Sunteți pe pagina 1din 60

ECLESIOLOGIA

Capítulo 1
NOÇÕES GERAIS SOBRE A IGREJA

TERMOS BÍBLICOS PARA DENOTAR A IGREJA

Tanto o VT como o NT usam termos com uma conotação


semelhante para descrever aqueles com quem Deus trabalha,
chamando-os para Si, para fazerem parte de um povo especial com
quem Ele especialmente se relaciona.
Termos usados no VT - Há duas palavras hebraicas que
servem como pano de fundo para o entendimento do conceito de
igreja no VT.
qehal - esta palavra “denota propriamente uma reunião
onde verdadeiramente se reune todo o povo.1
‘edhah - esta palavra indica propriamente “uma reunião
por meio de designação, e quando se aplica a Israel, denota a própria
sociedade formada pelos filhos de Israel ou por seus cabeças
representativos, estando ou não reunidos em assembléia.” 2 Esta é a
palavra mais comum em Êxodo, Levítico, Números e Josué, mas está
totalmente ausente em Deuteronônio, e aparece muito raramente nos
livros posteriores.3
É por essa razão que, frequentemente encontramos essas
expressões hebraicas tÙadA( lÛah:q - qehal ‘edhah - juntas em vários
textos como Ex 12.6; Nm 14.5 e Jr 26.17.
A palavra hebraica LhQ comumente traduzida como
“congregação” em nossas versões, na LXX é traduzida como
e)kklhsi/a nos livros de Josué, Juízes, Samuel, Reis, Crônicas,
Esdras e Neemias. Também o é no livro de Deuteronômio, exceto uma
vez, quando aparece o termo sunagwgh/. Contudo, em Gênesis,
Êxodo, Levítico e Números, o termo qahal é uniformemente traduzido
na LXX como sunagwgh/. Nesses livros do Pentateuco qahal denota o
1 Louis Berkhof, Teologia Sistematica, (Grand Rapids: TELL, 1981), 662.
2 Louis Berkhof, Teologia Sistematica, (Grand Rapids: TELL, 1981), 662.
3 Ibid., 663.
2

povo em sua capacidade coletiva, enquanto nas outras partes do


Velho Testamento esse termo é usado para denotar a assembléia do
povo de Israel, congregado para um propósito definido, ou os
representantes da nação. É curioso que em Êxodo, Levítico e
Números, ‘edah é usado com esse propósito antes do que qahal. No
livro de Salmos, qahal é traduzida na LXX como e)kklhsi/a, exceto no
Sl 40.11, onde sunagwgh/ é usado.4

Termos usados no NT -

A ESSÊNCIA DA IGREJA

PARA A IGREJA CATÓLICA


Desde os dias de Cipriano de Cartago até o tempo da
Reforma Protestante, a ênfase da Igreja Católica foi na organização
visível e externa. A igreja visível e externa é que está associada a
Jesus Cristo, não a interioridade e a santidade dela.
A noção de communio sanctorum quase veio a desaparecer,
porque a força da igreja estava na ecclesia docens (a igreja docente) e
não na comunhão de todos os crentes. Estes últimos eram somente a
ecclesia audiens (a igreja que ouve), que chegava para ouvir sem
entender praticamente nada do que se fazia no culto. A ênfase estava
na externalidade e no poder da igreja, e o laço de união entre a
organização externa e a unidade visível é o colégio de bispos.
Na verdade, segundo o conceito romano de igreja, a igreja
de fato é a ecclesia docens, porque os que ensinam é que participam
dos privilégios mais gloriosos, enquanto que a ecclesia audiens só
participa da igreja de um modo mais indireto. Aqui se reforça o
conceito de que esta última é filha da primeira, sendo, portanto a
mater fidelium. A igreja que ensina é que gera a igreja que recebe os
ensinamentos.
Segundo Berkhof, a definição de igreja segundo o
catolicismo atual é “a congregação de todos os fiéis, que havendo sido
batizados, professam a mesma fé, participam dos mesmos
sacramentos, e são governdos pelos seus pastores legítimos, debaixo
de um cabeça visível sobre a terra.” 5

PARA A IGREJA ORTODOXA


A Igreja Ortodoxa Grega não difere em muito do conceito
Católico. Contudo, há alguns pontos que merecem nota: a Igreja

4 Veja Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, (Grand Rapids: Reformed


Free Publishing Association, 1985), 563.
5 Berkhof, Teologia Sistematica, 671.
3

Ortodoxa “não reconhece a Igreja Católica Romana como a verdadeira


igreja” , mas acaba fazendo a mesma coisa que os de Roma fazem:
6

Eles arrogam para si mesmos o direito de serem a única igreja


verdadeira. Ainda que se recusem a aceitar a autoridade do bispo de
Roma, os Ortodoxos acabam fazendo a mesma coisa com o seu chefe
espiritual; ainda que que difira em alguns sentidos de Roma, a Igreja
Ortodoxa coloca muita ênfase na organização externa da igreja,
através de uma hierarquia fortemente preservada, antes que na
comunhão dos santos.
Teólogos ortodoxos definem a igreja como “um corpo
fundado por Deus, composto daqueles indivíduos que têm aceitado e
daqueles que aceitam através da fé batismal em Cristo, guardados
num modo ortodoxo.” A exclusividade da Igreja Ortodoxa, segundo
7

seus defensores, não é a mesma dos católicos, mas eles também não
abrem mão da salvação fora dos limites da igreja. “Assim a igreja é o
único instrumento desejado por Deus para a salvação do homem e,
consequentemente, não há salvação fora da mesma. Extra ecclesiam
nulla salus.” 8

Existe uma tristeza patente na Igreja Grega Ortodoxa


porque ela tem sido esquecida no Ocidente, onde predominou o
Catolicismo que, posteriormente, no século XVI, dividiu-se
novamente dando origem ao Protestantismo. Referindo-se à Igreja de
Roma, o teólogo ortodoxo diz:
“Aquela igreja estava para ser quebrada, por razão de uma série
de inovações que contraditaram os fundamentos bíblicos da Igreja
Una. A Igreja Ortodoxa Grega permaneceu o que era, a parte imutável
da Igreja não-dividida...As Igrejas Protestantes formadas
recentemente pareceram ter-se se esquecido totalmente da
verdadeira existência da Igreja Grega...Assim, a Igreja Una foi deixada
isolada, lutando e esquecida. Assim, ela não tinha tido nenhuma
oportunidade de intervir no tempo daquele conflito, e guiar o novo

6 Ibid, 672.
7 Hamilcar Alivisatos, “The Holy Greek Orthodox Church”, em The Nature
of the Church, editado por R. Newton Flew, (New York: Harper & Brothers, 1952), 41-42.
8 Alivisatos, 43. Contudo, Alivisatos coloca uma nota de rodapé, após essa
citação: “A teologia Grega-Ortodoxa não concebe o sentido deste axioma tão
exclusivamene quanto o da Igreja Católica Romana, mas no sentido de economia divina.
Deus deu a única Igreja para a salvação do homem, mas ninguém, nem mesmo a igreja,
pode dispor de Sua própria vontade para a salvação de outrem fora da Igreja, visto que
Deus deseja que todos os homens sejam salvos e que venham ao conhecimento da
verdade (1Tm 2.4). A salvação, portanto, daqueles que estão fora da igreja é algo além do
conhecimento e da vontade da igreja. A autoridade de sua unidade conduz naturalmente
à sua exclusividade, mas a sua experiência do cuidado salvador de Deus conduz a uma
confiança em que Ele cumprirá as coisas que não podem ser cumpridas pela
igreja.”(Ibid.)
mundo Protestante de volta para a ainda parte intacta da igreja não-
dividida.” 9

PARA A IGREJA PROTESTANTE


Como era de se esperar, a igreja Protestante, tanto nos
círculos Luteranos como nos Calvinistas, reagiu contra o
externalismo do Catolicismo, dando uma ênfase maior à communio
sanctorum. Para os Reformadores, tanto os de primeira geração como
os demais, a igreja era composta dos que criam e que eram
santificados em Cristo Jesus, a quem estão unidos vitalmente sendo
Ele o Cabeça e Chefe da igreja.
A Definição de Igreja dada pela tradição Calvinista
enfatiza o coetus electorum, a assembléia dos eleitos:
“A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do
número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e
dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo,
seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele
que cumpre tudo em todas as cousas.” 10

Os luteranos da ortodoxia escolástica também aceitam a


idéia do corpus electorum (corpo dos eleitos), mas a ênfase deles
repousa mais sobre a realidade da fé e da obra da graça do que nos
decretos eternos. 11

Semelhantemente ao Luteranos, os Calvinistas rejeitam a


tradição Católica Romana do papa como o cabeça visível da igreja.

A DOUTRINA DA IGREJA NA HISTÓRIA

(Hoeksema, 564)

PERÍODO PATRÍSTICO
Este período inclui os pais apostólicos e os apologistas,
assim como até o tempo de Agostinho. Sempre viram a igreja como
communio sanctorum, mas não demorou muito para que algumas
alterações aparecessem demonstrando algum tipo de heresia
eclesiológica, já na segunda parte do séc.II. Nesse período já
começava aparecer a idéia de que não existia salvação fora da igreja,
conceito esse que foi desenvolvido posteriormente. À medida que
estudamos a patrística podemos perceber que a idéia de igreja ainda
não era bem clara e definida.

9 Alivisatos, 50-51.
10 Confissão de Fé de Westminster, XXV,1.
11 Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek Theological Terms, (Grand
Rapids: Baker, 1986), 76.
5

Irineu, por exemplo, “sustentou que na igreja todos os


tesouros da verdade estão depositados; fora da igreja estão somente
os ladrões e roubadores, os reservatórios de águas poluídas, —
referindo-se, obviamente, aos que professavam ser cristãos, mas que
não estavam ligados à igreja.”12
Clemente de Alexandria, define a igreja como “a sociedade
dos eleitos, e a compara a u’a mãe a quem devemos nossa vida
espiritual e nutrição, o corpo do Senhor, fora do qual não há
salvação.”13 Esta idéia também é comum em outros pais da igreja
como Orígenes, e de Cipriano o bispo de Cartago, e de Agostinho.
Contudo, os pais da igreja sempre enfatizaram a unidade
da igreja, especialmente Cipriano. “Ele compara a igreja ao sol, com
seus muitos raios; à uma árvore com seus muitos ramos; à uma
fonte, da qual surgem muitos regatos”14, enfatizando a sua unidade.
À medida que o tempo foi passando, especialmente a
partir do período de Constantino, o grande, a igreja passou a colocar
mais ênfase no poder externo. Nesse meio tempo, uma controvérsia
eclesiológica a respeito da pureza da igreja, apareceu. O Donatistas
sustentavam que a igreja visível deveria ser pura e advogava uma
disciplina bem mais estrita. Somente o povo espiritual é que deveria
constituir a igreja de Deus. Do outro lado estava Agostinho, que
defendia a disciplina, mas que a pureza absoluta não poderia ser
conseguida neste mundo.
PERÍODO MEDIEVAL
Logo depois, a igreja passou a ser governada pelo Bispo,
que era o sucessor direto dos apóstolos e possuia o depósito da
verdadeira tradição. Esse período, provavelmente, de 750 até a
Reforma, foi caracterizado pela ênfase da supremacia papal de Roma,
e uma grande ênfase na elaboração hierárquica do sistema episcopal,
desenvolvendo o pensamento já latente em Agostinho. Nesse período,
não houve muito desenvolvimento da doutrina eclesiológica, pois
Cipriano, o bispo de Cartago, e Agostinho já haviam devolvido o
suficiente para a mentalidade medieval. Segundo um pensador
católico, o sistema eclesiológico de Cirpriano e de Agostinho “foi
administrado pelos escolásticos da Idade Média na mesma condição
em que eles haviam recebido, e o passaram em forma prática a seus
sucessores que vieram posteriormente ao Concílio de Trento.” 15
Contudo, a outra parte da doutrina eclesiológica de
Agostinho, a da communio sanctorum, ficou esquecida da igreja
medieval, provavelmente porque eles também esqueceram da
doutrina antropológica da depravação total em Agostinho. As duas
12 Hoeksema, 564.
13 Hoeksema, 564.
14 Hoeksema, 564.
15 Citado por Berkhof, 667.
6

doutrinas ficaram esquecidas por conveniência teológica, pois Roma


ficou mais do lado de Cassiano, e a idéia de predestinação e
depravação, insistidas por Agostinho, foram relegadas.
Hugo de San Victor “fala da igreja e do estado como de
dois poderes instituidos por Deus para o governo do povo”.16 O rei, o
chefe do Estado, e o Papal o chefe da igreja. Contudo, nesse período,
a igreja passa a ter a hegemonia sobre o próprio governo constituido,
porque o poder espiritual é considerado ser acima do poder temporal.
O Estado fica sob a dominação e controle da Igreja. Na Idade Média, o
conceito agostiniano de igreja como sendo o Reino de Deus, foi levado
a extremos. “Pouco a pouco a doutrina do papado se desenvolveu até
que, por final, o papa tornou-se praticamente num monarca
absoluto. O crescimento desta doutrina foi ajudado em grande
medida pelo desenvolvimento da idéia de que a igreja católica era um
reino terreal.” 17

PERÍODO DA REFORMA
PERÍODO MODERNO

A DOUTRINA DA IGREJA NAS CONFISSÕES PROTESTANTES

(Hoeksema, p. 567)

