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Novas Perspectivas para Forças de Paz da ONU:

o Relatório Brahimi e o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA.

E. E. Duarte*
GEE – COPPE/UFRJ
Seminário Internacional de Missões de Paz, Segurança e Defesa
Novembro 2002
eeduarte@juntos.com

Bless ‘em all, bless ‘em all,


The Commies, the U.N. and all: Those slant-eyed Chink soldiers
Struck Hagaru-ri and know now the meaning of U.S.M.C.
But we are saying goodbye to them all
We are Harry´s police force on call,
So put back your pack on,
The next stop is Saigon
Cheer up, my lads, bless ‘em all.
Canção Marine, Coréia, 1950.

I. Resumo analítico.

O artigo oferece uma nova abordagem para operações de paz das Nações Unidas através de novas
respostas e perspectivas ao Relatório Brahimi. Primeiro, o artigo incrementa o entendimento sobre operações
de paz desenvolvendo um arcabouço conceitual baseado na teoria da guerra de Clausewitz e no conceito da
expedicionariedade. Segundo, o artigo detalha os elementos que compõe a conduta de operações de paz. Por
fim, o artigo apresenta recomendações efetivas para o desenvolvimento de melhores operações de paz a
partir do arcabouço desenvolvido e de uma perspectiva do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.

*
Érico Esteves Duarte é mestrando em Estudos Estratégicos pela GEE/COPPE,
Universidade do Brasil - UFRJ. Orientado pelo Prf. Domício Proença Jr. Membro efetivo do Grupo
de Estudos Estratégicos (GEE). Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília.
Sua temática de pesquisa é operações expedicionárias.
Participou e organizou vários exercícios de simulação de organismos internacionais para a defesa, destacando a
participação da simulação do Comitê do Atlântico Norte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) da
Universidade de Harvard de 1998 e a organização da simulação do Comitê para Desarmamento e Segurança
Internacional do América’s Model United Nations organizado pela Universidade de Brasília de 1999 e de 2000.
São sugeridas o desenvolvimento de capacidades, que compreendem uma estrutura efetiva de comando e
controle, de projeto de forças de paz, suas expectativas táticas e uma doutrina adequada.

II. Abstract.

The paper gives a new approach to Peace-Keeping Operations (PKO) through new answers and
perspectives to the Brahimi Report. First, it improves the understanding of PKO by a model of conceptual
background based in the theory of war of Clausewitz and the concept of expeditionarity. Second, it details
the elements of the conduct of PKO following the perspective of US Marine Corps. The paper concludes that
the current revision has been not able to reverse the contextual and disjointed biases of the UN PKO.. At last,
the paper presents effective recommendations for the development of the necessary capacities for better
PKO, which comprises: a effective structure for command and control, the peace forces planning and their
tactical scenarios, and a sound doctrine.

Duarte, E.E. 2002 - Combate Além do Horizonte


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1. Introdução.
Os anos que seguiram o fim da Guerra Fria marcaram um novo e mais relevante papel das
operações de paz das Organizações das Nações Unidas (ONU) no sistema internacional, com um
aumento de missões em número e em complexidade. Como desdobramento, seguiu-se um debate
para adequação do sistema ONU de operações de paz para esse novo panorama internacional. O
produto mais relevante dessa revisão é o denominado Relatório Brahimi. Através de suas análises e
recomendações, encaminhou-se uma nova orientação, assim como novas perspectivas para a
condução de novas missões de paz.
O artigo busca desenvolver uma abordagem original para operações de paz da ONU, tendo
como ponto de partido a estrutura conceitual e aplicada oferecida pelo Relatório Brahimi. Para isso,
tem como base um quadro conceitual construído a partir da teoria da guerra de Clausewitz. Mais
especificamente, é um desenvolvimento do arcabouço conceitual desenvolvido por Proença Jr.
(2001) quanto a operações de paz e o arcabouço conceitual sobre operações expedicionárias
desenvolvido pelo próprio autor.
Seguindo essa linha de pensamento, o presente artigo marca posição de que operações de
paz possuem dinâmicas próprias em função de suas metas políticas e em função de seus meios de
emprego, que requerem o uso da força. Ou seja, operações de paz são uma forma de guerra. Uma
forma que se agrupa ao conjunto das denominadas operações expedicionárias. Dessa maneira, a
lógica das operações de paz em função da sua dimensão política é projetar presencialmente a
capacidade de uso da força para um ajuste político internacional. Esse ajuste será o determinado
segundo a vontade das Nações Unidas e executado por uma força de coalizão. Por outro lado, as
operações de paz, mediante às demandas e vínculos políticos a que estão submetidas, sofrem de
particularidades táticas e logísticas que conferem a lógica de seus meios de emprego.
Por isso, desde que o sistema de operações de paz da ONU é uma organização de força, isso
possui repercussões organizacionais fundamentais para a melhor eficácia e eficiência das novas
missões. Para análise desses aspectos, o arcabouço conceitual utilizado permite uma abordagem
alternativa desenvolvida a partir da experiência e da tradição existente em operações
expedicionárias, incluindo operações de paz, de uma organização de força eminentemente
expedicionária - o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos da América (US Marine Corps –
USMC).
Portanto, em resposta às considerações e propostas do Relatório Brahimi, o artigo busca
oferecer novas perspectivas para operações de paz da ONU. Primeiro através de um entendimento
conceitual do fenômeno mais sólido. Operações de paz da ONU podem ser melhor compreendidas a
partir da teoria da guerra como operações expedicionárias. Em segundo lugar, essa estrutura
conceitual possibilita a convergência da especificidade do sistema ONU a partir do Relatório
Brahimi em combinação com o melhor da prática em operações expedicionárias, a partir do Corpo
de Fuzileiros Navais dos EUA (USMC).
Em prosseguimento à introdução, o capítulo dois do artigo apresenta o desenvolvimento do
sistema ONU para operações de paz através do Relatório Brahimi: a Agenda para Paz como o seu
documento diretor antecedente; o próprio Relatório, suas recomendações e desdobramentos; e
encerra efetuando uma avaliação geral. O capítulo três desenvolve um quadro conceitual para
operações de paz a partir da teoria da guerra de Clausewitz. O capítulo quatro apresenta o USMC e
seus componentes basilares: sua orientação conceitual o Expeditionary Maneuver Warfare (EMW -
Estilo de Conduta de Guerra Expedicionária de Manobras); sua orientação doutrinária – o
Operational Maneuver From the Sea (OMFS – Manobras Operacionais a partir do Mar); e sua
orientação de projeto de força – o Marine-Air-Ground-Task-Force (MAGTF - Força-Tarefa
Aeroterrestre do USMC). Seguindo ainda uma abordagem do Relatório Brahimi segundo
perspectiva dessas orientações. Os capítulos cinco e seis avaliam a abordagem de operações de paz
pelo sistema USMC. O capítulo sete efetua as recomendações finais do artigo.
Segue adiante a colocação da problemática do artigo: a trajetória das operações de paz da
ONU através do Relatório Brahimi.

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2. O Relatório Brahimi.
Este capítulo apresenta a evolução do sistema ONU em torno do Relatório Brahimi. Em
seguida, ele descreve o conteúdo de suas recomendações, sua recepção pela ONU e também avalia
os seus principais efeitos.
Nos últimos dez anos, as operações de paz evoluíram da simples interposição de forças
internacionais entre beligerantes aquiescentes para um efetivo instrumento de construção da paz,
tendo lugar em cenários de conflitos ainda ativos e intra-estatais. Essa transição está sendo marcada
por uma série de reflexões, debates e revisões que tiveram inicio pelo documento Agenda para Paz.

2.1. Antecedentes: a Agenda para a Paz.1


O fim da Guerra Fria marca uma nova fase para as operações de paz. Existe a multiplicação
de missões e novos aspectos introduzidos no cenário internacional pelos conflitos intra-estatais.
Essa miríade de eventos leva ao Conselho de Segurança encaminhar um pedido por análises e
recomendações ao Secretário-Geral com a perspectiva de fortalecer e tornar mais eficiente a
estrutura da ONU para a paz e segurança internacionais.
O documento Agenda para Paz tem como conteúdo o estabelecimento de três dimensões das
novas operações de segunda geração. A condução de partes conflitantes a um entendimento formal
através de meios pacíficos resume a finalidade do peacemaking (pacificação), atividade incumbida
ao Department of Political Affaris (Departamento para Assuntos Políticos - DPA). O deslocamento
de pessoal das Nações Unidas à área em tensão e a promoção do armistício sob consentimento das
partes é a atividade do peace-keeping (manutenção da paz), a fim de criar um maior
comprometimento das partes com o processo de paz e assegurar que as outras atividades sejam
executadas. A multidimensionalidade do peace-keeping (manutenção da paz) trouxe a necessidade
de criação do Department of Peace-keeping Operations (Departamento de Operações de
Manutenção da Paz – DPKO). A terceira principal atividade apresentada pelo documento Agenda
para Paz visa identificar e apoiar às estruturas que possam solidificar a paz e evitar a reincidência
do conflito. O peace-building (construção da paz) não foi vinculado a qualquer órgão. Uma última
dimensão das operações de paz descritas pelo documento determina a possibilidade de uso da força
para que as partes voltem ao cessar fogo ou respeitem as deliberações do Conselho de Segurança. O
peace enforcement (imposição da paz) é previsto pelo artigo 40 da Carta e é conduzido através de
forças de paz constituídas de tropas cedidas pelos países-membros.

