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Unidade III
Na unidade I, tratamos as questões relacionadas à organização de uma sociedade global e como seus
aspectos influenciam na vida das pessoas, reconfigurando suas ações por meio da nova estrutura social
e dos avanços tecnológicos que contribuíram para a construção de uma sociedade em rede.
Na unidade II, apresentaremos a perspectiva teórica e as categorias analíticas da ADC por meio do
percurso de desenvolvimento dessa proposta e a constituição de uma perspectiva transdisciplinar de
análise dos discursos em processo de formação, tendo como referência os estudos de Ormundo (2007),
Wetter (2009) e Wetter e Ormundo (2012).
Antes de discorrermos sobre a perspectiva teórica da ADC, faz-se necessário apresentar conceitos
essenciais dessa abordagem discursiva que devem ser desvendados para a compreensão das análises
que aqui serão realizadas. Esses conceitos, que foram organizados pelos estudos de Wetter (2009), são
os seguintes:
• texto;
• discurso;
• prática discursiva;
• prática social;
• ideologia;
• hegemonia;
• intertextualidade;
• interdiscursividade;
• transdisciplinaridade.
O conceito texto é usado por Fairclough no mesmo sentido empregado por Michael Halliday:
para textos escritos e textos falados. Fairclough (1989, p. 24) enfatiza que o texto é um produto,
e não um processo – na verdade, um produto do processo de produção textual. O autor emprega
esse conceito tanto para os textos escritos quanto para transcrições de fala. O texto compreende
um processo de produção, do qual ele é um produto, e um processo de interpretação, para o qual
o texto é um recurso.
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Unidade III
O discurso é considerado por Fairclough o uso da linguagem como prática social, sendo um modo de
ação e de representação. Existe uma relação dialética entre o discurso e a estrutura social: ele contribui
para a constituição de todas as dimensões das estruturas sociais ao mesmo tempo em que é moldado e
restringido por elas. Assim sendo, constitui e ajuda a construir identidades, relações sociais e os sistemas
de conhecimento e de crenças.
Observação
A prática social significa para Fairclough (2003a) uma forma relativamente estabilizada de
atividade social – ensino na sala de aula, notícias televisivas, refeições familiares, consultas médicas –
que articula vários elementos sociais no interior de uma configuração de certo modo estável e sempre
inclui o discurso. Toda prática inclui os seguintes elementos:
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Análise de Discurso Crítica e Semiótica
Instrumentos Valores
Objetos Discurso
Figura 1 – Elementos constitutivos da prática social
Esses elementos são em parte discursivos, mas isso não significa dizer que investigamos relações
sociais do mesmo modo que fazemos com a linguagem. Eles têm propriedades distintas.
A prática social aborda o conceito de discurso em relação à ideologia e ao poder. Situa o discurso
em uma perspectiva de poder como hegemonia e considera a evolução das relações de poder como luta
hegemônica (FAIRCLOUGH, 1992).
A noção de ideologia ancora-se em Althusser. Há três asserções a respeito dessa noção que
estabelecem suas bases teóricas:
• ela tem existência material nas práticas das instituições, o que possibilita a investigação das
práticas discursivas como formas materiais de ideologia;
• os aparelhos ideológicos do Estado (a educação, a mídia) são marcos delimitadores das lutas de
classe, apontando para uma análise de discurso orientada ideologicamente.
O conceito Althusseriano de ideologia é tomado por base, mas, ao mesmo tempo, é questionado por
Fairclough, pelo fato de apresentar uma noção de dominação como imposição unilateral e reprodução
da ideologia dominante, marginalizando a luta, a contradição e a transformação.
Ideologias são apresentadas como significações ou construções da realidade, que são constituídas
nas várias dimensões das formas ou sentidos das práticas discursivas e que “contribuem para a produção,
a reprodução ou a transformação das relações de dominação” (FAIRCLOUGH, 1992, p. 117).
Os aspectos textuais ou discursivos que podem ser investidos ideologicamente são, ainda segundo
Fairclough (1992), os sentidos das palavras, as pressuposições, as metáforas, a coerência e, inclusive, o
estilo de alguns textos.
A interpelação dos sujeitos pela ideologia é questão bastante complexa na perspectiva discursiva
crítica. Primeiro porque não se deve acreditar que as pessoas têm consciência da abrangência ideológica
de sua própria prática, pois as ideologias que afloram nas convenções podem, muitas vezes, cristalizar-se,
tornando-se conscientemente imperceptíveis. Além disso, mesmo quando os sujeitos realizam práticas de
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Unidade III
resistência que possivelmente contribuam para mudanças no âmbito da ideologia, a abrangência de sua
realização, geralmente, não é percebida. Assim, a importância dos estudos linguísticos que investigam
os processos ideológicos que afloram no discurso está na possibilidade de os sujeitos desenvolverem
uma consciência crítica maior a respeito de suas próprias práticas e daquelas às quais são submetidos.
A ADC defende a postura dialética a respeito desses processos: o equilíbrio entre sujeito efeito
ideológico e sujeito agente. Ainda nessa perspectiva crítica da linguagem, as práticas discursivas são
investidas ideologicamente no momento em que contribuem para manter ou reestruturar as relações
de poder.
Em princípio, as relações de poder podem ser afetadas por práticas discursivas de todos os tipos,
inclusive as teóricas e as científicas. As ideologias aparecem nas sociedades que se caracterizam por
relações de dominação com base na classe, no gênero social, no grupo cultural etc. À medida que
os sujeitos conseguem transcender tais sociedades, eles conseguem também transcender as questões
ideológicas, o que significa, portanto, que “nem todo discurso é irremediavelmente ideológico”
(FAIRCLOUGH, 1992, p. 121).
Lembrete
Hegemonia implica liderança e dominação nos segmentos econômicos, político, cultural e ideológico.
Diz respeito à construção de alianças e vai muito além da simples dominação em relação a classes
subalternas, pois se vale de concessões ou de componentes ideológicos para obter o consentimento para
a ação. Embora represente o poder de uma das classes economicamente privilegiadas sobre as outras,
essa dominação é parcial e temporária, como se espelhasse um equilíbrio instável. É um elemento
representativo de luta constante sobre pontos inconstantes entre classes e segmentos sociais para
reproduzir, reestruturar ou desafiar hegemonias existentes, relacionadas a formas econômicas, políticas
e ideológicas.
Ao considerar-se a abordagem discursiva em termos analíticos, pode-se dizer que a análise textual
é organizada em quatro direções: investigação do vocabulário, da gramática, dos elementos de coesão
e da estrutura textual. O vocabulário é investigado por meio das palavras individualmente; a gramática,
por intermédio da combinação das palavras em frases ou orações; os elementos coesivos são analisados
em relação ao modo como organizam as junções dessas frases e orações; e a estrutura textual é abordada
em relação a suas propriedades de organização textual. Em relação à prática discursiva, podem ser
examinados elementos como a força dos enunciados – ou seja, os atos de fala (promessas, pedidos,
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Análise de Discurso Crítica e Semiótica
ameaças etc.) constituídos por eles –, a coerência e a intertextualidade dos textos. A prática social é
investigada por intermédio do conceito de hegemonia, o qual fornece uma matriz para a análise das
relações de poder. Desse modo, a análise textual abrange aspetos de sua produção e interpretação, bem
como das propriedades formais de sua constituição.
Assim, um texto se constrói em relação aos outros textos, ou seja, na perspectiva da abordagem do
outro relacionado ao já-dito (antes, em outro lugar), se buscarmos fundamentação no dialogismo de
Bakhtin, o qual privilegia a dimensão de outro, de não-um na sua abordagem do sentido – princípio esse
colocado como constitutivo do sujeito e da linguagem.
A relação existente entre intertextualidade e hegemonia situa o espaço textual entre fronteiras que
estabelecem certas limitações relativas à apropriação de outros textos e como esses podem transformar
e reestruturar as convenções existentes para gerar novos ambientes textuais. É preciso salientar também
que a intertextualidade é socialmente limitada e condicionada às relações de poder circundantes
ao mesmo tempo em que pode se apresentar por meio de ordens de discurso, influenciando a luta
hegemônica no momento em que são afetados por ela.
Observação
Saiba mais
Em Problemas da Poética em Dostoievski, Bakhtin deixa clara essa perspectiva social da linguagem
citada no parágrafo anterior, quando afirma que a palavra nunca se apresenta neutra, como se fosse
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Unidade III
Saiba mais
Observação
Essas formas explícitas da heterogeneidade são representadas de vários modos, sendo alguns
deles o discurso relatado (discurso direto, discurso indireto) e as várias formas marcadas da conotação
autonímica (aspas, palavras em itálico, entonação, formas de comentário – glosa, retoque, ajustamento
–, palavras que nomeiam o outro, ou o traduzem, ou o explicam).
Observação
Uma abordagem transdisciplinar, segundo Fairclough (2005), pergunta como um diálogo entre
duas disciplinas ou sistemas pode conduzir a um desenvolvimento de ambos por meio de um
processo de apropriação de cada um deles e da lógica do outro como um recurso para seu próprio
desenvolvimento. Desse modo, a abordagem transdiciplinar encontra-se em oposição, em certa
medida, às formas de interdisciplinaridade, as quais reúnem diferentes disciplinas em torno de
temas e projetos sem qualquer compromisso com a mudança de fronteiras e de relações entre
elas.
