Sunteți pe pagina 1din 15

RESUMO:

“DA DIÁSPORA”,
DE STUART HALL
Esta obra reúne textos de Stuart Hall, teórico das identidades culturais na modernidade tardia, com foco especial na
dispersão e mistura do negro em outras culturas. Traz uma entrevista em que o pensador relata sua própria
experiência e o que significou “para um caribenho negro como qualquer outro” escrever “sobre e a partir dessa
posição”. Hall afirma que a política de identidade essencialista é uma luta importante, mas não necessariamente
leva à libertação da dominação. Esta se constrói em várias frentes, em um território cultural amplificado, que inclui
a vida cotidiana, a cultura popular e a cultura de massa.

“As culturas emergentes que se sentem ameaçadas pelas forças da globalização, diversidade e hibridização (...)
podem ficar tentadas a se fecharem em suas inscrições nacionalistas e a construírem muros contra o exterior. A
alternativa (...) aprender a abraçar processos mais amplos – o jogo de semelhança e diferença – que estão
transformando a cultura no mundo. Este é o caminho da ‘diáspora’, o caminho de um povo moderno e de uma
cultura moderna” – Stuart Hall

____________________________________________________________________________________________

Elementos do resumo:

1. Pequena introdução sobre Stuart Hall


2. Contexto em que ​Da Diáspora​ foi escrito
3. Apontamentos iniciais do livro
4. Ideias centrais de ​Da Diáspora
5. Perguntas gerais sobre o livro
6. Perguntas específicas sobre o livro

1. PEQUENA INTRODUÇÃO SOBRE STUART HALL:

● Stuart Hall é um sociólogo nascido na Jamaica colonial. Estudou em Oxford, então não pertencia a nenhum
dos dois lugares. Ele deixou a academia, o cânone literário e a alta cultura para se tornar um intelectual da
cultura de massa. O que ele fez foi controverso: ele olhou para o poder da mídia tradicional em representar
raça, gênero, classe, etnicidade, religião. Hall dizia que esses discursos não eram inocentes; que o que
estava escondido ali eram ideologias e que o trabalho dos teóricos de mídia é descobrir essa ideologia,
expô-la, criticá-la. A racialização do crime na mídia, as narrativas patriarcais de gênero, o imigrante como
o “Outro”, muçulmanos, pobres: a mídia é um agente ativo nesse processo.

● Hall também quebrou o paradigma de que as massas são ignorantes e passivas. Na verdade ele questionou
quem são os rostos da massa. Alguns podem aceitar os significados dominantes embutidos na mídia, alguns
podem negociar esses significados, alguns podem rejeitá-los. Enquanto outros teóricos da mídia
argumentavam que as mensagens eram impostas às pessoas por sistemas dominantes, Hall dizia que o
poder não era tão simples assim: ele viu bolsões de resistência que minavam as narrativas dominantes da
mídia (blogueiros na Tunísia, grafiteiros no Brasil, o movimento Black Lives Matter). A esse sistema de
negociação de conteúdo, chamou de ​codificação e decodificação​.
● O jamaicano foi ainda mais longe: Hall também nos disse para procurar histórias em outros lugares: nos
humildes e desprezados espaços de conhecimento (como, por exemplo, as revistas de fofoca, as novelas, os
vídeos de música). Se você quer entender a sociedade, então talvez deva evitar as notícias (esses espaços
formais que reproduzem os discursos oficiais). Encontre histórias diferentes, perspectivas diferentes,
realidades diferentes.

● Ajudou a inventar os Estudos Culturais. Ele próprio os chamou, seguindo Foucault, de formação discursiva,
reconhecível e contraditória ao mesmo tempo; outros diriam que os Estudos Culturais são uma disciplina
(Hall, 2006: 188).

● Os anos 80 são o momento em que os Estudos Culturais se divulgam e ficam conhecidos no exterior. É
nesse período também que Hall coloca no centro de seu trabalho o interesse por identidades raciais. É
palpável a preocupação que teve, até então, de reconhecer a importância das relações raciais, mas de não se
deixar enquadrar e isolar como “pensador negro”, especialista em assuntos negros.

● Seu pensamento pode ser dividido em quatro grandes fases teóricas, segundo Eduardo Restrepo (2014):
○ 1ª) Fase cultural: começo dos anos 50 até o começo da década de 70, Hall trata principalmente
sobre o reducionismo de classe e as concepções elitistas da alta cultura. Ele reflete sobre produção,
circulação e recepção dos produtos dos meios de comunicação. Também nessa época escreveu
sobre fotojornalismo e a reprodução de valores na televisão.
○ 2ª) Fase imigrante: final dos anos 70 e a década de 80, reflexões sobre hegemonia (inflexâo
gramsciana) e thatcherismo. Momento em que os Estudos Culturais se divulgam e ficam
conhecidos no exterior. É nesse período também que Hall coloca no centro de seu trabalho o
interesse por identidades raciais.
○ 3ª) Fase negra: fim dos anos 80, aproximação de Hall do pós estruturalismo, ilustrada pelas
apropriações do autor de postulados foucaultianos sobre os discursos e de Derrida sobre a
differènce e a ênfase pós-estruturalista. As vertentes de estudos dos grandes meios de comunicação
e a cultura em seu entorno, de um lado, e das identidades culturais, de outro, desaguam nas
relações de poder e a geração de lealdades, consensos, identificações, arte e cultura: no que Hall
chama a questão paradigmática da teoria da cultura, das relações entre o simbólico e o social.
○ 4ª) Fase diaspórica: meados dos anos 90 até a morte do autor, compreende as reflexões de Hall
sobre o pós-colonialismo, enfocando raça e etnicidade. O nome que Hall dá ao que lhe interessa é
“diáspora” como produtora da inovação cultural e de um futuro em que as pessoas possam viver
laços de pertencimento social sem ter que reprimir sua diferença.

2. CONTEXTO EM QUE ​DA DIÁSPORA​ FOI ESCRITO:

● Sua obra é contextualizada em meio a algumas das grandes transformações do século XX, como o processo
de descolonização, o descrédito do comunismo, a criação de sociedades multiétnicas nos centros de poder
europeus, o ​boom​ da cultura de massa, sobretudo da produção de imagens.

3. APONTAMENTOS INICIAIS DO LIVRO:

● Em ​Da Diáspora ​(2003), Hall estuda os mitos fundadores do conceito de diáspora e aprofunda-se na
questão do hibridismo, das reconfigurações e da cultura caribenha. Também fala um pouco sobre a
globalização, tema ao qual recorre novamente na conclusão da obra.
● No livro, o jamaicano ressalta a importância das questões geradas pela diáspora, por serem centrais não
apenas para seus povos, mas para as artes e culturas que produzem, onde um certo sujeito imaginado está
sempre em jogo.