1 Ver Gali, Boutros-Boutros (1992) Agenda for Peace: Preventive Diplomacy, Peacemaking, and Peace-keeping. New
York: UNHQ.
O Agenda para Paz, entretanto, ofereceu uma orientação insuficiente para incremento
sensível das missões de paz em andamento, principalmente quanto à articulação das atividades de
peace-building (construção da paz). A partir de 1995, a Secretaria-Geral iniciou uma segunda fase
de revisão, a partir dos desdobramentos do documento Agenda para Paz.

2.2. A Ruptura do Relatório Brahimi.


O Secretário-Geral Kofi Annan requisitou a um painel de especialistas a missão de efetuar
uma revisão abrangente do sistema ONU de operações de paz. O Painel "Brahimi" foi composto
por: Brian Atwood, Embaixador Colin Granderson, Dame Ann Hercus, Richard Monk, General
(ret.) Klaus Naumann, Hisako Shimura, Embaixador Vladimir Shustov, General Philip Sibanda e
Dr. Cornelio Sommaruga. As atividades do painel basearam-se em consultas junto aos países-
membros, entrevistas com funcionários da ONU, pesquisas de experiências passadas e uma série de
debates. Por fim, o painel identificou a complexidade das operações de segunda geração e
encaminhou as revisões necessárias para o melhor desempenho das operações de paz no futuro. O
título oficial do documento encaminhado é Comprehensive Review of the Whole Question of
Peacekeeping Operations in All Their Aspects, porém ficou marcado pelo nome do organizador do
painel, o ex-primeiro ministro argelino Lakhdar Brahimi.
A estrutura do Relatório é formada por capítulos gerais divididos em itens principais, sendo
cada qual finalizado com recomendações específicas. O recorte adotado aqui re-ordena os itens
tratados de uma forma mais orgânica. Inicia apresentando os aspectos políticos relacionados. Segue
agrupando os itens em aspectos constitutivos do sistema: estrutura de comando e controle,
expectativas táticas, doutrina e projeto de força. A descrição do Relatório Brahimi é encerrada com
os seus desdobramentos últimos.

2.3. Aspectos Políticos: Estreitamento com Países-Membros e Clareza de Mandatos.2


Uma das criticas mais veementes do Relatório Brahimi ao sistema ONU de operações de paz
recai sobre o fato dos mandatos do Conselho de Segurança possuírem detalhamentos que os tornam
ambíguos. Os mandatos são combalidos ainda devido aos países-membros participantes de missões
reduzirem a capacidade das operações além do que recomenda o Secretário-Geral, com o objetivo
de diminuírem seus custos de contribuição. Por fim, o Relatório aponta que falta no sistema ONU
uma melhor interlocução entre o Conselho de Segurança e a situação em campo, para o desenho de
melhores mandatos e o maior entrosamento com os negociadores (peacemakers) das missões.

2 Brahimi, Lakhdar (org.).(2001). Comprehensive Review of the Whole Question of Peacekeeping Operations in All
Their Aspects. New York: Department of Peace Keeping Operations. pp. 10-11.

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O Relatório recomenda que a decisão pelo envio de operações de paz deve estar apoiada em
requerimentos mínimos de cessar fogo, respeito aos direitos humanos e execução de tarefas
específicas pelas partes.
Defende que as operações de paz precisam ser enviadas com mandatos claros através do
fortalecimento do relacionamento com os países-membros através de melhor coordenação e
consulta entre o Secretário-Geral e os países que compõem as missões. O Conselho de Segurança,
por sua vez, deve atender aos requerimentos da operação indicados pelo Secretário-Geral e deve
determinar a cadeia de comando e a unidade de esforço da missão de paz. Por fim, é importante que
o Secretário-Geral tenha pré-autorização para conduzir pesquisa preliminar em regiões em crise
para avaliação prévia à decisão da elaboração de um mandato.

2.4. Estrutura de Comando e Controle.


Uma estrutura de formulação de estratégias difusa3 teria sido um dos aspectos determinantes
para o insucesso das operações de segunda geração segundo o Relatório Brahimi. O mesmo pode
ser afirmado pela inexistência de um sistema de inteligência. Em segundo lugar, a capacidade de
comando das operações vinha sendo comprometida desde que o Headquarters/Department of
Peace-keeping Operations (Quartel-General/Departamento para Operações de Paz - HQ/DPKO),
centro de planejamento e manutenção operacional das operações de segunda geração, possuía um
regime departamental temporário.4 Uma terceira falta seria a não existência de uma capacidade de
planejamento integrado da análise política, operações militares, polícia civil, assistência a eleições,
direitos humanos, desenvolvimento econômico, assistência humanitária, refugiados, informação
pública, logística, finanças, recrutamento de pessoal, entre outros.5
O Relatório propõe a criação do Information and Strategic Analysis Secretariat (Secretaria
de Informação e Análise Estratégica - EISAS) junto ao principal órgão para operações de paz da
Secretaria-Geral, o Executive Committee for Peace and Security (Comitê Executivo para Paz e
Segurança – ECPS). O EISAS seria responsável por toda a atividade de inteligência e análise
estratégica prospectiva, assim como o principal órgão de assessoria do Secretário-Geral para
operações de paz.
Quanto ao HQ/DPKO, o relatório recomenda o incremento de sua estrutura organizacional e
procedimentos, sendo necessários mais recursos e pessoal. O DPKO seria ainda incrementado pela
criação da Divisão da Polícia Civil separada da Divisão de Assuntos Militares e pela maior

3 Brahimi, Lakhdar (org.).(2001). Comprehensive Review of the Whole Question of Peacekeeping Operations in All
Their Aspects.op.cit. pp. 12-13.
4 Brahimi, Lakhdar (org.).(2001). Comprehensive Review of the Whole Question of Peacekeeping Operations in All
Their Aspects. pp. 29-40.
5 Brahimi, Lakhdar (org.).(2001).Ibdem. pp. 33-34.

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autonomia da Divisão de Administração e Logística de Campo. A terceira falta quanto à estrutura
de comando seria revista pelo exercício do conceito Integrated Mission Task Force (Força Tarefa
Integrada para a Missão de Paz – IMTF). Cada missão de paz possuiria um grupo de especialistas
(staff) especificamente constituído pelo ECPS com componentes dos vários departamentos do
sistema ONU para operações paz que operaria conjuntamente com o comando imlitar da missão. O
IMTF proveria reuniões interdepartamentais observando a prevenção de conflitos, peacemaking
(pacificação), peace-keeping (manutenção da paz) prospectivo e deslocamento de peace-building
(construção da paz).

2.5. Expectativas Táticas.6


O Relatório estabelece a necessidade de revisão do conceito de imparcialidade dentro da
ONU. Imparcialidade significa aderência aos princípios da Carta das Nações Unidas e não
neutralidade ou que todas as partes de uma região em tensão mereçam tratamento igual todo o
tempo. As partes locais de um conflito não constam de iguais, existem agressores e vítimas. O
principal foco dessa crítica é impedir que se repitam episódios como o de Ruanda em 1998, quando
a missão sob mandato de ajuda humanitária não impediu um genocídio de milhares de pessoas.
Assim, as operações de paz devem possuir regras de engajamento7 robustas em campo para lidar
com situações inusitadas que exijam o uso da força para proteger não apenas os funcionários da
ONU que executam o mandato, mas também em salvaguarda a qualquer tipo de ameaça ao mandato
em si e a população civil.8

2.6. Doutrina.9
O Relatório Brahimi critica o critério da Secretaria-Geral de estabelecer os planos de ação
tomando a melhor perspectiva da situação, o que leva a forças sub-dimensionadas.10
O enfoque da Secretaria-Geral deve buscar sempre o pior cenário possível para uma missão.
Conseqüentemente, as forças de paz devem ser maiores, mais bem equipadas e com real capacidade
de dissuasão do que apenas forças simbólicas.

6
Expectativas táticas são os cenários de conflito que a força deve estar preparada em termos de doutrina e de projeto de
força para atendimento das metas determinadas pela liderança política.
7
Regra de engajamento é a ingerência política sobre as atividades táticas, delimitando e especificando o uso da força
nas operações. Por exemplo, uma situação terrorista com e sem reféns possuem regras de engajamento bastante
distintas.
8 Brahimi, Lakhdar (org.).(2001). Ibdem. p. 9.
9
Doutrina é a constituição de princípios e padrões que proporcionem um enfoque metodológico e linguagens comuns
de toda força. Permite que os soldados de uma mesma força em combate convirjam suas ações por compartilharem uma
mesma perspectiva da situação.
10 Brahimi, Lakhdar (org.).(2001). Ibdem. p. 10.

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2.7. Projeto de Força de Forças de Paz.11
O Relatório aponta a necessidade de um conceito de projeto de força para condução de
missões de paz flexíveis, rápidas e deslocáveis e capazes de realizar operações de segunda geração
como ponto central da revisão do sistema ONU.12
Sugere a capacidade operacional de deslocar operações tradicionais em trinta dias após a
aprovação de mandato pelo Conselho de Segurança e operações de segunda geração em noventa,
sendo que em ambos os casos o comando da operação de paz deve estar estabelecido em campo
dentro de quinze dias. Recomenda ainda que o sistema UNSAS13 seja constituído de unidades
integrais (brigada, por exemplo), possua requerimentos mínimos de treinamento e equipamento para
os países integrantes, forças niveladas e estabeleça um regime de prontidão14 organizacional para o
comando da operação através de kits logísticos pré-dispostos em Brundisi e um sistema de
convocação de oficiais militares e policiais a partir de listas de chamada com teto de deslocamento
para Brundisi de sete dias.

