Sunteți pe pagina 1din 61

PSICOLOGIA E ÉTICA

INTRODUÇÃO A ÉTICA

FESVIP – FACULDADE DE ENFERMAGEM SÃO VICENTE DE PAULA

PROF.ª PSI. KARLA MICHELLE C. FRANÇA AZEVEDO

TÉCNICO EM LABORATÓRIO
INTRODUÇÃO

Observa-se que a palavra ética passou a fazer parte do vocabulário


do homem comum e está sempre na mídia, demonstrando a
vigência de uma preocupação urgente e universal.
A este respeito, Cortina (2003, p. 18) afirma que: “embora a ética
esteja na moda, e todo mundo fale dela, ninguém chega realmente
a acreditar que ela seja importante, e mesmo essencial para viver”.
Afinal, o que devemos entender por ética?
Esse não é um assunto tradicional dos filósofos e pensadores?
O que significa ética hoje?
Como a ética pode ser útil ou interferir em nossas vidas
cotidianas e na prática docente?
Ética e Moral

A ética, hoje, é compreendida como parte da Filosofia, cuja


teoria estuda o comportamento moral e relaciona a moral
como uma prática, entendida por Cortella (2007, p. 103)
como o “exercício das condutas”.
Além disso, é entendida como um tipo ou qualidade de
conduta que é esperada das pessoas como resultado do uso
de regras morais no comportamento social.
O que se entende por moral? Existe diferença entre ética e
moral?
•As duas estão entrelaçadas. A moral é entendida como um
conjunto de normas para o agir específico ou concreto.
Assim, constitui-se de valores e preceitos ligados aos grupos
sociais e às diferentes culturas, determinando o que é ou
não aceito por este grupo.
•A ética discute os valores que se traduzem em existências
humanas mais felizes, mais realizadas, com mais bem-estar
e qualidade de vida. Além disso, busca os valores que
signifiquem dignidade, liberdade, autonomia e cidadania.
Valores éticos: como eles nascem?

Os valores éticos não nascem com a gente, não pertencem ao que se possa chamar de
“natureza humana”.
O ser humano, segundo Saviani (2003), não nasce humano, mas se torna ao ser acolhido no
meio social, no convívio afetivo com outras pessoas.
Ele precisa de cuidados constantes para sobreviver e para adquirir a linguagem
(pensamento, simbolização, imaginação, comunicação verbal ou qualquer outra forma de
comunicação), condição essencial para que construa sua identidade.
A apreensão e a aprendizagem formal dos valores éticos só pode se dar por meio das
relações humanas que o homem precisa estabelecer desde cedo. Muitos dos valores que
possuímos são apreendidos (subjetivamente) na família e na comunidade, principalmente
pela observação das atitudes.
Definição de Ética

O termo ética, deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa).
Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta
humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom
funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste
sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está
relacionada com o sentimento de justiça social.
A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e
culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os
valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos.
OS PROBLEMAS DA ÉTICA

A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são
fáceis de explicar, quando alguém pergunta.
Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão,
científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou
sobre as ações humanas.
Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos
costumes considerados corretos.
A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria
realização de um tipo de comportamento.
Didaticamente, costuma-se separar os problemas teóricos da ética em
dois campos:

Em um, os problemas gerais e fundamentais (como liberdade,


consciência, bem, valor, lei e outros);
E no segundo, os problema específicos, de aplicação concreta, como os
problemas da ética profissional, da ética política, de ética sexual, de ética
matrimonial, de bioética, etc. É um procedimento didático ou acadâmico,
pois na vida real eles não vêm assim separados.

Uma boa teoria ética deveria atender a pretensão de universalidade, ainda


que simultaneamente capaz de explicar as variações de comportamento,
características das diferentes formações culturais e históricas.
BREVE HISTORIA DA ÉTICA