● Segundo o autor, nossas sociedades são compostas não de um, mas de muitos povos. Suas origens não são
únicas, mas diversas. O conceito de diáspora, portanto, se apóia sobre uma concepção binária de diferença:
por um lado está fundado em uma idéia que depende da construção de um “Outro”, e de uma oposição
rígida entre o dentro e o fora. Por outro lado, sabendo que o significado é crucial à cultura, temos a noção
moderna pós-saussuriana que insiste que o significado não pode ser fixado definitivamente, pois está
sempre em movimento.

● Hall também alega que a cultura caribenha é irremediavelmente “impura”, essencialmente impelida por
uma estética diaspórica e cita o Caribe como um dos cenários chave do início da globalização. Aliás, sobre
esse processo ocorrido no pós-1970, Hall diz que é uma fase transnacional do sistema, o qual tem seu
centro cultural em todo lugar e lugar nenhum; “está se tornando descentrada”.

● Da Diáspora (2003) fala ainda da importância da África ao afirmar que cada movimento social e cada
desenvolvimento criativo nas artes do Caribe neste século começaram com um momento de tradução do
reencontro com as tradições afro-caribenhas ou o incluíram. Mas não porque a África seja um ponto de
referência antropológico fixo. A razão para isso é que a África é como um significante, uma metáfora para
aquela dimensão de nossa sociedade e história que foi maciçamente suprimida, sistematicamente desonrada
e incessantemente negada.

4. IDEIAS CENTRAIS DE ​DA DIÁSPORA:

4.1. TEXTO “PENSANDO A DIÁSPORA”

● Sensação familiar de deslocamento.


Segundo Hall, esse é um sentimento profundamente moderno ao qual não precisamos nem viajar muito
longe para experimentar. Ele cita Baudelaire ao falar da ‘floresta de signos’, pois nos encontramos sempre
na encruzilhada, com nossas histórias e memórias, buscando estar em casa.

● Insuficiência dos binários (dualidades).


Hall aponta para o mal estar promovido pela oposição obrigatória dos binarismos, que se apóiam na
concepção das diferenças e da exclusão. É a partir deles que se funda a noção de um “Outro”: seja quando
abordam identidade (eu/outro); pós-colonialidade (colonizador/colonizado); na relação metrópole/colônia;
nas oposições do tipo local/global, dentro/fora, subversão/cooptação. Todos são pares de opostos que
normalmente condicionam o debate cultural, mas que tendem a não servir mais para o contexto das
sociedades e culturas traduzidas. Hall, portanto, se preocupa com a insuficiência destes termos, mas
sobretudo, em como pensar e intervir a partir da constatação dessa insuficiência.

● Impureza das culturas traduzidas.


Como no caso da cultura caribenha, são aquelas irremediavelmente “impuras”, “sujas”, impelidas por uma
estética diaspórica. Hall afirma que essa impureza, tão frequentemente construída como carga e perda, é,
em si mesma, uma condição necessária à sua modernidade pois é através da mistura, da transformação e de
novas e inusitadas transformações de seres humanos, culturas, ideias, políticas, filmes e canções que a
novidade entra no mundo. O tema da impureza se destaca nas lutas anti-coloniais do século XX, pois elas
buscam recuperar tradições e símbolos perdidos, mas contraditoriamente não podem retornar ao ponto em
que estavam antes da dominação colonial.

● O não-lugar das culturas.


De acordo com o autor, a globalização cultural é desterritorializante em seus efeitos e, impulsionada pelas
novas tecnologias, afrouxa os laços entre cultura e lugar, comprimindo espaço-tempo. Hall afirma que as
culturas, claro, têm suas origens, mas não é mais tão fácil dizer de onde elas se originam sem traçar uma
cadeia tortuosa e descontínua de conexões e muitas tradições fragmentadas ao longo da história. Nesse
sentido, Hall aponta que as culturas sempre se recusaram a ficar presas dentro das fronteiras nacionais.
Mas, se de um lado, o retorno às origens perdidas é impossível, de outro, a busca por esse passado, muitas
vezes mítico, foi o que permitiu a estas várias culturas produzirem narrativas sobre elas mesmas e sobre a
própria modernidade.

● Busca pela África mítica.


Para Hall, retrabalhar a África na trama caribenha tem sido o elemento mais poderoso e subversivo de da
política cultural no século vinte. Mas isso não se deve a uma ligação tradicionalista ao passado, mas sim
pela forma com que a população se propôs a produzir uma nova África dentro de sua própria narrativa local
(quase como uma interpretação, uma leitura do que poderia significar a África para eles hoje, no
pós-diáspora). Desse modo, Hall lembra Fanon ao reproduzir o termo do francês: trata-se de uma
descolonização de mentes. Portanto, para o autor, não se trata do que as tradições fazem dos sujeitos, mas
do que os sujeitos fazem das tradições.

● Minorização periférica.
Assim como os fluxos do capital e da tecnologia, os fluxos não regulados de povos e culturas também são
amplos e irrefreáveis. São eles que inauguram um processo de “minorização” dentro das sociedades
metropolitanas, que não necessariamente está restrito aos guetos. Hall afirma que, algumas vezes, essa
minoria até engaja uma cultura dominante em uma frente bem ampla, fazendo uma espécie de movimento
transnacional com conexões múltiplas marcando, assim, o fim da Modernidade definida exclusivamente
nos termos ocidentais. Essas tendências têm o poder de confrontar e repelir as anteriores, subvertendo,
traduzindo, negociando e fazendo com que o capital “assalte” essas culturas consideradas mais fracas.
Ainda, segundo o autor, isso leva à disseminação da diferença cultural por todo o planeta. Outro ponto a se
pensar diante desse fator é que, antes, a “modernidade”, as tendências eram transmitidas a partir de um
único centro. Hoje, não mais. O potencial está em todo lugar.

4.2. TEXTO “QUANDO FOI O PÓS COLONIAL”:

● Pós-colonial implica uma noção discursiva, não estrutural.


O conceito, uma celebração do chamado “fim do colonialismo” é um culturalismo que repudia a noção de
estrutura e totalidade.

● Deslocamento histórico da Europa para as margens.


Neste texto, Hall busca pensar a colonização não como ​efeito unilateral da força europeia​, invadindo
espaços, mas como um evento histórico mundial (exterior constitutivo). O que desloca o foco histórico da
Europa moderna para as periferias globais.

● Insuficiência dos binarismos.


Hall torna a falar da desestabilização dos binarismos políticos já que o termo se refere ao processo geral de
descolonização que, tal como a colonização, marca a colônia e a metrópole de formas bem diferentes.
● Era dos Impérios para a descolonização.
Para Hall, o conceito de pós-colonial ajuda a caracterizar a mudança nas relações globais, que marca a
transição (necessariamente irregular) da era dos Impérios para o momento da pós-independência ou da
pós-descolonização.

● Diferença, mas impossibilidade de separação.


O autor chama atenção para o fato de que a colonização marcou com intensidade as sociedades
colonizadoras e as colonizadas (de formas distintas, claro). Uma das principais contribuições do conceito
tem sido dirigir nossa atenção para o fato de que a colonização nunca foi algo externo às sociedades das
metrópoles imperiais: sempre esteve profundamente inscrita nelas da mesma forma como se tornou inscrita
na cultura dos colonizados. Mesmo assim ressalta que as diferenças entre as culturas dos colonizados e
colonizadores permanecem profundas. Aí mora um paradoxo: embora sejam diferentes não podem ser lidas
separadamente.