2.8. Medidas de Peace-building (Construção da Paz).


Medidas de construção da paz são fundamentais para o sucesso das operações, segundo o
Relatório. Por isso, essas medidas devem ser identificadas antes de sua incorporação à missão e,
quando aplicadas, devem fazer diferença nas vidas da população local. Como parte da fase de
peace-building (construção da paz), devem estar presentes nas missões especialistas em policia
civil, judiciário e eleições.15
Recomenda a criação de uma capacidade institucional permanente de peace-building
(construção da paz), tendo como referência da rede de trabalho o DPA (Departament of Political
Affairs - Departamento de Assuntos Políticos). O impacto de medidas de peace-buiding (construção
da paz) pode ser alcançado através da aplicação de parte do orçamento do primeiro ano da missão

11
Projeto de força é a adequação logística e organizacional da força em função de suas expectativas táticas e dos
recursos disponíveis.
12 Brahimi, Lakhdar (org.).(2001). Ibdem. pp. 14-28.
13 O United Nations Standby Arrangements System – UNSAS é a estrutura logística através do qual as operações de
paz são organizadas. Consta de listas de chamadas de tropas inscritas e material bélico depositado na base logística da
ONU em Brundisi na Itália.
14
O regime de prontidão é a gestão do ciclo de vida dos equipamentos e materiais e o fluxo de tropas e oficiais em uma
tábua de organização em função da urgência e do tamanho do contingente que se possa requerer para o emprego da
força. Prontidão tática é a disposição das tropas em condição de combate e prossegue até o fim da tarefa ou da
resistência das forças. Prontidão operacional é a dinâmica de disposição e preparação das unidades para entrar em ação
imediatamente à notificação, tendo todos os seus elementos constituintes adequados. O regime de prontidão operacional
não é um estado estático, depende de um ciclo de substituição. A prontidão estrutural constitui de uma gestão mais
complexa: é a disposição de tropas e equipamentos numa tábua de organização de pré-preparo que permita a rápida
fusão de tropas e equipamentos pré-dispostos em forças em prontidão operacional. Por último, existe a prontidão
mobilizacional que é a drenagem dos recursos nacionais em tropas e material bélico. Ver Proença Jr. e Diniz (1998)
Política de Defesa do Brasil. Brasília: Editora da UnB, pp.69-73.
15 Brahimi, Lakhdar (org.).(2001). Ibdem. pp.7-8.

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em medidas de efeito rápido. Por fim, determina que as operações de paz visem a reformulação das
instituições políticas para reforço do Estado de Direito.

2.9. A ONU Pós-Brahimi.16


O Relatório Brahimi gerou uma série de debates internos e revisões pela Secretaria-Geral e
em consulta com os países-membros através de um comitê especial para implementação das
recomendações.
Em dezembro de 2001, um ano após a recepção do Relatório Brahimi, o Secretário-Geral
produziu um documento relatando as reformas encaminhadas. As recomendações de aspectos
políticas, assim como as relacionados a expectativas táticas, tiveram pouco avanço, a não ser o
estabelecimento de consultas mais constantes entre o Secretário-Geral e o Conselho de Segurança
com os países que constituem a UNSAS. Em termos doutrinários, encomendou-se o Strategic
Manual for Multidimentional Peace-keeping Operations (Manual Estratégico para Operações de
Paz Multidimensionais). Todas as recomendações de caráter organizacional foram implementadas,
como: a criação do EISAS, da aplicação do conceito de IMTF, da re-estruturação e maior prioridade
ao HQ/DPKO e da criação da capacidade de peace-building (construção da paz) em torno do DPA.
O regime de prontidão operacional para o comando operacional está sendo implementado, porém a
extensão do regime para as forças de paz nos prazos indicados encontra-se em fase de consulta
junto aos países-membros. Por último, o sistema de treinamento para forças de paz da ONU está em
transição para o exercício de orientação tática e estratégica dos líderes de operações através do
acompanhamento dos centros nacionais de treinamento de operações de paz e tradução e
distribuição do material de ensino para as sete línguas oficiais da ONU.
As reformulações encaminhadas a partir das recomendações do Brahimi começam a ser
empregadas nas novas missões. A nova orientação para medidas de peace-building (construção da
paz) e o conceito de IMTF já foram aplicadas nas missões da ONU no Timor Leste (UNTAET) e na
República Democrática do Congo (UNOMDRC).17
Terminada a apresentação detalhada do Relatório Brahimi, colocaremos em seguida a nossa
análise geral do documento.

16 Ver Annan, Kofi (2000). Letter from Secretary-General to the President of the General Assembly and the President
of the Security Council. www.un.org/depst/dpko; Annan, Kofi (2001). Implementations of the recommendations of the
Special Committee on Peacekeeping Operations and the Panel on United Nations Peace Operations..
www.un.org/depst/dpko; e Annan, Kofi (2000). Report of Secretary-General on the Implementation of the Report of the
Panel on United Nations Peace Operations. www.un.org/depst/dpko.
17
Espera-se o desenvolvimento da missão de paz no Afeganistão para acompanhamento de novos aspectos adotados.

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2.10. Comentários sobre o Relatório Brahimi.
A estrutura expositiva e argumentativa do Relatório Brahimi não segue uma linha
conceitual. As recomendações efetuadas possuem pouca interação explícita entre elas, de forma que
não fica clara a revisão do sistema ONU como um todo, mas de aspectos pontuais. Em segundo
lugar, o Relatório Brahimi dá ênfase a criação de novos departamentos e desenho de novos
procedimentos do que a reformulação da estrutura já existente. Da mesma forma, os mecanismos de
interlocução intra-departamental são sobrepostos aos já existentes e mantém ainda indeterminado as
relações de hierarquia e a cooperação em atividades pré-estabelecidas. Não obstante, possuindo o
Relatório Brahimi a missão de realizar recomendações específicas (ao contrário de abrangentes) e
realísticas (ao contrário de conceituais)18, ele tem cumprido os seus fins auto-assumidos.
O Relatório Brahimi, ao nosso ver, possui problemas bastante contundentes. Basicamente,
eles podem ser agrupados em dois conjuntos. Um primeiro relacionado a sua estrutura conceitual e
o segundo relacionado a proposta de reformulação organizacional que ele trás.
A mais contundente critica que efetuamos ao Relatório Brahimi é sua determinação de que a
ONU não faz guerra.19 Dessa maneira, ele acompanha a definição original e oficial da ONU
estabelecido no documento Agenda para Paz: “Operações de Paz podem corretamente ser
denominadas como sendo uma invenção das Nações Unidas”.20 A principal conseqüência dessa
afirmação é a implicação de que o uso de força aplicado em operações de paz é distinto e diferente
de todos os outros existentes na história. Não concordamos com essa constatação e temos a
contribuição de Proença Jr. (2001) como conformativa da discussão.

Particularmente no que concerne a operações de paz, a distinção entre Paz e


Guerra é afetada por constrangimentos políticos e ainda de expedientes administrativos
bastante consideráveis. Assim, por definição política, operações de paz não são guerra,
não podem ser descritas como guerra, e devem sempre ser apreciadas em termos da
ênfase de suas diferenças em relação à guerra. Isso é politicamente conveniente apenas ao
passo que guerra é definida como um ato que é necessariamente unilateral (em oposição á
multilateral), levado por razões egoístas (em oposição a altruístas) ou agressivas (em
oposição a pacíficas), ou associadas à agendas políticas que são consideradas inaceitáveis
(em oposição àquelas que são aceitáveis, por exemplo, auto-defesa). Desse modo, é
politicamente bastante claro que operações de paz [...] deva ser algo diferente e outro do
que guerra.

Administrativamente, e em reflexo a procedimentos gerados politicamente, uma

18
Brahimi, Lakhdar (org.).(2001). Ibdem. p.viii.
19
Brahimi, Lakhdar (org.).(2001). Ibdem. p. 10.

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série de ocorrências que são inquestionavelmente guerras deve ser descrita como algo
diferente, por exemplo: emergências, incidentes de segurança, crises, ações de policia ou
operações outras que guerra com o objetivo de permitir efetiva e eficientemente que
qualquer situação seja propriamente entendida e assim permita que respostas, recursos e
responsabilidades específicos e acordados sejam executados. O caráter e contexto político
(e administrativo) de sua própria caracterização é tudo o que permite a operações de paz
possuírem uma denominação distinta como algo outro que paz e algo outro que guerra. O
fato que tais delimitações sejam estabelecidas, arbitrariamente nesse contexto, não as
fazem menos substantivas e relevantes. Porém, nós não devemos aceitar tão prontamente
essa política, nem nos habituar a ela, nem tampouco nos acostumar aos expedientes de
maneira a perder de vista qual é a essência das operações de paz. Pois, em fazendo isso,
estaremos perdendo nossa capacidade de tratar do fenômeno das operações de paz
propriamente dito.21

Em conseqüência ao tratamento de operações de paz como um fenômeno outro que guerra, o


sistema ONU de operações de paz possui uma estrutura outra de que organizações de força. Ou seja,
a estrutura departamental da ONU para formulação, condução e a avaliação de missões de paz
segue e, sendo tal entendimento perpetuado pelo Relatório Brahimi, continuará a seguir
descompassada.
Seguidas as reformulações após o Relatório Brahimi, a estrutura de comando e controle da
ONU para operações de paz passou a ter quatro instâncias sem coordenação prevista: EISAS,

20
“Peace-keeping can rightly be called the invention of the United Nations”
21 “
Particularly in what concerns Peace Keeping Operations, the distinction between Peace and War is
affected by very reasonable political and even expedient administrative constraints. So, by political
definition, peace operations are not war; cannot be described as war; and must always be approached in terms
that emphasize its differences from war. That is politically sound only to the extent that war is defined as an
act that is necessarily unilateral (as opposed to multilateral), guided by egotistical (as opposed to altruistic) or
aggressive (as opposed to peaceful) purposes, or associated with political agendas that are deemed
unacceptable (as opposed to those that are acceptable, i.e., self-defense). So, it is politically very clear that
Peace Operations, Peace Keeping Operations (PKO) in UN parlance, must be something else other than war.
Also administratively, and as a reflection of politically derived policies, a number of occurrences that are
undoubtedly wars must be described as something else, such as emergencies, security incidents, crisis, police
actions, or operations other than war in order to effectively and efficiently allow any given situation to be
properly recognized and so allow specific agreed-upon responses, resources and responsibilities can be
called into action. The political (and administrative) character and context of its own
characterization is all that lends of Peace Keeping Operations a distinctive denomination as
something other than peace and other than war. The fact that such boundaries are established, in
this context, arbitrarily, does not make them any less substantive or relevant. But we must neither
so deeply acknowledge policy, nor so inure ourselves to habit, nor yet so accustom ourselves to
expedients as to lose sight of what is essential in PKO. For to do so is to lose our capacity of
addressing the phenomenon of PKO itself.” Ver Proença Jr., Domício (2001). Some Standing
Theoretical Considerations on Peacekeeping Operation. Washington: III REDES – National
Defense University. pp. 4-5.