Lembrete
Wetter (2009) sintetiza essas considerações junto com Chouliaraki e Fairclough (1999): as construções
teóricas do discurso, as quais a ADC tenta operacionalizar, podem vir de várias disciplinas, e o conceito de
operacionalização exige que se realize um trabalho de um modo transdisciplinar, no qual a lógica de uma
disciplina (por exemplo, a Sociologia) possa ser colocada em funcionamento para o desenvolvimento de
outra (por exemplo, a Linguística).
A discussão que se segue tem como base a revisão literária apresentada em Ormundo (2007) sobre
o percurso teórico da ADC. Faremos uma síntese de como o discurso foi tratado na ADC, conforme
ilustrado na figura a seguir. Começaremos pelo modelo tridimensional, abordado por Fairclough em
sua obra de 1989 e aprimorado na sua publicação de 1992, acrescentando-lhe algumas das ampliações
presentes em Chouliaraki e Fairclough (1999). Em seguida, veremos o modelo bidimensional de sua obra
de 2003 (FAIRCLOUGH, 2003a) e faremos a contextualização da abordagem que enfatiza a análise social
por meio da proposta de construção de uma versão transdisciplinar da ADC (FAIRCLOUGH, 2006). Veja o
esquema a seguir, que exemplifica esse percurso:
Análise social
Transdisciplinaridade (2006)
O caminho para investigar o discurso formulado por Fairclough seguiu o percurso descrito na
figura anterior. Em Fairclough (1989), o modelo apresentado dá-se por meio de uma abordagem
de investigação triádica que foi traduzida como texto, interação e contexto. Nessa obra, o
autor enfatiza a abordagem da linguagem em uso, afirmando que ela é um processo social que
se constitui como parte da sociedade. Nessa abordagem, o texto é visto como produto em vez de
ser o processo; trata-se de produto do processo de produção social (FAIRCLOUGH, 1989, p. 24). O
discurso envolve todas as condições sociais, que podem ser traduzidas como condição social de
produção e como condição social de interpretação.
O autor acrescenta que essas condições sociais apresentam três níveis de organização social, que
foram traduzidos da seguinte maneira: a situação social, a instituição social e a sociedade. Isso traduz a
primeira dimensão tríade do trabalho de Fairclough (1989), conforme a figura a seguir:
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Unidade III
Processo de produção
Texto
Processo de interpretação
Contexto
Fairclough (1989, p. 26) diz que a linguagem como discurso e como prática social deve ser
analisada na relação entre textos, processos e suas condições sociais, conforme apresentado na
figura anterior.
Essa tríade é reapresentada em Fairclough (1992) por meio do estabelecimento de três dimensões,
concomitantemente, para a análise do discurso. São elas: texto, prática discursiva e prática social.
Discutidas em uma abordagem denominada análise de discurso textualmente orientada, elas são
apresentadas pelo autor conforme a figura que se segue:
Texto
Prática discursiva
(produção, distribuição e consumo)
Prática social
No nível da prática discursiva, que é a ligação entre texto e prática social, temos os processos
de produção, de distribuição e de consumo do texto. Esses processos são sociais e estão relacionados
a contextos sociais: ambientes econômicos, políticos, culturais e institucionais específicos. O autor
acrescenta que há dimensões sociocognitivas de produção e de interpretação de texto. A análise da
prática discursiva foi apresentada no modelo de 1992 como mediadora entre o texto e a prática social
e inclui não só uma precisa explanação de como os participantes em uma interação interpretam e
produzem textos, mas também como as relações dos eventos discursivos são representadas em ordens
do discurso.
Entre o que foi proposto sobre o quadro tridimensional e a relação bidimensional em Fairclough
(2003a), faremos uma pausa para uma breve explanação sobre os estudos de Chouliaraki e Fairclough
(1999). Os autores apresentaram uma discussão que ligou os estudos da ADC à Teoria Social, enfocando
as mudanças globais em rede de escalas, por meio de uma abordagem vinculada à Teoria Social e
à multissemiótica. Para Chouliaraki e Fairclough (1999), a pesquisa linguística orientada por uma
abordagem multissemiótica necessita vincular a ADC à análise das práticas sociais.
Chouliaraki e Fairclough (1999) fazem uma explanação sobre a importância do conceito de habitus
e de campo de Pierre Bourdieu para a pesquisa em ADC e apontam que há a necessidade de essa
abordagem não se restringir ao aspecto sociológico, devendo ser ampliada para a análise da linguagem.
O desenvolvimento do que foi proposto sobre a abordagem do campo e do habitus se dá na ADC por
meio desse mesmo conceito, mas na perspectiva do que Bourdieu e Wacquant desenvolveram sobre a
importância da linguagem na análise social.
No decorrer deste trabalho, recorreremos, também, aos estudos de Chouliaraki e Fairclough (1999),
correlacionando-os com outros pontos que serão apresentados sobre o tópico linguagem e globalização.
Passamos agora a verificar como o modelo apresentado por Fairclough (1989, 1992) foi reconstruído na
obra Analysing Discourse: Textual Analysis for Social Research (2003a), no que denominamos proposta
binária.
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Unidade III
Dessa forma, Fairclough (2003a) apresenta outra proposta de reformulação do quadro tridimensional,
que a autora deste livro-texto tem lido como uma nova abordagem, definida aqui como bidimensional,
pois o autor propõe que se investigue o texto naquilo que ele tem de interior e de exterior.
Outro ponto importante nessa relação bidimensional está ligado ao modelo metodológico apresentado
pelo autor. Esse modelo é constituído por categorias analíticas que foram sendo desenhadas na obra por
meio de duas orientações fundamentais: análise externa e análise interna dos textos. Logo, o modelo de
investigação apresentado nessa obra tem como proposta uma investigação que parta do evento social,
centrada na análise textual por meio da distinção feita entre as análises externa e interna. Para o autor,
a análise das relações externas de textos é a análise de suas relações com outros elementos:
• eventos sociais;
• práticas sociais;
• estruturas sociais;
Fazemos um adendo aqui para explicar que, em Fairclough (2006), os eventos sociais, as práticas
sociais e as estruturas sociais serão apresentados como níveis de abstração da análise social e devem ser
contemplados por quem pretende investigar o tópico linguagem e globalização.
Observação
Para a análise interna, Fairclough (2003a) aponta alguns caminhos para realizar a investigação –
caminhos esses que se vinculam diretamente aos métodos de outras teorias, como a nova versão da
ADC para construção da abordagem transdisciplinar. Entre os caminhos vislumbrados, o que despertou
a atenção da autora deste material para o propósito de compreender a linguagem na globalização é
o que foi tratado por Fairclough (2003a), no capítulo 6, intitulado Sentenças Simples: Tipos de Troca,
Funções dos Atos de Fala e Disposição Gramátical1. O autor apresenta as categorias para a análise
de sentenças simples, relações de trocas, disposição gramatical, argumentação e modalização. São
categorias analíticas que poderão ser usadas para a análise interna dos textos.
A relevância da obra Language and Globalization (FAIRCLOUGH, 2006) reside na construção dessa nova
versão da ADC, por meio de investigação que deve contemplar a prática social e o texto em uma perspectiva
transdisciplinar, diferente da abordagem intertextual – uma vez que a transdisciplinaridade consiste em
buscar os métodos de análise de outra área para serem usados em outra, conforme já mencionado.
Na nova versão da ADC, Fairclough (2006) oferece o caminho a ser percorrido pelo pesquisador que
contempla a relação linguagem e globalização. Segundo Fairclough (2006), a análise deve iniciar pela
análise social e investigar os elementos da análise textual por meio dos três níveis de abstração que o
autor apresentou para a análise social, quais sejam:
• eventos sociais;
• práticas sociais;
• estruturas sociais.
1
No original, Clauses: types of exchange, speech functions and grammatical mood.
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O autor acrescenta, ainda, que cada um desses níveis apresenta um momento semiótico que está
dialeticamente relacionado a outros momentos. No sentido de apropriar-se da ideia proposta por
Fairclough, isso é relevante para a organização de pesquisa na perspectiva transdisciplinar da ADC.
Ormundo (2007) formulou o esquema a seguir para orientar a organização e o tratamento dos dados:
Análise Social
(Transdisciplinar)
Nível de abstração
Passaremos a explicar cada um desses níveis e seu momento semiótico, conforme consta em
Fairclough (2006).
• No nível do evento social, os textos são o elemento concreto que constitui o momento
semiótico desse nível. Segundo o autor, o texto resulta da relação dialética entre poder causal de
mais ou menos ordens do discurso estabilizadas e o seu maior nível de abstração é a linguagem.
Consiste também no poder causal dos agentes sociais para agir e produzir um “objeto” inovado
potencialmente (no caso, textos) com determinados recursos e com propósitos particulares.
• No nível da prática social, as ordens do discurso são o momento semiótico desse nível. As ordens
do discurso são constituídas como diferentes discursos, diferentes gêneros e diferentes estilos. Os
agentes sociais atraem (em lugar de simplesmente instanciar) ordens do discurso na produção de
textos, mas em caminhos potencialmente inovadores com resultados também potencialmente
inovadores. Os textos são interdiscursivamente híbridos na medida em que eles combinam modos
inovadores, sendo a produção inovadora de textos a fonte da variação nos discursos, nos gêneros
e nos estilos, produzindo novos discursos híbridos, gêneros e estilos, os quais podem, sob certas
condições, ser selecionados, retidos e incorporados a ordens do discurso. Dessa forma, mudanças
na ordem do discurso são mudanças do momento semiótico nas relações entre prática social,
instituição social e organização social.
