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CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA (DES)ORGANIZAÇÃO DA ESQUERDA E

SUAS FORMAS IDEOLÓGICAS.

Frederico Lambertucci
Bruno Almeida Santos

1. Centralidade do trabalho
2. O estudo como prática revolucionária.
3. A crise do mov. Comunista.
4. 4.1. Praticismo “revolucionário” 4.2. Pós-modernismo.

1. Centralidade do trabalho.

Centralidade do trabalho, do que se trata? O que é o trabalho? Qual a implicação


da centralidade do trabalho para a revolução comunista? Da centralidade do trabalho
deriva a centralidade política da classe operária?
O trabalho é a categoria central do ser social, o que significa dizer isto? Significa
que a categoria que na história diferencia ser social e as outras esferas de ser, a saber,
orgânico e inorgânico é a categoria do trabalho. Portanto, é o trabalho a categoria
fundante do mundo dos homens. A sua centralidade deriva do fato que é nesta categoria
que se encontra a cada momento histórico as possibilidades objetivas da sociedade.
É nesta categoria que se enquadra diretamente as “tais” forças produtivas,
categoria que Marx apreendeu no desenvolvimento histórico da humanidade que tem
como conteúdo todas as objetivações de objetos novos na realidade. Contudo, o que
particulariza o trabalho como prática é que nessa categoria as suas conexões internas
que se articulam por outras duas categorias, sendo elas objetivação e exteriorização no
sentido de prática teleológica – aquela prática que é objetivada visando a transformação
de algum setor da realidade, orientada, portanto, por finalidades previamente pos tas a
ação – conferem ao gênero humano a potencialidade de se autoconstruir, isto é, a sua
autoentificação como um gênero humano que amplia seu raio de liberdade cada vez
mais com o aumento da capacidade de retirar da natureza aquilo que é necessário a
sua reprodução.
Mas qual a importância das categorias de objetivação e exteriorização e o que
elas são? A objetivação é a prática objetiva (como o nome já diz) de transformar o que
está na consciência em algo exterior a está, algo que fará assim que terminada a
objetivação do trabalho em um objeto novo que não existia anteriormente na realidade.
Esse objeto, mesmo que seja igual a outros 900 é o número 901 e ele mesmo não existia
anteriormente a sua produção, além disto o objeto é um objeto social mesmo que
ontologicamente (obrigatoriamente) seja composto por matéria encontrada na natureza,
ele não é produto da natureza, o exemplo é simples, uma mesa é de madeira, mas a
natureza não produz mesas.
Façamos uma pausa antes de explicar a exteriorização. A pausa é importante
para que compreendamos o fundamento da perspectiva materialista de Marx, o
materialismo se define nisto, “a existência é ontologicamente anterior a consciência”, o
que isto significa? Ilustremos com um exemplo simples: Desde o século XVI até meados
do século XVIII inúmeros cientistas, que na época se intitulavam alquimistas,
procuravam uma forma de produzir a pedra filosofal, pedra, que cujo conteúdo era o
elixir da vida eterna. Cabe a nós perguntar porque foi impossível a estes cientistas
produzir tal coisa. A resposta que já vem à mente instantaneamente é que tal coisa não
existe. Mas sentimos a necessidade de uma resposta mais elaborada e Aristóteles pode
nos ajudar em tal hora. A descoberta por Aristóteles do binômio Ato – Potência é uma
descoberta fundamental na filosofia, mas só ganhou sua real dimensão no interior da
ontologia produzida por Marx. A explicação é simples, a produção da pedra filosofal não
foi possível porque tal potência não existe na natureza de modo que a apropriação por
parte dos homens pudesse transformar tal potência em ato. Assim mesmo, pensemos
em um bloco de concreto, que só pode virar estátua porque existe latente está potência
que pode ser apropriada.
Para Marx a resposta é clara, existe uma prioridade ontológica da objetividade
frente a subjetividade, isto significa que a consciência não produz nada, obviamente que
é ali que se formam as teleologias, mas, o seu conteúdo não é produto da própria
consciência, e sim da objetividade natural (que possuem o caráter de leis naturais) e da
objetividade social (que o homem cria a partir do trabalho e de outras esferas da vida e
que possuem caráter de leis tendenciais). Em suma, a consciência aparece na história
com a potência de se apropriar da natureza e de criar as relações sociais entre os
indivíduos, mas ela em última instância só pode fazer isso no interior das leis causais –
leis que derivam da articulação sintética entre as partes de uma totalidade, são leis
alteráveis pelo próprio desenvolvimento contraditório do objeto – sejam elas naturais ou
sociais.
Voltemos a exteriorização. A exteriorização é o momento subjetivo da prática, e
neste caso do trabalho. A exteriorização corresponde ao momento em que o indivíduo
ao objetivar uma teleologia, isto é, ao construir um machado ou produzir algo na esteira
de produção, põe fronte a objetividade do processo, os seus conhecimentos, e nisto
contrasta o que ele pensa que o mundo é com aquilo que o mundo realmente é, nisto
está dada a possibilidade de ele testar seus conhecimentos e comprovar o que está
