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introdução

Há poucos temas que despertam tanto interesse em pais e educadores


como o tema dos limites na infância. Não apenas por curiosidade inte-
lectual, mas pela imensa necessidade que todos percebem concreta-
mente com seus alunos e filhos todos os dias.

Quem nunca se deparou ou ao menos ouviu comentários de uma crian-


ça que não quer escovar os dentes? Que reluta em tomar seu banho?
Que briga para comer, para sair, para ir à escola ou para sair dela?

E certamente já ouvimos muitas histórias de pais e educadores narrando


suas peripécias em tentar conter, dominar, barrar, explicar para as
crianças que não deveriam fazer alguma coisa, mas sem sucesso! Com
base nesses fatos tão comuns, podemos facilmente perceber que os
limites são tão necessários quanto saber aplicá-los.

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


Mas como construir os limites com as crianças pequenas? Serão os
limites necessários para todas as idades? E como dar limites sem ser
agressivo, violento, impositivo? Essas são algumas das muitas dúvidas e
questionamentos que inquietam os adultos e que vamos procurar escla-
recer brevemente no presente texto.

Estruturar os limites da criança também compõe um dos mais importan-


tes princípios da Pedagogia Florença. Com base em nossas pesquisas,
estudos e experiências práticas na relação com as crianças é que vamos
desenvolver esse importante tema nas páginas que seguem.

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O QUE SÃO LIMITES E PARA QUE SERVEM?
A palavra limite se origina do latim limes, que significa fronteira, sulco,
demarcação entre dois campos. Portanto limitar é criar demarcações,
fronteiras, sejam elas físicas, de espaços ou mesmo de atitudes,
comportamentos ou períodos de tempo.

Se entendemos assim, logo nos daremos conta de que os limites não


são invenções humanas, mas elementos essenciais da própria vida como
um todo. Pois vejamos, o que seria de um bebê se desde os quatro
meses pudesse caminhar? Iria lesionar seus pés e pernas,além de dani-
ficar seriamente sua coluna vertebral, ainda sem estrutura para suportar
o peso do corpo na posição vertical.

Por isso a Natureza, sábia que é, protege o bebê limitando seu movi-
mento. E por alguns meses ele só poderá permanecer deitado. Ele está
limitado para seu próprio bem.

E como poderíamos nos proteger das chuvas, dos ventos, do sol e do

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


calor, se nossas casas não fossem limitadas por telhados e paredes? E se
quisermos refletir ainda mais, vejamos como é complicado quando os
rios enchem e ultrapassam seus limites, inundando ruas e casas.

Como vemos, não pode haver vida estruturada sem limites. E através
dos limites a vida não apenas flui, mas cria e recria. Pois certamente
muitas das maiores invenções humanas só ocorreram porque em certos
dias nos vimos limitados e necessitamos criar uma outra forma de ser ou
de agir para contornar certos limites.

A partir disso não é difícil concluir que os limites são realmente neces-
sários e que precisamos deles para viver. Se toda a natureza precisa de
limites, com as crianças não será diferente.

Portanto, se amamos nossas crianças, se queremos que suas vidas se


estruturem e se fortaleçam, precisaremos ajudá-las na importante tarefa
de viver com limites.

COMO CONSTRUIR OS LIMITES


COM AS CRIANÇAS PEQUENAS?
Os limites exercem um papel essencial na estruturação psicológica das
crianças durante seus primeiros anos de vida. Por isso esse tema deve
ser objeto constante de atenção de pais e educadores.

Durante os três primeiros anos de vida, pôr limites na criança é o que há


de mais crítico. A regularidade na vivência de limites cria uma rede neuro-
lógica interior a partir da qual as regras podem ser captadas mais tarde.

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Crianças que tiveram experiências esporádicas, contraditórias ou confu-
sas com limites, apresentam mais tarde dificuldades para captar as regras,
como se tivessem uma rede mal tecida (WILD, 2006).

