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Frederico Lambertucci
Bruno Almeida Santos
1. Centralidade do trabalho
2. O estudo como prática revolucionária.
3. A crise do mov. Comunista.
4. 4.1. Praticismo “revolucionário” 4.2. Pós-modernismo.
1. Centralidade do trabalho.
3 Lembremos Lênin em “O que fazer?” onde escreve sua máxima “Sem teoria revolucionária não há ação
revolucionária.”
teórica da realidade social para modificá-la. Quando falávamos do trabalho ser
protoforma da prática social, aqui podemos esclarecer tal ponto a nível cristalino, assim
como para a objetivação do trabalho é fundamental a consciência apreender os
elementos da realidade a ser modificada para elaborar uma teleologia e para que sua
prática seja efetiva sobre a realidade, sob pena de não conseguir produzir o resultado
que havia previamente elaborado na consciência. Na prática revolucionária é
igualmente crucial apreender as determinações do ser social, da realidade social – em
nosso caso da realidade da sociedade em que domina o capital – para poder objetivar
a transformação radical dessa forma social.
É por isto, ao fim e ao cabo, que a prática sem uma teoria que a alicerce, que
tome a realidade social e a reproduza em seus determinantes estruturantes-materiais,
irá ser uma prática medíocre, que no máximo reproduz a mesma ordem existente contra
a qual pensa estar combatendo. No pior dos casos produz o efeito contrário e fortalece
ainda mais a mesma ordem social. Este é o fundamento do “praticismo ‘revolucionário’”
que existe devido a não identidade entre sujeito e objeto e a perca do horizonte
revolucionário da classe trabalhadora, quanto das duas formações organizativas que
desembocaram em nosso atual estado: A crise do movimento comunista. As duas fontes
são o reformismo e o stalinismo.
Eis ai a importância crucial do estudo, da dedicação a apreender a realidade
social e produzir teoria revolucionária.
3. Crise do Movimento Comunista4
Já constatamos o praticismo revolucionário e suas fontes acima, cabe aqui fazer
um breve histórico de como chegamos a esse ponto, só iremos expor os pontos que
dão mais ênfase ao processo.
A articulação entre essas duas vertentes possui um ponto em comum: a crença
na possibilidade de utilizar o Estado para superar o capital e chegar ao socialismo.
Em nossos dias a concepção de que a luta deve se direcionar ao Estado, ou que
“a luta de classes também se dá no Estado” ou de que devemos utilizar do Estado para
promover a luta revolucionária é amplamente divulgada, seja dentro de partidos políticos
que se põe a esquerda, seja entre movimentos sociais. Tal concepção, que deixa várias
crianças com inveja por tamanha ingenuidade, é produto histórico de décadas de
reformismo que se inicia ainda na época em que Marx vivia e que fez Engels escrever
junto com Kaustsky – a deusa Clio e suas ironias 5 – um artigo publicado como livro
chamado o socialismo jurídico, no qual os autores combatiam a visão divulgada por
6O caso Brasileiro é um exemplo de nossos tempos, todos os partidos políticos que se colo cam a esquerda
são em maior ou menor medida guiados pela agenda da burguesia e pela disputa das instituições vigentes.
O governo do Partido dos Trabalhadores é o exemplo maior de como a “luta de classes” no interior do
Estado é hoje mais do que nunca em um massacre de classe. Isto pois o Estado possui uma natureza
histórica, ele fundamenta a propriedade privada e zela a acumulação e expansão de capital, e está
determinação primária é anterior a qualquer outro intento que a vontade subjetiva tenha de utiliza r o
Estado para qualquer coisa. Os governos do PT foram um pseudogoverno dos trabalhadores – pois um
governo dos trabalhadores é uma impossibilidade ontológica – que personificou as necessidades
históricas do capital naquele momento histórico, quando não podia mais operar as diretrizes do capital
sem se transformar abertamente em um partido de direita – coisa que já é, apesar de velado – só tinha a
opção de tentar se segurar nas alianças com a burguesia. Contudo, o PT descobriu que a burguesia é
burguesa, mesmo que grande parte da militância ainda não tenha descoberto isto, pois continua a gritar
golpe(!). A história ensina que os golpes que a burguesia dá são o seu prato matinal, seus golpes são
apenas a burguesia colocando seu instrumento histórico – o Estado – conforme seus interesses.
7 O baixo desenvolvimento das forças produtivas, um país mais de 70% rural, e que ainda não havia nem
feito a universalização dos direitos políticos correspondentes a forma burguesa clássica de revolução.
8 Aqui devemos sinalizar rapidamente sobre a perseguição a vários intelectuais e o “encarceramento” de
Hegel, promovido pelo Comitê Central do Partido Soviético. Evidentemente apagando Hegel se apaga
parte fundamental da referência Marxiana, sua teoria da alienação que co nstitui o coração da teoria
marxiana. Podemos citar de exemplo Lukács que teve que jogar seus livros de Hegel pela janela nos anos
30 para não ser preso. Pachukanis que teve que revisar seu livro “Teoria geral do direito e marxismo” e
que mesmo após isso foi condenado ao fuzilamento.
depende de superar o capital em todo o globo, precisa ser mais universal do que a forma
do capital.
