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1. APELAÇÃO
Da sentença cabe apelação (art. 1.009, caput). Não importa o conteúdo da sentença, não
importa se a extinção da causa se dá sem mérito (art. 485) ou com mérito (art. 487), em qualquer
hipótese o recurso cabível será a apelação. Frise-se: ainda quando questões impugnáveis por agravo
de instrumento (rol do art. 1.015) sejam decididas na sentença, o recurso cabível será a apelação
(art. 1.009, §3°). Todo o conteúdo da sentença deverá ser atacado por apelação.
Todavia, o novo CPC ampliou o objeto da apelação, que passa a caber também contra as
decisões interlocutórias não agraváveis proferidas na fase de conhecimento. Em outros termos, é na
apelação que o recorrente impugnará as decisões interlocutórias que lhe foram prejudiciais ao longo
da fase de conhecimento, mas que não puderam ser objeto de agravo de instrumento por estarem
fora do rol do art. 1.015 do CPC. Assim, as decisões interlocutórias não agraváveis serão impugnadas
em preliminar (=questão prévia) de apelação. Conforme dispõe o art. 1.009, §1°:
A apelação, portanto, passa a ter dois possíveis objetos: i) atacar a sentença; ii) atacar as
decisões interlocutórias proferidas ao longo da fase de conhecimento cujo objeto não esteja previsto
no rol do art. 1.015 do CPC.
Perceba-se desde logo uma nuance: não há preclusão para impugnação de decisão
interlocutória não agravável enquanto não for possível o manejo da apelação. É que
independentemente do seu objeto, a apelação será interposta sempre depois de proferida a
sentença. Somente haverá preclusão quanto a este tipo de decisão (=fora do rol do art. 1.015) se
não for atacada em sede de apelação.
Toda decisão de primeiro grau é recorrível. Se não for por agravo de instrumento, será por
apelação.
O réu, derrotado, poderá apelar. Manejado o recurso, o autor será intimado para apresentar
contrarrazões em 15 dias (art. 1.010, §1°). O novo CPC permite que o autor (=vencedor) em suas
contrarrazões: i) combata o recurso da parte contrária e, cumulativamente, ii) recorra da decisão
interlocutória que lhe foi desfavorável. É o que se extrai da parte final do art. 1.009, §1°.
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Esta previsão se fundamenta no seguinte: se o tribunal der provimento à apelação do
derrotado, é preciso dar ao vencedor a chance de discutir e reverter a decisão interlocutória a si
desfavorável. Não houvesse a previsão deste recurso em contrarrazões, o vencedor estaria
totalmente desprotegido em face da decisão anterior que lhe foi desfavorável: não poderia ter
agravado e não poderia ter apelado, pois sagrou-se vencedor na sentença.
Por isso o vencedor, nas contrarrazões, deve recorrer da decisão interlocutória desfavorável.
No nosso exemplo, o autor deverá recorrer da decisão que rejeitou a produção de provas. Se as
decisões interlocutórias não agraváveis forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente será
intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas (§ 2º do art. 1.009).
Isso tudo quer dizer que o novo CPC permite veicular uma demanda recursal em sede de
contrarrazões para atacar uma decisão interlocutória não agravável. Esse recurso será
subordinado ou dependente e condicionado.
É recurso subordinado ou dependente porque a sua sorte depende de como for julgado o
recurso principal. O regime é bastante semelhante ao do recurso adesivo, conforme estudado no
capítulo anterior, incidindo aqui o art. 997. Assim, se o recorrente desistir da apelação, o recurso
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contido nas contrarrazões não será conhecido; se a própria apelação não for conhecida, o recurso
contido nas contrarrazões terá o mesmo fim.
A regra, como se disse, é que a apelação seja recebida com efeito suspensivo, ou seja,
que a sentença não comece a produzir efeitos imediatamente após sua prolação. Apesar disso, o
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§1° do art. 1.012 traz um rol de exceções, hipóteses em que o cumprimento provisório da sentença
poderá ser iniciado desde logo. Vejamos:
§ 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua
publicação a sentença que:
VI - decreta a interdição.
Em todas estas hipóteses, e também naquelas previstas em lei esparsa, a apelação não terá
efeito suspensivo. O apelado poderá, então, promover o pedido de cumprimento provisório depois
de publicada a sentença (§2°).
É preciso atentar ao inciso V do §1°. O novo CPC fala em confirmar, conceder ou revogar
tutela provisória. O legislador quer dizer o seguinte: naquilo que refere às tutelas provisórias, a
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sentença produzirá efeitos desde logo. Não importa se a tutela provisória (cautelar ou antecipada; de
urgência ou evidência) já havia sido concedida e foi apenas confirmada, se foi concedida no bojo
mesmo da sentença, ou se houve revogação, este capítulo específico não terá sua eficácia
suspensa pelo manejo da apelação. As tutelas concedidas ou confirmadas podem ser executadas
desde logo; a tutela revogada perde os efeitos.
Por outro lado, em quaisquer das hipóteses previstas no art. 1.012, §1°, admite-se a
concessão de efeito suspensivo pelo Relator da causa no tribunal. Veja-se o §4° do mesmo
artigo:
§ 4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante
demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver
risco de dano grave ou de difícil reparação.
Este requerimento será sempre feito diretamente ao tribunal em petição simples, jamais
ao juiz que sentenciou. É que o juízo de admissibilidade da apelação é feito pelo próprio tribunal,
enquanto o juiz a quo somente processa o recurso e as contrarrazões, remetendo-os ao órgão ad
quem. Por isso, a competência para apreciar o pedido de suspensão é do próprio Relator, no tribunal.
Conforme dispõe o §3° do art. 1.012, o pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser
formulado por requerimento dirigido ao: i) tribunal, no período compreendido entre a interposição da
apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; ii)
relator, se já distribuída a apelação.
As dimensões do efeito devolutivo, quanto à apelação, são extraídas dos §§1° e 2° do art.
1.013:
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§ 1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e
discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo
impugnado.
§ 2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a
apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
Há alguns recursos que permitem retratação do juiz que proferiu a decisão. Essa possibilidade
de retratação é o que se chama de efeito regressivo. A apelação, em regra, não possui esse efeito.
Há, excepcionalmente, duas hipóteses de apelação no novo CPC com efeito regressivo.
Tratam-se das apelações interpostas (i) contra a decisão que indefere a petição inicial (art. 331,
caput) e (ii) contra a decisão que julga liminarmente improcedente o pedido (art. 332, §3°).
1.3. PROCEDIMENTO
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Exemplo
Como ocorre com as intervenções de terceiro ou mesmo com a exclusão de parte por
ilegitimidade.
Além disso, o recorrente deve afirmar os fatos e os fundamentos de sua demanda recursal,
apontando a necessidade de reforma do entendimento consignado na sentença ou a decretação de
invalidade da decisão impugnada. Ao fim, deverá apresentar pedido de novo julgamento.
Conforme o art. 1.010, caput do CPC, a apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de
primeiro grau, conterá: i) os nomes e a qualificação das partes; ii) a exposição do fato e do direito; iii)
as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; iv) o pedido de nova decisão.
Ao receber a petição inicial, o juiz de piso não exercerá qualquer juízo a respeito. O juízo
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prévio de admissibilidade foi expressamente excluído do novo CPC. Assim, caberá ao magistrado
somente intimar o apelado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias (§1°).
POSIÇÃO DO FPPC
Enunciado n° 207 do FPPC: “Cabe reclamação, por usurpação da competência do tribunal de justiça
ou tribunal regional federal, contra a decisão de juiz de 1º grau que inadmitir recurso de apelação.”
Caso, além das contrarrazões, o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o
apelante para apresentar contrarrazões (§2°). Após, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz,
independentemente de juízo de admissibilidade (§3°).
colegiado. Segue-se, daqui em diante, o procedimento estudado no capítulo referente à ordem dos
processos no tribunal.
No julgamento da apelação, a decisão será tomada, no órgão colegiado, pelo voto de 3 (três)
juízes (art. 941, §2°) componentes da turma ou câmara do tribunal.
Por isso, o legislador prevê hipóteses em que o tribunal deverá julgar a causa desde logo,
quando conhecer e prover a apelação. Se a causa estiver madura, o tribunal pode julgá-la nas
hipóteses descritas nos §§3° e 4° do art. 1.013. A causa madura, explique-se, é aquela em condições
de imediato julgamento, ou seja, onde não há mais necessidade de se tomar outras providências ou
promover atos instrutórios além dos que já constam nos autos. É, em termos simples, a causa que 7
está pronta. Vejamos esquematicamente:
sentença por falta o art. 489, §1°, que elenca todos os critérios para que
de fundamentação. uma decisão seja considerada fundamentada.
A sentença sem fundamentação adequada e suficiente
é inválida. Mesmo que a sentença não esteja
devidamente fundamentada, o tribunal poderá, após
decretar-lhe a invalidade, passar à apreciação do
mérito. Tudo se a causa estiver madura. Perceba-se,
nessa situação, que o provimento da apelação não
levará necessariamente à alteração da sucumbência
originária. O acórdão pode se limitar a complementar
os fundamentos da sentença, concordando com a
conclusão.
