”.
mente substanciais – para classificar as Constituições. Vejamos os mais úteis à compreensão do tema.
31
c) Cesarista: assim como a outorgada, a Constituição intitulada cesarista tem seu texto elabo-
rado sem a participação do povo. No entanto, e diferentemente daquela, para entrar em vigor
dependerá de aprovação popular que a ratifique depois de pronta. Considerando que a parti-
cipação popular se dá apenas formalmente através da concordância popular a um documento
já pronto, sem nenhuma possibilidade de inserção de conteúdo novo, não nos parece um texto
nem minimamente democrático.
32
b) Não escrita: diferentemente das Constituições escritas – em que
todas as normas constitucionais podem ser encontradas em um
único documento –, as Constituições
não escritas possuem normas cons-
titucionais esparsas, que podem ser Para saber mais
Atenção a um detalhe: a Constituição não escrita
encontradas tanto nos costumes e
não possui somente normas não escritas; em
na jurisprudência dos Tribunais verdade, ela é formada pela junção destas com os
textos escritos.
como nos acordos, convenções e
também nas leis.
que regulamenta vários assuntos (inclusive aqueles não considerados relevantes para a orga-
33
3.6. Quanto ao conteúdo
a) Material: em Constituições desse tipo considera-se constitucional toda norma que tratar de
34
4. Direito constitucional intertemporal
4.1. A entrada em vigor de uma nova Constituição
Considerando que a Constituição é o fundamento de validade de todo o restante do ordenamento,
nenhum ato jurídico sobrevive validamente se com ela for incompatível. Destarte, em razão de a
parâmetro de validade das demais normas, sua entrada em vigor acarreta as seguintes consequências:
Constituição pretérita);
ii) a recepção dos diplomas infraconstitucionais que sejam com ela compatíveis.
35
• segundo a teoria, como a Constituição não admite textos que a contrariem, estes terão sua
• por outro lado, existirão no ordenamento diplomas coerentes e conformes, no aspecto mate-
4.2. Repristinação
Esse fenômeno ocorre quando uma norma revogada retoma sua produção de efeitos em razão da
revogação da norma que a revogou. No direito pátrio, todavia, essa ocorrência depende de previsão
expressa, de forma que a norma revogada só volte a viger se a norma que revogou a revogadora
Na repristinação tem-se a sucessão temporal de três atos normativos. O primeiro (“A”) é efetiva-
mente revogado pelo segundo (“B”); este, por sua vez, é igualmente revogado por um terceiro (“C”).
Se o terceiro e último ato normativo nada disser a respeito, a simples revogação da norma revoga-
dora (“B”) não acarreta a retomada da produção de efeitos da primeira lei revogada (“A”).
título secundário, a antiga qualidade de normas constitucionais. Para ilustrar, temos o art. 34, ADCT.
36
5. Questão para reflexão
Sugerimos que o leitor busque conhecer a concepção culturalista da Constituição, cujo intuito
é buscar alguma conexão entre os sentidos que aqui foram apresentados (sociológico, político e
jurídico).
um produto da cultura, pois assim como a cultura é o resultado da atividade criativa humana, o
res sociais, nas decisões políticas fundamentais (frutos da vontade política do poder constituinte) e
Glossário
dade, também chamada de interpretação conforme, por meio da qual o magistrado escolhe, entre
tancial quando o critério definidor se atém ao conteúdo das normas examinadas. A Constituição
será, assim, o conjunto de normas que instituem e fixam as competências dos principais órgãos
do Estado, estabelecendo como serão dirigidos e por quem, além de disciplinar as interações e
1 Glossário STF
2 MENDES, 2015, p. 55.
37
Constituição em sentido formal: é o documento escrito e solene que positiva as normas jurí-
São constitucionais, assim, as normas que aparecem no Texto Magno, que resultam das fontes
da Constituição formal todas as normas que forem tidas pelo poder constituinte originário ou de
reforma como normas constitucionais, situadas no ápice da hierarquia das normas jurídicas.3
Pontuando
• O conceito de Constituição em seu sentido sociológico foi dado por Ferdinand Lassale. Em
suas próprias palavras: “Acabamos de ver, senhores, a relação que existe entre as duas
Constituições de um país: a Constituição real e efetiva, constituída pelo somatório dos fatores
reais e efetivos que vigoram na sociedade e essa outra Constituição escrita, a que, para dis-
Estado, de sua organização, das limitações do poder político e das formas de ascensão ao
bida como a norma fundamental hipotética que é o fundamento de validade para a formação
3
MENDES, 2015, p. 57.
4
LASSALLE, Ferdinand. A Essência da Constituição. 6ªed. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2001. P.121
38
• A Constituição Federal de 1988 pode ser classificada: (i) quanto à origem: como democrática;
(ii) quanto à estabilidade: como rígida; (iii) quanto à forma: como escrita; (iv) quanto ao modo
de elaboração: como dogmática; (v) quanto à extensão: como analítica; (vi) quanto ao con-
juridicamente e ser o parâmetro de validade das demais normas, sua entrada em vigor acar-
reta como consequências: (i) a revogação completa da Constituição pretérita; (ii) a recepção
Verificação de leitura
QUESTÃO 1 - Sobre a Constituição e a aplicabilidade de suas normas, é correto afirmar:
a) Utilizando-se da classificação elaborada por José Afonso da Silva, o Supremo Tribunal Federal
decidiu que a norma constitucional que prevê que “lei complementar estabelecerá outros casos
de inelegibilidade...”, além das previstas no texto constitucional, é norma de eficácia contida, por-
b) O dispositivo constitucional que afirma que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei” é uma norma constitucional de eficácia contida.
c) A gratuidade dos transportes coletivos urbanos aos maiores de sessenta e cinco anos é uma
d) A concepção política da constituição ocorre quando na constituição há soma dos fatores reais de
poder que regem determinada nação, sob pena de se tornar mera folha de papel escrita, que não
39
QUESTÃO 2 - A respeito da classificação das constituições e dos elementos que são revelados pela
I) As constituições podem ser classificadas como materiais ou formais (quanto ao conteúdo), escritas
ou não escritas (quanto à forma) e dogmáticas ou históricas (quanto ao modo de elaboração), dentre
II) Sob o ponto de vista da extensão, a Constituição analítica consubstancia apenas normas gerais de
III) O preâmbulo e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias são exemplos dos denominados
Por limitarem a atuação dos poderes estatais, as normas que regulam a ação direta de inconsti-
limitativos.
a) I, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I e III, apenas.
d) IV, apenas.