● Retorno às origens “não-contaminadas”.


Os efeitos negativos do processo pós-colonial forneceram os fundamentos da mobilização política e
resultaram no esforço de retornar a um conjunto alternativo de origens culturais não contaminadas pela
experiência colonial. Esse processo de transição é caracterizado pela independência e pela formação de
novos Estados-nação. A adequação do resto do mundo à esta estrutura político-administrativa, mas também
de produção de identidade (como requisito para entrar no mundo moderno) é o grande desafio que a
modernidade impõe aos países da periferia global.

● Noção de identidade construída em cima do Outro.


Por meio de tentativas de recuperar ou inscrever o passado comum como forma de idealização a despeito
de sua relevância enquanto local de resistência e identidade coletiva, os novos Estados-nação tentam
construir uma noção de identidade cultural idêntica a si mesma, autoproduzida e autônoma, tal como a de
uma economia auto-suficiente ou de uma comunidade política absolutamente soberana, discursivamente
construída no “Outro” ou através dele, por um sistema de similaridades e diferenças. O “Outro” deixou de
ser um termo fixo no espaço e no tempo externo ao sistema de identificação e se tornou uma exterioridade
constitutiva.

● O pós-colonial para o colonizador e o colonizado.


O pós-colonial apresenta tanto ao colonizador quanto ao colonizado um problema de identidade devido a
uma reorganização mútua do local e do global. De acordo com Hall, a atenção desloca-se da origem
nacional para o sujeito à medida que o pós-colonial é um culturalismo que preocupa-se com questões de
identidade e sujeito e, portanto, não pode explicar o mundo fora do sujeito: “o que está ocorrendo é uma
reorganização mútua do local e do global” (HALL, 2003, p. 123).

4.3. TEXTO “A RELEVÂNCIA DE GRAMSCI PARA O ESTUDO DE RAÇA E


ETNICIDADE”:

● Revival de Gramsci no pensamento contemporâneo recente.


As ideias de Hall e parte dos autores dos Estudos Culturais se relacionam com parte da discussão
gramsciana sobre hegemonia e cultura. Só que Gramsci nunca tratou de raça e etnia, identidade cultural,
colonialismo e imperialismo (assuntos extremamente pertinentes a Hall) em seus escritos. Por isso, o
jamaicano correlacionou os trabalhos de Gramsci com um discurso racial e de identidade cultural, tornando
possível, também, apresentar esta peculiar contribuição à contemporaneidade. Como ele mesmo disse sobre
as ideias de Gramsci: “é necessário desenterrá-las delicadamente de seu solo concreto e de sua
especificidade histórica e transplantá-las para um novo terreno, com muito cuidado e paciência” (HALL,
2006, p. 279).

● Tal qual Gramsci fez.


É interessante observar que, como observa o próprio Stuart Hall, Gramsci revisou, renovou e sofisticou
amplamente muitos dos aspectos da estrutura teórica marxista para torná-la mais pertinente às relações
sociais contemporâneas no século XX; Gramsci compreende a necessidade de adaptar, desenvolver e
suplementar os conceitos de Marx através de outros conceitos, mais novos e originais. Não chega a ser
exatamente o que Hall faz com a obra de Gramsci, mas é interessante pensar que o jamaicano utilizou os
conceitos do filósofo em um outro terreno, para melhor compreender uma especificidade histórica de uma
época/realidade que Gramsci não vivenciou: o pós-colonialismo. De acordo com o próprio Hall: “ainda que
Gramsci não escreva sobre o racismo e não aborde especificamente esses problemas, seus conceitos podem
ser úteis a nossa tentativa de pensar a suficiência dos paradigmas da teoria social nessas áreas. Além do
mais, sua própria experiência e formação, assim como suas preocupações intelectuais, não estavam tão
distantes dessas questões, como sugeriria um primeiro olhar” (HALL, 2003, p. 300).

● Não o racismo, mas os racismos.


Segundo Hall, percebe que facilmente somos persuadidos a acreditar que o racismo deseja uma prática
“anti-humana” e anti-social”, como sendo algo estático e igual, no singular. Mas, a partir das análises
gramscianas, compreende-se que mais significantes do que as características gerais do racismo, são as
maneiras pelas quais essas características vão sendo remodeladas e ressignificadas pela especificidade
histórica dos contextos e ambientes nos quais elas vão ocorrendo. Dessa forma, o que se leva em
consideração não é o racismo (ou fascismo, para Gramsci), mas a existência de diversas formas
discriminatórias e estigmatizantes de racismos. Da mesma maneira em que não existe um único racismo,
também não existe uma única lei de desenvolvimento homogênea; seu impacto é penetrante, porém
irregular e a própria irregularidade desse impacto pode ajudar a aprofundar e exacerbar os antagonismos
setoriais contraditórios. Afinal, Gramsci não articulava os fenômenos sociais como coisas e sim como
sistemas de relações nos quais as identidades culturais iam se formando.

● Oposição à homogeneização das classes.


Compreende-se que as classes, ao mesmo tempo em que compartilham certas condições comuns de
existência, também são perpassadas por conflitos de interesses, historicamente segmentadas e fragmentadas
no curso real da formação histórica. Assim, a “unidade” das classes é algo necessariamente complexo e
deve ser produzida – construída, criada – como resultado de práticas econômicas, políticas e ideológicas
específicas. Nunca deve ser tomada como algo automático ou “já dado”. Ao reconhecer que as questões
ideológicas são sempre coletivas e sociais, e não individuals, Gramsci explicitamente reconhece a
necessária complexidade e o caráter interdiscursivo do campo ideológico. Portanto, ele não propõe a ideia
da incorporação total de um grupo na ideologia de outro.

● Concepção de sujeitos plurais.


Ele recusa inteiramente qualquer ideia de um sujeito ideológico unificado e predeterminado. Reconhece a
pluralidade dos “eus” e identidades que compõem o chamado “sujeito” do pensamento. Argumenta que a
natureza multifacetada da consciência não é um fenômeno individual, mas coletivo, uma consequência do
relacionamento entre “o eu” e os discursos ideológicos que compõem o terreno cultural da sociedade.

● Natureza das contradições.


Gramsci chama a atenção para a contradição na consciência entre a concepção de mundo que se manifesta,
mesmo que momentaneamente, na ação, e aquelas concepções que são afirmadas verbalmente ou no
pensamento. Ele demonstra que as ideologias subordinadas são necessária e inevitavelmente contraditórias.
Gramsci demonstra como o “eu”, que escora essas formações ideológicas, não é um sujeito unificado, mas
contraditório, uma construção social. Desta forma, ele nos ajuda a compreender uma das características
mais comuns e menos explicadas do “racismo”: a “submissão” das vítimas do racismo aos embustes das
próprias ideologias racistas que as aprisionam e definem. Ele demonstra ainda como elementos distintos e
frequentemente contraditórios podem se entrelaçar e se integrar aos distintos discursos ideológicos; mas
também à natureza e o valor da luta ideológica que busca transformar as ideias populares e o “senso
comum” das massas.