correto e o que está errado em um processo de apropriação subjetiva do mundo que
nunca se exaure. Desta determinação do trabalho sai o complexo da ciência, por
exemplo.
Bom, o que é um complexo? Isto é crucial compreender, já que a realidade para
Marx se articula como um complexo de complexos. Isto é, cada complexo contém outros
complexos que o formam e, por conseguinte cada um destes é ao mesmo tempo uma
totalidade e parte de outra totalidade. Em um nível de abstração menor, podemos
sintetizar o seguinte, o trabalho é o complexo que no interior da totalidade concreta –
aquela que corresponde ao ser precisamente-assim-existente, é o ser em todas as suas
conexões causais, concretamente articulado – é o centro, protoforma de todas as
demais práticas sociais. É o fundamento de todas as formas sociais, é assim que o
trabalho do comunismo primitivo funda o modo de produção primitivo, o trabalho escravo
funda o escravismo e o trabalho assalariado o capitalismo, bem como o trabalho livre e
associado é o ponto fundamental do comunismo.
Parece-nos fundamental neste momento observar como o trabalho é central, já
que ele articula e dá os limites históricos nos quais os outros complexos podem se
mover, isto indica em grande medida como em uma crise estrutural de um modo de
produção, correspondem uma crise estética, crise ideológica e crise das próprias formas
políticas no seio das quais até então a sociedade se desenvolvia.
A forma específica e particular do trabalho em nossa sociedade, a capitalista, é
o trabalho assalariado – ademais que em países dependentes existam formas de
trabalho subcapitalistas como a escravidão – está é a categoria que funda e a que
corresponde as relações sociais do capital desenvolvido. O que particulariza as classes
sociais sob o jugo do capital é que os meios de produção que são produto de todo o
desenvolvimento da humanidade até nossos dias são propriedade – não apenas
jurídica, mas real – de um grupo que ascende acima e opostamente ao restante da
sociedade, e de outro lado, criou-se a classe que nada tem nas mãos a não ser a própria
prole, o proletariado moderno.
A sociedade continua com as mesmas necessidades, seja com ou sem classes
sociais, citando Marx “antes de fruir os homens precisam produzir seus objetos de
fruição” (1845), isto é uma determinação universal, ontológica da vida social, a riqueza
material precisa ser produzida continuamente, e no capitalismo a classe que produz a
riqueza material (o trabalho em sentido ontológico) é a classe operária, o proletariado,
os outros setores assalariados, ademais de explorados pelo capital, fazem parte da
classe trabalhadora, contudo não são os responsáveis diretos pela produção da riqueza
material.
É desta determinação sobre o proletariado que faz com que tal classe seja a
central em um possível processo revolucionário. Obviamente não estão excluídos os
setores restantes da sociedade, mas tal condição da centralidade política se revela tão
logo observamos greves de distintos setores da classe trabalhadora. De um lado,
pensemos a greve de professores universitários, técnicos e estudantes – esses últimos
são os menos eficazes e mais efêmeros por sua própria natureza de estudantes –, as
greves se arrastam por dois, três e as vezes quatro meses, tal coisa não é casual, as
greves só podem se arrastar por tanto tempo porque os professores, técnicos e
estudantes não são na estrutura produtiva da sociedade os produtores da riqueza
material, e portanto, o governo pode muito bem deixar o cansaço e a desorganização
da classe que é fruto de longo processo histórico vencerem a greve por si própria. De
outro lado, é só pensar em uma greve em uma fábrica qualquer, ou mesmo na
Petrobrás, o pânico no olhar da burocracia-parlamentar é evidente em qualquer aparição
pública, isto pois, estes são sabedores de que a parada abrupta em setores produtores
da riqueza material causa desordem social rapidamente. A resposta para nossa
pergunta no início, portanto é: SIM. Da centralidade do trabalho deriva a centralidade
política da classe operária, o que não significa que a determinação desta seja mecânica.
Passemos a revolução comunista e a implicação da centralidade do trabalho.
Primeiro precisemos o que é revolução, já que o conteúdo se perdeu historicamente e
foi desfigurado pelas vertentes mais diversas, na acepção de “teóricos” como Mises e
Arendt até 1964 e o golpe civil-militar brasileiro se passam por revoluções.
Mas o que diabos é uma revolução? Na mente de nossos militantes de cartilha
e da militância pós-moderna1 -- se é que dá para chamar tal prática de militante –,
organizar sarau, festa das trans ou para “rebolar a raba”2 como chamam
orgulhosamente e etc se tornou um ato revolucionário, e as vezes até o simples ato de
acender um cigarro de maconha tornou-se uma contestação a ordem do capital. Nada
poderia ser mais falso e fruto de sonhos infantis de rebeldia.
Falemos então do que se trata a revolução. Na história da humanidade as
revoluções são processos históricos que se particularizam por seu caráter de salto,
sempre a revolução marca um salto qualitativo em que a humanidade ascende a um
patamar novo de desenvolvimento superando as anteriores relações sociais. A
determinação mais universal da categoria revolução é essa, desde a revolução neolítica

