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AS FACÇÕES NO MARANHÃO E SUAS DISTINTAS FASES HISTÓRICAS

Luiz Eduardo Lopes Silva54

A FRAGMENTAÇÃO DA JUVENTUDE PERIFÉRICA LUDOVICENSE NOS


ANOS 1990 E 2000
Quando paramos para analisar a história da violência nos anos 1990 em São
Luís e observamos como se organizava a juventude periférica da época, vemos um
cenário totalmente fragmentado, onde gangues de bairros diferentes se enfrentavam
regularmente. A juventude periférica encontrava-se dividida em pequenas gangues, que
se agrupavam em torno de siglas que nasciam normalmente a partir da identificação da
juventude com a sua quebrada. Esses grupos se utilizavam principalmente da pichação
para demarcar seus territórios e divulgar a sigla da sua galera pela cidade: “A fase de
maior desenvolvimento da pichação em São Luís, na década de 1990, foi aquela em que
se colocava o nome do pichador e a sigla de sua galera” (COSTA, 2015, p. 59). Dias
(2009, p. 114), destaca alguns dos grupos:

Já na década de 1990 surge uma nova “leva” de galeras no estado. São as


galeras de pichadores como: Garotos da Bota Preta, do bairro da Alemanha;
Pichadores Rebeldes (P.R.), da Macaúba; MC, do Bequimão; Detonadores de
Rua (D.R.), da Liberdade; Garotos Geração2000 (G.G. 2000), da Areinha; NJ,
do João Paulo, etc.

Essa “leva de galeras” de meados dos 1990, como apontou Dias (2009),
funcionava como uma articulação da juventude a partir da identificação com fenômenos
culturais, como a dança, a música e a pichação. Dias também ressalta a
“uniterritorialidade” dessas galeras, pois a identificação com os bairros de origem é o
traço fundamental dessa geração.
De início essas rivalidades entre galeras não representavam grande ameaça as
forças de segurança. Mas com o passar do tempo, essas rivalidades se acirraram, e nos
finais dos anos 1990 e início dos anos 2000, com a entrada massiva dos mercados ilegais
de drogas e de armas em São Luís, esses conflitos se tornaram cada vez mais violentos e

Doutorando em Educação pela Universidade Federal Fluminense – UFF


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Professor da Universidade Federal do Maranhão – UFMA (Campus de Pinheiro)


Atualmente desenvolvendo uma pesquisa sobre a guerra das facções no Maranhão analisada a partir do
proibidão, sob orientação do Professor DR. Ronaldo Rosas Reis.
E-mail: edu_lsilva@hotmail.com
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pulverizados. Como Dias demonstra, o recrudescimento da violência entra essas galeras


gerou um cenário de pulverização total da violência, dividindo um mesmo bairro em
pequenos grupos. Ele analisa profundamente o caso do Bairro da Liberdade. Dias aponta
que a pulverização e o recrudescimento da violência dentro do bairro, inicia-se em 1998.
A esse processo ele chamou de “Guerra interna”.

Na última década (1998/2008) há uma significativa redução do número de


galeras de rua, o que, entretanto, não implicou redução da violência entre a
juventude pobre, pelo contrário, nossa constatação é de que essa violência
cresceu astromicamente na última década em decorrência da instalação da
“guerra interna” nas comunidades pobres (DIAS, 2009, p. 121).

Nas periferias mais distantes, pelo menos no Maiobão, a guerra entre gangues
de pichadores se estendeu até 2005 pelo menos. Teixeira (2007, p. 31), em sua pesquisa
de campo no Bairro do Coroadinho, realizada nos anos de 2005 e 2006, também
encontrou um cenário fragmentado, de um bairro dividido em pequenas gangues:

Segundo o Instituto da Infância (IFAN), que atua no Pólo Coroadinho, existem


aproximadamente nove gangues no Coroadinho, totalizando 108 jovens
envolvidos, conforme pode ser observado na tabela 1 abaixo :

GANGUES NÚMERO ESTIMADO DE JOVENS


01 Grupo sem denominação (Rua
15
do Muro)
02 Grupo sem denominação (Vila
10
Conceição)
03 KVF – Keimadores da Vila dos
10
Frades
04 GVF – Galera da Vila dos Frades 11
05 KDM – Kebradores do Morro 18
06 ODA – Detentores da Área 11
07 CN – Comando Negro 11
08 OM – Organizadores da Mente 12
09 MS – Mensageiros Satânicos 10
TOTAL 108
Tabela 1. Número estimado de jovens por gangues – Coroadinho - 2005
Fonte: Relatório da Pesquisa Gangues em São Luís – IFAN 2004 (apud. TEIXEIRA, 2007, p. 31).