16 Berkhof, 668.
17 Berkhof, 668.
FIGURAS BÍBLICAS PARA IGREJA

(Erickson, 1034-41)
Há muitas figuras usadas pelo Espírito Santo na
Escritura para descrever a idéia de igreja. Tratarei aqui apenas das
principais delas. O termo “igreja” é grego, mas algumas dessas
expressões ou figuras usadas para igreja têm um sabor hebreu ou
judaico.
POVO DE DEUS
Esta expressão é comum do pacto da graça, tendo
expressão na antiga e na nova dispensação. Ela é iniciada com a
promessa de Deus a Abraão, e atravessa toda a Escritura, sendo a
expressão mais comum do Novo Pacto, renovado no tempo de
Jeremias, e confirmado nos tempos do NT. “Porque esta é a aliança
que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor.
Nas suas mentes imprimirei as minhas leis, também sobre os seus
corações as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu
povo” (Hb 8.10).
Esta é a única expressão usada por Deus que vai do
Gênesis ao Apocalipse. O último eco dela está em Ap 21.3: “Eles serão
povos de Deus e Deus mesmo estará com eles”. É uma expressão
nascida na relação pactual entre Deus e os filhos de Abraão. A igreja
de todos os tempos é constituida daqueles que são povo de Deus.
Essa expressão indica a procedência dele. Ela também é indicativa do
fato de que Deus os elegeu. A Escritura é clara quando diz que Deus
“criou para Si um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras”.
Essa expressão “povo de Deus” é nascida no VT, onde o
povo que Deus salvou da escravidão do Egito é típico do povo que
Deus salva da escravidão do pecado. Esta idéia de salvação, de
compra, de resgate está patente em Ex 15.13,16, e em outros lugares
como Dt 32.9-10; Os 1.9-10; 2.23. Embora a expressão tenha nascido
no VT, os escritores do NT se apropriaram dela e a usaram como
descritiva daqueles em quem Deus botou o Seu coração. O texto de
Rm 9.24-26 é uma interpretação renovada do texto de Oséias. Paulo é
absolutamente claro quando descreve os eleitos de Deus, a quem
Deus mostrou a sua misericórdia e que, por isso, eram chamados de
“vasos de misericórdia”, chamando-os de “povo meu”. Esta idéia de
“povo de Deus” está bem clara em outros escritos seus. Veja-se em Tt
2.14; 2Co 6.16; Rm 11.1-2; Lucas também teve noção clara de que
aqueles que Deus trazia para a salvação, eram povo de Deus (At
18.10).
O autor da Carta as Hebreus, refletindo a mentalidade
hebraica e o propósito de ensinar aos crentes do NT sobre a verdade
8

da igreja, diz que “resta um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.9);
Pedro também usou a mesma expressão para destar os remidos de
Cristo Jesus em 1Pe 2.-8-910; João, o apóstolo, também faz uso da
mesma expressão num período escatológico (Ap 18.4; 21.3).
A idéia de “povo de Deus” traz consigo algumas
implicações com relação a Deus: Ela significa que Deus tem prazer
neles, que Deus supre as suas necessidades, que Deus os protege por
serem propriedade dEle; que Deus os guarda “como a menina dos
olhos” (Dt 32.10).
A idéia de “povo de Deus” traz consigo também algumas
implicações com relação aos remidos: Eles devem a Deus lealdade por
terem sido comprados; eles devem a Deus obediência; eles devem a
Deus um amor que é a resposta do Seu amor eles.
Estes são os que compõem a igreja de Deus, segundo os
escritores do VT e do NT.
Israel de Deus
Este é um outro nome para a igreja de Deus, sacado do
entendimento do VT, tendo sabor eminentemente judaico, mas com
tempero eminentemente cristão.
Esta expressão aparece na Carta aos Gálatas 6.17 - “E a
todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e
misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus”.
É importante observar que no VT testamento a expressão
“Israel de Deus”, em muitos casos, tem a ver com o Israel nacional,
que foi o objeto da libertação especial de Deus, mas no NT esta
mesma expressão não possui esta conotação nacional. Todos os
herdeiros da promessa, que não estão somente entre os judeus,
fazem parte do povo de Deus. Escrevendo aos judeus que vivia em
Roma (Rm 9.624), Paulo argumenta que o “verdadeiro israelita” não é
aquele que tem o sangue físico de Abrão. “Nem todos os de Israel são
de fato israelitas” (Rm 9.6). O verdadeiro israelita é aquele que é filho
da promessa, aquele que é herdeiro das bençãos espirituais
reservadas à verdadeira descendência de Abraão. Esses filhos de
Abraão são chamados de “filhos de Deus” (Rm 9.8), por causa da
palavra da promessa de que seriam beneficiados apenas aqueles em
quem Deus havia colocado o seu amor eletivo. Esses são compostos
de judeus e de gentios igualmente. Não há mais uma distinção
nacional. O verdadeiro Israel de Deus, ou a verdadeira descendência
de Abrão está restrita apenas aos que recebem o amor de Deus e
respondem com fé. Paulo mostra isso em Rm 4 e em Gl 3. Somente os
verdadeiros israelitas ou os verdadeiros descendentes de Abraão é
que Jesus Cristo socorre (Hb 2.16).
9

No conceito paulino judeu é aquele que é interiormente,


não exteriormente. Nas cousas espirituais, o sangue não conta. O
que vale é estar em Cristo. Por essa razão, Paulo disse:
Rm 2.28-29 - “Porque não é judeu aquele que o é
exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na
carne. Porém, judeu é aquele que o é interiormente, e
circuncisão a que é do coração, no espírito, não segundo a
letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de
Deus.”
O Israel de Deus é composto de todos aqueles que são
regenerados pelo Espírito Santo. A regeneração aqui é simbolizada na
idéia de circuncisão. A circuncisão da carne significa a limpeza e a
purificação dela. A circuncisão do coração é a limpeza interior do
homem. É isto que é requerido do verdadeiro israelita, daquele que
pertence a Deus, seja ele judeu ou gentio. Houve muitos judeus
segundo a carne, circuncidados, que se portaram como gentios,
porque eram impuros de coração, e muitos gentios que foram
circuncidades no coração, tornando-se, pois, parte do Israel de Deus.
É exatamente este conceito que Paulo deixa ainda mais
claro escrevendo aos Filipenses:
Fp 3.2-3 - “Acautelai-vos dos cães! acautelai-vos dos
maus obreiros! acautelai-vos da falsa circuncisão! porque
nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no
Espírito, e nos glorianos em Cristo Jesus, e não confiamos
na carne.”
Paulo mostra aqui que o verdadeiro Israelita não é aquele
que tem a circuncisão da carne, mas o que possui as credenciais
interiores, do Espírito de Deus, vinculado diretamente a Cristo Jesus.
As exterioridades, as cerimônias como a circuncisão física não
assegura o pertencer ao verdadeiro Israel, mas a interioridade do
coração que é unido a Cristo Jesus.
Esses são os que constituem a verdadeira igreja de Deus,
segundo o ensino geral dos Escritores do Novo Testamento.
Templo de Deus
Esta é uma outra figura usada na Escritura para
descrever a igreja de Deus. Ela é a habitação de Deus. A igreja
sempre existiu desde que houve pecador remido, mas no NT ela
adquire uma conotação diferente da do VT. A partir do evento do
Pentecoste, o Espírito de Deus passa a habitar nela de uma vez por
todas. Há vários textos na Escritura que evidenciam esse aspecto
importante e novo da dispensação do NT. Paulo é o que mais se
especializa na matéria:
10

1Co 3.16-17 - “Não sabeis que sois santuário de Deus, e


que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o
santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus,
que sois vós, é sagrado.”
1Co 6.19-20 - “Acaso não sabeis que o vosso corpo é
santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte
de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados
por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.”
Ef 2.21-22 - “...sendo edificados para habitação de Deus
no Espírito.”
Ao mesmo tempo em que o Espírito traz a igreja à
existência, regenerando os que são de Deus, Ele habita nela
preservando-a sendo o selo e a garantia da permanência dela em fé
até o final (2Co 5.5; Ef 1.13-14).
Há algumas implicações de o Espírito Santo habitar na
igreja, que é o seu corpo:
- Ele comunica vida a ela. O Espírito é o comunicador da
vida, pois ele faz isso desde que Ele está no mundo. Quando o
Espírito de Deus pairava sobre a face das águas, é como se Ele
estivesse dando a vida ao mundo;
- Ele comunica poder a ela (At 1.8).
- Ele comunica seus dons a ela (
- Ele comunica seu fruto a ela (Gl 5.22)
- Ele comunica pureza a ela
- Ele comunica segurança a ela
Há algumas implicações para o cristão pelo fato de o
Espírito Santo habitar nele:
- Ele deve a Deus santidade
- Ele deve a Deus obediência
-
Jerusalém Celeste
EDIFÍCIO DE DEUS
1Pe 2.5; Ef 2.19-22;
CORPO DE CRISTO
A idéia de corpo, com relação à igreja, parece não estar
presente nos escritos do Velho Testamento. É apenas uma idéia mais
aperfeiçoada da igreja, com tons unicamente neo-testamentário.
Muitos estudiosos entendem que a idéia de corpo é a
melhor figura para expressar a igreja de Jesus Cristo nas suas
relações com o Cabeça e na relações entre os próprios membros do
corpo.
Noiva do Cordeiro
Ver Is 62.1-5
11

NOMES TEOLÓGICOS PARA IGREJA

VISÍVEL E INVISÍVEL
A igreja visível é aquela que se manifesta publicamente
nas reuniões, nas suas confissões e no seu testemunho. Todos os
membros dessa igreja crêem na mesma fé histórica, confessando as
mesmas verdades básicas dela. Nela estão todos os que são batizados
com água e que já confessaram a sua fé publicamente, participando
dos sacramentos, que são os sinais visíveis de uma bênção invisível,
no culto público.
Nem todos os que são membros dessa igreja visível são
necessariamente regenerados pelo Espírito Santo e convertidos a
Cristo.
A igreja invisível é aquela que é composta de todos os
remidos de Jesus Cristo, incluindo os que já foram batizados e os que
ainda estão para ser. Só os salvos fazem parte dela. Todos os
membros dela são regenerados pelo Espírito e vêm a ter fé salvadora,
recebendo a salvação da condenação e a vida eterna. Em outras
palavras: membros dessa igreja são todos os eleitos por quem Jesus
veio a morrer e o Espírito veio regenerar, de todas as épocas. Via de
regra, todos os membros da igreja visível passam pela igreja visível,
isto é, a dos batizados e a dos confessantes.
É importante lembrar que não são duas igrejas diferentes,
mas dois aspectos diferentes de uma só igreja. Assim como somos
invisíveis quando se trata de nosso espírito, e visíveis quando se trata
do nosso corpo, todavia, estamos falando da mesma pessoa, assim
acontece quando falamos da igreja visível e da invisível.
Contudo, por causa das confusões trazidas por estas duas
palavras, achamos que não é a melhor terminologia a ser usada.
Menos complicados são os termos seguintes:

IGREJA MILITANTE E TRIUNFANTE


Esta é uma outra maneira de falar da igreja visível e
invisível, mas com elementos bem distintos. Os termos não são
necessariamente equivalentes.
A igreja militante é aquela que está ainda em luta
vivendo ainda neste mundo. Esta batalha da igreja é puramente
espiritual. Essa observação é importante para que ninguém pense
que a igreja deve usar a força para convencer outros a se unirem a
Cristo, e essa luta não tem nada a ver com conquista de terras para
que elas sejam cristãs. Portanto, não é uma batalha com armas
militares, embora a figura usada seja de batalhas militares, como é o
caso de Ef 6.10-20. A luta da igreja é puramente na esfera das coisas
espirituais, porque a causa pela qual ela luta é a redenção das trevas
12

espirituais, e porque é uma batalha do Senhor e não de homens,


embora os homens de Deus estejam engajados nessa luta. Na
dispensação do VT, a igreja possuia um caráter nacional, e as
batalhas de Israel eram literalmente batalhas com armas físicas,
porque aquela nação defendia-se de outras nações, e as guerras de
Israel eram guerras de Yehovah, mas na dispensação do NT, a igreja
deixou de ter um caráter nacional, usando armas físicas. Agora, a
batalha é eminentemente espiritual. Não mais a igreja é uma nação
no meio das nações, mas Deus pinçando das mais variadas nações
pessoas crentes, formando uma igreja militante de caráter universal,
onde as armas deles não são mais carnais ou físicas, mas armas
usadas para preservar o caráter puro da igreja, que deve refletir o
caráter do Capitão da sua salvação. Essa milícia cristã é muito
numerosa, e ela deve batalhar por todas as esferas da vida humana:
ela deve lutar para que a família (como instituída por Deus) seja
preservada, para que as escolas sejam ensinadoras da verdadeira
ciência e da moral cristã, e para que a sociedade reflita o padrão de
Deus na vida de cada dia. Esta é a luta da igreja: implantar as regras
de vida estabelecidas por Deus, a ética do reino!
Essa igreja militante está dispersa por todas as partes do
mundo, sendo perseguida e lutando contra o pecado e maldade. Essa
igreja está em luta porque, neste mundo, ela representa a causa do
Filho de Deus no meio deste mundo tenebroso, onde o seu príncipe é
obedecido pela grande maioria das pessoas, daquelas que ainda não
fazem parte do corpo de Cristo. Todas essas pessoas fazem oposição
ao povo de Deus e a igreja milita contra esse princípio de trevas no
qual este mundo repousa.
A ilustração de igreja militante está patente no fato de
Paulo usar várias vezes a idéia do crente ser um soldado, lutando ao
lado de Cristo Jesus. Escrevendo a Timóteo, Paulo diz:
2Tm 2.3-4 - “Participa dos meus sofrimentos como
bom soldado de Cristo Jesus. Nenhum soldado em serviço
se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo
é satisfazer àquele que o arregimentou.”
A idéia de militante implica que seus membros são
soldados enfronhados numa batalha contra o maligno e suas hostes,
enquanto que isso não é necessário dos membros da igreja visível.
Aqui está um ponto importante de diferença entre os dois termos.
A igreja militante pode ser vista na sua estrutura externa
e interna. Sua estrutura interna consiste de fé genuina, união
mística com Jesus Cristo, possuindo a vida do Espírito. Nesse sentido
ela se identifica com a igreja invisível, que ainda está neste mundo.
Em um sentido a igreja militante é visível porque nós
podemos percebê-la sobre a terra no seu testemunho de Cristo. É
13

bem mais provável que na igreja militante a idéia da genuinidade dos


crentes seja melhor entendida do que na da igreja visível, que
necessariamente não possui todos os seus membros regenerados.
A igreja triunfante é aquela que já conseguiu a vitória e
está nos céus. O escritor aos Hebreus mostra a igreja vitoriosa no
céu, pintando-a da seguinte forma:
Hb 12.22-23 - “Mas tendes chegado ao monte Sião e
à cidade do Deus vivo, a Jerusalem celestial, e a
incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia e
igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o
juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados.”
O texto de Ap 7.9-16 mostra o número incontável
daqueles que vestem-se de vestiduras brancas porque já foram
lavados no sangue do Cordeiro. Eles já haviam passado pela grande
tribulação, sendo mártires por causa do nome de Jesus. Agora, estão
no céu cantando a vitória deles através do Cordeiro. A diferença desta
com a militante é que a primeira já venceu, enquanto que a segunda
ainda está por vencer.
Contudo, não devemos fazer uma distinção absoluta entre
a igreja militante e a triunfante, como sendo esta última a vitoriosa e
a primeira ainda não. Devemos evitar esse tipo de raciocínio. Embora
a igreja militante esteja ainda lutando, todavia, podemos dizer com
convicção que ela já é vitoriosa. Ser vitoriosa, não implica que ela
deva ganhar o mundo para Cristo, porque isto não acontecerá, a
menos que seja o propósito de Cristo. A vitória dela deve ser medida
pela santificação que Deus está operando nela, na luta que ela tem
contra o pecado. É verdade que ela não é plenamente vitoriosa contra
o pecado, mas a vitória faz parte da sua existência aqui neste
presente mundo. A igreja é composta de homens e mulheres de fé. E
João diz que a “vitória que vence o mundo é a nossa fé” (1Jo 5.4-5). A
vitória não é final, mas ela já experimenta ou já possui o antegozo da
vitória final, porque ela nunca falhará nesse propósito por causa da
obra de Cristo! O próprio Jesus prometeu que “as portas do inferno
não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Essa situação é ilustrada
pela tensão entre “já” e o “não-ainda” da escatologia. Uma outra
ilustração dessa situação é a tensão que existe entre o “D-Day” e o
“V-Day” quando nos lembramos da Segunda Grande Guerra. O dia D
é o dia da grande vitória decisiva, na invasão da Normandia. Foi uma
batalha decisiva, mas não o dia da vitória final, quando os inimigos
se renderam e os aliados tiveram a sua vitória final.
Na igreja já houve a batalha decisiva que foi travada por
Cristo. Na Cruz ele venceu o inimigo, mas a vitória da igreja ainda
não é absolutamente final. Ainda há muito por fazer dentro do nosso
próprio coração contra as trevas, mas o inimigo já está derrotado.
14

Externamente, essa igreja militante, ainda sofre derrota aqui ou


acolá, mas no seu conjunto, a igreja de Cristo já é uma igreja
vitoriosa nas batalhas que ainda enfrenta!
Quando falamos, todavia, da igreja triunfante, estamos
falando de uma vitória plena, absoluta, cabal. Ela já terminou a luta.
Não mais dores, não mais energia gasta contra o pecado. Ela está
livre da luta! Nesse lugar, todos eles gritam em alta voz: “Quem nos
separará do amor de Cristo: será tribulação, ou angústia, ou
perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?” (Rm 8.35).
Essas coisas não mais fazem parte da existência gozosa deles! Os
seus soldados já desfrutam dos louros da vitória, entrando no
descanso do seu Senhor. Já habitam na pátria celestial, onde estão
todos os “espíritos dos justos aperfeiçoados”. Eles estão aguardando
apenas a declaração final de sua vitória, que se dará no dia final, o
dia da redenção de todas as coisas!
Organização e Organismo
O primeiro termo diz respeito à organização; o segundo diz
respeito à vida. As duas coisas são necessárias para a igreja, embora
a segundo seja absolutamente necessária para ela.