1Trataremos com mais detalhes desse ponto na parte IV.


2Sobre as práticas desumanizadoras que o pós -modernismo faz passar por libertação tratamos com
mais detalhes na Parte IV seção II.
até a revolução burguesa de 1789 (revolução francesa) com todas as revoluções que a
humanidade realizou nesse entremeio, possuem esse conteúdo transhistórico.
Mas aqui falamos de uma revolução em particular, a revolução Comunista.
Obviamente, não podemos dizer como será a revolução comunista, nem Marx quis ser
profeta, como não existe no seio da ontologia materialista nenhum adendo ou
possibilidade de enquadrar concepções de mundo que tenham como base Nostradamus
ou horóscopo, fazer isto é ter como fundamento a ignorância sobre Marx e a sociedade.
O que podemos fazer, é compreender quais as determinações que fundamentam a
sociabilidade capitalista e quais as possibilidades de sua superação, apreendendo os
determinantes material-estruturais desse sócio-metabolismo.
Isto feito, e já adiantamos que o fundamento dessa forma social é o trabalho
assalariado, podemos compreender o que precisa ser superado e abolido, e que a
instauração de outro patamar, de outra forma social se fundamenta em outra forma de
trabalho como já dissemos também. Isto é, a revolução comunista é como disse Marx
uma “revolução política com alma social”, o que quer dizer isto? Significa que a
mediação, a forma pela qual o conflito entre as classes se inicia é político – política e
político não são sinônimos de Estado – ou seja, é na organização da classe trabalhadora
– com a centralidade do proletariado – com objetivos e finalidades estabelecidas, estas
se articulam em um projeto de sociedade, e tem como finalidade a emancipação
humana.
Mas a emancipação humana, finalidade da revolução comunista consiste em
abolir o fundamento das classes sociais, ou seja, abolir e revogar pela força se preciso
as condições materiais-estruturais pelas quais uma parte da sociedade se coloca acima
e contra o restante da sociedade, assim o fazendo, o momento predominante da
revolução é a instituição do trabalho livre e associado, abolindo com isto o dinheiro, a
mercadoria, o capital e o Estado. O que podemos evidenciar é que apenas um marxismo
vulgar derivado da II e III Internacional e de uma visão ingênua e ignorante de luta de
classes – anarquistas incluídos – pensam que a destruição física da burguesia é sua
destruição enquanto classe, quando na realidade a revolução consiste na superação de
uma forma social, da estrutura social que produz de um lado a burguesia historicamente
e de outro o proletariado. A emancipação humana é, em uma palavra, o retorno do
controle social para o gênero humano que dele se alienou sob a figura do capital.

