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"Dilúvio" em Português deriva do Latim diluvium, diluvii, e também diluvio, diluvionis, derivam
diretamente do verbo diluvio, diluviare, "inundar", "alagar". Os dois substantivos, conforme os
dicionaristas, se referem ao "dilúvio universal", ou "dilúvio de Noé", e são cognatos de diluvies,
diluviei, "inundação", "enchente", "dilúvio", "cataclismo". Os três substantivos considerados, e o
verbo, têm a mesma raiz do verbo diluo, diluere, "desfazer", "delir", "gastar", "lavar", "tirar lavando",
"diluir", "afogar", "apagar", "riscar", "enfraquecer", "diminuir". Este verbo diluo, diluere é forma
composta do verbo luo, luere, "lavar", "banhar", "regar", "purificar, apagar, desviar, com expiações",
"pagar", "satisfazer", "remir", "resgatar", "expiar", "sofrer".
O primeiro tem o sentido de "sujar", "enlamear", e permaneceu no substantivo lues, luis, "corrupção
do ar", "enfermidade contagiosa", "peste", "flagelo", "calamidade", e, na forma composta, no verbo
polluo, polluere, "molhar", "umedecer (sujando)", "poluir", "corromper", "macular", "profanar".
O segundo tem o sentido de "lavar", já considerado inicialmente, estreitamente ligado aos verbos
lavo, lavare, e lavo, lavere, ambos com o sentido de "lavar", "banhar", "purificar", curiosamente
tendo como forma derivada pollubrum, "bacia destinada às cerimônias de purificação", proveniente
de um outro verbo polluo, polluere com o sentido de "purificar", caído em desuso provavelmente
pela confusão com o homônimo anteriormente citado. Derivado deste segundo verbo é também o
substantivo lustrum, que designa uma cerimônia pública de purificação realizada de cinco em cinco
anos em Roma (em Português, "lustrar" é "purificar com água lustral") de onde também a sua
acepção de "intervalo de cinco anos", ou "lustro".
O terceiro tem o sentido de "desligar", "desobrigar", "pagar", "cumprir", "isentar", "absolver", e liga-
se ao verbo solvo, solvere, "dissolver", "desunir", "desunir as partes de um composto", "apagar (um
crime)", "eximir (de uma dívida)", "pôr termo a", "destruir", também derivado de luo, luere com a
adição do prefixo se (transformado em so pela influência do v da sílaba seguinte). São compostos
de solvo, solvere os verbos absolvo, absolvere, "desatar", "desprender", "resgatar", "remir" (e o
advérbio absolute, "absolutamente", "perfeitamente"); dissolvo, dissolvere, "dissolver", "desfazer",
"desfazer uma acusação", "destruir", (e o substantivo dissolutio, dissolutionis, "dissolução", "ruína",
"aniquilamento"), resolvo, resolvere, "resolver", "deslindar", "dissolver", "reduzir a líqüido", "dissipar"
(e o substantivo resolutio, resolutionis, "decomposição", "dissolução geral", "fim do mundo)".
Este apanhado da etimologia da palavra "dilúvio", envolvendo suas raízes, compostos e derivados,
apresenta um quadro bastante ilustrativo dos vários aspectos envolvidos no episódio do dilúvio
universal relatado no livro de Gênesis – no plano físico, inundação cataclísmica, flagelo,
calamidade, destruindo, afogando, desfazendo, desunindo os próprios continentes, trazendo o fim
de um mundo que ainda guardava bastante de sua perfeição original; e no plano moral, algo como
uma cerimônia pública de purificação, pondo termo a uma situação de dissolução geral, apagando
o passado, expiando, purificando, resgatando a humanidade e levando-a novamente ao padrão
moral anterior à degradação generalizada dos dias que antecederam essa intervenção miraculosa
de Deus em nosso planeta.