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HQ/DPKO, IMTF e os comandos operacionais das missões; sendo que as atividades de comando e
controle (a saber: comunicação, planejamento, inteligência, coordenação e avaliação das tarefas)
são distribuídas entre todas elas. Por fim, o Relatório propõe que a cadeia de comando e a
orientação para coordenação (ou unidade de esforço) sejam apontadas no mandato do Conselho de
Segurança para a missão.
A principal falha dessa proposta organizacional do Relatório Brahimi é que as atividades de
planejamento estratégico e de inteligência são desenvolvidas fora do DPKO que é o quartel-general
e responsável principal pela condução das operações de paz. Dessa maneira, ambas atividades são
desenvolvidas sem observância de aspectos táticos e logísticos específicos da missão a ser
conduzida. Por outro lado, a condução da missão de paz é distante das atribuições políticas que a
embasam. A única fonte para os limites e conteúdo político da ONU é o seu mandato. Sendo que o
mandato é um documento limitado, resultado de num único momento. O principal resultado
esperado é que os planos de execução dos mandatos da ONU são pouco flexíveis e que por isso
tendem a ter problemas. Primeiro porque se leva pouco em conta os aspectos objetivos da missão
(ambiente, ônus e procedimentos logísticos, perfil das tropas da força de paz, etc.). Em segundo
lugar, o comando operacional é pouco capaz de atualizar tal plano. Por um lado, ele não tem
conhecimento de todas as intenções por trás dos pontos que formam o planejamento da missão. Por
outro lado, sem um serviço de inteligência consistente, serão grandes as dificuldades em estimar o
ambiente da missão e avaliar a sua evolução.
Existem ainda dois outros pontos da análise do Relatório Brahimi que merecem ser
criticados nesse artigo. O Relatório Brahimi realça aspectos que nos inclinam para a necessidade de
re-estruturação, porém ele apenas sugere a expansão burocrática da ONU e mais recursos. A re-
estruturação necessariamente perpassaria pela reformulação do relacionamento do Secretário-Geral
e operações de paz com o Conselho de Segurança e países-membros; da relação entre o Secretário-
Geral e os países-membros em função da formação de um segundo grupo de membros com papel
destacado no sistema ONU fora os membros permanentes do Conselho de Segurança devido à
seleção de forças armadas nacionais para o UNSAS; por fim, um terceiro tipo de relacionamento
que não fica claro é qual o papel da Assembléia Geral e seus comitês especializados em toda a
revisão apontada pelo Relatório Brahimi. Esse último elemento é especialmente sensível diante dos
possíveis desdobramentos no sistema internacional em repercussão desse novo aparato de força e
crivo para seu uso que adquire a ONU mediante o que recomenda o Relatório Brahimi.
Em termos organizacionais, existe a necessidade de fusão e extinção de departamentos e
procedimentos. O planejamento, preparo e execução de operações de paz ainda são contextuais.
Como já foi apontado, existe uma série de interações extra o HQ/DPKO e o comando operacional

Duarte, E.E. 2002 - Combate Além do Horizonte


13
que não são estabelecidas. Aponta-se também a problemática da centralização das atividades de
comando junto à Secretaria-Geral através do EISAS e da incumbência do ECPS na constituição dos
IMTFs. Por último, uma revisão do sistema ONU não pode ser considerada efetiva sem a revisão de
sua estrutura orçamentária.
Defendemos que a abordagem de operações de paz requer um quadro conceitual. Apenas
dessa maneira, a revisão de sua estrutura e o incremento de suas atividades podem ser refletidas,
efetivamente planejadas, implementadas e avaliadas.

3. Operações de Paz pela Perspectiva da Teoria da Guerra.


A possibilidade de adequar operações de paz da ONU dentro do arcabouço clauwsetziano
permite um instrumental para análise desse fenômeno mais consistente. Por conseguinte, possibilita
novas perspectivas elaboração de propostas para reformulação. A partir daí, é possível oferecer um
quadro conceitual que atente para as dinâmicas que caracterizam as lógicas dos fins políticos e dos
meios bélicos das operações de paz. Da mesma maneira, possibilita a comparação das operações de
paz da ONU e suas forças de paz com outras operações expedicionárias militares conduzidas por
forças armadas expedicionárias.

3.1. O Objetivo de Toda a Guerra é a Paz.

Entendemos que operações de paz não são uma forma de uso da força distinta e diferente de
todas as outras. Discordamos, portanto, das conclusões efetuadas no Agenda para Paz e no
Relatório Brahimi. Operações de paz podem ser enquadradas dentro da teoria da guerra de
Clausewitz. Mais uma vez, temos Proença Jr. (2001) como definitivo.
Por um lado, forças de paz não são forças gratuitamente. Sua chegada, distinta de
qualquer outra (por exemplo, negociadores, diplomatas, ONGs e agências) implica na
possibilidade de uso da força. Também é irrelevante quais serão as regras específicas de
engajamento associadas às forças. Elas são organizadas e capazes ao combate, de novo,
sem atentar para quão efetivas elas devam ser, ou quais restrições devem ser aplicadas a
elas. Ao menos que se deseje admitir regras de engajamento de tal natureza que anulem a
existência de forças de paz, a chegada de forças de paz numa área específica é
inquestionavelmente um ato de força. Operações de paz são um ato de força contra
qualquer e todos outros aquele atos de força exercidos naquela área se não fosse pela
presença das forças de paz. (...) Mesmo observadores armados são um ato de força, e tal
observação não pode ser útil senão ajudar na intenção de compelir outros a comportarem-
se de formas particulares.

Duarte, E.E. 2002 - Combate Além do Horizonte


14
Por outro lado, (...) [e]las buscam conduzir a “vontade da ONU”, como
expressado pelo Conselho de Segurança. É irrelevante se tal vontade é consentida por
todos (e é concebível que operações de paz possam ser usadas para assegurar a
materialização desse consentimento), ou para a maioria, ou para muitos ou para poucos.
Também é irrelevante como se valoriza tal vontade, ou avalia seus objetivos. Não importa
que a identidade contra quem o ato de força das forças de paz enviadas é desconhecido (o
“inimigo”), ou que tal identidade possa variar com o passar do tempo ou dependendo das
circunstâncias, ou ainda que se eleja uma dada condição (por exemplo, “conflito
armado”) como o “inimigo”. Em cada momento e lugar, uma dada série de seres humanos
irão se comportar de maneiras indesejáveis e as operações de paz existem para compelí-
los para se comportarem de outra maneira. É teoricamente certo que métodos outros que
força serão utilizados., mas que forças torna-se uma possibilidade após a chegada de
forças de paz, isso é inegável.22
Sem embargo, operações de paz são uma forma de compelir a vontade de outrem,
tomando assim um significado conceitual segundo a teoria da guerra. Mais que isso,
operações de paz são uma forma específica de guerra que toma forma em condições
especificas. Essas particularidades permitem agrupa-las ao conjunto de atos bélicos
denominados operações expedicionárias. Assim, segue-se uma breve explanação do
conceito de operações expedicionárias.

3.1. Combate além do Horizonte.23


Uma operação expedicionária é aquela que demanda uma projeção de força presencial para
o ajuste político no estrangeiro requerido pela liderança política.

22
“On the one hand, Peace Forces (PF) are not forces gratuitously. Their arrival, as distinct from any other (e.g.
negotiators, diplomats, NGOs, agencies) implies the possibility to the use of force. It is altogether irrelevant what
specific rules of engagement (ROEs) will be attached to them. They are organized and capable of combat, again,
regardless of how effective they might, or what restriction one might wish to apply to them. Unless one is willing to
admit to ROEs of such a nature that they annul the existence of Peace Forces […}, the arrival of Peace Forces (PF) in a
given area is unequivocally an act of force. PKO are an act of force against any and all that would act with force in that
area if it were not for the presence of PF. […] Even armed observers are an act of force, and their observation cannot
help but have the intention of compelling others to behave in particular ways. (…) On the other hand, (...) [t]hey seek to
carry out the “UN’s will”, as expressed by the Security Council. It is irrelevant if such will is consented by all (and it is
conceivable that PKO could be used to ensure the materialization of that consent), or to most, or to many, or to few. It is
also irrelevant how one values such will, or assesses such goals. It does not matter that the identity against which the act
of force of sending peace forces is unknown (the “enemy”), or that such identity might vary over time or accounting to
circumstances, or even that one elects a given condition (e.g. “armed conflict”) as the “enemy”. At each moment and
place, a given set of real human beings will behave in undesirable ways, and PKO exist to compel them to do otherwise.
That methods other than force will be used is theoretically certain, but that force becomes a consideration after Peace
Forces arrive is undeniable.” Ver Proença Jr., Domício (2001). Some Standing Theoretical Considerations on
Peacekeeping Operation. Op.cit. pp. 13-14.
23
Para o quadro conceitual integral desenvolvido pelo autor para operações expedicionárias, ver Duarte, EE (2003).
Combate além do Horizonte: a Realidade Contemporânea das Operações Expedicionárias. Rio de Janeiro: GEE-
COPPE/UFRJ (dissertação de mestrado).

