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Módulo 2 - Acidentes com armas de fogo

Apresentação do Módulo

Os incidentes ou acidentes de tiro e disparos involuntários ou indesejados


são mais frequentes do que se supõe. A falta de conhecimento no manuseio
e descuidos com regras básicas de segurança e, ainda, a falta de
manutenção, principalmente com pistolas, revólveres e espingardas, levam
a ocorrência de interrupções, acidentes de disparos ou disparos
indesejados.

O índice de incidentes, acidentes de tiros ou disparos indesejados, não é


confiável, pois como muitos não resultam em lesões, não aparecem nas
estatísticas, restando apenas registros daqueles que resultaram em lesões
para o próprio atirador ou terceiros.

Acionamento da tecla do gatilho sem prévia verificação da existência ou não


de munição na câmara; deslocamento com o dedo indicador pressionando a
tecla do gatilho; retirada do cartucho da câmara sem a retirada do
carregador municiado e posterior acionamento do gatilho; dentre outras;
são atitudes que costumeiramente resultam em disparos involuntários.

A ocorrência dessas modalidades de disparos está vinculada a fatores


humanos ou fatores materiais, que podem ou não estar correlacionados.
Especialistas acreditam que atitudes frutos da irresponsabilidade e gestos
inconsequentes, medo, inexperiência, descuidos, falta de concentração,
excesso de confiança e inobservância de regras de segurança, dentre
outros, ocasionam de 70 a 90% dos disparos que podem ser compreendidos
nesta modalidade. Os demais são atribuídos a fatores materiais diretos,
como desgastes nos componentes dessas armas, má conservação, retiradas
de peças – como é muito comum com certas travas de segurança – e,
ainda, quando ocorre a transformação da arma e/ou a utilização de munição
inadequada.

Materializar disparos involuntários é uma tarefa praticamente impossível na


grande maioria das ocorrências, no entanto, na ocorrência de disparos
acidentais deve-se realizar um exame pericial exaustivo na busca de
comprovar o histórico relatado, ou, ainda, demonstrar se a arma apresenta
algum defeito de fabricação, desgaste, ruptura ou ausência de peça ou
mecanismo, que justifique a ocorrência de disparo acidental.

Armas desgastadas, com má conservação ou nas quais se utilizou o


lubrificante inadequado, podem apresentar falhas e defeitos, algumas vezes
momentâneos, que provocam disparos acidentais, como aqueles
ocasionados por queda, mesmo possuindo um eficiente sistema de travas
de segurança, como o caso da pistola “Taurus 24/7”. Nunca se pode
descartar, sem um exame detalhado, em qualquer acidente, a possibilidade
da causa ser por fator material.

Esse será o assunto desse módulo.


Pronto para prosseguir?

Objetivo do módulo

Ao final do estudo desse módulo, você será capaz de:


 Diferenciar incidente de acidente de tiro e disparo involuntário de
disparo acidental;
 Descrever a metodologia de exames nas ocorrências de disparos
acidentais e suas limitações;
 Enumerar as principais causas de disparo acidental;
 Compreender os principais sistemas de segurança utilizados nas
armas de fogo, tanto nas armas de porte quanto as armas portáteis;
 Analisar a legislação brasileira que trata do assunto.
Estrutura do modulo

Aula 1 – Definindo os termos


Aula 2 – Mecanismos de segurança das armas de fogo.

Aula 1- Definindo os termos

1.1 Disparo acidental

Disparo acidental, disparo involuntário, acidente e/ou incidente de tiro são


situações que estão presentes no nosso dia a dia, no entanto os seus
conceitos, em muitas ocasiões, geram dúvidas, confusões ou erros.

Normalmente, entendemos que o fato ou circunstância cuja origem é de


caráter acidental são aquelas produzidas por acaso, uma circunstância
imprevista, cuja probabilidade de ocorrer é totalmente eventual, ou seja,
não habitual, de caráter fortuito. Um acidente é um evento indesejável e
que ocorre de modo não intencional, inesperado, do qual o resultado são
danos pessoais ou materias.

Esse conceito de acidente se confunde com o conceito de involuntário.


Entende-se como involuntário aquilo que acontece independente da
vontade. E ao contrário, voluntário, é alguma coisa que decorre da
vontade, como a realização intencional de determinada ação. Pode-se dizer
que ato voluntário é um ato consciente e que tem uma determinada
finalidade.

