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“Como Sei que Eu Sou Eu?

” Cinestesia e Espacialidade nas Conferências Husserlianas de 1907 e em Pesquisas Neurocognitivas

“COMO SEI QUE EU SOU EU?” CINESTESIA E ESPACIALIDADE


NAS CONFERÊNCIAS HUSSERLIANAS DE 1907 E EM PESQUISAS
NEUROCOGNITIVAS1

How do I Know That I am Myself? – Kinesthesia and Spatiality in the Husserlian


Conferences of 1907 and in Neurocognitive Research

¿Cómo Puedo Saber que Soy Yo? – Cinestesia y Espacialidad en las Conferencias
Husserlianas de 1907 y en Investigaciones Neurocognitivas

THIAGO GOMES DE CASTRO


WILLIAM BARBOSA GOMES

Resumo: Husserl definiu cinestesia como a experiência vivida e autoconsciente do movimento e do gesto, associada à uni-
dade corporal, ao desenvolvimento do esquema do ego estendido, e à percepção de espaço. O estudo contrasta dificulda-
des históricas e colaborações recentes entre fenomenologia e pesquisa experimental. A análise sustenta-se na revisão de
estudos clássicos sobre cinestesia e percepção, e em pesquisas neurocognitivas recentes, destacando as implicações para a
compreensão da intencionalidade. O conceito de cinestesia refere-se a duas questões fenomenológicas: como sei que eu sou
eu, e quem sou eu. O senso de si e da ação presente passam pela integração da consciência reflexiva no desempenho motor
e perceptivo, conforme confirmam experimentos fenomenológicos e neurocognitivos sobre situações de ambiguidade pro-
prioceptiva. Tais estudos estão abrindo novas possibilidades para reabilitação de desordens proprioceptivas – como no caso
de amputação, comorbidades de auto-imagem e mesmo esquizofrenia – e para colaborações profícuas entre fenomenologia
e neurociências cognitivas.
Palavras-chave: Cinestesia; Autoconsciência; Intencionalidade; Fenomenologia; Neurocognição.

Abstract: Husserl defined kinesthesia as the self-consciousness lived experience of movement and gesture, associated to the
body unity, to the development of an extended ego schema, and to spatial perception. The study contrasts historical diffi-
culties and recent collaborations between phenomenology and experimental research. The analysis is sustained in classical
studies review on kinesthesia and perception, and in recent neurocognitive research, emphasizing implications to an under-
standing of intentionality. The concept of kinesthesia refers to two phenomenological issues: How do I know that I am my-
self, and who am I. The sense of self and actual action passes through the integration of reflective consciousness in motor
action and perception, as confirmed by phenomenological and neurocognitive experiments using proprioceptive ambiguity
contexts. Those studies are opening new possibilities to the rehabilitation of proprioceptive disorders – as in the case of am-
putees, self-image comorbidities and schizophrenia – and also to fruitful collaborations between phenomenology and cogni-
tive neurosciences.
Keywords: Kinesthesia; Selfconsciousness; Intentionality; Phenomenology; Neurocognition.

Resumen: Husserl define cinestesia como la auto-conciencia de la experiencia vivida del movimiento y el gesto, asociado a la
unidad del cuerpo, a lo desarrollo de un esquema de ego extendido, y a la percepción espacial. El estudio contrasta las difi-
cultades históricas y recientes colaboraciones entre la fenomenología y la investigación experimental. El análisis se sustenta
en la revisión de estudios clásicos en cinestesia y la percepción, y en la investigación neurocognitiva reciente, destacando las
implicaciones para la comprensión de la intencionalidad. El concepto de cinestesia se refiere a dos aspectos fenomenológicos:
Cómo puedo saber que soy yo, y que yo soy. El sentido de sí mismo y la acción propia pasa por la integración de la conciencia
reflexiva en la acción motora, según lo confirmado por experimentos fenomenológicos y neurocognitivos utilizando contex-
tos de ambigüedad propioceptiva. Estos estudios están abriendo nuevas posibilidades para la rehabilitación de los trastornos
propioceptivos – como en el caso de los amputados, comorbilidades de imagen de sí mismo y la esquizofrenia – y también a la
colaboración fructífera entre la fenomenología y las neurociencias cognitivas.
Palabras-clabe: Cinestesia; Auto-consciencia. Intencionalidad; Fenomenología; Neurocognición.
Artigo

1
Palestra proferida pelo primeiro autor no II Congresso Sul-Brasileiro de Fenomenologia & II Congresso de Estudos Fenomenológicos do Paraná,
realizado na UFPR, em Curitiba, de 03 a 04 de junho de 2011.