Mesmo que a periodização de Dias não possa ser generalizada


automaticamente para todos os bairros, ele constata o que é essencial nesse momento,
demonstrando como a juventude periférica em ascensão desde os anos 1980, caiu numa
espiral violenta onde o inimigo estava cada vez mais perto. Primeiro rivalizando entre
gangues de distintos bairros, até explodir numa guerra interna ao próprio bairro, no caso,
o bairro da Liberdade.
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Dessa forma, as pesquisas de Teixeira, Dias e Costa apontam para um cenário


de violência e fragmentação em pequenos grupos da juventude periférica ludovicense até
2008, ano em que Dias encerra sua pesquisa de campo no Bairro da Liberdade. É
interessante notar que Dias tem a oportunidade de registrar, sem saber, o fim desse
período da Guerra interna, porque logo depois, a partir da grande Rebelião de 2010 em
Pedrinhas, as facções começam a atravessar os muros da penitenciária e alcançam as
quebradas reconfigurando a dinâmica da violência nos Bairros.

O ENCARCERAMENTO EM MASSA, O SURGIMENTO DAS FACÇÕES NO


MARANHÃO E A RECONFIGURAÇÃO DA VIOLÊNCIA NAS RUAS DE SÃO
LUÍS

Gráfico: População carcerária brasileira 1990-2016 em milhares.


Fonte: DEPEN.

O encarceramento em massa presente pelo menos desde os anos 1990 se


acelera significativamente no início dos anos 2000. A Nova Lei de Drogas de 2006
contribuiu sobremaneira para que o tratamento punitivista direcionado aos pobres se
aprofundasse ainda mais. Sabemos que o encarceramento em massa e o fortalecimento de
um estado penal são políticas típicas do neoliberalismo, conforme demonstra Wacquant
(2008). Dias (2009) em sua pesquisa demonstrou acertadamente como essas políticas
neoliberais, de punição dos pobres e criminalização da juventude negra e periférica, foi
implementada no Maranhão, especialmente a partir da década de 1990.
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O encarceramento em massa é, portanto, o principal responsável pelo


crescimento das facções no país. Entretanto, diferente do pensamento corrente,
alimentado cotidianamente pela mídia, o surgimento das facções no Maranhão não se dá
pelo mero processo expansionista das facções do Sudeste do país. O que não significa que
queremos negar a evidente expansão que tais facções, especialmente CV e PCC,
empreenderam nos últimos anos. Contudo, quando analisamos a gênese das facções que
hoje atuam no Estado, observamos que o fio condutor inicial é a rivalidade que organizava
o mundo do crime em Pedrinhas (principal presídio do Estado), que, antes das facções, se
encontrava dividido entre detentos da capital e detentos do interior55. Essa rivalidade,
explica em boa medida o surgimento das duas primeiras facções que guerrearam no
Maranhão: o PCM e o Bonde dos 40.
Dessa forma, nossa pesquisa, ao analisar um farto material existente que
inclui principalmente funks proibidões das facções maranhenses, mas também um amplo
material produzido pela imprensa e também resultado de levantamentos de campo,
conseguiu delinear três fases da história das facções no Maranhão: a primeira (anterior a
2010) é marcada pela rivalidade entre presos oriundos dos municípios do interior
Maranhense e presos da capital do Estado, essa fase é anterior ao processo de
faccionalização. Essa rivalidade culminou na institucionalização de duas organizações
opostas, iniciando assim a segunda fase (2010-2016), com a guerra entre o PCM, Primeiro
Comando do Maranhão, criado dentro do cárcere pelos presidiários do interior, e seu rival
o Bonde dos 40, facção criada pelos presos da capital que se organizaram para se opor ao
PCM. Mais tarde, entre o fim de 2014 e os meses iniciais de 2015 o PCM experimentaria
um violento racha na região da Cidade Olímpica (e bairros próximos como Vila Riod,
Santa Clara e Vila Magril), onde nasceria uma dissidência que formou o C.O.M,
Comando Organizado do Maranhão.
Essas três facções: PCM, C.O.M e B.40, se digladiariam na capital
maranhense até o ano de 2017. Quando inicia a terceira e atual fase desse processo, onde
houve a suprassunção desses respectivos grupos estaduais pelas facções de alcance
nacional. Isso ocorreu devido à ruptura da aliança a nível nacional das duas maiores
facções do país: CV e PCC em outubro de 2016, que levou a um banho de sangue nos
presídios em várias regiões do Brasil. O rompimento da aliança histórica CV e PCC,
reconfigurou a guerra de facções no Estado do Maranhão. O PCM que contava com o

