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CORRUPÇÃO DO ACORDO TÁCITO À CORRUPÇÃO PLANEJADA

Citação: Rabelo Profeta, Gilberto. Corrupção do Acordo Tácito à corrupção


planejada. http://gilbertoprofeta. blogspot. com/p/blog-page_31. Html.

ÍNDICE
1. O que é Corrupção

2. A corrupção atual sistematizada desde o Governo Collor

3. Histórico da Corrupção da Petrobras e fundos de pensão desde o


Governo Sarney
4. Certeza absoluta de impunidade

5. A desconstrução da lei de licitação a partir do governo Lula

6. Teoria do Domínio do Fato

7. A Teoria do Domínio do Fato, governo e corrupção

8. O governante que não sabe de nada não é mero participante, é


coautor
9. Corrupção: que crime é este que não se consegue punir por falta
de provas?
10. A corrupção como resultado de acordo tácito segundo a Teoria
dos Sistemas (Morin)
11. Quais são as condições para o aparecimento da corrupção?

12. O Ovo ou a galinha: a solicitação ou a oferta de vantagem


indevida?
13. Corrupção planejada: acordo verbal

14. Corrupção: crime sem prova material?

15. Como acabar com a corrupção

16. Referências

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1 O que é Corrupção
Os analistas procuram relativizar o conceito de corrupção para adequar-se a momentos e
concepções vigentes em cada sociedade. [CCOD] É a busca da relativização de tudo, e,
qualquer que seja sua utilidade social, a relativização do Direito tem servido não à
Sociedade como um todo, mas a "sociedades fechadas", grupelhos de indivíduos que se
apropriam do Poder e usurpam direitos individuais em nome de uma ideologia marxista
ou com tintas marxistas, escondendo uma realidade de privilégios a uma classe política
sob o manto de benefícios sociais e proteção aos mais pobres. Esta visão distorcida das
Coisas da Realidade, que em si é uma manifestação da corrupção institucionalizada, não
impede que a corrupção seja, em termos absolutos, "relação entre quem tem poder
decisório e quem tem poder econômico" [CCOD] no trato com as coisas públicas, em
benefício de pessoas e em detrimento do Estado.
Os artigos sobre a corrupção misturam a corrupção moral com a corrupção política e se
preocupam em fazer o brasileiro crer que a corrupção está em sua veia, no jeitinho
brasileiro, na lei de Gerson, contudo, a corrupção política se dá entre pessoas já
moralmente corrompidas. Felizmente não há homens moralmente puros, é uma
impossibilidade, por isto o Estado exige que além das leis jurídicas os políticos sigam as
leis morais e sejam punidos quando a ambas infringe. Daí se vê que a relativização do
Direito e da Moral é um instrumento da corrupção.

1.1 Corrupção, definição


"Corrupção é o ato final e criminalmente punível, iniciado sempre por outro crime menor,
nomeadamente falsidade, abuso de poder, abandono de funções, denegação de justiça (. .
. ), e cujo objetivo é, gestualmente, verbalmente ou sem respostas, intimidar, consentir,
aguardar, aceitar, solicitar ou prometer uma vantagem patrimonial ou não patrimonial
indevida, para si ou para terceiro". [CPWIKI]
Considerando as empreiteiras, é o uso do poder econômico para que as leis sejam burladas
ou interpretadas de modo a favorecer a alguém ou algum grupo de influência política ou
econômica, em qualquer época e lugar. Deste modo é que surge a situação em que o
detentor de poder decisório, detendo também o poder econômico corrompe outros
detentores de poder decisório, não detentores de poder econômico, mediante a
distribuição de vantagens aparentemente aprovadas pelas próprias leis que os segundos
criam em sua função legislativa, ao mesmo tempo em que corrompe os detentores de
poder moderador, judiciário, vigilante do cumprimento das leis, para que as fraudes e
burlas sejam toleradas.
As definições encontradas não premiam a situação em que se pede o pagamento de
propina simplesmente para se fazer andar a máquina administrativa em favor de quem a
paga, sem que sejam burladas as leis ou mal interpretadas a favor de quem paga: nestes
casos apenas não se identificou qual foi a vantagem indevida obtida.

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1.2 Não tem um conceito jurídico unívoco
Não existe um conceito jurídico unívoco acerca do que, efetivamente, consiste a
corrupção, [ROSSCC] o que é um impropério sendo facilmente identificáveis todos os
elementos da equação: existe o Estado e nele o agente público, com um salário para
exercer suas funções, como intermediário entre o Estado e o agente privado, corrupção é
quando o agente público recebe uma vantagem além do salário para cumprir sua função
de intermediário, ainda que não esteja praticando ilícitos, mas simplesmente fazer andar
a máquina administrativa. Quando um agente público coloca um processo de alguém que
conheça na frente de um processo de alguém que não conheça, ainda que não receba
vantagens pecuniárias, o reconhecimento e a gratidão são a recompensa, mas há o prejuízo
do autor do processo que foi retardado.
Não existir um conceito jurídico unívoco definindo a corrupção aponta uma falha do
campo semântico jurídico e é uma brecha que permite argumentações falaciosas a favor
de quem comete o crime.

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2 A corrupção atual sistematizada desde o
Governo Collor
2.1 Introdução
Trata-se a corrupção atual no país e sob investigação na Operação Lava Jato como se
fosse um fenômeno iniciado recentemente, com omissão dos dados que levam à
percepção de que a corrupção atual e o Petrolão se iniciam no período Collor, com a
institucionalização da corrupção e aprimoramento dos mecanismos de sua perpetuação.
Há Institucionalização do crime quando os criminosos são autoridades públicas
constituídas. Institucionalizar a corrupção é também fazê-la de forma que não haja risco
de ruptura das instituições e da governabilidade do país, com a criação de mecanismos
que a tornem "necessária" ao desenvolvimento e ao bem-estar social, e pelos quais será
justificada. É preciso entender, então, a corrupção como um sistema, um fato perene de
que surgem emergências de acontecimentos organizados de ilícitos, um sistema pró-
corrupção que gerencia estas emergências. É necessário, portanto, analisar os fatores que
nutrem este sistema pró-corrupção e combatê-los, sem o que não se obtém controle sobre
a corrupção.
O poder constituído não tem interesse Real de acabar com a corrupção desde então,
embora as denúncias tenham sido repetidas. É sabido desde então que a impunidade é o
fator determinante da corrupção. Não foram criados mecanismos efetivos de combate à
corrupção, mas ao contrário, criaram-se mecanismos que dão a certeza absoluta de
impunidade, um Sistema de Impunidade nos três poderes constituídos, Executivo,
Legislativo e Judiciário. Em 24 anos, todas as formas de sofisma foram usadas para que
nada se fizesse para coibir a corrupção ao mesmo tempo em que se vende ao povo, por
marketing publicitário, a ideia de que a corrupção está sendo combatida. A principal
desculpa de que eram acusações sem provas é uma falácia que tem sido aceito
acriticamente: foram feitas denúncias, e estas não necessitam de provas, apenas de
indícios. O caminhar da História prova que as denúncias continham acusações
admissíveis e verdadeiras.

2.2 Acordo tácito de omissão e conivência


Você sabia que a corrupção na Petrobras e nos fundos de pensão foi denunciada em 1991
e nada se fez para o combate efetivo? Quais os motivos? Por que os três poderes
constituídos são ineptos para tomar as medidas necessárias para punição dos corruptos e
ressarcimento dos prejuízos.
A réplica que se faz quando se fala da corrupção atual e seus autores é que a corrupção
sempre existiu, e é lógico que havia corrupção também antes do governo Collor. Nunca
se assumiu é que já existia bem antes o nutriente da corrupção, o acordo tácito entre os
três poderes constituídos para o perdão antecipado a crime de omissão e a possibilidade,
sem certeza, de impunidade para a corrupção.

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Os dados disponíveis na Internet, que se torna o Inconsciente Coletivo da Humanidade,
nos registros de divulgação de informações mostra estarem presentes na Política do
momento muitos dos personagens que estavam atuantes no período Collor, ou pessoas
por eles manipuladas, marionetes, Não se podendo crer que todos os políticos sejam
estúpidos a ponto de não perceberem a realidade em que atuam, pode-se afirmar que há
um sistema de crimes por omissão em que todos os agentes públicos, políticos ou não,
participam, Executivo, Legislativo e Judiciário. Todos se omitem por acordo tácito e
criam, por serem também legisladores ou exercerem influência nos legisladores, um
sistema que garante uma Certeza de Impunidade aos atos de corrupção, fazendo dela
depender empregos e o desenvolvimento do país, com manipuladores da opinião pública
criando a mitologia necessária para que todo o povo, ou pelo menos uma maioria de
pessoas com direito a voto, acreditem na necessidade dos atos ilícitos para o
desenvolvimento econômico e bem-estar da população.

2.3 Juízo de fato, juízo de valor


Está em andamento um sistema de manipulação da mente do homem como indivíduo e
como cidadão para se implantar um sistema de governo não necessariamente aceito por
todos se o conhecessem nas consequências que trará para a vida cotidiana de cada um, ao
mesmo tempo em que procura se fazer que a corrupção que o sustenta seja aceita como
fato comum na vida em sociedade. Esta manipulação se faz pelas manifestações a favor
de alteração de fatores culturais, em direção à mudança de significados, normas e valores,
seguindo as prescrições de Gramsci para a implantação da hegemonia do marxismo no
país. A grande arma desta manipulação é a articulação de falácias em sofismas bem
elaborados, explorando a incapacidade natural do homem, não apenas o brasileiro, de
reconhecer os mecanismos de manipulação de sua mente e de, deles, decretar sua
independência pela procura dos meios de Compreender a Realidade, Aprender a Ler, a
reconhecer Mentiras, Falácias e Sofismas, para não ser apenas uma mente antena
repetidora de conceitos que nela são inseridos e organizam o pensamento na direção
ideológica desejada. Aprender a ler para não ser manipulado. A Realidade é que a
corrupção passa a ser o preço que se paga pela concretização dos ideais ditos progressistas
do regime que se implanta paulatinamente no país. Para se compreender esta
manipulação, é preciso distinguir o juízo de fato de Juízo de valor. Juízos de fato são
aqueles que dizem o que as coisas são, como são e por que são. Juízos de valor procuram
determinar sentimentos, atos, comportamentos e obrigações e avaliam intenções e ações
de cada um segundo o critério do correto e do incorreto. [CORPO] São julgamentos sobre
coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito,
intenções e decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis. Para se controlar os
juízos de fato aplicam-se a mentira e a falácia, descrevendo as coisas como elas não são,
escondendo detalhes importantes para a sua compreensão, e as explicam com falácias e
sofismas, induzindo a crença de que são o que são sem que o sejam. É notório o fato de a
mídia estar sempre chamando de presidente aos ditadores, por exemplo.
São assim também muitas análises da corrupção. Tendenciosas, podem considerar como
a corrupção funciona na Realidade como se não houvesse a necessidade de ser combatida

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e mantida em níveis irrisórios, com argumentações falaciosas procurando interpretar seus
mecanismos e causas de modo a alterar sua percepção pelo cidadão comum e os juízos de
valor que possa dela fazer. Está em jogo um sistema de repetição de conceitos, também
muitas vezes falaciosos, que organizam a mente do leitor/ouvinte em direção a uma
compreensão defeituosa da Realidade, criando convicções que alteram os juízos de valor
sobre a corrupção: para considerá-la um ilícito a ser tolerado.

2.3.1 Compreensão imediata e manipulação da


mente
Esta manipulação da mente explora a tendência natural de se ler a Realidade e os textos
por compreensão imediata: às palavras e coisas são apostos apenas os sentidos que se têm
internalizado na mente, sem levar em conta os múltiplos significados que toda palavra
contém ou o que o emissor do discurso quis dizer. Esta tendência tem sido usada para
manipular a compreensão que o homem comum, singular, tenha da Realidade veiculando
textos que inserem na mente de cada um dos significados a serem apostos às coisas e às
palavras, visando a adesão a ideias e valores que não são os seus próprios e a que não iria
aderir se permitido a ele a compreensão correta dos significados e dos valores envolvidos.
Há no momento a manipulação tendenciosa dos juízos de fato e de valor de cada cidadão
para a implantação da hegemonia do marxismo como lido por Antonio Gramsci, o
comunismo disfarçado em democracia. Esta destruição e reconstrução da Cultura estão
em andamento no Brasil e na América Latina, e também em países ditos desenvolvidos
(com menor velocidade e ênfase) e se fundamenta na leitura e complementação dos
escritos de Antonio Gramsci. O Juízo de valor fica prejudicado seja por parcialidade
ideológica, seja por leniência com o ilícito. Na tolerância ao ilícito entra a relativização
do Direito passando a considerar que o Fim justifica os meios, premissa pregada por
Antonio Gramsci, a partir de sua leitura, também afetada pela relativização, de
Maquiavel, O Príncipe. O risco é conhecido, mas ignorado, foi assim que o cidadão
comum participou das atrocidades do Nazismo. É necessário ainda a análise do tema
corrupção no texto de Maquiavel. [GRPCMP]

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3 Histórico da Corrupção da Petrobras e fundos
de pensão desde o Governo Sarney
3.1 Apresentação
É preciso compreender que a Internet é o Inconsciente Coletivo da humanidade, e como
tal, tudo ali está registrado, mas sendo preciso busca e análise para recuperar: se estão
registrados fatos estão também registrados os meios de que se usou para os camuflar. A
Mentira, a Falácia em sofismas bem ou mal construídos sempre foi e será usado para
mascarar a Verdade, o verdadeiro fluxo de Acontecimentos que se deram na Realidade,
daí a necessidade de compreender que saber ler não é apenas articular palavras em
sentenças e as sentenças de um texto, é preciso aprender a distinguir os sofismas e suas
falácias.
Você sabe o que é “corrupção institucionalizada”? Por que “empreiteira” é ”pessoa
jurídica” e quando em 1991 foi denunciado que havia corrupção na relação empreiteiras
x governo e não se abriu processo judicial justificando que a denúncia não indicava os
nomes das “pessoas “ envolvidas? Por que os políticos e os juízes supremos engoliram
calado esta falácia? Por que as denúncias são feitas a jornalistas e não ao Ministério
Público, abrindo processo judicial se forem acusações admissíveis e com indícios de
serem procedentes de ilícitos praticados? Você já percebeu que, quando denúncias são
feitas e não se tomam as providências judiciais cabíveis, a História e o Tempo provam se
eram acusações admissíveis e procedentes? A quase bancarrota da Petrobras não tem
também como culpados os que foram omissos e coniventes, não levando a frente as
denúncias? Se Collor mandou interpelar o primeiro denunciante ao jornalismo de que
havia corrupção em seu governo envolvendo as grandes obras públicas e empreiteiras,
qual o motivo pelo qual nenhum outro presidente se deu ao trabalho de interpelar os
denunciantes? Você percebeu o ato falho da presidente entregando seus companheiros
como participantes de uma organização criminosa?
A corrupção na BR Distribuidora foi descoberta no governo Sarney (1985-90), o alto
escalão da subsidiária da Petrobras foi afastado após denúncias por uma série de
reportagens do Estado de S. Paulo, em fins de 1988, intitulada “O Caso BR”, assinadas
por jornalistas Ricardo Boechat, Suely Caldas, Aluizio Maranhão e Luiz Guilhermino. O
ponto de partida foram denúncias do presidente do BNDES contra a BR de um esquema
envolvendo aplicações financeiras ou contratações bancárias, resultando em desfalque de
pelo menos US$ 20 milhões nos cofres da BR Distribuidora. [CPPE]
Sabe-se desde 1992 que as Licitações para as obras públicas abrem as portas para a
corrupção. A Lei das Licitações não foi revogada, mas foram editadas outras leis que a
modifica substancialmente facilitando a corrupção. E isto só foi possível pelo acordo
tácito de omissão e conivência e pela impunidade reinante. Prova cabal da Certeza
Absoluta é a ferida imposta à Constituição pela nomeação de Procurador Geral da
República para o cargo de Ministro da Justiça, e a ainda promessa de recorrer da
suspensão da posse imposta por ministro do STF. Um presidente só toma decisões tão

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abertamente inconstitucionais quando tem a Certeza Absoluta de Impunidade. A
corrupção é antiga e o que há de novo é o espírito crescente de que a corrupção na política
não é um crime tolerado, mas a ser combatido. Esta intolerância à corrupção tem sido
explorada nas campanhas presidenciais desde antes de Jânio Quadros, que renunciou
devido à "forças ocultas". A impunidade também é antiga. No governo Sarney, PMDB,
denunciou-se o foco do incêndio pela fumaça, ou seja, sem indicar os nomes das pessoas
físicas ou jurídicas envolvidas, mas não se tomam providências e o incêndio toma as
proporções atuais. A mídia anunciou no dia 14/3/1990, que em janeiro o ministro do
Planejamento, Aníbal Teixeira pedira demissão, com denúncias de corrupção [Veja Edição 1121,
14/3/1990] e nenhuma providência se tomou. O ministro demissionário não ter disse nomes de

pessoas, físicas ou jurídicas, entretanto, apontou o foco: nas grandes obras e construções
do governo. Deste modo, Collor, assumindo em 15 de março, após campanha eleitoral
em que conquista votos também com a promessa de acabar com a corrupção, comete o
seu primeiro crime, omissão em mandar instalar a sindicância necessária.
Qual o motivo pelo qual uma denúncia de que as grandes obras e construções do governo
são foco de corrupção não tenha sido motivo suficiente para as diligências necessárias em
busca dos nomes exigidos pela Lei? Quais os motivos pelos quais Aníbal Teixeira não
entrou com denúncia popular no Ministério Público e fez girar a roda da Justiça? Em
essência, o ministro demissionário foi omisso, embora possa ter sido forçado à omissão
pelos pré-requisitos para se fazer uma denúncia popular: não basta indicar onde está
havendo corrupção, é preciso ser portador de uma prova, mas se aceita passivamente que
não há provas para os atos de corrupção. Todos fingem acreditar neste sofisma. O único
crime para o qual não existem provas é o que não foi cometido. Talvez o defeito esteja na
interpretação inadequada do que seja "denúncia” e do que seja "acusação" (ver
Diferenciação entre denúncia e acusação), fazendo os dois termos se confundirem em um
só significado "acusação", mesmo que os textos permitam a diferenciação, pelo contexto
e pela aplicabilidade de ambos.
Às vésperas de o presidente assumir seu mandato denuncia-se corrupção nas grandes
obras e construções do governo, e Collor assume como se nada houvera sido denunciado:
este fato não é prova de omissão e motivo para punição. De outro lado, ninguém cobrou
de Collor uma ação contra a corrupção denunciada. Quais os motivos? Quais as
consequências?
Se a denúncia de corrupção na Petrobras e nos fundos de pensão se faz desde o governo
Sarney e nenhuma atitude de coibição e punição se tomou, tem-se que os políticos temem
acabar com a corrupção efetivamente, pois acabaria com a propina que sempre a eles foi
paga. De outro lado, não se acabará com a propina como antes era praticada e muito
menos com a corrupção como atualmente praticada enquanto houver leniência com a
falácia, a mentira e o sofisma.

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3.2 Luis Roberto Ponte: as licitações, portas
abertas à corrupção
Se Collor se omitiu quanto às denúncias de Aníbal Teixeira, logo no início do mandato
ordenou que fosse interpelado na Justiça o deputado Luis Roberto Ponte, que foi Chefe
do Gabinete Civil de José Sarney. O deputado, em abril de 1991, faz publicar uma carta
em que denuncia a pressão para o pagamento de propinas no país em níveis insuportáveis
e dá genericamente o governo como o autor dessa pressão (Veja Ed 1180, 1/5/1991). "A corrupção
sempre existiu, mas está tomando proporções alarmantes", acentuando não haver como
provar. Em essência, a cobrança de propinas sempre existiu, sob pressão de agentes
políticos, mas passou a ser sob pressão do próprio governo. A entidade de classe dos
empreiteiros, Câmara Brasileira da Indústria da Construção, manda reproduzir a carta em
vários jornais, endossando-a.
Em conclusão, o esquema de pagamento de propinas foi denunciado em 1991 e não se
abriu processo para apuração. Ponte, em sequência, elaborou a Lei de Licitações e, se não
entrou com processo judicial, traz à lembrança o fato de que nunca se procurou verificar
porque as denúncias chegam a jornais e não a instâncias judiciais. A denúncia, no entanto,
se refere ao início da sistematização e institucionalização da corrupção e do mecanismo
pelo qual ela se mantém perene.

3.2.1 Consequências da denúncia de Ponte


Em relação à corrupção, há uma diferença entre o período Collor e os mais de 12 anos em
que o Partido dos Trabalhadores está no poder: faziam-se leis contra a corrupção e agora
se fazem medidas provisórias que amenizam o combate à corrupção. Naquele momento
o sistema anticorrupção funciona e o próprio acusado, o governo, patrocina o
aparecimento de medidas efetivas contra a corrupção e a denúncia de Roberto Ponte
resultou na Lei de Licitações, a 8. 666/93, também por ele redigida. [L8666, LRPEPE]

3.2.1.1 A Lei Nº 8.666, de 21 de junho de 1993


A Lei 8. 666 regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, instituindo
normas para licitações e contratos da Administração Pública. [L8666A. L8666B] Seria
necessário analisar um a um os artigos que foram posteriormente alterados e como
beneficiariam a corrupção; fica-se, no entanto, com as opiniões do autor da Lei, a serem
apresentadas posteriormente.

3.3 CPI do Orçamento 1994


3.3.1 Relatório Final, 1994
A CPI do Orçamento se inicia com o chefe da assessoria técnica da Comissão do
Orçamento do Congresso denunciando um esquema de empreiteiras, de que ele próprio
fazia parte, manipulando o orçamento público, em outubro de 1993. Deixa ele

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transparecer a corrupção como organização criminosa transparece ao colocar em prática
a Lei de Silêncio quando, tendo sido preso, manda matar sua esposa que denunciara a
corrupção, e, declarando-se inocente responsabiliza dois deputados participantes do
esquema como mandantes do crime. O acusado se negou peremptoriamente, sempre, a
revelar todos os segredos do esquema, findo a falecer em 2004. [https://pt. wikipedia.
org/wiki/Anões_do_Orçamento]

A História caminhou o suficiente para demonstrar que, apesar de bem-intencionada, a


CPI do Orçamento se transformou em mais uma farsa para dar satisfação de que há o
combate à corrupção, procurando controlar apenas aquela que, por se declarar
abusivamente transparente, não puder ser escondida, mas deixou restar que eram apenas
os "Anões do Orçamento", políticos menores com cargo ou influência sobre a Comissão
Mista de Orçamento, os políticos envolvidos no esquema.

3.3.2 Existência de crime organizado no Executivo


e Legislativo
Na CPI do Orçamento apurou-se a existência de organizações destinadas a lesar o Estado,
ao mesmo tempo em que denuncia o acordo tácito de omissão e conivência com a
corrupção: uma instalada no Executivo, que definia os recursos, e outra no Legislativo,
que, embora sabendo da ilicitude dos recursos, ordenava o pagamento. [CPORF] Em
consequência, constando o mecanismo da corrupção no Relatório Final da CPI do
Orçamento, e já tendo sido denunciado que a pressão pelo pagamento de propina partia
do próprio governo (Veja Ed 1180, 1/5/1991), todos os políticos eleitos desde então que não
apontaram esta situação, principalmente os que exerceram cargos de governo, cometeram
crime de omissão, o que os faz partícipes do acordo tácito de omissão e conivência.
Omissos também foram os que fizeram as denúncias de corrupção, e, tendo a capacidade
de introduzir as alterações que realmente permitam o controle da corrupção no Sistema
de Significação, Normas e Valores, contribuíram com a formação de opinião pública de
que a corrupção não tem cura. Todos os governantes que assinaram Medidas Provisórias
e emendas a Leis facilitando a atuação destas múltiplas organizações criminosas são
coatores da corrupção. Não são cúmplices involuntários, uma vez que, por mais iletrado
que seja o governante, não pode ignorar o que há de corrupto no país e estar orientado no
mínimo quanto à súmula dos relatórios finais das CPIs que apuraram a corrupção e
apontaram tais organizações criminosas. Entretanto, o Direito não prevê como crime este
tipo de omissão e conivência, ainda que a prova do tempo tenha determinado que todas
as denúncias havidas do período Collor em diante preenchiam todos os critérios de
admissibilidade e de procedibilidade necessários para se aceitar as acusações e instaurar
os processos judiciais necessários.

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3.3.3 Corrupção e perda vitalícia de direitos
políticos
A prova do tempo não é prova jurídica suficiente. Em uma situação em que a corrupção
se torna perene, institucionalizada e com mecanismos de blindagem que dão a certeza
absoluta de impunidade, a suspensão de direitos políticos não pode ser temporária, mas
vitalícia. Todo aquele que se omite e se torna conivente com os atos ilícitos dos
governantes, garantindo-lhes votos para que suas propostas de facilitação da corrupção
sejam aprovadas, deve ser juridicamente advertido, sendo primário, e, na reincidência
reiterada, sofrer processo de cassação e perda vitalícia de direitos de exercer cargos de
agentes públicos, em qualquer instância e tempo, ainda que seja a mera possibilidade de
influenciar outros agentes públicos. É preciso considerar que um político ou partido que
dê abrigo a corruptos com perda de mandato estão sensibilizados para cometer ilícitos.
Não há sentido além do culto à corrupção em se permitir a aderência a partidos políticos
de indivíduos cassados exatamente por corrupção. Não seria uma proposta utópica não
fosse a existência de acordo tácito de omissão e conivência.
Naturalmente, o acordo tácito de omissão e conivência atinge também o Judiciário:
"Quando um Estado se encontra infeccionado é difícil que essa infecção se limite a um
só de seus Poderes". [CPORF] Os homens públicos sabem como funciona a corrupção e
o que deve ser combatido é sua tolerância, que dá a Certeza de Impunidade, com os atos
ilícitos em qualquer dos poderes constituídos.

3.3.4 Recomendações da CPI do Orçamento


As recomendações da CPI do Orçamento foram: [CROM10]
a) Elaboração compartilhada dos Orçamentos pelos Poderes Legislativo e
Executivo;
b) Limitação do poder de emendar a lei orçamentária;
c) Definição de percentual mínimo de aplicação de recursos em continuidade de
obras;
d) Extinção das subvenções sociais;
e) Limitação das transferências federais voluntárias;
f) Mudança na legislação referente aos créditos suplementares;
g) Aparelhamento organizacional e material do Poder Legislativo;
h) Restauração das Comissões de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados
e do Senado Federal;
i) Fortalecimento dos Sistemas de Controle Externo e interno;
j) Mudanças nos Regimentos Internos do Senado Federal, da Câmara dos Deputados
e Comum do Congresso Nacional, quanto aos prazos das CPIs e CPMIs;
k) Mudanças na legislação eleitoral e partidária;
l) Abolição do sigilo fiscal e bancário para mandatários políticos;
m) Mudanças na Constituição Federal no tocante aos princípios informadores dos
casos de inelegibilidade, e consequente alteração da lei que estabelece tais casos;

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n) Mudanças no regime da imunidade parlamentar;
o) Inscrição constitucional da pena de suspensão do exercício do mandato;
p) Contingenciamento orçamentário e impositividade da lei orçamentária.

3.3.4.1 Elaboração compartilhada dos


Orçamentos pelo Legislativo e Executivo
Como recomendado pela CPI o orçamento como um "pré-orçamento" passou a ser
discutido em todas as Comissões Técnicas Permanentes e um ponto-chave da sistemática
proposta seria a fixação, na Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO, do volume global de
dotações para cada unidade orçamentária. [CORM10] No Relatório final não há nenhuma
preocupação com as más interpretações que se possa dar ao que a LDO dispõe ou aos
mecanismos de controle de possíveis brechas e interstícios nas leis, e não se percebeu que
um "pré-orçamento" daria ao Executivo a liberdade de arbítrio sobre o orçamento.
A Lei de Dotação Orçamentária existe, e seu não cumprimento se faz com a certeza de
impunidade dada pela má interpretação do que seja líder de partido: são donos da
consciência dos liderados, obrigando-os a votos que vão contra o que lhes dita a
consciência. Há a aceitação de um paradoxo, o crime cometido por político contra o
patrimônio público só será considerado crime se houve aprovação da acusação em
eleição. Ou de outra forma, o crime de responsabilidade por não cumprimento da Lei
Orçamentária só será considerado crime se a acusação for aprovada por 2/3 dos membros
da Câmara e a acusação só será efetivada por 2/3 dos membros do Senado, com voto de
liderança e não voto de consciência. A Lei 1. 079/50 em seu artigo 23 prevê apenas a
proibição do "encaminhamento de voto" durante a votação|, não impedindo que tenha
havido o encaminhamento previamente em reuniões partidárias. Não há nenhuma
salvaguarda constitucional para o caso presente em que os votos são controlados pela
liderança de governo e de partido: pode-se descumprir a lei, desde que se tenha a maioria
absolvidora nas Casas Legislativas, ainda que esta maioria seja obtida por meios imorais.
Novamente, a Constituição não premia o voto de consciência.

3.3.4.2 Definição de percentual mínimo de


aplicação de recursos em continuidade de obras
A recomendação procurou controlar o "esquema das empreiteiras" em que agentes
políticos exerciam poder na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e
Fiscalização – CMO, favorecendo uns projetos em detrimento de outros, com a inclusão
de projetos novos abrindo uma espécie de "janela orçamentária". [CORM10] A
observação de que grupos de poder instalados na CMO (parlamentares) agiam "sem levar
em conta o impacto que a continuidade ou a conclusão da correspondente obra ou serviço
acarretaria ao longo do tempo" [CORM10] continuou a prevalecer, no entanto, de forma
mais aprimorada, como demonstram as consequências da corrupção e o volume de obras
paradas no país. [NSPOPE] Não foram criadas salvaguardas contra a corrupção e as
licitações e o orçamento passaram a ser legislados por Medidas Provisórias,

12
inconstitucionais devido ao fato de que se trata de um instrumento excepcional que se
torna rotina para tornar lei todas as vontades do Executivo. É outro ponto em que há
leniência excessiva de todos os homens públicos e formadores de opinião.

3.3.4.3 Extinção das subvenções sociais


"Subvenções sociais consistem em transferência de recursos que independe de lei
específica a instituições públicas ou privadas (de caráter assistencial – serviços essenciais
de assistência: social, médica e educacional ou cultural, ), sem finalidade lucrativa, com
o objetivo de cobrir despesas de custeio, afeita ao controle interno dos órgãos concedentes
e externo" (http://www. mbiasioli. adv. br/joomla/index. php/pt_br/biblioteca/artigos/680-desvendando)_. A CPI
constatou serem as subvenções sociais caminho para diversas modalidades de corrupção
e mau uso do dinheiro público, e propôs a extinção de todas as subvenções sociais,
específicas e globais. [CORM10, CPORF] O caráter inidôneo das subvenções sociais
aparece pela existência na União de instituições dirigidas à ação social, como o Instituto
Nacional de Seguridade Social e a Legião Brasileira de Assistência, além de outros órgãos
nas diversas estruturas do Executivo, e, quando necessárias, ser atribuição dos Estados.
Se o "esquema das subvenções" foi controlado o que se assistiu, posteriormente, foi a
demagogia e populismo dos benefícios sociais como distribuição do Bolsa Família, de
caráter nitidamente eleitoreiro, problema a que não se presta atenção, apesar de se ter já
denunciada exclusão dos verdadeiros possíveis beneficiados do programa, aqueles com
renda familiar inferior à determinada pela lei que a instituiu, ou seja, a 140 reais por mês:
famílias com esta renda estão excluídos da sociedade que não tomam conhecimento dos
benefícios sociais e tomam conhecimento não se inscrevem. Qualquer benefício social
dedicado a erradicar a miséria deve "caçar" um a um os miseráveis, providenciando-lhes
os documentos necessários para serem inscritos. O número de miseráveis aumentou no
país, o que demonstra não se tratar de justiça social os benefícios sociais concedidos. [Ipea
mostra que aumentou número de miseráveis no país em 2013 Jornal O Globo http://oglobo. globo. com/economia/ipea-mostra-que-
aumentou-numero-de-miseraveis-no-pais-em-2013-14471753, acessado em 03/03/2016].
Não houve preocupação
também com a denúncia de que os benefícios são distribuídos por militantes dos partidos
coligados com o PT, não os concedendo àqueles que potencialmente não seriam seus
eleitores.
O que se denuncia é facilmente verificável nas reportagens sobre beneficiários do Bolsa
Família, pelo vestuário e objetos que portam. Observa-se que a cada tentativa de controle
da corrupção por meio de Leis há um redirecionamento das forças em direção ao retorno
da situação anterior, prevalecendo os mecanismos que facilitam a corrupção: o executivo
mantém controle absoluto do orçamento e o usa a corrupção a favor de um programa
político, ainda que este programa político esteja se mostrando falho em vários países em
que foi adotado.

13
3.3.4.4 Mudanças no regime da imunidade
parlamentar
Se em 1993 o relatório recomenda mudanças no regime de imunidade parlamentar,
necessário é que se altere a compreensão do que seja imunidade parlamentar, que passou
a fazer parte do sistema que dá a Certeza de Impunidade.
Em 2015, manifestou-se o desejo, inclusive entre os políticos, de tornar a corrupção um
crime hediondo. [Q7DQTC] Não são analisadas quais seriam as vantagens de se tratar a
corrupção como crime hediondo, mas constata-se que a Constituição não prescreve a
perda de imunidade parlamentar para os crimes de corrupção. A corrupção é um crime
que depende de problema de caráter e formação moral do agente para ocorrer: todo ser
humano pode ser tentado ao crime quando surge a oportunidade; alguns cedem
facilmente; quanto maior a formação moral menor a probabilidade de ceder ao aforismo
"a oportunidade faz o ladrão". Não produz resultados práticos enxergar e apontar que
corrupção é roubo e o corrupto um ladrão, é preciso assumir até as últimas consequências:
a corrupção, embora ocorrendo na administração pública é roubo e como tal é crime
comum e não está coberto por imunidade parlamentar. Quais os motivos pelos quais as
constituições geralmente assim não consideram, sendo tão óbvio? No que respeita à
Constituição de 1988 é fácil perceber que, não tendo sido elaborada por uma constituinte
com representantes de todos os segmentos da sociedade, mas por políticos eleitos para
cargo legislativo, não haveria estes autointitulados constituintes de legislar contra si
mesmos: não é da natureza humana.
A corrupção não deixa de ser crime comum apenas por ter sido praticada por político, é
outro absurdo que se descobre: a imunidade parlamentar mesmo para crimes de corrupção
é outro instrumento que dá a Certeza de Impunidade e é aceita por acordo tácito de
omissão e conivência entre todos os participantes dos três poderes constituídos. Contudo,
tendo a Constituição de 1988 se mostrado apenas um quadro negro onde são apostas
emendas de acordo com as necessidades do momento, nenhum agente político ou jurídico
irá propor emenda constitucional que leve à compreensão do que é, em essência, a
corrupção, um crime comum, e, na insistência de que não seja crime comum, é crime de
lesa-pátria.

3.3.4.5 Inscrição constitucional da pena de


suspensão do exercício do mandato
É absurdo desejar que tudo esteja previsto na Constituição: é absurdamente imoral o
acusado permanecer em exercício de cargo político, votando medidas que o protejam, que
amenizem sua situação criminosa. O problema é que "o que é imoral e não está previsto
em lei ser também ilegal" é considerado legal, mesmo que a Constituição fale em
probidade e moralidade no exercício das funções públicas. É por este caminho que todos
os formadores de opinião que pregam a relatividade da Moral e do Direito pregam
também a favor da corrupção: embora alguns apontem a imoralidade do fato, assiste-se a

14
todo momento, políticos em investigação criminal no exercício do cargo, influenciando
leis e votos que os absolva.

3.3.4.6 Limitação do poder de emendar a lei


orçamentária
A primeira constatação é que o orçamento não precisa mais sofrer emendas pelo
Congresso para ser modificada, o executivo dispôs da coisa pública como bem entendeu,
cometendo crime de responsabilidade fiscal por provocar déficit orçamentário, e, tendo
as contas reprovadas pelo TCU, foi, em 2014 e 2015, absolvido por voto viciado por
manipulação do papel de líder de partido e de governo. O poder de emendar a lei
orçamentária virou moeda de troca para comprar votos dos parlamentares, que, pondo-os
no dilema entre "não se vender" e não conseguir liberação dos recursos correspondentes
à suas emendas apresentadas, ou "vender-se" e conseguir, cedem sua consciência à
consciência dos líderes de partido. [CORM10] É mecanismo que também garante a
CERTEZA DE IMPUNIDADE com votação inclusive para a absolvição de crimes
cometidos. O governo tem se mantido no poder por voto de cabresto.

3.3.4.7 Contingenciamento orçamentário e


impositividade da lei orçamentária
O contingenciamento, ou bloqueio das dotações orçamentárias, é uma prática iniciada por
Collor e seguida por sucessores, no pressuposto de que a LDO, Lei de Dotação
Orçamentária, é uma lei puramente autorizativa de gastos e não de execução impositiva.
É o próprio executivo quem arbitra o processo orçamentário, determinando o que se faz
e quando se faz. Se as contas do governo foram aprovadas, apesar de recomendação em
contrário pelo TCU, há um ciclo vicioso de déficit orçamentário que está longe de se
desfazer, prevendo-se que o Congresso aprovará mediante o voto de cabresto, em que o
líder de partido é dono da consciência de cada membro de seu partido, e ele próprio é
submisso ao governo. Não se encontrou, na Internet, análise do papel dos líderes de
governo e de partido, não se encontrou denúncias de que é ato de corrupção distribuir
cargos a troco de votos, mas há a denúncia, em 2004 e em 2005 de que o
contingenciamento é um Instrumento de barganha. [CORM10, ECCO]
Se a situação anterior, que permitiu o esquema das empreiteiras com os anões do
orçamento sofreu alterações na pretensão de controlar influências espúrias de políticos, o
funcionamento da administração do orçamento fluiu para a situação atual, em que tudo
se passa como mero teatro, representação de que o funcionamento é correto, legal e
moralmente adequado. Apenas que, no teatro, os atos não têm consequência prática e a
imoralidade com que se administra a coisa pública trouxe o país ao caos.

3.3.4.7.1 Instrumento de barganha


"O fato de existir o contingenciamento sem nenhuma limitação, sem nenhuma restrição,
sem nenhum critério, faz com que isso se transforme em instrumento de barganha, "

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[ECCO] profecia de 2005 que se concretiza a partir de Lula e apodrece no governo Dilma.
O presidente passa a manipular "a seu bel-prazer o orçamento aprovado pelo Congresso,
no que nada fica a dever aos regimes mais autoritários que já tivemos, pela desenvoltura
em reter a aplicação, manipular dotações constantes da lei orçamentária e barganhar sua
liberação [. . . ] sem estar submetido a qualquer regra objetiva de interesse da coletividade,
mas fazendo-o com base em critérios essencialmente políticos, pessoais ou eleitorais".
[CORM10] Foi este o instrumento com o qual os governos petistas lograram trazer o país
ao caos econômico atual e a liberação de todas as verbas para pagamento de obras
superfaturadas. O que se observa, no entanto, é que muitos denunciam a vinculação do
PT com o Foro de São Paulo e suas prescrições para a implantação de um regime
comunista, mas pouco se lê sobre o fato de que a partir de Lula o governo passa a cumprir
o programa político partidário de seu partido, o PT e os partidos vermelhos coligados, o
que tem sido denunciado em frases soltas, e não em análises profundas do problema. Daí
o fato de se argumentar que a corrupção é necessária, e deve-se aceitar que é necessária
por critério de utilidade, útil a programa político partidário financiado pela corrupção.
Na argumentação dos partidos no poder, a barganha de cargos políticos e a corrupção e
malversação do dinheiro público teve como objetivo o interesse da coletividade. De outro
lado, há dificuldade dos mentores ideológicos do regime que se pretende implantar no
país em assumir que este interesse coletivo não foi alcançado aqui e nos países que
seguiram o mesmo modelo. Houve a desorganização da economia, a parada do
desenvolvimento, o retorno da inflação com a diminuição do bem-estar social. Os partidos
coligados ao Partido dos Trabalhadores, vinculados a setores esquerdistas da Igreja
Católica, conduziram o país ao estado atual não apenas pela corrupção, mas também pela
incompreensão dos instrumentos com que se resolve a equação entre a Sociedade, o
Homem, a Natureza e os Objetos: a Filantropia foi um dos primeiros instrumentos para
se distribuir o Bem Estar a todos em uma sociedade, usado logo após os discursos do
Iluminismo e da Revolução Francesa e foi abandonado, por não produzir
desenvolvimento. A Caridade pregada pelo Catolicismo Marxista pode, historicamente,
ter produzido santos, mas nunca produziu o desenvolvimento de um Estado, embora tenha
sido sempre necessário para amenizar o sofrimento dos que são absolutamente
desprovidos. Produziu também um pavilhão de espertalhões que se enriquecem pela
exploração dos homens de boa vontade que têm a necessidade caritativa e compaixão com
os que sentem fome. Em termos políticos não se percebeu que em regimes populistas a
Pobreza nunca acabará, pois é a pobreza que os mantêm no poder.
A concessão de benefícios sociais se fez sem previsão orçamentária, não cumpriu seus
objetivos sociais, cumprindo apenas os objetivos eleitoreiros, e é um dos mecanismos
pelos quais o Brasil se atolou no caos atual.
Está registrado na História que o descontingenciamento lubrificou o esquema das
empreiteiras com os anões do orçamento, sendo tarefa remunerada por propinas a
aprovação de emendas orçamentárias beneficiando as empreiteiras. [CRIB]
Em 1992, Gustavo Franco, [CCRF] ainda professor de Economia na PUC do Rio de
Janeiro, alerta em artigo na Folha de São Paulo ser a corrupção fruto direto da falta de

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transparência e das decisões discricionárias, e que o resultado do contingenciamento é "a
mercadoria, a verba orçamentária, tornar-se escassa e adquirir um preço no mercado
negro", [CRIB] predispondo os empreiteiros à aceitação de pagamento de comissões.
Denuncia, indiretamente, não haver um orçamento "de verdade", quando não haveria
necessidade de contingenciamento. Embora teoricamente válido o seu ponto de vista, o
que se observou foi o problema de o orçamento ser transferido para o Executivo, com o
papel do Congresso de fazer de conta que aprova algo que sabe não será cumprido, e não
o sendo, ferida a Lei de Responsabilidade Fiscal, a mesma Câmara aprovará, contando
com o voto de liderança, não admitindo ter havido crime de responsabilidade do
presidente da República. Tudo funciona como uma ação entre amigos, em que os políticos
de situação são os atores, e os de oposição, seguem o acordo tácito de omissão e
conivência: dão votos contrários, nunca suficientes para admitir o crime de
responsabilidade, mas são surdos às denúncias de que o processo é viciado pelo Desejo e
Intenção de Corrupção e, assim, promove a manutenção da corrupção. Se o orçamento é
aprovado e não precisa ser seguido, que é o resultado final do que se observa na prática,
por que fazer um orçamento e o aprovar pelo Congresso? Na prática o Executivo é o dono
do orçamento.
Paulo Bernardo em 2005 reabre a questão do contingenciamento, e na mesma Comissão
Mista do Orçamento que fora o ninho dos anões do orçamento, como seu presidente,
reacendendo a ideia de ser apenas "um orçamento autorizativo" necessitando
"contingenciamento discricionário da execução orçamentária". [CRIB] Houve, então,
uma tentativa de reforma orçamentária, sem sucesso. Paulo Bernardo será em 2009 o
ministro de Planejamento e se a prática de manipulação do orçamento era discricionária,
mas discreta com Lula, nos governos Dilma passou a ser a regra.
Entretanto, é preciso contar com a aprovação pelas casas legislativas, o que se obtém pelo
sofisma do papel do líder de partido e de governo. É desta forma que o partido que está
governando pôde arruinar a economia do país para cumprir os objetivos de seu programa
político-partidário. Há uma aceitação acrítica dos programas sociais e envio de recursos
financeiros para países que comungam da mesma ideologia e que também tiveram suas
economias destruídas. O Programa Mais Médicos usa o mesmo instrumento da corrupção,
pagar mais por menos e não há força política disposta a terminá-lo, apesar de o governo
pagar ao governo de Cuba por três médicos para cada médico que recebe.
A situação reina e permanecerá mediante o sistema de impunidade vigente, agora com a
Certeza de Impunidade dada pelo Poder Judiciário, que não se acanha de editar decisões
inconstitucionais, invertendo seu papel de fiscal da constitucionalidade.
Pode-se concluir que o problema não é o orçamento em si, é a falta de visão dos homens
públicos em cargos de agentes públicos, sejam agentes políticos ou judiciários, que não
enxergam o funcionamento do aparelho sistêmico do Estado a ponto de conseguir prever
as consequências de seus atos e de suas aprovações de atos alheios. É lícito afirmar que
há inépcia dos bem-intencionados que convivem com a existência de intenção de
corrupção dos mal-intencionados, e que estes últimos galgam aos postos mais altos de
liderança e comando. Simplesmente por quê? Porque o número de políticos imorais e

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desonestos é bastante alto, e contam eles com a adesão dos políticos homens de boa
formação moral a um acordo tácito de omissão e conivência, acordo este que também
responde pelo nascimento, crescimento e manutenção da corrupção.

3.3.4.8 Limitação do poder de emendar a lei


orçamentária; Limitação das transferências
federais voluntárias
A limitação do poder de emendar a lei orçamentária não ocorreu. [CORM10] Ao contrário
aumentou e se dissolveu na conivência com o governo ter todo o poder sobre o orçamento:
não há, na prática, um orçamento, nem mesmo um limite de gastos. Houve comprovação
pelo TCU do ilícito de não se cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas o ilícito só
é considerado crime cometido por votação nas casas legislativas, pelo sistema de
impunidade vigente nos três poderes constituídos, todos os homens públicos, agentes
públicos, agentes políticos, jurídicos e formadores de opinião fazendo de conta não
perceber as manobras do Executivo para garantir os votos necessários que o absolverão
de crimes cometidos, voto de liderança.

3.3.4.9 Conclusão: o sistema político brasileiro tem


a intenção de corrupção
As recomendações da CPI do orçamento não foram cumpridas e as que foram cumpridas
parcialmente sofreram modificações impostas pelo sistema político em vigor. Pela teoria
dos sistemas, a cada encruzilhada de decisão, sim ou não, há uma significação, uma norma
e um valor a serem adotados, levando a uma ou outra direção. Se estas significações,
normas e valores determinam a aceitação dos atos imorais, a relativização do Direito e da
Moral, a leniência com o ilícito, etc., o sistema social caminha para a corrupção. É de
novo a questão do Desejo, que se pode ter pela natureza humana, e a Intenção, que se tem
por falta de caráter e formação moral: no sistema político brasileiro estão em postos chave
na condução do país os políticos que têm a intenção da corrupção e cujas decisões tendem
a amenizar toda e qualquer medida que se tome para controlar a corrupção.

3.3.5 Corrupção: crime imprescritível


A corrupção da Petrobras e dos fundos de pensão foi denunciada em 1991 e o tempo
determinou que era denúncia procedente. Fica bastante claro que a corrupção não é um
crime que possa prescrever.

3.4 Esquema PP em 1992


Depois, no governo Collor, em 1992, apurou-se o aliciamento de funcionários e operação
de um sistema de propinas dentro da BR Distribuidora, de novo o mesmo foco de
corrupção. Tendo como fonte "que fala sem se identificar", Suely Caldas e Aluizio
Maranhão tornam público em uma série de reportagens a denúncia de Luiz Octávio da

18
Motta Veiga, presidente da Petrobras, de que Collor tentava montar ali um esquema de
corrupção. Não aceitando participar foi excluído da empresa. O Cargo de confiança de
Collor na subsidiária da Petrobras foi Leoni Ramos, acusado depois de operar um sistema
de cobrança de propinas na Petrobras e em fundos de pensão de estatais. [CPPE]
Na presidência da Petrobras entra Ernesto Weber, e inicia-se o aliciamento de
funcionários pelo advogado João Alves, com a ameaça de, não havendo aceitação da
proposta, a retaliação será rebaixamento de cargo ou congelamento dentro da empresa.
Os que não aceitavam procuravam os jornalistas, e de novo os personagens são a
Petrobras e os fundos de pensão, da Vale, do Banco do Brasil, da Petrobras e dos Correios.
Faz-se uma CPI no Senado e, de novo, o remédio ineficaz, o afastamento dos personagens
envolvidos. Fica claro mais uma vez que o sistema político garante aos envolvidos que
não serão punidos, apenas afastados de seus cargos.
Não consta ter havido processo judicial e incriminação dos responsáveis ou apurada a
participação de Collor. Foram omissos os que tomaram conhecimento dos fatos
denunciados e não levaram adiante a apuração da admissibilidade da acusação e
autorização de abertura de processo judicial, um crime de omissão praticado, portanto,
por todos os políticos e ministros de STF como garantia de impunidade aos políticos
envolvidos.
Uma pesquisa simples no Google, ano a ano até 2011, não produz resultados que apontem
ter havido "denúncias de corrupção" feitas por presidentes e executivos da Petrobras ou
do BNDES. Presidentes da Petrobras não mais denunciaram a corrupção na Petrobras,
necessitando pesquisa mais complexa para se afirmar categoricamente.

3.5 Denúncia de Cecílio do Rego Almeida em 1992


Em 1992 Cecílio do Rego Almeida, da Construtora CR Almeida, faz denúncias de
corrupção e deixa claro que a raiz da corrupção é a impunidade. [MRVCRA]

3.5.1 Proposta de Cecílio do Rego Almeida


O sistema de impunidades funciona eficientemente a ponto de permitir a proposição de
uma lei ou mesmo uma medida provisória, como fez Rego Almeida, que anule todas as
concorrências que feriram a Lei de Licitações em vigor (Decreto Lei 2300/86): estas
deveriam ter sido anuladas se houvesse fiscalização séria e não conivente com a
corrupção, não deveriam ter sido efetivadas se não houvesse improbidade administrativa.
Não se encontrou referências de que sua proposta tenha sido considerada, apesar de Rego
Almeida ter feito uma previsão de queda de 50% dos preços de obras públicas, economia
que seria aplicada na contratação de dois promotores públicos, ficando obrigadas as
prefeituras a encaminhar os processos de licitação para serem examinados. É a resposta
ao conhecimento de que as Leis de Licitação é que permitiam a corrupção, seja pela
omissão em ser aplicada a fiscalização, seja por conterem "interstícios" que permitem
interpretações inidôneas e burla. [MRVCRA]

19
3.5.2 Empresas citadas
Rego de Almeida cita a OAS e a Odebrecht, entre outros nomes. Afirma que "a OAS é o
paradigma da corrupção" e denuncia a existência de empresas que não têm o equipamento
necessário para fazer obras e subempreitam obras por 50% do valor contratado.
[MRVCRA] Não são as mesmas empreiteiras que são atores na corrupção atual?

3.5.3 Abertura a empresas estrangeiras


Rego Almeida vê também a reserva de mercado a empresas nacionais como causa de
corrupção e propôs a abertura a das concorrências a todos os países que fizessem parte do
Banco Mundial, apostando na diminuição dos preços. [MRVCRA] Não houve esta
abertura, mas a proposta deixa antever a possibilidade de existir metodologia suficiente
para se analisar o preço real de uma grande obra, o que tornaria mais facilmente visível o
sobrepreço a ela aplicado.

3.5.4 Denúncia vazia


Foi uma denúncia vazia no sentido de que não surtiu efeitos jurídicos. Em 1992 Cecílio
do Rego Almeida, da Construtora CR Almeida, faz denúncias de corrupção e deixa claro
que a raiz da corrupção é a impunidade [MRVCRA] e um participante do sistema de
licitações públicas denunciar corrupção no sistema não foi considerado um indicador
suficiente para se abrir sindicância e apuração, acusação jurídica e abertura de processo
judicial.

3.5.5 Proposta de Roberto Requião


Requião propõe apenas que seja cumprida a recomendação da CPI do orçamento,
"quebrar o sigilo bancário de todos que detenham cargos públicos nos três poderes", e
acrescenta estender a medida aos dirigentes partidários, e também recuar no tempo o tanto
necessário para demonstrar há quanto tempo existe corrupção. [MRVCRA]

3.5.6 Denúncia de Cartel


Em 1992, houve a denúncia de formação de cartel de empreiteiras visando à corrupção:
não foram tomadas medidas de controle e prevenção. Embora interessante a ideia de que
as pessoas envolvidas combinaram entre si políticas de preço, condições de operação,
diretrizes políticas de quanto pagar aos políticos, ela não é plausível no momento atual.
Pode ter ocorrido no período em que Rego Almeida faz a denúncia, o que ele nega na
entrevista, [MRVCRA] mas a denúncia demonstra que cartel não é a solução quando se
visa a perpetuidade, haverá sempre descontentes para denunciar. O processo
necessariamente joga o jogo entre as articulações possíveis e aquelas necessárias para não
ser descoberto. Durante o processo de corrupção havido no governo Collor descobriu-se
que o presidente, todos os envolvidos com o poder político decisório e todos os
envolvidos com o esquema das empreiteiras têm de estar em condições de "provar" que
não sabem de nada: apenas um acordo em que as adesões são espontâneas e os papeis são

20
assumidos sem delegação de tarefas permite esta prática, como já se mostrou, acordo
tácito pelo Desejo em comum de corrupção. Em conclusão, quando Rego Almeida
desmente o jornalista dizendo ser mentira a formação de um cartel, o jornalista insiste na
afirmativa e Rego Almeida insiste na negativa, é possível que o funcionamento ainda
estivesse na base do acordo tácito, sem planejamento. Cada ator sabe qual o papel dele é
esperado e atua de acordo, e não se pode provar que todos estão mancomunados. A ideia
de formação de cartel serve para os propósitos da corrupção e de sua impunidade, os
culpados são apenas os empreiteiros, os políticos são inocentes.

3.5.7 O sistema de impunidade se modifica para


garantir penas mínimas possíveis
Na acusação de formação de cartel há nuances legais a serem consideradas. Se todos se
convencerem de que houve a formação de cartel, ficam sensibilizados a aceitar a
aplicação de penas cabíveis à formação de cartel. É preciso rever o histórico atual em que
foi feita novamente a denúncia de formação de cartel pela Procuradoria Geral da
República e o processo evoluiu para acordo de leniência, que necessita de uma acusação
para ser proposta. E o que é leniência? Tolerância. Entretanto, parece firmado o conceito
de que a corrupção atual tenha padrão de organização criminosa (http://lavajato. mpf. mp.
br/atuacao-na-1a-instancia/decisoes-da-justica), contudo, não se aplica a formadores de
cartel a punição de sequestro de bens que se aplica a organizações criminosas. O sequestro
de bens e a intervenção nas empreiteiras são medidas que garantiriam o que se pretendeu
preservar, o emprego de milhares de trabalhadores, sem a tolerância ao crime e à
corrupção. É de novo a manifestação de que a punição nunca será aplicada, certeza de
impunidade.
Não há a necessidade de ter havido discussão em que se chegasse a um consenso em se
propor acordo de leniência. Um indivíduo reflete sobre o problema proposto, formula
uma argumentação perante os demais os quais aceitam a solução, apenas confiando que
ela esteja dentro dos parâmetros pré-estabelecidos no corpo teórico que orienta a ação, no
caso atual há um corpo ideológico doutrinário com regras claras sendo seguidas. Este
corpo teórico ideológico determina um acordo prévio de conivência, mesmo que ao
sistema se agreguem indivíduos que se omitem e sejam coniventes por acordo tácito. Não
há formação de provas e apenas a sistematização dos eventos em termos descritivos pode
deixar transparecer uma doutrina e ideologia orientando o pensamento de cada um dos
envolvidos.