Duarte, E.E. 2002 - Combate Além do Horizonte


15
Guerra resume-se a uma forma de projeção de poder - a alteração do comportamento de
outrem independente ou ainda à revelia de sua vontade - através do uso da força – o
constrangimento físico ainda que resistível. Sendo, portanto, uma projeção de força.
A projeção de força, por sua vez, não prescinde de uma ação real. O constrangimento a
outrem de forma que o constranja a um comportamento satisfatório ao agente pode ser potencial -
possível mas não obrigatoriamente presente. Ou seja, a credulidade por outrem da capacidade
coercitiva do agente é suficiente para que aquele se renda a vontade deste último. Contrária a essa
última distinção é o entendimento de operação expedicionária. Ela é a forma de projeção de força
que requer obrigatoriamente a presença material do agente no espaço, entendido por ambos,
pertencente ao ente alvo da força exercida física e presencialmente.
Por outro lado, o objetivo político que move e sustenta uma operação expedicionária é
apenas alcançado através da conquista, do constrangimento continuado ou de ambos. A simples
dissuasão, a destruição de instalações ou do inimigo completo não são ações suficientes. Uma
operação expedicionária é aquela, cuja lógica política demanda a presença militar para o ajuste
político.
A instrumentalização política das operações expedicionárias repercute aspectos essências de
seu meio de emprego. O mais importante é que operações expedicionárias são invariavelmente
campanhas ofensivas. Mesmo quando buscam um objetivo negativo – ou seja, negar que seu
adversário possua ganhos sob uma terceira parte ou interposição – os aspectos essências de seus
meios serão mais condizentes como uma campanha ofensiva que defensiva. A conseqüência mais
importante é que operações expedicionárias sempre possuem desvantagens assimétricas qualitativas
em relação ao seu oponente, a não ser que este também seja uma segunda força expedicionária.
Suas desvantagens podem ser resumidas a um fator de deterioração mais elevado da unidade da
organização e ação das forças, de suas linhas de abastecimento, do seu poder combatente e, com
variações, de sua capacidade defensiva em relação às forças nativas. Sendo que essa deterioração
acentua-se com o decorrer do tempo.

3.2. Operações de Paz são Operações Expedicionárias.


Qualquer operação de paz da ONU é uma operação expedicionária, pois elas são um ato de
força que demandam a presença de forças de paz da ONU no território estrangeiro para execução de
seu mandato. Apenas a ameaça de uso da força ou a coerção sem presença efetiva não bastam, o ato
de projeção de força deve ser pleno e continuado até que se consiga a alteração de comportamento
do “inimigo” desejado.
Especialmente no caso das operações de segunda geração, o mandato do Conselho de
Segurança para uma determinada missão de paz sempre resulta em alteração do status quo local ou

Duarte, E.E. 2002 - Combate Além do Horizonte


16
regional, seja através do deslocamento de forças de paz, seja através da atuação de negociadores
(peacemakers) em prol de novos acordos entre as partes e através de medidas de peace-building
(construção da paz). Por isso, as operações de segunda geração, mediante aos seus fins, são sempre
operações expedicionárias com objetivos positivos.
A definição aqui utilizada de operações expedicionárias permite fazer uma distinção
importante entre operações de paz de primeira e segunda geração. As operações tradicionais
geralmente atuavam entre conflitos entre estado beligerantes buscando apenas a estabilização
regional através principalmente de observação militar e controle de áreas desmilitarizadas. Já as
operações de segunda geração são muito mais intrusivas desde que operam em conflitos intra-
estatais que aspiram quase sempre á secessão e desde que a implementação de medidas de peace-
building (construção da paz) são, por definição, parte importante das atividades das forças que
integram esse tipo de operação. Por isso, mediante os elementos políticos de cada tipo de operação
de paz da ONU, os elementos característicos de campanhas ofensivas tratados acima estarão mais
presentes em operação de paz de segunda geração.
Essas constatações são sensivelmente importantes para a concepção, planejamento,
implementação e avaliação das operações de paz. Tal entendimento oferece elementos para a
adequação da natureza do fenômeno das operação de paz às condições existentes e possíveis do
sistema ONU.

3.2. Conseqüências.
Operações de paz apresentam o mesmo elemento existente em qualquer operação bélica ao
longo da história, que é o uso da força ou sua ameaça como forma de constrangimento ao
comportamento de outrem à vontade do agente da força - guerra. Por isso, pode-se supor que certas
forças armadas nacionais possam não apenas contribuir para operações de paz através de tropas e
equipamento, mas oferecendo conhecimento experimentado e desenvolvido ao longo da história
militar. Pois, nesse ínterim, conduziram-se operações que não são essencialmente distintas das
conduzidas sob os auspícios das Nações Unidas.
Operações de paz são bélicas, por isso devem possuir estruturas militares, o que significa a
identificação e coligação de expectativas táticas, a elaboração e exercício de uma doutrina militar e
o desenvolvimento de um projeto de força. Sendo que todos esses matizes devem ser capazes de
atender às qualificações táticas e logísticas decorrentes de operações de paz serem operações
expedicionárias.
Por possuir operações de paz todos esses elementos que defendemos, é que nos
aprofundamos numa força armada nacional expedicionária com experiência e capacidade mais

Duarte, E.E. 2002 - Combate Além do Horizonte


17
extensa que a ONU para a compreensão mais clara da tarefa de forças de paz, assim como os
aspectos de sua conduta.

Duarte, E.E. 2002 - Combate Além do Horizonte


18
4. Abordando o Relatório Brahimi através do USMC.
O Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps – USMC) é uma força
expedicionária em prontidão constituída, treinada e equipada para responder à variedade de crises e
conflitos em qualquer lugar do mundo. O USMC é a principal e maior força expedicionária dos
24
EUA, tendo participado de mais de 1000 operações em seus 227 anos de história. Para o USMC,
operações de paz integram a lista de operações outras que guerra (do termo Military Operations
Than War – MOTTW) 25. Entre as forças armadas norte-americanas, MOTTW é historicamente uma
das principais tarefas dos USMC. Sua qualificação a esse tipo de operação é baseada ainda pelo
desenvolvimento de uma das principais doutrinas de guerras de baixa intensidade dos EUA, o Small
Wars Mannual (Manual de Guerras de Baixa Intensidade).26
Esse capítulo do artigo busca apresentar o USMC, seguindo as suas perspectivas dos
mesmos aspectos debatidos pelo Relatório Brahimi.

4.1. O Estilo USMC de Conduzir a Guerra.


Fundamental para o entendimento do USMC é posicionar como pensam e conduzem as suas
atividades de militares profissionais. Tal arcabouço é presente numa concepção original de
condução da guerra: o Expeditionary Maneuver Warfare (Guerra de Manobras Expedicionárias –
EMW).
Sua concepção de guerra tem como pressuposto que toda força armada interage com seu
inimigo através de um ciclo de observação-orientação-decisão-ação (OODA). Essa é uma interação
competitiva, de forma que a força armada que possui a capacidade de mover-se mais velozmente
em relação ao adversário dentro do ciclo OODA poderá explorar vantagens significativas no campo
de batalha ou optempo (operational tempo – ritmo operacional). Assim, para o USMC, a essência
das atividades militares é destruir a coesão sistêmica dos adversários através de ações rápidas,
concentradas e inesperadas que gerem optempo e, conseqüentemente, a deterioração progressiva do
inimigo até a incapacitação de sua resistência.27

24 Visco, Eugene (2000). “Peace Support: Introductory Remarks” in Woodcock, Alexander (ed.). Analysis for Peace
Operations. Toronto, The Lester B. Pearson Canadian International Peace-keeping Training Centre. p. 231.

25 O USMC lista como MOTTW: evacuação de não combatentes (NEO); assistência humanitária a vitimas de guerras e
desastres; peace-keeping tradicional (monitoração e implementação de acordos existentes); peace enforcement;
operações de contra-terrorismo, contra tráfico de drogas e de segurança; e treinamento de pessoal para missões
constabulares. Ver (1998) MCDP.3 – Expeditionary Operations. Quantico: HQ/USMC. pp. 110-111.
26 Uma falta importante de nosso estudo é uma análise do material doutrinário e tático de Ssmall Wars do USMC, que
certamente constará em versões futuras deste artigo.
27 Hayden , H. T. (1995). Warfigthing. London: Greenhill Books. p. 19.
Assim, o primeiro elemento importante para os sucessos tático e estratégico segundo o
USMC é a velocidade relativa superior ao inimigo em todas as atividades da força. Segundo, a
orientação pelo inimigo e oportunismo através da busca do seu centro de gravidade, ou seja, aquele
componente do seu sistema que sustenta todas as suas atividades militares. O centro de gravidade
não é necessariamente o ponto mais fraco da força inimiga, mas geralmente ele possui
vulnerabilidades críticas que são os pontos sobre os quais todo o esforço da força deve estar
focado.28
O USMC determina três requisitos para uma força operar dessa forma: estrutura
descentralizada; entendimento da guerra como um fenômeno caótico, fluído e complexo e
capacidade de operar e explorar tal ambiente; e limitação de padrões, fórmulas e regramentos que
permitam a rápida identificação do ciclo OODA dessa força pelo inimigo. As tropas assimilam e
exercitam essas características através da familiaridade e confiança mútua, do treinamento e da
educação para operarem através de três referências mentais.29
Primeiro, a orientação da força pela intenção do comandante. O líder sênior apenas
especifica claramente a missão tática e a intenção por trás dela, sendo que fica responsável ao líder
subordinado a elaboração da forma de execução da missão, assim como as adequações necessárias
no caso de volatilidade da situação.30
Segundo, a convergência de todo o poder combatente da força através da determinação pelo
comandante da unidade incumbida do curso de ação principal de toda a força. A partir daí, essa
unidade receberá prioridade no apoio de qualquer tipo (inteligência, logística e de armas
combinadas). O esforço principal da operação é mantido até o seu fim ou com o estabelecimento de
novo esforço principal.31
As unidades da força devem ser capazes de identificar as vulnerabilidades criticas do
inimigo através da técnica de superfícies e lacunas ou busca por pontos fortes e vulneráveis para
tomada de precauções antecipadas e criação e exploração de optempos. Essa é principalmente uma
atividade de julgamento do líder e faz parte da sua função contínua de planejamento e tomada de
decisão, inclusive tendo consciência que esses elementos são mutáveis.32

4.2. Antecedentes: a Evolução do Green Machine.


O USMC possui três fases de desenvolvimento que se mesclam durante o século XX.
Primeiro, a fase de força de intervenção colonial na América Latina e Pacífico (denominada como

28 (1997) MCDP. 1 – Warftghting. Quântico – USMC Headquarters. pp. 72-76.


