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sociedade. amazôriica
.
EDITORA
.ESTUDOS.AMAZÔNICOS
Capitulo 1 Para que servjam as colônias? ......•••••••••.•.•....••..••••••••• 8
Arquivo Público
do Maranhão
inaugurado em 14
de novembro de 1932
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6
0 CAPÍTULO 1 0 CAPÍTULO 3
Para que serviam as Extrativismo na Amazônia
colônias?
0 CAPÍTULO 2 0 CAPÍTULO 4
Para administrar a Agricultura na Amazônia
Amazônia: um novo
Estado
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Os territórios conquistados por Portugal e Espanha no mundo
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Os territórios cobiçados pelos europeus não eram desabitados.
Muito pelo contrário, neles viviam povos que conheciam bem o espa-
ço em que moravam. No entanto , os europeus, quando encontravam
essas terras, as tomavam como se fossem suas e, na maioria das
vezes, passavam a desconsiderar os costumes e os hábitos das popu-
lações nativas. Na Amazônia, não foi diferente. Falamos muito sobre
isso no livro anterior. Você lembra?
10
O principal objetivo de uma Colônia, como as que Portugal teve
na América, era fornecer riquezas para a sua Metrópole. Por que
isso acontecia? São muitas as razões. Aqui, nós vamos tratar de uma
delas. Prest e atenção! Na Europa daquele período, os governos acre-
ditavam que havia duas formas de produzir riqueza. Uma delas era
por meio da descoberta de minas de metais preciosos. A outra era
pelo comércio.
Os europeus acreditavam também que no "Novo Mundo" havia
muitas minas de metais e pedras preciosas inexploradas. Contudo,
isso não era bem assim. Não havia minas de ouro ou prata em todos
os lugares da América. Na Amazônia, por exemplo, nenhuma mina
importante foi encontrada durante o Período Colonial. Nesses casos,
a Metrópole incentivava a produção de gêneros que pudessem ser
comercializados.
A Metrópole portuguesa via na Amazônia a possibilidade de con-
seguir produtos de grande interesse no mercado internacional. Agora
que nós sabemos disso, vamos descobrir como a relação entre Portu-
gal e sua Colônia na Amazônia se deu e também saber quem produzia
a riqueza e para onde ela era encaminhada. Vamos aprender mais
sobre isso?
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· um novo Estado
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Trecho da costa brasileira de difícil navegação
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Modelo de caravela
usada no século XVII
Povoar: Povoar
era uma forma de
controlar e defender
o território, além
de torná-lo mais
produtivo. Para os
homens daquela
época, quanto
mais povoado
era um território,
mais riquezas
eram produzidas.
Nas colônias, o
povoamento era
Além de grande, o Maraíion era habitado por muitos povos indí- visto como uma
genas diferentes. Bem antes dos portugueses, ele foi explorado por forma de defender
espanhóis, franceses, ingleses e holandeses. A noticia de que esses o território: terras
povoadas eram
europeus estavam interessados nessas terras mobilizou a Metrópole mais difíceis de
portuguesa a promover um grande esforço para ocupar a região. A serem conquistadas
expulsão dos franceses do que hoje é o estado do Maranhão, a funda- que terras sem
ção da cidade de Belém e a criação do Estado do Maranhão e Grão- ninguém. No
·Pará fazem parte dessa história. entanto, você já
sabe que a região
Ocupar significava administrar, povoar e defender essa imensa era habitada há
região, tarefa nada fácil em uma época em que não havia estradas muito tempo por
milhares de pessoas.
nem mesmo veículos velozes. Além disso, Portugal tinha outro proble- As tentativas
ma: conseguir administrar a Amazônia a partir da capital da Colônia de povoamento
portuguesa na América, a cidade de Salvador, na capitania da Bahia. pensadas por
A navegação entre o território amazônico e o restante do Brasil era Portugal tiveram
de lidar com essas
tão difícil que muitas vezes os navios naufragavam ou se perdiam no pessoas. Vamos ver
trajeto. Você acredita que era mais fácil ir de Salvador para Lisboa, isso mais à frente.
em Portugal, do que para São Luís? Isso realmente acontecia.
