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Trabalho de Graduação
2018
Orientador
Prof. Dr. Olympio Lucchini Coutinho (ITA)
Coorientador
Prof. Dr. Francisco Sircilli Neto (IEAv)
ENGENHARIA ELETRÔNICA
2018
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Divisão de Informação e Documentação
Favero, Rafael Kawagoe
Propagação atmosférica de radiação na faixa do infravermelho / Rafael Kawagoe Favero.
São José dos Campos, 2018.
78f.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FAVERO, Rafael Kawagoe. Propagação atmosférica de radiação na faixa do
infravermelho. 2018. 78f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Instituto
Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Rafael Kawagoe Favero
TITULO DO TRABALHO: Propagação atmosférica de radiação na faixa do infravermelho.
TIPO DO TRABALHO/ANO: Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) / 2018
À Nação brasileira e à Força Aérea Brasileira, por manterem este centro de excelência
no ensino de engenharia e abrirem tantas oportunidades.
Ao meu pai e à minha mãe, por toda a dedicação e investimento na minha educação.
Aos amigos da graduação, por todo o apoio durante os cinco anos de curso.
Aos meus orientadores, pela paciência e orientação.
A todos que contribuı́ram de alguma forma para a conclusão deste trabalho e durante
os cinco anos de curso.
“If I have seen farther than others,
it is because I stood on the shoulders of giants.”
— Sir Isaac Newton
Resumo
The 20th century has seen great development of infrared technologies. The atmosphere of
the Earth is the medium of radiation propagation for many such applications, including
systems for communication, telemetry, thermometry and missile guidance. As such, the
atmosphere is determinant for the performance of those systems. In this context, this
paper aims on laying the foundations for an understanding of the atmosphere’s effects
as a medium of propagation for infrared radiation. The literature has been reviewed on
the fundamental concepts, the characteristics of the atmosphere and the main phenomena
involved. A brief study has also been made on the software employed for the simulation of
those effects. That content has been employed in the context of a measurement campaign
during the first half of 2018 which sought to determine an aircraft’s infrared signature.
The atmospheric transmittance thus obtained was compared with that resulting from a
standard atmosphere model. It is considered that the differences obtained are enough to
justify some effort on monitoring the atmospheric state during the measurements.
Lista de Figuras
As grandezas associadas a cada sı́mbolo na lista a seguir são uma orientação quanto
às unidades envolvidas. Ao longo do texto, entretanto, elas podem ser desrespeitadas
conforme convenha. Por exemplo: o coeficiente de extinção pode ter em determinado
contexto unidade de m−1 e em outro cm−1 , a informação relevante para esta lista sendo
apenas que a unidade é de inverso da distância.
α Absortância
γ Coeficiente de extinção [m−1 ]
Emitância
θ Ângulo polar [rad]
λ Comprimento de onda [µm]
λm Comprimento de onda de máxima emitância espectral [µm]
µ Massa molecular média [g mol−1 ]
ν Número de onda [cm−1 ]
ν̄ Frequência do fóton [Hz]
ρ Refletância
ρ Densidade [kg m−3 ]
σ Constante de Stefan-Boltzmann [W m−2 K−4 ]
τ Transmitância
φ Azimute [rad]
Φ Fluxo radiante [W]
Adetector Área iluminada pela radiação [m2 ]
Af onte Área da fonte de radiação [m2 ]
C Seção reta [cm2 ]
c Velocidade da luz [m s−1 ]
c1 Primeira constante de radiação [W µm4 m−2 ]
c2 Segunda constante de radiação [µm K].
E Irradiância [W m−2 ]
E Energia [J]
h Constante de Plank [J s]
I Intensidade radiante [W sr−1 ]
LISTA DE SÍMBOLOS xiv
1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2 Fundamentos de Infravermelho . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.1 O Infravermelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2 Fundamentos de Radiometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2.1 Quantidades Fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2.2 Propagação em Meios Com Perdas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3 Radiação Termal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3 Atmosfera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.1 Estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2 Composição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2.1 Vapor de água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.2.2 Dióxido de carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2.3 Metano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2.4 Óxido nitroso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2.5 Ozônio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.2.6 Monóxido de carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2.7 Ácido nı́trico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2.8 Amônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2.9 Material particulado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4 Fenômenos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.1 Extinção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
SUMÁRIO xvi
4.1.1 Absorção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.1.2 Espalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.2 Refração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5 MODTRAN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
6 Aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
7 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
7.1 Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
1 Introdução
Nesse contexto, o presente trabalho visa estabelecer bases para a compreensão do im-
pacto da atmosfera como meio de propagação para a radiação. Em particular, considera-se
a radiação contida na faixa do infravermelho.
A modelagem espectral da transmitância requer uma descrição adequada da atmosfera.
Além das variações de natureza meteorológica sobre a temperatura e pressão, a umidade
e as concentrações das diversas espécies podem apresentar elevada variabilidade (KNEISYS
et al., 1995).