Éticas do ser Sócrates: a excelência humana se revela pela atitude de busca da


verdade. Isso significa abandonar atitudes dogmáticas e céticas e assumir a
atitude crítica que só se deixa convencer pelo melhor argumento.
A verdade habita no fundo de nós mesmos e podemos atingi-la pela
introspecção e o diálogo.
Embora a verdade encontrada pelo método maiêutico (parto de idéias) é
sempre provisória, ela é um achado que ultrapassa simplesmente as fronteiras
da comunidade que se vive.
Sócrates professa o intelectualismo moral, pois quem conhece o bem sente-se
impelido a agir bem e quem age mal é porque é um ignorante.
Platão: propõe uma utopia moral no livro A República.
O Estado perfeito é constituído por diversos estamentos com funções
determinadas:
a) os governantes tem a função de administrar, vigiar e organizar a cidade;
b) os guardiães e os defensores (militares), de defender a cidade;
c) os produtores (camponeses, artesãos) desenvolver as atividades
econômicas.
Cada estamento tem uma virtude específica:
a) os governantes realizam sua tarefa pela prudência e sabedoria;
b) os guardiães pela fortaleza ou coragem;
c) os produtores, pela moderação ou temperança.
Estes três estamentos correspondem às três espécies ou dimensões da alma:
a) a racional que é o elemento superior e excelso dotada de autonomia e de
vida própria, caracterizando-se pela capacidade de raciocinar;
b) alma irascível que é a sede da decisão e da coragem nos quais predomina a
vontade, fundamentando-se na força interior colocada em ação quando existe
conflito entre os instintos e a razão;
c) apetite ou parte concupiscível que corresponde aos desejos e às paixões.
A virtude correspondente da alma racional é a prudência e a sabedoria; da alma
irascível é a fortaleza e o valor; da parte concupiscível do apetite, a virtude da
moderação. A virtude da justiça harmoniza as diferentes virtudes tanto na
cidade quanto na alma.
Aristóteles:
É o primeiro filósofo a elaborar tratados sistemáticos de ética como a Ética a
Nicômaco.
Ele se pergunta “Qual é o fim último de todas as atividades humanas?”
Este fim não pode ser outro que a eudaimonia (felicidade como auto-
realização), a vida boa e feliz.
A partir daí investiga o que é a felicidade.
a) Ela deve ser um bem perfeito que se busca por si mesmo e não com meio
para outra coisa;
b) o fim último deve ser auto-suficiente, desejável por si mesmo e que
possuindo-o não deseje outra coisa;
c) deve consistir em alguma atividade peculiar de cunho excelente.
Qual é essa atividade? A felicidade perfeita para o ser humano reside no
exercício da inteligência teórica, isto é, a contemplação e compreensão dos
conhecimentos.
Nesta tarefa, o ser humano tem a ajuda das virtudes capitaneadas pela
prudência (sabedoria prática) que permite obter o equilíbrio entre o excesso
e a falta e é a guia de todas outras virtudes.
Por exemplo, a virtude da coragem é o equilíbrio entre a covardia e a
temeridade. Mas uma pessoa virtuosa precisa viver numa sociedade regida
por boas leis, porque o logos não só nos capacita para a vida intelectual
teórica e a vida pessoal prática, mas também para a vida social, pois a ética
não pode desvincular-se da política.
As Éticas medievais: Os conteúdos da moral antiga são elaborados tendo como
referência a matriz judaico-cristã.
Agostinho de Tagaste: Para ele, os filósofos gregos estavam certos ao afirmar
que a moral deve ajudar a conseguir uma vida feliz,
Mas eles não souberam encontrar a chave da felicidade humana que se
encontra no encontro amoroso com Deus Pai.
A felicidade não está em conhecer como pensavam os gregos, mas em amar, e
desfrutar de uma relação amorosa com quem nos criou como seres livres.
A moral é necessária, porque precisamos encontrar o caminho de volta para a
Cidade de Deus da qual nos extraviamos por ceder às tentações egoístas. Para
nos libertar do pecado, Deus nos enviou uma ajuda decisiva, a sabedoria
encarnada que é o próprio Jesus Cristo que, pelos seus ensinamentos e pela sua
graça, nos reconduz de volta à Cidade de Deus.
Tomás de Aquino: Ele tenta conciliar as principais contribuições de Aristóteles
com a revelação judaico-cristã contida na Bíblia.
Para Tomás, a felicidade perfeita está em contemplar a verdade que se
identifica com o próprio Deus.
Esta verdade divina identifica-se com a lei eterna que rege providencialmente
o universo e se expressa nos conteúdos da lei natural.
Esta lei contém o primeiro princípio imperativo: “Faze o bem e evite o mal”.
Mas em que consiste o bem e o mal?
Em primeiro lugar no ditames da Recta ratio, porque ela é a própria lei natural
no ser humano. Em segundo lugar identifica-se com as inclinações naturais
que a lei divina colocou na natureza humana.
Aqui entra o papel das virtudes, principalmente a virtude intelectual da
prudência em semelhanças as características de essência e existência
Éticas do movimento socialista

