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ções anteriores, Xavier reconhece os elementos o poder, o erotismo e a sedução, na esfera pública e
melodramáticos de tal dramaturgia e a forma com na vida privada”.
que o cinema se apoderou desse repertório de cri-
ses, que não permite retorno aos padrões nem dá
espaço para reconciliações, consoante revela o críti- Ruy Coelho, Tempo de Clima. São Paulo, Pers-
co nas leituras que realiza, entre outras, dos filmes pectiva, 2002, 142 pp.
Boca de ouro (1962), de Nelson Pereira dos Santos, e
A falecida (1964), de Leon Hirszman, que procura- Fernando Antonio Pinheiro Filho
ram solucionar tensões entre a necessidade de cons- Doutor em sociologia pela USP, professor
trução realista e os textos de que partiram. Com a da USP e da FESPSP
intenção de fazer um balanço dessa produção cine-
matográfica, a análise reconhece que o momento Primeira navegação
mais produtivo desse conjunto de adaptações se deu A reunião dos escritos publicados por Ruy Coelho
quando houve uma clara intenção, na escolha de na revista Clima entre 1941 e 1944, ora editados em
tom e gênero, de, por meio dos filmes, radiografar o livro, dá ensejo não só à apreciação direta de seus
Brasil e produzir um extrato de diagnósticos que achados e eventuais deslizes na atividade crítica, como
revelam, principalmente nas obras adaptadas por permite também, de um viés mais sociológico, acom-
Arnaldo Jabor, as contradições do processo de mo- panhar o valor expressivo dos textos como marcos
dernização, com ares tragicômicos e alegóricos. dos posicionamentos do autor no interior do grupo
Na verdade, reconhecer o lugar que ocupa o es- de redatores da revista, desse grupo no campo da
pectador em relação à cena que se disponibiliza é, crítica de arte que pretendia reconfigurar e da in-
de certa forma, dentro de uma perspectiva históri- fluência de tal episódio no direcionamento das car-
co-social e estética, entender a natureza específica reiras intelectuais dos envolvidos. Nos limites desta
da experiência audiovisual como interface espaço- resenha, pretende-se alinhavar os últimos aspectos
temporal, em que se entrechocam o tempo das nar- mencionados, buscando atribuir à obra de estréia
rativas, a linguagem de imagens visuais e o sujeito seu peso específico no desenrolar da trajetória do
projetado nesse jogo, que não é apenas o sujeito do autor.
discurso fílmico, recurso interno do texto como re- Na divisão do trabalho intelectual entre o gru-
lação de enunciação. É, também, corpo social e his- po de jovens alunos da Faculdade de Filosofia da
toricamente em processo. Como afirma o próprio USP que funda a revista em 1941, Ruy Coelho é
crítico: “Para existir em sociedade, em especial no aquele que não tem uma função específica: para fi-
império do marketing e da competição, precisamos car no núcleo central, lembremos que Antonio Can-
criar a cena, estar disponíveis diante de um olhar dido trata de literatura, Paulo Emílio Salles Gomes
que nos toma como objeto, nos oferecer como es- de cinema, Décio de Almeida Prado de teatro; a Ruy,
petáculo, cumprindo os protocolos de sua geome- o mais jovem, coube o papel do curinga (conforme
tria e de seu desempenho. Há variadas formas dessa a expressão assumida pelo próprio) que, além desses
geometria e de seus componentes, lugares específi- temas, cuida ainda de erigir uma teoria da crítica,
cos de manifestação que se mesclam ao mundo prá- ligada em sua visão à filosofia e à estética, e via de
tico e se expandem sem fronteiras claras no dia-a- regra articulada com a análise substantiva das obras.