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Thiago G. Castro & William B. Gomes

Introdução (1972) relata, contudo, que Husserl não aprovava o uso


da fenomenologia conforme Müller e o departamento de
O presente artigo discute a articulação entre os con- psicologia de Göttingen. De seu lado, Müller considerava
ceitos de cinestesia e espacialidade no texto husserliano a resistência de Husserl em relação às inovações empíri-
intitulado Dingvorlesung (Thing and Space – Lectures of cas como um isolamento não produtivo e que sua forma
1907) e a relação com estudos de psicologia experimen- de filosofar era um preciosismo verbal.
tal, de diferentes períodos históricos, que investigaram Mesmo assim, ao contrário do laboratório de Leipzig,
os mesmo processos. O texto está organizado em quatro em Göttingen a nova teoria fenomenológica na experimen-
partes. Primeiro, apresenta breve descrição do contexto tação procurava distanciar as teses elementaristas e fisi-
histórico e das características do texto de Husserl de 1907. calistas sobre o funcionamento da consciência. Wundt e
Segundo, discute as definições de cinestesia e espaciali- os psicólogos de Leipzig são inclusive criticados em Thing
dade em Husserl, destacando a importância dada à me- and Space por Husserl no tocante à questão da distinção
diação autoconsciente. Terceiro, contrasta a definição de entre percepção e apercepção. Como se sabe, o termo per-
percepção espacial de três pesquisadores experimentais – cepção refere-se ao processo de conhecimento de obje-
David Katz, James J. Gibson e Alva Nöe – com a definição tos e eventos por meios sensoriais. Em contraste, o termo
husserliana. Por fim, traz resultados de pesquisas recen- apercepção, de Leibniz a Wundt, foi entendido como o
tes com correlatos neurais em tarefas experimentais na processo no qual o conteúdo era focalizado mais clara-
percepção de movimento e propriocepção espacial para mente para a compreensão, posterior à percepção (Klein,
rediscutir a versão husserliana de cinestesia. 1970). A insistência de Husserl (1907/1997), no entanto,
é enfatizar a percepção como processo ativo vinculado
à intencionalidade. O entendimento da época para aper-
1. Cinestesia e Contexto Histórico de Husserl em cepção sugeria certa passividade e independência entre
1907 percepção e intencionalidade. Segundo o filósofo, tal en-
tendimento passivo da apercepção teria sido suplantado
O tema da Cinestesia em Husserl aparece com maior pelo conceito de apreensão de Carl Stumpf (1848-1936).
detalhamento em uma série de conferências proferidas De acordo com Husserl, Stumpf entende que a ideia de
em 1907, quando Husserl lecionava na Universidade apercepção seria insuficiente dentro de uma compreensão
de Göttingen na Alemanha. O texto de 1907 refere-se à intencional da percepção, sendo mais adequado falar de
transcrição de um curso oferecido naquela Universidade, um modo particular do organismo no acesso a evidência
sendo que apenas parte dessas conferências foi traduzida como apreensão ativa das coisas. Similar a essa propo-
para o português, com o título A Idéia da Fenomenologia sição ativa de Stumpf é o conceito de intencionalidade
(1907/2000). Nesse breve texto são apresentadas cinco operante de Husserl (Husserl, 1913/2006).
conferências introdutórias do curso de Husserl, mas Em 1907, Carl Stumpf coordenava o laboratório de psi-
são relativamente independentes do seguimento das cologia da Universidade de Berlim, onde orientava as te-
palestras descritas em Thing and Space. Na Idéia da ses de doutorado de dois dos fundadores da Psicologia da
Fenomenologia Husserl enfocará a descrição do método Gestalt: Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Köhler (1887-
das reduções fenomenológicas. Já em Thing and Space o 1967). No entanto, o interesse de Stumpf pela fenomeno-
escopo das análises tratará basicamente da construção logia começava a declinar em 1907, uma vez que Husserl
da espacialidade, com ênfase na cinestesia. Vale lembrar buscava, há algum tempo, afirmar a fenomenologia como
que em 1905 Husserl já havia se detido à discussão da ciência primeira e com um método filosófico próprio para
consciência interna do tempo, e agora espaço e tempo se tal empreitada. Assim como G.E.Müller, Stumpf não via
fundirão para uma compreensão ampliada da experiên- com bons olhos o excessivo afastamento de Husserl da
cia intencional. investigação empírica, exatamente por este defender uma
Sabe-se que entre a audiência do curso de 1907 estava via puramente teórica à intencionalidade.
Georg Elias Müller (1850-1934), chefe da cadeira de psico- Também entre os ouvintes das conferências de 1907,
logia experimental da Universidade de Göttingen (Ash, estava o orientando de Husserl em Göttingen, Wilhelm
1995). Nesse momento, Müller já havia estabelecido um Schapp (1884-1965), que realizou uma análise intencio-
programa de psicologia experimental que buscava fun- nal filosófica da percepção de cores. Na mesma época,
damentação na fenomenologia, dedicando-se principal- o psicólogo Oswald Külpe (1862-1915), aluno de Wündt,
mente à investigação empírica da memória. O sentido fe- buscava desenvolver um programa de psicologia experi-
nomenológico adotado por G.E.Müller foi o da fenomeno- mental na Universidade de Würzburg, baseado em uma
logia como psicologia descritiva, associado à transposição fenomenologia descritiva e entendida como ciência de
metodológica da fenomenologia de Husserl. Spiegelberg realidades (Spiegelberg, 1972). Külpe foi o orientador da
tese de Max Wertheimer (1880-1943), outro cofundador
Artigo

2
Palestra proferida pelo primeiro autor no II Congresso Sul-Brasileiro de da Psicologia da Gestalt, também na década de 1900.
Fenomenologia & II Congresso de Estudos Fenomenológicos do Paraná,
Acompanhando Müller e Stumpf, Külpe mantinha res-
realizado na UFPR, em Curitiba, de 03 a 04 de junho de 2011.