2. Estudo como prática revolucionária.

Depois de observarmos o trabalho – como ato teleológico (objetivação e


exteriorização) – sua centralidade, a centralidade política da classe e a relação entre
revolução e emancipação humana, podemos prosseguir para a questão do estudo. A
primeira pergunta é, por que estudar é importante?
O estudo para o revolucionário não se resume a uma questão de erudição, de
demonstração de conhecimento frente aos outros indivíduos. O estudo é fundamental
para a compreensão da realidade social. Devemos agora perguntar-nos qual a
importância então de entender a realidade social? Para responder a essa pergunta é
necessário nos reportarmos ao complexo primário do trabalho, mesmo que seja só para
tê-lo em mente.
Em uma sociedade de classes a determinação do conhecimento da realidade
social é enviesada pelas classes sociais, o conhecimento é atravessado pela posição
de classe que o indivíduo assume, – isso significa que não há uma determinação
mecânica entre a procedência do indivíduo, ou seja, a classe que nasceu e a sua
concepção de mundo, posição de classe – isto significa que existem determinantes
materiais que fundamentam concepções de mundo que alicerçam teorias. Em uma
palavra, as classes produzem ontologias.
Na sociedade capitalista, as duas classes em questão, burguesia e proletariado,
possuem corpos teóricos distintos, cada qual com suas vertentes teóricas. A burguesia
precisa afirmar a todo custo que existe uma natureza humana egoísta a priori, da qual
deriva toda história humana, e que está ao mesmo tempo que produz a história não é
produto dela, está fora da história, logo a concepção burguesa possui uma concepção
metafísica, independentemente da face que assuma, seja racionalista ou irracionalista.
A burguesia precisa afirmar que a realidade social não é uma totalidade social,
ou no máximo assumir que é, mas afirmar a incognoscibilidade desta pela teoria. Por
isto, a burguesia criou historicamente – e essa é a única forma de conhecimento que
está aceita, forma que é preponderante na universidade – a metodologia moderna,
assentada sob a centralidade da subjetividade que consiste em capturar dados e
arruma-los conforme o indivíduo quiser, desde que seja regido por normas e regras pré-
estabelecidas e concordadas pelo corpo dos cientistas. Daí a concepção de verdade da
teoria burguesa, a qual alega que cada sujeito possui a sua verdade, e que existem
inúmeras verdades.
E o proletariado? A teoria para o proletariado se alicerça em apreender a
realidade social como uma totalidade articulada, e não como uma caos fragmentário –
como querem os pós-modernos – nem como partes que não se articulam. Para o
proletariado é fundamental apreender a sociedade assim como ela realmente é, o ser
social como realmente é, histórico e social por essência, e não determinado a priori por
qualquer essência humana. É por isto, que afirmam Marx e Engels “A essência humana
é o conjunto das relações sociais” (1845), portanto, a essência humana não é dada pela
natureza, mas produzidas socialmente pelo gênero humano na processualidade sócio-
histórica.
O proletariado precisa de uma teoria que desvende os nexos entres as partes e
a totalidade social, que demonstre o ser social como absolutamente histórico e social e
que apreenda a realidade social como ela realmente é. Mas se a realidade social é
composta por um complexo de complexos, se o ser (matéria) existe por níveis, isto
significa que existe uma distinção entre essência e aparência.
Nesta distinção se ampara o ponto nevrálgico da concepção marxiana –
lembramos que essa distinção provêm de Heráclito, mas só irá ser desenvolvida por
Hegel – a aparência é o nível fenomênico dos processos sociais, mas Marx compreende
que a realidade social não está exposta em sua totalidade como é no fenômeno, pois
os fenômenos são coagulações de processualidades subjacentes, por isto, a razão
precisa superar a esfera fenomênica, a imediaticidade com a qual os objetos refletem
no cotidiano e encontrar as mediações, determinações e relações pelas quais o
processo veio a se expressar fenomenicamente de forma determinada.
A burguesia produz a sua teoria se amparando no fenomênico, como se esse
nível fosse o único do real e a realidade se exaurisse nele. A teoria revolucionária
precisa – para alcançar seus intentos de possibilitar a prática revolucionária3 – captar o
ser em sua totalidade, superar o nível fenomênico e captar a essência, e a capturando
voltar a este nível para compreender a aparência e a essência como uma totalidade
concreta. É isto que quer dizer Marx quando em os Grundrisse nos diz “o concreto é
concreto porque é síntese de múltiplas determinações”.
Logo temos duas questões a observar, primeiro que a dificuldade de produzir
teoria revolucionária, de capturar o ser-precisamente-assim-existente é gigantesca, pois
a realidade está em movimento e cabe ao pensamento apreende-la e reproduzi-la em
sua complexidade. Desta constatação anterior podemos concluir, que a teoria marxiana
nunca está acabada – diferentemente do que a III Internacional sob Stálin propagou, de
que a teoria estava pronta e bastava colocá-la em prática, concepção que até hoje
atormenta o cérebro de grande parte da “militância” – e que ela precisa ser revisitada
constantemente, é por isto, herança do marxismo atualiza-la – isto não implica nenhum
revisionismo quando tomamos a teoria marxiana como uma ontologia.
Diante disto, explicita-se a importância do estudo para quem pretende uma
prática revolucionária. Lembremos rapidamente da prioridade ontológica da objetividade
face a subjetividade. Aqui se revela o peso desta constatação, é crucial a apreensão

