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Eis o artigo.
Há uma dezena de anos vem se anunciando regularmente o fim do
neoliberalismo: a crise financeira mundial de 2008 se apresentou como o último
estertor de sua agonia, depois, foi a vez da crise grega na Europa (ao menos até
julho de 2015), sem esquecer, é claro, o terremoto causado pela eleição de
Donald Trump nos Estados Unidos, em novembro de 2016, seguido do
f d b B it d 201
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referendo sobre o Brexit, em março de 2017.
Trumpismo e fascismo
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p Anatomia do novo neoliberalismo. Artigo de Pierre Dardot e Christian Laval - Instituto Humanitas Unisinos - IHU
A este respeito, todo paralelismo com o final dos anos 1930, nos Estados Unidos,
é enganoso, por mais que Trump tenha feito seu o lema “America first”, nome
dado por Charles Lindbergh à organização fundada em outubro de 1940
para promover uma política isolacionista frente ao intervencionismo de
Roosevelt. Trump não converte em realidade a ficção escrita por Philip
Roth (2005), que imaginou que Lindbergh triunfaria sobre Roosevelt nas
eleições presidenciais de 1940. Ocorre que Trump não é para Clinton ou
Obama o que Lindbergh foi para Roosevelt e que, neste sentido, qualquer
analogia é precária. Se Trump estimula cada vez mais a escalada
antiestablishment para agradar sua clientela eleitoral, não trata, no entanto, de
suscitar revoltas antissemitas, ao contrário do Lindbergh do romance,
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suscitar revoltas antissemitas, ao contrário do Lindbergh do romance,
inspirado diretamente no exemplo nazista.
O novo neoliberalismo
O que aqui chamamos de novo neoliberalismo é uma versão original da
racionalidade neoliberal na medida em que adotou abertamente o paradigma
da guerra contra a população, apoiando-se, para se legitimar, na cólera dessa
mesma população e invocando, inclusive, uma soberania popular dirigida
contra as elites, contra a globalização ou contra a União Europeia, de acordo
com os casos.
Esta recuperação da cólera e dos ressentimentos requer sem dúvida, para ser
realizada efetivamente, o carisma de um líder capaz de encarnar a síntese,
outrora improvável, de um nacionalismo econômico, uma liberalização dos
mecanismos econômicos e financeiros e uma política sistematicamente pró-
empresarial. No entanto, atualmente, todas as formas nacionais do
neoliberalismo experimentam uma transformação de conjunto, da qual o
trumpismo nos oferece a forma quase pura.
Para alcançar seus objetivos, este poder emprega todos os meios que lhe são
necessários: a propaganda dos meios de comunicação, a legitimação pela
ciência econômica, a chantagem e a mentira, o descumprimento das promessas,
a corrupção sistêmica das elites, etc. Contudo, uma de suas alavancas preferidas
é o recurso às vias da legalidade, leia-se da Constituição, de modo que cada
vez mais o marco no qual todos os atores devem se mover se torne irreversível.
Uma legalidade que evidentemente é de geometria variável, sempre mais
favorável aos interesses das classes ricas que aos do restante.
Não é necessário recorrer ao estilo antigo, aos golpes de Estado militares, para
colocar em prática os preceitos da escola de Chicago, se é possível colocar um
cadeado no sistema político, como no Brasil, mediante um golpe parlamentar e
judicial. Este último permitiu, por exemplo, ao presidente Temer congelar
durante 20 anos os gastos sociais (sobretudo em detrimento da saúde pública e
da universidade). Na realidade, o brasileiro não é um caso isolado, por mais que
lá os recursos da manobra sejam mais visíveis que em outras partes, sobretudo
após a vitória de Bolsonaro como ponto de chegada do processo. O fenômeno,
para além de suas variações nacionais, é geral: é no interior do marco formal do
sistema político representativo que se estabelecem dispositivos antidemocráticos
de uma temível eficácia corrosiva.
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O neoliberalismo de Macron
No entanto, não é exagerado meter todas as formas de neoliberalismo no mesmo
saco de um novo neoliberalismo? Existem tensões muito fortes em escala
mundial ou europeia entre o que se deve qualificar como tipos nacionais
diferentes de neoliberalismo. Sem dúvida, não assimilaríamos Trudeau,
Merkel e Macron a Trump, Erdogan, Orbán, Salvini e Bolsonaro.
A diferença com Sarkozy neste ponto salta à vista. Enquanto este último se
agarrava a declarações provocadoras, ao mesmo tempo em que alcançava um
estilo relaxado no exercício de sua função, Macron pretende devolver todo o
brilho e solenidade à função presidencial. Deste modo, conjuga um despotismo
de empresa com a subjugação das instituições da democracia representativa em
benefício exclusivo do poder executivo.
Falou-se com razão de bonapartismo para lhe caracterizar, não só pela maneira
como tomou o poder, acabando com os velhos partidos governamentais, como
também por causa de seu desprezo manifesto a todos os contrapoderes. A
novidade que introduziu nesta antiga tradição bonapartista é justamente
uma verdadeira governança de empresa. O macronismo é um
bonapartismo empresarial.
Referências
Gentile, Emilio (2004) Fascismo: historia e interpretación. Madri: Alianza.
Notas
1. Prefácio à tradução em inglês, publicada pela editora Verso, de La pesadilla
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