dia, no núcleo familiar, nos confrontos em socieda- É talvez essa ausência de uma determinação mais
de, em tudo que a crítica cultural já observou sobre específica, correlata à busca de um caminho pessoal,

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que dá a ver como se faz o entranhamento da socia- juízo. Quanto ao primeiro, a sugestão é não mais de
bilidade vivida no texto. acúmulo, mas de ausência de subjetividade que dis-
Sob esse aspecto, o longo ensaio sobre a obra de solveria a obra ao reduzi-la à configuração social de
Proust que abre o volume (publicado no primeiro origem. A solução, segundo o autor inspirada em
número de Clima, em maio de 1941) interessa so- Hegel (que, de resto, é a referência teórica mais pre-
bretudo pelas escolhas de filiação que ora revela, ora sente no livro) e em Sartre, consiste em encontrar o
deixa entrever. Precisamente, refiro-me aqui à recu- ponto de vista do autor para, pondo-se assim na obra,
sa do pensamento de Bergson como baliza de com- apreender seu movimento imanente e revelar sua
preensão do romance proustiano, contra a vertente essência – como a revelação da essência é tradicio-
que vê na recriação do real pelo pensamento como nalmente tarefa da filosofia, o novo método, que há
condição de sua realidade, sugerida no Em busca do de superar todos os outros, é batizado de crítica filo-
tempo perdido, a realização literária da identificação sófica. Claramente, tal construção teórica correspon-
entre realidade da consciência e experiência da du- de à necessidade de fundação de um novo lugar no
ração preconizada pelo filósofo. Na análise de Coe- campo intelectual, eqüidistante da cultura artístico-
lho, tal visão é preterida em favor do racionalismo literária dos criadores e da cultura científica da
dos discípulos de Kant,cuja concepção de conheci- objetivação plena da obra; entre a herança crítica
mento estaria mais próxima de Proust.Vale assinalar modernista e os limites do rigor acadêmico. Nesse
que tal corrente, conhecida como neo-criticismo sentido, o artigo de Ruy Coelho procura contribuir
francês, serve de base filosófica à sociologia de Dur- para realizar o que enuncia, consolidando o projeto
kheim, que não por acaso argumenta sobre a natu- coletivo de que se fez porta-voz.
reza social do tempo e vê na crítica à orientação es- A polivalência de Coelho (ao longo dos artigos
pacializante da inteligência que impediria a apreen- o leitor encontra ainda textos sobre música, cine-
são do real como duração uma clara deriva de Bergson ma, política) funciona então no registro da não-
em direção ao irracionalismo. Ou seja, nesse movi- especialização adequada às formulações mais abran-
mento, o jovem aluno de ciências sociais acena si- gentes, que no nível expressivo resolve-se no ma-
lenciosamente para a escola francesa de sociologia e nejo de um efeito de erudição obtido por meio de
reivindica sua adesão a um racionalismo que pon- recursos como o controle de uma linguagem esté-
tua todos os textos do livro, e que para além da es- tica inespecífica mas dúctil. Por exemplo, neste trecho
colha teórica sanciona a adoção de um tom elevado que se refere a um romance: “A palheta do autor
no estilo como marca de competência, mas retendo acha-se singularmente enriquecida nesta obra. Aban-
a ambigüidade de filiação disciplinar na ausência de donou o claro-escuro em que era mestre. Seu es-
menção e de uso do aparato sociológico de crítica. tilo se coloriu de várias cambiantes novas pela ne-
Procedimento semelhante é usado no artigo de cessidade de descrição do mundo exterior em seus
junho de 1942 (número10 de Clima), “Introdução aspectos pitorescos” (p. 56). Ou ainda no comen-
ao método crítico”, plataforma de trabalho ancora- tário sobre a relação entre música e pintura no
da na dupla recusa dos estilos científico e impressio- filme Fantasia de Disney.
nista de crítica. Ao último, assimilado imediatamen- A consideração da música brasileira revela outro
te à produção da geração modernista (cujo nome mecanismo tendendo ao mesmo efeito, que consiste
emblemático é o de Mário de Andrade, citado como em desqualificar esteticamente a tradição popular,
exemplo), Coelho reprova a excessiva projeção da no texto intitulado “Uma voz na platéia”, em cujo
interioridade do crítico, nublando a objetividade do final o autor se escusa do petulante de sua atitude

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pela intenção de interpretar os desejos da platéia – é Sandra Jacqueline Stoll, Espiritismo à brasileira.
