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Qual é a origem dos o ciais de uma loja maçônica? Responder a esta pergunta é
necessariamente relacioná-la com o sistema primitivo de graus maçônicos e procurar
essa origem primeiro na Escócia ao nal do século XVII e depois na Inglaterra no início
do século XVIII.
O sistema da primeira Grande Loja em 1723, era o seguinte: o Título IV das Constituições
distinguia os Mestres, os Vigilantes, os Companheiros e os Aprendizes. Aqui o termo
“Mestre” não se refere a um grau, que ainda não existia, mas um cargo, o “Mestre da
Loja”. Há também um outro cargo: o Vigilante (“Warden”). A hierarquia ou o currículo
maçônico assim se estabelecia: somos primeiro Aprendizes, depois Companheiros, grau
que é uma quali cação indispensável para se tornar, eventualmente, Vigilante, depois
Mestre da Loja, função superior à do Vigilante. Além disso, previa-se que em caso de
incapacidade do Mestre da Loja, o “Senior Warden (Primeiro Vigilante)”, isto é,
literalmente, “o guarda mais antigo” que o substituía, se não existisse um “ex” Mestre de
Loja, e na falta do “Senior Warden,” chamava-se o “Junior Warden” (Segundo Vigilante)
ou “o guarda mais jovem”. Note-se que a tradução para 1º e 2º Vigilantes é, na verdade,
falha, embora seja consagrada pelo uso.
Os Diáconos
Não há nenhuma menção dos Diáconos antes de década de 1740, isto é, num momento
em que os irlandeses começam a se manifestar. Na obra Maçonaria Dissecada de 1730,
bem como no manuscrito Wilkinson (circa 1727), não são os Diáconos que recebem o
candidato, como na maçonaria inglesa contemporânea, mas o 2o Vigilante. Esta
tradição passará então à França e permanecerá no Rito Escocês Reti cado. Assim,
constata-se que se o cargo de “Warden”, um cargo da loja escocesa, é facilmente
implantado na Inglaterra, por outro lado o cargo de “Deacon” ou “Diácono”, um cargo da
Corporação levará mais tempo, provavelmente por ser estranho às organizações de
ofício inglesas. Assim, através dos Irlandeses e da Grande Loja dos “Antigos” este cargo
tomará pé mais tarde na Inglaterra. Mas existe uma relação entre os cargos escoceses e
irlandeses?
Vimos que a estrutura da maçonaria inglesa da década de 1720 deriva globalmente das
estruturas da maçonaria escocesa do século XVII. No entanto, não sabemos onde,
quando, como e por quem essa transmissão foi feita 1. Por outro lado, sabemos que
houve, durante a transmissão, uma série de mudanças, das quais as mais signi cativas
são o fato de que a Presidência da lodja não é mais con ada a um “Warden” ou a um
“Deacon”, mas a um “Master of lodge (Mestre de loja)”, e que este presidente é ajudado
não por um, mas por dois assessores, os “Wardens (Vigilantes)”. Sabemos, também, que
esta nova estrutura (isto é, um Venerável Mestre e dois Vigilantes) vai se impor. Aliás, na
década de 1740, é a única conhecida, e é aquela da Grande Loja de Londres. É então que
aparece um novo sistema, importado pelos irmãos vindos da Irlanda que tinham,
provavelmente costumes, práticas e tradições próprias. Em 1751 e depois em 1753,
esses maçons constituem uma nova obediência, a “Grande Loja da Inglaterra segundo
as Antigas Instituições”.
Como sabemos, esses maçons se auto denominavam “Antigos” porque alegavam ter
uma tradição mais antiga que a da GL de Londres, e atribuíam aos membros desta
última, entretanto mais antiga que eles o adjetivo pejorativo de “Modernos”. Esta
“Grande Loja dos Modernos” é hoje chamada “Primeira Grande Loja”. Em 1772, os
“Antigos” elaboraram uma lista de pontos de desacordo com os “Modernos”, em que
levantaremos duas questões que são relevantes para o nosso tema:
O Venerável Mestre
Os Diáconos
Originalmente, este cargo (como outros cargos talvez) era provavelmente uma dignidade
especí ca da Grande Loja. Só então, e provavelmente por mimetismo, ele se tornou um
cargo nas lojas. O Telhador (5), além da função de guarda externo da instalação secreta
e da ordem das palavras sagradas.