No início do século XIX, Saint-Simon, Owen e Fourier, defensores do socialismo


utópico, denunciaram as condições de miséria da classe operária, apelando à
consciência moral de todas as pessoas e propondo reformas profundas na
maneira de organizar a economia, a política e a educação.
Para chegar a uma sociedade justa e próspera necessário aproveitar os avanços
da técnica e eliminar as desigualdades sociais.
Insistem em abolir ou ao menos restringir a propriedade privada dos meios de
produção, mas não aceitam a rebelião violenta. Reivindicam o diálogo social e o
testemunho moral de experiências justas e, sobretudo, a necessidade de uma
educação justa.
Os socialistas libertários opuseram-se aos socialistas utópicos, defendendo o
anarquismo cuja tese principal é a abolição do estado. É necessário abolir todo
tipo de opressão e exploração cuja fonte é o estado. Defendem uma sociedade
solidária, auto-gestionada e federalista.

O marxismo quer superar tanto o socialismo utópico como o anárquico,


propondo um socialismo científico (Materialismo dialético e histórico).
Apesar de que Marx não quis propor uma ética, o seu legado principal é moral
pela sua provocação em prol da justiça.
Marxismo prega um progresso moral dependente da superação das
contradições sociais e a mudança das condições históricas. Identifica os
interesses morais com os interesses objetivos e sociais.
As dificuldades do materialismo, professado pelo marxismo, são
tanto o postulado da necessidade mecanicista da evolução
histórica que impede a liberdade como o modo de acesso à
verdade moral pregado pelo materialismo dialético.
Filosofia Moral: Ética e Moral
A Filosofia Moral distingue entre ética e moral. Ética
tem a ver com o "bom": é o conjunto de valores que
aponta qual é a vida boa na concepção de um
indivíduo ou de uma comunidade.
Moral tem a ver com o "justo": é o conjunto de
regras que fixam condições eqüitativas de
convivência com respeito e liberdade.
Éticas cada qual tem e vive de acordo com a sua;
moral é o que torna possível que as diversas éticas
convivam entre si sem se violarem ou se sobreporem
umas às outras. Por isso mesmo, a moral prevalece
sobre a ética.
No terreno da ética estão as noções de felicidade, de caráter e de virtudes. As
decisões de qual propósito dão sentido vida, que tipo de pessoa eu sou e quero
vir a ser e qual a melhor maneira de confrontar situações de medo, de escassez,
de solidão, de arrependimento etc. são todas decisões éticas.
No terreno da moral estão às noções de justiça, ação, intenção,
responsabilidade, respeito, limites, dever e punição. A moral tem tudo a ver com
a questão do exercício do direito de um até os limites que não violem os direitos
do outro.
As duas coisas, claro, são indispensáveis. Sem moral, a convivência é impossível.
Sem ética, é infeliz e lamentável.
Por sua vez, a palavra “moral” vem do latim mos, que tanto pode
significar “costume” como “caráter” ou gênero de vida.
O termo moralis vem de mores (plural de mos), sendo um
neologismo criado por Cícero para traduzir o grego éthika.
Ao tentar fazer uma filosofia dos costumes (mores), dá-se conta de
que lhe falta a palavra adequada em latim, enriquecendo a língua
latina com um novo vocábulo.
Assim se justifica: “Porque trata dos costumes (moribus), que os
gregos chamam ethos, nós, os romanos, costumamos chamar essa
parte da filosofia de moribus. Mas parece-nos conveniente
enriquecer a língua latina chamando de “moral” essa parte da
filosofia”
O termo “moral” pode ser usado como substantivo.

1) Num primeiro sentido refere-se ao conjunto de princípios, preceitos,


comandos, sendo a moral um sistema de conteúdos sobre comportamentos.
2) Num segundo sentido pode referir-se ao código de conduta pessoal de
alguém (Fulano tem uma moral muito rígida ou carece de moral).
3) Num outro sentido compreende as diferentes doutrinas morais ou a ciência
que trata do bem em geral e das ações humanas marcadas pela bondade ou
maldade moral. As doutrinas morais sistematizam um conjunto de conteúdos
morais, enquanto que as teorias éticas tentam explicar o fenômeno moral.
4) Num quarto sentido moral refere-se a uma boa disposição de espírito, ter o
moral bem elevado, estar com o moral alto. Aqui moral não é um saber nem um
dever, mas uma atitude ou caráter.
5) Um último sentido de moral como substantivo compreende a dimensão moral
da vida humana que é a âmbito das ações e das decisões.
O termo “moralidade”.
O termo moral pode também ser usado como adjetivo.