13
O colono conhecendo
a cultura indígena,
fato importante para a
povoação da região,
"A caça de jacaré",
Henry Bates, c.1850
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c'.lar.1 M ,., P.t11r11, Jf11.'11wm1,::u:;
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Estado do Maranhão
"A caça de
jacaré",
Henry
Bates,
c.1850
Estado do
Maranhão:O
Estado do Maranhão
foi criado em 1621.
Ao longo dos anos,
a sua denominação
foi alterada: em
1654, ele passou a se
chamar Estado do
Maranhão e Grão-
Pará, cuja capital era
São Luís; quase cem
anos depois, o nome
foi mudado para
Estado do Grão-Pará
A criação do Estado do Maranhão gerou a necessidade de for- e Maranhão, com
capital em Belém.
mar uma nova administração no local. Era preciso indicar um novo Em 1772, esse Estado
governador e todos os outros cargos que garantissem o controle de foi desmembrado
Portugal sobre a região. Você percebeu que a Coroa portuguesa criou em outros dois: no
o Estado do Maranhão para melhor controlar o território amazônico? Estado do Maranhão
Porém, como será que esse novo Estado foi administrado? O que nele e Piauí e no Estado
do Grão-Pará e
se produzia? Como a região foi inserida no Sistema Colonial? É o que Rio Negro. Essa
iremos discutir nos próximos capitulas. divisão perdurou
até a Independência
e só depois dela
foram criadas novas
"Prospecto da Cidade de Sta. Maria de Belém divisões do território
do Grão-Pará", 1784, no período colonial, amazônico.
atribuído a J.J. Codina
t REPRODUÇÃO
IS
Vimos, nos capítulos anteriores, que a Amazônia era de gran-
de interesse para a Metrópole portuguesa. Os colonizadores acredi-
tavam que metais preciosos, o ouro especialmente, seriam encom-
1
trados na região. A expectativa era que se repetisse na Amazônia o
mesmo que ocorreu na Colônia espanhola, nos Andes. O ouro, porém,
não foi encontrado. Mas isso não impediu que outros produtos fossem
explorados. Foram esses produtos que fizeram a região participar das
trocas que conformavam o chamado Sistema Colonial.
Extração do ➔
pau-brasil por
meio do trabalho
indígena, A tlas
Miller (detalhe de
um pergaminho
do século XVI)
16
Estamos f alando dos produtos da atividade extrativista. O ex-
trativismo é a coleta ou a captura de plantas , animais e frutos reti-
rados diret amente da natureza. Na verdade, o extrativismo já acon-
tecia antes mesmo da chegada dos europeus. Há séculos, já era
feito pelos diferentes povos indigenas que habitavam a região. Você
se lembra das primeiras populações amazônicas que viviam da caça
e da coleta que vimos no primeiro volume da coleção? Elas viviam do
extrativismo. Mesmo os povos indigenas de várzea, que desenvolve-
ram o cultivo de plantas, jamais deixaram de extrair os recursos da
natureza amazônica.
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"' A atividade extrativa foi muito importante na região. Isso se deu O uso da
porque os povos indigenas já a praticava·m há muitos séculos antes mão de obra
de os europeus chegarem ao continente americano. Os europeus se indígena na
extração do
aproveitaram do conhecimento dos povos indigenas nessa área. As pau-brasil
primeiras relações de troca entre europeus e povos indigenas tiveram
as atividades extrativas como base. Quem não se lembra da extração
e da comercialização do pau-brasil na costa atlântica brasileira? Na
Amazônia, da mesma forma, os primeiros contatos entre indigenas
e europeus se deram pela exploração das madeiras da região. Essa
exploração perdurou por todo o Periodo Colonial.
Porém , como era a atividade extrativa? O Padre João Daniel,
que viajou pela Amazônia no século XVIII, nos dá uma ideia. Em seus
escritos, ele esclarece que os moradores que pretendiam subir o rio
Amazonas em busca de riquezas às suas margens ou em matas próxi-
mas precisariam de licenças, além de indios para os guiarem até os
produtos, como cacau, salsa e cravo. Esse trabalho poderia durar de
6 a 8 meses! Os indios remavam as chamadas canoas do sertão.
