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O IBGE divulgou no final de agosto que o Produto Interno Bruto (PIB) registrou variação
positiva de 0,4% no segundo trimestre de 2019 (comparado ao primeiro), na série com ajuste
sazonal. Desta forma, este número evitou que o Brasil entrasse em recessão técnica (queda em
dois trimestres consecutivos).
Mesmo assim, a recuperação apresenta fôlego curto e não evitará que a segunda década dos
anos 2000 entre para a história como o pior decênio de crescimento econômico dos últimos
120 anos. O gráfico abaixo mostra que a variação trimestral do PIB mantinha um ritmo pouco
superior à variação trimestral da população entre 2011 e 2013, mas a recessão iniciada em
2014 fez a renda per capita cair de forma acelerada e a lenta recuperação pós 2016 não foi
suficiente para recuperar a renda média dos brasileiros. Considerando o 4º trimestre de 2010 =
100, a população chegou a um índice de 117 no 2º trimestre de 2019, o PIB atingiu um índice
de 103,4 e o PIB per capita um índice de 88,3.
Estes números contrastam com o fato de que o Brasil foi um dos países que apresentou maior
crescimento econômico e demográfico na maior parte do século XXI. Entre 1901 e 1980, o PIB
brasileiro cresceu a uma taxa média anual de 6,2%, enquanto a população cresceu 2,5% ao
ano. Em consequência, o PIB per capita cresceu em média 3,6% ao ano e o Brasil deu um salto
para entrar no clube dos 10 maiores países do mundo.
Mas o ritmo acelerado do crescimento econômico foi interrompido nos anos 80. O crescimento
médio do PIB brasileiro ficou em 1,6% entre 1981 e 1990, enquanto o crescimento demográfico
foi de 1,8% ao ano. Consequentemente, houve variação negativa do PIB per capita de -0,2% ao
ano. Ou seja, pela primeira vez na história republicana a população brasileira terminou uma
década mais pobre do que iniciou. Portanto, os anos 80 constituíram uma “década perdida”.
Nos anos 90 houve uma ligeira recuperação, pois o PIB cresceu 2,5% ao ano, a população
cresceu 1,3% ao ano e o PIB per capita cresceu 1,2% ao ano entre 1991 e 2000. Na primeira
década dos anos 2000, a recuperação econômica foi um pouco mais elevada, com o PIB
crescendo 3,7% ao ano, a população crescendo a 1,1% ao ano e o PIB per capita crescendo a
2,6% ao ano entre 2001 e 2010. Tanto a última década do século XX, quanto a primeira década
do século XXI foram de crescimento da renda per capita, mas em ritmo bem menor do que a
média histórica.
O gráfico abaixo mostra a variação anual do PIB e a média móvel de dez anos entre 1900 e
2020. Nota-se que as décadas de maior crescimento decenal foram as de 1950 e 1970. A partir
do ano de 1981 os decênios passam a ser cada vez menores e, atualmente, os decênios são os
menores da série. A atual década deve ter um crescimento do PIB abaixo de 1% ao ano.
Evidentemente, o baixo dinamismo econômico reflete no desempenho do mercado de
trabalho.
O Brasil está em uma trajetória submergente durante todo o período da Nova República. O
passo fundamental para mudar esta triste página da história brasileira é possibilitar que cada
pessoa possa ter orgulho de estar trabalhando para se sustentar e para garantir a
sustentabilidade econômica e ambiental do país. O Brasil poderia ter uma população ocupada
de 120 milhões, mas ocupa menos de 93 milhões de pessoas, além de ter uma baixa
produtividade.
A pesquisa PNADC do IBGE, divulgada dia 30/08/2019, mostra uma realidade tenebrosa. No
trimestre encerrado em julho de 2019, havia aproximadamente 12,6 milhões de pessoas
desocupadas no Brasil. Já a taxa composta de subutilização da força de trabalho foi estimada
em 24,6% no trimestre, sendo que o número de pessoas subutilizadas ficou em 28,1 milhões.
Tudo isto indica que o Brasil deve ficar preso na armadilha do baixo crescimento, devendo
envelhecer antes de enriquecer, convivendo com muito desemprego e baixa produtividade.
Somente um plano de reativação da economia com pleno emprego e trabalho decente - aliado
ao avanço da ciência e tecnologia e ao aumento da qualificação e eficiência dos trabalhadores -
poderia mudar o quadro atual de crise econômica e social.