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Aprendizes e mestres em face da

emergência de uma nova cultura


da aprendizagem1
Adriana Dickel*

Não é raro ouvirmos professores a qual os sistemas educativos estão


comentando sobre a dispersão e a fal- em crise e devem urgentemente expli-
ta de interesse manifestadas em sala car as não-aprendizagens acumuladas
de aula por seus alunos, sobre a con- pelos egressos dos processos de esco-
corrência desleal que sofrem das vá- larização. Essa situação é vivida di-
rias mídias – computadores, celulares, retamente pelo professor ao observar
vídeo games, televisão –, sobre a velo- as crianças ou os jovens com os quais
cidade com que as informações atra- trabalha na escola e o descompasso
vessam o dia-a-dia geralmente dei- entre a quantidade de conhecimentos
xando um rastro de insatisfação pelo possíveis e o desempenho desses su-
descompasso entre a quantidade de jeitos no que tange à apropriação dos
dados a serem apropriados e o tempo conhecimentos curriculares.
disponível para isso. Ao mesmo tempo A intranqüilidade gerada por esse
em que uma avalanche de informações quadro faz com que muitos professores
chega por vários meios, menor parece busquem compreender tal fenômeno
ser a capacidade que temos de retê-las deslocando de um lugar para outro a
e convertê-las em conhecimentos sig- responsabilidade pelo fracasso que as-
nificativos e disponíveis para mediar sola a escola, ele próprio e o estudan-
novas aquisições cognitivas. Parado- te. Por vezes, o culpado é o contexto
xalmente, tão lugar-comum quanto capitalista, que cria necessidades em
ouvir que vivemos em uma sociedade descompasso com as possibilidades
cuja centralidade está no domínio do que as pessoas e as instituições têm
conhecimento, numa sociedade na
qual coabitam múltiplas formas de re-
presentação simbólica da realidade, é * Doutora em Educação, professora-pesquisadora do Curso
de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educa-
defrontar-se com a denúncia segundo ção da Universidade de Passo Fundo - RS.

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de supri-las; por outras, a família, que Partindo do pressuposto piage-
não atende adequadamente aos seus tiano, segundo o qual a inteligência
filhos; o Estado também aparece como e a aprendizagem são capacidades
aquele que não provê os recursos com- adaptativas do ser humano, por meio
patíveis com o serviço que deve ofe- das quais ele interioriza a cultura, to-
recer; ainda, o próprio estudante não mando parte nela e personalizando-a,
raramente é acusado de estar perdido Pozo, aliando-se a Vigotski, afirma que
em face de um mundo que se transfor- tais funções assumem um “desenho
ma incessantemente. cultural”, investem-se das caracterís-
Nesse contexto, chama a atenção ticas que cada sociedade, cada cultura
o fato de uma obra como Aprendizes e oferece àquele que nasce. Sendo assim,
mestres: a nova cultura da aprendiza- cada cultura gera as suas próprias for-
gem, apesar de há cinco anos editada, mas de aprendizagem e, portanto, os
não ter tido uma repercussão a altura modos de aprender podem (e devem)
do debate que visa promover. Em sua ser compreendidos com base nas de-
obra, editada no Brasil pela Artmed, mandas sociais que os geram. É des-
Juan Ignacio Pozo, catedrático de Psi- sa forma que ele responde a uma das
cologia Básica na Universidade Au- questões centrais da obra: se os objetos
tônoma de Madri, desenvolve a tese de aprendizagem se modificam, os mo-
segundo a qual os contextos de apren- dos de aprender também mudam?
dizagem e de ensino não têm levado Partindo de uma breve e instigan-
em consideração as características de te história cultural da aprendizagem,
aprendizes e mestres, algo que pode- o autor conduz o leitor a perceber que,
ria ser minimizado caso houvesse uma hodiernamente, ao invés de apren-
compreensão mais adequada sobre o dermos pouco, estamos aprendendo
funcionamento da aprendizagem e as muito e por muito mais tempo. No
possibilidades de interação entre as entanto, trata-se de um contexto que
atividades de instrução e os recursos, gesta “uma nova cultura da aprendi-
as capacidades, as disposições tanto zagem”, na qual esta última é conce-
de quem aprende quanto de quem se bida como a capacidade de interpretar
propõe a ajudar outros a aprender. a parcialidade de todos os saberes, de
O trabalho do autor está aliado compreendê-los, dando-lhes sentido e
à perspectiva cognitiva da psicologia duvidando deles. Trata-se, portanto,
da aprendizagem, temática que atra- de uma “cultura da compreensão” do
vessa outras obras do autor, tais como que fazemos e do que acreditamos,
Aquisição do conhecimento e Solução não de uma cultura do consumo de
de problemas, ambas publicadas pela informações ou de crenças produzidas
Artmed, e a estudos que se voltam independentemente de nós. Assumin-
para a aprendizagem de conceitos do um ponto de vista filosófico e psi-
científicos em diferentes áreas curri- cológico baseado no construtivismo,
culares, tais como física e química. Pozo defende que nessa nova cultura
a escola perde sua supremacia sobre o