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Tijupares: Eram pequenas
Era um trabalho árduo, porque os indios tinham de vencer as
cabanas feitas no local correntezas dos rios, remando em canoas muito altas, o que dificul-
em que as expedições tava alcançar a água com as pás ou remos. O padre João Daniel nos
decidiam acampar. conta também que, depois de ancoradas as canoas, os indios faziam
as tijupares , ou feitorias, e, para isso, cortavam as matas, limpan-
Salgados e beneficiados:
Processo pelo qual passava
do o terreno. Lá, construiam canoas menores, as quais permitiam
o alimento perecível como navegar com maior agilidade e maior rapidez para a pesca. Outros
forma de preservá-lo por colonos dividiam os indios pelos diversos riachos ou rios pelo inte-
mais tempo. A carne de rior do território na busca por cacau e outros produtos. Os produtos
peixe ou de caça era limpa que achavam eram levados para as feitorias. Também faziam gran-
e depois banhada no sal. As
carnes ficavam dias secando des pescarias de peixes-bois, que eram salgados e beneficiados
ao sol. Esse é um processo de diversas maneiras. Além disso, os indios continuavam extraindo
feito ainda hoje em várias copaibas, baunilhas e tudo mais que podiam, até o momento de
regiões da Amazônia. voltar à cidade.
.
Modelo de
feitorias ou
tijupares
Com essa breve descrição feita pelo padre João Daniel, você per-
cebeu o quanto os colonos dependiam dos indigenas para realizarem
a atividade extrativa na região? Essa dependência não era apenas
porque os indigenas eram obrigados a dar conta de todo o trabalho
pesado. Os europeus também dependiam dos indigenas em razão dos
conhecimentos que eles tinham sobre o ecossistema amazônico.
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No Período Colonial, os produtos
extraídos serviam tanto para a expor-
tação como para o uso das pessoas
que moravam na região amazônica.
Quer um exemplo? Vamos falar da ma-
deira. Ela era importante para as vilas
e povoados que estavam surgindo no
Estado do Maranhão, pois era essen-
cial para construção de quase tudo. As
casas, as carroças e até os fortes mi-
litares tinham a madeira como maté-
ria-prima principal. Essa estrutura era
essencial para a fixação dos colonos e
para a defesa do território.
6
tório, os produtos extraídos também eram importan-
tes. Afinal, as viagens eram longas, cheias de obstá-
culos e muitas vezes sem data certa para terminar.
Por isso, produtos como os peixes secos, as michiras Manteiga
(carnes de animais cozidas e conservadas em sua
própria gordura), a farinha de peixe, a manteiga, a ~
carne e o casco da tartaruga e a farinha de mandioca
eram muito usados pelos viajantes, uma vez que es-
~
Carne na gordura
ses alimentos não estragavam rapidamente.
Então, você percebeu o quanto o extrativismo
era importante para a ocupação do território ama-
zônico? A atividade extrativista atravessou todo
o Período Colonial. As razões para que isso tenha
acontecido são muitas. Entre elas, podemos citar:
a ocupação tardia da região; a falta de investimen-
tos da Coroa portuguesa; e a dificuldade para a
implantação da agricultura na região.
Por falar em agricultura, é sobre essa ativida-
de que trataremos no próximo capítulo. Vamos lá!
Carne de tartaruga
19
Você já sabe que o extrativismo foi muito importante para
a ocupação da Amazônia pelos portugueses. Durante o Periodo Co-
lonial, a Metrópole portuguesa também incentivou outras atividades
econômicas que rendessem riquezas e ajudassem na conquista do
território. Uma das mais importantes foi a agricultura. Vamos conhe-
cer as razões?
Importantes acontecimentos dos séculos XVI e XVII no Brasil
Fundação de
•.
Belém
As primeiras
expedtções
Estabelecimento
do Governo-geral
Auge da agricultura
no Nordeste
rodução sistemática
de scravos africanos
Brasil
•
20
Para a Metrópole, a produção agrícola poderia inserir a Colônia
do norte no comércio do Atlântico de forma mais organizada e fre-
quente do que a produção baseada na extração das "drogas do ser-
tão". A Metrópole portuguesa também acreditava que outra grande
vantagem da agricultura na Amazônia seria a fixação dos colonos,
que passariam a viver nas vilas e povoados das capitanias do nor-
te. Com mais gente morando na região, a agricultura também seria
muito importante para o abastecimento de alimentos para os seus
habitantes.