40
QUESTÃO 3 - No que se refere à Teoria da Constituição, julgue as afirmativasabaixo:
I) Segundo a doutrina, quanto ao critério ontológico, que busca identificar a correspondência entre
II) Os elementos formais de aplicabilidade são exteriorizados nas normas constitucionais que prescre-
vem as técnicas de exteriorizados nas normas constitucionais que prescrevem as técnicas de aplica-
ção delas próprias, como, por exemplo, as normas inseridas no Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias.
III) As normas constitucionais de eficácia contida são de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida,
havendo necessidade de lei integrativa infraconstitucional para produzir todos os seus efeitos.
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
a) A Constituição da Inglaterra classifica-se como ortodoxa, por ser produto do tempo, ou seja, de
pois impõe a omissão ou negativa de ação ao Estado e preserva, assim, as liberdades públicas.
e) Segundo o STF, será revogada a lei que for materialmente incompatível com texto constitucional
41
QUESTÃO 5 - Assinale a opção correta no que diz respeito à classificação das constituições:
dadas em instrumento formal e solene, e não escritas, quando baseadas em usos, costumes e textos
esparsos.
II) A doutrina denomina Constituição semântica as cartas políticas que apenas refletem as subjacen-
III) Diz-se que uma Constituição é prolixa quando, por decorrência do tempo ou de radical mudança
IV) Quanto ao modo de elaboração, a vigente CF pode ser classificada como uma Constituição his-
a) II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I e III, apenas.
d) IV, apenas.
42
Referências bibliográficas
CANOTILHO, J. J. Gomes; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz; MENDES, Gilmar Ferreira.
Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 24. ed. São Paulo: Saraiva,
2003.
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 10.
ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 33. ed. atual. São Paulo:
Malheiros, 2010.
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005.
VELOSO, Zeno. O Controle Jurisdicional de Constitucionalidade. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2000.
43
Gabarito
QUESTÃO 1 - Resposta C
a) Errado, normas de eficácia contida são aquelas que também estão aptas para a produção de seus
plenos efeitos desde a promulgação da Constituição (aplicabilidade imediata), mas que podem vir a ser
restringidas. Segundo o STF, “o § 9º do art. 14 da Constituição, por traduzir norma revestida de eficácia
meramente limitada, não dispõe de autoaplicabilidade” (ADPF 144, voto do Rel. Min. Celso de Mello); b)
Trata-se de norma de eficácia plena, pois o princípio da legalidade produz todos seus efeitos indepen-
dentemente de regulamentação posterior (art. 5°, II, CF/88); c) Correto. O STF apreciou a questão na
ADI 3.768, julgada improcedente, e deixou consignado: “O art. 39 da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do
Idoso) apenas repete o que dispõe o § 2º do art. 230 da Constituição do Brasil. A norma constitucio-
nal é de eficácia plena e aplicabilidade imediata, pelo que não há eiva de invalidade jurídica na norma
legal que repete os seus termos e determina que se concretize o quanto constitucionalmente disposto”.
Importante mencionar também que não há obstáculo constitucional que possa inibir o exercício, pelo
Município, da típica atribuição institucional que lhe pertence, fundada em título jurídico específico (CF,
art. 30, I), para legislar, por autoridade própria, sobre a extensão da gratuidade do transporte público
coletivo urbano às pessoas compreendidas na faixa etária entre sessenta e sessenta e cinco anos. Na
realidade, o Município, ao assim legislar, apoia-se em competência material – que lhe reservou a pró-
pria CR – cuja prática autoriza essa mesma pessoa política a dispor, em sede legal, sobre tema que
reflete assunto de interesse eminentemente local. Cabe assinalar, neste ponto, que a autonomia muni-
cipal erige-se à condição de princípio estruturante da organização institucional do Estado brasileiro,
qualificando-se como prerrogativa política, que, outorgada ao Município pela própria CR, somente por
esta pode ser validamente limitada (RE 702.848, Rel. Min. Celso de Mello); d) Item incorreto. Essa é
a concepção sociológica. Sob o prisma político pouco interessa se a Constituição corresponde ou não
aos fatores reais de poder, o importante é que ela se apresente enquanto o produto de uma decisão
de vontade que se impõe, que ela resulte de uma decisão política fundamental oriunda de um Poder
Constituinte capaz de criar uma existência política concreta, tendo por base uma normatividade esco-
lhida; e) Errado, a Constituição dogmática traduz-se num documento necessariamente escrito, elabo-
rado em uma ocasião certa, historicamente determinada, por um órgão competente para tanto.
44
QUESTÃO 2 - Resposta A
cionada de maneira extensa, ampla, detalhada, já que regulamenta todos os assuntos considerados
III) Errada, o Preâmbulo e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias são exemplos de ele-
mentos formais de aplicabilidade; IV) Errada, as normas que regulam a ação direta de inconstitucio-
ção constitucional – que é representado pela reunião das normas que objetivam assegurar a solução
QUESTÃO 3 - Resposta C
I) Correta, segundo a classificação ontológica de Karl Loewenstein; II) Correta, os elementos for-
mais de aplicabilidade estão representados pelas normas que instituem regras de aplicação das nor-
mas constitucionais; III) Assertiva falsa. As características mencionadas quanto à aplicabilidade refe-
45
QUESTÃO 4 - Resposta E
(i) Democrática, igualmente denominada promulgada, é fruto da participação popular na sua con-
fecção; (ii) Outorgada, quando a Constituição é construída e estabelecida sem qualquer resquício de
participação popular, sendo imposta aos nacionais como resultado de um ato unilateral do gover-
nante; (iii) Cesarista, aquela que tem seu texto elaborado sem a participação do povo, no entanto,
para entrar em vigor dependerá de aprovação popular que a ratifique depois de pronta; e, por
fim, (iv) Dualistas, também intituladas pactuadas, são formadas por textos constitucionais que nas-
cem do instável compromisso (ou pacto) entre forças opositoras; c) Alternativa incorreta. A doutrina
majoritária adota a classificação de José Afonso da Silva, segundo o qual as normas constitucionais
classificam-se, quanto à sua eficácia e aplicabilidade, em normas de eficácia plena, contida e limi-
vas lançadas ao futuro, arquitetando um plano de fins e objetivos que serão perseguidos pelos pode-
res públicos e pela sociedade. É marcada, pois, pela presença de programas e projetos voltados à
concretização de certos ideais políticos; e) A assertiva está correta. Conforme entendimento do STF,
proferido na ADI 02-DF, sendo anterior e materialmente incompatível com o texto constitucional, a
QUESTÃO 5 - Resposta A
Errada. Quanto à forma, as constituições podem ser classificadas como escritas e não escri-
tas; “Constituição material” é critério referente ao conteúdo do texto constitucional; II) Correta.