● Cultura como terreno moldável.


A cultura é concebida como o terreno historicamente moldado sobre o qual todas as correntes filosóficas e
teóricas operam e com a qual elas devem chegar a um acordo. Ele chama a atenção para o caráter
determinado desse terreno e a complexidade dos processos de desconstrução e reconstrução, pelos quais os
velhos alinhamentos são derrubados e novos alinhamentos podem ser efetuados entre os elementos dos
distintos discursos entre as ideias e as forças sociais. A mudança ideológica é concebida não em termos de
substituição ou imposição, mas em termos da articulação e desarticulação das ideias.

● Caráter multidimensional da hegemonia.


Devemos observar o caráter multidimensional que envolve diversas arenas da hegemonia. Ela não pode ser
construída ou sustentada sobre uma única frente de luta (por exemplo, a econômica). O domínio não é
simplesmente imposto, nem possui um caráter dominador. Efetivamente, resulta da conquista de um grau
substancial de consentimento popular. Representa, portanto, o estabelecimento de uma enorme capacidade
de autoridade social e moral, não dirigida simplesmente aos partidários imediatos, mas à sociedade como
um todo. É essa “autoridade” bem como o alcance e a diversidade dos locais sobre os quais a “liderança” é
exercida que possibilitam a “propagação” temporária de uma vontade coletiva intelectual, moral, política e
econômica na sociedade.

● Ao invés das semelhanças, as diferenças.


Conseguiríamos compreender melhor como o regime do capital funciona através da diferença e da
diferenciação, e não através da semelhança e da identidade, se levássemos mais seriamente em
consideração a questão da composição cultural, social, nacional, étnica e de gênero das formas de trabalho
historicamente distintas e específicas. Embora não seja um teórico geral do modo capitalista, Gramsci nos
aponta definitivamente nessa direção. Teoricamente, o que precisa ser observado é a maneira persistente
pela qual essas formas diferenciadas de “incorporação” tem continuamente sido associadas ao surgimento
de características sociais racistas, etnicamente segmentadas e outras semelhantes.

● Construção da hegemonia popular.


Por cultura Hall dizer o terreno das práticas, representações, linguagens e costumes concretos de qualquer
sociedade historicamente específica. Também inclui as formas contraditórias do “senso comum” que se
enraízam e ajudam a moldar a vida popular. O jamaicano inclui ainda toda a gama de questões distintivas
que Gramsci associa ao termo “nacional-popular”. Gramsci compreende que estes constituem o sítio crucial
da construção de uma hegemonia popular. São referências-chave enquanto objetos da luta e da prática
política e ideológica. Constituem uma fonte nacional de mudança, bem como uma barreira em potencial ao
desenvolvimento de uma nova vontade coletiva.

4.4. TEXTO “QUE NEGRO É ESSE NA CULTURA NEGRA?”:

● Combinação do semelhante com o diferente.


De acordo com o autor, a junção do que é semelhante com o que é diferente define não somente a
especificidade do momento, como também a especificidade da questão. “É para a diversidade e não para a
homogeneidade da experiência negra que devemos dirigir integralmente a nossa atenção criativa agora”
(HALL, 2006, p. 327). Portanto, as estratégias das políticas culturais com as quais tentamos intervir, assim
como a forma e o estilo das teorias e críticas culturais precisam acompanhar essa combinação.

● Os três eixos de West: a mudança hegemônica na definição de cultura.


Hall cita Cornell West para avaliar o momento em questão (o texto foi escrito em 1990). Assim, West
avalia três importantes eixos, aproveitados por Hall:
1) Deslocamento dos modelos culturais europeus de alta costura;
2) O surgimento dos Estados Unidos enquanto potência mundial e, consequentemente, como centro de
produção e circulação global de cultura (um movimento que vai da alta cultura a cultura popular americana
majoritária e suas formas de cultura de massa, mediadas pela imagem e formas tecnológicas);
3) A descolonização do Terceiro Mundo, marcado culturalmente pela emergência das mentes
descolonizadas (como o impacto do movimento dos direitos civis e as lutas negras pela libertação dos
povos da diáspora negra)

● Mudança do terreno da cultura rumo ao popular.


Mesmo que o pós-modernismo não seja uma nova era cultural, mas somente o modernismo nas ruas, isso
representa uma importante mudança no terreno da cultura rumo ao popular – às práticas populares e
cotidianas, narrativas locais, descentramento de antigas hierarquias e grandes narrativas. Esse deslocamento
abre caminho para novos espaços de contestação e causa uma importante mudança na alta cultura das
relações culturais populares, apresentando-se, dessa forma, como uma importante oportunidade estratégica
para a intervenção no campo da cultura popular.

● Fascinação pós-modernista pelas diferenças étnicas.


A profunda e ambivalente fascinação do pós-modernismo pelas diferenças sexuais, raciais, culturais e,
sobretudo, étnicas. Em total oposição à cegueira e hostilidade que a alta cultura europeia demonstrava, de
modo geral, pela diferença étnica – sua incapacidade até de falar em etnicidade quando esta inscrevia seus
efeitos de forma tão evidente –, não há nada que o pós-modernismo global mais adore do que um certo tipo
de diferença: um toque de etnicidade, um “sabor” do exótico. Dentro da cultura, a marginalidade, embora
permaneça periférica em relação ao ​mainstream,​ nunca foi um espaço tão produtivo quanto é agora, e isso
não e simplesmente uma abertura, dentro dos espaços dominantes, à ocupação dos de fora. É também o
resultado de políticas culturais da diferença, de lutas em torno da diferença, da produção de novas
identidades e do aparecimento de novos sujeitos no cenário político e cultural. Isso vale não somente para a
raça, mas também para outras etnicidades marginalizadas, assim como o feminismo e as políticas sexuais
no movimento de gays e lésbicas, como resultado de um novo tipo de política cultural.

● Gramsci e hegemonia cultural.