3.6 Denúncia de Paulo Francis


Em 1996, o jornalista Paulo Francis acusou a alta cúpula da Petrobras de ter contas na
Suíça, e foi processado, [CPPE] ele e não os por ele denunciados, inépcia do sistema em
combater a corrupção efetivamente. Pretende-se que a corrupção na Petrobras tenha
iniciado em 1996, como denunciara Paulo Francis, apura-se, no entanto, que a corrupção
se iniciou no governo Sarney e se institucionalizou no governo Collor. Juridicamente não
basta suspeitar que haja ilícito em andamento, naquele período eram necessárias provas

21
e hoje são suficientes indício, e não consta que Paulo Francis tenha feito sua denúncia
demonstrando os indícios de ilicitude, ou os autores da reportagem aqui citada não se
preocuparam com este detalhe, embora reconheçam que a suspeita de Paulo Francis
remonte a 1990, sendo "preciso reconhecer que a corrupção na estatal tem raízes mais
profundas". [PCCNRP ]
Aparentemente não houve a preocupação de se apurar os fatos no governo FHC, mas na
realidade houve omissão e conivência de todos os governos desde Collor, com a
participação do sistema de significação, normas e valores jurídico. Paulo Francis não
tinha provas contra os diretores acusados e o Poder Judiciário aceitou um processo contra
ele no valor de 100 milhões de dólares, condenando-o, o que o teria levado à depressão e
morte.

3.7 Submissão do Congresso ao Executivo


Em 2000, para Henrique Fontana, então deputado federal pelo PT, o Congresso é
submisso aos interesses do Executivo, que usa do tráfico de influência com os
parlamentares. Afirma que "o problema reside na impunidade" e só a mudança profunda
na estrutura do poder é capaz de mudar esta situação. [TF18J2] Não aponta qual o
mecanismo desta submissão, que se apura ser consequência do sistema de líderes de
governo e de partidos. Como o papel de líderes garante esta submissão e a impunidade?
A que preço garante os votos ao governo? O que se faz necessário é corrigir o papel dos
líderes políticos, deixando a eles apenas o papel atribuído pela Constituição: como
atualmente interpretado transformou a prática política em uma brincadeira infantil de
Boca de Forno, tudo que seu mestre mandar, faremos todos, submissão que exige seu
pagamento. O defeito não é na estrutura de poder, está na interpretação que dela se faz e
na omissão e conivência com as inconstitucionalidades e os ilícitos cometidos. Por
exemplo, quando o STF emite uma decisão "interpretando" a Constituição alterando o
que nela está explícito, transferir as funções da Câmara de Deputados para o Senado no
que se refere ao rito do impeachment, TODOS os políticos teriam de ter levantado sua
voz contra, o que não ocorreu, todos, ou quase, se submeteram à arbitrariedade de um
STF que legisla.
Em 2000, o senador Pedro Simon, pelo PMDB, declarou que "o Brasil é tido como o país
da impunidade e isso acontece pelo rol de fatos que vem ocorrendo, inclusive no governo
de Fernando Henrique". [TF18J2] O senador afirmou que o país está longe de ter uma
estrutura séria e responsável, porque a credibilidade está abalada. Não consta que tenha
feito denúncias e solicitação de investigação, nem contra o governo FHC, nem contra o
de Lula ou de Dilma. Acusar adversários de corruptos é apenas um jogo para ganhar
votos, da mesma forma como a instalação CPIs de corrupção se transformaram em um
modo de camuflar o acordo tácito de omissão e conivência.
Em 2000, para o deputado estadual Bernardo de Souza, pelo PSB, o Brasil já dispunha de
mecanismos suficientes para punir os responsáveis por atos ilícitos, a lei federal de
improbidade administrativa, Lei 8. 429. Ele defende como alternativa complementar uma
discussão ampliada em torno do código de ética da administração pública, com princípios

22
rígidos sobre a atuação no poder. [TF18J2] Ocorre que o Brasil sempre dispôs de
mecanismos suficientes para apurar e punir os atos ilícitos de políticos na condução da
Coisa Pública, os quais funcionam a favor da corrupção e não contra. Há milênios existem
política e corrupção na política e o acordo tácito de omissão e conivência entre os
políticos, e o que se reflete na inocuidade da Lei 8. 429.

3.8 Princípios Éticos e Morais x corrupção


Se Luis Roberto Ponte, PMDB, em 1991, havia percebido a impunidade como causa da
corrupção, acredita, em 2000, que não há qualquer tipo de solução que evite a corrupção,
senão os princípios éticos, morais e muita competência das pessoas que estão no poder.
Ponte defende a utilização de todos os meios para investigar as denúncias envolvendo o
alto escalão da Presidência. [TF18J2] O artigo 37 da Constituição prescreve a obediência
a princípios morais na administração pública direta ou indireta. O que se observa,
entretanto, ao lado da relativização da moral há a aceitação da não punibilidade de atos
imorais, facilitando que aquilo que é imoral possa ser legal, como, por exemplo, a venda
de consultoria por políticos na ativa.
De outro lado, condicionar a Moralidade a processos judiciais é um absurdo quando a
Constituição diz prezar a Moralidade sem dispor um artigo sobre punição os imorais.
Desde então, não se viu o crescimento da punição para os crimes de corrupção, assistiu-
se foi o crescimento da impunibilidade com a criação da certeza absoluta da impunidade.

3.9 Em 2000, a estruturação desestruturante da


Petrobras
O plano PP, elaborado por técnicos do governo Collor, se inspirou em orientação do CS
Fisrt Boston e no decálogo da privatização do Banco Mundial, recomendava a divisão da
Petrobrás em unidades de negócios para competirem entre si por melhores resultados. Foi
comentado na época ser uma estruturação que levaria a competição autofágica que
facilitaria a privatização ou destruição da Petrobrás. A reestruturação segundo este
modelo é concretizada, em 24 de outubro de 2000, pelo presidente da Petrobrás, o
brasileiro naturalizado francês Philippe Reichstul, dividindo-a em 40 unidades de
negócios e 20 unidades corporativas. Foi novamente apontado ser um modelo inadequado
para companhias petrolíferas, que quase levou a IBM e a British Petroleum à falência,
com prejuízos na ordem de US$ 4 bilhões e US$ 3 bilhões, respectivamente. [JCSRB] Se
a reestruturação possa ter sido boa ou não em termos de Bolsa de Valores, ela com certeza
foi boa para o sistema de corrupção em vigor, institucionalizado, criam-se mais cargos
executivos aonde colocar pessoas em cargos de confiança, o desmembramento serviu
como material de troca de favores e obtenção de votos nas casas legislativas, com os votos
individuais manipulados pelos líderes políticos.

23
3.10 Em 2009, a punição máxima: afastamento do
cargo
Historicamente, descoberto um foco de corrupção e um nome para ser colocado como
responsável, este é apenas afastado do cargo, havendo o direito de se tornar novamente
agentes públicos: Leoni Ramos, da era Collor, ressurge em 2009, como apurado pela
operação Lava Jato. Apenas o afastamento do cargo não é punição e tem o significado de
"deixou-se pegar, não serve para o cargo". Não foram encontrados indícios de que tenha
havido punição ressarcimento dos prejuízos e cassação de direitos políticos. Os agentes
públicos envolvidos não foram processados e não perderam o direito de exercerem cargos
de agentes públicos novamente.
Não é, contudo, coincidência que a BR distribuidora volte para as mãos de Collor em
2009, "em troca de apoio político à base governista no Congresso Nacional". [LRBDCP]
Por que Lula desconheceu a História da Corrupção, que a Petrobras e os fundos de pensão
começaram a ser solapados exatamente na BR Distribuidora? Por que ele e todos os
políticos com cargos públicos ou não, não se puseram contra a nomeação de Leoni Ramos
como executivo na BR Distribuidora? Por causa do acordo tácito de omissão e conivência.
Não importa também ao Poder Judiciário, em todas as suas instâncias, se houve
cometimento de crime no passado, é preciso que se prove ter havido no presente. Os
políticos com intenção de corrupção podem se articular à vontade para lesar o Bem
Público, a História não é levada em consideração no controle da corrupção.
A História caminhou o suficiente para demonstrar, pela quase bancarrota da Petrobras e
deterioração dos fundos de pensão, que o sistema dá a Certeza de Impunidade a partir já
do Sistema de Significação, Normas e Valores que rege a vida política do país: aquele
que comete um ato ilícito pode ser afastado do cargo e a ele retornar, bastando que todos
"esqueçam", "não saibam de nada" do ocorrido. Esquecer o ato corrupto e seus atores é o
mecanismo que garante, portanto, a perpetuação da corrupção.

3.11 Governo Dilma


Na crise atual, os crimes de responsabilidade fiscal foram cometidos na certeza absoluta
de que, gastando-se mais do que se arrecada, ficando o país a beira do caos, a maioria dos
políticos não votaria contra a aprovação das contas no final do ano. O governou contou
com a consciência que pede que tudo se faça para evitar a bancarrota total do país, também
um acordo tácito. De outro lado, não evitar a bancarrota representaria assumir a culpa
para si mesmo, isentando os autores do crime de responsabilidade. Também se
argumentou abertamente que punir as empreiteiras responsáveis pela corrupção vigente e
a dilapidação da Petrobras representaria fazê-las demitir em massa, piorando a situação
caótica a que o país chegou. É interessante como o guru da esquerda vermelha, Gramsci,
prescreve um sistema em que "intelectuais" revisem os conceitos e os valores morais e
culturais do país, que é seguido à risca, e surgem textos que procuram induzir a convicção
de que a corrupção é necessária ao desenvolvimento e ao bem-estar social, e a seguir a
utilização destes conceitos reciclados para garantir a continuidade do governo Dilma, ao

24
mesmo tempo em que garante a impunidade dos corruptos com acordo de leniência. Há
um sistema de impunidade vigente nos três poderes constituídos, executivo, legislativo e
judiciário e a única forma de desmontá-lo é descobrir cada um dos fatores que o
compõem. É não senso argumentar que corrupção sempre existiu e fazer o povo acreditar
que está em sua índole ser corrupto por adotar jeitinhos e a lei de procurar tirar vantagem
de tudo, e ao mesmo tempo ignorar os mecanismos que permitem a corrupção. É não
senso pensar que a corrupção nasceu com o socialismo vermelho que governa o país há
13 anos, o qual se defende dizendo a corrupção provir do governo que o antecedeu, outro
não senso. A corrupção já existia quando foi reinventada no governo Collor e culminou
no assassinato de PC Farias; o que houve desde então foi seu crescimento progressivo
fundado na CERTEZA DE IMPUNIDADE que se criou.
A certeza de impunidade está sutilmente incrustada no sistema político atual e um jogo
de interpretações impedirá que seja desmontado completamente. As interpretações da
Constituição e da Lei 1. 079, em 1992, para se construir o rito de impeachment que agora
se aperfeiçoa, contêm mecanismos que podem absolver qualquer presidente acusado de
atos ilícitos, bastando contar com uma maioria de 2/3 dos membros nas casas legislativas,
facilmente obtida pela má interpretação do papel de líderes, dando a eles direito de
imporem sua consciência à consciência de seus liderados, e da exigência constitucional
de 2/3 dos membros transformada em 2/3 dos votos, estes manipulados e conduzidos
pelas lideranças políticas. O que há de diferente no momento atual, na Operação Lava
Jato, é que se vislumbra um cenário em que o sistema de impunidade instituído nos três
poderes constituídos possa ser desmontado e nossos políticos assumam seus cargos
cientes de que nenhuma impunidade será permitida. Contudo, nada será conseguido se
não se compreender que o sistema de impunidade está calcado no acordo tácito de
omissão e convivência entre os políticos, no uso da Mentira e sofismas, mesmo que mal
fundadas em falácias mal articuladas.

3.12 Por que a denúncia a jornalistas e não


abertura de processos?
Por que a História registra a denúncia de corrupção a jornalistas e não a abertura de
processos judiciais? As denúncias são dirigidas a jornalistas, os quais, no denominado
jornalismo investigativo, procuram a admissibilidade da acusação e se ela procede de atos
atípicos e ilícitos praticados, e não são dirigidas às Instituições que constitucionalmente
têm este dever como função. Este questionamento não tem sido feito, não há a
preocupação efetiva com o fato de que o Sistema de Impunidade deixe ao jornalismo
investigativo a tarefa de apurar as denúncias. Se os três poderes que instituíram e mantêm
a certeza de impunidade se preocuparem com as denúncias, os consequentes processos
judiciais de apuração e punição caminharão em direção ao controle da corrupção. Como
se pode afirmar que são "os três poderes" e não elementos "podres" que dele participa?
Pelo contrato tácito de omissão e conivência de que todos os agentes públicos participam:
a corrupção nos fundos de pensão e na Petrobrás só durou tanto tempo por omissão e
conivência com todos os indícios e denúncias de que ela existia; neste período houve

25
muita palavra contra a corrupção e pouco ato efetivo, como veio a ser a Operação Lava
Jato. Aproveita-se de um erro na interpretação do que seja "denúncia" e do que seja
"acusação", cujo trabalho de diferenciação necessita ser realizado. Nada se pode fazer
juridicamente quando as denúncias são vagas, e são exigidas provas de ilícitos e autores
nas denúncias. O sucesso do jornalismo investigativo, abrindo diligências a partir de
indícios de que em tal instância do campo político e de governo há corrupção, nomeando-
se apenas o objeto, obras e órgãos de administração pública ou pessoas jurídicas,
determina que o judiciário pode, sim, aceitar denúncias vagas e apurar responsabilidades.
Se há denúncias de corrupção e estas se provam acusações juridicamente válidas pelo
passar do tempo, pelas consequências finais como no caso da Petrobras, a conclusão é
que não há, no país, em funcionamento um sistema de controle da corrupção, apenas
medidas paliativas convivem com um acordo tácito de omissão e conivência vigente nos
três poderes constituídos. A atuação do jornalismo investigativo e os louros que pôde
receber pela apuração dos crimes de corrupção no Brasil levam à certeza de que o sistema
judicial também se inclui na fabricação do acordo tácito: se a investigação não judicial
pode encontrar os culpados a partir de denúncias ditas juridicamente vagas, por que
motivo o Poder Legislativo, na fabricação das Leis, e o Poder Judiciário, na vigilância de
que as Leis sejam cumpridas, nunca teve instrumentos suficientes para terminar de vez
com a corrupção? Ocorre, no entanto, o contrário, quando forçados a enfrentar o problema
criam leis que não funcionam, tal como a Lei de Improbidade Administrativa que é
inócua, [L8429] ou modificam as leis segundo seu próprio arbítrio, alterando a função do
executivo, que não é legislar. O que está realmente acontecendo? O problema é que o
sistema beira à estupidez com a anuência dos três poderes, executivo, legislativo
judiciário: os próprios políticos acusados de corrupção criam as leis, criam as CPIs, criam
os processos judiciais e indicam os juízes que os julgarão.
Criam a sua impunidade, julgam a si mesmos e se absolvem, e como o povo a isto assiste
calado, os "analistas" encontram uma tolerância com a ilegalidade. Se o fato não tem sido
apontado como problema, como solucionar?

26
4 Certeza absoluta de impunidade
Com a operação Lava Jato há de um lado um esforço para se combater a Impunidade e
uma Certeza de Impunidade que se apoia também em nomes indicados para funções
jurídicas em várias instâncias, com a distribuição de cargos públicos, verbas, privilégios
e de cargos para parentes. Prova cabal da Certeza Absoluta é a ferida imposta à
Constituição pela nomeação de Procurador Geral da República para o cargo de Ministro
da Justiça, e a ainda promessa de recorrer da suspensão da posse imposta por ministro
do STF. Um presidente só toma decisões tão abertamente inconstitucionais quando tem
a Certeza Absoluta de Impunidade.

4.1 Sistema de Impunidade nos três poderes


constituídos
Qual a relação entre a propina que se pagava por Carta Régia em Portugal com a
propina objetivo atual da corrupção? Por que os analistas do tema não enxergam o
óbvio: a corrupção no Estado está relacionada com a produção de riqueza, os corruptos
fazendo o povo trabalhar em prol de seu enriquecimento, ainda que este seja colocado
em nome de laranjas? Por que a corrupção só é verdadeiramente punida quando se torna
excessivamente visível? Por que a impunidade é a verdadeira causa da corrupção? A
corrupção se dá pela vigência de um sistema de impunidade, um acordo tácito de
omissão e conivência entre os políticos e sua ocorrência demonstra a falha das leis ou
seus "interstícios". [CCOD]

4.1.1 Certeza absoluta de impunidade: diferença


entre o período Collor e o atual
1.1 Certeza absoluta de impunidade
Como fator circunstancial desde 1991, quando foram feitas as primeiras denúncias de
ilícitos ocorrendo na Petrobras e nos fundos de pensão, o poder constituído não tem
interesse real de acabar com a corrupção. Não foram criados mecanismos efetivos de
combate à corrupção, mas ao contrário, criaram-se mecanismos que dão a certeza
absoluta de impunidade, um Sistema de Impunidade nos três poderes constituídos,
Executivo, Legislativo e Judiciário. Em 24 anos, todas as formas de sofismas foram
usadas para que nada se fizesse para coibir a corrupção ao mesmo tempo em que se
vende, por marketing publicitário, ao povo a ideia de que a corrupção está sendo
combatida. A principal desculpa de que eram acusações sem provas é um sofisma que
tem sido aceito acriticamente: foram feitas denúncias, e estas não necessitam de provas,
apenas de indícios dos ilícitos. Por este erro de hermenêutica a corrupção de 1991 se
institucionalizou e chegou aos dias de hoje com força destruidora da estabilidade do
Estado. O caminhar da História prova que as denúncias continham acusações

27
admissíveis e verdadeiras: é erro de interpretação e compreensão da História não tomar
os fatos como provas contundentes e finais de culpabilidade.
O que diferencia a corrupção atual de toda a havida anteriormente é que se criou a
Certeza de Impunidade, com mecanismos que se aperfeiçoaram desde o Caso Collor
para blindar autores de corrupção e os ilícitos de governantes. A situação
socioeconômica a que o Brasil foi trazido nos últimos doze anos se deve exatamente à
CERTEZA ABSOLUTA DE IMPUNIDADE. A certeza absoluta de que a lei não será
cumprida é a mãe da corrupção.

4.1.1.1 Quem dá a certeza absoluta de


impunidade?
Quem dá a certeza absoluta de impunidade? O acordo tácito de omissão e conivência
entre os políticos, mesmo que em campos adversários: só não pode haver corrupção que
apareça excessivamente, quando se faz um teatro, sem consequências práticas reais, de
punição e de procura de controle da corrupção. Apenas o acordo tácito de omissão e
conivência explica não se ter obtido controle do processo de corrupção atual, apesar de
ter sido denunciado várias vezes a partir de 1991, estando em cena os mesmos atores
daquela época, e aperfeiçoados os mecanismos de impunidade por uso de falácias bem
articuladas em sofismas. Serviu apenas para o amadurecimento político do povo todo o
teatro havido contra a corrupção e toda desilusão com aqueles que conseguiram votos
com a promessa de uma política digna, fundada não apenas no que é legal, mas também
no que é Moral.

4.1.1.2 Quando a Certeza Absoluta de


Impunidade acabará?
Apenas quando o Poder Judiciário não estiver aparelhado para aceitar sofismas e
falácias e o STF ser realmente o órgão fiscalizador do cumprimento da Constituição e
das Leis. Este tempo ainda está longe, pela conivência e omissão reinantes, a decisão do
STF para o rito do impeachment é inconstitucional por transferir por meio de falácias
para o Senado a função dada pela Constituição à Câmara dos Deputados, admitir a
acusação e autorizar a instauração de impeachment para que o Senado processe e julgue
o presidente da República.

4.1.2 O principal instrumento da impunidade:


Mentira, Falácia e Sofisma
4.1.2.1 Corrupção e mentira
"Quando o representante do estado democrático esconde seus atos, engana, camufla a
realidade, impedindo de chegar ao conhecimento público àquilo que de fato deveria se
revelar, mas não os revela, justamente porque em razão desses atos eles obtêm

28
vantagens ilegais, surgindo, daí uma das práticas criminosas comumente chamadas de
corrupção". [OCRD]
A mentira e a simulação, fazer aparecer aquilo que não existe, e a dissimulação, não
fazer aparecer que existe, é usado e abusado pelos governos da esquerda vermelha no
Brasil, e na Venezuela. Parece um comportamento derivado de Gramsci, pela má leitura
de Maquiavel, com o esquecimento de que, na Política, que deve trabalhar com a
Realidade com a qual sobrevivem os eleitores, o excesso de mentira e de sofismas
desacredita o autor, por mais culto e bem-intencionado, fazendo-o perder votos.

4.1.2.2 Brasil, país da impunidade e da Mentira e


do sofisma
Como já demonstrado, o Brasil é, no momento, um país da impunidade e do faz de
conta, valendo o sofisma jurídico, formal, contando sempre com o acordo tácito de
omissão e conivência, não havendo a preocupação de desconstrução dos discursos
falaciosos, que têm aceitação passiva.

4.1.3 A impunidade está prevista nas leis e na


Constituição?
O Sistema de Significação, Normas e Valores jurídico garante a impunidade ao dar azo
a que se possa interpretar como não previstos na legislação serem crimes de conspiração
e traição os crimes de compra de aprovação de projetos de lei e mesmo medidas
provisórias e os atos políticos que levaram à corrupção institucionalizada, como no
mensalão e no Petrolão, tratando-os como crimes de irresponsabilidade, com foro
privilegiado. A ordem jurídica atual permite que tais crimes de corrupção cometidos por
políticos, se julgados e condenados levem a penas brandas e não obrigatoriedade de
ressarcimento dos prejuízos causados e das consequências advindas destes prejuízos.
Embora esteja previsto na Constituição os crimes contra a segurança nacional, é
possível interpretar-se que a corrupção institucionalizada não esteja prevista como crime
contra a estabilidade da República. A ausência na Constituição de previsão de crimes de
corrupção e suas punições, se lida junto ao fato de que a Constituição fora elaborada
pelos mesmos políticos comprometidos ideologicamente com a luta armada contra a
ditadura militar, eleitos para mandatos legislativos, em oposição ao voto vencido de
votação em separado para membros de uma constituinte. Promulgou-se uma
Constituição que representava não os objetivos e interesses da nação brasileira, mas de
um grupo comprometido "com ideais de longa data reprimidos pela ditadura militar (e
com a oportunidade de garantir a si mesmos privilégios e oportunidades). [. . . ] "Difícil
imaginar que os políticos daquela época abririam mão de tarefa tão importante, não
somente pela oportunidade histórica de defender ideais de longa data reprimidos pela
ditadura militar, mas também pela oportunidade de lhes garantir privilégios e
oportunidades em um raro momento da história do país". Se a Constituição tivesse sido
elaborada por uma assembleia formada por notáveis de todos os segmentos da sociedade

29
brasileira, com mandato exclusivo para esta tarefa, sendo dissolvida logo após sua
promulgação, " [BPCCC] e, assim, não é representativa da população brasileira, o que
tem se mostrado claramente na divisão, quase meio a meio, dos votos dados a
continuísmo da política ideológica que se pretende implantar no país, respaldado na
Constituição por eles mesmos elaborada. Em suma, a Constituição Brasileira não é
representativa de todos os segmentos da vida nacional.

4.1.4 Corrupção e foro privilegiado


A corrupção é apropriação de bens móveis do Estado por agentes públicos e privados, e
se aproxima mais de roubo puro e simples que de apropriação indébita, crime comum, e
o sistema jurídico desconhece este fato concedendo foro privilegiado para políticos em
cargo eletivo condenados por corrupção.
Não seria aconselhável o uso do termo "propina" quando o agente público recebe
vantagens para cometer ilícito: o que se faz é roubo puro e simples, em essência o
agente público apropria-se, para si ou para outros, de bens pertencentes ao Estado. O
agente público mancomuna-se com um agente privado que presta serviço ao Estado,
acrescendo valores ao preço cobrado, que é transferido do Estado para o agente público.
Em essência, o agente público apropria-se, para si ou para outros, de valor pecuniário
pertencente ao Estado. Deve-se concluir que, em essência, o ilícito de corrupção
praticado por agente público é um ato de improbidade que se aproxima do crime
comum, e dele se afasta pela interpretação atual por estar coberto por foro privilegiado a
quem dele tem direito. A propina é um pagamento que um agente privado paga a agente
público, de seu próprio bolso, é como a gorjeta que se dá a um garçom ou outro
prestador de serviço.

4.2 Punição apenas parcial: Prejuízos


secundários
A legislação não se preocupa de fato com a corrupção e sua correção, não prescrevendo
a responsabilidade dos grupos envolvidos não determinando o ressarcimento completo
dos prejuízos causados: quem pagará a conta da desvalorização da Petrobrás? Quem
pagará as indenizações que a Petrobras terá de pagar como resultado dos processos que
estão em andamento no exterior?
Em 1º de agosto de 2013, a Lei 12. 846 foi publicada no Diário Oficial com a seguinte
Redação referente à responsabilidade dos grupos econômicos:
Art. 4º § 2º As sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no âmbito do
respectivo contrato, as consorciadas, serão solidariamente responsáveis pela prática dos
atos previstos nesta lei, restringindo-se tal responsabilidade à obrigação de
pagamento de multa e reparação integral do dano causado (grifo acrescentado).
Não leva em consideração o valor da multa e sua abrangência: deverá cobrir o quê? E
não leva em consideração a reparação dos danos secundários. A Lei 8. 429, art. 16, §1º,
[L8429] também é insuficiente neste aspecto, prevendo o sequestro de bens suficientes

30
para cobrir a reparação do dano, mas quem arcará com a indenização que será imposta
pelas ações contra a Petrobrás? Quem se preocupou com o prejuízo imposto aos
beneficiários dos fundos de pensão? Pelo contrário, o acordo de leniência evita
exatamente que os donos das empreiteiras sejam prejudicados. Há um acordo tácito que
dá a certeza absoluta de impunidade e está sendo cumprido.
O que significa, então, "reparação integral do dano causado"? É assim que a Petrobras
deverá arcar com a indenização que será devida a acionistas estrangeiros, quando
ganharem suas ações judiciais, sem nenhuma responsabilidade de quem provocou as
perdas, os agentes corruptos, ativo e passivo.
Também, o Poder Legislativo e Judiciário não se manifestam a respeito: não há previsão
nas leis pela responsabilidade pelos danos secundários, mas pode haver leis pelas quais,
por analogia, torne os agentes corruptos responsáveis também pelos prejuízos
secundários. Entretanto, busca-se mal interpretar a lei e não dela extrair todas as
consequências: a reparação integral do dano causado abrange também os danos
secundários.

4.3 Quem garante a impunidade


A Corrupção é fruto da Certeza de Impunidade e quem garante a Certeza de Impunidade
é o Poder Constituído, com a postura do “nada vi e nada sei”, a conivência com atos
condenáveis e ou imorais, leniência com crime de responsabilidade fiscal, distribuição
indultos de Natal em pleno pós Carnaval, acordos de leniência. E o que é Leniência?

4.3.1 Garantia de impunidade por voto de


correligionários
Criou-se uma situação absurda, não verificado se apenas no Brasil, feitas as delegações
necessárias e descoberto o crime cometido pelo Presidente da República a punição fica
em dependência de votação de correligionários do acusado. É outro fator que garante a
impunidade: foi constatado que cometeu crime haverá votação se será considerado
crime e punido. Neste caso, a impunidade fica garantida com o voto de liderança, que é
voto de cabresto puro e simples, e bastando contar com a Situação montada por Chaves
na Venezuela para se perpetuar no poder. E quando a imensa maioria dos políticos está
envolvida em corrupção e os outros cumprem um acordo tácito de omissão e
conivência, sem nunca tomar atos de consequência prática?
A argumentação surgida no governo Dilma de que punir as empreiteiras responsáveis
pela corrupção vigente representaria demissão em massa, desemprego piorando a
situação caótica a que o país chegou. Esta argumentação dá uma certeza absoluta de
impunidade desde que se conte com maioria de votos nas Casas Legislativas, é ponto
pacífico que nenhum político desejará ser acusado de ter contribuído para o desemprego
maciço.

31
4.4 Impunidade e leniência
4.4.1 Ilegalidade tolerada
"Os ilícitos (e, portanto, a corrupção) têm sido colocados como resultado de o que cada
sociedade vai reconhecendo como normal e anormal, lícito ou ilícito, legítimo ou
ilegítimo", [OCRD] na suposição incorreta de que as sociedades têm a corrupção como
uma ilegalidade tolerada. É uma falácia difundida com pseudociência e se prova
absurda.

4.4.1.1 O que é ilegalidade tolerada?


Foucault [CCOD] especula sobre o que a sociedade vai considerar tolerável ou
intolerável, legítimo ou ilegítimo, lícito ou ilícito em cada uma das esferas sociais,
fugindo do conceito primário do que é crime: mesmo que haja movimentos de
tolerância ao ilícito, crime ocorre sempre que uma Lei não é observada. A Ideologia
transfere para a sociedade algo que fica restrito à esfera administrativa do Estado, nos
três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, a tolerância à ilegalidade.

4.4.2 Sistema de impunidade montado nos três


poderes constituídos
A ilegalidade tolerada nada mais é que instrumento do Sistema de Impunidade montado
nos três poderes constituídos, um acordo tácito entre os detentores de poder, executivo,
legislativo e judiciário, para que todos usufruam de vantagens indevidas a seu tempo,
ainda que em forma de privilégios. A constatação da existência de um Sistema de
impunidade montado nos três poderes constituídos ocorre simultaneamente à percepção
da corrupção como uma das formas do crime organizado que questiona radicalmente os
fundamentos das práticas de governo, abrindo fossos entre "o que é" e o que "deve ser"
na gestão, minando a confiança na política. Neste contexto a corrupção deixa de ser
vista como uma "ilegalidade tolerada" e começa a ocupar sua dimensão como crime,
ligado a outros crimes. [OCRD]

4.4.3 E o que é Leniência?


"O mesmo que lenidade. Excessiva tolerância". (http://www. dicionarioinformal. com. br/leniência/). "Tolerância
com o que é ilícito ou proibido; condescendência". (http://www. nossalinguaportuguesa. com. br/dicionar…/leniência/) O
que significa? Isto quer dizer que o Acordo de Leniência com os corruptores já estava
em vigência a partir do momento em que pessoas responsáveis pela condução do País
ou pela fiscalização de Estatais puderam dizer “eu não sei de nada”, sem terem sido
interpelados por outros órgãos e instituições do Poder Constituído, contando com
silêncios de políticos ou com alaridos de que nada resulta.

32
São conceitos que se pretende derivados de Maquiavel, O Príncipe:
"Em um sentido bastante maquiaveliano, é importante distinguir a política do
mundo real e os valores normativos que são passíveis de acordo racional, o que
explica esse contexto de tolerância. É dessa forma que a corrupção é normal à
política, apesar de todos os esforços para impedi-la". [TCBANM]
Esta afirmativa soa como o crime é normal à sociedade, e, em consequência, deve ser
tolerado. Não é maquiaveliano, mas maquiavelismo. Ocorre que Maquiavel mereceu
uma leitura tendenciosa e malfeita por Gramsci: embora O Príncipe descreva vários
tipos de governo com vários tipos de prática, incluindo a corrupção, Maquiavel pede
"(ao) príncipe governante, ao contrário do que dele se tem lido, piedade, fé, integridade,
humanidade, religião e o exemplo que pede seja seguido é Moisés". [GRPCMP]
É necessário perceber que a corrupção não é normal na política, apenas existe um
sistema de impunidade que vai desde o "governante que não sabe de nada" até às
decisões que justificam os atos corruptos ou favoreçam a corrupção por meio de
sofismas a partir de falácias bem articuladas. Se, segundo Bobbio, [OCRD] o Estado
Moderno é o Estado em que a transparência dos atos do poder (governo) institui o
estado de direito, e o corolário é o Estado em que impera a corrupção, no sentido amplo
da filosofia moral, não impera o estado de direito: a Mentira usurpa os direitos dos
cidadãos fazendo-os crer que têm direitos.
A existência de um sistema que garanta a certeza absoluta de impunidade não faz com
que os atos ilícitos cometidos por políticos e governantes sejam "normais", lícitos. A
incapacidade de o homem comum compreender os meandros e interstícios das leis, sua
leitura da realidade por meio da compreensão imediata, esta manipulada por agentes
mediadores a serviço dos governantes omissos e dos políticos corruptos, sua
impossibilidade de denunciando, ser ouvido, faz com que "o povo tolera a corrupção"
seja apenas um mito, outra falácia a ser reconhecida e combatida.

4.4.4 Tolerância à corrupção na base da vida


democrática pós-1985
A antinomia entre normas morais e prática social da corrupção no Brasil revela uma
outra antinomia: "a corrupção é explicada, no plano da sociedade brasileira, pelo fosso
que separa os aspectos morais e valorativos da vida e a cultura política. Isso acarreta
uma tolerância à corrupção que está na base da vida democrática pós-1985".
[TCBANM] Filgueiras sugere que a pretensa tolerância do brasileiro com a corrupção
seja posterior a 1985, antes da promulgação da Constituição, mas bem posterior à
institucionalização da corrupção no período Collor. Não se pode esquecer o trabalho de
doutrinação marxista nas escolas públicas, em que, se pretendendo instalar um regime
socialista prepara-se a mente dos cidadãos para o aceitar; tem havido um movimento de
modificação da cultura, a la Gramsci, com artigos que tomam como corrupção todos
atos ilícitos nas relações sociais, construindo a tolerância com a corrupção. Surge, então,
a afirmativa recorrente de que a corrupção é necessária para o desenvolvimento.

33
Constrói-se um eleitorado que é tolerante com a Mentira e o embuste e sugere que a
corrupção é necessária a um programa político partidário que procura a dissolução dos
princípios morais necessários à vida pública.
"Porém, sua função de desenvolvimento é cumprida desde que ela esteja sob o controle
das instituições políticas, de tipo moderno. Do ponto de vista dos benefícios, a
corrupção pode agilizar a burocracia, ao tornar mais rápida a emissão de documentos e
autorizações formais por parte do Estado. A corrupção azeita o desenvolvimento ao
estabelecer um laço informal entre burocratas e investidores privados que favorece o
desenvolvimento econômico (LEFF, 1964)". [TCBANM]
É o analista fabricando a tolerância da ilegalidade, não aponta que a burocracia
determina a corrupção, mas, ao contrário, que esta agiliza aquela, favorecendo o
desenvolvimento econômico. Pode-se buscar informações para nutrir argumentos a
favor ou contra a corrupção, não apenas no sentido direto, do tipo "a corrupção é
necessária ao desenvolvimento econômico", mas também de forma indireta, quando o
texto construído aponta em direção à aceitação da corrupção como ilegalidade tolerada,
que é também um conceito mal estudado no contexto da corrupção política: há
tolerância ou há acomodação frente a uma corrupção exercida e sobre a qual não se
consegue atuar impedindo-a?
É um sofisma em que houve o esquecimento de que a corrupção está relacionada à
produção de riqueza, ainda que de forma ilícita, e não entra em contexto com todas as
informações de que a corrupção subtrai recursos exatamente destinados ao
desenvolvimento. O sofisma deturpa a Realidade, o desenvolvimento é necessário à
corrupção, não havendo gastos de governo com obras e serviços não há liberação de
verbas sobre as quais pagar propinas.

4.4.5 A corrupção é meramente um instrumento


de poder
Lord Acton afirmou que "o poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe
absolutamente", [CPWIKI] que parece ser uma afirmativa verdadeira, mas é uma falácia
ao tentar justificar a corrupção como necessária à sociedade. "A demonstração de que o
poder político absoluto é intrinsecamente e totalmente corruptor foi cabalmente feita
pelo exercício do poder totalitário pelo nazismo alemão e pelo stalinismo comunista
russo", [CPWIKI] No entanto, o verbete na Wikipédia se refere à corrupção moral em
seu sentido mais amplo, em que tudo se justifica para se impor uma ideologia ao povo.
A corrupção é, como já apontado, um apanágio dos sistemas autoritários e, embora aqui
não se aprofunde no tema, é consequência da necessidade de manter-se o povo submisso
ao poder, e não uma necessidade para que o povo alcance o desenvolvimento desejado.
É meramente um instrumento de poder. Assim, pode-se enxergar o marketing de que há
uma corrupção necessária e a justificativa encontrada na índole imoral do brasileiro
como um fator de fabricação da aceitação de um regime totalitário que se deseja impor
ao povo brasileiro. A corrupção é um instrumento de controle do povo e da produção de

34
riqueza, extraindo esta da energia daquele. Todos são iguais perante a lei, mas se, e
somente se, tiverem o como pagar pelo direito.

4.4.6 A corrupção reduz custos


A afirmação que a corrupção reduz custos porque diminui os procedimentos
burocráticos legais exigidos em função do fornecimento de subornos ou propinas (que
são menores que os custos burocráticos) [CPWIKI] não se sustenta numa análise mais
profunda. A razão é que tais propinas induzem os funcionários públicos e empregados
de empresas privadas interessadas em barreiras legais de entrada em seu setor aos novos
concorrentes a formarem grupos de interesse e a pressionar os respectivos parlamentos
para criarem novas leis e normas legais. Os legisladores corruptos acumpliciados com
os agentes públicos e privados de corrupção imporão maiores custos em um novo ciclo
de corrupção. A redução de custos aumenta o lucro e o lucro pertence ao corrupto e não
à sociedade. Criada a necessidade pessoal do recebimento da propina o resultado é
"aprimorar-se" mais a burocracia para que a propina se prove cada vez mais necessária.
Apesar deste tipo de afirmativas, não há um movimento de diminuição da burocracia,
mas de aumento.

4.4.7 As causas da corrupção fabricam a sua


necessidade
As causas da corrupção são apenas parte do mecanismo de sua perpetuação são causas e
consequências da corrupção. Se a corrupção "facilita" o desenvolvimento, reduz custos
e gera empregos, não é que seja necessária, são argumentos que procuram convencer a
todos de sua necessidade. No processo de retroalimentação que constrói e mantém o
sistema pró-corrupção, a partir das causas é construída a necessidade da corrupção.
Também a corrupção constrói a necessidade do desenvolvimento, ou melhor, de obras
públicas que possam receber a rubrica de desenvolvimentista, sendo um exemplo o
número de estádios de futebol que foram construídos para a Copa, muitos dos quais serão
transformados em elefantes brancos com o tempo, se já não o são.

4.4.8 Corrupção tolerada, mas por quem?


A tolerância à corrupção como necessária é dada pela moralidade política, que
"especifica os valores que fundamentam o julgamento moral da corrupção que
significam, dessa forma, pressupostos que informam o conteúdo do julgamento moral".
[TCBANM] Assim, constrói-se um corpo teórico que justifica a corrupção, e os
políticos podem praticar a corrupção sem que se julguem imorais. Deve-se partir do
princípio de que a corrupção não pode ser tolerada, configurando um ato ilícito não
apenas contra o Estado, mas contra todos os cidadãos: a corrupção mantida em níveis
mínimos é requisito para o estado de direito. A corrupção não é fator determinante de
que se aja em resposta à necessidade de forma ilícita quando se está diante dos limites
da necessidade, como se pretende. [TCBANM] Ao contrário, a corrupção cria a
necessidade, e assim foram construídos tantos estádios de futebol para a Copa de 2015.

35
Questiona-se, então: o número de estádios de futebol construídos aumentou o
desenvolvimento do país?
Corrupção tolerada, resta saber tolerada por quem? O conceito aplica-se mais a
corrupção escondida: não se sabendo dela ela é tolerada? (Ver A falta de transparência)
Não há ilegalidade tolerada, mas ilegalidade consensualmente adotada ainda que
tacitamente por aqueles que estão em situação de poder cometê-la.
A corrupção é uma ilegalidade tolerada pelos políticos e a tolerância é dada por um
sistema de certeza de impunidade e um acordo tácito de omissão e conivência: grupos
que disputam o Poder aceitam determinadas ilegalidades, ou as propõem em um jogo de
aceitação mútua, para que se equilibrem como forças atuantes: em nenhum momento
pode-se dizer que o povo administrado pelo governo tolere a corrupção e as tais
ilegalidades toleradas. Procura-se não perceber que a Ilegalidade Tolerada é apenas a
teorização sobre os mecanismos de aceitação da corrupção e dos atos ilícitos,
relativizando o Direito a partir do poder econômico.

4.4.9 Ilegalidade tolerada e sentido não unívoco


dos termos
Tem-se então que os corpos teóricos permitem a impunidade da corrupção
simplesmente por os formadores de opinião não adotarem definição adequada do que
seja corrupção, com o surgimento de divulgadores, de forma direta ou indireta, de que a
corrupção seja meramente um ilícito e que deva ser tolerada. Assim, quando o
legislador permite vários sentidos para um mesmo termo está participando dos
mecanismos de impunidade, facilitando os argumentos falaciosos que a ela levem.
O conceito de ilegalidade tolerada nasce de uma visão distorcida da realidade: uma vez
instituído o ilícito em uma situação em que não se tem Direito por não exercício do
Poder e da autoridade, as diversas classes se constroem da maneira possível, organizam-
se apesar dele. Como se forma uma estrutura pode parecer que em se retirando o ilícito
a estrutura se rompa, e pode parecer que, em dependência do ilícito, haja tolerância. É
mais necessidade de convivência pela sobrevivência, com o detalhe de que o ilícito de
quem exerce o Poder não é percebido por todos que a ele se submetem. Só é possível
falar de ilegalidade tolerada apenas para aqueles que cercam o Poder, aqueles que se
beneficiam indiretamente dos ilícitos cometidos por quem governa.
É este o caso do sistema de impunidade estabelecido nos três poderes constituídos no
Brasil: todos juntos procurando manter o sistema, mesmo quando fazem oposição. Uma
justiça que faça olhos cegos a ilegalidades toleradas não é justiça.

36
4.4.10 Acordo mútuo de tolerância entre
detentores de poder econômico e aqueles que
podem exercer controle sobre eles
Enquanto as análises da corrupção procuram demonstrar sua necessidade para o
desenvolvimento político, econômico e social, demonstram como os detentores do
poder decisório se articulam para a tolerância mútua. Descrevem a construção de
máquinas políticas que visam influenciar as decisões já no nível legislativo, "por meio
da persuasão das elites partidárias". [CPAFHC]
Sem a visão correta do que ocorre na Realidade torna-se impossível administrá-la a
favor da Sociedade e do indivíduo. Mesmo Fernando Henrique Cardoso [CPAFHC] se
deixa levar pela teorização que descreve inadequadamente a Realidade e os
acontecimentos que entre as Coisas Reais ocorrem e, apesar de denunciar que Lula dá
legitimidade ao ilícito a que se denominou "toma lá, dá cá", ou seja, a distribuição de
cargos "para garantir apoios", transfere para a sociedade, a transformação de um "o
desvio em norma mais ou menos aceita pela sociedade". [CPAFHC]A História,
contudo, é clara em demonstrar que o brasileiro não tolera, desde longa data, a
corrupção e os ilícitos cometidos por políticos, estejam ou não em exercícios de cargos
eletivos. No período que aqui se procura cobrir, de Jânio Quadros ao momento atual, as
eleições majoritárias se deram a políticos que conseguiram convencer o povo de que
acabariam com a corrupção, com boas intenções, ou com má fé, mentindo para
conseguir os votos. Em seu artigo intitulado "Corrupção e poder", de 6/11/2011, o ex-
presidente deixa implícito que a tolerância da ilegalidade é entre os agentes políticos,
em um acordo tácito: Fernando Henrique não deixa bem claro que a distribuição de
cargos públicos para garantia de apoio e votos é exercício do poder mediante corrupção,
mesmo que a ocupação de cargos de governo não possa ser considerada vantagem
indevida obtida por um político. A grande omissão que reina quanto a este aspecto é o
silêncio que se faz a nomeações pelo executivo de jovens inexperientes, parentes de
agraciados de que se depende de alguma forma, para o cargo de desembargador, por
exemplo, ou a aceitação de que candidatos a juízes supremos, que não preencham os
critérios exigidos por Lei de notório saber e ilibada reputação, sejam apresentados ao
Congresso para serem "escolhidos" por votos manipulados por lideranças partidárias e
de governo. Não havendo o preenchimento dos critérios exigidos pela Legislação
vigente, os cargos que foram preenchidos desta forma estão ocupados ilegalmente. Não
é purismo no seguimento da Lei, é o seguimento da Lei: ou é obedecida ou houve
ilícito. Esta conivência e omissão dos políticos é uma das portas que permitem a
corrupção.

4.4.11 É um mito, a tolerância não é da população


A corrupção ser tolerada não é a regra, apenas uma parcela da população segue a
tolerância que os políticos que comandam sua mente aceita e acha normal. No entanto,
esta tolerância foi construída por doutrinação, e as pessoas comuns que acreditam ser
37
tolerável são guiadas por encantamento por palavras e um dia acordarão e deixarão o
estágio de imaturidade. Não há citações de artigos que determinem a veracidade da
afirmativa por pesquisas idôneas como tem sido a tolerância com a corrupção pelo
homem comum através do tempo.

4.4.12 O que é o Direito nas sociedades com


ilegalidade tolerada?
Foucault analisa a questão da legalidade-ilegalidade para dizer "longo período de
legalidade dos suplícios, quando os suplícios eram impostos por leis". Eram legais no
sentido apenas de que estavam prescritos em leis, estas em si "ilegais", quando
desrespeitavam o homem submisso em favor de quem o submete. A forma de se
combater a corrupção exige que se faça a distinção entre lei legal e lei imposta por um
agente detentor do poder, ainda que econômico, a Lei do Mais Forte. É apenas na
vigência de leis "ilegais" que se poderá conceituar "ilegalidade tolerada", para a
sobrevivência e a obtenção da submissão é necessário que o que se impõe seja
desrespeitado muitas vezes, lembrando o ditado para "os amigos tudo, para os inimigos
a Lei".
Não se podem comparar sociedades legais "ilegais", em que a lei é imposta para fazer
valer a vontade do poder, com sociedades "legais" em que se pressuponha a igualdade
de direito para todos. Isto por quê? Não eram ilegalidades toleradas, mas mera
"condição do funcionamento político e econômico da sociedade", [FVP] e assim, nas
situações de autoritarismo, seja prevalecendo o Poder de um monarca ou uma ditadura,
as Leis determinando o direito do detentor do Poder não podem constituir-se em
Direito, mas em Falta de Direito: o Direito em essência não era o que estava prescrito
nas Leis, mas o que era tolerado. Há, portanto, todo um trabalho de pesquisa a ser
realizado: o que é o Direito nas sociedades que sobreviviam política e economicamente
na base das ilegalidades toleradas? Da mesma forma, nas sociedades atuais que se
pretendem democráticas não cabe a existência de ilegalidades toleradas.
Não há ilegalidade tolerada, a lei escrita difere da lei consuetudinária, a que deixa a
sociedade fluir. Embora ainda uma conclusão parcial,
"As camadas mais desfavorecidas da população não tinham privilégios, em princípio:
mas gozavam, no que lhes impunham as leis e os costumes, de margens de tolerância,
conquistadas pela força ou pela obstinação; e essas margens eram para elas condição tão
indispensável de existência que muitas vezes estavam prontas a se sublevar para
defendê-las; as tentativas periodicamente feitas para reduzi-las, alegando velhas regras
ou subutilizando os processos de repressão, provocavam sempre agitações populares, do
mesmo modo que as tentativas para reduzir certos privilégios agitavam a nobreza, o
clero e a burguesia". [FVP]
Uma grande falácia que não corresponde à História, as revoluções se fizeram pela
crueldade do poder sobre o homem comum e a aparência de tolerância é dada pela
necessidade de sobrevivência. A história da ilegalidade tolerada é a história da

38
submissão do homem por quem detém o poder, pela força ou por ser o controlador dos
meios de se produzir riqueza.

4.4.13 Ser obrigado a aceitar não é tolerar


Apregoa-se uma "tolerância à corrupção" pelo brasileiro [TCBANM] sem levar em
consideração que o homem do povo é obrigado a conviver com a corrupção e isto não
significa que a tolera. Não se leva em consideração também que a ideia de tolerância à
corrupção não se casa com a eleição de todo político que, por sua oratória, convença o
povo que acabará com a corrupção. A imoralidade do brasileiro é apenas suposição, e
não um fato comprovado; é uma afirmativa que generaliza excessivamente, o que é
suficiente para provar-se uma afirmativa falsa, uma falácia. Contudo, há uma forte
influência religiosa na formação do caráter do brasileiro, que está sendo combatida para
a implantação da ideologia marxista seguindo-se as recomendações de Gramsci, e em
breve afirmativas deste naipe serão verdadeiras.

39
5 A desconstrução da lei de licitação a
partir do governo Lula
A Lei de Licitações, 8. 666/93 foi denunciada ineficiente em 2010 com o anúncio de
investimento público pelos PAC 1 e 2, obras da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016.
[ILPEC] Há o reconhecimento de estar viva a indústria ilícita de licitações, contra a qual
não se tomam medidas concretas, - não se tomam medidas contra a corrupção, mas a seu
favor. Quem faz a crítica é Luis Roberto Ponte, [PSPS] o autor da Lei 8. 666.
"Seguindo diretrizes do ex-presidente (Lula), no final de junho de 2011, com a
justificativa de que o país precisaria ter agilidade na contratação das obras e serviços para
a realização da Copa do Mundo, o Governo Dilma editou a Medida Provisória nº
527/2011. Numa tramitação relâmpago, em menos de dois meses, o País ganhou a Lei nº
12. 462, de agosto de 2011, que institui o Regime Diferenciado de Contratações Públicas
(RDC)". Roberto Ponte [PSPS] denuncia tratar-se de uma Lei que flexibiliza e, ao mesmo
tempo, fragiliza todo o processo de contratação de obras e serviços públicos até então
regulados pela Lei de Licitações. Votou-se tudo que o seu mestre mandou, acriticamente,
revogando para determinadas obras a Lei 8. 666/83.

5.1 Licitação sem projeto pronto: uma causa óbvia


da corrupção
Argumenta-se pressa para iniciar as obras, embora tanto a Copa de 2014 e as Olimpíadas
já estivessem há muito anunciadas, e retira-se a exigência de se ter um projeto prévio para
iniciar a chamada para licitação. Como se pode dar o preço de uma construção pesada
sem se ter um projeto prévio? Fazendo a integração da licitação do projeto e da obra, a
empreiteira deve apresentar um projeto (pré-projeto), e se vencer executará as obras. O
governo não tem um projeto a executar e delega às empreiteiras dar o preço para um
projeto e uma proposta de preço para sua execução. O Executivo legisla e dá ao sistema
pró-corrupção o que ele tanto deseja: um projeto aberto de construção de obras com preço
indeterminado, a ser construído durante a execução da obra. O que significa, no entanto,
não ter projetos prontos para as obras federais? Única e simplesmente falta de
planejamento.

5.2 Crítica de Luis Roberto Ponte


A MP 630/13, convertida na Lei nº 12. 980, de 2014, altera a Lei no 12. 462, de 4 de
agosto de 2011, institui o Regime Diferenciado de Contratações Públicas - RDC. Para
Luis Roberto Ponte, [DKPC, LRPEPE] a Lei retorna as licitações à situação anterior à
Lei 8. 666:
Ressuscita dispositivos obscuros do Decreto-Lei 2. 300. Legaliza mecanismos de
corrupção utilizados antes da Lei 8. 666. Tornar sigilosos os orçamentos das obras até a
abertura dos envelopes:

40
O que associado à desclassificação das propostas com preços inferiores a um valor
mínimo era muito usado para direcionar uma obra pública ao parceiro escolhido, quando
em conluio o governante utiliza um valor mínimo bem alto e o fornece à empreiteira por
ele escolhida, garantindo a vitória na licitação por preço tão elevado quanto desejarem.
Usa critérios subjetivos no julgamento das propostas, com "nebulosos conceitos técnicos,
ambientais e econômicos (Art. 4º, e vários outros dispositivos nele disseminados)";
Um mecanismo que também foi usado para justificar a obra a quem desejasse.
Associa, na mesma licitação, a realização do projeto e da obra (Art. 9º), com prazo de 30
dias para a entrega da proposta.
Torna impossível o julgamento objetivo; a falta de projeto prévio facilita o
superfaturamento; o prazo de 30 dias para entrega das propostas é incompatível com a
confecção da proposta e de um projeto sério, e impossível de ser cumprido
responsavelmente por quem não tenha tido anteriores informações privilegiadas, que
contém a sugestão de formação de cartel, além de excluir as empresas de menor porte.
A previsão de se "pagar valores adicionais ao empreiteiro como prêmio por desempenho,
qualidade, prazos etc. (Art. 10)":
Dá abertura para acréscimos subjetivos de pagamento e deixa em aberto o valor final da
obra, ao desrespeitar a barreira dos 25% para acréscimos de valor estabelecida na Lei 8.
666. Não é, desde Collor, o governo a fonte de pressão para o pagamento de propinas?
Basta, então, mudar o nome "propina" desde que não se mude a essência da Coisa
Nomeada.
O homem moderno ainda não aprendeu que a nomeação das Coisas da Realidade está
sendo manipulada fazendo-o raciocinar pelo Nome e não pela essência da Coisa Real a
que se dá o nome. Como assim? Houve a inversão do processo usual de previsão de multas
se não há o cumprimento de prazos, e legaliza o pagamento de propinas agora com o
nome de "prêmio". Este mecanismo ludibriou a quantos? Quantos o perceberam e se
calaram em nome do acordo tácito de omissão e conivência? Políticos há que foram
alertados da jogada e se calaram.
As licitações ainda são a porta inicial da corrupção. As denúncias de Roberto Ponte
novamente se confirmam. A corrupção na Copa 2014 é ainda um livro fechado, estão
envolvidas na construção dos estádios as mesmas empreiteiras. "Andrade Gutierrez
confessa suborno na Copa e pagará multa de R$ 1 bi". [AGCSCP]

5.3 Crítica de Pedro Simon, anulação da lei 8.666


Em 2014, o senador Pedro Simon [PSPS] discursa sobre o acerto da Lei 8. 666 e critica a
Medida Provisória 630/13, que, “pela sétima vez a modifica, para expandir seu espectro
de aplicação para outras obras e outros contratos que vão além das intervenções feitas
para atender à Copa do Mundo”, incluindo agora “contratações passíveis de serem feitas
sob esse regime, que tenham como objeto obras e serviços de engenharia para construção,
ampliação e reforma de estabelecimentos penais e unidades de atendimento

41
socioeducativo”, ao lado de medidas que visam a não paralisação de obras. Denuncia que
o substitutivo da Senadora do Paraná, Gleisi Hoffmann, “estende o RDC para todas as
licitações e contratos da União, dos Estados e Municípios” e comenta “o que no início era
feito para a Copa do Mundo, depois se estendeu para entidades de educacionais. E agora
é para todos os contratos firmados pelo Governo Federal”.
O que Pedro Simon denúncia é o acometimento da Lei 8. 666 por doença como a
Hanseníase, com perda de partes gradativamente, ou seja, a Lei 8. 666 está sendo
revogada por amputações sucessivas de seu alcance. Pedro Simon mostra a validade da
Lei 8. 666, apontando a renegociação e queda para quase a metade de preços contratados
com o Ministério dos Transportes, a consequente livre concorrência. Assim, a Lei 8. 666
surtiu os efeitos esperados e fica altamente suspeita a revogação da Lei ainda que para
casos específicos e não seu aperfeiçoamento. Pedro Simon, e outros aqui não apurados,
prega no deserto; o sistema de omissão e conivência permitiu que houvesse a alteração
da Lei de Licitação imposta por Medida Provisória, ou seja, por responsabilidade da
presidente que a editou, e o resultado foi o que se esperava: "de repente, sem mais nem
menos, entregamos as obras aos empreiteiros para eles fazerem como bem entendem, e
estão aí os estádios construídos com três, quatro, cinco vezes mais". [PSPS]

5.4 A Lei de licitações é novamente criticada em


2015
Tendo sido a Lei 8. 666 anulada paulatinamente por um processo sutil pelo qual não se
pode afirmar que tenha sido revogada, é hoje possível encontrar quem a afirme cheia de
falhas e formalismo e queira sua reformulação. O processo da articulação entre as Coisas
Reais que subjaz às palavras que descrevem a Realidade é invisível, mas pode ser
enxergado mediante uma parada e suspensão de julgamento, uma busca da evidência não
pelo cartesianismo como ensinado, mas como modificado por Artaud, duvidar não até
encontrar as evidências, mas até "destruir as evidências". As evidências são apenas
aglomerados de palavras que se colocam sobre os fatos da Realidade escondendo-os.
A Lei 8. 666 perdeu sua validade sem ter sido revogada, mas por alterações sucessivas
estendendo sua não observação a várias obras do governo, com tendência a abranger todas
as obras. O executivo passou a legislar por meio de medidas provisórias sobre as licitações
e a situação atual voltou a ser a mesma denunciada pelo autor da Lei 8. 666, em 1991, as
licitações e as contratações das grandes obras e construções públicas continuam a ser o
grande foco de corrupção, depois de uma tentativa de seu controle. As propinas foram
institucionalizadas com o nome de "prêmio" por cumprimento contratual. A intenção de
se combater a corrupção foi vencida pela intenção de manter a corrupção.