• No nível das estruturas sociais, a linguagem constitui o momento semiótico desse nível. A
forma como as instituições e as organizações estabelecem códigos para a orientação dos agentes
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Análise de Discurso Crítica e Semiótica
no campo dá-se por meio da linguagem e é aqui que se aplicam os conceitos sobre campo,
habitus e ordem, os quais serão discutidos adiante no diálogo com a teoria de Pierre Bourdieu e
Loïc Wacquant (2005).
Neste tópico, continuamos fazendo uso dos conceitos de prática discursiva, social e textual propostas
por Fairclough desde o modelo tridimensional até a proposta transdisciplinar em construção. Com base
neles, discutimos como são tratados no contexto da globalização, conforme proposto em Fairclough
(2006).
• o autor concebe o discurso como um modo de ação sobre as coisas, sobre o mundo e sobre os
outros;
• o discurso é uma condição da estrutura social que, por seu turno, é um efeito da prática social,
em uma relação dialética.
Outro ponto relevante sobre a prática discursiva está relacionado ao que o autor associou aos
processos de produção, de distribuição e de consumo dos textos. Fairclough (1992, p. 101-107) diz que
a prática discursiva “[...] envolve processos de produção, distribuição e consumo textual, e a natureza
desses processos varia entre diferentes tipos de discurso de acordo com fatores sociais”. Por exemplo,
os textos são produzidos de formas particulares em contextos sociais específicos: um artigo de jornal
é produzido mediante rotinas complexas de natureza coletiva por um grupo cujos membros estão
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Unidade III
envolvidos variavelmente em seus diferentes estágios de produção – no acesso a fontes, tais como nas
reportagens das agências de notícia; na transformação dessas fontes (frequentemente, elas próprias já
são textos); na primeira versão de uma reportagem; na decisão sobre o local do jornal em que entra a
reportagem e na edição da reportagem.
Exemplos de Aplicação
Com base na rotina de produção de um artigo de jornal exposta, sugierimos que você reflita sobre
esse processo de produção, realizando uma pesquisa na internet ou conversando com um profissional
da área.
A prática discursiva, para Fairclough (1992), está diretamente vinculada à forma de produção, de
distribuição e de consumo de textos. A autora deste livro-texto acrescentou o exemplo do jornal porque
constituiu em uma das abordagens utilizadas na análise dos dados de sua pesquisa de doutorado.
As categorias analíticas que materializam essa perspectiva estão relacionadas ao contexto, à força
ilocucionária, à coerência, à intertextualidade e à interdiscursividade, apontadas em Fairclough (2003a).
Outra questão de destaque se refere ao fato de a análise dos processos de produção, de distribuição
e de consumo dos textos resultar da relação com a complexa rede de construção social dos sentidos,
uma vez que nem sempre tais processos se dão de forma individual. Isso demonstra formas particulares
de “processamento de textos” de acordo com a diversidade de práticas sociais, instituições etc.
Acrescente-se a isso a discussão em torno das denominadas cadeias de gêneros, categoria que,
segundo Fairclough (2003a, p. 31, tradução nossa)2,
Quanto ao consumo, a intertextualidade diz respeito aos outros textos que os intérpretes
variavelmente trazem ao processo de interpretação. Ainda há de se considerar, quanto à propriedade
2
No original: “These are different genres which are regularly linked together, involving systematic transformations
from genre to genre. Genre chains contribute to the possibility of actions which transcend differences in space and time,
linking together social events in different social practices, different countries, and different times, facilitating the enhanced
capacity for ‘action at a distance’ which has been taken to be a defining feature of contemporary ‘globalization’, and
therefore facilitating the exercise of power.”.
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Análise de Discurso Crítica e Semiótica
intertextual, não só as diversas vozes que se fazem presentes, mas também as que são “excluídas e que
ausências significantes há”, o que guarda relevância de ordem ideológica (Fairclough, 2003a, p. 47).
A relevância em se considerar esses processos reside no fato de que é necessário relacionar as diversas
formas de organização e de interpretação dos textos com os modos pelos quais eles são produzidos,
distribuídos e consumidos.
Em Fairclough (2003a), temos a inserção da prática discursiva como um dos momentos da prática
social. Esse propósito é confirmado e acrescido de um elemento semiótico.
Fairclough (1992, 2003a) concebe o discurso como um elemento ou um momento semiótico dos
processos dialéticos de mudança social, que nos conduz a analisar o discurso tanto por meio de sua
figuração dentro de tais processos como também por meio de suas relações com outros elementos e/ou
momentos, investigando quais são seus elementos discursivos ou não, constitutivos ou performativos
dos efeitos discursivos sob determinadas condições.
Ao tratar do discurso e dos momentos da globalização, Fairclough (2006) discute várias posições da
literatura acadêmica sobre globalização e discurso como um elemento ou momento da globalização. Ele
distingue quatro posições principais:
• objetivista;
• retórica;
• ideológica;
• construção social.
Para Fairclough (2006), o termo objetivista vem daquilo que Bourdieu e Wacquant (2005) utilizaram
ao adotar a globalização como processos objetivos simplificados no mundo real, do qual a ciência social
tem tratado em suas pesquisas; a retórica é vista como a representação da globalização e é usada para
legitimar as ações e as políticas com argumentos específicos; a ideologia implica níveis sistêmicos de
como os discursos contribuem para sustentar a dominância e a hegemonia de estratégias específicas,
de práticas e da luta social de quem as evoca e a quem as interessa servir; e a construção social está
associada ao posicionamento, ou seja, aos lugares que enfatizam as características da construção social,
da realidade social e o significado do discurso na construção social.
O autor discute que essas posições podem se distinguir por meio de cinco modos principais sobre a
relação de discurso e de outros elementos ou “momentos” da globalização, quais sejam:
• o discurso pode falsear e mistificar a globalização ao confundir e passar uma impressão enganosa
da globalização;
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Unidade III
• o discurso pode ser usado retoricamente para projetar uma visão particular da globalização que
pode justificar ou legitimar as ações, políticas ou estratégias particulares de agências sociais e
agentes;
• o discurso pode gerar representações imaginárias de como o mundo será ou deveria ser por meio
de estratégias de mudança que, se alcançarem a hegemonia, poderão ser operacionalizadas para
transformar o imaginário em realidade.
Esses efeitos do discurso podem, segundo o autor, vir separadamente ou combinados em textos
particulares.
A dimensão do discurso como prática social recebe um enfoque diferente em Chouliaraki e Fairclough
(1999) e em Fairclough (2003a), não se tratando mais da exata correspondência entre prática social e
discurso. Este passa a ser considerado um dos momentos da prática social, ao lado de outros momentos
igualmente constitutivos. Chouliaraki e Fairclough, (1999, p. 6, tradução nossa)3 propõe um viés dialético
do processo social do qual o discurso é um “momento” entre seis: discurso/linguagem; poder; relações
sociais; práticas materiais; instituições/rituais e convicções/valores/desejos.
Cada momento interioriza o outro – de forma que o discurso é uma forma de poder, um modo
de formação de convicções/valores/desejos, uma instituição, um modo de relação social, uma prática
material. Reciprocamente, poder, relações sociais, práticas materiais, instituições, convicções etc. são em
parte discurso. A heterogeneidade em cada momento – incluindo o discurso – reflete sua determinação
simultânea para todos os outros momentos.
Para os autores, as práticas sociais são compostas por: momentos de poder, relações sociais, práticas
materiais, crenças, valores e desejos, instituições sociais e pelo discurso. Chouliaraki e Fairclough (1999,
p. 21)4 definem que toda prática está vinculada à vida social e entendem as práticas como sendo “as
maneiras habituais, em tempos e espaços particulares, pelas quais pessoas aplicam recursos – materiais
ou simbólicos – para agirem, conjuntamente, no mundo”.
3
No original: “[…] a dialectical view of the social process in which discourse is one ‘moment’ among six: discourse/
language; power; social relations; material practices; institutions/rituals; and beliefs/values/desires. Each moment
internalizes all of the others – so that discourse is a form of power, a mode of formation of beliefs/values/desires, na
institution, a mode of social relating, a material practice. Conversely, power, social relations, material practices, institutions,
beliefs, etc. are in part discourse. The heterogeneity within each moment – including discourse – reflects its simultaneous
determination (‘overdetermination’) by all of the other moments”.
4
No original: “[…] habitualised ways, tied to particular times and places, in which people apply resources (material
or symbolic) to act together in the world.”.
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Análise de Discurso Crítica e Semiótica
Além de definirem as práticas sociais, Chouliaraki e Fairclough (1999), baseados nos pressupostos do
realismo crítico, propõem os momentos constituintes de uma prática social:
• o discurso (semiose);
• a atividade material;
• as relações sociais e os processos (instituições, relações de poder);
• o fenômeno mental (sistemas de crenças, desejos, valores, ideologia).
Observação
Para os autores, as práticas sociais constituem-se por meio de uma relação dialética em seus diversos
momentos, que deverão ser considerados nas análises feitas no âmbito da ADC. O discurso, nessa
orientação, influencia e é influenciado pelas demais práticas, que se relacionam de forma articulada
e são internalizadas de maneira dialética. Será discursivo um momento de determinada prática social,
configurado por gêneros (modos de agir), discursos (modos de representar) e estilos (modos de ser),
conforme Fairclough (2003a).
Em Fairclough (1992, p. 94), a prática social é caracterizada como tendo “várias orientações –
econômica, política, cultural, ideológica – e o discurso está implicado em todas elas, sem que possam
ser reduzidas a qualquer uma dessas orientações do discurso”. O autor (1992, p. 117) acrescenta que a
noção de discurso como um dos momentos que formam as práticas sociais está voltado para as noções
de ideologia e de hegemonia, ambas tratadas pela abordagem da ADC sob a ótica das relações de poder.