OS COMPONENTES DA IGREJA

A BASE DA IGREJA

(ver Brunner, vol.3, 22-27)

COMPANHIA DOS ELEITOS (COETOS ELECTORUM)

COMUNHÃO DOS SANTOS (COMMUNIO SANCTORUM)

CORPO DE CRISTO (CORPUS CHRISTI)

AS MARCAS ESSENCIAIS DA IGREJA

(Brakel, p. 15)
(ver Brunner, p.117-130)

A IGREJA É UNA
Isto significa que ela está dispersa e espalhada por todas
as partes do mundo, consistindo de muitas igrejas locais, não sendo
presa nem confinada a um único lugar, ou dependendo de uma única
sé. A igreja de nosso Redentor é composta de remidos em toda as
15

partes do mundo, mas a manifestação externa dela não é a mesma.


Numa determinada época e lugar ela se mostra mais concupiscente
do que em outro, mais viva e mais atuante num lugar que em outro,
mas sempre sendo de Cristo Jesus.
Em sua natureza e essência ela é sempre a mesma, sendo
idêntica em todos os lugares onde ela possa estar. A unidade dela
mostra-se no fato dela ter as mesmas coisas em todos os lugares.
Essa unidade é evidenciada no texto de Efésios, abaixo:
Ef 4.3-6 - “esforçando-vos diligentemente por
preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz: há
somente um corpo e um Espírito, como também fostes
chamados numa só esperança da vossa vocação; há um
só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai
de todos, o qual é sobr todos, age por meio de todos e está
em todos.”
A exegese deste texto ajuda bem no entendimento da
unidade da igreja. Ela se manifesta de diversas formas, como o texto
apresenta:18
1) A Unidade do Corpo
Observe que ela gira em torno da Trindade. Ela é um
corpo habitado pelo Deus Triúno. Isto é uma resposta clara à oração
de Jesus: "a fim de que sejam todos um; e como tu és, ó Pai, em mim e
eu em ti; também sejam eles em nós" (Jo 17.21). A Igreja não é um
conglomerado de pessoas que, por acaso, concordam com as mesmas
idéias. Ela está ligada como um organismo numa unidade corporal.
Ela é muito mais do que uma organização. Ela é composta por células
que compartilham mutuamente de uma vida. E é o compartilhar da
vida que diferencia um organismo de uma organização.
Qualquer um que teve o privilégio de entrar em contato
com cristãos, em alguma parte distante da terra, logo reconhecerá
essa unidade fundamental. Apesar das diferenças denominacionais e
de partes variáveis em teologia, sempre que houver vida comum em
Cristo, isso logo se torna evidente.
2) Um Só Espírito
O Espírito é a grande, a eterna e invisível pessoa, que é o
verdadeiro poder da Igreja. A força da Igreja nunca provém dos
números, mas da operação do Espírito no corpo. O poder da Igreja
não está em se ajuntar um número suficiente de cristãos, mas no
Espírito.

18 Sugestões de análise do texto retiradas de Ray Stedman, Igreja, Corpo


Vivo de Cristo, ()
16

O Espírito é o verdadeiro poder da Igreja. Só há um


Espírito. Ele é o mesmo em toda parte, onde quer que esteja a Igreja
em todas as épocas. O Espírito não muda. Por isso que a verdade é
imutável. Eis também porque ela não depende de muitos ou poucos,
ou da sabedoria de seus membros. Ela depende apenas do Espírito de
Deus.
3) Um Só Esperança da Vossa Vocação
Estes três primeiros fatores estão associados (Corpo,
Espírito e Esperança).
Que esperança é essa? Ela é expressa dezenas de vezes
através da Escritura. Trata-se da esperança da volta de Jesus. A
mais curta expressão dessa esperança acha-se em Cl 1.27 - "Cristo
em vós, a esperança da glória". (ver também 1 Jo 3.2-3)
A qualquer lugar do mundo que possamos ir, vamos
encontrar esta tônica em todos os cristãos: a esperança na volta de
Jesus. A volta de Jesus é a culminação de todas as nossas
esperanças. Seja qual for a posição escatológica que aceitemos, o fato
permanece: todos esperamos o Salvador porque todos teremos parte
na glória de Cristo.
4) Um Só Senhor
Ele não diz um só "Salvador", porque todos aqueles que O
vêem como Salvador, vêem-No antes como Senhor. O tema
fundamental em Paulo é Jesus Cristo, o Senhor.
Senhor quer dizer uma autoridade máxima. Chamar
Jesus de Senhor significa reconhecer que Ele é a pessoa suprema de
todo o universo. A maravilha é que a pessoa que viveu, andou, amou,
trabalhou e morreu entre os homens, cuja vida é narrada nos
Evangelhos, Jesus, é também o Senhor do Universo, o Ente
Supremos, Senhor de todas as coisas, o Deus-Homem.
5) Uma Só Fé
Aqui não se refere à capacidade de crer em algumam
coisa, ou mesmo à fé salvadora, que nos une a Cristo.
Paulo tem em vista aqui o conteúdo daquilo que é crido,
isto é, o conjunto de verdades que nos foi revelado. Só há uma fé. A
ela Judas se refere na sua carta: "...a batalhardes pela fé que uma vez
por todas foi entregue aos santos." (v.3). 19
Esta fé está associada a Jesus, o Senhor. Ela é a verdade
sobre Ele. Pode haver certas divergências quanto aos detalhes de
interpretação entre os cristãos, mas em toda parte há concordância
entre os verdadeiros cristãos em torno da afirmação básica de que há
um só corpo de verdades sobre Cristo, a fé. Este corpo de verdade é a
19 Ver também Gl 1.23; Fp 1.27; Cl 2.7; 1 Tm 1.19-20; Tt 1.13.
17

Escritura. Não há uma fé para os judeus e um outro conjunto de


verdades para os gentios — há apenas uma fé para todos, em toda
parte. Na há um Deus do VT e um outro no NT, como alguns
pensam. Ele é tudo em todos. Há somente um Cristo, e um só
conjunto de verdades a respeito dEle, a fé.
6) Um Só Batismo
Unidade em torno do batismo? Nada poderia ser mais
distante da realidade. Os diversos grupos de batistas dizem: "Esse
'um batismo' se refere ao batismo nas águas, que é só por imersão.
Os presbiterianos dizem: "Não, os batistas são uns ensopados; a
aspersão é a única forma certa de batismo". Outros grupos batizam
somente os adultos, enquanto que outros batizam crianças também.
Parece haver tudo, menos unidade em torno da questão do batismo.
Mas, apesar dessa divergência óbvia sobre o símbolo, há
um batismo reconhecido em toda parte pela igreja. Trata-se do
batismo do Espírito, o batismo real, do qual o batismo com água é o
símbolo. Através dele, todo o verdadeiro crente em Jesus Cristo é
incluido em Seu corpo, a Igreja (1 Co 12.13) — Este batismo está
ligado a Jesus, o Senhor, porque é um batismo de inclusão no Seu
corpo.
7) Um Só Deus e Pai de Todos
Ele "é sobre todos, está sobre todos e age por meio de
todos." — Aqui está o alvo de todos os outros. Ele é a meta e o
objetivo. O sinal de que nós O achamos é quando O chamamos de Pai
(Rm 8.15). Ele é chamado em filosofia de "o fundamento do ser", "a
causa última", "O Primeiro Motor", "A Mente Infinita", etc. É verdade
que Deus é todas essas coisas, mas isso somente é inadequado para
nós. Paulo também concorda que Deus "é tudo em todos". Deus é o
fim e o começo, o começo e o fim. Mas quando de fato O conhecemos
é que podemos chamá-LO de Pai. Nenhum outro nome poderá
expressar a união íntima que um verdadeiro crente sente em relação
a Deus. Por isso Jesus nos ensinou a dizer: "Pai nosso..."
____________________

Nestes 7 elementos acha-se a natureza da unidade cristã.


Não uma união a ser alcançada, mas uma unidade que já existe.
Ninguém discorda das coisas acima mencionadas. Se o fizer mostra
que ainda não é um cristão. Quando se tornar um cristão, então,
compreenderá estas coisas. O cristão comum talvez não seja capaz de
formulá-las claramente, mas as reconhecerá quando forem descritas,
pois elas são uma experiência imediata de todos os que estão em
Cristo.
18

Por isso, a maneira de se criar unidade é simplesmente


esta: levar homens e mulheres a Cristo, e a unidade do Espírito neles
se produzirá através do próprio Espírito. Sempre houve e haverá um
só rebanho e um só Pastor (Jo 10.16), e a verdadeira igreja de Cristo
caminhará una até que o Senhor venha redimi-la completamente no
dia final.
Conclusões Práticas de Ef 4.4-6
1) Os cristãos devem dirigir seus esforços não no sentido
de haver uma união exterior, mas de manter a paz dentro do corpo de
Cristo (Ef 4.3).
É importante que os crentes parem com as contendas,
brigas, concorrência mútua, ressentimentos, amarguras,
maledicência, etc. Uma igreja que tem essas atitudes é um corpo
totalmente ineficaz dentro de sua comunidade, uma igreja que não
causa impacto no mundo nem desperta ação nele.
É importante que os cristãos se entendam mutuamente,
sejam benevolentes, bondosos, pacientes, perdoadores, humildes, etc.
Este é o alvo do Espírito, quando Ele entra em nosso meio.
É importante que se compreenda que a unidade já existe.
Ela precisa tornar-se evidente. Se é que houve atuação da Graça, a
maravilhosa unidade fundamental se despontará, deixando de lado
as divergências, expressando-se pelo Espírito de Jesus Cristo, no
amor que é concedido até aos que não são amáveis.
2) Não podemos classificar os cristãos segundo
organizações. Não podemos dizer que todos os protestantes sejam
crentes e que não há crentes, em hipótese alguma, dentre os católico
romanos.
O Espírito de Deus sempre ultrapassará as divisões
humanas. Deus sempre teve aqueles que lhe são fiéis, mesmo entre
os que são chamados "infiéis".
A unidade do corpo será encontrada em pessoas de
muitos grupos diferentes, e nós temos que aceitar esse fato.
Encontraremos cristãos em toda parte, e é nossa responsabilidade
manter a unidade do Espírito com eles, no vínculo da paz, onde quer
que estejam.
Paulo diz em Rm 14.1 — "Acolhei ao que é débil na fé, mas
não para discutir opiniões." — Não devemos expulsá-los, mas recebê-
los. Recebê-los mesmo que não enxerguem como nós. Eles não se
formaram na escola correta. Foram mal ensinados. Mas recebamo-los
como irmãos se eles amam realmente a Jesus Cristo, mesmo que
sejam de outro rótulo.
19

A IGREJA É SANTA
A igreja é composta de santos, isto é, de pessoas que Deus
separou para que fossem o corpo de Jesus Cristo, o Seu Filho. É
neste sentido que, falando a respeito da igreja, Pedro disse: 1Pe 2.9 -
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.”
Em suas saudações às comunidades cristãs de sua época,
Paulo sempre inicia suas cartas tratando os irmãos de “santos” 20.
Nesse sentido, em todas as épocas, a igreja tem sido “santa”, isto é,
separada por Deus, distinta das outras pessoas do mundo.
Quando falamos que a igreja é santa, não estamos nos
referindo simplesmente ao fato dela ser separada do mundo, mas ao
fato dela pertencer a Deus, e ser colocada para o serviço de Deus no
mundo. Pelo fato dela pertencer a Deus, algumas coisas podem ser
ditas da sua santidade:
1) Ela é santa porque ela é composta de pessoas
genuinamente regeneradas pelo Espírito Santo e que
verdadeiramente são crentes em Cristo Jesus;
2) Ela é santa porque tem as suas prescrições baseadas
unicamente na Santa Palavra de Deus;
3) Ela é santa porque ela é constantemente exortada por
essa Palavra a viver santamente;
4) Ela é santa porque ela se distingue no comportamento
das outras sociedades do mundo.
Quando falamos que é igreja é santa, não estamos
querendo dizer que não haja pecado nela, ou que ela seja perfeita ou
pura. Esse é, na verdade, o alvo final de Deus para igreja. Foi por isso
que Jesus morreu.
Ef 5.25-27 - “...Cristo amou a igreja, e a si mesmo se
entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a
purificado por meio da lavagem da água pela Palavra, para
a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem
ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito.”
Tudo o que tinha que ser feito na história da redenção
para a santidade moral e espiritual da igreja já foi feito. A aplicação
plena dessa realidade na vida pessoal dos membros da igreja, ainda
está por ser feita. Este alvo será atingido quando Cristo se manifestar
na sua vinda. Até que isto aconteça, a igreja ainda viverá debaixo da
tensão entre o que já se realizou nela e o que ainda não se realizou. O
que é santo na igreja ainda está misturado com o pecado. Os
resquícios da corrupção ainda não foram tirados da igreja. Ela ainda

20 Rm 1.7; 1Co 1.2; 2Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.2.


20

é um mistura de verdade e de falsidade, porque estas mesmas coisas


ainda se manifestam na vida dos seus membros individuais. A razão
dessa mistura é devido também ao fato de, no meio dela, ainda haver
pessoas que não são verdadeiramente convertidas e que
compartilham das mesmas expressões religiosas. Sempre haverá os
que enganam no meio do povo de Deus e que se parecem com o povo
de Deus. O joio ainda permanece junto do trigo e torna as coisas
muito mais difíceis, e nós, como membros verdadeiros dela, não
temos a capacidade plena de distinguir perfeitamente um do outro.
Somente na ceifa é que os anjos saberão com exatidão quem são os
verdadeiros crentes. Eles é que farão a separação final. Somente,
21

então, é que a igreja será plenamente purificada de suas impurezas.


A IGREJA É CATÓLICA
Por catolicidade, entenda-se a universalidade da Igreja.
Em Hb 12.22-23 aparece uma palavra grega referindo-se à igreja em
seu aspecto universal. O escritor sacro usa a palavra grega
panh/gurij, que é traduzida como “assembléia universal”.
Há alguns argumentos teológicos que mostram a
universalidade da igreja:
1) A Igreja é universal porque tem seus membros em
todas as partes do mundo.
Somente a redenção final irá mostrar em plenitude a
universalidade da igreja. Jesus diz que no final, os seus anjos
haveriam de colher os seus escolhidos dos quatro ventos da terra (Mt
24.30-31). João narra sua visão apocaliptica da igreja redimida, e
menciona que ela é composta de “grande multidão que ninguém
podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé
diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas...” (Ap 7.9).
2) A Igreja é chamada universal em contraposição ao
pensamento eclesiológico do VT.
No VT a igreja não possuia um caráter universal, porque
estava restrita, com raríssimas exceções, ao povo de Israel. A fim de
que alguém pudesse ser membro da igreja do VT, era necessário ser
tornar um prosélito, na verdade um cidadão de Israel, porque fora da
nação israelita não havia membros da igreja. Contudo, nos tempos do
NT, o leque abriu-se, o evangelho começou a ser pregado a outras
nações, e todos os que crêem em Cristo, sejam judeus ou gentios,
vêm a fazer parte da igreja. Paulo deixou bem claro que descendente
de Abraão não é aquele que tem sangue judeu nas veias (Rm 9.6-8),
mas aquele que é filho da promessa, isto é, aquele que crê em Jesus
Cristo. Todos os que crêem são filhos de Abrão, que é o pai de todos
os que crentes (Rm 4.11-16).