1) Moral no sentido de oposto à imoral, como sinônimos de


moralmente correto ou incorreto.
2) Moral significando o oposto de amoral, isto é, que não tem
nenhuma relação com a moralidade.
Embora moralidade refira-se muita vezes a algum código moral
concreto (p. ex. quando se diz duvido da moralidade de seus atos
ou fulano é um defensor da moralidade e dos bons costumes), o
termo pode ter outros significados.
1) Moralidade serve para distinguir de
legalidade e de religiosidade, referindo-se à
dimensão moral da vida humana, a essa
forma comum das ações humanas para além
das diversas morais concretas, isto é,
independente dos conteúdos morais. Por isso
existe a distinção em relação à legalidade
referida à lei e à religiosidade referida ao
sagrado.
2) Moralidade pode também ser distinguida
de esticidade no sentido que será visto mais
adiante.
A ética não é nem pode ser neutra.

A ética não se identifica com nenhum código moral, mas


isso não significa que ela seja neutra diante dos diferentes
códigos, pois ela é crítica dos costumes morais.

Funções da ética.
A ética tem uma tripla função:
1) esclarecer o que é a moral, quais são seus traços específicos;
2) fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as razões
que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente;
3) aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas duas
primeiras funções, de maneira que se adote uma moral crítica em vez da
subserviência a um código.
Os métodos próprios da ética.
A moral dogmatiza com seus códigos, enquanto que a ética argumento
criticamente. Não há totalitarismo em exigir argumentação, mas é totalitário
dogmatismo da mera autoridade, das pretensas evidências, das emoções e das
metáforas.
Filosofar é argumentar.
Este é o modo de proceder da filosofia moral. Os métodos par argumentar
podem ser muitos: empírico-racional (Artistóteles), empirista e racionalista (era
moderna), transcendental (Kant), dialético-absoluto (Hegel), dialético-
materialista (Marx), genealógico-desconstrutivo (Nietszche), fenomenológico
(Husserl, Scheler), análise da linguagem (Moore, Stevenson, Ayer),
neocontratualista (Rawls).
EM QUE CONSISTE A MORAL?
Diversidade de concepções morais.
É necessário distinguir entre a forma comum da moralidade (ética) os conteúdos
das concepções morais (moral).
Assim é afirmada a universalidade da moral quanto à forma, ao passo que os
conteúdos estão sujeitos às variações de espaço e de tempo das concepções
morais. Trata-se de examinar critérios para distinguir nas diferente concepções
quais são as que melhor encarnam a forma moral.
Diferentes maneiras de compreender a moral
Para a filosofia antiga e medieval, centrada no ser, a moralidade era entendida
como uma dimensão do ser humano. A filosofia moderna tem como referência
não mais o ser, mas a consciência e a moralidade é uma forma peculiar de
consciência.
Ética Profissional é compromisso social
O que é Ética Profissional?
É extremamente importante saber diferenciar a Ética da Moral e do Direito. Estas
três áreas de conhecimento se distinguem, porém têm grandes vínculos e até
mesmo sobreposições.
Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabelecer certa
previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, se diferenciam.
A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de
garantir o seu bem-viver. A Moral independe das fronteiras geográficas e garante
uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este
mesmo referencial moral comum.
O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras
do Estado. As leis têm uma base territorial, elas valem apenas para aquela área
geográfica onde uma determinada população ou seus delegados vivem. Alguns autores
afirmam que o Direito é um sub-conjunto da Moral.
Esta perspectiva pode gerar a conclusão de que toda a lei é moralmente aceitável.
Inúmeras situações demonstram a existência de conflitos entre a Moral e o Direito.
A desobediência civil ocorre quando argumentos morais impedem que uma pessoa
acate uma determinada lei. Este é um exemplo de que a Moral e o Direito, apesar de
referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter perspectivas discordantes.
A Ética é o estudo geral do que é bom ou mal, correto ou incorreto, justo ou
injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos da Ética é a busca de
justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente de
ambos - Moral e Direito - pois não estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação
humana é que caracteriza a Ética.
Ética Profissional: Quando se inicia esta reflexão?
Esta reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão deve iniciar
bem antes da prática profissional.
A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência muitas vezes, já deve
ser permeada por esta reflexão.
A escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto de deveres
profissionais passa a ser obrigatório.
Geralmente, quando você é jovem, escolhe sua carreira sem conhecer
o conjunto de deveres que está prestes ao assumir tornando-se parte
daquela categoria que escolheu.
Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das competências
e habilidades referentes à prática específica numa determinada área,
deve incluir a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos.
Ao completar a formação em nível superior, a pessoa faz um
juramento, que significa sua adesão e comprometimento com a
categoria profissional onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o
aspecto moral da chamada Ética Profissional, esta adesão voluntária a
um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais adequadas
para o seu exercício.
A ÉTICA DA VIDA
Conceito da Bioética