É comum a alegação de acidental, por parte de quem efetuou o


disparo, em muitos dos casos de morte ou lesão corporal, justificada
pela não intencionalidade de produzir determinados efeitos. Perceba
que este disparo muitas vezes aconteceu de forma instintiva, sem
deliberação, ou seja, sem vontade, como um reflexo automático e
intuitivo por parte de quem está portando a arma. Neste caso este é
um disparo involuntário, mas não acidental. Na balística forense,
disparo acidental é:

Aquele que acontece sem o manuseio normal do homem.

Se considerarmos o caso hipotético acima, só seria disparo acidental


se o homem não tivesse efetuado intencionalmente o acionamento da
tecla do gatilho.

Desta forma, a conceituação e caracterização de incidente de tiro,


acidente de tiro e disparo acidental são importantes em casos de
vítimas de disparo de arma de fogo, sendo que a análise dos aspectos
técnicos destes eventos é de fundamental importância na busca de
definir o ocorrido.

1.2. Incidente de Tiro

Incidentes são acontecimentos imprevisíveis que provocam uma


interrupção, normalmente inconveniente, modificando o decorrer normal de
uma ação ou fato.

Incidente de tiro também é um acontecimento inesperado e indesejável


que produz uma interrupção na sequência dos tiros, sem que haja danos
materiais e/ou pessoais. São geralmente devidos a falhas mecânicas na
arma ou falhas de naturezas diversas na munição. São dificuldades de
caráter passageiro que após a ação do atirador para sanar o problema,
desaparecem, permitindo que o conjunto arma e atirador estejam aptos a
continuar sua série de disparos.
Os incidentes de tiro, listados a seguir, são exemplos comumente
verificados:
1. Falha no sistema de percussão por pouca pressão do percussor ou
falha da munição em que a espoleta não detonou ou não ocorreu
à queima do propelente;
2. Falha na alimentação, que pode ocorrer por problemas na câmara,
mesa transportadora, por falha na ejeção ou extração, etc.
3. Travamento do tambor que não gira ao ser acionado o gatilho, o
que geralmente ocorre devido a problemas no conjunto impulsor
do tambor e anel dentado do extrator; ocorrendo ainda em função
de uma série de outras causas como haste central empenada,
espoleta saliente (positiva) travando o tambor, entre outras;
4. Não retorno do gatilho à sua posição normal, geralmente em
função de falha no impulsor do gatilho;
5. Não permanência da abertura do ferrolho após o último tiro
(recuado).

Importante!
A maioria dos incidentes de tiro pode ser evitada com manutenção
preventiva da arma, por meio de limpeza e lubrificação adequadas e com o
uso da munição correta e apropriada para cada tipo de arma.

1.3. Acidente de tiro

No acidente de tiro a dificuldade deixa de ser momentânea, pois dele


resultam danos na arma e podem resultar, também, lesões no atirador.
Ocorrendo o acidente de tiro, certamente há uma interrupção dos disparos
para aquele conjunto arma/atirador, pois é característica essencial a
apresentação de danos de ordem material e/ou pessoal.
Os eventos que podem acarretar acidentes de disparos são de natureza
diversa, mas possuem, normalmente, como origem, a trilogia:

ARMA – MUNIÇÃO - ATIRADOR

1.3.1 Exemplos de acidentes de tiro

O exemplo mais comum de acidente de tiro ocorre com munição


recarregada. A recarga de munição exige um controle rígido do tipo e
quantidade do propelente a ser empregado, da massa e diâmetro dos
projéteis, do tipo e capacidade volumétrica dos estojos, da espoleta e,
ainda, todo este conjunto com a arma na qual esta munição será utilizada.
Quando algum elemento desse conjunto apresenta falha de qualquer
ordem, pode ocorrer uma explosão na câmara em função da pressão gerada
pela deflagração do cartucho ter suplantado a resistência da arma antes
que o projétil se desvinculasse do estojo ou no caso de pressão muito
inferior aquela esperada para o cartucho, o que faz com que o projétil fique
retido no cano e, no caso de um outro disparo, leva à ruptura do cano por
excesso de pressão.

Outro exemplo de ocorrência comum verifica-se quando se utiliza munição


imprópria para a têmpera daquela arma. Era comum se verificar explosões
de câmaras de determinados tambores de revólveres de “calibre .38”, mais
antigos, nesta condição. Devido ao lançamento no mercado de cartuchos
“.38 SPL +P”, por industrias, a exemplo da Remington e Winchester, em
janeiro de 1979, a indústria Rossi, produtora de armas nacional, promoveu
o aumento de dureza de seus tambores para resistir ao uso regular de
munições que produziam esse acréscimo de pressão. A indústria Taurus
introduziu a têmpera dos tambores, para o calibre “.38 SPECIAL” em 1º de
novembro de 1979, o que passou a permitir maior resistência a referidas
peças. A têmpera é um processo de tratamento térmico que modifica a
estrutura dos grãos, retendo na estrutura a martensita, acarretando um
aumento da dureza e da resistência à pressão, o que permite o emprego de
cartuchos que geram pressões mais elevadas.

