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Disciplina: Economia
Prof. Semí Cavalcante de Oliveira
INSTRUÇÕES
Trabalho deve ser feito individualmente e entregue uma
aula antes da Prova Bimestral do Primeiro Bimestre.
As respostas devem ser baseadas no texto abaixo e
serão minunciosamente verificadas.
Questões relativas ao texto:
2 – Explique o que a autora quis dizer com “O Direito como uma ciência pura”.
6 – “...A análise interdisciplinar entre Economia e Direito deve superar não apenas o
problema da não compreensão da lógica jurídica - especialmente a não compreensão
do Direito enquanto sistema - mas também a tendência de uso indiscriminado do
instrumental de análise próprio da Economia a comportamentos extra mercado...”.
Explique o texto anterior de acordo com a lógica do texto abaixo.
Introdução
Economia e Direito são disciplinas que lidam com problemas de coordenação, estabilidade
e eficiência na sociedade. Alguns campos destas ciências possuem claras
complementaridades (como, por exemplo, a defesa da concorrência, regulação econômica,
estruturas de mercado, perda de capital e patrimônio devido a políticas econômicas
equivocadas, atualização inflacionaria, sobretudo, em questões trabalhistas, etc..).
Simplesmente reconhecer a existência de complementaridades, embora seja condição
necessária, não é suficiente para a adoção de uma linha de análise interdisciplinar.
Os diferentes recortes analíticos adotados por cada uma das disciplinas já foram
apontados como um dos obstáculos a serem superados pela pesquisa interdisciplinar
(Mello, 2006), já que muitas vezes faz com que os pesquisadores se deparem com
diferentes problemas de pesquisa. Foram também identificadas diferenças nas respectivas
linguagens de cada disciplina. Salama (2007) sintetiza esta ideia da seguinte forma:
Kelsen propôs para a Ciência do Direito um princípio de pureza, segundo o qual o método
e o objeto do direito deveriam ter enfoque normativo, livre de qualquer fato social ou outro
valor transcendente. O autor sugeriu não apenas afastar a ciência do direito de qualquer
influência sociológica (liberando-a da análise de fatores sociais), mas retirar a ideologia e
demais aspectos axiológicos (ou seja, toda e qualquer investigação moral e 29 políticas,
como a ética, a política, a religião e a filosofia).
A opção metodológica proposta por Kelsen, ao longo dos anos, passou a definir o próprio
estudo do Direito, e criando uma metodologia e objeto de pesquisa que parecem
ocasionalmente estranhos a outras ciências sociais, mas auxiliam na compreensão do
sistema jurídico como um todo e dos efeitos reais produzidos pela aplicação de normas
jurídicas (que não pode nunca ser compreendida de forma isolada). A Teoria do Direito é
essencialmente uma teoria normativa, à medida que “explica” como devem ser (ou devem
funcionar) os sistemas jurídicos – e não como tais sistemas realmente funcionam. Com
isso, fazem parte do objeto da disciplina, basicamente, o processo de produção de normas
jurídicas e o processo de aplicação dessas normas (Mello, 2006).
Em sua Teoria Pura do Direito Kelsen afirmava existir uma margem de indeterminação
relativa das normas, derivada da pluralidade de significações das palavras e da distância
entre a real vontade da autoridade competente e a expressão jurídica da norma. Em razão
desta indeterminação relativa, uma norma comporta diferentes sentidos, todos eles de igual
valor, cabendo à ciência do direito elencar os possíveis sentidos da norma jurídica em
estudo a partir do estudo das normas que lhe são hierarquicamente superiores, superando
a ficção de uma única interpretação correta.
Weber (1978) afirma caracterizar-se a ordem jurídica pela busca do sentido logicamente
correto que deve corresponder ao enunciado normativo. Mais precisamente, a busca pelo
significado que deve corresponder, de modo logicamente correto, a um comando verbal
que se apresenta como norma jurídica.
Assim, enquanto a Teoria Pura do Direito de Kelsen investiga aquilo que idealmente é válido
sob a perspectiva jurídica (isto é, que sentido normativo logicamente correto deve
corresponder a uma expressão que se apresenta como norma jurídica), a sociologia
weberiana investiga o que de fato ocorre em uma comunidade em razão de que existe a
probabilidade de que os indivíduos que participam na atividade comunitária consideram
subjetivamente como válida uma determinada ordem e orientem por ela sua conduta na
prática, e a economia investiga o que ocorre sob a hipótese de indivíduos racionais agindo
em prol da maximização de seus objetivos.
A teoria econômica, ao propor a escolha de interesses que devem ser protegidos pela lei
ou, ainda, como a norma deve adjudicar valores em detrimento de outros, muitas vezes
desconsidera que, para a disciplina jurídica tradicional, não é razoável a proposição de uma
escala valorativa da norma (no sentido de identificar uma norma “mais eficiente” do que as
demais), exigindo a análise interdisciplinar a construção de nova forma de analisar o
problema jurídico segundo método próprio, que permita a escolha, dentre as opções de
política jurídica, que se apresentem, aos legisladores e aos operadores do Direito, da norma
considerada “superior”.