Na loja tem por função enviar as convocações aos irmãos, em mãos. Ele deve também
traçar o painel da loja (6). O cargo do Telhador evoluirá gradualmente para se tornar uma
espécie de zelador da loja mediante uma pequena remuneração, que é sempre o caso na
Inglaterra. Ao lado do Telhador apareceu depois de 1813 um Cobridor, tradução mais
extensa que “Guarda Interno” ou guarda do interior, cargo que resulta simplesmente da
divisão do cargo de Telhador (7).
A estrutura da loja depois da União de 1813, emprestou a maioria de suas formas dos
“Antigos”. Seja quanto ao vocabulário utilizado, a presença de Diáconos, no lugar dos
três o ciais principais (8), os “Antigos” impuseram seus usos aos “Modernos” (9) que, de
fato, já os tinham amplamente adotados antes da União. Então, foi nessa época que foi
xado, e até nossos dias, o sistema de cargos e dignidades de loja na Inglaterra.
Desde meados do século XIX, existem Grandes Lojas provinciais na Inglaterra. Estas
Grandes Lojas são dirigidas pelos Grãos Mestres Provinciais (nomeados pelo Grão-
Mestre) e os O ciais provinciais que usam decorações comparáveis às dos O ciais da
Grande Loja Unida da Inglaterra, com a famosa “liga azul,” o azul da Ordem da Jarreteira.
As Grandes Lojas Provinciais cobrem todo o país, com exceção da região de Londres
administrada diretamente pela GL. Esta particularidade destaca a verdadeira função
dessas Grandes Lojas. De fato, para entrar no cursus honorum da maçonaria Inglesa
deve-se necessariamente começar pelo escalão provincial. Como os irmãos de Londres
não contavam com isso, foi criado para eles no início do século, o “London Rank” e
depois o “London Grand Rank,” que são o equivalente exato de uma dignidade de Grande
O cial provincial na jurisdição de Londres. Todos os anos são criados cerca de sessenta
“Active Grand Rank” e cerca de 200 “Past Grand Rank ” (10), que envergam,
evidentemente, a “liga azul.” Assim, constata-se que os cargos provinciais (ou seus
equivalentes) são usados essencialmente para outorgar honras maçônicas (11) a
irmãos que, por de nição, são todos Past Masters. As Grandes Lojas provinciais,
portanto, têm um papel muito mais honorí co que administrativo (12).
Nas Constituições de 1738, não encontramos nenhuma provisão relativa aos Grandes
O ciais Provinciais (e muito menos aos Grãos Mestres Provinciais), embora saibamos
que eles já existiam. Mas o fato de que havia Grãos Mestres Provinciais não signi ca em
absoluto que havia Grandes Lojas Provinciais. A distinção pode ser sutil, mas não deixa
de ser real. Os Grãos Mestres provinciais realmente apareceram antes das Grandes
Lojas provinciais.
Isso de fato permite entender, de passagem, uma expressão ambígua e muitas vezes
citada das Constituições de 1738, sobre países estrangeiros:
“todas as lojas estrangeiras [isto é, fora da Inglaterra] estão sob o patrocínio do nosso
GM, mas a antiga loja da cidade de York e as lojas da Escócia, Irlanda e France (13) e
Itália (14) assumindo que tenham sua independência [affecting independency] e seu
próprio Grão-Mestre, e que tenham a mesma constituição, os mesmos deveres e as
mesmas regras que nós e que elas tenham o mesmo zelo com o estilo da Augusta e o
segredo de nossa antiga e honrosa fraternidade”.
Este texto nos ensina que na época de Anderson, havia dois tipos de Grão-Mestre. De um
lado, havia Grãos Mestres colocados no comando de Grandes Lojas “presumindo sua
independência” em relação a Londres e, de outro lado, Grãos Mestres nas províncias
inglesas sob o controle do Grão-Mestre da Inglaterra. Esses últimos eram Grãos Mestres
intuitu personnae, como pessoa, e, portanto, não estavam à frente de Grandes Lojas
provinciais em sentido estrito do termo. Assim, a expressão “affecting independency”
não é uma contestação dessa independência por Londres, como alguns autores
estimaram imprecisamente, mas a constatação de uma situação diferente da que
prevalece na Inglaterra, onde os Grãos Mestres Provinciais dependem diretamente do
Grão-Mestre.