3 Lembremos Lênin em “O que fazer?” onde escreve sua máxima “Sem teoria revolucionária não há ação
revolucionária.”
teórica da realidade social para modificá-la. Quando falávamos do trabalho ser
protoforma da prática social, aqui podemos esclarecer tal ponto a nível cristalino, assim
como para a objetivação do trabalho é fundamental a consciência apreender os
elementos da realidade a ser modificada para elaborar uma teleologia e para que sua
prática seja efetiva sobre a realidade, sob pena de não conseguir produzir o resultado
que havia previamente elaborado na consciência. Na prática revolucionária é
igualmente crucial apreender as determinações do ser social, da realidade social – em
nosso caso da realidade da sociedade em que domina o capital – para poder objetivar
a transformação radical dessa forma social.
É por isto, ao fim e ao cabo, que a prática sem uma teoria que a alicerce, que
tome a realidade social e a reproduza em seus determinantes estruturantes-materiais,
irá ser uma prática medíocre, que no máximo reproduz a mesma ordem existente contra
a qual pensa estar combatendo. No pior dos casos produz o efeito contrário e fortalece
ainda mais a mesma ordem social. Este é o fundamento do “praticismo ‘revolucionário’”
que existe devido a não identidade entre sujeito e objeto e a perca do horizonte
revolucionário da classe trabalhadora, quanto das duas formações organizativas que
desembocaram em nosso atual estado: A crise do movimento comunista. As duas fontes
são o reformismo e o stalinismo.
Eis ai a importância crucial do estudo, da dedicação a apreender a realidade
social e produzir teoria revolucionária.
3. Crise do Movimento Comunista4
Já constatamos o praticismo revolucionário e suas fontes acima, cabe aqui fazer
um breve histórico de como chegamos a esse ponto, só iremos expor os pontos que
dão mais ênfase ao processo.
A articulação entre essas duas vertentes possui um ponto em comum: a crença
na possibilidade de utilizar o Estado para superar o capital e chegar ao socialismo.
Em nossos dias a concepção de que a luta deve se direcionar ao Estado, ou que
“a luta de classes também se dá no Estado” ou de que devemos utilizar do Estado para
promover a luta revolucionária é amplamente divulgada, seja dentro de partidos políticos
que se põe a esquerda, seja entre movimentos sociais. Tal concepção, que deixa várias
crianças com inveja por tamanha ingenuidade, é produto histórico de décadas de
reformismo que se inicia ainda na época em que Marx vivia e que fez Engels escrever
junto com Kaustsky – a deusa Clio e suas ironias 5 – um artigo publicado como livro
chamado o socialismo jurídico, no qual os autores combatiam a visão divulgada por

4Ler Fernando Claudín com o livro de mesmo nome.


5Ironia porque Kaustsky posteriormente foi talvez o maior dos reformistas dentro do partido da Social -
Democracia Alemã.
parte do movimento socialista utópico de que com pequenas reformas era possível ir
alterando o Estado até chegar ao socialismo.
O reformismo – que teoricamente tinha como aliado o positivismo que injetou na
teoria marxista – foi consolidando entre o movimento dos trabalhadores de que era
impossível a superação do Estado e que o socialismo não só não era a abolição do
Estado como era feito e tinha como via única o Estado. A partir de então a adoção da
maior parte dos partidos de esquerda foi a adoção de táticas e estratégias que não eram
nem um nem outro, pois se guiavam e enquadravam todos no interior da própria agenda
e instituições da ordem burguesa, se guiando cada vez mais pela linha de menor
resistência6.
De outro lado o stalinismo pelas dificuldades encontradas na revolução russa7 e
as decisões tomadas depois dos anos de 1928 sob o comando de Stálin – vale dizer
que o processo é anterior a Stálin, e este só personifica o aprofundamento da
degeneração. Entre tais decisões encontra-se a não abolição do Estado e o socialismo
em um só país, que se determinam reciprocamente em suas necessidades, e que
produz a necessidade de revisar a teoria marxiana8.
O socialismo em um só país é a política adotada por Stálin antes da segunda
guerra mundial, mas oficialmente apenas depois desta, este ato começa com a
dissolução da III Internacional nos anos 40. A concepção de socialismo em um só país
forçava a rever princípios teóricos escritos por Marx e Engels, dado que estes
compreendem que a revolução proletária só pode ser internacional, pois sua vitória

6O caso Brasileiro é um exemplo de nossos tempos, todos os partidos políticos que se colo cam a esquerda
são em maior ou menor medida guiados pela agenda da burguesia e pela disputa das instituições vigentes.
O governo do Partido dos Trabalhadores é o exemplo maior de como a “luta de classes” no interior do
Estado é hoje mais do que nunca em um massacre de classe. Isto pois o Estado possui uma natureza
histórica, ele fundamenta a propriedade privada e zela a acumulação e expansão de capital, e está
determinação primária é anterior a qualquer outro intento que a vontade subjetiva tenha de utiliza r o
Estado para qualquer coisa. Os governos do PT foram um pseudogoverno dos trabalhadores – pois um
governo dos trabalhadores é uma impossibilidade ontológica – que personificou as necessidades
históricas do capital naquele momento histórico, quando não podia mais operar as diretrizes do capital
sem se transformar abertamente em um partido de direita – coisa que já é, apesar de velado – só tinha a
opção de tentar se segurar nas alianças com a burguesia. Contudo, o PT descobriu que a burguesia é
burguesa, mesmo que grande parte da militância ainda não tenha descoberto isto, pois continua a gritar
golpe(!). A história ensina que os golpes que a burguesia dá são o seu prato matinal, seus golpes são
apenas a burguesia colocando seu instrumento histórico – o Estado – conforme seus interesses.
7 O baixo desenvolvimento das forças produtivas, um país mais de 70% rural, e que ainda não havia nem
feito a universalização dos direitos políticos correspondentes a forma burguesa clássica de revolução.
8 Aqui devemos sinalizar rapidamente sobre a perseguição a vários intelectuais e o “encarceramento” de