Mas na prática cotidiana, o que isso significa? Que os pais e educado-


res da criança precisarão insistir muitas e muitas vezes com os limites.
E saber que não podem nem devem esperar que a criança respeite os
limites porque falamos uma ou duas vezes.

É fácil entendermos a teoria desse processo. Mas vivê-lo exigirá uma


grande paciência do adulto, pois implicará suportar repetidamente os
mesmos erros e afrontas das crianças aos limites estabelecidos.

Como mostram os estudos da grande pedagoga Rebeca Wild (2006),


o organismo infantil necessita em torno de três anos até que chegue
a produzir uma densidade suficiente de experiências com limites, de
forma que consiga mais tarde conceber as regras como tais.

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


Saber disso, permite responder a uma das questões mais comuns entre
os pais, que dizem: “Os limites não funcionam com o meu filho, pois eu
falo da forma correta que não é para fazer, e ele vai e faz novamente a
mesma coisa! Os limites não estão funcionando!”

Quando os pais dizem tal coisa, significa que estão esperando uma solu-
ção imediata, rápida. Porém muito poucas coisas na educação do ser
humano (ou quase nenhuma) acontecem de forma imediata e rápida.

Estamos tratando de processos de desenvolvimento, de amadurecimen-


to, que requerem seu tempo para acontecer. Por isso devemos saber:
dar limites requer que os pais e educadores repitam as mesmas frases e
atitudes inúmeras vezes.

Saber disso nos tranquiliza, pois aplicaremos os limites com mais paci-
ência e tolerância, sem nutrir falsas expectativas, sem esperar algo que
naquele momento a criança ainda não está pronta para oferecer.

Em termos ainda mais práticos, as primeiras experiências da criança


com limites são produzidas basicamente de duas maneiras:

1. Pelo contato com as leis inquebrantáveis da Natureza


Por exemplo, a criança sentirá dor cada vez que se chocar com uma
parede. Ou ainda, se ela não cuidar de seu equilíbrio no balanço, irá
cair, pois a lei de gravidade irá atuar de forma implacável, sem dar
qualquer chance.

2. Pela firme vontade do adulto


Por exemplo, quando a mãe se impõe e não permite que a criança

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passe tinta nos cobertores. Ou quando o pai é incisivo à beira da calça-
da e proíbe a criança de dar qualquer passo sozinha, pois carros estão
passando e desobedecer a esse limite poderia ter o preço de uma vida.

Entretanto para possibilitarmos essas experiências saudáveis com limi-


tes, precisaremos oferecer à criança um ambiente pedagogicamente
preparado. É o que falaremos em seguida.

LIMITES E AMBIENTE PREPARADO


Para que um bom trabalho com limites possa ocorrer, será necessário
que a criança tenha a sua disposição um ambiente bem estruturado. O
ambiente é um agente educador muito importante na primeira infância,
e é nele que a criança irá encontrar limites e possibilidades que deverão
fazer parte de suas primeiras experiências.

Quando não há um bom ambiente, acontecem coisas negativas como as


proibições constantes dos pais. Podemos imaginar a criança com 2,6 anos

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


na cozinha de sua casa. A cada passo que der, ouvirá um incisivo “não”.

Isso é óbvio, pois na cozinha haverá tomadas, facas e outros objetos cor-
tantes e pesados, perigosos. Nesse caso, o problema não está nos limites
e na forma de empregá-los, mas sim no ambiente que é inadequado.

Assim como se essa mesma criança fosse ao supermercado e quisesse


pegar todas as coisas das prateleiras. Isso seria normal, pois nessa fase
as criança precisam pegar, manusear, sentir o mundo com as mãos. Mas
ela seria repreendida o tempo todo.

Onde está a solução do problema nesse caso? Em dar mais limites?


Em dar limites mais firmes? Ou então em comprar tudo o que a criança
pegar? Certamente nenhuma dessas alternativas será válida para uma
boa formação da criança. O problema nesse caso é que estamos tentan-
do educá-la em um ambiente que não é próprio para tal.