Vale ressaltar que é típica de estados ditatoriais; sua função única é legitimar o poder usurpado do
povo, estabilizando a intervenção dos ilegítimos dominadores de fato do poder político; III) Errada.
Constituição prolixa é aquela em que sua confecção se dá de maneira extensa, ampla, detalhada,
do Estado; IV) Errada. Quanto ao modo de elaboração, a Constituição vigente pode ser classificada
como dogmática.
46
3
Poder constituinte
originário
Objetivos
• Compreender o conceito de Poder Constituinte Originário.
Introdução
O Poder Constituinte Originário é o poder responsável pela elaboração da Constituição, norma
Pode-se afirmar que esse poder sempre existiu, pois desde os primórdios das organizações polí-
ticas ele esteve presente; sua teorização, todavia, é mais recente. Sobre isso, a doutrina informa:
“Enquanto poder correlato à própria existência do Estado – já que em todos os atos sociais
de fundação e estruturação de uma comunidade, até os mais arcaicos, tivemos sua mani-
festação –, pode-se afirmar que o poder sempre existiu. Desde as primordiais organizações
políticas ele esteve presente; o que nem sempre existiu, todavia, foi sua teorização. A deli-
mitação de uma teoria acerca do poder constituinte originário teve por mérito transpor a
fundação do Estado do inconsciente político e social para o consciente jurídico conferindo-
-lhe evidência racional que afastava qualquer argumentação metafísica na legitimação das
ordens normativas.”1
O precursor dos estudos sobre o poder originário foi Emmanuel Joseph Sieyès, autor de um pan-
fleto divulgado às vésperas da Revolução Francesa intitulado Qu’est-ce que le tiers État? Segundo o
abade francês, a Constituição seria produto dos trabalhos do poder constituinte originário e estru-
turaria os poderes (constituídos) do Estado, se diferenciando destes por sua superioridade e capaci-
dade criadora.
1
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 114.
48
Segundo nos informa Alexandre de Moraes,
Senão vejamos:
2
MORAES, Alexandre de. Curso de Direito Constitucional. 32. ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 84 e 85.
49
impossível ter base normativa que fundamente o PCO, já que ele é
Às vésperas da Revolução Francesa, quando Sieyés publicou o panfleto intitulado O que é o terceiro
Estado?, a formulação clássica da titularidade do poder constituinte como pertencente à nação surgiu.
3. Espécies
O PCO pode ser classificado, quanto ao momento de sua manifestação, da seguinte maneira:
meira Constituição Histórica – segundo Hans Kelsen). Agiu em nosso país na outorga do docu-
mento de 1824.
50
ii) Pós-fundacional (por muitos chamado de Revolucionário): quando o PCO parte de uma rup-
tura de uma ordem jurídica vigente para elaborar o novo documento que substituirá (por
revogação) o anterior. Essa espécie de PCO atua na feitura de todos os documentos posterio-
res ao primeiro, se existirem, de modo revolucionário ou por meio de uma transição constitu-
cional pacífica. No Brasil, apresentou-se nos documentos posteriores à Carta de 1824 – nas
4. As características do poder
constituinte originário
Segundo a ótica positivista, vigente em nosso ordenamento, são quatro as características essen-
ciais do poder:
d) Autônomo: porque é capaz de definir o conteúdo que será implantado na nova Constituição,
bem como sua estruturação e os termos de seu estabelecimento. Ressalte-se que para alguns
autores essa característica é só uma maneira diferente de expressar o fato de o poder ser
ilimitado.
51
Há, ainda, outra característica do poder constituinte útil à complementação do rol apresentado.
Diz-se ser este um poder permanente, pois ele não se esgota quando da conclusão da Constituição.
Ele permanece em situação de latência, podendo ser ativado quando o “momento constituinte” (de
Vale frisar que a ausência de limites para o exercício do poder originário deve ser tratada com cer-
tas reservas, pois é indiscutível a existência de alguns limites, como, por exemplo, os geográficos/
territoriais. Igualmente são limites as circunstâncias sociais e políticas que lhes dão causa, pois se o
poder constituinte é a expressão da vontade política soberana do povo, não pode ser entendido sem
a observância dos valores éticos, religiosos e culturais pelo povo partilhados e motivadores de suas
i) Sieyès³, jusnaturalista que é, no quinto capítulo de “O que é o Terceiro Estado?” afirma que a
nação e, por consequência, o poder constituinte: ‘Existe antes de tudo, ela é a origem de tudo.
Sua vontade é sempre legal, é a própria lei. Antes dela e acima dela só existe o direito natural’. 3
ii) Para J.J. Gomes Canotilho4, o poder constituinte originário obedece a “padrões e modelos
iii) Para Cláudio Pereira de Souza Neto e Daniel Sarmento: “Entendemos que até mesmo o poder
constituinte originário está sujeito a limites. Adotamos uma visão não positivista do fenômeno
jurídico, que afirma a existência de uma relação necessária, e não meramente contingente,
entre Direito e Moral. Nesta perspectiva, normas radicalmente injustas — como seria uma que
radas como integrantes do Direito, independentemente da sua fonte ou estatura. Por isso, as
normas intoleravelmente injustas não devem ser aplicadas, ainda que estejam contidas no
texto constitucional.”5
3
A Constituição Burguesa: qu”est-ce que le Tiers Etat. Rio de Janeiro: Liber Juris, 1986, p. 117.
4
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993, p. 97
5
Souza Neto, Cláudio Pereira de; Sarmento, Daniel. Direito Constitucional: Teoria, História e Métodos de Trabalho. Belo
Horizonte: Fórum, 2012, p. 499.
52
5. O poder
constituinte
Para saber mais
53
6. Questão para reflexão
Sugerimos ao leitor que enfrente, a partir da doutrina kelseniana, o descompasso (aparente)
entre duas conclusões aqui já alcançadas: a circunstância de a Constituição ser o documento que
cidade antes dela. Assim, como recepcionar o “direito velho” se não existe direito antes da nova
Constituição?
“Se as leis introduzidas sob a velha Constituição ‘continuam válidas’ sob a nova Constituição,
isso é possível apenas porque a validade lhes foi conferida, expressa ou tacitamente, pela
nova Constituição. O fenômeno é um caso de recepção (semelhante à recepção do Direito
romano). A nova ordem recebe, i. e., adota normas da velha ordem; isso quer dizer que a
nova ordem dá validade (coloca em vigor) as normas que possuem o mesmo conteúdo que
normas da velha ordem. A ‘recepção’ é um procedimento abreviado de criação do direito.
