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INSTITUTO TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA

Rafael Kawagoe Favero

PROPAGAÇÃO ATMOSFÉRICA DE RADIAÇÃO


NA FAIXA DO INFRAVERMELHO

Trabalho de Graduação
2018

Curso de Engenharia Eletrônica


CDU 621.396.96

Rafael Kawagoe Favero

PROPAGAÇÃO ATMOSFÉRICA DE RADIAÇÃO


NA FAIXA DO INFRAVERMELHO

Orientador
Prof. Dr. Olympio Lucchini Coutinho (ITA)

Coorientador
Prof. Dr. Francisco Sircilli Neto (IEAv)

ENGENHARIA ELETRÔNICA

São José dos Campos


instituto tecnológico de aeronáutica

2018
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Divisão de Informação e Documentação
Favero, Rafael Kawagoe
Propagação atmosférica de radiação na faixa do infravermelho / Rafael Kawagoe Favero.
São José dos Campos, 2018.
78f.

Trabalho de Graduação – Curso de Engenharia Eletrônica– Instituto Tecnológico de


Aeronáutica, 2018. Orientador: Prof. Dr. Olympio Lucchini Coutinho. Coorientador: Prof. Dr.
Francisco Sircilli Neto.

1. Estrutura de Dados. 2. Persistência. 3. Implementação. I. Instituto Tecnológico de


Aeronáutica. II. Tı́tulo.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FAVERO, Rafael Kawagoe. Propagação atmosférica de radiação na faixa do
infravermelho. 2018. 78f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Instituto
Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos.

CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Rafael Kawagoe Favero
TITULO DO TRABALHO: Propagação atmosférica de radiação na faixa do infravermelho.
TIPO DO TRABALHO/ANO: Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) / 2018

É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias


deste trabalho de graduação e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos
acadêmicos e cientı́ficos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte
deste trabalho de graduação pode ser reproduzida sem a autorização do autor.

Rafael Kawagoe Favero


Rua H8B, 211
12.228-461 – São José dos Campos–SP
Ao meu pai e à minha mãe.
Agradecimentos

À Nação brasileira e à Força Aérea Brasileira, por manterem este centro de excelência
no ensino de engenharia e abrirem tantas oportunidades.
Ao meu pai e à minha mãe, por toda a dedicação e investimento na minha educação.
Aos amigos da graduação, por todo o apoio durante os cinco anos de curso.
Aos meus orientadores, pela paciência e orientação.
A todos que contribuı́ram de alguma forma para a conclusão deste trabalho e durante
os cinco anos de curso.
“If I have seen farther than others,
it is because I stood on the shoulders of giants.”
— Sir Isaac Newton
Resumo

O século XX testemunhou grande avanço em tecnologias que operam na faixa do infraver-


melho do espectro eletromagnético. Muitas aplicações, dentre as quais pode-se destacar
sistemas para comunicação, telemetria, termometria e guiamento de mı́sseis, possuem a
atmosfera terrestre como meio de propagação da radiação. A atmosfera constitui, pois, fa-
tor determinante para o desempenho desses sistemas. Nesse contexto, o presente trabalho
visa estabelecer bases para a compreensão do impacto da atmosfera como meio de propa-
gação para a radiação na faixa do infravermelho. É realizada uma revisão da literatura
sobre os conceitos fundamentais, as caracterı́sticas da atmosfera e os principais fenômenos
envolvidos, além de um breve estudo sobre software empregado para a simulação desses
impactos. O conteúdo apresentado é aplicado no contexto de uma campanha de medições
realizada no primeiro semestre de 2018 para determinar a assinatura infravermelha de uma
aeronave. A transmitância atmosférica então obtida é comparada com o resultado de um
modelo de atmosfera padrão. Considera-se que as diferenças obtidas justificam o emprego
de esforços para acompanhar as condições atmosféricas no momento das medições.
Abstract

The 20th century has seen great development of infrared technologies. The atmosphere of
the Earth is the medium of radiation propagation for many such applications, including
systems for communication, telemetry, thermometry and missile guidance. As such, the
atmosphere is determinant for the performance of those systems. In this context, this
paper aims on laying the foundations for an understanding of the atmosphere’s effects
as a medium of propagation for infrared radiation. The literature has been reviewed on
the fundamental concepts, the characteristics of the atmosphere and the main phenomena
involved. A brief study has also been made on the software employed for the simulation of
those effects. That content has been employed in the context of a measurement campaign
during the first half of 2018 which sought to determine an aircraft’s infrared signature.
The atmospheric transmittance thus obtained was compared with that resulting from a
standard atmosphere model. It is considered that the differences obtained are enough to
justify some effort on monitoring the atmospheric state during the measurements.
Lista de Figuras

FIGURA 2.1 – Exitâncias de corpos ideais a temperaturas usuais na superfı́cie ter-


restre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
FIGURA 2.2 – Exitância idealizada de uma lâmpada incandescente . . . . . . . . . 27

FIGURA 3.1 – Temperatura da atmosfera em função da altitude . . . . . . . . . . . 30


FIGURA 3.2 – Perfil em altitude das concentrações gasosas médias . . . . . . . . . 34
FIGURA 3.3 – Concentração de CO próximo ao solo (CPTEC) . . . . . . . . . . . 35
FIGURA 3.4 – Série anual da concentração média global de dióxido de carbono . . 38
FIGURA 3.5 – Ciclos anuais da concentração de metano . . . . . . . . . . . . . . . 39
FIGURA 3.6 – Ciclo diário na concentração de ozônio . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
FIGURA 3.7 – Fenômenos que afetam o tamanho dos aerossóis . . . . . . . . . . . 47

FIGURA 4.1 – Caso ilustrativo da transmitância espectral pela atmosfera na faixa


do infravermelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
FIGURA 4.2 – Seção reta do monóxido de carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
FIGURA 4.3 – Formas de linha da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
FIGURA 4.4 – Modos fundamentais de vibração das principais moléculas absorve-
doras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
FIGURA 4.5 – Modelo de refração por sucessivas camadas de atmosfera . . . . . . 60

FIGURA 6.1 – Absorção pelo vapor de água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68


FIGURA 6.2 – Absorção pelo dióxido de carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
FIGURA 6.3 – Absorção pela amônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
FIGURA 6.4 – Absorção pelo monóxido de carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
FIGURA 6.5 – Absorção pelo óxido nitroso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
LISTA DE FIGURAS x

FIGURA 6.6 – Absorção pelo metano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71


FIGURA 6.7 – Diferença da transmitância espectral pela atmosfera tropical para a
transmitância espectral obtida em um momento da campanha . . . 73
FIGURA 6.8 – Suavização da curva apresentada na Figura 6.7 . . . . . . . . . . . . 73
Lista de Tabelas

TABELA 2.1 – Subdivisões do Infravermelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

TABELA 3.1 – Gases estáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33


TABELA 3.2 – Absorvedores no infravermelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
TABELA 3.3 – Fontes estimadas de material particulado na atmosfera . . . . . . . 43
TABELA 3.4 – Concentrações tı́picas de partı́culas de diferentes faixas de tamanho 46

TABELA 4.1 – Bandas de absorção dos principais gases ativos no infravermelho . . 57


Lista de Abreviaturas e Siglas

AVAOP Avaliação operacional


FAB Força Aérea Brasileira
HITRAN High resolution transmission molecular absorption database
IAOp Instituto de aplicações operacionais
IV Infravermelho
LOWTRAN Low resolution atmospheric transmission (code)
LWIR Infravermelho de ondas longas
MODTRAN Moderate resolution atmospheric transmission (code)
MWIR Infravermelho de ondas médias
MOR Visibilidade meteorológica
NIR Infravermelho próximo
SWIR Infravermelho de onda curtas
Lista de Sı́mbolos

As grandezas associadas a cada sı́mbolo na lista a seguir são uma orientação quanto
às unidades envolvidas. Ao longo do texto, entretanto, elas podem ser desrespeitadas
conforme convenha. Por exemplo: o coeficiente de extinção pode ter em determinado
contexto unidade de m−1 e em outro cm−1 , a informação relevante para esta lista sendo
apenas que a unidade é de inverso da distância.

α Absortância
γ Coeficiente de extinção [m−1 ]
 Emitância
θ Ângulo polar [rad]
λ Comprimento de onda [µm]
λm Comprimento de onda de máxima emitância espectral [µm]
µ Massa molecular média [g mol−1 ]
ν Número de onda [cm−1 ]
ν̄ Frequência do fóton [Hz]
ρ Refletância
ρ Densidade [kg m−3 ]
σ Constante de Stefan-Boltzmann [W m−2 K−4 ]
τ Transmitância
φ Azimute [rad]
Φ Fluxo radiante [W]
Adetector Área iluminada pela radiação [m2 ]
Af onte Área da fonte de radiação [m2 ]
C Seção reta [cm2 ]
c Velocidade da luz [m s−1 ]
c1 Primeira constante de radiação [W µm4 m−2 ]
c2 Segunda constante de radiação [µm K].
E Irradiância [W m−2 ]
E Energia [J]
h Constante de Plank [J s]
I Intensidade radiante [W sr−1 ]
LISTA DE SÍMBOLOS xiv

g Aceleração da gravidade [m s−2 ]


k Constante de Boltzmann [J K−1 ]
L Radiância [W m−2 sr−1 ]
Lλ Radiância espectral [W m−2 sr−1 µm−1 ]
M Exitância radiante [W m−2 ]
Mλ Exitância radiante espectral [W m−2 µm−1 ]
n Concentração volumétrica [partı́culas cm−3 ]
n Índice de refração
P Pressão [N m−2 ]
R Constante universal dos gases [J mol−1 K−1 ]
T Temperatura [K]
z Altitude [km]
Sumário

1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2 Fundamentos de Infravermelho . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.1 O Infravermelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2 Fundamentos de Radiometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2.1 Quantidades Fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2.2 Propagação em Meios Com Perdas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3 Radiação Termal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3 Atmosfera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.1 Estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2 Composição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2.1 Vapor de água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.2.2 Dióxido de carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2.3 Metano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2.4 Óxido nitroso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2.5 Ozônio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.2.6 Monóxido de carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2.7 Ácido nı́trico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2.8 Amônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2.9 Material particulado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

4 Fenômenos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.1 Extinção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
SUMÁRIO xvi

4.1.1 Absorção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.1.2 Espalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.2 Refração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

5 MODTRAN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

6 Aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

7 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
7.1 Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
1 Introdução

O infravermelho é a região do espectro eletromagnético entre a luz visı́vel as micro-


ondas. Desde a sua primeira descrição, no inı́cio do século XIX, o infravermelho esteve
associado a radiação termal (HUDSON, 1969).
O século XX testemunhou acelerado desenvolvimento de tecnologias baseadas no in-
fravermelho. Entre os diversos empregos pode-se mencionar a detecção passiva de alvos,
visão noturna, comunicação, termometria, telemetria e guiamento de mı́sseis, entre outros.
Os sistemas de guiamento de misseis, em particular, se mostraram uma inovação decisiva
para o cobate aéreo (HUDSON, 1969).
A atmosfera é fator determinante para o desempenho de muitos sistemas eletro-ópticos.
Qualquer sistema eletro-óptico pode ser descrito como a combinação de três componentes
básicos: fonte, detector e meio de propagação. Os avanços nas tecnologias dos dispositivos
de emissão e detecção têm como consequência que o fator limitante para o desempenho
dos sistemas eletro-ópticos modernos será, em geral, o meio de propagação (THOMAS;
DUNCAN, 1993).

Nesse contexto, o presente trabalho visa estabelecer bases para a compreensão do im-
pacto da atmosfera como meio de propagação para a radiação. Em particular, considera-se
a radiação contida na faixa do infravermelho.
A modelagem espectral da transmitância requer uma descrição adequada da atmosfera.
Além das variações de natureza meteorológica sobre a temperatura e pressão, a umidade
e as concentrações das diversas espécies podem apresentar elevada variabilidade (KNEISYS
et al., 1995).

O trabalho aqui apresentado consiste em uma revisão da literatura sobre os fenômeno


envolvidos e simulações computacionais. No Capı́tulo 2 (Fundamentos de Infravermelho)
são introduzidos conceitos básicos de radiometria e radiação no infravermelho. As caracte-
rı́sticas fı́sicas da atmosfera e as dinâmica quı́micas das espécies atmosféricas consideradas
relevantes são apresentadas no Capı́tulo 3 (Atmosfera). No Capı́tulo 4 (Fenômenos) é apre-
sentada uma revisão da literatura sobre os principais fenômenos envolvidos na transmissão
de radiação pela atmosfera. O Capı́tulo 5 (MODTRAN) apresenta o software empregado
para a simulação dos efeitos da propagação do da radiação pela atmosfera. No Capı́tulo 6
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 18

(Aplicação), é apresentado um estudo de caso para uma campanha de medição realizada


no primeiro semestre de 2018 e a comparação dos resultados com o que seria obtido por
um modelo atmosférico padrão. Por fim, as conclusões e sugestões para trabalhos futuros
são apresentadas no capı́tulo 7 (Conclusões).
2 Fundamentos de Infravermelho

2.1 O Infravermelho

Denomina-se infravermelho a porção do espectro eletromagnético entre a luz visı́vel


e as microondas, correspondendo a comprimentos de onda entre 0,75 µm e 1000 µm.
É comum, especialmente no contexto da espectroscopia, que se faça referência não ao
comprimento, mas ao número de onda, que possui uma relação mais direta com as varições
de energia decorrentes das transições quânticas. O número de onda tem relação inversa
com o comprimento de onda, podendo ser entendido como o número de perı́odos contidos
em uma unidade de comprimento. Tipicamente, a unidade do número de onda é cm−1
(HUDSON, 1969). A relação entre o comprimento de onda λ, dado em µm, e o número
de onda ν, em cm−1 , é apresentada na Equação 2.1. Em número de onda, os limites do
infravermelho são 13333.33 cm−1 e 10 cm−1 .

104
ν= (2.1)
λ

Como será discutido mais adiante, a absorção da radiação pelos componentes atmos-
féricos tem como consequência a limitação da faixa espectral utilizável do infravermelho
a comprimentos de onda menores do que 15 µm. Outra consequência é a existência de
somente algumas bandas nas quais a radiação se propaga na atmosfera. Com vistas a
essas janelas atmosféricas, bem como à disponibilidade histórica de sensores responsivos
em determinadas faixas, o infravermelho é dividido em quatro sub-bandas. Essa divisão
não é muito bem definida, nem padronizada, mas serve de indicação geral da faixa do
espectro em que se opera (WILLERS, 2013). Neste trabalho será adotada a divisão apre-
sentada por Willers (2013) e indicada na Tabela 2.1. Os comprimentos de onda que não
são abrangidos pelas bandas definidas correspondem a faixas de absorção molecular pelos
componentes da atmosfera nas quais a energia da radiação é muito atenuada.
O primeiro registro da existência de radiação nessa faixa do infravermelho data do
inı́cio do século XIX e deve-se a Sir Willian Herschel, que observa duas propriedades
relevantes: a transmissão de energia térmica e a invisibilidade. Ao longo daquele século
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 20

TABELA 2.1 – Subdivisões do Infravermelho

Nome Acrônimo Limites


Infravermelho Próximo NIR 0,75–1,4 µm
IV de Onda Curtas SWIR 1,5–2,5 µm
IV de Ondas Médias MWIR 3–5 µm
IV de Ondas Longas LWIR 8–12 µm

aprofunda-se o estudo e o conhecimento cientı́fico sobre o infravermelho e, a partir do


século XX, são propostas diversas aplicações tecnológicas, incluindo equipamentos para a
detecção de veı́culos e pessoal, comunicação e medição de temperatura (HUDSON, 1969).
O perı́odo entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial é marcado pelo desenvol-
vimento de detectores de fótons e conversores de imagem, bem como o avanço da es-
pectroscopia no infravermelho. Apesar do emprego limitado durante a Segunda Guerra,
os dispositivos baseados no infravermelho demonstraram mérito suficiente para justificar
um forte investimento pelas forças militares no pós-guerra, resultando no rápido desen-
volvimento de novos detectores e materiais ópticos e sua consequente aplicação para fins
militares, sendo notáveis os mı́sseis guiados por fontes de calor. Posteriormente os avanços
tecnológicos são aproveitados na indústria e na medicina (HUDSON, 1969).