É claro que em certas ocasiões não poderemos evitar uma situação de


estar com nossas crianças em locais ou ambientes impróprios. Mas nes-
ses casos devemos saber que não será nesse momento e nesses locais
que iremos educá-la. Será melhor deixar para outra ocasião o trabalho
de construir limites claros.

Se insistimos em trabalhar os limites em ambientes inadequados, com


ruídos, perigos, pessoas demais, dentre outros, geraremos prejuízos
para as crianças e para nós adultos. Esse tipo de situação é bastante
negativa pois levará a um desgaste da autoridade dos pais ou educado-
res, já que se verão obrigados a usar os limites de forma indiscriminada.

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Já discutimos que a vida envolve limites, mas a vida não é, e não pode ser,
somente limitações! Quando digo para a criança que não pode fazer tal
coisa, naturalmente devo apontar o que ela pode fazer. Se lhe nego uma
possibilidade, preciso lhe oferecer outra.

Por isso uma recomendação muito importante é que tenhamos ambien-


tes apropriados para educar nossas crianças, com mobílias, espaços,
materiais adequados, sem poluições sonoras, visuais e sem poluições
morais, como brigas, gritos e discussões de adultos. Somente assim ire-
mos permitir que a criança tenha a devida liberdade para tecer suas
próprias experiências e que possa aprender com elas.

Além disso, os limites não podem ser aplicados como receitas prontas. Em
cada etapa de seu desenvolvimento a criança possui certas necessidades
essenciais, além de uma forma de linguagem específica, que deve ser bem
compreendida para que possamos auxiliá-la em seu processo educacional.

Vamos então tratar de entender como podemos dar limites de forma

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


adequada a cada etapa da vida da criança pequena.

OS LIMITES E AS ETAPAS DA INFÂNCIA


//Limites dos 0 a 3 anos
Nessa idade precisamos saber que as crianças são sensório-motoras-e-
mocionais. Isso significa dizer que elas compreendem o mundo a partir
das experiências que fazem com seu corpo e com suas emoções.

Portanto se queremos ensinar algo às crianças dessa idade, devemos


levar em conta os espaços, os materiais, os seus movimentos, as coisas
que elas podem pegar com as mãos, as suas posturas.

No caso dos bebês de 0 a 1 ano, muitos limites precisam ser dados pelo
espaço físico. Com isso queremos dizer que não será efetivo pedir que
um bebê não engatinhe para além de certo espaço argumentando que
é perigoso.

Se esse limite é necessário, precisaremos delimitar fisicamente o espaço


adequado para o bebê engatinhar, utilizando divisores de ambientes de
madeira vazada ou de almofadas firmes, que sirvam como barreira.

E quando vamos falar com as crianças dessa faixa de idade, devemos


dar mais importância para as emoções, sentimentos e tonalidades das
palavras, do que para o seu significado.

Por isso quando queremos trabalhar os limites com bebês e crianças


pequenas, abaixo de três anos de idade, não devemos dar muitas
explicações, nem sequer falar demais. Devemos ser breves e sucintos.

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E saber que frases musicais, com tonalidades enfáticas, farão melhor
efeito do que longas explicações em tom de voz linear.

Vamos imaginar uma situação prática em que a criança de 1,8 anos


foi chegando perto do computador do pai que estava sobre a mesa e
começou a puxá-lo pelo fio, de forma que se não fosse interrompida
poderia derrubar o computador no chão ou por cima de si mesma.

Nessa hora o pai se aproxima e diz: “Filho, você não pode puxar esse fio.
Se fizer isso, o computador do papai, que é muito caro, vai cair no chão.
Vai quebrar. O papai vai ficar triste. E depois o papai vai ficar muito chate-
ado com você. Então que tal soltarmos o fio?”