Em armas mais antigas a utilização de cartuchos em nível + P (.38 SPL +P)


pode levar a explosão da arma, associado ainda que em função da idade e
do uso contínuo de qualquer arma de fogo, e ainda a característica peculiar
do esforço a que é submetido o tambor, estes eventos seriam suficientes
para a arma apresentar microfraturas devido à fadiga, o que diminuiria a
sua resistência. (Formulação confusa. Ver se cabe o exemplo abaixo)
Em armas mais antigas, a utilização de cartuchos em nível + P (.38 SPL +P)
pode levar à explosão da arma. Tal utilização, associada, ainda, à idade e
ao uso contínuo e à característica peculiar do esforço a que é submetido o
tambor, é motivo suficiente para a arma apresentar microfraturas devido à
fadiga, o que diminuiria a sua resistência.

Outra situação corriqueira que leva à ocorrência de acidentes de tiro são as


transformações ou alteração do "headspace", (pequeno estrangulamento da
parte anterior da câmara que trava o estojo impedindo o seu avanço, e
permitindo apenas a passagem do projétil) que são produzidas em
determinadas armas de forma a permitir a utilização de munição diferente
da recomendada para a arma. Os exemplos mais corriqueiros desta situação
são a “abertura” do tambor (destruição do “headspace") de revólveres
“calibre .38”, de forma a permitir a utilização de cartuchos de “calibre .357
Magnum”, ou a transformação da câmara de uma pistola “calibre .380 ACP”,
de modo a admitir cartuchos “calibre 9mm Luger”, entre outros.

O emprego de cartuchos recarregados em armas de alma lisa (espingardas)


pode gerar a explosão da câmara ou do cano, dada à utilização de materiais
inadequados no fechamento de cartuchos. Estes materiais vão aderindo à
parede interna do cano, reduzindo o seu diâmetro e provocando,
consequentemente, um aumento de pressão, fazendo com que, em dado
momento, a pressão excessiva dê causa ao rompimento do cano ou sua
abertura, permitindo a projeção do estojo contra o próprio atirador.
Espingardas de antecarga com a utilização de propelentes de queima muito
rápida, como aqueles à base de clorato de potássio, podem dar causas a
acidentes.

Importante!

Quando ocorrer acidente de tiro, as causas e os efeitos devem ser apurados


através de exame pericial, e imputados, na forma da legislação em vigor, a
quem deu origem.

1.4. Disparo Acidental: entendimento da perícia X entendimento da


justiça

Os disparos voluntários ou involuntários sempre requerem a ação direta do


atirador. Nos disparos acidentais não.

Veja um caso comum!

Uma submetralhadora “Taurus MT 12” é uma arma de ferrolho aberto, ou


seja, o cartucho permanece o tempo inteiro no carregador, e o ferrolho
travado a retaguarda até que se acione a tecla do gatilho, momento no qual
o ferrolho é liberado indo à frente; a arma é carregada (o cartucho é
introduzido na câmara) e, em ato contínuo, o cartucho é detonado. Muitas
pessoas, por desconhecerem o sistema de ferrolho aberto, imaginam que o
ferrolho travado à retaguarda implica em um mau funcionamento dessa
arma. Tentando solucionar o problema, acionam o gatilho, que resulta na
ocorrência de disparo indesejado. Esse é um caso clássico de
desconhecimento, de imperícia, e que, em balística forense, é classificado
como disparo involuntário.
Segundo o Perito Criminal Eraldo Rabello (1995) “Tiro acidental de uma
arma de fogo é exclusivamente aquele resultante do disparo eficaz
produzido por essa arma, o qual não teve como causa determinante o
acionamento normal, intencional ou não, do mecanismo de disparo da
mesma”. (Grifo nosso).

Infere-se da definição acima que os disparos acidentais são aqueles


produzidos em circunstâncias anormais, sem o acionamento regular do
mecanismo de disparo, devido a defeitos, falhas ou ausência do mecanismo
de segurança da arma, como no caso de queda de uma arma, ou em
situações atípicas.

Por exemplo, quando a tecla do gatilho é acionada por qualquer objeto,


como um galho ou cordão de apito, que se prendeu a ela durante o
deslocamento de quem conduzia a arma ou ainda nos casos da arma
apresentar o percussor travado quando do fechamento do tambor ou pela
introdução de um cartucho na câmara.

