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A. A expressão possui sentido, mas não possui uma referência - a mesma não
apresentará valor de verdade, mas constitui-se um pensamento. Em aparente
contradição ao que foi expresso por Frege, o sentido de tais expressões não
conterão nenhum conceito, não corresponderão a nenhum discurso de natureza
científica. Por tal definição, inferimos que um sentido/pensamento pode ser
completo e não corresponder a um conceito.
B. A expressão possui sentido, e sua referência pode ser indireta - nesse caso,
embora a expressão seja fictícia, ela diz respeito a uma expressão proferida por
Homero, na obra Ilíada. Nesse caso teríamos um valor de verdade, na qual seria
verdadeiro que tal expressão tenha sido proferida por Homero. A validade da
expressão se remeteria indiretamente a ter sido proferida ou não, e não ao fato
de ter diretamente ocorrido ou não. Seria o sentido de um sentido. Esse sentido
torna-se referência daquele, e engendra valor de verdade. Nesse caso, o
pensamento possui um conceito que pode ser validade pelo juízo.
Para Frege, o critério que define o que pode ou não fazer parte do campo
objetivo não-efetivo ou 3o Reino começa a ser esboçado nos Grundlagen, tem o
seu auge descritivo em Über Sinn und Bedeutung, e é reinterpretado em Der
Gedanke. Em Über Sinn und Bedeutung, um dos artigos mais conhecidos do
autor, Frege estabelece três parâmetros: a referência, que é o campo dos
objetos que serão nomeados e referidos no pensamento e na linguagem.
Constitui-se de todas as coisas efetivas e objetos lógicos; as ideias (ou
representações) que consistem em nossas representações pessoais e
subjetivas, que não podem ser compartilhadas com outros; e por fim,
acompanhando o nome que atribuímos às coisas, estão os sentidos, que se
constituem no modo de apresentação das entidades que se tornam referência
para elas. Diferentes das ideias, os sentidos podem ser compartilhados de
geração em geração sem perda de significado ou compreensão.
Sentido e ideia se diferenciam por dois fatores:
Dada essa distinção, em Der Gedanke Frege enuncia uma catalogação mais
distintiva das três áreas: ao 1o Reino correspondem todas as entidades
objetivas efetivas, ao 2o Reino pertencem todas as ideias e representações
privadas e subjetivas. Ao 3o Reino, que nos importa aqui, cabem todos os
sentidos/pensamentos, que são objetivos não-efetivos.
Talvez se possa conceder que uma expressão, que seja gramaticalmente bem
construída e que tenha a função nome próprio, tenha sempre o mesmo sentido.
Entretanto, por esse meio não fica estabelecido que ao sentido corresponda
também uma referência. A expressão “o corpo celeste mais afastado da Terra”
tem um sentido; mas é bastante duvidoso se ela tem também uma referência. A
expressão “a série menos convergente” tem um sentido; mas prova-se que ela
não tem referência, à medida que se pode encontrar para cada série
convergente uma outra que seja ainda convergente. Portanto, mesmo que se
apreenda o sentido, não se tem ainda com segurança uma referência. (FREGE,
1892, pg.23)
Apesar de nem sempre um pensamento possuir referência, isso não impede sua
existência, sua possibilidade de apreensão e a capacidade de ser compartilhado
em um comunidade comunicativa.
Portanto, a concepção de sentido de Frege parece ser mais ampla que a de
Wittgenstein, embora para ambos o sentido seja objetivo, bem como o espaço
lógico.
Notemos, por exemplo que, para Wittgenstein, certas proposições lógicas, como
as tautologias e contradições, também não possuem sentido.
Para Frege, essa categoria de proposições não deixa de possuir sentido, uma
vez que elas podem ser compartilhada e se constituem de um modo de
apresentação de determinado objeto (quer possua uma referência ou não). No
exemplo dado por Frege em Sobre o Sentido e Referência:
Como podemos ver, tanto a expressão tautológica a=a quanto a expressão a=b
possuem valor cognitivo. Ambas possuem um sentido para Frege porque ambas
se constituem como modos de apresentação.
Pod
emos compreender a posição de Wittgenstein devido ao critério adotado para
definir um sentido no Tractatus. Sendo o sentido uma proposição que diga algo
sobre o mundo e que seja bipolar, isso implica que apenas proposições
passíveis de bipolaridade, isto é, passíveis de juízo, possuem sentido, o que
exclui todas as proposições a priori. (WITTGENSTEIN, 4.003, 2001, p. 165).