As leis que, na linguagem comum, inexata, continuam sendo válidas, são, a partir de uma
perspectiva jurídica, leis novas, cujo significado coincide com o das velhas leis. Elas não são
idênticas às velhas leis, porque seu fundamento de validade é diferente. O fundamento de
sua validade é a nova Constituição, não a velha, e a continuidade das duas não é válida nem
do ponto de vista de uma, nem do da outra. Assim, nunca é apenas a Constituição, mas
sempre toda a ordem jurídica que é modificada por uma revolução”.6
Glossário
Poder Constituinte: é o poder de elaborar, reformar e revisar a ordem jurídica do Estado,
6
Kelsen, Hans; tradução de Luís Carlos Borges. Teoria Geral do Direito e do Estado. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1998, p. 172.
7
Glossário STF.
54
Poder Constituinte fundacional: também denominado “histórico, é aquele que produz a primeira
Constituição de um Estado” (nos dizeres de Hans Kelsen, a “1ª Constituição Histórica”). Atuou em
Poder Constituinte pós-fundacional: é aquele que parte de uma ruptura institucional da ordem
vigente para elaborar a nova Constituição que sucederá uma anterior, revogando integralmente
documentos posteriores à Carta de 1824 – nas Constituições de 1891, 1934, 1937, 1946, 1967/1969
e 1988.9
Pontuando
• O Poder Constituinte Originário é o poder responsável pela elaboração da Constituição, norma
• O PCO é um poder:
ii) Ilimitado: pois não se submete ao regramento posto pelo direito precedente, sendo possui-
iii) Incondicionado: já que não se submete a qualquer regra ou procedimento formal prefixado
iv) Autônomo: porque é capaz de definir o conteúdo que será implantado na nova Constituição;
• Não se pode alegar “direito adquirido” perante a nova Constituição, diante do trabalho do
poder originário.
55
Verificação de leitura
QUESTÃO 1 - A respeito do poder constituinte, julgue os itens a seguir:
I) O poder constituinte originário, responsável pela elaboração de uma nova Constituição, extingue-
II) O poder constituinte originário, por sua própria natureza, não pode decorrer da atuação de uma
popular.
III) Um fazendeiro que detenha a propriedade de nascente de água desde setembro de 1988 pode
invocar direito adquirido contra a norma constitucional, oriunda do poder constituinte originário, que
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
56
QUESTÃO 2 - Julgue os itens subsequentes, que dizem respeito ao poder constituinte no ordena-
mento jurídico nacional:
I) No que se refere ao poder constituinte originário, o Brasil adotou a corrente jusnaturalista, segundo
a qual o poder constituinte originário é ilimitado e apresenta natureza pré-jurídica.
II) Sob o aspecto democrático, a titularidade do Poder Constituinte é do Estado, mas é o povo que o
exerce.
III) Os direitos adquiridos sob a égide de Constituição anterior, ainda que sejam incompatíveis com a
Constituição atual, devem ser respeitados, dada a previsão do respeito ao direito adquirido no pró-
prio texto da CF.
Quais assertivas estão incorretas?
a) I, II e III.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas I.
e) Apenas II e III.
57
QUESTÃO 4 - O Poder Constituinte Originário:
e) É atuante junto ao Poder Legislativo comum, com critérios específicos e de forma contínua.
QUESTÃO 5 - Ao Poder que possibilita a instauração de uma nova ordem jurídica dá-se o nome de
Poder Constituinte:
a) Inicial e autônomo, pois produz uma nova Constituição, mas deve respeitar as cláusulas pétreas,
b) Originário, pois delibera e produz a nova ordem constitucional, sendo, assim, autônomo, incondi-
c) Derivado, tendo em vista que constitui a substituição dos ordenamentos jurídicos anteriores,
d) Derivado, pois se presta a substituir a carta constitucional anterior, dela derivando e, portanto,
devendo respeitar o procedimento formal para essa medida, bem como as cláusulas pétreas.
58
Referências bibliográficas
CANOTILHO, J. J. Gomes; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz; MENDES, Gilmar Ferreira.
Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 24. ed. São Paulo: Saraiva,
2003.
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 10.
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MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
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SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005.
VELOSO, Zeno. O Controle Jurisdicional de Constitucionalidade. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2000.
59
Gabarito
QUESTÃO 1 - Resposta A
I) Afirmativa falsa. O poder constituinte originário é um poder permanente, pois não se esgota
quando da conclusão de seu trabalho (entrega da Constituição); II) Falsa. O exercício do poder originário
pode ser autocrático, quando o poder se manifesta por meio da outorga – de modo que a Constituição
seja estabelecida por um indivíduo ou um grupo que alcança o poder sem qualquer resquício de par-
ticipação popular, constituindo o que se denomina poder constituinte usurpado; III) Inexiste alegação
de “direitos adquiridos” perante a nova Constituição, perante o trabalho do poder originário, quando
o direito alegado for contrário à nova ordem constitucional. Contudo, se o direito que foi adquirido
segundo o regramento jurídico anterior não contrariar a nova Constituição ele poderá ser normalmente
QUESTÃO 2 - Resposta D
constituinte originário é tido por um poder de fato, metajurídico, que se funda em si mesmo, não
integrando o mundo jurídico nem possuindo natureza jurídica; II) Assertiva incorreta. Titular do poder
constituinte é aquele que o detém estando apto a elaborar os contornos normativos de um Estado.
Nas vésperas da Revolução Francesa, quando Sieyés publicou o panfleto intitulado “O Que é o Terceiro
Estado?”, a formulação clássica da titularidade do poder constituinte como pertencente à nação sur-
giu. Uma leitura mais moderna, todavia, substitui o conceito de “nação” – de matriz fortemente socio-
lógica – pelo de povo – substancialmente jurídico –, na titularidade do poder constituinte. Poder cons-
tituinte passou a significar, portanto, poder do povo; III) Incorreta. O poder constituinte originário é ini-
cial, fornecendo as bases jurídicas que inauguram o ordenamento; é também ilimitado sob o aspecto
Assim, somente é direito o que a nova ordem disser que é, aquilo que por ela for aceito como tal.
Nesse contexto, outra não pode ser a conclusão senão a de que inexiste alegação de “direitos adqui-
ridos” perante a nova Constituição, perante o trabalho elaborado pelo poder originário.
