Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
da Maré
A Mandala da Maré
O Instituto Cy chegou no Complexo da Maré através do convite para ações de perigo geradas pelo confronto entre o tráfico de drogas e as
Quando a Mandala gira ouço o som dos ancestrais uma apresentação de Danças Meditativas no WOW – Festival Mulhe- operações de segurança do Estado. Muitas vezes o tiroteio acontece e
Ninguém solta a mão de ninguém res do Mundo 2019. Idealizado pelo Southbank Centre, de Londres, o
WOW já foi realizado em 23 países da Europa, Ásia e África.O Rio de
mulheres, jovens e crianças ficam expostos na linha de tiro. Este trabalho
tem sido sustentado por um grupo de mulheres voluntárias que abraça-
Na roda somos iguais Janeiro foi escolhido como cidade sede em função da repercussão inter- ram a idéia do Instituto Cy de desenvolver um trabalho em forma de man-
nacional do assassinato da vereadora , Marielle Franco,ativista de Direi- dala, onde fortalecemos cada elo dessa corrente de Força, Beleza e Sa-
É na Maré, É na Maré tos Humanos , nascida e criada na Maré, o maior conjunto de favelas da bedoria Feminina. Queremos levar a paz para o coração dessas mulheres
Me embala mãezinha, me embala na Mandala das Mulé periferia da cidade. A ONG Redes da Maré foi escolhida como parceira
e organizadora do eventoque aconteceu pela primeira vez na Améri-
tão estressadas pelo cotidianoviolento no Complexo da Maré. Queremos
enraizar a energia da Grande Mãe Brasileira, Cy e ativar o Raio Feminino
Me embala mãezinha, me embala na Mandala da Maré ca Latina. O festival foi um sucesso reunindo mais de 97.000 partici- do Destemor entre elas. O trabalho vêm se enraizando profundamente
pantes, na região portuária, de 16 a 18 de novembro de 2018. Foi um no coração dessas mulheres que já não são mais as mesmas. O canto
espaço para as mulheres celebrarem suas conquistas, trocar experiên- e a dança, as rodas de conversa, tem suavizado os corações e ajudado
Doença é a gente que inventa quando se esquece de Si cias, conhecer novas perspectivas, contar e ouvir histórias de mulheres
de origens e trajetórias diferentes . Neste contexto, a roda de danças
muitas delas a transformar luto em luta pela paz e por direitos humanos.
Quem canta seus males espanta interativas a “Mandala Florestal” criadas por mim eas Dançasda Paz Começamos também um trabalho com adolescentes da Escola de En-
Universal , foram uma das apresentações mais bonitas e geradoras de sino Médio João Borges, visando o desenvolvimento de práticas de me-
Eu quero é morrer de rir! empatia com o público. Dançar com as mulheres da Maré, pedindo paz ditação em movimento e oficinas criativas profissionalizantes a fim de
Luto na Maré é verbo. e celebrando o seu protagonismo no Festival foi muito emocionante e gerar renda para estes jovens, evitando que sejam cooptados pelo trá-
transformador para aquelas mulheres. Elas não quiseram parar ali e nos fico de droga como única alternativa de afirmação de si e sustento das
Enraizadas no Amor, pediram muito para seguir com o trabalho de meditação em movimento famílias. A necessidade de fazer dinheiro é a principal causa da evasão
Nossa União traz a Força do Raio do Destemor no Complexo da Maré. escolar de jovens do Ensino Médio. Consideramos a educação como a
única perspectiva de um futuro digno para estes jovens.