• ela se materializa nas práticas institucionais e, nessas práticas, obtêm-se os materiais para
pesquisar a ideologia;
• ela está ligada à constituição dos sujeitos;
• ela faz parte dos aparelhos ideológicos de estado, como locais e marcas delimitadoras da luta de
classe, referindo-se à Teoria de Althusser.
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Unidade III
A noção de ideologia ocupa, assim, lugar privilegiado nos estudos da linguagem em ADC, que tem
interesse particular pela relação entre linguagem e poder, como já apontado em Wodak (2004), ao
dizer que a linguagem não é poderosa em si mesma – ela adquire poder pelo uso que os agentes que
detêm poder fazem dela. Esse ponto é importante para a compreensão da reconfiguração da linguagem
conforme os dados que foram analisados neste trabalho.
A autora acrescenta ainda que o poder envolve relações de diferença, particularmente os efeitos
dessas diferenças nas estruturas sociais. A unidade permanente entre a linguagem e outras questões
sociais garante que a linguagem esteja entrelaçada com o poder social de várias maneiras: a linguagem
classifica o poder, expressa o poder e está presente onde há disputa e desafio ao poder. Ele não surge da
linguagem, mas esta pode ser usada para desafiá-lo, subvertê-lo e alterar sua distribuição em curto e
longo prazo. A linguagem constitui um meio articulado com precisão para construir diferenças de poder
nas estruturas sociais hierárquicas (WODAK, 2004).
Saiba mais
A seguir, será feita uma revisão bibliográfica dos autores que tratam das questões de linguagem e
poder conforme apresentado em Ormundo (2007) sobre a reconfiguração da linguagem na globalização.
A relação entre linguagem e poder que Wodak (2004) reitera consiste em um dos elementos
fundamentais para compreender a reconfiguração da linguagem no ambiente on-line, conforme tratado
em Ormundo (2007), uma vez que ADC se interessa em verificar como as formas linguísticas são usadas
em várias expressões e manipulações de poder (WODAK, 2004). A autora acrescenta ainda que o poder
é sinalizado não somente pelas formas gramaticais presentes em um texto, mas também pelo controle
que uma pessoa exerce sobre uma ocasião social por meio do gênero textual. O gênero constitui-se
como o espaço em que, associado a “certas ocasiões sociais”, o poder é exercido ou desafiado (WODAK,
2004).
Para Fairclough (1992), não se deve privilegiar o caráter estável das inserções ideológicas. Antes,
deve-se pautar o olhar crítico para o projeto maior, o de transformação, uma vez que sua grande
contribuição está justamente no entendimento de que a mudança social também é possível por meio
da mudança discursiva.
66
Análise de Discurso Crítica e Semiótica
Embora, às vezes, não seja possível estabelecer localizações tão pontuais (espaciais) da sua
materialidade, o estudo da ideologia nos textos pode ser feito por meio da análise das pressuposições, das
metáforas, da coerência, do estabelecimento das tomadas de turno, da polidez, enfim, da constituição
final dos sentidos do texto. Essas pressuposições foram sistematizadas em Fairclough (2003), com base
em categorias analíticas.
Como o interesse da autora deste livro-texto nos trabalhos da ADC consiste na investigação da
linguagem, ela conduziu a leitura atentando-se à relação entre linguagem e poder. O estudo dessa
abordagem analítica nos coloca diante de uma das preocupações centrais da ADC, que é a investigação
das questões de poder, a partir de suas relações, sua estruturação e transformação, na forma como a
informação é circulada por meio da linguagem on-line. O poder é classificado por Harvey (1996) como
um dos momentos da prática social, ao lado, entre outros, do discurso.
Hegemonia é tanto liderança quanto dominação, nos âmbitos econômico, político, cultural
e ideológico de uma sociedade. É o poder sobre a sociedade como um todo de uma das classes
economicamente definidas como fundamentais em aliança com outras forças sociais, mas nunca
atingido senão parcial e temporariamente, como um “equilíbrio instável”. Hegemonia é ainda
um foco de constante luta sobre pontos de maior instabilidade entre classes e blocos para
construir, manter ou romper alianças e relações de dominação/subordinação, que assume formas
econômicas, políticas e ideológicas. A luta hegemônica localiza-se em uma frente ampla, que
inclui as instituições da sociedade civil (educação, sindicatos, família), com possível desigualdade
entre diferentes níveis e domínios. (FAIRCLOUGH, 1992).
Segundo Fairclough (1992, 1995), uma ordem de discurso, termo usado conforme o arcabouço
teórico de Focault, pode ser o aspecto discursivo do equilíbrio contraditório e instável que constitui
uma hegemonia. O linguista acrescenta ainda que a articulação e a rearticulação de ordens de discurso
são, consequentemente, um marco delimitador da luta hegemônica. Fairclough (1992, 2003) considera
que as diversas articulações e rearticulações das ordens do discurso podem ser consideradas aspectos
discursivos da luta hegemônica. Nesse sentido, os processos de produção, de distribuição e de consumo
textuais são elementos dessa mesma luta, já que podem auxiliar nas transformações das ordens de
discurso e, consequentemente, nas relações sociais baseadas nas distribuições díspares de poder. A
compreensão desse fato possibilita visualizar o movimento da prática discursiva imbricando-se na
prática social, conforme já apontado aqui.
Retomando a questão de poder, Ormundo (2007) parte do conceito de que a investigação central
da reconfiguração da linguagem deve ser explicada na relação entre linguagem e globalização e pelas
questões de poder que são constituídas nos eventos sociais por meio de seu elemento concreto – o
texto.
67
Unidade III
É importante verificar como o poder foi tratado na ADC por meio de outras teorias sociais. Na ADC,
podemos ver em Chouliaraki e Fairclough (1999) a forma como os autores tratam da questão de poder.
Para eles, as relações “internas” de poder são efeitos das relações “externas” de poder dentro de redes
de práticas.
Isso faz entender que toda prática social está encravada em redes de relações de poder e
potencialmente subordina os sujeitos sociais que estão comprometidos, exatamente aqueles com
poder “interno”. Os autores complementam a visão do poder moderno como invisível, autorregulador
e, inevitavelmente, assujeitado à visão de poder como dominação, uma visão de poder em que há
determinação excessiva entre práticas “internas” e “externas”, e estabelecem elos causais entre as
práticas sociais institucionais e as posições dos sujeitos no campo social.
Para Thompson (1998, p. 199), o poder está diretamente ligado ao poder que o agente possui dentro
do campo ou de uma determinada instituição. O autor acrescenta ainda que a definição de poder
pode se dar como um fenômeno social, característico dos diferentes modos de ação para alcançar
determinados objetivos e intervir no rumo dos acontecimentos e em suas consequências. Para efetivar o
poder, os agentes empregam os recursos que são colocados à disposição pelo meio que possibilitam aos
agentes atingir os objetivos pretendidos.
Essa relação é respaldada em Fairclough, quando o autor discute as relações de interação. Ele afirma
(FAIRCLOUGH, 2003, p. 41) que o poder, no seu aspecto geral, está ligado “à capacidade transformadora
ação humana” e, também, à capacidade de intervir nos eventos e de transformar o curso. Segundo o
autor, isso está ligado aos recursos ou às facilidades disponíveis entre os atores sociais, também disponível
nas diferentes escalas e, diferentemente, avaliado pelos atores sociais. Retornando a Thompson (1998),
68
Análise de Discurso Crítica e Semiótica
o autor diz que, quanto mais recursos se têm, maior é o seu poder, e explica ainda que há recursos
individuais ou acumulados dentro das organizações institucionais.
• Poder econômico: é originado da atividade humana produtiva ao fazer uso de recursos materiais
e financeiros. Quanto mais esses recursos forem acumulados pelos indivíduos e pelas organizações,
mais aumentará o seu poder. O poder econômico tem como instituições paradigmáticas, por
exemplo, as empresas comerciais.
• Poder político: tem origem na atividade que se refere à coordenação dos agentes e à
regulamentação dos padrões de interação entre os agentes. As instituições paradigmáticas do
poder político são o Estado e as instituições paraestatais. O principal recurso dessa forma de poder
é a autoridade.
• Poder coercitivo: é originado no uso da ameaça por meio da força física ou de outros tipos de
uso da força, ou mesmo de outros tipos de represálias. Exemplos de instituições paradigmáticas
são as militares e as policiais.
Saiba mais
Thompson (1998) discorre sobre as formas simbólicas como sendo um amplo espectro de ações e
falas, imagens e textos, que são produzidos por sujeitos e reconhecidos por eles e outros como construtos
significativos. Para o autor, falas linguísticas e expressões, sejam elas faladas ou escritas, são cruciais a
esse respeito.
Para a investigação que será feita neste livro-texto, interessa o que foi definido como poder simbólico
(THOMPSON, 1998, p. 24), que consiste na capacidade de intervir no curso dos acontecimentos, de
influenciar as ações e as crenças de outros e também de criar acontecimentos pela produção e pela
transmissão de formas simbólicas por meio de vários tipos de recursos, que seriam os meios de informação
e de comunicação.
69
Unidade III
Esse ponto foi muito bem explorado no modelo de análise apresentado em Ormundo (2007), uma
vez que a importância do capital pessoal, a “notoriedade” e a “popularidade” – o ser conhecido e
reconhecido na sua pessoa (de ter um “nome”, uma “reputação” etc.) e o fato de possuir certo número de
qualificações específicas, que são a condição da aquisição e da conservação de uma “boa reputação”, é
frequentemente produto da reconversão de um capital de notoriedade acumulada em outros domínios
e, em particular, em profissões (BOURDIEU, 2003b, p. 191), sendo manifestado nos elementos textuais
que circulam no campo jornalístico.