A primeira referência o cial aos Grãos Mestres Provinciais na Inglaterra encontra-se nas
atas da Grande Loja em 1747. Naquela época, na hierarquia das dignidades, eles cavam
depois (15) dos Primeiros Grandes Vigilantes e antes do Grande Tesoureiro.
Em 1756, no livro das Constituições chamadas “d’Entick” (1ª edição), de nem-se regras
especí cas relativas aos Grãos Mestres. Lê-se:
Em 1756, a instituição dos Grãos Mestres Provinciais está bem integrada na maçonaria
Inglesa e seu lugar na hierarquia é elevado: o Grão-Mestre Provincial situa-se na terceira
posição, logo atrás da Grão-Mestre Adjunto. Note que mesmo neste texto de 1756, não
há menção alguma de Grandes Lojas provinciais nem de o ciais provinciais. Ser Grão-
Mestre Provincial é especialmente possuir um título equivalente ao de um Grão-Mestre
Adjunto.
1. a fase de 1726 a 1767, durante o qual há Grãos Mestres Provinciais, sem que se
faça alusão às Grandes Lojas provinciais nem a Grandes O ciais provinciais.
2. a fase de 1767-1813, onde os Grãos Mestres provinciais adquirem o poder de
nomear Grandes O ciais Provinciais. Isso pressupõe uma espécie de Grande Loja
Provincial, embora o termo não apareça ainda nos textos. Neste momento, a
Grande Loja Provincial não está claramente de nida e não tem ainda realmente
estrutura nem poder.
Nos anos que se seguiram, as Grandes Lojas provinciais adquirem sua forma de nitiva.
Elas devem reunir-se uma vez por ano, os O ciais provinciais passados e ativos devem
estar presentes ali, bem como os Veneráveis, os Past Mestres e os Vigilantes de todas
as lojas individuais.
Uma Grande Loja Provincial aparece como a reunião de Grandes O ciais provinciais
(com poderes imprecisos), as quais se juntam todos os Veneráveis e Vigilantes em seu
distrito. Esta prática é muito antiga, como é observado em York, e em Chester desde a
década de 1730. Naquela época, alguns Grãos Mestres Provinciais já detinham o
equivalente a uma Grande Loja Provincial. Eram, na verdade, reuniões com periodicidade
indeterminada ocorrendo dentro da loja mais antiga em operação na região. Nessa
reunião, e durante os trabalhos, a loja e os seus o ciais tinham uma função provincial.
Note-se que é assim que funcionava a Grande Loja dos “Antigos” durante os três
primeiros anos de sua existência. De 1751 a 1753, o que ainda era chamado de “Grande
Comissão” (antes de se tornar a Grande Loja dos “Antigos”, considerando que eles não
se erigiam como uma “Grande Loja” até que ela tivesse encontrado um irmão nobre para
a presidir como Grão-Mestre) reunia-se anualmente em uma loja designada por
antiguidade e era presidida pelo Venerável desta loja, que agia como Grão-Mestre pro
tempore (16).
1. Embora os cargos e dignidades de uma loja inglesa dos anos 1720 fossem
fortemente in uenciados pela herança escocesa (no vocabulário e na estrutura), o
fato é que inovações importantes foram introduzidas (por exemplo, a aparição de
dois vigilantes, ou a do diácono).
2. É provável que alguns cargos de lojas particulares (por exemplo, o Tuileur ou
Cobridor Externo) já existiam na Grande Loja antes de serem introduzidos em loja.
Este relacionamento da Grande Loja e das lojas individuais coloca a questão do
status real da Grande Loja fundada em 1717. Era ela uma potência reguladora, ou
era simplesmente a reunião de lojas, uma vez que é provável que tenha sido só
mais tarde, por volta de 1721-1723, com a entrada da aristocracia na maçonaria
inglesa que Grande Loja tornou-se um poder que se impunha às lojas individuais?
Assim, os novos cargos, que parecem necessários nestas grandes reuniões,
poderia então ser introduzidos naturalmente nas lojas.
NOTAS:
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