2.1 O Infravermelho
104
ν= (2.1)
λ
Como será discutido mais adiante, a absorção da radiação pelos componentes atmos-
féricos tem como consequência a limitação da faixa espectral utilizável do infravermelho
a comprimentos de onda menores do que 15 µm. Outra consequência é a existência de
somente algumas bandas nas quais a radiação se propaga na atmosfera. Com vistas a
essas janelas atmosféricas, bem como à disponibilidade histórica de sensores responsivos
em determinadas faixas, o infravermelho é dividido em quatro sub-bandas. Essa divisão
não é muito bem definida, nem padronizada, mas serve de indicação geral da faixa do
espectro em que se opera (WILLERS, 2013). Neste trabalho será adotada a divisão apre-
sentada por Willers (2013) e indicada na Tabela 2.1. Os comprimentos de onda que não
são abrangidos pelas bandas definidas correspondem a faixas de absorção molecular pelos
componentes da atmosfera nas quais a energia da radiação é muito atenuada.
O primeiro registro da existência de radiação nessa faixa do infravermelho data do
inı́cio do século XIX e deve-se a Sir Willian Herschel, que observa duas propriedades
relevantes: a transmissão de energia térmica e a invisibilidade. Ao longo daquele século
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 20
d2 Φ
∆Φ
L= lim = (2.2)
∆Af onte ,∆Ω→0 ∆Af onte cos θ∆Ω dAf onte cos θdΩ
dΦ
M= (2.3)
dAf onte
Z
M= L cos θdΩ (2.4)
2π
dΦ
I= (2.5)
dΩ
Z
M= LdAf onte (2.6)
Af onte
dΦ
E= (2.7)
dAdetector
Z
E= L cos θdΩ (2.8)
2π
Em um meio sem perdas, o fluxo radiante entre duas frações infinitesimais de área
é dado pela equação de transferência radiativa, apresentada na Equação 2.9 (PALMER;
GRANT, 2010). Essa equação põe em perspectiva a noção de conservação de radiância
apresentada anteriormente: na ausência de um meio, somente um valor de radiância está
associado a uma fração de área da fonte e uma fração de área do observador, o qual é
constante ao longo da reta definida pela direção conectando esses dois pontos.
d2 Φ L cos θs cos θd
= (2.9)
dAf onte dAdetector r2
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 23
Sendo:
Af onte a área da fonte,
Adetector a área da superfı́cie iluminada,
L a radiância,
r a distância entre as duas áreas,
θs o ângulo da normal da superfı́cie emissora com a linha de visada e
θd o ângulo da normal da superfı́cie iluminada com a linha de visada.
O efeito das perdas em um meio, tal como a atmosfera, se traduz em uma atenuação
da radiância medida. Considerando um meio homogêneo, a variação local da radiância
no trajeto é proporcional à própria radiância e ao comprimento do trajeto infinitesimal
percorrido:
∆L = −γ∆x
L(r)
= exp (−γr) (2.10)
L(0)
Se o meio não é homogêneo, a atenuação é dada pela Equação 2.11. Esse resultado
decorre da equação anterior quando se admite que, no limite, para um deslocamento
pequeno, o meio será homogêneo e se soma a contribuição de cada um dos deslocamentos
infinitesimais. Z
L(r)
= exp − γ(x)dx (2.11)
L(0) r
O expoente nas equações acima é denominado profundidade óptica. Ele reflete, grosso
modo, a distância até a qual se consegue distinguir determinado nı́vel de contraste. Trata-
se de uma medida da opacidade do meio.
Quando a radiação se propaga por um meio, a sua energia pode ter três destinos: ser
refletida, absorvida ou transmitida. A proporção da energia que sofre cada um desses
fenômenos, com relação ao total, define a refletividade/refletância, denotada por ρ, a ab-
sortividade/absortância, denotada por α, e a transmissividade/transmitância, denotada
por τ . A diferença entre as nomenclaturas se dá na medida em que refletividade, absortivi-
dade e transmissividade descrevem propriedades de materiais puros, enquanto refletância,
absortância e transmitância descrevem propriedades de uma amostra em particular. Nesse
sentido será adotado o segundo grupo de nomenclaturas (PALMER; GRANT, 2010).
A transmitância é definida como a razão entre a energia transmitida e a energia in-
cidente. Derivando o fluxo com relação à área da fonte e ao ângulo sólido, obtém-se
uma definição equivalente com relação à radiância. Desse modo, a relação descrita pela
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 24
L(r)
τ= (2.12)
L(0)
α+τ =1 (2.14)
A absortância de um meio está relacionada com a sua eficiência como radiador. Bons
absorvedores são bons emissores. Isso é resultado da lei de Kirchhoff, descrita na Equação
2.15. A absortância de um corpo em um dado comprimento de onda, em uma dada
temperatura, em uma dada direção é igual à sua emitância no mesmo comprimento de
onda, temperatura e direção (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).
Z
L= Lλ τλ dλ (2.18)
∆λ
Vale comentar que densidades espectrais (e, de fato, qualquer função “densidade”) não
possuem significado em absoluto por si só. Elas só têm sentido com relação à grandeza
espectral considerada, apresentando comportamentos diversos conforme transformações
são aplicadas a essa grandeza. A única condição necessária é que as integrais sobre
intervalos espectrais equivalentes resultem no mesmo valor. É importante ter isso em
mente quando se converte entre números de onda e comprimentos de onda: um passo
constante em números de onda, digamos de 1 cm−1 , será variável em comprimentos de
onda. Uma função densidade constante em números de onda não pode ser constante
em comprimentos de onda e resultar nos mesmos valores para integrais sobre intervalos
equivalentes (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).