Hegel, promovido pelo Comitê Central do Partido Soviético. Evidentemente apagando Hegel se apaga
parte fundamental da referência Marxiana, sua teoria da alienação que co nstitui o coração da teoria
marxiana. Podemos citar de exemplo Lukács que teve que jogar seus livros de Hegel pela janela nos anos
30 para não ser preso. Pachukanis que teve que revisar seu livro “Teoria geral do direito e marxismo” e
que mesmo após isso foi condenado ao fuzilamento.
depende de superar o capital em todo o globo, precisa ser mais universal do que a forma
do capital.
A segunda tese a ser revista era obviamente a do fenecimento do Estado, Marx
e Engels reiteradamente afirmaram os porquês da existência do Estado e seu
fundamento de classe, de que existia para a reprodução da propriedade privada. A tese
stalinista compreendia que como eles haviam abolido – a forma jurídica – da
propriedade privada e o Estado não havia fenecido, como dito por Marx e Engels, isto
significava que estes haviam previsto algo que não se concretizaria, e que o caminho
para o socialismo não seria o fenecimento do Estado, mas sim seu fortalecimento.
Essa degeneração teórica foi fruto das necessidades de manutenção do
socialismo em um só país. Mas cabe aqui perguntar qual foi o rebatimento na militância
comunista.
A militância da social-democracia e do stalinismo9 tinham algumas diretrizes
muito parecidas, diante da ideia que o socialismo se fazia aos poucos, de um lado pela
via da democracia burguesa – concepção mais vigente que nunca entre nossos
“comunistas” – e de outro pela tomada do Estado pela força, mas com a mesma
finalidade, utilizar o Estado como via para o socialismo, criou-se entre a militância a
concepção de que a prática é fundamental, de que é necessário militar e cumprir
absolutamente todas as funções designadas para que o partido ou movimento possa
mexer nas estruturas do Estado balanceando a luta em seu interior ou por este para o
lado da classe trabalhadora.
A partir de então a organização da classe trabalhadora decaiu ao nível do
reformismo, seja pela via da social-democracia, seja pela via stalinista. A primeira
organizou toda a militância conforme a agenda burguesa, criando o oportunismo como
traço característico de sua militância, que adentrava ao jogo do omnium bella omnes –
“todos contra todos”— no Estado, das decisões de corredores e do apego aos setores
da recém surgida aristocracia operária10 que tem a negociação como a ação primária
da militância, sempre na tentativa de conciliar capital e trabalho.
De outro lado o reformismo stalinista entendia que o socialismo era um caminho
inevitável, fruto do positivismo incrustrado ao marxismo escalpelado de Hegel –
concepção de marxismo até hoje atacado pelos nossos doutos professores como se
fosse a obra de Marx, estes claro, nunca a leram ou se leram não são mais que meia

9 Lembrando que há divergências dentro dos próprios PC’s ao redor do mundo e que este processo é
extremamente complexo.
10 A aristocracia operária é uma categoria apreendida por Lênin, quando observou que o capitalismo do
início do século, pelo crescimento da mais -valia relativa frente a absoluta, pôde criar um setor da classe
operária que ganhava mais que a restante por gerenciar o trabalho, era essa parte da classe que opera
nos sindicatos de nossos dias conciliando capital e trabalho.
dúzia que sofre de mal “caratismo”. Para aliar a necessidade da militância a concepção
de que o socialismo é inevitável – pensemos que não existe porque militar, basta
esperar ele chegar se fosse assim – criou-se a ideia de que a história levaria ao
comunismo, mas era preciso os militantes como suas ferramentas para tal.
Eis o nascimento da ideia de que o marxismo seria teleológico, determinista,
economicista e etc., tantas vezes propagado por professores absolutamente ignorantes
sobre teoria social e que reproduzem o espantalho teórico criado historicamente pelo
marxismo positivista.
O rebatimento no movimento comunista dessa posição do stalinismo foi a criação
de uma militância que sabe obedecer, mas desaprendeu a questionar, a formação
cartilhesca que é tão atual ainda em vários partidos, onde ao militante o principal é saber
recrutar outros militantes. A formação teórica abandonada, pois afinal de contas, a teoria
já estaria pronta, não sendo necessário nenhum estudo além de decorar três ou quatro
leis da “dialética”.
A teoria marxiana sendo absolutamente relegada e com ela todo arsenal teórico
e a capacidade de compreensão de mundo que ela dá possibilidade. Prevalecendo o
voluntarismo e o praticismo como forma predominante de prática, tanto dos partidos
quanto dos movimentos sociais, onde o mais importante é a prática por ela mesma. Eis
ai a herança do movimento comunista no século 20 e que ainda não superamos: A crise
do movimento comunista.