Essa é uma descrição clara de como não devemos proceder com uma
criança dessa faixa etária. Esse tipo de explicação não é devidamente
compreendida por uma criança tão jovem, pois suas capacidades mentais
e de linguagem ainda estão se desenvolvendo.
No caso desse exemplo, caberia ao pai ser incisivo, dizendo o clássico

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


“Não!”, ou algo como: “Ai-ai-ai-ai-ai”, em tom enfático, musical, tea-
tral, com uma expressão facial adequada, com mãos na cintura expres-
sando certa indignação, que poderíamos traduzir como: “O que é que
você está fazendo com esse fio na sua mão? Tenha muito cuidado, pois
você sabe que não deveria fazer isso e que eu não estou gostando”.

Mas não vamos falar essas frases. Vamos codificar essa mensagem em
uma expressão simples, curta e sonora, que a criança poderá enten-
der. Quer dizer que podemos passar uma mensagem muito precisa para
essa criança, mas a forma deverá ser apropriada.

//Limites dos 3 a 6 anos


A partir de três anos ocorrem mudanças substanciais com a criança
pequena. Entra em cena a fala e a estruturação do pensamento sim-
bólico, tudo isso fruto de um amadurecimento mental que começa a
acontecer de maneira mais sólida nessa etapa da vida.

Isso significa que a partir desse momento a criança começa a entender


não apenas os sons das palavras e as emoções e sentimentos nelas con-
tidas, mas também o seu significado. A criança agora poderá lidar com
seus primeiros conceitos, o que lhe permitirá melhor compreender as
explicações dos adultos.

Portanto, a partir de 2, 6 a 3 anos o trabalho com limites deve continuar,


mas agora poderemos também fazer uso das regras.

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limites x regras
Confundir limites e regras pode trazer muitos problemas. Por
isso precisamos entender a diferença entre um e outro. Os limi-
tes são incisivos, são impostos, são inegociáveis e inflexíveis.

Pensemos nas leis da Natureza, como descrevemos acima. Se soltarmos


um objeto como um copo de cristal de certa altura, a lei da gravidade
o atrairá para o solo. Não importa o quanto esse objeto nos seja caro,
ele irá cair! As leis da Natureza traçam os limites da vida, e é isso o que
precisamos ensinar aos poucos às crianças, para que possam aprender a
se relacionar com as leis da vida.

Por outro lado, as regras são criações humanas. São os chamados “com-
binados”. E um combinado pode ser desfeito, assim como foi feito. Basta
querermos entrar em um acordo. As regras envolvem um conteúdo inte-
lectual, uma explicação. E elas podem ser mais ou menos elásticas.

Por exemplo, posso combinar com meu filho uma regra de que não se

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


pode correr na sala de estar da casa. Mas em certa ocasião, posso flexibili-
zar essa regra e permitir que se corra para pegar uma coisa que esquece-
mos em um dia em que todos da família estão atrasados para sair de casa.

Por isso, os melhores sistemas para ensinar as regras e como lidar com
elas são os jogos. Pois falar de jogo é falar de regra. Não existe jogo
sem regras, pois são elas que permitem ao jogo funcionar, ser compre-
endido, e ter o sabor de alegria e diversão que lhe caracterizam.

Em um jogo de futebol o esforço de fazer a bola passar por entre duas


traves de ferro só se justifica porque há uma regra afirmando que quan-
do isso acontece, será marcado gol. Podemos então imaginar a vida
como um grande jogo, com as regras combinadas pelas famílias, pelas
escolas, pela sociedade em que vivemos.

Aí temos a importância de trabalharmos as regras através de jogos com


as crianças a partir dos 3 anos de idade, a fim de que as crianças tenham
oportunidade de aprender a se relacionar com esses distintos ambien-
tes, instituições, grupos humanos.

Devemos ter, portanto, as regras da casa, as regras da escola. As regras


do final de semana. Elas devem consistir em combinados bastante cla-
ros e serem sempre seguidas de forma coerente.

É muito negativo quando o adulto combina uma regra com uma crian-
ça, exige que ela seja cumprida, mas ele é o primeiro a desobedecê-la.
Devemos lembrar que não há educação mais eficiente que o exemplo do
adulto para a criança. O que falamos tem valor, mas o que fazemos tem
ainda mais.

