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Definição:
José Afonso da Silva, citando Firmín Morales Prats, define o habeas data como o
remédio constitucional que tem por objeto proteger a esfera íntima dos indivíduos
contra: (a) usos abusivos de registros de dados pessoais coletados por meios
fraudulentos, desleais ou ilícitos; (b) introdução nesses registros de dados sensíveis
(assim chamados os de origem racial, opinião política, filosófica ou religiosa, filiação
partidária e sindical, orientação sexual etc.); (c) conservação de dados falsos ou com
fins diversos dos autorizados em lei.
Alexandre de Moraes, por sua vez, define o habeas data como o direito que assiste a
todas as pessoas de solicitar judicialmente a exibição dos registros públicos ou
privados, nos quais estejam incluídos seus dados pessoais, para que deles se tome
conhecimento e se necessário for, sejam retificados os dados inexatos ou obsoletos
ou que impliquem em discriminação.
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Habeas data e dados sigilosos: inaplicabilidade da ressalva contida no art. 5º, XXXIII,
da CR/88. Esse dispositivo constitucional não trata de informes pessoais, mas de
dados objetivos, acerca de outros assuntos porventura de interesse particular ou de
interesse coletivo, o que o distingue do dispositivo que trata do habeas data, este sim,
dizendo respeito a registros ou banco de dados relativos à pessoa do impetrante.
Assim, não há como se negar ao impetrante o acesso a esses mencionados registros
ou banco de dados, alegando-se sigilo em virtude da imprescindibilidade à segurança
da sociedade ou do Estado, o que se veda é o repasse dessas informações a
terceiros. Nesse sentido, é o entendimento do prof. Alexandre de Moraes. Também a
profa. Maria Sylvia Zanella di Pietro, quando afirma que embora o dispositivo (art. 5º,
XXXIII) assegure o direito à informação de interesse particular ou de interesse
coletivo, ele não se confunde com a informação protegida pelo habeas data, que é
sempre relativa à pessoa do impetrante, com a particularidade de constar de banco ou
registro de dados. E ela complementa acrescentando que o direito à informação
decorrente do art. 5º, XXXIII, da CR/88, e que se exerce na via administrativa, é mais
amplo e pode referir-se a assuntos dos mais variados como o conteúdo de um parecer
jurídico, de um laudo técnico, de uma informação constante do processo, de uma
prova apresentada em concurso público, do depoimento de uma testemunha etc.; não
se refere a dados sobre a própria pessoa do requerente; e pode ter por finalidade a
defesa de um interesse particular, como, por exemplo, o exercício do direito de petição
perante a própria Administração Pública, ou a defesa de um direito individual perante o
Judiciário, ou de um interesse coletivo, como a defesa do patrimônio público. Já o
habeas data, continua Di Pietro, assegura o conhecimento de informações relativas à
própria pessoa do impetrante; e o objetivo é sempre o de conhecer e retificar essas
informações, quando errôneas, para evitar o seu uso indevido. Ela conclui esta parte
da sua exposição sobre o tema do habeas data, com as seguintes afirmativas: 1. o
direito à informação de interesse particular ou coletivo (art. 5º, XXXIII), se negado pela
Administração, deve ser protegido pela via judicial ordinária ou pelo mandado de
segurança e não pelo habeas data; 2. o mesmo direito pode ser exercido de forma
ampla, com ressalva para as informações “cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado”; essa restrição não se aplica no caso do habeas data, que
protege a própria intimidade da pessoa. Essa conclusão decorre do fato de que o
inciso LXXII do artigo 5º não contém a mesma restrição inserida na parte final do
inciso XXXIII. Di Pietro traz ainda a lume a informação de que, infelizmente, outro foi o
entendimento adotado pela Consultoria Geral da República nos pareceres SR13, de
17.10.86 e SR 71, de 06.1088, publicados, respectivamente, na RDA 166/139 e no
Diário Oficial da União de 06.10.88, p. 19.804. Convém mencionar ainda o
entendimento do prof. Celso Ribeiro Bastos, a esse respeito. Segundo o referido autor,
não há que se confundir o instituto do habeas data com o previsto no art. 5º, XXXIII,
em que a Constituição assegura a todos o direito de receber informações dos órgãos
públicos. Aqui, afirma o prof. Celso R. Bastos, trata-se de o indivíduo ter acesso
àquelas informações que dizem respeito à atuação administrativa. São múltiplas as
situações em que o cidadão tem interesse em saber das intenções, dos propósitos,
dos planos, das metas de um administrador. São estes assuntos os contemplados
pelo inciso XXXIII. Este nada tem que ver com a obtenção de informações pessoais. E
acrescenta o prof. Celso R. Bastos que, embora o inciso fale em informações de seu
interesse particular, isto obviamente não significa informações sobre si mesmo. Estas
são próprias do habeas data. É óbvio também que esta medida não pode ser utilizada
para desvendar o estado atual de diligências administrativas ou de investigações
policiais. É necessário que as informações constem de registros ou banco de dados.
É, portanto, aquela informação armazenada, fichada, catalogada que não se confunde
com aqueles conhecimentos que a Administração pode possuir sobre alguém como
meio legítimo de levar adiante a atuação administrativa. Além do mais, ressalta o
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referido professor, ser necessário atentar-se que os dados hão de ser pessoais, é
dizer, definidores da situação da pessoa nas diversas searas da existência. E cita
como exemplos: religião, ideologia, situação econômica, profissional, hábitos sexuais.
O prof. Celso R. Bastos assinala que se não houver uma séria justificativa a legitimar a
posse pela Administração destes dados, eles serão lesivos ao direito à intimidade
assegurado no inciso X do art. 5º da Constituição. Ele arremata esta parte da sua
exposição com afirmativa de que, em princípio, não há possibilidade de registro
público de dados relativos à intimidade da pessoa. E que seria um manifesto contra-
senso que houvesse o asseguramento constitucional do direito à intimidade, mas que
concomitantemente o próprio Texto Constitucional estivesse a permitir o arquivamento
de dados relativos à vida íntima do indivíduo. Um pouco mais adiante na sua
exposição, o prof. Celso R. Bastos afirma que a retificação de dados deve ser
entendida amplamente para incluir a sua própria supressão, quando se tratar de
informações pertinentes à vida íntima da pessoa. Havendo de se observar, ainda, a
pertinência dos dados pessoais com as finalidades legalmente definidas do órgão
coletor. E continua com a afirmativa de que é preciso reconhecer-se que o possuir
dados pessoais, embora úteis em determinados campos da atuação administrativa,
como é o caso da atividade policial, ainda assim esta posse há se ser vista sempre
como algo excepcional, e é por isso que o controle nunca poderá se limitar apenas a
levar a efeito uma correção de dados errôneos. Terá de entrar no mérito da posse
daquela qualidade de dados.