Perceba-se que mesmo nas situações acima analisadas, se a causa não estiver madura, 8
impõe-se o retorno dos autos ao juiz de primeiro grau, que tomará as providências necessárias e
proferirá nova sentença. O tribunal somente poderá avançar ao julgamento da causa que lhe
chegue pronta para julgamento.
Em regra, a apelação não é instância adequada à arguição de questões de fato que poderiam
ter sido debatidas na instância inferior. Todavia, as questões de fato não propostas no juízo inferior
poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força
maior (art. 1.014).
Atente-se que o dispositivo apenas autoriza a alegação de questão de fato. Não é possível
ao apelante alterar ou acrescentar nova causa de pedir não abarcada pela demanda originária.
Os fatos novos aqui previstos não são fatos supervenientes. Estes podem ser trazidos em
sede de apelação, por autorização expressa do art. 933 (estudado no capítulo 9). Fatos novos,
abarcados pelo art. 1.014, são aqueles ainda não apreciados pelo Judiciário, no caso, por motivo
de força maior que impediu o recorrente de argui-los anteriormente.
A técnica de ampliação do colegiado não está prevista no capítulo dedicado à apelação. Sua
regulação está no art. 942, dentro da ordem dos processos no tribunal. Todavia, a íntima relação do
tema com o recurso de apelação impõe que seja tratado aqui.
Desde já, o leitor deve ficar atento à complexidade do tema, que vem gerando muitos debates
na doutrina e enormes dúvidas na praxe forense. Por isso, nos ocuparemos aqui dos contornos
básicos e induvidosos desta novidade legislativa.
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em
sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos
previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade de
inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar
oralmente suas razões perante os novos julgadores. 9
Uma vez verificado o resultado não unânime da apelação, seja pelo provimento ou pelo
desprovimento do recurso, o julgamento deverá ser interrompido para a ampliação do colegiado de
julgamento. Somente após esta ampliação o julgamento prosseguirá em sessão a ser designada com
a presença dos novos julgadores.
Trata-se de técnica impositiva, ato complexo não necessário do procedimento. Diz-se “não
necessário” porque não haverá sempre, mas apenas nas hipóteses previstas no art. 942.
O CPC delega expressamente ao regimento interno dos tribunais regular previamente a forma
como se dará a convocação dos demais magistrados para comporem a formação ampliada do órgão
colegiado. Impõe-se que a convocação seja nos termos previamente definidos no regimento em
respeito ao princípio do juiz natural. A convocação deve se dar em número suficiente para a inversão
do resultado inicial, ou seja, devem ser convocados ao menos dois novos julgadores. A apelação
não unânime é aquela onde se dá um resultado “2x1”; a convocação de mais dois julgadores é que
garante a possibilidade de inversão do julgamento para “2x3”.
Apesar de a regra geral ser o prosseguimento do julgamento em nova sessão, o §1° do art.
942 dispõe que, sendo possível, o prosseguimento do julgamento dar-se-á na mesma sessão,
colhendo-se os votos de outros julgadores que porventura componham o órgão colegiado. Esta
possibilidade dependerá da forma como regimento interno regule a convocação de novos julgadores.
Esta previsão deve ser lida em consonância com a parte final do caput, onde se assegura às
partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos
julgadores. Ora, garante-se a sustentação oral não somente em nova sessão de julgamento, mas
também se a ampliação do colegiado se der e o julgamento prosseguir na mesma sessão. Deve ser
garantido ao advogado sustentar suas razões, mesmo que se habilite após o resultado parcial e
antes da ampliação do colegiado, na mesma sessão.
Tendo em vista que o julgamento não se encerra enquanto não houver unanimidade, os
julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do prosseguimento
do julgamento (§2°). Obviamente, os julgadores que de alguma forma se afastarem não poderão
ter os seus votos revistos pelos seus substitutos (art. 941, §1°).
O §3° do art. 942 prevê mais dois casos de ampliação do colegiado. Vejamos:
§ 3o A técnica de julgamento prevista neste artigo aplica-se, igualmente, ao julgamento não unânime
proferido em:
I - ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seu
prosseguimento ocorrer em órgão de maior composição previsto no regimento interno;
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II - agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito.
O §4° do art. 942 prevê expressamente que não haverá a aplicação da técnica de ampliação
do colegiado ao julgamento: i) do incidente de assunção de competência e ao de resolução de
demandas repetitivas; ii) da remessa necessária; iii) não unânime proferido, nos tribunais, pelo
plenário ou pela corte especial.
Nas hipóteses consagradas nos incisos I e III, o julgamento já será proferido por um órgão
colegiado de maior composição, como o órgão especial ou o órgão plenário. Logicamente, pois, não
se justifica uma ampliação de um colegiado já bastante amplo.
A hipótese do inciso II segue uma tendência dotada no CPC, especialmente em seu art. 496,
de reduzir as hipóteses de remessa necessária.
2. AGRAVO DE INSTRUMENTO
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Aqueles que estudaram o recurso sob a égide do CPC/73, viram que o agravo de instrumento
seria cabível em face de decisões interlocutórias suscetíveis de causar à parte lesão grave e de difícil
reparação, enquanto o agravo retido caberia contra decisões interlocutórias onde não houvesse o
risco de dano. O agravo retido não encontra previsão no novo CPC. Além disso, a interposição do
agravo de instrumento não mais exige que a decisão impugnada seja apta a causar dano grave
e de difícil reparação. Esta alteração é de suma relevância, pois altera sobremaneira o regime do
agravo de instrumento conforme regulado pelo novo CPC.
Como já pudemos tratar ao estudar o recurso de apelação, o novo CPC prevê decisões
interlocutórias em dois tipos: agraváveis e não agraváveis. As decisões interlocutórias agraváveis
são aquelas constantes do rol do art. 1.015. Contra elas o recurso cabível será o agravo de 12
instrumento. As decisões interlocutórias não agraváveis são todas as demais não incluídas no
rol do art. 1.015. Contra elas o recurso cabível será a apelação.
Uma das grandes novidades promovidas pelo novo CPC no que refere ao agravo de
instrumento foi a previsão de um rol taxativo de hipóteses que admitem a sua interposição. Deve-se
atentar desde logo ao inciso XII, objeto de veto presidencial e por isso não trabalhado abaixo.
Vejamos o rol:
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POSIÇÃO DO FPPC
Enunciado n° 154 do FPPC: “É cabível agravo de instrumento contra ato decisório que indefere
parcialmente a petição inicial ou a reconvenção.”
Prevalece a compreensão de que o rol acima comentado é taxativo, ainda que haja forte
polêmica doutrinária e jurisprudencial a respeito. A demanda pela relativização do rol das hipóteses
de agravo decorre da constatação prática de que a situação em que não se pode aguardar a sentença
e posterior apelação para impugnar uma decisão interlocutória, sob pena de grave dano à parte. Há
diversos exemplos de situações que podem causar este problema: i) suspensão indevida da causa;
ii) condenação por litigância de má-fé; iii) indeferimento de produção de prova, etc.
Porém, a situação mais grave não prevista no rol do art. 1.015 diz respeito à decisão
interlocutória que acolha ou rejeite a preliminar de incompetência do juízo (art. 337, II). Ora, imagine-
se a situação em que proposta a ação em Recife, o réu seja domiciliado em Macapá. Caso argua a
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incompetência desde logo, nos termos do art. 340, caberá ao magistrado definir se o juízo
competente para o processamento da causa é o de Recife ou o de Macapá. Em qualquer hipótese,
sendo procedente ou não a arguição, um dos sujeitos terá que verter vultosos valores para
acompanhar o processo em local tão distante de seu domicílio. Não há previsão no rol do art. 1.015
para impugnar esta decisão através de agravo de instrumento.
Esse e diversos outros problemas podem surgir caso não se admita a interposição do agravo
de instrumento contra a decisão interlocutória que defina a competência para processar e julgar a
causa. O caso chegou rapidamente aos tribunais superiores.
2.2. PROCEDIMENTO
O agravo de instrumento, como o próprio nome já diz, forma um instrumento novo, ou seja, é
processado em autos apartados aos da causa onde foi proferida a decisão recorrida. 15
O recurso será dirigido diretamente ao tribunal, por meio de petição autônoma, preenchendo
os requisitos do art. 1.016:
Art. 1.016. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente, por meio de
petição com os seguintes requisitos:
A interposição do recurso poderá ser feita por qualquer forma prevista em lei, exigindo o
pagamento de custas e porte de retorno, conforme tabela publicada pelos tribunais (art. 1.017,
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§1°). O legislador promove o acesso à justiça, prevendo protocolo tradicional, protocolo integrado ou
por carta, além da interposição por fax.