2 – O dilúvio e as leis da natureza
Na Nota da pergunta 7 da Lição é feita a afirmação de que "Hoje, naturalmente, a maioria dos
cientistas, inclinando-se a crer nas leis da natureza, negaria a possibilidade de um dilúvio
universal". Esta afirmação deve ser considerada de forma mais crítica, pois poderá aparentemente
ser interpretada como indicativa de que as "leis da natureza" não permitiriam a existência de um
dilúvio universal. Da mesma maneira, deve-se lembrar que cientistas não se inclinam "a crer nas
leis da natureza", mas desenvolvem suas atividades procurando encontrar as leis que regem o
comportamento da natureza. E nessas suas atividades, freqüentemente assumem a priori certas
estruturas conceituais ou paradigmas, para reger a sua busca da verdade científica. A História da
Ciência está plena de acontecimentos que caracterizaram as chamadas "revoluções científicas"
ocorridas em função da substituição de paradigmas anteriormente aceitos de forma inquestionável,
e que não mais puderam continuar a ser aceitos em virtude de novos fatos e evidências.
Inicialmente, pode-se depreender que a afirmação em questão tem a ver, em princípio, com a
contraposição entre as estruturas conceituais uniformista e catastrofista. Como já visto em
comentários feitos anteriormente, desde Lyell e Hutton, a geologia passou gradativamente a adotar
a posição uniformista, deixando de admitir a possibilidade de eventos catastróficos na história do
planeta Terra. Não obstante ter essa posição uniformista chegado a adquirir "status" de verdade
inquestionável, as evidências que foram sendo acumuladas levaram hoje a uma impressionante
guinada no sentido de aceitar a possibilidades de acontecimentos catastróficos locais, regionais, e
mundiais, como se pode verificar na literatura científica mais moderna.
Dentre as posições hoje aceitas para explicar certos eventos geológicos – como a extinção em
massa dos tão falados dinossauros – encontra-se a que atribui como causa desse acontecimento
evidenciado no registro fóssil, o impacto de um asteróide de grandes proporções sofrido pela Terra.
Numerosos outros eventos, de caráter mais ou menos amplo, têm sido explicados também, hoje
em dia, pelos cientistas, como tendo origem cataclísmica, tendo passado assim a ser aceita
gradativamente a estrutura conceitual catastrofista no âmbito da geologia. Assim, a possibilidade
de ter existido um dilúvio universal passou também a ser considerada como algo factível à vista
das mesmas leis da natureza que, sob a estrutura conceitual uniformista, eram trazidas à baila
para negar a possibilidade de um evento como esse.
Conclui-se que não é por uma inclinação do cientista para crer nas leis da natureza que ele chega
a negar a possibilidade do dilúvio universal, mas sim pela sua aceitação implícita do viés
uniformista, e rejeição simultânea do posicionamento catastrofista. Devemos estar sempre
alertados para o fato de que uniformismo e catastrofismo não constituem ciência, mas sim apenas
estruturas conceituais que são admitidas a priori para o desenvolvimento das atividades de
pesquisa científica.
3 – Ideologias e violência
"Em sua autobiografia, Andrew Carnegie, que fez sua fortuna na siderurgia, descreve sua
conversão à evolução ao ler Darwin e Spencer: ‘Lembro-me que surgiu abundante luz e tudo se
esclareceu. Não só me libertei da teologia e do sobrenatural, mas encontrei a verdade da
evolução. ... O homem não foi criado com um instinto de degradação própria, mas elevou-se das
formas mais inferiores para as superiores.’ "
"John Rockfeller declarou que ... ‘o crescimento de uma grande empresa é meramente a
sobrevivência do mais apto’ ".
Robert E. D. Clark comenta que ‘a evolução, em síntese, dá ao executor do mal o respeito de sua
consciência. O comportamento mais inescrupuloso com relação a um competidor pode assim ser
racionalizado; o mal pode ser chamado de bem’."