29 Hayden , H. T. (1995). Warfigthing. op. cit. pp. 19-20.
30 (1997) MCDP. 1 – Warftghting. pp. 90-91.
31 (1997) MCDP. 1 – Warftghting. op. cit. pp. 87-88.
32 (1997) MCDP. 1 – Warftghting. pp. 92-93.

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20
fase do Banana Wars – Guerras das Bananas) até 1940, quando se desenvolve o Small Wars
Manual. A segunda fase tem como meta a concepção e a preparação do USMC para ser uma força
anfíbia e tem como resultado principal o documento Tentative Manual for Landing Operations
(Manual Tentativo para Operações de Desembarque). O ápice dessa fase é a campanha naval no
Pacífico na II Guerra Mundial.33
A terceira fase no século XX inicia-se após a Guerra do Vietnã, quando novas prioridades da
Guerra Fria são elaboradas e o USMC desenvolve uma capacidade de pronta resposta a
contingências dentro do conceito de Rapid Deployment Forces (Forças de Deslocamento Rápido –
RDF). É a partir da conjunção com essa última faze que há o desenvolvimento do projeto de força
MAGTF (Marine-Air-Ground-Task-Force - Força Tarefa Aeroterrestre dos Fuzileiros Navais).34
Na década de 1980, o USMC adota Clausewitz como entendimento teórico da guerra e
começa a introduzir o EMW como seu estilo de conduta da guerra. A convergência de todos esse
desdobramentos resulta na série Fleet Marine Forces Manual (FMFM – Manual das Forças da
Frota dos Fuzileiros Navais): Warfigthing (Guerrear - FMFM-1), Campaign (Campanha - FMFM-2)
e Tactics (Tática - FMFM-3). Pela primeira vez, os fuzileiros apresentam como pensam e conduzem
suas atividades.35 No pós-Guerra Fria, há a re-orientação doutrinaria e organizacional através do
Operational Maneuver From The Sea (OMFTS - Manobras Operacionais a partir do Mar).

4.3. O Operational Maneuver From The Sea.


Lançado em 1995, baseia-se na visão comum entre US Navy (USN) e USMC nos
documentos From the Sea (1992) e Forward...from the Sea (1994). Esses dois concebem que os
EUA devem redimensionar sua força naval de blue waters (águas azuis) para a capacidade de
influenciar as costas mundiais. Apontam ainda a convergência doutrinária e organizacional entre
USN e USMC, criando o conceito de Naval Expeditionary Forces (NEF – Forças Expedicionárias
Navais).
O objetivo do OMFTS é desenvolver três aspectos: os novos desafios do pós-Guerra Fria, as
oportunidades trazidas por novas tecnologias e os prospectos de adaptar o EMW para todos os
aspectos da guerra. Entendem que o panorama internacional do século XXI será marcado pelo “caos
nos litorais”, ou seja, a quebra da ordem estatal e o choque de miríades de forças de aspiração
nacionalista, religiosa e étnica. Em seguida, prevêem que os conflitos deste século estarão
concentrados em regiões costeiras, urbanizadas e bem povoadas.36O segundo aspecto vislumbra

33 Para evolução doutrinária, ver Hayden , H. T. (1995) Warfigthing. pp. 16-18. Para evolução histórica, ver Millet,
Allan (1980) Semper Fidelis. New York: Free Press (2a ed.,1990).
34 Millet, Allan (1980) Semper Fidelis. op.cit.. p.547, e pp. 609 e 618.
35
Hayden , H. T. (1995). Warfigthing. p.19.
36
Krulak, Charles (1995). Operational Maneuver From de Sea.. Washington: Secretary of Navy. pp. 1-3.

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21
inovações táticas através do incremento dos aparatos de artilharia, dos vetores para mobilidade
tática e da estrutura de comando e controle. O processo de experimentação, avaliação e integração
desses novos conceitos e recursos ao MAGTF tem sido denominado Sea Dragon (Dragão do
Mar).37
Por último, o OMFS marca a introdução, a partir de 1996, da nova e mais completa série
doutrinária do USMC: Marine Corps Doctrine Publications ( MCDP – Publicações Doutrinárias do
Corpo de Fuzileiros). Baseando-se nessa última série de documentos que prosseguiremos a
abordagem do Relatório Brahimi.

4.4. Aspectos Políticos.


O Relatório Brahimi cobra por mandatos mais claros, criticando o detalhamento e
ambigüidade das deliberações do Conselho de Segurança e as variações das participações dos
países-membros.
A postura do USMC é ser a força de contingência a serviço de qualquer dever que o
presidente possa encaminhar38, por isso estão sujeitas a alterações e problemas de interação entre a
liderança política e a militar. Para transpor essas dificuldades, os comandantes operacionais
possuem um canal direto com o secretário de defesa e o presidente, e não com o seu superior direto
ou o comandante do USMC.39
Por outro lado, o USMC entende que ações militares podem ser aplicadas em complemento
e em combinação com outros instrumentos políticos40. Por isso, em operações multinacionais ou sob
mandato único dos EUA, o USMC reconhece que os mandatos são variados e variáveis. Existe, em
resposta, uma cadeia de comando pré-estabelecida que reduz a ambigüidade dos mandatos,
sensibilizando a liderança política da necessidade ou não de assumir riscos e custos.

4.5. Quadro Conceitual.


O Relatório Brahimi afirma ser o uso da força por operações de paz de uma natureza distinta
e diferente das demais existentes em toda a história. Mesmo medidas de peace enforcement
(imposição da paz) não são denominadas como guerra, pois são operações autorizadas pela Carta
das Nações Unidas.
Já o USMC adota a teoria da guerra de Clausewitz. Aponta todo tipo de conflito como
guerra, incluindo hostilidades que envolvem apenas a ameaça do uso da força.41 Entendem ainda a

37
Krulak, Charles (1995). Operational Maneuver From de Sea. op.cit. p. 4.
38
Estes, Kenneth (1956) The Marine’s Officer Guide. Annapolis: Naval Institute Press (5a. edição, 1996) pp.50-51.
39
(1998) MCRP.5-12 – Organization of US Marine Corps. Quantico: USMC Headquartes. p .1.
40
(1998) MCDP.3 – Expeditionary Operations. op.cit. p. 102.
41
(1997) MCDP.1 – Warfihting. p.4.

Duarte, E.E. 2002 - Combate Além do Horizonte


22
guerra como instrumento político42 e observam as implicações táticas e logísticas de operações
expedicionárias.43 Por fim, o USMC desenvolveu e exerce um estilo próprio de conduta de suas
tarefas através do Expeditionary Maneuver Warfare (EMW – Guerra de Manobras
Expedicionárias).
O desenvolvimento e exercício de uma filosofia da guerra são necessários para o
entendimento da natureza da guerra, e assim permitir condições para o desenvolvimento de uma
doutrina e um projeto de força.44

4.6. Estrutura de Comando e Controle.


O Brahimi recomenda o planejamento estratégico e o serviço de inteligência sob encargo do
EISAS, órgão vinculado à Secretaria-Geral; a organização temporária de um IMTF responsável
pelo planejamento multidimensional e de peace-building (construção da paz); o HQ/DPKO como o
Quartel-Geral, sendo responsável pelo planejamento logístico e composição do comando das
operações. Sendo este último o quarto componente da estrutura.
Segundo o USMC, o comandando operacional responde apenas ao secretário de defesa e ao
presidente, sendo responsável por uma única atividade de planejamento em combinação com um
serviço próprio de inteligência. O HQ/USMC apenas tem a função de apoiar com novos
componentes logísticos quando solicitado. O perfil da estrutura de comando e controle do USMC é
descentralizado, o que significa a capacidade de atuação com o mínimo de medidas de controle a
partir do topo da hierarquia. A coordenação e controle das ações são majoritariamente tácitos em
toda a estrutura através das técnicas de referência mental e treinamento intenso e comum a todo o
corpo de fuzileiros para o exercício natural de uma doutrina.45
A estrutura de comando e controle é responsável pela convergência e harmonização de todas
as atividades em campo. Por isso, devem ser previstas as dinâmicas de adaptação ao cenário de
conflito (ciclo OODA), as medidas de controle e o relacionamento geral entre os componentes da
estrutura.46

4.7. Expectativas Táticas.


É recomendado pelo Brahimi regras de engajamento mais robustas, embora não liste ou
descreva as expectativas táticas e outras atividades de uma forças de paz ou das operações de paz
em geral.