55
É preciso lembrar que o Complexo Penitenciário de Pedrinhas, localizado na Zona Rural de São Luís,
concentrava e concentra ainda hoje a maioria esmagadora dos presos de todo o Estado do Maranhão.
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apoio de ambos (CV e PCC) acabou se dissolvendo e seus membros aderiam


massivamente ao CV, uma menor parte aderiu ao PCC. O Bonde dos 40 por sua vez,
mantém sua sigla, mas se alinhou a A.D.A, Amigos dos Amigos, do Rio de Janeiro. O
C.O.M ainda nos primeiro meses de 2017 também se dissolveria enquanto sigla e
abraçaria a bandeira do CV, se reunificando com seus antigos inimigos do PCM. Segue
abaixo a linha do tempo que revela o histórico de alianças e rivalidades das facções no
nosso Estado:

LINHA DO TEMPO DAS FACÇÕES NO MARANHÃO

Fluxograma das alianças entre facções no Maranhão construído a


partir da análise do proibidão e outras fontes.

Assim a partir de 2010, com o encarceramento em massa e o surgimento das


instituições de autorregulação do crime no Maranhão, a violência da juventude periférica
nas ruas se reconfigura: a rivalidade das ruas passa a ser substituída paulatinamente pela
rivalidade predominante no cárcere, isto é: capital versos interior.
As organizações surgidas no Maranhão nos fins da primeira década dos anos
2000: PCM e B.40 formam-se inspirados nas experiências das organizações pioneiras
surgidas nas cidades do Rio de Janeiro (em fins dos anos 1970) e de São Paulo (início da
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década de 1990). Quando, a partir de uma luta de classes renhida no cárcere, surgem as
primeiras instituições de autorregulação e autodeterminação no mundo do crime,
respectivamente Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC).
Definimos facções como instituições de autorregulação e autodeterminação no mundo
do crime, a partir de uma leitura de conjunto da ampla literatura acumulada sobre esse
universo (FELTRAN, 2018; DIAS, 2013; BIONDI, 2018; MARQUES, 2010; LESSING,
2008; MATTOS, 2016), entre outros. A nosso ver, demonstra-se, mediante processos
metodológicos diversos, que as facções são agentes estabilizadores no complexo unitário
cadeia-favela, pois funcionam como mediadoras de conflitos nessa rede de sociabilidade.
Especialmente entre os indivíduos diretamente vinculados ao mundo do crime, mas não
somente. Composta em suas bases, majoritariamente, por jovens pobres periféricos, as
facções, enquanto instituição dessa fração de classe, encarnam um programa político de
luta contra o Estado, numa articulação a partir da prisão, e enxergam como legítima e
desejável a ascensão social pelo crime. Dentre diversas funções desse tipo de instituição,
a autorregulação se dá mediante a vigilância para que os contratos firmados entre
parceiros numa empreitada criminal sejam cumpridos, o que inaugura novas formas de
sociabilidade, encarnando um novo padrão ético-político baseado na autodeterminação
que reivindica um modelo de “proceder” na vida do crime. Facções rivais, estupradores,
delatores, dentre outros execráveis, são considerados inimigos por representarem de
alguma forma a negação radical a esses parâmetros autoestabelecidos por essas
instituições.
Dessa maneira, o Bonde dos 40, como instituição do mundo do crime da
capital, encontrou facilidade em se espalhar pelas quebradas de São Luís, especialmente
pela sua periferia antiga, isto é, aquela que surgiu e se consolidou até os anos 1980.
Enquanto com o PCM, naturalmente se dá o oposto: rapidamente se espalha pelas