A ordem jurídica é representada como uma pirâmide normativa hierarquizada, onde cada
norma se fundamentaria em outra e legitimada por aquilo que o autor denomina norma
hipotética fundamental. A partir desta estrutura hierarquizada, cada norma deve encontrar
seu fundamento em outra hierarquicamente superior, sendo a norma hipotética
fundamental o fundamento para todo o ordenamento jurídico (Reale, 2001).
Tratando especificamente da relação entre Direito e Economia, Reale (2001, p. 21) afirma
a existência de “ (…) uma interação dialética entre o econômico e o jurídico, não sendo
possível reduzir essa relação a nexos causais, nem tampouco a uma relação entre forma e
conteúdo. ”
Segundo o autor não haveria espaço, na ciência jurídica, para a investigação das relações
causais comum na economia. Este tipo de posição, comum à pesquisa jurídica tradicional,
acaba por “isolar” a pesquisa e o ensino do Direito (ao menos no Brasil), reduzindo as
perspectivas de pesquisa interdisciplinar.
Nobre (2003) também chama atenção para esse ponto, destacando que até mesmo nos
contatos existentes entre juristas e pesquisadores de outras áreas das ciências humanas,
com raras exceções, os juristas ocupam a posição de consultores e não de participantes
efetivos em investigações interdisciplinares; não há um diálogo/debate autêntico entre os
especialistas, mas uma consulta aos juristas por parte dos pesquisadores de outras
ciências. O objeto de estudo do Direito foi, ao longo dos anos, dominado pelos processos
de produção e aplicação (interpretação e completude) das normas jurídicas. Os efeitos das
normas foram deixados para ciências como a Sociologia e a Economia.
A integração com outras disciplinas exige que este tipo de análise seja flexibilizado e que o
Direito aceite que, pelo menos em algumas situações a análise dos efeitos das normas
jurídicas é importante para a própria dogmática do Direito.
Em contraponto à visão normativa do Direito, são inúmeras as dificuldades que podem ser
levantadas para a incorporação de elementos jurídicos à análise econômica, em especial o
fato de que, nas principais vertentes da teoria econômica, questões institucionais (aí
incluídas as normas jurídicas) são tradicionalmente colocadas como variáveis extra
mercado e, por esse motivo, não incorporadas à análise econômica.
A disciplina pode ser encarada não apenas como uma ciência que estuda escolhas
individuais diante de recursos escassos, mas como uma ciência que estuda um fato social
(as escolhas dos agentes), no trato da consecução de objetivos e seus reflexos na vida dos
demais agentes.
Sob esta perspectiva, o estudo de questões institucionais que afetem as escolhas dos
agentes pôde ser inserido na pesquisa econômica, tendo então sido desenvolvidas diversas
vertentes da Economia que se dedicam ao estudo de questões institucionais. Estas
correntes, em geral, tratam as normas jurídicas como um sistema de incentivos, sendo
privilegiada a consideração dos efeitos destas sobre o mundo real. Mesmo quando se
preocupa com problemas institucionais, entretanto, a análise de economistas sobre
instituições carece de uma compreensão da lógica de funcionamento do sistema jurídico, o
que faz com que o Direito seja tratado como instrumento que, em tese, poderia ser
livremente moldado para propiciar determinados fins. Este tipo de análise ignora o fato de
que o sistema jurídico não é um conjunto caótico de normas isoladas entre si, mas um
sistema, o que, no limite, impõe um limite para o uso instrumental do Direito como meio
para a consecução de determinados fins (Mello, 2006).
Analisar de forma integrada Economia e Direito requer, em primeiro lugar, que seja
superada a diferença de planos de análise entre as disciplinas. Para tanto, a abordagem
deve ser capaz de considerar a ordem jurídica não apenas como um conjunto de normas
corretamente inferidas, mas no seu sentido sociológico, como um complexo de motivações
efetivas da atuação humana real (conforme colocado por Weber [1964]).
Sob uma perspectiva weberiana, torna-se possível questionar o que de fato acontece na
sociedade em razão de existir uma probabilidade de que os homens considerem
subjetivamente válida uma determinada ordem e orientem sua conduta por ela. Dito de
outra forma, uma tentativa de superação das diferenças entre os planos de análise deve
buscar a compreensão dos efeitos reais das normas investigando não apenas em que
medida as ações do mundo real se devem à existência de normas jurídicas que as orientam
e em que medida a existência de certas normas jurídicas é condição necessária (e/ou
suficiente) para as ações reais, mas também se essas normas criam condutas regulares
desejadas pelos tomadores da decisão normativa.