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“Como Sei que Eu Sou Eu?” Cinestesia e Espacialidade nas Conferências Husserlianas de 1907 e em Pesquisas Neurocognitivas

trições à direção da filosofia fenomenológica delineada vimento. Ambos, sensos interno e externo, indicam uma
por Husserl, considerando-a importante, mas metodolo- integração primária com o sistema sensorial vestibular,
gicamente imperfeita no tratamento da realidade. Schapp localizado no ouvido interno.
e Külpe são dois exemplos de autores influenciados por Para Husserl (1907/1997), a cinestesia designa a expe-
Husserl nesse período, mas que seguiram por caminhos riência vivida da postura corporal, isto é, a orientação dos
distintos no estudo da percepção, o primeiro para a aná- órgãos motores da percepção em movimento, incluindo
lise eidética e o segundo para a análise descritiva, em- os atos usados para simular esses movimentos na cons-
pírica e rigorosa. ciência. A sensação de movimento é o fenômeno puro na
Ainda que notórias as diferenças de propósito entre constituição da espacialidade. A constituição dos mem-
Husserl e os psicólogos alemães da década de 1900, per- bros como conteúdos físicos aparentes no campo visual
cebe-se entre os autores uma forte tendência de combate precede a noção de unidade do corpo (Husserl, 19313, ci-
às teses psicofísicas vigentes nesse momento. Enquanto tado por Petit, 2010). As dinâmicas cinestésicas remetem
Husserl fazia esforços para suplantar a epistemologia das aos impulsos instintuais nos bebês, nos fenômenos da
investigações baseadas no sensorialismo, alguns psicólo- orientação da visão e na projeção das mãos em direção a
gos enfrentavam o desafio de criar condições experimen- um objeto de interesse (Husserl, 1907/1997).
tais e leis de interpretação diferenciadas, na direção de O ato em movimento está alocado na teoria da cons-
uma lógica descritiva fenomenológica. Nesse momento, tituição de Husserl. Por constituição fenomenológica en-
o destaque que Husserl confere à cinestesia para a per- tende-se o ato pelo qual um objeto surge ou configura-
cepção mantém conexão com as modalidades inovadoras se na consciência, cuja característica mais fundamen-
de pesquisa de percepção espacial que os discípulos de tal na cinestesia é a autoconsciência do sujeito na ação
Müller, Külpe e Stumpf irão desenvolver nas décadas se- (“eu estou fazendo”). O ato tem o significado de uma
guintes. Vejamos como Husserl define cinestesia. autoconsciência ativa por todo o período em que persis-
te sua execução (Husserl, 1907/1997). Portanto, trata-se
para Husserl de uma vigília concomitante da constitui-
2. “Como sei que eu sou eu?” – Cinestesia e Espa- ção do ato e da consciência de estar desempenhando
cialidade em Husserl este ato. Daí deriva a indagação que dá o título a essa
exposição: Como sei que eu sou eu? Nas conferências de
Em um sentido genérico, o termo Cinestesia é com- 1907, a cinestesia está associada à necessidade de uma
posto por dois radicais, “Cine” que significa movimento concomitância autoconsciente no desempenho da ação,
e “Estesia” que indica sensação ou percepção. Cinestesia, especialmente em vista do método descritivo de análi-
portanto, seria uma sensação ou percepção de movimen- se da intencionalidade, que repousa sobre o aspecto da
to. Cinestesia é diferente de Sinestesia, que significa a experiência consciente.
relação de planos sensoriais distintos como, por exem- Posteriormente, no texto Psicologia Fenomenológica,
plo, olfato e visão. O termo “sinestesia” é empregado na Husserl (1925/1977) relata que o estudo da intencionali-
neurologia como uma união sensória involuntária em dade e seus modos de acesso à evidência não se faz com-
que a informação real de um sentido é acompanhada pleto sem o correspondente intencional do corpo em sua
por uma percepção em outro sentido não estimulado função perceptiva. Segundo o autor, o corpo é, ao mesmo
(Hubbard & Ramachandran, 2005). Por exemplo, o indi- tempo, coisa (eidos) e função intencional (gênese). Uma
víduo é estimulado por uma cor azul, como o céu azul, análise do sistema cinestésico seria uma nova forma de
e sente ao mesmo tempo o cheiro de um morango, que análise da intencionalidade (Husserl, 1925/1977). Tanto
não está presente no contexto de estimulação. Há também no sentido eidético (estático), como em um sentido gené-
uma tendência em se considerar cinestesia como sinôni- tico (processual), conforme indicado a seguir.
mo de propriocepção. Contudo, embora semelhantes, os Schmicking (2010) reforça a idéia de Husserl ao situar
dois termos guardam diferenças sutis. A propriocepção a cinestesia como um dos aportes nas análises estática e
englobaria um sentido mais conceitual e integrativo da genética da intencionalidade para a constituição dos ob-
percepção, associado ao senso de equilíbrio corporal, mas jetos ou experiências. Junto com a incorporação, a cines-
não necessariamente à ênfase no senso de movimento tesia seria a referência para entender o acesso tipificado
como na cinestesia. ou padronizado a novas experiências, como um modo
A cinestesia está associada a um senso espacial cor- intencional (Análise Estática). A cinestesia seria também
poral interno e externo, sendo a dimensão externa as- uma via alternativa para compreender a auto-organiza-
sociada ao conceito denominado peri-espaço, que seria ção perceptiva no acesso a novas experiências ao longo
o espaço não corporal logo em torno do corpo e que faz de um fluxo temporal de vividos (Análise Genética). Em
parte de um sistema de esquema corporal ligado à sensa- ambos os casos, ocorrem análises de estabilidade e de
ção de movimentos (Cardinali, Brozzoli & Farnè, 2009). variações: na fenomenologia estática, procede-se uma
Artigo