A associação do infravermelho com o calor não é sem motivo. Todo corpo emite radia-
ção eletromagnética, de acordo com a sua temperatura e boa parte dessa radiação se dá no
infravermelho. A compreensão desse fenômeno foi uma das grandes questões da fı́sica no
inı́cio do século XX e a sua resolução serviu de base para a fı́sica moderna, com a introdu-
ção da hipótese de quantização da energia. Foi então derivado por Planck (PLANCK, 1914)
que a densidade espectral de potência emitida por unidade de área (denominada exitância
radiante espectral) de um corpo idealizado — um corpo negro, cuja emissão independe de
qualquer radiação incidente — obedece a assim chamada lei de Planck (PALMER; GRANT,
2010):
c1 1
Mλ = 5 c2 /λT (2.19)
λ e −1
Sendo:
Mλ [W m−2 µm−1 ] a exitância radiante espectral (ver próxima seção, sobre radiometria),
λ [µm] o comprimento de onda,
T [K] a temperatura,
h = 6, 62607 × 10−34 [J s] a constante de Planck,
k = 1, 38065 × 10−23 [J K−1 ] a constante de Boltzmann,
c = 2, 99792458 × 108 [m s−1 ] a velocidade da luz,
c1 = 2πhc2 = 3, 74177 × 108 [W µm4 m−2 ] a primeira constante de radiação e
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 26
M = σT 4 (2.20)
Sendo:
M [W m−2 ] a exitância radiante (as unidades básicas da radiometria são discutidas na
próxima subseção) e
2π 5 k4 −8
σ = 15c 2 h3 = 5, 670 × 10 [W m−2 K−4 ] a constante de Stefan-Boltzmann.
Esse resultado é obtido quando se integra a Equação 2.19 em todos os comprimentos
de onda, de zero a infinito. Caso, por outro lado, se derive a equação com relação ao
comprimento de onda para determinar o ponto de máximo, conclui-se que o comprimento
de onda correspondente é inversamente proporcional à temperatura, como descrito pela
lei do deslocamento de Wien (PALMER; GRANT, 2010):
Sendo:
λm [µm] o comprimento de onda de máxima exitância espectral.
Como se pode observar na Figura 2.1, quase toda a energia radiada por um corpo a
temperaturas tipicamente encontradas na superfı́cie terrestre é emitida na faixa espectral
no infravermelho. O mesmo vale para corpos em temperaturas mais elevadas. Como se
observa na Figura 2.2, mesmo um corpo a 2400 K — representativo de uma lâmpada
incandescente — emite boa parte da radiação no infravermelho. A pluma formada pelos
gases de exaustão de motores turbojato, que atingem tipicamente temperaturas na ordem
de 900 K (HUDSON, 1969), possuem um espectro de radiação ainda mais contido nessa
faixa. Diversas aplicações que operam no infravermelho, militares e comerciais, fazem uso
desse fato.
Embora nenhum corpo real irradie como um corpo negro, a lei de Planck fornece uma
boa base para o modelamento de uma grande variedade de fontes. De fato, salvo em
casos extremos, quando as dimensões do corpo são comparáveis ao comprimento de onda,
nenhum corpo irradia mais intensamente do que um corpo negro na mesma temperatura
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE INFRAVERMELHO 27
(BOHREN; CLOTHIAUX, 2006). Define-se a emitância de uma superfı́cie como a razão entre
a energia por ela radiada e a que seria esperada de um corpo negro, regido pela lei de
Planck. A emitância de um corpo real varia com o comprimento de onda, mas é aproxima-
damente constante para a maioria dos objetos naturais (WILLERS, 2013). Notadamente,
gases possuem emitância elevada somente em algumas bandas do espectro.
3 Atmosfera
3.1 Estrutura
dP gµ
=− P (3.1)
dz RT
Sendo:
R = 8, 314 [J mol−1 K−1 ]a constante universal dos gases,
g a aceleração gravitacional, que varia em função da altitude (na superfı́cie, g = 9, 807 [m
s−2 ]),
µ [g mol−1 ] a massa molecular média,
T [K] a temperatura,
γ [K km−1 ] o gradiente vertical de temperatura,
P [N m−1 ]a pressão e
z [km] a altitude.
Desprezando a variação na aceleração da gravidade, a resolução da equação diferencial
resulta na Equação 3.2 (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
P (z) µg T (z)
log = log (3.2)
P (0) γR T (0)
Pµ
ρ= (3.3)
RT
Naturalmente, a maior parte das atividades humanas é limitada à camada mais pró-
xima ao solo, que é a troposfera. Além disso, como a maior parte da massa atmosférica
está concentrada nessa camada, ela corresponde à maior parte da atenuação. Este traba-
lho tem a troposfera como foco.
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 32
3.2 Composição
FIGURA 3.2 – Perfil em altitude das concentrações médias q dos gases (TIMOFEYEV;
VASI’LEV,
2008).