O evolucionismo, de fato, acalmou as consciências não somente dos grandes homens de negócios
nos seus tratos com os competidores, mas também ajudou os que tiravam vantagens das classes
mais desfavorecidas. Esforços para melhorar as condições de vida e de trabalho dos pobres, das
mulheres e das crianças, tiveram a oposição das classes dirigentes com base em que isso seria
contrário ao princípio da evolução, pois a prosperidade do rico e a condição miserável do pobre
nada mais eram do que a operação do princípio "científico" da sobrevivência do mais apto. Aliás, a
grande aceitação de "A Origem das Espécies" de Darwin na Inglaterra vitoriana, deveu-se à
justificativa aparentemente encontrada para validar o comportamento social e político das classes
dirigentes na sua exploração das classes menos favorecidas, o que ainda hoje constitui o quadro
predominante em escala global no mundo em que vivemos!
O evolucionismo darwinista também ofereceu base supostamente científica para lutas raciais,
como expõem Walbank e Taylor:
"A aplicação pseudo-científica de uma teoria biológica à política ... constituiu possivelmente a
forma mais pervertida do darwinismo social. ... Ela conduziu ao racismo e ao anti-semitismo, e foi
usada para mostrar que somente nacionalidades e raças ‘superiores’ eram aptas a sobreviver.
Assim, acharam-se entre os povos de língua inglesa os campeões da ‘opressão do homem
branco’, uma missão imperialista levada a efeito pelos anglo-saxões. ... Semelhantemente, os
russos pregaram a doutrina do pan-eslavismo, e os alemães a do pan-germanismo."
A teoria da evolução darwinista também foi usada por militaristas para a glorificação da guerra, por
crerem que o resultado de uma guerra é determinado pelo princípio da sobrevivência do mais apto,
como destacado nas declarações seguintes:
Heinrich von Treitsch, militarista prussiano: "A grandeza da guerra está na aniquilação total do
homem fraco em benefício da grande concepção do Estado. ... Em guerra, o joio é separado do
trigo.
Friedrich Nietzsch, filósofo alemão que se destacou pelo seu desprezo ao cristianismo: "Você diz
que uma boa causa santifica a guerra, mas eu digo que uma boa guerra santifica qualquer causa."
No extremo oposto do comunismo, em 1861 Marx escreveu a Engels afirmando que "o livro de
Darwin é muito importante e serve-me como base, na seleção natural, para a luta de classes na
História." E a História aí está para comprovar o resultado da política comunista levada ao extremo
da crueldade pelos dirigentes soviéticos e chineses, levando ao sofrimento e à morte outros tantos
milhões de pessoas em nome de uma doutrina social darwinista.
Resta-nos fazer a comparação entre Gênesis 6: 11 – "A terra estava corrompida à vista de Deus, e
cheia de violência", e S. Mateus 24: 37 e 33 – "Pois assim como foi nos dias de Noé, também será
a vinda do Filho do homem", e "Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que
está próximo, às portas".
No comentário da lição de segunda-feira é feita uma pergunta no Estudo Indutivo da Bíblia, que
merece algumas considerações. Trata-se da pergunta: "Como devemos relacionar-nos com as
evidências contraditórias, quando as posições científicas seculares parecem questionar nossa fé?"
Devemos estar alertados, inicialmente, para o fato de que distintas posições – científicas ou não –
estarão sempre presentes em todas as ocasiões e em todos os âmbitos de nossa vida em
sociedade, questionando nossa fé. Afinal, os que não têm a mesma fé que nós temos, firmada na
revelação bíblica, terão outros fundamentos sobre os quais construirão a sua fé própria. A
aceitação dos fundamentos sobre os quais todos nós vamos construir nossa "visão de mundo" será
sempre um ato de fé. Já foi destacado, em comentários anteriores, que cada um de nós aceita a
priori "estruturas conceituais", ou "paradigmas", em função de um complexo de circunstâncias,
através das quais passamos a analisar os fatos e as evidências, procurando respostas a perguntas
de nosso interesse específico. Portanto, não devemos nos espantar com a efetivação eventual de
questionamentos relativos à nossa fé, de confrontos entre a nossa fé e as distintas modalidades de
fé (religiosa ou secular) aceitas por outras pessoas.