2.2 Fundamentos de Radiometria

A operação de qualquer sistema eletro-óptico baseado no infravermelho envolve inva-


riavelmente a medição de um sinal nessa faixa do espectro. Convém, portanto, introduzir
a linguagem e os conceitos básicos da radiometria.

2.2.1 Quantidades Fundamentais

Denomina-se fluxo radiante ou, também, potência radiante, a quantidade de energia


na forma de radiação que atravessa uma determinada superfı́cie, real ou imaginada, por
unidade de tempo. Denota-se o fluxo radiante pelo sı́mbolo Φ (PALMER; GRANT, 2010).
Define-se radiância, denotada por L, como o fluxo radiante por unidade de ângulo
sólido por unidade projetada de área da fonte. Utiliza-se a área projetada pois, se a
superfı́cie não for perpendicular à linha de visada, o fluxo que a atravessa é efetivamente
menor. O significado da radiância fica mais claro quando se considera a equação de
transferência radiativa, apresentada na próxima subseção. Matematicamente, a radiância
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 21

é representada pela Equação 2.2 (PALMER; GRANT, 2010):

d2 Φ
 
∆Φ
L= lim = (2.2)
∆Af onte ,∆Ω→0 ∆Af onte cos θ∆Ω dAf onte cos θdΩ

Sendo: ∆Af onte uma fração infinitesimal da área da fonte,


∆Ω uma fração infinitesimal de ângulo sólido e
θ o ângulo entre a normal da superfı́cie emissora e o vetor posição da fração de ângulo
sólido considerado.
É comum na literatura, que se introduza o conceito de ângulo sólido projetado na
superfı́cie emissora e se defina a radiância como o fluxo radiante por unidade de ângulo
sólido projetado, por unidade de área da fonte, o que é matematicamente equivalente. O
benefı́cio dessa definição é que, conceitualmente, os termos relacionados à fração de ângulo
sólido — cos θ e dΩ — são separados do termo dependente da fonte dAf onte , simplificando
a notação. Considera-se, no entanto, que essa definição não traz ganhos significativos e
vem a obscurecer a intuição fı́sica.
A radiância é a quantidade elementar da radiometria, sendo a grandeza que geralmente
se observa. Não havendo interferência do meio de propagação (isto é, extinção da onda), a
radiância é conservada. Desse modo, dada uma direção de propagação do fluxo radiante,
o valor da radiância será constante ao longo da reta definida por essa direção (BOHREN;
CLOTHIAUX, 2006).

Outras grandezas podem ser compreendidas em função da radiância. A exitância radi-


ante, que é a grandeza descrita pelas leis de radiação, corresponde à potência radiada em
todo o hemisfério por unidade de área da fonte dAf onte e é denotada por m. Essa gran-
deza pode ser definida matematicamente pela Equação 2.3. Reciprocamente, a integral
da exitância pela área da fonte corresponde ao fluxo radiante. A integração da radiância
no hemisfério, corrigindo pela projeção da área diferencial no fragmento de ângulo sólido
resulta na exitância, conforme a Equação 2.4 (PALMER; GRANT, 2010).


M= (2.3)
dAf onte

Z
M= L cos θdΩ (2.4)

A potência radiada por um corpo em uma dada direção corresponde à intensidade


radiante, denotada por I. A rigor, trata-se da densidade de fluxo radiante emitido por um
corpo, por unidade de ângulo sólido dΩ, como apresentado na Equação 2.5. A intensidade
é a combinação da radiação de um corpo como um todo, e desse modo é o resultado da
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 22

integração da radiância na área da fonte dAf onte (PALMER; GRANT, 2010).


I= (2.5)
dΩ

Z
M= LdAf onte (2.6)
Af onte

Do ponto de vista do observador, define-se uma grandeza análoga à exitância radi-


ante: a irradiância. A irradiância é a quantidade de energia incidente por unidade de
área dAdetector e é denotada por E. A representação matemática da irradiância, como se
observa na Equação 2.7, é idêntica à da exitância radiante, apresentada na Equação 2.3, a
diferença sendo que a radiação não é emitida pela área dAf onte , mas, sim, incidente sobre
a área dAdetector . Do mesmo modo, a irradiância é obtida pela integração da radiância no
hemisfério, conforme a Equação 2.8.


E= (2.7)
dAdetector

Z
E= L cos θdΩ (2.8)

O motivo do termo cos θ na Equação 2.8 é o mesmo apresentado na definição da


radiância: se a fração de área está inclinada em relação à direção de propagação do fluxo,
o fluxo que a atravessa é efetivamente menor, na proporção desse fator. Esse conceito
é refletido na equação de transferência radiativa apresentada a seguir. Mas antes, vale
apresentar um resultado que ilustra o significado da radiância: em um sistema de medição
simples, somente com uma lente, a irradiância no sensor é dada pelo produto da radiância
da fonte observada (na direção do observador, naturalmente) pelo ângulo sólido ocupado
pela lente do ponto de vista da fonte.

2.2.2 Propagação em Meios Com Perdas

Em um meio sem perdas, o fluxo radiante entre duas frações infinitesimais de área
é dado pela equação de transferência radiativa, apresentada na Equação 2.9 (PALMER;
GRANT, 2010). Essa equação põe em perspectiva a noção de conservação de radiância
apresentada anteriormente: na ausência de um meio, somente um valor de radiância está
associado a uma fração de área da fonte e uma fração de área do observador, o qual é
constante ao longo da reta definida pela direção conectando esses dois pontos.

d2 Φ L cos θs cos θd
= (2.9)
dAf onte dAdetector r2
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 23

Sendo:
Af onte a área da fonte,
Adetector a área da superfı́cie iluminada,
L a radiância,
r a distância entre as duas áreas,
θs o ângulo da normal da superfı́cie emissora com a linha de visada e
θd o ângulo da normal da superfı́cie iluminada com a linha de visada.
O efeito das perdas em um meio, tal como a atmosfera, se traduz em uma atenuação
da radiância medida. Considerando um meio homogêneo, a variação local da radiância
no trajeto é proporcional à própria radiância e ao comprimento do trajeto infinitesimal
percorrido:
∆L = −γ∆x

Aplicando o limite para ∆x → 0 e resolvendo a equação diferencial resultante, deduz-se


a Lei de Bouguer (WILLERS, 2013):

L(r)
= exp (−γr) (2.10)
L(0)

Se o meio não é homogêneo, a atenuação é dada pela Equação 2.11. Esse resultado
decorre da equação anterior quando se admite que, no limite, para um deslocamento
pequeno, o meio será homogêneo e se soma a contribuição de cada um dos deslocamentos
infinitesimais.  Z 
L(r)
= exp − γ(x)dx (2.11)
L(0) r

O expoente nas equações acima é denominado profundidade óptica. Ele reflete, grosso
modo, a distância até a qual se consegue distinguir determinado nı́vel de contraste. Trata-
se de uma medida da opacidade do meio.
Quando a radiação se propaga por um meio, a sua energia pode ter três destinos: ser
refletida, absorvida ou transmitida. A proporção da energia que sofre cada um desses
fenômenos, com relação ao total, define a refletividade/refletância, denotada por ρ, a ab-
sortividade/absortância, denotada por α, e a transmissividade/transmitância, denotada
por τ . A diferença entre as nomenclaturas se dá na medida em que refletividade, absortivi-
dade e transmissividade descrevem propriedades de materiais puros, enquanto refletância,
absortância e transmitância descrevem propriedades de uma amostra em particular. Nesse
sentido será adotado o segundo grupo de nomenclaturas (PALMER; GRANT, 2010).
A transmitância é definida como a razão entre a energia transmitida e a energia in-
cidente. Derivando o fluxo com relação à área da fonte e ao ângulo sólido, obtém-se
uma definição equivalente com relação à radiância. Desse modo, a relação descrita pela
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 24

Equação 2.12 corresponde à transmitância do meio.

L(r)
τ= (2.12)
L(0)

Alternativamente, para se a radiância se propaga na atmosfera, a Equação 2.12 pode


ser reescrita na seguinte forma:

L(r) = τ (r)L(0) (2.13)

Em função da conservação de energia, a soma da refletância, absortância e transmi-


tância é igual à unidade. No caso particular dos gases, que são o interesse deste trabalho,
não há reflexão e tem-se ρ = 0, resultando na Equação 2.14.

α+τ =1 (2.14)

A absortância de um meio está relacionada com a sua eficiência como radiador. Bons
absorvedores são bons emissores. Isso é resultado da lei de Kirchhoff, descrita na Equação
2.15. A absortância de um corpo em um dado comprimento de onda, em uma dada
temperatura, em uma dada direção é igual à sua emitância no mesmo comprimento de
onda, temperatura e direção (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).

α(λ; φ, θ; T ) = (λ; φ, θ; T ) (2.15)

Ao se realizar uma medição na prática, tipicamente a radiância sofre a contribuição


de diversos fatores. Um modelo abrangente leva em conta não somente o sinal emitido
pelo alvo e a sua atenuação pela atmosfera, mas também reflexões da radiação do ambi-
ente sobre o alvo, a radiação de fundo transmitida através alvo e a radiância do próprio
meio, além da extinção atmosférica de cada uma dessas contribuições e da resposta do
equipamento de medição. Esse modelo é apresentado na Equação 2.16 (RETIEF, 2018).

alvo alvo amb amb f undo f undo f undo meio


Lmedido = Lalvo ·τatm ·τeq +Lamb ·ρalvo ·τatm ·τeq +Lf undo ·τalvo ·τatm ·τeq +Lmeio ·τeq
(2.16)
Todas as definições apresentadas anteriormente são aplicáveis de um ponto de vista
das densidades espectrais: em cada comprimento de onda as mesmas relações são válidas.
Essas caracterı́sticas espectrais são centrais no contexto deste trabalho.
O sinal mensurado é resultado da integração em um intervalo do espectro, conforme
a equação 2.17. E, para um sinal que tenha sofrido perdas, a atenuação também tem
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 25

caracterı́stica espectral, conforme a Equação 2.18 (RETIEF, 2018).


Z
L= Lλ dλ (2.17)
∆λ

Z
L= Lλ τλ dλ (2.18)
∆λ

Vale comentar que densidades espectrais (e, de fato, qualquer função “densidade”) não
possuem significado em absoluto por si só. Elas só têm sentido com relação à grandeza
espectral considerada, apresentando comportamentos diversos conforme transformações
são aplicadas a essa grandeza. A única condição necessária é que as integrais sobre
intervalos espectrais equivalentes resultem no mesmo valor. É importante ter isso em
mente quando se converte entre números de onda e comprimentos de onda: um passo
constante em números de onda, digamos de 1 cm−1 , será variável em comprimentos de
onda. Uma função densidade constante em números de onda não pode ser constante
em comprimentos de onda e resultar nos mesmos valores para integrais sobre intervalos
equivalentes (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).

2.3 Radiação Termal

A associação do infravermelho com o calor não é sem motivo. Todo corpo emite radia-
ção eletromagnética, de acordo com a sua temperatura e boa parte dessa radiação se dá no
infravermelho. A compreensão desse fenômeno foi uma das grandes questões da fı́sica no
inı́cio do século XX e a sua resolução serviu de base para a fı́sica moderna, com a introdu-
ção da hipótese de quantização da energia. Foi então derivado por Planck (PLANCK, 1914)
que a densidade espectral de potência emitida por unidade de área (denominada exitância
radiante espectral) de um corpo idealizado — um corpo negro, cuja emissão independe de
qualquer radiação incidente — obedece a assim chamada lei de Planck (PALMER; GRANT,
2010):
c1 1
Mλ = 5 c2 /λT (2.19)
λ e −1
Sendo:
Mλ [W m−2 µm−1 ] a exitância radiante espectral (ver próxima seção, sobre radiometria),
λ [µm] o comprimento de onda,
T [K] a temperatura,
h = 6, 62607 × 10−34 [J s] a constante de Planck,
k = 1, 38065 × 10−23 [J K−1 ] a constante de Boltzmann,
c = 2, 99792458 × 108 [m s−1 ] a velocidade da luz,
c1 = 2πhc2 = 3, 74177 × 108 [W µm4 m−2 ] a primeira constante de radiação e
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 26

c2 = ch/k = 1, 43878 × 104 [µm K] a segunda constante de radiação.


Historicamente, antes de Planck propor a sua solução, foram deduzidas duas outras
leis de radiação que descrevem o comportamento da radiação com a temperatura: a Lei
de Stefan-Boltzmann e a Lei do deslocamento de Wien. Em 1879, Stefan concluiu, a
partir de medições experimentais, que a energia total radiada é proporcional à quarta
potência da temperatura e, em 1884, Boltzmann chegou à mesma conclusão por meio
de relações termodinâmicas (HUDSON, 1969). A lei de Stefan-Boltzmann descreve a
energia radiada por unidade de área de um corpo negro (PALMER; GRANT, 2010):

M = σT 4 (2.20)

Sendo:
M [W m−2 ] a exitância radiante (as unidades básicas da radiometria são discutidas na
próxima subseção) e
2π 5 k4 −8
σ = 15c 2 h3 = 5, 670 × 10 [W m−2 K−4 ] a constante de Stefan-Boltzmann.
Esse resultado é obtido quando se integra a Equação 2.19 em todos os comprimentos
de onda, de zero a infinito. Caso, por outro lado, se derive a equação com relação ao
comprimento de onda para determinar o ponto de máximo, conclui-se que o comprimento
de onda correspondente é inversamente proporcional à temperatura, como descrito pela
lei do deslocamento de Wien (PALMER; GRANT, 2010):

λm T = 2897, 769 (2.21)

Sendo:
λm [µm] o comprimento de onda de máxima exitância espectral.
Como se pode observar na Figura 2.1, quase toda a energia radiada por um corpo a
temperaturas tipicamente encontradas na superfı́cie terrestre é emitida na faixa espectral
no infravermelho. O mesmo vale para corpos em temperaturas mais elevadas. Como se
observa na Figura 2.2, mesmo um corpo a 2400 K — representativo de uma lâmpada
incandescente — emite boa parte da radiação no infravermelho. A pluma formada pelos
gases de exaustão de motores turbojato, que atingem tipicamente temperaturas na ordem
de 900 K (HUDSON, 1969), possuem um espectro de radiação ainda mais contido nessa
faixa. Diversas aplicações que operam no infravermelho, militares e comerciais, fazem uso
desse fato.
Embora nenhum corpo real irradie como um corpo negro, a lei de Planck fornece uma
boa base para o modelamento de uma grande variedade de fontes. De fato, salvo em
casos extremos, quando as dimensões do corpo são comparáveis ao comprimento de onda,
nenhum corpo irradia mais intensamente do que um corpo negro na mesma temperatura
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 27