O senso interno estaria associado à interação entre ca-


nais sensoriais básicos no corpo para a sensação de mo-
3 O Problema do Ato (1931) – Edmund Husserl

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Thiago G. Castro & William B. Gomes

análise de essências pelo traço perceptivo em um even- 3. Percepção Espacial e decorrências fenomenológi-
to experiencial; na fenomenologia genética, procede-se cas
uma análise de transições e constâncias da percepção
em um fluxo temporal de vividos. Schmicking (2010) As ideias trabalhadas por Husserl em 1907 conver-
não menciona a análise generativa, que seria o modo de giram, direta ou indiretamente, no desenvolvimento de
análise intencional sobre as conexões ecológicas dos atos. teorias psicológicas sobre a percepção espacial. Três im-
Ainda em 1907 nota-se também a ausência desta análise portantes representantes desta convergência temática
no texto de Husserl. são David Katz (1884-1953), James J. Gibson (1904-1979),
Em Husserl (1907/1997), a constituição recíproca do e o filósofo contemporâneo Alva Noë, um professor da
movimento de diferentes órgãos em um campo sensorial Universidade da Califórnia, Berkeley, interessado em
define a noção de espaço próprio e, por conseguinte, de percepção e consciência. A seguir, destaca-se como a te-
um mesmo corpo (unidade egóica). Pergunta-se então: O oria fenomenológica da percepção espacial se relaciona
que seria primordial na reunião desses diferentes mo- ao trabalho destes três pesquisadores, representando o
vimentos? Aparentemente, a visão desponta como o re- desenvolvimento durante o século XX.
curso integrador do eu. Nesse texto, o sistema háptico, a A repercussão mais direta pode ser observada nos es-
participação músculo-esquelético em toques e contatos tudos do psicólogo experimental alemão que foi orientado
táteis é reconhecido como fundamental na integração, por Georg Elias Müller no período das conferências de
possivelmente como recurso concomitante à visão. Isto Husserl em Göttingen. Em 1911, David Katz escreve seu
porque exerceria uma função diferente da visão, sendo a principal trabalho sobre a percepção das cores a partir
visão o pólo primário de identificação do movimento e o de estudos experimentais, dando destaque à função da
sistema háptico como pólo de sensação de continuidade intencionalidade na constituição da espacialidade, em
temporal do movimento. O sistema táctil, decorrente do oposição às teses da sensação na tradição de Hermann
sistema háptico, aparece como recurso na extensão da von Helmholtz (1821-1894). O livro foi traduzido para o
unidade do ego para os movimentos externos à sensação inglês em 1935, com reimpressões em 1970, 1999, 2000,
de movimento corporal. Nesse ponto, o tema da cineste- 2001, 2002 o que aponta para a importância da obra. Na
sia integra-se ao da experiência do mundo para a consti- apresentação de sua teoria da percepção das cores, Katz
tuição de um esquema de ego estendido. (1911/1935) mencionou Ewald Hering (1834-1918) como
Os objetos intencionados que compõem a corporeida- principal influência, informando que as ideias de Husserl
de estendida obviamente não possuem caracteres cinesté- sobre esse tema não eram tão inéditas ao tempo das con-
sicos. Contudo, os objetos que estão no mundo participam ferências de Göttingen. Para Katz (1943/1945), o padrão
do sistema auto-referente do corpo, este sim cinestésico de percepção das cores poderia servir de exemplo para a
(Husserl, 1931 citado por Petit, 2010). Isto significa que percepção do espaço como um todo. Para tanto, seria ne-
a sensação de movimento e a construção da espacialida- cessário levar em conta que a percepção de uma cor não
de corpórea não englobariam a carne do mundo, como se limita à correlação estímulo-percepção, segundo as
em Merleau-Ponty, mas os objetos do mundo são funda- variações unidimensionais de intensidade. Requer ainda
mentais para a dimensão auto-referente e autoconsciente a investigação de covariantes de iluminação nos objetos
do corpo em relação à percepção do mundo. Os objetos que circundam o espaço da percepção. Ou seja, a percep-
são parte do sistema cinestésico como utensílios ou pólo ção de espaço é o produto da posição espacial do sujeito
negativo, mas não como extensão carnal do movimento. em relação ao contexto percebido, bem como as relações
Husserl discute em 1931 a relação do corpo com ferra- de iluminação e sombra entre os objetos que compõem o
mentas que ampliam o sistema intencional de constitui- cenário da percepção total. Posteriormente, algumas das
ção auto-referente da espacialidade. O uso de ferramen- teses de Katz foram trabalhadas por Köhler na questão
tas, como descrito em 1931, poderia ser uma saída em dos padrões da continuidade perceptiva da visão (Ash,
direção à via generativa, ecológica, não enfatizada nas 1995). Katz reconheceu a grande influência de Husserl
conferências de 1907. para suas pesquisas experimentais, em particular, a ati-
Observamos a importância dada por Husserl à dimen- tude fenomenológica nas seguintes palavras:
são autoconsciente na sensação de movimentos. O filó-
sofo buscava com isso enfatizar o elemento operante da Para mim, a fenomenologia como advogada naquele
intencionalidade na construção de referentes espaciais tempo (i.e. durante os anos de estudante de Katz em
no fluxo de vividos. Esse controle consciente da experi- Göttingen) por Edmund Husserl, parece ser a mais
ência do espaço não só serviria a um domínio da espacia- importante conexão entre filosofia e psicologia. Ne-
lidade, como também uma via para a análise de padrões nhum dos meus professores acadêmicos, com exceção
intencionais na percepção do meio e na propriocepção. de G. E. Müller, influenciou-me tão profundamente no
Com isso, Husserl define uma posição contrária à tese de procedimento e na atitude sobre as questões psicológi-
Artigo