60
QUESTÃO 3 - Resposta E
por isso, não podem sofrer controle de constitucionalidade. ADI 815-DF, STF, Rel. Min. Moreira Alves,
noticiada no Informativo 25, STF; b) Falsa. Inexiste alegação de “direitos adquiridos” perante a nova
Constituição, em face do trabalho do poder originário, quando o direito alegado for contrário à nova
ordem constitucional. Contudo, se o direito que foi adquirido segundo o regramento jurídico anterior
não contrariar a nova Constituição ele poderá ser normalmente exercido, pois o documento consti-
tucional o reconhece e aceita, dada sua compatibilidade; c) Assertiva incorreta. O poder constituinte
tuinte originário é considerado um poder permanente, posto que não se esgota quando da conclu-
são do seu trabalho (a feitura da Constituição). Ele permanece em situação de latência, podendo ser
ativado quando um novo “momento constituinte”, de necessária ruptura com a ordem estabelecida,
se apresentar.
e) Incorreta, vez que o poder constituinte originário é um poder de fato, detentor de natureza
lismo pátrio.
QUESTÃO 4 - Resposta C
O poder constituinte originário é ilimitado, visto que não se submete ao regramento posto pelo
direito precedente; incondicionado, vez que não se submete a qualquer regra ou procedimento for-
mal pré-fixado pelo ordenamento jurídico que o antecede; autônomo, visto que tem capacidade de
definir o conteúdo que será implantado na nova Constituição e permanente, pois ele não se esgota
quando da conclusão da Constituição. Nesse sentido, a assertiva correta é a constante da letra “C”.
61
QUESTÃO 5 - Resposta B
Tal poder constituinte é originário, sendo considerado um poder de fato, que se funda em si mesmo,
sem se basear em regra alguma do direito anterior, detentor, portanto, de natureza essencialmente
política. É um poder ilimitado (não se submete ao regramento posto pelo direito precedente), incon-
dicionado (não se submete a qualquer regra ou procedimento formal pré-fixado pelo ordenamento
jurídico que o antecede), autônomo (tem capacidade de definir o conteúdo que será implantado na
nova Constituição) e permanente (não se esgota quando da conclusão da Constituição). Nesse sen-
62
4
Poderes constítuidos
derivados
Objetivos
• Expor as informações mais relevantes acerca dos Poderes Constituídos Derivados.
Introdução
Nessa derradeira aula concluiremos a disciplina introdutória expondo as informações mais rele-
vantes acerca dos Poderes Constituídos Derivados: são poderes que foram instituídos pelo poder ori-
ginário, isto é, são “poderes de direito” (possuidores de natureza jurídica, e não política), que conhe-
Interessante destacar, desde logo, que o nome dado a esta aula difere daquele utilizado pela
maioria dos manuais ou livros doutrinários. Tal escolha visar expor ao aluno a impropriedade técnica
cometida por boa parcela da doutrina ao intitular tais poderes como constituintes.
A falta técnica nos parece nítida: se são poderes que foram instituídos pelo poder originário, a
rigor não podem ser constituintes, pois não são “criadores” e sim “criaturas”! Afrontaria, pois, à pró-
pria natureza e essência una do poder constituinte, sua divisão em originário (de 1º grau) e derivado
Nesse mesmo sentido é a opinião de Carlos Ayres Britto¹, ao preceituar não existir um “poder
constituinte derivado, pela consideração elementar de que, se é um poder derivado, é porque não
é constituinte. Se o poder é exercitado por órgãos do Estado, ainda que para o fim de reformar a
Constituição, é porque sua ontologia é igualmente estatal. E sendo estatal, o máximo que lhe cabe
é retocar o Estado, nesse ou naquele aspecto, mas não criar um Estado zero quilômetro. E sem esse
poder de plasmar ex novo e ab ovo o Estado (que é o correlato poder de desmontar, desconstituir
1
BRITO, Carlos Ayres. Teoria da Constituição. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 96.
64
Em conclusão, muito embora seja uma
1. Características
1
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional.
19. ed., atual. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 30.
2
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional.
6. ed. Coimbra: Almedina, 1993, p. 95.
Aos Poderes Constituídos costumam ser
65
2. Espécies
O PCO cria os poderes derivados, que a ele ficam vinculados, concedendo-lhes atribuições previa-
mente delimitadas no intuito de cumprir uma dupla finalidade: (i) a de manter a Constituição atua-
lizada à realidade que ela pretende normatizar (evitando que a passagem do tempo a derrote) e (ii)
2
MORAES, Alexandre de. Curso de Direito Constitucional. 32. ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 84 e 85.
66
3. Poder derivado
decorrente
Como a nossa forma de Estado é a fede-
Para saber mais
rada – caracterizada pela descentralização Art. 25, CF/88: Os Estados organizam-se e
regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
do Poder Político em diferentes entidades, observados os princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências
todas dotadas de autonomia (isto é, de que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou
político próprio) –, com a criação de uma
mediante concessão, os serviços locais de gás
nova Constituição Federal, novos docu- canalizado, na forma da lei, vedada a edição de
medida provisória para a sua regulamentação.
mentos constitucionais estaduais terão de (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 5,
de 1995)
ser elaborados, a fim de se adequarem, § 3º Os Estados poderão, mediante lei
complementar, instituir regiões metropolitanas,
com harmonia e coerência, ao novo orde- aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas
por agrupamentos de municípios limítrofes,
namento jurídico criado pelo PCO. para integrar a organização, o planejamento e a
execução de funções públicas de interesse comum.
O Poder Decorrente é, portanto, a
capacidade que o PCO concede aos
67
4. Mecanismos de modificação da
Constituição Federal
Além do procedimento de reforma, que é um mecanismo formal que permite modificações textu-
ais (desde que feitas em conformidade com o art. 60, da CF), temos dois outros métodos que alte-
Poder Revisor (criado pelo PCO e a ele subordinado) respeite os condicionamentos constitucional-
mente impostos. Diferentemente da reforma, que visa promover modificações específicas e pontu-
O art. 3º do ADCT determinou que a revisão só poderia ser feita depois de passados cinco anos da
promulgação da Constituição Federal. Como esta limitação temporal coincidiu com o ano (1993) de
realização do plebiscito do art. 2º do ADCT (no qual a população foi acionada para decidir se manteria
68
A comissão revisional, de forma precipitada, se reuniu em 07 de outubro
60 para a reforma.