Pelo entendimento jurídico...

...acidente é aquele em que o fato é resultante da ação ou omissão


humana, direta ou indiretamente, em que o agente não quis o resultado ou
nem assumiu o risco de produzi-lo, normalmente levado a efeito por
negligência, imperícia ou imprudência.

Observe que o conceito pericial de tiro acidental aqui apresentado requer


uma constatação material do fato, objetiva, e difere ligeiramente do
conceito jurídico. Desta forma, o caso da “submetralhadora MT12”, quando
analisado somente pelo aspecto jurídico, em face de evidente imperícia, a
qual o operador não queria o resultado, pode ser classificado como disparo
acidental, ao mesmo tempo em que para a balística trata-se de disparo
involuntário.

Assim, uma pessoa que ao brincar com uma arma de fogo não verificou se
ela estava municiada e, a partir deste comportamento produziu um disparo
eficaz, vindo a lesionar alguém; a conduta pode ser classificada como
acidental, pela não intencionalidade da ação, entretanto, somente fatores
de ordem subjetiva, poderão comprovar a involuntariedade ou não da
conduta. Contudo, sob o ponto de vista pericial, seria classificado como um
disparo não acidental, sendo admitido como disparo involuntário.

1.4.1 A perícia em disparos acidentais

Você estudou que para a balística forense, a comprovação ou não de


disparo acidental está limitada à existência dos elementos materiais e à
possibilidade de reproduzir o fato questionado.

Uma das formas de se efetuar uma perícia de disparo acidental começa por
analisar e reproduzir as declarações do autor do fato1 para poder avaliar a
viabilidade ou não dessa declaração. Por exemplo, no caso de queda de
uma arma, é importante saber a altura de queda, o tipo de piso, se ela
encontrava-se solta ou dentro de um coldre, enrolada em flanela, etc.

1
Considerando a importância de se reproduzir os fatos é recomendado que o
histórico da ocorrência seja o mais detalhado possível
Importante!

O exame de local pode definir o ponto do impacto com o piso por meio das
avarias deixadas, bem como, por meio deste, é possível verificar as
manchas de tonalidade enegrecida e formato peculiar verificado no local da
queda, oriundas do escape dos gases pela câmara de ejeção ou no escape
pelo espaço existente entre o final do tambor e o início do cano de um
revólver; como também uma trajetória, quando dessa queda resulta um
ponto de impacto ou uma transfixação e, ainda, a correspondência de
material do piso incrustado na arma.

Embora todos esses fatores sejam considerados na reprodução dos fatos,


geralmente, utiliza-se um aparelho conhecido como Aferidor Balístico de
Segurança para reproduzir a queda da arma. O Aferidor Balístico de
Segurança é um aparelho simples que permite verificar a ocorrência de
disparo acidental por queda e a partir de que altura ela começa a acontecer.
Nele, a arma é colocada e afixada em um suporte, onde um peso, com o
mesmo peso da arma em exame, corre por dentro de um tubo e cai sob a
ação da gravidade, sobre o cão da arma, de distâncias previamente
determinadas, na angulação que mais favorece a ocorrência de disparo
acidental. Neste peso pode ser reproduzido o tipo de piso, além de permitir
afixar a arma dentro de coldres ou envolta em flanelas ou qualquer que seja
o sistema de proteção. No final, o conjunto dos elementos materiais irá
definir pela viabilidade ou não da ocorrência de disparo acidental.
Fotografia 12 – fotografia operada pelo
autor. Nela é visível um aferidor
balístico de segurança, equipamento
que permite simular os disparos
acidentais por queda da arma, de
invenção dos Peritos Criminais Jethro
Oliveira e Luiz Fernando Brenha Costa
do INC-DPF, apresentado em 1981.

Fotografia 12

Importante!

A deflagração do cartucho é praticamente certa se a arma não possui um


mecanismo de segurança que impeça a ocorrência do disparo acidental. Nas
armas que apresentam um sistema de segurança eficiente, por exemplo, do
tipo calço de interposição (barra de percussão) ou similares, é muito remota
a probabilidade de ocorrer tiro acidental por queda da arma.

Outra forma de realizar exames periciais de disparo acidental é pelo exame


detalhado da própria arma.