FIGURA 3.3 – Concentração de CO próximo ao solo às 03:00 do dia 30/10/2018, dispo-
nibilizado online pelo CPTEC: http://meioambiente.cptec.inpe.br/
CAPÍTULO 3. ATMOSFERA 36
3.2.3 Metano
FIGURA 3.5 – Média dos ciclos anuais (de 1984 a 2016) da concentração de metano na
atmosfera para zonas a cada 30o de latitude (WDCGG, 2018).
3.2.5 Ozônio
nota-se que concentrações tı́picas para o perı́odo noturno são da ordem de 10 ppb, mas,
em dias particularmente poluı́dos, podem ser observadas concentrações até quase 200 ppb
(LACAVA et al., 2000).
Medições realizadas nos anos 1970 revelaram que as concentrações de ácido nı́trico são
significativamente mais elevadas na baixa estratosfera do que na troposfera, mantendo-se
elevadas até 30 km. As proporções são largamente variáveis, mas concentrações tı́picas a
altitudes de 18 km em médias latitudes são da ordem de 2 ppb (NASA (US), 1976).
Medições na região de Los Angeles (EUA) no inı́cio da década de 1990 observaram
concentrações superiores a 20 µg/m3 (SOLOMON et al., 1992).
3.2.8 Amônia
Quando o aerossol é resultante de reações quı́micas atmosféricas diz-se que esse aerossol
é secundário. Aerossóis primários, por outro lado, são emitidos diretamente na atmosfera
como partı́culas. As fontes do material particulado podem ser naturais ou antropogênicas.
aerossóis de origem natural podem ser: partı́culas de sal, resultante de spray marı́timo; de
natureza mineral, resultante da elevação de poeira pelo vento; de origem vulcânica, ejeta-
dos diretamente ou resultantes de reações quı́micas subsequentes; de natureza biogênica,
primário ou secundário; ou ainda produto de reações quı́micas que entre os gases presentes
na atmosfera. Aerossóis de origem antropogênica podem ser resultado da emissão direta
por atividades industriais, resultado de atividades agrı́colas ou produtos de reações quı́mi-
cas entre poluentes (que podem seguir reações quı́micas idênticas às dos aerossóis naturais,
mas resultam da interação entre gases emitidos pelas atividades humanas) (TIMOFEYEV;
VASI’LEV, 2008). A Tabela 3.3 lista as principais fontes de aerossol e estimadas.
FIGURA 3.7 – Fenômenos que afetam o tamanho dos aerossóis. A curva indica a distri-
buição idealizada de área superficial em função do diâmetro das partı́culas. Também são
registradas as principais fontes e sumidouros associadas aos diferentes diâmetros. (Adap-
tado de SEINFELD, 2006)
4.1 Extinção
para o conjunto de partı́culas, que podem, por exemplo, apresentar diferentes orienta-
ções no espaço, cada qual com a sua contribuição para a seção reta dessa espécie. Se
uma partı́cula é iluminada por uma irradiância E, a energia é absorvida a uma taxa W,
proporcional a E, conforme a Equação 4.2 (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006):
W = CE (4.2)
Sendo:
W [W] a potência extinta,
C [cm2 ] a seção reta e
E [W cm−2 ] a irradiância.
A seção reta de uma partı́cula pode ser dividida em dois componentes: um atribuı́do à
absorção e um ao espalhamento. Isso é representado pela equação a seguir (TIMOFEYEV;
VASI’LEV, 2008).
C = Ca + Cs (4.3)
O coeficiente de extinção corresponde à taxa pela qual a energia da onda será atenuada
para um deslocamento infinitesimal. Esse coeficiente pode ser obtido a partir das seções
retas das diversas espécies presentes, conforme a Equação 4.4. Considerando uma frente
de onda, a potência extinta em um deslocamento infinitesimal é a soma das contribuições
individuais de cada partı́cula encontrada, descritas na Equação 4.2. Essa equação faz
referência à irradiância, que implica uma densidade por área; assim, a derivada com
relação a um deslocamento invoca uma densidade em volume, em acordo com o resultado
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 51
Sendo:
γ o coeficiente de extinção e
n a concentração de uma dada variedade de partı́cula por volume.
A Lei de Bouguer é aplicável para a grande maioria dos casos. No entanto, podem
haver desvios em casos onde não se verifica a independência da seção reta com relação
à intensidade da radiação. Quando a radiação é muito intensa — na ordem de 100 GW
m−2 — a extinção segue um decaimento linear, não mais exponencial, como descrito pela
Lei de Bouguer (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008). Esses casos fogem, pois, ao escopo deste
trabalho.
4.1.1 Absorção
Sendo:
∆E [J] a variação de energia,
h [J s] a constante de Planck e
ν̄ [Hz] a frequência do fóton.
Tendo em vista a natureza quântica da absorção, é por vezes conveniente fazer re-
ferência ao número de onda em vez do comprimento de onda, pois o número de onda é
proporcional à energia do fóton e permite uma melhor percepção das transições energéticas
envolvidas.