FIGURA 2.1 – Exitâncias de corpos ideais a temperaturas usuais na superfı́cie terrestre

FIGURA 2.2 – Exitância idealizada de uma lâmpada incandescente


CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 28

(BOHREN; CLOTHIAUX, 2006). Define-se a emitância de uma superfı́cie como a razão entre
a energia por ela radiada e a que seria esperada de um corpo negro, regido pela lei de
Planck. A emitância de um corpo real varia com o comprimento de onda, mas é aproxima-
damente constante para a maioria dos objetos naturais (WILLERS, 2013). Notadamente,
gases possuem emitância elevada somente em algumas bandas do espectro.
3 Atmosfera

3.1 Estrutura

A atmosfera terrestre é um meio dinâmico e complexo, mas são observadas tendências


gerais nas suas caracterı́sticas em função da altitude. A estratificação mais usual da at-
mosfera é feita com base na variação de temperatura e é a mais representativa no contexto
deste trabalho, mas outros critérios incluem a composição e presença de partı́culas car-
regadas, a natureza da interação com a superfı́cie terrestre, os efeitos da atmosfera sobre
sistemas em voo e o efeito do campo magnético sobre a atmosfera. Várias dessas propri-
edades acabam sendo representadas pela estratificação com base na temperatura. Com
base na variação de temperatura, são definidas quatro camadas: troposfera, estratosfera,
mesosfera e termosfera, conforme esquematizado na Figura 3.1 (TIMOFEYEV; VASI’LEV,
2008).
A troposfera é a camada mais próxima da superfı́cie e corresponde a cerca de 80%
da massa da atmosfera (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008). Essa camada é caracterizada pela
diminuição em geral aproximadamente linear da temperatura com a altitude. A sua
composição, no que diz respeito aos gases mais abundantes, com exceção da água, é
aproximadamente homogênea em consequência da incessante circulação das massas de ar.
A concentração de água varia devido à constante evaporação, condensação e precipitação,
pois é nessa camada que se concentram os fenômenos meteorológicos. A região limite da
troposfera, a tropopausa, atinge temperaturas muito baixas, que forçam a condensação e
impedem que o vapor de água atinja maiores altitudes; como consequência, quase toda a
água da atmosfera está contida na troposfera (MANAHAN, 2001).
Acima da tropopausa, a estratosfera é caracterizada pelo aumento da temperatura
com a altitude. Isso efetivamente estabelece um limite para a circulação convectiva das
massas de ar da troposfera. O aquecimento se deve à absorção da radiação ultravioleta
pelo ozônio, que é abundante nessa camada, atingindo concentrações na ordem de 10 ppm
(TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008). Em consequência dessa atenuação a radicação ultravioleta
é menos intensa nas camadas mais baixas da atmosfera.
A próxima camada é caracterizada novamente pelo declı́nio da temperatura com a
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 30

FIGURA 3.1 – Temperatura da atmosfera em função da altitude. As barras horizontais


representam as faixas de valores da temperatura (adaptado de TIMOFEYEV, 2001).

altitude, em consequência da baixa concentração de espécies absorvedoras de radiação,


e é denominada mesosfera. Por fim, a última camada é caracterizada pelo aumento da
temperatura com a altitude, em função da absorção de fótons mais energéticos. Essa
camada é denominada termosfera (MANAHAN, 2001). A absorção de fótons energéticos
resulta na ionização e dissociação das moléculas; as baixas pressões resultam em interações
menos frequentes entre as espécies presentes, aumentando o tempo de vida dessas espécies
instáveis (SEINFELD; PANDIS, 2006). A região mais alta da termosfera é por vezes referida
como exosfera, sendo caracterizada pela presença de partı́culas com energia suficiente para
escapar da atração gravitacional da Terra (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
As altitudes limite de cada camada variam de acordo com latitude, a época do ano,
as condições meteorológicas etc. A tropopausa, em particular, ocorre em altitudes mais
baixas em estações mais frias e latitudes mais baixas (se mantendo em cerca de 15 km de
altitude entre os trópicos). É observado por Timofeyev e Vasi’lev (2008) que a dependência
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 31

da temperatura da tropopausa em função da latitude e estação do ano é inversa com


relação às temperaturas da troposfera: a temperatura da tropopausa é mais elevada no
inverno e nas proximidades dos polos.
O perfil de temperatura serve de base para o cálculo computacional da pressão por
meio das equações barométricas. Admitindo equilı́brio hidrostático, a pressão satisfaz
a expressão apresentada na Equação 3.1. A rigor, dos termos da equação, somente a
constante universal dos gases é invariante com a altitude. Entretanto, para altitudes
suficientemente abaixo de 86 km — a tropopausa não chega a 18 km — a massa molecular
média µ pode ser considerada constante (NASA (US), 1976). Na troposfera, a diminuição
da temperatura com a altitude costuma apresentar caracterı́stica quase linear T (z) =
T (0) − γz, tipicamente com γ = 6 [K km−1 ] (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).

dP gµ
=− P (3.1)
dz RT

Sendo:
R = 8, 314 [J mol−1 K−1 ]a constante universal dos gases,
g a aceleração gravitacional, que varia em função da altitude (na superfı́cie, g = 9, 807 [m
s−2 ]),
µ [g mol−1 ] a massa molecular média,
T [K] a temperatura,
γ [K km−1 ] o gradiente vertical de temperatura,
P [N m−1 ]a pressão e
z [km] a altitude.
Desprezando a variação na aceleração da gravidade, a resolução da equação diferencial
resulta na Equação 3.2 (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
   
P (z) µg T (z)
log = log (3.2)
P (0) γR T (0)

A densidade de massa da atmosfera é obtida a partir da temperatura e pressão por


meio da Lei dos gases ideais. A Equação 3.3 explicita a relação (NASA (US), 1976).


ρ= (3.3)
RT

Naturalmente, a maior parte das atividades humanas é limitada à camada mais pró-
xima ao solo, que é a troposfera. Além disso, como a maior parte da massa atmosférica
está concentrada nessa camada, ela corresponde à maior parte da atenuação. Este traba-
lho tem a troposfera como foco.
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 32

Uma caracterı́stica importante da troposfera é a constante circulação das massas de


ar. Essa circulação afeta a concentração e dispersão de componentes atmosféricos menos
estáveis, parte dos quais são de interesse para este trabalho. A dinâmica das massas de
ar está intimamente relacionada com a dinâmica da energia na atmosfera: a absorção,
distribuição e rerradiação da radiação solar incidente. Os gases movem-se no sentido das
regiões de maior pressão para regiões de menor pressão. Gases aquecidos pela superfı́cie
tendem a subir, resfriando-se pela expansão adiabática nesse processo. Com o resfria-
mento, se houver umidade, a condensação libera calor e mitiga o resfriamento; em última
instância, a energia é radiada para o espaço. O ar frio e seco resultante retorna para a
superfı́cie, reiniciando o ciclo (MANAHAN, 2001).
Localmente, a dinâmica da atmosfera pode ser significativamente afetada pela topo-
grafia. Cadeias de montanha interferem na circulação do ar e o aquecimento desigual das
superfı́cies dá origem a ventos convectivos locais. Em algumas situações, a caracterı́stica
redução da temperatura com a altitude não é observada. Denomina-se essa circunstância,
com a temperatura do ar próximo ao solo menor do que a temperatura do ar acima, de
inversão térmica. Ela é caracterizada por uma estagnação na circulação do ar, resultando
em uma maior concentração de poluentes e propiciando a sua reação quı́mica e a formação
de novas espécies (MANAHAN, 2001), com possı́vel impacto na transmitância atmosférica.
A urbanização produz um efeito caracterı́stico nos microclimas locais: em comparação
com as regiões rurais propı́nquas, as cidades são mais quentes, mais enevoadas, com maior
cobertura de nuvens e mais chuva, embora menos úmidas (MANAHAN, 2001).

3.2 Composição

Como mencionado, a troposfera é a camada de interesse para este trabalho. Assim


sendo, as considerações apresentadas nesta seção se aplicam principalmente a essa camada.
Os componentes atmosféricos mais abundantes são gases estáveis, com concentrações
aproximadamente constantes no tempo e espaço, para além da estratosfera. Destaca-se
entre eles o nitrogênio e o oxigênio, que conjuntamente correspondem a cerca de 99%
em volume da atmosfera, além de gases nobres. As concentrações dos gases estáveis são
apresentadas na Tabela 3.1 (THOMAS, 2006; MANAHAN, 2001). Conforme discutido no
Capı́tulo 4, para que uma molécula interaja com a radiação no infravermelho, é necessário
que dessa interação resulte uma variação no seu dipolo elétrico, o que exige alguma assime-
tria na estrutura da molécula. Os gases apresentados na Tabela 3.1, são homonucleares e,
desse modo, não apresentam assimetria, possuindo reduzida absorção no infravermelho. O
seu principal impacto é no espalhamento, que se torna mais pronunciado em comprimentos
de onda menores mas ainda é pouco significativo no infravermelho.
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 33

TABELA 3.1 – Gases estáveis (THOMAS, 2006; MANAHAN, 2001).

Componente Fórmula quı́mica Proporção em volume


Nitrogênio N2 78,08%
Oxigênio O2 20,95%
Argônio Ar 0,93%
Neônio Ne 18,18 ppm
Hélio He 5,24 ppm
Criptônio Kr 1,14 ppm
Xenônio Xe 0,09 ppm

TABELA 3.2 – Absorvedores no infravermelho (THOMAS, 2006; TIMOFEYEV; VASI’LEV,


2008; NASA (US), 1976; DLUGOKENCKY; TANS, 2018; WDCGG, 2018).

Componente Fórmula quı́mica Proporção tı́pica em volume


Água H2 O 0a2%
Dióxido de carbono CO2 405 ppm (2018)
Metano CH4 1,85 ppm (2016)
Óxido nitroso N2 O 0,31 ppm
Ozônio O3 0 a 0,3 ppm
Monóxido de carbono CO 0,19 ppm
Ácido nı́trico HN O3 0 a 10 ppb
Amônia N H3 4 ppb

Outros gases aparecem em baixas concentrações na atmosfera, mas possuem forte


absorção no infravermelho. Esses gases são listados na Tabela 3.2. A concentração de
alguns desses gases varia significativamente em função de diversos fatores, em especial
a poluição, o que dificulta a antecipação do seu impacto na transmissão da atmosfera
(THOMAS, 2006). Nesse sentido, os valores de concentração apresentados na tabela são
apenas representativos de situações tı́picas, sem poluição, e servem para se ter alguma
referência, mas não há garantia de que virão a ser observados de fato.
O perfil em altitude das concentrações médias de diferentes gases — em especial os
óxidos de carbono, o metano, o óxido nitroso, o ozônio e a água — é apresentado na
Figura 3.2. Observa-se que, com exceção da água, do ozônio e do monóxido de carbono, as
concentrações são aproximadamente constantes até a tropopausa (um pouco acima de 10
km de altitude). A concentração de água na troposfera diminui fortemente com a altitude
em função da condensação em temperaturas mais baixas. A concentração de monóxido de
carbono segue uma tendência inversa à do ozônio: diminui com a altitude na troposfera
e aumenta a partir da estratosfera. A natureza dessas distribuições é determinada pela
complexa interação entre mistura pela turbulência, a presença de fontes e sumidouros,
etc. (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 34

FIGURA 3.2 – Perfil em altitude das concentrações médias q dos gases (TIMOFEYEV;
VASI’LEV,
2008).

A origem de qualquer espécie (molécula, partı́cula, radical...) na troposfera pode ser


atribuı́da a fontes naturais, emissões antropogênicas ou a reações quı́micas. A remoção
dessa espécie, por outro lado, pode ser atribuı́da à deposição seca ou úmida ou reações
quı́micas (SEINFELD; PANDIS, 2006).
É interessante introduzir o conceito de tempo de residência de uma espécie na at-
mosfera. Esse valor reflete quanto tempo, em média, um representante dessa espécie
permanecerá na atmosfera antes de ser removido. Pode-se definir ainda, para uma dada
região da atmosfera (o volume sobre São Paulo, por exemplo, ou mesmo toda a tropos-
fera), um tempo de mistura caracterı́stico, que reflete o tempo necessário para que uma
substância seja bem misturada nesse volume. Não é surpreendente que, a menos que o
tempo de residência de uma molécula seja no mı́nimo comparável com o tempo de mistura
de um dado volume, essa molécula não estará homogeneamente presente nesse volume.
Cabe notar, ainda, que o tempo de mistura pode ser diferente em diferentes direções:
o tempo de mistura vertical na troposfera é cerca de 1 semana, enquanto que o tempo
de mistura horizontal para o planeta Terra como um todo é cerca de 1 ano (SEINFELD;
PANDIS, 2006).

Para gases com variações locais significativas, recomenda-se o emprego de serviços de


monitoramento. O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), subor-
dinado ao Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) monitora a concentração de ozônio e
monóxido de carbono, além de material particulado em intervalos de 3 horas, para diver-
sas altitudes, em todo o território brasileiro. A Figura 3.3 ilustra a ferramenta disponı́vel.
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 35

FIGURA 3.3 – Concentração de CO próximo ao solo às 03:00 do dia 30/10/2018, dispo-
nibilizado online pelo CPTEC: http://meioambiente.cptec.inpe.br/
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 36

Os dados brutos podem ser obtidos entrando em contato com o CPTEC.

3.2.1 Vapor de água

A concentração de vapor de água na atmosfera é altamente variável ao longo do tempo


e conforme a localidade. Normalmente, os valores permanecem entre 1% e 3% em volume,
mas também são observadas concentrações tão baixas como 0,1% e até 5% (MANAHAN,
2001). A concentração de vapor d’água em um dado volume de atmosfera é fortemente
afetada pela sua proximidade de fontes e sumidouros de umidade. A principal fonte de
água na atmosfera são os processos de evaporação a partir dos corpos d’água. Tanto
no estado sólido como lı́quido a pressão de vapor apresenta crescimento exponencial em
função da temperatura. A evaporação pode continuar até que o ar atinja uma temperatura
de saturação (ponto de orvalho) igual à temperatura da superfı́cie. Geralmente, pontos
de orvalho ligeiramente inferiores se configuram no equilı́brio, como resultado da mistura
com ar mais seco nas proximidades e da difusão. Para fins de ilustração, um dos maiores
pontos de orvalho registrados na superfı́cie terrestre é de 34o C (NASA (US), 1976).
A remoção do vapor de água atmosférico está relacionado à temperatura da atmosfera.
A quantidade de vapor que pode ser contida pelo ar decresce exponencialmente com a tem-
peratura, caindo pela metade aproximadamente a cada 10o C em temperaturas ordinárias
e 5o C em temperaturas muito baixas. Desse modo, o resfriamento força a condensação
e as massas de ar mais frias tendem a conter a menor quantidade de água (NASA (US),
1976).
A umidade está concentrada nas proximidades da superfı́cie e a sua presença diminui
rapidamente com a altitude na troposfera. A propriedade mais importante da água é a
capacidade de condensação, resultando na formação de nuvens e na precipitação (TIMO-
FEYEV; VASI’LEV, 2008). Em geral, a concentração de água nas proximidades da superfı́cie
diminui para latitudes maiores — em linha com a diminuição de temperatura —, mas há
grande variação em função de fontes e sumidouros locais (NASA (US), 1976).
A umidade na troposfera, bem como a temperatura são medidas rotineiramente em
várias localidades para fins meteorológicos (NASA (US), 1976). Como consequência, dados
sobre a umidade local são relativamente abundantes.
Por fim, cabe mencionar que a umidade possui papel relevante na dinâmica dos aeros-
sóis na atmosfera, afetando o espalhamento por partı́culas (THOMAS, 2006).
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 37

3.2.2 Dióxido de carbono

O dióxido de carbono é o gás ativo no infravermelho mais abundante na atmosfera


terrestre. Juntamente com o vapor de água, esse é o principal absorvedor atmosférico de
radiação infravermelha (HUDSON, 1969).
As variações na concentração do dióxido de carbono na atmosfera estão intimamente
ligadas ao ciclo biogeoquı́mico do carbono: organismos fotossintetizantes fixam o carbono,
removendo-o da atmosfera, e processos de respiração ou combustão o liberam novamente.
Além disso, parte do carbono é absorvido por reservatórios geoquı́micos como os oceanos
e o solo (JACOB, 1999).
A concentração de dióxido de carbono na atmosfera tem aumentado ano a ano em
consequência das atividades humanas. Se antes da revolução industrial a fração molar
era da ordem de 280 ppm, como consequência da queima de combustı́veis fósseis, do
desflorestamento e de processos de fabricação de cimento, medições mais recentes indicam
uma concentração média global na ordem de 405 ppm para o ano de 2018, e uma tendência
de crescimento na ordem de 2 ppm por ano (DLUGOKENCKY; TANS, 2018; WDCGG, 2018).
Sobreposta à tendência de crescimento em longo prazo, há uma oscilação com perı́odo
anual na concentração de dióxido de carbono, com máximos no inverno e mı́nimos no
verão. Essa oscilação se deve à variação sazonal das atividades biológicas, conforme o ciclo
das estações e é mais acentuada no hemisfério norte. Em latitudes setentrionais (55o N −
65o N ) a amplitude das oscilações chega a 15 ppm, enquanto que no hemisfério sul elas
permanecem em torno de 1 ppm. Isso é consequência da maior área de terra e, portanto,
vegetação no hemisfério norte (SEINFELD; PANDIS, 2006; WDCGG, 2018). As variações
anuais na concentração média global de dióxido de carbono podem ser observadas na
Figura 6.2.