4.2. Mutação
constitucional
Ao contrário da reforma e da revisão Para saber mais
ADI 981-MC, STF, Rel. Min. Néri da Silveira:
constitucional, a mutação é um mecanismo As mudanças na Constituição, decorrentes da
‘revisão’ do art. 3º do ADCT, estão sujeitas ao
informal que não gera mudanças no texto controle judicial, diante das ‘cláusulas pétreas’
consignadas no art. 60, § 4º e seus incisos,
da Constituição, que permanece intacto; da Lei Magna de 1988. Não se fazem, assim,
configurados os pressupostos para a concessão
as alterações que este procedimento pro- de medida liminar, suspendendo a eficácia da
Resolução nº 01, de 1993 -RCF, do Congresso
picia são de ordem interpretativa: o texto Nacional, até o julgamento final da ação.
Medida cautelar indeferida.
é o mesmo, mas o sentido que ele possui
é alterado.
69
A mutação é feita pelo poder difuso (que também é derivado, mas não escrito) e propicia um
renascimento de dispositivos que vão ser relidos, vale dizer, cuja norma que está anteposta ao texto
receberá nova significação. Nos dizeres de José Afonso da Silva6, a mutação “consiste num processo
não formal de mudanças das Constituições rígidas, por via da tradição, dos costumes, de alterações
são de execução da lei pelo Senado Federal (enunciada no art. 52, X, CF/88) há de ter simples efeito
de publicidade. Nesse sentido, caso o Supremo Tribunal Federal, em sede de controle incidental,
chegue à conclusão, de modo definitivo, de que a lei é inconstitucional, esta decisão terá efeitos
gerais, fazendo-se a comunicação ao Senado Federal para que este publique a decisão no Diário do
Congresso. Nessa perspectiva, não seria (mais) a decisão do Senado capaz de conferir eficácia geral
ao julgamento do Supremo no controle difuso. A própria decisão da Corte conteria, por si mesma,
essa força normativa. Ao Senado, restaria o dever (e não uma mera faculdade) de agir, publicando
a decisão.
3
SILVA, José Afonso da. Curso de ito Constitucional Positivo. 33. ed. atual. São Paulo. Malheiros, 2010, p. 61-62.
70
4.3. Reforma Constitucional
Não existem constituições imutáveis, pois os textos constitucionais precisam se adaptar às
mudanças sociais, sob pena de perderem a sintonia com a realidade e se tornarem meros conjuntos
Tradicionalmente, adotamos documentos constitucionais rígidos, o que significa duas coisas: (i) a
emendas constitucionais que seja mais complexo e dificultoso do que aquele previsto para a criação
da legislação infraconstitucional.
Estudar a reforma constitucional, portanto, nada mais é do que estudar as limitações ao poder
de reforma que foram impostas pelo PCO. Vejamos as principais considerações que devem ser apre-
Os limites temporais são aqueles que visam impedir alterações do texto constitucional durante
certos espaçamentos temporais, a fim de que seu regramento se consolide, para que só depois as
71
De outro lado, o Poder Revisor do art. 3º do ADCT sujeitou-se à limitação temporal, já que
nenhuma emenda revisional poderia ser feita entre outubro de 1988 a outubro de 1993 (vale desta-
car que durante este período emendas constitucionais puderam ser feitas).
(B) Limitações circunstanciais
O texto constitucional não pode ser alterado no curso de circunstâncias anormais e excepcionais
no intuito de preservar a autonomia e a livre manifestação do poder reformador, evitando que as
maiorias ocasionais que aparecem em situações de crise destruam o pro-
jeto constitucional por meio de transformações precipitadas e impensadas.
Assim, impossível é o acionamento
do mecanismo de modificação da CF na
vigência do estado de sítio, do estado de
Para saber mais
defesa e da intervenção federal (art. 60, § Insta apresentar o posicionamento doutrinário
minoritário que entende haver legitimidade
1°, CF/88). popular implícita (por analogia ao previsto no art.
(C) Limitações formais (procedimentais) 61, § 2º, CF/88, que prevê iniciativa popular para
apresentação de projetos de lei), baseando-se
A opção pela rigidez exige um procedi- na ponderação de que o povo, sendo o titular do
poder constituinte originário, pode se dar uma
mento especial para a confecção de ECs, nova Constituição, podendo, da mesma maneira,
deflagrar a atuação do poder de reforma por meio
mais solene e dificultoso do que aquele uti- da apresentação de uma proposta de modificação
lizado para a elaboração da legislação infra. ao texto constitucional. O argumento estrutura-
se na regra basilar de que todo o poder emana
No aspecto formal, o poder reformador do povo. Nos dizeres do autor: “Pelo citado art.
60, I, II e II, vê-se que a Constituição poderá ser
deverá observar os seguintes: emendada por proposta de iniciativa popular, aceita
a interpretação sistemática referida acima, caso
(i) Limitação formal subjetiva: a ini- em que as percentagens previstas no § 2º do art.
ciativa para apresentação de uma pro- 61 serão invocáveis, ou seja, a proposta de emenda
terá que ser subscrita por, no mínimo, um por cento
posta de emenda constitucional (PEC) do eleitorado nacional, distribuído pelo menos em
cinco Estados, com não menos de zero vírgula três
está organizada num rol (art. 60, caput, por cento dos eleitorados de cada um deles. Repita-
se que esse tipo de iniciativa popular pode vir a ser
CF/88) significativamente mais restrito aplicado com base em normas gerais e princípios
do que aquele que prevê a iniciativa de fundamentais da Constituição, mas ele não está
especificamente estabelecido para emendas
projeto de lei (art. 61, CF/88). Conforme constitucionais como está para as leis (art. 61, § 2º).”1
72
“Art. 60, CF/88: A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I) e um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II) do Presidente da República;
III) de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifes-
tando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.”
(ii.1) A deliberação e a votação da PEC ocorrerão em cada Casa do Congresso Nacional (sessão
bicameral), em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, 3/5 dos votos dos res-
pectivos membros (art. 60, § 2º, CF/88). O procedimento tem por exigência inafastável a aprovação
de um texto igual, em dois turnos de discussão e votação, pela Câmara dos Deputados e pelo
Senado Federal. Disto decorre ser a emenda um ato nitidamente complexo. E é ato complexo igual,
pois resultado de vontades que estão postas num mesmo plano – a da Câmara dos Deputados e a
do Senado Federal.
tarefa das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, conjuntamente, com o respectivo
número de ordem (art. 60, § 3º, CF/88). A publicação é determinada pelo Congresso Nacional.