Nos termos do §2° do art. 1.017 do CPC, no prazo do recurso, o agravo será interposto por:
i) protocolo realizado diretamente no tribunal competente para julgá-lo; ii) protocolo realizado na
própria comarca, seção ou subseção judiciárias; iii) postagem, sob registro, com aviso de
recebimento; iv) transmissão de dados tipo fac-símile, nos termos da lei; v) outra forma prevista em
lei.
O art. 1.017 traz as peças obrigatórias e facultativas que devem instruir a petição do agravo.
Vejamos o caput (onde grifamos):
II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita pelo
advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
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III - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.
Se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados tipo fac-símile ou similar, ou
seja, por fax, as peças devem ser juntadas no momento de protocolo da petição original (art. 1.017,
§4°). No momento do envio do fax será necessário somente o envio das razões do recurso.
Utilizado o protocolo por fax, a lei exige que a petição original seja apresentada, junto com
todos os documentos, em até 5 (cinco) dias após o término do prazo (art. 2° da lei n° 9.800/99). Nesta
oportunidade, a parte deverá apresentadar todas as peças obrigatórias e facultativas.
O novo CPC consagra alguns casos de regime procedimental diferenciado para o processo
eletrônico. O Agravo de Instrumento interposto em autos eletrônicos é um exemplo disso,
dispensando-se na hipótese a juntada das peças obrigatórias. Nos termos do art. 1.017, §5°,
sendo eletrônicos os autos do processo (=processo onde a decisão recorrida foi proferida),
dispensam-se as peças referidas nos incisos I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros
documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia.
Se os autos onde a decisão recorrida foi proferida são eletrônicos, todas as peças são
acessíveis, tornando-se prescindível que sejam novamente juntadas.
Não sendo o caso de decisão monocrática, o Relator, no prazo de 5 (cinco) dias (art. 1.019,
capu):
Regularmente intimado o agravado, o relator solicitará dia para julgamento em prazo não
superior a 1 (um) mês da comunicação (art. 1.020).
O agravo de instrumento será julgado por órgão fracionário do tribunal composto por 3
membros (art. 941, §2°). O relator e a turma ou câmara fica preventa para o julgamento da apelação
eventualmente interposta no mesmo processo.
Apesar de o caput do art. 1.018 mencionar que o “agravante poderá requerer a juntada” da
petição, trata-se de ato impositivo para processos físicos, sob pena de inadmissão do agravo de
instrumento. Veja-se os §§2° e 3° do dispositivo em comento:
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§ 2o Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput, no prazo de
3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento.
§ 3o O descumprimento da exigência de que trata o § 2o, desde que arguido e provado pelo agravado,
importa inadmissibilidade do agravo de instrumento.
Há outra função na juntada da petição prevista no art. 1.018: permitir o juízo de retratação do
magistrado. O agravo de instrumento possui efeito regressivo pois, sendo informado da
interposição e tomando conhecimento de suas razões através da cópia juntada nos autos originários,
o magistrado poderá rever a sua decisão. Caso mantenha, o processamento e julgamento do agravo
de instrumento segue normalmente no tribunal; se, por outro lado, reformar inteiramente a decisão, 19
o Relator considerará prejudicado o agravo de instrumento, nos termos do art. 1.018, §1°.
3. AGRAVO INTERNO
O Agravo Interno é o recurso cabível contra as decisões proferidas pelo Relator do processo
no tribunal. Tratando-se de recurso, remessa necessária ou processo originário, as decisões
monocráticas proferidas pelo Relator são impugnáveis por este recurso.
A sua regulação está no art. 1.021, do CPC. O Código busca aproximar as figuras do “agravo
interno” e do “agravo regimental” ao mencionar que o processamento do recurso se dará nos termos
do regimento. Tais figuras sempre foram bastante semelhantes sob a égide do CPC anterior. A
diferença era a fonte normativa onde se situava sua previsão. Enquanto um era previsto em lei o
outro era previsto em norma regimental. Houve a uniformização da terminologia, havendo somente
um recurso típico contra decisão do Relator: o agravo interno. Veja-se o caput do art. 1.021:
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão
colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.
O prazo para o seu manejo é de 15 dias, conforme regra geral do art. 1.003, §5°. Norma
regimental em sentido diverso resta revogada, prevalecendo o prazo do código (art. 1.070).
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Por “decisão proferida pelo relator” deve-se compreender, de forma ampla, as decisões
monocráticas proferidas no tribunal. Além das decisões do Relator da causa, como membro do
órgão fracionário, também cabe agravo interno nos casos de decisão unipessoal, como as decisões
do Presidente nos casos de sua competência como, por exemplo, no pedido de suspensão de
segurança.
POSIÇÃO DO FPPC
Enunciado n° 142 do FPPC: “Da decisão monocrática do relator que concede ou nega o efeito
suspensivo ao agravo de instrumento ou que concede, nega, modifica ou revoga, no todo ou em parte,
a tutela provisória nos casos de competência originária ou recursal, cabe agravo interno nos termos do
art. 1.021 do CPC”. Grupo: Tutela Antecipada; redação revista no IX FPPC-Recife)
3.1. PROCEDIMENTO
Esta previsão exige algumas notas. Primeiro, impõe-se a intimação do recorrido para
apresentação de contrarrazões. Não importa se a decisão impugnada foi proferida inaudita altera
pars ou depois da apresentação de resposta. Segundo, o agravo possui efeito regressivo. Trata-se
de permitir ao prolator da decisão recorrida reconsiderá-la. Perceba-se: ele não julga
monocraticamente o recurso, pois a competência é do órgão colegiado; ele revê a sua decisão
anterior, fazendo com que o agravo perca seu objeto.
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Não havendo retratação, a causa será incluída em pauta para julgamento do recurso. Na
confecção do relatório, o código impõe uma limitação: é vedado ao relator limitar-se à reprodução
dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno (art. 1.021, §3°).
O órgão colegiado exerce tanto o juízo de admissibilidade quanto o juízo de mérito do agravo
interno. A este respeito, há uma previsão interessante:
Enunciado n° 359: “A aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, exige que a manifesta
inadmissibilidade seja declarada por unanimidade.”
O temor de sofrer a sanção faz com que o prejudicado pela decisão avalie a possibilidade de
êxito do seu recurso antes de maneja-lo, evitando-se assim a mera prolongação da litispendência.
Uma vez incidindo a sanção, a interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao
depósito prévio do valor da multa. A exceção fica por conta da Fazenda Pública e do beneficiário de
gratuidade da justiça, que farão o pagamento somente ao final (§5°). A gratuidade da justiça ou as
prerrogativas da Fazenda Pública em juízo não isentam da multa, apenas diferindo o seu
pagamento.
POSIÇÃO DO STJ
Neste ponto específico o legislador foi de encontro à jurisprudência. Sob a égide do CPC/73 firmou-se
entendimento no sentido de que era aplicável à Fazenda Pública a necessidade de depósito prévio da
multa, como condição para a interposição de qualquer outro recurso. No STJ, veja-se o AgRg no
EAREsp n° 22.230-PA. No STF, veja-se o RE n° 521.424 AgR-ED-AgR-RN. O novo CPC consagra
regra oposta, superando o entendimento jurisprudencial, dispensando o depósito prévio da multa como
requisito para a interposição de outros recursos.
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
4. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
O recurso de embargos de declaração está regulado nos arts. 1.022 a 1.026. Trata-se de
recurso vocacionado à integração ou complementação da decisão impugnada, ou seja, suas
hipóteses de cabimento refletem uma decisão judicial incompleta ou fundada em erro de fato. O CPC
revogado permitia a oposição dos embargos face à omissão, contradição e obscuridade. O novo
CPC acrescenta ainda uma outra hipótese, já admitida pela jurisprudência: correção de erro material.
Conforme dispõe o caput do art. 1.022:
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a
requerimento;
Assim, são quatro os fundamentos que justificam a oposição dos embargos de declaração:
O legislador consagra, ainda, duas hipóteses legais de omissão. Dispõe o art. 1022, p.ú., que
se considera omissa a decisão que: i) deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de
casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência (=precedentes vinculantes) aplicável
ao caso sob julgamento; ii) incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1°
(=insuficiência de fundamentação).
POSIÇÃO DO FPPC
Enunciado n° 394 do FPPC: “As partes podem opor embargos de declaração para corrigir vício da
decisão relativo aos argumentos trazidos pelo amicus curiae.”
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Exemplo
Julgar procedente tanto o pedido de revisão da cláusula quanto o pedido de anulação do
contrato.
Obscuridade – considera-se obscura uma decisão judicial quando parte dela não é
compreensível. A obscuridade pode se dar na fundamentação, quando as próprias razões de decidir
precisarem de esclarecimento, ou no dispositivo, quando não for possível cumprir ou compreender o
comando. A oposição dos embargos de declaração na hipótese de obscuridade tem íntima relação
com o dever de esclarecimento, elemento do princípio da cooperação processual (art. 6°).
Correção de erro material – o erro material é uma incorreção simples, cognoscível de ofício,
na decisão judicial. É o erro cuja correção não altera o fundamento jurídico em si, mas apenas
aperfeiçoa a decisão como forma de evitar eventuais dúvidas ou dificuldades em seu cumprimento.