5.4.1 A inconstitucional Medida Provisória


no.703/15: Acordo de leniência
A MP 703/13 altera a Lei 12. 846 (RDC) que dispõe sobre acordos de leniência não tem
sentido em um sistema em que a mentira a fraude o sofisma são as regras fundamentais.

42
O acordo de leniência é o mais recente instrumento do sistema de impunidade com a
certeza absoluta de impunidade: procura-se adaptação, se o país não pode parar, cria-se o
governante que não sabe de nada; se a empresa não pode parar, cria-se o acordo de
leniência. O fato de o Acordo de Leniência se inspirar em práticas internacionais não
diminui em nada a análise até agora aqui realizada, uma vez que a corrupção é
internacional e está em vigor em todos os países em maior ou menor grau de acordo com
o maior ou menor grau de acordo tácito de omissão e conivência entre os políticos.

5.4.2 Críticas à MP 703/15


5.4.3 É inconstitucional
A MP 703 é inconstitucional. [MP703V] O executivo legisla ferindo o artigo 62,
parágrafo 1º, inciso I, alínea 'b' da CF que veda a edição de MP sobre matéria de direito
penal, processual penal e processual civil. Também é inconstitucional por pretender
"limitar a atuação dos Tribunais de Contas apenas ao momento posterior à celebração dos
acordos". Não se pode deixar de lembrar-se da reclamação de Lula de que a fiscalização
do TCU atrapalha a governabilidade, leia-se, a corrupção.

5.4.4 Perdoa os crimes de corrupção havidos, por


modesta devolução do produto do crime
Modesto Carvalhosa, [MCMPE] em dezembro de 2015, analisa a MP que instituiu o
acordo de leniência. Por uma promessa de seguir código de ética e fazer auditorias
internas, etc., dá impunidade às pessoas jurídicas, para que possam continuar contratando
com o Estado, e ficando livres de todos os processos judiciais, sem multa e sem
ressarcimento de prejuízos, se não houve modificação posterior ao artigo citado.
Carvalhosa compreende ser a legalização da corrupção no país, que é a grita geral como
se vê em pesquisa na Google, e não contradiz o que está expresso na MP nº 703/2015.
[MP70315] O sistema político brasileiro dá a certeza de impunidade à "pessoa" que tem
os recursos para cometer a corrupção e pune os "laranjas" destas pessoas. A MP 7003 é
falaciosa, fruto da má interpretação do que seja "pessoa" e "pessoa jurídica":
"''Pessoa' é o ente físico ou coletivo suscetível de direitos e obrigações, sendo sinônimo
de sujeito de direito. Já 'sujeito de direito' é aquele que é sujeito de um dever jurídico, de
uma pretensão ou titularidade jurídica, que é o poder de fazer valer, através de uma ação,
o não cumprimento do dever jurídico, ou melhor, o poder de intervir na produção da
decisão judicial". [MHDCDC] "Além das pessoas físicas ou naturais, passou-se a
reconhecer, como sujeito de direito, entidades abstratas, criadas pelo homem, às quais se
atribui personalidade. São as denominadas pessoas jurídicas, que assim como as pessoas
físicas, são criações do direito". [PMTDP] (Transcrito de Wikipédia).
A pessoa jurídica, deste modo, é idêntica à pessoa física no que respeita ao Direito. Esta
alteração dada para acordo de leniência tornando inimputáveis as pessoas jurídicas não
podem ser analisada fora de um Sistema de Significação, Normas e Valores em que o

43
fluxo de ideias e pensamentos se faz em função não apenas do Desejo, mas nitidamente
da Intenção de corrupção. O corpo teórico deste SSNV tem sido montado paulatinamente
produzindo afirmativas como "a corrupção é necessária para o desenvolvimento
econômico e bem-estar social", é uma ilegalidade tolerada, "o fim justifica os meios".
Punir pessoas físicas vinculadas a pessoas jurídicas dando a elas a autoria da corrupção é
esquecer que executivos única e simplesmente seguem a Personalidade da pessoa jurídica
que representam. Isto fica bem claro no caso brasileiro em que as empreiteiras têm
estrutura de família, como explicito em seus nomes jurídicos, Camargo Correia,
Odebrecht, Mendes Junior, e estão presentes no processo de corrupção desde o período
Collor, quando os executivos que seriam punidos não eram os mesmos que hoje
receberiam punições pela corrupção promovida pela empreiteira.
Também determinar a suspensão de qualquer "processo em curso em qualquer órgão que
tenha como objeto as licitações e contratos envolvidos no acordo de leniência" fere a
autonomia do TCU, por limitar as competências do controle externo outorgadas pela
Constituição Federal. [MP703V]

5.4.5 Dificulta a descoberta dos agentes políticos


da corrupção
Para o procurador da República Carlos Fernando Lima, principal negociador de acordos
de delação na Operação Lava-Jato, a MP dificulta a descoberta dos agentes políticos da
corrupção. [MPALCP]

5.4.6 MP 703 Anula a lei 8.429


A MP 703 anula a lei 8. 420, que estabelece no parágrafo 1º do artigo 17 a vedação de
acordo em ação de improbidade, "alterando, pois a legislação processual". [MP703V]

5.4.7 “Vocês não sabem do que somos capazes”


Percebe-se que o executivo altera toda a legislação que procura controlar a corrupção
tendo se transformado no dono absoluto do orçamento, apesar da representação teatral do
Congresso de que exerce este controle. "A mensagem que fica é a de que, se necessário,
quando interesses poderosos estão em jogo, o governo federal fará alterações necessárias
para salvar empresas, ou quem mais a coalização de partidos entender importantes para a
manutenção do status quo" [MPALCP] Interpreta-se que o governo federal fará o que for
necessário para manter a situação da corrupção. A corrupção não financia a implantação
do regime político a que se aderem o partido do governo e os partidos que o suportam?

5.4.8 Justificativas da edição da MP 703


Justificou-se a MP como objetivando evitar que as investigações causem mais
desemprego, [MPALCP] o que é uma falácia quando o que se salva são as empresas.
Justificar a alteração da Lei de Licitação pela prevenção de desemprego foi a mesma
usada por Lula em 2010, quando reclamou da fiscalização do TCU, no caso da Refinaria

44
Abreu e Lima. Lula conseguiu a liberação de recursos com a argumentação de que a
fiscalização paralisaria as obras e teria um prejuízo financeiro e perda de 25 mil empregos.
[TSBOP] A ameaça de paralisação de obras e desemprego surtiu o efeito imediato de
liberação de recursos e o efeito em longo prazo de prova de que a paralisação que seria
imposta pelo TCU na fase inicial da obra era necessária. O governo "comprou" um
superfaturamento de mais de 17 bilhões por liberar 13, 5 milhões por interferência
indevida do então presidente: a todos passou despercebido quem teria orientado Lula,
Reafirma-se, agora, à empreiteira que não será punida, pode culpar o governo por
paralisações nas obras e ameaçar desemprego. Contudo, se em lugar da certeza de
impunidade tivesse a certeza de que não entraria em novas licitações, as obras só
paralisariam se a empreiteira estivesse em bancarrota.

5.5 Acordo de leniência e corrupção necessária


Justificar acordo de leniência com a preservação do emprego sugere estar a MP 703
fundada na ideia de que a corrupção seja necessária ao desenvolvimento econômico e ao
bem-estar social. Esta ideia é uma falácia, sendo a Realidade outra, o funcionamento da
corrupção exige que haja um desenvolvimento econômico para que ela ocorra. Da mesma
forma, o conceito de ilegalidade tolerada é útil ao sistema da corrupção e justifica a
necessidade da corrupção para o bem-estar social. A corrupção solapa os recursos
públicos e dificulta a vida do povo, principalmente os mais pobres. Qualquer sociedade
corrupta que se despreocupe do bem-estar social da massa não conseguirá que haja
insatisfação popular que se manifeste em votos e perpetuação do sistema político que
sustenta a impunidade da corrupção.

5.5.1 O Estado assumir a empresa


A argumentação de que uma empresa pode falir se for condenada é falaciosa, o Estado
pode assumir as empresas preservando os empregos, em vez de as quebrar.

5.5.2 Corrupção tolerada? E a intervenção


judicial?
Os estudiosos do funcionamento da política percebem seu distanciamento das normas
morais, com a aceitação de que "na política, um pouco de desonestidade pode cumprir
uma função importante". [TCBANM] Esta "função importante", no entanto, é cumprida
em detrimento de alguém ou alguma instituição, em lucro de quem tem poder decisório
ou influência sobre ele. É o modo como a corrupção funciona e procura-se modificar o
Sistema de Significação, Normas e Valores da Sociedade para a aceitação de uma
tolerância à ilegalidade, justificando uma corrupção que se volte para o desenvolvimento
econômico ou social. É interessante como o sistema político em vigência no País retira
das pessoas jurídicas a responsabilidade do crime de corrupção e coloca sob as costas das
pessoas físicas que a fazem funcionar, ao mesmo tempo em que formadores de opinião
procuram criar os mecanismos de atenuação do crime de corrupção: o culpado é a pessoa

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física que administra a empreiteira, que não será punida, pois houve desenvolvimento
econômico e social permitidos pela corrupção.
O absurdo desta justificação da corrupção como ilegalidade tolerada é vista no "e se" no
momento atual houvesse ocorrido uma explosão de desenvolvimento e de bem-estar
social: neste caso, toda a corrupção estaria justificada e a Operação Lava Jato teria sido
abortada em seu início, se tivesse sido iniciada.
Não é este o espírito dos acordos de leniência promovidos com as empreiteiras envolvidas
no Lava Jato, tolerância com a corrupção para que não haja desemprego? Contudo, há
outros mecanismos jurídicos que podem garantir o emprego, mesmo punindo-se a
empresa corrupta, a intervenção judicial ou sequestro de bens, que não foram cogitados,
preferindo-se ceder ao poder econômico e modificar a Lei, adotando a leniência. O que
temos? Teóricos analisam mal o funcionamento da Realidade e criam uma tolerância a
que Lei seja desrespeitada; criam conceitos de tolerância à ilegalidade frouxos que se
dissolvem facilmente, o homem do povo não tolera a corrupção, apenas convive com ela,
se sabe que ela existe, por ser impotente contra o estado de coisas vigentes. Então, a Lei
é modificada tornando a "tolerância à ilegalidade" algo legal, previsto em lei, acordo de
leniência. Fica escancaradamente claro que a tolerância à ilegalidade é exercida não pelas
pessoas comuns de um Estado, mas por aqueles que elaboram as leis, que as executam e
que fiscalizam o seu cumprimento, Legislativo, Executivo e Judiciário.

5.5.3 Intervenção judicial


A adoção deste instrumento esbarra, contudo, no fato de que, em essência, o que houve
na Petrobras foi a intervenção federal com a indicação de executivos que cederam à
intenção de corrupção, ou que foram escolhidos porque cederiam à intenção de corrupção.
Qualquer intervenção judicial nas empreiteiras esbarraria na indicação de executivos por
um sistema político que se mostra corrupto, no momento uns na situação cometendo
ilícitos e outros na oposição cumprindo um acordo de omissão e conivência: desde 1991
houve várias denúncias de corrupção na Petrobras e nos fundos de pensão, várias CPIs de
apuração de corrupção, e nada foi feito até a Operação Lava Jato, que ainda corre o risco
de ser abortada em seus efeitos práticos pelo sistema político pró-corrupção em vigor.

5.5.4 Sequestro de bens


Não se cogitou também do sequestro de bens como previsto no art. 125 e ss do Código
de Processo Penal.

5.6 O sistema político pró-corrupção vigente


retorna o país ao estado anterior à Lei 8.666
Uma questão não foi levantada: quem orientou a presidente Dilma na edição da MP que
alterou a Lei de Licitações? Todos se esquecem, ou fazem de conta esquecer, que a
corrupção está institucionalizada desde o governo Collor, e que os agentes públicos e as
empreiteiras são praticamente os mesmos atores da corrupção daquele período. Os

46
governos de Lula e Dilma editaram medidas provisórias revogando a Lei 8. 666, em
pequenas anulações sucessivas e ampliação dos limites das exceções concedidas nas
licitações de obras e construções governamentais. Estas medidas provisórias foram
transformadas em leis simplesmente por os políticos, uns serem marionetados pelo
executivo, aprovando tudo que seu mestre mandar, e outros por discursarem contra sem
tomarem medidas efetivas contra o estado de coisas atual. Inconstitucionalidades são
cometidas a toda hora pelo executivo e referendadas pelo STF e todos aceitam
passivamente: neste caso, qual a Constituição brasileira, a que está escrita ou a
Constituição flexível e volúvel que está na mente dos supremos juízes federais?Em suma,
houve ingerência de Lula para que a Lei 8. 666 fosse alterada, levando a presidente Dilma
a editar medida provisória para apressar a contratação de obras necessárias à Copa de
2014 e as modificações revogam a Lei 8. 666, em essência. Fica transparente o papel do
executivo como um fator pró-corrupção e a inépcia administrativa do governante:
anunciado em 2007 que o Brasil sediaria a Copa, havia tempo hábil para a licitação de
projetos e das obras, sem necessidade de interferir nas Leis vigentes. Roberto Ponte
denunciou, em 1991, que a fonte da pressão para o pagamento das propinas é o próprio
executivo e todos fazem de conta que nada sabem e aprovam a MP que modifica a Lei de
Licitação e a seguir a Medida Provisória 630 que altera Lei que instituiu o RDC, [PSPS]
estendendo-a a outras obras não relacionadas com a Copa. E depois aprovam a MP 703.
Tudo que seu mestre mandar, faremos todos. Estas MPs são aprovadas e a Lei 8. 666 é
gradativamente descaracterizada, e continuará sendo, sem nunca ser revogada. O
problema maior é que o Executivo legisla e todos se omitem coniventemente, respeitando
o sofisma do voto de liderança.
Observa-se em atuação o mesmo mecanismo de desconstrução da fiscalização do
orçamento pelo Legislativo. Quanto ao orçamento, a partir das recomendações da CPI do
Orçamento criam-se mecanismos fiscalizadores no Legislativo, com comissão de
orçamento, qualquer que seja o nome que tenha recebido, e aprimoram-se os mecanismos
fiscalizadores no Tribunal de Contas da União. Estes mecanismos fiscalizadores são
paulatinamente desconstruídos culminando na situação atual em que o Executivo é o dono
absoluto do Orçamento e a ação do Tribunal de Contas da União é dissolvida no
mecanismo de voto por líder manipulando a consciência de liderados, estes recebendo
cargos ou verbas por descontingenciamento, ou apenas a promessa de seu recebimento.
É preciso dizer, o TCU apenas representa um papel para dar satisfação pública, teatro,
embora o exerça melhor que o Congresso Nacional. Qual o valor prático de uma
fiscalização rigorosa e a acusação de crime de responsabilidade fiscal se a aceitação da
acusação dependerá de voto dos cúmplices no processo de deterioração do uso da coisa
pública? Só há um resultado prático, algumas pessoas enxergarão o absurdo e o
denunciarão, mesmo que preguem no deserto.
Na desconstrução da Lei 8. 666, em pauta, Ponte denuncia os mecanismos de
funcionamento da corrupção por empreiteiras a partir da licitação, e percebe a necessidade
de lei complementar que regulamente o artigo 37 da Constituição. Elabora então a Lei 8.
666, com a ajuda de Fernando Henrique Cardoso, afirma, e obtém êxito inicial no controle
da corrupção. A Lei 8. 666, não podendo ser revogada, passa a ser então paulatinamente

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criticada e não é modificada, mas aproveita-se a pressa para diferenciar regras de licitação
para as obras do PAC e da copa do Mundo, depois para as obras das Olimpíadas, e depois
para outras obras do governo, mostrando estar aberto o mecanismo pelo qual as obras e
construções públicas possam ser incluídas nas exceções à Lei 8. 666, basta assinar uma
medida provisória utilizando-se uma falácia que o acordo tácito de omissão e convivência
aprova e transforma em lei. As exceções passam a ser maior do que a própria Lei. Não se
encontrou análise sobre estas leis que passam a ser exceções à Lei 8. 666, e não se
pesquisou para este trabalho a corrupção que possa ter havido nas obras do PAC, da Copa
e das Olimpíadas.
Revogação da lei de licitação retornando à situação vigente no governo Collor, acordo de
leniência com perdão dos ilícitos cometidos mediante o pagamento de uma multa
simbólica (o Imposto de Renda não recolhido sobre o valor roubado?), indultos de Natal
em pleno carnaval ou Semana Santa: com estes mecanismos fica garantida a perenidade
da corrupção no país, apesar da Operação Lava Jato: ainda vão surgir novos surtos de
corrupção.
No sistema pró-corrupção em vigência, com o impeachment de Collor percebeu-se que o
governante não pode saber de nada; com Lula, percebeu-se que, além de não saber de
nada, o governante não pode apelar para a Lei de Gerson e querer levar vantagem; com
Dilma, percebeu-se que é preciso blindar o presidente para não haver solução de
continuidade do governo, o que quebra ou dificulta a corrupção forçando o reinício da
montagem do sistema, é preciso blindar o presidente com argumentações que justifiquem
seus atos: assim, todos os atos presidenciais que favorecem a corrupção estão justificados
por falácias, seja preservando os benefícios sociais (e não houve uma avaliação adequada,
imparcial, destes benefícios sociais como causa da situação econômica precária atual);
seja preservando os empregos, etc. O sistema pró-corrupção flui nos subterrâneos sob as
palavras e consegue anular um a um os mecanismos que foram criados para o controle da
corrupção e com a anuência de todos os homens públicos por acordo tácito de omissão e
conivência. Houve sim protestos da oposição contra várias das medidas, mas protestos
sem efeitos práticos, que seria a revogação do sistema vigente que dá a certeza de
impunidade com abertura de processos judiciais. Recorre-se facilmente ao STF para
determinar os caminhos a serem seguidos, mas se aceita um STF que tem de se reunir
para decidir se é válida a nomeação para ministro de Estado de um procurador geral da
república: todos fingem esquecer que a vedação está absurdamente clara na Constituição
e que o julgamento é sumário.

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6 Teoria do Domínio do Fato
Analisa-se a Teoria do Domínio do Fato para se compreender sua aplicabilidade nos
crimes de corrupção.
A teoria do domínio do fato foi criada por Hans Welzel em 1939, [1] e desenvolvida pelo
jurista Claus Roxin (em Täterschaft und Tatherrschaft, 1963), ganhando projeção na
Europa e na América Latina. [TDFEDP]
"Na verdade, a teoria do domínio do fato é muito simples". Roxin, quando os crimes do
nazismo começavam a ser julgados, procurou corrigir a situação para que os membros do
Partido Nazista fossem responsabilizados não como partícipes, mas como coautores dos
crimes cometidos por subordinados que respondiam a suas ordens. É este o princípio: o
governante e seus auxiliares induzem os crimes e seus subordinados não podem ser
responsabilizados sozinhos, a subordinação hierárquica funciona como "mandante do
crime". [SADFFG]
A Teoria do Domínio do Fato não se aplica, no entanto, diretamente aos crimes de
corrupção contra o Estado. O Sistema de Significação, Normas e Valores da Corrupção
(SSNV) não é sistematizado e é mais complexo que o do Nazismo, que tem um corpo
ideológico-doutrinário bem definido, mesmo nos detalhes que são meramente
consuetudinários. O SSNV da corrupção corre à parte do SSNV cultural, preenchendo,
no entanto, o caldo cultural com textos em que se articulam falácias, como os que vendem
o pensamento de que a corrupção é necessária ao desenvolvimento econômico e ao bem-
estar social. ou que é da índole do brasileiro ser corrupto e isto se reflete na política. Não
foi encontrada na Internet uma sistematização destes textos.

6.1 Definição de autor


Na proposta inicial de Welzel-Roxin são três os critérios para se determinar quem é o
autor do ilícito: aquele que possui domínio da ação; que possui domínio de volição e/ou
cognição; que possui domínio funcional (caso clássico de coautoria). [TDFLNJ]

6.2 O que é volição?


Volição (do latim volitione) é o processo cognitivo pelo qual um indivíduo se decide a
praticar uma ação em particular. [Wikipedia] É, portanto, Intenção. Em verdade, na
Teoria do Domínio do Fato, "parte-se do conceito restritivo de autoria, ciente do critério
distintivo entre autor e partícipe, para sintetizar elementos de ordem subjetiva, tais como
volição e cognição”. [TDFLNJ]
Em essência, a Teoria do Domínio do Fato se define por um autor que tem a volição,
cognição e o domínio do fato, ou seja, é capaz de iniciar ou impedir sua execução, por ter
conhecimento e domínio dos fatos.

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6.3 É uma teoria compatível com o Código Penal
Brasileiro
O Ministro Celso de Mello criticou os comentários que se referem à tese como algo novo,
pois considera que o domínio do fato já é aplicado amplamente no Brasil. "O fato é que
os crimes de poder são delitos de domínio e cuja prática justifica, sim, perfeitamente
compatível com o Código Penal Brasileiro, o domínio do fato”. [MSTDF]

6.4 Não apenas é compatível, adotou a TDF


Vários juristas admitem que o Código Penal adotou a teoria do domínio final do fato ao
adotar a teoria finalista da coerência lógica. [FMRDP]

6.5 Interpretações desencontradas


As interpretações da Teoria do Domínio do Fato são desencontradas, o que tem origem
nos textos de acusação e defesa nos casos em que já foi aplicada, com uso de falácias e
sofismas, como fica demonstrado em vários autores que acusam o mau uso da teoria na
condenação de José Dirceu. Não se encontrou uma abordagem sistemática compreensiva
do tema, e como já apontado, falta uma abordagem que a torne aplicável a crimes de
corrupção.

6.6 Requisitos para aplicação da Teoria do


Domínio do fato
"Os requisitos objetivos básicos que norteiam a possibilidade de aplicação da Teoria do
Domínio do Fato e os defeitos para a aplicação na corrupção seriam:
a) Presença de estrutura de poder com organização hierárquica;
b) Fungibilidade dos executores: ou seja, são substituíveis depois de usados,
[FNCL13] sem que se interrompa o processo;
c) Prova da emissão de ordem de execução delitiva do dominador para os
dominados. No entanto, em acordos tácitos não há emissão de ordem de execução,
como será demonstrado;
d) Prova da ciência e do controle sobre a ação dos executores. [TDFLNJ]Trata-se de
estudar a Realidade da prática de ilícitos em busca dos fatores determinantes da
consecução da corrupção.

6.7 Autoria
Na Teoria do Domínio do Fato parte-se do conceito restritivo de autoria, ciente do critério
distintivo entre autor e partícipe, para sintetizar elementos de ordem subjetiva, tais como
volição e cognição, (agregados da Teoria Extensiva de autoria), que compõem esta
doutrina de essência híbrida (objetivo-subjetiva). [TDFLNJ] Welzel, um dos autores
iniciais da Teoria, considera autor de ilícito "todo aquele que contribui com alguma causa

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para o resultado. " [TDFAC] É autor aquele que tem poder sobre os demais autores do
crime, poder dado por comandar a ação de seus subordinados ou saber dos crimes e se
omitir na sua interrupção, [PTFCDC] a que se deve acrescentar "tendo o poder de o
interromper".

6.8 Poder de comando


Também como interpretada, "para que seja aplicada a Teoria do Domínio do Fato, é
necessário que o ocupante do topo de uma organização [. . . ] comande os agentes diretos
e o fato; " [https://pt. wikipedia. org/wiki/Teoria_do_domínnio_do_fato]
Há que se perceber, contudo, que este comando é também tácito, as ordens são inferidas
e não recebidas.

6.8.1 Emitir ou não emitir a ordem para o ilícito


A teoria do domínio do fato, interpretado a partir de Roxin, [PCETSP] "quem ocupa
posição de comando tem que ter, de fato, emitido a ordem. E isso deve ser provado",
afirma que é autor - e não mero partícipe - a pessoa que, mesmo não tendo praticado
diretamente a infração penal, decidiu e ordenou sua prática a subordinado seu, o qual foi
o agente que diretamente a praticou em obediência ao primeiro. Na relação de hierarquia
acentua-se sempre que "o superior dá ordem a subordinado".

6.8.2 Cumprir ordens de superiores


É ingenuidade supor que em sistema pró-corrupção ocorra "dar e receber ordens" para a
execução do ato ilícito, exceto excepcionalmente ou quando já praticada como crime
organizado com certeza absoluta de impunidade. Toda contratação ilícita que se queira
manter secreta e que se verbaliza por ordens dadas cria a possibilidade de sua descoberta
ao se levantar suspeita de sua existência que dê motivo a interrogatório, pelo cometimento
de contradições. É de se supor que aquele que verbaliza os termos do acordo tácito para
corrupção é descartado, por representar risco de o processo se dar a conhecer. Também
quem é ingênuo o suficiente para verbalizar o acordo tácito de que participa traz o risco
de entregar todo o esquema em um interrogatório.
A ordem é também dada tacitamente, muito mais no gesto de não interromper a
consecução do ilícito. De outro lado, no acordo tácito, um agente não vai fazer afirmativas
que o comprometa, do tipo "eu entendi que". Em verdade, em um acordo tácito, o superior
("mandante") está em condições de transferir a responsabilidade para o subordinado,
provando, se preciso, que "ele entendeu que" e arrolando provas de sua falta de caráter.
O subordinado se cala sabendo que não há como provar que o superior deu ordem – que
na verdade não foi dada, levou-se à indução de sua compreensão. As ordens vão aparecer
claramente verbalizadas talvez na execução (assassinato) de algum personagem do
próprio grupo, ou de alguém fora dele, que ameace o grupo, bem como nas organizações
mafiosas em que o não cumprimento da lei do silêncio é punido com a morte.

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A depender destas interpretações em busca de quem ordenou nunca se haverá de controlar
a corrupção em qualquer país, por mais que os órgãos fiscalizem as contas de governo e
paralisem as obras com as evidências de ilícito.
Quando o envolvido na corrupção é o governante, desejar saber se ele deu ordens para
que se cumpra o ato ilícito é fruto do desconhecimento da hierarquia em um Estado, quem
comanda não é o governante, este apenas executa as ordens emanadas da Ideologia que
controla sua mente e de seus correligionários e a compreensão desta Ideologia por todos
envolvidos é que determina o que se fará em cada situação. É lógico que houve ordens
explícitas em todos os governos autoritários para que se realizasse um crime comum.
Contudo, é preciso que sejam estudadas as ordens emanadas de ditadores para se verificar
se os atos de corrupção cometidos o foram a partir de ordens explicitas do tipo "faça isto".
É esperado que, quando o sistema de impunidade montado nos poderes constituídos é
altamente efetivo, garantindo a Certeza de Impunidade, ou no momento em que esta
garantia começa a falhar, aumenta o número de ordens emanadas, podendo mesmo se
ordenar que sejam cometidos atos de corrupção no primeiro caso, e no segundo caso
ordens para que se tomem medidas de acobertamento do delito, principalmente em
situações de desespero. De qualquer forma, repete-se, é condição que mantém o sistema
pró-corrupção a não verbalização de ordens ou de intenções. As circunstâncias
determinam o que será realizado por cada um dos envolvidos, tacitamente. Quando a
corrupção se torna institucionalizada, qualquer Ideologia se deixa misturar com o Sistema
de Significação, Normas e Valores Pró-Corrupção: o governante passa a ter a intenção de
praticar o ilícito de corrupção, embora possa ter argumentações que "provem" seu
empenho em combater a corrupção.
Na postulação de Roxin, é preciso provar que, quem comanda "sabia do ocorrido e
mandou seguirem frente, sem nada fazer". [PTFCDC] Na corrupção quem comanda o
orçamento, o governante, não manda seguir em frente com o ilícito, nem sugere, nem se
omite por impedir que siga em frente. Simplesmente deixa seguir em frente tendo o poder
de interromper o processo é a ordem dada para que se prossiga.

6.8.3 É acordo tácito


Não há comando dos fatos nem por parte do agente público nem do privado. Apenas há
o deixar fluir o sistema que foi colocado em movimentação e que tem vida própria, com
os mecanismos de sua proteção desenvolvidos durante este período (estruturação da
organização pró-corrupção por retroalimentação às ações e reações positivas ou negativas
a elas). Sendo o resultado de regras acordadas tacitamente, mais por gestos e palavras que
apenas sugerem, ou escritos produzidos de forma que se possa afirmar serem referentes a
outras coisas, e mesmo dessas obter provas de "veracidade".

6.8.4 Não há ordem explícita para se cometer o ato


Os agentes da sociedade que procuram atuar no controle da corrupção desconhecem haver
um acordo tácito entre pessoas com a intenção de corrupção. Não se forma uma
organização criminosa no sentido clássico do termo, não se trata de uma quadrilha que se

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reúne pelo chamado "vamos assaltar o banco tal" com distribuição de tarefas entre os
participantes. Na defesa de José Dirceu no mensalão aplicou-se a Teoria do Domínio do
Fato e argumentou-se em sua defesa que seria necessário provar que teve participação na
corrupção e ordenou seguir em frente. [PTFCDC] O agente político escolhe agentes
públicos que conseguem perceber o funcionamento do sistema pró-corrupção e tenham
vencido os escrúpulos morais de dar continuidade ao processo concordando tacitamente
em participar do ilícito, e assim não há emissão de ordens e produção de provas
documentais clássicas, principalmente verbais, orais ou por escrito. Não há mesmo a
possibilidade de confissão de que o agente político tenha convidado o executor a
participar de atos ilícitos.
A exigência de que é preciso provar ter sido ordenado por alguém que se faça o ilícito
pode ser válida para o crime comum organizado, não se aplica na organização e pessoas
para cometer corrupção contra o Estado, ou talvez mesmo contra empresas. Embora seja
uma interpretação que aparece sempre na mídia, é ingenuidade suprema verbalizar o que
se vai fazer por acordo tácito. A corrupção é um crime que procura não produzir provas,
e, ordenando claramente a execução todos os corruptos executores diminuiriam suas
culpas denunciando aquele que emitiu a ordem.

6.9 Provas x indícios


Segundo a Teoria do Domínio do Fato, para que a autoria seja comprovada basta a
dedução lógica e a responsabilização objetiva, supervalorizando-se os indícios. [https://pt.
wikipedia. org/wiki/Teoria_do_dominio_do_fato] Pode ser má interpretação do anônimo que contribuiu
para o verbete da Wikipedia, pois para Roxin, a decisão de praticar o crime "precisa ser
provada, não basta que haja indícios de que ela possa ter ocorrido". [PCETSP] As duas
informações levam à compreensão de que os indícios são supervalorizados, mas não são
suficientes como prova. A prova é uma: o governante foi alertado pelo sistema de
fiscalização e controle e mesmo assim liberou as verbas. O problema é a insistência em
se pedir provas [SADFFG] para se condenar algo que procura não deixar provas e a
argumentação de que afinal quem aprovou a liberação das verbas foi o Congresso,
escondendo o fato de que as votações se fazem como mero teatro, correligionários
brincando de tudo que seu mestre mandar e opositores fazendo um teatro (ação sem
consequências práticas) de que são contrários à aprovação, mas sendo omissos quando a
liberação da verba pró-corrupção é aprovada.

6.10 Domínio do fato


Tem domínio do fato quem tem o controle final do fato e pode decidir se interrompe ou
não o processo de ilicitude. [TDFAC]

6.11 O dever de saber os atos de um subordinado


Roxin [PCETSP] argumenta que "a posição hierárquica não fundamenta, sob nenhuma
circunstância, o domínio do fato. O mero ter que saber não basta". É preciso discordar de
Roxin, cuja afirmativa não se aplica sequer a crimes de fundo ideológico, em que, por

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convicção, o governante ordena a execução do ilícito. Nos governos autoritários são
prescritas regras de controle para o conhecimento rigoroso dos atos dos subordinados e
também dos cidadãos. Neste caso, "o mero ter que saber" é suficiente. Nos regimes
democráticos, há o dever de ter de saber não de todos os atos dos subordinados, mas de
todos os atos ilícitos dos subordinados. Como agente institucional, seja em empresa
privada ou instituições governamentais, o superior tem o dever de conhecer os ilícitos
praticados por subordinados.
Em se tratando de um órgão de Estado que tem um agente público escolhido por quem
participa do Poder decisório, o Executivo, não se há de eximir o agente político de culpa
dos atos ilícitos praticados pelo agente público por ele indicado, por confiança. Talvez
possa se eximir de culpa em se tratando de atos ilícitos esporádicos, mas nunca numa
corrupção sistematizada e institucionalizada, com um sistema de fiscalização e controle
que funcione efetivamente. Não se tem conhecimento de que Lula, ao interferir na função
fiscalizadora do TCU tenha sido advertido que cometia um ilícito, e não se podendo
admitir inépcia dos órgãos fiscalizadores do cumprimento da Constituição e das leis das
contas da União que dela derivam, não apenas os ministros do STF e TCU, mas todos os
políticos, houve conivência, a manifestação do acordo tácito de omissão e conivência em
atuação: o delito não foi denunciado.
Uns comentadores afirmam que o simples "dever saber" é suficiente, outros negam. com
o argumento de ir contra o princípio de presunção de inocência. A Teoria do Domínio do
Fato foi criada para crimes de cunho ideológico, em que o governante sabe e não pode
negar o ilícito, diferentemente dos processos de fluxos de pensamentos e atos sociais em
que o governante sabe e tem argumentos, ainda que falaciosos, mas aceitos
consensualmente, que permitem negar que saiba, quando o SSNV que rege o fluxo de
acontecimentos é consentido tacitamente, como a corrupção.
"O acolhimento da Teoria do Domínio do Fato faz-se impor, quando o seu titular deve
conhecer as circunstâncias fáticas que fundamente o domínio sobre os acontecimentos".
[ELMPFM]
Nenhum Presidente da República pode ignorar o foco de corrupção, as obras e serviços
públicos contratados, e as pessoas jurídicas que a cometem e se houver um que não
conheça as circunstâncias fáticas que levam ao ato ilícito, é por inépcia, ignorância,
negligência, omissão ou conivência, ou má fé: os fatos e os mecanismos em que se dão
são bem conhecidos desde 1991.
É lógico que o governante, sabendo ser seu dever combater a corrupção, não consegue
sozinho combatê-la, por isto são criados mecanismos fiscalizadores, inclusive de seu
Desejo de corrupção, impedindo-o de tornar-se volição/Intenção. Se há provas de que
sabe, como, por exemplo, alerta dos sistemas de fiscalização e controle, o acusado não
pode negar que saiba. Comete ilícito o governante que suspender, por quaisquer motivos,
as funções fiscalizadoras dos órgãos de controle existentes.
Afirmar que a corrupção sempre existiu deve levar à convicção de que nenhum
governante pode dizer que não sabe da existência de corrupção dado a natureza do ilícito

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e um presidente que se elege com a bandeira de acabar com a corrupção tem o dever de
estar atento aos indícios de corrupção. A partir denúncia de Aníbal Teixeira, ainda no
governo Sarney, e de Luis Roberto Ponte, em 1991, de que resultou a Lei 8. 666/93, é
dever de todo presidente saber que o foco de corrupção é o próprio governo na
administração das grandes obras e construções. Foram criados mecanismos de
fiscalização do orçamento e estes foram combatidos pelos próprios governantes, que
permaneceram alheios às criticas de que estavam sendo reabertas as portas da corrupção.
O que se assistiu nos governos Lula não foi apenas a politização da corrupção, tornar-se
necessária para o financiamento de um projeto de governo, mas a anulação de todos os
esforços legais para o controle efetivo da corrupção. Assim, conseguiu-se que o executivo
se firmasse como dono absoluto do orçamento; reclamou-se da fiscalização do TCU;
firmou-se o conceito de que para combater a corrupção é preciso provas concretas e
nomes dos corruptos; criaram-se por medidas provisórias exceções à Lei 8. 666 sem a
revogar. Cometeu-se o delito de se ter recebido a denúncia de que em dado órgão estatal
houve um incêndio criminoso e não se apagar o fogo por o denunciante não ter dado o
nome do autor e as provas de autoria.

6.12 Dever de saber, cargo de confiança e relação


de hierarquia
Todos envolvidos na condução do país devem saber dos atos de seus subordinados em
todas as instâncias de governo. A corrupção é um fato conhecido na Política desde
antanho e apenas é uma ilegalidade tolerada, não pelo povo, mas pelos próprios políticos.
Não se há de declarar que um político não tem o dever de saber quando foram criados
órgãos de fiscalização e controle e há emissão de alertas e recomendações contrárias a
atos de corrupção. O Presidente nomeia o Ministro e este nomeia os executivos, o
Presidente se torna responsável pelos atos destes executivos quando os órgãos de
fiscalização denunciam as ilicitudes por ele cometidas e não são tomadas medidas de
apuração e responsabilização criminal, além do afastamento do cargo. A punição
historicamente sempre foi afastar o acusado e nada se fazer para interromper o fluxo de
atos do sistema de corrupção, ou seja, acordo tácito de omissão e conivência.
As ilicitudes na Petrobras e nos fundos de pensão são denunciadas reiteradamente a partir
de 1991, o morador de rua tem o direito de não saber disto, nunca o governante ou o
político ainda que sem cargo, em qualquer nível, federal, estadual e municipal.

6.13 Corrupção: acordo tácito


Não se trata mais de omissão, mas de autoria, uma vez que há acordo tácito de intenções,
não apenas de vontades.

55
7 A Teoria do Domínio do Fato, governo e
corrupção
No Código Penal, as soluções dadas aos ilícitos (erros) cometidos por subordinados em
relação hierárquica não se aplicam à corrupção nas instâncias de Governo. Considerando
o governante hierarquicamente superior a cidadãos comuns que com ele se relacionem,
não há coação irresistível do agente público sobre aquele que paga o suborno, não há
emissão de ordem para que este cometa o ilícito. Ao governante resta apenas a função de
assinar ou não a liberação da verba. É um jogo com regras pré-estabelecidas pelo
funcionamento do sistema de corrupção, não escritas, não verbalizadas. O Código Penal
não é suficiente para lidar com os crimes de corrupção.

7.1 Relação de hierarquia


No Código Penal, as soluções dadas aos ilícitos (erros) cometidos por subordinados em
relação hierárquica, não se aplicam à corrupção nas instâncias de Governo. Considerando
o governante hierarquicamente superior a cidadãos comuns que com ele se relacionem,
não há coação irresistível do agente público sobre quem paga o suborno, não há emissão
de ordem para que este cometa o ilícito. Ao governante resta apenas a função de assinar
ou não a liberação da verba. É um jogo com regras pré-estabelecidas pelo funcionamento
do sistema de corrupção, não escritas, não verbalizadas. O Código Penal não é suficiente
para lidar com os crimes de corrupção.
Segundo a teoria da acusação, o político deveria ter domínio do que fazem subordinados,
mas necessário provar que ele estaria ciente do problema. [PTFCDC] Não se há de
confundir as mentes com a argumentação de que o agente público que nomeia alguém
para um cargo de confiança não tem responsabilidade sobre os atos cometidos por outros
nomeados por quem foi por ele nomeado. [PTFCDC] São cargos de confiança e só há
sentido em isentar quem nomeia se não toma conhecimento de ilícitos praticados pelo
nomeado, se o nomeante não fiscaliza os atos do nomeado. As leis necessitam ser mais
explícitas, uma vez que, em se sabendo, a conduta do nomeante se resume a afastar o
nomeado. É preciso estabelecer que o afastamento do cargo seja necessário, mas é
omissão grave a não abertura de processo com apuração do ilícito cometido e a busca de
ressarcimento de prejuízos. Se é cargo de confiança não se pode alegar não saber dos atos
do subordinado: se comete ilícitos valendo-se da confiança, foi mal escolhido, e à menor
suspeita deve ser afastado e responsabilizado criminalmente. Mais grave ainda, quando
se indica alguém por confiança adquire-se a certeza de que seu comportamento já está
tacitamente acordado, para o bem ou para o mal, a confiança de que será feito o que
necessita ser feito.

7.2 Confiança e Cargo de Confiança


Devem ser considerados subordinados de um político todos os nomeados por ele para
cargos de confiança, e quem nomeia confia que os atos do nomeado seriam os seus se

56
ocupando o cargo. "Luhmann compreende confiança através de três dimensões: a
primeira é subjetiva, de operação reflexiva, isto é, de que é preciso ter confiança e confiar
nessa confiança; a segunda enfoca as expectativas compartilhadas reciprocamente entre
indivíduos; e a terceira é sistêmica, transcendendo aspectos psíquicos e as relações
individuais: a confiança, aqui, se estrutura em expectativas generalizadas em sistemas e
organizações. [. . . ] Para Giddens, em condições de Modernidade, as atitudes de confiança
são normalmente incorporadas à continuidade das atividades cotidianas e reforçadas pelas
circunstâncias intrínsecas do dia a dia. Nesse sentido, a confiança, assim, é muito menos
um salto para o compromisso do que uma aceitação tácita de circunstâncias nas quais
alternativas estão amplamente descartadas". [CMAS]
Deve ser lido em contexto com o SSNV pró-corrupção, em que se prega a relativização
do Direito, a convicção de que "os fins justificam os meios", a convicção de que a
corrupção seja necessária ao desenvolvimento econômico e bem-estar social, bem como
a argumentação com falácias, em um sistema de acordo tácito de omissão e conivência.
A pregação pelo afrouxamento das regras morais, a leniência com a indisciplina e a
delinquência, são fatores que facilitam o aparecimento da corrupção por facilitar a
transformação do Desejo de corrupção em Intenção. No campo político há o gramscismo,
com a má leitura de Maquiavel e a divulgação de prescrições para a implantação da
hegemonia de uma ideologia, prescrições que se deterioram também em função da adoção
dos comportamentos que prescreve, como consequências.
Os cargos de confiança determinam uma relação de chefia para os atos concernentes à
função executiva delegada, e esta relação de chefia pode se estender aos atos ilícitos por
ventura praticados. Contudo, tomando-se conhecimento de que o cargo de confiança foi
usado para a prática de corrupção e não tendo havido exoneração do cargo e tomadas as
medidas judiciais necessárias para apuração e punição na forma da Lei, o superior que
fez a nomeação é coautor do ilícito, bastando-se provar que tenha tomado conhecimento.
O fato de encontrar indícios de que tenha participado da divisão do produto da corrupção
apenas ratifica, mas é prova de coautoria se não se provou ter tomado conhecimento do
ilícito praticado. O sistema que criou as circunstâncias de corrupção na Petrobras e nos
fundos de Pensão, relacionadas a recebimento de propinas de empreiteiras é bem
conhecido desde 1991 com reiteradas denúncias que, por omissão e conveniência política,
caíram no esquecimento. A nomeação de ministros e demais ocupantes de cargos de
governo, bem como a indicação de executivos para as estatais se faz na confiança plena
de que seguirão o fluxo das coisas e acontecimentos na Realidade, e adotarão
comportamentos que manterão o status quo pró-corrupção vigente.
O sistema que criou as circunstâncias de corrupção na Petrobras e nos fundos de Pensão,
relacionadas a recebimento de propinas de empreiteiras é bem conhecido desde 1991 com
reiteradas denúncias que, por omissão e conveniência política, caíram no esquecimento.
A nomeação de ministros e demais ocupantes de cargos de governo, bem como a
indicação de executivos para as estatais se faz na confiança plena de que seguirão o fluxo
das coisas e acontecimentos na Realidade, e adotarão comportamentos que manterão o
status quo pró-corrupção vigente.

57
7.3 Determinante da execução
"Autor é quem tem o poder de decisão sobre a realização do fato, mas é indispensável
que resulte demonstrado que quem detém posição de comando determinou a prática da
ação, sendo irrelevante, portanto, a simples posição hierárquica superior". [TDFAC]
Entretanto, é preciso verificar em qual campo semântico está "determinou", se significa
mandar, ou se está em contexto com os "juízos determinantes" de Kant, que fundamentam
a teoria de Welzel. [HWMDP] Se uma empreiteira promove uma ação ilícita em sua
relação com o governo com a finalidade de obter um sobre preço sobre o que se contrata,
o governante efetuar ou mandar efetuar o pagamento determina o ato corrupto, é fator
determinante da consecução do ilícito, mesmo que o governante não o ordene.

7.3.1 Vontade : Volição x Intenção


O governante tem a intenção de corrupção se, ao ser informado do ato ilícito, não envida
esforços para paralisar a consecução do ato, mesmo que isto signifique paralisar obras.
pois não pode ignorar que o combate à corrupção é seu dever.

7.4 A Teoria do Domínio do Fato e a corrupção


política
A Teoria do Domínio do Fato desconhece tratar-se a corrupção de um processo construído
por acordo tácito e que, mesmo quando se torna planejada, o acordo tácito é um fator
importante. Não leva em consideração também a existência de um acordo tácito de
omissão e conivência entre os políticos. A Constituição e os Códigos Penais também
dificultam a ação judicial por não serem claros quanto à existência de acordos tácitos para
a consecução de crimes. Estas falhas permitem que, pelo culto à Mentira, à Falácia e ao
Sofisma, consiga-se inocentar os culpados pela prestidigitação com as palavras.

7.5 Má leitura do Sistema de Coisas Reais que


concretiza a corrupção
Os analistas e comentadores da Teoria do Domínio dos Fatos não levam em consideração
a realidade dos fatos relacionados com a corrupção. Os agentes públicos e privados
promovem a corrupção por acordo tácito, "repartindo entre si as tarefas em que se pode
dividir a empresa criminosa, ou, então, um coopera apenas na obra de outro, sem acordo
(escrito) embora, mas com a consciência dessa cooperação". [ESCP]
Nos processos de corrupção já sistematizados não há uma emissão de ordem de execução,
há um acordo tácito entre dois agentes com a intenção de cometer o ilícito, as regras foram
predeterminadas pelo fluxo anterior das ações ilícitas aceitas; as justificativas foram
apresentadas com sofismas que se fizeram aceitos por um acordo tácito de omissão e
conivência. Não há comando explícito por parte do agente público ou privado, apenas um
deixar fluir, no caso deixar fluir o sistema que foi colocado em movimentação no governo
Collor e que tem vida própria, com os mecanismos de sua proteção desenvolvidos durante

58
todos estes anos. O comando implícito se encontra por indícios, e não por provas
definitivas, e estes indícios sempre apontam para um indivíduo chave, aquele que pode
interromper o processo de ilicitude. A prova da corrupção passa a ser a continuidade das
ações; a prova da participação da Presidência da República é o desenrolar de medidas
provisórias que atenuam ou anulam os mecanismos que se colocam para combater a
corrupção e a ausência de atitudes que interrompam o processo. Na fase adiantada do
processo de corrupção da Petrobras e fundos de pensão não há nem mesmo combinação
de valores a serem pagos/recebidos de forma clara.

7.6 Autor intelectual do ato de corrupção


Não há autor intelectual, agentes com intenção de corrupção se reúnem para contratar
alguma obra e todos os fatores que prejudiquem a intenção são afastados, podendo haver
algum gesto, algum sinal até mesmo combinado, mas não contratação verbalizada, oral
ou escrita.

7.7 Ação intencional


Em que pese opiniões abalizadas de estudiosos, Bourdieu, O poder simbólico. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, [TCBANM] a ação corrupta é intencional, tanto da parte
do agente público quanto do agente privado, e é espontânea, o que permite deludir não
ser intencional. Bourdieu recusa "as alternativas da consciência e da inconsciência, da
racionalidade e da irracionalidade" e a elas retorna ao admitir o conceito de habitus que
"atrela às práticas cotidianas o conhecimento moral da sociedade". O conhecimento moral
da sociedade está necessariamente no inconsciente de todos, como de todo corrupto, não
sendo possível imaginar que alguém tenha sido criado em uma família que não tenha
induzido a sua formação moral, mas está na consciência apenas daqueles que se voltaram
para si mesmos para conhecer os parâmetros que compõem seu sistema de significação,
normas e valores, que derivou do SSNV recebido da cultura, via família.
Mesmo no que diz respeito à política, a ação é intencional e espontânea. É intencional,
pois o ator deve vencer suas preocupações morais para aceitar efetuar a ação, mesmo que
não seja mais no momento em que a pratica "mais uma vez". É espontânea, pois uma vez
o agente tenha decidido efetivar o ato ilícito e o faça repetidamente torna-se hábito. Não
será espontânea enquanto o hábito não estiver já estabelecido.

7.8 Corruptor e corrompido


Na situação atual não existe a figura do corruptor e do corrompido: o pagamento de
propina se institucionalizou, virou instrumento político e passou a ser aceito como praxe:
os políticos corruptos não mais impõem ou pague propina ou não terá obra para fazer, e
os agentes privados não mais oferecem propinas e subornos. Institucionalizada a
corrupção passou a ser um conluio em que mesmo o aspecto ilícito do pagamento extra
se dissolveu no termo "prêmio", por meio de medida provisória (acordo de leniência).
Assim, a procura de provas de que houve um corruptor e um corrompido dificulta que
haja controle da corrupção. É o defeito já apontado na conceituação de corrupção ativa e

59
passiva: no acordo tácito há um crime cometido em comum, coautoria. Da mesma forma,
é não senso confundir a corrupção política com a corrupção moral, em que um adulto
corrompe uma criança ou outro adulto “inocente” e ingênuo. Não serve a conceituação
da corrupção como "um agente corrompe o outro", os participantes já estão corrompidos,
sendo este um dos fatores determinantes primários de praticarem corrupção, e atuam
tacitamente em uma instituição corrompida por um sistema pró-corrupção em vigência.

7.9 O governante pode interromper a


continuidade do ato ilícito
Um sistema pró-corrupção está fluindo por sob as palavras, sendo necessário que se adote
mecanismos de apuração de responsabilidade mais efetivos. Não se pode deixar iludir
pelas aparências. Tudo o que se percebe da Realidade são representações, mero teatro, a
Realidade flui abaixo das aparências que se dá a perceber.
Este sistema pró-corrupção favorece a emergência de organização das interações entre
pessoas visando corrupção e está em vigência nos três poderes constituídos, Executivo,
Legislativo e Judiciário, ainda que a vantagem indevida seja apenas a obtenção e garantia
de manutenção de privilégios, tais como altos salários e aditivos ao salário, estes muitas
vezes fundados em motivos torpes, sendo motivo torpe conceder auxilio moradia a quem
conseguiu o privilégio de ter alto salário. Ou a nomeação de filhos e parentes para cargos
públicos. Este sistema pró-corrupção tem experimentado sua difusão para o seio da
sociedade por um Sistema de Significação, Normas e Valores que se constrói seguindo
as prescrições de Gramsci. O Presidente da República é alertado pelo TCU, órgão de
fiscalização, das evidências de ilícitos nas obras públicas e o Congresso, órgão de
controle, é alertado para não aprovação das contas do governo se há indícios de destinação
de verbas a pagamentos ilícitos. Considerando as atribuições do Presidente da República.
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (EC no 23/99 e EC no
32/2001): VI– dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da
administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção
de órgãos públicos.
Considerando a determinação constitucional de que os atos do Presidente da República
que atentem contra a lei orçamentária e a probidade administrativa,
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem
contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: V – a probidade na administração;
VI – a lei orçamentária.
Considerando que o governante deve saber dos ilícitos praticados por agentes públicos
ou privados em suas relações com a Coisa Pública, dever saber que é cumprido pelas
funções dos órgãos de fiscalização e controle do orçamento,
Conclui-se que o Presidente da República tendo o dever de mandar verificar todos os
casos de corrupção de que seja alertado pela fiscalização e controle, e, tendo o poder de

60
interromper, não interrompe seu processo de consecução, é ele o autor dos processos de
corrupção havidos em seu mandato. É o que se procura demonstrar.
O fato de a situação atual se tornar semelhante ao período Collor, cuja corrupção
denunciada gerou a Lei 8. 666, que inicia um processo de controle sobre a corrupção, e
se torna semelhante exatamente por tornar sem efeito esta e as outras medidas de controle
da corrupção, indica que devem ser valorizados os fatores subjetivos que levam à
corrupção, como a Intenção de corrupção e à tolerância à omissão e à conivência com a
corrupção. (retirar este parágrafo no texto final, está repetido)
O governante detém o controle final do ato ilícito, tendo um "poder de decisão sobre a
realização do fato", [DPEACT] pelo poder de vetar o pagamento da propina e do
sobrepreço. É parte da relação que leva ao ato ilícito, que sem sua ação não é concretizado.
Sua não intervenção em caso de corrupção de que recebeu alerta, ainda que de suspeição
por indícios, consiste em decisão pela prática delituosa, por não determinar sua
interrupção.

7.9.1 Domínio do fato e coautoria


Estando a corrupção institucionalizada, o governante "tem domínio sobre a função que
lhe cabe na parceria" [FMRDP] com o agente privado, é também autor da corrupção.
No caso atual, a função que cabe à Presidência da República é garantir a verba, por
dominar o orçamento; garantir a continuidade do processo de corrupção por legislar por
medidas provisórias que anulem os efeitos fiscalizatórios e de controle sobre as obras e
construções federais. A corrupção como "ação entre amigos", entre empreiteiros e o
governante, se torna visível na relação de "amizade" e convívio social do presidente com
o dono das empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato. Se não ocorre esta
imiscuidade, que deixa transparente a relação de compadrio, incluindo o favoritismo,
entre empreiteiros e o ocupante atual da Presidência se deve ao fato de que o sistema pró-
corrupção amadurece e procura corrigir suas falhas que possam levar à sua
desorganização. Embora no governo Dilma a imiscuidade tenha saído do campo social,
permanece como visitas de ministros ao governante em momentos que antecedem
decisões do STF, e a nomeação de filhos de ministros para cargos no Judiciário, como
noticiado na mídia. Outro fator é manter-se o governante anterior no papel de orientador
dos atos do atual, inclusive ditando medidas provisórias a serem editadas, como as que
alteraram as regras de licitação para as obras necessárias à Copa de 2014.

7.9.2 O governante tem domínio do fato


Deste modo, o governante é autor de crime de corrupção, por, tendo conhecimento do
fato típico, podendo "controlar a (sua) realização, decidindo sobre sua continuidade ou
paralisação", [DCNB] não o fez.
Como já demonstrado, o governante tem a obrigação de saber e sabendo tem que tomar
as medidas necessárias para abortar o processo; na eventualidade de não ter sido
comunicado do fato pelos órgãos de fiscalização e controle, o governante pode não ser

61
autor, mas será partícipe por ter o dever de procurar saber, enquanto os órgãos de
fiscalização e controle serão autores, por, tendo os indícios de corrupção, não ter levado
ao conhecimento do governante.

7.9.3 Não é crime de omissão


Se "a Teoria de Domínio do Fato não se aplica a crimes por omissão", [FMRDP] o
governante, tendo sido alertado, não se omite se envida esforços para que o ato ilícito não
se complete. Em um ambiente em que as circunstancialidades já estão predeterminadas,
conhecido o processo em que se dá o ato corrupto e seus autores imediatos, os executores
do ato, não sendo atos ilícitos isolados, mas continuados, não se trata mais de omissão,
configurando a intenção de que o processo não se interrompa, ou seja, a intenção de
corrupção.