quebradas do interior do Estado, tendo pouquíssima penetração nos bairros da periferia
antiga ludovicense. Na Capital, o PCM só consegue se estabelecer massivamente nos
bairros da periferia recente, isto é, aqueles surgidos (ou que foram densamente povoados)
a partir da década de 1990. Esse processo é bastante interessante, pois nos mostra que o
mapa das facções na Ilha, tem a ver com a história da ocupação de seu território.
Percebemos na nossa pesquisa, que há um choque entre a periferia antiga e a periferia
recente da Ilha, ao mapear as quebradas do Bonde dos 40 e do PCM principalmente a
partir dos proibidões, mas também de observações de campo e levantamento na imprensa.
Assim constatamos que as quebradas que sofreram processo de ocupação e se
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consolidaram até a década de 1980 tem uma forte tendência a ser um território do Bonde
dos 40. Enquanto as quebradas surgidas a partir dos anos 1990, ou que só foram
densamente povoadas a partir dessa época, tem uma tendência a ser um território do PCM.
Nos bairros da periferia antiga mais próxima ao centro, as quebradas aderiram
massivamente ao Bonde dos 40, tais como: Liberdade, Madre-Deus, Macaúba, a maior
parte da Areinha, Coréia de Cima e de Baixo, Codozinho, Monte Castelo, Bom Milagre,
Fé em Deus, João Paulo, Coroado, Barreto, Salinas, Sacavém, etc. Do outro lado da
Avenida dos Africanos, o Bonde também é hegemônico no Bairro do Coroadinho,
dominando a maior parte de suas principais localidades, a exemplo do Morro do Zé
Bombom, Morro do Alecrim, Pocinha e Bom Jesus. A adesão de todos esses bairros a
sigla B.40 significou um apaziguamento de rivalidades presentes em inúmeras dessas
quebradas. Rivalidades históricas foram deixadas de lado quando a maioria dessas
quebradas aderiram a mesma instituição de autorregulação e autodeterminação do crime.
Poucas quebradas da periferia central (portanto mais antiga) aderiam ao PCM, são elas:
o Bairro da Alemanha (com exceção da Rua 4), uma parte da Areinha, e a maior parte do
Bairro de Fátima56. O PCM domina ainda uma parte do Coroadinho (especialmente a Vila
Conceição e proximidades).
Entretanto, o PCM se difundiu rapidamente na periferia recente e distante,
especialmente na Zona Rural de São Luís e suas proximidades, em bairros como: Estiva,
Vila Samara, Coqueiro, Tajaçuaba, Andiroba, Santa Barbara, Vila Funil, Vila Airton
Sena, Vila Real, Vila Magril, Santa Clara, Cidade Olímpica, Vila Riod, Vila Apaco,
Matinha, J. Lima, entre outros. No Munícipio de Ribamar temos a presença do PCM em
bairros como: Vila Alcione, Sarnambi, Vila Julinho, Rua do Mangue. Esses Bairros de
São José de Ribamar que eram redutos do PCM vão aderir ao PCC quando o PCM se
dissolve em fins de 2016. Todos estes bairros do PCM são muito distantes do Centro, e
são também bairros de ocupação recente, nem todos surgiram necessariamente na década
de 1990, mas todos se adensaram popularmente a partir dessa época. São bairros que
ocupam as terras que estão a Leste do enorme quadrante formado pela BR 135 e pela
rodovia MA 201 (Estrada de Ribamar). Isto é, o “fundão” das periferias Leste e Sudeste
da Ilha, que formam o enorme “cinturão vermelho” da periferia recente de São Luís (visto
que essas quebradas, em sua maioria, vão aderir ao CV após a dissolução do PCM e
C.O.M em fins de 2016 e início de 2017, respectivamente). Portanto, o que percebemos

56
Posteriormente, por volta de 2017, o Bairro da Camboa vai rachar com o Bonde dos 40 e vai aderir a
bandeira do CV. Por enquanto estamos dando ênfase apenas aos bairros que são “originalmente” PCM.
161