3.2.3 Metano

O metano é o hidrocarboneto mais abundante na atmosfera e um dos menos reativos,


com tempo de residência em torno de 10 anos. Ele emerge de fontes subterrâneas como
gás natural, e é produzido pela fermentação de matéria orgânica e processos de queima.
O aumento da concentração desse gás é atribuı́do à sua emissão como resı́duo na extra-
ção de combustı́veis fósseis e como resultado de queimadas, bem como da fermentação
anaeróbica de matéria orgânica em lixões e campos de arroz. Outra fonte de emissões é
a digestão bacteriana do alimento por animais. Estima-se que cerca de 60% das emissões
estejam associadas às atividades humanas. O principal mecanismo pelo qual o metano é
removido da atmosfera é a reação com radicais, em especial a hidroxila (OH). Esse pro-
cesso é uma das principais fontes de água na estratosfera. Em menor escala, a atividade
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 38

FIGURA 3.4 – Série anual da concentração média global de dióxido de carbono. O


traço vermelho corresponde aos valores calculados e o traço preto à média anualizada
(DLUGOKENCKY; TANS, 2018).

microbiana em solos também contribui para a remoção do metano. As quantidades exatas


envolvidas tanto nos processos de emissão, como na remoção do metano não são muito
bem determinadas (WDCGG, 2018; SEINFELD; PANDIS, 2006).
Até a Revolução Industrial, a fração molar de metano na atmosfera permanecia em
torno de 0,7 ppm. Desde então, a presença dessa molécula na atmosfera tem apresentado
tendência crescente, atingindo uma concentração média global na ordem de 1,85 ppm em
2016. A latitude possui um impacto significativo na concentração de metano atmosférico:
as concentrações a partir de médias latitudes no hemisfério norte são cerca de 0,14 ppm
superiores às do hemisfério sul. Esse gradiente reflete a presença predominante das fontes
naturais e antropogênicas de metano no hemisfério norte (WDCGG, 2018).
Observam-se oscilações anuais na concentração de metano na atmosfera, semelhantes
às verificadas para o dióxido de carbono. A Figura 6.6 apresenta as médias de vários anos
em faixas a cada 30o de latitude. As oscilações são da ordem de dezenas de ppb, chegando
a cerca de 50 ppb. Diferentemente do dióxido de carbono, as oscilações no hemisfério
sul são significativas, ainda que ligeiramente menores. Essas oscilações estão relacionadas
principalmente com a concentração de radicais, que varia de acordo com a incidência solar,
mas também são afetadas pelo comportamento das fontes (WDCGG, 2018).
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 39

FIGURA 3.5 – Média dos ciclos anuais (de 1984 a 2016) da concentração de metano na
atmosfera para zonas a cada 30o de latitude (WDCGG, 2018).

3.2.4 Óxido nitroso

As emissões de óxido nitroso são predominantemente resultado de processos biológicos


no solo e reservatórios de água. O óxido nitroso é um subproduto do processo de fixação
do nitrogênio por algumas espécies de bactérias (SEINFELD; PANDIS, 2006).
A fração molar do óxido nitroso na atmosfera tem aumentado em função das atividades
humanas. A concentração antes da revolução industrial era da ordem de 270 ppb; em 2018
a concentração é cerca de 330 ppb. A principal fonte antropogênica de óxido nitroso é a
decomposição de fertilizantes. Outras fontes incluem a queima de combustı́veis fósseis e
de biomassa. Fontes naturais estão associadas à atividade microbiana em solos e corpos
de água. Embora os mecanismos envolvidos com a produção de N2 O sejam relativamente
bem conhecidos, as quantidades exatas são ainda em grande parte desconhecidas (WDCGG,
2018).
As concentrações de óxido nitroso são aproximadamente uniformes até cerca de 10 km
de altitude, diminuindo em maiores altitudes. Também se observa pouca variação com a
latitude (NASA (US), 1976). O óxido nitroso é um gás estável na troposfera, com tempo
de vida médio de 120 anos na atmosfera, sendo, por isso, bem misturado na troposfera.
O principal mecanismo de remoção do óxido nitroso é a sua destruição na estratosfera
predominantemente por meio de fotólise, mas também pela reação com oxigênio atômico
(SEINFELD; PANDIS, 2006). Variações sazonais e latitudinais são da ordem de 1 ppb
(NEVISON et al., 2011).
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 40

3.2.5 Ozônio

A maior parte da ozônio atmosférico (cerca de 90%) está concentrada na estratos-


fera, onde desempenha papel fundamental para os ecossistemas terrestres ao absorver boa
parte da radiação ultravioleta incidente. O aquecimento resultante dessa absorção é as-
pecto definidor da estratificação da atmosfera. O ozônio troposférico, por outro lado, é
considerado poluente e está associado a problemas respiratórios. Perversamente, fatores
antropogênicos agem no sentido de aumentar o ozônio troposférico e remover o ozônio
estratosférico (SEINFELD; PANDIS, 2006).
As frações molares de ozônio naturalmente presente troposfera estão geralmente na
faixa entre 10 ppb e 40 ppb. Em contraste, os valores estratosféricos ultrapassam 10 ppm,
geralmente em altitudes da ordem de 25 a 30 km. (SEINFELD; PANDIS, 2006).
A partir dos anos 1980, concentrações extremamente baixas de ozônio foram registra-
das durante o outono na estratosfera sobre a Antártica. Nos anos 1990, a quantidade se
havia reduzido para menos que a metade da média histórica. Essa redução é devida à
reação com freons e outros poluentes. O esforço internacional para reverter essa tendência
desde então tem encontrado algum sucesso (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
A baixas altitudes a formação de ozônio está associada à reação entre compostos orgâ-
nicos voláteis e óxidos de nitrogênio na presença de luz solar. Os óxidos de nitrogênio têm
origem em processos de combustão, tanto industriais como nos automóveis e os compostos
orgânicos voláteis têm origem na evaporação e queima incompleta de combustı́veis e em
processos industriais (LACAVA et al., 2000).
A concentração de ozônio na troposfera se estabelece em função de um equilı́brio
quı́mico entre os mecanismos de produção e remoção. A produção está associada à fotólise
do dióxido de nitrogênio, resultando em monóxido de nitrogênio e oxigênio radical. O
radical, por sua vez, reage com o gás oxigênio, formando ozônio. A reação é revertida
quando o ozônio reage com o monóxido de nitrogênio, resultando em gás oxigênio e dióxido
de nitrogênio, que eram os reagentes originais. A participação dos compostos orgânicos
consiste no deslocamento do equilı́brio quı́mico em favor do ozônio por meio da remoção do
monóxido de nitrogênio. A concentração de ozônio na troposfera é fortemente dependente
da incidência de radiação solar (LACAVA et al., 2000).
Como consequência da dependência da radiação solar, a concentração de ozônio na
troposfera apresenta um ciclo diuturno, com máximo entre as 13 e 15 horas. Esse ciclo
é ilustrado na Figura 3.6. Medições na região metropolitana de São Paulo indicam que
as concentrações de ozônio ao nı́vel do solo tendem a ser mais elevadas entre o final do
inverno e inı́cio do verão. Durante o verão, a maior nebulosidade limita a incidência de
radiação no nı́vel do solo, reduzindo a formação de ozônio. Nessa mesma série de medições,
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 41

FIGURA 3.6 – Ciclo diário na concentração de ozônio e óxidos de nitrogênio. Média do


valores obtidos na região do Ibirapuera em São Paulo para dias considerados poluı́dos
(LACAVA et al., 2000).

nota-se que concentrações tı́picas para o perı́odo noturno são da ordem de 10 ppb, mas,
em dias particularmente poluı́dos, podem ser observadas concentrações até quase 200 ppb
(LACAVA et al., 2000).

3.2.6 Monóxido de carbono

As principais fontes de monóxido de carbono na atmosfera incluem a oxidação do


metano (pela reação com radicais), processos industriais, processos de combustão além
da oxidação de outros hidrocarbonetos na atmosfera. As incertezas nas quantidades en-
volvidas em cada um desses processos é elevada. O principal mecanismo de remoção do
monóxido de carbono da atmosfera é a reação com radicais hidroxila (OH). A deposição
na superfı́cie contribui em menor escala (SEINFELD; PANDIS, 2006).
O monóxido de carbono possui um tempo de residência relativamente curto: cerca
de 10 dias nos trópicos durante o verão (em função da maior abundância de radicais
produzidos pela incidência solar), mas podendo ultrapassar um ano em regiões polares.
O tempo de residência curto, combinado com uma distribuição desigual de fontes resulta
em grandes variações espaciais e temporais na concentração desse gás (WDCGG, 2018).
A fração molar média global de monóxido de carbono tem se mantido razoavelmente
estável nas proximidades de 90 a 100 ppb pelos últimos anos. As concentrações médias no
hemisfério norte (cerca de 120 ppb) são significativamente superiores às do hemisfério sul
(cerca de 50 ppb). Isso é atribuı́do à presença mais numerosa de fontes no hemisfério norte,
combinado com a abundância de radicais hidroxila nos trópicos. As variações sazonais são
semelhantes às observadas para o metano: oscilações maiores no hemisfério norte (cerca
de 70 ppb), mas ainda significativas no hemisfério sul (cerca de 20 ppb) (WDCGG, 2018).
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 42

3.2.7 Ácido nı́trico

Medições realizadas nos anos 1970 revelaram que as concentrações de ácido nı́trico são
significativamente mais elevadas na baixa estratosfera do que na troposfera, mantendo-se
elevadas até 30 km. As proporções são largamente variáveis, mas concentrações tı́picas a
altitudes de 18 km em médias latitudes são da ordem de 2 ppb (NASA (US), 1976).
Medições na região de Los Angeles (EUA) no inı́cio da década de 1990 observaram
concentrações superiores a 20 µg/m3 (SOLOMON et al., 1992).

3.2.8 Amônia

A amônia é o principal gás com caracterı́stica alcalina na atmosfera e o ı́on amônio


(N H4+ ) é um importante componente de aerossóis troposféricos continentais. Fontes rele-
vantes de amônia incluem resı́duo animal, amonificação de matéria orgânica seguida por
emissão pelo solo, perdas por fertilizantes baseados em amônia e emissões industriais,
incluindo, especialmente em ambientes urbanos, a emissão por automóveis. Os principais
mecanismos de remoção da amônia da atmosfera são a deposição úmida e seca. A amônia
é prontamente absorvida pelas superfı́cies de água e solo, e estima-se que o seu tempo de
residência seja somente 10 dias (SEINFELD; PANDIS, 2006).
Em consequência do tempo de permanência reduzido, a concentração de amônia é
bastante variável, dependendo da proximidade de fontes. Os nı́veis de amônia sobre con-
tinentes variam tipicamente entre 0,1 ppb e 10 ppb (SEINFELD; PANDIS, 2006). Medições
da concentração de amônia sobre oceanos no final dos anos 1960 revelaram concentrações
da ordem de 4 ppb. Sobre centros urbanos são frequentemente observados valores mais
elevados (NASA (US), 1976).
Não é incomum que medições da concentração de amônia na atmosfera em ambientes
urbanos ultrapassem 70 µg/m3 (LOPES, 2016). Em ambientes particularmente poluı́dos
em função da atividade industrial, são observadas concentrações ultrapassando 500 µg/m3
(OLIVEIRA, 1998).

3.2.9 Material particulado

O material particulado suspenso na atmosfera, ou aerossol, é constituı́do por partı́culas


com grande variação em composição, forma e tamanho. O aerossol possui um papel
importante na transferência radiativa da atmosfera por meio da absorção e espalhamento.
Outra função importante dos aerossóis é a sua participação na formação de nuvens como
núcleos de condensação, sem os quais esse processo de nuvens seria virtualmente impossı́vel
(TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 43

TABELA 3.3 – Fontes estimadas do material particulado na atmosfera (SEINFELD; PAN-


DIS, 2006).

Fonte Emissão estimada [Tg ano−1 ]


Naturais
Primárias
Poeira mineral
0,1-1,0 µm 48
1,0-2,5 µm 260
2,5-5,0 µm 609
5,0-10,0 µm 573
soma 1490
Sal marı́timo 10100
Poeira vulcânica 30
Restos biológicos 50
Secundárias
Sulfatos a partir de DMS 12,4
Sulfatos a partir de SO2 20
Compostos orgânicos Voláteis biogênicos 11,2
Antropogênicas
Primárias
Poeira industrial (exceto carbono elementar) 100
Carbono elementar 12
Aerossol orgânico 81
Secundárias
Sulfatos a partir de SO2 48,6
Nitratos a partir de N Ox 21,3

Quando o aerossol é resultante de reações quı́micas atmosféricas diz-se que esse aerossol
é secundário. Aerossóis primários, por outro lado, são emitidos diretamente na atmosfera
como partı́culas. As fontes do material particulado podem ser naturais ou antropogênicas.
aerossóis de origem natural podem ser: partı́culas de sal, resultante de spray marı́timo; de
natureza mineral, resultante da elevação de poeira pelo vento; de origem vulcânica, ejeta-
dos diretamente ou resultantes de reações quı́micas subsequentes; de natureza biogênica,
primário ou secundário; ou ainda produto de reações quı́micas que entre os gases presentes
na atmosfera. Aerossóis de origem antropogênica podem ser resultado da emissão direta
por atividades industriais, resultado de atividades agrı́colas ou produtos de reações quı́mi-
cas entre poluentes (que podem seguir reações quı́micas idênticas às dos aerossóis naturais,
mas resultam da interação entre gases emitidos pelas atividades humanas) (TIMOFEYEV;
VASI’LEV, 2008). A Tabela 3.3 lista as principais fontes de aerossol e estimadas.