7.9.4 O governante está em posição de comando


Na Teoria do Domínio do Fato, como tem sido interpretada para aplicação em crimes
organizados, para ser considerado autor do crime quem tem o domínio do fato tem
também de emitir as ordens para que seja executado o ato ilícito, ter o poder de comando.
Já discutido a possibilidade de má interpretação desta teoria em relação à confusão entre
"determinar a execução" e "dar ordens para a execução". Na organização para a corrupção
não há uma pessoa em posição de comando, embora eventualmente alguém possa cometer
o desatino de mandar executar um ato de corrupção. O presidente determina a execução
do ato corrupto ao não o interromper suspendendo o pagamento.

62
8 O governante que não sabe de nada não
é mero participante, é coautor
Se houve a denúncia em 1991 de que o foco de corrupção nas grandes obras e construções
federais estava no próprio governo e nas empreiteiras que as executam, pela Teoria do
Domínio do Fato demonstra-se como a Presidência da República passou a ser, após o
primeiro mandato de Lula, mais claramente coautora dos crimes de corrupção. Já se
apontou que houve, pela edição de medidas provisórias sucessivas que se transformaram
em leis, a anulação da legislação sobre as licitações, bem como a anulação da fiscalização
e controle sobre o orçamento, tornando-se o executivo o dono absoluto do orçamento.
A sociedade tem se deixado levar sempre pelo conceito de que o autor de um ilícito é
apenas aquele que o executa, e, deste modo, os mandantes ficavam de fora da
culpabilidade como autores do crime. Corrigida esta aberração pelo uso da Teoria do
Domínio do fato ainda restam impunes todos aqueles que fazem fluir na sociedade um
sistema a favor da corrupção. No caso atual a reiterada afirmação de que "eu não sei de
nada" leva à descoberta da necessidade de um governante que não saiba de nada para que
a corrupção se concretize sem solução de continuidade do governo e da própria corrupção.

8.1 A corrupção depende de um governante que


não sabe de nada
Tanto a situação quanto a oposição tratam a corrupção atual como se tivesse nascido
agora, ainda é a mesma que se tornou institucionalizada no governo Collor, com as
mesmas empreiteiras envolvidas e os mesmos atores e instrumentos políticos envolvidos,
a compra de apoio político para a manutenção no poder. Isto foi denunciado desde 1994,
como registrado na Internet, a materialização de um teórico Inconsciente Coletivo. Do
impeachment de Collor e da evolução de regras contrárias à corrupção ou que pudesse de
alguma forma impedir seu desenvolvimento, emergiu um acordo tácito pela necessidade
da figura de "um governante que não sabe de nada". As conceituações de Foucault sobre
a ilegalidade tolerada deixam transparecer que a corrupção como ilícito tolerado depende
sempre de que quem tem o poder decisório possa argumentar "eu não soube, eu não sabia,
eu não sei".

8.2 Condição necessária para ser Ilegalidade


tolerada
Foi denunciado no governo Collor que a pressão para o pagamento de propinas nas
grandes obras e construções partia exatamente do próprio governo. Descobriu-se que
Collor não estava em condições de negar ter conhecimento da corrupção, apadrinhado
que estava com seu tesoureiro de campanha, Paulo Cesar Farias. Não foi preciso que os
corruptos se reunissem em assembleia e deliberassem pela necessidade da figura de "um
governante que não sabe de nada". Da mesma forma, não é necessário que governo e

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empreiteiras tenham combinado entre si o financiamento de um projeto de governo e
manutenção no poder pela corrupção. O governante, participando do esquema de
corrupção, adota automaticamente o papel que dele o sistema exige, e age de forma a que
possa se defender dizendo não ter sabido de nada, de nada ter tomado conhecimento. É
necessidade determinante da eficácia de não se saber de nada que todos os homens
envolvidos com a máquina pública, sua administração e fiscalização, ou seja, os poderes
executivo, legislativo e judiciário, sejam omissos e coniventes, fazendo vista grossa a
tudo quanto predetermine o fluxo de acontecimentos estar se dirigindo para atos ilícitos.

8.3 Lula foi alertado das irregularidades na


Petrobras
Se não é possível ao governante não saber da corrupção nas grandes obras e construções,
há sistemas instituídos de fiscalização e controle. Lula aderiu ao bordão "eu não sei de
nada", mas foi alertado das irregularidades na Petrobras, em 2009, pelo TCU que
recomendou o bloqueio de recursos para os empreendimentos da estatal no orçamento do
ano seguinte. A resposta do presidente foi vetar dispositivos da lei orçamentária, aprovada
pelo Congresso, que impediriam os repasses. [TSBOP]
Lula tomou medidas a favor da corrupção e o sistema político permaneceu em silêncio.
O noticiário da época disse que "o Palácio do Planalto foi alertado", mas a essência do
fato é que quando a Presidência da República foi alertada, estavam ali alertados todos os
presidentes que sucedessem a Lula, e Dilma não pode argumentar que não sabia de nada.
Da mesma forma, estavam alertados todos os presidentes que assumiram a partir de
Collor, embora as denúncias não tivessem o cunho jurídico de um tribunal de contas, mas
a História caminhou para demonstrar que, ali, naquele 1991, deveriam ter sido tomadas
as medidas de vulto que hoje compõem a Operação Lava Jato.
Ao contrário do que anunciado em seus discursos – o governo está empenhado no
combate à corrupção – Dilma, ao assumir o primeiro mandato dá continuidade ao
processo de anular as leis que procuravam controle sobre a corrupção, mediante atos
legislativos via medidas provisórias. O sistema político calou-se e não houve senão a
aprovação e transformação em leis das medidas provisórias. O acordo tácito de omissão
e conivência foi cumprido, não houve ação que barrasse o papel do executivo que,
dificultando a fiscalização, já estava exercendo uma função claramente pró-corrupção.
Não é possível a um governante de nada saber efetivamente se está administrando
realmente o país, há mecanismos fiscalizadores em atuação, há uma História escrita de
fatos de corrupção e de fatos de busca de seu controle. O governante não pode
desconhecer a História de seu país, e é dever precípuo de todo governante conhecer a
História da corrupção e anticorrupção em seu país, principalmente quando este
governante é alçado ao poder com o discurso de combater a corrupção, só se pode
combater o que se conhece. O TCU foi conivente com o cerceamento de sua função
fiscalizadora; os políticos foram coniventes não fazendo prevalecer a função do TCU e
foram, assim, negligentes com a Coisa Pública. O Poder Judiciário foi negligente ao não
alertar ao executivo sobre a imbecilidade que estava sendo cometida. Ou a função dos
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políticos e dos juízes supremos é meramente receber altos salários e principescas
mordomias? A condição necessária para a corrupção ser uma ilegalidade tolerada é o
acordo tácito de omissão e conivência ao lado da negligência dos três poderes, Executivo,
Legislativo e Judiciário para com a Coisa Pública.

8.4 Governante x Desejo de corrupção x Intenção


Para que um governante "não saiba de nada" é também condição necessária que não tenha
apenas o Desejo da corrupção, mas tenha vencido todos os seus escrúpulos e adquirido a
Intenção da corrupção. Jânio Quadros deu o nome de "forças ocultas" às forças que
tacitamente o obrigavam a ceder e deixou claro, também como Getúlio Vargas, que a
solução para o governante bem intencionado a quem é tacitamente pedido que não saiba
de nada - deixar as coisas fluírem da forma como funcionam na prática -, é suicidar-se ou
renunciar. As renúncias não se deram por esse motivo, mas para escapar da punição.

8.5 Não saber de nada e Lei do silêncio


O sistema político faz de conta desconhecer que não saber estando em cargo de decisão
é muito mais que omitir-se, os governantes contam com sistemas de informação e o
Estado com sistemas de fiscalização. A complexidade da máquina administrativa de um
Estado é tal que um governante não saber de nada por pouco tempo, é admissível, não
saber de nada por muito tempo é suspeito. Entretanto, não saber de nada por todo o tempo
é evidência de autoria, por negligência, omissão ou participação, prova de que não se está
governando ou não se está fiscalizando. Em ouros termos, ou o governante não está
administrando o Estado ou o administra pró-corrupção e ao afirmar "nada sei" está
seguindo a lei do silêncio.
O processo de degradação gradual, desde 1992, da Petrobras devida à corrupção, leva a
uma questão que insiste em não ser feita, tanto pelos políticos "interessados" em acabar
com a corrupção quanto pela mídia especializada: quais os motivos pelos quais não houve
denúncias a partir de executivos do alto escalão, desde a presidência, de corrupção na
Petrobras e no BNDES? Após a denúncia de Motta Veiga, presidente de Petrobras no
governo Collor, em 1992, a História encarregou-se de mostrar o alto volume de corrupção
na Petrobras e a transformação do BNDES em uma caixa preta.
A resposta está no item "governante que não sabe de nada", mudando-se para "dirigente":
os dirigentes passaram a ser indicados de acordo com sua capacidade de perceber acordos
tácitos em direção à corrupção e de se omitir e ser conivente. Com o volume de corrupção
na estatal, seus presidentes desde então foram omissos, não se podendo conceber que o
último presidente que realmente administrou a Petrobras tenha sido o denunciante Luiz
Octávio da Motta Veiga. Este dado junto com a corrupção já institucionalizada leva ao
questionamento se nos altos cargos da instituição não estariam colocadas pessoas que
obedeceriam ao código de honra do terrorismo, de jamais delatar seus companheiros?

65
8.6 Lei do silêncio: Lapsus linguae da Presidente
Lembrar a Lei do Silêncio dos terroristas, que é em verdade a Lei do Silêncio da Máfia,
é permitido não apenas por inexistência de denúncias por agentes públicos vinculados à
Petrobras e ao BNDES posteriores a 1990, mas também por ato falho da atual presidente
da República. Em discurso a presidente diz não respeitar delatores, cita como exemplos
Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da Inconfidência Mineira e o fato de que na Ditadura
tentaram a transformar em delatora e que ela resistiu. Até mesmo para quem não sabe ler
um pingo é letra. As informações estão muito mais nas correntes de impressões sob as
palavras do que nelas mesmas. A presidente cita o fato de “ter resistido à tentativa de dela
obter delações” afirmativa que esconde outro significado, o pedido encoberto de que
“resistam companheiros”. As situações citadas são de delatores ou possíveis delatores que
estavam sob código de honra de um grupo que procurava subverter a ordem das coisas.
Esqueceu-se de que sugerir serem traidores os delatores no momento atual transforma o
código de honra de revolucionários em código de honra de criminosos. Quando alguém
comete um crime a mando de outro, mandante, não há provas a serem buscadas quando
este outro o denuncia. A existência deste código de honra se manifesta também na recusa
de envolvidos em fazer delações premiadas, embora aqui se deva lembrar que têm certeza
absoluta da impunidade, e que, se presos, em breve serão soltos, ainda que por indultos
de Natal concedidos em pleno Carnaval.
A solução encontrada para a corrupção é a delação premiada, que “visa combater
principalmente o cerne das organizações criminosas: o Código de Honra (omertà). Esse
código imposto a todos os integrantes permite que todos os delitos praticados pelas
organizações fiquem no anonimato. Com a quebra desse Código de Honra, o grande
obstáculo para tornar a delação premiada eficaz ocorre nas suas consequências, onde a
vingança e a morte dos delatores são evidentemente praticadas pelos próprios integrantes
da organização criminosa às quais pertenciam antes. Dessa forma, preferem optar pelo
silêncio e pela integridade física e moral”. [RJSUID]
Embora se possa comparar ao Código de Honra da Máfia, o respeito ao código de honra
de revolucionários, ou melhor, é o que prevalece em virtude de que se protege e blinda
não apenas a um governo corrupto, mas a um regime político que se quer implantar no
país. Há uma revolução vermelha em marcha financiada pela corrupção e seguindo as
prescrições de Gramsci para implantar a hegemonia da ideologia marxista-leninista. São
coniventes os agentes públicos em cargo de decisão em seus diversos postos no
Executivo, Legislativo, Judiciário e Militar enquanto promovem atos contra os excessos
de corrupção não impedem e criam mecanismos efetivos de seu desaparecimento.
[http://intertemas. unitoledo. br/revista/index. php/Juridica/article/viewFile/3123/2884, acessado em 13/2/2016. ] Deste mal
sofreu PC Farias e a solução se encaminhou para ser a venda de CERTEZA ABSOLUTA
DE IMPUNIDADE, administrada pelos três poderes constituídos, o Executivo com suas
influências nos órgãos de investigação e de punição; o judiciário com sua conivência com
sofismas com falácias bem articuladas “descriminalizando o crime”; o executivo com sua
edição de medidas provisórias que perturbam o combate à corrupção, o legislativo com a
aprovação destas medidas provisórias e de emendas à constituição que dificultam a

66
apuração de ilícitos cometidos por políticos, todos com a aprovação de apuração de
crimes secundários, os quais deveriam ser postergados em prol da necessidade primária
de se combater a corrupção em seu centro mantenedor, desmanchando os esquemas de
manipulação do poder e do orçamento denunciados desde 1991, denúncias ratificadas em
1994, com a CPI do Orçamento.
O governo usa e abusa do preceito do maquiavelismo de como usar a corrupção a seu
favor, uma observação que se tornou prescrição de Gramsci para a implantação da
hegemonia marxista, como se fosse princípio defendido por Maquiavel, sendo apenas um
adendo dado por Napoleão em seus comentários de O Príncipe.
Note-se que os homens devem ser mimados ou destruídos, pois podem vingar-se de
ofensas leves, porém não o podem das graves. Deste modo, a ofensa que se faça deve ser
tal, que não se precise temer a vingança. NMP-17
É um ato falho importante, pois a Lei do Silêncio caracteriza a corrupção como crime
organizado. [MDCDP] Se o ato falho não constitui uma prova jurídica, desnuda aos olhos
dos mais atentos o real mecanismo da impunidade que reina no país.
O governante que não sabe de nada cumpre a lei do silêncio que "seguramente só atende
os desejos de quem teme pela sequência das denúncias, por já estar envolvido e não querer
que as provas apareçam". [https://books. google. com. br/books?id=iASoh4sNwJcC]
A Lei do silêncio não reza apenas "não delatarás", mas também pede para que não se
saiba quais são os verdadeiros objetivos da organização criminosa ou das organizações
que procuram alterar a ordem das coisas, como impor um regime diferente a um Estado,
revoluções declaradas ou mascaradas, estas pregando serem democráticas.

8.7 O governante não saber de nada permite a


corrupção e a impunidade
É difícil supor a imagem de um governante que nunca e o tempo todo saiba de nada
realmente. O governante que não sabe de nada sobre a corrupção nos diversos órgãos que
administra é coautor dos atos ilícitos, e não é por omissão, mas por seu próprio
comportamento induzir novos atos ilícitos, que estes florescem em situações de má
administração. Não se há de falar em omissão quando o governante ou seus familiares e
laranjas se enriquecem no exercício de seu mandato, principalmente quando há outros
indícios de que tenha se favorecido do sistema de propinas e vantagens indevidas.

8.8 O governante que garante a corrupção não


pode sofrer impeachment
É sofisma argumentar que um processo de impeachment desestabiliza o Estado, como
fizeram ministros do STF no julgamento do rito de impeachment. É admitir que o crime
de corrupção não possa ser punido se a ele está vinculado a pessoa do governante. Não
houve desestabilização do Estado quando do suicídio de Getúlio, da renúncia de Jânio ou
da renúncia de Collor para impedir seu impeachment. O Estado brasileiro se encaminha

67
para desestabilização completa por insistência em se prorrogar o processo de
impeachment ou a anulação das eleições via TSE. Ao contrário, com o impeachment há
o risco de solução de continuidade na corrupção e no programa de governo que ela
financia. O sistema de impunidade montado nos três poderes constituídos, que se
aperfeiçoa para a manutenção de um sistema de corrupção já vigente no período Collor,
criou o mecanismo para que, roubando, nunca o país parasse de funcionar; instituiu-se a
figura do governante que não sabe de nada. Se Collor renunciou para não sofrer
impeachment, se PC Farias foi assassinado por "forças ocultas", estas mesmas "forças
ocultas" criaram a figura do governante que não sabe de nada, e que, para não saber de
nada, não comete o crime de omissão, mas de coautoria, o que todos os políticos fazem
questão de não assumir.
Qual é o papel do chefe de Estado em um sistema institucionalizado de corrupção senão
o de não saber quando a Realidade se mostra escancarada à sua mente, como quem não
viu ou não leu? Não existe crime por negligência e por omissão na esfera governamental?
Um presidente que nada sabe não é o melhor instrumento para o sucesso de um sistema
de corrupção institucionalizado?

8.9 A diferença do momento atual com o período


Collor
Corrupção sempre houve e o fato que diferencia o momento atual do passado é a
determinação de se acabar com a corrupção política e a malversação da Coisa Pública
pela Operação Lava Jato. Nunca existiu um governante que tenha assumido podendo dizer
que não tivesse conhecimento de corrupção em seu país, e também nunca existiu aquele
que se diferenciou por determinar medidas efetivas contra a corrupção; o governante a
partir da institucionalização da corrupção tem a obrigação de não "saber de nada".
A presidente Dilma soube da corrupção no primeiro e assumiu o segundo mandato
omitindo-se em FAZER, logo após a posse, os atos necessários para realmente combater
a corrupção. Ao contrário, manteve em postos chaves do governo personagens atuantes
desde o caso Collor, e novos atores que dão a certeza política de impunidade à corrupção.
E cometeu os mesmos erros administrativos que levaram o país ao caos econômico. Com
medidas provisórias continuou com o fluxo de leis que anularam a Lei 8. 666 sem a
revogar. Mas. . . O Sistema de impunidade vigente faz de conta não perceber este crime
de omissão e conivência entre os homens que conduzem o destino do país.

8.10 Concurso de pessoas para o crime: O Código


Penal não prevê diretamente a Teoria do Domínio
de Fato
O Código Penal em vigência, artigo 29, trata do Concurso de Pessoas nos crimes como a
participação direta ou indireta de mais de um agente, com os nomes de concurso de
pessoas, concurso de agentes, coautoria e participação. [ESCP] Não premia claramente a

68
Teoria do Domínio do Fato e esta, em necessidade de ser aplicada, o é á base de analogias
e interpretações, terreno baldio das Mentiras, das Falácias e dos Sofismas.

8.11 O governante concorre para a execução da


corrupção
Em termos de concurso de pessoas, o governante concorre para a execução do ato
corrupto, uma vez que é ele quem, direta ou indiretamente, libera o pagamento da propina
ou do sobrepreço, "assegurando a realização do crime, garantindo a impunidade", [ESCP]
pela legislação mediante medidas provisórias que anularam os controles obtidos contra
corrupção e pela participação no sistema de impunidade que garante a Certeza Absoluta
de Impunidade.

69
9 Corrupção: que crime é este que não se
consegue punir por falta de provas?
9.1 O sistema de impunidade vigente tolera, com
limites amplos, a corrupção
Encontra-se um fator determinante da corrupção perene, a convicção de que corrupção é
um ilícito que "não deixa provas". É uma falácia para tornar inimputáveis os corruptos.
Não existe crime perfeito que não deixe provas, há uma inépcia dos poderes constituídos
em achar e aceitar as provas que determinam a culpabilidade. Os políticos corruptos
conseguem seu objetivo transformando o significado das palavras, falácias que se
articulam em sofismas, atualmente não se importando mesmo se são sofismas simplórios,
facilmente perceptíveis a um olhar não especializado atento. De outro lado, há um sistema
montado nos três poderes constituídos que garante a impunidade, e aceitar que não há
prova de corrupção é um elemento deste sistema. Embora, pelo art. 5o da Constituição,
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
Pelo sistema de impunidade vigente, os políticos podem cometer atos de corrupção desde
que não ultrapassem os limites amplos da tolerabilidade.

9.2 Gravação prevista como ilícita, mas que em


essência é lícita
Veja-se a situação que o Sistema de Significação, Normas e Valores no campo semântico
jurídico aceita como válida: no caso da denúncia por um assessor de Delcídio de que um
ministro "o procurou para oferecer ajuda a Delcídio e evitar que o senador fechasse acordo
com o Ministério Público para contar o que sabe em troca de uma redução da pena".
[SEADGC] A conversa foi gravada pelo assessor e ele e outro, seu chefe, foram
exonerados pelo presidente do Senado, "com base no inciso da lei do servidor público
que permite a exoneração de cargos de confiança a juízo da autoridade competente". Esta
exoneração se faz em cumprimento do direito constitucional previsto no art. 5° que
garante o sigilo das comunicações? Não, a justificativa dada é quebra de confiança, por
ser de confiança o cargo exercido pelo exonerado.
Tem-se que analisar a legalidade da gravação e o fato de ser quebra de confiança gravar
e denunciar um ilícito presenciado. O Código Penal trata de gravação feita por um dos
interlocutores, sem a ciência do outro, que o Supremo Tribunal Federal entende não
depender de prévia ordem judicial. "A prova (gravação) quando produzida para defesa
própria pode ser utilizada, [. . . e] não se está utilizando prova ilícita mas sim prova lícita",
[PISTF] e mantém "a necessidade de autorização judicial, para a interceptação e a escuta,

70
nas quais existe o elemento da terceira pessoa além dos próprios interlocutores".
[GCVSTF]
Não se encontrou referências ou alusões ao problema que se coloca, um agente público
testemunha um ilícito praticado por um igual ou superior e grava som ou imagem
pretendendo produzir prova documental. Pelo que se infere deve ele obter autorização
judicial para produzir uma prova documental juridicamente válida. O fato está ocorrendo
ali e naquele exato momento, há sentido em se solicitar a suspensão da conversa para que
fosse obtida a autorização judicial para a gravação? Há sentido em se deixar sem
documentação um ato de improbidade de importância gravíssima, mesmo não se tratando
de ilícito classificável como corrupção? Há em cada recinto de órgão vinculado aos
poderes constituídos um juiz do STF para conceder a cada ilícito praticado na presença
de um agente público uma autorização para a gravação? De um lado, o agente público
está obrigado a guardar sigilo sobre os assuntos da repartição, e tem como pena máxima
a demissão; de outro lado são passíveis de tomar conhecimento de atos ilícitos cometidos
por superiores aqueles agentes públicos que estão em cargos de confiança, em que há
aceitação prévia de calar-se sobre o que vê ou ouve no exercício do cargo. A situação é
esdrúxula também pelo fato de que silenciando-se no testemunho de ter presenciado
ilícito deste calão ou de corrupção o agente público comete crime de omissão.
Há uma falha legal, ou interstício, que tem sido usada para agentes públicos não
denunciarem ilícitos de que são testemunhas sem deles participar.

9.3 Questionamentos necessários


No caso citado não se teve conhecimento de manifestações contrárias à exoneração e a
gravação foi entregue à Procuradoria Geral da União, não se procurando aqui evidências
se foram ou serão adotadas como provas, o que não interessa para a análise que se faz. A
exoneração do assessor que gravou sua conversa com um ministro de Estado deixa
transparecer um problema grave: não é isto a manifestação da Lei do Silêncio dos
criminosos? Quem ocupa um cargo de confiança em qualquer dos três poderes deve se
calar ao testemunhar um ato de improbidade de seus superiores? Esta exoneração não
induz a que todos os funcionários que testemunhem atos ilícitos cometidos por superiores
se silenciem para não sofrerem o "assassinato" de cargo? Não torna nula a Lei de
Improbidade administrativa que prescreve ser crime de omissão testemunhar um ilícito e
não denunciar? Se os políticos se silenciam sobre a exoneração com a justificativa de que
"houve quebra de confiança" ao gravar um ilícito praticado por um ministro, não estão
eles coniventes com a situação de que cargo de confiança é formação de quadrilha?

9.4 Não há uma atitude preventiva da corrupção


pelos legisladores
"A prevalecer a redação do projeto do novo Código de Processo Penal, aprovada pelo
Senado, será necessária prévia ordem judicial para a obtenção desse meio de prova, o que

71
trará sérias dificuldades para o esclarecimento de crimes graves, como o sequestro e a
corrupção". [GCVSTF]

9.5 Materialidade do crime de corrupção


A materialidade de crime de corrupção nas relações entre agentes públicos e privados
segue os critérios da Lei 8. 429/92, de improbidade administrativa, fazendo-se por
palavras, gestos ou escritos. Os atos que constituem o FAZER da corrupção ativa ou
passiva podem não deixar indícios ou evidências diretas de terem ocorrido. "Solicitar,
"oferecer", "exibir", "prometer" ou "propor para que seja aceita" uma vantagem indevida
são realizados oralmente ou por gestos e quase nunca remetem a atos que deixem provas
documentais escritas, embora possa haver gravação de som e/ou imagem, os quais podem
ou não ser aceitos como provas jurídicas. No entanto, estas duas últimas provas
documentais só podem ser aceitas se autorizadas judicialmente, com ressalvas para
algumas situações.

9.5.1 Materialidade do crime por palavras e gestos


Se um agente público denuncia um ato de corrupção por ele presenciado terá de apresentar
provas, não bastando sua afirmativa de que presenciou o fato. A Lei 8. 429 de
improbidade administrativa diz que "a materialidade do fato consiste em oferecer (exibir
ou propor para que seja aceita) ou prometer (obrigar-se a dar) vantagem indevida a
funcionário público, para levá-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício", e que "os
meios de execução do delito podem ser palavras, gestos, escritos". [Lei 8. 429]
O paradoxo é evidente: a materialidade do fato são palavras, gestos e escritos, mas as
palavras do denunciante que testemunhou o fato, escutando as palavras, vendo os gestos
ou lendo os escritos referentes a atos ilícitos não serve como prova material nem mesmo
para que se façam as investigações necessárias. Não pode, também, o agente público
gravar som ou imagem do que testemunha, nem reter consigo cópias dos documentos
oficiais: o agente público não pode produzir provas do que testemunhou e os legisladores
não se preocuparam com esta falha jurídica.
Todos os homens públicos envolvidos nos três poderes constituídos, bem como todos os
comentadores e analistas da corrupção como um fenômeno social, fazem de conta não
perceber o paradoxo, ter de denunciar, mas não poder denunciar.

9.5.2 Materialidade do crime por escritos


A princípio são permitidos todos os tipos de provas, salvo aquelas que sejam ilícitas ou
imorais, não existindo, entre os meios de prova especificados em lei qualquer hierarquia,
todas possuem poder valorativo idêntico. [ASPDDP]
As provas mais usadas em denúncia são: os documentos (que o autor deverá juntar com
a petição inicial e o réu com peça de contestação); as declarações das partes; o depoimento
das testemunhas; as perícias e a inspeção judicial. [ASPDDP]

72
Assim, todos os que afirmam não ter a delação valor de prova procuram simplesmente
provocar confusão conceitual. As delações têm valor de prova dentro do contexto das
provas judiciais no processo penal brasileiro, apenas não podem ser a única prova usada
contra o acusado.

9.5.3 Provas documentais


São consideradas as provas mais fortes do processo instrumental, apesar do princípio da
persuasão racional facultar ao juiz o seu afastamento pelos demais meios, seja
testemunhal ou pericial produzidos nos autos. [ASPDDP] Assim, todo sistema de
corrupção cuida para que não sejam produzidas provas documentais.
As provas documentais podem ser diretas, por documentos escritos, gravação de som ou
imagem, mas não se faz combinação de ato ilícito por escrito, embora possam ser
encontrados planejamentos escritos do ato a ser cometido, e como se viu não há sentido
em se obter primeiro uma autorização para gravação de som ou imagem. Ou podem ser
indiretas, como as obtidas por quebra de sigilo bancário e telefônico. Não se pode dizer
que os documentos que registram depósitos bancário impressos em papel termossensível,
apagando-se com o tempo, seja um instrumento criado por pessoas inidôneas pensando
em não se deixar provas perenes de atos corruptos, mas demonstra a incapacidade de ação
preventiva da corrupção: todos aos pagamentos de propinas por depósitos bancários em
"contas de" estariam automaticamente documentados. Provas documentais, como as
obtidas pelas quebras de sigilos bancário e telefônico de acusados, seriam mais fortes para
este tipo de condenação, explica ele. [PTFCDC]

9.5.4 Provas testemunhais


Ocorrem pela interrogação de quem testemunhou os fatos e para que sejam provas fortes
é necessário que a testemunha seja desinteressada sobre os fatos. [PTFCDC] Contudo,
dificilmente são combinados atos ilícitos na presença de testemunhas não comprometidas
por interesses diretos ou indiretos, são desenvolvidos perante agentes políticos e seus
agentes públicos de confiança, e, estes sob ameaça de perda do cargo têm interesse direto
em mantê-lo. Não há a figura de "cargo de confiança" da Sociedade, o agente público
estar exercendo função de confiança da Sociedade, embora implicitamente todo agente
público esteja exercendo cargos a favor da Sociedade. Há cargo de confiança de político,
e demonstra-se atualmente ser de confiança para silenciar-se sobre o que vê e ouve. A
prova testemunhal é a mais frágil das provas. Isso porque ela pode facilmente se mostrar
desconexa, não apresentar números ou pontos específicos. É por isso que "só com prova
testemunhal, dificilmente alguém é condenado por corrupção". [PTFCDC]
Entretanto, deve ser suficiente para a formulação da denúncia, desde que se desfaça a
confusão entre denúncia e acusação: a denúncia contém necessariamente uma acusação
que precisa ser depurada de vícios e conter indícios suficientes que justifiquem ação
judicial. A denúncia como bem definida deve ser admissível e procedente de atos ilícitos,
não em provas definitivas, mas indícios e evidências de autoria de ilícito.

73
9.5.5 Brechas e interstícios nas leis: licitação de
obras sem projeto prévio
As brechas e interstícios nas leis podem constituir provas de ilícito, como demonstra a
abertura dada para licitação de obras sem projeto prévio, desde que seja levado em
consideração existir um sistema pró-corrupção alimentando a corrupção. Com a edição
de medidas provisórias que anulam a Lei 8. 666 em seu alcance sem a revogar, e se tornam
leis, foi exaustivamente denunciado que a licitação de obras sem projeto prévio é uma
porta aberta à corrupção e ao superfaturamento. O problema é que não existe lei perfeita,
e toda lei terá interstícios os quais serão usados, com falácias, para burlar o que nela está
estabelecido. Se a Lei 8. 666 fecha uma série de interstícios e brechas no processo de
licitação e sua praticamente revogação por meio de medidas provisórias levou a licitações
de obras sem projeto prévio, sua modificação por outras leis deve considerar todos os
aspectos que ela abrange, e, deixando abertas as brechas e os interstícios que ela fecha,
deve ser considerada sem efeito e nula. A modificação de uma lei que controla as
possibilidades de burla e uso de falácias para dar cobertura a práticas ilícitas é um ilícito
a ser punido. O cerne da questão, todos fazem de conta não enxergar, apesar de muitos
apontarem o principal defeito: [ASPDDP, PSPS, TSDNLL] as licitações são feitas sem
projeto pronto. Todos procuram ignorar que é o Estado assinar um cheque em branco para
as empreiteiras e que esta é a verdadeira porta aberta para os superfaturamentos. É um
absurdo que haja omissão das casas legislativas a respeito de se dar um cheque em branco
às empreiteiras, desde o início da emissão das medidas provisórias que alteraram as regras
de licitação: é o acordo tácito de omissão e conivência. Não se tem conhecimento de
medidas judiciais contra as leis, e seus autores, que alteraram a Lei 8. 666. Os motivos
pelos quais as medidas provisórias alterando o processo de licitação, no primeiro caso, a
urgência das obras para a copa, não justificam a abertura dada para a corrupção. É preciso
investigar quem orienta a presidente na elaboração destas medidas provisórias, uma vez
que ela não dispõe dos conhecimentos necessários para interferir no processo de licitação.
Para o combate à corrupção e a outros ilícitos cometidos em ambientes dos três poderes
constituídos há que se transformar o agente público em agente jurídico colocando-o
autorizado a priori, pela nomeação, a efetuar gravações de som e imagem e até mesmo
guardar consigo provas escritas que desonerem seus superiores por conterem provas de
ilícitos cometidos. Não é o agente público que se obriga a silenciar-se quando testemunha
ato ilícito de subordinados ou superiores em função pública; são estes que devem se
resguardar de cometer ilícitos.
Utopia?

9.5.6 Há uma falha jurídica que passa


despercebida, voluntaria ou involuntariamente.
O fato é que a corrupção nunca deixa provas escritas, mas deixa rastros e indícios. Não
se pode mais negar que o processo político em andamento no Brasil é um casamento da
política com a corrupção. Entretanto, as denúncias formuladas por Luis Roberto Ponte
74
em 1992, que culminaram na Lei 8. 429/92 estão provadas, não por provas documentais
materiais, nem mesmo por presunção hominus, em que pelo raciocínio parte-se de um
indício e se chega a um fato relevante. Estão provadas simplesmente pelo fato de que o
que ele aponta como defeitos nas regras de licitação e procura corrigir com a Lei 8. 429,
tiveram a comprovação pelo tempo, com a situação do caos econômico atual e na quase
bancarrota, com previsão de bancarrota total, da Petrobras e dos fundos de pensão. Como
mostrado, a corrupção experimentou um pequeno período de correção a que se seguem
as manipulações das regras licitatórias por medidas provisórias que se tornaram, com a
conivência das casas legislativas, leis em vigência atualmente. Não é prova jurídica, no
entanto, mas aponta para a inépcia política e jurídica para se determinar as provas de
corrupção e a correção dos mecanismos que aproveitam os interstícios e as falhas das leis.

9.5.7 A teoria da prova criminal desconhece o


mecanismo da corrupção
Para o criminalista Zenkner Schmidt, exige-se que haja comprovação da conduta descrita
no verbo nuclear do tipo penal e dos demais elementos do tipo. "No caso do artigo 317
(corrupção), exige-se prova da solicitação ou do recebimento do valor de origem ilícita,
pelo menos. Em caso de concurso de pessoas, exige-se a prova de cada tarefa
desempenhada por cada um dos concorrentes". O que é necessário, afirma, é que as
diversas provas apontem a uma verdade por associação. [PTFCDC] Quando, na
corrupção exige prova da solicitação de vantagem indevida; a prova de recebimento
também é exigida, mas a primeira é subjetiva, pode ser um acordo firmado apenas com
uma palavra, um gesto. Na corrupção institucionalizada estas palavras e gestos se
determinam com o valor semântico de combinação do ato ilícito, e já a solicitação ou
oferta de vantagem indevida pode estar tacitamente combinada por uma indicação para
cargo de confiança, nepotismo, etc. Não se trata de um "um tudo leva a crer", mas um
conjunto de evidências, indícios, que deve apontar uma verdade de forma suficiente a não
restar dúvidas. Esta leitura, no entanto, está sujeita a argumentações falaciosas que tanto
procuram transformar em verdade o que não é, quanto procuram transformar em falso o
que é verdade. Daí a necessidade de se aprender a ler a ponto de se saber reconhecer
falácias e sofismas.

9.6 Corrupção, o crime perfeito: nada é


considerado prova do ilícito cometido
9.6.1 Diferenciação entre denúncia e acusação
Um dos motivos para não abertura de processos contra corruptos parece ser a má
interpretação do que seja denúncia e acusação, e o não discernimento entre acusação e
acusação juridicamente válida. Embora já tenha sido tema de análise anterior, a
rediscussão cabe aqui contextualmente. Muito sofisma se constrói a partir de que
"denúncia" tem entre seus significados "acusação". É passível de ser tolerado um leigo
usar como recurso de argumentação que "denúncia" é "acusação" , mas um advogado,
75
ainda que apenas em formação, usar deste recurso é indicador de má-fé. Embora o campo
semântico jurídico não determine, muitas vezes, de modo claro a diferenciação entre
denúncia e acusação, Santoro Filho [DRAPP] demonstra como uma denúncia contendo
uma acusação é depurada para dela se extrair uma acusação juridicamente válida, verificar
se a acusação formulada na denúncia procede de ato ilícito típico com indícios de autoria
do acusado. Não se trata de "provar" que a acusação procede de atos ilícitos de que o
acusado seja autor, mas provar que há indícios de que proceda e de que seja o autor.
[DRAPP] Não se trata de verificar se a acusação procede realmente de atos ilícitos, de
procurar fundamentos, provas jurídicas, de que os atos cometidos foram ilícitos ou não e
permitam inocentar ou condenar o acusado, que é julgá-lo e processá-lo. Uma denúncia
sempre contém uma acusação, que pode ser admissível ou não, e são admissíveis as
acusações juridicamente válidas, não se abrindo processo judicial a partir de uma
denúncia. Deste modo, a denúncia é uma acusação no sentido leigo, e esta acusação pode
ser juridicamente válida ou não, que é o sentido de "acusação" no campo semântico
jurídico. Em consequência, recebida uma denúncia ou queixa crime com uma acusação é
preciso primeiro determinar se se trata de acusação juridicamente válida, ou seja, para a
qual caiba a abertura de processo, e isto significa juridicamente "admitir uma denúncia".
Recebida uma denúncia de que em órgãos públicos se pratica corrupção ou que
determinado agente público pratica corrupção deve-se analisar se é uma acusação
juridicamente válida, o que inclui a verificação se a acusação não comporta excludentes
de ilicitude. Para se admitir uma denúncia é conditio sine qua non que se verifique se a
acusação nela contida procede, quando não se procuram provas, mas evidências,
"indícios" de suspeitabilidade de autoria de crime. O problema passa a ser o significado
de "provas", “indícios” e “evidências”, que para o leigo têm o mesmo sentido (são
provas), de que houve autoria de ilícito.
Os princípios aplicados a esclarecer a denúncia compreendem [DAAAP]:
a) "Observar os princípios constitucionais em vigor;
b) Observar o que está estabelecido em lei e normas jurídicas que regulam os
atos denunciados;
c) Esclarecer a idoneidade das alegações de irregularidades;
d) Empreender, se julgar necessário, medidas investigativas de menor para maior
complexidade no sentido de verificar a verossimilidade do que se denuncia,
orientando-se pelo princípio da razoabilidade, da proporcionalidade e do livre
convencimento;
e) Suspender os trabalhos investigativos ao menor sinal de calúnia ou práticas
ilegais, sem constrangimento do investigado". Os atos destinados a apurar os
fatos e esclarecer a denúncia, "consistem em tomar depoimento do
denunciante, do denunciado e suas respectivas testemunhas, na obtenção de
todas as provas permitidas em lei e na promoção de quaisquer diligências que
se façam necessárias para o esclarecimento da denúncia". [Artigo 15 da
Resolução n° 34] O significado de "esclarecer a denúncia" é, portanto, buscar
as evidências de admissibilidade ou não e procedência ou não da denúncia,

76
que significa verificar se a denúncia contém uma acusação juridicamente
válida, não por provas definitivas, mas por indícios.

9.6.2 Requisitos para a denúncia


A conceituação de denúncia dá margem a sofismas já desde o Código Penal, que usa o
termo para se referir a acusação:
"A denúncia ou a queixa deve descrever com clareza todos os elementos do tipo penal
cuja violação imputa ao réu, mencionando todas as circunstâncias fáticas necessárias ao
exercício da ampla defesa. Na peça acusatória inicial, devem, pois, ficar respondidas as
seguintes questões relativas à prática do crime: quem o fez, quando o agente o fez, onde
o fez, os meios que empregou, o que fez, por que o fez e como o fez (CPP, art. 41)".
[DFTAP]
Esta confusão entre "denúncia", "acusação" e "acusação juridicamente válida" não
permite que se façam acusações por indícios de corrupção, mas por provas irrefutáveis,
que só se obtêm quando o processo já se completou com todos os prejuízos consequentes.
Assim, a corrupção, crime de difícil tipificação de autoria, corre sempre o risco de ficar
impune.

77
10 A corrupção como resultado de acordo
tácito segundo a Teoria dos Sistemas
(Morin)
10.1 Apresentação
Como surgem os acordos para a corrupção? Como surgem as organizações com objetivos
de corrupção? Quando há verbalização oral e escrita nos atos de corrupção? A divisão de
propina com partido político é indicador de que houve planejamento ou é preciso
encontrar provas de que houve? Há um fluxo espontâneo de ações que anularam as
medidas anticorrupção como a Lei 8. 666, ou é um fluxo orientado por um mentor
intelectual? Por que a Operação Mãos Limpas na Itália teve muito sucesso, mas não
acabou com a corrupção na Itália? Por que Operação Lava Jatos terá muito sucesso em
acabar com o surto atual de corrupção, mas não acabará com a corrupção no país? Por
que a corrupção na Petrobras e nos fundos de pensão foi denunciada várias vezes desde
1991 e mesmo assim chegou ao estado e volume atual? Quem se omitiu? Quem foi
conivente com a corrupção deixando-a evoluir sem barreiras? Por que, por mais que se
combata a corrupção, ela sempre reaparece? Por que em toda eleição há acusações mútuas
de corrupção e nunca se abre processos judiciais que punam os acusados?
Por que a Presidência da República pode legislar, por medidas provisórias, anulando a lei
de licitações sem a revogar, e todos os mecanismos anticorrupção já criados, inclusive a
fiscalização pelo TCU? Não há um sistema pró-corrupção em vigência? As tentativas de
controle da corrupção não têm visado apenas à corrupção que ultrapassou um nível
tolerado pelos políticos?
São muitos os questionamentos. Serão respondidos a partir da visão de sistema de Edgar
Morim em O Método I, a Natureza da Natureza.
O jogo das interações;
Do objeto ao sistema; da interação à organização;
As emergências;
A organização da organização;
Et Cetera.
Transcrevemos o trecho de O Método I em que se ilustra o resultado das interações entre
elementos em desordem, chamando a atenção ao fato de que nas organizações que têm
como objetivo atos ilícitos os elementos são seres humanos, portadores de mente e de
consciência.
O primeiro ilustra o princípio a que Von Foerster chamou ordem from noise (Von
Foerster, 1960): direi antes principio de organização pela desordem. Considere-se um
número determinado de cubos leves cobertos dum material magnético e caracterizados

78
pela polarização oposta dos dois pares de três lados que se juntam em dois cantos opostos.
Colocam-se os cubos numa caixa. Fecha-se a caixa e agita-se. Sob o efeito da agitação,
os cubos associam-se segundo uma arquitetura aleatória (fantasista) e estável. A cada
agitação nova alguns cubos entram no sistema e completam-no até que a totalidade dos
cubos constitua uma unidade original, imprevisível à partida enquanto tal, ordenada e
organizada ao mesmo tempo. As condições de tal construção são: á) Determinações e
imposições próprias dos elementos materiais em presença (forma cúbica, constituição
metálica, magnetização diferencial) e que constituem princípios de ordem; b) Uma
possibilidade de interações seletivas capaz de ligar estes elementos em certas condições
e ocorrências (interações magnéticas); c) Um aprovisionamento de energia não direcional
(agitação desordenada); d) A produção, graças a esta energia, de encontros muito
numerosos, entre os quais uma minoria ad hoc estabelece as interações seletivamente
estáveis, que se tornam, assim, organizacionais. Assim, ordem, desordem e organização
coproduziram-se simultânea e reciprocamente. Sob o efeito dos encontros aleatórios, as
imposições originais produziram ordem organizacional, as interações produziram inter-
relações organizacionais. Mas também podemos dizer que, sob o efeito das imposições
originais e das potencialidades organizacionais, os movimentos desordenados,
desencadeando encontros aleatórios, produziram ordem e organização. Existe, portanto,
de fato, um anel de coprodução mútua:
ordem =>; desordem =>; interações =>; organização =>; ordem
Assim constituída, a organização mantém-se relativamente estável, mesmo quando a
caixa continua a ser agitada pelos mesmos abalos que a produziram. Donde este traço
notável: uma vez constituídas, a organização e a sua ordem própria são capazes de resistir
a um grande número de desordens. A ordem e a organização, nascidas com a cooperação
da desordem, são capazes de ganhar terreno à desordem. Esta característica é duma
importância cosmológica e física capital. A organização, e a ordem nova que a ela está
ligada, embora saídas de interações minoritárias no jogo inumerável das internações em
desordem, dispõem de uma força de coesão, de estabilidade e de resistência que as torna
privilegiadas num universo de internações fugidias, repulsivas ou destrutivas (cf. cap. ii,
p. 137); beneficiam, em suma, dum princípio de seleção natural física. (Veremos até que
o único princípio de seleção natural é físico e não biológico).

79
10.2 Sistematização compreensiva da corrupção
pela teoria dos sistemas
Conhecidas as forças psicossociais, dinâmica de grupo, atuantes nos grupos de corrupção
pode-se derivar da visão de Morin para a gênese do universo a partir da interação entre
elementos físicos, um modelo para a gênese da corrupção e sua manutenção em uma
sociedade.

10.2.1 Introdução
A visão atual é a de que agentes públicos e privados promovem a corrupção, seja por
acordo entre os agentes ou uma colaboração consciente desta cooperação. [ESCP] A
possibilidade lógica é ser inicialmente por acordo tácito, a verbalização em dependência
da inexperiência dos envolvidos ou da garantia de impunidade. Embora a corrupção possa
se organizar e possa se tornar planejada, o acordo tácito entre os indivíduos participantes
está sempre presente.
Em toda sociedade constituída há um sistema de significações, normas e valores que
favorecem a corrupção, não sistematizado, e ao qual se aderem aqueles que têm a Intenção
da corrupção, e é necessário para a compreensão deste sistema partir de uma situação
ideal em que na sociedade não exista corrupção, analisando as causas determinantes de
seu aparecimento, o modo como aparece e evolui. Faz-se considerações posteriores para
a situação em que haja sistema pró-corrupção já em atuação.
Propõe-se servir da teoria dos sistemas como instrumento de corte da Realidade e da
teorização de Edgar Morin [EMM1] sobre o nascimento da Ordem e dos Sistemas a partir
de considerações sobre a natureza da Natureza. A leitura de Morin se faz com os pontos
de vista de Lauro de Oliveira e Lima sobre a dinâmica de grupo, [LOLDG] que trata da
inter-relações entre indivíduos em grupos que visam um objetivo. As citações entre aspas
é sempre de O Método, [EMM1] se não houver indicação em contrário.
Morin inicia a partir do elemento físico, não portador de uma mente copiadora e
transformadora da Realidade, ao mesmo tempo em que não faz uso da metáfora
pampsiquista, que dá um psiquismo a todo elemento da Natureza, nem da metáfora do
panteísmo, de que a primeira é derivação.

10.2.2 Sistematização compreensiva da corrupção


pela teoria dos sistemas
Pode-se compreender a corrupção como um sistema, invisível, de que emergem surtos de
corrupção, ou, dizendo de outra forma, há uma corrupção perene, com suas leis e regras,
de que a sociedade tem se contentado a combater os excessos quando ultrapassa
determinados limites considerados toleráveis pela classe política. A sociedade tem
procurado controlar a corrupção a partir dos surtos em que ela se torna visível, pouco

80
impedindo a emergência de novos surtos, apesar de tantos discursos que pregam o
propósito de combater a corrupção.
Para Morin, "todo sistema depende também do espírito, no sentido em que o isolamento
dum sistema e o isolamento do conceito de sistema são abstrações operadas pelo
observador/conceptor". Esta visão não é adequada: os sistemas são concretos, apenas sua
sistematização teórica é uma abstração. O sistema em si é um inter-relacionamento entre
as Coisas da Realidade, existe ali e é observado pelo indivíduo que dele participa, o qual
poderá ou não sistematizar conceitos explicando-o. Um sistema ativo na Realidade
depende, muitas vezes, para ser percebido, das palavras que o aponte. Não é como na
visão marxista de que a palavra (Abstração) cria a Coisa (Concreto): a palavra pode
facilitar a percepção da coisa ou dificultar, mas não cria a Coisa Real. Um sistema em
que os elementos constituintes são seres humanos com suas mentes e consciências
depende também do espírito, no sentido de que o observador altera o sistema de acordo
com a direção em que flui para sua integração ou desintegração, alterando seu próprio
comportamento visando a primeira e procurando evitar a segunda. Neste ponto de sua
teorização, Morin não diferencia o observador teórico do observador que vivencia o
sistema, pois enquanto o homem vivencia como dele participante coloca em operação a
intuição, em que os conceitos podem não ser claros e verbalizados, mas que o aproxima
mais fielmente da Realidade. É a compreensão que se tem quando se joga um gato contra
a parede repetidamente e se percebe que ele sempre encontra a parede com as quatro patas
vinculado à compreensão de que o homem é um animal.
Sistematizações podem ser feitas, e são, "provando" ser a corrupção necessária e as
explicações teóricas em um sistema como a corrupção pode tender a usos de falácias e
sofismas, mais no sentido de justificar atos corruptos do que em fazer compreender de
que modo ela se dá nas sociedades, fundamento necessário para seu controle.

10.2.3 O jogo das interações


Na situação inicial, a partir da desordem entre os elementos-indivíduos que se colocam
em interação por "ações recíprocas que modificam o comportamento ou a natureza dos
elementos, corpos, objetos, fenômenos (ou pessoas, comunidades, sociedades) que estão
presentes ou se influenciam". Estas interações supõem elementos-indivíduos que podem
se encontrar e condições de encontro; “Obedecem a determinações/imposições que
dependem da natureza dos elementos, que se encontram”; “Tornam-se, em certas
condições, inter-relações (associações, ligações, combinações, comunicação, etc. ), ou
seja, dão origem a fenômenos de organização". “Comportam diversamente reações, ações
de trocas, retroações ou ações que atuam retroativamente sobre o processo que as produz,
e eventualmente sobre a sua origem e ou causa”.
Deve-se acrescentar o que se infere dos postulados de Morin, as determinações e
imposições dependem também do ambiente, fatores circunstanciais, em que os elementos
em interação estão inseridos.
Para explicar acordos tácitos, ou seja, sem verbalização, para a corrupção pode-se iniciar
de um conjunto de elementos, indivíduos que, praticando atos ilícitos isoladamente, ou

81
não, mas tendo a Intenção, entram em interações mútuas, fazendo nascer uma ordem e
uma organização, que cresce fazendo surgir um sistema pró-corrupção.
As consequências desse jogo de interações são várias e serão analisadas primeiro as
determinações e imposições que os leva a interagir em função de um objetivo, a prática
do ilícito da corrupção e, em seguida, as interações em si, os elementos-indivíduos se
interagem e fazem surgir uma organização para a corrupção dentro do seio das relações
entre agentes públicos e privados empreiteiras. Posteriormente serão analisadas as
determinações e imposições que os leva a interagir em função de um objetivo, a prática
do ilícito da corrupção.

10.2.3.1 Inter-relações e dinâmica de grupo


Pelos postulados de dinâmica de grupo, [LOLDG] deve-se compreender que "em um
primeiro momento, não há chefia", cargo de comando: cada participante é líder de si
mesmo, e faz os atos necessários para atingir seus objetivos, coordenando-os para que se
adequem aos atos daqueles a quem se associa por acordo tácito.
O próprio individuo regula suas intuições para chegar ao pensamento de grupo que gera
as regras assim o cada indivíduo é líder de si mesmo, e, em virtude do pensamento grupal
a ordem que dá a se mesmo é aquela que o grupo dele espera.
Com o tempo e o fluir das ações do grupo, surge uma "liderança, que é um fenômeno
relacional, emergencial e corresponde ao encontro adequado de uma aptidão individual
com uma situação grupal", as capacidades organizadoras pelas quais sinaliza ao grupo ser
o membro "o mais apto para levar o grupo ao objetivo", contudo, deve-se "levar em
consideração os indivíduos que constituem o grupo e as circunstâncias". De outro lado,
"os mais aptos tendem a procurar os grupos em que sua aptidão seja funcional". Surge,
então, a cooperação mútua, "de que resulta a ordem", de que vai resultando a
reciprocidade, a reversibilidade, que "é a capacidade de reverter mentalmente um
processo de transformação já ocorrido até o momento inicial, anulando assim a ação
interiorizada", e a objetividade. "As regras surgem da cooperação mútua mas são
impostas pelo fluxo de ações e não há deliberação consensuada de regras, o que tornaria
o grupo passível de ser descoberto mais facilmente. Não há dominação, submissão,
apenas cooperação visando um objetivo comum. A cooperação é uma lógica das ações,
cada indivíduo exerce o ato determinado pelo papel que assume no grupo tão logo surja
a oportunidade de efetivá-lo". "A ordem não é um valor absoluto, sua validade decorre
da participação do indivíduo na elaboração das regras" e estas se constroem por ações
consonantes com as ações dos demais participantes. As ações dissonantes serão
assimiladas na medida em que contribuam para o aperfeiçoamento do grupo no que
concerne atingir os objetivos. Destes processos vão surgindo as regras de funcionamento
do grupo, de forma tácita, em que todos e cada um são responsáveis por decisões tomadas:
não é necessário encontrar provas claras de autoria: prova-se que há associação em busca
de um mesmo objetivo, o produto da corrupção, de que a participação na divisão deste
produto é prova mais que suficiente.

82
Sendo um grupo associado por acordo tácito, cada um percebendo no outro as qualidades
que facilitem alcançar um objetivo, não surgirá um chefe que "domine pela força, pela
inteligência, por aptidões extraordinárias, independentemente da dinâmica real do grupo".
Neste aspecto distancia-se de uma quadrilha de malfeitores que necessita de um chefe que
conduza a todos. Em situação de surtos emergenciais de corrupção, o grupo pode mudar
de liderança à medida que as exigências da execução do planejamento vão exigindo
aptidões diferentes (planejador, argumentador, elaborador, executor, controlador, etc.).
Na liderança inicial, o líder aparece de forma espontânea e sem discussão como se tivesse
havido um insight, entretanto, no caso da corrupção política as pessoas são escolhidas
pelo líder de acordo com suas características individuais favoráveis ao cometimento de
ilícito. Pode surgir, então, a situação em que o líder é nomeado e seguido tacitamente,
mas se torna, sem o conhecimento dos demais participantes, o planejador, controlador e
visa manter-se na liderança ao mesmo tempo em que procura corresponder à Intenção de
todos os participantes do grupo. Em uma investigação policial, encontrando-se indícios
de que um indivíduo do grupo planeja, controla, embora mantendo dos demais distância
sigilosa, é prova suficiente de que é o chefe do grupo: torna-se um líder fixo. O natural
da liderança é flutuar e variar de acordo com a circunstâncias, e o primeiro ponto a
considerar é que a corrupção se dá em surtos, para cada susto surto surge uma liderança.
Deste modo, não há uma liderança específica mesmo que em um novo surto de corrupção
não haja substituição da liderança. Contudo, quando são encontrados indícios de que esse
líder coordena atos futuros a serem adotados fica configurado não mais um acordo Tácito
mas um planejamento, mesmo que este planejamento seja apenas a nível individual. Neste
caso o indivíduo tomara decisões e fará atos que provocarão ações dos outros membros
por percepção intuitiva, não havendo a necessidade de verbalização de ordens. No caso
atual, o fato de o surto de corrupção durar 24 anos com os mesmos personagens significa
planejamento e não meramente acordo Tácito entre os indivíduos, e prescinde de provas
para afirmar tratar-se de quadrilha, ainda que ingenuamente os demais participantes
possam negar estarem sendo chefiados e guiado por este líder.
Deve-se compreender também que havendo relações entre agente público e privado para
o cometimento de ilícito de corrupção, há distribuição de papeis, surgindo líderes em cada
instância, tudo sendo assumido tacitamente de forma a que cada indivíduo possa afirmar
não saber nada acima de sua posição e nível, que é uma característica de sociedades
secretas, mas é uma dada pelo caráter tácito das associações e inter-relações. Nos grupos
voltados para a corrupção, cada um tem consciência de seu papel e exerce as funções que
dele se espera, mas tacitamente: cada um compreende o que deve fazer para que o grupo
atinja o objetivo. Mesmo quando há superiores envolvidos, há uma atenuação de seu papel
hierárquico quando o subordinado faz tacitamente o que dele se espera: produz indícios
do envolvimento de seu superior, necessitando, por exemplo, obter controle do que a ele
é devido e foi pago. É nítido que, havendo a distribuição de propinas pelo subordinado a
outros indivíduos que não o seu superior, não se trata mais de acordo tácito, mas de ordens
recebidas: o subordinado não sabe exatamente a quem destinar o produto do ato ilícito a
não ser aqueles que percebeu estar envolvido no processo: esta percepção pode ser dada
por outro, quando há a necessidade de verbalização. O receptor inicial da propina talvez

83
possa ser vítima de extorsão por quem tenha tomado conhecimento de que pratica ilícitos,
mas quem participa da divisão do produto do ilícito se torna parte do grupo.
"Sendo a liderança um fenômeno típico da "dinâmica do grupo", não se pode admitir que
alguém lidere o grupo sem a ele pertencer. O que se chama de liderança "de fora" do
grupo é, simplesmente, chefia baseada num status conferido pela sociedade, pela lei ou
pelas circunstâncias pessoais que fazem alguém dominar um grupo".