é que a rivalidade dentro da cadeia entre presos da capital e presos do interior do Estado,
nas ruas de São Luís se traduziu na guerra entre a periferia antiga contra a periferia
recente. Possivelmente por essa periferia recente, por resultar de processos migratórios
ainda em andamento, manter fortes laços com as cidades do interior, seja no cárcere, seja
na rua.
Na região Itaqui-Bacanga, território de ocupação antiga que se adensou
popularmente até os anos 1980, a hegemonia do Bonde dos 40 também se faz presente,
em ambos os lados da Avenida dos Portugueses: Anjo da Guarda, Fumacê, Vila Mauro
Fecury 1 e 2, Tamancão, Vila São Luís, Vila Dom Luís, Vila Nova, Vila Verde, Vila
Isabel e Vila Bacanga, são bairros dominados pelo Bonde dos 40. Neste lado da Avenida,
na região Itaqui-Bacanga, os únicos territórios dominados pelo PCM são as localidades
da Prohab e do Alto da Vitória. Do outro lado da Avenida dos Portugueses, sendo também
territórios de ocupação antiga, a hegemonia do B.40 também se faz sentir: Sá Viana,
Piancó, a maior parte da Vila Embratel e Gapara, são territórios do Bonde dos 40. Com
exceção da Rua do Arame (Vila Embratel) e algumas ruas do Gapara que aderiram ao
PCM e hoje são territórios do CV.
Saindo do centro de São Luís e seguindo pela Ponte “São Francisco” no rumo
do Bairro homônimo, a hegemonia do Bonde também se faz presente em toda região do
“São Chico” (como dizem nos proibidões do B.40). Além do Bairro do São Francisco o
B.40 domina também a Ilhinha e Residencial Ana Jansen (um pequeno residencial feito
para abrigar moradores que estavam anteriormente instalados em palafitas na região da
Ilhinha e Lagoa da Jansen). Seguindo pela Avenida dos Holandeses (região nobre da
cidade, com poucos bairros periféricos) apenas a Vila Conceição do Altos do Calhau é
domínio do PCM (com a dissolução do PCM em fins de 2016 essa quebrada vai aderir ao
PCC, contrariando a tendência da maioria das quebradas do PCM que após dissolução da
sigla vão aderir a bandeira do CV). Outros Bairros periféricos nessa região da avenida
dos Holandeses são pertencentes ao Bonde dos 40: Olho D’água, Vila Luizão, Divinéia,
Sol e Mar, Araçagi e Turu são os principais deles. Seguindo a Avenida dos Holandeses a
Hegemonia do Bonde dos 40 também se faz presente até o município da Raposa.
No eixo da Avenida dos Franceses, o domínio do PCM se restringe, além do
Bairro da Alemanha já citado anteriormente, uma parte da Vila Palmeira, especialmente
a região das palafitas das margens do Rio Anil (também de ocupação recente)57. Outros

57
Que também vão aderir ao CV em fins de 2016.
162

Bairros da região são predominantemente Bonde dos 40. Levando em conta os bairros do
mesmo lado da Avenida dos Franceses em que se encontra a Vila Palmeira, temos: outra
parte da Vila Palmeira que é dominada pelo B,40. Assim, como: Santa Cruz, Anil (e
arredores), Vila Lobão (atrás da rodoviária), Santo Antônio, Pirapora, etc. Do outro lado
da Avenida dos Franceses a hegemonia do B.40 também se confirma: Barreto (um dos
principais redutos do Bonde dos 40), Jordoa, Salinas, Sacavém, etc.
Nos bairros no entorno da Avenida Jerônimo de Albuquerque, a hegemonia
do Bonde dos 40 está presente também na maioria deles, como: Vinhais, Bequimão
(incluindo o Cantinho do Céu), Angelim, Maranhão Novo, Cohab (incluindo o entorno:
Vila Isabel Cafeteira e Basílio) e Cohatrac (incluindo o entorno: Trisidela, Itapiracó, etc.).
No Bequimão, temos talvez o mais aberrante exemplo da luta entre periferia recente e
periferia antiga, pois todo o Bairro é dominado pelo Bonde dos 40, com exceção de uma
pequena localidade chamada de “Poeirão”, que são prédios abandonados e inacabados
que foram recém ocupados por famílias de baixa renda numa busca desesperada por
moradia. Em toda aquela região, somente essa pequena ocupação recente é dominada pelo
PCM, posteriormente o “Poeirão” também vai aderir ao CV, a exemplo da maioria das
quebradas do PCM.
O que ressaltamos aqui é a descoberta de uma tendência e não de uma lei
rígida. Ou seja, não quer dizer que todos os bairros antigos de São Luís são Bonde dos 40
e muito menos que todos os bairros recentes são PCM. Mas é fato que essa tendência está
presente no mapa das facções em São Luís. Por exemplo, mesmo nas periferias distantes,
porém antigas, isto é, que foram densamente povoadas até a década de 1980, são
predominantemente pertencentes ao Bonde dos 40, é o caso de Maiobão e Cidade
Operária, mesmo que sejam vizinhos aos bairros da periferia recente dominados pelo
PCM.
O fato de ter crescido no Maiobão, periferia metropolitana de São Luís, me
deu um ponto de vista privilegiado sobre essa questão. Ser jovem ou pré-adolescente no
Maiobão nos anos de 1990 significava conviver com a violência de gangues juvenis, que
rivalizavam entre si e protagonizavam cenas de violência nos espaços onde transitava a
juventude do Bairro: nas Escolas, nos espaços de lazer como praças, bares e festas, etc..
O Maiobão é um bairro surgido e densamente povoado nos anos 1980, situa-se na
periferia metropolitana de São Luís, mais precisamente no município de Paço do Lumiar.
Rapidamente esse Bairro amalgamou ao redor de si uma complexa rede de comunidades,
e a juventude que nelas habitavam, passaram com o tempo a se organizar em gangues
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estruturadas em torno da identidade com a “quebrada” à qual pertenciam, dentre às