As estimativas apresentadas no modelo de atmosfera padrão americana de 1976 suge-


rem que as principais fontes de aerossol são a vegetação, poeira levantada do solo e spray
marı́timo. O sal marı́timo é componente ubı́quo sobre os oceanos, mas está restrito a
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 44

baixas altitudes e não penetra muito continente adentro. A uniformidade na composição


quı́mica e distribuição de tamanhos na média e alta troposfera sugere que o principal
componente do aerossol nessa região tem origem em solos. Os desertos são a principal
fonte de aerossol de solo, com o vento determinando a distribuição. Poeira do Saara é
frequentemente observada sobre o Atlântico Sul e depósitos de poeira originária da Ásia
são encontrados no Havaı́ (NASA (US), 1976). Em função da complexidade dos processos
que elevam a poeira, a incerteza nas estimativas das quantidades envolvidas são grandes
(SEINFELD; PANDIS, 2006).
Os principais gases que participam na formação de aerossóis são o dióxido de enxo-
fre, o sulfeto de hidrogênio e a amônia. Destaca-se a oxidação do dióxido de enxofre e
subsequente interação com a água, formando ácido sulfúrico e a interação da amônia com
ácidos, formando sais de amônio, tais como o sulfato de amônio (TIMOFEYEV; VASI’LEV,
2008). Outras reações relevantes incluem a oxidação de terpenos (compostos orgânicos
emitidos por plantas e animais) (NASA (US), 1976).
A composição quı́mica dos aerossóis na troposfera depende fortemente da localização:
urbano, rural, marı́timo... (THOMAS, 2006). Em geral, aerossóis troposféricos contêm
sulfato, amônio, nitrato, sódio, cloreto, traços de metais, elementos crustais (silı́cio, po-
tássio e cálcio), água e materiais carbonáceos. A fração carbonácea consiste em carbono
elementar e carbono orgânico particulado. O carbono elementar (fuligem) é emitido dire-
tamente para a atmosfera por processos de combustão e é a espécie de aerosol que absorve
luz mais abundante. O carbono orgânico particulado é uma complexa mistura de várias
classes de componentes, que variam desde partı́culas emitidas diretamente por fontes bi-
ológicas até partı́culas resultantes da condensação de substâncias a partir da fase gasosa.
O carbono orgânico corresponde a uma complexa mistura de várias classes de componente
(SEINFELD; PANDIS, 2006).
A atmosfera padrão americana de 1976 estabelece alguns padrões considerados re-
presentativos da presença de alguns elementos na composição de aerossóis em condições
não poluı́das. Sobre os oceanos, há predominância de cloro próximo ao nı́vel do mar.
A concentração de elementos crustais pode apresentar grande variação a baixas altitu-
des (NASA (US), 1976), mas aerossóis sobre desertos são tipicamente compostos de sı́lica.
Uma grande diversidade na quı́mica dos aerossóis é observada em ambientes urbanos como
consequência das atividades humanas (THOMAS, 2006).
Uma descrição completa do material particulado exige a especificação não só da sua
concentração e composição quı́mica, mas também da sua forma, tamanho e fase (sólido
ou lı́quido). A grande diversidade de fontes corresponde a uma grande diversidade de
caracterı́sticas, o que torna a sua descrição significativamente mais complexa do que a dos
componentes moleculares da atmosfera. Infelizmente, não existe uma descrição adequada
da variedade de formatos que os aerossóis assumem (THOMAS, 2006).
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 45

Medições troposféricas em diversas localidades confirmam a grande variabilidade nas


caracterı́sticas dos aerossóis. As concentrações mais elevadas de material particulado
são observadas nas proximidades da superfı́cie. Nos primeiros 2 km de altitude, as suas
caracterı́sticas dependem em larga medida da natureza da superfı́cie terrestre abaixo. Em
regiões mais elevadas da troposfera, a quantidade de partı́culas obedece a um decaimento
exponencial com a altitude, semelhante ao observado para a pressão molecular, havendo
uma diminuição mais expressiva no número de partı́culas com maior raio. Exceto nas
proximidades da superfı́cie, a concentração de aerossol tende a ser maior sobre massas
continentais do que sobre os oceanos (THOMAS, 2006; NASA (US), 1976).
O aerossol estratosférico é predominantemente composto por gotı́culas de ácido sul-
fúrico em solução aquosa. Silicatos correspondem a boa parte do restante (NASA (US),
1976). Em condições normais, a principal fonte de aerossol estratosférico é a dissociação e
oxidação do sulfeto de carbonila (OCS) na presença de radiação ultravioleta. O sulfeto de
carbonila tem origem na superfı́cie terrestre, mas, sendo mais estável na troposfera do que
outros compostos de enxofre, é responsável pela maior parte do enxofre difundido para a
estratosfera. As “condições normais” são relativamente raras pois a atividade vulcânica
injeta quantidades significativas de dióxido de enxofre na baixa e média estratosfera. O
aerossol resultante é espalhado pela estratosfera dentro de meses, sobrepujando as condi-
ções de background. O tempo para que a estratosfera retorne à normalidade é da ordem de
anos, de modo que, dada a frequência de erupções, é incomum que o estado da estratosfera
não esteja afetado pela atividade vulcânica (SEINFELD; PANDIS, 2006).
Os tamanhos das partı́culas variam de raios menores do que 0, 1 nm até raios maiores
do que 100 µm. O limite inferior é consequência das dimensões dos complexos moleculares
e o limite superior da deposição acelerada de partı́culas maiores pela atração gravitacional.
Diferentes processos e fenômenos meteorológicos estão associados a diferentes faixas de
tamanhos. Por exemplo, partı́culas com raio inferior a 0, 1 µm (também conhecidas como
partı́culas de Aitken) possuem efeito significativo sobre as caracterı́sticas elétricas da
atmosfera. Partı́culas com raio entre 0, 1 µm e 1 µm são determinantes para a propagação
da radiação infravermelha (embora o efeito seja mais pronunciado em comprimentos de
onda menores), além de afetarem a formação de nuvens e a precipitação. Tipicamente,
partı́culas de Aitken correspondem a cerca de 90% do número de partı́culas e a 20% da
massa; partı́culas com raio entre 0, 1 µm e 1 µm correspondem a cerca de um décimo da
quantidade e a 31% da massa. Partı́culas maiores do que 1 µm correspondem a cerca de
0,1% em número, mas metade da massa (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
Em função da elevada variabilidade, é difı́cil discutir em detalhe as quantidades exatas
associadas aos aerossóis, mas estimativas das “concentrações de fundo” nas proximidades
da superfı́cie variam entre 103 e 105 partı́culas por centı́metro cúbico, incluindo os vá-
rios tamanhos e tipos. É comum que se observem picos na distribuição de tamanho das
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 46

TABELA 3.4 – Concentrações tı́picas partı́culas de diferentes faixas de tamanho (THOMAS,


2006).

Tipo Raios [µm] Concentrações [cm−3 ]


Moléculas 10−4 1019
Núcleos de Aitken 10−3 − 10−2 104 − 102
Aerosol 10−2 − 1 103 − 10
Neblina 1 − 10 10 − 100
Nuvens 1 − 10 10 − 300
Chuva 102 − 104 10−2 − 10−5

partı́culas. Isso reflete a diversidade de fontes (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008). Partı́culas


com diâmetro menor do que 1 µm têm concentrações tipicamente de dezenas até vários
milhares por centı́metro cúbico. Partı́culas com diâmetro maior costumam ter concen-
trações menores do que unidade por centı́metro cúbico (SEINFELD; PANDIS, 2006). As
concentrações tipicamente associadas a diferente faixas de tamanhos são apresentadas na
Tabela 3.4.
Uma vez na atmosfera, as caracterı́sticas de uma dada partı́cula pode ser alterada,
como consequência da condensação de espécies gasosas sobre ela ou, inversamente, da sua
evaporação, ou ainda como resultado da coagulação com outras partı́culas ou de reações
quı́micas, resultando, em última instância, na sua remoção (SEINFELD; PANDIS, 2006).
Muitos aerossóis são higroscópicos e as suas caracterı́sticas são, portanto, afetadas pela
umidade do ar. Partı́culas mais secas existem durante o inverno e mais úmidas durante o
verão (THOMAS, 2006). Para compreender o aerossol global, é necessário ter conhecimento
dos mecanismos de produção e transporte, bem como os mecanismos fı́sicos e quı́micos
que modificam e removem as partı́culas da atmosfera (NASA (US), 1976).
Seinfeld (2006) propõe a distinção entre uma moda “fina”, composta por partı́culas de
diâmetros menores do que 2, 5 µm, e uma moda “grossa”, com diâmetros maiores, tendo
em vista as diferenças nas dinâmicas associadas a cada uma dessas modas: a predomi-
nância de diferentes processos de produção, transformação e remoção. Os fenômenos que
influenciam os tamanhos das partı́culas, bem como fontes e sumidouros importantes são
esquematizados na Figura 3.7. A curva representa uma distribuição idealizada da área
superficial dos aerossóis em função do diâmetro. Partı́culas com diâmetro menor do que
10 nm são associadas à moda de nucleação. Essas partı́culas são formadas a partir da con-
densação de vapores quentes em processos de combustão e outros processos de nucleação
de espécies presentes na atmosfera, resultando em novas partı́culas. Elas são removidas
principalmente pela coagulação. A moda de acumulação, entre 0, 1 µm e 2, 5 µm de diâ-
metro, geralmente corresponde à maior parte da área superficial do aerossol e boa parte
da massa. Os mecanismos de remoção são menos efetivos nessa moda, de forma que as
suas partı́culas possuem um tempo de residência significativamente maior do que as das
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 47

FIGURA 3.7 – Fenômenos que afetam o tamanho dos aerossóis. A curva indica a distri-
buição idealizada de área superficial em função do diâmetro das partı́culas. Também são
registradas as principais fontes e sumidouros associadas aos diferentes diâmetros. (Adap-
tado de SEINFELD, 2006)

demais modas. A principal fonte de partı́culas para a moda de acumulação é a coagula-


ção entre partı́culas menores e a condensação de vapores sobre partı́culas existentes. As
partı́culas da moda grossa são resultantes de processos mecânicos e geralmente consistem
em partı́culas de poeira de origem natural ou antropogênica e sedimentam a um ritmo
relativamente rápido (SEINFELD; PANDIS, 2006).
Nas proximidades do solo, o principal mecanismo de remoção é a simples deposição na
superfı́cie pela ação da gravidade. Acima de 100 m, o principal mecanismo passa a ser a
incorporação ao gotı́culas de água e precipitação (chuva). Conforme o ar esfria ao atingir
maiores altitudes, as partı́culas em suspensão se constituem em núcleos de condensação
para a umidade. Conforme esses núcleos crescem e colidem, formam-se gotas de chuva.
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 48

Independente do mecanismo, o tempo de residência do material particulado na atmosfera


não excede algumas semanas. O curto tempo de residência e a elevada diversidade de
fontes são fatores determinantes para a grande variabilidade dos aerossóis (SEINFELD;
PANDIS, 2006).
4 Fenômenos

Neste capı́tulo, discute-se inicial,mente o fenômeno de extinção da energia da onda ele-


tromagnética, que é composto pelos fenômenos de absorção e espalhamento. Em seguida,
discute-se o fenômeno de refração, que se torna relevante para aplicações que envolvem
grandes distâncias, como links de comunicação e observações astronômicas.

4.1 Extinção

O fenômeno atmosférico mais prejudicial ao desempenho de sistemas que operam no


infravermelho é a extinção da energia da onda que se propaga na atmosfera. Conforme
a Lei de Bouguer, introduzida anteriormente e novamente apresentada na Equação 4.1,
a radiância da onda decai exponencialmente com a distância a taxas dependentes do
comprimento de onda.
L(r)
= exp (−γr) (4.1)
L(0)

A Figura 4.1 ilustra um caso tı́pico da transmitância espectral atmosférica, calcu-


lado com o software MODTRAN. Pode-se observar a existência de bandas de atenuação
acentuada intercaladas por janelas de transmissão relativamente elevada. Essas janelas
atmosféricas determinam as faixas disponı́veis para as aplicações atmosféricas no infra-
vermelho.
A extinção é consequência da interação da radiação com as moléculas e partı́culas
que compõem a atmosfera e pode ser de duas naturezas: absorção ou espalhamento. A
absorção é responsável pela estrutura de bandas, enquanto que o espalhamento apresenta
uma variação mais suave com o comprimento de onda, sendo menos significativo em com-
primentos de onda maiores. Cada um desses fenômenos é discutido em maior detalhe nas
subseções seguintes. Na discussão a seguir, o termo ‘partı́cula’ é utilizado indistintamente
do termo ‘molécula’.
Para descrever a contribuição das diferentes espécies é útil introduzir o conceito de
seção reta, que reflete o efeito de cada molécula (ou partı́cula) individual, idealizado esta-
tisticamente. A natureza estatı́stica da seção reta reflete o comportamento generalizado
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 50

FIGURA 4.1 – Caso ilustrativo da transmitância espectral pela atmosfera na faixa do


infravermelho. Transmissão por 1 km de atmosfera padrão U.S.1976 ao nı́vel do mar.

para o conjunto de partı́culas, que podem, por exemplo, apresentar diferentes orienta-
ções no espaço, cada qual com a sua contribuição para a seção reta dessa espécie. Se
uma partı́cula é iluminada por uma irradiância E, a energia é absorvida a uma taxa W,
proporcional a E, conforme a Equação 4.2 (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006):

W = CE (4.2)

Sendo:
W [W] a potência extinta,
C [cm2 ] a seção reta e
E [W cm−2 ] a irradiância.
A seção reta de uma partı́cula pode ser dividida em dois componentes: um atribuı́do à
absorção e um ao espalhamento. Isso é representado pela equação a seguir (TIMOFEYEV;
VASI’LEV, 2008).
C = Ca + Cs (4.3)

O coeficiente de extinção corresponde à taxa pela qual a energia da onda será atenuada
para um deslocamento infinitesimal. Esse coeficiente pode ser obtido a partir das seções
retas das diversas espécies presentes, conforme a Equação 4.4. Considerando uma frente
de onda, a potência extinta em um deslocamento infinitesimal é a soma das contribuições
individuais de cada partı́cula encontrada, descritas na Equação 4.2. Essa equação faz
referência à irradiância, que implica uma densidade por área; assim, a derivada com
relação a um deslocamento invoca uma densidade em volume, em acordo com o resultado
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 51

apresentado abaixo (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).


X
γ= nC (4.4)

Sendo:
γ o coeficiente de extinção e
n a concentração de uma dada variedade de partı́cula por volume.
A Lei de Bouguer é aplicável para a grande maioria dos casos. No entanto, podem
haver desvios em casos onde não se verifica a independência da seção reta com relação
à intensidade da radiação. Quando a radiação é muito intensa — na ordem de 100 GW
m−2 — a extinção segue um decaimento linear, não mais exponencial, como descrito pela
Lei de Bouguer (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008). Esses casos fogem, pois, ao escopo deste
trabalho.