21 Mt 13.24-30.
21

O grande mistério que foi revelado aos profetas, apóstolos


e, principalmente a Paulo, é que os gentios haveriam de fazer parte
da igreja (Ef 3.1-6). E esses gentios são encontrados em todas as
partes do mundo.
Portanto, nos tempos do NT, a igreja toma um caráter
universal, não permanencendo uma igreja nacional, ou seja, restrita
a Israel. Atualmente, ela está espalhada por todo mundo, sendo mais
numerosa em alguns lugares do que em outros, mas o seu território
físico vai se ampliando, atingindo todo o mundo gentílico. Cristo
voltará quando todas as nações gentílicas do mundo ouvirem a
pregação do evangelho e quando a salvação dos eleitos de todas as
nações se completar.
3) A Igreja é chamada universal porque a verdade básica
da Escritura é defendida em todas as nações.
Em todos os lugares onde a verdadeira igreja de Cristo se
encontra, as mesmas práticas existem, ou seja: todas elas pregam a
mensagem baseada na palavra de Cristo; todas elas ministram os
sacramentos do batismo e da ceia e exercem a disciplina para a
pureza da igreja. Todos os segmentos da igreja cristã crêem em Deus
Pai como o criador, em Cristo como único salvador, no Espírito Santo
como o santificador, e crêem que a salvação é desfrutada pelo cristão
pela fé. Se alguma destas coisas não está presente numa igreja local,
esta não pertence à igreja de Jesus Cristo.
4) A igreja é chamada Universal porque ela é Cristã.
a) Ela é chamada cristã porque Cristo é o único cabeça da
igreja. Deus, o Pai, o colocou como “cabeça da igreja, sendo este
mesmo salvador do corpo” (Ef 5.23). Paulo disse que Deus deu a
Cristo autoridade plena sobre a sua igreja, como cabeça dela. Ef 1.22-
23a - “E pôs todas as cousas debaixo dos seus pés, e para ser o
cabeça sobre todas as cousas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo...”
Pelo fato de Cristo ser o cabeça e rei sobre a sua igreja,
todos os seus seguidores são, desde então, chamados “cristãos” (At
11.26).
b) Ela é chamada cristã porque segue a doutrina de Jesus
Cristo. Porque “todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo, e
nela não permanece, não tem Deus; o que permanece na doutrina,
esse tem assim o Pai, como o Filho” (2Jo 1.9).
Jesus exige que os cristãos o sigam naquilo que Ele faz e
no que ensina. “Vós sois meus discípulos se fazeis o que eu vos
mando” (). Paulo afirmou que ele era seguidor de Cristo e exorta os
membros de sua igreja a serem também (1Co 11.1). Pedro adverte aos
seus leitores que eles deveriam “...seguir os Seus passos”(1Pe 2.21).
Contudo, devemos lembrar que muitas igrejas heréticas, a
fim de esconderem os seus erros doutrinários, usam o nome de
22

“cristã”. O próprio Jesus disse que muitos haveriam de usar o seu


nome para esconder as suas práticas ímpias (Mt 7.21-23).

A IGREJA É APOSTÓLICA
A Igreja está sendo construída sobre o fundamento dos
apóstolos e dos profetas (Ef 2.20).

AS MARCAS DA IGREJA

( Brakel, p.25)
PUREZA DA DOUTRINA
SANTIDADE DE SEUS MEMBROS
OS SINAIS DA IGREJA

A Pregação Verdadeira da Palavra


Este é o sinal que mais distingue a Igreja de Jesus Cristo.
Ela não existiria sem que houvesse este sinal. Ela é o produto da
pregação da Palavra, porque a fé vem por ela. A fim de que as pessoas
venham ao conhecimento salvador de Jesus Cristo, elas têm que
ouvir e crer na Pregação da Palavra.
A importância da igreja permanecer na Palavra é
evidenciada pelo próprio Senhor da Igreja: Jo 8.31-32 - “Disse, pois,
Jesus, aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na
minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis
a verdade e a verdade vos libertará...Quem é de Deus ouve as
palavras de Deus; por isso não me dais ouvidos, porque não sois de
Deus.”
Jo 12.47-48 - “Se alguém ouvir as minhas palavras, e não
as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo,
e, sim, para salvá-lo. Quem me rejeita e não recebe as minhas
palavras tem quem o julgue; a minha própria palavra que tenho
proferido, essa o julgará no último dia.”
Jo 14.21-23 - “Aquele que tem os meus mandamentos e
os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será amado
por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. Disse-lhe
Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para
manifestar-te a nós, e não ao mundo. Respondeu Jesus: Se alguém
me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos
para ele e faremos nele morada.”
Quanto mais pura e fiel for a pregação da palavra de
Cristo, mais pura e verdadeira será a igreja. A palavra de Cristo é de
importância suprema para a vida e a manutenção dela. Há igrejas
mais puras que outras. Nesta matéria, nenhuma delas é perfeita. Não
é necessário que ela seja perfeita para ser verdadeira. O que importa
23

é que ela seja a mais fiel possível na tarefa da pregação da palavra de


Cristo.
CORRETA ADMINISTRAÇÃO DOS SACRAMENTOS
Os sacramentos são a palavra demonstrada e tornada
visível também aos olhos. Nunca os sacramentos dispensam a
Palavra, que a ambos norteia e esclarece. Eles são sem significado
sem a explicação que a Palavra traz. Por uma questão de ordem, os
únicos autorizados a ministrar os sacramentos são os ministros da
Palavra, devidamente ordenados para tal função.
Jesus Cristo aconselha que os seus ministros exerçam a
função de fazer discípulos, administrando os sacramentos aos filhos
de Deus, batizando-os (Mt 28.19), e também ordenou que todos os
seus filhos participassem do corpo e do sangue dEle.
O Exercício fiel da Disciplina
Vivemos num tempo onde a igreja tem perdido de vista
este sinal que deve caracterizar a verdadeira igreja. Em nome do
amor, as igrejas estão deixando de exercer o verdadeiro amor que
inclui a disciplina, pois Deus diz que “disciplina e açoita a todo o filho
que recebe” (Hb 12). Por essa negligência, a igreja contemporânea
tem sentido falta de pureza e de santida no seu seio, e dos
sacramentos as pessoas têm participado indevidamente. A Escritura
insiste na necessidade de se aplicar a disciplina no meio do povo de
Deus (1Co 5.1-13: 2Tm 2.24-26; Ap 2.14-16, 20).

O PAPEL DA IGREJA

(Erickson, 1051-59)

ADORAR

EDIFICAR

EVANGELIZAR

SERVIR
24

A IGREJA EM AMBAS AS DISPENSAÇÕES

A IDÉIA DE IGREJA NO VT

A IDÉIA DE IGREJA NO NT

AS IGREJAS DO VT E NT SÃO ESSENCIALMENTE UMA

Diferenças

Semelhanças

O PAPEL DA TRINDADE NA IGREJA


Para Quê a Igreja se reune?

RELAÇÃO ENTRE IGREJA E REINO DE DEUS


Capítulo 2
FORMAS DE GOVERNO ECLESIÁSTICO

Nenhuma igreja pode existir sem alguma forma de


governo através do qual sua vida é regulada. É tolice pensar que
forma de governo não seja algo importante. O governo na igreja é
importante para que se evitem os extremos perigosos. Calvino, já no
seu tempo lamentava duas coisas: a falta de ordem em alguns
movimentos extremistas dentro do nascente protestantismo, e a o
excesso de autoridade, ou o governo autocrático exercido pela igreja
de Roma. Calvino disse: "Mas enquanto "todas as coisas deveriam ser
com decência e ordem"(ICo 14.40) na santa assembléia, não há nada
em tal ordem que deveria ser mais diligentemente observado do que o
estabelecimento do governo, porque em nenhum lugar há maior
perigo se algo é feito irregularmente." 22 A igreja Reformada sempre
deu muita ênfase à parte teológica, mas é importante lembrar que o
governo da igreja é algo que faz parte da doutrina da igreja. Teologia e
governo não são coisas distintas. O segundo está embutido no
primeiro. "Doutrina and governo de igreja estão inseparavelmente
unidos, influenciando uma a outra e sendo aperfeiçoadas uma pela
outra." 23 "Fé não pode estar separada da forma de governo através da
qual ela se expressa. Em parte, a fé determina a forma de sua
expressão; mas a forma de expressão também determina a fé." 24
Os presbiterianos sempre deram muita importância a
questão do governo.
Quando analisamos a história da igreja podemos ver
várias formas de governo. Na verdade, todas elas concordam que a
autoridade final na igreja vem de Deus. A grande diferença entre elas,
todavia, está nas idéias de como e através de quem Deus expressa ou
exerce Sua autoridade.

1) SISTEMA ERASTIANO DE GOVERNO

Não se sabe se Erastus realmente sustentou uma forma


de governo que veio a ter o seu nome. Thomas Erastus nasceu em
Baden (Alemanha) em 1524. Em 1560 assistiu conferências de
teólogos Luteranos e Reformados em Heidelberg sobre a ceia do
Senhor. Mas seu nome é mais conhecido pela forma de governo e por
22 Institutes of the Christian Religion, IV, III, 10.
23 John H. Leith. Introduction to the Reformed Tradition (Atlanta: John Knox Press,
1977), p. 138.
24 John H. Leith. Introduction to the Reformed Tradition ( Atlanta: John Knox Press,
1977), p. 138.
26

suas idéias sobre excomunhão. Ele considerava uma política não-


sábia a exclusão de membros dentro da igreja protestante. Ele teve a
oposição de Teodoro Beza em suas idéias sobre a disciplina
eclesiástica.
O princípio geral adotado por Erastus é que as censuras
eclesiásticas não eram o método próprio de punir crimes, mas que a
execução da penalidade da lei deveria ser executada pelos
magistrados temporais.
A igreja deveria decidir quem eram os seus membros e
quem deveria participar dos sacramentos, mas ela mesma não
deveria ser a aplicadora das censuras pela conduta errônea dos seus
membros.
Tem sido consenso geral que o Erastianismo sustenta a
autoridade do magistrado civil e seu controle sobre os corpos
eclesiásticos, tanto na doutrina como na disiciplina. Assim, os
Erastianos são aqueles que ensinam que a função do estado é
governar a igreja, exercendo a disciplina, excomungando, de tal forma
que as censuras eclesiásticas são, na verdade, punição da justiça
civil, embora a aplicação possa ser confiada aos oficiais legais da
igreja. Se assim é, o Erastianismo é uma negação da realeza de Cristo
sobre a Sua Igreja, e que não mantém a devida separação entre igreja
e estado. 25

2) SISTEMA EPISCOPAL DE GOVERNO

No sistema episcopal de governo a autoridade centra-se


no bispo. Há diversas formas de episcopalianismo. Elas variam de
acordo com os níveis de bispos existentes.

A)
SISTEMA EPISCOPAL DO METODISMO
A forma mais simples de governo episcopal é encontrado
na igreja Metodista, onde existe um só nível de bispo.
Através de toda a história do metodismo, a quantia de
poder concedida aos bispos tem variado. Mas em geral dentro do
metodismo, assim como no anglicanismo, o bispo tem o poder de
ordenação. A autoridade deles transcende a dos ministros comuns.
Como representantes de Deus e como pastores eles governam e
cuidam de um grupo de igrejas antes do que meramente de uma
congregação local. 26 Na teoria o bispo tem o poder absoluto de,
governando, substituir ou mudar um pastor de uma congregação
para outra de sua diocese. O bispo também tem a função de

25 Ver Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, (Grand Rapids: Reformed Free


Publishing Association, 1966), p .623.
26 Ver Millard Erickson, Christian Theology, (Grand Rapids: Baker, 1990), p. 1071.
27

preservar a doutrina e a ordem da igreja dentro dos limites de sua


diocese.

B) SISTEMA EPISCOPAL DO ANGLICANISMO


O sistema episcopal dentro do Anglicanismo é um pouco
mais desenvolvido e estruturado
Os que defendem a idéia de que o episcopado é necessário
para a existência da igreja são alguns segmentos da Igreja Alta da
Inglaterra. Os chamados Anglicanos da Igreja Baixa (Low Church)
negam a necessidade do episcopado para a existência da igreja. Eles
dizem que não há nada nas confissões da igreja que tornam o
episcopado essencial para a igreja. Eles crêem, contudo, que o
sistema episcopal é a forma de governo com base escriturística, que
melhor promove o reino de Deus. Esse sistema, segundo eles, é
desejável e mesmo necessário para o bem-estar da igreja, mas não
para a existência da igreja. A igreja pode existir sem o episcopado,
mas ela não existirá no seu melhor Portanto, os poderes do bispo são
consideráveis, se não absolutos. 27
Todos os episcopais crêem que há três tipos de oficiais na
igreja: Bispos, sacerdores e diáconos. Os bispos são superiores aos
outros oficiais, são superintendentes não somente dos membros da
igreja, mas dos próprios sacerdotes. Estes recebem a ordenação dos
bispos para pregar e administrar os sacramentes, mas não podem
ordenar ninguém para o ministério. Esta tarefa sempre será dos
bispos.

C) SISTEMA EPISCOPAL DO CATOLICISMO ROMANO


O sistema episcopal da Igreja Católica tem o sistema
mais completo de hierarquia, onde a autoridade maior está com o
supremo pontífice, o papa. Ele é o pai de toda a igreja. Ele governa
através dos Arcebispos, que superintendem áreas maiores. Abaixo
deles estão os bispos, diante de quem os sacerdotes são responsáveis.
Curiosamente, o papa não pode escolher o seu sucessor. O novo papa
é eleito pelo Colégio de Cardeais que, por sua vez, são escolhidos pelo
papa. Então, pode deduzir-se sem margem de erros que, em algum
sentido, os papas tem parte influente na escolha de seus sucessores.
A Igreja Romana crê inquestionavelmente na teoria da
sucessão apostólica. Os bispos, e o papa em especial, são os legítimos
sucessores dos apóstolos. Nunca houve uma quebra na sucessão
apostólica.
No Concílio Vaticano I (1869-1870), foi declarado que o
papa quando fala ex-cathedra (em sua capacidade oficial) em
matérias de fé e prática, é infalível.Essa infalibilidade nunca foi

27 Ver Millard Erickson, Christian Theology, (Grand Rapids: Baker, 1990), pp. 1070,71.
28

plenamente explicada ou definida. O Concílio Vaticano II foi uma


tentativa de explicar o problema da infalibilidade papal, mas não teve
um real sucesso. Erickson salienta que "ordinariamente o papa não
escreve um prefácio de um decreto afirmando: "Vou fazer agora um
pronunciamento ex-cathedra". Sendo sábios e líderes cuidadosos, os
papas têm sido muito cautelosos ao identificarem suas declarações
oficiais como ex cathedra, visto que uma vez feitas, tais regras não
podem jamais ser revertidas, mudadas ou alteradas. 28
.

Argumentos Pró -
a) Cristo é o fundador da igreja. E ele proporcionou a igreja uma
estrutura de governo autoritativa. Ele enviou os apóstolos com toda
autoridade;
b) A posição que Tiago ocupou na igreja de Jerusalém. Sua
autoridade foi similar a dos bispos posteriormente. Aqui está o
precedente para o sistema episcopal;
c) O argumento histórico de que há uma linha direta de
sucessão dos apóstolos até os bispos de hoje. A autoridade dos
apóstolos é transmitida a eles.
No sistema episcopal o bispo é a chave para o
funcionamento do sistema. Alguns mais radicais dizem o bispo é a
verdadeira essência da igreja. Não existe igreja sem os bispos. Uns
poucos diriam que o episcopado é a igreja. Dentro da Igreja Católica,
eles compõe a ecclesia docens que, num certo sentido, é a verdadeira
igreja. A outra, ecclesia audiens, a dos fiéis, é derivada desta.
Em alguns rincões do mundo romano o bispo tem sido
considerado como alguém que é vestido de autoridade mesmo
secular, em questões temporais. Eles são, nesse sentido,
considerados os príncipes da igreja e também como alguns os
consideram, a própria igreja.
Em geral os bispos definem a igreja. Eles não são
escolhidos pela congregação, mas são chamados de cima.