A luta pela hegemonia cultural hoje é travada tanto na cultura popular quanto em outro lugar. A distinção
entre erudito e popular é precisamente o que o período pós-moderno global está deslocando. Só que a
hegemonia cultural nunca é uma questão de vitória ou dominação pura (não e isso que o termo significa);
nunca é um jogo cultural de perde-ganha; sempre tem a ver com a mudança no equilíbrio de poder nas
relações da cultura; trata-se sempre de mudar as disposições e configurações do poder cultural e não se
retirar dele. Hall comenta sobre a importância estratégica que Gramsci deu à cultura popular (a qual o
italiano chamou de “nacional-popular”), demonstrando que o filósofo entendeu que é no terreno do senso
comum que a hegemonia cultural é produzida, perdida e se torna objeto de lutas. O papel do “popular” na
cultura popular, portanto, é o de fixar a autenticidade das formas populares, enraizando-as nas experiências
das comunidades populares das quais elas retiram o seu vigor, nos permitindo vê-las como expressão de
uma vida social subalterna específica, que resiste a ser constantemente reformulada enquanto baixa e
periférica. A isso Antonio Gramsci chamava de “guerra de manobra” (quando, de fato, o único jogo
corrente que vale a pena jogar é o das “guerras de posição” culturais).
● Hibridização da cultura negra.
Em certo sentido, a cultura popular tem sua base em experiências, prazeres, memórias e tradições do povo.
Entretanto, como também tem se tornado forma dominante da cultura global, a cultura popular negra acena,
por excelência, à mercantilização, às indústrias e penetra direta nos circuitos de tecnologia dominante (onde
moram poder e capital). São nesses espaços em que ela se homogeniza e os estereótipos e as fórmulas
processam, sem compaixão, todo material diverso das experiências, exercendo controle sobre as narrativas
e representações muitas vezes, sem qualquer resistência. É um cultura enraizada no popular e, ao mesmo
tempo, disponível para expropriação. Para Hall, esse processo é necessário e inevitável para qualquer
cultura popular do mundo moderno, pois todas estão destinadas a serem contraditórias à medida em que
avança a globalização. Mas ele também chama atenção para o fato de que, na cultura popular negra, em
termos etnográficos, portanto, não existem formas “puras”; todas essas formas são o produto de
sincronizações parciais, engajamentos que atravessam fronteiras culturais e confluências de mais de uma
tradição cultural, de negociações entre posições dominantes e subalternas, de estratéfias subterrâneas de
recodificação e transcodificação, de siginificação crítica e do ato de significar a partir de materiais
preexistentes. E essas formas são sempre impuras, adaptações conformadas aos espaços mistos,
contraditórios e híbridos da cultura popular. “Elas nao sao a recuperação de algo puro pelo qual,
finalmente, podemos nos orientar. Somos obrigados a reconhecer que elas são o que o moderno e, naquilo
que Kobena Mercer chama a necessidade de uma estética diaspórica.” (HALL, 2003, p. 345)

● Raça como significante flutuante.


Hall entende raça como significante flutuante, ou seja: significa diferentes coisas em diferentes épocas e
lugares. Ele atenta que é para a diversidade e não para a homogeneidade da experiência negra que devemos
dirigir integralmente a nossa atenção.

5. PERGUNTAS GERAIS SOBRE O LIVRO:

● De que fala ​Da Diáspora​ (2003)?


Da Diáspora (2003) é uma coletânea de diversos textos de Stuart Hall. Alguns deles falam sobre negritude,
outros sobre estudos culturais, outros sobre a aplicação da teoria gramsciana na realidade étnica atual, entre
vários outros temas. Além da autoria, o que há em comum entre todos os escritos organizados por Liv
Sovik é o fato do jamaicano repensar os atuais modos de composição das identidades contemporâneas e as
estratégias discursivas política-culturais vistas através da diáspora negra.

● O que me diz a estrutura de ​Da Diáspora​ (2003)?


O intuito do estilo de escrita do autor é de elaborar critérios para pensar mais conscientemente ​junto ​com
Stuart Hall, não tanto com suas categorias quanto suas perspectivas, suas questões. Isso é um processo
parecido com o que ele recomendou, quando discutiu a relevância de Gramsci para estudos de raça e
etnicidade: desenterrar delicadamente suas idéias de seu solo concreto e especificidade histórica, seu
contexto inglês ou diaspórico, para generalizá-las. (Hall, 2006: 279) Não é só uma questão de, por
exemplo, identificar o didatismo de um texto, a intervenção anti-funcionalista de outro, como se fosse
possível isolar essas características do próprio texto. Trata-se, também, de identificar a preocupação
recorrente, para entender mais cabalmente como ler Hall como teórico, em toda sua multiplicidade de
abordagens e escritas.

● Qual o objetivo do livro?


Põe-se como objetivo do livro se voltar para questões que promovam a reflexão sobre o que se quer dizer
com esta crise de identidade contemporânea. Mais ainda, que acontecimentos dariam bases para
sustentação de tal argumento e quais são suas consequências potenciais. Desta maneira, os argumentos se
dividem em duas etapas pelo livro: a primeira é apontar para as mudanças históricas que os conceitos de
identidade e sujeito apresentam. A segunda tenta dar conta de como estas alterações se relacionam com as
identidades culturais. Ou seja, daqueles aspectos de nossas identidades que surgem de nossos
pertencimentos a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais. O argumento
central do autor é simpático à afirmação de que as identidades modernas estão sendo descentradas,
fragmentadas ou deslocadas. Dito de outra maneira, esse descentramento se ancora num tipo diferente de
mudança estrutural que transforma as sociedades modernas no final do século XX. Esta mudança age
fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade que
anteriormente se apresentavam como sólidas localizações dos indivíduos sociais. Perde-se, portanto, um
“sentido de si” estável promovendo o deslocamento do indivíduo de seu mundo social e cultural e de si
próprio. Decorrência deste argumento é a possibilidade de nos perguntarmos se não é a própria
modernidade que está sendo transformada ou se conceitualizamos a modernidade de uma maneira
equivocada.

● Quais as principais críticas feitas a Hall?


A cultura do instável dá importância às situações efêmeras, pois as duradouras tinham, desde sempre, a
marca odiosa do que podia ser identificado com o tradicional. O avesso do efêmero é o tradicional, mas o
tradicional possui um poder petrificante de ações e pensamentos. Sair das petrificações institucionais de
antigas formações sociais haveria que significar, quase que necessariamente, uma ruptura com suas
características. Mas e quanto ao sujeito? Poderia permanecer firme e estável? Continuaria o sujeito
centrado das antigas instituições sociais? Evidentemente, a crise da pós-modernidade é a crise do sujeito.
Todavia, esse breve excurso explicativo tende a ser por demais simplista: uma tentativa de comparar a
sociedade como conseqüência pura e direta da ruptura com os padrões tradicionais. Mais do que isso: o
descentramento do sujeito deve ser entendido não como algo que se buscou e se quis, mas como crise. A
mais importante talvez seja a crise das identidades. No chamado mundo pós-moderno, não há mais um
ponto referencial em torno do qual o sujeito gravita e se constitui firme, mas vários pontos referenciais que
não trazem segurança, pelo menos não do ponto de vista anterior, cuja significação era justamente a de uma
firmeza estática. Bem mais que o culto ao efêmero, a pós-modernidade deve ser entendida como tempo
crítico do homem e de seus referenciais de centro.

6. PERGUNTAS ESPECÍFICAS SOBRE O LIVRO:

● O que Hall pensa sobre cultura?


Para Hall, cultura não é apenas uma viagem de redescoberta: é uma produção. Tem sua matéria prima, seus
recursos, seu trabalho produtivo. Estamos sempre em processo de formação cultural. A cultura não é uma
questão de ontologia, de ser, mas de se tornar.