4.1.1 Absorção

A absorção molecular é fenômeno mais significativo no que diz respeito à propagação


atmosférica de radiação na faixa do infravermelho. Como mencionado, esse fenômeno é
a origem da estrutura de bandas observada na Figura 4.1 (THOMAS, 2006). A absorção
molecular está associada à transição de um estado menos energético para um estado mais
energético. Conforme a teoria quântica, essa transição se dá em intervalos discretos, deter-
minando a frequência do fóton absorvido, conforme a Equação 4.5 (BOHREN; CLOTHIAUX,
2006):
∆E = hν̄ (4.5)

Sendo:
∆E [J] a variação de energia,
h [J s] a constante de Planck e
ν̄ [Hz] a frequência do fóton.
Tendo em vista a natureza quântica da absorção, é por vezes conveniente fazer re-
ferência ao número de onda em vez do comprimento de onda, pois o número de onda é
proporcional à energia do fóton e permite uma melhor percepção das transições energéticas
envolvidas.
Os modos energéticos podem ser de natureza eletrônica, translacional, rotacional ou vi-
bracional. A transição entre modos eletrônicos demanda quantidades elevadas de energia,
correspondente a fótons nas faixas do ultravioleta, do visı́vel e NIR. As energias associa-
das a transições entre modos translacionais possuem efeito desprezı́vel no infravermelho
e o seu impacto pode ser desconsiderado. As energias associadas aos modos rotacionais
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 52

FIGURA 4.2 – Seção reta do monóxido de carbono (adaptado de BOHREN, 2006).

ainda são baixas, mas são significativas. Por fim, as energias associadas aos modos vibra-
cionais correspondem a comprimentos de onda entre 2 µm e 30 µm, abrangendo a região
central do infravermelho. A superposição de modos rotacionais e vibracionais resulta em
uma estrutura de bandas mais complexa do que seria esperado considerando somente os
modos fundamentais. Como as energias associadas aos modos vibracionais são ordens de
grandeza maiores do que as energias dos modos rotacionais, o efeito da combinação desses
modos é o surgimento de bandas vibracionais-rotacionais no entorno de uma frequência
vibracional central (HUDSON, 1969). Isso pode ser observado na Figura 4.2, que apre-
senta a seção reta do monóxido de carbono. As diferenças entre os picos correspondem a
transições rotacionais, enquanto o centro da banda corresponde ao modo vibracional.
A excitação de modos energéticos de natureza vibracional ou rotacional depende da
interação entre a radiação eletromagnética e a molécula, resultando em uma alteração no
seu momento de dipolo elétrico. Por esse motivo moléculas homonucleares, como os gases
nitrogênio, oxigênio e argônio, que são os componentes mais abundantes da atmosfera,
possuem efeito reduzido no infravermelho (HUDSON, 1969).
Como mencionado, a absorção dos fótons está associada à excitação de nı́veis mais
energéticos nas moléculas. A absorção está condicionada, portanto, para um dado com-
primento de onda, à população de moléculas em estados base que possibilitem tal tran-
sição. Essa é a explicação para as diferenças na seção de reta de uma mesma molécula
em diferentes comprimentos de onda: a quantidade de moléculas em estados energéticos
adequados para absorver um dado comprimento de onda é diferente. Grosso modo, no
equilı́brio térmico, a proporção entre a quantidade de moléculas em dois estados com ener-
gias Ei e Ej é dada pela Equação 4.6. Com efeito, a probabilidade de que uma molécula
esteja em um estado energético Ei é descrita pela Equação 4.7 (BOHREN; CLOTHIAUX,
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 53

2006).
Nj
= exp(−(Ej − Ei )/kT ) (4.6)
Ni

gi exp(−Ei /kT )
p(Ei ) = P (4.7)
i gi exp(−Ei /kT )

Sendo:
Ni e Nj as quantidades de moléculas nos estados i e j respectivamente,
Ei e Ej as energias dos estados i e j respectivamente,
k a constante de Boltzmann,
T a temperatura,
p(Ei ) a probabilidade de a molécula se encontrar em um estado com energia Ei e
gi a densidade de estados com energia Ei .
Conforme elaborado por Bohren (2006), considerando que a separação entre nı́veis
eletrônicos é da ordem de 105 cm−1 , conclui-se que quase todas as moléculas atmosfera
(abaixo da termosfera) estarão no estado eletrônico fundamental. O mesmo vale para
o estado vibracional, mesmo com energias da ordem de 103 cm−1 . Por outro lado, as
energias associadas a transições entre modos rotacionais, na ordem de 10 e 100 cm−1 , são
comparáveis a kT , resultando em uma quantidade significativa de moléculas em estados
rotacionais excitados.
Em um primeiro momento, pelo argumento quântico apresentado até este ponto, não
seria esperada absorção senão dos fótons com precisamente a energia adequada. Ocorre,
pois, que a molécula não está isolada, nem estacionária, havendo, por isso, alargamento
das linhas de absorção. O efeito da interação entre moléculas é um alargamento descrito
por uma forma de Lorentz, conforme a Equação 4.8. A largura da forma de Lorentz reflete
tanto a natureza da molécula como a sua interação com as demais, dependendo também
o tipo de molécula com a qual a interação ocorre (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).

αc
f (ν) = (4.8)
(ν − ν0 ) + αc2

 2 !
1 ν − ν0
f (ν) = √ exp − (4.9)
αD π αD

Sendo:
f uma medida de densidade de probabilidade,
ν0 o número de onda no centro da linha e
αc a largura a meia altura por colisão,
p
αD = (ν0 /c) 2kT /m a largura por efeito Doppler, onde m é a massa da molécula.
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 54

FIGURA 4.3 – Formas de linha da água. Na alta atmosfera (10 mb e 238 K) e na superfı́cie
(1013 mb e 294 K) (adaptado de BOHREN, 2006).

Por outro lado, independentemente da interação com outras moléculas, observa-se


um alargamento em função do efeito Doppler, descrito pela Equação 4.9. Conforme a
velocidade da molécula, a frequência do fóton no seu referencial será ligeiramente alterado.
A composição dos dois efeitos, descrita matematicamente por uma convolução, resulta em
uma forma de linha de Voigt. Essa forma é representativa na maioria dos casos, sendo
aplicada, por exemplo, no modelo de absorção atmosférica do MODTRAN. A Figura 4.3
ilustra as formas de linha para a água em diferentes pressões, a temperaturas semelhantes.
Deve-se atentar para as diferentes escalas nos quadros superior e inferior. Observa-se que,
diferentemente do alargamento por efeito doppler, o efeito da interação entre as moléculas
é sensı́vel à pressão (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).
No quadro inferior da Figura 4.3, a forma de Voigt é muito semelhante à forma de
Lorentz. De maneira geral, na baixa atmosfera, onde a pressão é relativamente elevada,
a curva do efeito Doppler é essencialmente um delta, se comparada com a forma de
Lorentz, resultando na degeneração da forma de Voigt para uma forma de Lorentz. Em
altitudes muito elevadas, por outro lado, a curva do efeito Doppler é significativamente
mais larga do que a forma de Lorentz, resultando na degeneração da forma de Voigt para
a curva do efeito Doppler (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006). Adicionalmente, é interessante
notar a dependência de αD com a frequência: o efeito Doppler é mais significativo em
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 55

menores comprimentos de onda. Sobre as formas de linha de Lorentz, a Equação 4.10 é


representativa da sua dependência com a pressão e a temperatura.
  m
P T0
αc = α0c (4.10)
P0 T

Sendo:
α0c a largura a meia altura por colisão na pressão P0 e temperatura T0 e
m em geral entre 0.5 e 1, um parâmetro que depende da molécula e da transição em
questão (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
Vale mencionar ainda que as colisões que dão origem às formas de Lorentz também
causam um deslocamento do centro da banda, na ordem de 0.05 cm−1 atm−1 (TIMOFEYEV;
VASI’LEV, 2008). Além disso, na realidade, os modos energéticos não são independentes.
Por exemplo, pensando em termos clássicos, a vibração afeta o momento de inércia de
um corpo e, por consequência, a sua energia de rotação. Como consequência, a estrutura
de bandas não é derivada perfeitamente (especialmente para os nı́veis mais energéticos)
da simples superposição de modos vibracionais/rotacionais mencionada. Em particular,
o dióxido de carbono não possui dipolo permanente e não apresenta, assim, bandas de
rotação. No entanto, os modos vibracionais induzem momentos de dipolo, resultando em
bandas vibracionais-rotacionais, mesmo que as bandas puramente rotacionais não existam
(BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).
Os modos vibracionais das principais moléculas absorvedoras, bem como as energias
associadas, são apresentados na Figura 4.4. Estão disponı́veis compilações com as prin-
cipais propriedades espectroscópicas de diversas moléculas. A base de dados HITRAN é
o fundamento de códigos como o LOWTRAN, o MODTRAN e o FASCODE (THOMAS,
2006). Conforme a Equação 4.4, a absorção da radiação depende da concentração da
espécie absorvedora na atmosfera. Por esse motivo, embora a seção reta de algumas mo-
léculas até seja significativa em alguns comprimentos de onda, a sua baixa concentração
na atmosfera pode tornar o seu impacto pouco significativo.
O vapor de água é o absorvedor com maior impacto sobre a transmissão da radiação
infravermelha na atmosfera terrestre. A sua presença, com alguma contribuição do dióxido
de carbono e do ozônio, com efeito impedem a propagação de radiação com comprimento
superior à banda LWIR e inferior a milı́metro (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006), sendo o
motivo de as aplicações que fazem uso do infravermelho se limitarem às faixas NIR,
SWIR, MWIR, e LWIR. A estrutura de bandas observada na Figura 4.1 é em grande
medida consequência da absorção pela água. A umidade também afeta a qualidade das
janelas atmosféricas, especialmente na banda LWIR. O dióxido de carbono é outro gás
relevante, sendo o componente atmosférico ativo no infravermelho mais abundante depois
da água e apresentando uma concentração mais constante na atmosfera terrestre. A
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 56

FIGURA 4.4 – Modos fundamentais de vibração do monóxido de carbono, ozônio, dióxido


de carbono, metano, óxido nitroso e água e energias associadas (adaptado de BOHREN,
2006).
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 57

TABELA 4.1 – Bandas de absorção dos principais gases ativos no infravermelho (adaptado
de TIMOFEYEV, 2008 e THOMAS, 2006).

Gás Centro da banda [µm]


CO2 15; 10,6 e 4,3
O3 14,2; 9,6 e 4,8
CH4 7,6 e 3,3
N2 O 17,0; 7,9 e 4,5
CO 4,7
N H3 10,5
HN O3 11,3 e 5,8

Tabela 4.1 abaixo apresenta a localização das bandas de absorção dos principais gases
ativos no infravermelho.
Em verdade, a excitação de dipolos elétricos não é a única forma de as moléculas
interagirem com a radiação. Outras possibilidades incluem a existência de um dipolo
magnético, ou momentos quadrupolo. Vale notar que as intensidades dessas interações
são ordens de grandeza menores do que as de dipolo. Entretanto, se a espécie relevante for
abundante no meio — como é o caso do oxigênio e do nitrogênio na atmosfera terrestre —,
essas bandas podem ser observadas (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008). De fato, observam-
se bandas dessa natureza por parte do oxigênio, em torno de 6,3 µm, e por parte do
nitrogênio, em 4,3 µm, as quais são solenemente ignoradas por se localizarem, ambas, em
uma faixa de forte atenuação por parte da água e, por outro lado, por serem, de fato,
pouco intensas.

4.1.2 Espalhamento

O espalhamento está associado à difração da radiação nas moléculas e partı́culas de


aerosol, bem como em flutuações na densidade do ar. Em nı́vel molecular, o espalha-
mento corresponde à excitação de um estado mais energético pela “absorção” de um fóton
e subsequente reemissão da energia eletromagnética. Existe a possibilidade de, antes da
rerradiação da energia, a molécula atingir um estado menos energético por meio de algum
processo quı́mico, ou interação com outras moléculas. Nesse caso, a energia será conver-
tida, em última instância, em um aumento da temperatura, configurando efetivamente
um processo de absorção (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
O espalhamento é mais acentuado em comprimentos de onda menores, sendo relevante
principalmente na faixa NIR, um pouco menos na faixa SWIR, mas em geral pouco sig-
nificativo nas faixas MWIR e LWIR. O espalhamento molecular é, na prática, desprezı́vel
para o infravermelho, sendo que o espalhamento por aerosol dominante é o nessa faixa do
espectro (THOMAS, 2006).
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 58

Partı́culas muito menores do que o comprimento de onda, podem ter a sua interação
com a radiação eletromagnética aproximada pelo comportamento de um dipolo elétrico
infinitesimal. Com base nessa aproximação, conclui-se que a potência espalhada é propor-
cional ao inverso do comprimento de onda elevado à quarta. Essa é a relação associada
ao assim chamado espalhamento de Rayleigh. Uma condição importante para a validade
desse resultado é que a frequência da radiação seja significativamente inferior à frequência
de ressonância do dipolo. Para moléculas, isso é associado à frequência de plasma, da
ordem de 0,1 µm (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).
Uma dificuldade em se realizar uma análise teórica rigorosa do espalhamento por aeros-
sol é a dependência desse fenômeno da geometria das partı́culas quando as suas dimensões
não são desprezı́veis em comparação com o comprimento de onda. Uma descrição ana-
lı́tica do espalhamento por uma esfera homogênea foi obtida em 1908 por Gustav Mie
e é frequentemente empregada como representativa para diversos modelos de aerossóis
(TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008). A derivação desse resultado envolve a expansão da onda
incidente em uma série harmônica para um sistema de coordenadas esférico, tornando a
descrição da interação entre a radiação e a geometria da partı́cula relativamente direta
(BOHREN; CLOTHIAUX, 2006). Não convém apresentar aqui a expressão exata obtida.
Mas cabe mencionar que a seção reta de espalhamento e de extinção pela partı́cula é
dada em função do ı́ndice de refração complexo e da razão x = 2πr/λ, sendo r o raio da
partı́cula(TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
É interessante notar que o caso limite da teoria de Mie para partı́culas muito menores
do que o comprimento de onda está em concordância com a teoria de Rayleigh, apresen-
tando o mesma dependência com a quarta potência do comprimento de onda (BOHREN;
CLOTHIAUX, 2006).

Variações na distribuição de tamanhos dos aerossóis dão origem a variações nas ca-
racterı́sticas do espalhamento. Para nuvens e neblina, o espalhamento é razoavelmente
independente do comprimento de onda na faixa do infravermelho. Nesses casos existem
gotı́culas de água esféricas relativamente grandes e o resultado é consistente com a teoria
de Mie (THOMAS, 2006).
Uma medida comum do efeito do espalhamento na atmosfera é a visibilidade, que é
definida conforme a Equação 4.11 (THOMAS, 2006).
 
