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ADORAÇÃO
Rev. Héber Carlos de Campos*
Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos... (Jo 4.22)
Para Calvino, a base da adoração espiritual e pura dos gentios é a vinda deles para a
verdadeira fé e para um conhecimento sadio da Palavra de Deus. A verdadeira
adoração deve ser baseada no verdadeiro conhecimento de Deus. Calvino diz: E é
necessário sempre começar com este princípio — conhecer a Deus a quem adoramos. 1
Passando e observando os objetos do vosso culto, encontrei também um altar no qual está
escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer , é
precisamente aquele que eu vos anuncio (At 17.23).
Na verdade, eles não estavam prestando a Deus uma verdadeira adoração. Eles
estavam querendo ficar bem com qualquer Deus que existisse. É impossível adorar a Deus
verdadeiramente sem saber quem Ele realmente é. A adoração será defeituosa na medida
em que desconheçamos Aquele a quem cultuamos. Por essa razão, Paulo começou a
explicar aos varões atenienses algumas coisas sobre Quem era o Deus verdadeiro (At
17.24-28).
Jesus Cristo fez a mesma observação com respeito aos samaritanos. Quando a
mulher samaritana disse que era no monte Gerizim, e não em Jerusalém que se devia
adorar, Jesus a repreendeu ensinando-lhe algumas coisas a respeito do culto. Uma delas é
que o culto é espiritual; e outra, é que a verdadeira adoração pressupõe que o adorador
conheça aquele a quem adora (Jo 4.22-24).
Jo 16.1-2 - Tenho-vos dito estas cousas para que não vos escandalizeis. Eles vos
expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso
prestar culto a Deus.
Esse foi um dos pecados cometidos por Paulo. Ele perseguia e matava os cristãos
em nome de Deus, porque ele realmente não conhecia o Deus, a quem ele adorava.
Quando falhamos em conhecer a Deus, cometemos torpezas no culto a Deus, em nome de
Deus. Então, Jesus mostra, de maneira inequívoca, a razão do procedimento errado
quanto ao culto: o desconhecimento de Deus. Ele disse em Jo 16.3 - Isto farão porque
não conhecem o Pai, nem a mim.
Após terminar uma maravilhosa explicação aos Romanos sobre quem Deus é,
Paulo não pôde conter-se, e expressou-se numa forma de profunda adoração, dizendo:
Via de regra, muitos cultos dos tempos modernos tentam entreter mais do que
adorar. Quando a adoração centraliza-se em nosso entretenimento mais do que nos
atributos e nas realizações de Deus, ela passa a ser antropocêntrica. Ou seja, o adorador
passa a receber mais importância e atenção do que aquele que é adorado.
A chamada "ortodoxia fria" leva a uma obsessão pelos dados intelectuais sem expressão
em amor, humildade, caridade, boas obras, e genuína adoração. Os emocionalistas são
como os que dizem "obrigado" muitas vezes, sem saber exatamente a razão. 4
3 Michael Scott Horton, Putting Amazing Back into Grace, (Nashville: Thomas Nelson Publishers,
1991), p. 61.
4 Horton, op. cit. pp. 62.
Tem havido um certo desequilíbrio na expressão do culto a Deus em muitas
congregações locais, onde a fé é entendida erroneamente por ambas as posições acima. A
doutrina Protestante da fé envolve três elementos: conhecimento, assentimento e
confiança.
Um outro aspecto que tem que ser levado em conta na adoração cristã é a
distância que existe entre o Adorado e seus adoradores.
Quando você conhece a Deus verdadeiramente, você logo perceberá que existe:
Herman Hanko disse que "a adoração congregacional é a mais alta expressão do
pacto gracioso com Seu povo. É esta verdade do pacto que determina que o temor do
Senhor deva controlar completamente o serviço de adoração da Igreja." 7
A reunião pública é uma reunião que revela as relações pactuais entre Deus e os
homens. Contudo, essas relações de amizade entre o Adorado e os adoradores não devem
5 Por várias vezes estou usando a expressão "os chamados ortodoxos" porque eles não são, na
verdade, ortodoxos. A palavra ortho significa "correto" e doxa significa "adoração". Uma pessoa com fé
ortodoxa dá a glória ou a adoração correta a Deus, sendo, na verdade, um verdadeiro adorador.
6 Horton, op. cit. p. 62.
7 "The Fear of the Lord in Worship", in Worship in the Presence of God, op cit. p. 21.
ser motivo para se pensar que os adoradores podem fazer o que quiserem nas reuniões de
culto ao Adorado pelo simples fato de que Ele os trata com amizade pactual.