É o caso, por exemplo, da decisão que condena o réu a pagar mil reais, mas que por erro de digitação
foi proferida com “um zero a mais”. O erro material pode ser corrigido a qualquer tempo, por iniciativa 23
do juiz ou das partes, que o farão neste caso através de embargos.
POSIÇÃO DO FPPC
Enunciado n° 360 do FPPC: “A não oposição de embargos de declaração em caso de erro material na
decisão não impede sua correção a qualquer tempo.”
4.1. PROCEDIMENTO
Face à oposição dos embargos de declaração nem sempre será imprescindível a oitiva da
parte contrária antes do seu julgamento. Muitas vezes o julgamento procedente dos embargos não
causa prejuízo à parte recorrida. É o que se dá, por exemplo, com a correção de simples erro material
ou meros esclarecimentos.
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Em atenção ao contraditório útil, nesse sentido, o § 2º do art. 1.023 dispõe que o juiz intimará
o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sobre os embargos opostos,
caso seu eventual acolhimento implique a modificação da decisão embargada. Trata-se dos
chamados embargos de declaração com efeitos infringentes ou modificativos.
Assim, somente haverá intimação da parte contrária para contrarrazões se o julgamento dos
embargos puder alterar o entendimento originalmente consignado na decisão, gerando prejuízo ao
recorrido. Em outras palavras, só os embargos com efeitos infringentes demandam que seja dada a
oportunidade de responde-los.
As regras acima tratadas (§§1° e 2°), atente-se, dispõem sobre competência funcional para
julgar os embargos de declaração.
O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se entender
ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do recorrente para, no
prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art.
1.021, § 1o (§3°).
A razão de ser desta previsão é pragmática. Tornou-se muito comum que as partes
manejassem embargos de declaração não com o fito de integrar a decisão, mas sim de modifica-la,
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
numa tentativa de conseguir uma instância revisora a mais para a decisão impugnada. Diante de tais
situações, os Relatores passaram a converter os embargos em agravo interno, levando a questão
ao conhecimento do colegiado. Esta possibilidade passa a ser expressamente permitida. Consagra-
se, no ponto, o princípio da fungibilidade recursal.
O §5° do art. 1.024 vem, em boa hora, alterar uma prática injustificável que prevaleceu por
bastante tempo na prática forense: a necessidade de ratificar o recurso interposto antes da
publicação do julgamento dos embargos, sob pena de inadmissão. Assim, se os embargos de 25
declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso
interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração será
processado e julgado independentemente de ratificação.
Nos parece, todavia, que o legislador verteu olhos ao procedimento dos embargos em face
das decisões proferidas pelos tribunais, impugnáveis naturalmente por recursos sem efeito
suspensivo. Ocorre, todavia, que no caso da sentença, o recurso apto a impugná-la é a apelação,
cujos efeitos naturais são o suspensivo e o devolutivo. Assim, em regra, a apelação suspende a
eficácia do julgado até que o tribunal julgue a questão.
Por isso, nesse caso, como a apelação possui efeito suspensivo, deve-se estende-lo também
aos embargos de declaração. Não em virtude deste recurso em si, mas daquele. Assim, apesar da
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
redação do caput do art. 1.026, não possuirá eficácia (=não será possível executar provisoriamente)
a decisão embargada se o recurso principal possuir efeito suspensivo.
POSIÇÃO DO FPPC
Enunciado n° 218 do FPPC: “A inexistência de efeito suspensivo dos embargos de declaração não
autoriza o cumprimento provisório da sentença nos casos em que a apelação tenha efeito suspensivo.”
O destaque fica por conta da alteração do percentual da multa, que passa a ser de 2% sobre
o valor atualizado da causa. Exige-se, para incidência da multa, o manifesto propósito
protelatório, nos termos do art. 1.026, §2°:
Perceba-se, não há perda da faculdade de embargar de uma maneira geral, mas apenas da decisão
reiteradamente atacada de maneira protelatória.
Mais uma questão tormentosa na jurisprudência foi resolvida pelo legislador, ao prever
expressamente o chamado prequestionamento ficto. Os embargos de declaração passam a servir
como importante instrumento para o prequestionamento.
POSIÇÃO DO STJ
Tem-se, pois, mais uma função dos embargos: permitir o prequestionamento. Conforme
dispõe o art. 1.025 do CPC:
Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins
de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso
o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.
Uma vez opostos os embargos, se acolhidos, restará prequestionada desde logo a matéria,
pois o acórdão passará a tratar delas expressamente. Caso os embargos não sejam admitidos ou
restem improvidos, o tribunal superior (STJ ou STF), quando receber o recurso especial ou o recurso
extraordinário, poderá considerar presquestionadas as matérias se entender, quanto ao acórdão
recorrido, que de fato havia erro, omissão, contradição ou obscuridade.
POSIÇÃO DO STJ
Merece revisão, com advento do novo CPC, em especial quanto ao art. 1.025, o Enunciado n° 211 da
Súmula do STJ: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de
embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.”
5. RECURSO ORDINÁRIO
O recurso ordinário inaugura o capítulo dedicado aos recursos para o Supremo Tribunal
Federal e para o Superior Tribunal de Justiça. A partir daí já é fácil compreender que somente têm
competência para processar e julgar o recurso tais cortes superiores. Não há que se falar em recurso
ordinário para os Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais.
O recurso ordinário faz as vezes de uma apelação dirigida aos tribunais superiores. Nele, STJ
e STF funcionarão como segunda instância. O recurso serve à discussão sobre matéria de fato
perante as cortes. Eis um ponto de afastamento entre o recurso ordinário e os recursos excepcionais,
na medida em que estes últimos servem somente para discutir temas de direito.
POSIÇÃO DO FPPC
28
Enunciado n° 357 do FPPC: “Aplicam-se ao recurso ordinário os arts. 1.013 e 1.014.”
Há um detalhe que merece ser atentado: o recurso ordinário não possui efeito suspensivo,
o que representa um ponto dissonante em relação ao recurso de apelação.
As hipóteses de cabimento do recurso ordinário estão no art. 1.027, caput, em paráfrase direta
do texto constitucional. Vejamos:
É preciso ter bastante cuidado com o cabimento do recurso ordinário, pois o seu
processamento e o regime recursal das decisões varia de acordo com a procedência ou
improcedência pedido.
Se tais demandas forem propostas perante o juízo de primeiro grau ou perante os TJs e TRFs,
29
não terão acesso ao STF através de recurso ordinário.
O recurso ordinário deve ser interposto perante o tribunal de origem, cabendo ao seu
presidente ou vice-presidente determinar a intimação do recorrido para, em 15 (quinze) dias,
apresentar as contrarrazões (art. 1.028, §2°).
Findo o prazo de contrarrazões, os autos serão remetidos ao STF imediatamente (art. 1.028,
§3°). Não haverá juízo de admissibilidade provisório na origem.
(art. 1.027, II, a) Mandados de segurança decididos em única instância pelos TRFs ou pelos
TJs – caberá recurso ordinário para o STJ se a decisão for denegatória; caberá recurso especial
para o STJ e/ou recurso extraordinário para o STF se a decisão for concessiva.
Se tais demandas forem propostas perante o juízo de primeiro grau, não terão acesso ao STJ
através de recurso ordinário.
O recurso ordinário deve ser interposto perante o tribunal de origem, cabendo ao seu
presidente ou vice-presidente determinar a intimação do recorrido para, em 15 (quinze) dias,
apresentar as contrarrazões (art. 1.028, §2°).
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Findo o prazo de contrarrazões, os autos serão remetidos ao STJ imediatamente (art. 1.028,
§3°). Não haverá juízo de admissibilidade provisório na origem.
(art. 1.027, II, b) processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou
organismo internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País – caberá
recurso ordinário para o STJ, independentemente de a sentença ser denegatória ou concessiva
do pedido.
Por fim, o art. 1.027, §2°, prevê que se aplica ao recurso ordinário: i) a teoria da causa
madura (estudada com mais detalhes no tópico relativo ao recurso de apelação) e ii) a possibilidade
de requerimento de concessão de efeito suspensivo.
Apesar de o dispositivo acima colacionado apenas tratar do pedido perante tribunais, quando
o recurso ordinário for interposto nas causas internacionais, o pedido de efeito suspensivo poderá
ser formulado perante o juiz singular enquanto processa o recurso.
O CPC cuida dos recursos especial e extraordinário em seção única. Em verdade, ocupa-se
dos aspectos procedimentais dos recursos excepcionais. É que suas hipóteses de cabimento estão
previstas na Constituição, não restando ao legislador versar sobre elas.
última instância recursal quanto aos temas de ordem legal. Nos termos do art. 105, III da CF, em rol
taxativo:
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
recorrida:
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-
lhe: 31
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando
a decisão recorrida:
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
Os arts. 1.029 a 1.035 abordam as disposições gerais aplicáveis tanto ao recurso especial
quanto ao recurso extraordinário. Do art. 1.036 ao 1.041 estão regulados os recursos repetitivos.
interposição de ambos os recursos. Caso a decisão trate somente de matéria legal, cabível será o
recurso especial; se tratar somente de matéria constitucional, cabível será o recurso extraordinário.