4. Praticismo revolucionário

Do que se trata então o praticismo? Já vimos as causas históricas do praticismo,


mas tratemos mais aprofundadamente.
O praticismo se alicerça na concepção segundo a qual o importante é a prática,
desde que aparentemente ela seja uma contestação a ordem, essa prática parece se
autofundamentar.
Sem nenhuma teoria subjacente o voluntarismo pensa a prática por si mesma e
o desespero e a angústia se tornam um traço marcante nos indivíduos, que é produzida
sob esse peso da herança histórica de crise do movimento comunista.
O voluntarismo se expressa desde o princípio por atuar no mundo de forma cega,
nesta maneira o indivíduo se orienta sempre alicerçando sua prática em “pareceres”
morais sobre o mundo, sempre orientando sua prática sobre os conceitos de bom ou
mal. Está posição moralista é a que possibilita a prática voluntarista. Contudo, o
praticismo e o voluntarismo que se particularizam por tal determinação, carregam o
desespero e a angústia em si.
Na medida em que o indivíduo não consegue alcançar o intento previamente
estabelecido, ele sofre, não é por acaso que vemos em nosso tempo muitos comunistas
que se tornaram reacionários, militantes que depois de alguns anos deixam de militar
pelo peso da herança e vão “viver as suas vidas”.
Eis o que a falta do estudo e da teoria produzem, o voluntarista e o praticista que
entendem os objetivos de sua luta, mas que por não conseguirem compreender sua
própria realidade, as determinações contra as quais luta, e as mediações necessárias
para luta sempre terminam, no melhor dos casos produzindo frustrações por não atingir
os intentos.
Está é em poucas palavras a tragédia de nossos dias, tudo isto deriva,
justamente da distinção ontológica entre sujeito e objeto, os homens produzem e
reproduzem uma forma social, mas não sabem que fazem. Essas relações sociais
objetivas criadas só são apreensíveis mediante esforço racional da consciência. Para
atuar na realidade, no chão sócio-histórico a apreensão teórica é imprescindível.

4.1 Pós-Modernismo

Diante de toda capitulação da esquerda, da injeção de conteúdos ideológicos


burgueses na concepção de mundo revolucionária, do rebaixamento teórico e político
do movimento comunista, a decadência ideológica com a qual a burguesia convive
compulsoriamente até o fim da vigência da sociedade burguesa – e essa sociedade terá
fim, seja pela sua superação, seja pela destruição da humanidade – invade a teoria que
possibilita a superação dessa forma de sociabilidade.
O pós-modernismo é fruto da decadência ideológica da burguesia, junto ao
movimento de crise estrutural do capital que lhe dá fundamento sócio-histórico. Está
concepção que hoje prevalece como concepção de mundo da esquerda que se pensa
comunista, como dá que é totalmente anticomunista, são o absoluto caráter
anticientífico, a negação de qualquer ciência como a universalização e leis de
desenvolvimento, tanto natural quanto sociais.
Em seguida a centralidade do sujeito, a vontade e a identidade são os critérios
pelos quais os sujeitos sociais são definidos, a partir daí tanto faz onde o indivíduo se
insere na estrutura produtiva, mas sim como ele se reconhece e com qual grupo ele se
identifica. Perde-se a centralidade do trabalho e com isso a centralidade do proletariado.
Os movimentos sociais e os partidos políticos encontram a forma mais acabada
da decadência ideológica que incide sobre o movimento comunista nessa concepção
de mundo, que invade e desfigura absolutamente a concepção teórica marxiana.
Os praticistas e voluntaristas encontram sua base discursiva e de sustentação
nisto, nesta concepção entram desde os conceitos de desconstrução – que provêm de
Heidegger e mais desenvolvido por Derrida – e que entendem que é possível alterar a
consciência dos sujeitos por consensos intersubjetivos. Até as ideias de
representatividade que nada alteram na realidade social – pois dentro de certas
estruturas as limitações da ação prática são dadas por estas – e mistificam ainda mais
os objetivos e as possibilidades de superação das alienações da sociedade burguesa.
Diante deste quadro e pela facilidade de adentrar o movimento pelo consenso
que deriva da própria vida cotidiana, que “é o reino das aparências enganadoras”, a
justificação do reformismo se une a concepção pós-moderna derivando no oportunismo
de nossos dias.