● Qual a concepção de Hall sobre identidade?


Basicamente Stuart Hall procura demonstrar que as velhas identidades (responsáveis pela estabilidade do
mundo social) estão entrando em declínio e sendo substituídas pelas novas identidades, caracterizadas,
entre outras coisas, pela fragmentação do indivíduo moderno, fato que, segundo suas palavras, tem
promovido grande mudança estrutural nas sociedades. Diante desse fato, o autor propõe três concepções de
identidade: a do sujeito do Iluminismo, baseado no indivíduo totalmente centrado, unificado e dotado da
razão; a do sujeito sociológico, refletindo a idéia de que o núcleo interior do sujeito não era autônomo e
autossuficiente, mas formado na relação com outras pessoas; e a do sujeito pós-moderno, resultado de
mudanças estruturais e institucionais que torna o processo de identificação instável e provisório, tornando a
identidade pouco fixa e permanente. Evidentemente, esse processo estaria, segundo o autor, intimamente
relacionado ao caráter da mudança na modernidade tardia, sobretudo àquela que se conhece, de modo
genérico, pelo nome de globalização, fenômeno relacionado à própria essência da sociedade, uma vez que
ela não é um todo unificado e bem delimitado, sendo constantemente descentrada ou deslocada por forças
que lhe são exteriores. Assim sendo, Stuart Hall procura apresentar as principais mudanças ocorridas no
sujeito e na identidade modernos, já que, antes da Era Moderna, o indivíduo encontrava sua identidade
ancorada em apoios estáveis (tradições, estruturas), o que deixa de acontecer com a modernidade,
emergindo então uma concepção mais social do sujeito.

● Qual o papel da globalização na instabilidade das identidades?


A Globalização vem elucidando as trevas do próprio iluminismo ocidental. As identidades, concebidas
como estabelecidas e estáveis, estão naufragando nos rochedos de uma diferenciação que prolifera. A
globalização é outro aspecto da questão da identidade que está relacionada ao caráter da mudança da
modernidade. As sociedades modernas são constituídas em mudanças constantes, rápidas e permanentes, e
isto a diferencia da sociedade tradicional. Nesta sociedade moderna, não há nenhum centro, nenhum
princípio articulador ou organizador único e não se desenvolvem de acordo com o desdobramento de uma
única causa ou lei. Ela está constantemente sendo descentrada por forças fora de si mesmas. As
transformações associadas à modernidade tardia, diz Hall, libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis
nas tradições e nas estruturas. Antes se acreditava que estas eram divinamente estabelecidas; não estavam,
portanto, sujeitas a mudanças fundamentais. À medida que as sociedades modernas se tornavam mais
complexas elas adquiriam uma força mais coletiva e social. O indivíduo passou a ser visto como mais
localizado e definido no interior de grandes estruturas e formações sustentadoras da sociedade​.

● Para Hall, quais os cinco pontos no descentramento do sujeito cartesiano?


Não obstante as identidades com o lugar e com a consciência, o que aconteceu à concepção do sujeito
moderno, na modernidade tardia não foi simplesmente sua degradação, mas seu deslocamento. Para Hall, o
descentramento final do sujeito cartesiano ocorreu por conta de cinco grandes avanços na teoria social e nas
ciências humanas:
1) ​tradições do pensamento marxista​, segundo as quais os homens só fazem história a partir de condições
que lhes são previamente dadas. Portanto, indivíduos isolados não são capazes de qualquer construção
histórica;
2) ​descoberta do inconsciente por Freud​, no qual cogito cartesiano é fortemente solapado a partir do
pensamento freudiano que (com base na leitura lacaniana), constrói o sujeito que “pensa onde não existe e
existe onde não pensa”. A alusão de Jacques Lacan é claramente ao sujeito do inconsciente aquele que não
domina suas ações ou seus pensamentos pela consciência. A partir de considerações sobre o Real, o
Imaginário e o Simbólico, Lacan pondera que o sujeito está justamente na junção desses três campos
(junção borromeana cujo desmoronamento seria intolerável pelo sujeito, provocando-lhe os mais diversos
sintomas da pós-modernidade, como drogadição e endividamento);
3) ​trabalhos do lingüista estrutural Ferdinand de Saussure​, para o qual “a língua é um sistema social e não
um sistema individual” (Hall, 2003, p.40). Então, o indivíduo falante nunca pode fixar um significado de
forma final, ou seja, ele próprio não domina os efeitos de sentido de sua fala e, por extensão, nem mesmo
de sua identidade. A noção de margem aparece como que delineando a fala, como a marcar a existência de
um antes e um depois da língua. Não há como centrar a fala, pois o significado permanece inerentemente
instável a qualquer conformação de sentido do próprio sujeito;
4) ​trabalho de Michel Foucault​, ao fazer um estudo sobre o que chama de poder disciplinar, Foucault
considera que as novas instituições disciplinam as populações modernas. Todas as dimensões humanas
estão sob o rígido controle das instituições;
5) ​impacto do feminismo​, de seus pontos de descentramento, talvez o mais importante seja que tais
movimentos favoreceram o enfraquecimento e o fim da classe política e das organizações políticas de
massa a ela associadas, levando vários movimentos sociais à fragmentação. Desse modo, cada movimento
apelava para a identidade social de seus componentes. O feminismo abriu para o espaço da contestação
política aqueles elementos que eram considerados particulares da vida privada, como a dominação dos
sexos, o trabalho doméstico, o cuidado com as crianças, dentre outros.

● Por que Hall acredita que as forças da globalização são contraditórias?


Há dois processos opostos em funcionamento nas formas contemporâneas de globalização: existem as
forças dominantes que ameaçam subjugar todas as culturas que aparecem, impondo uma mesmice cultural
homogeneizante (seus efeitos podem ser vistos em todo o mundo); e os processos que sutilmente estão
descentrando os modelos ocidentais, levando a uma disseminação da diferença cultural em todo o globo. O
confronto com uma verdadeira gama de identidades culturais é traço marcante da contemporaneidade. E é
interessante até que ele ocorra, pois há um certo enriquecimento, uma troca cultural. No entanto, é
praticamente impossível vislumbrar tudo isso sem negar a tensão entre o global e o local, que,
ideologicamente, é permeada por interesses outros, afinal, a globalização é um processo desigual e tem sua
própria geometria de poder. Ela, inegavelmente, tem um efeito pluralizante sobre as identidades,
produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificação, tornando as identidades
menos fixas e unificadas. Argumenta-se que este é um processo irreversível. Caso o seja, somos desafiados
a abrir nossas fronteiras, permitir que o novo chegue-se a nós sem, no entanto, abrir mão de nossa cultura
nacional, de nosso legado cultural. Evidentemente isto não é fácil, pela força hegemônica dos que invadem
os espaços subalternos. O processo evidencia uma agressiva desigualdade entre “globalizador” e
“globalizado”. No entanto, como o próprio processo histórico nos permite verificar, nada é imutável.
Somos os atores sociais responsáveis pelo desenrolar do grande enredo que é a História.