que a percepção seria uma reação sensorial aos estímu- cas quanto Husserl com seu método fenomenológico.
los recebidos do meio. (Katz, 1952 citado por Spiegelberg, 1972, p. 44).

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“Como Sei que Eu Sou Eu?” Cinestesia e Espacialidade nas Conferências Husserlianas de 1907 e em Pesquisas Neurocognitivas

A constituição da percepção visual reaparece for- As pesquisas sobre percepção visual desenvolvidas
temente nos meados do século XX com a profícua pro- por Katz (1911/1935), Gibson (1979) e Noë (2004) abor-
dução do pesquisador norte-americano James J. Gibson dam, em certa medida, a relação entre intencionalidade
(1904-1979). Em especial seu livro de 1979, intitulado e concomitância autoconsciente na ação, considerando
The ecological approach to visual perception, que aborda as interferências da mediação pré-consciente e intenção
a construção da percepção e propriocepção a partir do motora dos atos. Nesse sentido, qual seria a relação entre
uso ativo que o organismo faz dos recursos disponíveis motricidade, consciência dos atos e intencionalidade? Tal
em seu meio. A relação de Gibson com a fenomenologia questão é pertinente diante do entendimento de que as
é indireta, sendo apenas possível realizar indicações de atualizações entre o encontro da intencionalidade com
convergência conceitual e temática entre as ideias sobre as contingências ambientais provocam um momento de
percepção de movimento e propriocepção. retomada unitária da experiência do corpo.
Para Gibson (1979), a conexão ecológica é princípio e A discussão emergente desses novos desenvolvimen-
não fim para entender a emergência da percepção. Seu tos da fenomenologia está nas questões decorrentes de
conceito mais conhecido é affordance, que tange espe- como compreender e explicar as atualizações constantes
cificamente sobre este uso intencional dos recursos am- e operantes da percepção espacial e da propriocepção. O
bientais para situar a percepção visual em uma articu- ponto chave nessa discussão procede das ciências cog-
lação ativa com o meio. Segundo Gibson (2002), a per- nitivas de abordagem enativa (Thompson, 2007), sob o
cepção visual deve ser estudada e entendida como um argumento de que tais atualizações do comportamento
processo direto no ambiente, sem recorrer às teses de e da percepção não dependem exclusivamente de pistas
processamento indireto ou representação da visão total ambientais, mas especialmente da intencionalidade pré-
como imagem no córtex occipital. Acerca dessa defesa, via em relação ao ambiente. Para essa ciência cognitiva
Gibson afirma que o sistema visual estrito faz uma se- influenciada pela fenomenologia, existiria um modo in-
leção de estímulos no meio antes de qualquer mediação tencional operante que caracteriza os modos de acesso
de filtro sensorial secundário no cérebro. Isto significa perceptivo às coisas e que não exclui os elementos con-
afirmar que os olhos têm capacidade suficiente de sele- tingenciais reais do ambiente (Smith, 1999). Nesse senti-
ção de estímulos, levados por uma intenção prévia, sem do, reafirma-se, mais uma vez, não se tratar nem de um
que seja necessária uma captação da imagem total para idealismo puro e nem de um realismo puro. Haveria,
posterior reorganização topográfica dos estímulos em portanto, modos intencionais tipificados que acessam o
um córtex específico. meio de forma ativa ou operante, mas que se atualizam
Mais recentemente encontra-se em Nöe (2004) um permanentemente conforme as pistas ambientais para se
retorno às teses de Katz e Gibson para examinar, por reorganizar. Nesse momento de reorganização, a retoma-
meio de estudos experimentais, a relação entre inten- da autoconsciente da experiência seria fundamental para
cionalidade pré-consciente e reorganização intencional, a preparação intencional a experiências futuras.
conforme a discriminação de pistas ambientais durante
o desempenho da ação. Para Nöe, a ação no meio cons-
titui a percepção, sendo que as subsequentes atualiza- 4. “Quem sou eu?” – Transições da fenomenologia
ções interferem continuadamente nas intenções da ação. para experimentação
Observa-se novamente, nesse exemplo, que o conceito de
intencionalidade é ressignificado à luz das ações efeti- Em uma tentativa de reunir a fenomenologia constitu-
vas do organismo no ambiente, até como uma intencio- tiva husserliana e a neurocognição, os atos pré-conscien-
nalidade operante. Contudo, a mediação autoconsciente tes vêm sendo estudados em experimentos que incluem
não é ponto chave aqui para a constituição intencional, a descrição experiencial consciente após o desempenho
como desponta no texto de 1907 de Husserl. Nöe recor- de determinadas tarefas (Lutz & Thompson, 2003). Os ex-
reu a vários estudos de Gibson para afirmar a tese de que perimentos consistem na proposição de uma tarefa expe-
a percepção recairia, em ultima instância, sobre a ação riencial e motora, passível de ser descrita, com objetivo
corporal no ambiente. Nesse sentido, não seria nem uma de verificar a associação entre a descrição perceptiva e o
criação autoconsciente nem uma dependência pura de desempenho corporal (motor). Pesquisas em neurociência
contingências ambientais. Trata-se de uma combinação (Iriki, Tanaka & Iwamura, 1996) desde meados da déca-
entre realismo e idealismo. Aliás, a tese sobre a ação no da de 1990, têm demonstrado que o uso de ferramentas
meio não descarta o modelo funcional de seleção por como prolongamento do corpo intencional coincide com
consequências, mas retoma a importância enativa do os achados sobre a ativação de neurônios viso-táteis na
organismo nas trocas com este meio e o papel da auto- utilização de instrumentos por macacos.
consciência nessa mediação. Por enativa entende-se a Em relação aos achados neurocientíficos sobre a fun-
ação guiada pela percepção na vivência sensório-motora ção integrada de visão e tato em um mesmo neurônio,
Artigo