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conhecimento, sem, necessariamente, partida o primeiro dos três elementos,
perder o seu lugar. O contexto atual isto é, os resultados da aprendizagem:
sofre, segundo ele, de uma “obesidade cabe compreender, portanto, o que se
informativa”; os sujeitos necessitam aprende, os conteúdos, o que muda
de um lugar que lhes proporcione con- com a aprendizagem, por quanto tem-
dições de organizar e dar sentido aos po permanece ou deve permanecer o
saberes informais, relacionando-os aos aprendido. Com base nessa explicita-
saberes curriculares e científicos, cujo ção, devem-se analisar como se apren-
processo de produção e de transmissão de, os processos e os mecanismos cog-
daqueles se distinguem. Para o autor, nitivos que tais conteúdos põem em
esse lugar pode ser a escola. ação, como operam esses elementos
Nesse sentido, os professores são quando ativados no interior do sujei-
instados a pensar, inicialmente, nas to, para, por fim, confrontar tais dados
demandas que caracterizaram a sua com as condições de aprendizagem,
formação, confrontando-as com as de- com as diversas possibilidades de prá-
mandas que caracterizam a formação tica, tanto repetitiva como reflexiva,
de crianças e jovens atualmente: do que que põem em marcha tais processos.
se ensina, o que permanece como funda- Já o processo de instrução, de
mental à formação do sujeito, o que pode ensino, percorre o caminho inver-
ser excluído, o que pode ser superado?
so. Cabe ao docente criar condições
Na nova cultura da aprendizagem, que
de aprendizagem que instiguem os
reestruturações serão necessárias para
processos e atinjam os resultados de
que os programas escolares contribuam
aprendizagem esperados. Nesse sen-
para a formação dos sujeitos?
tido, sua análise auxilia o professor a
Para tanto, Pozo propõe que se
compreender as dimensões desse sis-
pense a aprendizagem não com base
em elementos isolados, mas como um tema ao qual ele tem acesso e de que
sistema, altamente dinâmico e com- forma pode intervir com maior clareza
plexo, no qual convivem dois processos nos processos e resultados dessa capa-
distintos, um baseado na repetição (a cidade humana.
aprendizagem por associação) e outro Em diálogo com autores tais como
caracterizado pela capacidade de ela- Robert Gagné e César Coll, Juan Ig-
boração e organização (a aprendiza- nacio, Pozo propõe quatro categorias
gem por reestruturação). Tal sistema, em torno das quais classifica os prin-
segundo ele, é constituído basicamen- cipais conhecimentos acumulados
te de três elementos, tratados em pro- em nossa cultura a serem adquiridos
fundidade em capítulos distintos: os pelos aprendizes, a saber, aprendi-
resultados, os processos e as condições zagem de fatos e comportamentos,
da aprendizagem. aprendizagem social, aprendizagem
Para o autor, a compreensão des- verbal e conceitual e aprendizagem
se sistema deve ter como ponto de de procedimentos. Tais resultados de
aprendizagem, explorados em detalhe

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na terceira parte da obra, estão em Atender a tal necessidade, à qual
contínua interação e dependência mú- ele associa a tarefa de reconstruir
tua e requerem processos e condições a mente humana, pela promoção de
de aprendizagem distintos. Cabe des- novas formas de aprendizagem, de
tacar o esforço intelectual realizado reestruturações resultantes do inves-
pelo autor na terceira parte da obra timento em funções cognitivas que
para articular de modo orgânico e di- vão além do equipamento básico com
dático os três elementos do sistema o qual todos vêm ao mundo, seria, do
de aprendizagem abordados por ele, ponto de vista do autor, uma tarefa a
servindo como referência básica para ser cumprida de modo privilegiado na
a avaliação não somente de planeja- escola. Para ele, reiterando o ideário
mentos curriculares, como também de iluminista, é a educação “um processo
propostas de organização da aula em de mútua reconstrução entre mente e
contextos de aprendizagens diversifi- cultura”. Por isso, não são somente os
cadas. currículos que deverão ser modificados
Numa sociedade cujo valor atribu- nas escolas, mas a mentalidade daque-
ído ao conhecimento é cada vez maior, les que ensinam e aprendem, ou seja, a
as instituições responsáveis por sua própria cultura da aprendizagem.
produção e transmissão estão cons- Condensando estudos importan-
tantemente em evidência. Com elas tes, rastreando informações atualiza-
ganham importância os processos de das e suscitando discussões que não
aquisição de conhecimento, elemento muito facilmente têm sido inseridas
implicado diretamente no pensamento em ou chegarão a lugares tais como
sobre a gestão social do conhecimento. os cursos de formação de professores,
Nesse mesmo contexto, a distribuição Juan Ignacio Pozo é leitura de quali-
das condições de aprendizagem não é dade para profissionais que buscam
idêntica para todos. Isso requer uma compreender e intervir nos processos
reflexão e uma ação sobre a educação de formação humana pela organização
com vistas a sua qualificação e a sua de situações de aprendizagens plane-
extensão a todos, dignos que são de se jadas responsavelmente.
apropriarem dos sistemas simbólicos
culturalmente produzidos pela huma-
nidade. Esta é uma condição básica Nota
para que a informação, diversificada e 1
POZO, Juan Ignacio. Aprendizes e mestres: a nova
por vezes desqualificada, torne-se co- cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed,
2002.
nhecimento: o sujeito deve dominar es-
tratégias que o levem à busca, seleção
e reelaboração de informações, estra-
tégias que permitam a elaboração de
conhecimentos com os quais relacione
e dê significado a essas informações.

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