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Hoje vamos ver a diferença entre bem principal e acessório. Os artigos 92 a 103
não foram vistos na ordem hoje, mas a professora optou pela ordem abaixo pelo
didatismo.
Para sabermos, deve-se notar o ângulo do qual estamos observando o bem. Uma
casa pode tanto ser considera um bem principal quanto acessório, a depender da
perspectiva: ao compará-la com uma janela que nela está contida, ela é o bem
principal; ao compará-la com o terreno no qual ela se situa, ela é o acessório.
O mais importante neste momento é que, ligado a essa divisão dos bens, temos
um princípio expresso do Direito Civil que carregamos durante todo o curso: “o
acessório segue o principal”. É um princípio relacionado aos bens, mas que é
carregável para outros ramos do Direito Civil. Numa locação, provavelmente
temos, atrelada a ela, a fiança e as obrigações inerentes ao fiador. A locação é o
contrato principal, enquanto a fiança é a garantia, que tem um caráter acessório.
Se a locação for alterada, a fiança também será. Logo, usaremos o mesmo
raciocínio deste princípio, que é ligado a bens, para outros ramos do Direito
Civil, como os contratos e obrigações.
Art. 92
CAPÍTULO II
Dos Bens Reciprocamente Considerados
Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência
supõe a do principal.
Art. 96 e benfeitorias
§ 1o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o
tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
§ 3o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.
Voluptuárias;
Úteis;
Necessárias.
Vejamos: Foi uma medida necessária. Logo, devemos ver o motivo pelo qual foi
usada a piscina. Neste caso, portanto, ela ficou configurada como bem útil. Antes
disso, ela poderia ter sido voluptuária, ou também útil, se o dono a usava não
apenas para embelezar seu quintal.
Vamos lá à frente do Código, para os artigos. 1219 e 1220, que ficam no Livro III
(Direito das Coisas), Título I, Capítulo III.
O art. 1219 traz a figura do possuidor de boa-fé. O locatário de apartamento
alugado não é proprietário, mas possuidor de boa-fé. A pergunta é: se o locatário
fizer benfeitorias no apartamento, ele deverá ser ressarcido?
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem
como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da
coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Haverá ressarcimento quando forem feitas benfeitorias dos dois primeiros tipos:
necessárias e úteis. Caso Dona Benta, que alugou um quarto para Visconde de
Sabugosa, não queira pagá-lo pelas benfeitorias úteis e/ou necessárias que ele
fez no quarto, o Código Civil diz que, sendo possuidor de boa-fé, ele terá o direito
de retenção do valor, como compensação dos valores gastos nas benfeitorias.
Note a parte final do artigo.
O art. 1220 trata do possuidor de má-fé. Digamos que Marquês de Rabicó, que
apesar de ainda na posse, está deixando de pagar o aluguel do imóvel onde mora,
que pertence a Dona Benta, configurada a má-fé, caso ele faça benfeitorias, o que
acontecerá?
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o
direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
O comum é que as partes coloquem no contrato de locação o que será feito com
as benfeitorias.
Se o locatário/possuidor for ora de boa-fé, ora de má-fé? Neste caso, deve-se
observar momento em que ele se comportou com boa-fé e com má-fé.
Frutos
Há também os frutos civis, que tratam-se dos institutos que são considerados
frutos pelo Código Civil. O contrato de locação é o contrato principal. Atrelado a
ele há a fiança e o aluguel. Este é considerado um fruto civil acessório, pois
obviamente só pode haver aluguel se houver um contrato de locação. Os juros,
como já vimos, também são frutos civis; a correção monetária idem. Olha a
corrente: juros e correção --> aluguel --> contrato de locação. Aqui, para
determinar os bens principais e acessórios, devemos fazer comparações dois a
dois: primeiro, tomamos os juros e o aluguel. Só pode haver juros se houver
aluguel, logo aquele é o acessório e este é o principal. Já quando comparamos o
aluguel com o contrato de locação, este será o principal enquanto aquele o
acessório, pois não é possível haver aluguel sem contrato de locação.
Parece tudo besteira, mas esses termos são usados em contratos, e muitos nem
têm idéia de como essa classificação, apesar de decoreba, é tão simples.
Art. 95
Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de
negócio jurídico.
O que o Código quer dizer neste artigo é que não precisa haver a separação entre
o bem principal e o bem acessório. Já se pode fazer o que se chama de venda
futura. Os frutos e produtos já podem ser negociados mesmo não estando
separados do bem principal. É um artigo importante para negócios agrícolas e
lotes negociados na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros).
Art. 97
Este artigo diz quais serão as pessoas legitimadas a fazer benfeitorias no bem
principal:
Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a
intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.