Fairclough (1992) estabelece que o texto está vinculado ao evento discursivo. Nesse momento, as
categorias de análise para tratá-lo estão voltadas ao vocabulário, à gramática, à coesão e à estrutura
textual, conforme apontado no quadro a seguir:
70
Análise de Discurso Crítica e Semiótica
Quanto ao vocabulário, o autor propõe uma abordagem por meio da intensa rede de realizações
em que ele se apresenta, pelos diferentes domínios, instituições, práticas, valores e perspectivas. Daí a
importância dos processos de relexicalização, que correspondem aos diversos usos do léxico para uma
abordagem de significância política e ideológica. A gramática está ligada à forma como as palavras são
combinadas em orações e frases; a coesão trata da ligação entre as orações e frases por meio de vários
procedimentos que estão associados à repetição de palavras, ao uso de sinônimos, aos mecanismos
de referenciação e de substituição; já a estrutura textual está vinculada à arquitetura dos textos e aos
seus modos de organização superiores – por exemplo, a maneira e a ordem em que os elementos são
combinados para constituir uma determinada notícia.
O avanço dessa abordagem dá-se em Fairclough (2003a), quando o autor apresenta uma proposta
de análise textual pela distinção entre relações externas e internas de textos. Para o autor, a análise
das relações externas de textos é a análise de suas relações com outros elementos de eventos sociais,
práticas sociais e estruturas sociais, por meio de suas ações, identificações e representações. A análise
das relações internas é a análise dos elementos linguísticos e semióticos do texto.
Observação
Dadas as categorias analíticas da ADC, é relevante destacar o que o autor desenvolveu sobre análise
interna dos textos. Trata-se das relações de trocas, em relação às quais Fairclough (2003a) focaliza dois
tipos primários de troca no diálogo. São eles:
• troca de atividades, que focaliza a ação das pessoas ao realizar e/ou a solicitar que outros
realizem determinada ação. A esse propósito, o autor acrescenta as funções da fala que estão
relacionadas aos “atos de fala”, cuja intenção é investigar as formas afirmativas, as perguntas, as
71
Unidade III
demandas, as ofertas. Por último, o autor refere-se à disposição gramatical pela verificação das
realizações dos significados nas sentenças declarativas, interrogativas e imperativas.
Fairclough (2003a) desenvolve uma série de exemplos de como trabalhar essas categorias por meio
dos diálogos conversacionais, mas o autor faz uma ressalva importante ao dizer que a análise de textos,
com base nos diferentes tipos de troca, das funções da fala e da disposição gramatical, é aplicada a
qualquer tipo de texto, pois considera que todos os textos são orientados a dialogar em sentido amplo.
Além do que já foi exposto sobre os tipos de troca e da disposição gramatical, acrescentamos outro
tópico relevante para a análise interna do texto, que consiste de outra categoria importante para ser
reconhecida nesse modelo de análise. Trata-se da argumentação.
• confrontação;
• abertura;
• argumentação.
Para os dois primeiros estágios, a autora os dividiu em objetivos dialéticos e retóricos e, para o
último, somente em objetivo dialético. Vejamos:
Segundo Fairclough (2003a, 2006), o estudo da argumentação, ao longo das linhas da pragmática
dialética, pode oferecer à ADC valioso critério a respeito do modo pelo qual os atores sociais
72
Análise de Discurso Crítica e Semiótica
perseguem e produzem a mudança social. O autor acrescenta ainda que a ADC está interessada
em investigar o modo como os textos (elementos dos eventos sociais) atraem discursos, gêneros e
estilos e os recombinam em modos originais, ou seja, com a maneira pela qual o que é realmente
dito (por ser atraído por um certo discurso) pode obscurecer perspectivas alternativas (discursos
alternativos) de um assunto dado ou no modo como a hibridade interdiscursiva revela tensões e
contradições entre discursos recontextualizados e realidades específicas.
Em Fairclough (2003a), a ADC está também interessada nas escolhas dos elementos semióticos
que são apresentados nas produções e nas recepções de textos e nas suas formas de interações,
além de investigar o modo (estilo) como as escolhas são combinadas nos gêneros para atingir
determinados objetivos e consolidar o propósito da argumentação. O interesse pelo estilo está
relacionado pela maneira particular pela qual os produtores de texto falam ou escrevem sobre
determinado assunto.
O autor sugere que tal interesse pode ser observado em termos do conceito de artifícios estratégicos
em relação às escolhas que os argumentadores fazem – por exemplo, a quais tópicos recorrer ou
abandonar, como melhor se adaptar à demanda da audiência e como fazer uma apresentação
efetivamente satisfatória da posição que pretende defender.
Fairclough (2006) reforça o papel da análise textual como uma contribuição importante que a
ADC pode fornecer para a pesquisa social sobre globalização ou qualquer outro aspecto da mudança
social.
O autor analisou vários textos no decorrer do livro e, para o leitor que pretende investigar essa
relação, ele sugere que se busquem as categorias analíticas listadas na obra Analysing Discourse: Textual
Analysis for Social Research (2003a). Além disso, em Language and Globalization (2006), ele apresenta
uma lista com uma série de categorias analíticas. Fairclough (2006, p. 168-169) as dividiu em dois
grupos:
73
Unidade III
Fairclough (2006) apresenta uma nova versão da ADC que fornece a orientação central para a
pesquisa que investiga a relação entre linguagem e globalização.
A proposta do autor consiste no fato de que esse tipo de pesquisa deve ser orientada por uma
abordagem transdisciplinar que considere a economia política cultural, a multissemiótica e a Teoria
Social de Bourdieu e Wacquant (2005). Para materializar tal proposta, o autor diz que ela deve
contemplar a análise social e os três níveis de abstração que a compõe: os eventos sociais, as práticas
sociais e as estruturas sociais e seus respectivos momentos semióticos, sendo que o texto é o momento
mais concreto e a linguagem o mais abstrato. Sistematizaremos neste tópico a proposta do autor na
abordagem dos gêneros, discursos e estilos, na multissemiótica e na modalização.
Note-se que aqui já não há mais a divisão como apresentada no quadro tridimensional (FAIRCLOUGH,
1992) e nem a relação bidimensional de Fairclough (2003a). A proposta atual é por um único caminho
– a análise social – e todas as outras abordagens (discursiva, textual e social) estão incluídas nessa
proposta transdisciplinar.
Exemplos de Aplicação
Sugerimos que você reveja o percurso teórico apresentado e anote os pontos principais da teoria.
Faremos, neste tópico, uma síntese de como os gêneros, discursos e estilos foram abordados por
alguns teóricos, segundo os quais esses elementos podem ser retratados na análise do discurso.
Os gêneros do discurso
A abordagem de Bakhtin (1997) sobre gênero tem um ingrediente social no ato da enunciação,
pois um ato enunciativo precede e sucede outro ato enunciativo marcado e refletido no ambiente
social em que a atividade humana se desenvolve. Dada a natureza dialógica e interativa da atividade
humana, o gênero deve ser compreendido pela análise dos elementos semióticos do ambiente social.
Nesse sentido, os gêneros existentes mudam conforme as modificações determinadas por situações
sociais no ambiente em que exercem uma função, ou novos gêneros surgem de transformações dos
gêneros já existentes.
Isso é apresentado em Fairclough (2003a), quando o autor aponta que as mudanças nos gêneros são
decorrentes do modo como diferentes deles são combinados e também na forma como novos gêneros
aparecem por meio da combinação de outros já existentes.
74
Análise de Discurso Crítica e Semiótica
Outro autor que aborda a questão dos gêneros e apresenta questões relevantes a essa pesquisa é
Bazerman (2005). Para ele, os gêneros são fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas
podem realizar e sobre os modos como elas os realizam. Gêneros emergem nos processos sociais em
que pessoas tentam compreender umas às outras suficientemente bem para coordenar atividades e
compartilhar significados com vistas a seus propósitos práticos.
Em suma, o autor propõe um interessante enquadramento genérico das atividades sociais ao fazer
uso de conceitos que, mesmo sobrepostos, revelam aspectos configuradores diferenciados.
Tem-se o conjunto de gêneros, que vem a ser a série de textos demandados por um papel social,
o que leva à identificação da natureza do trabalho desempenhado por um indivíduo, bem como as
habilidades requeridas para construção dos próprios gêneros. O sistema de gêneros, por sua vez, reúne
conjuntos de gêneros empregados por indivíduos de uma mesma organização e também os processos
padronizados de construção. O sistema de atividades diz respeito à ação dos indivíduos, organizada
de modo estruturado e mediada pelos gêneros (em maior ou menor grau, sejam eles orais ou escritos).
Fairclough (2003a) dedica em sua obra um espaço para a apresentação dos gêneros discursivos, que
ele denomina como gênero e estrutura genérica. A intenção do autor é analisar os gêneros com base
em assuntos relacionados às pesquisas sociais na globalização. Entre os fatores apontados, temos:
• a discussão da ideologia;
• as novas narrativas.
Na obra Language and Globalization (Fairclough, 2006), a abordagem do gênero para a investigação
da relação entre linguagem e globalização é delimitada na investigação do conceito denominado
reestrutura e reescala do capitalismo.
Para o autor, essa reestruturação tem um ingrediente semiótico que instaura uma nova ordem do
discurso e novas relações entre gêneros, discurso e estilo, além do fato de que a transformação do
capitalismo apresenta um sentido semiótico baseado na economia do conhecimento, da sociedade do
conhecimento e da informação que envolve o movimento dos discursos.