POSIÇÃO DO STJ
Enunciado n° 126 da Súmula do STJ: “É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido
assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles sufi ciente, por si só, para
mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário.”
O recurso especial, nos casos previstos no art. 105, III, da CF, será interposto perante o
presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido (TJ ou TRF), em petição que deverá conter
os requisitos listados no caput do art. 1.029 do CPC, quais sejam: i) a exposição do fato e do direito;
ii) a demonstração do cabimento do recurso interposto; iii) as razões do pedido de reforma ou de
32
invalidação da decisão recorrida.
O recurso especial exige fundamentação vinculada, ou seja, somente será admitida sua
interposição nas hipóteses constitucionalmente e taxativamente admitidas. Por isso, no ato de
interposição do recurso, é imprescindível demonstrar o seu cabimento, ou seja, o enquadramento a
uma das situações no art. 105, III, da CF. Não se verificando quaisquer daquelas situações, o recurso
especial será inadmitido.
Quando o recurso especial fundar-se em dissídio jurisprudencial (art. 105, III, “c”, da CF), o
recorrente fará a prova da divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de
jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o
acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de
computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as
circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados (art. 1.029, §1°).
POSIÇÃO DO STJ
Não se conhece de recurso especial fundado em dissídio jurisprudencial quando a parte não realiza o
devido cotejo analítico a fim de demonstrar a similitude fática e jurídica entre os julgados. Este é o
posicionamento firmado em diversos julgados do STJ, dentre eles: REsp n° 618063-MG; AgRg no
AREsp n° 534770-SP; AgRg no AREsp n° 458948-SP.
O cabimento do recurso pela alínea “c” do inciso III do art. 105 permite ao STJ uniformizar a
jurisprudência em âmbito nacional, proferindo entendimento a respeito de matérias que recebeu
soluções divergentes por tribunais diversos. Trata-se de importante instrumento no sistema de
precedentes.
O prequestionamento pode ser de três espécies: i) expresso, quando houver menção direta
na decisão a dispositivo que fundamenta o recurso especial; ii) implícito, quando apesar de não haver
menção ao dispositivo, a norma nele inscrita foi objeto da decisão; iii) ficto, aquele fundamentado na
oposição de embargos de declaração, conforme estudado em tópico acima.
Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal a quo, o recorrido será intimado
para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias (mesmo prazo da interposição do
recurso), findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal
recorrido (a depender da competência definida no Regimento Interno), que deverá, a depender da
situação, tomar uma das seguintes atitudes, nos termos do art. 1.030:
(art. 1.030, I, b) Negar seguimento ao recurso especial interposto contra acórdão que esteja
em conformidade com entendimento do STJ exarado no regime de julgamento de recurso especial
repetitivo.
(art. 1.030, II) Encaminhar o processo ao órgão julgador (turma ou câmara) para
realização do juízo de retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do STJ exarado
no regime de recurso repetitivo.
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Atente-se a um detalhe: nesse caso específico, o recurso especial terá efeito regressivo,
permitindo o juízo de retratação do órgão julgador, adequando-se o entendimento ao precedente
obrigatório em questão e evitando o envio do processo à corte superior.
(art. 1.030, III) Sobrestar o recurso especial que versar sobre controvérsia de caráter
repetitivo ainda não decidida pelo STJ em matéria infraconstitucional.
No exame dos recursos repetitivos veremos que uma vez submetido determinado tema a este
procedimento, impõe-se o sobrestamento das demais causas enquanto não há formação de
entendimento vinculante a respeito. Quando o presidente ou vice-presidente do tribunal receber o
recurso especial e perceber que o tema está afetado ao regime dos recursos repetitivos, deverá
sobrestá-lo enquanto aguarda a definição da tese.
Caso se trate de causa repetitiva ainda não submeta à sistemática dos recursos repetitivos,
cabe ao presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido selecionar e encaminhar dois recursos
representativos da controvérsia ao STJ para fins de afetação da matéria. Ato contínuo, ordenará a 34
suspensão do trâmite de todos os demais processos pendentes, individuais ou coletivos, que
tramitem no Estado ou região.
Assim, é possível que o recurso especial seja inadmitido na origem. Nesse caso, da decisão de
inadmissibilidade caberá o agravo em recurso especial ao STJ, nos termos do art. 1.042 (art. 1.030,
§1°). Este agravo será estudado em tópico adiante. Por outro lado, das decisões que negam seguimento
ao recurso com base em entendimento firmado na sistemática dos recursos repetitivos (art. 1.030, I, b)
ou que sobrestem a sua tramitação por se tratar de causa repetitiva ainda não decidida no STJ (art.
1.030, III), caberá a interposição de agravo interno, nos termos do art. 1.021 (art. 1.030, §2°).
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Até esta altura, todo o processamento do recurso se dá perante o tribunal recorrido. Daí então o
recurso especial é remetido ao STJ.
POSIÇÃO DO FPPC
35
Enunciado n° 219 do FPPC: O §3º do art. 1.029 do CPC pode ser aplicado pelo relator ou pelo órgão
colegiado. (Grupo: Recursos Extraordinários; redação revista no IX FPPC Recife)”
Em verdade, conforme a teoria moderna das invalidades, o único defeito que não admite
correção é a intempestividade (=vício insanável).
Como dissemos anteriormente ao tratar da apelação, o efeito devolutivo pode ser visto em
duas dimensões: horizontal e vertical. Aquelas lições se aplicam aqui, sem tirar nem por.
Caso entenda que o recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder
prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral
(requisito específico do recurso extraordinário) e se manifeste sobre a questão constitucional (art.
1.032, caput).
Não mais haverá juízo de inadmissibilidade do recurso especial, pois será convertido em
recurso extraordinário. A oportunidade de a parte adequar seus articulados aos requisitos
específicos do recurso extraordinário permite que o STF possa conhecer da questão.
Por outro lado, é possível que o Relator da causa no STJ considere que a questão
constitucional discuta matéria prévia e prejudicial ao julgamento do recurso especial. Nesse caso, o
Relator, em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao STF (art. 1.031,
§2°). 36
Superadas as questões discutidas acima, o STJ julgará o processo, aplicando o direito (art.
1.034, caput).
É preciso compreender o que significa aplicar o direito. É que os recursos excepcionais não
admitem discutir questões de fato. Servem, assim, em termos arcaicos, para aplicar o direito ao
caso concreto. Os fatos estão postos e as eventuais controvérsias foram discutidas e definidas pelo
tribunal a quo em seu acórdão. O recurso especial, pois, somente poderá discutir se os fundamentos
jurídicos (=o direito) incide sobre aqueles fatos outrora delimitados.
POSIÇÃO DO STJ
Enunciado n° 7 da Súmula do STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso
especial.”
O recurso extraordinário, nos casos previstos no art. 102, III, da CF, será interposto perante
o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido (TJ, TRF e demais tribunais superiores,
inclusive STJ), em petição que deverá conter os requisitos listados no caput do art. 1.029 do CPC,
quais sejam: i) a exposição do fato e do direito; ii) a demonstração do cabimento do recurso
interposto; iii) as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.
O prequestionamento pode ser de três espécies: i) expresso, quando houver menção direta 37
na decisão a dispositivo que fundamenta o recurso especial; ii) implícito, quando apesar de não haver
menção ao dispositivo, a norma nele inscrita foi objeto da decisão; iii) ficto, aquele fundamentado na
oposição de embargos de declaração, conforme estudado em tópico acima.
Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será intimado para
apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias (mesmo prazo da interposição do recurso),
findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido (a
depender da competência definida no Regimento Interno), que deverá, a depender da situação,
tomar uma das seguintes atitudes, nos termos do art. 1.030:
(art. 1.030, I, b) Negar seguimento ao recurso extraordinário interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do STF exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos.
(art. 1.030, II) Encaminhar o processo ao órgão julgador (turma ou câmara) para
realização do juízo de retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do STF nos
regimes de repercussão geral ou de recurso repetitivo.
Nesse caso específico, o recurso extraordinário terá efeito regressivo, permitindo o juízo
de retratação do órgão julgador, adequando-se o entendimento ao precedente obrigatório em
questão e evitando o envio do processo à corte suprema.
(art. 1.030, III) Sobrestar o recurso extraordinário que versar sobre controvérsia de caráter
repetitivo ainda não decidida pelo STF em matéria constitucional.
Veremos que uma vez submetido determinado tema ao procedimento dos recursos
repetitivos, impõe-se o sobrestamento das demais causas enquanto não há formação de
entendimento vinculante. Assim, quando o presidente ou vice-presidente do tribunal receber o
recurso extraordinário e perceber que o tema está afetado a este regime, deverá sobrestá-lo 38
enquanto aguarda a definição da tese.