1. Proprietário: indiscutível.
2. Possuidor: também podem, conforme os artigos que 1219 e 1220, que
acabamos de ver.
3. Detentor: é o que há de diferente. Está ligado ao contrato de depósito. Para
entendê-lo, visualizem uma casa. Não emprestamos a casa, mas queremos
que a pessoa tenha a guarda dela. Depósito se liga a guarda. Em geral,
quem está nesse posto é o caseiro. O caseiro é possuidor de boa-fé. Quando
o Código Civil falar em detentor, ligue esse termo imediatamente ao
contrato de depósito, por isso ele tem a guarda. Isso significa que, em
relação a tudo o que o caseiro fizer em relação àquela propriedade, temos
que analisar segundo o comportamento do art. 1219. Ele pode levantar as
benfeitorias voluptuárias e pode exercer o direito de retenção em face das
necessárias e úteis.¹
Depositário infiel: esta polêmica figura, que inclusive tem sido tema de debate
constitucional, é o ente exatamente atrelado a esse contrato de depósito: a
pessoa sabe que está na guarda do bem e que tem que devolvê-lo. Se não sair, a
prisão civil terá ensejo, apesar de que a discussão sobre a constitucionalidade
dessa prisão, especialmente pelo Brasil ser signatário da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica).
Arts. 93 e 94
Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro,
ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.
Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o
contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.
Falam de pertenças. Antes de falar delas, olhe a observação: pertença é algo não-
essencial. A janela de uma casa é essencial, logo ela, que é acessório, segue o bem
principal que é a casa.
Tudo o que for não-essencial, ou seja, aquilo que se pode viver sem, será
chamado de pertenças. Quadros, televisão, fogão, sofá, etc. Quando falávamos
em bem de família, vimos que há certas propriedades que se livram da execução
de certas dívidas. De acordo com a lei 8009, a casa e as pertenças ficam
protegidas. Observação: caso o proprietário da casa possua duas geladeiras,
apenas uma está protegida.
Observação: imaginem uma fábrica. Deve-se ver qual(is) da(s) máquina(s) é(são)
a(s) essencial(is). Se a fábrica for vendida, as não-essenciais serão consideradas
pertenças, enquanto as essenciais serão consideradas bens acessórios.
Art. 98 e bens públicos
CAPÍTULO III
Dos Bens Públicos
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Primeira conclusão a tirar do artigo: a doutrina civilista diz que, para chegar ao
conceito de bem particular, devemos primeiro saber o que é bem público. O que
sobrar será bem particular. O conceito de bem particular virá, portanto, em
caráter de exceção.
Art. 99
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de
direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às
pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.
Último inciso:
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de
direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido
legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem.
Pode-se cobrar para entrar numa praia? Por que certas rodovias têm pedágio?
Note o termo bens de uso comum. Podem ser gratuitos ouretribuídos.
Bens públicos dominicais: podem ser imóveis ou móveis. Podem ser um direito
real ou pessoal. Vamos entender isso. A União, o município e o estado têm seus
credores. Ao pagar à União, por exemplo, com uma hipoteca, o dinheiro desta foi
recolhido pela União. O governo também pode ser pago através desse dinheiro.
O dinheiro é bem móvel. Em vez de dar o dinheiro, o devedor pode chamar
alguém para pagar em seu nome; essa pessoa será o fiador, que entregará
dinheiro. Essa é uma garantia pessoal. A doutrina diz que para chegar à
categoria de bens dominicais, devemos ir por exclusão. Vemos primeiro o que é
da coletividade, depois o que é do serviço público e só então classificamos o bem
como dominical.
Se alguém possui uma ferrovia que não serve para o transporte público, mas
apenas para o transporte de minério, o dono pode entregá-la ao Estado. Ela não
é de uso comum, nem de serviço público, mas coisa, de uso real. Tudo que o
Estado recebe mas não usa para serviço público nem para a coletividade é bem
dominical.
Art. 100
Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto
conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Significa que apartamento funcional não pode ser vendido; primeiramente ele
deve se transformar em bem particular. Esse instituto do Direito é
denominado desafetação. Então, precisa-se primeiro realizar a desafetação para
então vender o apartamento. Ou seja, torná-los particulares.
Art. 102
usucapião
u.su.ca.pi.ão
s m+f (lat usucapione) Dir 1 Meio de adquirir o domínio da coisa, pela sua posse
continuada durante certo lapso de tempo, com o concurso dos requisitos que a
lei estabelece para este fim. 2 Prescrição aquisitiva do direito de propriedade da
coisa móvel ou imóvel.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei.