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º ANO
Ano letivo 2018-2019
I - Racionalidade argumentativa da Filosofia e a dimensão discursiva do trabalho filosófico
1.1. Tese
Exemplo de um argumento:
Os alunos da turma 10A são estudantes de Filosofia.
Pedro e Miguel são alunos da turma 10A.
Logo, Pedro e Miguel são estudantes de Filosofia.
1.4. Proposições
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A proposição é o pensamento ou conteúdo, verdadeiro ou falso, expresso por uma
frase declarativa. A mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases
declarativas.
A proposição relaciona pelo menos dois termos. O termo é geralmente entendido
como a expressão verbal do conceito. O conceito constitui o elemento básico do pensamento
e é a representação intelectual de determinada realidade.
A operação mental que permite estabelecer uma relação entre conceitos e que está
subjacente à formação de proposições é o juízo.
Exemplo:
Todos os portugueses são europeus.
João é português.
Logo, João é europeu.
Exemplos:
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Todos os portugueses são europeus.
João Sousa é português.
Logo, João Sousa é europeu.
No que se refere aos argumentos não dedutivos, que serão referidos mais à frente,
a sua validade depende de aspetos que vão para lá da forma lógica do argumento.
1.6. Falácias
Entende-se por falácia todo o argumento inválido, embora aparente ser válido. As
falácias formais são aquelas que decorrem apenas da forma lógica do argumento, sendo
por isso cometidas ao nível dos argumentos dedutivos. As falácias informais são cometidas
ao nível dos argumentos não dedutivos, resultando de aspetos que vão para lá da forma
lógica do argumento. Veremos diferentes exemplos destes tipos de falácias mais à frente.
CONTRÁRIAS
A E
I O
SUBCONTRÁRIAS
Regra das contraditórias: duas proposições contraditórias não podem ser verdadeiras
e falsas ao mesmo tempo. A verdade de uma implica a falsidade da outra e vice-versa.
São a negação uma da outra.
Regra das contrárias: duas proposições contrárias não podem ser ambas verdadeiras
ao mesmo tempo. Mas da falsidade de uma não se pode concluir a falsidade ou
veracidade da outra. Por isso, não são a negação uma da outra.
Regra das subcontrárias: duas proposições subcontrárias não podem ser ambas
falsas ao mesmo tempo, mas podem ser ambas verdadeiras. Não são a negação uma
da outra.
Nota: No âmbito da relação de subalternidade, verificada entre as proposições de tipo A e I, por um lado,
e E e O, por outro, A implica I e E implica O, mas o contrário não se verifica. Daí a seta apresentar apenas
um sentido.
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Aplicar tabelas de verdade na validação de formas argumentativas;
Aplicar as regras de inferência do modus ponens, do modus tollens, do silogismo hipotético, das leis de De
Morgan, da negação dupla, da contraposição e do silogismo disjuntivo para validar argumentos.
Principais falácias formais
Identificar e justificar as falácias formais da afirmação do consequente e da negação do antecedente.
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Podemos representar as proposições usando letras maiúsculas – P, Q, R, etc. –, às
quais se chama letras proposicionais. Enquanto símbolos que representam quaisquer
proposições simples, elas designam-se por variáveis proposicionais.
OPERADORES VEROFUNCIONAIS
Símbolo Leitura Formas proposicionais
não Negação
e Conjunção
ou Disjunção inclusiva
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Distingue-se operador singular, unário ou monádico – o que se aplica apenas a
uma proposição – de operador binário ou diádico – o que se aplica a duas proposições. O
operador “não” é o único operador unário.
P P
V F
F V
P Q PQ
V V V
V F F
F V F
F F F
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O operador “ou” pode ter um sentido inclusivo ou exclusivo.
A disjunção inclusiva (P Q) é uma proposição sempre verdadeira, exceto quando
P e Q forem simultaneamente falsas.
P Q PQ
V V V
V F V
F V V
F F F
A disjunção exclusiva (P Q), por sua vez, é uma proposição que é verdadeira se
P e Q possuírem valores lógicos distintos, e falsa se possuírem o mesmo valor lógico.
P Q PQ
V V F
V F V
F V V
F F F
P Q P→Q
V V V
V F F
F V V
F F V
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A bicondicional, ou equivalência material (P ↔ Q), é uma proposição que é
verdadeira se ambas as proposições tiverem o mesmo valor lógico e falsa se as proposições
tiverem valores lógicos distintos.
P Q P↔Q
V V V
V F F
F V F
F F V
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Vejamos um exemplo:
P Q (P Q) → P
V V V V
V F F V
F V F V
F F F V
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Exemplo de uma contradição Forma lógica
P Q ( P Q) ↔ (P Q)
V V F F F F V
V F F V V F F
F V V V F F F
F F V V V F F
P Q (P Q) → P
V V V V
V F V V
F V V F
F F F V
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2.5. Inspetores de circunstâncias
Uma forma de inferência dedutiva é válida se, e somente se, a fórmula proposicional
(implicativa) que lhe corresponde for uma tautologia.
Para a determinação da validade das formas de inferência dedutiva, é habitual o uso
dos inspetores de circunstâncias – que, no fundo, consistem numa sequência de tabelas
de verdade, que são feitas para as premissas e para a conclusão.
Como num argumento dedutivo válido é impossível que as premissas sejam
verdadeiras e a conclusão falsa, num inspetor de circunstâncias um argumento válido será
aquele em que não existe nenhuma linha (circunstância) que torne as premissas verdadeiras
e a conclusão falsa.
Vejamos um exemplo.
Em vez do símbolo , também poderemos usar o símbolo , que se designa por “martelo semântico”.
Ambos se leem “Logo”, um indicador de conclusão.
P Q P → Q, P Q
V V V V V
V F F V F
F V V F V
F F V F F
A primeira linha exprime a única circunstância em que as premissas são verdadeiras. Ora,
dado que tal circunstância também torna a conclusão verdadeira, o argumento é
considerado válido.
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Analisemos outro exemplo.
P Q P → Q, Q P
V V V V V
V F F F V
F V V V F
F F V F F
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P Q R (P Q) → R, R PQ
V V V F F V V F F
V V F F F V F F F
V F V V V V V V V
V F F V V F F V V
F V V F F V V F F
F V F F F V F F F
F F V F V V V F V
F F F F V V F F V
Há três circunstâncias (1.ª, 5.ª e 7.ª) em que ambas as premissas são verdadeiras e
a conclusão é falsa. Logo, o argumento é inválido.
• Modus tollens: Se canto, então sou feliz. Não sou feliz. P→Q
Logo, não canto. Q
P
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• Silogismo hipotético: Se durmo bem, então descanso. P→Q
Se descanso, então tenho saúde. Logo, se durmo bem, Q→R
então tenho saúde. P→R
• Leis de De Morgan:
– negação da conjunção: Não é verdade que (P Q)
sou injusto e cruel. Logo, não sou injusto ou não sou PQ
cruel;
– negação da disjunção: Não é verdade que (P Q)
há sol ou chuva. Logo, não há sol e não há chuva. PQ
A→B
B
A
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Apresentam-se de seguida as formas de inferência válida, com base nas variáveis
de fórmula.
OU AA
Nota: o símbolo significa, no presente contexto, que tanto
se pode inferir validamente num como noutro sentido.
P→Q
• Falácia da afirmação do consequente: Q
Se trabalho, então ganho dinheiro. Ganho dinheiro. P
Logo, trabalho.
P→Q
• Falácia da negação do antecedente:
P
Se trabalho, então ganho dinheiro. Não trabalho. Logo, Q
não ganho dinheiro.
A indução por generalização consiste num argumento cuja conclusão é mais geral
do que a(s) premissa(s).
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Exemplo:
Todos os peixes observados até agora respiram através da absorção do oxigénio
presente na água.
Logo, todos os peixes respiram através da absorção do oxigénio presente na água.
Exemplo:
Fiz um teste de Filosofia e foi difícil.
Logo, todos os testes de Filosofia são difíceis.
Exemplo:
Com base em inquéritos realizados ao conjunto dos estudantes portugueses do
ensino superior, constata-se que todos eles valorizam este tipo de ensino.
Logo, todos os portugueses valorizam o ensino superior.
Exemplo:
Todos os cavalos observados até hoje nasceram quadrúpedes.
Logo, o próximo cavalo a nascer também nascerá quadrúpede.
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– se existir uma forte probabilidade de a conclusão corresponder à realidade;
– se não existir informação disponível contrária ao que se afirma no argumento.
Exemplo:
A temperatura na Terra nunca apresentou variações significativas no passado.
Logo, ela nunca apresentará variações significativas no futuro.
Exemplo:
O cantor A canta bastante bem.
O cantor B tem um timbre e uma extensão vocal semelhantes aos do cantor A.
Logo, o cantor B também canta bastante bem.
Exemplo 1:
O carro da marca X é bastante potente.
O carro da marca Y tem a mesma cor e o mesmo tamanho que o carro da marca X.
Logo o carro da marca Y também é bastante potente.
(Neste caso, as semelhanças não são relevantes no que diz respeito à conclusão.)
Exemplo 2:
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O médico A, que estudou numa Universidade de prestígio, é um profissional
excelente.
O médico B estudou na mesma Universidade.
Logo, O médico B também é um profissional excelente.
(Neste caso, as semelhanças relevantes no que diz respeito à conclusão não são em
número suficiente.)
Exemplo 3:
As máquinas não são conscientes de si.
A mente humana é como uma máquina.
Logo, a mente humana não é consciente de si.
Exemplo:
Galileu afirmou que todos os corpos caem com aceleração constante.
Logo, todos os corpos caem com aceleração constante.
Quando estes requisitos não são cumpridos, comete-se a falácia do apelo ilegítimo
à autoridade.
Exemplo 1:
Estudos indicam que comer um ovo por dia prejudica a saúde.
Logo, comer um ovo por dia prejudica a saúde.
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(Será necessário referir quem foram os autores do estudo; existe controvérsia entre
os especialistas relativamente a este assunto; além disso, o argumento talvez seja
mais fraco do que o argumento contrário.)
Exemplo 2:
Um membro do governo afirmou que, desde que o governo iniciou funções, a
felicidade dos cidadãos aumentou bastante.
Logo, desde que o governo iniciou funções, a felicidade dos cidadãos aumentou
bastante.
(Além de não ser referido o nome da pessoa invocada, talvez também não se trate de
uma autoridade efetiva na área em questão, sendo inclusive alguém com interesses
pessoais no âmbito do assunto em causa; além disso, existe certamente controvérsia
entre os especialistas relativamente a este assunto.)
Exemplos:
Andar a pé é um desporto saudável. Logo, andar a pé é um desporto que faz bem à
saúde.
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A falácia do falso dilema é a falácia que consiste em reduzir as opções possíveis a
apenas duas, ignorando-se as restantes alternativas, e em extrair uma conclusão a partir
dessa disjunção falsa. “Falso dilema” é sinónimo de “falsa dicotomia”.
Exemplo:
Ou votas no partido x, ou será a desgraça do país.
Não votas no partido x.
Logo, será a desgraça do país.
Embora seja válido em termos dedutivos, este argumento exprime um falso dilema:
ignora-se a possibilidade de todos os outros partidos poderem evitar a desgraça do país.
A falácia da falsa relação causal – conhecida também como “post hoc, ergo propter
hoc”, que significa “depois disto, logo por causa disto” – é a falácia que se comete sempre
que se toma como causa de algo aquilo que é apenas um antecedente ou uma qualquer
circunstância acidental. Trata-se, por isso, de concluir que há uma relação de causa e efeito
entre dois acontecimentos que se verificam em simultâneo ou em que um se verifica após o
outro.
Exemplos:
Sempre que eu entro com o pé direito no campo, a minha equipa ganha o jogo.
Logo, a causa das nossas vitórias é o facto de eu entrar com o pé direito no campo.
Exemplos:
A tua tese de que tudo é composto de átomos está errada, porque cheiras mal da
boca sempre que a proferes.
Sartre estava errado a respeito do ser humano, porque não ia regularmente à missa.
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A falácia ad populum é a falácia que se comete quando se apela à opinião da maioria
para fazer valer a verdade de uma conclusão.
Exemplos:
A maioria das pessoas considera que a leitura é uma perda de tempo. Logo, a leitura
é uma perda de tempo.
Exemplos:
Não existem fenómenos telepáticos, porque até agora ninguém provou que eles
existem.
A alma é imortal. Isto porque ninguém provou que a alma morre com o corpo.
Exemplo:
António defende que não devemos comer carne de animais cujo processo de
industrialização os tenha sujeitado a condições de vida e morte cruéis.
Manuel refuta António dizendo: “António quer que apenas comamos alface!“
(Note-se que em momento algum António defende que não devemos comer qualquer
tipo de carne, sugerindo que sejamos vegetarianos – “comer alface” –, mas apenas
aquele tipo de carne sujeito às condições descritas. O argumento é assim deturpado
e simplificado.)
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A falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio” é a falácia
cometida sempre que alguém, para refutar uma tese ou para defender a sua, apresenta, pelo
menos, uma premissa falsa ou duvidosa e uma série de consequências progressivamente
inaceitáveis. A partir da primeira premissa, outras vão surgindo, até se mostrar que um
determinado resultado indesejável inevitavelmente se seguirá.
Exemplo:
Se jogares a dinheiro, vais viciar-te no jogo. Se te viciares no jogo, perderás tudo o
que tens. Se perderes tudo o que tens, terás de mendigar. Se tiveres de mendigar,
ninguém te dará nada. Se ninguém te der nada, morrerás à fome. Logo, se jogares a
dinheiro, morrerás à fome.
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