Caso se trate de causa repetitiva ainda que não submeta à sistemática dos recursos
repetitivos, cabe ao presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido selecionar e encaminhar dois
recursos representativos da controvérsia ao STF para fins de afetação da matéria. Ato contínuo,
ordenará a suspensão do trâmite de todos os demais processos pendentes, individuais ou coletivos,
que tramitem no Estado ou região.
A admissão do recurso extraordinário depende do preenchimento dos seus requisitos (art. 1.029,
caput) e de sua adequação a uma das hipóteses constitucionais de interposição. Após as alterações
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
promovidas pela lei n° 13.256, o CPC voltou a prever o juízo de admissibilidade provisório pelo tribunal a
quo.
POSIÇÃO DO STF
Enunciado n° 528 da Súmula do STF: “Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão parcial,
pelo presidente do tribunal a quo, de recurso extraordinário que, sobre qualquer delas se manifestar,
não limitará a apreciação de todas pelo Supremo Tribunal Federal, independentemente de interposição
de agravo de instrumento.”
Assim, é possível que o recurso extraordinário seja inadmitido na origem. Nesse caso, da
decisão de inadmissibilidade caberá o agravo em recurso extraordinário ao STF, nos termos
do art. 1.042 (art. 1.030, §1°). Por outro lado, das decisões que negam seguimento ao recurso com
base em entendimento firmado em repercussão geral ou na sistemática dos recursos repetitivos (art.
1.030, I) ou que sobrestem a sua tramitação por se tratar de causa repetitiva ainda não decidida no
STF (art. 1.030, III), caberá a interposição de agravo interno, nos termos do art. 1.021 (art. 1.030,
§2°).
Até esta altura, todo o processamento do recurso se dá perante o tribunal recorrido. Daí então,
sendo o caso de interposição conjunta e concomitante de recurso especial e extraordinário, os autos
39
serão remetidos primeiro ao STJ para depois seguir ao STF. Caso interposto somente o recurso
extraordinário, seguirá ao STF diretamente.
Em verdade, conforme a teoria moderna das invalidades, o único defeito que não admite
correção é a intempestividade (=vício insanável).
Ainda que o recurso extraordinário haja sido admitido por um fundamento, devolve-se ao STF
o conhecimento dos demais fundamentos para a solução do capítulo impugnado (art. 1.034, p.ú.).
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Caberá ao tribunal rever o acórdão, para mantê-lo ou altera-lo, dentro dos limites da matéria
impugnada no recurso.
Como dissemos anteriormente ao tratar da apelação, o efeito devolutivo pode ser visto em
duas dimensões: horizontal e vertical. Aplica-se aqui o mesmo que foi dito naquela oportunidade.
Daqui em diante, aplicam-se as regras previstas pelo CPC no capítulo da ordem dos
processos no tribunal, além do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.
É possível que o STF considere como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso
extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado. Nesse caso,
deverá remeter o recurso ao STJ para julgamento como recurso especial (art. 1.033). A regra em
comento supera antigo posicionamento no sentido de inadmitir o recurso em face de ofensa reflexa
à Constituição. O novo CPC deixa claro, agora, não se tratar de hipótese de inadmissão, mas sim
de conversão em recurso especial.
POSIÇÃO DO STF
Enunciado n° 636 da Súmula do STF: “Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio
constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a 40
normas infraconstitucionais pela decisão recorrida.”
Aqui, da mesma forma, será necessário intimar a parte para que adeque os seus articulados
à forma do recurso especial, permitindo assim o seu conhecimento pelo STJ.
POSIÇÃO DO FPPC
Enunciado n° 565 do FPPC: “Na hipótese de conversão de recurso extraordinário em recurso especial
ou vice-versa, após a manifestação do recorrente, o recorrido será intimado para, no prazo do caput
do art. 1.032, complementar suas contrarrazões.”
Enunciado n° 566 do FPPC: “Na hipótese de conversão do recurso extraordinário em recurso especial,
nos termos do art. 1.033, cabe ao relator conceder o prazo do caput do art. 1.032 para que o recorrente
adapte seu recurso e se manifeste sobre a questão infraconstitucional.”
É preciso compreender o que significa aplicar o direito. É que os recursos excepcionais não
admitem discutir questões de fato. Servem, assim, em termos arcaicos, para aplicar o direito ao
caso concreto. Os fatos estão postos e as eventuais controvérsias foram discutidas e definidas pelo
tribunal a quo em seu acórdão. O recurso extraordinário, pois, somente poderá discutir se os
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
fundamentos jurídicos (=o direito) incidem ou não sobre aqueles fatos outrora delimitados. Não será
possível rediscuti-los.
POSIÇÃO DO STF
Enunciado n° 279 da Súmula do STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso
extraordinário.”
§ 1o Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões relevantes do
ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do
processo.
Assim, haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que: i) contrarie
súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal; ii) tenha reconhecido a
inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do art. 97 da Constituição Federal.
A maior dificuldade que tal previsão pode trazer respeita à compreensão do que é
jurisprudência dominante. Nos parece, nesse sentido, que poder-se-ia considerar dominante a
jurisprudência firmada em sede de recursos repetitivos ou mesmo fixada em repercussão geral
anteriormente. Os próprios precedentes vinculantes do STF (dentre os listados no art. 927) poderiam
ser compreendidos dentro desse conceito.
ATENÇÃO
Art. 102, § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das
questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a
admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus
membros.
Perceba-se, como forma de permitir o acesso à corte suprema, que o juízo do STF exige
manifestação pela inexistência de repercussão geral. Assim, caso dois terços dos membros não
rejeite a repercussão geral da matéria, impõe-se o juízo positivo de admissibilidade.
No mesmo sentido, o §2° do art. 1.035 prevê que o recorrente deverá demonstrar a existência
de repercussão geral para apreciação exclusiva pelo Supremo Tribunal Federal.
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Apesar de o §5° do art. 1.035 mencionar, ipsis literis, “reconhecida a repercussão geral”, na
verdade se trata de um juízo prévio sobre a questão. É que quem reconhece a repercussão geral
não é apenas o Relator, mas sim a composição completa do órgão julgador. Deve-se compreender,
pois, que o Relator apenas admite o debate sobre a questão, submetendo-a aos demais julgadores.
Posta a solução ao órgão colegiado competente, nos termos do art. 102, §3° da CF, poderá
ser declarada ou rejeitada a existência de repercussão geral da questão. Em todo o caso, a súmula
da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que será publicada no diário oficial e valerá
como acórdão (§11).
Uma vez rejeitada a repercussão geral da matéria, em decisão irrecorrível, o recurso não
será conhecido.
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso
extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos
deste artigo.
No mesmo sentido, quaisquer outros recursos que versem sobre a mesma questão terão
seguimento negado no próprio tribunal de origem, sequer sendo remetidos ao STF. É este o fim que
terão os recursos sobrestados, como dispõe o art. 1.035, §8°:
Tanto os recursos sobrestados, quanto os recursos futuros que cheguem aos tribunais
versando sobre a matéria sem repercussão geral, conforme decidido pelo STF, terão seguimento
negado. Apesar de o tribunal recorrido somente verificar, em juízo prévio de admissibilidade, a
existência de alegação sobre a repercussão geral¸ em se tratando de matéria a respeito da qual já
decidiu o STF, caberá a negativa de seguimento do recurso.
Quanto aos demais recursos sobrestados, se consonantes com o tema de repercussão geral
reconhecida, aguardarão o julgamento final da questão pelo STF e a fixação da tese vencedora.
Os recursos excepcionais possuem somente efeito devolutivo. Não possuem, em regra, efeito
suspensivo. Assim, uma vez proferido o acórdão, mesmo atacado pelo recurso especial e/ou
extraordinário, admitir-se-á o cumprimento provisório da decisão. Todavia, é possível que o
requerente requeira ao Relator do recurso a concessão de efeito suspensivo.
Trata-se da concessão de uma tutela provisória recursal. Em outros termos, para que o
tribunal a quo ou ad quem receba os recursos excepcionais com efeito suspensivo, cabe ao
recorrente demonstrar os requisitos para concessão das tutelas provisórias de urgência ou de
evidência.
A competência para receber e decidir sobre o pedido dependerá da fase em que o recurso
excepcional se encontra em processamento. Trata-se do art. 1.029, §5°, que delimita
detalhadamente:
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
O requerimento a que se refere o dispositivo acima colacionado pode ser feito por simples
petição ou mesmo no corpo do recurso. Obviamente, no último caso, a hipótese de competência será
do inciso III, ou seja, do presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido. Por exclusão, o tribunal
superior somente conhecerá do pedido através de petição simples, que sempre deverá fazer
referência ao recurso interposto.
Caso o recurso reste sobrestado na origem por aplicação da sistemática dos recursos
repetitivos, a competência para conhecer do pedido de concessão de efeito suspensivo (parte final
do inciso III) será também do tribunal local.