contextualizada do sujeito da ação (Varela, Thompson cabe uma ressalva ao texto husserliano. Para Husserl
& Rosch, 1991). (1907/1997), os sistemas sensórios eram correlacionados

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Thiago G. Castro & William B. Gomes

e complementares, uma idéia desafiadora para os siste- traços psicológicos e as variações na sensação de movi-
mas teóricos atomistas de seu tempo. Contudo, Husserl mento (cinestesia). Mais especificamente, a relação entre
não entra no mérito da questão neurológica, pois não quer ação, autoconsciência e intencionalidade motora. Nessas
recair nas propostas biológicas da consciência ou da cau- pesquisas criam-se ambientes de ação em que se geram
salidade psíquica. Ele enfatiza a necessidade de se man- ambiguidades perceptivas para o acompanhamento dos
ter no âmbito puro descritivo da experiência de sensação processos decisórios motores e autoconscientes associa-
de movimentos. Atualmente, o que se constata é que não dos à tomada de posição diante das ambiguidades. Tais
apenas os sistemas cerebrais estão correlacionados, como ambiguidades baseiam-se, em grande parte, na perturba-
também residem, em uma unidade cerebral, diferentes ção da integração de canais sensoriais.
funções concomitantes, como atividade motora, cogniti- Um exemplo de estudo é o experimento conhecido
va e respostas sensórias efetoras. como Rubber Hand Illusion (RHI), que busca avaliar a in-
Ainda em Husserl, a doação de significado para a ex- tegração intermodal proprioceptiva na auto-atribuição de
periência do corpo aparece implicada a uma concepção membros fantasmas (Botvinick & Cohen, 1998). Os pes-
de plasticidade dos movimentos, que requerem constantes quisadores criam uma situação de ilusão perceptiva em
atualizações, e ao uso de ferramentas para o acesso inten- que se produz uma distorção da posição manual pela esti-
cional do mundo. A formação da espacialidade passa em mulação sincrônica de uma mão verdadeira e uma mão de
1907 pela articulação autorreferente dos atos corporais borracha. A partir de uma variação de condições experi-
em uma experiência consciente estendida no tempo. É mentais Ehrsson, Spence, e Passinham (2004) evidencia-
impossível neste ponto não associar a posição de Husserl ram que a ocorrência da ilusão na tarefa RHI depende de
com o verbete de percepção espacial na Enciclopédia de uma estimulação sincrônica da mão verdadeira e da mão
Ciências Cognitivas do MIT (Colby, 1999, p. 786): “Nossa falsa. Em média, 80% dos participantes relatam a ilusão
experiência unitária do espaço emerge de uma diversida- esperada pela indução da RHI, dentro de um intervalo de
de de representações espaciais estendidas no tempo”. A 15 segundos de estimulação sincrônica na mão verdadeira
semelhança entre a fenomenologia do espaço e a recente e na mão de borracha (Ehrsson, Holmes & Passingham,
ciência cognitiva é realmente inegável. 2005). Embora a sincronicidade viso-tátil da estimula-
O tema da vigília autoconsciente na sensação de movi- ção seja um fator importante na produção da ilusão, não
mentos do próprio corpo ganha contornos mais complexos é suficiente para explicar a recalibração proprioceptiva.
quando se contrastam as definições de Husserl com a de- Tsakiris e Haggard (2005) demonstraram que o efeito da