Os modos energéticos podem ser de natureza eletrônica, translacional, rotacional ou vi-
bracional. A transição entre modos eletrônicos demanda quantidades elevadas de energia,
correspondente a fótons nas faixas do ultravioleta, do visı́vel e NIR. As energias associa-
das a transições entre modos translacionais possuem efeito desprezı́vel no infravermelho
e o seu impacto pode ser desconsiderado. As energias associadas aos modos rotacionais
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 52
ainda são baixas, mas são significativas. Por fim, as energias associadas aos modos vibra-
cionais correspondem a comprimentos de onda entre 2 µm e 30 µm, abrangendo a região
central do infravermelho. A superposição de modos rotacionais e vibracionais resulta em
uma estrutura de bandas mais complexa do que seria esperado considerando somente os
modos fundamentais. Como as energias associadas aos modos vibracionais são ordens de
grandeza maiores do que as energias dos modos rotacionais, o efeito da combinação desses
modos é o surgimento de bandas vibracionais-rotacionais no entorno de uma frequência
vibracional central (HUDSON, 1969). Isso pode ser observado na Figura 4.2, que apre-
senta a seção reta do monóxido de carbono. As diferenças entre os picos correspondem a
transições rotacionais, enquanto o centro da banda corresponde ao modo vibracional.
A excitação de modos energéticos de natureza vibracional ou rotacional depende da
interação entre a radiação eletromagnética e a molécula, resultando em uma alteração no
seu momento de dipolo elétrico. Por esse motivo moléculas homonucleares, como os gases
nitrogênio, oxigênio e argônio, que são os componentes mais abundantes da atmosfera,
possuem efeito reduzido no infravermelho (HUDSON, 1969).
Como mencionado, a absorção dos fótons está associada à excitação de nı́veis mais
energéticos nas moléculas. A absorção está condicionada, portanto, para um dado com-
primento de onda, à população de moléculas em estados base que possibilitem tal tran-
sição. Essa é a explicação para as diferenças na seção de reta de uma mesma molécula
em diferentes comprimentos de onda: a quantidade de moléculas em estados energéticos
adequados para absorver um dado comprimento de onda é diferente. Grosso modo, no
equilı́brio térmico, a proporção entre a quantidade de moléculas em dois estados com ener-
gias Ei e Ej é dada pela Equação 4.6. Com efeito, a probabilidade de que uma molécula
esteja em um estado energético Ei é descrita pela Equação 4.7 (BOHREN; CLOTHIAUX,
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 53
2006).
Nj
= exp(−(Ej − Ei )/kT ) (4.6)
Ni
gi exp(−Ei /kT )
p(Ei ) = P (4.7)
i gi exp(−Ei /kT )
Sendo:
Ni e Nj as quantidades de moléculas nos estados i e j respectivamente,
Ei e Ej as energias dos estados i e j respectivamente,
k a constante de Boltzmann,
T a temperatura,
p(Ei ) a probabilidade de a molécula se encontrar em um estado com energia Ei e
gi a densidade de estados com energia Ei .
Conforme elaborado por Bohren (2006), considerando que a separação entre nı́veis
eletrônicos é da ordem de 105 cm−1 , conclui-se que quase todas as moléculas atmosfera
(abaixo da termosfera) estarão no estado eletrônico fundamental. O mesmo vale para
o estado vibracional, mesmo com energias da ordem de 103 cm−1 . Por outro lado, as
energias associadas a transições entre modos rotacionais, na ordem de 10 e 100 cm−1 , são
comparáveis a kT , resultando em uma quantidade significativa de moléculas em estados
rotacionais excitados.
Em um primeiro momento, pelo argumento quântico apresentado até este ponto, não
seria esperada absorção senão dos fótons com precisamente a energia adequada. Ocorre,
pois, que a molécula não está isolada, nem estacionária, havendo, por isso, alargamento
das linhas de absorção. O efeito da interação entre moléculas é um alargamento descrito
por uma forma de Lorentz, conforme a Equação 4.8. A largura da forma de Lorentz reflete
tanto a natureza da molécula como a sua interação com as demais, dependendo também
o tipo de molécula com a qual a interação ocorre (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).
αc
f (ν) = (4.8)
(ν − ν0 ) + αc2
2 !
1 ν − ν0
f (ν) = √ exp − (4.9)
αD π αD
Sendo:
f uma medida de densidade de probabilidade,
ν0 o número de onda no centro da linha e
αc a largura a meia altura por colisão,
p
αD = (ν0 /c) 2kT /m a largura por efeito Doppler, onde m é a massa da molécula.
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 54
FIGURA 4.3 – Formas de linha da água. Na alta atmosfera (10 mb e 238 K) e na superfı́cie
(1013 mb e 294 K) (adaptado de BOHREN, 2006).
Sendo:
α0c a largura a meia altura por colisão na pressão P0 e temperatura T0 e
m em geral entre 0.5 e 1, um parâmetro que depende da molécula e da transição em
questão (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
Vale mencionar ainda que as colisões que dão origem às formas de Lorentz também
causam um deslocamento do centro da banda, na ordem de 0.05 cm−1 atm−1 (TIMOFEYEV;
VASI’LEV, 2008). Além disso, na realidade, os modos energéticos não são independentes.
Por exemplo, pensando em termos clássicos, a vibração afeta o momento de inércia de
um corpo e, por consequência, a sua energia de rotação. Como consequência, a estrutura
de bandas não é derivada perfeitamente (especialmente para os nı́veis mais energéticos)
da simples superposição de modos vibracionais/rotacionais mencionada. Em particular,
o dióxido de carbono não possui dipolo permanente e não apresenta, assim, bandas de
rotação. No entanto, os modos vibracionais induzem momentos de dipolo, resultando em
bandas vibracionais-rotacionais, mesmo que as bandas puramente rotacionais não existam
(BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).