10.3 A corrupção segundo a Teoria dos Sistemas


(Morin)
Conhecidas as forças psicossociais, dinâmica de grupo, atuantes nos grupos de corrupção
pode-se derivar da visão de Morin para a gênese do universo a partir da interação entre
elementos físicos, um modelo para a gênese da corrupção e sua manutenção em uma
sociedade.

10.3.1 O que é Teoria dos Sistemas


10.3.1.1 Definição
Os sistemas estão presentes na Realidade como inter-relações entre as coisas reais.
Embora Bertalanffy, ao propor a teoria dos sistemas, tenha enfatizado que os sistemas
reais são abertos e na interação com seus ambientes adquirem novas propriedades, que
emergem em evolução contínua, os teóricos [STCDP] acentuam sempre o caráter
conceitual dos sistemas: o estudo transdisciplinar da organização abstrata do fenômeno
criando modelos que os descrevem. Deste modo, para uma atuação efetiva em um
conjunto de relações entre Coisas Reais, sistema concreto, a sua sistematização (sistema
conceitual) deve seguir uma metodologia diferente da que tem sido adotada, mediante o
uso de novos parâmetros. Os parâmetros seguidos para a execução deste trabalho estão
descritos em As Memórias de Schreber decodificadas: Pássaros Falantes. [GRPMSD]
Salienta-se a necessidade de suspensão do julgamento, o que torna toda leitura mediante
pontos de vista ideológicos fabricadora de conceitos que se distanciam do sistema
concreto que se pretenda descrever, e a necessidade de se duvidar do que se lê, em textos
ou no sistema de Coisas Reais, a Realidade, ultrapassando a dúvida metódica cartesiana
(duvidar até alcançar a evidência) para atingir a dúvida sistemática, artaudiana (duvidar
até destruir as evidências).

10.3.1.2 há a confusão entre "sistema" e


"conceituação sobre um sistema"
O sistema é uma Coisa Real, está presente na Realidade e diz respeito a inter-relações
entre Coisas Reais, as quais dependem de suas propriedades intrínsecas. Pela Teoria dos
Sistemas não se reduz uma entidade às propriedades das partes componentes, mas o foco
é dirigido nas relações entre os elementos e nas relações que as conecta ao todo. É esta

84
organização que determina um sistema, que é independente da substancia concreta dos
elementos componentes. [STCDP]

10.3.1.3 Pensamento sistemático x analítico


Pela Teoria dos Sistemas o conhecimento humano é visto em um contexto muito mais
amplo e mais significativa do que nos estudos filosóficos de Platão a Filosofia Analítica”.
[EK2KK]
Os avanços no pensamento analítico seriam insuficientes para dar uma percepção
integrada da Realidade, mas são acompanhadas por desenvolvimentos mais impressivos
no pensamento sistêmico, integrador, na teoria geral dos sistemas, nos estudos
interdisciplinares e nas "ciências da complexidade". [EK4PIS]

10.3.1.4 Falhas e interstícios no sistema social e nas


leis
A teoria dos sistemas sugere que muitos dos acidentes ocorrem como resultado de uma
série de pequenas falhas, como resultado de defeitos no sistema. Correspondentemente,
os sistemas abstratos seriam designados para tornar os erros menos prováveis e identificar
aqueles que ocorrem inevitavelmente. Um número de fatores próprios dos sistemas pode
aumentar a probabilidade de erros. [HPIM18]
Esta teorização aplicada na corrupção faz compreender que as falhas e interstícios no
sistema social permitem a corrupção, tanto a corrupção moral quanto a corrupção política,
que é meramente roubo, pois quem a pratica já está moralmente corrompido. Assim, as
falhas e interstícios nas leis permitem a corrupção, mas também a ausência de
instrumentos preventivos e a formação do sistema de significação, normas e valores de
cada indivíduo para que aceite a corrupção como um fato necessário ao Estado. Ou seja,
a transformação dos fatores culturais tradicionais em busca da hegemonia de um tipo de
marxismo gramsciano.

10.3.1.5 Modificar a parte não modifica o todo


“A Teoria dos Sistemas compartilha muitas características com a Teoria da Forma, assim
o que acontece a uma parte do todo é determinado pelas leis da estrutura interna do todo
e o que acontece ao todo não pode sempre se deduzido das características das partes em
separado. Como os elementos em um sistema sofrem restrições mútuas, o estado de um
elemento pode alterar o estado de outro elemento e vice-versa. Também, como observado
na Teoria da Forma, os elementos podem se alterar de alguma forma e o todo permanecer
idêntico, ou ainda pequenas alterações em cada elemento pode alterar o todo
completamente”. [HTALV]
Tem-se que grandes mudanças no comportamento de cada um dos indivíduos podem não
alterar o todo da corrupção, mas pequenas alterações podem alterar o todo. A história da
corrupção tem mostrado que, embora necessário, punir os corruptos e deles exigir
indenizações não acaba com a corrupção. As alterações surgirão por retroalimentação,

85
surgindo medidas que anulem as forças antagônicas. É preciso alterações mínima nos
elementos do sistema pró-corrupção, elementos estes que são ideias, conceitos, valores:
enquanto não se objetivar combater a corrupção combatendo as forças diretrizes que a
sustentam o homem será escravo daquele que detém o poder sobre a produção de riqueza,
o poder político.

10.3.2 Imposições iniciais


Há fatores presentes na ação política que determinam e alguns impõem a ação corrupta,
e que se tornam mais precisas e multiplicam-se, fixando as possibilidades de interação
entre os indivíduos que vão constituir a base dos processos da organização para a
corrupção.
A partir daí, desenrola-se, através das interações, a sequência
Ordem => desordem => organização => sistema.
Como já demonstrado, a imposição inicial para a corrupção é a convicção adquirida de
que político pode cobrar propina para fazer andar a máquina administrativa, que se soma
à necessidade econômica, por parte do agente privado, de se considerar qualquer
pagamento como despesa que deve gerar lucro. Chama-se a atenção para o fato de que
estando o surto atual de corrupção vigente desde 1991 e em atuação um sistema pró-
corrupção são determinações pessoais ou circunstanciais que agem como impositores da
corrupção a que deve anuir quem queira participar de obras públicas ou exercer cargos
executivos nas estatais que as promovem.

10.3.3 Formação do sistema para a corrupção


Pode-se imaginar o surto de corrupção iniciar-se sem ocorrência de verbalizações, as
quais surgem nas fases iniciais por inexperiência dos participantes, diminuem com o
andamento e sistematização do processo e seu amadurecimento por retroalimentação, e
podem aumentar quando há grande número de participantes. Contudo, o aumento da
verbalização torna a corrupção visível e, assim, depende de um sistema que garanta a
impunidade se descoberta, ao mesmo tempo em que a certeza absoluta de impunidade
leva ao aumento de verbalização. A busca de objetivos comuns sem que haja uma
verbalização é a característica de um acordo tácito. Nos grupos que objetivam a corrupção
a lei de silêncio funciona, entretanto, não sendo como nas organizações mafiosas em que
a punição pode vir a ser o assassinato, ameaça que permite maior liberdade de ação e uma
certeza de que as palavras ditas e combinadas fiquem no âmbito da organização. Com o
aumento da verbalização atinge-se um dado ponto em que se torna planejamento para a
corrupção.

10.3.4 Desordem leva à ordem


Se é válido para sistemas físicos que as interações entre os elementos levam ao
aparecimento da ordem é mais válido ainda para sistemas de indivíduos, mentes e
consciências, à procura de mesmo objetivo, a propina e ou os privilégios que se obtém

86
pelo exercício da função política. Em termos de corrupção a desordem seria a prática de
ilícitos de forma individual e desordenada e os indivíduos em interação percebem os
modos de melhor funcionamento e transformam associação ao acaso por associação por
Desejos, Intenção e objetivos comuns. Com o tempo o processo se torna espontâneo, mas
sempre presente, mesmo quando a corrupção estiver institucionalizada e tornada
instrumento político.
Indivíduos com Intenção de corrupção atuando livremente ao se interagirem começam a
cooperar mutuamente, dando início ao aparecimento da ordem ou esquema.
Consequentemente, atos ilícitos individuais não devidamente punidos fazem aparecer
uma ordem, em que os ilícitos são praticados de forma conjunta, cada indivíduo
exercendo o seu papel, não de forma combinada, mas ajustando seu comportamento pelo
comportamento do outro que tem a mesma Intenção, de forma que o ilícito tenha melhor
resultado. Com o crescimento do grupo surgem ações desintegradoras entre os próprios
componentes, por mais dificuldade de percepção.

10.3.5 A ordem leva à organização


Se surge em um sistema político ordenamentos de indivíduos em busca dos privilégios e
do "direito" de cobrar propina e estes ordenamentos não são abortados, há a evolução da
ordem para organização. A estes fatores deve-se acrescentar as informações privilegiadas,
estas sempre relacionadas à produção de riqueza e auto enriquecimento e de familiares.

10.3.5.1 Que é a organização?


Numa primeira definição, "a organização é a disposição de relações entre componentes
ou indivíduos, que produz uma unidade complexa ou sistema, dotada de qualidades
desconhecidas ao nível dos componentes ou indivíduos". Assim, as consciências
participantes no grupo se dão a conhecer apenas pelos atos cometidos em função do
objetivo comum, ficando todas as deliberações mentais que levaram aos atos
desconhecidas dos demais participantes. Nesta fase, se houver verbalizações estas podem
constituir indiretas, piadas, etc., confiando-se na capacidade de percepção do interlocutor,
mas, com maior probabilidade, a retroalimentação de um ato são as consequências dele
resultantes.

10.3.5.2 Não há um comando criando a


organização
"A ideia de organização remete para a disposição das partes num, em um, e por um todo".
Este caráter "por um todo" explica uma necessidade de tolerância, omissão e conivência
mútua para que a corrupção sobreviva" Deste modo, todo participante tem o poder de
parar o processo mediante denuncia judicial e todos contribuem em sua construção e
organização. Todos no grupo são solidários, não denunciam não por se omitirem, e sim
por conivência, mas cada um tem um papel superior ao de cúmplice. A ação continuada
de omissão em denunciar descaracteriza o ato como mera omissão.

87
10.3.6 Das interações nascem formas e
organizações
"A ordem e a organização, nascidas com a cooperação da desordem (ou) as inter-relações
entre elementos, acontecimentos ou indivíduos, desde que tenham um caráter regular ou
estável, tornam-se organizacionais". Aplicando-se à corrupção, atos de corrupção que se
tornem regulares e estáveis "são geradoras de formas e de organização e fazem nascer e
perdurar sistemas", a partir de uma minoria ad hoc estabelece as interações seletivamente
estáveis, que se tornam, assim, organizacionais". Ad hoc é uma expressão geralmente
usada para informar que determinado acontecimento tem caráter temporário e que se
destina para aquele fim específico. A partir de um dado ponto de interações entre
indivíduos que visam ao ilícito, surge a ideia de sistema de ações para um fim em comum.
São várias as definições de sistema e a de Ackoff dirá que "é a unidade resultante das
partes em interação mútua", ou a de Saussure, "ligando-a ao conceito de totalidade e de
inter-relação, o conceito de organização: o sistema é uma totalidade organizada, feita de
elementos solidários que só podem definir-se uns em relação aos outros em função do
lugar que ocupam nesta totalidade". Por fim, Morin, adota a definição de sistema como
unidade global organizada de inter-relações entre elementos, ações ou indivíduos".
Assim, um surto de corrupção só é por acordo tácito se for temporário, a continuidade do
processo é determinada pelo controle dos fatores que o inibem, e sugere planejamento, de
que meros indícios constituem prova de formação de organização criminosa, quadrilha.
Deste modo, em uma organização para corrupção, surgem lideranças, escolhidas
tacitamente e não se há de procurar provas de que estes líderes chefiam um grupo, pois
em realidade não chefiam, apenas lideram.

10.3.7 Das inter-relações à ordem, à organização e


ao sistema
Constrói-se um sistema em que
a) "Determinações e imposições próprias dos (indivíduos) envolvidos e das
circunstâncias, que constituem princípios de ordem;
b) Uma possibilidade de interações seletivas capaz de ligar estes indivíduos em
certas condições e ocorrências;
c) Um aprovisionamento de energia não direcional (todos aqueles com intenção
de corrupção podem participar), com a produção, graças a esta energia, de
encontros muito numerosos, estabelecendo as interações seletivamente
estáveis, que se tornam, assim, organizacionais.
Também, "toda a organização que determina e desenvolve especializações e
hierarquizações determina e desenvolve imposições, sujeições e repressões".
São estas determinações e imposições que levam à emergência de surtos de corrupção,
assim, de novo se chega à conclusão de que uma corrupção prolongada de 1991 aos dias
de hoje indica planejamento e controle dos fatores que levam à emergência de surtos de

88
corrupção. Junto com a presença dos mesmos personagens, embora com o acréscimo de
novos indivíduos, qualquer indício de planejamento é prova de comando e autoria do
processo, ainda que pelos meios usuais de prova o acusado possa dizer que não exercia o
poder de comando.

10.3.8 A ordem emerge sob a forma de


determinações/imposições iniciais
A ordem, que emerge sob a forma de determinações/imposições iniciais, vai desenvolver-
se através de materializações e, depois, de interações e de organizações e inter-relações
organizacionais. É quando entram as características individuais de cada participante,
fazendo com que o grau de sucesso de cada um varie. Como "o todo é inferior à soma das
partes: isto significa que qualidades ou propriedades ligadas às partes consideradas
isoladamente desaparecem no seio do sistema. Esta ideia raramente é reconhecida".
Assim, a Ética e a Moralidade individual tendem a desaparecer no sistema pró-corrupção.
Na corrupção torna-se necessária a presença de indivíduos especializados na lavagem do
dinheiro e doleiros, sem os quais a produção do objetivo (propinas) se limita.
Para se combater a corrupção não bastam discursos e denúncias vazias sem consequências
judiciais, é preciso combater e anular estas determinações e imposições para a corrupção.
A percepção do sistema e seu funcionamento varia de indivíduo a indivíduo e assim sua
capacidade de fazê-lo fluir e produzir os objetivos. Quanto menos indivíduos capacitados
a isto, maior a verbalização e maior a probabilidade de o esquema vir a ser descoberto.
As interações que produzem o objetivo procurado se tornam determinações da corrupção.
Em se tratando de indivíduos como consciências participantes do sistema torna-se
necessário que surja um mecanismo de que o que é manifesto não "seja percebido", o
acordo tácito de omissão e conivência, que permite a participação com a alegação de nada
saber.

10.3.9 Organização da organização


Em uma situação ideal de não existência prévia de organização para corrupção e sistema
pró-corrupção, a organização da organização corrupta se faz lentamente, por
retroalimentação do próprio sistema. É um jogo entre forças organizadoras e
desorganizadoras, como será mostrado, com soluções dadas para cada situação
desorganizadora, que são aceitas também tacitamente, e é deste modo que a estrutura da
organização promove a organização da estrutura pró-corrupção, ou seja, são criados
elementos estruturais no sistema que garante a corrupção a partir das soluções dadas a
cada medida contrária a atos corruptos. Se o governante que dá certeza de impunidade ao
sistema de corrupção sofre impeachment, como no caso Collor, o Desejo de Devir do
sistema escolhe as soluções a ele apresentadas que levem a não risco de impeachment do
governante, que passa a ser o governante que não sabe de nada, mas se locupleta dos
resultados da corrupção e depois surge o governante que não sabe de nada e também nada

89
ou muito pouco recebe do produto da corrupção: este governante pensa ter a salvaguarda
de nada ter ido parar em seus cofres particulares.
Em consequência, todo aquele que tendo o poder de legislar e editar leis que favorecem
a corrupção são elementos ativos do sistema e são coautores da corrupção em curso. O
governante que assina a lei pode ter sido levado a assinar por outros indivíduos, mas,
como todo governante tem o dever de combater a corrupção, tem a obrigação de saber os
meios de a prevenir: o erro de elaborar leis a favor da corrupção é prova de autoria se há
continuidade.
A interação entre dois elementos se torna inter-relação quando em busca de um objetivo
comum. "Toda a inter-relação dotada de certa estabilidade ou regularidade toma um
caráter organizacional e produz um sistema", assim, todo e qualquer ato corrupto deve ser
combatido para que a corrupção sistematizada não apareça. Não se há que ter leniência.

10.3.10 Evolução do sistema


Organizado o sistema por determinações e imposições do ambiente, surgem
determinações e imposições próprias das pessoas envolvidas, que, por retroalimentação
induzem novas determinações e imposições do próprio sistema. Surgem também inter-
relações seletivas capazes de ligar estes elementos-indivíduos em certas condições e
ocorrências, é o momento em que o que flui por acordo tácito começa fluir também por
planejamento.

10.3.11 As interações e inter-relações


"As inter-relações podem conservar fortemente a individualidade de cada elemento", e,
neste caso as consciências individuais se unem por acordo tácito, "ou podem implicar
uma relação mais intima e mais transformacional entre elementos, determinando um
conjunto mais unificado. Podem ser garantidas por dependências ou outras inter-relações
e interações organizacionais; ações reguladoras ou comunicações informacionais".
As inter-relações ou ligações podem ir da associação (ligação de elementos ou indivíduos
que conservam fortemente a sua individualidade), e, neste caso as consciências
individuais se unem por acordo tácito, à combinação (que implica uma relação mais
intima e mais transformacional entre elementos e determina um conjunto mais unificado).
Neste caso, a corrupção vai se tornando mais planejada, mas combinada entre os
parceiros, de que meros indícios se transformam em provas finais.
As ligações nos sistemas podem ser garantidas:
a) Por dependências fixas e rígidas;
b) Por inter-relações ativas e interações organizacionais;
c) Por retroações reguladoras;
d) Por comunicações informacionais.
Na corrupção, as dependências entre os participantes tendem a ser fixas e rígidas, um
tendo o outro como potencial denunciador; as inter-relações tendem a ser ativas e

90
organizacionais à medida que surgem necessidades organizacionais. Seria possível que
estas inter-relações continuassem a se dar tacitamente, mas tendo o homem como
elemento de interação não há possibilidade de não ocorrer um planejamento, ainda que
este permaneça sob segredo, mas perceptível tacitamente pelos participantes através dos
atos que gera. As retroações reguladoras das interações são dados pela análise, individual
e intuitiva, dos resultados das interações. As comunicações não se fazem abertamente,
mas por sinais muitas vezes não verbais, até mesmo troca de olhares, tal como não há
verbalização do funcionamento, por ser um fator de desordem e desorganização do
sistema.

10.3.12 Organização + sistema


Juntando a organização ao sistema tem-se que a organização liga, de modo inter-
relacional, elementos ou acontecimentos ou indivíduos diversos que, a partir dai, se
tornam os componentes dum todo. Garante solidariedade e solidez relativa a estas
ligações, e, portanto, garante ao sistema uma certa possibilidade de duração apesar das
perturbações desintegradoras. Em consequência, "a organização transforma, produz, liga,
mantém". É preciso apenas que nos sistemas em que os elementos são as mentes dos seres
humanos cada um dos indivíduos participantes tenha obrigatoriamente de conhecer as
"qualidades" do sistema a que adere, como condição sine qua non. Não se trata de um
conhecimento teórico senão intuitivo do sistema pró-corrupção.

10.3.13 ideia de unidade


Unidade significa integridade. A primeira e fundamental complexidade do sistema
consiste em associar em si a ideia de unidade, por um lado, de diversidade ou
multiplicidade do outro. É uma unidade original, não originária, mas tem de ser
produzido, construído e organizado. O sistema é ao mesmo tempo superior, inferior e
diferente da soma das partes. As próprias partes são inferiores, eventualmente superiores,
e de qualquer modo diferentes daquilo que eram ou seriam fora do sistema. Esta
formulação paradoxal mostra-nos primeiro o absurdo que seria reduzir a descrição do
sistema a termos quantitativos. Significa não só que a descrição deve ser também
qualitativa, mas, sobretudo, que deve ser complexa. Esta formulação paradoxal mostra-
nos ao mesmo tempo em que um sistema é Um todo que toma forma ao mesmo tempo
em que os seus elementos se transformam. O sistema da corrupção é aberto, crescente,
enquanto os elementos-indivíduos que o compõem sofrem transformações, desde o não
ser corrupto e tornar-se até o afrouxamento dos cuidados que tornam o processo invisível.
É uma ideia de unidade que permite ao sistema pró-corrupção a entrada e saída de
elementos sem solução de continuidade do processo, que é também caráter das
organizações criminosas. Não mais vem a ser este ou aquele agente público ou privado
que é corrupto, o sistema é pró-corrupção e este caráter "por um todo" explica também a
necessidade de tolerância, omissão e conivência mútua.

91
10.3.14 Sistema pró-corrupção
Como se organiza este sistema pró-corrupção? Não basta associar inter-relação e unidade
de sistema pró-corrupção, totalidade, é preciso perceber que "as inter-relações entre
elementos, acontecimentos ou indivíduos, desde que tenham um caráter regular ou
estável, tornam-se organizacionais", ou seja, as emergências de corrupção organizam o
sistema aperfeiçoando-o. Pode-se conceber o sistema pró-corrupção como unidade global
organizada de inter-relações entre elementos, ações ou indivíduos. Se a organização do
mundo físico se dá como que seguindo uma inteligência, logos, esta é percebida de forma
intuitiva pelo leigo e com metodologia pelos cientistas, determinando as leis de
funcionamento dos vários sistemas envolvidos. No caso dos sistemas pró-objetivos pré-
determinados, no caso pró-corrupção, os indivíduos envolvidos percebem intuitivamente
as regras de funcionamento deste jogo de inter-relações e as seguem, sem as sistematizar
em um corpo teórico que oriente os atos ilícitos. Textos que favorecem a manutenção do
sistema pró-corrupção são absurdamente não conectados diretamente com o fato, como
os textos que procuram convencer o homem comum de que a corrupção é necessária e
que tem base na índole corrupta do próprio brasileiro. Estes textos convencem todo o
leitor que não perceba as falácias e sofismas envolvidos: é apenas necessário que a
corrupção permita o desenvolvimento econômico de que se nutre; e se houver de culpar
fatores internos de cada homem, não se há de diferenciar o brasileiro, mas se referir à
humanidade toda, uma vez que a corrupção é universal.

10.3.15 A estrutura da organização e a


organização da estrutura
"É geralmente o conjunto das regras de agrupamento, de ligação, de interdependência, de
transformações, que concebemos sob o nome de estrutura" e se identifica com um
sistema. Pode-se dizer, então, que o sistema político e regime de governo atual é pró-
corrupção, não que tenha sido a corrupção inventada agora, mas que houve a
sistematização do processo, embora não transformado em um corpo teórico escrito, mas
com regras claras que mantêm a corrupção perene.

10.3.16 De onde surgem as regras ou leis de


funcionamento do grupo corrupto?
Pode ser transposta para a corrupção a informação de que "a organização precisa de
princípios de ordem que intervenham através das interações que a constituem" e "a ordem
só desabrocha quando a organização cria o seu próprio determinismo e o faz reinar no seu
meio".
As regras ou leis de funcionamento do grupo corrupto nascem das interações/inter-
relações entre os elementos, no caso indivíduos. Em situação de aparecimento da
corrupção onde ela não exista previamente, os encontros (interações) entre os indivíduos
com Intenção de corrupção são determinados pela lei da semelhança, semelhantes se

92
atraem, opostos se repulsam, pelas qualidades individuais que sejam comuns, excluindo
os que tenham qualidades anticorrupção.
Dependem também dos fatores circunstanciais que favoreçam a corrupção. "Os efeitos
destes encontros sobre elementos bem determinados, em condições determinadas,
tornam-se necessários e fundam a ordem das "leis". Da mesma forma, no nascimento "a
organização precisa de princípios de ordem que intervenham através das interações que a
constituem" e "a ordem só desabrocha quando a organização cria o seu próprio
determinismo e o faz reinar no seu meio". A ordem é dada pelas regras ou leis de
funcionamento do grupo. De modo semelhante ao nascimento de sistemas na natureza,
"as condições não obedecem às leis, mais precisamente, condicionam-nas", as condições
determinantes da corrupção não obedecem às leis de funcionamento da corrupção, mas
as condicionam. Parece haver uma confusão a este respeito quando os funcionalistas
analisaram a corrupção para concluir ser um fator necessário ao desenvolvimento
econômico e ao bem-estar social, sendo o contrário, o desenvolvimento e o bem-estar
condicionam o aparecimento da corrupção, pois sem desenvolvimento não há obras pelas
quais receber propinas, que é o fator determinante, e sem bem-estar social não haverá a
aparente tolerância com o ilícito.
"A organização dura em função da possibilidade de interação entre os elementos
constituintes". Da mesma forma, na corrupção "a organização e a ordem que lhe é aferente
constituem um princípio de seleção que diminui as ocorrências possíveis de desordem,
ou de sua desorganização, aumenta no espaço e no tempo as suas possibilidades de
sobrevivência e/ou desenvolvimento". Deste modo, os elementos participantes entre os
quais será distribuída a propina são selecionados de forma a garantir a sobrevivência do
esquema, e, "desordem", significando desintegração, agregam-se elementos que possam
garantir impunidade e leis que desobstruam os antagonismos à corrupção.

10.3.17 O que permite aplicar em acordos tácitos


"Não basta associar inter-relação e totalidade, é preciso ligar à organização e o combate
à corrupção necessita atuar nestas três noções indissociáveis, totalidade, inter-relações e
organização". Cada elemento que se inscreveu na política para fins de corrupção tem uma
noção intuitiva deste sistema em sua totalidade, noção que aperfeiçoa no exercício
político ao mesmo tempo em que, por retroalimentação, faz evoluir o sistema da
corrupção em sua totalidade.

10.3.18 Corrupção e acordo tácito: estrutura-


estruturante
Surgindo um acordo tácito cada agente assume seus papéis seguindo a funcionalidade já
construída e construindo novas regras de acordo com as necessidades pró-corrupção
criadas pelo sistema. A prática da corrupção depende da estrutura em que a corrupção
seja resultado funcional, funcionalidade percebida, internalizada e jamais verbalizada,
não se conhecendo análises do psiquismo de corruptos para se verificar se há

93
conscientização de se estar praticando um ato ilícito no momento em que o pratica. Este
hábito de corrupção não é criado "no conjunto do mundo cotidiano da sociedade", como
quis Bourdieu, mas criado na funcionalidade dos subconjuntos da sociedade que se
articularam para a prática dos ilícitos e do crime. Ao explicar o conceito de habitus,
Filgueiras retorna à psicologia do aprendizado na construção individual dos modos de
perceber, de pensar e de sentir que levam os atores a agirem de uma maneira, em uma
circunstância dada". "Essas disposições para a ação, como circunscreve Bourdieu em
relação ao conceito de habitus, são produtos de uma aprendizagem social, flexível e
plástica, porquanto constituem o modo de valorizar e julgar o mundo". Isto traduz o ser
conduzido por um sistema de significações, normas e valores derivado da Cultura onde
se insere.
Também, ao contrário do que diz Bordieu, estas disposições para a ação do ilícito de
corrupção dependem da conscientização de que nada pode ser verbalizado: a verbalização
expõe a intenção. Todo aquele que percebe a funcionalidade de uma estrutura pró-
corrupção e a verbaliza não é aceito como cúmplice, dado ao fato de que pode facilmente
dar a todos o conhecimento do verdadeiro objetivo do grupo voltado ao ilícito. Entretanto,
deve-se apoiar em Bourdieu para afirmar que este habitus para o ilícito da corrupção "é
estruturado e estruturante, visto que são disposições interiorizadas pelos indivíduos, no
plano da estrutura, e geradoras de práticas e representações coletivas, no plano da
estruturação" (Ver O mecanismo de acordos tácitos) e esta característica faz o sistema
evoluir e aperfeiçoar sem que se possa dizer quem introduziu as modificações necessárias
para sua manutenção e perpetuação. Contrariamente, no entanto, o habitus depende de
uma consciência ou de um cálculo racional dos fins, embora a nível individual e colocado
diante do agente com o qual se faz parceria para o ilícito de forma implícita, nunca ou
quase nunca explícita, de modo que o parceiro, aja de acordo por perceber direção que
ambos querem tomar. É racional quando se perceber que a Razão humana é produto da
internalização de uma "razão", Logos, que rege a Realidade em seu devir.
O acordo tácito acompanha a evolução estruturada-estruturante da corrupção, em anel de
circularidade: o acordo tácito estrutura a corrupção e a corrupção estrutura o acordo tácito.
Daí não se pode valer da percepção de um momento, mas sim da continuidade histórica
do processo de corrupção.

10.3.19 Retroalimentação e evolução do sistema


Morin faz uma analogia da evolução do sistema por retroalimentação com a consciência,
"dotada de potencialidades organizativas, capazes de retroagir sobre o próprio ser, de
modificá-lo e desenvolvê-lo", em uma retroatividade organizacional, em que as
consequências do que se faz retroage transformando aquilo que as produziu. O sistema
pró-corrupção é um jogo entre consciências com a Intenção de ilícito e, assim, cada
consciência, ao atuar por sua vez, altera o sistema para o reorganizar diante de uma
solução antagônica que prejudique a obtenção do objetivo. O sistema da corrupção pode
ter evoluído da obrigatoriedade de pagamento de propina, que por sua proibição gera a
solicitação e a oferta de propina. Contudo, quem solicita tem consigo o controle da
situação e quem oferta obtém maior controle sobre o quanto se dá e o que se recebe em
94
troca. No jogo de interesses mútuos, teria havido então a evolução para a oferta e
execução de serviços desnecessários, com discursos políticos criando sua necessidade, e
então, para a manipulação aberta das medidas provisórias e emendas às leis de forma a
beneficiarem o sistema de corrupção. Foi necessário, no entanto, que todos os políticos
se omitissem coniventemente e fizessem o teatro da anticorrupção, com medidas sem
consequências práticas, como denuncias em campanhas eleitorais.

10.3.19.1 Anulação da lei de licitações


Um Estado, por seus governantes, tem o dever de combater a corrupção, e, assim, o
governante tem o dever de conhecer o processo de corrupção em suas minúcias, tornando-
se capaz de evitar a edição de leis que a facilitem. É inadmissível um governante gastar
bilhões em propaganda durante seu governo, apregoando sempre estar combatendo a
corrupção e ao mesmo tempo legislar anulando uma lei que se mostrou efetiva, sem a
revogar, mas impondo exceções a ela. Não se trata de omissão ou negligência, mas de dar
continuidade a um processo de facilitação da corrupção, sendo responsáveis todos os
envolvidos na elaboração de medidas provisórias que culminaram na anulação sem
revogação de uma lei anticorrupção.

10.3.20 Desorganização e reorganização


O sistema pró-corrupção está ativo e se reorganiza a cada tentativa da sociedade de o
desorganizar.

10.3.20.1 Forças antagônicas à corrupção e sua


anulação
A cada surto de corrupção em se tomando medidas apuradoras e punitivas, bem como
elaboração de leis anticorrupção, o sistema pró-corrupção se aperfeiçoa pela tomada de
medidas contra as soluções que o antagonizam e procuram sua desorganização. Pela teoria
dos sistemas, "a única possibilidade de lutar contra o efeito desintegrador dos
antagonismos é ativa; por exemplo,
a) Integrar e utilizar o mais possível os antagonismos de modo organizacional;
b) Renovar a energia indo buscá-la ao meio, e regenerar a organização;
c) Autodefender-se de modo eficaz contra as agressões externas e corrigir as
desordens internas;
d) Auto multiplicar-se de modo que a taxa de reprodução ultrapasse a taxa de
desintegração".
Deste modo, a corrupção institucionalizada e tornada instrumento político aperfeiçoou-se
gradativamente de 1991 até os dias atuais, repetindo,
Primeiro, de um governante que sabia de tudo, Collor, para um governante que sabia, mas
podia afirmar "eu não sei de nada", Lula, chegando ao governante que se pensa
inimputável por não saber de nada e não se encontram provas diretas de que saiba de
alguma coisa. Este "não saber de nada" depende de o sistema conter um acordo de

95
omissão e conivência que faça todos acreditarem que não se sabe de nada, fazendo de
conta que não existe mecanismo de fiscalização e controle ou ajudando a o anular;
Segundo, as denúncias de corrupção na Petrobras e fundos de pensão geraram a Lei das
Licitações que foi anulada por medidas provisórias, sem a revogar, e todos os políticos se
silenciaram;
Terceiro, as poucas recomendações da CPI do orçamento que foram implementadas
foram anuladas por medida provisória criando o Acordo de Leniência, em que as
empreiteiras se livram de processos mediante o pagamento de uma taxa de devolução do
que subtraíram aos cofres públicos, criando o paradoxo de que as empreiteiras não podem
quebrar, mas a estatal e o Estado podem;
Quarto, a Lei de Improbidade para punir agentes públicos envolvidos em corrupção
mostrou-se inócua, por não se ter criado mecanismos que tornem a "materialidade dos
fatos" dada por palavras, gestos e escritos, em real materialidade dos fatos, ou seja,
mecanismos que os transformem em provas iniciais para qualquer denúncia judicial;
Quinto, assiste-se no momento a apresentação de inúmeros projetos de lei que procura
anular as consequências da Operação Lava Jato, dar foro privilegiado a ex-presidentes,
etc. [PCCEAC]
Sexto, há em andamento um processo de transformação cultural em que a corrupção é
privilegiada como necessária e são valorizados aforismas como “os fins justificam os
meios”, a delinquência e a relativização da moralidade e do direito.
Não há previsão constitucional de que o legislador não possa legislar a favor da corrupção
e dos corruptos. Este fator sistêmico de impor-se aos mecanismos anticorrupção está claro
nas organizações mafiosas, de forma preventiva, com a Lei do Silêncio e as punições
consequentes. A Lei do Silêncio não diz apenas não falar, mas também não ver e não
ouvir, eliminando aqueles elementos que desrespeitem as regras de manutenção da
organização. É meio estúpida a situação atual em que as organizações criminosas podem
instituir normas que procuram anular todos e quaisquer movimentos (desde elaboração
de leis até delações) que antagonizam suas atividades, ao lado de Estado que permite que
legisladores proponham, e aprovem, leis que favorecem a corrupção e outros ilícitos.
O sistema pró-corrupção está inserido no sistema da sociedade como um todo, estando
organizado e organizando-se diante das soluções que a sociedade tome para o
desorganizar. Assim, sendo o sistema pró-corrupção constituído de elementos portadores
de sistema mental, de consciência, as soluções que o reorganizam não se dão
aleatoriamente a la doutrina darwianiana da evolução. As soluções que reorganizam o
sistema pró-corrupção são dadas por consciências que dele participam, da mesma forma
como as medidas desintegradoras são tomadas por consciências anticorrupção. Deste
modo, todo elemento, indivíduo ou regra, que se torne contrário à corrupção é eliminado,
e o processo caminha permitindo que surjam outras emergências de corrupção. Não é
necessário um longo tempo para que surjam os indícios de corrupção a partir das leis
facilitadores, já estão surgindo as provas de que houve corrupção nas obras dos estádios
que se tinha pressa de construir para a Copa de 2014.

96
De um lado: o sistema pró-corrupção reorganizou-se diante de medidas que traziam o
risco de o desintegrar, e uma consciência, um indivíduo interessado na manutenção da
corrupção, articulou a elaboração de medidas provisórias que anularam o risco. De outro
lado: o sistema político e judicial calou-se diante da anulação da lei de licitações e todos
os indivíduos que compõem estes dois sistemas pensam poder dizer "eu não percebi", "eu
não sei", e isto já é manifestação do acordo tácito existente de omissão e conivência: todos
os homens públicos, de todos os poderes constituídos, estão prontos a dizer publicamente
que sempre atuaram contra a corrupção. O fato de que não se pode fugir é que o sistema
pró-corrupção é invisível apenas àqueles que não estão efetivamente preocupados em
criar mecanismos que controlem a corrupção. Pode-se dizer que o sistema social, aquele
que rege a sociedade, representado nos três poderes constituídos, está atuando a favor da
corrupção, pela manutenção de salários de príncipes e outros privilégios, e pelo direito de
receber propina para fazer andar a máquina administrativa a favor de quem a pague.
Em conclusão, todo autor de projeto de lei, medida provisória ou decreto presidencial que
favoreça a corrupção é coautor do sistema pró-corrupção em vigor, e deve ser punido,
inclusive com a perda vitalícia de direitos políticos.

10.3.20.2 O que combate corrupção a organiza


"Todo o sistema apresenta uma face diurna emersa, que é associativa, organizacional,
funcional, e uma face de sombra, imersa, virtual, que é o negativo da outra. Há
antagonismo latente entre o que é atualizado e o que é virtualizado. A solidariedade
manifestada no seio do sistema e a funcionalidade da sua organização criam e dissimulam
ao mesmo tempo este antagonismo portador duma potencialidade de desorganização e
desintegração". É desta forma que se pode ver governantes e políticos corruptos
discursando estarem envidando todos os esforços contra a corrupção enquanto a deixam
fluir impunemente. As leis anticorrupção que são elaboradas funcionam ao mesmo tempo
como alerta aos mantenedores do sistema pró-corrupção dos pontos em que este falha,
aprimorando-o com novas propostas. É desde modo que a Lei de Improbidade
administrativa fez recrudescer o pedido de provas concretas a cada denúncia, com a
omissão e conivência de todos, os quais se utilizam de falácias: as denúncias necessitam
de indícios de ilícito e não de provas. Seria suficiente a denúncia de um agente público
que ajude a digitar um documento em que se incluam medidas pró-corrupção para que
medidas corretivas, quiçá judiciais, fossem tomadas.
"Podemos, portanto, enunciar o princípio de antagonismo sistêmico: a unidade complexa
do sistema cria e ao mesmo tempo rejeita o antagonismo. deste modo qualquer
pensamento contrário é anulado de imediato, antes mesmo de ser conscientizado,
entrando em atuação fatores de dinâmica de grupo".
Assim, o sistema pró-corrupção tem como necessário denunciar a corrupção em discursos
e tomar cuidados para que não se criem soluções efetivas contra a corrupção. Há, no
entanto, há uma inépcia legislativa uma vez que é antiga a denúncia de que a Lei 8. 429
é inócua e nenhum legislador propôs uma lei que a complementasse e corrigisse, da

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mesma forma como nenhum juiz de Suprema Corte alertou para a falha exigindo a
elaboração de leis neste sentido. Bem, talvez não seja esta a função de juízes supremos.
"Não há organização sem antiorganização. Digamos reciprocamente: a antiorganização
é, ao mesmo tempo, necessária e antagônica à organização. Para à organização fixa, a
antiorganização é virtual, latente. Para a organização ativa, a antiorganização torna-se
ativa". Consequentemente, é preciso o espírito vigilante para cada ato político de
corrupção, para cada deslize que permita a corrupção, para cada lei elaborada e
promulgada que contenha brechas e interstícios que favoreçam a corrupção por meio de
argumentações falaciosas. É preciso que se exija de cada denunciante de corrupção em
campanha política faça abrir processos judiciais para apuração das responsabilidades. A
História demonstra que estas denúncias vazias de resultados judiciais são mero teatro
eleitoreiro. O que denuncia corrupção sem abertura de processo guarda a impressão de
que não poderá ser acusado de corrupto por ter feito às claras um ato anticorrupção:
entretanto, denúncia sem abertura de processo é conivência e deve ser condenada.
Sem as "forças de exclusão, de repulsão, de dissociação" do sistema pró-corrupção não
haveriam soluções para as antagonizar dadas por indivíduos com a intenção de corrupção.
"É preciso que na organização sistêmica as forças de atração, afinidades, ligações,
comunicações, etc. que visem a corrupção predominem sobre as forças de repulsão,
exclusão, dissociação, que as inibam, contenham, controlem" para manter-se como
sistema ativo. O sistema pró-corrupção irá mesmo aceitar em seu seio elementos
anticorrupção, que se protegem do fato de tornar-se tão diferente que sua exclusão seja
necessária, mas que induzem soluções aos antagonismos que impedem o sistema de
funcionar, assim fazendo-o funcionar. É assim que um governante pode publicar vezes
seguidas ser elemento combativo contra a corrupção e, ao mesmo tempo, assinar medidas
provisórias que anulem leis anticorrupção e o fato passar despercebido a todos. , e aceito
coniventemente pelo acordo de omissão e conivência.

10.3.20.2.1 Há um mentor orientando a formação


do sistema?
"As inter-relações mais estáveis supõem que as forças que lhe são antagônicas sejam
simultaneamente mantidas, neutralizadas e superadas. Assim, toda a relação
organizacional, e, portanto, todo o sistema, comporta e produz antagonismo e, ao mesmo
tempo, complementaridade", sem um mentor externo. Seguindo este postulado, surgem
medidas de atenuação das forças antagônicas, no caso as forças anticorrupção, contudo,
para que estas medidas de atenuação sejam tomadas é necessário que os defensores das
forças anticorrupção estejam cumprindo um acordo tácito de omissão e conivência, que
funciona como complementaridade. Isto se reflete no teatro de medidas anticorrupção,
principalmente nos discursos contra adversários.
A elaboração de leis que favorecem a corrupção pode ser iniciada tacitamente, como,
diferentemente do proposto por Morin para os sistemas físicos, pode haver um mentor
orientando, o que se torna possível quando há associação de partidos políticos no
processo.
98
A percepção da necessidade de uma lei antagonizando uma medida anticorrupção exige
que os indivíduos envolvidos no processo de corrupção sejam todos capazes de perceber
as regras do sistema e de recriá-las para responder às necessidades surgidas. Dada a
natureza humana, a compreensão da Realidade apenas a partir daquilo que dela já foi
internalizado, compreensão imediata, leva à suposição de ser impossível que todos os
envolvidos sejam mentores de suas próprias ideias: ao contrário, a maioria, senão todos,
é de indivíduos que necessitam de um mentor que os induzam a ter ideias. Também as
sistematizações prévias que pregam princípios como "os fins justificam os meios"
determinam a existência de um mentor, fato possível quando há associação de partidos
políticos, ao mesmo tempo em que os autores sistematizadores funcionem como estes
mentores.
As ideias diretrizes do socialismo vermelho são as do marxismo como lidas por Gramsci,
seguindo-se as orientações deste para a implantação da hegemonia daquele. Gramsci fez
uma leitura equivocada de Maquiavel e entre suas recomendações está, como princípio,
que "os fins justificam os meios" e a corrupção como meio se fundamenta, no
maquiavelismo, em Maquiavel [NMP-45] ter inferido que os "príncipes conquistadores
tinham duas alternativas, mimar os homens ou os destruir". "Homens mimados" se
transformam em "homens enriquecidos" nos comentários acrescidos por Napoleão que
deixa claro "se o servirem a contento". É esta a fórmula adotada pela leitura feita por
Gramsci e é a fórmula da corrupção e da transformação de atos imorais em atos legais, na
base do troca-troca, como a distribuição de cargos públicos em troca de votos que
sustentem a aprovação de Leis inclusive anticonstitucionais. Surgirá também na leitura
equivocada de O Príncipe que os atos governamentais podem ter como desculpa a
necessidade. [NMP-23] Os atos governamentais com que o governo atual quebrou o
Brasil são justificados pela necessidade dos benefícios sociais, contudo, urge que se faça
a CPI dos benefícios sociais para que se possa construir uma justiça social digna deste
nome, em que benefícios não paralisem o desenvolvimento pessoal do beneficiário e o
desenvolvimento econômico do benfeitor, o país.
Em consequência, toda Ideologia ou Doutrina que pregue fatores que favoreçam a
corrupção devem ser banidas em nome do verdadeiro interessado, o cidadão comum, que
não dispõe de mecanismos de controle efetivo sobre a Coisa Pública e sobre a
administração pública custeada pelos impostos que paga.

10.3.21 Forma final


"A forma é a totalidade da unidade complexa organizada que se manifesta
fenomenalmente enquanto todo no tempo e no espaço; a forma é o produto das inter-
relações/interações entre elementos, da organização interna, das condições, pressões e
imposições do meio. A forma deixa de ser uma ideia de essência, para tornar-se uma ideia
de existência e de organização". Este postulado de Morin, aplicado à visão sistêmica de
como nasce e evolui a corrupção, gerando um sistema pró-corrupção que gerencia os
surtos emergenciais de corrupção e se perpetua, permite concluir que o Pensamento
Político brasileiro atualmente constituiu um sistema e um regime político pró-corrupção
em vigência: faz teatro de combater a corrupção enquanto promove leis que a facilitam;
99
aceita passivamente um acordo tácito de omissão e conivência para com os ilícitos vigente
nos três poderes constituídos; usa abusivamente de falácias e sofismas para impor pontos
de vista ideológicos e justificativas de leis, um instrumento que transformou a
Constituição Brasileira em mero quadro negro onde quem tem a maioria de voto nas casas
legislativas consegue impor emendas constitucionais, mesmo que contrárias à maioria dos
membros considerados por suas consciências e não por sua obrigatoriedade de seguir
orientação de voto de líderes partidários.

10.3.22 Conclusão
Da mesma forma como o sistema pró-corrupção se organiza e se fortalece, pode o sistema
contra a corrupção evoluir e obter um controle mais efetivo sobre a corrupção, mantendo-
a em níveis mínimos. O sistema pró-corrupção, no entanto, tem tido sucesso na destruição
dos significados, das normas e dos Valores sociais que são capazes de conter a corrupção.

100
11 Quais são as condições para o
aparecimento da corrupção?
Pela teoria dos sistemas há determinações e imposições que fazem surgir a ordem e assim
a organização e o sistema de corrupção. Os textos consultados se referem a causas da
corrupção, entretanto, descobre-se a existência de um sistema pró-corrupção, de que
emerge surtos de corrupção com elementos diversos. Contudo, desde 1991 as
características da corrupção mudaram substancialmente, por se institucionalizar e por
aprimorar mecanismos de encobrimento e impunidade. "As determinações primeiras
precisam-se e multiplicam-se em necessidades (que condicionam o aparecimento de
outras determinações)". “A diversidade finita dos elementos particulares vão determinar
diferentes tipos de inter-relações, as quais estão na origem das regras a serem seguidas
pelo grupo (corrupto)".
As determinações e imposições são fatores que condicionam o aparecimento da corrupção
presentes tanto no indivíduo quanto no ambiente. Em ambos os casos, não se trata de um
Determinismo, em que a presença de um fator causará necessariamente a corrupção, mas
"determinações" ou imposições, estas mais próximas do Determinismo, fatores que
impõem que a causa leve à consequência, mas também não de modo necessário. Contudo,
o fator determinante de surtos de corrupção é um sistema pró-corrupção que se aprimora
com novas respostas a antagonismos do ambiente.

11.1 Determinações
"(Nos sistemas físicos), o determinismo interno, as regras, as regularidades, a
subordinação dos componentes ao todo, o ajustamento das complementaridades, as
especializações, a retroação do todo, a estabilidade do todo, e, nos sistemas vivos, os
dispositivos de regulação e de controlo: a ordem sistêmica, numa palavra, traduzem-se
em outras tantas imposições". São imposições que ocorrem na corrupção. Estando o
processo de corrupção em atividade há um determinismo que obrigam o indivíduo a
exercer o papel que lhe cabe no grupo, e o mesmo fazem as regras existentes a serem
seguidas por todos os participantes; a subordinação dos componentes ao todo significa
que se um não fizer a sua parte o outro não poderá fazer a parte dele; por exemplo, a
presença de especialistas em lavagem de dinheiro, doleiros, também acabam por impor
que a corrupção se dê.

11.2 Determinações Individuais


São os fatores nos indivíduos que condicionam o aparecimento da corrupção:

11.2.1 Caráter e personalidade


como resultado de qualidades e defeitos, pela formação moral cujos valores e consistência
definem a coerência dos atos praticados, determinando o comportamento voltado para o
ilícito, e a

101
11.2.2 Motivação, Desejo, Vontade-volição e
Intenção
Devem ser procuradas nas teorias de comportamento as determinações individuais que
levam à corrupção, ou seja, os princípios e as forças que levam à ação para se atingir
objetivos, bem como as forças que fazem os homens terem objetivos, o Desejo. A partir
de Maslow, [THNM] tem-se a equação "Motivação ou Desejo leva à ação para se atingir
objetivos".
Desejo, pela formação moral pode-se ou não dar vazão a todos os desejos, transformando
em ação. É pela formação moral que se modula o que se deseja com o ambiente e todos
nele inseridos, de onde a relativização da moral tornando-a mais frouxa é um fator
determinante da corrupção.
Ter o desejo da corrupção pode estar relacionado com a lei de Gerson, querer tirar
vantagem em tudo, atribuída ao brasileiro, entretanto não vem a ser determinante da
corrupção, uma vez que o Desejo necessita transformar-se em Vontade, e ainda aguardar
que surja a Volição, ou seja, a decisão de cometer o ato ilícito. Há que se diferenciar a
Volição da Intenção de cometer o ilícito. Para que o Desejo da corrupção se transforme
em Intenção, não sendo possível imaginar nenhuma pessoa que não tinha tido formação
moral antes da relativização da moralidade em curso, é necessário que o indivíduo vença
seus princípios morais para chegar à intenção de corrupção, e tendo a intenção é que ele
vai decidir-se a cometer um ilícito. Deste modo, a formação moral e o caráter do político
é fator determinante da corrupção. Que não se confunda com o Determinismo e se
compreenda que o indivíduo vá se tornar necessariamente corrupto.
Vontade-volição, tendo-se o Desejo pelo ilícito, é ainda necessária a Vontade de
transformá-lo em ação, de que depende de ter uma
Motivação, algo que determine a Vontade decidir-se por uma ação, ou seja, determina a
volição. Aí entra a formação moral, o livre-arbítrio, uma verificação se realiza ou não o
ato, educando-se por princípios para o bem ou para o mal, quando se retorna à
relativização dos princípios morais como causa determinante da corrupção na sociedade.
Os fatores circunstanciais podem se tornar a motivação para a ação ilícita, segundo o
aforismo popular de que "a oportunidade faz o ladrão". É um movimento circular, pois,
como será demonstrado, a prática do ilícito faz surgirem outros fatores circunstanciais
que a facilitem.

11.2.3 Tendo-se a motivação ainda há a


dependência de se ter a
Intenção, quando os meios de se concretizar a ação são procurados em direção a um
objetivo.
Colocando-se o resultado final da Moralidade como resultado do "senso comum de
honestidade, retidão, equilíbrio, justiça, respeito à dignidade do ser humano, à boa fé, ao

102
trabalho, à ética das instituições", [CPBFPP] chega-se também à compreensão de que a
relativização da Moral por promover o convencimento dos cidadãos – senso comum - de
que tudo é válido, tudo é relativo, e é um instrumento que visa a corrupção. Os formadores
de opinião que defendem a relativização da Moralidade e do Direito são, portanto,
Corruptores.

11.2.4 Sensação de impunidade


A impunidade é uma motivação forte para o ilícito e um sistema pró-corrupção depende,
para vigorar, de um sistema de impunidade montado nos três poderes constituídos. Pode
ser considerada causa necessária da corrupção quando o agente público e privado têm
garantida a certeza de impunidade por este sistema de impunidade, Certeza Absoluta de
Impunidade.

11.2.5 Necessidade de Auto realização


Maslow via a motivação humana como uma hierarquia de cinco necessidades, que iam
das necessidades mais básicas às mais elevadas, A necessidade de auto realização é o
último degrau da pirâmide das necessidades motivacionais de Maslow, por surgir depois
que as outras necessidades tenham sido satisfeitas. É considerado a motivação maior e "a
única verdadeiramente satisfatória para a natureza humana". [THNM] Entretanto, há que
se considerar um mecanismo de retroalimentação em que o que se realiza é motivação
para que surja insatisfação e o desejo de subir mais ainda.

11.2.6 Busca de privilégios


A necessidade de auto realização é relacionável a busca de privilégios, e estes privilégios
incluindo reformas de aptos com banheiras de ouro, denuncia a busca da vida principesca,
Novos Príncipes de Gramsci.

11.2.6.1 Determinação histórica da busca de


privilégios?
Acredita-se que um dos objetivos do Iluminismo do século 18 e da Revolução Francesa,
acabar com a Monarquia, tenha sido um sucesso absoluto em muitos países. Constata-se,
sem muito esforço de pesquisa, que houve apenas a mudança de nome: a Monarquia não
acabou em muitos lugares, o que acabou foi a hereditariedade do cargo e o povo foi
obrigado a escolher quem vai viver principescamente às suas custas. Não se contenta em
garantir para os agentes públicos do executivo, judiciário e legislativo altos salários, mas
também aditivos do tipo aposentadoria especial, auxílio moradia, plano de saúde integral
e reformas de suas moradias, em que se colocam peças banhadas a ouro. São privilégios
que levam ao questionamento: por que políticos têm de viver na mordomia sustentada
pelo povo? A busca de privilégios não é forma de concretizar – tornar Realidade – o
Desejo de se ter os privilégios das monarquias e aristocracias que foram combatidos pelo
Iluminismo e por tantas revoluções já havidas em nome do povo?

103
11.2.7 Imoralidade do brasileiro
"Há uma percepção difusa da sociedade civil de que toda e qualquer autoridade é corrupta.
Nesse contexto, o imaginário popular cristaliza a noção de que corrupção é a regra e
honestidade exceção. [. . . ] Haveria nada menos do que um apreço pela malandragem e
uma indiferença para com o político corrupto, desde que ele promovesse ações em
benefício da população". [ROSSCC] Transfere-se para a sociedade o ônus da corrupção,
por ser ela própria corrupta, de que o corrupto é um mero exemplar, com afirmativas
gratuitas, não fundadas em estudos científicos. Estar presente no imaginário popular que
a corrupção política é a regra e a honestidade exceção reflete apenas o comportamento do
político, mas, se é a voz corrente, entretanto, deixa perceber ser o comportamento da
sociedade (do povo) é decorrência do comportamento imoral de quem detenha os poderes
decisório e econômico e conduza os destinos desta mesma sociedade. Votar no corrupto
"desde que promova ações em benefício da população" é falácia, uma afirmativa que se
anula com a primeira afirmativa, "toda autoridade é corrupta", vota-se no que traz
benefício por qualquer outro ser também corrupto, além de não trazer benefício. Coisa
simples que a sabedoria popular sabe fazer.
"Pelos cidadãos, a obtenção de vantagens indevidas a partir de atos ilícitos torna-se prática
culturalmente aceitável", [ROSSCC] isto é dito e repetido e, no entanto, é uma falácia
que esconde a Realidade: o cidadão não aceita a corrupção apenas é obrigado a conviver
com ela.