sua a voz que fala em nome dos que se calam. Nou- São Paulo, Edusp/Orion, 2004, 296 pp.
tro lance, sua voz volta-se à fustigação de outro ícone
da geração anterior, Oswald de Andrade, cujo ro- Yvonne Maggie
mance Os condenados é impiedosamente desqualifi- Professora titular de Antropologia da UFRJ
cado, não sem algum espírito de cálculo, conforme
deixa entrever no último parágrafo do texto:“Não se Espiritismo à brasileira começa com um fascinante re-
doa Oswald com as críticas, talvez severas em exces- lato da presença de Francisco Cândido Xavier, o
so. Achei meu dever de moço exprimir a opinião famoso médium Chico Xavier, no programa Pinga
sincera acerca desse livro de mocidade” (p. 81). Fogo da TV Tupi em 1971, em um evento inédito e
Ou seja, o arsenal crítico do jovem que julga é ao vivo: a transmissão de uma sessão mediúnica.
comparativamente superior ao arsenal literário do Coincidentemente, esse foi o mesmo ano em que o
jovem criador objeto de sua crítica, o que antecipa a exu Seu Sete da Lira, incorporado na médium dona
consagração daquele mediando-a com a posterior Cacilda, incendiou a cidade do Rio de Janeiro com
consagração deste. Note-se que, nesse e nos outros sua aparição espetacular, também ao vivo, nos pro-
escritos reunidos, Coelho faz uso de demonstrações gramas de Chacrinha e de Flávio Cavalcanti.
explícitas de erudição como constantes remissões a O livro dedica-se a entender a reinterpretação
uma ampla gama de autores consagrados e citações que se fez no Brasil do espiritismo francês de Allan
no original em diversas línguas, o que reforça a le- Kardec. Seus escritos, e os de outros autores euro-
gitimação do que diz. peus espíritas na segunda metade do século XIX,
Sem dúvida é a competência intelectual do au- venderam quase tantas cópias quanto A origem das
tor que garante o êxito da empreitada. De fato, a espécies de Darwin.
revista serviu de veículo institucional de expressão Mas enquanto na Europa a doutrina de Allan
para os novos críticos, que por meio dela ingressam Kardec minguou, no Brasil se manteve muito viva.
na crítica cultural em órgãos da grande imprensa, Stoll aborda o espiritismo em terras brasileiras por
suscitam a admiração de nomes como Sérgio Milliet meio da análise da vida de Chico Xavier, falecido
e Vinicius de Morais, e logram viabilizar suas carrei- em 2002, e, como contraponto, do estudo da traje-
ras. Mas a ambivalência da posição construída fará tória de outro seguidor do espiritismo de inspira-
com que sua estabilização dependa em maior ou ção kardecista tupiniquim ainda atuante, Luiz An-
menor grau do ingresso como professor na mesma tonio Gaspareto. A autora argumenta que cada um
universidade em que todos se conheceram como desses personagens incorpora uma das duas verten-
alunos, deslocando para o interior do campo acadê- tes, ou versões, brasileiras da doutrina kardecista. De
mico o embate vivido anteriormente, mas agora sem um lado, o santo que se afasta do mundo e que, como
a mesma unidade. O fato de Ruy Coelho integrar- todos se lembram, era uma figura quase sem corpo
se tardiamente à Faculdade de Filosofia, em 1953, apesar de sempre ter se apresentado com enorme
após formação como antropólogo nos Estados Uni- cuidado pessoal, com os cabelos bem penteados es-
dos, num período de oito anos que começa imedia- condendo a calvície. De outro, o santo que se imis-
tamente após o final da revista em 1945, ganha nova cui nas coisas do mundo e se apresenta com beleza
luz diante da experiência do jovem curinga que o como que pós-moderna, com brincos na orelha e
livro permite acompanhar. músculos à mostra. As fotos da edição cuidadosa
mostram claramente esses dois tipos com caracterís-

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