● Isso quer dizer que a globalização é homogênea?


Não. Essas tendências argumentam a favor da homogeneização cultural, portanto contrários à pretensa
fragmentação global, mas não significam que a globalização atinja todas as regiões da mesma maneira e na
mesma proporção, sendo portanto nivelada. De qualquer maneira, finaliza o autor, embora seu efeito geral
seja contraditório, a globalização acaba tendo um efeito de contestar e deslocar as identidades centradas,
fechadas numa cultura nacional, exercendo uma influência pluralizante sobre as identidades, tornando-as,
portanto, mais diversas.

● Qual o papel da mídia globalizada na mercantilização cultural?


Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas
viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados,
mais as identidades se tornam desvinculadas de tempos, lugares, histórias e tradições específicas. No
interior do discurso do consumismo global, as diferenças e as distinções culturais, que até então definiam a
identidades, ficam reduzidas a uma espécie de língua franca internacional ou de moeda global, em termos
das quais todas as tradições específicas e todas as diferentes identidades podem ser traduzidas. Este
fenômeno é conhecido como “homogeneização cultural”. Ao lado da tendência em direção à
homogeneização global, há também uma fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e da
alteridade. Há juntamente com o impacto global um novo interesse pelo local, produzindo novas
identificações globais e novas identificações locais. A globalização está tendo efeitos em toda parte,
incluindo o Ocidente, e a “periferia” também está vivendo seu efeito pluralizador, embora num ritmo mais
lento e desigual. Nas palavras de Hall: “a globalização não parece estar produzindo nem o triunfo do global
nem a persistência, em sua velha forma nacionalista, do local. Os deslocamentos ou os desvios da
globalização mostram-se, afinal, mais variados e mais contraditórios do que sugerem seus protagonistas ou
seus oponentes”.

● Quais as possíveis consequências para as identidades culturais advindas com o processo de


globalização?
Segundo Hall, a primeira estaria marcada pela desintegração das identidades nacionais, resultado de um
crescimento da homogeneização cultural; a segunda seria o reforço das identidades locais, como resistência
à globalização, e a terceira seria a formação de novas identidades, chamadas híbridas, que tomam o lugar
das identidades nacionais.

● Para o autor, como funciona o jogo da semelhança e da diferença e como isso pode aproximar os
sujeitos?
Para Hall, a alternativa não é apegar-se a modelos fechados, unitários e homogêneos de pertencimento
cultural, mas abarcar os processos mais amplos o jogo da semelhança e da diferença que estão
transformando a cultura no mundo inteiro. Esse é o caminho da diáspora, que é a trajetória de um povo
moderno e de uma cultura moderna.

● Qual o peso das culturas nacionais nas identidades individuais?


As culturas nacionais se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural pois um dos
mecanismos de identificação do sujeito é o sentimento de nacionalidade, de saber-se pertencente a uma
nação. Ainda que ter uma nação não seja um atributo inerente à humanidade, ele passa a sê-lo na chamada
modernidade tardia, pensamos neste tipo de cultura como se fosse parte de nossa natureza essencial. Porém
as identidades nacionais não são coisas com as quais nascemos, mas são formadas e transformadas no
interior das representações. Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas, deveríamos pensá-las
como constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou identidade. Elas
são atravessadas por profundas divisões e diferenças internas, sendo unificadas apenas através do exercício
de diferentes formas de poder cultural. O sentimento de identidade e lealdade é gerado pela idéia de que a
nação é uma comunidade simbólica e, portanto, compartilhada por um número suficientemente grande de
indivíduos capazes de dar ao homem uma significação de pertencimento. Essa significação é um espelho.
As identidades nacionais não subordinam todas as outras formas de diferenças e não estão livres do jogo de
poder, de divisões e contradições internas, de lealdades e de diferença sobrepostas. Hall mostra o efeito
contestador e deslocador da globalização nas identidades centradas e fechadas de uma cultura nacional.
Esse efeito verdadeiramente pluralizante altera as identidades fixas, tornando-as menos fixas, plurais, mais
políticas e diversas. É nesse movimento/deslocamento que emerge a concepção de culturas híbridas (entre a
tradição e a tradução) como um dos diversos tipos de identidades destes tempos de modernidade tardia. O
processo de globalização aparece como um dos fatores responsáveis pelo processo de deslocamento dessa
idéia de identidade nacional, uma vez que, diante de tal realidade, o nacional parece diluir-se.

● Como a formação dos Estados-nação influenciaram as identidades culturais individuais?


Todavia, o nacional não são apenas as fronteiras: “uma cultura nacional é um discurso” (Hall, 2003, p.50).
A nação, portanto, faz sentido porque tem seu sentido narrado por memórias capazes de conectar presente,
passado e futuro. Contudo, o argumento central que Hall se preocupa em analisar tem início com a
construção de uma ideia de nação como uma unidade orgânica em si, onde cada “povo” se funda na
possibilidade de possuir um caráter particular. O Estado passa a materializar, portanto, seus habitantes.
Surge o Estado-nação e com ele o problema da cultura como identidade. A cultura, entendida como um
universo simbólico que abrange diferenças sociais em um determinado momento histórico, promove a
“unificação dos distintos”, que passam a partilhar de totalidades. Em primeiro lugar, há a narrativa da
nação a partir de experiências partilhadas. Depois se dá ênfase às origens e tradições, a partir de um mito
fundacional e um povo autêntico e puro. Tais procedimentos, como afirma Hall, não são propriamente tão
modernos, pois se encontram na ambiguidade de colocar as identidades entre o passado e o futuro. Assim,
articulam a ideia de nação como fonte de significados culturais, foco de identificações e sistema de
representações a partir da ativação de memórias do passado, do desejo por viver em comunidade e pela
perpetuação da herança. Assim, como afirma Pierre Vilar (1978), o povo-nação representa interesses
comuns contra os interesses particulares e o bem comum contra o privilégio. Então, se os indivíduos se
diferenciam pela origem de classe ou posicionamento geográfico, a cultura forja uma consciência coletiva
que vincula os indivíduos uns aos outros. Esta partilha de totalidades e de interesses comuns é forjada e
consolidada historicamente na modernidade pela promoção de políticas que estimulem a integração entre
os membros de uma mesma nação. Esta forja é sintetizada pelo Estado moderno, permitindo que haja a
exclusão daqueles que não se encaixam nos padrões tidos como nacionais. Uma dessas políticas se realiza,
por exemplo, pela instauração de uma língua oficial em um país e pelo ensino institucionalizado da mesma.
A cultura, que agora se constrói nacionalmente e associa principalmente identidade à nacionalidade,
assume para si a tarefa de unificação. Esta se realiza a partir da criação de identidades culturais, dos
processos de transitoriedade espacial e temporal propiciados pela modernidade. Tendo como ponto de
partida o debate de Hall, a modernidade, ao passo que forja o surgimento da nação, traz com ela a
permissão para que as coisas assumam mobilidade no tempo e no espaço. A modernidade, então, como
força criadora de novos modos de relações sociais, proporciona a necessidade de reconhecimento entre
indivíduos, ao mesmo tempo em que sublima barreiras de trocas simbólicas e materiais entre distintas
culturas. Ou seja, a ideia de nação se sustenta por ser uma comunidade simbólica que consegue contribuir
para a criação de uma cultura nacional, pretensamente homogênea, que se torna característica chave da
industrialização e um dispositivo da modernidade.