inúmeras que compunham o Complexo do Maiobão. Assim, a RP (Ratos do Paranã) do
Conjunto Paranã, rivalizava com a HCD (Herdeiros do Comando Destruidor) do Tambaú.
Ainda havia GC (Garotos do Canto) da Vila Nazaré, FK (Fantasmas da Kiola) da Vila
Kiola Sarney e muitas outras. Esse cenário fragmentado, dominado por esses grupos
pequenos e pouco articulados, também se fazia presente em outros bairros na mesma
época, como demonstrando acima nos estudos de Teixeira, Costa e Dias citados
anteriormente. Dessa maneira o caso do Maiobão não é singular no concernente a essa
fragmentação entre gangues. Entretanto, essas rivalidades internas ao Maiobão, que
atravessaram o final dos anos 1990 alcançando meados da primeira década do século
XXI, foram paulatinamente sendo substituídas pela hegemonia da facção Bonde dos 40
em todo o Bairro. Assim, se é verdade que a guerra faccional elevou o número de
homicídios exponencialmente em São Luís especialmente a partir de 2010, também é
verdade que houve lugares onde as facções, institucionalizando regras e condutas no
mundo criminal, aplainaram e pacificaram rivalidades entre diversas quebradas por toda
a Ilha. Não é nenhuma novidade, no campo de pesquisa sobre violência, constatar que as
instituições criadas pelo próprio mundo do crime, são capazes de pacificar territórios,
diminuindo drasticamente o índice de homicídio. Pesquisas como as realizadas por Biondi
(2018) e Feltran (2018), entre outros, constataram algo parecido ao analisar a pacificação
promovida pelo PCC em muitas quebradas da periferia paulista, chegando a reduzir em
10 vezes o índice de homicídios em algumas áreas. Existiu assim no Maiobão em poucos
anos a transição de um cenário fragmentado dominado por pequenas gangues para a
hegemonia completa de uma só organização, que não poderia mais ser considerada uma
gangue juvenil, pois possui estrutura, organização e objetivos muito mais complexos, mas
é composta majoritariamente pelo mesmo sujeito sócio-histórico: a juventude moradora
do Complexo do Maiobão.
Porque isso aconteceu? Conforme expusemos até aqui, essa juventude dívida
em gangue, uma vez atingida em cheio pelo processo de encarceramento em massa, se
reorganizou a partir da rivalidade existente no cárcere maranhense. Assim, dentro da
cadeia, a rivalidade entre gangues do Paranã com as gangues da Vila Nazaré ou Tambaú
fazia pouco sentido, visto que os grupos que hegemonizam o cárcere se organizavam a
partir de outros critérios. Dessa forma, o encarceramento em massa produziu um cenário
propício para que essa juventude periférica criminalizada outrora organizada em
pequenos grupos fragmentados, pudesse se organizar em apenas duas siglas majoritárias
164

resultantes da rivalidade predominante na cadeia durante esse período. Assim observamos


como o encarceramento em massa e o processo de criação das instituições de
autorregulação e autodeterminação do crime reconfiguraram a violência nas ruas de São
Luís. Notamos claramente a partir desse fenômeno que o encarceramento massivo dos
pobres produz uma continuidade entre a cadeia e a favela, por isso, caracterizamos acima
cadeia e favela como um só complexo unitário. Pois o que acontece em um polo dessa
relação reflete no outro. Desvendar o processo de formação das facções é trazer a lume a
dialética cadeia-favela que forma a sua gênese, cuja violência é configurada e
reconfigurada, transformando as formas organizativas da juventude periférica
criminalizada e remodelando a violência que daí decorre.

REFERÊNCIAS

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