finição contemporânea de cinestesia. Henrik H. Ehrsson, ilusão diminui ou se extingue mesmo com estimulação
um aclamado neurocientista cognitivo de Estocolmo, esco- em sincronia, quando a postura ou a lateralidade da mão
lheu, para sua conferência proferida no Congresso Toward de borracha são incongruentes com a posição da mão
a Science of Consciousness realizado em Tucson/AZ nos verdadeira. Essa evidência indica que representações e
EUA, o título: “Two legs, two arms, one head: Who am I?” expectativas prévias sobre o corpo exercem também um
(Ehrsson, 2010). O confronto entre as duas pernas, os dois importante papel na propriocepção.
braços e uma cabeça remete exatamente ao problema da Sobre a integração dos canais sensoriais na percepção,
presença da autoconsciência no desempenho e na percep- Ehrsson, Holmes e Passingham (2005) demonstraram que
ção de atos motores. Ehrsson investiga as relações entre o aumento sensível da atividade nos córtices pré-motor,
percepção e comportamento com base em pesquisas com ventral intra-parietal bilateral e cerebelo correspondem ao
ilusão corpórea. Seus estudos articulam dados de correlato aumento gradual da intensidade da ambiguidade ou ilusão
neural e descrição de experiência dos participantes em um perceptiva gerada nos contextos de tarefa. Isso comprova
contexto de tarefa experimental. O pesquisador defende que diferentes regiões do cérebro estão altamente integra-
a tese de integração dos sistemas sensoriais e, por conse- das na percepção e que não haveria uma prevalência de
guinte, integração de áreas cerebrais na constituição da um canal sensório sobre o outro na integração perceptiva.
percepção do espaço. Os trabalhos de Ehrsson levantam, Ou seja, já partindo das constatações de que a percepção
em alguma medida, a indagação sobre a importância da está integrada, tanto na cinestesia quanto na propriocepção
mediação da consciência reflexiva no desempenho motor conceitual e unitária do corpo, busca-se avaliar a reação do
e perceptivo em situações de ambiguidade propriocepti- corpo diante da dissociação da integração perceptiva.
va. Isto é, qual o nível de influência da autorreflexividade As perguntas lançadas remetem aos comportamentos
implícita necessária para o desempenho de ações. Nessa observados no laboratório. Isto é, diante de ambiguidades
direção, discute o tema da intencionalidade do organis- perceptivas prevalece o padrão intencional motor previa-
mo em seus experimentos. A incerteza e principalmente mente aferido, independente da distorção? Ou prevalece
instabilidade sobre a experiência integrada e unitária do o ajuste da ação de acordo com a mediação autoconscien-
corpo, como revelados por seus achados experimentais, te da dissociação perceptiva durante o ato? Tais achados
levam Ehrsson a perguntar: Quem sou eu? sobre plasticidade da atualização proprioceptiva podem
Artigo

O pesquisador sueco representa uma linha de pes- auxiliar no tratamento ou reabilitação individualizada de
quisa que tem procurado compreender a conexão entre sujeitos, que por alguma razão possuam prejuízo na in-

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“Como Sei que Eu Sou Eu?” Cinestesia e Espacialidade nas Conferências Husserlianas de 1907 e em Pesquisas Neurocognitivas