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Depois de uma saudável experiência com os limites, de construir as
primeiras regras e aprender a segui-las, de incluí-las em seus jogos, a
criança passa para uma terceira fase: a do jogo em que ela agora não
só segue regras, mas aprende a criá-las e a fazer experiências com elas.

Assim vemos se desenhar todo um percurso da vida que vai se


desenvolvendo, ganhado formas cada vez mais complexas, elaboradas,
ricas.
Apesar de claramente podermos comprovar o quanto os limites são
positivos na vida da criança, muitos adultos negam sua importância sus-
tentando preconceitos contra a atitude de dar limites à criança. Vamos
agora tratar desse tema.

limites x preconceitos
autoritarismo e marcas negativas na infância
Uma importante barreira a ser transposta para que consigamos êxito

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


em nossa tarefa de educar as crianças pequenas é nosso preconceito
com os limites. Uma série de discursos surgidos a partir dos anos 1960,
com propostas de maior liberdade, de quebrar padrões e regras, foram
interpretados como uma necessidade de eliminar os limites.

Além disso, a ciência psicanalítica que também surge no século XX passa


a trazer conceitos como repressão e trauma, que se tornam populares, e
muitas vezes mal compreendidos.

Esses fatos e movimentos levaram a muitas conquistas positivas, contra-


pondo formas de vida obsoletas e rígidas demais, mas por outro lado
foram também interpretados de forma extrema, influenciando muitas
pessoas a banir os limites ou a temê-los com relação aos seus filhos, com
receio de estar prejudicando o desenvolvimento natural de suas vidas.

Assim, muitos pais e também educadores inexperientes se ressentem


bastante no momento de trabalhar os limites com as crianças. O motivo
para isso é o fato de acreditarem que os limites restringem a liberdade
das crianças. Ou que as impactam negativamente em termos psicológi-
cos, levando a criança a desenvolver medos e falta de iniciativa porque
receberam limites dos pais.

Mas não é isso o que acontece verdadeiramente. Os limites são neces-


sários para que a criança possa se orientar no mundo. São os limites que
assinalam para a criança até onde ela pode ir em segurança e também
a partir de onde existem riscos e perigos.

São também os limites que demarcam o “eu” da criança, onde ele come-
ça e onde termina, assim como assinalam onde começa e termina o “eu”

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do outro. Os limites são então fundamentais para a liberdade, para o
autoconhecimento e para a convivência humana.

Quando as barreiras acima expostas são vencidas pelos adultos, surge


uma outra tão ou mais difícil do que as demais: o receio de que dar
limites é ser duro com a criança. Não há dúvidas de que posturas duras
e rígidas demais podem ocorrer. Porém são erros de conduta. São des-
controles do adulto. E isso nada tem a ver com dar limites.

Dar limites é um gesto de amor tão profundo, pois é capaz de levar uma
mãe com vontade de sorrir, a fechar o rosto para mostrar ao seu filho
quando ele agiu mal e com isso educá-lo.

Às vezes, dar limites não é o mais agradável. Em certos momentos, a


criança não irá gostar e em muitos ela lutará contra os limites. Mas deve-
mos saber que isso faz parte do processo de construção não só dos
limites, mas de toda a personalidade da criança.

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


Precisamos saber entender a criança, já que não é uma experiência fácil
ou simples perceber que não podemos fazer e ter tudo o que quere-
mos, como queremos, quando queremos. Os limites existem. E a crian-
ça precisará ser apresentada a eles. Mas se estivemos junto com ela
nessas experiências, demonstrando amor e compreensão, tudo se enca-
minhará bem.

//Limites precisam ser sólidos


Quando pais e educadores assumem a tarefa de dar limites com
alegria e bom ânimo, compreendendo adequadamente a sua imen-
sa importância, naturalmente as resistências das crianças se tornam
menores. Uma fórmula essencial para ultrapassar essas resistências é
que os limites sejam sólidos.

Essa solidez dos limites só existe quando a postura do adulto é firme.