Isto posto, entendendo a razão pela qual questionamentos podem surgir, e fazendo também
distinção entre fatos e interpretações apresentados nesses questionamentos, resta-nos procurar
respeitar os pontos de vista contrários aos nossos, tentando esclarecer a verdadeira natureza do
porquê de eventuais controvérsias, normalmente resultantes da aceitação prévia de distintas
estruturas conceituais, por verdadeiros atos de fé.
Quanto à referência a "evidências contraditórias", melhor teria sido dizer "evidências interpretadas
de forma contraditória", pois na verdade as evidências entre si não se contradizem nem deixam de
se contradizer, mas sim a sua interpretação!
5 – Dilúvio e Geologia
Sobre a relação entre o relato bíblico do dilúvio e as evidências geológicas que levaram à
concepção da chamada "coluna geológica", recomendamos a leitura do artigo do geólogo Dr.
Nahor Neves de Souza Júnior, intitulado "Um modelo Geológico para a Curta História do Planeta
Terra", publicado na Folha Criacionista número 49. Destacamos desse artigo o trecho seguinte:
"Na verdade é perfeitamente possível correlacionar a cronologia bíblica, referente ao período do
dilúvio, à própria geocronologia (Quadro 1). Deve ser lembrado, no entanto, que após Noé ter
saído da arca, a superfície da Terra ainda se encontrava sob os efeitos secundários do dilúvio, em
um processo gradual de estabilização. Nesse período pós-dilúvio, os fenômenos geológicos
podem ter-se manifestado, localmente, com intensidade superior à verificada atualmente. Sendo
assim, as centenas de milhões de anos, convencionalmente atribuídas às eras geológicas,
deverão ser reduzidas a meses (pouco mais de um ano) para o dilúvio propriamente dito, e a
dezenas, ou ainda algumas centenas de anos para os seus efeitos secundários (Pleistoceno e
Holoceno)." [Apresenta-se na última página deste comentário o Quadro citado. Ver também o
Quadro apresentado no número 59 da Folha Criacionista, à página 47].
"Imagine uma enorme criatura extraterrestre que desça próximo à Terra, estenda um remo gigante,
e mexa na atmosfera por um breve intervalo de tempo antes de desaparecer. Afastando
completamente a possibilidade de um efeito desastroso sobre os seres vivos da Terra, qual será o
efeito sobre a atmosfera? ... A criatura alienígena produzirá um novo estado ... porém, como em
qualquer sistema dinâmico dissipativo, os efeitos transitórios serão definitivamente amortecidos, e
o comportamento voltará ao normal."
BIBLIOGRAFIA
1 – Michel Bréal e Anatole Bailly, Dictionnaire Étymologique Latin. Librairie Hachette, Paris, 1918. 2 – W. Mahlert, Diluviologia e
uniformismo na Geologia – uma revisão crítica. Sociedade Criacionista Brasileira, Folha Criacionista, número 44, Brasília, 1991. 3 –
Bolton Davidheiser, Darwinismo Social. Sociedade Criacionista Brasileira, Folha Criacionista número 2, Brasília, 1972. 4 – Jerry
Bergman, A eugenia e o desenvolvimento da política racial nazista. Sociedade Criacionista Brasileira, Folha Criacionista número 48,
Brasília, 1993. 5 – Nahor Neves de Souza Jr., Um modelo geológico para a curta história do planeta Terra. Sociedade Criacionista
Brasileira, Folha Criacionista número 49, Brasília, 1993. 6 – Edward N. Lorenz, A Essência do Caos, p. 121. Editora da Universidade
de Brasília, Brasília, 1996.