Resenha sobre o Capítulo III – Processo Sociocultural do livro:
Ribeiro, Darci. O POVO BRASILEIRO – A formação e o sentido do Brasil, 1995.
Neste capítulo do livro o autor dá-nos a ideia de que a industrialização e
urbanização são processos complementares, porém no momento em que a industrialização apresenta para as pessoas novos empregos e oportunidades e inúmeros benefícios da vida urbana, a população do campo se vê compelida a fazer parte da população urbana, e o resultado disso foi a miserabilização da população e uma pressão enorme na competição por empregos. E após revisar diversos aspectos da história da urbanização do Brasil, mais especificamente as duas metrópoles mais importantes do país, sendo elas Rio de Janeiro e São Paulo, ele conclui dizendo que o maior problema que temos é a falta de indignação generalizada, em face de tanto emprego, tanta fome e tanta violência desnecessária, uma vez que são perfeitamente sanáveis com pequenas alterações estratégicas na ordem econômica. Essa acomodação/aceitação ele vai nos mostrar que é algo cultural. Analisando nossa estrutura de classes, revela que nas classes intermediarias, entre o clero e raros intelectuais que surgiram rebeldes contra a ordem, mas são no geral são mais mantedores da ordem do que ativistas de transformação. Sem contar a maior classe e mais oprimida: moradores de favela e periferia, enxadeiros, domesticas, que são quase todos analfabetos e incapazes de reivindicar e que lutam para ingressar no sistema de produção. A população é vista por todo capítulo como forma de enriquecer uma camada senhorial voltada para atender solicitações exógenas, com direito apenas para refazer suas energias produtivas e se reproduzir para repor mao de obra. Culturalmente ainda são os mesmos valores históricos de escravidao e de tirar o maior proveito possivel que acabam por desumanizar as relações de trabalho, culminando no descaso pelo destino dos servicais, na isciencia de que possam ter aspiracoes. Os que se rebelam nesse sistema sao excluidos. Alguns caem no banditismo. Fica nítido a incapacidade de assegurar um padrão de vida modestamente satisfatorio, uma inaptidão para criar uma cidadania livre e inviabilidade de instituir-se uma vida democratica. Com isso a eleição é uma grande farsa onde a massa de eleitores vendem seus votos aqueles que seriam seus adversários naturais. Autor alega que só é só pelo caminho do movimento operário que as instituições políticas podem aperfeicoar-se dando realidade funcional á Republica. A discriminação sobre negros mulatos e índios é algo que pesa bastante no livro. A resistencia que houve uma época por partes destes, ao meu ver já não existe mais faz tempo. Com a abolição os negros livres se depararam na miséria e na ausência de terra, e sua ignorância e criminalidade não são vistas como resultado da opressão. Os Negros procuravam convivencia menos hostil e se formaram os bairros africanos que mais tarde deram lugar a favelas: solução que o pobre encontra, e ainda sob permanente ameaça de serem expulsos. Não tendo mais que plantar o negro revigora o que havia de criatividade africana no peito e nessas precárias bases o negro urbano se torna o mais belo da cultura popular brasileira segundo o autor. A base do Carnaval, Iemanja, capoeira. Ele tenta provar seu valor onde nao se exige escolaridade: futebol, musica..etc se tornando o mais criativo do nosso povo. O que o autor chama de assimilacionismo é uma falsa aceitação que cria uma atmosfera de fluidez nas relacoes inter-raciais e dissuade o negro para sua luta especifica, sem compreender que a vitoria só é alcançável pela revolução social apesar de toda a crescente ascensao social do negro. A autora conclui que a democracia racial é possivel mas só é praticavel conjuntamente com a democracia social. A explosão demográfica dos brancos no último século não se deve pela imigração, e sim pelo crescimento vegetativo apoiado por melhores condições de vida em relação aos negros e pardos. E os negros atuam motivados pela conscientização do caráter histórico e social dos fatores que dificultam sua ascensão. No Brasil a miscigenação é vista como algo positivo; o nascimento de um filho mulato não é como uma traição à matriz negra ou branca, e sim uma homogeneização que torne a população brasileira cada vez mais um patrimônio genético multirracial comum. É preciso que as atitudes renovadas de auto-afirmação e conquista do espaço dos negros sejam lidadas de forma que se assegure uma participação igualitária deles na sociedade nacional, superando dessa forma o conflito da escravidão. Ocorreu uma absorção cultural e racial do imigrante sem provocar alterações significativas em um espectro nacional. Mesmo havendo diferenças nas proporções "hereditárias" em diferentes partes do Brasil – o conjunto étnico nacional é unificado pois todos são envoltos por uma mesma cultura e um sentimento de identidade nacional, brasileira. Acontece que (voltando ao Prefácio do livro), falta ainda clamorosamente uma clara compreensão da história vivida, como necessária nas circunstâncias em que ocorreu, e um claro projeto alternativo de ordenação social, que seja apoiado e adotado seus pelas grandes maiorias. Finalizo estabelecendo uma relação entre o capítulo e a música Admirável Gado Novo de Zé Ramalho que forçada a idéia tratada no capítulo pois é justamente aos donos do poder que encontramos fortes críticas, pois é para eles que “lá fora faz um tempo confortável”, procurando manter a “ordem” das coisas. "E dar muito mais do que receber" é a frase que revela a realidade da grande maioria da população. É utilizando a arma do simbolismo, da metáfora, da duplicidade de sentido que Zé Ramalho empreende sua crítica a esse estado de coisas e aos que mantêm essa situação.