42
(1997) MCDP.1 – Warfihting. p. 23.
43
(1997) MCDP.1 – Warfihting. pp. 33-36. Ver ainda (1998) MCDP.3 – Expeditionary Operations.
44
(1997) MCDP.1 – Warfihting. pp. 2-3.
45
Ver (1997) MCDP. 5 – Planning; (1996)e MCDP.6 - Command e (1998) MCRP. 5-12 – Organization of US Marine
Corps.

Duarte, E.E. 2002 - Combate Além do Horizonte


23
Em contrapartida, o USMC possui a previsão de suas expectativas táticas e outras atividades
reguladas desde a década de 1940 pelo Ato de Segurança Nacional e Ato de Política Externa. São
revistas regularmente pelos Functions Papers (Papéis Funcionais) que estabelecem o planejamento
integrado das forças47 e anualmente pelo secretário de defesa em relatórios para o presidente e
congresso da avaliação estratégica governamental48 e da disposição e emprego das forças armadas
norte-americanas. 49
O delineamento das expectativas táticas é uma atividade corrente das organizações de forças
que marcam o guiamento da doutrina e do projeto de força para cumprimento das missões
apontadas pela liderança política.

4.8. Doutrina.
O enfoque adotado para o planejamento e condução das operações de paz, segundo o
Relatório Brahimi, deve ser revisto, passando a tomar o pior cenário possível.
O USMC possui uma estrutura doutrinária bem mais sistematizada e ampla. Apresenta um
enfoque metodológico e a identificação de princípios e padrões comuns de todas as atividades da
força materializadas em nove manuais: Strategy (Estratégia - MCDP 1-1), Campaing (Campanha -
MCDP 1-2), Tactics (Tática - MCDP 1-3), Intelligence (Inteligência - MCDP 2), Expeditionary
Operations (Operações Expedicionárias - MCDP 3), Logistics (Logística - MCDP 4), Planning
(Planejamento - MCDP 5), Command (Comando - MCDP 6); sendo todos orientados e unificados
pelo manual conceitual MCDP 1 Warfighting (Guerrear).
O processo de desenvolvimento doutrinário é constante e deve ser amplo, abrangendo todas
as atividades de uma força, pois é através dele que as diferentes partes da organização usam a
mesma linguagem e possuem as mesmas perspectivas em relação aos diversos aspectos das diversas
tarefas.50

46
(1996) MCDP.6 – Command. Op.cit. p. 46.
47
È a composição ou atualização das forças tendo em vista as metas políticas e expectativas táticas através da
implementação de programas de modernização. Proença Jr. e Diniz (1998) Política de Defesa do Brasil. p. 128.
48
É a revisão do planejamento para a defesa “em acordo com as metas políticas, a realidade do cenário político interno,
do cenário político internacional, do estado de arte bélico e da dinâmica da história contemporânea”. Proença Jr. e Diniz
(1998) Política de Defesa do Brasil. p. 104.
49
As atuais expectativas táticas e atividades do USMC são: condução de campanha terrestre em combinação da US
Army; assalto anfíbio; incursão anfíbia; decepção através de objetivo limitado; reforço, assalto e inspeção marítima;
operações militares em terreno urbano com função constabular; operações de segurança; evacuação de civis ou militares
feridos (Non Combatent Evacuation - NEO); ajuda humanitária para vítimas de guerra e desastres; operações de
treinamento militar e apoio civil; demonstração de força; recuperação de aeronave e pessoal (Tactical Recovery of
Aircraft and Personnel (TRAP); operações de inteligência, contra-inteligência, reconhecimento e guerra eletrônica. Ver
Clancy, Tom (1996) Marine. New York: Berkley Books. pp. 240-245.e Estes, Kenneth (1956) The Marine’s Officer
Guide op.cit. pp. 49-57.
50
(1997) MCDP.1 – Warfihting. p.56.

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4.9. Projeto de Força.
O projeto de força sugerido pelo Brahimi é baseado no UNSAS, que dispõe de um sistema
de prontidão organizacional para o comando de campo em quinze dias. E aponta a necessidade de
preparação das força de forças de paz em trinta para operações tradicionais e noventa para
operações de segunda geração.
Operações expedicionárias de contingência exigem que todo o seu projeto de força seja
focado em capacidade de deslocamento e de sustentação. Segundo o MAGTF, o projeto de força do
USMC possui três elementos. Primeiro, toda a força é integrada de forma modular51 devido às
condições austeras e à variação de expectativas táticas. Segundo, o USMC é estruturado em função
de manter capacidade de deslocamento estratégico52 e tático53. Em terceiro lugar, possui um
sofisticado regime de prontidão: unidades de batalhão de fuzileiros em prontidão organizacional no
hemisfério ocidental e oriental e unidades de regimento e de divisão em sistema de prontidão
estrutural de quinze a trinta dias em qualquer parte do globo.
O MAGTF proporciona equilíbrio de armas combinadas com elementos terrestres, logísticos
e aéreos orgânicos e adequáveis em função da expectativa tática e com rápido alcance global.54

4.10. Peace-building (Construção da Paz).


O Relatório defende a criação de uma capacidade institucional permanente de peace-
building (construção da paz), a aplicação de parte do orçamento do primeiro ano da missão em
medidas de rápido efeito e que todas as atividades de peace-building proporcionem o reforço do
Estado de Direito.
Fazem parte das atividades previstas para o USMC operações de peace-building que fazem
parte do entendimento do USMC de Small Wars (Guerras de Baixa Intensidade). Por isso,
compreende o USMC aspecto muldidimensional das operações de paz mediante a orientação
doutrinária das publicações do Estado-Maior (Joint Publications), embora não possua um manual
específico.
O USMC está apto a conduzir e apoiar atividades de peace-building, pois está previamente
estipulado para a sua doutrina geral e seu projeto de força.

51
Flexibilidade de re-arranjo organizacional em meio as operações para uma disposição tática mais capaz e de serem
reforçadas por outras unidades maiores ou integradas a outras forças armadas.
52
Movimento da força entre o teatro de operações aliado para um inimigo através de vetores aéreos de longa distancia e
grupos anfíbios e avançados.
53
Movimento da força dentro de um teatro de operações através de helicópteros de grande capacidade de carga e
autonomia e pouca dependência em carros e blindados.
54
Ver (1998) MCRP.5-12 – Organization of US Marine Corps. op.cit..

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O USMC possui experiência e expertise suficientes para contribuir em diversos aspectos
identificados pelo Relatório Brahimi como críticos. Existe, porém, a necessidade da avaliar as
vantagens e limites dessa abordagem.

5. Comentários sobre a Abordagem.


O USMC e o Relatório Brahimi são duas trajetórias distintas: possuem tarefas da mesma
natureza expedicionária, entretanto recursos e capacidades diferentes. Essas convergências e
desproporções merecem comentários sobre a aplicação do enquadramento do USMC ao Relatório
Brahimi.
O USMC entende que operações de paz são guerra como qualquer outro conflito.
Caracterizam-nas como atividades influenciadas mais diretamente por considerações políticas que
restringem as regras de engajamentos. Requerem a cooperação com o governo local, outras nações,
agências não-militares e a população local. Apresentam menor evidência de operações de combate
convencional de larga escala e a necessidade de lidar com a mídia.55 Para a execução de operações
de paz, o USMC possui a previsão de expectativas táticas e outras atividades, assim como doutrina
e projeto de força adequados. Ao lado disso, operações de paz são previstas dentro do planejamento
integrado de forças.56
A partir disso, as vantagens da perspectiva USMC para operações de expedicionárias é que o
USMC observa todos os aspectos das operações de paz apontados pelo Relatório Brahimi. Porém,
apoiados numa experiência muito mais extensa, assim como em mais tempo e recursos para
investimento em pesquisa e desenvolvimento. Em segundo lugar, a perspectiva do USMC sobre
operações de expedicionárias baseia-se em um doutrina e um projeto de força coesos sob um quadro
conceitual, sendo todos desenvolvidos e avaliados em função da característica de operações
expedicionárias.
Por outro lado, o USMC é uma força armada nacional sob mandato de um Estado-nacional,
o que acarreta em implicações na dinâmica da ação militar em função da lógica política diferentes
de uma organização multilateral como a ONU. A primeira importante limitação do USMC como
modelo para operações de paz é o fato de que o quadro conceitual e a doutrina do USMC não são
consenso entre todas as forças que integram operações de paz. Assim, não seria inesperado o
encontro de resistências por parte de outras forças em aceitar a teoria da guerra clausewitziana. Da

55
(1998) MCDP.3 – Expeditionary Operations. op.cit. pp. 109-110.
56
Operações de paz são previstas e descritas no documento doutrinário superior das forças armadas americanas (1995)
Joint Publication 3-07 – Joint Doctrine for Military Operations than War . Washington: Joint Chiefs of Staff. Faz ainda
considerações de planejamento necessário para execução efetiva. Oferece elementos para outros manuais para táticas,
técnicas e procedimentos.