Algumas vezes disparos acidentais são ocasionados por desgastes nas peças
ou entalhes existentes no sistema de percussão, como abrasões e
polimentos, no intuito de alterar o peso do gatilho, ou por desgaste. Outras,
por defeitos e empenamentos, como, por exemplo, as marcas deixadas na
base dos estojos por um percutor que está saliente e travado dessa forma.
Nesta situação, ao ser fechado o tambor da arma, ou no momento do
fechamento da culatra de uma espingarda, a espoleta de um cartucho
poderá ser percutida e ocasionar o disparo acidental. Nesses casos, o
exame pericial do estojo de cartucho deflagrado, que poderá apresentar um
sulco da base até a espoleta, associado ao percutor travado de forma
saliente, são vestígios suficientes para demonstrar a hipótese de disparo
acidental.

Fotografia 13- fotografia operada


pelo autor. Nela é visível a báscula
de arma de alma lisa com ambos
percutores travados de forma
saliente, o que pode acarretar em
disparo acidental quando do
fechamento dos canos.

Fotografia 13

Uma arma que caiu de cima de uma mesa e desta queda ocorreu um
disparo, que tecnicamente e pericialmente foi classificado como acidental,
não exclui a responsabilidade criminal por culpa (negligência, imprudência
ou imperícia) e nem mesmo a hipótese de dolo eventual.

Importante!

Somente o devido processo legal pode determinar sobre culpa e dolo e a


responsabilidade jurídica de cada ator envolvido no processo.
Aula 2 - Mecanismos de segurança das armas de fogo

Inúmeros sistemas de segurança foram desenvolvidos de forma a reduzir a


possibilidade da ocorrência de disparos acidentais. Desde simples entalhes
ou cortes diferenciados nas peças até sistemas complexos, de maneira que
cada fabricante possui de um a vários sistemas de segurança, o que torna
praticamente impossível a análise de todos estes. Com o passar dos anos, a
eficiência dos mecanismos de segurança passou a ser um dos critérios de
seleção das armas de fogo, de forma que as armas modernas, em sua
maioria absoluta, possuem dispositivos e mecanismos seguros quanto à
ocorrência de disparo acidental.

Importante!

Atualmente a legislação brasileira torna obrigatória a incorporação de


sistemas de segurança que impeçam o disparo acidental por queda e
dispositivo de segurança que dificulte o disparo indevido para todas as
armas fabricadas no país.

2.1. Mecanismo de Segurança dos Revólveres

Antes mesmo da vigência da legislação acima citada, todos os revólveres de


boa qualidade já incluíam nos seus mecanismos, dispositivos que,
independente do acionamento pelo atirador, proporcionavam a proteção
contra a possibilidade de se produzir, com a arma, um tiro acidental. Tais
dispositivos, constituídos por peças ou conjuntos específicos de peças, ou
decorrentes da articulação e do desenho especial de peças não específicas,
funcionam como calços de segurança. Os mais eficientes são os calços de
interposição.
Os revólveres mais antigos não eram dotados de mecanismo de segurança,
uma vez que não havia uma preocupação dos seus fabricantes com a
ocorrência de disparos acidentais. Aos poucos foram sendo introduzidos
sistemas de segurança nos revólveres, sendo o mais conhecido, o sistema
de alavancas ou travas de segurança, que sofreram, com o passar dos
anos, diversas modificações nos sistemas de encaixe e peças com as quais
eram ligadas.

Nos primeiros sistemas adotados no Brasil, a trava de segurança


encontrava-se montada na tampa da caixa de mecanismos e estava ligada
ao impulsor do tambor e indiretamente ao gatilho. Este sistema
apresentava o inconveniente da dificuldade de encaixe da tampa da caixa
durante a manutenção, o que fazia com que a trava fosse retirada da arma.

O calço de interposição é um mecanismo por meio do qual, quando a arma


está desengatilhada (sem o cão estar armado), uma trava se interpõe entre
a parte anterior do cão e o batente na armação. A outra extremidade deste
calço está ligada ao impulsor do gatilho, encaixada em um pino existente na
lateral do impulsor do tambor, como na fotografia ao lado. No momento em
que o cão é armado ou o gatilho é pressionado, o deslocamento do impulsor
do gatilho proporciona o movimento do calço de interposição, o que permite
que o percutor avance e atinja a espoleta. O calço de interposição é um dos
sistemas que mais foi utilizado em revólveres.
Fotografia 15
Fotografia 14

Fotografia 14 e 15- fotografias operadas pelo autor. Nelas são visíveis o


calço de interposição (seta de cor preta) e o impulsor do gatilho (seta de
cor branca). Na foto 14 a arma está desengatilhada se o calço se interpõe
entre a parte anterior do cão e o batente na armação. Na foto 15 o cão
está armado, promovendo o deslocamento do impulsor do gatilho e
gerando o movimento do calço de interposição, o que permite que o
percutor avance e atinja a espoleta.