73
(ii.4) Por último, temos a determinação constitucional (art. 60, § 5º, CF/88) de que a matéria
constante de PEC rejeitada ou havida por prejudicada não poderá ser objeto de nova proposta na
mesma sessão legislativa. Só a partir de uma próxima sessão legislativa é que essa PEC, rejeitada ou
Conforme previsão explícita da Constituição Federal, não poderá ser objeto de deliberação a
proposta de emenda constitucional tendente a abolir a forma federativa de Estado, o voto direto,
Essas matérias, elencadas no art. 60, § 4º da CF/88 e intituladas “cláusulas pétreas”, estão fora do
Federal, imunizado contra possíveis alterações que reduzam o seu núcleo essencial ou debilitem o
“Art. 60, § 4º, CF/88: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir:
I) a forma federativa de Estado;
II) o voto direto, secreto, universal e periódico;
III) a separação dos Poderes;
IV) os direitos e garantias individuais.”
sua criação.
Ainda que a superior proteção de alguns assuntos considerados cláusulas pétreas confira a eles
um status político diferenciado e sobreleve a carga valorativa que possuem, não há que se falar em
qualquer hierarquia normativa e jurídica entre eles e o restante dos dispositivos da Constituição.
É claro que as normas que estão protegidas como cláusulas pétreas não podem ser revoga-
das ou restringidas pelo poder de reforma, ao passo que as demais normas constitucionais, que
não estão amparadas de forma idêntica, podem. Mas isso não torna o primeiro grupo de normas
74
hierarquicamente superior ao segundo. Só torna o primeiro grupo de nor-
5. Questão para
reflexão
Feita a revisão, o art. 3º do ADCT ficou
Link
com sua eficácia exaurida, com a apli- <https://bit.ly/2LgaR4T>. Acesso em: 24 maio 2018.
<https://bit.ly/2J9rFd7>. Acesso em: 24 maio 2018.
cabilidade esgotada. Por isso, parcela da <https://bit.ly/2xx1Bay>. Acesso em: 24 maio 2018.
doutrina entende que não se pode falar
que o PCO só consentiu com uma única convocação de procedimento revisional. Todavia, há quem
defenda a viabilidade de uma emenda constitucional que altere o art. 3º do ADCT, propiciando uma
nova revisão. Essa alteração, porém, só se legitimaria se grandiosas e significativas mudanças fos-
75
Sugerimos ao leitor que reflita mais um pouco sobre esta questão, inclusive para construir opinião
própria sobre tema tão polêmico. Separamos abaixo alguns trechos de obras doutrinárias que irão
que altere o art. 3º do ADCT, propiciando uma nova revisão. Essa alteração, porém, só se legitimaria
se tornaria uma revisão global do texto, com o fito de adequar a Constituição à (nova) realidade a
ser normatizada. Respeitamos a tese, mas advogamos em sentido oposto: parece-nos que o poder
originário somente consentiu com uma única convocação do procedimento revisional; se esta foi ini-
ciada de modo precipitado e seu resultado foi tímido e inexpressivo (porque não promoveu mudan-
ças significativas no ordenamento) não há nada mais que se possa fazer! Em conclusão, qualquer
eventual emenda à Constituição que permitir nova revisão nos parecerá uma absurda e fraudulenta
tentativa de ferir a vontade do poder originário, propiciando modificações no texto constitucional por
“Por estar consagrada em uma norma constitucional transitória (ADCT), cuja aplicação em 1994
exauriu sua eficácia, não poderá ser realizada novamente uma revisão constitucional, salvo se hou-
ver uma emenda que, alterando o art. 3° do ADCT, consagre-a novamente. A legitimidade de tal alte-
ração depende da existência de uma substancial mudança das circunstâncias fáticas que justifiquem
uma nova revisão, sob pena de tal previsão ter como única finalidade tornar mais fácil a alteração de
“Um outro ponto é o seguinte: Muito se discute atualmente se seria cabível uma nova reforma
global do texto constitucional, nos moldes expressos nele. A resposta insofismável é que não, pois
realizada).”6
4
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 156.
5
NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Método, 2012, p. 80.
6
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 3. ed. Salvador: Juspodivm, 2011, p. 126.
76
[...] “Portanto, permitir outra revisão, nos moldes definidos no art. 3º do ADCT, atentaria contra o
princípio da rigidez constitucional, que certamente representa cláusula pétrea implícita, mesmo para
aqueles que não entendem que todas as regras que disciplinam o processo de reforma constitucional
o são. Sem embargo, não se deve excluir a priori a possibilidade de convocação de nova revisão em
outros moldes, desde que autorizada não só pelo Congresso Nacional, por emenda constitucional,
como também diretamente pelo povo, por meio de plebiscito ou referendo, de modo a conferir maior
legitimidade democrática a esta heterodoxa alternativa. Não é esse, contudo, o espaço apropriado
Glossário
regulamentação especial prevista na própria Constituição Federal e será exercitado por determi-
Emenda constitucional: tipo de norma que é editada para reformar, substituir, acrescentar ou
eliminar texto da Constituição. Possui trâmite especial de aprovação e não pode versar sobre a
7
SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: Teoria, História e Métodos de Trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2012, p. 259.
8
MORAES, 2015, p. 88.
9
MORAES, 2015, p. 88.
10
Glossário STF.
77
Pontuando
• Poderes Constituídos Derivados: são poderes que foram instituídos pelo poder originário, isto
é, são “poderes de direito” (possuidores de natureza jurídica, e não política), que conhecem
• O Poder Decorrente é, portanto, a capacidade que o PCO concede aos Estados-Membros para
Constituição, desde que o Poder Revisor (criado pelo PCO e a ele subordinado) respeite os
amplas e abrangentes.
não gera mudanças no texto da Constituição, que permanece intacto; as alterações que este
procedimento propicia são de ordem interpretativa: o texto é o mesmo, mas o sentido que ele
possui é alterado.
mudanças sociais, sob pena de perderem a sintonia com a realidade e se tornarem meros con-
78
Verificação de leitura
QUESTÃO 1 - A respeito das disposições constitucionais transitórias, da hermenêutica constitucional
a) O poder constituinte de reforma não pode criar cláusulas pétreas, apesar de lhe ser facultado
ampliar o catálogo dos direitos fundamentais criado pelo poder constituinte originário.
b) O sistema constitucional brasileiro não admite a denominada cláusula pétrea implícita, estando as
c) Conforme determinação expressa do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, cabe aos
estados, ao DF e aos Municípios exercer o poder constituinte decorrente, entendido como a capa-
cidade desses entes federativos de se auto–organizarem de acordo com suas próprias constitui-
d) A Constituição de um estado pode estabelecer norma que condicione a reforma de seu texto à
aprovação do projeto de reforma por quatro quintos da totalidade dos membros integrantes da
Assembleia Legislativa.
sendo que estas últimas, segundo a doutrina, estão exaustivamente enumeradas na CF, com-
79
QUESTÃO 2 - Julgue o item subsequente, que diz respeito aos poderes constituídos no ordenamento
jurídico nacional:
I) O poder constituído derivado de reforma está sujeito a limitações formais ou implícitas, as quais
têm relação com os órgãos competentes e procedimentos a serem observados na alteração do texto
constitucional.