1 C
Rv = ln (4.11)
γ 

Sendo:
Rv a visibilidade,
γ o coeficiente de extinção,
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 59

C o contraste inerente do alvo com o fundo e


 um contraste de referência.
A definição leva em conta o coeficiente de extinção γ, mas, particularmente no visı́vel,
os efeitos da aborção são desprezı́veis e a extinção se deve predominantemente ao espa-
lhamento. Define-se a visibilidade meteorológica (Meteorological Optical Range – MOR)
como a visibilidade para um alvo de alto contraste C = 1, com referência  = 2% no
comprimento de onda λ = 0, 55 µm. Desse modo, a relação entre o coeficiente de extin-
ção e a visibilidade MOR é dada pela Equação 4.12. Essa medida é comumente usada
para descrever, na ausência de maiores informações a densidade de aerossóis presentes
(THOMAS, 2006).
3, 912
M OR = (4.12)
γ

4.2 Refração

A refração da radiação na atmosfera corresponde a um desvio da propagação retilı́nea


como consequência da não homogeneidade desse meio. Para a maioria dos casos, o efeito
da refração pode ser ignorado, sendo possı́vel admitir que a radiação se propaga em
linhas retas (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008). As porções do visı́vel e do infravermelho do
espectro eletromagnético são relativamente pouco suscetı́veis aos fenômenos refrativos na
atmosfera. Entretanto, a refração pode ser relevante em aplicações que envolvem grandes
distâncias, como links de comunicação e observações astronômicas (THOMAS, 2006).
A refração depende da posição do observador, da distância até o alvo, da frequência, e
das condições atmosféricas, principalmente a pressão e a temperatura. No infravermelho,
a refração depende principalmente do perfil da temperatura com a altitude e minimamente
da concentração de vapor de água. É possı́vel explicitar uma relação entre a refratividade e
a temperatura da atmosfera seca. O efeito da umidade se torna complexo no infravermelho
devido às fortes bandas de absorção da água nessa faixa (THOMAS, 2006).
A refração na atmosfera pode ser descrita pela transição da radiação por sucessivas
camadas, com diferentes ı́ndices de refração, conforme ilustrado na Figura 4.5. A relação
entre os ângulos é dada pela lei de Snell, apresentada na Equação 4.13. Pela lei dos senos,
os raios são relacionados com os ângulos pela Equação 4.14 (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).

sin θi ni+1
= (4.13)
sin ψi ni

sin ψi ri+1
= (4.14)
sin θi+1 ri

Combinando as Equações 4.13 e 4.14 e generalizando para qualquer raio, obtém-se a


CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 60

FIGURA 4.5 – Modelo de refração por sucessivas camadas de atmosfera (TIMOFEYEV;


VASI’LEV,
2008)
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 61

relação descrita na Equação 4.15 (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).

n(r) · r · senθ = const (4.15)


5 MODTRAN

Nem sempre é viável calcular a absorção linha a linha em modelos atmosféricos realis-
tas. Além disso, resultados de alta resolução não são necessários para se obter simulações
representativas para diversos sistemas que operam em bandas largas. Nesse sentido, é
mais adequado o emprego de modelos simplificados para quantificar os efeitos da atmos-
fera na propagação da radiação. Os códigos mais comumente empregados para esse fim
são o LOWTRAN, o MODTRAN e o FASCODE. Os três códigos foram desenvolvidos e
são mantidos pelo Phillips Laboratory, subordinado à força aérea americana e permitem
avaliação da transmitância e radiância para diversos trajetos de propagação e diversas
configurações da atmosfera (THOMAS, 2006).
O FASCODE permite cálculos com elevada resolução espectral. Esse código utiliza a
base de dados HITRAN diretamente, sendo computacionalmente mais exigente do que os
códigos LOWTRAN e MODTRAN (THOMAS, 2006).
O LOWTRAN (acrônimo para low resolution transmission) permite o cálculo da trans-
mitância ou da radiância por um trajeto determinado, com baixa resolução espectral: 20
cm−1 . O modelo de banda para a absorção molecular LOWTRAN considera parâmetros
espectrais, derivados da base de dados HITRAN, e uma medida da quantidade equiva-
lente de absorvedor no trajeto de propagação. A quantidade equivalente de absorvedor
introduz uma dependência da pressão e da temperatura, conforme relação apresentada na
Equação 5.1 (THOMAS, 2006):
Z r !n
P T0
w∗ = ρ(s) ds (5.1)
P0 T

Sendo:

w a quantidade equivalente da espécie absorvedora,
ρ(s) a concentração local de absorvedor,
n um parâmetro determinado empiricamente para cada absorvedor e
P0 = 1[atm] e T0 = 273[K] a pressão e temperatura de referência, nas quais os parâmetros
espectrais foram determinados.
CAPÍTULO 5. MODTRAN 63

Em geral, os resultados obtidos com o LOWTRAN são mais adequados em baixas


altitudes, e temperaturas moderadas. Uma deficiência do LOWTRAN é que esse modelo
não representa corretamente a dependência da absorção com a temperatura. Corrigir essa
deficiência foi um dos motivos para o desenvolvimento do MODTRAN (THOMAS, 2006).
O MODTRAN (acrônimo para moderate resolution transmission) permite cálculos com
maior resolução espectral do que o LOWTRAN: 2 cm−1 , com os parâmetros espectrais
sendo calculados a cada número de onda. O modelo de banda é melhorado com a inclusão
da forma de linha de Voigt no modelo, permitindo resultados acurados em maiores alti-
tudes, enquanto houver equilı́brio térmico local. Além disso, emprega-se a aproximação
de Curtis-Godson (THOMAS, 2006). A aproximação de Curtis-Godson é, assim como a
quantidade equivalente de absorvedor, uma técnica para contornar a não homogeneidade
da atmosfera, substituindo-a por camadas de pressão e temperatura constantes, de modo
a se obter a mesma absorção da radiação. Diferente desse método, que é de parâme-
tro único (a própria concentração equivalente), a aproximação de Curtis-Godson leva em
conta ainda uma medida de pressão equivalente e permite uma melhor representação dos
efeitos da variação de temperatura (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
O modelo de banda MODTRAN faz uso de três parâmetros dependentes da tempera-
tura: um coeficiente de absorção, um parâmetro de densidade de linhas e uma largura de
banda média. A região espectral é particionada em intervalos de 1 cm−1 para cada molé-
cula. Em cada intervalo, a contribuição das linhas de transição cujo centro está contido
no intervalo é modelada separadamente das linhas cujo centro está fora desse intervalo.
A absorção devido a linhas dentro do intervalo é calculada pela integração sobre uma
forma de linha de Voigt. Estão disponı́veis modelos de banda para a água, o dióxido
de carbono, o ozônio, o óxido nitroso, o monóxido de carbono, o metano, o oxigênio, o
monóxido de carbono, o dióxido de enxofre, o dióxido de nitrogênio, a amônia e o ácido
nı́trico (KNEISYS et al., 1995).
Tanto o MODTRAN, como o LOWTRAN abrangem a região espectral de 0 cm−1
a 500000 cm−1 que equivale aos comprimentos de onda de 0.2 µm a “infinito”. Os mo-
delos levam em consideração a absorção e o espalhamento por moléculas e aerossóis e
incluem modelos representativos de chuva, neblina e aerossóis, além de alguns modelos de
atmosfera. Também se corrigem desvios geométricos decorrentes da refração esférica e da
curvatura da Terra, que afetam trajetórias mais longas. Cálculos da radiância incluem a
radiância de fundo pela atmosfera, radiância solar/lunar espalhada para a trajetória ob-
servada por espalhamento único, irradiância solar/lunar direta e radiância por múltiplos
espalhamentos solar e termal (KNEISYS et al., 1995).
A atmosfera é modelada como uma série de 33 camadas esfericamente simétricas entre
0 km e 100 km de altitude, nos limites das quais são especificadas temperatura, pressão e
as densidades moleculares e de aerossóis. Entre os limites, assume-se uma variação linear
CAPÍTULO 5. MODTRAN 64

da temperatura, enquanto a pressão e a densidade seguem perfis exponenciais ajustados


aos limites das camadas (KNEISYS et al., 1995; THOMAS, 2006).
Estão disponı́veis seis modelos de atmosfera, representando a pressão, a temperatura,
a densidade e as frações molares de água, ozônio, metano, monóxido de carbono e óxido
nitroso em função da altitude, de 0 a 120 km consideradas representativas em diferentes
latitudes e épocas do ano. Os modelos são: tropical (média anual em 15N), inverno e
verão a médias latitudes (julho e janeiro em 45N, respectivamente) e inverno e verão
em latitudes sub-árticas (julho e janeiro em 60N, respectivamente), além do modelo de
atmosfera padrão americana de 1976 (KNEISYS et al., 1995).
O aerossol é modelado em 4 diferentes camadas. Uma camada representando a baixa
troposfera, de 0 km a 2 km, uma representando a alta troposfera, de 2 km a 10 km,
uma representando a baixa estratosfera, de 10 km a 30 km e uma representando a alta
estratosfera, de 30 km a 100 km. Os modelos de aerosol troposférico refletem os efeitos
de variações na umidade. Também se considera o impacto do vento sobre aerossóis sobre
desertos (velocidades elevadas tendem levantar mais partı́culas) (KNEISYS et al., 1995).
A diversidade de circunstâncias na baixa atmosfera são representandos por quatro
modelos de aerossol: rural, urbano, marı́timo e de deserto. Esses modelos são ajustados
de acordo com a umidade e a visibilidade (MOR) locais. É admitido que a distribuição
de tamanhos e a composição dos aerossóis são invariantes com a altitude. Somente a
distribuição vertical da concentração em número é alterada. Em condições de visibilidade
elevada, admite-se um decaimento exponencial da concentração em número em função da
altitude. A fim de reproduzir observações experimentais, se a visibilidade ajustada for
particularmente baixa (menor do que 10 km para o modelo rural, 5 km para o modelo
urbano e 2 km para o modelo marı́timo), admite-se um perfil vertical independente da
altitude até 1 km, com um decaimento pronunciado em altitudes maiores. Nas camadas
acima (a partir de 2 km), a natureza e distribuição dos aerossóis são menos sensı́veis às va-
rações da geografia e das condições meteorológicas, sendo, em vez disso, determinadas por
variações sazonais: as concentrações na primavera e no verão são mais elevadas (KNEISYS
et al., 1995).

A dependência da atenuação com a altitude e a dependência com o comprimento de


onda são separados em dois fatores, conforme Equação 5.2. É também possı́vel que o
usuário defina um modelo próprio tanto para s(z) como para k(λ) (KNEISYS et al., 1995).

γ(z, λ) = s(z)k(λ) (5.2)

Sendo:
γ [km−1 ] o coeficiente de extinção,
z [km] a altitude,
CAPÍTULO 5. MODTRAN 65

s(z) o fator dependente da altitude associado ao modelo de distribuição do aerossol e


dependente da visibilidade,
λ [cm−1 ] o comprimento de onda e
k(λ) o fator dependente do comprimento de onda, associado à natureza de aerossol.
O modelo de aerossol rural é estabelecido como representativo de condições em am-
bientes continentais sem fortes influências de fontes urbanas ou industriais de material
particulado. Esse aerossol é composto em parte por partı́culas resultantes de reações
quı́micas entre os gases da atmosfera e em parte por partı́culas levantadas da superfı́cie.
A distribuição de tamanhos é representada pela soma de duas distribuições log-normais,
refletindo as diferentes fontes do aerossol. Os coeficientes de extinção são calculados de
acordo com a teoria de Mie para partı́culas esféricas. A concentração de partı́culas de-
pende em grande parte do histórico da massa de ar. Em condições de estagnação, a
visibilidade pode ser significativamente prejudicada (KNEISYS et al., 1995).
Para o modelo de aerossol urbano, acrescenta-se ao modelo rural partı́culas resultantes
de processos industriais e de combustão: aerossóis carbonáceos. Admite-se a mesma
distribuição de tamanhos, e uma proporção de mistura de uma parte em cinco de aerossóis
carbonáceos (KNEISYS et al., 1995).
A composição e distribuição do aerossol marı́timo difere significativamente dos ae-
rossóis continentais. O aerossol marı́timo consiste principalmente de partı́culas de sal,
resultantes da evaporação de gotı́culas de spray marı́timo, as quais aumentam devido à
absorção da umidade. Adicionalmente, considera-se a presença de partı́culas de origem
continental (eliminando as maiores, que tendem a se depositar rapidamente). Trata-se de
um aerossol razoavelmente uniforme, que é representativo para altitudes de até 2 km ou
3 km sobre os oceanos (KNEISYS et al., 1995).
Em regiões mais altas da troposfera, as propriedades do aerossol se tornam mais uni-
formes e passam a ser descritas por um modelo geral, que consiste essencialmente do
modelo rural, removidas as partı́culas maiores (KNEISYS et al., 1995).
A configuração do MODTRAN é feita por meio do arquivo ‘tape5’, que deve seguir a
formatação FORTRAN especificada. Esse arquivo consiste em uma sequência de seis ou
mais cartões (linhas de código) (BERK et al., 1999). Para informações detalhadas sobre os
campos, bem como a formatação exigida por cada cartão, recomenda-se consulta direta
ao manual do programa (ver BERK, 1999), mas as suas funções gerais são apresentadas
a seguir.
No cartão 1 (CARD 1), especifica-se informações gerais sobre o cálculo a ser realizado:
será calculada a transmissão ou a radiação, qual modelo de atmosférico deve ser adotado,
qual o tipo de trajeto, etc. Ajustam-se também alguns parâmetros do algoritmo em si.
No cartão 1A (CARD 1A) ajusta-se mais alguns parâmetros para o cálculo do fenômeno
CAPÍTULO 5. MODTRAN 66

considerado (BERK et al., 1999).


No cartão 2 (CARD 2), são especificadas informações sobre as espécies absorvedoras.
Escolhe-se o modelo de aerosol adotado e a visibilidade entre outros parâmetros. Os
cartões 2A e 2B e 2C3 incluem especificações adicionais sobre os modelos de aerossol. Os
cartões 2C, 2C1, 2C2 e 2c2X permitem a descrição do modelo atmosférico pelo usuário,
com a especificação das concentrações das diferentes moléculas, temperatura, pressão, etc.
(BERK et al., 1999).
No cartão 3 (CARD 3), é definida a geometria da simulação. Define-se as altitudes do
observador e do alvo, a distância, o ângulo de elevação, etc. (BERK et al., 1999).
No cartão 4 (CARD 4) são determinados os parâmetros espectrais da simulação: a
banda a ser simulada, a resolução espectral etc. (BERK et al., 1999).
O cartão 5 (CARD 5) permite que se programe repetições automáticas das simulações,
com configurações diferentes. Não existe um cartão 6. Os seis cartões obrigatórios são os
cartões de 1 a 5 mais o cartão 1A (BERK et al., 1999).
6 Aplicação

O conhecimento apresentado neste trabalho foi aplicado para a compensação da trans-


mitância atmosférica durante as medições da assinatura no infravermelho do helicóptero
SABRE AH-2 da Força Aérea Brasileira (FAB) durante a Avaliação Operacional (AVAOP)
conduzida pelo Instituto de Aplicações Operacionais (IAOp) no mês de abril de 2018 (RI-
BEIRO et al., 2018). A necessidade dessa compensação é justificada, com vista à Equação
2.16, na qual a dependência da radiância medida com a transmitância atmosférica é ex-
plı́cita.
Nessa campanha foram realizadas medições da intensidade radiante da aeronave em
diversos ângulos de aspecto a distância de aproximadamente 350 metros. Na campanha
de fato, a posição da aeronave foi monitorada e, na análise das medições, se trabalhou com
a distância real. Mas para os fins deste trabalho, e para manter uma base de comparação,
as simulações aqui apresentadas consideram a distância de 350 m.
No contexto da AVAOP somente era de interesse a intensidade radiante nas faixas
MWIR e SWIR. Com base nas possı́veis concentrações atmosféricas, foram realizadas
simulações com o MODTRAN para determinar quais espécies seriam relevantes. As con-
dições de temperatura e pressão para as simulações foram ajustadas de acordo com o
modelo de atmosfera tropical disponı́vel no MODTRAN, ao nı́vel do mar.
Conforme a literatura, a umidade e o dióxido de carbono devem ser considerados.
Para ilustrar a importância desses gases, a Figura 6.1 apresenta a contribuição do vapor
de água na transmitância atmosférica para o modelo tropical e a Figura 6.2 a contribuição
do dióxido de carbono com concentração 405 ppm. A absorção pelo vapor de água, como
mencionado no Capı́tulo 3, com efeito define as janelas de transmissão atmosférica. A
principal contribuição do dióxido de carbono é a sua banda de absorção em torno de 4,3
µm, embora também se observe efeitos secundários em 4,8 µm e 2 µm. A forte banda
de absorção em 2,7 µm está fora dos intervalos de interesse e coincide com uma forte
absorção pelo vapor de água.
As concentrações de cada gás para este estudo inicial foram escolhidas como repre-
sentativas de situações plausı́veis em que a concentração de cada espécie é elevada, a fim
de minimizar o risco de se desconsiderar espécies com concentração variável cujo efeito só
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 68

FIGURA 6.1 – Absorção pelo vapor de água. Simulação realizada com o MODTRAN
para o modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os
limites da banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.