Os modos vibracionais das principais moléculas absorvedoras, bem como as energias
associadas, são apresentados na Figura 4.4. Estão disponı́veis compilações com as prin-
cipais propriedades espectroscópicas de diversas moléculas. A base de dados HITRAN é
o fundamento de códigos como o LOWTRAN, o MODTRAN e o FASCODE (THOMAS,
2006). Conforme a Equação 4.4, a absorção da radiação depende da concentração da
espécie absorvedora na atmosfera. Por esse motivo, embora a seção reta de algumas mo-
léculas até seja significativa em alguns comprimentos de onda, a sua baixa concentração
na atmosfera pode tornar o seu impacto pouco significativo.
O vapor de água é o absorvedor com maior impacto sobre a transmissão da radiação
infravermelha na atmosfera terrestre. A sua presença, com alguma contribuição do dióxido
de carbono e do ozônio, com efeito impedem a propagação de radiação com comprimento
superior à banda LWIR e inferior a milı́metro (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006), sendo o
motivo de as aplicações que fazem uso do infravermelho se limitarem às faixas NIR,
SWIR, MWIR, e LWIR. A estrutura de bandas observada na Figura 4.1 é em grande
medida consequência da absorção pela água. A umidade também afeta a qualidade das
janelas atmosféricas, especialmente na banda LWIR. O dióxido de carbono é outro gás
relevante, sendo o componente atmosférico ativo no infravermelho mais abundante depois
da água e apresentando uma concentração mais constante na atmosfera terrestre. A
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 56
TABELA 4.1 – Bandas de absorção dos principais gases ativos no infravermelho (adaptado
de TIMOFEYEV, 2008 e THOMAS, 2006).
Tabela 4.1 abaixo apresenta a localização das bandas de absorção dos principais gases
ativos no infravermelho.
Em verdade, a excitação de dipolos elétricos não é a única forma de as moléculas
interagirem com a radiação. Outras possibilidades incluem a existência de um dipolo
magnético, ou momentos quadrupolo. Vale notar que as intensidades dessas interações
são ordens de grandeza menores do que as de dipolo. Entretanto, se a espécie relevante for
abundante no meio — como é o caso do oxigênio e do nitrogênio na atmosfera terrestre —,
essas bandas podem ser observadas (TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008). De fato, observam-
se bandas dessa natureza por parte do oxigênio, em torno de 6,3 µm, e por parte do
nitrogênio, em 4,3 µm, as quais são solenemente ignoradas por se localizarem, ambas, em
uma faixa de forte atenuação por parte da água e, por outro lado, por serem, de fato,
pouco intensas.
4.1.2 Espalhamento
Partı́culas muito menores do que o comprimento de onda, podem ter a sua interação
com a radiação eletromagnética aproximada pelo comportamento de um dipolo elétrico
infinitesimal. Com base nessa aproximação, conclui-se que a potência espalhada é propor-
cional ao inverso do comprimento de onda elevado à quarta. Essa é a relação associada
ao assim chamado espalhamento de Rayleigh. Uma condição importante para a validade
desse resultado é que a frequência da radiação seja significativamente inferior à frequência
de ressonância do dipolo. Para moléculas, isso é associado à frequência de plasma, da
ordem de 0,1 µm (BOHREN; CLOTHIAUX, 2006).
Uma dificuldade em se realizar uma análise teórica rigorosa do espalhamento por aeros-
sol é a dependência desse fenômeno da geometria das partı́culas quando as suas dimensões
não são desprezı́veis em comparação com o comprimento de onda. Uma descrição ana-
lı́tica do espalhamento por uma esfera homogênea foi obtida em 1908 por Gustav Mie
e é frequentemente empregada como representativa para diversos modelos de aerossóis
(TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008). A derivação desse resultado envolve a expansão da onda
incidente em uma série harmônica para um sistema de coordenadas esférico, tornando a
descrição da interação entre a radiação e a geometria da partı́cula relativamente direta
(BOHREN; CLOTHIAUX, 2006). Não convém apresentar aqui a expressão exata obtida.
Mas cabe mencionar que a seção reta de espalhamento e de extinção pela partı́cula é
dada em função do ı́ndice de refração complexo e da razão x = 2πr/λ, sendo r o raio da
partı́cula(TIMOFEYEV; VASI’LEV, 2008).
É interessante notar que o caso limite da teoria de Mie para partı́culas muito menores
do que o comprimento de onda está em concordância com a teoria de Rayleigh, apresen-
tando o mesma dependência com a quarta potência do comprimento de onda (BOHREN;
CLOTHIAUX, 2006).
Variações na distribuição de tamanhos dos aerossóis dão origem a variações nas ca-
racterı́sticas do espalhamento. Para nuvens e neblina, o espalhamento é razoavelmente
independente do comprimento de onda na faixa do infravermelho. Nesses casos existem
gotı́culas de água esféricas relativamente grandes e o resultado é consistente com a teoria
de Mie (THOMAS, 2006).