Por isso a firmeza do adulto é essencial. Os limites precisam ser sólidos,
logo a postura para aplicá-los precisa ser firme.

Porém não devemos confundir firmeza com atitudes rígidas, nem com
emoções como a raiva. Ser firme é não negociar, porque há coisas que
não podem ser negociadas. Não há negociação possível para atraves-
sar uma rua com automóveis passando em alta velocidade.

A firmeza oferece segurança, pois se nada é firme, se tudo se move, se


os limites mudam a todo tempo, tornando-se elásticos, não há onde a
criança buscar apoio seguro para agir.

Estamos tratando da estruturação e da preservação da vida. Portanto


quando os limites são claros e firmes, a criança irá se sentir segura, para

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agir, para brincar, para viver, pois os limites lhe comunicam claramente o
espaço-tempo no qual pode ficar tranquila para se desenvolver.

Esse é um grande reflexo que podemos perceber em crianças que pos-


suem limites bem trabalhados: uma grande tranquilidade para aprender
e se desenvolver.

Depois de tantos argumentos favoráveis, podemos aceitar que construir os


limites é tarefa mais do que necessária. Mas não podemos supor a ausência
de dificuldades. Algumas delas são bastante conhecidas e devemos conse-
guir identificá-las, como faremos a seguir.

Encontramos sempre algumas resistências e dificuldades quando que-


remos desenvolver algo em nossas vidas. E isso naturalmente acontece
quando queremos contruir os limites com nossas crianças. Contudo, se
bem compreendidas e pensadas, essas dificuldades poderão ser supe-
radas. Vejamos algumas dessas dificuldades e como superá-las:

DIFICULDADES PARA CONSTRUIR

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


OS LIMITES COM AS CRIANÇAS
//O instinto materno
Um dos entraves que encontramos para construir os limites com a crian-
ça é o próprio instinto maternal. Em especial para as mães, é muito mais
difícil dar limites para seus próprios filhos. Por instinto, queremos sem-
pre proteger, cuidar, evitar atritos, e nem sempre isso é possível quando
se trata de dar limites.

Por isso em primeiro lugar devemos saber que essa será uma dificulda-
de a ser enfrentada. E devemos ser capazes de perceber quando esta-
mos deixando o instinto falar mais alto do que o dever de educar.

//Instabilidade emocional do adulto


Outra dificuldade muito comum é a instabilidade emocional do adul-
to. Quando estamos tristes ou irritados, por exemplo, agimos mal com
as crianças. Além disso as crianças são hábeis em perceber nossa carga
emocional negativa, e costumam não nos atender bem quando demons-
tramos descontrole. Pois limitar também pode ser vista como uma ação
de controlar uma situação. E não podemos controlar nada quando nós
mesmos estamos descontrolados.

Por isso a primeira regra para lidar com nossa instabilidade emocional
frente as nossas crianças, é sermos capazes de escolher outro momen-
to para trabalhar os limites, quando estejamos em melhores condições
internas. Nossas emoções são não apenas sentidas, mas absorvidas pelas
crianças. Por isso devemos reservar a elas nossas melhores emoções.

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//Contrapor amor e limites
Outro erro é alegar que não se quer dar limites por amor às crianças. A
questão aqui é justamente o contrário: é justamente porque amamos
nossas crianças que devemos dar limites a elas.

Que gesto maior de amor podemos ter do que ensinar nossas crianças
a viver nesse mundo, ensinando-as a se proteger dos muitos perigos e
conhecendo suas leis? Só alguém que ama profundamente uma criança
pode lhe dar limites.

A maior prova que podemos ter disso, é que quando somos firmes nos
limites, as crianças nos retribuem com um carinho cada vez maior, pois
sentem-se protegidas perto de nós. Sabem, de forma profunda, que
estamos cuidando de suas vidas, e a seu modo, são gratas por isso.