Outros sistemas foram empregados por diversos fabricantes, geralmente


com a utilização de uma peça acessória para movimentar a trava. Por
exemplo, um dos últimos sistemas adotado pela Indústria Taurus promovia
o movimento da trava de segurança por meio de uma cremalheira denteada
que se encaixava nos dentes existentes na trava.

Um mecanismo de segurança, muito eficiente, com o qual é praticamente


impossível a ocorrência de disparo acidental é o que trabalha com uma
barra de transferência. Neste sistema, a barra de transferência é acionada
diretamente pelo gatilho e está ligada com o prolongamento do gatilho.
Nele, quando a arma está desengatilhada, o cão está em contato com o
batente e afastado do percutor. (foto 16 e 17) Com o acionamento do
gatilho, a barra de transferência se interpõe entre o cão e o percutor,
transferindo a energia recebida do impacto com o cão para o percutor, por
isso o nome barra de transferência.
Fotografia 16 Fotografia 17

Fotografias 16 e 17- fotografias operadas pelo autor. Nelas, é visível a barra


de transferência (seta de cor branca). Na foto 16, a barra de transferência
está se interpondo entre o cão e o percutor. Na foto 17, a barra de
transferência está afastada do cão e esse não atinge o percutor.

Nas armas que apresentem um sistema de segurança do tipo barra de


transferência ou similares, é improvável ocorrer disparo acidental por queda
da arma. Este sistema foi desenvolvido em 1955 e é usado até os dias de
hoje, nos revólveres da marca Iver Johnson; foi usado também nos
revólveres marca Rossi, “calibre .22 L.R.”, modelo Princess (tambor com
sete câmaras), e um sistema semelhante é montado nos revólveres da
marca Taurus, com tambor de cinco câmaras e, a partir de 1977, em todos
os revólveres marca Taurus.
2.2 Mecanismos de segurança das pistolas

O sistema de segurança mais


comum empregado nas pistolas é o
sistema manual de segurança.
Nele, a trava de segurança (foto
18) é acionada por intermédio de
alavanca(s) localizada(s) em um ou
ambos os lados do ferrolho ou da
armação, dependendo do Fotografia 18- fotografia operada
pelo autor. Nela, é visível a alanca
fabricante e do modelo da arma,
da trava de segurança acionada.
com o intuito de travar o percutor
impedindo o seu avanço e
impedindo disparos acidentais.

Outro sistema de segurança que muitas pistolas apresentam tem a função


de impedir o disparo caso o ferrolho não esteja fechado completamente. Da
mesma forma, muitas pistolas têm o seu sistema de percussão travado com
a retirada do carregador ou quando este se encontra mal colocado, além de
sistemas automáticos que somente liberam o avanço do percutor com o
acionamento do gatilho, impedindo disparos acidentais por queda.
Como dito, diversos sistemas de
travas de segurança são montados
em pistolas, desde sistemas que
travam o cão, percussor ou outras
peças responsáveis pelo disparo. Os
mais empregados nos dias atuais são
sistemas que deixam o cão
permanentemente travado, sendo
necessário que uma peça ligada ao
Fotografia 19- fotografia operada pelo
gatilho (impulsor da trava do autor. Nela é visível a trava do
percussor) promova o deslocamento percussor assinalada pela seta branca.

da trava quando do acionamento do Para ocorrer o disparo é necessário


pressionar aquela trava para que possa
mecanismo de disparo. (foto 19)
ocorrer o deslocamento do percussor.

Existem pistolas com travas automáticas, com travas de armadilha e com


trava que atua sobre a tecla do gatilho (GLOCK). Sua trava de segurança
externa fica localizada no gatilho, sendo uma pequena lingueta que
sobressai em sua frente. Para ser disparada, deve-se apertar a lingueta
juntamente com o gatilho, em um único movimento.
Há também travas que atuam sobre a
peça de articulação ou sobre o tirante
do gatilho, deslocando-o para uma
posição neutra, geralmente, neste
sistema, com a retirada do carregador

Fotografia 20- fotografia operada


a arma desativa a articulação entre o
pelo autor. Nela é visível a trava cão e a tecla do gatilho. Muitas destas
que atua sobre a tecla do gatilho, pistolas possuem a trava de
impedindo o seu movimento.
empunhadura ou trava de punho,
localizada em posição anterior ou
posterior, na empunhadura, como as
pistolas do modelo COLT (1911) foto
20, a pistola “HK P7”, entre muitas
outras.