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mesma forma, elas possuem estilos de conduta da guerra, doutrinas e organizações próprias,
havendo, portanto, a necessidade de harmonização pela ONU.
Em segundo lugar, o USMC é uma força armada dos EUA, com recursos e capacidades
organizacionais e tecnológicas que não são reproduzíveis pela ONU. A abordagem pela ONU do
USMC deve manter o foco nos seus conceitos e experiência.
O USMC é uma única força armada com capacidade única de forças integradas. Ou seja, sua
organização combina organicamente elementos aéreos, navais, terrestres, logísticos e de forças
especiais sob um único comando. Certamente, em operações multinacionais da ONU, será possível
apenas uma integração mais limitada de doutrina e de projeto de forças.
O último ponto divergente importante é que o USMC conduz operações multidimensionais
sob uma perspectiva própria. Seu modo de operação multidimensional não foi desenvolvido sob
orientação dos princípios da ONU. Deve ser observado que medidas de peace-building (construção
da paz) possuem vários aspectos que estão fora da competência de forças armadas e não podem ser
entendidas e desempenhadas apenas segundo uma perspectiva USMC.
O USMC possui contribuições à ONU em termos conceituais, doutrinários, organizacionais
e táticos que precisam ser adaptados à estrutura multidimensional e multilateral da ONU. A síntese
das perspectivas do Relatório Brahimi e do USMC, assim como de outras forças expedicionárias,
pode gerar uma estrutura básica para operações de paz e requerimentos para países que queiram
integrar as suas forças nacionais a operações de paz, resultando num incremento substancial de suas
performances.

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6. Recomendações.
Com o fim da Guerra Fria, houve a emergência de um novo tipo de operações de paz.
Passaram a possuir múltiplas tarefas e múltiplos atores, resultando em maior complexidade
metodológica e organizacional. A resposta imediata foi o documento Agenda para Paz, sendo que o
Relatório Brahimi reviu seus desdobramentos. Uma nova estrutura e novas concepções para
operações de paz foram recomendadas e um importante aperfeiçoamento foi alcançado. Entretanto,
o Brahimi não foi capaz de alterar o caráter contextual e descompassado do sistema ONU de
operações de paz.
Entendemos que existem elementos da natureza e da lógica da conduta de operações de paz
que devem ser assimilados para a devida revisão do sistema ONU de operações de paz. Baseados no
quadro conceitual de operações expedicionárias e no conjunto de práticas do Corpo de Fuzileiros
Navais dos EUA, apresentamos nesse capítulo uma lista de recomendações.

6.1. O USMC e uma Nova Abordagem para Operações de Paz.


Operações de paz devem ser tomadas como atividades militares, não somente porque
requerem o uso da força, mas porque forças armadas (de paz) as executam. Os fins políticos das
missões demandam a combinação com outros tipos de organizações (diplomatas, especialistas civis,
polícia, etc.) que são, na verdade, outros instrumentos para o ajuste político no estrangeiro.
Operações de paz são expedicionárias e, conseqüentemente, possuem implicações táticas e
logísticas muito específicas. A compreensão e manipulação de todos esses aspectos de forma
harmoniosa demandam um quadro conceitual, doutrinas e projeto de força específico.
Guerras de baixa intensidade (Small War) fazem parte da configuração das operações de
segunda geração e possuem especificidades que determinam a natureza da tarefa e os métodos de
conduta, ou seja, de novo requerem a observação do quadro conceitual, doutrinas e projeto de força
de maneira adequada.

6.2. É Preciso Desenvolver um Quadro Conceitual.


Que possibilite o entendimento da natureza da tarefa. Pois, caso contrário, não existe
detalhamento das expectativas táticas e outras atividades das forças.
Sem um quadro conceitual não é possível desenvolver um projeto que unifique o sistema
ONU de operações de paz. Da mesma maneira, não existe referência para o desenvolvimento de
doutrina e projeto de forças.
É preciso o entendimento e a adaptação da teoria da guerra de Clausewitz para um quadro de
entendimento de operações de paz.
6.3. É Preciso Rever a Estrutura de Comando e Controle para Operações de Paz.
Que é o meio efetivo de coordenação e harmonização das ações em campo. A ONU
necessita de um Quartel-General unificado e eficaz.
O HQ/DPKO possui apenas um corpo militar consultivo e minimamente funcional. Além
disso, não possui capacidade efetiva de planejamento, inteligência e coordenação de forças de paz.
É preciso que se desenvolva uma cadeia de comando entre os departamentos do sistema
ONU de operações de paz, sendo que essa não é uma obrigação do Conselho de Segurança. Em
segundo lugar, é preciso que a estrutura de comando e controle seja completa abaixo da Secretaria-
Geral para permitir uma menor quantidade de canais aos comandos operacionais das missões. Nessa
perspectiva, o HQ/DPKO poderia ser concebido e constituído como um real departamento ou
ministério de defesa adequado aos princípios da Carta. Terceiro, é preciso o desenvolvimento de um
espírito de corpo entre o pessoal do comando operacional, do HQ/DPKO e dos suboficiais
instrutores de forças nacionais designadas ao UNSAS, ou seja das tropas que formam as forças de
paz, através de uma mesma especialização em termos de operações de paz.

6.4. É Preciso Identificar e Coligir Expectativas Táticas.


Que é a única forma de desenvolver regras de engajamento adequadas e forças de paz
robustas e capazes. A atividade militar é comprometida senão previstas as expectativas táticas e
outras atividades de campo das forças de paz.
As recomendações de re-avaliação de regras de engajamentos, peace-building e as
relacionadas ao desenvolvimento de um projeto de força não podem ser plenamente planejadas e
exeqüíveis se os cenários de conflito e outros tipos de ação das forças de paz não estiverem
estabelecidos. Também não se torna possível desenvolver e exercitar uma doutrina.
É preciso que a ONU identifique as expectativas táticas e outras atividades de outras forças
expedicionárias, além do USMC, que integram forças de paz e as coligue através da avaliação de
um corpo de especialistas da ONU.

6.5. É Preciso Desenvolver e Exercitar uma Doutrina.


Que é o compartilhamento de perspectivas no ambiente estratégico e tático. Sem doutrina
não há coesão e unidade de esforço e a organização mantém-se contextual e descompassada.
Doutrina é o que pode proporcionar um enfoque metodológico ao complexo sistema ONU
de operações de paz e às operações multinacionais.
É preciso que através de um quadro conceitual e estudo e síntese de doutrinas de forças
expedicionárias, desenvolva-se um manual doutrinário geral de operações de paz, um especifico de
operações tradicionais e outro de operações de segunda geração. Da mesma maneira, é preciso a
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elaboração de manuais doutrinários e de campo para peacemaking, peace-building e peace
enforcement.

6.6. É Preciso Desenvolver o Projeto de Forças de Paz.


Que é o desenho, construção, manutenção, avaliação e atualização das forças em função das
metas políticas, permitindo a maximização dos recursos limitados para a execução das tarefas. Sem
projeto de força, não há adequação efetiva e eficiente das forças para a sua conduta, seja qual for a
missão designada.
Um projeto de força de forças de paz da ONU é o que permitirá que as diversas forças
nacionais que compõem as missões sejam niveladas em termos organizacionais e possam cooperar
seus aparatos militares.
É preciso que a ONU pondere sobre as implicações táticas e logísticas de operações
expedicionárias mediante o estudo e sintetize das experiências de operação e dos conceitos de
projeto de forças expedicionárias como o USMC.

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7. Conclusão.
O artigo apresentou um enquadramento geral das novas perspectivas em prol do incremento
das operações de paz da ONU e analisou os seus principais aspectos, oferecendo, por fim, uma nova
forma de abordagem do tema.
O Relatório Brahimi tem valor pela auto-avaliação que impõe ao sistema ONU. Pelo
apontamento de reestruturações sensíveis, que deram inicio a um processo de reflexão, pesquisa e
revisão das operações de paz.
Em continuidade, as forças armadas expedicionárias dos países-membros, como o Corpo de
Fuzileiros Navais dos EUA, podem dar maior contribuição através de experiência e expertise. Por
outro lado, a ONU deve estar aberta a debater e a aceitar essas novas perspectivas.
O conteúdo multilateral e imparcial das operações de paz em combinação a contribuições
em termos de conceitos maduros e experiências vivenciadas das forças armadas e seus especialistas
podem contemplar a ONU no cumprimento de sua missão de proteger as gerações futuras dos
espólios da guerra.
8. Anexo I: Referências Citadas.
Annan, Kofi (2000). Letter from Secretary-General to the President of the General
Assembly and the President of the Security Council. www.un.org/depst/dpko.
Annan, Kofi (2000). Report of Secretary-General on the Implementation of the Report of the
Panel on United Nations Peace Operations. www.un.org/depst/dpko.
Annan, Kofi (2001). Implementations of the Recommendations of the Special Committee on
Peacekeeping Operations and the Panel on United Nations Peace
Operations.www.un.org/depst/dpko.
Brahimi, Lakhdar (org.).(2001). Comprehensive Review of the Whole Question of
Peacekeeping Operations in All Their Aspects. New York: Departament of Peace-Keeping
Operations. www.un.org/depst/dpko.
Clancy, Tom (1996) Marine. New York: Berkley Books.
Clauswitz, Carl von (1832/1987). On war. Princeton: Everyma’s.
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Duarte, E.E.(2001) Da Expedicionariedade. Rio de Janeiro: GEE/COPPE – estudo interno.
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edição, 1996).
Gali, Boutros-Boutros (1992) Agenda for Peace: Preventive Diplomacy, Peacemaking, and
Peace-keeping. New York: UNHQ.
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United States Marine Corps (1997) MCDP.1 – Warftghting. Quantico – USMC
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United States Marine Corps (1997) MCDP. 2 –Intelligence. Quantico: USMC Headquarters.
United States Marine Corps (1997) MCDP.5 – Planning. Quantico: USMC Headquarters.
United States Marine Corps (1998) MCDP.3 – Expeditionary Operations. Quantico: USMC
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Quantico: USMC Headquarters.
Visco, Eugene (2000). “Peace Support: Introductory Remarks” in Woodcock, Alexander
(ed.). Analysis for Peace Operations. Toronto: The Lester B. Pearson Canadian International
Peacekeeping Training Centre.

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