FIGURA 6.2 – Absorção pelo dióxido de carbono. Simulação realizada com o MODTRAN
para concentração de 405 ppm em condições de temperatura e pressão determinados pelo
modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os limites da
banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 69

FIGURA 6.3 – Absorção pela amônia. Simulação realizada com o MODTRAN para
concentração de 600 µg/m3 em condições de temperatura e pressão determinados pelo
modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os limites da
banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.

seria notado em concentrações mais altas.


Para a amônia, admitiu-se uma concentração de 600 µg/m3 . Esse valor certamente
representa um exagero, sendo superior a concentrações observadas nos piores anos em
Cubatão (OLIVEIRA, 1998). Valores mais razoáveis para ambientes ainda poluı́dos são
da ordem de um décimo disso: 60 µg/m3 (LOPES, 2016). A transmitância resultante
da simulação é apresentada na Figura 6.3. Observa-se que, mesmo com a concentração
significativamente exagerada, a contribuição da amônia é limitada. A região de absorção
mais intensa observada, que ocorre entre 5,5 µm e 7 µm, não pertence às bandas em que os
equipamentos de medida operam e coincide com banda de forte absorção pela água. Nas
bandas de interesse, a linha de absorção em 2 µm chega a 1,6%, mas cada linha é estreita,
de modo que na banda como um todo, o seu impacto pode ser considerado desprezı́vel.
Conclui-se que não é necessário considerar a amônia para os fins da campanha realizada.
A concentração adotada para a simulação do ácido nı́trico foi de 25 µg/m3 . Como
resultado, observa-se uma banda de absorção fraca em torno de 5,9 µm, que está fora das
bandas de interesse. Conclui-se que o ácido nı́trico não tem que ser levado em consideração
para a campanha.
Para o monóxido de carbono, adotou-se uma concentração de 1 ppm. O resultado da
simulação é apresentado na Figura 6.4. Observa-se uma região de absorção entre 4,5 µm
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 70

FIGURA 6.4 – Absorção pelo monóxido de carbono. Simulação realizada com o MOD-
TRAN para concentração de 1 ppm em condições de temperatura e pressão determinados
pelo modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os limites
da banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.

e 4,9 µm, que está contida na banda MWIR. Considera-se, portanto, que o impacto do
monóxido de carbono pode ser significativo e que esse gás deve ser considerado.
Foi adotada uma concentração de 200 ppb para o ozônio. Como resultado da simulação
é observada somente uma fraca banda de absorção em 4,7 µm, com intensidade inferior a
0,8%. Considera-se, portanto, que a concentração de ozônio não é um fator significativo
para as medições realizadas.
Para o óxido nitroso, foi admitida a concentração de 330 ppb. O resultado da simu-
lação é apresentado na Figura 6.5. Observa-se uma banda de absorção em torno de 4,5
µm, próxima à banda do dióxido de carbono, mas não sobreposta a ela. A absorção é
significativa e, portanto, o óxido nitroso deve ser considerado.
Para o metano, foi admitida a concentração de 1,85 ppm. O resultado da simulação
é apresentado na Figura 6.6. Existe uma banda de absorção significativa em 3,3 µm da
qual se conclui que o metano deve ser considerado.
Em resumo, foram considerados potencialmente relevantes as concentrações de vapor
de água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e monóxido de carbono, além das
medidas de pressão e temperatura.
A pressão, a temperatura e a umidade locais no momento dos testes foram obtidas com
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 71

FIGURA 6.5 – Absorção pelo óxido nitroso. Simulação realizada com o MODTRAN
para concentração de 330 ppb em condições de temperatura e pressão determinados pelo
modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os limites da
banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.

FIGURA 6.6 – Absorção pelo metano. Simulação realizada com o MODTRAN para
concentração de 1,85 ppm em condições de temperatura e pressão determinados pelo
modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os limites da
banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 72

uma estação meteorológica posicionada nas proximidades. As concentrações de dióxido


de carbono, metano e óxido nitroso foram determinadas de acordo com as medições in-
ternacionais mais recentes: 405 ppm para o dióxido de carbono, 1.85 ppm para o metano
e 0,33 para o óxido nitroso.
A concentração de monóxido de carbono pode apresentar variações significativas ao
longo do tempo. Para acompanhar essas variações, foi realizado contato com o CPTEC
(INPE), que possui um serviço de monitoramento da concentração desse e de outros gases
considerados poluentes. Os dados foram disponibilizados em formato ‘.gra’, tendo sido
necessário escrever uma rotina no software OpenGrADS para gerar arquivos que pudessem
ser lidos de forma mais imediada pelos algoritmos implementados em ambiente MATLAB.
Foi implementado um algoritmo para extrair os dados atmosféricos nos horários deseja-
dos a partir dos arquivos apropriados, bem como informações sobre a posição da aeronave
(ângulo de elevação e distância) e gerar a ficha de entrada do MODTRAN ‘tape5’. Como
o MODTRAN é um código em FORTRAN, a correta formatação desse arquivo é crı́tica
para o funcionamento do programa, devendo seguir estritamente as disposições do manual.
Para ilustrar a relevância de se considerar o estado da atmosfera presente no momento
da medição, realiza-se uma comparação entre a transmitância prevista com o modelo
de atmosfera tropical, conforme o padrão do MODTRAN, e o resultado obtido levando
em conta os fatores acima apresentados para um dos dias da campanha. A diferença
(subtração) entre as transmitâncias é apresentada na Figura 6.7. Observa-se pela figura,
que a variação entre as transmitâncias pode ultrapassar 10% em algumas linhas espectrais.
Essa informação é relevante, mas não traduz corretamente o impacto da variação, uma
vez que uma grandeza espectral só tem sentido fı́sico quando se considera um intervalo
do espectro.
A fim de facilitar a visualização, a Figura 6.8 apresenta uma suavização da curva
apresentada na Figura 6.7. A curva é obtida pela média entre linhas vizinhas, espaçadas
em intervalos de 1 cm−1 , a partir dos resultados gerados pelo MODTRAN. Os valores
resultantes desse processo de suavização tem algum sentido fı́sico, dado que a integral sobre
um intervalo espectral é aproximadamente conservada, supondo que esse intervalo seja
significativamente mais largo do que o utilizado para a suavização. Nesse caso, observa-se
que a diferença na transmitância chega, de fato, a 5% em algumas regiões do espectro.
Isso pode ser relevante para aplicações de banda estreita. No caso da AVAOP, no entanto,
o interesse é são as bandas MWIR ou SWIR como um todo.
O impacto da diferença obtida depende da densidade espectral de energia do sinal
de interesse. Se a banda do sinal for estreita e ele estiver centralizado, digamos, em 5
µm, a energia que se espera detectar pelo modelo tropical é cerca de 5% menor do que
o esperado pela atmosfera proposta. Em função da distribuição espectral da energia, o
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 73

FIGURA 6.7 – Diferença da transmitância espectral pela atmosfera tropical para a trans-
mitância espectral obtida em um momento da campanha. A curva foi obtida pela subtra-
ção desta pela transmitância resultante do modelo tropical. O tracejado vermelho indica
os limites da banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.

FIGURA 6.8 – Suavização da curva apresentada na Figura 6.7. Obtida pela média de
cada linha com 10 linhas vizinhas à esquerda e 10 vizinhos à direita, espaçadas de 1 cm−1 .
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 74

efeito da transmitância atmosférica será modificado. Dito isso, a fim de ilustrar o impacto
sobre a banda MWIR e a banda SWIR como um todo, é realizada uma integração em
cada uma dessas bandas, considerando uma densidade espectral de energia homogênea
com relação ao comprimento de onda a fim de determinar uma “diferença média” entre
as transmitâncias para as bandas de interesse. Esse valor médio é calculado conforme a
Equação 6.1. Z
1
∆τ = ∆τ (λ)dλ (6.1)
∆λ ∆λ

Sendo:
∆τ (λ) a diferença entre as transmitâncias espectrais obtidas para o modelo tropical do
MODTRAN e para a atmosfera proposta,
∆τ a “diferença média” entre as transmitâncias e
∆λ o intervalo espectral em questão, 2, 5−1, 5 = 1 µm, para a banda SWIR e 5, 5−3 = 2, 5
µm para a banda MWIR,
Como resultado da integração sobre a banda SWIR, a diferença média entre as trans-
mitâncias é 0,78%. Isto é, um sinal com densidade espectral de energia homogênea com
relação ao comprimento de onda na banda SWIR sofreria uma atenuação 0,78 ponto per-
centual menor ao se propagar pela atmosfera proposta em comparação com o modelo
tropical. Caso se considere o módulo da diferença, a fim de quantificar os desvios entre
os modelos de atmosfera, o resultado da integral na banda SWIR é 2,15%. Na banda
MWIR, a diferença média é 1,80%. Integrando o valor absoluto do erro na banda MWIR,
obtém-se 2,89%.
7 Conclusões

Neste trabalho, partindo de conceituações básicas relativas à banda do infravermelho,


do espectro eletromagnético, realiza-se uma revisão bibliográfica aprofundada, embora não
exaustiva, dos fenômenos resultantes da interação entre a onda eletromagnética nessa faixa
do espectro e as espécies que compõem a atmosfera. Esses conceitos são fundamentais
para acompreensão do modelo computacional MODTRAN.
Após a explicação de detalhes sobre o funcionamento do MODTRAN, foi realizado um
estudo comparativo entre a curva de transmitância atmosférica resultante do modelo de
um modelo padrão do MODTRAN (tropical) e a curva calculada a partir de dados atmos-
féricos medidos durante uma campanha de medição da assinatura IV de uma aeronave.
A seguir são apresentados alguns comentários a respeito dessa comparação.
Nas condições da AVAOP, foram observadas diferenças superiores a 5%, para algumas
faixas do espectro, na comparação entre a transmitância atmosférica resultante do modelo
tropical do MODTRAN e a transmitância obtida para a atmosfera construı́da com base
em medições. Vale mencionar que o impacto dessa diferença sobre a energia de um sinal,
depende da distribuição espectral de energia: a diferença é mais significativa para aplica-
ções que operam em bandas estreitas centradas nas regiões do espectro que apresentam
as variações mais acentuadas.
Os desvios observados não produzirão erros catastróficos nos valores de intensidade
radiante medidos pelos equipamentos, mas pode ser significativo, dependendo da acurácia
exigida.
Deve-se considerar que a distância entre a aeronave e os equipamentos de medição
é relativamente pequena. Tipicamente, as distâncias envolvidas em aplicações do infra-
vermelho pode superar 1 km. Como a extinção atmosférica obedece uma dependência
exponencial com a distância, as diferenças entre os modelos atmosféricos torna-se signifi-
cativamente mais pronunciada conforme o alvo se afaste do detector.
Cabe notar ainda que o erro observado se compõe com outros erros inerentes às me-
dições em campo da intensidade radiante da aeronave e é propagado durante o processa-
mento dos dados. Como consequência, a confiabilidade do resultado final é prejudicada.
Recomenda-se, portanto o esforço para a medição dos dados atmosféricos.
CAPÍTULO 7. CONCLUSÕES 76

Para aplicações na banda SIWR, justifica-se monitorar a umidade da atmosfera, bem


como a concentração de dióxido de carbono. Para aplicações na banda MWIR, recomenda-
se ainda que se utilize valores atualizados para as concentrações de metano, óxido nitroso
e monóxido de carbono.
As concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera apresen-
tam tendência de crescimento ano a ano, sendo amplamente registradas por serviços de
monitoramento ambiental. Deve-se atentar para que os valores utilizados nas simulações
não estejam muito defasados. Em 2018, concentrações representativas são: 405 ppm para
o dióxido de carbono, 1,85 ppm para o metano e 0,33 ppm para o óxido nitroso.
A umidade do ar é o principal fator para a transmissão atmosférica e apresenta grande
variação temporal e espacial. É recomendado que se disponha de instrumentos para medir
essa grandeza no momento de interesse.

7.1 Trabalhos Futuros

O estudo realizado não se estendeu à banda LWIR. Cabe ainda determinar quais gases
são relevantes nessa banda. Embora se tenha realizado uma revisão sobre a natureza dos
aerossóis, não foi determinada a forma mais adequada de se considerar a sua contribuição.
Para as simulações, a consideração do impacto dos aerossóis foi limitada ao ajuste da
visibilidade para o modelo de aerossol continental do MODTRAN. Cabe um estudo mais
aprofundado sobre os aerossóis.
Referências

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2013.
FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO

1. 2. 3. 4.
CLASSIFICAÇÃO/TIPO DATA DOCUMENTO N N DE PÁGINAS
TC 22 de novembro de 2018 DCTA/ITA/TC-113/2018 78
5.
TÍTULO E SUBTÍTULO:
Propagação atmosférica de radiação na faixa do infravermelho
6.
AUTOR(ES):
Rafael Kawagoe Favero
7.
INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGAO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES):
Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA
8.
PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:
Infravermelho; Atmosfera; Extinção atmosférica; Componentes atmosféricos.
9.
PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:
Infravermelho; Espectros eletromagnéticos; Atmosferas; Radiometria; Propagação; Sensores; Engenharia eletrô-
nica.
10.
APRESENTAÇÃO: (X) Nacional ( ) Internacional
ITA, São José dos Campos. Curso de Graduação em Engenharia Eletrônica. Orientador: Prof. Dr. Olympio
Lucchini Coutinho; coorientador: Prof. Dr. Francisco Sircilli Neto. Publicado em 2018.
11.
RESUMO:
O século XX testemunhou grande avanço em tecnologias que operam na faixa do infravermelho do espectro
eletromagnético. Muitas aplicações, dentre as quais pode-se destacar sistemas para comunicação, telemetria,
termometria e guiamento de mı́sseis, possuem a atmosfera terrestre como meio de propagação da radiação. A
atmosfera constitui, pois, fator determinante para o desempenho desses sistemas. Nesse contexto, o presente
trabalho visa estabelecer bases para a compreensão do impacto da atmosfera como meio de propagação para
a radiação na faixa do infravermelho. É realizada uma revisão da literatura sobre os conceitos fundamentais,
as caracterı́sticas da atmosfera e os principais fenômenos envolvidos, além de um breve estudo sobre software
empregado para a simulação desses impactos. O conteúdo apresentado é aplicado no contexto de uma campa-
nha de medições realizada no primeiro semestre de 2018 para determinar a assinatura infravermelha de uma
aeronave. A transmitância atmosférica então obtida é comparada com o resultado de um modelo de atmosfera
padrão. Considera-se que as diferenças obtidas justificam o emprego de esforços para acompanhar as condições
atmosféricas no momento das medições.

12.
GRAU DE SIGILO:
(X) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) SECRETO

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