Nestes modelos, a liberação do mecanismo de disparo só ocorre quando for


exercida uma pressão sobre a trava de punho. A “HK P7” possui uma trava
externa à frente do cabo que, ao ser comprimida quando se empunha a
arma, a engatilha, fazendo com que todos os seus disparos sejam efetuados
em ação simples. Ao ser afrouxada a empunhadura, ela é desarmada, não
podendo atirar.
Fotografia 21- fotografia operada
pelo autor. Nela é visível a trava de
empunhadura ou trava de punho.

Fotografia 21

Uma preocupação observada por muitos fabricantes, no caso da pistola ser


de percussão indireta, é a de fazer o percutor retrátil ou um pouco mais
curto do que seu alojamento no bloco da culatra, de sorte a mantê-lo
retraído mesmo quando o cão estiver apoiado sobre ele. Este fato não
prejudica a eficiência da percussão, pois o percutor avança por inércia
(percutor inercial), com suficiente força viva para detonar a espoleta ao
receber a batida do cão.

2.3. Mecanismo de segurança das armas portáteis

O sistema manual de travas de segurança, no qual o percutor é travado e


destravado por ação manual, é comum nas armas portáteis. Desde os fuzis
de tiro unitário ou de repetição, como o fuzil Mauser, os Fuzis Remington
700, Winchester modelo 70, que possuem alavancas ou botões de comando
para travar ou destravar o sistema de percussão até os modernos fuzis de
assalto, nos quais uma das posições da alavanca seletora de tiro é a posição
de segurança. As carabinas e fuzis de assalto são geralmente dotados de
sistema de segurança que impede o disparo quando o ferrolho não está
completamente fechado.
O mesmo sistema manual é
observado nas submetralhadoras e
carabinas modernas como as
Taurus/Famae, Imbel,
submetralhadora “HK MP5”, “Taurus
MT12A”, dentre outras, no qual a
alavanca seletora de tiro pode ser
posicionada na posição de segurança
Fotografia 22- fotografia operada
travando o percussor. A antiga
pelo autor. Nela é visível a alavanca
metralhadora da indústria nacional seletora de tiro com as posições S e
INA apresentava um botão com as F e a trava de empunhadura ou
trava de punho.
posições (S) de segurança e (F) para
quando estava apta para realizar
disparos. O mesmo sistema pode ser
observado na submetralhadora UZI
na foto número 22.

As submetralhadoras “Beretta 912”,


“Taurus MT 12ª” e a “Taurus MT 12”
possuem a trava de punho, localizada
a frente da empunhadura, que não
permite o disparo sem que esteja
acionada. Foto número 23.

Fotografia 23- fotografia operada


pelo autor. Nela é visível a trava de
empunhadura ou trava de punho.
As mesmas travas manuais também
são encontradas nas estruturas das
espingardas de repetição, da Boito,
CBC, Benelli dentre outras. Como
também, nas espingardas de tiro
unitário, é comum verificar a
existência de um botão para travar Fotografia 24- fotografia operada
pelo autor. Nela é visível a o botão
ou destravar a arma. No caso das
seletor da trava de segurança.
espingardas mochas (sem cão
aparente), quando se basculhava os
canos, o ejetor propiciava a retirada
dos estojos deflagrados, os
percutores eram armados e, com o
fechamento da culatra, a arma
automaticamente era travada;
sendo necessário destravar,
acionando a trava manual para
efetuar disparos.

Algumas espingardas e carabinas possuem uma posição intermediária para


o cão na qual ele permanece sem tocar no percutor.

Mesmo já tendo estudado, é importante salientar que a legislação brasileira


obriga que as armas aqui produzidas sejam dotadas de mecanismo de
segurança conforme Portaria No 07, do Departamento Logístico do Exército
Brasileiro, Ministério da Defesa, de 28 de abril de 2006:
Capítulo 2 Dos Dispositivos de Segurança

Art. 2° Entende-se por dispositivo intrínseco de segurança de uma


arma de fogo a peça ou conjunto de peças, que faça parte da arma com
essa finalidade específica.

Art. 3° Todas as armas de fogo fabricadas no país deverão incorporar


dispositivo intrínseco de segurança, que impeça o disparo acidental por
queda, nas condições previstas em normas do Exército.

Art. 4° As armas de fogo fabricadas no país ou importadas deverão


incorporar dispositivo intrínseco de segurança, que dificulte o disparo
indevido.
Finalizando...