A análise interdisciplinar entre Economia e Direito deve superar não apenas o problema da
não compreensão da lógica jurídica (especialmente a não compreensão do Direito
enquanto sistema) mas também a tendência de uso indiscriminado do instrumental de
análise próprio da Economia a comportamentos extra mercado. Este último reflete a postura
comum de sobreposição das disciplinas sem que haja interação e dialogo mútuos (i.e.: cada
disciplina aplica seu respectivo recorte ao objeto de estudo escolhido e nenhum dos lados
é capaz de enxergar a contribuição do outro).
Como propõem Kirat & Serverin (2000), a relação a ser tratada é aquela que se estabelece
entre direito e ação social econômica, com foco, na ação (econômica) orientada pela
representação da existência de uma ordem jurídica legítima.
Uma solução para a compatibilização dos planos de análise é proposta por Mello (2006),
ao destacar que a contribuição weberiana para o estudo das relações entre direito e
economia permite a compreensão do tema em múltiplas dimensões, auxiliando na
construção de um mesmo e complexo objeto constituído pelas relações Economia-Direito.
Sob a ótica weberiana, o Direito não é visto como uma forma vazia de conteúdo que apenas
chancela relações de fato criadas pelos agentes econômicos, ele é considerado tanto causa
como efeito das regularidades das ações dos agentes econômicos. Esta compreensão é
essencial para a identificação, em contextos históricos concretos, da configuração das
relações de causa e efeito entre normas jurídicas e conduta efetiva dos agentes
econômicos, e os efeitos mais gerais (a eficácia) das normas para a Economia.
É importante a identificação das áreas de pesquisa jurídica que possuem maior potencial
de contribuição para o diálogo interdisciplinar. A pesquisa jurídica no campo da dogmática,
nos moldes propostos por Nobre (2003), é um exemplo de contribuição propriamente
jurídica à pesquisa interdisciplinar (que não se limita à prestação de esclarecimentos e ou
consultoria sobre pontos específicos do direito); sem ela, a maior parte das incursões
interdisciplinares acaba por ser puramente econômica e/ou sociológica. Este é, talvez, o
maior aporte que o pesquisador em Direito pode dar à abordagem Economia-Direito: ao
considerar o direito não (somente) como norma abstrata, mas a partir de todo o aparato
envolvido na sua operação (que, em conjunto, conformam um sistema institucional tal como
entendido pela Economia), o Direito pode apresentar instrumentos para compreender a
influência que esse sistema tem no comportamento dos agentes econômicos. Uma
pesquisa econômica sobre como realmente ocorre a operação do direito (seu enforcement)
– que é jurídica e faz parte do estudo da dogmática jurídica– é parte necessariamente
integrante de um problema de pesquisa interdisciplinar (Mello, 2006).
Economia e Direito são disciplinas que não apenas permitem a pesquisa interdisciplinar,
mas que podem, em diversos de seus campos de pesquisa, dela beneficiar - se. Este
trabalho parte da hipótese de que a sociologia econômica weberiana pode contribuir para
a construção desta interdisciplinaridade. Tal proposição, entretanto, exige sejam
exploradas não apenas estas contribuições, mas também os ramos da Economia que, de
alguma forma estudam os efeitos de normas sobre as decisões dos agentes econômicos.
É necessário identificar as possibilidades de pesquisa interdisciplinar já presentes na teoria
econômica, investigando os aspectos para os quais a abordagem proposta poderia
contribuir.
A interdisciplinaridade da economia não pode, por outro lado, ser um fim em si mesmo
(Siegers, 1992). Devem ser determinadas as condições nas quais ela é de fato necessária:
muitas vezes não apenas o objeto de pesquisa pode e deve ser observado a partir de uma
única disciplina, frequentemente um enfoque multidisciplinar pode ser empregado de forma
alternativa à interdisciplinaridade.
O autor aponta, entretanto, que a sobreposição excessiva pode fazer com que as
perspectivas se tornem redundantes e a cooperação não resulte em ganhos significativos.
A defesa da integração da economia com outras disciplinas, assim não significa advogar
que esta seja sempre a solução metodológica adequada, nem tampouco que nas situações
em que é adequada, que ela implique ser a fronteira entre as ciências deve tornar-se
inexistente (Siegers, 1992).
A interdisciplinaridade não comporta, nem precisa comportar, todo o conjunto das
disciplinas envolvidas – é desejável que a pesquisa em cada disciplina isolada seja
desenvolvida, já que sem avanços nas disciplinas específicas o ganho advindo da
interdisciplinaridade é reduzido.
A pesquisa interdisciplinar não seria, assim, proposital, surgindo como uma necessidade;
é, fundamentalmente, um processo e uma filosofia de trabalho. Tão importante quanto a
busca pela integração das disciplinas econômica e jurídica, então, passa a ser a
identificação de objetos de pesquisa que poderiam beneficiar - se da integração das
disciplinas, bem como o exame dos aportes possíveis de cada uma para os problemas
propostos.
É necessário, assim, que seja feito um exame de ambas as disciplinas antes de ser
proposta qualquer solução que busque maior interação entre elas.