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CRÍTICA DA ECONOMIA
27/Julho/2019
Arquitetura da destruição
Por Ana Araújo e José Martins, da redação.
Este cenário de nova etapa de radicalização do governo aparece com mais clareza
com duas ações simultâneas: a “operação hacker”, da Polícia Federal, e a edição
da portaria nº 666, de 25 de julho 2019, ambas as ações comandadas
pessoalmente pelo ministro da Justiça.
Em seu Art. 1º, a portaria 666 estabelece com toda a clareza e indisfarçada
violência o seguinte: “Esta Portaria regula o impedimento de ingresso, a
repatriação, a deportação sumária, a redução ou cancelamento do prazo de estada
de pessoa perigosa para a segurança do Brasil ou de pessoa que tenha praticado
ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal”.
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“A operação da Polícia Federal contra os supostos hackers do interior paulista
indica o início da estratégia Operação Incêndio de Reichstag, que marcou a
ascensão do nazismo na Alemanha. É uma tática recorrente em governos que
caminham para o autoritarismo. Vão sendo testadas armações que insuflem a
malta contra o inimigo comum fabricado. Mantém o clima de conflito
permanente até que se tenha o grau de fervura adequado para o golpe final...
Enfim, já começou a contagem regressiva para a radicalização final do governo.
Ou as instituições acordam enquanto é tempo, ou será tarde. O tempo para
reagir tornou-se dramaticamente curto.”
Entretanto, antes que alguma análise mais superficial eleja as grandes ideias ou
os grandes homens (pequeníssimos, no caso brasileiro) como os demiurgos
criadores do processo histórico é muito mais inteligente considerar que na origem
do atual governo e nas suas tentativas atuais de fechar o regime existe uma base
material perfeitamente definida.
Veja-se, por exemplo, como é reportado pelo jornal O Estado de São Paulo o
que está acontecendo no estado de São Paulo, maior polo industrial do País, que
registrou o fechamento de 2.325 indústrias de transformação e extrativas nos
primeiros cinco meses do ano.
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No grupo das que fecharam as portas neste ano, há indústrias nacionais e
multinacionais estrangeiras. Algumas transferiram filiais para outras unidades da
mesma companhia para cortar custos e outras encerraram totalmente a produção.
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Isso é o mais importante a ser considerado na análise da atual situação política:
os capitalistas nacionais e internacionais que agem impunemente no Brasil já
sabem, como os leitores da Crítica da Economia há muito mais tempo, que eles
serão incapazes de recuperar o crescimento econômico interno nos próximos dez
anos.
Ou mais de dez anos, pois este longo prazo vai depender do fato que no meio do
caminho a economia brasileira será atingida por um choque global de magnitude
inédita nos últimos setenta anos. Por enquanto a economia mundial continua se
segurando, bem ou mal, no ocaso do atual período de expansão global.
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O governo atual de Boçalnaros, Moros e demais paus-mandados da desordem
política nacional é a forma burguesa mais adequada para a realização desta
imunda arquitetura da destruição.