Há duas coisas muito importantes que devem ser consideradas nessa idéia de
conversação pactual, mas que não eliminam as diferenças entre Deus e seus adoradores:
1) Há uma distância quantitativa entre Deus e Seus Adoradores
É importante que se tenha em mente que quando nos aproximamos de Deus, para
responder em fé à sua convocação para a adoração, ainda persiste uma grande distância
entre os adoradores e Aquele que é o "objeto" do nosso culto.
Guarda o teu pé quando entrares na casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que
oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua
boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque
Deus está nos céus, e tu na terra; portanto sejam poucas as tuas palavras. 8
Deus é santo e nós somos pecadores. A despeito de sermos regenerados pelo Santo
Espírito, ainda apresentamos sinais visíveis de nossa depravação, inclusive em nossa
manifestação cúltica. A corrupção herdada ainda se revela na maneira imperfeita e impura
de nossa adoração. Temos a tendência de pensar que somos iguais a Ele, e que a noção
que recebemos de Sua paternidade diminui essa distância qualitativa entre nós e Ele. Isso
não é verdade. Ele é santo, não somente separado dos pecadores — majestaticamente —
mas também por ser ética e moralmente limpo.
A conversação entre Deus e seus adoradores, portanto, deve ser santa. Por essa
razão, no culto, devem estar presentes as Palavras do Senhor.
Num sentido estrito, Deus é o primeiro a falar no culto, quando convida os homens
pecadores para O adorarem. O Salmista diz no Sl 65.3-4:
Deus mesmo traz os homens para o Seu santo templo para que estes O adorem.
Estes são pecadores perdoados, mas ainda pecadores. Essa idéia deve sempre permear
nossa adoração. Ele é o santo Deus que toma a iniciativa ao falar a Sua Palavra e, então,
nós, os homens, pecadores perdoados, respondemos às santas palavras de Deus com as
palavras de fé que retiramos da própria Escritura.
Quando o elemento da santidade de Deus fica perdido na nossa adoração, ela deve
ser fortemente condenada. Se perdemos este elemento, temos perdido um aspecto central
do culto, que é o respeito a um Deus quantitativa e qualitativamente superior a nós.
O escritor aos Hebreus nos chama a atenção para este fato quando diz:
Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a
Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo
consumidor (Hb 12.28-29).
Estas noções não estão presentes na maioria dos cultos prestados a Deus. As
reuniões das inovações litúrgicas são tão cheias de irreverência que perdem em
formalidade até para reuniões sociais que as pessoas fazem nas suas atribuições normais
como cidadãos. Quando as pessoas tratam com as autoridades deste mundo, elas ainda
têm uma certa postura que as diferencia de uma conversação com um seu igual, mas com
Deus a conversa é destituída de qualquer cerimônia, reverência ou santo temor.
Nossos atos de culto freqüentemente se iniciam com uma saudação mais ou menos
como esta: "Como está você nesta noite?" ou "Está todo mundo contente hoje?", ou "Oi,
pessoal, tudo bem aí?" ou "Bom dia para todos". Hanko diz que através de saudações
como estas "a congregação nem mesmo é conscientemente levada à presença de Deus;
muito menos são as pessoas inspiradas com o senso de reverência que deve permear
aqueles que entram na presença de Deus." 10 Estas expressões que trazem Deus ao nível
dos adoradores pecadores, usadas por inovadores litúrgicos, desvestem Deus de sua
majestade, desvestem o culto de sua santidade, e desvestem os adoradores de sua
seriedade.
Hanko diz que a falta de temor a Deus "é que , em grande medida, explica o baixo
padrão de moral, a mundanidade e a carnalidade, a loucura do prazer e a perversão ética,
que caracterizam os nossos tempos. " 11 A falta de temor a Deus, que tem caracterizado a
presente geração de adoradores, tem produzido uma adoração sem qualquer senso de
reverência ao Adorado.
É assim que deveríamos nos sentir e nos portar diante dEle na hora de adoração. É
o Santo que está entre nós no culto. Mas quando o adorador "assume uma atitude de
familiaridade, quando ele fala a Deus como se fosse um seu igual, sem qualquer
semelhança de admiração e reverência em sua voz e palavras nas suas comunicações com
o santo Deus, ele se torna profano e blasfemo." 12
A nossa oração é para que Jesus nunca venha a dizer de você que adora a Deus, o
mesmo que Ele disse da mulher Samaritana: “Vós adorais o que não conheceis...”