Como você pode perceber, a Metrópole portuguesa via algumas
vantagens na atividade agrícola: a primeira delas era o aumento da
produção, com geração de excedentes a serem comercializados no
mercado internacional; a segunda era a fixação dos colonos na re-
gião; a terceira era que a terra ocupada pelos colonos não poderia
ser tomada por estrangeiros; e, finalmente, a quarta vantagem era
que a agricultura abasteceria a Colônia de alimentos.
A ideia de Conquistar o espaço utilizando a agricultura não era
nova para os portugueses. Foi assim em várias colônias portuguesas,
entre elas o Brasil. Lembre-se de que, quando a colonização da Ama-
zônia ganhou força no século XVII, já havia quase cem anos de ocupa-
ção portuguesa nas capitanias do Nordeste, principalmente na Bahia
e em Pernambuco. Aliás, muito da experiência desenvolvida com a
agricultura nessas capitanias foi reproduzida na Amazônia. Mas será
que isso deu certo?
~ Plantação na
Amazônia orientada
pelos Padres
Jesuítas, desenho do
diário do Pe. João
Daniel, séc. XVII
21
Isso não significa , porém , que não houve agricultura na região.
Houve sim! Mas a experiência foi bem diferente da do Nordeste. Para
começar, na Amazônia , o uso da mão de obra indígena foi, durante
muito tempo, a principal alternativa dos colonos. Essa mão de obra
era fundamental para a agricultura , afinal, era necessário derrubar a
mata, limpar o terreno , preparar a terra, semear, colher e manter a
plantação. Então, quem faria todo esse serviço nas lavouras? Os indí-
genas. Essa foi uma das razões pela qual eles foram muito disputados
na Amazônia. Os religiosos e os colonos queriam controlar essa mão
de obra . Diante dessa situação, colonos e missionários pressionaram
Cultivo do cacau
por indígenas: a Coroa portuguesa para autorizar o tráfico de escravos africanos
derrubada, queimada, para a região amazônica.
preparação da terra,
plantação e
colheita do fruto
'f ALLAN BITTENCOURT
22
Outros produtos também foram plantados: arroz, milho, tabaco,
cana-de-açúcar, café e alguns legumes. A agricultura foi uma tenta-
tiva de garantir a ocupação do território amazônico e inseri-lo na
economia colonial. Contudo, a produção agrícola na Amazônia não
alcançou os resultados esperados pelos colonos e pela Metrópole por-
tuguesa. A agricultura na Amazônia, durante o Período Colonial, ficou
concentrada em pequenas áreas, como pode ser observado no mapa
a seguir.
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Cana-de-Açúcar Mandioca Ordens Religiosas Arroz
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23
O padre João Daniel também escreveu sobre a agricultura na Ama-
zônia. Em um de seus textos, ele descreve como a plantação de cacau
era feita pelos colonos. Abaixo, há um pequeno trecho do texto.
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Vimos nesta unidade como o extrativismo e a agricultura foram
importantes para os primeiros anos de ocupação portuguesa na re-
gião. A part ir de 1617, muitos religiosos vieram para a Amazônia com
a tarefa de catequizar e organizar a mão de obra indigena. Entre
eles, destacou-se o Padre João Daniel, jesuita que em 1741 chegou
ao Pará. O padre deixou registros sobre a natureza amazônica e sobre
o modo de vida das pessoas que nela habitavam. Leia atentamente o
texto abaixo e observe como o religioso abordou algumas dificulda-
des encontradas pelos colonos portugueses ao chegarem à Amazônia.
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26
0 CAPÍTULO 5 0 CAPÍTULO 7
Nobres, degredados, As populações indígenas e
militares e açorianos: a ocupação portuguesa da
portugueses na Amazônia Amazônia
0 CAPÍTULO 6 0 CAPÍTULO 8
Capuchos, Carmelitas, Bantos, Minas e lorubás:
Mercedários e Jesuítas: africanos na Amazônia
as ordens religiosas na
Amazônia
Mapa da Amazônia
e a diversidade de
povos que nela se
localizavam
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p
Nobres, degredados,
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T
militares e açorianos:
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L portugueses na Amazônia
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Mapa da região amazônica no Período Colonial, Jodocus Hondius (1563-1612)
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) Açores (B
Madeira0
Açorianos: Pessoas Canárias0
30
Nesse periodo, houve também pessoas que foram obrigadas
a se transferir para a colônia do norte. Estamos falando dos
individuas punidos pela justiça portuguesa com a pena de de-
gredo. A pessoa condenada ao degredo era obrigada a deixar
sua terra natal por certo tempo. Enquanto o Brasil foi colônia
de Portugal , recebeu inúmeros degredados. Alguns foram
enviados para a Amazônia. Essas pessoas poderiam traba-
lhar em diversos serviços: na administração da colônia ou
se tornar soldados. Isso não significa que todo soldado
fosse um degredado, é claro!