Uma medida comum do efeito do espalhamento na atmosfera é a visibilidade, que é
definida conforme a Equação 4.11 (THOMAS, 2006).
1 C
Rv = ln (4.11)
γ
Sendo:
Rv a visibilidade,
γ o coeficiente de extinção,
CAPÍTULO 4. FENÔMENOS 59
4.2 Refração
sin θi ni+1
= (4.13)
sin ψi ni
sin ψi ri+1
= (4.14)
sin θi+1 ri
Nem sempre é viável calcular a absorção linha a linha em modelos atmosféricos realis-
tas. Além disso, resultados de alta resolução não são necessários para se obter simulações
representativas para diversos sistemas que operam em bandas largas. Nesse sentido, é
mais adequado o emprego de modelos simplificados para quantificar os efeitos da atmos-
fera na propagação da radiação. Os códigos mais comumente empregados para esse fim
são o LOWTRAN, o MODTRAN e o FASCODE. Os três códigos foram desenvolvidos e
são mantidos pelo Phillips Laboratory, subordinado à força aérea americana e permitem
avaliação da transmitância e radiância para diversos trajetos de propagação e diversas
configurações da atmosfera (THOMAS, 2006).
O FASCODE permite cálculos com elevada resolução espectral. Esse código utiliza a
base de dados HITRAN diretamente, sendo computacionalmente mais exigente do que os
códigos LOWTRAN e MODTRAN (THOMAS, 2006).
O LOWTRAN (acrônimo para low resolution transmission) permite o cálculo da trans-
mitância ou da radiância por um trajeto determinado, com baixa resolução espectral: 20
cm−1 . O modelo de banda para a absorção molecular LOWTRAN considera parâmetros
espectrais, derivados da base de dados HITRAN, e uma medida da quantidade equiva-
lente de absorvedor no trajeto de propagação. A quantidade equivalente de absorvedor
introduz uma dependência da pressão e da temperatura, conforme relação apresentada na
Equação 5.1 (THOMAS, 2006):
Z r !n
P T0
w∗ = ρ(s) ds (5.1)
P0 T
Sendo:
∗
w a quantidade equivalente da espécie absorvedora,
ρ(s) a concentração local de absorvedor,
n um parâmetro determinado empiricamente para cada absorvedor e
P0 = 1[atm] e T0 = 273[K] a pressão e temperatura de referência, nas quais os parâmetros
espectrais foram determinados.
CAPÍTULO 5. MODTRAN 63
Sendo:
γ [km−1 ] o coeficiente de extinção,
z [km] a altitude,
CAPÍTULO 5. MODTRAN 65
FIGURA 6.1 – Absorção pelo vapor de água. Simulação realizada com o MODTRAN
para o modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os
limites da banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.
FIGURA 6.2 – Absorção pelo dióxido de carbono. Simulação realizada com o MODTRAN
para concentração de 405 ppm em condições de temperatura e pressão determinados pelo
modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os limites da
banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 69
FIGURA 6.3 – Absorção pela amônia. Simulação realizada com o MODTRAN para
concentração de 600 µg/m3 em condições de temperatura e pressão determinados pelo
modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os limites da
banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.
FIGURA 6.4 – Absorção pelo monóxido de carbono. Simulação realizada com o MOD-
TRAN para concentração de 1 ppm em condições de temperatura e pressão determinados
pelo modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os limites
da banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.
e 4,9 µm, que está contida na banda MWIR. Considera-se, portanto, que o impacto do
monóxido de carbono pode ser significativo e que esse gás deve ser considerado.
Foi adotada uma concentração de 200 ppb para o ozônio. Como resultado da simulação
é observada somente uma fraca banda de absorção em 4,7 µm, com intensidade inferior a
0,8%. Considera-se, portanto, que a concentração de ozônio não é um fator significativo
para as medições realizadas.
Para o óxido nitroso, foi admitida a concentração de 330 ppb. O resultado da simu-
lação é apresentado na Figura 6.5. Observa-se uma banda de absorção em torno de 4,5
µm, próxima à banda do dióxido de carbono, mas não sobreposta a ela. A absorção é
significativa e, portanto, o óxido nitroso deve ser considerado.
Para o metano, foi admitida a concentração de 1,85 ppm. O resultado da simulação
é apresentado na Figura 6.6. Existe uma banda de absorção significativa em 3,3 µm da
qual se conclui que o metano deve ser considerado.
Em resumo, foram considerados potencialmente relevantes as concentrações de vapor
de água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e monóxido de carbono, além das
medidas de pressão e temperatura.
A pressão, a temperatura e a umidade locais no momento dos testes foram obtidas com
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 71
FIGURA 6.5 – Absorção pelo óxido nitroso. Simulação realizada com o MODTRAN
para concentração de 330 ppb em condições de temperatura e pressão determinados pelo
modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os limites da
banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.
FIGURA 6.6 – Absorção pelo metano. Simulação realizada com o MODTRAN para
concentração de 1,85 ppm em condições de temperatura e pressão determinados pelo
modelo de atmosfera tropical ao nı́vel do mar. O tracejado vermelho indica os limites da
banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 72
FIGURA 6.7 – Diferença da transmitância espectral pela atmosfera tropical para a trans-
mitância espectral obtida em um momento da campanha. A curva foi obtida pela subtra-
ção desta pela transmitância resultante do modelo tropical. O tracejado vermelho indica
os limites da banda SWIR e o pontilhado preto indica os limites da banda MWIR.