Movimento estudantil torna-se, pelo oportunismo, trampolim para adentrar no


Estado para fazer parte do aparelho burocrático-parlamentar, pensando ser possível
transformar algo, citemos o bom Lênin:
“Somente os tolos ou patifes podem acreditar que o proletariado deve
primeiro conquistar a maioria na votação realizada sob o jugo da burguesia,
sob o jugo da escravidão assalariada, e só então deve tomar o poder. Este
é o cúmulo da estupidez ou da hipocrisia, que é a substituição da luta de
classes e da revolução pelo voto sob o velho regime, sob o velho poder”.
– V. I. Lenin [Saudações Aos Comunistas Italianos, Franceses e Alemães]
“Na zombaria dos ensinamentos de Marx, esses senhores, os
oportunistas, incluindo a kautskistas, “ensinam” as pessoas que o
proletariado deve primeiro conquistar a maioria por meio de sufrágio
universal, então obter o poder do Estado pelo voto, e só depois disso, com
base na “consistente” (alguns chamam de “pura”) democracia, organizar o
socialismo”. – V. I. Lenin [As Eleições da Assembleia Constituinte e a
Ditadura do Proletariado]

De outro lado o oportunismo se cria dentro da aristocracia operária, os exemplos


maiores são o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, com o qual parte da esquerda ainda tem
sonhos eróticos em meio a flores em um campo sob o luar, o Messias capaz de assim
que pôr a faixa presidencial em 2018 resolver todos os problemas que – como que por
um surto de memória – ele mesmo produziu em seus anos de governo e que chegou ao
esgotamento e fim do processo na humilhação e excrescência que se tornou
publicamente o Partido dos Trabalhadores.
Ainda se fortalece por outro lado, Paulinho da força e demais centrais sindicais,
aparelhos burocratizados que tentam arrastar a classe trabalhadora, que se vê
totalmente desarmada para resistir no atual momento para novamente a conciliação
entre capital e trabalho e para o projeto nacional popular absolutamente falido.
Querendo novamente dar os traseiros para a burguesia chutar-lhe a bunda quando bem
entender.
Com tal horizonte, fortalece-se na cabeça dos estudantes que é possível a partir
dos meios “disponíveis”, ou seja, aparelhos burocratizados como UNE, DCE’s e C.A’s
atuar no interior da universidade visando a “ampliação” a democratização de espaços e
acesso, medidas que não possuem mais existência possível no interior da crise
estrutural do capital.
Esse mesmo movimento estudantil, desarmado pela teoria, acaba por repudia-
la, já que os setores da pequena burguesia são geralmente os que compõe a dita
“esquerda progressista”, é na realidade, como disse Gramsci o “progressismo morto da
história”, esse “progressismo” atua largamente e compõe os setores dos partidos de
esquerda, dos movimentos sociais majoritariamente, de modo que o proletariado se vê
fora da cena histórica.
Diante disto os aparelhos burocráticos da universidade transformam-se em
verdadeiras escolas de patifes e oportunistas, e criam o corpo que irá ingressar nos
partidos existentes reproduzindo a mesma lógica organizativa orientada para o Estado
e para a luta – se é possível chamar assim – no interior deste.
Esse quadro resulta por fim no rebaixamento teórico e prático do movimento
comunista, na mistificação da luta e das necessidades históricas de classe, por isto,
pensam que a prática seja ela qual for é melhor que a prática do estudo, que a produção
teórica seria por excelência ou uma não-prática, ou desnecessária. Que o simples ato
de existir e respirar em meio a uma manifestação – que em nossos tempos são tão
similares as micaretas e ao carnaval e por vezes podem confundir desavisados – é
mais importante que a leitura de textos tão fundamentais como A Ideologia Alemã, Os
Manuscritos Econômico – Filosóficos, O Capital, Os Grundrisse e etc.
Temos uma militância que ao fim não sabe o que é o capital, o Estado, porque é
necessária a superação da propriedade privada, porque a abolição da família
monogâmica é tão importante para o fim da subjugação das mulheres, mas que sabem
cantar marchinhas “revolucionárias” e/ou dizer que possui vivência, incluamos nisto
fazer cirandas ou grandes textões no facebook visando mais um apelo moralista11,

11A única discussão possível dentro do Marxismo sobre moral é a busca da emancipação humana, ou
seja, a discussão sobre moralidade tende a incidir a humanização do gênero humano.
obviamente invalidando qualquer discussão filosófico-científica que queira apreender os
determinantes fundantes das opressões e da exploração, (já que vale a vivência) – em
suma das alienações que brotam nessa forma social – isto é: a superação da sociedade
onde rege o capital e com está a superação das demais alienações que essa engendrou
historicamente.

Dourados, 29/04/2017.

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