Os soldados eram os responsáveis pela defesa das
fronteiras contra os inimigos de nações estrangeiras.
Os soldados também deveriam manter a segurança dos
moradores contra eventuais ataques de grupos indigenas.
Avida de um soldado na Amazônia colonial não era fá-
cil. Em documentos da época, há constantes queixas sobre
'atrasos do pagamento , falta de armas e de uniformes.
Você percebeu que as pessoas que vieram para a Amazônia
foram motivadas por diferentes razões? Em geral, os nobres
buscavam t erras, cargos administrativos e privilégios, as
pessoas pobres tinham a esperança de melhorar de vida
e os degredados vinham para cumprir
uma pena, mas muitas vezes acaba-
vam se integrando à sociedade como ,+.
Degredado
funcionários ou soldados.
Apesar de diferentes interesses e posições
sociais, na colônia, a vida não era fácil para Pagamento: A
ninguém. Dos mais ricos aos mais pobres, a remuneração era bem
diferente do que é
luta pela subsistência, por terra e por mo- hoje. Naquela época,
radia, era partilhada por todos. Em meio os soldados (e outros
a essas lutas, conflitos eram comuns. Da trabalhadores) eram
mesma forma, ali_ anças, amizades e re- pagos com produtos e
não com dinheiro. Eles
lações de convivência pacifica também
também reclamavam
aconteceram . das condições de
vida que tinham e da
Ao longo deste livro, ainda veremos falta de materiais de
muito mais sobre as relações entre colo- trabalho.
nos, colonizadores e outros grupos sociais.
Porém, vamos com calma! No próximo
capitulo, cuidaremos de um grupo social
que também foi muito importante no
processo de ocupação do território ama-
zônico. Vamos descobrir qual é?
~ Soldado colonial
31
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A
p Capuchos, Carmelitas,
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T Mercedários e Jesuítas:
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L
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as ordens religiosas na
Amazônia
32
Vamos saber como? Converter: A principal função dos missionários que vieram para a
Amazônia era fazer os povos indígenas tornarem-se cristãos. Para
Para a Amazônia, vieram mis- isso, os missionários ensinavam aos índios o que era o cristianismo,
sionários de diferentes ordens reli- quais as obrigações dos cristãos e tudo o mais que fosse necessário.
giosas. Os primei ros a chegar per- Todo esse ensinamento é chamado de catequese. Porém, a
tenciam à ordem dos Capuchos, no catequese não servia apenas para fazer com que os índios fossem
para o céu, como ela também ajudava no esforço de educação
ano de 1617. Depois deles, chega-
dos povos indígenas. Sabe o porquê? Para muitos religiosos e para
ram os Carmelitas, os Mercedários e quase todos os europeus, os indígenas eram pessoas sem cultura
os Jesuítas. Esses religiosos t inham e sem regras sociais. Muitos de seus costumes eram considerados
como princi pal missão converter os errados, como o de não usar roupas. A conversão e a catequese
povos indígenas em cristãos . Os mis- eram meios de levar aos povos indígenas os princípios da cultura
sionários procu ravam convencer os europeia. É claro que os povos indígenas não achavam nada disso.