75
Unidade III
Para exemplificar essa movimentação, Fairclough (2006) cita como exemplo os discursos da
nova gerência pública e da gerência de qualidade, por meio dos limites estruturais e escalares e da
operacionalização das novas maneiras de agir e de interagir, o que inclui os novos gêneros.
A reestrutura também está ligada à forma como os gêneros da comunicação dos websites se
reescalam para uma aldeia global e conseguem ser reconhecidos pelos seus formatos.
Dessa discussão é que apresentamos proposta de análise por meio dos locais por onde a informação
circula na internet como pertencentes a gêneros de comunicação dos websites.
Os elementos que se constituem na abordagem de gênero são apresentados por Fairclough (2006)
como:
• cadeia de gêneros, discurso nodal e outros discursos que aparecem ao redor deles;
Outra questão apontada por Fairclough (2003a) refere-se à reestruturação de relações entre as
diferentes formas de comunicação associadas às diferentes tecnologias, reestruturação essa que traduz
a dinamicidade dos novos gêneros no contexto do novo capitalismo.
O autor acrescenta que a análise de gênero contribui para pesquisas que visam a relacionar mudança
tecnológica, mediação, mudança econômica e amplas mudanças sociais.
A análise do gênero também contribui para as pesquisas que verificam como a integração das novas
tecnologias influencia os processos econômicos, políticos, sociais e culturais, perceptíveis nos novos
gêneros e nas cadeias de gêneros que se formam na “sociedade da informação”. Com isso, reconfigura
práticas sociais de linguagem na vida cotidiana e nas formas como as organizações vão moldando suas
relações e seus negócios, ou seja, reconfigura as estruturas sociais.
Após essa breve introdução sobre a contribuição do estudo dos gêneros na análise social, Fairclough
(2003a) apresenta as categorias analíticas para os gêneros como:
• pré-gênero;
• gêneros situados;
• gêneros desencaixados.
76
Análise de Discurso Crítica e Semiótica
Segundo o autor, os pré-gêneros são categorias mais abstratas que entram na composição de
diversos gêneros situados, como o caso da narrativa, da descrição, da conversação e da argumentação.
Os gêneros situados são realizações mais concretas, presentes, conforme Chouliaraki e Fairclough
(1999), na performance de uma prática social particular, como é o caso do artigo acadêmico.
Os gêneros desencaixados são aqueles desenvolvidos em determinadas áreas da vida social e que
são “desencaixados e transformados em um tipo de tecnologia social que pode ser usada em diferentes
áreas e em diferentes níveis da vida social” (FAIRCLOUGH, 2003a, p. 69). Já a estrutura genérica consiste
na organização do texto no gênero.
A análise da estrutura genérica será orientada com base no modelo apresentado por Fairclough
(2003a, p. 216) para a compreensão da notícia. O autor resume as estruturas genéricas da notícia nos
seguintes tópicos: TÍTULO + parágrafo (abre a história) + seguidores (outros parágrafos) + resumo do
noticiário.
O título dá o resumo da história. Entretanto, nem sempre as notícias são apresentadas com essa
estrutura fixa. Fairclough (2003a) discorre que, no ambiente dos websites, não se deve esperar uma
organização clara da estrutura genérica, devido ao avanço das novas tecnologias e das características
próprias do novo capitalismo. Logo, deve-se compreender que nesse ambiente há uma instabilidade,
uma flexibilidade que é orientada pela compreensão do controle social, estabilização e ritualização.
Apresentaremos neste tópico as definições de gêneros conforme Fairclough (2003a, 2006), finalizando
com a definição de intertextualidade.
Mudança de gêneros
Gêneros de governança
Os gêneros de governança têm ampla propriedade de ligar diferentes escalas, conectando o local
e o particular (nacional, regional, global). Eles são importantes não apenas para sustentar as relações
estruturais entre, por exemplo, o mundo acadêmico e o mundo dos negócios, mas também para escalonar
relações entre o local, o nacional, o regional (exemplo: União Europeia) e o global. Também dependem
da capacidade transformadora da ação humana, da capacidade de intervir nos eventos e alterar o seu
curso, dos recursos ou facilidades disponíveis aos atores sociais e do poder no sentido de relacionar a
77
Unidade III
capacidade de assegurar determinados resultados, sendo que a realização destes depende da ação dos
outros, estando disponíveis em diferentes escalas e atores sociais.
Gêneros promocionais
Gêneros promocionais são aqueles que têm o propósito de “vender” produtos, marcas, organizações
ou indivíduos.
Intertextualidade
Categoria que diz respeito a como textos “externos” e vozes estão incluídos em um texto e quais são
excluídos, bem como à inclusão dos textos em determinados lugares, se eles se referem a algo e como
fazem essa referência.
Assim, no caso de fala, escrita ou pensamento relatado, há que se considerar tanto a relação entre o
relatado e o original (o evento que é relatado) quanto a relação entre o relato e o resto do texto no qual
ele ocorre, ou seja, como o relato configura-se no texto.
6.4 O discurso
Fairclough (2006) argumenta que há diversas estratégias para associar a globalização a seus
diversos discursos. Para Fairclough (2006), a seleção dessas estratégias e discursos é o resultado de lutas
hegemônicas que acontecem em diferentes escalas – na escala global, na macrorregional, na nacional,
na local e na escala de organizações e instituições específicas.
Outra questão colocada pelo autor refere-se à forma como o discurso particular se orienta de acordo
com as condições em que são selecionados e as diferentes escalas em que são apresentados, retidos,
institucionalizados e operacionalizados como mudanças na forma de atividades, interações, práticas,
instituições, identidades etc., além das mudanças no mundo físico, que atribuímos à forma como as
estruturas sociais vão se (re)organizando.
Analisando o momento semiótico, para mudar as relações entre escalas é necessária a construção
de uma nova ordem semiótica que articula ordens do discurso de diferentes escalas em uma relação
particular com outras escalas.
Reforçamos que o discurso deve ser enfocado na prática social, levando-se em conta formas
institucionais, organizacionais e governamentais, bem como as estratégias, as ordens do discurso, os
gêneros e os estilos nos quais são institucionalizados e operacionalizados.
A recontextualização constitui, em termos gerais, a forma como um evento social é representado nas
diversas áreas do conhecimento, nas cadeias de práticas sociais e nos gêneros. Nesse processo complexo,
alguns elementos dos eventos sociais se perdem, outros são acrescidos, outros transformados no seio
de práticas discursivas, que, por sua vez, irão legitimá-los, avaliá-los e explicá-los, ou não. Quanto às
categorias da recontextualização, elas são apresentadas em Fairclough (2003a) de acordo com a análise
dos seguintes aspectos:
• presença: diz respeito aos elementos que são mantidos ou retirados e o tratamento dado a eles;
• abstração: diz respeito ao grau de abstração e de generalização dos eventos concretos;
• ordenamento dos eventos;
• acréscimos: diz respeito ao material que é acrescido aos eventos, tais como explicações,
legitimações, razões, causas, intenções e avaliações.
O caso particular da presença dos eventos guarda estreita relação com os fatores da intertextualidade,
uma vez que ela é constituída não somente pela presença de outros elementos no texto, mas também
pela questão que envolve as ausências significativas de um texto, o que se dá conforme intentos
ideológicos.
6.5 O estilo
Van Leeuwen (2005) recorre à definição de estilo como sendo o modo de fazer algo. Segundo o
autor, o discurso constitui o modo de expressar o gênero, a coisa feita, e o estilo, o modo de fazer.
Para o autor, a semiótica social concentrou-se mais no discurso e no gênero do que no estilo. No
entanto, como o estilo de vida começou a reconfigurar a classe social, a pesquisa sobre estilo tornou-se
importante na sociedade contemporânea.
79
Unidade III
Para Van Leeuwen, as questões de classe social e de profissão não são mais os elementos que
constroem a identidade, mas o relevante é aquilo que a pessoa consome, ou seja, a própria informação.
O semioticista diz que, como o estilo de vida reconfigurou a classe social, nas ações de consumo,
a informação também passou a ser um bem de consumo. Ele busca atualizar a abordagem de estilo
da semiótica social com base na iniciativa de Fairclough (2003b), que aplicou os conceitos tanto de
gênero e discurso como de estilo para a análise da linguagem do novo capitalismo. Van Leeuwen (2005)
apresenta seis tipos de estilos, enunciados a seguir.
• Estilo individual: enfatiza diferenças individuais, apesar do fato de que tudo que é falado, escrito
e feito é, de alguma forma, regulado socialmente, isto é, há lugar para diferenças sociais na forma
de fazer as coisas. O estilo tem significado importante ao expressar sentimentos e atitudes em
relação ao que é dito, pois isso expressa a personalidade de quem diz.
• Estilo social: consiste na determinação social do estilo e expressa a posição social do agente
fornecendo informações de “quem somos” como padrões de classe, gênero, idade e relações
sociais, bem como informações sobre “o que fazemos”, ao falar das atividades sociais reguladas
e os papéis que são representados. O estilo social é externamente motivado e determinado por
fatores sociais que estão fora do nosso controle. A ideia do indivíduo não desaparece, mas a sua
importância diminui nessa abordagem.