O início da Bioética se deu no começo da década de 1970, com a publicação de


duas obras muito importantes de um pesquisador e professor norte-americano
da área de oncologia, Van Rensselaer Potter.
Van Potter estava preocupado com a dimensão que os avanços da ciência,
principalmente no âmbito da biotecnologia, estavam adquirindo.
Assim, propôs um novo ramo do conhecimento que ajudasse as pessoas a pensar
nas possíveis implicações (positivas ou negativas) dos avanços da ciência sobre a
vida (humana ou, de maneira mais ampla, de todos os seres vivos).
Ele sugeriu que se estabelecesse uma “ponte” entre duas culturas, a científica e a
humanística, guiado pela seguinte frase: “Nem tudo que é cientificamente
possível é eticamente aceitável”.
Um dos conceitos que definem Bioética (“ética da vida”) é que esta é a ciência
“que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do
homem sobre a vida, identificar os valores de referência racionalmente
proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações” (LEONE; PRIVITERA;
CUNHA, 2001).
Para isso, a Bioética, como área de pesquisa, necessita ser estudada por meio de
uma metodologia interdisciplinar. Isso significa que profissionais de diversas
áreas (profissionais da educação, do direito, da sociologia, da economia, da
teologia, da psicologia, da medicina etc.) devem participar das discussões sobre
os temas que envolvem o impacto da tecnologia sobre a vida.
O progresso científico não é um mal, mas a “verdade científica” NÃO pode
substituir a ética.
Contexto histórico e as relações assistenciais
Todos nós sofremos influências do ambiente em que vivemos, sejam elas
históricas, culturais ou sociais.

O paternalismo hipocrático
Um aspecto importante a ser considerado para que possamos construir a
reflexão bioética de maneira adequada é compreender a influência histórica
desde a época de Hipócrates.
No século IV a.C., a sociedade era formada por diversas castas (camadas sociais
bem definidas e separadas entre si) que faziam com que ela fosse “piramidal”.
Mas o que isso significa? Isso quer dizer que, na base da pirâmide, encontrava-
se a maior parte das pessoas: os escravos e os prisioneiros de guerra, que nem
mesmo eram considerados “pessoas”.
Logo acima deles, numa camada
intermediária (portanto em número menor),
estavam os cidadãos. Os cidadãos eram os
soldados, os artesãos, os agricultores, e
estes tinham direitos e deveres. No topo da
pirâmide estavam os governantes, os
sacerdotes e os MÉDICOS.
O paternalismo hipocrático

Os médicos, naquela época, eram considerados semideuses, e estavam


encarregados de curar as pessoas “segundo seu poder e entendimento”.
A importância desse resgate histórico é ressaltar que os médicos daquela
época estavam em uma posição hierárquica superior às das outras
pessoas, e essa diferença de posição também se manifestava em um
“desnivelamento de dignidades”. Ao longo da história, a estrutura da
sociedade deixou de ser piramidal, mas essa postura “paternalista”, ou
seja, na qual os profissionais da saúde são considerados “pais”, ou
melhores que os seus pacientes, ainda hoje é percebida com frequência.
Os profissionais da saúde detêm
um conhecimento técnico
superior ao dos pacientes, mas
não são mais dignos que seus
pacientes, não têm mais valor
que eles (como pessoas).
Por outro lado, também alguns pacientes não percebem
que podem questionar o profissional e aceitam tudo o que
ele propõe, pois consideram que “o doutor é quem sabe”.
O cartesianismo

Estabelecido por René Descartes no século XVII, o método cartesiano (ou


cartesianismo), ao propor a fragmentação do saber (com a divisão do “todo” “em
partes” para estudá-las isoladamente), sem dúvida contribuiu para o desenvolvimento
da ciência.
Entretanto, o cartesianismo gerou a superespecialização do saber, entre os quais o
saber na área da saúde.
Esse fato colaborou para a perda do entendimento de que o paciente é uma pessoa
única e que deve ser considerado em sua totalidade (em todas as suas dimensões), pois
nos acostumamos a estudar apenas aquela parte do corpo humano que vamos tratar.
Contexto cultural e as relações assistenciais