● De que forma a identidade brasileira pode ser analisada dentro da perspectiva de Hall?
A construção da nacionalidade brasileira passa também por um processo narrativo. Desde os princípios da
ordem e do progresso, até a concepção da mítica convivência de todas as raças (Gilberto Freyre) ou do em
desenvolvimento, permite construir uma identidade em torno do que seja o Brasil. De um país do qual se
envergonhar a uma nação da qual se orgulhar é um processo lento, no qual muitos significantes foram
explorados, em detrimento de outros, de forma a construir um orgulho nacional.

● Como manter a autenticidade das identidades sem fazer apologia ao conservadorismo?


A perda de um sentido de si, conseqüência das mudanças profundas que marcam as sociedades modernas e
pós-modernas, abalam as referências que davam aos indivíduos uma certa estabilidade e segurança. Não se
faz aqui apologia ao conservadorismo, no entanto, é preciso “preservar” o que é fruto de uma construção
coletiva e histórica, que é peculiar e identificante dentro da aldeia global. Não se pode discutir cultura
ignorando as relações de poder estabelecidas nas sociedades: o conflito entre o “global” e o “nacional”
toma mais ênfase nos debates e reflexões, no entanto, ele está presente em esfera menor; ou seja, há uma
tentativa de se homogeneizar as culturas nacionais, marcadas por traços peculiares e que impossibilitam
qualquer tentativa de se estabelecer uma única identidade cultural. Segundo o próprio Hall: “o antigo
modelo de centro-periferia, nação-nacionalismo-cultura é justamente o modelo que está se desagregando.
As culturas emergentes que se sentem ameaçadas pelas forças da globalização, diversidade e hibridização,
ou que fracassaram de acordo com a atual definição do projeto de modernização, podem ficar tentadas a se
fecharem em suas inscrições nacionalistas e a construírem muros contra o exterior. A alternativa não é
agarrar-se a modelos fechados, unitários, homogêneos de ‘pertencimento cultural’, mas começar a aprender
a abraçar processos mais amplos – o jogo de semelhança e diferença – que estão transformando a cultura no
mundo. Este é o caminho da ‘diáspora’, o caminho de um povo moderno e de uma cultura moderna.”
(HALL, 2000, p.14)

● O que seriam culturas híbridas?


A nação nunca foi um ponto ímpar de identificação e união. Escondem-se neste discurso três questões
centrais. A primeira é que muitas das nações modernas se constituíram pela conquista e unificação violenta
de diversas culturas. Segundo que elas são sempre compostas por diferentes grupos étnicos e de gênero. Por
fim, grande parte destas nações ocidentais modernas exerceram diversas formas de hegemonia cultural
sobre a cultura dos colonizados. Assim, o que propõe Stuart Hall é que passemos a pensar as culturas
nacionais, e aqui se nota que ele opta por não usar a palavra nação, como dispositivo discursivo que
representa a diferença como unidade ou identidade. Em outras palavras, passar a compreender as nações
modernas como híbridos culturais. Se passamos a compreender estas categorias a partir da leitura proposta
por Stuart Hall, nos perguntamos: o que, então, veio a deslocar as identidades nacionais do século XX?
Para nosso autor, a resposta seria um “complexo de processos e forças de mudança, que, por conveniência,
pode ser sintetizado sob o termo globalização”. A globalização apresentaria, no argumento de Hall, três
possíveis consequências sobre as identidades culturais: a primeira seria a desintegração das identidades
nacionais como resultado de homogeneização cultural do pós-moderno global; a segunda seria o reforço de
algumas identidades nacionais e locais como forma de resistência aos efeitos globalizantes deste processo;
a terceira, o declínio das identidades nacionais com o surgimento de novas identidades híbridas em seu
lugar.

● Qual destaque Hall dá à linguagem?


O autor, assim como os Estudos Culturais, dá destaque às questões que relacionam a linguagem enquanto
operadora das estruturas de poder, da política, das próprias instituições e, principalmente, da cultura. Esse
enfoque é fundamentado pelo fato de Hall afirmar a cultura como “local crítico da ação social e de
intervenção, onde as relações de poder são estabelecidas e potencialmente instáveis”. Ela também é o local
em que podem ser observadas as rupturas promovidas pela pós-modernidade e o local por onde o autor
busca entrar no debate clássico das ciências sociais sobre os paradigmas e paradoxos da modernidade. É
importante salientar que Hall postula uma compreensão construcionista da linguagem, segundo a qual “não
é o mundo material que transmite significados: é o sistema de linguagem ou qualquer sistema que nós
usamos para representar nossos conceitos”. Em outros termos, para Hall, “as coisas não significam: nós
construímos sentidos, usando sistemas representacionais – conceitos e signos”.

● Curiosidade: o que pensa Hall sobre a crise de identidade cultural na pós-Modernidade?


Segundo o autor essa crise é parte de um processo de mudanças na qual a sociedade está inserida. Pra
analisar essa crise, Hall traz três sujeitos: o sujeito do Iluminismo (centrado em seu núcleo do interior), o
sujeito sociológico (tem sua própria posição, mas aceita a ideia alheia) e o sujeito da pós-Modernidade (o
qual a identidade é composta por várias identidades).

● Qual a relevância de ​Da Diáspora​ (2003) para os estudos da Comunicação?


Além da importância de Hall como teórico para a consolidação dos estudos de recepção no Brasil ao
oferecer o insumo teórico para a área, podemos dizer que a obra ​Da Diáspora ​(2003) é importante a nível
nacional devido às similaridades encontradas em ambos os países (Jamaica, terra natal de Hall, analisada
no livro, e Brasil, país em questão) na esfera racial. As apropriações das reflexões de Hall sobre as
identidades e raça mostram-se vigorosas por fornecer uma visão histórica do conceito frente às dinâmicas
sociais contemporâneas. O didatismo presente em sua obra também facilita as reflexões sobre a proposição
da constituição das identidades como esferas abertas, contraditórias, inacabadas e fragmentadas dos sujeitos
modernos que constituem a contemporaneidade.

“Essa cultura popular, mercantilizada e estereotipada não constitui, como às vezes pensamos, a arena
onde descobrimos quem realmente somos, a verdade da nossa experiência. Ela é uma arena
profundamente mítica. É um teatro de desejos populares, um teatro de fantasias populares. É onde
descobrimos e brincamos com as identificações de nós mesmos, onde somos imaginados, representados,
não somente para o público lá fora, que não entende a mensagem, mas também para n6s mesmos pela
primeira vez” - Stuart Hall

S-ar putea să vă placă și