Para eles, os estranhos eram os europeus!
indígenas a deixarem suas aldeias e
se transferi rem para os aldeamen- Aldeamentos: Espaços nos quais eram reunidos os índios descidos.
tos. A esse deslocamento , chama- Nos aldeamentos, os indígenas eram catequizados e aprendiam a
mos descimento. trabalhar de acordo com a cultura europeia. Esses locais poderiam
ser administrados tanto por religiosos quanto por colonos. Ali,
os indígenas podiam ser mais bem controlados pelos agentes
colonizadores. Mesmo assim, a fuga de indígenas dos aldeamentos
era comum. Foram muitos os aldeamentos construídos nessa
época. Vários deles foram núcleos de onde surgiram algumas
cidades da Amazônia. Vejamos abaixo alguns exemplos:
Vigia: Vila criada em 1693. Foi um aldeamento jesuíta que
catequizava os índios tupinambá. Os indígenas chamavam a
Franciscanos/ ➔ aldeia de Uruytá. Em 1702, o aldeamento já contava com uma
Capuchos ampla Igreja e um número grande de clérigos.
Cametá: Aldeamento dos frades da Província de Santo Antônio,
que dedicava seu trabalho missionário aos Camutás, criado
em 1635. O primeiro nome foi Camutá-tapera e, no ano de sua
fundação, o território foi reconhecido como Vila Viçosa de Santa
Cruz de Camutá.
Barcarena: No século XVIII, os jesuítas organizaram um
aldeamento para catequizar os índios Aruás. Depois o território se
tornou uma fazenda dos jesuítas com o nome de Gebrié, o rio que
corta a região.
Monte Alegre: Os padres Capuchos da Piedade organizaram um
aldeamento para catequizar os índios Gurupatubas, em 171 O.
O aldeamento tinha o mesmo nome dos indígenas aldeados. Em
1758, passou a se chamar Vila de Monte Alegre.
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Nos aldeamentos, os indigenas aprendiam diversos costumes
europeus e a religião Católica. Eles aprendiam sobre histórias de
santos , aprendiam também a rezar, a cantar músicas religiosas e até
a esculpir imagens de santos católicos. Esses ensinamentos eram im-
portantes para os objetivos dos colonizadores, pois preparavam os
indigenas aldeados para se tornarem trabalhadores, muitas vezes es-
cravizados.
As missões não tinham apenas um caráter religioso. Os missio-
nários receberam grandes propriedades da Coroa portuguesa. Essas
terras se tornaram muito produtivas, pois os religiosos utilizavam os
indigenas como mão de obra. Essa prática, além de gerar riquezas
para as ordens religiosas, fazia parte da doutrina cristã, pois o traba-
lho era considerado um meio de salvação.
MARCELO NUNES
Os religiosos chegavam
à região, faziam
amizade com os índios,
Os indigenas realizavam muitos tra-
os catequizavam,
os batizavam e os balhos nos aldeamentos e fora deles. Eles
empregavam nas construiam as habitações; faziam as em-
plantações barcações; cuidavam da terra; plantavam e
mantinham as roças; trabalhavam nas lavou-
ras; coletavam as drogas do sertão, que eram
comercializadas pelos missionários, enfim, o
seu trabalho e conhecimento geravam rique-
zas para as ordens religiosas.
A ação desses religiosos na Amazônia por muito tempo interes-
sou à Metrópole portuguesa. Nós vimos as principais razões neste ca-
pítulo. Contudo, o controle sobre os índios aldeados provocou muitos
conflitos com os colonos. A razão desses conflitos é a dependência de
que todos na colônia tinham dos conhecimentos e da força de traba-
lho do indígena.
Mapa da ação missionária na Amazônia
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Belém
Missões
Áreas de exploração
das drogas do sertão
Limites atuais
Jesuíta ➔
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p As populações indígenas
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T e a ocupação portuguesa
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L da Amazônia
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Indígenas lutando contra outros indígenas, gravura de Theodor de Bry, 1590
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37
Diante da dependência que os colonizadores tinham dos indige-
Escravizar os
nas, muitas estratégias foram tentadas para inseri-los na sociedade
indígenas: Nessa
época, havia diferentes colonial , desde o inicio da ocupação . Uma delas foi a proibição de
formas de tornar um escravizar os indígenas. A Metrópole portuguesa queria tornar os
indígena escravo. indigenas trabalhadores livres e remunerados. Essa era mais uma es-
Existiam até leis tratégia para garantir a ocupação do território e incentivar a ativi-
para isso! Saiba mais
dade agricola na Amazônia. Além de camponeses, eles poderiam se
sobre o tema no Texto
Complementar que tornar soldados, oficiais , funcionários públicos e até administradores
selecionamos para este de aldeamentos.
Capítulo.