Além do contexto histórico, devemos entender o contexto cultural e social em


que estamos inseridos antes de enveredar para a discussão bioética.
Algumas vezes nem percebemos quais são as ideias que nos cercam e que podem
dificultar a adoção de uma postura realista (nesse contexto, adotamos o conceito
de que uma postura realista é aquela que considera todos os aspectos de uma
situação ou realidade).
Destacamos três modalidades que exercem atualmente grande influência na
reflexão ética:
A) o individualismo,
B) o hedonismo,
C) o utilitarismo.
Individualismo

O individualismo propõe que a atitude mais importante para tomarmos uma decisão
seja a liberdade, expressa na garantia incondicional dos espaços individuais.
Obviamente todos concordam que a liberdade é um bem moral que precisa ser
defendido. Mas, nesse caso, trata-se de uma liberdade que se resume à busca de uma
independência total.
Contudo, essa independência não é possível, pois nós somos seres sociais, frutos de
relações familiares e dependentes de vínculos sociais.
Essas relações determinam limites às liberdades individuais e impõem
responsabilidades diante das consequências dos atos individuais na vida dos outros.
Os vínculos nos fortalecem, a independência nos fragiliza. Não podemos falar de
“liberdade” sem considerar a “responsabilidade” dos nossos atos.
Muitas vezes, definimos liberdade como na seguinte frase: “Minha
liberdade termina quando começa a liberdade do outro”. Entretanto,
ao limitarmos a compreensão do conceito de liberdade a essa frase,
quem for mais “forte” determinará quem será “mais livre”.
Para que todos tenham o direito de expressar a sua liberdade, é
preciso atrelar esse conceito ao de responsabilidade, pois todos os
nossos atos têm alguma consequência para outras pessoas.
Hedonismo

Na lógica hedonista, a supressão da dor e a extensão do prazer


constituem o sentido do agir moral.
Falar em suprimir a dor e estender o prazer, em um primeiro
momento, parece ser algo positivo. Então quando começa a
distorção?

Quando essa busca se torna o único referencial para todas as nossas


ações. Este é o hedonismo.
O desejo de felicidade é reduzido a uma perspectiva de nível físico,
material, sensorial (e felicidade é muito mais do que isso!).
Na reflexão ética, o predomínio dessa lógica hedonista faz com que o conceito
de “vida” fique reduzido a essas expressões sensoriais de dor e prazer.
A “qualidade de vida” para o hedonismo é interpretada como eficiência
econômica, consumismo desenfreado, beleza e prazer da vida física. Ficam
esquecidas as dimensões mais profundas da existência, como as interpessoais,
as espirituais e as religiosas.
Utilitarismo

Nessa perspectiva, as nossas ações se limitam a uma avaliação de “custos e


benefícios”. O referencial “ético” para as decisões é ser bem-sucedido; o
insucesso é considerado um mal. Só o que é útil tem valor.
Em princípio, valoriza-se algo positivo: o justo desejo de que nossas ações
possam ser frutíferas. Mas o problema desse raciocínio utilitarista é que, com
facilidade, pode-se entender que “só o que é útil tem valor”.
Em uma sociedade capitalista, nossas ações são determinadas pelo mercado.
Isso significa que aquelas pessoas consideradas improdutivas, aquelas que
representam um custo para a sociedade, aquelas que perderam (ou que nunca
tiveram) condições físicas ou mentais para participar do sistema de produção
de bens e valores de forma eficiente, são classificadas como “inúteis”.
Contudo, não é ético que nossas ações fiquem restritas a essa
correlação entre custos e benefícios. Pessoas com necessidades
especiais e aquelas consideradas vulneráveis devem ser consideradas
dignas de respeito; são pessoas humanas, e isso é condição suficiente
para que sejam respeitadas.
Fundamentação da Bioética – o valor da vida humana