"A teoria do episcopado, segundo escritores Católico


Romanos, é baseada na na doutrina romana da igreja visível.
Esta igreja visível necessita de um sacrifício visível. E este
sacrifício visível necessita de um sacerdote. E um sacerdote
necessita de uma consagração especial de Deus para o seu ofício.
Supostamente ele recebe a consagração interna de Deus através
da consagração externa da igreja. Isto quer dizer que ele recebe o
Espírito Santo pela imposição das mãos. Portanto, o verdadeiro
estabelecimento da igreja visível, segundo o catolicismo, requer
28 Ibid., p. 1072.
29

uma ordenação eclesiástica diretamente originada com Cristo e


perpetuada atraves de uma sucessão ininterrupta, assim como
os apóstolos foram apontados por Cristo, os bispos por sua vez
foram ordenados pelos apóstolos...isto até o tempo presente. O
sucessor real dos apóstolos, contudo, é a pessoa do papa. Se os
bispos são supostos ser uma corporação perpétua, eles
necessitam de um centro ou um cabeça autorizado para exercer
jurisdição sobre eles. Dessa forma, o episcopado da Igreja de
Roma é realmente uma hierarquia absoluta, — podemos dizer
uma monarquia absoluta, — governada por um papa infalível. O
laicato não tem absolutamente nenhuma voz no apontamento ou
no chamamento de seus próprios oficiais." 29

Argumentos Contra -
a) É um sistema que tende a enfatizar mais o ofício do que
a pessoa que sustenta o ofício. No NT a autoridade está também
vinculada aqueles que eram espiritualmente qualificados e que
possuiam a sã doutrina;
b) Não há nada na história da igreja que prove
incontestavelmente a sucessão apostólica.
c) A Escritura não tem qualquer indício desse sistema
altamente desenvolvido de governo.
d) Não há qualquer indicação na Escritura de que haja
diferença entre os bispos e os presbíteros.
e) A Bíblia certamente reconhece que a igreja tem uma voz
no chamado de seus próprios oficiais.
f) É um sistema que não dá o devido valor ao exercício
direto do Senhorio de Cristo sobre a igreja.

3) SISTEMA CONGREGACIONAL DE GOVERNO

"Este sistema é caracterizado pelo independentismo. Seu


princípio fundamental é que a congregação local é independente de
quaisquer outras igrejas, e é completa em si mesma." 30
Há algumas características típicas desse sistema.
a) Ele é estritamente democrático. A congregação tem
participação decisória em todos os assuntos da igreja. Cada membro
da igreja tem voz nas decisões da igreja.Aqui eles advogam a doutrina
do sacerdócio universal dos crentes. Eles não vêem a necessidade de
presbíteros governando porque Cristo já tornou esses governadores
desnecessários, porque todo crente tem acesso direto a Deus pela
obra de Cristo.

29 Hoeksema, p. 624.
30 Hoeksema, p. 625.
30

b) Ele é um sistema autônomo, não permitindo a


existência de Concílios superiores, embora sempre têm tomado, em
algumas reuniões maiores abrangendo uma área geográfica
eclesiástica, para efeitos práticos, decisões ou deliberações úteis para
muitas igrejas locais. Essas decisões não são determinações
superiores, mas são apenas declarativas. Não há nenhum poder
externo que possa ditar cursos de ação para a igreja local. A
autoridade não é prerrogativa de um só indivíduo (o bispo no sistema
episcopal), ou num grupo seleto (os presbíteros no sistema
presbiterial).
c) Ele abriga duas espécies de oficiais: o Presbítero
(Pastor) e os diáconos que, em regra, exercem as funções presbiteriais
no sistema presbiteriano de governo.
Objeções: (a) O sistema congregacional desconsidera a
eleição de presbíteros (sempre no plural) para o goveno de uma igreja
local; (b) O sistema congregacional desconsidera a posição do Concílio
de Jerusalém como fonte de autoridade sobre os procedimentos das
igrejas locais; (c) Quando Paulo (com autoridade apostólica e
presbiterial) escreveu às congregações, ele não simplesmente ofereceu
conselhos, mas claramente ordenou tudo o que disse.

4) SISTEMA PRESBITERIAL DE GOVERNO

Não existe um pensamento absolutamente rígido com


respeito à forma de governo dentro daquilo que chamamos teologia
reformada. O termo "reformado" tem a ver com a teologia
propriamente, não com o sistema de governo. Há, portanto, várias
igrejas, com diferentes formas de governo, que sustentam a fé
reformada em muitos aspectos, embora não sejam nomeadas Igrejas
Reformadas.
John H. Leith diz que

"a teologia reformada tem vivido confortavelmente com


uma variedade de formas de governo. Como Calvino disse,
"sabemos que a organização de igreja admite, mas não requer,
segundo as condições de variação dos tempos, várias
mudanças." 31 Ele reconheceu este fato em sua história do
desenvolvimento eclesiástico na igreja antiga, e ele aceitou a
variedade de formas de governo de igreja no século dezesseis.
Enquanto a teologia Reformada tem sido predominantemente
associada com a forma presbiterial de governo, ela tem às vezes
florescido em forma de governo congregacional, e tem vivido com
sistemas episcopais funcional e jurisdicional." 32
31 Institutes, IV, VII, 15.
32 Leith, p. 144.
31

Não é difícil ver igrejas congregacionais no sistema com


teologia Reformada ou alguns ramos de Anglicanismo ( com sistema
episcopal) sustentando uma doutrina Reformada consistente.
Contudo, todas as Igrejas Reformadas sustentam um tipo
de sistema Presbiterial de governo, on de o ofício chave é o do
presbítero. É uma espécie de "continuação" da igreja do VT que se
reunia nas sinagogas que, por sua vez, também eram regidas por
presbíteros. Nos tempos do VT os presbíteros eram pessoas com
capacidades de governo sobre a comunidade. Eles eram os mais
experimentados. Essa idéia é transmitida pelos escritores do Novo
Testamento. Em At 11.30 podemos já perceber os presbíteros
presentes na igreja de Jerusalém.
É importante observar que o termo " presbíteros"
(presbu/teroi ) sempre aparece no plural, indicando que a autoridade
deles é sempre coletiva antes do que individual.
O poder de governo, na igreja dos tempos apostólicos,
estava nas mãos dos apóstolos e dos presbíteros:
At 11.27-30 - Os presbíteros administraram as ofertas de
misericórdia enviadas às igrejas da Judéia.
At 15.2, 4, 6, 22, 23; 16.4 - mostra que as decisões
doutrinárias eram tomadas por presbíteros e apóstolos da época.
At 20.17 - mostra que Paulo mandou chamar os
presbíteros de Éfeso para lhes contar o que lhe estava para
acontecer, como que incumbindo-os de cuidarem da igreja que ele
haveria de deixar quando morresse.
At 21.18 - mostra que Paulo e Lucas encontraram-se com
Tiago, e com os presbíteros para informar-lhes do que Deus fazia
através deles.

CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA PRESBITERIAL


Esse sistema tem algumas características fundamentais:

a) Autoridade da Escritura -
Todos os Reformados conscientes admitem que nem todos
os detalhes do sistema presbiterial de governam encontram
fundamento explícito da Escritura, mas todos concordam que os
elementos básicos estão enraizados nela, e apelam para ela.

b) Governo Representativo -
O sistema presbiteriano de governo é um dos mais difíceis
de serem entendidos. De um lado, ele sustenta a autonomia da igreja
local. Do outro, ele atribui um certo poder decisório aos concílios
32

superiores. Mas de qualquer forma, enfatizando um ponto ou outro, o


governo é sempre dado aos presbíteros da igreja.
O governo presbiteriano é composto de Presbíteros que
são eleitos pelo povo, e representam o povo nas decisões tomadas.É
uma democracia representativa. Contudo, essa representação não é
igual à de um país democrático onde os deputados ou senadores
representam o pensamento do povo.
John Henley Thornwell diz:

"O governo representativo na igreja não é como no Estado,


sendo uma criação do povo: o governo representativo é um
apontamento direto de Cristo, e os poderes e deveres dos
representantes eclesiásticos são prescritos e definidos na Palavra
de Deus, a verdadeira Constituição da Igreja. Eles são
representantes como regentes, e não como ferramentas; eles são
destinados para estudar e administrar as leis do Salvador, e não
para se inclinar aos caprichos das pessoas; eles não devem ouvir
nenhuma instrução de autoridade a não ser aquela que vem do
trono de Deus." 33

Diferentemente dos outros sistemas de governo, o


presbiterial afirma a necessidade e a importância do governo dos
presbíteros eleitos pela congregação. (Atos 14.23; Tito l.5) Este
sistema revela um certo equilíbrio, pois pessoas qualificadas por
Deus e reconhecidas pela assembléia são chamadas para exercer o
presbiterato, isto é, o governo da igreja. Elas são chamadas, não para
expressar simplesmente a vontade do povo, mas para testificar da
vontade de Deus para a vida da congregação. John H. Leith escreve:

"Esse tipo de governo está enraizado na antropologia de


Calvino, que insistiu, de um lado, que nenhuma pessoa era boa
o bastante para ser incumbida de governar e, de outro lado, que
uma multidão de pessoas não era qualificada para tomar
decisões críticas que devem ser feitas na vida da igreja. Calvino
temia igualmente as pretensões e a tirania do governo individual
assim como a fraqueza e a desordem das massas...A vontade de
Deus é melhor feita se as decisões não são feitas por indivíduos
nem por todas as pessoas, mas por aqueles que tem sido
escolhidos por suas qualificações especiais." 34

33 Collected Writings of Thornwell, 4: 101.


34 Leith, p. 153.
33

O poder da igreja local reside num grupo de pessoas


eleitas (conselho) pela congregação, não apenas no ministro ou um
presbítero isolado.
Objeções - Normalmente a crítica vem da parte dos
congregacionalistas.
(a) Eles dizem que o tipo de governo presbiteriano está
enraizado numa hierarquia de concílios, para a qual não há
nenhuma base bíblica.
(b) Eles dizem que no sistema presbiteriano não há uma
participação adequada dos membros no governo da igreja.

c) Paridade do Ministério
Não existe superioridade de ofício no Sistema Presbiterial
de Governo. Nenhum oficial tem maior autoridade do que outro,
mesmo nos concílios da igreja. Não existe hieraquia de ofícios ou de
oficiais neste sistema de governo eclesiástico. A Escritura usa os
termos "bispo", "presbítero", "pastor" e "ministro" intermutavelmente.
Não há qualquer diferença de importância entre eles. O que muda o
aspecto como alguém serve no corpo.

A AUTORIDADE DE CRISTO NO SISTEMA PRESBITERIANO

(Berkhof, 695-698)

FONTE DE SUA AUTORIDADE: CABEÇA DA IGREJA

MEIO DE EXERCÍCIO DE SUA AUTORIDADE: PALAVRA

INSTRUMENTOS DE SUA AUTORIDADE: OS OFICIAIS


Capítulo 3
OS OFÍCIOS NA IGREJA

A Igreja de Deus deve ser regida por oficiais. Jesus Cristo


é o Cabeça da igreja, sendo a autoridade máxima dela, como Rei que
é. Foi sua vontade que a igreja fosse regida por oficiais. Calvino diz:

"Agora nós devemos falar da ordem pela qual nosso


Senhor desejou que sua igreja fosse governada. Ele
sozinho poderia governar e reinar na igreja tanto quanto
ter autoridade ou preeminência nela, e esta autoridade
deveria ser exercida e administrada por Sua Palavra
somente. Contudo, porque Ele não habita entre nós
visivelmente (Mt 26.11), temos dito que Ele usa o
ministério dos homens para declarar-nos abertamente a
Sua vontade pela boca, como uma espécie de obra
delegada, não por lhes transferir o Seu direito e honra,
mas somente que através de suas bocas eles possam fazer
a Sua própria obra, assim como um trabalhador usa uma
ferramenta para fazer sua obra." 35

O princípio fundamental da forma de governo presbiteriano é


que Cristo é o Cabeça é o Rei de sua igreja, e que Ele próprio governa
sua igreja por Seu Espírito e por Sua Palavra. (Mt 28.18; I Co 15.27;
Ef 1.20-22; Fp 2.9-11; Sl 2.6). Cristo tem o poder sobre todas as
coisas no céu e sobre a terra, e num sentido específico Ele governa a
Sua igreja por Seu Espírito e Sua Palavra. Somente a Palavra de
Cristo é a regra para a Sua Igreja.
Contudo, Jesus Cristo rege a Sua igreja através da
instrumentalidade de homens que ele próprio apontou para
governarem a igreja, a quem chamamos de oficiais.

O SIGNIFICADO DE OFÍCIO

A idéia de ofício pressupõe autoridade. Essa autoridade é


sempre vinda de alguém de fora, mas nunca proveniente do próprio
oficial. Ele sempre age em nome de alguém que lhe delegou essa
autoridade. O oficial é sempre comissionado por alguém superior
para o exercício de sua função. A atividade é chamada "oficial" no
sentido em que ela não é baseada em motivos particulares ou em
alvos privados. O conceito de ofício procura remover a atividade da

35 Institutes of the Christian Religion, IV.III, 1


35

esfera do particular, do arbitrário e do acidental, para ser enfocada a


idéia da comissão de uma autoridade maior em favor da comunidade
ou do mundo.

A AUTORIDADE DO OFÍCIO

Não vem da comunidade. A comunidade não possue qualquer


poder inerente a ela que não seja relacionado pelo constante ouvir da
Palavra. "A comunidade pode produzir somente os portadores do
ofício, mas não o ofício em si mesmo. Mesmo nesta atividade, a
Comunidade é essencialmente receptiva, e esta recepção acontece na
Palavra...A Comunidade não pode governar-se a si mesma. Ela
poderia governar-se se por "governo"entende-se "administração". Mas
ela não pode fazer assim porque governo acontece somente através
da Palavra." 36
Portanto, é inconcebível pensar também que o ofício carregue
consigo a idéia inerente de poder.
O poder do ofício vem de Jesus Cristo através de Sua Palavra.
É correto que o ofício serve para que a igreja seja governada e
colocada em ordem, mas o poder do ofício não está no próprio ofício.
O poder não é comunicado ao ofícial pelo fato dele ser eleito pela
comunidade.
É importante que se lembre que a autoridade de um oficial
vem também do exercício dos dons que o capacitam a ser um oficial
da igreja. Se alguém não possui os dons específicos para exercer o
ofício, essa pessoa não será reconhecida como exercendo uma
ministério autoritativo, embora tenha sido escolhida pela
congregação. Portanto, antes de se eleger um oficial, é importante
que se veja nele os dons espirituais que o qualificam para exercer o
oficialato.
As pessoas são chamadas para o exercício do Ofício e esse
"chamamento" ou "convocação", tem dois aspectos: A dotação e o
chamamento.

DOTAÇÃO DIVINA
Esse tem a ver com os dons do Espírito que qualificam
alguém para exercer o oficialato. Não existe uma "vocação" explícita
na Escritura para alguém exercer os ofícios de presbítero e de
diácono. O desejo de ser presbítero ou diácono nasce devido aos dons
dados pelo Espírito.