11.2.7.1 Corrupção na índole brasileira


"Um dos traços característicos do senso comum no Brasil é que o brasileiro típico tem
um caráter duvidoso e que, a princípio, não se nega a levar algum tipo de vantagem no
âmbito das relações sociais ordinárias", [TCBANM] mas o autor afirma a existência de
"vários indicadores de confiança (que) apontam o Brasil como um país onde a
desconfiança impera" sem dar a fonte, o que desmerece seu trabalho. Que se entenda de
uma vez por todas, levar vantagem é uma lei biológica necessária à sobrevivência e ao
crescimento, o problema é levar vantagem prejudicando o outro, com um senão: a forma
de aprender a não ser passado para trás é simplesmente vivenciar o ser passado para trás.
O fato científico primordial é que, como todas as características sociais, a distribuição de
um comportamento na população segue a "curva do sino", e, se existe uma parte da
população que procura a malandragem, existe uma parte da população que segue
princípios morais e a rejeitam.
Outros autores acrescentam o jeitinho brasileiro e a malandragem, "sendo o brasileiro
típico um cidadão voltado para seus desejos agonísticos, que se expressam (nestas)
formas sociais". [TCBANM] É outra afirmativa gratuita: não há a informação de fonte e
não há a informação de qual percentagem da população tem este comportamento. O fato
científico primordial é que, como todas as características sociais, a distribuição de um
comportamento na população segue a "curva do sino", e, se existe uma parte da população
que procura a malandragem, existe uma parte da população que segue princípios morais
e a rejeitam.
104
11.2.7.2 imoralidade do brasileiro
Apregoa-se uma "tolerância à corrupção" pelo brasileiro [TCBANM] sem levar em
consideração que o homem do povo é obrigado a conviver com a corrupção e isto não
significa que a tolera. Não se leva em consideração também que a ideia de tolerância à
corrupção não se casa com a eleição de todo político que, por sua oratória, convença o
povo que acabará com a corrupção.
A imoralidade do brasileiro é apenas suposição, e não um fato comprovado; é uma
afirmativa que generaliza excessivamente, o que é suficiente para provar-se uma
afirmativa falsa, uma falácia.

11.2.7.3 A "imoralidade do brasileiro" e a Teoria


da Degeneração
Filgueiras [TCBANM] usa a arcaica Teoria da Degeneração para explicar a corrupção:
"esse traço de caráter propenso à corrupção na política seria uma característica
antropológica, que explicaria nossa cultura imoral e degenerada". Não se há de esquecer
que a Teoria da Degeneração da "raça humana" gerou o Eugenismo e a busca do homem
moralmente perfeito, chegando a seu clímax no Nazismo. É uma informação gratuita, não
citando pesquisas que a comprovem e parece fazer parte do mecanismo de fabricação da
tolerância com a corrupção. Se a corrupção é necessária aos políticos, e, para que seja
tolerada pelo povo, é preciso que se construa esta tolerância mediante a prestidigitação
com as palavras. Os autores que, para explicar a corrupção, se centram no caráter do
brasileiro, seja o da cordialidade, o da malandragem ou do jeitinho não compreendem a
corrupção por seu real alcance no plano da sociedade. Não se há que esquecer que o
homem comum brasileiro dificilmente alcança um cargo político, a política sendo ainda
prerrogativa de uma elite antiga no poder.

11.2.7.4 Um deputado como exemplo da índole do


brasileiro
Tiririca, que pode ser considerado um representante genuíno do brasileiro, foi alçado a
deputado federal pela malandragem de partidos políticos, aproveitando a brecha existente
na Lei. A malandragem não visava diretamente a corrupção, mas simplesmente abocanhar
maior número de assentos políticos. O resultado, embora não se encontre um estudo que
sistematize a ação política do deputado Tiririca, demonstra que a suposição de que há
uma imoralidade do brasileiro como causa da corrupção é falsa: pesquisa na Google
demonstra claramente a preocupação com a moralidade na atividade política, não se
encontrando referências a anuência do político Tiririca a atos de corrupção ou que a
favoreçam. O projeto de Lei 425 apresentado por Tiririca, [PLRAT] cujo sucesso não se
pesquisou aqui, é um exemplo.

105
11.2.7.5 A diferença do brasileiro com os "povos
superiores"
Não existe esta coisa de superioridade das pessoas em países desenvolvidos em relação
aos brasileiros. Uma diferença palpável é que nos países mais desenvolvidos todo
cidadão, do cidadão comum aos governantes, tem uma certeza, a certeza de que "será"
punido se for pego em delito. Lá fora as leis são coerentes, se é proibido urinar na rua, há
um WC disponível de tantos em tantos metros, aqui não se tem banheiros público e
impõe-se a lei humana contra a lei biológica. Aqui também há uma diferença: os Políticos
e os governantes têm a CERTEZA ABSOLUTA DE IMPUNIDADE.
Outra diferença palpável é que, AINDA, as pessoas comuns deixam ter suas mentes
manipuladas por políticos.

11.2.8 Uso da Mentira, Falácias e sofismas


O uso abusivo destes recursos procura garantir que o ilícito não seja descoberto e o sendo,
não seja punido. Com a Mentira, a Falácia e o Sofisma tudo se justifica e provoca-se o
ganho indevido solicitado. Um exemplo típico é o fato de Lula ter reclamado da
fiscalização pelo TCU dizendo que estava prejudicando o andamento das obras da
Refinaria Abreu e Lima, com a justificativa de que a paralisação das obras traria prejuízo,
conseguindo a liberação da verba necessária, mas abrindo as portas da corrupção que
haviam sido fechadas pela lei das licitações. Entretanto, enquanto todos são rápidos em
afirmar estarem sempre alertas combatendo a corrupção, não surgiram denúncias da
interferência da Presidência da República na fiscalização das obras e sua consequente
paralisação em caso de suspeita de sobre preço e é fato que resultou na liberação de 13
milhões de reais para a continuidade de uma obra que rendeu um prejuízo de bilhões.
Houve o silêncio e a aceitação do sofisma da urgência das obras. Este comportamento da
classe política deixou a descoberto que há um acordo tácito de omissão e conveniência.
O Tempo comprovou que, mesmo induzindo algum prejuízo pela paralisação de obras, a
consequência da fiscalização é eficaz no combate a corrupção desde que respeitada as
recomendações dadas pelo órgão fiscalizador. Em continuidade, a Lei 8. 666 foi atenuada
com leis prevendo mais exceções a ela, anulando seus efeitos. Com o sofisma da urgência
para as obras da Copa de 2014, e mais outras exceções, e o Tempo novamente determina
o erro cometido, com o aparecimento de denúncias de corrupção nas obras para a Copa.

11.2.8.1 Sentido não unívoco dos termos


A questão da não determinação do sentido unívoco para os termos em um discurso, e que
aqui se aplica à Constituição e às Leis, foi analisada anteriormente: [GRPALI]:
a) As palavras apresentam múltiplos sentidos e o verdadeiro sentido de um termo
em um discurso se obtém pelo contexto não apenas entre o termo e os demais
termos do discurso, mas também contexto com o campo situacional a que o
discurso se refere;

106
b) Os termos contidos na Constituição devem ser considerados em relação ao
campo semântico jurídico, que, por sua natureza, não permite deslizamentos
entre campos semânticos induzidos por diferentes sentidos do termo no todo
linguístico;
c) Não se deve, principalmente em um ambiente viciado por mentiras, falácias e
sofismas, fundamentar-se no nome da coisa, mas sim na essência da coisa
nomeada;
d) Os sofismas são montados a partir da manipulação dos sentidos das palavras
e mal uso de argumentos verdadeiros, parcialmente verdadeiros ou falsos,
pertencentes ou não a campos semânticos diferentes, para, por falácias bem
articuladas, procurar convencer os outros de que uma opinião sobre a
Realidade deve ser considerada VERDADEIRA mesmo que seja FALSA.
Valem-se os sofismadores do fato de que o homem, ainda modernamente, lê
por compreensão imediata, usando apenas os sentidos que estão internalizados
em sua mente, em detrimento de todos os outros sentidos registrados na
cultura. Como não procuram outros sentidos para os termos são facilmente
convencidos por meio de um jogo de falácias e meias verdades e
deslizamentos de sentidos compondo uma argumentação que se torna, ao
homem comum e mesmo ao extraordinário, de difícil refutação.
Sofismas são construídos aproveitando-se dos múltiplos sentidos dos termos e é uma
prática tão abusiva atualmente que é preciso recomendar uma emenda à Constituição faça
nela constar ser o campo semântico jurídico o que determina o significado dos termos que
contém. Parece óbvio, mas é necessário lembrar. O STF fere a Constituição transferindo
para o Senado as funções de admitir a acusação e autorizar a instauração de processo
contra o presidente forçando a interpretação de "admitir" pelo sentido do senso comum,
desprezando o FAZER os atos jurídicos que levem à admissibilidade de uma acusação
por ser procedente. No entanto, há um desprezo pelas definições jurídicas dos termos,
como se vê em tomar como "jurisprudência" a decisão para o rito de impeachment no
caso Collor, quando se apontou um erro que permitirá sempre o risco de absolver
governantes criminosos que contem com 2/3 dos votos nas Casas Legislativas. Todos se
silenciaram diante da verdade escondida, jurisprudência é decisão reiterada dos tribunais,
e, assim, nunca poderia ser aplicada a um caso único. Com a adoção do rito de
impeachment para o caso Dilma, ainda não será configurado "decisão reiterada" e não se
sabe quantos casos necessitam ocorrer para que se possa formar uma jurisprudência.
Com relação à corrupção, os legisladores e analistas deixam de lado que o dano causado
não é estático, gera danos secundários, e a Constituição e as leis não determinam a
responsabilidade dos acusados, ficando o Estado e as estatais lesadas com o ônus, como
já citado o caso da Petrobras que responderá pelos danos oriundos das ações judiciais
movidas por acionistas. Os legisladores determinam a restrição da responsabilidade dos
corruptos condenados à obrigação do pagamento de multa e reparação integral do dano
causado. [ROSSCC] Há um primeiro defeito, "reparação integral do dano causado"
necessariamente inclui a reparação dos danos secundários e não há a determinação de
cobrar dos corruptos esta responsabilidade. Os legisladores favorecem, a impunidade

107
mediante sofismas a partir do momento em que adotam mais de um significado para os
termos utilizados, como exemplo o defeito na definição de "coligada" no próprio Código
Civil de 2002, com sentidos distintos nos artigos 1. 097 e 1. 099, ficando o sentido exato
do termo "coligadas" dependente da "interpretação sistemática do § 2º do art. 4º da
referida lei", ou seja, analisando-o em seu contexto e em relação a outras leis e normas.
Não importa se o sentido exato do termo definido com mais de um sentido possa ser
auferido pela interpretação sistemática da lei. O importante, em ambiente em que a
Mentira, a Falácia e o Sofisma imperam, é fazer a correção da lei de forma a conter de
forma clara e explícita o sentido exato dos termos nela definidos, sem deixar margens ao
jogo de interpretações e ao jogo da Falácia e do Sofisma.

11.2.8.2 A participação dos comentaristas


Os comentaristas das denúncias de corrupção ou das leis anticorrupção participam tanto
da fabricação da corrupção quanto da construção e manutenção do sistema de
impunidade. Os analistas também favorecem os mecanismos construtores de argumentos
falaciosos quando são capazes de nutrir interpretações que inutilizam a informação
verdadeira, embora em análises superficiais possam dar legitimidade a interpretações
falaciosas. Um exemplo a ser dado:
"Independentemente do fato de existir um conceito jurídico unívoco acerca do que
efetivamente consiste a corrupção", [BESNLA]
em comparação com
"independente do fato de não existir um conceito jurídico unívoco acerca do que,
efetivamente, consiste a corrupção". [ROSSCC]
Usando a mesma literatura, os comentaristas podem afirmar que existe ou que não existe
um conceito jurídico unívoco.
De outro lado, em uma pesquisa sumária nos mecanismos de busca da Internet não se
encontram análises em que se aponta a inconstitucionalidade da decisão do STF, exceto
em comentários de usuários. É uma conivência com o sistema e deve-se questionar a que
preço. As análises não vão ao cerne das questões analisadas e, assim, decisões que
preservam a impunidade não são denunciadas.

11.3 Fatores circunstanciais: determinações e


imposições situacionais
Seguindo o Dicionário Houaiss, [AHVSV] circunstanciais são os fatores “que dependem
de ou estão ligados a uma circunstância ou a circunstâncias” sendo "pertinentes, mas não
essenciais”. Juridicamente os fatores circunstanciais podem se constituir na “prova que
se baseia em indícios e deduções e não demonstram uma direta evidência dos fatos”. São
referidos normalmente como causas da corrupção, mas se constituem em determinações
e imposições que favorecem o aparecimento da corrupção:

108
a) As decisões políticas do governante, desvirtuando o uso do poder, como o uso
abusivo de medidas provisórias, transformando o poder executivo em
legislativo, contando com a omissão e conivência de todos que não denunciam
o abuso;
b) Os cargos de confiança, cujos ocupantes devem fidelidade a quem os indicou
e não ao Estado que os paga;
c) O corporativismo no Judiciário, no Legislativo, no Ministério Público;
d) A impunidade aos ilícitos praticados pelos altos escalões do poder, o sistema
de impunidade vigente que levou atualmente à certeza absoluta de
impunidade;
e) A concentração, em determinados funcionários, do poder de gerenciar ou
arrecadar elevadas receitas;
f) A existência de monopólios; [LIACIC]
g) A tolerância às práticas corruptas, o acordo tácito de omissão e conivência
entre os políticos; [ROSSCC]
h) O excesso de centralização por parte do Estado; [LIACIC]
i) As consultorias prestadas por políticos
j) Brechas e interstícios na Constituição e Leis
k) Baixos salários dos servidores; [LIACIC]
l) Ausência de fiscalização dos órgãos de controle e da sociedade; [LIACIC]
m) A compra de votos de parlamentares para aprovação de projetos de seu
interesse no Congresso Nacional. [BPCCC]

11.4 Administração pública


A estrutura e funcionamento da administração pública é um fator circunstancial
importante, gerando outros fatores facilitadores da corrupção. Para as determinações e
imposições administrativas que levam à corrupção deve-se adotar uma definição mais
ampla de Administração Pública, incluído "a atividade administrativa em sentido estrito,
técnico, mas sob certo aspecto, também a legislativa e a judiciária". [Noronha (1988, p.
198) in CPIPE] Significa dizer que os três poderes constituídos podem funcionar de modo
a facilitar a corrupção, seja apresentando brechas legais ainda não percebidas, seja na
condescendência com o uso de brechas já conhecidas, seja na tolerância ao ilícito ou na
omissão em denunciar e processar judicialmente.

11.4.1 Estrutura administrativa


O agente político está em dependência de muitas vontades para conseguir seus objetivos
políticos, ficando à mercê daqueles que podem promover o descontingenciamento da
verba que pede para seu reduto eleitoral, e, assim, pode ser induzido a colaborar em
decisões que levem a ilícitos, ou ao favorecimento da corrupção. A estrutura
administrativa do Estado como imposta aos cidadãos, com a permissividade de
distribuição de cargos não por critérios de competência administrativa, mas pela
capacidade de render aprovação aos atos do governante, quaisquer que sejam sua
natureza. Também há que se considerar os cargos executivos das empresas estatais que

109
são indicados pelos governante ou seus prepostos e a eles devem obediência, em
detrimento mesmo da administração dos negócios da Estatal. Há situações esdrúxulas
com as quais se convive passivamente, como o fato de os fundos de pensão de
funcionários de estatal terem seus executivos nomeados pelo governo e a ele devendo
submissão, mesmo em detrimento da saúde financeira do fundo, o que é um absurdo com
qual se convive mesmo tendo o executivo participação na formação financeira do fundo.

11.4.2 Ilegalidade e moralidade administrativa


Os crimes de corrupção abrangem não só o ilícito, mas também a moralidade
administrativa. "O objeto da tutela jurídica é o funcionamento normal da Administração
Pública, no que diz respeito à preservação dos princípios de probidade e moralidade no
exercício da função, pode-se falar de administração pública aludindo-se aos instrumentos
de governo como a gestão mesma dos interesses da coletividade". [CPIPE]

11.5 Burocracia
Sobretudo graças à existência de monopólios estatais, o incremento da burocracia termina
por gerar maior corrupção possibilitando aos agentes públicos oferecer alternativas mais
baratas e ilícitas em detrimento da opção oficial, onerosa e na maioria das vezes
demorada. Corrupção portando, envolve monopólio e a obtenção por meio deste, de
vantagens ilícitas por determinada pessoa ou grupo de pessoas, através de um agente
público que também aufere alguma vantagem, seja econômica ou não, para facilitar o
ilícito. [LIACIC]
Tanto a escassez quanto o excesso de burocracia são fatores circunstanciais que
favorecem o aparecimento da corrupção. O excesso de burocracia "possibilita aos agentes
públicos oferecer alternativas mais baratas e ilícitas, em detrimento da opção oficial,
onerosa e na maioria das vezes demorada", mas não considera os mecanismos de
fiscalização. [LIACIC] Há na Petrobras o Conselho de Administração que, nas denúncias
e nas defesas quanto à participação de Dilma Rousseff, fica sugerido ser apenas um
Conselho figurativo, em que se assinam documentos sem ler e sem se entender o que
neles está escrito. É lógico que as soluções que premiam vias alternativas e ilícitas são
facilmente perceptíveis por quem fiscaliza com conhecimento e honestidade.

11.6 Agente político e consultoria: indício possível


de corrupção
Um político na ativa, não exercendo cargo eletivo pode praticar a imoralidade de vender
consultoria, que se aceita como um procedimento legal, sem se questionar o que pode
aconselhar um político além de vender informações privilegiadas.
As consultorias prestadas por políticos em qualquer fase de sua carreira são fontes de
ilícitos, ainda que não vinculados a vantagens indevidas, mas sempre estão vendendo o
que têm: informações privilegiadas sobre o funcionamento do Estado, seja o
funcionamento às claras, seja em seus subterrâneos, e isto nunca foi apurado. Não foram,

110
também, encontradas na pesquisa análises da relação entre a venda de informações
privilegiadas e a obtenção de vantagens indevidas, embora o fato seja sugerido pelo alto
preço da prestação de serviço que se pretende ser consultoria.

11.7 O legislador como causa da corrupção


O legislador pode elaborar leis incompletas, como definir o ilícito, mas não a
obrigatoriedade de indenização, e ainda colocar o patrimônio da empresa envolvida acima
dos interesses do Estado, limitando "o valor da multa ao valor da garantia ou do contrato,
reduzindo significativamente o poder dissuasório da lei". [ROSSCC]
É típico o político legislar e a própria lei que promulga o proteger, não o obrigando ao
ressarcimento de danos provocados pelo ilícito cometido.

11.7.1 A má interpretação das leis: defeito de


hermenêutica jurídica
A tolerância com o uso abusivo da Mentira, da Falácia e do Sofisma, inclusive pelos
próprios ministros do STF, levando à má interpretação da Constituição e das Leis garante
que o ilícito não seja descoberto e o sendo, não seja punido. Como demonstrado, o
Sofisma da jurisprudência do rito de impeachment aplicado ao caso Collor, em que não
se considerou os fatores históricos da corrupção na Petrobras e fundos de pensão,
denunciada desde o governo Collor, com a má interpretação da Constituição para se
decidir sobre o rito de impeachment: a Constituição manda a Câmara admitir e autorizar
a instauração de processo e inventa-se que o Senado pode desautorizar a autorização da
Câmara impedindo a abertura do processo, mantendo-se para o procedimento atual.
Ocorre que a corrupção atual está em vigência desde o governo Collor, que sofreu
impeachment e dar uma autorização ao Senado para desautorizar a Câmara representa dar
uma oportunidade para que, por compra de votos, o Presidente da República, quando
acusado, consiga sua absolvição.

11.7.2 Falta de legislação específica


Não há legislação específica para definir crimes relacionados ao desvio de dinheiro
público, as penas previstas são pequenas e o prazo de execução é curto, prescrevendo.
[ILPEC]

11.7.3 A Certeza de impunidade


11.7.4 Brechas e interstícios na Constituição e Leis
A corrupção se dá pela vigência de um sistema de impunidade, um acordo tácito de
omissão e conivência entre os políticos e sua ocorrência demonstra a falha das leis, ou
seus "interstícios". [CCOD]

111
11.7.4.1 interstícios nas leis
Uma nova teoria surgida após a queda do muro de Berlim explica a corrupção a partir da
ideia de que os agentes públicos atuam nas falhas manifestas em brechas ou interstícios
nas leis, [TCBANM] contudo, quem fabrica as leis são os políticos, e assim são os
políticos que fabricam os interstícios das leis. Não se pode deixar de lado a possibilidade
de que os interstícios sejam criados premeditadamente. As ilegalidades funcionariam nos
interstícios das leis, encaixando-se no jogo das tensões entre os ordenamentos legais, as
práticas e técnicas administrativas. [OCRD]

11.7.4.2 A Constituição de 1988 abriu as portas


para os esquemas de corrupção.
A Constituição facilitou a corrupção. Entrando em detalhes minuciosos em muitos
aspectos, a Constituição se aproxima mais de um código civil ao abordar temas
relacionados aos costumes, e torna-se superficial em outros. O tema da corrupção aparece
uma única vez para tratar da impugnação de mandatos eletivos. O Relatório final da CPI
do Orçamento afirma que "a Constituição de 1988 não deu origem à corrupção
orçamentária, mas permitiu que parlamentares já corrompidos ampliassem sua influência
em espúria parceria com tecnocratas do Poder Executivo, com a participação de
poderosos interesses privados, para saquear o erário". [CPORF]
A omissão sobre os crimes contra o patrimônio público, os crimes de corrupção, nem ao
menos para dizer que seriam objeto de lei complementar é suspeita e deixou aberta as
portas para a corrupção. A denúncia que se fez de corrupção no governo Sarney não foi
investigada a sério, e é a mesma corrupção que se reacendeu no governo Collor (BR
Distribuidora e fundos de pensão), sendo a mesma que, institucionalizada, permanece até
hoje com a criação paulatina de mecanismos de autoperpetuação e um sistema de
impunidade. Se os membros da CPI do Orçamento assinaram o relatório final dizendo
que "a Constituição permitiu", não é excessivo dizer que a Constituição não deu origem
à corrupção, mas permitiu que os esquemas de corrupção vigentes tivessem continuidade.
Brechas e interstícios na Constituição são fatores determinantes de corrupção, como as
de que se aproveitam não só os corruptos, mas também aqueles que querem impor sua
Ideologia a todos os cidadãos. São exemplos de brechas na Constituição a previsão de
foro privilegiado, sem determinar claramente os seus limites, para políticos em exercício
de cargo público; a previsão de que crimes cometidos por autoridades máximas serão
considerados crimes apenas se houver anuência de dois terços dos membros das Casas
Legislativas, etc. ; a ausência e previsão de mecanismos efetivos de apuração e punição
dos crimes cometidos por políticos, eles mesmos fazem as leis que determinam o que
crime, e eles mesmos se julgam.
A Constituição funcionando como um quadro negro em que são apostas com facilidade
emendas, bastando com que o governante detenha controle sobre a consciência de uma

112
maioria nas Casas Legislativas e nos Tribunais Supremos, como demonstrado no Sofisma
do Voto de Liderança, constitui um risco a favor dos ilícitos, não apenas da corrupção. É
desta forma que o governo Dilma pôde trazer o país ao caos por desrespeitar a Lei de
Dotação Orçamentária e a ter aprovada em plenário nos anos de 2014 e 2015.

11.8 Improbidade ou Imoralidade


A improbidade é fator circunstancial quando uma maioria não segue princípios morais
suficientes. e há uma inépcia institucionalizada nos Poderes Legislativo e Judiciário para
combater a corrupção. Esta inépcia é mantida pela tolerância à Mentira, à Falácia e ao
Sofisma, instrumentos por natureza imorais. A Teoria do Domínio do Fato se fundamenta
em uma visão sistêmica do processo de corrupção, ainda que apenas em suas emergências,
uma visão construída pela análise dos fatos apurados e inferências necessárias à visão do
todo. É suspeita a argumentação defensiva do tipo "isto é ilação" para as inferências feitas,
da mesma forma como a intuição permite alegar "eu não sei ou não soube de nada". A
ilação, a inferência, só não é válida quando construída com falácias e sofismas, e, assim,
é preciso verificar se a sistematização teórica que se monta em investigações para
reconstruir um sistema ativo de corrupção não é o instrumento que se contrapõe ao direito
de calar-se em interrogatórios processuais. As denúncias da corrupção desde em 1991, os
estragos consequentes ao país, à Petrobras e aos fundos de pensão, e a aceitação como
juridicamente válidos das falácias e sofismas mostram não ter absurdamente, sentido não
se aceitar como prova as inferências que se retiram de uma abordagem compreensiva,
com a adoção de pensamento crítico e metodologia hermenêutica adequada. É simples: é
preciso que se contraponha ao direito a ficar calado as provas inferenciais, ou ilativas no
jargão político das defesas, para que a História não comprove que as inferências são
corretas, desenrolando acontecimentos que culminam nas consequências previsíveis.
Comprovado que o sistema existe, se o acusado não fornecer os dados necessários para
reconstruí-lo, calando-se, deve ser considerado que concorda com as inferências obtidas,
assumindo-as. Em analogia com o campo semântico da Medicina, comete crime de
omissão um médico que fazendo uma suposição de uma determinada doença posterga o
tratamento, caminhando o tempo e as consequências da doença em hipótese diagnóstica
levar o paciente a óbito no período em que se busca provas definitivas de ser a realmente
a doença suposta existir: o tempo foi o fator determinante da Verdade da suposição inicial.
Desta forma, o tempo demonstra que o Poder Legislativo, fabricador de Leis, e o Poder
Judiciário, seu fiscalizador, são ineptos para enfrentar a corrupção e punir os responsáveis
mediante o ressarcimento dos prejuízos causados, não só os prejuízos primários, mas
também os prejuízos que deles derivam. Não há uma verdadeira intenção de se
compreender a Realidade dos fatos de corrupção e uma verdadeira intenção de combatê-
los, inserindo-se esta falha no sistema de impunidade instalado nos três poderes
constituídos, executivo, legislativo e judiciário.

113
11.8.1 A propaganda de atos governo e a
moralidade
Faz-se a denúncia dos altos gastos do governo com a propaganda de seus atos, que,
embora legal, é imoral, primeiro porque são "inúteis em vista da carência da assistência
médica, alimentação, moradia, segurança, educação". [Di Pietro, in CPBFPP] São imorais
também pelo fato de falsearem a Realidade. Pela propaganda a educação pública, a saúde
e os demais serviços públicos são de primeiro mundo, contrastando com a situação
precária do ensino público, com os corredores de hospitais repletos de pacientes em
macas. Pela propaganda, o bolsa família foi um sucesso, mas não conseguiu esconder que
os verdadeiros dela necessitados ficaram desassistidos, conforme foi noticiado pela mídia
por levantamento do IPEA. São bilhões desviados, por exemplo, da compra de
medicamentos.

11.8.2 Imoralidade do cargo de confiança


Se há a referência à imoralidade do agente público e culpa-se a índole imoral do brasileiro,
esconde-se o fato essencial, os agentes públicos são, muitas vezes, escolhidos para cargos
de confiança por sua capacidade imoral de cometer ilícitos e de "não saber de nada", nada
ver. Não é preciso provar esta afirmativa, é condição essencial para que haja a corrupção
que não seja facilmente descoberta.
Não há uma cultura brasileira de imoralidade, há uma cultura política de escolher para
seus cargos de confiança elementos dispostos a fazer "tudo que seu mestre mandar".
Assim, não sendo os altos executivos aqueles que digitam os documentos, em se
encontrando quem foi o digitador, este é omisso se o documento digitado contiver um
ilícito, embora possa ser inocentado a posteriori se demonstrada sua incapacidade de
perceber a ilicitude do ato.
Ainda, os cargos públicos servem de moeda de troca por favores prestados, com milhares
de cargos de confiança a serem distribuídos. [CEFETES]

11.8.3 improbidade administrativa


A partir do conceito de improbidade administrativa, que envolve a imoralidade
administrativa através da conduta do agente público que quebra o seu dever de lealdade
para com as instituições, passa-se a discutir os princípios que regem a administração
pública (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência) e que devem
orientar os agentes públicos, já que seguindo estes não haverá como qualquer cidadão
ultrapassar os limites do ético e da moral que desembocam na corrupção. [LIACIC] O
que se apura, no entanto, é ser a Lei 8. 429 inócua, bastando-se se ver o alto índice de
corrupção coexistindo com a ausência de denúncias feitas por agentes públicos: os
indícios perceptíveis de corrupção se dão por "palavras, gestos e escritos" e não houve
preocupação dos legisladores em torná-los efetivamente a prova da materialidade do
crime.

114
Descobre-se, então, a brecha na lei, se um agente público comete um ato ilícito, o crime
prescreve após cinco anos do mandato. [LIACIC] É paradoxal a Constituição se iniciar
com uma reza (Art. 37) de que a administração pública seguirá como princípio a
moralidade e, também o § 9o do Art. 14 da Constituição prever "lei complementar que
estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger
a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida
pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência
do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na
administração direta ou indireta". A moralidade na administração pública parece ser uma
"cláusula pétrea", mas não o é. Esta lei complementar veio a ser a Lei 8. 429, de
improbidade administrativa, que prevê a prescrição do ilícito cometido por agente público
em 5 anos após o término do mandato ou ocupação do cargo de confiança. [L8CCC]
Contudo, não há distinção de graduações de imoralidades-improbidades cometidas, e se
o prazo de prescrição é de cinco anos, a inelegibilidade é de oito anos. É claro que a Lei
8. 429 observa o inciso IV do artigo 269 do Código de Processo Civil, que se interpreta
como "instrumento de segurança jurídica, de forma a estabilizar as relações, não
permitindo que um cidadão possa ser demandado por determinado fato eternamente".
[CEFETES] A História novamente mostrou que os crimes de corrupção não podem
prescrever e que a inelegibilidade deve ser eterna.

11.9 A falta de transparência


A falta de transparência da estrutura governamental favorece a corrupção. Com o voto de
liderança foi criado uma estrutura viciada que encobre sob o manto da legalidade
quaisquer decisões tomadas aprovadas pelas Casas Legislativas. Não foram criados
mecanismos de fiscalização que suportem a vigilância do cidadão sobre o uso do dinheiro
público, enquanto se aprimoram as técnicas de manipulação das informações, por meio
da Mentira, da Falácia e do Sofisma, "que escondem a corrupção das vistas públicas ou
as disfarcem de negócios legítimos". [Baseado em CPWIKI]
Não se há de falar, portanto, em corrupção tolerada, mas em corrupção não percebida:
nove em dez países tem índice de percepção menor que 5 em 10 (percepção completa da
corrupção).

11.10 Quem está no poder


Quem participa do poder decisório distribui cargos onde possa ocorrer ilícitos entre
membros de partidos do governo ou que o apoiam em coligação. Este fato determina que
cada emergência de corrupção tem sua seara própria e seus próprios semeadores. É um
jogo de forças em que as forças de exclusão, repulsão e dissociação são externas, das
quais o sistema pró-corrupção depende para evoluir e se aperfeiçoar;
"É preciso que, na organização sistêmica, as forças de atração, afinidades, ligações,
comunicações, etc. predominem sobre as forças de repulsão, exclusão, dissociação, que
inibam, contenham, controlem" os mecanismos para se alcançar o objetivo comum;

115
Não são incluídos no sistema indivíduos de formação moral ilibada, que denunciariam o
esquema, ou os ingênuos, que verbalizariam excessivamente tornando-o visível;
Não há inclusão de adversários, que devem cumprir sua parte no acordo tácito de omissão
e conivência, fazendo um jogo de aparências, com o combate à corrupção nos discursos
e atos políticos sem consequências práticas. No entanto, os próprios corruptos se
desmoralizam perante a opinião pública denunciando corrupção com dossiês nas
campanhas eleitorais, sem gerar processos judiciais, teatro;
Cada grupo comporta "imposições que limitam os tipos de interações possíveis",
e assim, quando um grupo visa a corrupção seu produto é distribuído apenas aos
indivíduos a ele pertencentes.

11.11 Autoritarismo
"O principal fator favorável à corrupção é o regime de governo ditatorial ou autoritário.
Nestes regimes, as estruturas governamentais de tomada de decisão concentram o poder
de decisão em poucas pessoas". [POTC] Não há necessidades fisiológicas como
determinantes de comportamento corrupto, exceto nas situações de baixíssimos salários
e controle do acesso a alimentos, como nos países comunistas.

11.11.1 A concentração do poder facilita a


corrupção
Quando há concentração do poder o acesso aos que decidem passa a ser atividade bem
remunerada. Ora, quem decide com mais poder do que aqueles que se encarregam de
elaborar o Orçamento da República? Paradigma desta aliança espúria é a atuação através
de um conjunto de "esquemas" (para se usar a terminologia dos jornais) no Executivo e
no Legislativo, com a participação de agentes privados, para promover a corrupção.
[CPORF]

11.12 Comando
Como demonstrado, pela Teoria do Domínio do Fato é preciso encontrar quem tem o
poder de comando (domínio do fato), emitindo ordens para que seja executado o ato
ilícito. Deve-se, contudo, questionar se há este tipo de comando. Discutiu-se também a
possibilidade de má interpretação havida entre "determinar a execução" e "dar ordens
para a execução", resolvendo-se que "determinar" leva a "causas determinantes".
Concluiu-se que na organização para a corrupção não há uma pessoa em posição de
comando, embora eventualmente alguém possa cometer o desatino de mandar executar
um ato de corrupção, e, assim, fornecendo elementos para que o ilícito seja descoberto, e
quando descoberto, seja provado.
Iniciando-se do ponto zero, uma hipotética sociedade em que não haja corrupção e ela se
inicia, deve-se questionar como se dá a disseminação de "ordens" a partir de acordo tácito
entre os indivíduos envolvidos. "Pela antropossociologia, a imposição de especializações

116
a individualidades dotadas de competências organizadoras ricas reduz e inibe a
diversidade criada pelo próprio desenvolvimento organizacional". No conjunto de
pessoas que buscam o ilícito da corrupção, os indivíduos que são dotados de competências
organizadoras ricas, como mais acesso ao poder decisório, agregam em torno de si
pessoas com menos competência, e assim são aceitos tacitamente como líderes, suas
colocações e atos servem como guia do grupo, e são compreendidos como "ordens não
verbalizadas": o líder determina a execução do ato.

11.12.1 Quais são as competências organizadoras?


a) Ter mais acesso ao poder decisório;
b) Maior percepção e conhecimento do sistema pró-corrupção com a capacidade
de propor soluções que favoreçam a organização e limitem a desorganização,
com falácias e sofismas;
c) Capacidade de melhorar os métodos de trabalho;
d) Capacidade de dirigir, e aqui se torna mais complexo, com o caráter "sem que
o outro saiba estar sendo dirigido";
e) Melhor capacidade de eliminar concorrentes;
f) Intenção de corrupção com maior capacidade de dissimulação de forma que
não seja nunca percebido tratar-se de organização para a corrupção;
g) Ser portador de uma moralidade mais laxa.

11.13 A corrupção institucionalizada como


instrumento de ação política
Ora, a denúncia de que a corrupção se institucionalizou no período Collor e se tornou
instrumento político no período Lula faz surgir a figura de um mentor político orientando
a corrupção e seu uso como financiador de programa de governo. Para aceitação desta
figura de mentor, uma consciência planejadora orientando a elaboração de medidas que
anulem os fatores que antagonizam a corrupção, deve-se lembrar de que a) medidas
provisórias que anulem os efeitos anticorrupção criados pela sociedade não podem ter
geração espontânea, surgidas do nada; b) o presidente da República segue ideias diretrizes
do partido a que se filia.

11.14 As medidas provisórias


As medidas provisórias se transformaram em fatores circunstanciais que favorecem a
corrupção. A Presidência da República se arvora de legislador e edita várias medidas
provisórias alterando as leis que se referem às licitações, notadamente a Lei 8. 666/93,
como as medidas provisórias que estão elencadas em LICITACAO. NET (http://www.
licitacao. net/legislacao. asp?idtipo=7). As licitações ainda são a porta inicial da
corrupção.
Estas medidas provisórias são aceitas, embora muitas vezes firam a sua essência
constitucional, e transformadas em Lei pelo Congresso, por meio de votações que são

117
viciadas pelo papel dado aos líderes partidários manipuladores de votos nas casas
legislativas. As Leis com suas brechas e interstícios são emanadas, portanto, também do
Poder Executivo. As alterações dadas à Lei 8. 666, como denunciado por Roberto Ponte
"ressuscitam dispositivos obscuros" de antigas legislações e "legaliza sorrateiros
mecanismos de corrupção de legislações anteriores" que por ela foram controlados.
[DKPC] Legislando nas licitações de obras concedidas a empreiteiras, em meio a todas
as apurações da corrupção pela Lava Jato, o Executivo não pode se eximir de culpa na
facilitação da corrupção. Não sendo a presidente versada em licitações, cumpre que se
verifique quem a orientou na elaboração destas Medidas Provisórias que reabrem as
portas da corrupção.

11.15 O poder político em si


O poder político em si é causa de corrupção, como fator necessário e suficiente? Ora,
considerando o Poder Político como condição determinante da vida em comunidade-
sociedade, não é fator necessário e suficiente para a existência da corrupção, mas a visão
que o agente político tem do Poder Político, seja por imposição de sua própria concepção,
o Estado deve responder a interesses egocentrados, seja por imposição de sua Ideologia,
não importa quantas ideologias diferentes existam no seio da sociedade.

11.16 A interlocução direta entre as empreiteiras e


os agentes do Estado
"A interlocução direta entre as empreiteiras e os agentes do Estado é quebrada pela adoção
do sistema de performance bond, tal como há 120 anos se pratica nos EUA. Esse
consagrado seguro de obras públicas transfere para as seguradoras a responsabilidade
pelo justo valor contratado, pela fiscalização efetiva das medições dos serviços e pelo
estrito cumprimento dos cronogramas". Mas o atual grupo que domina o País nada fez e
nada fará nesse sentido. [MCMPE] Não há garantia, porém, que este instrumento
funcione se há um sistema pró-corrupção em vigência que progride sempre no sentido de
anular qualquer medida anticorrupção.

11.17 A não participação dos cidadãos


As influências estruturais são divididas em capacidade e qualidade do envolvimento dos
cidadãos (que mais tarde Putnam denominou de capital social) e os efeitos do sistema
judiciário e legal. Para uma abordagem teórica da corrupção, veja o artigo A Policy
Oriented Theory of Corruption (NAS, Tevfik, PRICE, Albert e WEBER Charles.
American Political Science Review, 1986), tomando-se o cuidado de não se convencer
de que a corrupção produza efeitos sociais positivos além do enriquecimento dos autores
e de quem os garanta em atuação. A aceitação de que a corrupção seja necessária ao
desenvolvimento e ao bem-estar social é a negação de que todos os homens são iguais,
tornando "mais iguais" aqueles que podem pagar propinas e subornos.

118
11.18 Falta de simetria de informação entre os
membros da sociedade
A falta de educação de qualidade oferecida à população favorece a corrupção, [CPWIKI]
cria-se outra categoria, a pseudo educação do povo, o homem comum educado com
falácias e sofismas e mesmo a mentira declarada, introduzindo conceitos na mente de
cada um de modo a que estes conceitos conduzam suas mentes a conclusões
predeterminadas. É o vírus conceitual que manipula a mente do homem, que se pensa
possuidor de um conhecimento, mas apenas mera antena repetidora do que seus
manipuladores desejam, [GRPVC] enquanto os políticos corruptos oferecem um discurso
de proteção às pessoas mais desfavorecidas conquistando seus votos.

11.19 A distribuição de privilégios


Os privilégios concedidos à classe dirigente do Estado são um risco para a democracia
[PPPNTF] mas a distribuição de privilégios ocorre em todos os setores da administração
do Estado, Executivo, Legislativo e Judiciário. "Os privilégios não seriam suficientes para
satisfazer aos interessados e ao contrário do que se supunha, resultava em uma corrupção
mais ativa". [CBASR]

11.19.1 Privilégios e inconstitucionalidade


A pregação de vigilância da Ética e da Moralidade administrativa é, no entanto, apenas
oratória. Os políticos criam para si mesmos e para a alta esfera administrativa, legislativa,
executiva e judiciária, rendimentos mensais diretos e indiretos que são principescos e
imorais e se sustentam na afirmativa de que recebem o que determina a lei, com aditivos
como auxilio moradia e outros.
A Constituição Federal de 1988 instituiu o tipo de remuneração dos agentes políticos:
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de
política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados
pelos respectivos Poderes. (Alterado pela EC000. 0191998). § 4º O membro de Poder, o
detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e
Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto
no Art. 37, X e XI. [CPBFPP]
Se é inconstitucional, o esperado seria que todos devolvessem aos cofres públicos o que
se recebeu a mais, mas a própria Constituição facilita a adição dos adicionais ao salário
com o nome de “vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza”.

11.19.2 Tipos de privilégios


Qual é a função de um político? É receber altos salários e acréscimos a estes salários na
forma de auxílios imorais como o auxílio moradia, um plano de saúde que garante

119
cobertura integral, pagamento de reformas em suas casas que as transformam em
palacetes banhados a ouro? Etc. Quantos terão percebido que estamos em uma monarquia
gramsciana, com os Novos Príncipes se locupletando de privilégios enquanto levam o
país ao Caos?
Os privilégios surgem como altos salários e acréscimos a estes salários na forma de
auxílios legais e imorais como o auxílio moradia, um plano de saúde que garante
cobertura integral, pagamento de reformas em suas casas que as transformam em
palacetes banhados a ouro, etc. Quantos terão percebido que estamos em uma monarquia
gramsciana, com os Novos Príncipes se locupletando de privilégios enquanto levam o
país ao Caos?

11.19.3 Acabar com privilégios e ilegalidade


tolerada
Desnecessário listar cada um dos privilégios concedidos a agentes públicos em
determinadas funções, [APQCAE, PPPNTF, RPPDPI] mas deve-se alertar não são, como
se pretende, "considerados pela população como toleráveis ou como inevitáveis, próprios
da única forma possível de governar ou de administrar”, [OCRD] que novamente
confunde impossibilidade de mudar a situação com tolerância. Podem ser consideradas
“ilegalidades conquistadas de forma estatutária pela inobservância geral e maciça, pelo
desuso progressivo, pelo consentimento e modo do poder, pela negligência ou pela
impossibilidade efetiva de impor a lei e reprimir os infratores”. [OCRD] É apenas sintoma
do grande defeito constitucional que permite ao político legislar em causa própria.
Qual a função dos privilégios concedidos a ministros, juízes, e a políticos ocupando altos
cargos? Pode-se ler que a relação entre os privilégios concedidos e a corrupção tenha a
ver com a teoria da Dádiva de Mauss. [ESDFRT]

11.19.4 “Paradigma da dádiva”, dom do corrupto


Qual é a função de um político? É receber altos salários e acréscimos a estes salários na
forma de auxílios imorais como o auxílio moradia, um plano de saúde que garante
cobertura integral, pagamento de reformas em suas casas que as transformam em
palacetes banhados a ouro? Etc. Quantos terão percebido que estamos em uma monarquia
gramsciana, com os Novos Príncipes se locupletando de privilégios enquanto levam o
país ao Caos?
Os privilégios surgem como altos salários e acréscimos a estes salários na forma de
auxílios legais e imorais como o auxílio moradia, um plano de saúde que garante
cobertura integral, pagamento de reformas em suas casas que as transformam em
palacetes banhados a ouro, etc. Quantos terão percebido que estamos em uma monarquia
gramsciana, com os Novos Príncipes se locupletando de privilégios enquanto levam o
país ao Caos?

120
Qual a função dos privilégios concedidos a ministros, juízes, e a políticos ocupando altos
cargos? Pode-se ler que a relação entre os privilégios concedidos e a corrupção tenha a
ver com a teoria da Dádiva de Mauss. [ESDFRT]
Tenta-se aplicar o “paradigma da dádiva” de Mauss [LAMDSB] supondo estar vinculada
à corrupção
“a obrigação mútua gerada pelos movimentos da dádiva (dar, receber e retribuir) (que)
constitui não apenas um fenômeno sociológico das sociedades tradicionais, mas também
das sociedades modernas, e que esta é a condição primeira da existência do vínculo
social”. Pensa-se a corrupção dependente de um “dom dos corruptos” motivado pela
sedução também a partir de Mauss, [PSDC] mas, se “a sociedade se funda, sobretudo, na
ambivalência da reciprocidade: existe o interesse, mas também o desinteresse, o contrato
e o vínculo espontâneo, o pago e o gratuito. Pelo interesse utilitarista, dizem os
maussianos, funda-se uma empresa comercial, mas não o vínculo social. E, no sentido
contrário, pelo desinteresse espontâneo se fazem amigos, casamentos, etc., mas não a
economia de mercado ou o Estado”. [LAMDSB]
Tem-se que
O grupo voltado para a corrupção se funda na cooperação, reciprocidade e na
reversibilidade, tendo como motivação o interesse, a Intenção de corrupção. Nestas
sociedades (grupos) o dar e o receber levam à obrigatoriedade do retribuir não por um
“dom”, mas como condição sine qua non em resposta ao próprio interesse. É uma visão
um pouco ingênua, no entanto. Para que o sistema de corrupção funcione é preciso que
pessoas distantes da possibilidade de praticar atos ilícitos contribuam, seja garantindo a
impunidade, seja garantindo uma votação, seja sofismando para convencer a outros da
necessidade da tolerância ao ilícito, porque sem um acordo tácito de omissão e conivência
a corrupção não floresce.

11.20 Foro privilegiado e impunidade


"O político brasileiro dispõe de foro privilegiado, o que dificulta ao extremo qualquer
investigação a qual somente pode ser conduzida pela Polícia Federal, desde que
autorizada por um juiz do STF". [BPCCC] Não apenas dificulta qualquer investigação,
mas pode a impedir, sendo um dos mecanismos de impunidade que necessitam ser
corrigidos. Basta que o juiz do STF esteja conduzido por ideologias ou compromissado
com quem o indicou, o Presidente ou partido a que pertença, para que não autorize
investigação contra quem tem o mesmo compromisso ideológico ou de débito por
indicação. É imoral o fato de que um crime denunciado corra o risco de não ser
investigado. Os próprios políticos têm participação na escolha de juízes do STF, e assim,
tudo funciona como se o processo de corrupção não dependesse da tolerância e conivência
de quem pode denunciar e julgar.
O foro privilegiado em associação com o acordo tácito de omissão e conveniência e com
o sistema de impunidade montado nos três constituídos e com a governança sem saber de
nada é fator determinante principal de corrupção.

121
11.21 Determinações históricas e sociais
Alguns estudiosos pretendem culpar o homem e sua herança cultural como fator de
corrupção como determinação histórica e social. A Lei de Gerson, o jeitinho brasileiro, e
outros comportamentos do brasileiro são citados como fatores culturais que determinam
a corrupção, mas podem estar presentes em corruptos e não corruptos, não são
determinantes da corrupção e não demonstram que o brasileiro tenha índole corrupta. A
confusão se faz quando se permite o deslizamento entre campos semânticos. Lei de
Gerson, jeitinho brasileiro, etc., podem representar corrupção moral, mas não
necessariamente determinem corrupção no sentido do campo semântico da política,
mesmo que o corrupto político tenha a moral frouxa. Curiosamente, tanto se alega que a
Lei de Querer tirar Vantagem em Tudo, ou Lei de Gerson, seja determinante de corrupção,
é preciso se perceber que foi ela um dos fatores que determinaram a descoberta do atual
surto de corrupção. Os políticos envolvidos, no afã de tirar vantagem, alcançaram
enriquecimento ilícito, ainda que com riquezas colocadas em nomes de familiares,
tornando visível a irregularidade. É também notório que fatores históricos não podem ser
determinantes de corrupção em um único país, visto ser um câncer presente em todos os
países. O Iluminismo e a Revolução Francesa pregaram contra os privilégios da
monarquia e da aristocracia, geraram os socialismos, e, na prática provaram que os
privilégios nem ao menos mudaram de endereço, continuam com os agentes , públicos
que se dedicam à administração do Estado como Novos Príncipes. Os fatores
determinantes históricos e sociais devem ser procurados no Estado e sua fundamentação
e não na cultura dos povos.

11.21.1 Propinas
Não se pode pesquisar pelo termo "propina", mas pelo conceito, aquilo que se paga ao
agente público para que ele exerça a sua função a favor de quem o paga, com ou sem
ilicitude. A palavra teve vários usos e significados, o que dificulta a compreensão do
hábito político.

11.21.1.1 Histórico
A herança de se pagar propina a agentes públicos para fazer andar a máquina
administrativa precede o pagamento de propina como determinante da corrupção, embora
o seu pagamento com este objetivo seja tolerável entre os políticos, não sendo ao menos
do conhecimento do cidadão comum exceto no momento em que dele é cobrada.

11.21.1.1.1 Herança cultural da propina


O pagamento de propina foi um procedimento legalizado e não se faz um levantamento
completo da história de pagamento e luvas na política e nas relações cidadão-Estado. Em
Portugal registra-se, em 1812, "propina" como "presente ou dom em dinheiro, pano ou
peça, que se dá a alguns oficiais, governadores. ministros, lentes, por assistência ou
trabalho. Não se podia pagar sem Ordem Régia". A Carta Régia citada pelo autor mais

122
antiga é datada de 1604. O que se pagava a mais pelo serviço o assistência prestada
recebia o nome de "luva". [EHDJTP] É descrito também em 1812, como inconveniente
ou "embaraço do comércio de Portugal devido a má política dos que governam",
acentuando-se a não honradez de quem recebe propina e exige o pagamento de luva:
"Ha um medico que deve visitar os remédios a bordo dos navios [. . . ] exige-se a
propina de 6. 400 reis; depois, se o medico não he honrado, além da propina, recebe
mais algumas luvas". [ECPDMP] Não se encontrou registro do momento em que
"propina" deixa se ser cobrada por "carta régia" ou lei e passou a ser recebida com o
sentido dado ao termo "luva".

11.21.1.2 Significados do termo "propina"


Em 1562 “propina” pôde significar honorários: "em 1562 os graduados em artes no
Colégio Real de Coimbra deviam pagar propina a seus Mestres". [CDMARH] Significou,
em 1790, a anuidade de universidade a ser paga: "os estudantes pagavam propina ao se
matricular em Universidade em Portugal", [HESLA2] mas pagava-se também propina
para a realização dos exames de avaliação e aprovação para o exercício da profissão, uma
propina variável para cada membro da banca examinadora. [HESLA3] Este sentido ainda
permanece em algumas universidades e colégios brasileiros. Em Portugal registra-se, em
1812, "propina" como "presente ou dom em dinheiro, pano ou peça, que se dá a alguns
oficiais, governadores. ministros, lentes, por assistência ou trabalho". Nos séculos 17 e
18, podia ter o sentido de auxilio, como o atual auxílio moradia que se paga aos altos
salários na corte brasileira, [HPS782] e já aparece equivalendo a abuso, talvez mesmo
corrupção, uma vez que era daquele que precisava do serviço do agente público que se
cobrava a propina, portanto, para fazer andar a máquina administrativa a favor de quem
paga. No início do século 17, em Portugal, "os juízes estavam no uso legal de receberem
propina e espórtulas (gratificação em dinheiro, esmola) e à proporção que diminuíram e
se atrasavam os pagamentos pelo erário cresciam e se alargavam as propinas.... na
maneira de contar e de extorquir as espórtulas cometiam-se grandes abusos e até
iniquidades". Em 1606, decretou-se uma tabela pela qual deviam ser cobradas as propinas
e espórtulas. O abuso na cobrança das propinas e espórtulas surgiu em relação ao baixo
salário e ao atraso do pagamento dos ordenados, sendo uma diferença fundamental com
a época atual em que os salários são altíssimos e a ele se ajuntam vários auxílios, como
auxílio-moradia, cartão de alimentação, cartão de despesas pessoais, gasolina. Fica
demonstrado o critério de se estipular o quanto se podia cobrar de propina. Não se
encontrou referência a aumento do preço a ser pago pelo Estado para fazer frente à
propina que se recebe.
Era, assim, permitida, a cobrança de propina, ficando sob a vigilância do rei, para
restabelecer critérios mais adequados nos momentos de abuso. [HPS785]
Em 1850, aqui no Brasil, a propina era paga costumeiramente em algumas províncias
pelo governo, quando o agente público não percebia ordenado para a função, junto com
uma ajuda de custo, que podia ser de um décimo da propina. [MCCMG]

123
O pagamento de propina tornou-se hábito e é o que move os homens brasileiros a se
tornarem políticos, a possibilidade de enriquecimento de forma imoral, mas
pretensamente legal.
O processo clássico de se pedir propinas para dar andamento a processos de qualquer
natureza junto aos poderes constituídos evoluiu simplesmente para um acordo tácito na
forma de "você quer propina, aceito pagar, mas não do meu bolso", devido ao fato de que
o pagamento de propina, para a empreiteira, também faz parte do custo da obra. É não
senso aplicar aqui Lei de Gerson, a empreiteira querendo tirar vantagem de tudo: na
questão quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, o solicitar a propina pelo agente
público ou por previsão legal precede o pagamento.
O que se apura a respeito da propina é suficiente para se afirmar que era hábito se pagar
a autoridades, em gratificação a serviço prestado, e que, em algum momento foi suprimida
por Lei, possivelmente por abusos ou por ação política visando à igualdade de direitos a
todos os cidadãos (a instituição propina é fator de desigualdade, só tem direito quem pode
pagar por ele), não se pesquisou aqui. Tão logo suprimida pode ter se mantido o hábito
de se cobrar propina como forma de enriquecimento na política.

11.21.2 Patrimonialismo
O patrimonialismo [TCBANM] é também indicador de que quem, dentro ou fora dos
socialismos, detém a riqueza ou poder de decisão sobre a riqueza se dá o direito de gozar
de privilégios e de levar vida de príncipes à custa do povo, e isto ocorre em todos os
sistemas autoritários e ditatoriais.

11.21.2.1 Patrimonialismo e corrupção


Supõe-se que a tradição política brasileira não respeita a separação entre o público e o
privado, não sendo, o caso brasileiro, um exemplo de Estado moderno legitimado por
normas impessoais e racionais. O patrimonialismo não separa os meios de administração
e os funcionários e governantes, fazendo com que esses tenham acesso privilegiado para
a exploração de suas posições e cargos. Este é o modo de funcionar, em prejuízo do
cidadão, que não se corrigiu por acordo tácito de omissão e conivência dos legisladores e
juízes. Relaciona-se o patrimonialismo na cena pública brasileira à corrupção e pensa-se
herdada do mundo ibérico sendo a característica apenas de quem detém o Poder sobre a
produção de riqueza. O patrimonialismo é base dos sistemas que se dizem comunistas, a
não separação entre os meios de administração e os funcionários e governantes, fazendo
com que esses tenham acesso privilegiado para a exploração de suas posições e cargos.

11.21.3 Ilegalidade tolerada pelos políticos


Há um limite na corrupção que é dada pelo tanto de ilegalidade que os políticos toleram,
limite que se ultrapassado dá visibilidade ao processo de corrupção, como que traindo o
acordo tácito de omissão e conivência.

124
11.21.3.1 A impunidade e a certeza absoluta de
impunidade
Ser a impunidade a raiz da corrupção não necessita de provas, fazer denúncias de
corrupção em 1992 e o mesmo processo estar ainda atuante é um absurdo. Até a
institucionalização da corrupção no governo Collor existia a impunidade, mas não a
certeza da impunidade. O tema da impunidade será tratado á parte.

11.22 Imposições e restrições


Toda a relação organizacional exerce restrições ou imposições sobre os elementos ou
partes que lhe estão submetidos. “O determinismo interno, as regras, as regularidades, a
subordinação dos componentes ao todo, o ajustamento das complementaridades, as
especializações, a retroação do todo, a estabilidade do todo, e, nos sistemas vivos, os
dispositivos de regulação e de controlo: a ordem sistêmica, numa palavra, traduzem-se
em outras tantas imposições”. Toda a associação implica imposições: exercidas pelas
partes interdependentes umas sobre as outras, das partes sobre o todo, do todo sobre as
partes. Mas enquanto as imposições das partes sobre o todo se relacionam primeiro com
os caracteres materiais das partes, as imposições do todo sobre as partes são, em primeiro
lugar, de organização. Aplicado à corrupção, uma vez participando de um processo de
corrupção, o indivíduo sofre tais imposições para permanecer no grupo e praticar atos
ilícitos ou que determinem seu encobrimento ou impunidade. Assim, todo político que
legisla a favor da corrupção (retroação) pode ser enquadrado como pertencente a um
grupo com intenção de corrupção.