Existem diversas propostas para estabelecer quais são os critérios (o


fundamento, a base) que devem nos orientar nos processos de decisão com os
quais podemos nos deparar na nossa vida profissional.
Para nós, o fundamento ético é como se fosse a estrutura de um prédio. O
nosso fundamento ético é tão importante quanto a estrutura de um prédio.
O fundamento ético será sempre a base para a nossa tomada de decisão.
Mas qual é esse fundamento?
A pessoa humana
Definir o que é a pessoa pode ser uma tarefa difícil (e que os filósofos costumam
estudar arduamente), porém entender o que é a pessoa é algo que fazemos todo dia
quando nos olhamos no espelho.
Nós conhecemos a “pessoa humana” porque somos “pessoa humana”.
Mas quais são os conceitos que existem na realidade da pessoa dos quais devemos
nos lembrar por serem importantes no enfrentamento das questões bioéticas?
A pessoa é única.
A) Isso significa que as pessoas são diferentes (mesmo os gêmeos idênticos são
diferentes), têm suas características, seus anseios, suas necessidades, e esse
patrimônio, essa identidade, merece ser respeitado (para que as pessoas não sejam
tratadas como números).
Reconhecer que “o outro é diferente de mim” não significa que uma pessoa é melhor
que a outra. Uma pessoa não vale mais que a outra. Somos iguais a todos no que se
refere à dignidade.

B) A pessoa humana é provida de uma “dignidade”. Isso significa que a pessoa tem
valor pelo simples fato de ser pessoa.
A pessoa é composta de diversas dimensões: dimensão biológica (que as ciências da
saúde estão acostumadas a estudar), dimensão psicológica (que os psicólogos
estudam detalhadamente), dimensão social ou moral (estudada pelas ciências sociais)
e dimensão espiritual (estudada pelas teologias). Por isso, falamos que a pessoa é
uma totalidade, pois todas essas dimensões juntas compõem a pessoa.
Assim, todas as nossas reflexões e ações diante das pessoas (seja em situações de
conflitos éticos ou não) devem ser guiadas pelo respeito a esse fundamento, a pessoa
humana (entendida como um ser único, que é uma totalidade e dotado de
dignidade).
O valor da vida humana
Outro conceito importante para construirmos a nossa reflexão ética/bioética é o
de vida humana.
Para a Bioética, é fundamental o respeito à vida humana.
Mas o que designamos vida humana?
Segundo os principais livros de Embriologia, a vida humana inicia-se no exato
momento da fecundação, quando o gameta masculino e o gameta feminino se
juntam para formar um novo código genético. Esse código genético não é igual
ao do pai nem ao da mãe, mas é composto de 23 cromossomos do pai e de 23
cromossomos da mãe.
Sendo assim, nesse momento, inicia-se uma nova vida, com patrimônio genético
próprio, e, a partir desse momento, essa vida deverá ser respeitada. Este é o
primeiro estágio de desenvolvimento de cada um de nós. A nossa experiência
mostra que o desenvolvimento de todos nós se deu da mesma maneira, ou seja,
a partir da união dos gametas do pai e da mãe.
Além disso, a vida é um processo que pode ser:
a) contínuo: porque é ininterrupto na sua duração. Estar vivo representa dizer
que não existe interrupção entre sucessivos fenômenos integrados. Se houver
interrupção, haverá a morte.
b) coordenado: significa que o DNA do próprio embrião é responsável pelo
gerenciamento das etapas de seu desenvolvimento. Esse código genético
coordena as atividades moleculares e celulares, o que confere a cada indivíduo
uma identidade genética.
c) progressivo: porque a vida apresenta, como propriedade, a gradualidade, na
qual o processo de desenvolvimento leva a uma complexidade cada vez maior da
vida em formação.
Contudo, o valor da vida de algumas pessoas, em diferentes épocas, não foi
respeitado (e ainda hoje, em muitos casos, não é). Por exemplo: os escravos no
Brasil (até a Abolição da Escravatura, em 1888), com consequente (e ainda
frequente) discriminação dos afrodescendentes; os prisioneiros nos campos de
concentração na 2ª Guerra Mundial, dentre tantos outros exemplos.
Os princípios da Bioética
Após a compreensão desse fundamento (o respeito pela pessoa
humana), podemos utilizar “ferramentas” para facilitar o nosso
processo de estudo e de decisão sobre os diversos temas de Bioética.
A essas ferramentas chamamos princípios.
Esses princípios foram propostos primeiro no Relatório Belmont, de
1978, para orientar as pesquisas com seres humanos e, em 1979,
Beauchamps e Childress, em sua obra Principles of biomedical
ethics, estenderam a utilização deles para a prática médica, ou seja,
para todos aqueles que se ocupam da saúde das pessoas.
Beneficência/não maleficência