45
6.4. RECURSOS REPETITIVOS
O art. 927, III, do CPC prevê que o acórdão proferido em sede de incidente de assunção de
competência ou de resolução de demandas repetitivas possui eficácia obrigatória. Trata-se, pois, de
precedente vinculante.
O IRDR já foi discutido anteriormente. Nos cabe tratar, agora, do recurso especial e do recurso
extraordinário repetitivos, regulados de forma geral nos arts. 1.036 a 1.041 do CPC, não obstante o
código se refira expressamente ao tratamento do tema pelos Regimentos Internos de STF e STJ.
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com
fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as
disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
e no do Superior Tribunal de Justiça.
É possível, doutra via, que o próprio Relator no tribunal superior também selecione 2 (dois)
ou mais recursos representativos da controvérsia para julgamento da questão de direito
independentemente da iniciativa do presidente ou do vice-presidente do tribunal de origem (§5°).
A seleção de dois ou mais recursos visa dar ao STF ou STJ uma visão completa da questão
de direito repetitiva. Os casos escolhidos devem, cumulativamente, ser admissíveis e refletir a
controvérsia em todos os seus termos, favorecendo a ampliação do debate e proporcionando uma
decisão de melhor qualidade. O presidente ou vice-presidente do tribunal local, na afetação do
recurso representativo da controvérsia, somente poderá selecionar recursos admissíveis que
contenham abrangente argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida (art. 1.036,
§6°).
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
O Relator da causa no tribunal superior não está vinculado a escolha dos recursos a serem
afetados procedida no TJ ou TRF. Em verdade, quando tiver conhecimento da questão, o Ministro
poderá selecionar outros recursos representativos da controvérsia (§4°). Trata-se de mais um
instrumento de melhoria na qualidade da decisão que formará o precedente vinculante.
Quanto à suspensão em âmbito nacional, a ressalva fica por conta dos recursos
intempestivos. O art. 1.036, §2° repete a regra inscrita no art. 1.035, §6°, ao autorizar que o recurso
intempestivo seja excluído da decisão de sobrestamento. Incide aqui o mesmo que fora dito
anteriormente. 47
Os §1° a 7° do art. 1.037, regulam aspectos procedimentais relativos ao processamento dos
recursos repetitivos.
Se, após receber os recursos selecionados pelo presidente ou pelo vice-presidente de tribunal
de justiça ou de tribunal regional federal, não se proceder à afetação, o Relator, no tribunal superior,
comunicará o fato ao presidente ou ao vice-presidente que os houver enviado, para que seja
revogada a decisão de suspensão das demais causas não selecionadas (art. 1.036, § 1o, segunda
parte).
Tendo em conta que os recursos podem ser selecionados pelos TJs e TRFs, é possível que
o mesmo tema seja remetido à corte superior por mais de um tribunal. No caso, será prevento o
Relator que primeiro tiver proferido a decisão onde se identifica com precisão a questão a ser
submetida a julgamento. Perceba-se, o Relator prevento não é aquele que primeiro teve recursos
repetitivos a si distribuídos, mas o primeiro que define precisamente os limites da questão que
será posta a julgamento pela corte superior.
O código institui ainda um prazo para julgamento do recurso: 1 ano. Assim, os recursos
afetados deverão ser julgados no prazo de 1 (um) ano e terão preferência sobre os demais feitos,
ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Na redação original, o CPC dispunha, no §5° do art. 1.037, sobre uma consequência direta
do desrespeito do prazo de um ano para julgamento: cessava a afetação e as causas sobrestadas
voltariam a correr. Por isso, fazia sentido a previsão (ainda vigente) do §6°, ao autorizar, na hipótese
de cessar a afetação e suspensão, que outro Relator do respectivo tribunal superior afete 2 (dois) ou
mais recursos representativos da controvérsia. Com a revogação do §5° pela lei n° 13.256/2016, o
esquecido §6°, ficou sem sentido algum.
É possível que um recurso contendo diversos objetos seja afetado para decisão de somente
um deles. Na hipótese, os pontos nele constantes que não tenham sido afetados para submissão ao
sistema de formação do precedente obrigatório, serão decididos em acórdão específico, depois da
solução dada à questão repetitiva. 48
Após a afetação dos recursos e a solução de eventuais questões incidentais, mormente
relacionadas à ampliação do diálogo processual (tratadas em tópico adiante), será remetida cópia do
relatório aos demais ministros, incluindo-se em pauta. O julgamento ocorrerá com preferência sobre
os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus (art. 1.038,
§2°).
Em respeito ao dever de fundamentação (art. 93, IX da CF c/c art. 489, §1°, do CPC) o
conteúdo do acórdão abrangerá a análise dos fundamentos relevantes da tese jurídica
discutida.
POSIÇÃO DO FPPC
Enunciado n° 305 do FPPC: “No julgamento de casos repetitivos, o tribunal deverá enfrentar todos os
argumentos contrários e favoráveis à tese jurídica discutida, inclusive os suscitados pelos interessados”
Eventuais novos recursos posteriormente interpostos nos tribunais a quo restarão julgados
por decisão unipessoal na origem, pelo próprio Relator, conforme autorização expressa do art. 932,
incisos IV e V.
Os recursos que hajam sido distribuídos aos órgãos colegiados e posteriormente sobrestados
serão declarados prejudicados caso a decisão recorrida tenha decidido a questão no mesmo
sentido do precedente vinculante formado no âmbito do STF/STJ (art. 1.039, caput, primeira parte).
Os recursos que hajam sido distribuídos aos órgãos colegiados e posteriormente sobrestados
serão julgados com a aplicação da tese firmada caso a decisão recorrida tenha decidido a questão
em sentido oposto ao precedente vinculante formado no âmbito do STF/STJ (art. 1.039, caput,
primeira parte).
Quando o caso reapreciado versar sobre outras questões e estas forem objeto do
recurso especial e/ou extraordinário, caberá ao presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido,
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Ademais, os parágrafos do art. 1.040 consagram um estímulo aos litigantes, como forma de
tentar reduzir as demandas propostas em sentido diverso do entendimento firmado pelas cortes
superiores no julgamento dos recursos repetitivos. Fixada a tese no recurso repetitivo, a parte que
teve sua causa sobrestada no primeiro grau de jurisdição (somente), poderá dela desistir antes de 50
proferida a sentença, se a questão nela discutida for idêntica à resolvida pelo recurso representativo
da controvérsia (§1°).
A afetação de uma questão para ser decidida na sistemática dos recursos repetitivos faz com
que as demais causas que versem sobre a mesma matéria sejam suspensas. Ocorre, todavia, que
dentre as causas atingidas pela suspensão, pode ser que esteja um caso que não se assemelha a
questão a ser decidida pelo STJ/STF.
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
Visando proteger as partes da causa sobrestada em situações como esta, o CPC prevê a
possibilidade de se proceder ao distinguishing entre a questão afetada e a causa sobrestada,
permitindo assim o seu prosseguimento. O tema é regulado no art. 1.037, §§ 8° a 13 do CPC.
Enunciado n° 348 do FPPC: “Os interessados serão intimados da suspensão de seus processos individuais,
podendo requerer o prosseguimento ao juiz ou tribunal onde tramitarem, demonstrando a distinção entre a
questão a ser decidida e aquela a ser julgada no incidente de resolução de demandas repetitivas, ou nos
recursos repetitivos.”
Enunciado n° 364 do FPPC: “O sobrestamento da causa em primeira instância não ocorrerá caso se mostre
necessária a produção de provas para efeito de distinção de precedentes.”
Recebido o requerimento, o magistrado intimará a parte adversa, que será ouvida a respeito
em 5 (cinco) dias. Após, o magistrado decidirá a respeito. Se negada a distinção, mantem-se o
sobrestamento. Todavia, reconhecida a distinção, o próprio juiz ou Relator dará prosseguimento à
causa.
Caberá a participação do amicus curiae, terceiro interveniente cuja função é contribuir com
o debate, trazendo elementos que agreguem e ajudem no raciocínio e na reflexão dos julgadores,
permitindo uma decisão de melhor conteúdo, mais racional e adequada.
Destaque-se a previsão constante do §3º do art. 138, que permite ao amicus curiae recorrer 52
da decisão proferida em IRDR. Como os recursos repetitivos conformam uma técnica de solução de
causas repetitivas, fazendo parte do microssistema respectivo, se o amicus curiae pode recorrer de
acórdão em IRDR, pode recorrer também de acórdão proferido em recurso especial ou extraordinário
repetitivo, opondo embargos de declaração ou interpondo recurso extraordinário contra acórdão
proferido em recurso especial.
POSIÇÃO DO STF
É possível, ainda, a troca de informações entre o Relator da causa no STF ou STJ e as demais
instâncias inferiores. Conforme dispõe o art. 1.038, caput, III, o Relator poderá requisitar informações aos
tribunais inferiores a respeito da controvérsia e, cumprida a diligência, intimará o Ministério Público para
manifestar-se.