11.22.1 Imposições a nível individual


As imposições são a explicação não só para aquele que adentra em um sistema de
corrupção e adere a ele apesar de seus pruridos morais, como para aquele que, sem
intenção de corrupção termina por participar dos atos ilícitos embora não se possa dizer
que tenha sido moralmente corrompido, foram transformados pela funcionalidade do
sistema pró-corrupção. Neste caso, uma série de abordagens teóricas procuram amenizar
o conflito de se fazer algo que vai contra a própria consciência:
a) A adesão a uma ideologia, quando os preceitos morais são modulados pelos
objetivos doutrinários prescritos;
b) A pregação da relativização da moral levando ao aforismo "o fim justifica os
meios";
c) A pregação de que a corrupção é necessária ao desenvolvimento econômico e
bem -estar social;
d) A pregação de que é da índole do homem, no caso, do brasileiro é ser corrupto,
querer levar vantagem em tudo, etc.

125
11.22.2 Imposições com escolhas individuais
Por que todo indivíduo que participa de um grupo com objetivos de corrupção é autor de
corrupção? Qual o papel do livre-arbítrio, portanto da formação moral do indivíduo, na
determinação de sua culpabilidade como coautor da corrupção de que participa, não
existindo graus de participação?
É só ao nível de indivíduos que dispõem de possibilidades de escolha, de decisão e de
desenvolvimento complexo que as imposições podem ser destrutivas de liberdade, isto é,
tornar-se opressivas. Assim, este problema das imposições surge de modo
simultaneamente ambivalente e trágico ao nível das sociedades, e singularmente das
sociedades humanas. Estas imposições recaem na formação moral do indivíduo,
entretanto, o indivíduo exercendo seu livre-arbítrio não são imposições, mas escolhas.
Não há como negar autoria quando o indivíduo, por livre arbítrio, decide participar de um
grupo de corrupção, e, assim, não sendo possível a existência de agentes públicos sem a
capacidade de livre-arbítrio, todo agente público que participa de um grupo faz uma
escolha entre participar ou denunciar, sendo, portanto, autor de mesmo grau que todos os
participantes: a denúncia tem o poder de interromper o processo de corrupção. É uma
situação de formação de quadrilha, em que, ainda que seja para fins revolucionários, o
indivíduo se sujeita a imposições que se tornam opressivas e destrutivas de liberdade,
renunciando o indivíduo a seu livre-arbítrio, à sua liberdade de escolha, e sujeitando-se à
lei do silêncio imposta pelo grupo.
É o ponto em que o marxismo cultural, Escola de Frankfurt, colabora com a formação do
sistema pró-corrupção quando difunde o vírus conceitual de que o homem é conduzido
por seus mais básicos instintos e por suas necessidades básicas, não sobrando espaço para
o livre-arbítrio e para uma consciência moralmente informada. [EFMCPC]
Tese abraçada pelo Gramscismo, que é o mentor intelectual da esquerda marxista no
momento. [MCBRCA] São teóricos que se distanciaram excessivamente da Realidade e
das Coisas Reais que a compõem. O homem não é “conduzido pelos seus mais básicos e
primitivos instintos e guiado por suas necessidades básicas”, [EFMCPC] uma sentença
que se tornou de duplo sentido em todos os sistemas totalitários, sendo o outro sentido o
submeter o homem por suas necessidades básicas e deixá-los sobreviver conduzido por
seu instintos mais básicos. O marxismo cultural se esqueceu de que o homem é um animal
diferenciado, tem os instintos e necessidades básicas e aquelas que são derivadas de sua
hominidade. Nos sistemas totalitários há o uso deste princípio para justificar a corrupção.

126
12 O Ovo ou a galinha: a solicitação ou a
oferta de vantagem indevida?
Não se questiona a gênese da corrupção, quem nasceu primeiro a solicitação ou a oferta
de vantagem indevida? Ou: o primeiro ato de corrupção foi uma solicitação de vantagem
indevida por um agente público ou foi uma oferta feita por um agente do poder
econômico?
Não se pode analisar pelos fatos que ocorrem agora, mas como ocorreram no passado.
Neste momento, não se pede e nem se dá propina, ela foi institucionalizada e entra no
cálculo automaticamente.

12.1 Corruptor e corrompido


Considera-se corruptor aquele que é portador do poder econômico, o corruptor ativo, o
agente público é o corrompido. Omite-se o fato de que a solicitação de propina é um ato
político antes de se tornar uma oferta pelos usuários dos serviços do governo. A
diferenciação entre corruptor e corrompido se fundamenta na confusão que se faz com a
corrupção moral, deixando de lado que o agente público já está previamente corrompido
ao cometer um ato de corrupção, e pode ser ele quem "corrompe" o corruptor, partindo
dele a solicitação e o convencimento de que se deva pagar a propina. Situação diferente
seria se historicamente os detentores do poder econômico oferecessem o suborno, fato
que pode ter acontecido em várias ocasiões, mas não era a moda estatística.
Enquanto é difícil a verificação se há alguma lei em que a locução "político corrupto" ou
que leve a esta ideia, a Lei 8. 429 e suas análises sugere que o agente público, funcionário
ou político, nunca é considerado o corruptor, apenas pode ser culpado de corrupção
passiva. O contexto situacional em que se recorre com frequência à mentira, à falácia e
ao sofisma exige esteja de forma clara e explícita nas leis qual a natureza do agente
político imoral e sua punição e do agente político corrupto e sua punição.

12.1.1 Corrupção ativa


A materialidade do fato consiste em oferecer (exibir ou propor para que seja aceita) ou
prometer vantagem indevida a funcionário público, para levá-lo a praticar, omitir ou
retardar ato de ofício. [L8CCC]
As conceituações podem ficar embaralhadas quando se considera um corrupto passivo
como sujeito ativo: pode figurar como sujeito ativo aquele que, mesmo não se
encontrando no exercício da função pública, utiliza-se dela para praticar o crime, ou se
encontre temporariamente afastado, como, por exemplo, férias, licença etc. Ademais,
admitindo a descrição típica à prática de condutas descritas, direta ou indiretamente,
significa que o sujeito ativo pode utilizar-se, para sua execução, de interposta pessoa
[BITENCOURT, 2012, p. 112, in CPIPE]

127
12.1.2 Corrupção passiva
"A corrupção passiva, conforme o art. 317 do Código Penal consiste em
Solicitar, receber ou aceitar promessa de vantagem indevida, para si ou para outrem,
em razão da função pública exercida pelo agente, mesmo que fora dela, ou antes de
assumi-la, mas, de qualquer sorte, em razão da mesma. É necessário que qualquer das
condutas solicitar, receber ou aceitar, implícita ou explícita, seja motivada pela função
pública que o agente exerce ou exercerá. Não existindo função ou não havendo
relação de causalidade entre ela e o fato imputado, não se pode falar em crime de
corrupção passiva, podendo existir, residualmente, qualquer outro crime, tais como
apropriação indébita, estelionato etc. O objeto é a vantagem, de cunho patrimonial ou
não, desde que ilícita ou indevida (elemento normativo do tipo) e solicitada, recebida
ou aceita em razão da função pública do agente". [PHJQC]
"O sujeito passivo é o Estado-Administração (União, Estado, Distrito Federal e
Município), bem como a entidade de direito público, além do particular eventualmente
lesado, quando, por exemplo, o funcionário público solicita a vantagem indevida, não
ofertada nem prometida por aquele, não configurando, portanto, a corrupção ativa.
[CPIPE]
É uma a interpretação inadequada e parcial sobre a Realidade dos eventos em sequência
que levam à corrupção. Um agente público que solicita vantagem indevida não lesa um
particular, no caso um agente do poder econômico, mas lesa diretamente o Estado-
Administração, uma vez que a vantagem indevida é paga não com recursos próprios do
particular, mas pelo aumento do preço cobrado ao Estado, superfaturamento.

12.1.3 A solicitação e a falha nas Leis


Na solicitação, interpretar que o agente público não faça qualquer ameaça explícita ou
implícita [CAPEZ, 2012, p. 504, in CPIPE] omite-se o fato de que no ato de solicitar
vantagem indevida a vítima pode ceder não por sua vontade, mas por medo: o medo, ou
a certeza, de que não venderá seus serviços, no caso da corrupção vigente desde o governo
Collor, serviços de construção pesada. Esta prática foi denunciada por Cecílio do Rego
Almeida ter ocorrido em 197. [OFSR]
Em 1971, Leon Peres governador nomeado do Paraná, solicitou propina de 30% do valor
da obra, [MRVCRA] e como punição foi apenas obrigado "a renunciar oito meses após
ter sido alçado ao cargo pelo governo militar". O denunciante julgou ter sido uma punição
eficiente. Punição eficiente? Não há relato de que tenha sido punido, ser obrigado a
renunciar [OFSR] não é punição, é absolvição. Da mesma forma, a acusação de Cecílio
do Rego Almeida não tinha provas suficientes para incriminar o governador, apenas sua
palavra contra a palavra do governador, mas a interpretação da lei diz que não é necessário
a entrega efetiva da vantagem solicitada, bastando apenas a solicitação, o que não
corresponde à Realidade, pois é necessário que esta seja gravada pela vítima, a palavra só
tem valor se contida em uma prova documental.

128
Não havia, no entanto, um sistema de impunidade montado, mas "um sistema de punição
eficiente "e o governador foi obrigado a renunciar oito meses após ter sido alçado ao
cargo pelo governo militar. Havia um sistema de punição eficiente? Não há relato de que
tenha sido punido, ser obrigado a renunciar [OFSR] não é punição, é absolvição. Da
mesma forma, a acusação de Cecílio do Rego Almeida não tinha provas suficientes para
incriminar o governador. [OFSR]

12.1.4 Solicitação: corrupção ativa e passiva?


Na Realidade dos fatos, o agente público pode ser o causador da corrupção, agente ativo.
Um agente público, funcionário ou político, pode "vender" sua capacidade de interferir
nas decisões, tendo-a, àqueles que têm o poder econômico. É um fato de ocorrência
frequente. [CPWIKI] Quem tem este poder de interferir nas decisões? Todo agente
público, funcionário ou político, que tenha o poder de decisão, ou de influenciar quem o
detenha sobre atos públicos que envolvam pagamentos por serviços prestados de qualquer
natureza. Todo agente político que possa garantir votos a quaisquer medidas que incluam
gastos do dinheiro público, e aqui se vislumbra o papel do líder de governo ou de partido
como garantidor de votos dos correligionários. Esta visão de que o agente público,
principalmente o agente político, não é corruptor demonstra toda monstruosidade, em
termos de efeitos sociais, da relativização das coisas: em termos absolutos a corrupção
existe não por que existam corruptores ativos que corrompem passivamente agentes
públicos, a Realidade que se quer negar é que, em termos absolutos, existe a corrupção
por existirem agentes públicos, funcionários e políticos, corruptos. Não se vê a
preocupação com a conduta moral dos políticos.
Na situação em que o surto de corrupção já está fluindo e institucionalizou tornando-se
duradouro como ocorreu com a Petrobras, não há mais solicitação ou combinação de
valores a serem pagos, mas apenas a manutenção dos mecanismos. Não há mais
claramente a distinção de quem é o ativo, que paga, e o passivo que pede o pagamento,
este é feito automaticamente, de modo que quem recebe pode mesmo dizer, e
eventualmente "provar" que não fizera o pedido.

12.1.5 Confusão entre ilícito e corrupção


Os comentadores confundem corrupção, parte, com o todo, ato ilícito: os ilícitos não são
sempre corrupção, é necessário que haja a combinação entre duas pessoas, no mínimo,
para que o ilícito seja corrupção, uma recebendo e outra pagando vantagens, com a
conivência de ambos e prejuízo de um terceiro. Os atos ilícitos em que se aufere vantagens
sem esta relação de conivência mútua não configuram corrupção. O conto do pacote, em
que um maço de papeis se faz confundir com notas e se pede por ele um valor menor do
que o valor que aparenta ter não é corrupção, embora os dois participantes busquem
auferir vantagens, mas esta é fraudulenta para um e real para o que oferece o pacote.
A corrupção não se compara a contos, seja do vigário, seja do pacote, principalmente
quando o conto é combinado entre duas pessoas para lesar uma terceira, mas a insistência
nesta comparação [CFETES] é útil, uma vez que equipara a corrupção a um crime

129
comum, o que automaticamente retira o foro privilegiado se quem a pratica o tem. E há
de se questionar: quais os motivos pelos quais a corrupção política não é um crime comum
e tem sido tratado como se fosse crime de responsabilidade? Quem tem foro privilegiado
tem licença para roubar o Estado?

130
13 Corrupção planejada: acordo verbal
Em acordo tácito persegue-se o objetivo sem muita verbalização, de forma que o encontro
de telefonemas e anotações em que se fazem referências a distribuição do produto da
corrupção, a propina, mesmo que em linguagem cifrada, deve ser considerado prova de
planejamento e não apenas um acordo tácito entre indivíduos com o mesmo objetivo de
corrupção.
Para que um surto de corrupção seja considerado tácito é necessário que todo o processo
se dê com o mínimo de verbalização, apenas que os indivíduos participantes percebendo
a oportunidade de ilícito cometam os atos necessários para se atingir o objetivo da
vantagem indevida. Na medida em que cresce o número de verbalizações sobre o papel
que cada um participante deve assumir a corrupção vai se tornando planejada. Quanto
maior o número de participantes maior a verbalização e quanto maior a verbalização
maior o planejamento. O aparecimento de comandos e ordens determina já uma fase de
corrupção planejada com garantia de certeza absoluta de impunidade. Os indícios de
planejamento são fornecidos pela divisão do produto do ilícito, a propina recebida. Se um
indivíduo, pela posição que ocupa, atua e recebe um pagamento extra por ter feito andar
a máquina administrativa do Estado em sua normalidade ou por ter praticado atos ilícitos
que favoreçam agentes privados ou mesmo agentes públicos, faz a distribuição da
vantagem indevida, propina, entre indivíduos que sua consciência é capaz de perceber ser
merecedor da divisão, aqueles que estão agindo junto com ele, pode ser acordo tácito.
Contudo, a divisão de propinas a quem não é participante direto do esquema é indicador
de que houve planejamento, sendo a prova os indícios de ter recebido uma parte da
divisão.
Se a corrupção se inicia hipoteticamente em Estado em que nunca houve corrupção, é
possível ser por acordo tácito; contudo, o aumento de participantes é indicador de ter
havido planejamento e formação de quadrilha: a obrigação primária do agente público
que entra em um esquema em andamento é denunciá-lo. A ausência de denúncias de
presidentes de estatais e de fundos de pensão de corrupção em suas instituições determina
a probabilidade de ter havido ordens expressas de calar-se e de ser conivente.
Mesmo na fase em que a corrupção está sistematizada e em andamento, há sempre a
participação de acordo tácito, o que garante que o participante possa "provar" não ter
sabido de nada. Em conclusão, estando um sistema pró-corrupção em vigência e
aperfeiçoando-se por retroalimentação é indicador de que a corrupção por acordo tácito é
endêmica, havendo surtos quando é descoberta por novos indivíduos que forçam sua
entrada como novos participantes, o que a torna visível. No entanto, pela teoria dos
sistemas não é possível a entrada de novos participantes que não estejam diretamente
envolvidos no processo e descubram a corrupção sem que haja verbalização e entrada em
acordo para não haver a denúncia. Embora este acordo possa ser também tácito como
parte do acordo tácito de omissão e conivência, a percentagem de participação na divisão
do produto da corrupção não tem probabilidade de ser combinada sem acordo verbal.

131
É fator que leva à corrupção planejada a aceitação de que a corrupção é necessária ao
desenvolvimento econômico e ao bem-estar social; de que os fins justificam os meios; da
relativização do Direito e da relativização da moralidade. Também, a corrupção
considerada necessária ao desenvolvimento econômico pressupõe um mentor que
canalize o produto da corrupção, ou parte, para um objetivo específico, como denota a
rede de conotações do termo “desenvolvimento”.
É fator que leva à corrupção planejada a aceitação de que a corrupção é necessária ao
desenvolvimento econômico e ao bem-estar social; de que os fins justificam os meios; da
relativização do Direito e da relativização da moralidade. Também, a corrupção
considerada necessária ao desenvolvimento econômico pressupõe um mentor que
canalize o produto da corrupção, ou parte, para um objetivo específico, como denota a
rede de conotações do termo "desenvolvimento".

13.1 Participação de partidos políticos


Pode-se que afirmar que a participação de partidos políticos no esquema de recebimento
de propina denuncia planejamento e combinação entre os envolvidos. Se um superior
nomeia um subordinado e este recebe propina, pode-se falar que há acordo tácito quando
esta propina é dividida com o superior, mas o aparecimento de outros na divisão da
propina, sendo um processo de percepção do funcionamento do esquema pelas
consciências envolvidas, é indicador de que houve planejamento. O cargo de confiança é
distribuído a alguém com a função de desviar a propina para o partido. Não é necessário
provar que houve planejamento, basta provar que houve participação na divisão da
propina.
Quando é o subordinado quem faz a divisão da propina tem necessariamente de ter
recebido ordens claras para incluir representantes de partido. Assim, se o superior é
vinculado ao partido e recebe propinas oriunda de atos de corrupção de seu subordinado,
ele seria o responsável pelo pagamento de propina ao partido. Se o subordinado for
militante do mesmo partido poderá exercer esta função. Em qualquer caso, estando
participando da divisão da propina outro que não seja consciência participante das
circunstâncias que levam ao pagamento de propina, não há possibilidade de se intuir uma
regra do funcionamento do esquema que prescreva esta divisão.
Quando o próprio governante é beneficiário da propina fica determinado não uma
omissão ao não tomar as medidas que interrompam o processo, mas sabendo e não
tomando as medidas para interromper o processo é também autor. Esta situação de autoria
fica ratificado quando o governante toma medidas de facilitação por alterar leis ou de
atenuação de penas, ou garantias de impunidade ou contra prejuízos.

13.1.1 Verbalizar ordens e política


Tem-se mostrado que a contratação dos indivíduos que participarão do ilícito é feita
tacitamente. Na década de 90 a seleção feita explicitamente levou os não concordantes ao
jornalismo investigativo, assim, fez-se propaganda dos objetivos a serem perseguidos,
evoluindo para acordo tácito, quando um superior com Intenção de corrupção escolhe

132
auxiliares com moral laxa que percebem o esquema, tendo ou não a Intenção inicial do
ilícito. Não se há de procurar provas de que houve planejamento a partir do superior
quando seu subordinado é pego judicialmente em crime, basta ver as relações que mantém
com aqueles que participam da divisão do produto do ilícito. Percebendo o esquema nele
atua em prol do objetivo. São os agentes diretos da ação. Contudo, o fato de partidos
políticos receberem propina não é possível ocorrer sem contratação verbal: alguém do
partido deve indicar a quem dar a participação do partido. Havendo indícios de que houve
divisão de propina a partidos políticos constituem prova mais do que suficiente de
planejamento. Quando este partido alcançou o poder pelo voto convencendo a eleitores
que iria combater a corrupção, o fato constitui prova cabal de autoria da corrupção: seu
dever de denunciar e interromper o processo de corrupção não foi cumprido, e, tendo este
poder tem domínio do fato, sendo, portanto, autor. Repete-se, em um processo de
corrupção quando as pessoas envolvidas conversam abertamente sobre fatos ocorrentes
significa e é prova de planejamento. Quando é por acordo tácito, não há retroalimentação
do pensamento de um pelo pensamento do outro, na forma como ocorre na interlocução.
Neste caso, havendo conversação frequente a influência que um participante exerce sobre
outro não é por mero exemplo, pelos atos praticados, mas pela inter-relação direta entre
as afirmativas e o sistema mental produtor de pensamentos e todo o cabedal de
informações nele contidas.

13.1.2 Corrupção e prescrições de Gramsci


Ao se discordar deste modelo deve-se compreender o contexto situacional em que o
processo de corrupção se dá, quando a ação política se pauta em Gramsci, procurando
realizar as suas prescrições para implantar a hegemonia do marxismo como por ele
compreendido.
Esta interpretação se torna fortemente válida quando surgem partidos políticos que
seguem esta ideologia participando da divisão do produto da corrupção, a propina. Não é
crime comum, é crime político de lesa pátria.

13.1.2.1 Conclusão
Vendo a corrupção a partir dos pontos de vista da teoria dos sistemas o aparecimento de
um partido político na participação da divisão do produto da corrupção é prova de autoria:
o partido político tem poder suficiente para interromper o processo principalmente
quando é o partido no governo e subiu ao governo convencendo eleitores de que acabaria
com a corrupção.

133
14 Corrupção: crime sem prova material?
A defesa clássica a uma acusação de corrupção é não se ter provas de cometimento de
ilícito. O enriquecimento súbito de familiares de políticos não é prova suficiente; o
recebimento de fortunas por consultorias; a ousadia de dizer ter-se assinado documentos
sem os ler não são meros indícios quando estão explicados pelo que se apura da
organização de um surto de corrupção. Pelo sistema pró-corrupção vários movimentos
são previsíveis, como não se encontrar nada que desabone o governante. O sistema de
corrupção se aperfeiçoou, com a criação da Certeza de Impunidade e a continuação do
aperfeiçoamento da figura do "governante que não sabe de nada". Não é preciso provas
de que o governante saiba de ilícitos durante o seu mandato, basta que se prove que o
sistema de fiscalização e controle o avisou e verificar quais foram as medidas
anticorrupção que foram tomadas e se foram tomadas medidas que alimentam o sistema
pró-corrupção.

14.1 Lei de Improbidade Administrativa


A Lei de Improbidade, Lei 8. 429, é a marca de que a corrupção no governo Collor ainda,
apesar de institucionalizada, permitia a edição de medidas que pudessem funcionar contra
a corrupção, proposta sancionada pelo próprio presidente da República, e "alcançando
todo agente que mantenha contato com o dinheiro público, ainda que sua atividade seja
estritamente privada, bem como os detentores de mandato eletivo, classe política
tradicionalmente imune a qualquer sancionamento (art. 2º)". [CCBREM] A marca do
Governo Dilma passa a ser a edição de medidas provisórias que culminaram na anulação,
sem a revogar, da Lei 8. 666, das licitações que, ou porque, estava funcionando contra a
corrupção. Apesar desta lei, a corrupção cresceu "principalmente pela impunidade
frequente dos seus autores". [L8CCC]
Registra-se que houve aumento do controle da corrupção, "comparando os dados do
judiciário com o índice da Transparência Internacional, o aumento da repressão, (que)
não representou necessariamente melhora dos índices de corrupção [. . . ] (São procuradas
novas formas de combate que envolvam não apenas o controle judiciário e burocrático,
mas que englobem também a população)", [LIACIC] em artigo já anunciando a Operação
Lava Jato, iniciado em 2009. Não houve diminuição, mas aumento da corrupção. Explica-
se pela retroalimentação dada pela teoria dos sistemas, em que todo antagonismo
(controle) à corrupção engendra soluções que o anule.

14.1.1 A Lei de Improbidade administrativa é


inócua
Descobre-se que a Lei n. 8. 429/92, por si só, não tem qualquer aplicabilidade, mas não
se aponta adequadamente os motivos, [L8CCC] mas falhas gritantes.

134
14.1.2 Materialidade do fato
Definida pela Lei de Improbidade Administrativa, a materialidade do fato consiste em
oferecer ou prometer (obrigar-se a dar) vantagem indevida a funcionário público, para
que pratique, omita, retarde (ou acelere) ato de ofício. Os meios de execução podem ser
palavras, gestos, escritos e o crime ocorre mesmo que o agente público não aceite a
proposta. [L8CCC]

14.1.3 Forma de fazer Leis e Justiça no Brasil


É a forma de se fazer leis e justiça no Brasil que está errada. Como exemplo a Lei 8. 429,
em que "os meios de execução do delito podem ser palavras, gestos, escritos" não mereceu
o cuidado de se fazer contextualizar com o entendimento corrente de que não é aceita a
simples palavra do denunciante, é preciso apresentar "provas". Como já foi demonstrado,
fazem-se leis sem se preocupar com falhas e interstícios, as quais são aproveitadas para
justificar atos ilícitos, tendo o legislador percebido que o funcionário publico pode tomar
“conhecimento de ilícitos por meio de palavras, gestos ou escritos” dando a ele a
obrigatoriedade de denunciar sem se preocupar em prescrever os atos que possam
transformar estes meios em provas jurídicas.

14.2 A Lei 8.429 de Improbidade Administrativa


aplicada a agentes políticos
14.2.1 Agentes políticos
Pela Constituição de 1988 e Emenda Constitucional nº. 18/98, a expressão agente público
passou a considerar quatro categorias, a saber: agentes políticos, servidores públicos,
militares e, por fim, particulares em colaboração com o poder público. Para Di Pietro
(2004, p. 433), são “agentes políticos apenas os Chefes dos Poderes Executivo federal,
estadual e municipal, os Ministros e Secretários de Estado, além de Senadores, Deputados
e Vereadores”, ou seja, aqueles que desempenham atividades típicas de governo e que,
em regra, exercem mandato, para o qual são eleitos. [LISAAAP]

14.2.2 Tipos de crime


Como explicita Martins Junior (2001, p. 181), a Lei Federal nº. 8. 429/92 protege a
probidade administrativa por meio da representação jurisdicional civil a três espécies de
atos de improbidade, são elas: enriquecimento ilícito de agentes públicos (art. 9º),
prejuízo ao patrimônio público (art. 10º) e ofensas aos princípios da Administração
Pública (art. 11º). Para que se caracterize o ato de improbidade administrativa, “é mister
a existência de ilicitude do ato, abrangendo tanto a sua imoralidade quanto a sua
ilegalidade, com prejuízo ao erário, desvio, apropriação, malbaratamento, ou dilapidação
dos bens ou haveres da administração direta, indireta ou fundacional, qualquer ação ou
omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, lealdade às
Instituições, mantendo- se preservada a moralidade administrativa”. [LIAAAP]

135
14.2.3 Interpretação delituosa da Lei
São passados mais de quarenta anos que Cecílio do Rego Almeida denunciou o
governador do Paraná, em pleno regime militar, ter lhe solicitado pagamento para obter
a concessão pretendida, denúncia que gerou a renúncia do governador, mas nenhuma
punição por falta de provas. [OFSR] e o Poder Judiciário ainda se contenta, para os crimes
de corrupção, com a argumentação de que não há “prova suficiente”, sem se dar conta da
essência do fato: equivale a absolver o assassino que confessa, estando em perfeito uso
de suas faculdades mentais, ter sido o autor da morte, simplesmente por não conseguir
provar que foi ele quem matou. É um dos motores da corrupção, tudo que é combinado
no silêncio dos gabinetes oficiais ou das residências dos agentes públicos é inatingível
pela Justiça uma vez que a confissão dos participantes não é prova suficiente para a
culpabilidade. Teria havido gravação comprobatória, mas desconsiderada juridicamente,
como se a renúncia tivesse absolvido o governador de seus crimes de corrupção. É outro
ponto em que o sistema de punição funciona: quais os motivos pelos quais todo o processo
de apuração não se efetivou a ponto de punibilidade, à exceção de falta de provas iniciais?
Quais os verdadeiros motivos pelos quais não se efetuaram as diligências necessárias em
busca de provas? Quais os motivos pelos quais a materialidade do fato de corrupção se
dá por meio de palavras, sugestão ou escritos e a acusação pela vítima de que fora
abordado por “palavras, sugestão ou escritos” não serve como prova material de ilícito
cometido? A resposta é uma só, pela interpretação delituosa da Lei. Cecílio do Rego
denunciou a OAS no mesmo período, também sem provas suficientes para a incriminar:
a história caminhou o suficiente para demonstrar que a acusação contida em sua denúncia
era juridicamente válida, estando a OAS envolvida nos atos de corrupção que ora se
diligencia apurar: contudo, juridicamente a história não conta e todos fazem questão de
não perceber que a corrupção atual é a mesma que não se apurou no governo Collor,
apenas com depuração do sistema de impunidade criado nos três poderes constituídos.
Infelizmente tudo leva a crer que a Operação Lava Jato pode dar em pizza, como foi
simbolicamente comemorado pelos políticos em seus assentos nas casas legislativas, que
solicitaram pizza para se alimentarem enquanto aguardavam a lista dos políticos
envolvidos, como anunciado na mídia e esquecido por todos. O sistema de impunidade
ainda está funcionante, apenas a Certeza Absoluta de Impunidade foi arranhada.

14.2.4 Aplicar a informação privilegiada


“Todas as espécies de atuação suscetíveis de gerar enriquecimento ilícito pressupõem a
consciência da antijuridicidade do resultado pretendido. Nenhum agente desconhece a
proibição de se enriquecer a expensas do exercício de atividade pública ou de permitir
que, por ilegalidade de sua conduta, outro faça”. [LIAAAP] No entanto, faz-se vista
grossa ao enriquecimento ilícito de agentes políticos, que é ilegal por uso de informação
privilegiada, mas que, enriquecimento por corrupção passou a ter a característica de se
dar após o exercício de cargo eletivo e não durante. Também há anos se sabe que são
usados parentes e amigos como laranjas e a inépcia legislativa e jurídica não fez aparecer

136
nem uma forma de enquadrar como enriquecimento ilícito por improbidade
administrativa.

14.2.5 Funcionários públicos e as consequências de


denunciar
Se os agentes públicos têm a obrigação de denunciar e relatar supostos desvios de que
tenha tido conhecimento, sob risco de incorrer em crime de omissão, podem, por outro
lado, sofrer, por parte dos envolvidos, meios de fazê-los calar. Mello e Silva analisa a
situação em que a represália consiste em "ser bombardeado com ações de danos morais e
ações criminais dos supostos envolvidos, ações com imputações genéricas de difamação
e pedidos de indenização moral com base em diversos artigos da Carta Magna e do
Código Civil". "Relativamente à difamação é impossível falar-se em delito de injúria e
de difamação na hipótese em que um funcionário, no exercício de suas funções, tece
severas críticas a outrem, tendo como objetivo específico a defesa do interesse público;
nos termos do art. 142, III, do Código Penal. Fica excluído o crime", [DDBSIP] e
cometeria o crime de omissão se, tomando conhecimento, não denunciasse.
Fica patente que há uma série de agentes públicos que cometeram crime de omissão, pois
todo serviço burocrático conta com a presença de um agente público e foram raros os
funcionários que fizeram denúncias de corrupção. Agentes públicos dificilmente fazem
denúncias, os funcionários do Estado procuram preservar sua carreira, que depende da
avaliação exatamente de seus chefes; aqueles em cargo de confiança que tomaram
conhecimento de atos ilícitos de políticos a quem se submetiam permaneceram calados.
É desta forma que a instituição "cargos de confiança" se configura em formação de
quadrilha.
O agente público, pelos deveres assumidos perante o Estado poderia constituir-se em
agente de controle interno da probidade administrativa nas instituições, não houve, no
entanto, aperfeiçoamento das leis no entorno da Lei 8. 429 que a tornasse efetiva.

14.2.6 Funcionários públicos são considerados


impolutos
O Código Penal abriu exceção à teoria unitária do crime (ou monista), criando outra figura
típica (art. 333) para a pessoa que corrompe o funcionário. [CPIPE] Não há no Código
Penal a figura do "agente público que corrompe", seja funcionário ou agente político,
ficando a impressão de que todo agente público é impoluto, mesmo que esteja previsto
que possa ser condenado por solicitar vantagem indevida em alguma situação. Já se
apontou que não há corruptor e corrompido: o funcionário que se deixa levar por
propostas de suborno e aquele que paga já estão corrompidos.
Há uma leniência tacitamente acordada entre os políticos no que diz respeito ao
enriquecimento do agente público, funcionário ou político, embora todos saibam que o
político que se enriquece após adentrar-se na política o faz no mínimo por e utilizar de

137
informações privilegiadas, mesmo que seja honesto o suficiente para não solicitar ou
receber vantagens indevidas.

14.2.7 O agente público que não sabe de nada


“Para a configuração da corrupção passiva é necessário que o ato em torno do qual seja
praticada a conduta incriminada seja da competência ou atribuição inerente à função
exercida pelo funcionário público, reclamando que o mesmo tenha solicitado ou recebido
vantagem indevida ou aceito sua promessa em razão de ato específico de sua função ou
cargo, ou seja, ato de ofício (omissivo ou comissivo). [Apelação Criminal 1. 0702. 07.
381229-0/001 – TJMG] [Apelação Criminal 1. 0261. 96. 002016-0/001, in CPIPE]”.
As interpretações dadas às leis desrespeitam o contexto situacional em que ocorrem os
atos ilícitos, por desconhecer os mecanismos pelos quais se dão. É lógico que o que tem
o poder decisório não se imiscui em atos que o possam incriminar, sendo também lógico
que aquele que oferece um serviço solicitando em pagamento vantagens indevidas tem
como fazer realizar-se o serviço. Assim, se um não se imiscui e tem competência decisória
e o outro não tem competência para decidir sobre o que vende, este necessita ter a certeza
de que entregará o serviço contratado mediante vantagens indevidas, mesmo que “a
conduta incriminada (NÃO) seja da (SUA) competência ou atribuição inerente à função
(que exerce)” [CPIPE] na administração pública. É esta a fórmula necessária e
determinante do “não saber de nada”: o que sabe do ilícito pode, mesmo tendo recebido
a vantagem indevida pode ser absolvido: “Se o funcionário público que recebe a vantagem
não tem atribuições para a prática do ato pretendido pelo corruptor, é atípica a conduta
praticada, ensejando a absolvição de ambos os corruptores [Apelação Criminal 1. 0261.
96. 002016-0/001, in CPIPE]”.
Supondo que as coisas se deem tal como interpretado na Apelação Criminal citada, que
possa existir um funcionário público que ofereça serviços mediante o pagamento de
vantagens indevidas sem ter acesso ao poder decisório necessário ao serviço oferecido,
tem-se que a pretensa preocupação com a moralidade da administração pública, presente
nas várias interpretações encontradas, não é verdadeira. O funcionário público que assim
age não tem formação moral suficiente e sua proposta, ainda que não concretizada, deve
ser punida, ou: a Lei não pune atos imorais no exercício de função pública. Não se sabe,
no entanto, qual o destino dado a funcionários com este tipo de comportamento: não
manifestam sua índole imoral e podem ser colocados em cargos superiores em que
possam ser aliciados por quem tem realmente poder decisório ou influência efetiva sobre
ele. A lei e suas interpretações são falaciosas ao omitir que entre as pessoas possa haver
acordo tácito, em que as partes não declaram ou mencionam suas intenções, mas agem de
forma consonante ao longo do tempo, fazendo surgir “direitos” e obrigações. Não se há
de esperar que tais coisas sejam conversadas e combinadas entre as partes envolvidas: um
deu o sinal de que aceita comportamentos imorais e o outro o eleva a postos em que possa
ser útil.

138
14.2.8 Funcionário público e ilegalidade tolerada
O funcionário público que, tomando conhecimento de um ilícito praticado por seus
superiores, se cala não está fazendo necessariamente tolerância ao ilícito, haja vista que
as leis dizem ser seu dever denunciar atos de suborno que se manifestam de palavras,
sugestões, gestos e escritos, como na Lei de Improbidade, mas também na declaração de
confiança nos cargos de confiança, o que não tem sido admitido. Feita a denúncia é
solicitado judicialmente que o denunciante apresente as provas do que denuncia, provas
que inexistem uma vez que a afirmativa de que "me foi dito ou sugerido" não tem valor
de prova. Prova seria ter em mãos documento ou cópia em que se possa inferir o ilícito
denunciado, mas, de outro lado, tomando o funcionário conhecimento de ilícito
porventura documentado, por ter sido ele o digitador ou mensageiro, a Lei punirá todo
aquele que retiver em seu poder documentos oficiais ou cópias, e vários são os artigos do
Código Penal que isto afirma diretamente ou que possam ser usados de forma analógica.
Deste modo, o funcionário é obrigado a denunciar ilícitos de que toma conhecimento,
mas obrigado a se calar, não por tolerância com o ilícito, e sim por esta obrigatoriedade
vir necessitada de provas do que se denuncia. Da mesma forma, o empregado, trabalhador
braçal que seja, ao tomar conhecimento de ilícitos praticados por quem o emprega se cala
sabedor de que perderá seu emprego se fizer a denúncia, ainda que provas concretas tenha
do fato, o que será mal interpretado como "tolera" o ilícito. O agente público sofre
represálias.

14.2.9 Represálias a funcionário público


denunciante
A Câmara dos Deputados, em 2005, publica uma Cartilha de Fiscalização Financeira e
controle, como um Manual de Exercício da Cidadania, com o objetivo de auxiliar a
população, mas que na prática se torna ineficiente, tendo em vista os atos de violência
que podemos constatar, envolvendo pessoas, que, de alguma forma tentou, ou pretendia,
denunciar atos de corrupção. [ICCADA]A Operação Lava Jato ofereceu um exemplo,
conforme exaustivamente divulgado pela mídia em 2014 e 2015, do que pode ocorrer a
um agente público quando denuncia algo suspeito ou já comprovadamente ilícito.
[POFADC, VDNADF] A funcionária, executiva de carreira, fez denúncias de ilícitos na
Petrobras e sofreu assédio moral, tendo sido afastada de qualquer função na estatal e
sofrido ameaças de morte. Foi transferida para país do Oriente, sem a família. A agente
público reconhece que deveria ter recorrido diretamente ao Ministério Público e não a
seus superiores, os quais eram os principais envolvidos. Aponta indiretamente que o
aumento de preços acima do permitido por lei em licitações é o indicador fiel de
corrupção. Não tendo sucesso ao alertar a diretoria a que estava subordinada, a agente
público alertou à então presidente da estatal, que simplesmente negou reiteradamente ter
sido comunicada de desvios na companhia.
Uma questão, contudo, não está respondida, tenha a agente público informado ou não à
então presidente da Petrobras de corrupção na companhia, como admitir que não tenha

139
tomado conhecimento, de outras fontes, dos ilícitos cometidos em sua gestão, tal o
volume que alcançou o prejuízo causado. A cegueira diante da corrupção de presidentes
da Petrobras, desde 1991, quando o então presidente é afastado exatamente por ter
denunciado corrupção, não pode ter uma explicação apenas em omissão, negligência ou
inépcia, é um tipo de omissão que torna o administrador coautor do crime cometido e não
se há de afirmar que "não sabia de nada": o presidente de uma empresa pública está ali
ocupando um cargo de confiança exatamente para "saber", e se o presidente da estatal não
tinha competência para vir a saber, ignorância por inépcia, é coautor quem ali o colocou.
Entretanto, isto não é uma argumentação válida, ainda, para o campo semântico jurídico,
e é um instrumento de que se vale o sistema pró-corrupção para garantir impunidade aos
autores de corrupção no Estado. Da mesma forma, ao governante de um Estado também
não é permitido não saber, uma vez que sua função é exatamente saber, não apenas de
corrupção na máquina administrativa do Estado, mas de toda irregularidade que dificulte
ou atrase o desenvolvimento econômico.

14.2.10 Denúncia anônima: alerta emitido pelo


agente público
A Lei é falha ao prescrever ser dever do funcionário público denunciar ilícitos de que
tome conhecimento, mas desconhecer as represálias a que está sujeito no terreno do
assédio moral camuflado em atos administrativos. O funcionário público tem dever de
denunciar atos ilícitos percebidos no ambiente em que exerce suas funções, são crimes
cometidos por palavras, gestos, escritos, e, assim, o funcionário público não pode
denunciar nada, a menos que esteja sempre munido de um gravador de vídeo durante todo
seu expediente, o que é impossível.
É preciso instituir o alerta: o agente público não faz denúncias, mas emite alertas ao
Ministério Público, de forma anônima, e este verificará se o alerta procede ou não.

14.2.11 Validade das provas


Obtém-se as provas e elas não são válidas devido a terem sido usados mecanismos
condenados ou não previstos nas leis, como falha processual mesmo tola, vazamentos de
informações, sem se considerar a inquestionabilidade do crime cometido. [BPCCC]
Pareceria algo absurdamente correto se não houvesse evoluído para a situação em que o
acusado confessa o crime, e as testemunhas que depõem que o viram cometer o crime,
mas o acusado é absolvido porque houve vazamento de informações, por exemplo.
Embora escuta clandestina de telefone fira direitos individuais, determinados crimes
descobertos por este mecanismo não podem se beneficiar desta exclusão de validade da
prova, parece ser a jurisprudência. Entretanto, se um agente público pode tomar
conhecimento de conversas telefônicas em que superiores discutem ilícitos e gravar estas
conversas, não pode usá-las como provas. Ora, tamanha a prática de ilícitos e atos de
corrupção ocorre nos serviços públicos que a regra deveria ser a gravação de todos os
telefonemas de origem interna ou externa.

140
Esta interpretação aplicada à corrupção, diante da inquestionabilidade do crime, coloca
os Direitos de todos os cidadãos abaixo do interesse individual do acusado. Não se haverá
de manter a corrupção sob controle com a leniência a este tipo de interpretação.

14.2.12 Lei 12.846/2013: lei da empresa limpa e


acordo de leniência
Se, em atendimento a acordo internacional, criou-se a Lei da Empresa Limpa, o sistema
pró-corrupção evoluiu para a instituição do acordo de leniência, que desvia da Justiça os
casos de corrupção de grandes empreiteiras (Ver A inconstitucional Medida Provisória
no 703/15: Acordo de leniência). Isto fica claro na lista de justificativas da criação feita
por Hage Sobrinho, um dos subscritores do projeto de lei que a originou: [L12846]
a) Sanções que alcancem diretamente o agente corruptor pessoa jurídica;
b) Sanções que atinjam o patrimônio da empresa corruptora, possibilitando,
inclusive, o ressarcimento dos cofres públicos;
c) Sanções aplicáveis também pela via administrativa, além daquelas acionáveis
pela via judicial cível;
d) Responsabilização objetiva, independentemente de culpa ou dolo;
e) Sanções realmente eficazes (isto é, com real poder inibitório, preventivo,
dissuasório); normativo não apenas repressivo, mas que atue, sobretudo, como
poderoso instrumento de prevenção da corrupção, incentivando a integridade
corporativa nas empresas (pelo sistema de atenuantes, que valoriza sobretudo
os bons programas de compliance); normas voltadas à facilitação e agilização
da investigação, com a colaboração da empresa, via Acordo de Leniência; e
f) Regras aplicáveis também à corrupção transnacional.
Entretanto, na essência, o acordo de leniência torna possível calcular o roubo e a, e assim,
uma devolução, mas restando à empresa corrupta o lucro da operação ilícita, além de não
se preocupar com os prejuízos secundários. Embora em busca não exaustiva, não se
encontrou um posicionamento de agentes políticos, nacionais ou estrangeiros, contra a
anulação da Lei 8. 666, e esta tolerância com as leis que anulam sem revogar as leis
anticorrupção é um dos principais motivos do aprimoramento do sistema pró-corrupção,
o que deixa a certeza de que novos surtos de corrupção surgirão no futuro.

14.2.13 Denúncias vazias


Os discursos políticos são cheios de denúncias, principalmente em períodos de eleições,
mas são Denúncias vazias, como se não houvesse a necessidade de toda denúncia ser
investigada. Deve-se compreender que as denúncias interessar única e exclusivamente às
instituições responsáveis pelas investigações, condenando os acusados, se for o caso, mas
também condenando os acusadores, se for denúncia vazia.

141
14.3 O papel do Poder Judiciário
14.3.1 Improbidade x crime de responsabilidade
O Supremo Tribunal Federal julga, em 2008, uma ação que originou a reclamação 2138
e que pode livrar autoridades públicas de processos de improbidade administrativa.
Procura-se aplicar o mesmo argumento tanto para crimes comuns, tal como uso de
jatinhos da FAB para viagens pessoais, quanto para envolvimento em corrupção. Sendo
um crime de apropriação indébita, ainda que a apropriação seja temporária, "a tese
sustentada pela Advocacia Geral da União é de que os agentes políticos devem ser
julgados pela chamada lei de responsabilidade", [LIAAAP] transformando crimes
comuns em crimes de responsabilidade.
Não houve estranhamento público ou do Poder Legislativo quando da decisão do STF em
considerar que os Agentes políticos não estão sujeitos à lei 8. 249, improbidade
administrativa, que é clara ao prescrever “sanções administrativas aos agentes públicos
nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função
na administração pública direta indireta ou fundacional”. [L8429] O entendimento de que
os agentes políticos não respondem por ato de improbidade administrativa ao cometerem
ilícitos que os enriqueçam ou a seus prepostos (laranjas), uma vez que respondem apenas
por crimes de responsabilidade foi ratificado pelo julgamento da Reclamação 2138-6,
pelo Supremo Tribunal Federal, [GCIAR2] o qual concluiu que “os atos de improbidade
administrativa já eram previstos como crime de responsabilidade pela Lei 1. 079/50”.
[R2DIST] A conclusão do STF é falaciosa, de vez que não há referência a enriquecimento
ilícito por improbidade administrativa na Lei 1. 079/50, [L1079] e, em sendo má
interpretação da Lei, não houve nada além de conivência com o fato de que, excluindo os
políticos em exercício de mandato das sanções da Lei 8. 429, o STF estende a imunidade
parlamentar aos crimes comuns.

14.3.2 Impunidade
O Estado jamais ficará livre da corrupção enquanto houver a leniência com a má
interpretação das Leis e da Constituição por juízes supremos, como esta que dá licença
aos políticos de se enriquecerem ilicitamente por improbidade administrativa. É um ato
que aprimora o sistema de impunidade vigente, garantido a certeza de impunidade. “Há
um número enorme de ações, a maioria proposta pelo Ministério Público – mais de dez
mil – que tramitam nas diferentes esferas do Judiciário brasileiro, no entanto, se a
aplicação da Lei de Improbidade Administrativa aos agentes políticos for afastada, todos
os dez mil processos serão extintos e, consequentemente, a impunidade generalizar-se-
á”. [LIAAAP]

14.3.3 Cerceamento do Ministério Público


Há uma crescente tendência ao cerceamento do Ministério Público e uma não atenção a
seus alertas de suspeitas de ilícitos, como já demonstrado.

142
14.3.4 Imunidade não é impunidade
Há uma tendência crescente de má interpretação das leis visando a impunidade de agentes
políticos, com aval do STF, aproveitando-se do uso e abuso da Mentira, das Falácias e do
Sofisma, e com a anuência, ainda que por descuido, de todos os políticos, principalmente
nas Casas Legislativas, propondo projetos de leis e aprovando leis que favorecem a
corrupção e atenuam as punições.

14.4 Teoria do Domínio do Fato aplicada ao


governante
“A Teoria do Domínio Final do Fato requer, enquanto elemento básico, a demonstração
da posição objetiva de efetivo domínio do fato pelo dominador, como nos casos já
mencionados de grandes organizações governamentais”, [TDFLNJ] justificado por ter
sido a teoria moldada de acordo com a imputabilidade em grandes estruturas hierárquicas
de poder. Os requisitos objetivos básicos que norteiam a possibilidade de aplicação da
Teoria do Domínio do Fato estão presentes na Presidência da República. O Poder
Executivo tem esta estrutura de poder com organização hierárquica, os executores das
obras podem ser trocados (fungibilidade), e é o Presidente da República quem emite a
ordem de execução delitiva, por emitir a ordem de pagamento para a execução das obras
tendo ciência do delito, da ação dos executores do delito, e, tendo, portanto, controle sobre
esta ação. A situação evoluiu e o governo alcançou autonomia sobre o orçamento
desconstruindo o controle do orçamento pelo Congresso, pelo uso da interpretação do
papel de líder de partido, que retira do jogo político o voto de consciência dos membros
das Casas Legislativas, consciência esta que passa a ser manipulada e conduzida pelo
líder de partido. No entanto, todos se omitem e não denunciam ser isto a transformação
de um partido político em uma quadrilha em que a vontade do chefe é soberana e aqueles
que não a seguem são eliminados. Também as interferências, por meio de medidas
provisórias, na fiscalização das obras pelo TCU não mereceram a devida análise e recusa
por parte destes mesmos partidos e votos conduzidos apenas pela consciência do líder de
Partido.
O Sofisma do papel dos líderes partidários: voto secreto e corrupção será abordado
posteriormente.

14.5 Tolerância a Mentiras e Falácias


O que permite o ato ilícito a nível governamental é exatamente a tolerância que se tem
com os argumentos falaciosos em sofismas muitas vezes difíceis de serem desmontados.
A Teoria do Domínio do Fato, ao lidar com elementos subjetivos de vontade e controle
sobre subordinados, é campo fértil para a construção de sofismas. É necessário
urgentemente que se tome a Mentira como prova de autoria de crimes cometidos.

143
14.6 Teoria do Domínio do Fato e governante não
saber de nada
A pergunta que não quer se calar: por que denunciada a corrupção atual em 1991 nenhum
governante tomou as medidas efetivas para interromper o processo? Também por que o
sistema político permitiu que as medidas de controle tomadas, como a Lei 8. 666 e as
recomendações da CPI do Orçamento, fossem anuladas mediante medidas provisórias?
Os sistemas de fiscalização e controle existentes permite dizer não ter cabimento a crítica
de que o governante não tem o dever de saber sobre os atos de seus subordinados, seja
pessoa física ou órgão de governo. É o Presidente que assina as medidas provisórias que
levaram à anulação das leis que controlam as licitações; é por ingerência do presidente da
República que se manipulam os votos dos políticos que em torno dele se agregam como
coligados, por meio do papel dos líderes de governo e de partido.
Ocorre ser humanamente impossível obter sozinho este conhecimento que se deve ter e
que, então, deve ser adquirido a partir dos órgãos de fiscalização e controle: ignorar as
advertências e alertas dos agentes fiscalizadores é crime grave de responsabilidade, tal
como provou Lula ao ignorar a fiscalização do TCU em relação à Refinaria Abreu e Lima,
deixando que o ato se consumasse, anos depois, em sua plenitude.
É voz corrente que a corrupção sempre existiu e nenhum governante pode dizer que não
sabe da existência de corrupção dado a natureza do ilícito. Um presidente que se elege
com a bandeira de acabar com a corrupção tem o dever de estar atento aos indícios de
corrupção.
A partir de 1991 é dever de todo presidente saber que o foco de corrupção é o próprio
governo na administração das grandes obras e construções. Foram criados mecanismos
de fiscalização do orçamento e estes foram combatidos pelos próprios governantes, que
permaneceram alheios às criticas de que estavam sendo reabertas as portas da corrupção.
O que se assistiu nos governos Lula não foi apenas a politização da corrupção, tornar-se
necessária para o financiamento de um projeto de governo, mas também a anulação de
todos os esforços legais para o controle efetivo da corrupção. Não se governou contra a
corrupção, mas a favor dela, e, assim, conseguiu-se que o executivo se firmasse como
dono absoluto do orçamento; reclamou-se da fiscalização do TCU; firmou-se o conceito
de que para combater a corrupção é preciso provas concretas e nomes dos corruptos;
criaram-se por medidas provisórias exceções à Lei 8. 666 sem a revogar.
O governante sempre tem autoridade sobre um agente ou grupo de agentes que dele se
aproxime, e se o agente ou grupo de agentes pratica corrupção tem o dever de saber. Se o
governante recusa a fiscalização dos órgãos a isto destinado, com a consequente
paralisação das obras, ou se emite medida provisória que inibe ou dificulta esta
fiscalização, deve ser responsabilizado como autor da corrupção. [https://pt. wikipedia.
org/wiki/Teoria_do_domínio_do_fato]
Comete ilícito o governante que suspender, por quaisquer motivos e meios, as funções
fiscalizadoras dos órgãos de controle existentes.

144
14.7 Quem é o autor de corrupção?
"A Teoria do Domínio do Fato mostra-se, na problemática da autoria, um ponto médio
entre as já existentes teorias Restritiva de Autoria (objetiva) (pela qual é autor aquele cujo
comportamento amolda-se ao círculo abrangido pela descrição típica) e a teoria Extensiva
de Autoria (subjetiva) (aliada ao conceito extensivo de autor, que não distingue
objetivamente autoria de participação)". [TDFLNJ] A Teoria, apesar de partir do primado
já positivado no direito brasileiro, admite uma nova espécie de autoria baseada em
elementos subjetivos de vontade e controle sobre as ações de subordinados. [TDFLNJ]
É autor quem tem o poder de decisão sobre a realização do fato. "Autor é quem possui o
domínio final da ação, e por isso pode decidir sobre a consumação do fato típico, ainda
que não tome parte na sua execução material". [TDFLNJ]

14.7.1 Quem detém o controle final do fato


Fernando CAPEZ define "autor", como "aquele que detém o controle final do fato, tendo
sob seu domínio toda a ação delituosa, ou seja, com o poder de decidir pela prática,
interrupção e forma de execução do ilícito penal". [TDFLNJ]

14.7.2 Posição objetiva que determina o domínio


de fato
Para Bitencourt [2010, p. 487, in DPEACT] "ter controle final requer também uma
posição objetiva que determine o efetivo domínio do fato. Autor é quem tem o poder de
decisão sobre a realização do fato". O governante tem esta "posição objetiva que
determina o domínio do fato" com o poder de vetar o pagamento do sobrepreço e da
propina ao tomar conhecimento do fato. É, deste modo, parte da relação que leva ao ato
ilícito. Em outros termos, alertado, deixando continuar a consecução do ato, o governante
é autor do ato.

14.7.3 É autor do crime quem podendo


interrompê-lo não o interrompe
A Teoria do Domínio do Fato define autor como "quem possui o domínio final da ação,
e por isso pode decidir sobre a consumação do fato típico, ainda que não tome parte na
sua execução material". [TDFLNJ]
O governante tem o poder de sustar o processo de corrupção assim que percebido ou por
ter sido alertado por órgãos fiscalizadores, ainda que este órgão seja meramente um
cidadão. Que o Presidente da República tem o controle objetivo da corrupção foi
denunciado várias vezes desde 1991, o foco de pressão para pagamento de propinas em
grandes obras e construções públicas é o próprio governo. O governo tem também o
domínio final da ação, e, procurando reformar o papel fiscalizador do TCU, impedindo-
o ou o atenuando, o "executivo" autoriza o pagamento do sobrepreço, da propina. Aqui o

145
termo "executivo" serve a dois senhores, o Poder Executivo e o executivo em cargo de
confiança responsável pelos argumentos que levam à liberação das verbas. Por fim, o
governo legaliza a propina, com o nome de "prêmio", com a MP 703. O cargo de
confiança determina que o Presidente se torna responsável pelos atos destes executivos
quando os órgãos de fiscalização denunciam as ilicitudes por ele cometidas, por ser quem
nomeia o Ministro e este nomeia os executivos.

14.7.4 Autoria, dever de saber e fiscalização


Há decisões jurídicas que interpretaram de forma diversa, [TDFLNJ] “o simples fato de
o réu ser Prefeito do Município não autoriza a instauração de processo criminal por
eventuais crimes praticados durante seu mandato, se não restar comprovado, ainda que
com elementos a serem aprofundados no decorrer da ação penal, a mínima relação de
causa e efeito entre as imputações e a sua condição de gestor da municipalidade ou, ao
menos, o domínio do fato delituoso”. [TDFLNJ] A coautoria é determinada quando,
denunciado o fato, não se tenha tomado as devidas providências.

14.7.5 O governante tem o controle final do fato


O órgão fiscalizador faz o alerta e orienta a suspensão/paralisação da obra, e este, como
demonstrou a Presidência da República, representada por Lula e Dilma, tem o poder de
decidir pela prática, interrupção e forma de execução do ilícito penal.
O governante possui o domínio funcional do fato, e a ação corrupta só ocorre se houve
volição intenção de sua parte se tomou conhecimento do fato. Se houve corrupção e não
se deu conhecimento a quem administra o orçamento, a autoria não deveria ser de quem
tem a função de fiscalizar e controlar, e por negligência ou inépcia, não o fez. É lógico
que o governante, sabendo ser seu dever combater a corrupção, não consegue sozinho
combatê-la, por isto são criados mecanismos fiscalizadores, inclusive de seu Desejo de
corrupção, impedindo-o de tornar-se volição/Intenção.