• Estilo de vida: combina o estilo individual e o estilo social. Por outro lado, ele é social, um estilo
do grupo, mesmo se os membros desse grupo estiverem geograficamente separados, dispersos em
cidades do mundo. Tais grupos se caracterizam não pelo estabelecimento de posições sociais, como
classe, gênero e idade ou por profissões, mas por compartilhar comportamentos de consumo,
(gostos compartilhados), atividades de lazer (por exemplo, interesse por esportes similares ou
mesmos destinos turísticos) ou determinados tipos de atitude (por exemplo, relativas ao meio
ambiente ou à defesa de direitos).
• Estilo linguístico: baseia-se no princípio do estilo de vida que, segundo Van Leeuwen (2005),
traduz o estilo social e individual.
• Estilo de textos publicitários: desenvolveu-se não apenas para vender produtos e serviços, mas
também para modelar identidades e valores da sociedade de consumo. Foi a primeira variedade
da linguagem corporativa e teve um papel importante naquilo que Fairclough (1992, 1996)
denomina marketização do discurso. Agora que a sociedade de consumo está existindo por si
mesma, o mesmo acontece com o estilo do texto publicitário. Ele está se espalhando rapidamente
e se infiltrando em outros gêneros.
No decorrer da nossa abordagem, teremos o diálogo com outros autores e outras perspectivas
teóricas que dialogam com a constituição da perspectiva teórica tida aqui como base inicial.
Portanto, o leitor deve considerar que para essa abordagem a linguagem está vinculada ao social e,
conforme aponta Fairclough (2006), o caminho para investigá-la é por meio da transdisciplinaridade.
A relação da linguagem e prática social é construída nos trabalhos de Fairclough até se concretizar
na proposta atual de relacionar a linguagem e a globalização como um tópico da pesquisa social
(FAIRCLOUGH, 2003a, 2003b, 2006).
A abordagem sobre linguagem e suas relações de poder foi apresentada, respectivamente, por
Fairclough em Language and Power (1989) e em Critical Discourse Analysis (1995). O foco dessa
investigação é centrado na ligação que há entre linguagem em uso e relações desiguais de poder,
com o propósito de desvelar como o exercício de poder na sociedade é instaurado na análise da
linguagem e no diálogo com teóricos sociais que privilegiaram a questão da linguagem nas suas
teorias, especialmente Pierre Bourdieu e Jürgen Habermas. Além disso, há a proposta de abordar a
linguagem em uma perspectiva interdisciplinar e da articulação do quadro tridimensional para o
estudo do discurso.
Em Fairclough (1996), a relação da linguagem com questões ligadas à economia foi apresentada na
primeira conferência internacional sobre ADC, realizada na Universidade de Lisboa. Ele considera que as
mudanças dos processos sociais são mediadas linguisticamente. Assim, ele aproxima a pesquisa em ADC
às transformações econômicas, sociais, políticas e culturais da vida contemporânea.
Outro ponto relevante desse encontro foi a ideia defendida por Fairclough de que, na Teoria Social,
a forma linguística tem de ser compreendida pela mudança na linguagem, uma vez que os aspectos da
vida social estão centrados na linguagem.
81
Unidade III
Esse modelo de sociedade transforma as relações entre linguagem e economia, além de possibilitar
o surgimento de novos domínios das práticas discursivas do mercado. Dessa forma, a linguagem
passa por céleres mudanças ao ser econômica e linguisticamente interpenetrada, e devido ao fato de
as mercadorias apresentarem cada vez mais aspectos culturais e semióticos. A mercadoria linguística
inclui os produtos da cultura industrial e passam a representar um instrumento importante nas relações
sociais, econômicas e culturais que se estabeleceram na era da globalização.
Um exemplo de como esse processo ocorre é demonstrado por Fairclough (1996) por meio do
design. As funções e os aspectos estéticos próprios do design, tais como a produção de programas
de entrevistas, de propagandas e de notícias de TV, têm como meta persuadir e atrair o consumidor.
Fairclough estabelece que o design estético da linguagem como mercadoria tem uma característica
multissemiótica, principalmente em textos contemporâneos que permitem atribuir o conceito de
linguagem mercadológica, e que ele se vincula a uma abordagem transdisciplinar ao contemplar os
aspectos de uma economia política cultural. O linguista entende que o discurso é o novo caminho para
perceber e pesquisar a linguagem como uma forma de prática social e essa relação se constitui no
decorrer de seus trabalhos.
Em Fairclough (1992), o termo discurso está associado ao uso da linguagem falada ou escrita e com
indícios de inclusão dos elementos semióticos. Ao referir-se ao uso da linguagem como discurso, o autor
sinaliza o seu desejo de investigá-lo por um método informado social e teoricamente, como forma de
prática social. Percebe-se, com isso, que a linguagem está vinculada à prática social e, portanto, deve
ser investigada como modo de ação e de representação. Assim, a pesquisa crítica sobre o discurso é o
caminho de ação para realizar tal investigação.
Fairclough (2000) discute o poder da linguagem no jogo de interesses, que envolve as relações entre
os agentes nas práticas sociais por meio da ADC do novo trabalhismo britânico. O autor refere-se ao
fato de que eventos e personalidades políticas passam à condição de produtos e a linguagem utilizada
nessa prática social molda-se para satisfazer a necessidade discursiva de uma economia neoliberal, bem
caracterizada pelo contexto do novo trabalhismo retratado nessa obra.
Nesse contexto, ele aponta como fundamental o papel da linguagem como parte da prática social.
Para exemplificar a importância da linguagem, o autor utiliza o cenário político-governamental do novo
trabalhismo em que a linguagem é incrementada por aspectos multimodais por meio da imagem e da
postura de Tony Blair, então primeiro-ministro britânico.
Fairclough (2006) apresenta uma discussão sobre a reestrutura e a reescala do capitalismo que
trarão um ingrediente semiótico que instaura uma nova ordem do discurso e novas relações entre
gêneros, discurso e estilo para a análise da linguagem.
82
Análise de Discurso Crítica e Semiótica
Fairclough (2003b, 2006) declara, ainda, que a pesquisa social contemporânea tem de
contemplar as mudanças da globalização. O autor entende que o estudo de aspectos da linguagem
na globalização tornou-se uma área de pesquisa significativa para os analistas de discurso
crítico e sugere que a linguagem pode ter um papel significativo nas mudanças socioeconômicas
contemporâneas.
Saiba mais
A discussão sobre o assunto pode ser feita por meio do site a seguir:
<http://www.cddc.vt.edu/>
Segundo Fairclough (2003b, 2006), a ADC traz contribuições importantes na pesquisa das
transformações do capitalismo. Ele acrescenta que pesquisadores sociais deram relevância a isso,
conforme ocorreu no trabalho de Bourdieu e Wacquant (2005), os quais buscaram caracterizar
determinados termos linguísticos usados no contexto da globalização, exatamente na relação de poder
e de reivindicação com base em uma orientação discursiva.
Para o linguista, a análise de Bourdieu e Wacquant (2005) dá a indicação de que a pesquisa social
necessita da contribuição do analista do discurso, não no processo de criação de uma terminologia
apropriada, mas no sentido de analisar textos e interações para mostrar como alguns dos efeitos que
Bourdieu e Wacquant (2005) identificaram são desvelados nas transformações socioeconômicas do
capitalismo novo e nas políticas dos governos.
83
Unidade III
Por meio dos estudos realizados por Ormundo (2007), busca-se compreender que as abordagens
sobre a linguagem, conforme apontado por Fairclough, tendem a desvendar uma relação de jogos de
interesses que traduzem a linguagem como um produto de consumo com objetivos próprios a serem
alcançados. Isso ocorreu de forma que, em determinado momento, a linguagem foi vista como a
mercadoria relacionada aos elementos multissemióticos que a constituíam e a sua vinculação com as
relações econômica, política, cultural – que se materializou como um modelo concreto na proposta
atual da nova versão da ADC esboçada em Language and Globalization (FAIRCLOUGH, 2006).
Observação
Esse movimento semiótico impôs para a pesquisa em ADC um questionamento que consistiu
em indagar sobre as maneiras de teorizar e de analisar as linguagens no contexto da pesquisa. Esse
questionamento foi proposto pelos autores com base na leitura das obras de Chouliaraki e Fariclough
(1999) e de Fairclough (2000), uma vez que tais obras tratam a semiótica como um modelo ilustrativo
da pesquisa sobre o tema linguagem e globalização.
Essa é uma tendência que perpassa os trabalhos de Norman Fairclough e que foi construindo uma
aproximação para a versão atual da ADC de aproximar a pesquisa sobre linguagem em uma perspectiva
transdisciplinar por meio dos aspectos da economia política cultural, da multissemiótica e da Teoria
Social de Pierre Bourdieu.
Apesar de referências explícitas nas obras de Chouliaraki e Fairclough (1999) e de Fairclough (1992,
2003a, 2003b, 2006) à teoria de Bourdieu (1990, 2003a, 2004), esse diálogo foi se estreitando após as
publicações próprias ao contexto da linguagem no novo capitalismo por meio de artigos de Fairclough
(2003b), publicados em websites, e foi delineando a aproximação da ADC à Teoria Social de Pierre
Bourdieu.
84
Análise de Discurso Crítica e Semiótica
Essa aproximação deu-se conforme dois tópicos tratados em Bourdieu e Wacquant (2005) e que
foram fundamentais para a análise social e seus três níveis de abstração, que, neste trabalho, tratam-se
dos estudos sobre habitus e Teoria do Campo.
A abordagem sociológica de Bourdieu (1990, 1996, 2003a, 2004) consiste em pesquisar a estruturação
das sociedades modernas complexas quanto às áreas sociais e suas interconexões variantes. O modelo
estabelecido por Bourdieu relaciona-se com Fairclough (2003a); nele, o autor explica as práticas sociais
e suas inconstantes redes fazendo uso dos conceitos de habitus e de campo.