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
A participação dos tribunais inferiores, aqui, será de suma importância, pois estando mais
próximos das partes e do conflito, podem corroborar com a delimitação do contexto fático no qual
surgiu o conflito de direito. Ainda que somente possa ser resolvida questão de direito, muitas vezes
para se chegar a uma solução é importante conhecer a situação fática que inspirou a controvérsia.
Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais
ministros, o julgamento terá prosseguimento (§2°, primeira parte).
Espalhadas pelo novo CPC, há diversas menções aos recursos repetitivos que merecem
nota. Vejamos as principais:
Em sede de execução provisória não será necessário oferecer caução para levantar
valores penhorados ou transferir domínio de coisa se o título exequendo for decisão baseada em
precedente vinculado formado em IRDR (art. 521, IV).
O Relator poderá julgar monocraticamente o recurso que tenha por objeto tese firmada
em recursos repetitivos (art. 932, IV e V).
Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que
inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos.
Há uma importante ressalva na parte final do dispositivo colacionado: não caberá o agravo
do art. 1.042 quando a inadmissibilidade do recurso especial ou extraordinário estiver baseada em
repercussão geral ou julgamento de recursos repetitivos.
O recurso cabível, nas duas hipóteses específicas, será o “agravo interno, para o próprio
plenário ou para o órgão especial do próprio tribunal de origem, a fim de que se faça a distinção para
deixar de aplicar o precedente ao caso” (DIDIER Jr., et al. 2016-b. p. 380). Dessa forma, é de suma
importância ao recorrente, quando a decisão de inadmissibilidade houver se justificado nestes 54
precedentes, que proceda ao distinguishing através do manejo de agravo interno, justificando as
razões pelas quais o seu caso concreto não se adequa aos que fundamentaram a decisão pela
inadmissibilidade.
Esta compreensão tem uma razão de ser: a aplicação dos precedentes vinculantes pelos
tribunais tem como um dos seus objetivos racionalizar a atuação do Poder Judiciário, evitando que
questões já resolvidas cheguem às instâncias superiores. Assim, de nada adiantaria, face à decisão
de inadmissibilidade em razão de repercussão geral ou julgamento de caso repetitivo, a interposição
do agravo previsto no art. 1.042, pois a questão já julgada chegaria novamente ao conhecimento do
tribunal superior por uma via transversa. Por isso, nas hipóteses específicas da parte final do caput,
o recurso cabível é o agravo interno, cuja competência para julgamento é do próprio tribunal a quo.
Existem, todavia, diversas outras questões que justificam o juízo de admissibilidade negativo
dos recursos excepcionais como, por exemplo, a pretensão de rediscutir questões de fato (Enunciado
n° 7 da Súmula do STJ) ou a ausência de prequestionamento da matéria. Em tais situações, o recurso
cabível será o agravo em recurso especial e extraordinário.
É preciso compreender uma nuance: o mérito do agravo previsto no art. 1.042 é diverso do
mérito do recurso especial ou extraordinário inadmitido. Enquanto o recurso inadmitido tem por objeto
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
rediscutir o acórdão impugnado, o agravo para destrancá-lo tem por objeto rever as razões que
levaram ao juízo de inadmissibilidade. Ou seja, as matérias discutidas em um e em outro não se
confundem, em absoluto.
7.1. PROCEDIMENTO
O recurso deve ser dirigido ao julgador responsável pela inadmissão do recurso especial ou
extraordinário. Ainda, não há necessidade de recolher novo preparo.
A parte final do §2° deixa claro que se aplica ao agravo o regime de repercussão geral e de
recursos repetitivos, inclusive quanto à possibilidade de sobrestamento e do juízo de retratação.
Assim:
O agravo para destrancar recurso excepcional possui efeito regressivo, permitindo o juízo
de retratação.
55
Recebido o recurso, o agravado será intimado, de imediato, para oferecer resposta no prazo
de 15 (quinze) dias (§3°).
Diante das razões do recurso e das contrarrazões, será possível o exercício do juízo de
retratação. Sendo o caso, o agravo será resolvido e o processo remetido ao tribunal superior para
apreciação e conhecimento do recurso especial e/ou extraordinário.
Não havendo retratação, todavia, o agravo será remetido ao tribunal superior competente
(STJ/STF). Assim, não há juízo de admissibilidade do agravo perante o tribunal recorrido. Este
juízo é de competência privativa do tribunal superior.
A remessa do agravo se faz nos próprios autos do processo principal, ou seja, seguem à
instância superior não somente o agravo, mas sim todo o processo. É importante esta constatação
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
pelo seguinte: o agravo do art. 1.042 não é de instrumento. Não há processamento em apartado,
pois interposto nos próprios autos.
POSIÇÃO DO FPPC
Enunciado n° 225 do FPPC: “O agravo em recurso especial ou extraordinário será interposto nos
próprios autos.”
Ainda, sob a redação original do CPC/73, este agravo era de instrumento. Hoje não é mais e, por isso,
foram superados os enunciados n° 288 e 639 da Súmula do STJ, incompatíveis com o agravo nos
próprios autos.
Esta remessa de todo processo permite que o agravo seja julgado e, uma vez provido, que o
tribunal superior avance ao exame do recurso excepcional sem necessidade de os autos voltarem à
instância inferior. Conforme dispõe o §5°, o agravo poderá ser julgado, conforme o caso,
conjuntamente com o recurso especial ou extraordinário, assegurada, neste caso, sustentação oral,
observando-se, ainda, o disposto no regimento interno do tribunal respectivo.
Ainda, os §§6° e 7° do art. 1.042 dispõem a respeito das regras de interposição do agravo
quando tiver havido, concomitantemente, a interposição de recurso especial e recurso extraordinário.
A remessa dos autos ao STF dependerá da utilidade do recurso extraordinário após o exame
do agravo. Vejamos as situações:
Explique-se: há recursos excepcionais interpostos com base em mais de uma das hipóteses
de cabimento. O recurso especial pode ser interposto com base em qualquer das alíneas do art. 105,
III, da CF. Caso seja inadmitido somente por um de seus fundamentos, “subirá” ao tribunal superior
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
por força de outro fundamento. Lá estando, em juízo de admissibilidade definitivo, o recurso poderá
ser conhecido. Não haverá, pois, interesse no agravo.
8. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
III - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro órgão 58
do mesmo tribunal, sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora
tenha apreciado a controvérsia; (...)
POSIÇÃO DO FPPC
Enunciado n° 230 do FPPC: “Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo interno
ou agravo em recurso especial ou extraordinário, decide recurso especial ou extraordinário.”
Assim, não caberá a interposição do recurso diante de acórdão proferido pelo plenário ou
órgão especial.
O acórdão recorrido será aquele proferido em sede de recurso especial (STJ) ou recurso
extraordinário (STF). Todavia, o acórdão paradigma utilizado para demonstrar a divergência interna
Direito Processual Civil - Recursos em espécie
através do confronto das teses jurídicas, pode ter sido proferido tanto em julgamentos de recursos
quanto de ações de competência originária (§1°).
O inciso III do caput supera antiga peleja jurisprudencial. É que muitas vezes os votos
proferidos pelos juízes componentes do órgão fracionário eram no sentido de não conhecer do
recurso embora adentrassem no mérito. Muitas vezes, pois, acórdãos que entendiam pelo não
conhecimento do recurso apreciavam toda a questão de mérito (=a controvérsia). O novo CPC
permite expressamente que um dos acórdãos (o embargado ou o paradigma) seja de não
conhecimento do recurso, quando apreciada a controvérsia.
Outra questão de suma importância está no §2° do art. 1.043, ao prever que a divergência
que autoriza a interposição de embargos de divergência pode verificar-se na aplicação do direito
material ou do direito processual.
O fundamento do recurso pode ser tanto uma questão de direito processual (por exemplo, a
existência de preclusão ou não para o conhecimento de uma certa alegação) quanto uma questão
de direito material (por exemplo, se a parte tem direito ou não a determinado benefício
previdenciário). Caberá o manejo dos embargos de divergência em qualquer destas situações.
59
É possível, excepcionalmente, que acórdão recorrido e acórdão paradigma sejam
originários do mesmo órgão fracionário, desde que sua composição tenha sofrido alteração em
mais da metade de seus membros (§3°). A exceção é plenamente justificada. Ora, se a composição
de um órgão fracionário é alterada em mais da metade de seus membros, apesar de sua posição
dentro da estrutura do tribunal não se alterar, na prática estaremos diante de um “grupo de
julgadores” bem diferente, apto a proferir entendimento divergente sobre a mesma matéria
anteriormente decidida.
POSIÇÃO DO STJ
Em diversos entendimento sumulados o STJ dispõe a respeito de hipóteses de não cabimento dos
embargos de divergência. Vejamos alguns dos enunciados, todos construídos antes da vigência do
novo CPC:
Enunciado n° 158 da Súmula: “Não se presta a justificar embargos de divergência o dissídio com
acórdão de Turma ou Seção que não mais tenha competência para a matéria neles versada.”
8.1. PROCEDIMENTO
A exigência de ratificação do recurso “prematuro” foi eliminada pelo novo CPC, reverberando
para os embargos de divergência.