//Vergonha para dar limites


Outro receio dos adultos é de serem vistos dando limites, e envergo-
nharem-se por isso. Quando isso acontece, geralmente o adulto enten-

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


de mal os limites ou age mal ao tentar aplicá-los. Em ambos os casos,
precisamos nos corrigir.

Quando somos firmes e ao mesmo tempo carinhosos, não transmitimos


qualquer impressão negativa, nem aos demais, nem a nós mesmos. Pois
internamente, estamos tranquilos. E devemos estar!

Nosso rosto pode estar sério, como um saudável tetro que fazemos
para impor limites a uma atitude negativa da criança. Mas internamente
estamos sorrindo. Essa é a imagem que devemos ter ao dar limites.

Além do mais, muitas vezes poderemos escolher um ambiente privado,


íntimo, para trabalhar os limites de nossas crianças. Mas às vezes nos
veremos sem escolha e teremos que pagar o preço de educar nossas
crianças nos momentos necessários, mesmo que isso não nos agrade
em certas ocasiões.

//Adotar Receitas Prontas


É comum em nossos dias buscarmos livros ou mesmo textos e dicas de
conhecidos ou mesmo na internet sobre como dar limites para dormir,
para comer, para fazer com que a criança deixe de chorar. E nesse ímpeto
muitas vezes os adultos tomam para si receitas prontas de como fazer.

Sem dúvidas, dicas de bons educadores ou especialistas em temas da


infância e do comportamento humano podem ajudar. Mas devemos ter
cuidado com as receitas prontas. Nossas crianças são únicas, têm suas
próprias histórias, suas necessidades e jeitos de ser e agir específicos.

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Por isso é fundamental que aprendamos a olhar para nossas crianças.
Mas deverá ser um olhar com profundidade, com interesse, com aten-
ção dedicada, pois somente assim poderemos conhecer as necessida-
des reais de cada criança e encontrar a forma correta de dar limites a ela.

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância

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PALAVRAS FINAIS
O assunto dos limites é longo, envolve particularidades como em rela-
ção a cada idade e fatos específicos da vida de cada criança, de cada
família ou de cada escola. Por isso não é tarefa simples atender as
necessidades precisas de cada pai e mãe com seus filhos ou de cada
educador com sua turma de alunos.

Mas certamente se nos dedicarmos a compreender alguns princípios


essenciais da vida, do ser humano, e em específico da criança pequena,
poderemos construir uma relação melhor, uma vida melhor, uma educa-
ção melhor, um mundo melhor.

É nisso que acreditamos e é isso o que sonhamos com esse texto. Que-
remos que ele seja uma semente a ser plantada no coração de cada
adulto que educa uma criança, para que germine e torne-se uma árvore
de bons frutos humanos.

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


Para nós que acreditamos em uma educação diferenciada, humanizado-
ra, se após essa leitura ao menos um pai, uma mãe ou uma educadora,
puder ajudar ao menos uma única criança a compreender melhor a vida
e seus limites, cada linha terá valido a pena.

REFERÊNCIAS

ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2003.


KANT, I. Fundamentos da metafísica dos costumes. 4. ed. Rio de Janei-
ro: Ediouro, 1967.
WILD, R. Libertad y límites, Amor y respecto: lo que los niños necessi-
tam de nosotros. Barcelona: Herder, 2006.

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Roger
Hansen
É Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Pesquisador da infância há quase 15 anos, iniciou sua
carreira como professor universitário e posteriormente dedicou-se ao
desenvolvimento da Pedagogia Florença. Roger é Diretor do Colégio
Acadêmico Florença, que atende crianças de 0 a 6 anos. Em paralelo
segue conduzindo seus estudos e pesquisas sempre aliados a uma
profunda experiência prática, em contato direto com as crianças e
educadores. Nos últimos anos tem ministrado cursos e palestras em
várias partes do país sobre o tema da Educação na Primeira Infância. É

Como trabalhar os limites em cada etapa da infância


autor do livro Pedagogia Florença 1: bases para educação infantil de 0
a 3 anos, e palestrante TEDx Senai Florianópolis/2017.

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