36 Otto Weber. Foundations of Dogmatics, vol. 2, (Grand Rapids: Eerdmans, 1983), p.


570.
36

CHAMAMENTO DA IGREJA
Este tem a ver com a eleição da congregação. Esta só deve
escolher aqueles que comprovadamente manifestam os dons do
Espírito para que exerçãm oficialato. Sem esse aspecto externo eles
não poderão exercer a autoridade formal de oficiais, embora tenham
os dons do Espírito. Geralmente há mais pessoas capacitadas para
exercerem o oficialato do que se pode eleger. A igreja local é quem
determina quem vai exercer o ofício e representá-la nas decisões de
governo.

O OFÍCIO DE PRESBÍTERO

Este ofício era tão honroso que ninguém poderia acusar


um presbítero sem que houvesse 2 ou 3 testemunhas (ITm 5.19).
Este ofício geralmente é dividido em duas classes de
poderes dentro da igreja presbiteriana, mas eu acrescentaria uma
terceira porque a Escritura permite essa última classificação quando
ela analisa as funções dos presbíteros.
A Escritura diz claramente que para ser presbítero há que
se ter, pelo menos, três dons espirituais que são mencionados, e que
qualificam ou dão poder a um homem para exercer o presbiterato.

PODER DE DOCÊNCIA (POTESTAS DOCENDI).


A base para esse poder está evidenciada nas qualificações que
Paulo exige dos presbíteros em 1Tm 3.2 e Tt 1.7-9. O presbítero (que
é equivalente ao termo " bispo") "deve ser apto para ensinar". Todos os
presbíteros devem ter, em alguma medida, o dom de ensino, mas há
aqueles que "se afadigam na Palavra e no Ensino" (1Tm 5.17). Esse
poder de docência está relacionado propriamente ao ministério da
Palavra. Este poder é útil para a preservação da sã doutrina, a
verdade, e na educação de outros ministros que pretendem lidar com
a Escritura. Quando os presbíteros exercem esta função, eles são
chamados mestres (Ef 4.11). Todos os credos e confissões da igreja
foram preparados por presbíteros que se afadigaram no ensino para
preservar a pureza da pregação contra as investidas das heresias que
surgiram no seio da igreja.
Na igreja presbiteriano o chamado "pastor" é aquele que
deve afadigar-se na Palavra e no ensino. Ele é o presbítero docente.

PODER DE REGÊNCIA ( POTESTAS GUBERNANDI).


A base para esse poder presbiterial está explícita em 1Tm 5.17.
Eles devem ter o dom da presidência mencionado nas listas de dons
espirituais em Rm 12.8; 1Co 12.28. Eles exercem a adminstração da
igreja para o bom andamento dela (potestas ordinans) criando leis
37

baseadas na Palavrade Deus, participando também do exercício da


disciplina para a pureza da igreja (potestas judicans).

PODER DE PASTOREIO ( POTESTAS PASTORALIS ).


A base para esse poder presbiterial está explícita em 1Pe 5.1-4;
At 20.28 e Tt 1.7-9. Este poder deve ser exercido por aqueles que têm
o dom da exortação, mencionado em Rom 12.8. Aqueles que possuem
em grande medida o dom da exortação (consolação), são considerados
pastores do rebanho, o que é um dom (Ef 4.11). Eles cuidam do
rebanho consolando-o, animando-o, encorajando-o, sendo o chamado
"cura d'almas".

O OFÍCIO DE DIÁCONO
Capítulo 4
A AUTORIDADE DA IGREJA
(Ver Berkhof, p. 709-720)

A FONTE DE AUTORIDADE DA IGREJA

A NATUREZA DA AUTORIDADE DA IGREJA

A AUTORIDADE DE ENSINO DA IGREJA

A AUTORIDADE DE GOVERNO DA IGREJA

A AUTORIDADE DE ORDEM

A AUTORIDADE DE DISCIPLINA DA IGREJA


(ver Brakel p.157-187)
Esta autoridade visa a preservação da santidade da igreja,
trazendo pureza, constituindo-se naquilo que Jesus Cristo
denominou de as Chaves do Reino do céus.

O FUNDAMENTO BÍBLICO DA DISCIPLINA ECLESIÁSTICA

Há alguns grupos evangélicos 37 que negam a


administração da autoridade da igreja para disciplinar os crentes
faltosos. Eles insistem que a igreja tem somente a autoridade para
pregar, não para disciplinar. No caso dos erastianos, a disciplina do
faltoso deveria vir somente pelo Estado, que é servo da igreja, mas
nunca pela igreja. Contudo, temos que nos lembrar de que a Igreja é
uma entidade corporativa de natureza eminentemente espiritual,
sujeita a leis para a sua ordem e bem-estar, e todos os que entram
nela, fazem votos de fidelidade e de obediência ao Senhor e às
autoridades eclesiásticas devidamente constituídas.
Por essa razão, temos que afirmar categoricamente que o
Senhor Jesus revestiu Pedro, os apóstolos e à igreja toda, da
autoridade para disciplinar.
Mt 16.19 - “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o
que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que

37 Alguns grupos de origem erastiana e arminiana.


39

desligares na terra, terá sido desligado nos céus.” (Ver


ainda Mt 18.18 e Jo 20.23).
Os apóstolos possuiam uma autoridade para discernir e
declarar as condições espirituais das pessoas, admitindo-as ou
deixando de admiti-las na igreja (At 8.20-21; 13.10). Parece-nos que a
admissão não é simplesmente na igreja visível de Cristo, mas é uma
admissão espiritual, pois o texto fala em reino dos céus. Isso que 38

torna a responsabilidade oficiais da igreja muito mais séria.


Portanto, as autoridades constituídas tem o poder de
excluir aqueles que violam seus votos feitos ao serem admitidos nela.
Contudo, do abuso dessa autoridade prescrita em Mt
16.19; 18.18 e Jo 20.23, “surgiu na igreja de Roma a doutrina da
absolvição sacerdotal, que algumas denominações protestantes
conservam de uma maneira modificada. Os ministros podem ensinar
as condições de perdão, mas não têm o poder de inspiração para
discernir a condição espiritual das pessoas; e suas declarações de
absolvição não têm valor algum, além de declarar as condições
estabelecidas.” 39

O FUNDAMENTO TEOLÓGICO DA DISCIPLINA ECLESIÁSTICA

A igreja é uma sociedade nascida duma relação pactual


sendo, portanto, uma sociedade pactual. Seus membros são de tal
forma interligados que devem velar uns pelos outros, para o bem
estar de toda a comunidade. Embora a disciplina sobre os faltosos
seja exercida formalmente pelos oficiais da igreja, devidamente
credenciados, toda a igreja deve estar preocupada com a disciplina,
para que a igreja, como uma sociedade pactual, seja preservada
santa e sem defeito, como requer Jesus. Como um resultado desta
obrigação de pacto, todos os membros da igreja devem ter simpatia
para com esta obra difícil da disciplina, mesmo que ela venha sobre
um membro da família. É melhor o bem estar de toda a comunidade
do que simplesmente a proteção de um membro isolado.
A implantação da disciplina na igreja será melhor e menos
dolorosa quando todos os crentes entendem a cooperam para a
administração dela. Portanto, os membros da igreja, individualmente,
deveriam entender a natureza da disciplina vivendo de tal modo que
não se tornem merecedores dela e ajudem aos outros para que
também não se tornem passíveis dela, cooperando com as
autoridades eclesiásticas quando a disciplina for necessária e
desejável.
38 Em nenhum lugar da Escritura a expressão “reino dos céus” tem uma conotação
simplesmente de organização externa do reino do Messias.
39 John A. Broadus, Comentário de Mateus, vol. 2, (Casa Publicadora Batista, 1949),
93-94.
40

O PAPEL DOS CRENTES COMUNS NA DISCIPLINA ECLESIÁSTICA


1. O primeiro passo da disciplina eclesiástica deve vir da
parte dos crentes em geral, mas especialmente daqueles que
possuem, em algum grau, o dom pastoral. Observe como a a atitude
dos crentes em geral para com os faltosos pode previnir um exercício
mais duro da disciplina da parte dos oficiais. Veja o conselho de
Paulo:
1Ts 5.14 - “Exorto-vos também, irmãos, a que
admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados,
ampareis os fracos, e sejais longânimos para com todos.”
Quando o dever de admoestar os insubmissos é feita por
aqueles que têm o dom pastoral, tarefa presbiterial torna-se menos
pesada e, certamente, impedirá muitos de receberem o passo mais
extremo de disciplina.
O escritor aos Hebreus coloca esta mesma verdade de
uma outra maneira, quando diz:
Hb 3.12-13 - “Tende cuidado, irmãos, jamais
aconteça haver qualquer de vós perverso coração de
incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário,
exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se
chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido
pelo engano do pecado.”
Quando este passo é dado pelos crentes que velam pelos
outros que estão em falta, torna-se mais fácil a vida moral e
espiritual da igreja, evitando, assim, os desgastes naturais dos
aplicadores oficiais da disciplina.
2. Um segundo passo que os crentes em geral devem dar
com relação à disciplina dos membros faltosos é notificar aos oficiais
devidamente credenciados o que se passa na igreja a fim de que a
igreja seja preservada da impureza o mais rapidamente possível. Veja
a base bíblica para isso:
1Co 1.11 - “Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui
informado pelos da casa de Cloe, de que há contendas
entre vós.”
Se depois da exortação dos irmãos, ou de presbíteros
individualmente, os faltosos se mantêm insubmissos, então a
disciplina deverá ter um caráter mais formal, e deverá ser aplicada
pelos presbíteros, que são aos autoridades devidamente constituídas
para o exercício dessa autoridade.
41

OS OBJETOS DA DISCIPLINA BÍBLICA

Essa disciplina deve ser administrada somente aos


membros da igreja, não aos incrédulos ou pagãos.
1Co 5.12-13 diz: “Pois com que direito haveria eu de
julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora,
porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o
malfeitor.”
Todos os que estão dentro da igreja estão sujeitos à
disciplina, sejam pessoas ou concílios, se eles se afastam da doutrina
ou ferem a ética prescrita nas Santas Escrituras, enveredando por
caminhos pecaminosos.

OS PASSOS DA DISCIPLINA BÍBLICA

Na Confissão de Fé de Westminster 40, e na praxe das


Igrejas Presbiterianas e Reformadas há alguns passos tradicionais de
disciplina eclesiástica: Advertência, Suspensão da Ceia e Expulsão.
Para duas delas há uma plena base escriturística, mas para uma
delas, embora seja uma praxe em todas as igrejas evangélicas, há
uma carência de prova da Escritura sobre a validade e a
aplicabilidade dela.

ADVERTÊNCIA
Este primeiro estágio consiste na exortação, repreensão e
advertência ao faltoso, primeiramente de um modo privado, pastoral
(Mt 18.15) Depois,então, na presença de duas ou três testemunhas
(Mt 18.16); em seguida a advertência dos presbíteros, que está
implícito em 1Ts 5.12 e, em última instância na presença de toda a
igreja (Mt 18.17a). Normalmente, na praxe presbiteriana, esta última
fase de advertência não acontece, por se entender que o conselho de
presbíteros representa a igreja.

AFASTAMENTO DOS IRMÃOS


Esta não é uma prática comum da igreja evangélica, e, na
verdade, ao que me consta, nunca foi parte da disciplina da igreja
cristã depois do período apostólico.
2Ts 3.14-15 - “Caso alguém não preste obediência à
nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos
associeis com ele, para que fique envergonhado. Todavia,
não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão.”

40 Das Censuras Eclesiásticas, xxx, iv.


42

Aqui trata-se de um afastamento do faltoso para que ele


se envergonhe, mas é uma atitude de irmão para com irmão, não de
inimigo para inimigo. O intúito deste afastamento é mostrar o
dissentimento da parte dos fiéis para com o modo pecaminoso do
outro irmão agir.
Que tipo de afastamento é esse? Para que o faltoso se
entristeça e se envergonhe de sua atitude. Como aplicar esse passo?
Os outros irmãos devem evitar de convidá-lo para jantar em sua
casa, evitar de andar com ele, ou outra atitude que evidencie que eles
não estão do lado dele no que ele faz. Quando mantemos um clima de
intimidade com o faltoso pode significar que estamos do seu lado,
mas quando nos afastamos dele, mostramos o nosso
descontentamento por aquilo que ele faz. Esse comportamento da
igreja para com ele, segundo oensino da Escritura, o ajuda ao invés
de trazer prejuízo à sua vida. Contudo, o intuito desse passo é para
entristecer o faltoso, levando-o ao arrependimento e recuperação de
sua vida. A atitude de nosso afastamento do faltoso deveria causar
dor em nós, porque queremos o seu bem.
Contudo, o espírito do tempo presente não têm permitido
esse tipo de comportamento que é qualificado como “falta de amor”.

SUSPENSÃO DA PARTICIPAÇÃO DA CEIA


Normalmente este terceiro estágio da disciplina é
defendido em nome da pureza da igreja, para que a igreja não seja
zombada e também para o benefício do faltoso. Este estágio é
necessário, segundo a praxe evangélica-reformada, para aqueles que,
depois da advertência, ainda perseveram na ofensa.
Este estágio, que se manifesta na recusa em admitir os
faltosos à mesa do Senhor, carece de fundamento escriturístico. Não
há nenhuma menção na Escritura sobre suspender as pessoas
faltosas da comunhão da ceia. Essa é uma prática consagrada na
história da igreja cristã, mas que deve ser questionada. Por quê ela
deve ser questionada? Exatamente por causa do conceito de ceia
como uma privilégio que vigora dentro da Igreja Evangélica. Segundo
a teologia Reformada, a participação da ceia não é simplesmente um
privilégio. Antes que isso, ela é um meio de graça absolutamente
necessário para a nutrição da vida cristã. Se ela é para esse benefício,
o faltoso que está fraco nunca poderia privado dela, justamente se a
finalidade da disciplina é trazer de volta o faltoso. Se tirarmos dele
aquilo que pode fortalecê-lo, estaremos dificultando ao invés de
facilitar a sua volta ao comportamento digno.
É necessário que vejamos a disciplina bíblica de três
maneiras: advertência, afastamento da parte dos irmãos ou expulsão.
Não existe meio termo: ou a pessoa está em comunhão ou fora dela.
43

Um estágio de “suspensão da comunhão” é um arranjo para o qual


não conseguimos suporte na Palavra de Deus.

EXPULSÃO
Neste último estágio, o faltoso impenitente é desligado da
igreja. Isso significa que ele não mais será reconhecido como irmão,
mas como um ímpio. Este foi o procedimento da Igreja do Antigo
Testamento e também da do Novo Testamento.
Essa expulsão tem, pelo menos, duas fases: evitar
companhia com ele considerando-o como um ímpio; considerá-lo
como gentio e publicano.

O Ensino do Senhor Jesus


Depois da advertência, se o faltoso não se emendasse, há
uma recomendação muito nítida do Senhor Jesus com respeito à
expulsão:
Mt 18.17 - “E se ele não os atender, dize-o à igreja;
e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como
gentio e publicano”.