tegração proprioceptiva do corpo (ex. amputados, comor- O tipo de confronto entre apologistas e detratores da
bidades de auto-imagem em transtornos alimentares, ou ciência natural parece ser reeditado de tempos em tem-
mesmo esquizofrenia). Essas perguntas estão sendo inves- pos, especialmente sob o argumento da distinção en-
tigadas no Laboratório de Fenomenologia Experimental tre ciências humanas e ciências naturais. Tal discussão
e Cognição da UFRGS, através de dois paradigmas expe- não escapa à literatura fenomenológica. Contudo, com os
rimentais de ilusão perceptiva em tarefas experimentais avanços tecnológicos e a incorporação da descrição de ex-
com seres humanos. periência como heurística em protocolos experimentais,
tal distinção parece perder espaço para o debate mais
profícuo em torno dos acréscimos que uma teoria pode
Considerações Finais sugerir a outra. Este novo horizonte também se situa na
revisão da definição clássica de naturalismo, que vem
De modo direto ou indireto, a problemática da con- sendo ressignificada pelas mudanças recentes na inves-
comitância autoconsciente na percepção de movimentos tigação científica (Zahavi, 2009).
sustenta o mesmo interesse teórico levantado por Husserl
há mais de um século atrás. A pergunta continua sendo
a mesma: como se constitui e se desenvolve a percepção? Referências
Embora os caminhos de investigação tenham seguido por
rumos diferentes, as nuanças da percepção continuam a Ash, M. G. (1998). Gestalt Psychology in German Culture,
despertar interesse, como bem atestam os estudos recen- 1890-1967: Holism and the quest for objectivity. New York:
Cambridge University Press.
tes do pesquisador H.H. Ehrsson. As divergências entre
Husserl e os psicólogos experimentais da época, repre- Botvinick, M., & Cohen, J. (1998). Rubber hands ‘feel’ touch that
sentados por Müller, foram captadas com elegância pelo eyes see. Nature, 391, 756.
psicometrista C. E. Spearman, em sua autobiografia, refe-
Cardinali, L., Brozzoli, C., & Farnè, A. (2009). Peripersonal
rindo-se à visita que fez à Universidade de Göttingen em
space and body schema: two labels for the same concept?
1906. Spearman discorreu sobre Husserl, após descrever Brain Topography, 21, 252-260.
suas impressões das aulas de Müller:
Colby, C. L. (1999). Spatial Perception. Em R. A. Wilson & F. C.
Na mesma universidade, a de Göttingen, eu tive a Keil (Eds.), The MIT Encyclopedia of the Cognitive Sciences
vantagem adicional de assistir as palestras de Husserl, (pp. 784-787). Cambridge, MA: The MIT Press.
em seu modo, um grande homem como G.E. Müller. Ehrsson, H. H. (2010). Two legs, two arms, one head. Who am
Mas rumos seguidos por eles os levaram a mundos à I? [Resumo]. Em Toward a Science of Consciousness (Org.),
parte. Na verdade, a única coisa que parecia comum Program and Book of Abstracts, Tucson IX Toward a Science
aos dois era a inabilidade de um apreciar o outro! Para of Consciousness (p. 115). Tucson, AZ: TSC.
Müller, as análises refinadas de Husserl pareciam ser
Ehrsson, H. H., Spence, C., & Passingham, R. E. (2004). That’s
um renascimento da idade média (como, de fato, elas my hand! Activity in premotor cortex reflects feeling of
amplamente foram, mas não necessariamente como ownership of a limb. Science, 305, 875– 877.
uma desvantagem). Para Husserl, as tentativas de Mül-
ler em lidar com os problemas psicológicos por meio Ehrsson, H. H., Holmes, N. P., & Passingham, R. E. (2005).
de experimentação era como tentar desvendar rendas Touching a rubber hand: Feeling of body ownership is as-
sociated with activity in multisensory brain areas. Journal
com um tridente. Ainda assim, o procedimento de Hus-
of Neuroscience, 25, 10564–10573.
serl – como ele o descreveu para mim – apenas diferia
daquele usado pelo melhor experimentalista, lidando Gibson, J. J. (2002). A theory of direct visual perception. Em A.
com problemas similares, em que pesa Husserl não ter Nöe, & E. Thompson (Eds.), Vision and Mind: selected rea-
ninguém além dele mesmo como sujeito experimental dings in the philosophy of perception [pp. 77-90]. Cambridge,
MA: The MIT Press.
(Spearman, 1930 citado por Spiegelberg, 1972, p. 35).
Gibson, J. J. (1979). The ecological approach to visual percep-
Mesmo trabalhando com problemas similares, como tion. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates – LEA
atesta Spearman na citação, Husserl mantinha uma forte – Publishers.
preocupação em definir um programa filosófico sólido o
Hubbard, E. M., & Ramachandran, V. S. (2005). Neurocognitive
suficiente para se afastar das proposições empíricas em- mechanisms of synesthesia. Neuron, 48(3), 509–520.
basadas em um tipo de racionalismo que ele discordava.
O projeto que Husserl seguiu foi o de uma filosofia pri- Husserl, E. (1977). Phenomenological Psychology: Lectures, sum-
meira como refundação para as ciências naturais. Nesse mer semester 1925. The Hague: Martinus Nijhoff.
sentido, seu desentendimento praticamente generalizado
Artigo

Husserl, E. (1997). Thing and Space: Lectures of 1907.


com a psicologia empírica da época pode ser compreen- Netherlands: Kluwer Academic Publisher.
dido a partir do panorama dessa refundação.

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Thiago G. Castro & William B. Gomes

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Thiago Gomes de Castro - Mestre em Psicologia (UFRGS) e
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Pesquisador do Laboratório de Fenomenologia Experimental e
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201-216]. New York: Springer. University e com estágios de pós-doutoramento na Southern Illinois
University e na Universidade de Michigan, fundador e professor do
Schmicking, D. (2010). A toolbox of phenomenological metho- Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRGS. Coordenador
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