Emana, emana o Destemor Aceitamos o desafio e conseguimos manter um encontro todas às quar-
tas-feiras com as mulheres. Em parceria com a Redes da Maré que nos O engajamento do Instituto Cy nestes projetos de educação social e
Emana, emana, o Destemor. cedeu espaço no CAM - Centro de Artes da Maré, conseguimos um es- cultura de paz precisa do seu apoio para se fortalecer e conseguir dar
paço seguro para dar continuidade ao trabalho. Ao longo deste ano, junto continuidade a um trabalho que está gerando tantos benefícios à comu-
com as mulheres da comunidade, tivemos que enfrentar diversas situ- nidade do Complexo da Maré. www.institutocy.org/
A Maré
O Complexo da Maré, ou simplesmente Maré, fica na Zona Norte da cida- Atualmente são 132 mil pessoas organizadas em 16 sub-bairros, o maior
de do Rio de Janeiro entre a Baia de Guanabara, a Avenida Brasil, Linha conjunto de favelas da cidade numa extensão de 800 mil m2.
Vermelha e Linha Amarela, principais vias de acesso à cidade.
Na Maré as organizações sociais locais são o resultado de um processo
O nome surge a partir da ocupação em uma região de manguezal à mar- histórico de mobilização. Ali surgiu a primeira Associação de Moradores
gem da Baía de Guanabara, que sofria os efeitos das Marés. Os primeiros de Favela do Rio de Janeiro. Na década de 1980 houve um plano de urba-
moradores ocuparam o morro do Timbau, única área alta da região e logo nização e começaram a ser construídos Centros Integrados de Educação
estenderam as moradias através da construção de palafitas datadas de Popular, conhecidos como CIEPs ou Brizolões, anos mais tarde foi cons-
meados do século XX. Estes manguezais foram aos poucos sendo ater- truída a Vila Olímpica da Maré e a Lona Cultural da Maré. A Org Redes
rados com entulhos (rejeitos de obras) doados pela população vizinha e da Maré faz um trabalho admirável de consciência cidadã, articulando os
eventualmente pelo poder público despejando lixo. moradores em torno de projetos fundamentais para a comunidade.
Os conjuntos habitacionais das favelas da Maré foram criados para abri- Neste contexto, surgem novas lideranças locais como a vereadora Marielle
gar moradores removidos de outras regiões da cidade, além do processo Franco, defensora de Direitos Humanos, assassinada há 2 anos atrás.
de migração de nordestinos para o sudeste. A população feminina é de O país “cordial e democrático”, em seu cotidiano, tem 3 mulheres assas- Segundo o Censo Maré de 2013 as comunidades Nova Maré, Parque
66.027 residentes; dessas, 57% se declaram negras (pretas e pardas) e sinadas por dia. E após a morte da vereadora, novas lideranças femininas Maré apresentam os piores índices de desenvolvimento humano (IDH),
cerca de 10% não são alfabetizadas. Das que passaram pela educação e a articulação do movimento de mulheres na Maré não para de florescer. rios que recebem esgoto e descarte de lixo, além de outras situações de
formal, a maioria não chegou ao Ensino Médio. vulnerabilidade social que favorecem a movimentação do tráfico de dro-
gas e os conflitos armados.
Na Maré, o papel de responsável pelo domicílio é exercido por mulheres
em 18.529 residências, ou seja, 44% do total. Dessas mulheres chefes de Recentemente, a Maré vem sofrendo com o embate entre os traficantes
família, 63% possui renda mensal entre 1/4 de salário mínimo e 1 salário de drogas e as forças de segurança do Estado que tenta reprimir o tráfico
mínimo ( from U$65 to U$250 a month). O quadro se torna ainda mais “Quiseram nos enterrar, mas sem respeitar nenhuma garantia de direitos dos moradores da comuni-
complexo ao cruzarmos essa informação com a de que se encontram ali
24% de mães adolescentes em comparação com a média geral de 17% não sabiam que éramos dade. O número de jovens negros que morrem a cada operação vêm au-
mentando a cada dia, assim como o de vítimas de balas perdidas, incluin-
no município. Em 77% desses domicílios, a renda mensal per capita che-
ga, no máximo, a um salário mínimo. Porém, em 38%, não ultrapassa
sementes.” do crianças e trabalhadores que nada tem a ver com o tráfico.