II) Segundo disposição literal da CF, os Estados e Municípios dispõem do chamado poder constituído
derivado decorrente, que deve ser exercido de acordo com os princípios e regras dessa Carta.
III) Por meio do poder constituído reformador pode-se mudar a forma federativa do Estado estabe-
a) I, II e III.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas I.
e) Apenas II e III.
80
QUESTÃO 3 - Com referência à CF e ao poder constituinte reformador, é correto afirmar:
a) A CF, conforme seu próprio texto, pode ser emendada por meio de iniciativa popular, desde que
o projeto seja subscrito, por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por, pelo menos,
cinco estados, com não menos de 0,3% dos eleitores de cada um deles.
b) A proposta de emenda constitucional não pode tratar de temas que formem o núcleo intangível
da CF, tradicionalmente denominado como cláusulas pétreas, como, por exemplo, a separação
c) São limites temporais que impedem a emenda à Constituição Federal em determinados momen-
tos: a vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio (§ 1º, art. 60 da
Constituição Federal).
foram promulgadas pelas duas casas do Congresso Nacional, em sessão bicameral, de acordo
com o mesmo processo dificultoso exigido para qualquer tipo de emenda constitucional.
proposta de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto, uni-
versal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais, impõe limites
81
QUESTÃO 4 - Acerca do direito constitucional, é correto afirmar:
c) O poder constituinte derivado pode ser definido como o poder de modificar a Constituição Federal
e, também, de elaborar constituições estaduais. Esse poder é criado pelo poder constituinte origi-
nário, está previsto e regulado no texto da própria Constituição, conhece limitações constitucio-
d) A proposta de emenda constitucional será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional,
em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, dois quintos dos votos dos res-
pectivos membros.
e) As várias reformas já sofridas pela CF, por meio de emendas constitucionais, são expressão do
82
QUESTÃO 5 - Assinale a opção correta após a análise das afirmativas abaixo:
I) A proposta de emenda constitucional rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de
II) A manifestação do poder constituído reformador verifica-se por meio das emendas constitucio-
nais. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: a forma federativa de
Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garan-
tias individuais.
III) A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: de dois terços, no mínimo, dos membros
das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela
a) I, II e III.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas I.
e) Apenas II e III.
83
Referências bibliográficas
CANOTILHO, J. J. Gomes; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz; MENDES, Gilmar Ferreira.
Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 24. ed. – São Paulo: Saraiva,
2003.
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 10.
ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 33. ed. atual. São Paulo:
Malheiros, 2010.
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005.
VELOSO, Zeno. O Controle Jurisdicional de Constitucionalidade. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2000.
84
Gabarito
QUESTÃO 1 - Resposta A
a) Item verdadeiro, vez que somente o poder constituinte originário cria cláusulas pétreas; não é
dado ao poder de reforma instituí-las;b) Assertiva falsa. O poder de reforma deve observar limitações
materiais implícitas, vale dizer, existem cláusulas pétreas implícitas; c) Falso, pois só existe poder
decorrente em âmbito estadual e no Distrito Federal. Não há poder decorrente nos Municípios;d) ADI
486-DF, STF, Rel. Min. Celso de Mello;e) Falso. Não existem limitações temporais e existem limita-
QUESTÃO 2 - Resposta D
I) Item correto. O poder constituído derivado está submetido tanto a limitações expressas (que
podem ser formais, materiais e circunstanciais) e implícitas; II) O poder constituído derivado decor-
rente consiste na possibilidade de os Estados elaborarem suas Constituições Estaduais (art. 25,
CF/88) e o Distrito Federal elaborar sua Lei Orgânica. Não há previsão constitucional do exercício
deste poder pelos Municípios; III) A forma federativa de Estado é cláusula pétrea, não pode ser supri-
mida ou restringida por meio de emenda constitucional. Art. 60, § 4º, I, CF/88.
QUESTÃO 3 - Resposta E
a) Não há iniciativa popular para PEC. O rol do art. 60, caput, I – III, CF/88, é taxativo; b) Falso.
As cláusulas pétreas podem ser objeto de emenda constitucional, desde que a emenda não seja ten-
dente a abolir ou restringir o núcleo essencial dos assuntos por ela protegidos; c) Item falso, pois são
limites circunstanciais; d) Incorreto. Em consonância com o que prevê o art. 3º, ADCT, a aprovação se
deu por processo mais simples (maioria absoluta dos membros, em turno único); e) Item verdadeiro.
85
QUESTÃO 4 - Resposta C
a) Falsa, pois os limites circunstanciais que impedem que a CF/88 seja emendada são: o estado de
sítio, o estado de defesa e a intervenção federal, art. 60, § 1º, CF/88; b) Os princípios constitucionais
sensíveis estão previstos expressamente na Constituição Federal (art. 34, VII, CF/88); c) Assertiva
correta. Inseridos na Constituição, os poderes constituídos são “poderes de direito” (possuem natu-
reza jurídica) por ela disciplinados. Conhecem, portanto, limitações e condicionamentos e subordi-
nam-se de modo irrestrito ao regramento imposto pelo poder originário no texto constitucional; d) A
assertiva é falsa, pois a proposta de emenda constitucional será discutida e votada em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos
dos votos dos respectivos membros (art. 60, § 2º, CF/88); e) Assertiva incorreta. As emendas consti-
tucionais são expressão do poder constituído derivado reformador. É bom lembrar que o poder deri-
vado decorrente é também um poder constituído (isto é, criado pelo poder constituinte originário) e
tem por função elaborar as Constituições Estaduais (e a Lei Orgânica do Distrito Federal).
QUESTÃO 5 - Resposta B
I) Falso. A proposta de emenda constitucional rejeitada ou havida por prejudicada pode ser objeto
de nova proposta de emenda, desde que em outra sessão legislativa. Art. 60, § 5º, CF/88; II) Assertiva
verdadeira. Art. 60, § 4º, incisos I a IV, CF/88; III) Incorreto. A maioria exigida pela Constituição,
Constituição exige, tão somente, que a proposição esteja subscrita por 1/3 (no mínimo) dos mem-
bros de qualquer uma das duas Casas Legislativas. Art. 60, caput, I a III, CF/88.
86