14.7.6 Dar ordens, posição de comando


Como já demonstrado, não há ordens explícitas do tipo "pague propinas", embora no
início da série de atos corruptos possa ter havido. O comando é também regido por
colocações tácitas, assim, o fato de não interromper um ato de uma série de atos de
corrupção é tacitamente aceito como "ordem" para não se interromper a série, da mesma
forma como a falta de liberação da verba extra pedida ilicitamente é ordem tácita para
que a série continue. Deste modo, são determinantes de que quem comanda o esquema
de corrupção é quem detém o poder absoluto sobre o orçamento:
a) Denúncia de Luis Roberto Ponte, o governo é a fonte de pressão para o pagamento de
propinas às empreiteiras;
b) Lula procurar barrar a fiscalização do TCU, aqui exemplificado com o caso da
Refinaria Abreu e Lima;

146
c) Edição de Medidas Provisórias que alteraram a Lei 8. 666 abrindo um leque de
exceções que a anulam,
d) A autoridade máxima sobre o orçamento ser o presidente da República.

14.7.6.1 Liberar verba é ordenar a execução da


obra e da corrupção que a acompanhe
Procura-se defender que o presidente da república não emite ordens para a execução do
ato corrupto, uma das características do autor por domínio do fato, [DPEACT] e, assim
não se poderia dizer de ele ser autor da corrupção que se pratica. O fato de o executivo
ter chamado a si ser proprietário absoluto do orçamento da União, com a conivência do
sistema político que, por representação teatral (ato sem consequência pratica) diz
fiscalizar e controlar o orçamento, deixa a Presidência da República com pleno domínio
dos ilícitos que são praticados nas obras e construções contratadas com empreiteiras,
desde que alertada quanto aos indícios. Não se pode esquecer o fato de que o ato de
ordenar a liberação da verba é também ordenar que sejam realizados os atos de corrupção,
que o não pagamento interromperia. O fato de Lula induzir a alteração da função do TCU,
reclamando da fiscalização que leva a paralisações, e pedindo alterações na lei que rege
as licitações, conseguindo-as, determina que a Presidência da República tem pleno
domínio dos fatos que levam aos atos ilícitos.

14.7.6.2 A Presidência da República passou a ser


coautor de corrupção ao dominar o orçamento
A CPI dos Orçamentos em 1994 recomendou uma série de medidas em que se conduzia
o Congresso ao controle do Orçamento e introduziu novos mecanismos de fiscalização
das licitações e das obras governamentais. O processo de desmonte destes mecanismos
de controle e fiscalização se iniciou no governo Lula e evoluiu para a atual presidência
da República ter o domínio completo sobre o orçamento, tendo sido emitidas várias
medidas provisórias que alteraram as regras instituídas de licitação. A Presidência da
República passou a ter o poder de controlar a realização da corrupção quando passou a
ter o domínio completo do orçamento. O fato é que a Presidência da República tem o
poder de decidir sobre a continuidade ou paralisação do ato típico de corrupção, mas
prefere editar a MP 703, Acordo de Leniência, em que absolve as empreiteiras dos crimes
já cometidos, abrindo deixa para se interpretar que ficam absolvidos todos os atos de
corrupção futuras. Como já exposto, esta MP transforma "propina" em "prêmio",
legalizando-a desta forma.

14.7.7 O enriquecimento ilícito é prova de


corrupção
Os governantes e os políticos se escondem na dificuldade de se provar ter havido intenção
de corrupção por ser um fator subjetivo. Contudo, alguém que tem a obrigação de evitar

147
um fato, não tomando as medidas necessárias para o evitar não se trata de omissão, mas
aceitação de que o fato ocorra, há intencionalidade. Apurando-se crimes de corrupção e
encontrando-se indícios de ter havido enriquecimento ilícito, seja do agente público ou
de laranjas, familiares ou não, prova-se o recebimento de vantagens indevidas.

14.7.8 O governante corrupto


O governante que participa de ato corrupto e não envida esforços para paralisar a
consecução do ato, mesmo que isto signifique paralisar obras, pois não pode ignorar o
fato de que o combate à corrupção é seu dever, tem a intenção de corrupção. O governante
poderá tentar se esquivar de sua culpa e apresentar justificativas para a liberação de verbas
para obras e serviços denunciados como suspeitos de ilicitudes, contudo, a premissa é que
não existe justificativa para a corrupção, e toda justificativa que for apresentada é
falaciosa. Deve ser relembrado o fato já relatado da denúncia de irregularidades na
Refinaria Abreu e Silva em que, por interferência do presidente Lula, liberou-se o
pagamento de 13 milhões para se obter um prejuízo de 270 milhões como resultado final.
O executivo tem domínio sobre os acontecimentos uma vez que é o pagador, e deve
aceitar as paralisações e os pseudo prejuízos advindos de atrasos por fiscalização e afins.
As empreiteiras devem estar sujeitas a multas pesadas se as paralisações por causa de
fiscalização se devam a ilícitos praticados.

148
15 Como acabar com a corrupção
Na equação entre a Sociedade, o Homem, a Natureza e os Objetos já existe um sistema
de significação, normas e valores capaz de obter controle sobre a corrupção, ou homem
moderno está destinado a ser mero vassalo feudal de um sistema de privilégios concedidos
a quem exerce a função de administrar o Estado, de criar Leis e fiscalizar de seu
cumprimento?

15.1 Quais os remédios contra a corrupção?


Deve-se primeiramente lembrar que se há remédio e ele não é administrado não há cura.

15.1.1 Transparência
Não se há de falar em democracia quando o principal instrumento de comunicação do
governante com o cidadão é a Mentira e a dissimulação.
"O estado de direito baseia-se na publicidade de suas ações, de forma a garantir aos seus
cidadãos o conhecimento da atuação do Estado e, consequentemente, conquistar a
confiança de todos de modo a preservar as garantias asseguradas pelo regime
democrático, que se baseia no princípio da confiança e da boa-fé, e não do medo, ela
sucumbe quando a esfera do público perde e se vê permeada pelo segredo e pela mentira,
que é o que ocorre quando a palavra esconde e engana, ao invés de revelar, conforme
determina o princípio ético da veracidade". [OCRD] Também não se há de falar estar
combatendo a corrupção pelo mesmo motivo.

15.1.1.1 Ilegalidade tolerada e transparência


O conceito de ilegalidade tolerada se desconstrói pela adoção da transparência como
remédio contra a corrupção. [OCRD] Se os atos corruptos estão escondidos, não se tendo
deles conhecimento, não há tolerância, o cidadão comum tem sua opinião formada pelo
jornalismo investigativo e pelos analistas e comentaristas políticos, estes sim muitas vezes
lenientes com o funcionamento do sistema vigente, seja por não percepção, seja por
parcialidade ideológica, ou mediante pagamento direto ou indireto.

15.1.2 A participação de todo cidadão no combate


à corrupção
"Só haverá de fato combate a corrupção quando houver uma mudança na cultura da nossa
sociedade, quando os cidadãos brasileiros exercerem a cidadania plena defendendo a
ética, a reforma política, fiscalizando os agentes políticos por meio de acompanhamento
da vida pregressa dos candidatos, irregularidades, abusos de poderes, desvios de verbas
públicas e votando de forma consciente, seja, quando houver a conscientização dos
brasileiros que exercer cidadania não é só um direito, mas também um dever de todos".
[CMDRJ] Entretanto, a Educação Pública tem produzido cidadãos que se afastam destes
objetivos, levada por um processo gramsciano, em curso, de alteração dos fatores

149
culturais para implantação de hegemonia da ideologia marxista, que inclui a remodelação
dos princípios morais, com a tolerância ao crime e à delinquência juvenil; a adoção da
máxima de que "os fins justificam o meios"; o maquiavelismo na condução da vida
política e do Estado. Ao mesmo tempo, procura-se convencer ao cidadão ser ele o
responsável pela corrupção, confundindo corrupção moral com corrupção na
administração do Estado, a ponto de se admitir a existência d corruptores e corrompidos,
em uma situação de serem previamente corrompidos moralmente todos os envolvidos em
corrupção.
O não posicionamento do cidadão permite que formadores de opinião tentem convencer
a todos que a corrupção é necessária ao desenvolvimento, que é uma ilegalidade que todos
devem tolerar.
A participação do cidadão não pode ser prender-se exclusivamente ao uso dos
instrumentos jurídicos colocados à sua disposição desde o nível municipal, tais como as
ações populares, as iniciativas populares, as sessões comunitárias ou ao voto consciente.
É necessário o esclarecimento quanto aos processos que determinam a corrupção e a
transformação do cidadão eleito por seu voto em corrupto. É preciso saber reconhecer os
instrumentos de que se armam os corruptos, como a Mentira, a Falácia e o Sofisma e os
denunciar e combater continuadamente.
Sendo seu direito ao acesso à informação, garantindo sua participação na condução das
atividades públicas, [22CDLA] é preciso se manifestar quando este direito é cerceado,
ainda que em promessas ou em reivindicações de políticos, como as reiteradas ameaças
de controle da Imprensa e da veiculação de informações por redes sociais na Internet.

15.1.2.1 Ter a liberdade de pensamento: não ler


por compreensão imediata
É preciso, primeiro de tudo, combater a compreensão imediata, ler a realidade apenas
pelo sentido imediato que o estímulo nos traga à mente, e tudo parece evidente ao
primeiro contato. Os manipuladores da opinião pública sabem desta tendência do homem
e procuram inserir em sua mente conceitos que organizem o seu pensamento na direção
desejada, “vírus conceituais” que atuam na mente de forma semelhante a vírus de
computador. [GRPVC] A mente é manipulada também pelo uso da Falácia, da Mentira e
do Sofisma, argumentos falsos que usados repetidamente passam a atuar como “vírus
conceituais” levando o homem a convicções que beneficiam ao manipulador e pouco ao
manipulado. O homem do povo sabe disto e cria ditos populares como “não comer gato
por lebre”, “camelô na conversa já vende algodão por veludo”, “uma mentira repetida
muitas vezes se torna verdade” e outros, mas o homem do povo e mesmo homens
estudados se deixam levar pela compreensão imediata dos fatos da Realidade: estes serão
lidos pelo conceito e pelas Mentiras, Falácias e Sofismas que foram inseridas em suas
mentes. O remédio contra a compreensão imediata é a suspensão do julgamento.
[GRP4MLP]

150
O primeiro passo é saber o que é corrupção. Não se obtém controle sobre a Realidade se
não se tem compreensão do que ela é. O segundo passo é compreender que nada é
evidente, e que a Realidade só é compreendida não pela busca de evidência, mas pela
destruição sucessiva das evidências que se apresentem à mente como tais. Pode parecer
difícil à primeira vista, mas é o instrumento principal do que se chama Reflexão, que, por
sua vez, é o instrumento que eleva o homem acima do pensamento por hábito e por
condicionamento, estes construídos por manipuladores da mente fazendo o homem
compreender por imediatismo, mas compreender o que desejam que ele compreenda.

15.1.2.2 Tolerância Zero


Ao contrário, é preciso haver uma tolerância zero com o ato corrupto menor que seja. Não
haverá controle da corrupção enquanto a tendência do cidadão for permanecer passivo e
quieto diante da tomada de conhecimento de um ato corrupto ou que favoreça a corrupção
ou sua impunidade. Um governante coloca um protegido que está em vias de ser
processado em cargo com foro privilegiado e não se houve o alarido necessário para fazê-
lo desistir do ato de nomeação. Poucos cidadãos sabem que o maço de papel A4 pelo qual
ele paga atualmente quinze reais é “comprado” por cem reais nos gabinetes de políticos
nos vários níveis, municipal, estadual e federal. Se os formadores de opinião,
manipuladores, querem fazê-lo aceitar que a corrupção é uma ilegalidade a ser tolerada
por ser necessária ao desenvolvimento, o cidadão deve reagir oferecendo uma tolerância
zero à corrupção.

15.1.3 O que se precisa saber para o combate


efetivo da corrupção
A corrupção tem sido emergente e reemergente e sempre será até que a sociedade aprenda
a) Que a corrupção é latente em toda atividade política, quando indivíduos de
vários níveis de formação intelectual e moral estão agrupados em torno do
poder de decidir o que será feito ou não na administração do Estado
(executivo, legislativo e judiciário);
b) Existirem forças que fazem a corrupção emergir e forças antagonistas que
procuram mantê-la apenas em estado latente;
c) Não haverá controle da corrupção se houver apenas combate de suas
emergências, ou pior, se houver combate apenas quando houver a transposição
de um limite tolerável;
d) Não há limite tolerável para a corrupção e devem ser criados mecanismos de
vigilância de todos os atos que procurem facilitar a eclosão e emergência de
corrupção.
e) Não se pode dizer que há um combate à corrupção e não perceber que houve
a anulação de leis e medidas anticorrupção criadas após as denúncias de
corrupção:
f) É preciso combater o sistema pró-corrupção.

151
O Estado se organizou em torno da corrupção e fez que ela se tornasse necessária, não ao
desenvolvimento econômico e bem-estar social de todos os cidadãos, mas o
desenvolvimento/enriquecimento dos políticos e seu bem-estar, que vai desde a garantia
de privilégio principesco ao enriquecimento ilícito.

15.1.3.1 O sistema pró-corrupção e as emergências


Pela teoria dos sistemas, “a compreensão (descrição e explicação) das partes depende da
do todo, que depende da compreensão das partes [. . . ] É ainda preciso conhecer as
qualidades ou propriedades das partes que estão inibidas, virtualizadas, e, portanto,
invisíveis no seio do sistema não só para conhecer corretamente as partes, mas também
para conhecer melhor as imposições, inibições e transformações operadas pela
organização do todo". [EMM1] Consequentemente, os processos judiciais contra
organização de corrupção isoladamente, embora necessários, não obtêm controle sobre a
corrupção, de que é preciso buscar o controle do todo da corrupção. Os episódios de
corrupção emergem do sistema e organização pró-corrupção, e este é que deve ser
combatido. Não há corrupção melhor ou pior que a outra, todas derivam dos mesmos pais,
o sistema político pró-corrupção. É preciso transcrever Morin para maior inteligibilidade:
“O todo é muito mais que forma global. É também qualidades emergentes. Mais ainda: o
todo retroage enquanto todo (totalidade organizada) sobre as partes. É enquanto
totalidades organizadoras que o átomo ou a célula retroagem sobre os constituintes que
as formam e que todo o discurso retroage sobre os elementos que o constituem. Assim,
para que as palavras tomem um sentido definido na frase que formam, não basta que as
suas significações estejam registradas, entre outras, no dicionário; não basta que estejam
organizadas segundo a gramática e a sintaxe, é preciso ainda que haja retroação da frase
sobre a palavra, à medida da sua formação, até à cristalização definitiva das palavras pela
frase e da frase pelas palavras. É, portanto, porque o todo é hegemônico em relação às
partes, porque a sua retroação organizacional pode ser concebida muito justamente como
sobre determinação, que o todo é muito superior ao todo".
Cada ato de corrupção é uma palavra, cada processo um texto, que expressam o sistema
pró-corrupção, que é o todo de que os atos são as partes. De outro lado, o sistema pró-
corrupção só funciona pela emergência de suas partes, os atos ilícitos isolados ou em
processo que emergem das inter-relações. Isto tem sido abordado como a corrupção se
vale dos interstícios e falhas contidos nas leis.
"A organização é um conceito crucial, o nó que liga a ideia de inter-relação á ideia de
sistema. A organização é, ao mesmo tempo, o princípio ordenador que garante a
permanência. Esta permanência surge a dois níveis que temos simultaneamente de
distinguir e ligar: O nível estrutural (regras organizacionais) e generativo (produtor da
forma e do ser fenomênico). O nível fenomênico, onde o todo mantém a constância das
suas formas e das suas qualidades a despeito dos acasos, agressões e perturbações, e
eventualmente através das flutuações (corrigidas por regulações). Repetimos: a
permanência não é uma consequência da inércia, da gravidade, da força das coisas.
Vimos que todo o sistema está ameaçado por desordens exteriores e interiores. Quer dizer

152
que todo o sistema é também uma organização contra a antiorganização ou uma
antiantiorganização. Produz precisamente por isso degradação e desorganização, e,
portanto, tem de consagrar uma enorme parte da sua organização à reparação das
degradações e das desorganizações que a sua organização provoca, ou seja, regenerar a
sua organização".
Em outros termos, o que se faz para combater a corrupção induz a fabricação daquilo que
o anula. Assim, é previsto que os atos de corrupção emerjam novamente, da forma como
a Operação Mão Limpas foi um sucesso para barrar o excesso de corrupção, mas não
interrompeu o sistema pró-corrupção e a corrupção permanece na Itália. O mesmo risco
corre o Brasil com a Operação Lava Jato, o sistema pró-corrupção não foi controlado e,
aqueles que nutrem o corpo teórico deste sistema negarão inclusive que ele exista.
"A ordem organizacional é, portanto, esta invariância ou estabilidade estrutural (Thom,
1972), estratificada (Bronovski, 1969), que não é só como que a armadura ou o esqueleto
de todo o sistema, mas também permite, sobre esta base, edificar novas organizações, que
por sua vez constituirão a sua ordem própria, na qual se apoiarão ainda outras
organizações, e assim por diante, permitindo, portanto, o aparecimento, a propagação e o
desenvolvimento de sistemas de sistemas de sistemas, de organizações de organizações
de organizações".
Em suma, só há combate à corrupção quando se combate o sistema pró-corrupção e sejam
banidos da vida pública, perda de direitos políticos vitaliciamente, os mantenedores do
sistema com suas falácias e mentiras. É preciso urgentemente que se crie a tolerância zero
contra a Mentira, a Falácia, e o Sofisma. É interessante notar que a Constituição Brasileira
quase determina ser proibido urinar na rua, com tanta minúcia daquilo que deveria ser
objeto de lei complementar, mas tem uma só prescrição contra a corrupção, no art. 14
parágrafo 10. "O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo
de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder
econômico, corrupção ou fraude". Um artigo precário, pois a corrupção se dá após 15 dias
da diplomação e nunca antes, e antes da eleição depende de processo judicial.
Daí ser preciso que se tomem medidas que desarticulem tudo que for a favor da
manutenção do sistema pró-corrupção, como as medidas que anulem o controle da
corrupção.
"O que nos levou a considerar a organização como um conceito de segunda ordem ou
recorrente, cujos produtos ou efeitos são necessários á sua própria constituição: a
organização é a relação das relações, forma aquilo que transforma, transforma aquilo que
forma, mantém aquilo que mantém, estrutura aquilo que estrutura, fecha a sua abertura e
abre o seu fecho; organiza-se organizando, e organiza organizando-se. É um conceito que
se anela sobre si mesmo, fechado neste sentido, mas aberto no sentido em que, nascido
de interações anteriores, mantém relações, opera trocas com o exterior".
Ora, no sistema pró-corrupção os elementos em interação são as mentes humanas, assim,
o presidente da Republica é levado a assinar medida provisória que anule efeitos de
medidas contra a corrupção e não se pode, deste modo, simplesmente dizer que o

153
governante não sabe, a partir do momento em que toma medidas pró-corrupção: toda
equipe sabe, consequentemente o governante sabe. O sistema pró-corrupção nasce pelas
próprias inter-relações entre todos os participantes e estas estão dependentes de fatores
humanos, uma vez que são seres humanos que colocam suas mentes a funcionar para se
alcançar o objetivo da vantagem.

15.1.3.2 A teoria dos sistemas explica a


intencionalidade
Não se trata da lei de Gerson, mas do Desejo. Este é inerente ao homem e a formação
moral o modula com permissões e proibições do que se pode fazer ou não. Pode-se dizer
que o Desejo de corrupção é inerente ao homem; para que passe à vontade depende de
circunstâncias ambientais, por exemplo, em períodos de escassez de alimentos, ou
alimentos controlados por tíquetes, é possível o aparecimento da vontade de não se
respeitar as regras morais para se obter o alimento; a vontade, no entanto, não é suficiente,
é preciso ter a intenção, que também depende de fatores circunstanciais. Tendo-se a
vontade e não se tendo os meios não se terá a intenção, surgindo estes pode surgir a
intenção.
É óbvio: se o governante tivesse a intenção de acabar com a corrupção como prometeu a
quem o elegeu, teria acabado, enfrentando todas "as forças ocultas" envolvidas. Se, além
disso, tomou medidas pró-corrupção, pode-se afirmar que houve intencionalidade de
praticar a corrupção.

15.1.3.3 As várias mentes do governante: sua


equipe e o sistema de fiscalização e controle
Os dois fatores que levam um sistema a evoluir são a modificação na disposição dos seus
constituintes e, sobretudo, as inter-relações e as intercombinações entre sistemas.
[EMM1] Embora Morin se refira à disposição física, estrutura, a afirmativa pode ser
transferida para o sistema pró-corrupção: alterando-se a disposição (psiquismo,
motivação) dos elementos constituintes que levam adiante o sistema fazendo emergir
organizações de corrupção, pode-se obter controle da corrupção, a mesma forma como a
certeza de impunidade motiva e faz perdurar a corrupção institucionalizada; fabricando
regras no sistema político que o desloque do sentido pró-corrupção ao sentido
anticorrupção, tal como inverter a situação de certeza absoluta de impunidade para a de
certeza de punição. Esta disposição psíquica tem a ver com a formação moral e a recusa
do povo em eleger cidadãos de tendências imorais para os cargos políticos. Repete-se,
então, que a Constituição de 1988 prega a moralidade e não prevê punições para as
imoralidades cometidas. A relação entre sistemas corrompeu-se com todos os poderes
constituídos envolvidos na garantia de impunidade e a anuência passiva a medidas
provisórias que antagonizam medidas anticorrupção existentes.

154
O trabalho de combater o sistema pró-corrupção, no entanto, é imenso não pode se
circunscrever a conselhos de ética, principalmente quando conselhos vigoram dentro da
pregação de uma relativização de tudo.
Não se pode deixar que a tendência pró-corrupção se estabilize, pois, no sistema "tudo
aquilo que se estabiliza torna-se, ao mesmo tempo, uma cidadela organizacional,
protegendo o sistema contra os acasos, e uma base de lançamento para novas aventuras"
e ajuda a criar uma "indissociável constelação conceptual que dá conta da resistência do
sistema às pressões destruidoras do interior e do exterior". Esta constelação conceitual,
como já demonstrado, faz uso da Falácia e da Mentira, uma vez que, centrando-se no fato
de que nenhuma corrupção é aceitável, toda argumentação que a justifique é falaciosa. E,
assim, sempre que um agente público toma uma ação que favoreça a estabilização de uma
organização para a corrupção é ele o responsável mantenedor da estabilidade da
organização e assim da organização do sistema pró-corrupção. No caso brasileiro fica
patente a culpabilidade do Presidente da República ao tomar atos do tipo que mantém a
estabilidade da organização da corrupção tal como se indispor, por quaisquer que sejam
os motivos, contra a fiscalização e contra o controle da corrupção e suas consequências,
como a anulação da Lei de Licitações por medidas provisórias.
Ora, o sistema pró-corrupção antecede ao Presidente, mas para que se mantenha
funcionante é preciso que aquele que tem o domínio do fato, ou seja, a capacidade de o
interromper, perceba o fluxo dos acontecimentos e adote medidas para que haja
continuidade ou interrupção. É mister assumir que um presidente, ciente de que a
corrupção é inerente à atividade de poder, e sabedor que um processo de corrupção teve
início em 1991, tomando medidas pró-corrupção está em busca de algum tipo de
vantagem, ainda que seja a não necessidade de renunciar devido a "forças ocultas"
derivadas do "poder invisível", o crime organizado.
É lógico que a nível pessoal não se há de querer que todo presidente tenha a formação
suficiente para perceber o sistema em atuação e o interromper por iniciativa própria. Aí é
que a sociedade prevê os mecanismos de fiscalização e controle que o orientam na direção
correta, restando a ele tomar as medidas necessárias para a interrupção do processo. Em
primeiro lugar, os Estados autocráticos perdem esta capacidade de discernimento, devido
a que as decisões são centralizadas em uma pessoa, e uma pessoa humana não tem o poder
de tudo saber. Ocorre que a confusão que se faz do governante com uma pessoa humana
tem permitido que autores de crime sejam absolvidos. O governo é exercido por uma
pessoa jurídica, ainda que esta pessoa jurídica seja um ser humano, por isto é nomeado
“presidente” mesmo que seja do sexo feminino. O governante considerado meramente
como ser humano tem uma só mente, o governante como pessoa jurídica em várias
mentes. Tendo o controle do orçamento e da aprovação do orçamento mediante controle
das consciências de correligionários por meio de lideranças partidárias, o presidente se
torna, da mesma forma como todos os lideres, coautor da corrupção.

155
15.1.3.4 Sofisma do papel dos líderes partidários
15.1.3.4.1 Voto de liderança e formação de
quadrilha
O domínio da consciência de cada parlamentar, o qual, em suas manifestações diversas,
inclusive nas votações, deve seguir apenas o que determina a consciência do líder de
partido, é um fator de corrupção, uma vez que, sendo a função de um grupo determinada
pelas consciências envolvidas, estas estando anuladas por submissão à consciência de um
chefe, resulta em que todos os fatores individuais de antagonismos aos ilícitos, seja
corrupção ou não, são anulados. Isto é formação de quadrilha e os políticos, pelo acordo
tácito de omissão e conivência, procuram ignorar.

15.1.3.4.2 Voto de liderança, voto de cabresto


A decisão do STF para rito do impeachment ratifica o papel dos líderes de partido como
tem sido por eles exercido, sem se dar conta de que é um instrumento do sistema de
impunidade. Parece lícito que os líderes partidários determinem como seus liderados
devem votar, mas não é. Não está prescrito na Constituição e nos regimentos internos que
os líderes partidários sejam donos da consciência de seus liderados e qualquer
interpretação neste sentido deve ser denunciada e banida. Nenhum homem pode se
submeter a outro homem que o faça decidir e votar de forma contrária à sua consciência,
privando-o de seu livre arbítrio. Nenhum "líder" é líder quando não respeita as liberdades
individuais dos liderados e os obriga a votos contrários à sua consciência. Isto é atributo
de ser chefe, e quando o que se pede aos liderados é contrário à Ordem Moral, Ética e
Legal, é ser chefe de quadrilha. Nem mesmo a Constituição, se democrática, pode
prescrever a instituição de chefes e muito menos de chefes de quadrilhas.
Enquanto esta interpretação prevalecer, o Líder partidário ditar aos liderados o voto que
deva ser dado a cada oportunidade, fica patente que o número de representantes de
partidos nas casas legislativas não necessita ser maior que um, o líder do partido,
principalmente quando líderes de partido são chefiados por líderes de governo e têm suas
consciências submetidas a eles como marionetes.
Não se há de argumentar que o cidadão deva corrigir esta aberração não votando nos
políticos que não respeitem sua própria consciência, isto é determinar que o problema não
será solucionado. É preciso fazer prevalecer o que reza a Constituição, a preservação da
Ética e da Moralidade, e criar mecanismos que façam existir a Ética e a Moralidade na
Administração Pública em suas três instâncias, executivo, legislativo e judiciário,
independente de aberturas de processos em Conselhos de Ética.

156
15.1.3.4.3 O papel de líder de partido não é
garantir a impunidade
O papel de líder seja de governo, de partido, de maioria ou de minoria, se transformou na
prática diária do viver legislativo em um dos mais poderosos instrumentos que dão a
certeza de impunidade. Basta, deste modo, que o governo conte com a maioria de dois
terços dos membros nas casas legislativas ou com a conivência de líderes, de governo ou
de partido coligado, capazes de seguirem ordens superiores sem as submeter ao
julgamento de suas consciências. Como será apontado, houve a confusão entre "maioria
de dois terços dos membro" e "maioria dos votos". É esta maioria de marionetes, pessoas
que cederam suas consciências a chefes, que tem permitido o voto vencedor às propostas
governamentais que trouxeram o país à situação atual. É esta forma de governar por meio
de marionetes que frutificou o chavismo na Venezuela e levou aquele país à bancarrota:
a maioria deu ao presidente o papel de ditador e todos engoliram o sofisma de que se trata
de democracia, pois tudo se fez mediante o voto, voto popular para eleger os
representantes nas casas legislativas e votos de líderes de partido para impor aos chefiados
a vontade do líder de governo, no caso da Venezuela o próprio presidente da república,
cujo desejo se concretiza na obediência cega de chefiados, que votam mesmo
contrariamente a suas consciências.
É este o mecanismo que permitiu o país chegar ao caos e estar à beira da bancarrota.
Todos fazem de conta que não enxergam os mecanismos de corrupção presentes nos
governos nos últimos doze anos. O Programa Mais Médicos foi aprovado por voto de
liderança, e segue o princípio básico de todo processo de corrupção: pagar mais pelo que
se recebe. O Mais Médicos paga ao governo cubano por três médicos para cada um que
dele recebe, e todos fingem acreditar no sofisma de que este programa é necessário, pois
criado para prover de médicos as regiões brasileiras mais carentes e distantes, fingem
acreditar mesmo depois que o Estado mais rico do país recebeu o maior número de
médicos cubanos e que médicos brasileiros de regiões carentes foram demitidos para seus
lugares serem ocupados por médicos cubanos. Se o Mais Médicos foi criado no mandato
anterior, foi denunciado neste, e praticamente todos os políticos se calam como se
corrupção não fosse. É outro instrumento do sistema de impunidade montado nos três
poderes constituídos, a conivência com a corrupção e com os ilícitos legais.

15.1.3.4.4 O governante só é punido se não tiver a


maioria nas Casas Legislativas?
Os ministros do STF, previamente alertados, o momento é de voto de consciência e não
de voto de partido, insistem na manutenção da interpretação consuetudinária do papel dos
líderes de cada instância prevista na Constituição, o papel de serem chefes de bandos e
não de partidos, e assim um mecanismo de imposição de decisões governamentais. Ao
mesmo tempo este mecanismo se mostra instrumento do sistema de impunidade instituído
nos três poderes constituídos, executivo, legislativo e judiciário: o governante se torna
ditador quando garante que sua vontade seja desta forma vencedora e tem garantido que
157
esta mesma maioria de chefiados, votando mesmo contra sua consciência, impedirá a
punição de seus erros e crimes de responsabilidade. O sistema de impunidade é de tal
forma inerente à forma de governar nos últimos anos a ponto de surgirem defesas de que
não houve crime de responsabilidade. É a prova cabal de desonestidade.

15.1.3.4.5 O governante só é punido por traição de


líderes de governo e de partido
Os líderes de partido, quando mancomunados com o governante em coligações que
permitiram sua eleição, são representantes da vontade do governo para a impor a cada um
de seus liderados substituindo qualquer decisão individual devida ao livre arbítrio. Este
mecanismo tem sido tão acintosamente utilizado que muitas das decisões das casas
legislativas se fazem exclusivamente por voto de líderes de partido e, assim, decisões
governamentais por meio de Medidas Provisórias conduziram o país à situação caótica
atual. A manutenção deste sofisma de que possam existir líderes que comandam a
consciência de seus liderados, obrigando-os a votar como determina o partido, mesmo
que seja votar contra o que determinam suas consciências e livre-arbítrio permite que o
presidente acusado, desde que tenha a conivência do líder do governo nas casas
legislativas, possa absolver a si mesmo das acusações havidas.
O governante manda seu líder votar pela absolvição, este líder de governo obedece e
manda que os lideres dos partidos cuja coligação apoia o governo votem pela absolvição;
os líderes de partido obedecem e mandam que seus liderados nas Casas Legislativas
votem a favor da absolvição, mesmo que todos votem contra sua consciência e privados
de livre arbítrio. O líder, recebendo a ordem - absolva! - descumprindo-a é considerado
traidor do governo ou do partido, mas quando o governante não for punido por conivência
de líderes, de governo e de partido, estes e seus liderados traíram a sua função parlamentar
e ao país. No entanto, quando se usa o argumento de que o liderado traiu o partido ao não
seguir o voto de liderança expõe-se o vício do instrumento: o partido é uma quadrilha e
não uma organização política.

15.1.3.4.6 A transformação de "2/3 dos membros"


em "2/3 dos votos"
Aproveita-se a falha constitucional em não diferenciar adequadamente "aprovação dos
membros" de "aprovação por votos dos membros", como explícito nos artigos que tratam
da admissibilidade da acusação e autorização de abertura de processo pelo Senado nos
crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente da república. Transforma-se o
termo "membros" em "votos", a partir do fato de que cada membro se manifesta por um
voto, para dar ao líder de partido um poderoso instrumento do sistema de impunidade.
Não está prescrito na Constituição decisões de impeachment por voto de liderança ou por
2/3 dos votos, mas "aprovação" por maioria de 2/3 dos membros, significando dizer que
cada membro deve manifestar sua anuência ou não para que seja computado. Há uma
confusão com um processo de votação, no entanto. Cada um dos membros deve

158
manifestar-se a favor ou contra a autorização para instauração de processo e haverá
autorização pela aprovação de 2/3 dos membros.
O papel de líderes de partido como atualmente interpretado anula a exigência de
aprovação por maioria simples dos membros para a aceitação da denúncia em caso de
impeachment e de maioria de 2/3 dos membros, na Câmara e no Senado, para a aceitação
da acusação, bem como a anuência de 2/3 dos membros para a declaração de culpa e
aplicação da pena de impeachment. Os líderes de governo e de partido, donos da
consciência de seus liderados, garantem que uma maioria de dois terços nas casas
legislativas seja facilmente obtenível, desde que encontre leniência com a fraude
cometida. A prática tem interpretado tratar-se de votação o processo de cada membro
aprovar ou não aprovar e contar a aprovação ou desaprovação. O FAZER de votar é dizer
"sim ou não", o FAZER de aprovar é aprovar realmente o que se escolhe entre duas
opções. Um membro pode votar a favor mesmo quando desaprova, ou contra mesmo
quando aprova; deve, então, se manifestar com o DIZER "aprovo" ou "não aprovo". Da
mesma forma como o partido penaliza o político que não vota de acordo como por ele
determinado, não se importando se ele aprova ou desaprova o que se determina pelo voto,
deve ser penalizado o deputado ou senador que vota contra ou a favor em desacordo com
sua aprovação ou desaprovação como pessoa humana.
Por este mecanismo, não se computando os votos de consciência e de livre arbítrio de
nenhum dos liderados, o governante, tendo cometido ilícitos, pode absolver-se mesmo
que a maioria de 2/3 dos membros exigida pela Constituição tenha na consciência, por
livre arbítrio, que deve o governante ser declarado culpado e sofra o impeachment. É
desta forma que o voto de líder da maneira como foi interpretado e tem sido aplicado
pode anular o que está prescrito na Constituição. O voto de líder é um mero mecanismo
para se conseguir que se vença uma vontade de governo ou de partido mesmo que haja
maioria absoluta ou de 2/3 de liderados que pensem de forma contrária, cujas consciências
votam contra o governo ou o partido.

15.1.3.4.7 O voto secreto e a liberdade de votar


A Constituição prescreve que as Casas Legislativas, cada uma em seu momento, decidam
por 2/3 dos membros e não dos votos, muito menos por votos de lideranças partidárias,
que podem simular uma aprovação por maioria de 2/3 dos membros. O que falta na
Constituição é prescrever punição contra os partidos que ofereçam represálias a seus
políticos quando votarem contra a orientação partidária. Como é vício político recorrente
os partidos oferecerem punição a quem vote contrário a suas determinações, mesmo
quando determinam atos lesivos à Coisa Pública, os representantes de cada uma das casas
legislativas têm o direito de proteger-se destas punições, por mecanismos que se ponham
a encoberto, como o voto secreto, sendo direito constitucional ninguém produzir provas
contra si mesmo. O júri popular não vota se o acusado é culpado ou inocente, apenas
conclui.

159
15.1.3.4.8 A Constituição não prescreve voto de
liderança
As funções de líderes de partido prescritas na Constituição são compor e participar do
Conselho da República, órgão superior de consulta do Presidente da República, para
opinar sobre "intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio (e) questões
relevantes para a estabilidade das instituições democráticas" (Art. 89). Contudo, "os
partidos políticos devem respeitar o funcionamento parlamentar de acordo com a lei,
respeitando o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da
pessoa humana" (Art. 17). Apenas a necessidade dos homens públicos de usar falácias e
sofismas impõe que se lembre: não há Lei, em regime democrático, que imponha a
vontade do liderado ao líder de partido e que votar de acordo com a própria consciência
é direito fundamental da pessoa humana.
Cabe constitucionalmente aos partidos "estabelecer normas de disciplina e fidelidade
partidária" e não há nenhum termo na Constituição que permita a inferência de que
fidelidade partidária implique obedecer a ordens contrárias à própria consciência.
Um regime democrático e de direito não comporta partidos políticos impondo uma
vontade única a seus filiados. Já no preâmbulo a Constituição reza a instituição de "um
Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais,
a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias". Os afiliados de partidos políticos estão inclusos, como cidadãos
brasileiros, nas garantias constitucionais de sua liberdade e de seus direitos individuais.
Qualquer regimento interno de instituições do Estado que ferir direitos constitucionais,
inclusive os direitos da pessoa humana não têm valor constitucional e não deve ser
observado.
Se a Constituição não diferencia adequadamente "aprovação dos membros das Casas
Legislativas" de "aprovação por votos dos membros" fica implícito que os constituintes
seguiram o princípio fundamental do voto, a consciência. A Constituição prescreve como
devem funcionar os partidos políticos, não tendo sentido supor que os constituintes
prescrevessem aos líderes de partido, de grupos partidários, de governo, o papel de serem
donos das consciências de seus liderados. Em suma, o STF não pode ser leniente com
voto de liderança para decidir se uma acusação merece o veredito culpado ou inocente, e,
todo Júri Popular em que surja uma liderança ditando como devem votar os jurados
produz sentenças anuláveis, se passarem pelo crivo do juiz que o presida. Embora a
comissão de impeachment na Câmara não tenha esta função jurídica, é ali que se inicia a
conceituação de culpa ou inocência. O acusado, sendo governante, pode interferir no
processo "mandando" seu líder "mandar" aos líderes de partido que o absolva, enquanto
anula a prescrição constitucional de decisão por 2/3 dos membros das casas. O voto de
liderança assim interpretado é imoral. A saída dada pelos descontentes com votar contra
sua consciência foi aprovar voto secreto para formar a comissão de impeachment

160
mediante candidaturas avulsas, prevenindo-se de represálias pelo partido. É direito
inalienável do homem, qualquer ser humano, usar de todos os recursos necessários para
garantir a liberdade de expressão de sua consciência, cristalinamente dada pela
Constituição. Nenhum homem é líder, mesmo se assim o declarado, quando não respeita
o que decide a consciência de todos os seus liderados. É direito inalienável do homem de
recusar o papel de marionete da consciência de outros homens.
O que significa um político ter controle sobre uma estatal? Aparentemente seria para
distribuir cargos com altos salários a seus correligionários, o que já seria corrupção, mas
não é. É para entregar cargos a pessoas comprometidas com o enriquecimento próprio e
de quem o indica. Não é deficiência intelectual entregar a própria consciência ao partido
e seguir voto de liderança desrespeitando a si mesmo?

15.1.3.4.9 Conluio entre executivo e legislativo


O disparate do voto de liderança é quase denunciado:
"Como consta do Relatório Final (da CPI do orçamento) determinadas autoridades - do
Executivo e ou do Legislativo - tomam uma série de decisões acerca da alocação de
recursos. A tornada de tais decisões, parece evidente, deve ser a mais democrática
possível, devendo, portanto, envolver todos os Parlamentares, sem exceção, em todas as
fases do processo, deixando de ficar restrita ao recesso dos gabinetes do Poder Executivo
ou a qualquer coisa que possa ser caracterizada como uma espécie de conluio entre a
tecnocracia do Executivo e setores privilegiados do Legislativo". [CORM10]
Estes "setores privilegiados do Legislativo" são, mas não apenas, os líderes de governo e
de partido, que chefiam seus liderados como membros de uma quadrilha, desrespeitando
seu livre arbítrio e impedindo o voto de consciência. Quando o Estado permite que um
Partido imponha sua Ideologia a todos os cidadãos decreta a divisão entre os a favor e os
contra: um Estado é composto de homens que seguem várias ideologias e não há Justiça
Social em um Estado que separe os cidadãos pela Ideologia que seguem. O governante
deve ser administrador de todas as Ideologias e não apenas daquela de seu partido político.

15.1.3.4.9.1 A Comissão Mista do Orçamento


Também faz parte deste conluio entre o Executivo e o Legislativo os grupos de poder
instalados na CMO (parlamentares), mediante pressão de representantes da iniciativa
privada, destinada a execução de novos projetos, em detrimento de outros, em andamento,
privados de recursos para terem continuidade. Insere-se essa prática no que o Relatório
denomina "esquema das empreiteiras", "que também incluía a introdução de algum novo
projeto, abrindo uma espécie de janela orçamentária, sem levar em conta o impacto que
a continuidade ou a conclusão da correspondente obra ou serviço acarretaria ao longo do
tempo". [CORM10] A tolerância com os atos que promovem a corrupção, sem que se
esteja diretamente envolvido em atos imediatos de corrupção, deve ser combatida com
veemência e os presidentes e os políticos que permitiram esta manobra devem ser
responsabilizados como coautores da corrupção atual.

161
15.1.3.4.9.2 A aprovação indevida de Lei
Orçamentária
"Quando alguém tem poder monopolístico sobre um bem ou serviço, tem o poder
discricionário de decidir se alguém o receberá ou não e não está obrigado a prestar contas,
há corrupção". [LIACIC] Assim, a Lei Orçamentária não cumprida foi aceita por voto de
liderança em 2014 e 2015, embora todos soubessem que houve crime de responsabilidade.
A interpretação corrente é tratar-se de uma decisão política quando o governante é
acusado de crime e a punição fica em dependência de aprovação por 2/3 dos membros
das casas legislativas. É este um dos fatores principais da certeza de impunidade,
comprado com distribuição de cargos e de verbas. Como se faz vista grossa, aceita-se
como "normal" e "tolera-se". Assim, a tolerância passa a ser apenas o preço que se paga
por não fazer parte do poder decisório no momento, aguardando-se a reciprocidade
quando o for: o sistema político, com leis feitas por políticos, é em si corrupto.

15.1.4 Combater o sistema pró-corrupção


15.1.4.1 Introdução
“O simples fato de analisar um organismo a partir dos seus constituintes provoca uma
perda de informação sobre este organismo” (Atlan, 1972, p. 262, in EMM1). Não se
consegue, portanto, controlar a corrupção focando em cada um dos surtos de corrupção,
perde-se informação e sem o controle informacional não se obtém controle sobre o
processo como um todo. É o que observou agora: a corrupção na Petrobras e fundos de
pensão está denunciada desde 1991 e desde então ocorreram várias CPIs que não
abortaram o processo, deixando fluir até situação atual.

15.1.4.2 Cláusula pétrea constitucional: o combate


ao sistema pró-corrupção
Urge que se façam estudos para uma proposta de emenda constitucional em que se torne
cláusula pétrea o combate ao sistema pró-corrupção. Assim, todo projeto de lei ou medida
provisória que for apresentada deve ser analisada se não há favorecimento da corrupção.
O grande empecilho, no entanto, é o mau hábito dos homens públicos em usar e abusar
da Mentira, da Falácia e do Sofisma, inclusive daqueles que ocupam funções de agentes
públicos no Poder Judiciário, e a consequente tolerância às argumentações falaciosas para
a criação de urgências que pretendam justificar a atenuação das medidas de fiscalização
e controle, tal como se deu na Copa de 2014. É preciso que se conheçam as forças pró-
corrupção e que se criem medidas punitivas para os políticos que sejam reiterantes em
propor projetos de lei ou medidas provisórias que favoreçam o livre curso destas forças.

162
15.1.4.3 Combater as forças pró-corrupção:
Em consequência de um sistema pró-corrupção de que emergem surtos de corrupção não
é suficiente, embora necessário, investigar e punir os corruptos: trocam-se os elementos
que interagem sob as forças pró-corrupção e o sistema se mantém. Para o controle da
corrupção é necessário controlar e extinguir as forças pró-corrupção:
a) A leniência em qualquer nível e sob qualquer motivo;
b) O acordo tácito de omissão e conivência;
c) As falhas de fiscalização;
d) As falhas e interstícios nas leis;
e) O artifício de anular uma lei, sem a revogar, editando medidas provisórias e
decretos presidenciais;
f) A possibilidade de as Casas Legislativas editarem leis que favoreçam a
corrupção ou a impunidade;
g) O foro privilegiado;
h) A possibilidade de o governante poder afirmar que de nada sabe;
i) O voto de liderança;
j) A tolerância com a Mentira, a Falácia e os sofismas.

15.1.4.3.1 Reconhecer e revogar leis de leniência


com o ilícito
Para o controle da corrupção torna-se necessário uma revisão geral das leis que toleram
o ilícito e sua reformulação. Não é, contudo, trabalho fácil, uma vez que até a Constituição
deixa brechas e interstícios que têm sido exploradas a favor da corrupção, como, por
exemplo, não ter proibido expressamente edição de medida provisória como as que
modificaram a Lei 8. 666 abrindo exceções nas licitações a ponto de a anular sem a
revogar. De outro lado, a tolerância com as falácias e os sofismas torna mais difícil a
tarefa, por não se ter percebido a necessidade de constar na Constituição ser sua
interpretação limitada ao campo semântico jurídico, o que pareceria óbvio não fosse a
constatação de que mesmo os juízes têm se manifestado levar por argumentações
falaciosas.

15.1.4.3.2 Acabar com o acordo tácito de omissão


e conivência
A corrupção é latente na atividade política e para que haja a manutenção da corrupção em
latência é preciso destruir o sistema pró-corrupção anulando toda emergência antes de
organizar-se. Assim, o fator determinante da corrupção é o acordo tácito de omissão e
conivência e a aceitação passiva de que apenas a corrupção que ultrapasse os limites que
todos os políticos podem tolerar, aquele limite em que todos se enriquecem e a corrupção
se mantenha perene.

163
15.1.4.3.3 Aperfeiçoar os mecanismos de
fiscalização e controle do orçamento
15.1.4.3.4 As falhas e interstícios nas leis;
É também urgente que seja realizada a busca de falhas e interstícios que favoreçam a
corrupção na Constituição e nas leis, com as medidas de sua correção.

15.1.4.3.5 Legislar a favor da corrupção é crime de


responsabilidade
É crime de responsabilidade todo ato legislativo, do Executivo (medida provisórias e
decretos-leis) e do Legislativo, que vise a anular ou atenuar os mecanismos de controle
da corrupção. Qualquer parecer ou pronunciamento contra as medidas de fiscalização e
controle também constituem crime, por favorecer a corrupção.

15.1.4.3.6 Produzir provas documentais não


escritas
Embora não seja uma ideia com possibilidade de sucesso, o ideal seria a gravação de
todos os atos do executivo, legislativo e judiciário e das conversas telefônicas no serviço
público não constitucionalmente sigilosas. Diante do caráter utópico da proposta, torna-
se necessário o estudo de como as informações do tipo “fulano falou” passem a ser não
apenas meros indícios para a suspeição, mas provas definitivas.

15.1.4.3.7 Usar a Mentira contra o mentiroso


Se a recomendação anterior parece ferir o Direito, deve-se lembrar de que as delações
premiadas, divulgadas, perdem exatamente o caráter de provas que teriam se todas as
delações fossem sigilosas. Tomadas em sigilo absoluto as declarações de cada um dos
acusados deixarão transparecer toda a organização para a corrupção, bem como, pelo
caráter protecionista do delator ao recusar respostas ou mentir, quais são os indivíduos
com posição de comando na organização.

15.1.4.3.8 Fazer cumprir a lei, acabar com a


impunidade
A forma de acabar com a corrupção é inverter a situação atual em que a impunidade é a
regra. É preciso fazer cumprir a Lei, punir a omissão, a conivência, tornar efetiva a Lei
de improbidade protegendo o denunciante. As punições, já muito brandas, foram
atenuadas com a conivência de todos os políticos e juízes nas várias instâncias, assistindo-
se ao surrealismo de concessão de indulto de Natal em pleno Carnaval ou Semana Santa;
a aceitação plena do acordo de leniência; a não preocupação de responsabilização dos

164
envolvidos pelos prejuízos secundários causados, etc. Ao contrário, deve-se determinar
que, em delação premiada, mentindo o delator perderá todas as benesses judiciárias que
levem à atenuação da pena.

15.1.4.3.9 Diagnóstico precoce e correção


Assim, a corrupção deve ser combatida nos primeiros indícios para não se estabilizar, e
fazer emergir uma organização para a prática de corrupção, e a Lei de Improbidade
Administrativa deve ser aprimorada para que o agente público tenha mais facilidade de
denunciar ilícitos de que toma conhecimento por participar ou testemunhar, que é uma
situação nem ao menos prevista na Lei 8. 429, ficando apenas subentendido no termo
"omissão".
A Lei 8. 429 descreve as ações ou omissões, e não faz constar "testemunhar ações que
violem. . . ":
Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa,
do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano;
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta lei;
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições.

15.1.4.3.10 Toda denúncia deve ser investigada


O processo de corrupção atual está em funcionamento desde o governo Collor, com o
aperfeiçoamento, por acordos tácitos entre os participantes, mediante a criação de
mecanismos que impeçam solução de continuidade dos governos por impeachment,
conseguido pelo aparecimento do governante “que não sabe de nada”; pela concretização
das obras contratadas voltadas ao bem-estar social e ao desenvolvimento, visando a
armar-se de argumentos a favor de ser a corrupção um mal necessário à sociedade; as
denúncias havidas devem ter suas acusações admitidas e todos os envolvidos condenados,
mediante o ressarcimento dos prejuízos causados, os de imediato e os secundários, com
o sequestro de bens, quando necessário, mediante a intervenção do Estado, como previsto
em lei para os casos de sociedades privadas.

15.1.4.3.11 O foro privilegiado


O foro privilegiado é uma aberração do sistema político brasileiro. De outro lado, a
corrupção, em essência, é roubo, é, portanto, crime comum. Dar foro privilegiado a
político corrupto porque ocupa cargo no Estado é considerar que agente público em cargo
de Estado tem o direito de roubar.

165
15.1.4.3.12 O voto de liderança
A Constituição deve merecer emenda que determine claramente a diferenciação entre
voto dos membros das Casas Legislativas" e "aprovação pelos membros", este se referido
fundamentalmente a "voto de consciência". Toda medida que altere o orçamento público
deve merecer voto de consciência e não voto orientado por líder de partido.

15.1.4.3.13 A tolerância com a Mentira, a Falácia


e os sofisma deve ser combatida
Deve-se instituir na política a tolerância zero com a Mentira, a Falácia e os sofismas deve
ser combatida. Os cidadãos devem ser educados para os princípios morais a respeito, a
Mentira é defeito moral e o mentiroso tem defeito de caráter. Quem dá aval a mentiras
também tem defeito de caráter.

15.1.4.3.14 Assassinato da alma política, perda


vitalícia de direitos políticos
Em um trabalho extenso sobre o Caso Schreber, [GRPCCS] um político menor na
Alemanha Imperial na última década do século 19, descobre-se que, tendo sido Schreber
declarado doente mental incurável, perdera ele todos os seus direitos civis e políticos,
situação a que ele dá o nome de assassinato de alma. Schreber publica Memórias de um
doente dos Nervos e recupera direitos civis, mas os direitos políticos foram lesados
permanentemente no que diz respeito à participação partidária, ainda que como mero
conselheiro ou mesmo auxiliar de serviços gerais. É fato sabido que os países que ainda
se rotulam de comunistas condenam à pena de morte os políticos corruptos, e os
executam. Não se faz a apologia da pena de morte, mas não se pode mais conviver com
o fato de que os corruptos sejam afastados apenas temporariamente do jogo político,
retornando à corrupção tão logo readquiria seus direitos políticos. Deve-se, portanto,
compreender que a pena de morte não necessita ser retirar a vida do corrupto, algo
completamente fora da índole do povo brasileiro. É de conhecimento geral que o recurso
de prender os adversários e o isolamento em campos de concentração na Sibéria, Gulags,
etc., matando-os para a vida política, é prática de todos os regimes marxistas, apesar de
ser prova indelével de que a dialética marxista é um sofisma: nunca a Tese eliminando a
Antítese, veiculada por adversários políticos, alcançará a Síntese de tese-antítese.
"Inelegibilidade eterna" é a essência da pena de morte para casos de corrupção em alguns
países, mas não é preciso inventá-la nos países que não a adotam, basta que a
inelegibilidade e a perda de direitos políticos seja eterna, com a proibição de participar de
partidos políticos, nem mesmo como auxiliar administrativo, ou de prestar consultorias.
A História demonstra que anteriormente os corruptos descobertos eram afastados de seus
cargos e retornavam à vida pública tão logo caísse no esquecimento o crime cometido.
Os legisladores, os juristas e os hermeneutas jurídicos se esqueceram de que a Lei 8. 429
prescreve que "a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o

166
exercício do mandato" deve ser "considerada a vida pregressa do candidato". Ora, um ato
de corrupção cometido se torna "a vida pregressa do cidadão" e foi em respeito a esta vida
pregressa que se assistiu a Collor ser inelegível por 8 anos, recuperar seus direitos
políticos, receber de Lula novamente a BR Distribuidora e nela alocar Leoni Ramos, o
mesmo que fora suas mãos para os atos de corrupção nesta empresa em seu período de
governo, e ter a oportunidade de dar continuidade à "sua vida pregressa".

15.1.4.3.15 Poder fiscalizador: conselhos fiscais de


cidadãos apartidários
Há um sistema pró-corrupção em vigência e "o Brasil corre o risco de repetir o que
aconteceu na Itália depois da Operações Mãos Limpas, quando os políticos passaram a
mudar as leis para garantir a impunidade e evitar que continuassem a ser alcançados por
investigações sobre pagamento de propinas". [PCCEAC] demonstra-se o absurdo com
que se convive, o político legisla em causa própria. Há no Congresso, no momento, 200
projetos de lei apresentados em 2015, que demonstram como se constrói a impunidade
com leis.
São leis que procuram estender o foro privilegiado a ex-ocupantes de cargos públicos,
como presidentes da República, impor um prazo máximo de duração para as
investigações. Porém, "nada é mais grave do que a tentativa do próprio governo de
beneficiar as empreiteiras com uma medida provisória que muda as regras do acordo de
leniência, permitindo que eles sejam negociados sem a participação do Ministério Público
[. . . ] e também prevê que a celebração do acordo impede a continuação de ações de
improbidade". [PCCEAC]
Uma solução? Retirar dos políticos a prerrogativa de legislar em causa própria e a favor
da corrupção. A percepção de que o Estado passou a ser considerado um condomínio,
dividindo entre todos os cidadãos, pelo aumento de impostos, os prejuízos causados pela
prática política de condução administrativa da Coisa Pública, e sendo mais fantasioso
esperar que a classe política seja formada apenas de homens íntegros, deve-se propor uma
utopia: a instalação de um Poder Fiscalizador, em analogia com os conselhos fiscais de
condomínios, com a função de propor, e mesmo legislar, as leis que fiscalizam a
administração pública considerando nulas todas as propostas originadas na Certeza
Absoluta de Impunidade ou a construindo e fortalecendo. Deve ser um órgão formado por
cidadãos sem vínculos partidários e com a formação necessária, também eleitos pelo
povo. O que não se pode é continuar convivendo com o fato de que os políticos criam um
sistema pró-corrupção e sejam eles próprios os legisladores que irão garantir uma
impunidade. Pode-se argumentar que o Ministério Público tem como função fiscalizar a
administração pública, mas isto é não perceber a Realidade dos fatos: ou o Ministério
Público não exerceu suas funções ou cedeu aos pedidos dos governantes de não
fiscalização? Não, demonstrou-se que o Ministério Público apenas participa de um teatro,
promovendo atos sem consequências práticas, uma vez que suas recomendações de não
aprovação de contas do governo não foram levadas em consideração e foram aprovadas
as contas públicas que levaram o país ao caos econômico, por voto de liderança.

167
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