Fairclough (2003b) aborda a questão do habitus com base na definição de Bourdieu e Wacquant
(2005). Fairclough traz essa discussão com o propósito de que essa abordagem possa ser considerada
na análise de textos por meio de um evento social particular. Bourdieu e Wacquant (2005, p. 188)
estabelecem que o habitus está relacionado ao modo como as pessoas agem e o modo como veem
está baseado na sua socialização e experiência. Os modos como falam e escrevem vêm internalizados
pelas experiências sociais das pessoas ou grupos que as mobilizam a agir, perceber e organizar, de forma
natural e inconsciente, as suas ações e escolhas.
Ormundo (2007) compreende que a aproximação à Teoria do Campo de Bourdieu estreitou-se com
base no modelo de investigação da linguagem na globalização, como proposto por Fairclough (2003b;
2006). Segundo Bourdieu (2003a, 2004), o campo consiste em uma rede de posições em um espaço
social definido pelo capital simbólico e por todas as formas de capital – econômico, social ou cultural
– que podem converter-se em capital simbólico, e, mesmo que não sejam reconhecidos como tal, têm
efeitos de poder.
A Teoria do Campo foi desenvolvida por Bourdieu (1990, 1996, 2004) com o propósito de analisar
um universo social intermediário entre a produção textual e o contexto social mais amplo. Entre
o universo social mais amplo e o texto produzido, há aquilo que Bourdieu define como campo
intermediário com regras próprias, fato que se aproxima das várias vozes da globalização que
Fairclough (2006) sistematiza na obra Language and Globalization. Tal universo foi denominado
campo (podendo ser caracterizado como campo político, jornalístico, literário, artístico, jurídico,
científico). No campo, estão inseridos os agentes e as instituições que produzem e reproduzem o
discurso da política, da arte, da literatura ou da ciência, entre outros, por meio da obediência às
leis sociais próprias do campo em que agem.
Tendo em vista a relevância desses conceitos, Ormundo (2007) aprofundou seus estudos sobre a
Teoria do Campo em Bourdieu, vislumbrando uma ligação com o que Fairclough (2006) desenvolve
com base no diálogo sociológico para a compreensão da prática social na linguagem e na globalização,
85
Unidade III
verificando como a linguagem, nas estruturas sociais, é materializada em textos nos eventos sociais e
funciona como forma de capital simbólico, pelo exercício de dominação simbólica.
A análise da linguagem na prática social também está estreitamente relacionada a outro aspecto
importante que Fairclough (2003b, 2006) busca na Teoria Social. Trata-se do conceito de escala e de
reescala que discute o espaço social local e global, conforme apresentado na unidade I. Para Fairclough
(2006), a globalização deve ser vista como uma questão de mudança nas relações entre diferentes
escalas da vida e da organização social.
Segundo o autor, na construção do espaço social estão presentes as propriedades atuantes, que
são as diferentes espécies de poder ou de capital que ocorrem em diferentes campos. Portanto,
a posição de um determinado agente no espaço social define-se pela posição ocupada por ele
nos diferentes campos, pela distribuição dos poderes, advindas do capital econômico (nas suas
diferentes formas):
• do capital cultural;
• do capital social;
• do capital simbólico.
Outra contribuição da Teoria Social ligada ao conceito de campo, escala e reescala é a noção
de ordem. Trata-se de um conceito em que a sociedade é dividida em classes e grupos que são
distribuídos como dominantes e dominados. Bourdieu (1990, p. 161) considera que “a ordem social é
produto de uma luta simbólica para a imposição de uma visão de mundo de acordo com os interesses
dos agentes”.
Feita a explicação sobre a relação que se estabelece com os conceitos de habitus, de campo, de
ordem, de escala e de reescala, partimos para o que Giddens (1991) explica sobre a ação do agente
(instituição ou indivíduo) no campo.
Segundo o autor, os agentes devem ter a capacidade de monitorar suas ações com base nas leis
próprias do campo em que atuam. Essa capacidade é traduzida por Giddens como comportamento
reflexivo. O agente, ao agir conforme padrões não compatíveis com o campo em que está inserido,
produzirá efeitos de sentido de toda ordem.
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Análise de Discurso Crítica e Semiótica
A contribuição dos conceitos apresentados dos estudos da ADC pode, também, estar relacionada
àquilo que Fairclough (2003a, 2006) chama de recontextualização.
Fairclough (2003b) aponta a necessidade de pesquisa naquilo que Bourdieu e Wacquant (2005)
denominam como “performativo do poder”, que consiste em verificar: como o discurso vem internalizado
em práticas sociais; sob quais circunstâncias é construído e se reconstroem as práticas sociais que
incluem seus elementos não discursivos; como são representados nos modos de agir e de interagir,
naquilo que os autores definem como rotinas organizacionais, procedimentos como inclusão dos
gêneros; e a forma como as maneiras de ser como identidades dos agentes sociais são inculcadas e
materializadas nas ferramentas das instituições e organizações.
Fairclough (2003a) acrescenta, ainda, que a ADC, como método de análise, pode utilizar os métodos
empregados em qualquer área da pesquisa na qual se estrutura. Essa proposta é amadurecida em
Fairclough (2006) com a apresentação de uma nova versão da ADC, fundamentada na investigação
da linguagem em uma perspectiva transdisciplinar que consiste em utilizar métodos de outras teorias
sociais para a abordagem da linguagem.
Essa relação foi sendo desenhada no decorrer dos estudos da ADC nos trabalhos anteriores de
Fairclough e ficou esboçada de forma regular e completa em Analysing Discourse: Textual Analysis
for Social Research (FAIRCLOUGH, 2003a), devido às categorias analíticas que o autor explicita para a
prática social e para a análise textual.
Nessa obra, ficaram evidentes os métodos de análise buscados em outras teorias, tais como a Teoria
Social, a Teoria dos Atos de Fala e outras. Já em Language and Globalization (FAIRCLOUGH, 2006), o
projeto de investigação proposto é dedicado à sistematização de um modelo de análise que envolve, de
forma estrita, as pesquisas que objetivam investigar a relação entre linguagem e globalização.
Para compreender essa relação, é necessário detalhar o que Fairclough (2006) desenvolve sobre
vozes da globalização. É importante compreender que separá-las aqui se trata de um recurso
meramente metodológico, pois, para o autor, elas não estão totalmente separadas. A diferenciação
que ele estabeleceu é uma “generalização simplista”, por considerar que há muitas “vozes” diferentes
na “conversação” sobre globalização; porém, essa divisão contribui para que se tenha em mente uma
questão: “Quem está falando?”. Vamos a elas:
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Unidade III
• análise acadêmica: voz que apresenta características teóricas e analíticas, seu propósito é
produzir descrições, interpretações e teorias;
• agências governamentais: voz que se constitui nos discursos de governos nacionais, líderes
políticos e organizações que são partes do Governo, tais como ministérios e comissões, governo
local e agências de governo internacionais;
• mídia: voz que veicula os discursos da imprensa, do rádio, da TV, da internet. Em termos gerais,
todas as entidades que contribuem para o papel social da mediação;
• pessoas comuns: vozes que reproduzem experiências particulares em relação à globalização, tais
como na interação face a face e na interação mediada.
Tal especificação, antes de aprofundar a discussão sobre os outros elementos que compõem a relação
linguagem e globalização, compreende que o conjunto das vozes da globalização é o lugar em que se
processam a globalização e a reconfiguração da linguagem. A voz da mídia é muito relevante para
pesquisas na área da ADC, pois todas as outras vozes circulam por ela.
Resumo
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Análise de Discurso Crítica e Semiótica
Exercícios
Questão 1. Para fins didáticos, a escola classifica diversas palavras como sinônimas. Assim,
estudamos, quando crianças, que lindo, bonito e maravilhoso são sinônimos. No entanto, uma
corrente de linguistas afirma que não há palavras que sejam sinônimos perfeitos, uma vez que
sinônimos deveriam poder ser usados indiscriminadamente em todos os contextos. Observe as
duas afirmações abaixo:
1 − João é drogado.
II − A expressão “drogado” não deve ser usada por não fazer parte da língua padrão.
III − As expressões “drogado” e “usuário de drogas” podem ser utilizadas para designar uma mesma
pessoa.
IV − A escolha lexical por parte do usuário da língua demonstra seus valores a respeito do que diz.
Dessa forma, a escolha não é arbitrária, pois carrega sentidos implícitos ao texto.
A) II e III.
B) II e IV.
C) I, IV e V.
D) I, III e V.
E) III, IV e V.
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Unidade III
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: as expressões “drogado” e “usuário de drogas” não são utilizadas como sinônimas em
contextos variados, pois implicam posicionamentos valorativos do sujeito enunciador frente ao sujeito
enunciado.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a expressão “drogado” faz parte da língua padrão, pois está presente nos registros
normativos da língua portuguesa.
IV – Afirmativa correta.
V – Afirmativa correta.
Justificativa: “Usuário de drogas”, se comparado a drogado, é uma expressão que apresenta maior
complacência, com uma maior aceitação social.
Figura
I − Há uma crítica ao comportamento dos membros de uma das mais importantes entidades da
democracia brasileira: o Congresso Nacional.
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Análise de Discurso Crítica e Semiótica
IV − A expressão “ordem no congresso”, ao mesmo tempo em que faz uma remissão à frase original
da bandeira nacional, também faz um pedido para que haja regularidade e ética no comportamento de
deputados e senadores brasileiros.
B) I, II e IV.
D) I e III.
E) I, II e III.
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