O primeiro princípio que devemos considerar na nossa prática profissional é o


de beneficência/não maleficência (também conhecido como benefício/não
malefício).
O benefício (e o não malefício) do paciente (e da sociedade) sempre foi a
principal razão do exercício das profissões que envolvem a saúde das pessoas
(física ou psicológica).
Beneficência significa “fazer o bem”, e não maleficência significa “evitar o mal”.
Desse modo, sempre que o profissional propuser um tratamento a um paciente,
ele deverá reconhecer a dignidade do paciente e considerá-lo em sua totalidade
(todas as dimensões do ser humano devem ser consideradas: física, psicológica,
social, espiritual, visando oferecer o melhor tratamento ao seu paciente, tanto
no que diz respeito à técnica quanto no que se refere ao reconhecimento das
necessidades do paciente.
Autonomia
De acordo com esse princípio, as pessoas têm “liberdade de decisão” sobre sua
vida. A autonomia é a capacidade de autodeterminação de uma pessoa, ou seja,
o quanto ela pode gerenciar sua própria vontade, livre da influência de outras
pessoas.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi adotada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas de 1948, manifesta logo no seu início que as pessoas
são livres.
Para que o respeito pela autonomia das pessoas seja possível, duas condições
são fundamentais: a liberdade e a informação.
Isso significa que, em um primeiro momento, a pessoa deve ser livre para decidir.
Para isso, ela deve estar livre de pressões externas, pois qualquer tipo de pressão
ou subordinação dificulta a expressão da autonomia.
Em alguns momentos, as pessoas têm dificuldade de expressar sua liberdade.
Nesses casos, dizemos que ela tem sua autonomia limitada
Vejamos o exemplo das crianças. Em razão de seu desenvolvimento psicomotor,
a criança terá dificuldade de decidir o que é melhor para a saúde dela. Ela terá,
ao contrário, uma tendência em fugir de todo tratamento que julgar
desconfortável.
A correta informação das pessoas é que possibilita o estabelecimento de uma
relação terapêutica ou a realização de uma pesquisa.
A primeira etapa a ser seguida para minimizar essa limitação é reconhecer os
indivíduos vulneráveis (que têm limitação de autonomia) e incorporá-los ao
processo de tomada de decisão de maneira legítima. Assim, será possível
estabelecer uma relação adequada com o paciente e maximizar sua satisfação
com o tratamento.
Para permitir o respeito da autonomia das pessoas, o profissional
deverá explicar qual será a proposta de tratamento. Por isso,
consideramos que a informação não se encerra com as explicações do
profissional, mas com a compreensão, com a assimilação das
informações pelos pacientes, desde que essas informações sejam
retomadas ao longo do tratamento.
A esse processo de informação e compreensão e posterior
comprometimento com o tratamento denominamos consentimento.
Justiça

Este se refere à igualdade de tratamento e à justa distribuição das


verbas do Estado para a saúde, a pesquisa etc.
Costumamos acrescentar outro conceito ao de justiça: o conceito de
equidade que representa dar a cada pessoa o que lhe é devido
segundo suas necessidades, ou seja, incorpora-se a ideia de que as
pessoas são diferentes e que, portanto, também são diferentes as suas
necessidades.
De acordo com o princípio da justiça, é preciso respeitar com
imparcialidade o direito de cada um.
É também a partir desse princípio que se fundamenta a chamada
objeção de consciência, que representa o direito de um profissional
de se recusar a realizar um procedimento, aceito pelo paciente ou
mesmo legalizado.
Todos esses princípios (insistimos que eles devem ser nossas
“ferramentas” de trabalho) devem ser considerados na ordem em
que foram apresentados, pois existe uma hierarquia entre eles.
A Bioética pretende contribuir para que as pessoas estabeleçam “uma ponte”
entre o conhecimento científico e o conhecimento humanístico, a fim de evitar
os impactos negativos que a tecnologia pode ter sobre a vida (afinal, nem tudo o
que é cientificamente possível é eticamente aceitável).
Em razão da influência histórica, cultural e social que sofremos, devemos estar
muito atentos; caso contrário, corremos o risco de perder os parâmetros que
devem nos nortear na nossa atividade profissional para que nossas atitudes
sejam éticas.
Se esse processo de construção da reflexão ética/bioética, que parte do
entendimento do fundamento bioético e se segue pelo respeito aos seus
princípios, for seguido, as respostas sobre como agir eticamente diante de um
conflito ético, ou de uma situação clínica nova (ou diferente), surgirão
naturalmente.
Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e
corajoso! Não se apavore nem desanime, pois
o Senhor, o seu Deus, estará com você por
onde você andar". Josué 1.9

S-ar putea să vă placă și