O Ensino de Paulo
Primeiramente Paulo fala a respeito de evitar a pessoa
impenitente, deixando-a isolada. É extremamente curioso que Paulo
ordena que sejam evitadas pessoas que criam contendas na igreja,
andando em discordância com a doutrina que aprendem. Este passo
da disciplina tem em Paulo a razão maior das divisões por causa de
doutrina, aliás, um passo que tem sido evitado em nosso meio em
nome do amor. Os concílios das igrejas têm tido mais preocupação
com o bem-estar das pessoas do que com a fidelidade ao ensino da
Palavra de Deus. Veja o ensino disciplinar de Paulo.
Rm 16.17-18 - “Rogo-vos, pois, irmãos, que noteis
bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em
desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos
deles, porque estes tais não servem a Cristo, e, sim, a seu
próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas enganam
os corações dos incautos.”
O outro texto de Paulo está numa de suas cartas
pastorais, e mostra mais uma vez a sua preocupação com pessoas
que provocam divisões na igreja, justamente por causa de doutrina,
pois é esse o contexto do ensino de Paulo na carta a Tito. Essas
pessoas devem ser evitadas pelos ministros (no caso Tito) e pelos
crentes em geral como o texto anterior deixou bem claro. É parte do
44

processo de expulsão essa atitude de evitar aquele que procede


impiamente, pois a condenação já está sobre ele.
Tt 3.10-11 - “Evita o homem faccioso, depois de
admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal
pessoa está pervertida e vive pecando, e por si mesma está
condenada.”
O passo final e decisivo de disciplina no ensino de Paulo,
que é a expulsão propriamente, está explícito na sua segunda Carta
aos Coríntios.
Paulo critica fortemente a liderança da igreja de Corinto
por tolerar pessoas que praticavam imoralidade, sendo membros da
igreja (1Co 5.1). A crítica de Paulo é vista no fato de os coríntios não
expulsarem o faltoso do meio deles (1Co 5.2). Então, Paulo sentencia
o faltoso a ser entregue a Satanás, para receber a devida punição
pelos seus pecados (1Co 5.5). Paulo também deixa bem claro o seu
ensino sobre a expulsão, no final desse texto:
1Co 5.13 - “Os de fora, porém, Deus os julgará.
Expulsai, pois, de dentre vós o malfeitor”.
Contudo, há objeções de que a entrega do faltoso a
Satanás esteja ligada à expulsão da igreja (verificar 1Tm 1.20), pois o
castigo parece ser para crentes impenitentes para que estes venham
ao arrependimento e à salvação final.

OS PROPÓSITOS DA DISCIPLINA BÍBLICA

1) TORNAR O PECADOR ENVERGONHADO POR SEUS PECADOS


A Escritura é clara quanto a este propósito. Quando
alguém não obedece os preceitos de Deus, a disciplina deve vir sobre
ele a fim de que ele se veja numa situação de vergonha, e venha ao
arrependimento. Paulo diz:
2Ts 3.20 - “Caso alguém não preste obediência à
nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos
associeis com ele, para que fique envergonhado.”
Se alguém não se sente envergonhado pelos seus pecados,
a disciplina deve vir sobre ele, para que isto aconteça. A vergonha é
uma especie de primeiro passo para o arrependimento. Ninguém virá
ao verdadeiro arrependimento sem que possua esse senso de
vergonha perante Deus primeiro e, depois, diante dos homens.
45

2) LEVAR O PECADOR A NÃO PECAR MAIS


A disciplina tem a finalidade de levar o pecador a pensar
duas vezes antes de cometer a mesma falta.

3) CRIAR UM SENSO DE TEMOR NOS OUTROS CRENTES


Quando uma disciplina séria vem sobre um irmão, toda a
igreja é invadida por um senso de temor. Todos temem receber as
mesmas penas e isso leva a igreja a considerar o pecado como algo
extremamente sério diante de Deus. Sobre este aspecto a Escritura é
muitíssimo clara:
1 Tm 5.20 - “Quanto aos que vivem no pecado,
repreende-os na presença de todos, para que também os
demais temam.”
É verdade que este verso acima fala dos presbíteros em
pecado, mas é uma verdade aplicável a todos os crentes, pois a
disciplina estabelecida por Deus traz temor aos outros.
A CFW fala desse propósito de uma maneira diferente:
“impedir que outros pratiquem ofensas semelhantes, para purgar o
velho fermento que poderia corromper a massa inteira.” 41

4) EVITAR O JULGAMENTO MAIS PESADO DE DEUS


Toda uma congregação local pode vir a receber uma
disciplina de Deus se os seus líderes não exercem a disciplina que
cabe aos faltosos. Quando não há a disciplina o bem retirado da
igreja da parte de Deus (Jr 5.24-25). Nessa linha de raciocínio, Paulo
diz: 1Co 11.30 - “Eis a razão porque há entre vós muitos fracos e
doente, e não poucos que dormem.”
Em outras palavras a CFW diz que a necessidade das
censuras eclesiásticas “é para evitar a ira de Deus, a qual com justiça
poderia cair sobre a Igreja, se ela permitisse que o pacto divino e os
selos dele fossem profanados por ofensores notórios e obstinados. ” 42

OS FINS ÚLTIMOS DA DISCIPLINA BÍBLICA

1) A GLÓRIA DE DEUS
Este é o fim absolutamente último da disciplina final que
é a expulsão de membros faltosos e impenitentes da igreja. Quando o
nome de Deus é desonrado e blasfemado entre os incrédulos pelo
comportamento leviano e impenitente dos membros arrolados na
igreja, a expulsão é benéfica para que os ímpios vejam o zelo que
Deus tem pelo Seu santo nome, através dos oficiais da igreja. A glória
41 CFW, capítulo XXX, iii.
42 CFW, capítulo XXX, iii.
46

de Deus deve ser o alvo final da disciplina eclesiástica (Is 66.5). Por
essa razão, ela deve ser aplicada com muita propriedade e com um
santo temor.

2) A PUREZA DA IGREJA
Este é o fim primeiro da disciplina eclesiástica. A igreja
deve ser preservada da infecção generalizada que pode ocorrer com a
presença constante do pecado sem punição no meio dela. Segundo
Jesus Cristo, um pouco de fermente pode levedar toda a massa. Por
isso Paulo manda que tiremos fora o velho fermento (1Co 5.7,13). A
lepra tem que ser tirada do acampamento dos santos, a fim de que
estes não sejam contaminados também. Por essa razão, os pecadores
impenitentes, cujas palavras corroem como câncer, devem ser
retirados do meio da igreja, para a saúde dela.

O EXERCÍCIO DA DISCIPLINA

A MANEIRA DO EXERCÍCIO DA DISCIPLINA ECLESIÁSTICA


Os oficiais da Igreja devem administrar a disciplina não
em seu próprio nome, mas no nome de Cristo, reconhecendo as suas
próprias fraquezas, e sabendo das possibilidades deles próprios
poderem um dia serem faltosos.
Os oficiais da Igreja devem aplicar a disciplina aos faltosos
com um espírito penitente, motivadas unicamente pelo senso de
obediência à Palavra de Deus, zelando pelo bem-estar da igreja, para
evitar que males maiores venham a acontecer no meio do povo de
Deus.
Os oficiais da Igreja devem aplicar a disciplina com muita
humildade, em total submissão ao Espírito de Cristo. Eles não devem
fazer a sua própria vontade, nem dar vasão à sua própria ira, mas
devem demonstrar o desagrado de Deus contra os pecados dos
homens, aplicando unicamente o que é devido ao pecador.
Os oficiais da Igreja, ao aplicarem a disciplina, nunca
devem ter o espírito arrogante, como se fossem os impecáveis a
Igreja, mas com toda a humildade sabendo que eles próprios
poderiam estar naquela situação não fora a bondade divina os
segurar limpos dos pecados. A compaixão e a tristeza pela situação
dos
faltosos devem estar presentes na atitude disciplinar dos
oficiais.
47

A MANEIRA DA RECEPÇÃO DA DISCIPLINA ECLESIÁSTICA


O faltoso que recebe a disciplina eclesiástica devidamente
aplicada deve proceder humildemente, reconhecido de seus pecados
diante do Senhor.
O faltoso deve reconhecer que os oficiais da igreja são
devidamente autorizados por Deus para aquela dura tarefa. Nunca
ele deve insurgir-se contra os presbíteros, pois Deus os comissionou
para essa tarefa. Ao contrário, o faltoso deve estar submisso a eles,
primeiramente porque Jesus os encarregou disso e, também, porque
o faltoso jurou obediência e respeito aos presbíteros quando foi
admitido na igreja.
O faltoso que recusa-se a receber a disciplina por causa
de seus pecados, mostra-se arrogante e merecedor de maior pena
ainda, porque uma vez mais despreza os mandamentos de Deus. Isto
é um orgulho consumado e passível de uma disciplina mais pesada
ainda.

A NECESSIDADE DA DISCIPLINA

A CONSEQUÊNCIA DA NEGLIGÊNCIA DA DISCIPLINA

Mais do que nunca o exercício das chave da disciplina é


necessário na igreja hoje. Tem havido uma degeneração na vida da
igreja pela falta do exercício dessa chave. Em geral, as igrejas locais
hoje, por causa do espírito do tempo presente, têm negligenciado o
uso dessa prerrogativa no seu meio. O velho fermento não tem sido
lançado fora, para que a massa seja renovada (1Co 5.7). Por essa
razão, a igreja de Deus tem sido zombada, tem perdido a sua força
porque perdeu a sua pureza. Os nomes de Deus e de Sua igreja têm
sido blasfemados entre os incrédulos por causa da falta do exercício
devido da disciplina. Em nome do “amor” e dos “direitos das pessoas”
de fazerem o que bem entendem, os ministros da Palavra e os seus
pares, os presbíteros, não têm tido a devida energia para exercerem
essa autoridade que a Escritura lhes confere. Por causa desse pecado
de negligência dos ministros do evangelho e dos presbíteros, os
sacramentos são zombados e as bênçãos de Deus não têm vindo
sobre Sua igreja, como poderiam, se houvesse o zelo cheio de amor de
uma disciplina.

EXORTAÇÃO AOS PRESBÍTEROS PARA O FIEL EXERCÍCIO


DA DISCIPLINA

1) Lembrem-se de que vocês são os responsáveis diante de


Deus para o exercício devido da disciplina. Deus deu essa
48

prerrogativa unicamente a vocês dentro da Sua igreja. Não declinem


dessa séria e necessária função presbiterial.
2) Se vocês negligenciarem o exercício da disciplina
Bíblica, estarão contribuindo para a degeneração a igreja, tornando-
se responsáveis diante de Deus. O nome de Deus será desonrado, e
muitas pessoas não mais se unirão à igreja, porque o que acontece
na igreja acontece também no mundo. Que diferença a igreja faria,
para que alguém desejasse entrar nela?
3) Se vocês negligenciarem o uso devido da disciplina,
vocês estarão sendo coniventes com os pecados cometidos no meio do
povo de Deus. Diante de uma situação como essa, o apóstolo
repreendeu os ministros daquela igreja (1Co 5.1-13). Sigam os
conselhos da Santa Escritura, par a pureza da igreja.
4) Saibam que, se vocês negligenciarem o uso devido da
disciplina, o Senhor haverá de trazer julgamento sobre vocês
mesmos, porque Ele confiou a disciplina aos ministros da igreja.
Nesse sentido, vocês são os bispos da igreja, superintendendo o
rebanho de Deus. Deus exigirá o sangue daqueles a quem vocês não
avisaram nem disciplinaram pelo mau caminho que eles seguiam.
Pesa sobre vocês essa grande responsabilidade e o consequente juízo
de Deus!
CAPÍTULO 5

OS PASSOS DA DISCIPLINA BÍBLICA

LEVANTAMENTO HISTÓRICO

OS PASSOS DA DISCIPLINA NA PATRÍSTICA

OS PASSOS DA DISCIPLINA NA IDADE MÉDIA

OS PASSOS DA DISCIPLINA NA REFORMA DE JOÃO CALVINO


Diferentemente de alguns de seus herdeiros espirituais, João
Calvino ombreou com a Escritura, especialmente no ensino de Jesus
Cristo, no que tange aos passos da disciplina eclesiástica.

Admoestações particulares
“O primeiro fundamento da disciplina é proporcionar um lugar
para a admoestação privada”. Calvino, então, argumenta que esse é
43

um papel dos membros da igreja em geral. Diz ele que “cada irmão
deveria se esforçar para admoestar o seu irmão.” Todavia, ele
encarregou os pastores e os presbíteros para fazerem essa tarefa com
mais especificidade, pois o dever deles era não somente o de instruir
e pregar, mas também de advertir e de exortar em cada família. 44

Essas admoestações particulares deveriam ser exercidas


quando os pecados são privados. Aqui Calvino aplica o texto de
Mateus 18.15 onde diz: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo
entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmão.”

Admoestações Públicas
Quando as admoestações particulares não surtem o efeito
desejado, isto é, quando o faltoso “teimosamente rejeita tais
admoestações ou mostra que ele as despreza persistindo em seus
próprios vícios, após ter sido admoestado uma Segunda vez na
presença de testemunhas, Cristo ordena que seja chamado ao
tribunal da igreja, ou seja, o corpo de presbíteros, e seja admoestado
como pela autoridade pública...” 45

Esta admoestação deve possuir um caráter público quando os


pecados são do conhecimento público. Falando da disciplina dos
presbíteros, Paulo ensina a Timóteo: 1 Tm 5.20 - “Quanto aos que

43 Institutes of Christian Religion, IV, XII, 2.


44 Institutes of Christian Religion, IV, XII, 2.
45 Ibid.
50

vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que


também os demais temam”. O argumento que Calvino usa é que
Paulo aplicou esse tipo de admoestação quando Pedro pecou
publicamente, foi também publicamente admoestado por Paulo (Gl
2.14).

Excomunhão
Calvino também encorajou o aplicação da pena da excomunhão
que, às vezes, não é devidamente entendida. Algumas vezes parece
que Calvino sugere uma suspensão temporária da ceia, mas quando
entendido devidamente, a sua idéia real é a de excomunhão. Veja o
que ele diz a respeito daqueles que praticam faltas graves, tornando-
se pecadores obstinados: “mas ele [o faltoso] deve, por um tempo, ser
privado da comunhão da Ceia até que ele dê certeza de seu
arrependimento”. Se essa frase de Calvino fosse final, sem um
comentário posterior, então pensaríamos que ele estivesse falando de
uma penalidade mediana entre a advertência e a exclusão. Na
verdade, a frase seguinte diz: “Porque Paulo não somente repreendeu
o faltoso de Corinto em palavras mas baniu-o da igreja, e repreendeu
os coríntios por tolerá-lo por tão longo tempo (1 Co 5.1-7).” Portanto,
46

Calvino não cria (como vieram a crer os seus descendentes


espirituais) numa suspensão temporária da Ceia como sendo algo
diferente da exclusão.
Calvino cria somente em três passos da disciplina eclesiástica:
admoestação particular, admoestação pública e exclusão. Ele
desconhecia o passo intermediário antes da exclusão, que é a
suspensão temporária da ceia. A suspensão temporária da ceia em
Calvino era igual à exclusão. Ele a julgava temporária porque
entendia que, mesmo excluído temporariamente, alguém poderia
voltar a comunhão da ceia, quando arrependido, pois a finalidade da
penalidade é trazer o volta à comunhão o faltoso. Segundo Calvino, o
falto de Corinto (1 Co 5.) devia ser excluído da igreja, não apenas
advertido com palavras. Para Calvino, não poderia alguém ser
suspenso da comunhão da ceia e ainda permanecer como membro da
igreja. Portanto, a suspensão temporária da qual Calvino fala não é a
mesma coisa que praticamos em nossa tradição presbiteriana, mas é
equivalente à exclusão. Quando ele usa a expressão “por algum
tempo”, certamente ele tem a esperança de que o faltoso seja
restaurado em pouco tempo, pois esta é a finalidade da exclusão —
despertar no faltoso o arrependimento e a volta à comunhão da ceia.