FIGURA 6.8 – Suavização da curva apresentada na Figura 6.7. Obtida pela média de
cada linha com 10 linhas vizinhas à esquerda e 10 vizinhos à direita, espaçadas de 1 cm−1 .
CAPÍTULO 6. APLICAÇÃO 74
efeito da transmitância atmosférica será modificado. Dito isso, a fim de ilustrar o impacto
sobre a banda MWIR e a banda SWIR como um todo, é realizada uma integração em
cada uma dessas bandas, considerando uma densidade espectral de energia homogênea
com relação ao comprimento de onda a fim de determinar uma “diferença média” entre
as transmitâncias para as bandas de interesse. Esse valor médio é calculado conforme a
Equação 6.1. Z
1
∆τ = ∆τ (λ)dλ (6.1)
∆λ ∆λ
Sendo:
∆τ (λ) a diferença entre as transmitâncias espectrais obtidas para o modelo tropical do
MODTRAN e para a atmosfera proposta,
∆τ a “diferença média” entre as transmitâncias e
∆λ o intervalo espectral em questão, 2, 5−1, 5 = 1 µm, para a banda SWIR e 5, 5−3 = 2, 5
µm para a banda MWIR,
Como resultado da integração sobre a banda SWIR, a diferença média entre as trans-
mitâncias é 0,78%. Isto é, um sinal com densidade espectral de energia homogênea com
relação ao comprimento de onda na banda SWIR sofreria uma atenuação 0,78 ponto per-
centual menor ao se propagar pela atmosfera proposta em comparação com o modelo
tropical. Caso se considere o módulo da diferença, a fim de quantificar os desvios entre
os modelos de atmosfera, o resultado da integral na banda SWIR é 2,15%. Na banda
MWIR, a diferença média é 1,80%. Integrando o valor absoluto do erro na banda MWIR,
obtém-se 2,89%.
7 Conclusões
O estudo realizado não se estendeu à banda LWIR. Cabe ainda determinar quais gases
são relevantes nessa banda. Embora se tenha realizado uma revisão sobre a natureza dos
aerossóis, não foi determinada a forma mais adequada de se considerar a sua contribuição.
Para as simulações, a consideração do impacto dos aerossóis foi limitada ao ajuste da
visibilidade para o modelo de aerossol continental do MODTRAN. Cabe um estudo mais
aprofundado sobre os aerossóis.
Referências
SOLOMON, P. A.; SALMON, L. G.; FALL, T.; CASS, G. R. Spatial and temporal
distribution of atmospheric nitric acid and particulate nitrate concentrations in the los
angeles area. Environmental Science and Technology, American Chemical Society,
v. 26, n. 8, p. 1594–1601, 1992.
1. 2. 3. 4.
CLASSIFICAÇÃO/TIPO DATA DOCUMENTO N N DE PÁGINAS
TC 22 de novembro de 2018 DCTA/ITA/TC-113/2018 78
5.
TÍTULO E SUBTÍTULO:
Propagação atmosférica de radiação na faixa do infravermelho
6.
AUTOR(ES):
Rafael Kawagoe Favero
7.
INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGAO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES):
Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA
8.
PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:
Infravermelho; Atmosfera; Extinção atmosférica; Componentes atmosféricos.
9.
PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:
Infravermelho; Espectros eletromagnéticos; Atmosferas; Radiometria; Propagação; Sensores; Engenharia eletrô-
nica.
10.
APRESENTAÇÃO: (X) Nacional ( ) Internacional
ITA, São José dos Campos. Curso de Graduação em Engenharia Eletrônica. Orientador: Prof. Dr. Olympio
Lucchini Coutinho; coorientador: Prof. Dr. Francisco Sircilli Neto. Publicado em 2018.
11.
RESUMO:
O século XX testemunhou grande avanço em tecnologias que operam na faixa do infravermelho do espectro
eletromagnético. Muitas aplicações, dentre as quais pode-se destacar sistemas para comunicação, telemetria,
termometria e guiamento de mı́sseis, possuem a atmosfera terrestre como meio de propagação da radiação. A
atmosfera constitui, pois, fator determinante para o desempenho desses sistemas. Nesse contexto, o presente
trabalho visa estabelecer bases para a compreensão do impacto da atmosfera como meio de propagação para
a radiação na faixa do infravermelho. É realizada uma revisão da literatura sobre os conceitos fundamentais,
as caracterı́sticas da atmosfera e os principais fenômenos envolvidos, além de um breve estudo sobre software
empregado para a simulação desses impactos. O conteúdo apresentado é aplicado no contexto de uma campa-
nha de medições realizada no primeiro semestre de 2018 para determinar a assinatura infravermelha de uma
aeronave. A transmitância atmosférica então obtida é comparada com o resultado de um modelo de atmosfera
padrão. Considera-se que as diferenças obtidas justificam o emprego de esforços para acompanhar as condições
atmosféricas no momento das medições.
12.
GRAU DE SIGILO:
(X) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) SECRETO