A segunda tese a ser revista era obviamente a do fenecimento do Estado, Marx
e Engels reiteradamente afirmaram os porquês da existência do Estado e seu
fundamento de classe, de que existia para a reprodução da propriedade privada. A tese
stalinista compreendia que como eles haviam abolido – a forma jurídica – da
propriedade privada e o Estado não havia fenecido, como dito por Marx e Engels, isto
significava que estes haviam previsto algo que não se concretizaria, e que o caminho
para o socialismo não seria o fenecimento do Estado, mas sim seu fortalecimento.
Essa degeneração teórica foi fruto das necessidades de manutenção do
socialismo em um só país. Mas cabe aqui perguntar qual foi o rebatimento na militância
comunista.
A militância da social-democracia e do stalinismo9 tinham algumas diretrizes
muito parecidas, diante da ideia que o socialismo se fazia aos poucos, de um lado pela
via da democracia burguesa – concepção mais vigente que nunca entre nossos
“comunistas” – e de outro pela tomada do Estado pela força, mas com a mesma
finalidade, utilizar o Estado como via para o socialismo, criou-se entre a militância a
concepção de que a prática é fundamental, de que é necessário militar e cumprir
absolutamente todas as funções designadas para que o partido ou movimento possa
mexer nas estruturas do Estado balanceando a luta em seu interior ou por este para o
lado da classe trabalhadora.
A partir de então a organização da classe trabalhadora decaiu ao nível do
reformismo, seja pela via da social-democracia, seja pela via stalinista. A primeira
organizou toda a militância conforme a agenda burguesa, criando o oportunismo como
traço característico de sua militância, que adentrava ao jogo do omnium bella omnes –
“todos contra todos”— no Estado, das decisões de corredores e do apego aos setores
da recém surgida aristocracia operária10 que tem a negociação como a ação primária
da militância, sempre na tentativa de conciliar capital e trabalho.
De outro lado o reformismo stalinista entendia que o socialismo era um caminho
inevitável, fruto do positivismo incrustrado ao marxismo escalpelado de Hegel –
concepção de marxismo até hoje atacado pelos nossos doutos professores como se
fosse a obra de Marx, estes claro, nunca a leram ou se leram não são mais que meia
9 Lembrando que há divergências dentro dos próprios PC’s ao redor do mundo e que este processo é
extremamente complexo.
10 A aristocracia operária é uma categoria apreendida por Lênin, quando observou que o capitalismo do
início do século, pelo crescimento da mais -valia relativa frente a absoluta, pôde criar um setor da classe
operária que ganhava mais que a restante por gerenciar o trabalho, era essa parte da classe que opera
nos sindicatos de nossos dias conciliando capital e trabalho.
dúzia que sofre de mal “caratismo”. Para aliar a necessidade da militância a concepção
de que o socialismo é inevitável – pensemos que não existe porque militar, basta
esperar ele chegar se fosse assim – criou-se a ideia de que a história levaria ao
comunismo, mas era preciso os militantes como suas ferramentas para tal.
Eis o nascimento da ideia de que o marxismo seria teleológico, determinista,
economicista e etc., tantas vezes propagado por professores absolutamente ignorantes
sobre teoria social e que reproduzem o espantalho teórico criado historicamente pelo
marxismo positivista.
O rebatimento no movimento comunista dessa posição do stalinismo foi a criação
de uma militância que sabe obedecer, mas desaprendeu a questionar, a formação
cartilhesca que é tão atual ainda em vários partidos, onde ao militante o principal é saber
recrutar outros militantes. A formação teórica abandonada, pois afinal de contas, a teoria
já estaria pronta, não sendo necessário nenhum estudo além de decorar três ou quatro
leis da “dialética”.
A teoria marxiana sendo absolutamente relegada e com ela todo arsenal teórico
e a capacidade de compreensão de mundo que ela dá possibilidade. Prevalecendo o
voluntarismo e o praticismo como forma predominante de prática, tanto dos partidos
quanto dos movimentos sociais, onde o mais importante é a prática por ela mesma. Eis
ai a herança do movimento comunista no século 20 e que ainda não superamos: A crise
do movimento comunista.
4. Praticismo revolucionário
4.1 Pós-Modernismo
11A única discussão possível dentro do Marxismo sobre moral é a busca da emancipação humana, ou
seja, a discussão sobre moralidade tende a incidir a humanização do gênero humano.
obviamente invalidando qualquer discussão filosófico-científica que queira apreender os
determinantes fundantes das opressões e da exploração, (já que vale a vivência) – em
suma das alienações que brotam nessa forma social – isto é: a superação da sociedade
onde rege o capital e com está a superação das demais alienações que essa engendrou
historicamente.
Dourados, 29/04/2017.