46 Institutes, IV, xii, 6.


51

LEVANTAMENTO NOS DOCUMENTOS TEOLÓGICOS

A teologia reformada subseqüente, herdeira do pensamento de


Calvino, não o seguiu rigidamente na aplicação dos passos da
disciplina eclesiástica. Ao invés de seguir Calvino, ela voltou a alguns
moldes da disciplina medieval, embora com algumas modificações.
O disciplina das igrejas reformadas e presbiterianas seguiram
um modelo estranho que carece de fundamento escriturístico em um
dos seus passos. A disciplina exercida inclui a admoestação (que em
geral é feita pelo pastor, mas não exclusivamente); existe como passo
final a exclusão, que é a excomunhão. Todavia, há um passo
mediano, que é aplicação da suspensão temporária do sacramento da
ceia. Este terceiro passo, que é questionável, tem sido o mais usado e
o mais temido dos crentes faltos, pois raramente se pratica a
excomunhão. Por essa razão, classicamente falando, “os reformados
distinguem entre a excommunicatio minor, uma exclusão disciplinar
da ceia do Senhor e a excommunicatio maior, a plena exclusão da
companhia dos irmãos,” embora em nosso linguajar eclesiástico não
47

usemos regularmente esses termos latinos.

OS PASSOS DA DISCIPLINA NOS DOCUMENTOS DE WESTMINSTER


Na Confissão de Fé de Westminster, e na praxis das Igrejas
48

Presbiterianas e Reformadas há alguns passos tradicionais de


disciplina eclesiástica: Advertência, Suspensão da Ceia e Expulsão.
Para dois deles há uma plena base escriturística, mas para o segundo
passo, embora seja uma praxe em todas as igrejas evangélicas, há
uma carência de prova da Escritura sobre a validade e a
aplicabilidade dela. O fundamento pode ser encontrado apenas
historicamente, não exegeticamente.
A origem dessa práxis nas Igrejas Presbiterianas vem dos seus
símbolos de fé. Os escritores dos símbolos de Westminster,
conquanto homens extremamente capazes, falharam na aplicação
das penas eclesiásticas, não seguindo o pensamento de Calvino, que
é o das Escrituras. Veja o que diz a Confissão de Fé de Westminster no
capítulo sobre as Censuras Eclesiásticas, quando trata da tentativa
de purificação da igreja:
“Para melhor conseguir estes fins, os oficiais da Igreja devem
proceder na seguinte ordem, segundo a natureza do crime e
demérito da pessoa: repreensão, suspensão do sacramento da
Ceia do Senhor e exclusão da Igreja.” (XXX,4).

47 Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek Theological Terms (Baker,


1985), 110.
48 Das Censuras Eclesiásticas, xxx, iv.
52

OS PASSOS DA DISCIPLINA NOS TEÓLOGOS REFORMADOS


Wilhelmus à Brakel (The Christians Reasonable Service, vol. 2,
p.160-61)

Defensores de uma única exclusão


John Owen
Diferentemente dos puritanos da Confissão de Fé de
Westminster, Owen estabeleceu uma posição bem mais coerente com
as Escrituras, pois negou dois tipos de excomunhão, uma temporária
e a outra definitiva. Nesse sentido, ele foi bem mais explícito que
Calvino, não deixando nenhuma margem de dúvida a respeito da
excommunicatio minor (suspensão temporária) e a excommunicatio
maior (exclusão). Eis suas palavras:
“Tem havido muitas disputas a respeito dela [excomunhão]...
Alguns supõem que haja duas espécies de excomunhão —
uma eles chamam de “menor”, e a outra de “maior”... Não há
nenhuma menção na Escritura de qualquer outra espécie,
mas apenas uma, ou de qualquer outro grau. A segregação de
toda participação na ordem da igreja, adoração e privilégios, é a
única excomunhão da qual se fala na Escritura.” 49

Todavia, Owen admite, para o bem da igreja, em casos


excepcionais, que uma pessoa seja suspensa temporariamente da
ceia, antes mesmo de ser banida da sociedade cristã, a fim de que
não haja escândalo maior para a igreja. No entanto, ele enfatiza que
“esta suspensão não é propriamente uma instituição especial, mas
somente um ato de prudência nas regras eclesiásticas, para evitar
ofensa e escândalo.” Então, Owen continua dizendo que “se
50

qualquer pessoa recusa-se a se submeter diante desse ato das regras


da igreja, esta não tem outro modo para o seu alívio senão proceder a
remoção total de tal pessoa da comunhão total delas; porque a
edificação da igreja inteira não deve ser obstruída pela obstinação de
qualquer pessoa entre eles.” 51

Portanto, John Owen não aceitou a suspensão temporária da


ceia como um passo intermediário estabelecido na disciplina
eclesiástica, porque a Escritura não autoriza tal prática.
Defensores da suspensão temporária da Ceia
Louis Berkhof
Este é um dos teólogos reformados que tem marcado gerações,
não fugiu da tendência dos herdeiros da reforma de acrescer um
passo na aplicação das penas, que carece de fundamento

49 The Works of John Owen, vol. 16, 165 (grifos do próprio Owen)
50 Ibid.
51 Ibid.
53

escriturístico. Ele também enfatizou a necessidade de uma


suspensão temporária da Ceia, usando o mesmo tipo de raciocínio do
pensamento disciplinar da Igreja na Idade Média. Eis suas palavras,
quando fala das três etapas da disciplina:
“a) A excommunicatio minor, a qual impede o pecador de
participar da Ceia do Senhor. Esta não se faz pública, e tem que ser
seguida por admoestações repetidas do conselho, com o objetivo de
trazer o pecador ao arrependimento” ; em seguida, b) depois das
52

advertências não atendidas, vem a suspensão temporária da


comunhão da ceia; estas duas primeiras etapas fazem parte da
excommunicatio minor; c) Finalmente segue-se a excommunicatio
major, que é a exclusão própriamente, onde os impenitentes são
separados dos fiéis. 53

LEVANTAMENTO ESCRITURÍSTICO

ADVERTÊNCIA
Este primeiro estágio consiste na exortação, repreensão e
advertência ao faltoso, primeiramente de um modo privado, pastoral
(Mt 18.15) Depois,então, na presença de duas ou três testemunhas
(Mt 18.16); em seguida a advertência dos presbíteros, que está
implícito em 1Ts 5.12 e, em última instância na presença de toda a
igreja (Mt 18.17a). Normalmente, na praxe presbiteriana, esta última
fase de advertência não acontece, por se entender que o conselho de
presbíteros representa a igreja.

AFASTAMENTO DOS IRMÃOS


Esta não é uma prática comum da igreja evangélica, e, na
verdade, ao que me consta, nunca foi parte da disciplina da igreja
cristã depois do período apostólico.
2Ts 3.14-15 - “Caso alguém não preste obediência à
nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos
associeis com ele, para que fique envergonhado. Todavia,
não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão.”
Aqui trata-se de um afastamento do faltoso para que ele
se envergonhe, mas é uma atitude de irmão para com irmão, não de
inimigo para inimigo. O intúito deste afastamento é mostrar o
52 Louis Berkhof, Teologia Sistematica, 717-18, (edição espanhola)
53 Ibid.
54

dissentimento da parte dos fiéis para com o modo pecaminoso do


outro irmão agir.
Que tipo de afastamento é esse? Para que o faltoso se
entristeça e se envergonhe de sua atitude. Como aplicar esse passo?
Os outros irmãos devem evitar de convidá-lo para jantar em sua
casa, evitar de andar com ele, ou outra atitude que evidencie que eles
não estão do lado dele no que ele faz. Quando mantemos um clima de
intimidade com o faltoso pode significar que estamos do seu lado,
mas quando nos afastamos dele, mostramos o nosso
descontentamento por aquilo que ele faz. Esse comportamento da
igreja para com ele, segundo oensino da Escritura, o ajuda ao invés
de trazer prejuízo à sua vida. Contudo, o intuito desse passo é para
entristecer o faltoso, levando-o ao arrependimento e recuperação de
sua vida. A atitude de nosso afastamento do faltoso deveria causar
dor em nós, porque queremos o seu bem.
Contudo, o espírito do tempo presente não têm permitido
esse tipo de comportamento que é qualificado como “falta de amor”.

SUSPENSÃO DA PARTICIPAÇÃO DA CEIA


Normalmente este terceiro estágio da disciplina é
defendido em nome da pureza da igreja, para que a igreja não seja
zombada e também para o benefício do faltoso. Este estágio é
necessário, segundo a praxe evangélica-reformada, para aqueles que,
depois da advertência, ainda perseveram na ofensa.
Este estágio, que se manifesta na recusa em admitir os
faltosos à mesa do Senhor, carece de fundamento escriturístico. Não
há nenhuma menção na Escritura sobre suspender as pessoas
faltosas da comunhão da ceia. Essa é uma prática consagrada na
história da igreja cristã, mas que deve ser questionada. Por quê ela
deve ser questionada? Exatamente por causa do conceito de ceia
como uma privilégio que vigora dentro da Igreja Evangélica. Segundo
a teologia Reformada, a participação da ceia não é simplesmente um
privilégio. Antes que isso, ela é um meio de graça absolutamente
necessário para a nutrição da vida cristã. Se ela é para esse benefício,
o faltoso que está fraco nunca poderia privado dela, justamente se a
finalidade da disciplina é trazer de volta o faltoso. Se tirarmos dele
aquilo que pode fortalecê-lo, estaremos dificultando ao invés de
facilitar a sua volta ao comportamento digno.
É necessário que vejamos a disciplina bíblica de três
maneiras: advertência, afastamento da parte dos irmãos ou expulsão.
Não existe meio termo: ou a pessoa está em comunhão ou fora dela.
Um estágio de “suspensão da comunhão” é um arranjo para o qual
não conseguimos suporte na Palavra de Deus.
55

EXPULSÃO
Neste último estágio, o faltoso impenitente é desligado da
igreja. Isso significa que ele não mais será reconhecido como irmão,
mas como um ímpio. Este foi o procedimento da Igreja do Antigo
Testamento e também da do Novo Testamento.
Essa expulsão tem, pelo menos, duas fases: evitar
companhia com ele considerando-o como um ímpio; considerá-lo
como gentio e publicano.

O Ensino do Senhor Jesus


Depois da advertência, se o faltoso não se emendasse, há
uma recomendação muito nítida do Senhor Jesus com respeito à
expulsão:
Mt 18.17 - “E se ele não os atender, dize-o à igreja;
e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como
gentio e publicano”.

O Ensino de Paulo
Primeiramente Paulo fala a respeito de evitar a pessoa
impenitente, deixando-a isolada. É extremamente curioso que Paulo
ordena que sejam evitadas pessoas que criam contendas na igreja,
andando em discordância com a doutrina que aprendem. Este passo
da disciplina tem em Paulo a razão maior das divisões por causa de
doutrina, aliás, um passo que tem sido evitado em nosso meio em
nome do amor. Os concílios das igrejas têm tido mais preocupação
com o bem-estar das pessoas do que com a fidelidade ao ensino da
Palavra de Deus. Veja o ensino disciplinar de Paulo.
Rm 16.17-18 - “Rogo-vos, pois, irmãos, que noteis
bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em
desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos
deles, porque estes tais não servem a Cristo, e, sim, a seu
próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas enganam
os corações dos incautos.”
O outro texto de Paulo está numa de suas cartas
pastorais, e mostra mais uma vez a sua preocupação com pessoas
que provocam divisões na igreja, justamente por causa de doutrina,
pois é esse o contexto do ensino de Paulo na carta a Tito. Essas
pessoas devem ser evitadas pelos ministros (no caso Tito) e pelos
crentes em geral como o texto anterior deixou bem claro. É parte do
processo de expulsão essa atitude de evitar aquele que procede
impiamente, pois a condenação já está sobre ele.
56

Tt 3.10-11 - “Evita o homem faccioso, depois de


admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal
pessoa está pervertida e vive pecando, e por si mesma está
condenada.”
O passo final e decisivo de disciplina no ensino de Paulo,
que é a expulsão propriamente, está explícito na sua segunda Carta
aos Coríntios.
Paulo critica fortemente a liderança da igreja de Corinto
por tolerar pessoas que praticavam imoralidade, sendo membros da
igreja (1Co 5.1). A crítica de Paulo é vista no fato de os coríntios não
expulsarem o faltoso do meio deles (1Co 5.2). Então, Paulo sentencia
o faltoso a ser entregue a Satanás, para receber a devida punição
pelos seus pecados (1Co 5.5). Paulo também deixa bem claro o seu
ensino sobre a expulsão, no final desse texto:
1Co 5.13 - “Os de fora, porém, Deus os julgará.
Expulsai, pois, de dentre vós o malfeitor”.
Contudo, há objeções de que a entrega do faltoso a
Satanás esteja ligada à expulsão da igreja (verificar 1Tm 1.20), pois o
castigo parece ser para crentes impenitentes para que estes venham
ao arrependimento e à salvação final.
Capítulo 5
OS MEIOS DE GRAÇA NA IGREJA

PALAVRA

SACRAMENTOS

ORAÇÃO

Capítulo 6
OS SACRAMENTOS DA IGREJA
OS SACRAMENTOS EM GERAL

AS PARTES COMPONENTES DOS SACRAMENTOS


(Berkhof, 737-38)

Sinal Visível ou Externo

A Graça Interna ou Significada

A União entre o Sinal e a coisa Significada

A NECESSIDADE DOS SACRAMENTOS


(Berkhof, 739)

COMPARAÇÃO ENTRE OS SACRAMENTOS DE AMBOS OS TESTAMENTOS


(Berkhof, 740-41)

Unidade no Significado

Unidade no Número

1. O SACRAMENTO DA INICIAÇÃO: BATISMO


58

O SIGNIFICADO DE BATISMO

OS MODOS DE BATISMO

OS SUJEITOS DO BATISMO

PRINCIPAIS CONCEITOS DE BATISMO


(Erickson, 1090-97)

Batismo como meio salvador

Batismo como amostra da salvação

Batismo como Sinal e Selo do Pacto

2. O SACRAMENTO DA CONTINUAÇÃO: CEIA

Capítulo 7
O DEVER DE SER UNIR À IGREJA
Brakel, p. 55

Capítulo 8
A CRISE DA IGREJA
AS MANIFESTAÇÕES DA CRISE

AS CAUSAS DA CRISE

(ver Brunner, vol.3, p.96-102)


59

A IDÉIA DE QUE ELA EXISTE SOMENTE PARA O CULTO

A ÊNFASE DA SACRAMENTALIZAÇÃO DA SALVAÇÃO

O ERRO DE TRANSFORMAR O MINISTÉRIO EM OFÍCIO

A AUSÊNCIA DE UMA VERDADEIRA EXPOSIÇÃO DA ESCRITURA

SUGESTÕES PARA VENCER A CRISE

REPENSAR O CARÁTER SOCIAL DA IGREJA


(Brunner, p.33)

REPENSAR O CARÁTER KERIGMÁTICO DA IGREJA

REPENSAR O CARÁTER LITÚRGICO DA IGREJA

REPENSAR O CARÁTER INSTITUCIONAL DA IGREJA

************************************************

Curriculum Vitae

PROFESSOR - Rev. Heber Carlos de Campos (30-10-48), pastor


presbiteriano há 19 anos na IPB, tendo pastoreado 4 anos do Vale do
Aço - MG.; 4 anos em Intanhaém-SP; 3 anos na Igreja Presbiteriana
do Calvário, SP; 5 anos na Igreja Presbiteriana Central de Anápolis-
Go; 3 anos como Professor de Teologia Sistemática no JMC (1982-84);
5 anos como Diretor do Seminário Presbiteriano de Goiânia, e
professor de Teologia Sistemática (1985-89); bacharel em teologia
pelo Seminário Presbiteriano do Sul, Campinas-SP 1969-73);
Mestrado em Teologia (Th.M.) no J.M.C., São Paulo (1982-1987), e
60

Doutorado em Teologia Sistemática (Th.D.) no Concordia Seminary


em Saint Louis, Missouri, USA, em (1989-1992). Atualmente
Coordenador do Curso de Pós-Graduação (Mestrado) no Seminário
J.M.C., e co-pastor da Igreja Presbiteriana da Lapa.

S-ar putea să vă placă și