Nesse módulo, você estudou que:

 Disparo acidental é aquele que acontece sem o manuseio normal do


homem, ou seja, sem que ele efetue o acionamento do gatilho.
 Incidente de tiro também é um acontecimento inesperado e
indesejável que produz uma interrupção na sequência dos tiros, sem
danos materiais e/ou pessoais.
 Acidente de tiro é o evento, no qual a dificuldade deixa de ser
momentânea, pois dele resultam danos na arma e podem resultar,
também, lesões ao atirador.
 O conceito pericial de tiro acidental requer uma constatação material
do fato, objetiva, e difere ligeiramente do conceito jurídico. Para a
perícia os disparos acidentais são aqueles produzidos em
circunstâncias anormais, sem o acionamento regular do mecanismo
de disparo, devido a defeitos, falhas ou ausência do mecanismo de
segurança da arma. Para a justiça, acidente é aquele em que o fato é
resultante da ação ou omissão humana, direta ou indiretamente, em
que o agente não quis o resultado ou nem assumiu o risco de
produzi-lo, normalmente levado a efeito por negligência, imperícia ou
imprudência.
 Somente o devido processo legal pode determinar sobre culpa e dolo
e a responsabilidade jurídica de cada ator envolvido no processo.
 Uma das formas de se efetuar uma perícia de disparo acidental
começa por analisar e reproduzir as declarações do autor do fato,
para poder avaliar a viabilidade ou não dessa declaração. Outra
forma de realizar exames periciais de disparo acidental é pelo exame
detalhado da própria arma.

 Atualmente a legislação brasileira torna obrigatória a incorporação de


sistemas de segurança que impeçam o disparo acidental por queda e
de dispositivos de segurança que dificultem o disparo indevido para
todas as armas fabricadas no país. (Portaria No 07, do Departamento
Logístico do Exército Brasileiro, Ministério da Defesa, de 28 de abril
de 2006)

Exercícios

1) Dada as situações abaixo, qual delas não poderia ser classificada,


segundo a conceituação Criminalística como disparo acidental:

a) A arma disparou por ter caído de cima de um móvel, onde fora


colocada.
b) A arma disparou ao cair do coldre da pessoa que a portava, em
virtude de movimento brusco.
c) A arma disparou por ter-se prendido a sua tecla do gatilho a um
obstáculo qualquer quando era transportada.
d) A arma disparou após o acionamento da tecla do gatilho pelo seu
usuário na tentativa de desarmar o “cão”.

2) Assinale com (V) as alternativas verdadeiras ou (F) as falsas:

a) (V) Incidente de tiro é um acontecimento inesperado e indesejável


que produz uma interrupção na sequência dos tiros, sem danos
materiais e/ou pessoais.
b) (V) São dificuldades de caráter passageiro que após a ação do
atirador para sanar o problema, desaparecem.
c) (F) No incidente de tiro a dificuldade não é momentânea, pois
resultam danos na arma e podem resultar, também, lesões no
atirador.
d) (F) Ocorrendo o incidente de tiro, certamente há uma interrupção
dos disparos para aquele conjunto arma/atirador, pois é condição
essencial a ocorrência de danos de ordem material e/ou pessoal.

3) Assinale dentre as afirmativas abaixo a única alternativa falsa:

a) Os disparos acidentais são aqueles produzidos em circunstâncias


anormais, sem o acionamento regular do mecanismo de disparo, devido a
defeitos, falhas ou ausência do mecanismo de segurança da arma, como no
caso de queda de uma arma.

b) Os disparos voluntários ou involuntários sempre requerem a ação


direta do atirador.

c) Disparo acidental de uma arma de fogo é exclusivamente aquele


resultante do disparo eficaz produzido por essa arma, o qual não teve como
causa determinante o acionamento normal, intencional ou não, do
mecanismo de disparo da mesma

d) Disparo acidental no conceito criminalístico é aquele em que o fato


é resultante da ação ou omissão humana, direta ou indiretamente, em que
o agente não quis o resultado ou nem assumiu o risco de produzi-lo,
normalmente levado a efeito por negligência imperícia ou imprudência.

4) Um disparo que ocorreu quando do fechamento da câmara (caixa de


mecanismo) de uma espingarda que apresentava o percussor saliente e
empenado deve ser considerado como:

a) acidente de tiro

b) incidente de tiro

c) disparo involuntário

d) disparo acidental

5) A utilização de dispositivos de segurança que dificulte o disparo


acidental por queda e dificulte o disparo indevido é :

a) uma obrigação prevista na legislação em vigor;


b) uma medida de segurança adotada há muito pela maioria dos
fabricantes;
c) composto por peça ou conjunto de peças, que fazem parte da arma
com essa finalidade específica.
d) todas as anteriores.
Gabarito:

1-D

2-VVFF

3-D

4-D

5-D

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