Além dos indigenas, outro grupo social foi bastante importante
para a produção de riquezas na Amazônia. Esse grupo não veio da
Europa e não pertencia a nenhum Reino interessado em Conquistar
a Amazônia. Nele, havia gente de diferentes origens e culturas. As
pessoas que o integravam , na verdade, nem vieram para a Amazônia
por vontade própria. Será que você já sabe de que grupos estamos
falando?
Mão de obra ~
indígena na
extração do
pau-brasil,
mapa francês
do. século XVI
Texto complementar
A escravidão moderna
Se a escravidão africana tomou um novo impulso com o empreendi-
mento colonizador das Américas, ela não era exatamente uma novidade
na história europeia; ela foi uma realidade do mundo ocidental desde a
Antiguidade até o final do século XIX. Assim como outras formas de tra-
balho compulsório, a escravidão pode ser entendida, como mostra o his-
toriador Moses 1. Finley, como uma relação social marcada pela sujeição
de um ou mais individuas a um determinado grupo social que usufrui dos
beneficias de seu trabalho. Esta sujeição tende a se dar de forma com-
pleta, isto é, implicando em direitos, mais ou menos formalizados, do
grupo dominante sobre a própria pessoa escravizada. O modo como esta
sujeição aconteceu mudou de uma sociedade para outra, há aqueles que
se utilizaram em larga proporção do trabalho escravo em diferentes segui-
mentos de uma mesma sociedade. Segundo Finley, uma condição básica
para o surgimento do trabalho escravo na Antiguidade foi o fato de que al-
gumas familias dispunham de vastas extensões de terra, superiores à sua
capacidade de dispor de mão de obra. Para não abrir mão da terra, essas
familias passaram a recorrer a trabalhadores de fora do grupo familiar.
A escravidão de larga escala esteve presente, principalmente, nas
sociedades da Grécia antiga e no Império Romano, quando se constituiu
na principal forma de organização do trabalho, envolvendo centenas de
milhares de individuas escravizados, em sua maioria estrangeiros prove-
nientes de regiões da Europa do norte e central, que haviam sido captu-
rados em guerra.
Em grandes areas das colônias americanas modernas principalmente
na América portuguesa, no Caribe e na região da América inglesa, ocorreu a
formação de sociedades assentadas na grande propriedade territorial volta-
da para produção do mercado europeu. Esse fato, somado a inclusão do co-
mércio de escravos africanos entre uma das principais atividades econômi-
cas desenvolvidas por portugueses e outros comerciantes do sul da Europa,
fez com que grandes proprietários buscassem junto à população indigena
nativa e à população africana a mão de obra necessária à implementação
de seus empreendimentos.
A elevação desses povos à condição de cristãos em potencial trou-
xe à baila a problemática da conversão e, como contrapartida, regula-
mentação do resgate dos povos que resistissem à catequese. Já então a
conquista se fazia em duas frentes: a conversão dos gentios aliados e o
resgate dos rebelados.
SALES, Ricardo Henrique; SOARES, Mariza de Carvalho. Episódios de
história afro-brasileira. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2005.
39
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T Bantos, Minas e lorubás:
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L africanos na Amazônia
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40
Localidades na África de onde saíram os escravos para a Amazônia
Etnia Minas,
Costa do Ouro
Etnia lorubá ,
Nigéria
Etnia Banto,
Angola
Vista do Maranhão, Você já sabe que o trabalho escravo africano fez parte da his-
Caspar Barlacus, tória da Amazônia. Porém , quantos africanos chegaram à região du-
1647, lugar onde
ocorreu a Revolta de
rante todo o período colonial? É difícil dizer ao certo. Porém, alguns
Beckmati estudiosos afirmam que foram mais de 53.000 pessoas! Eles vieram
de diferentes regiões da África e tinham cu lturas variadas; possuíam
línguas, religiões e hábitos diferentes entre si. Banto, Mina e lorubá
foram os principais grupos que chegaram ao Estado do Grão-Pará e
Maranhão. Eles vieram dos portos localizados na Costa do Ouro e da
região que hoje é a Angola .
42
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{i Em que trabalhavam os africanos escravizados quando chega- Ruínas do Engenho
] vam à Amazônia? Durante o Período Colonial, a maioria foi direciona- Murutucuem
Belém(PA)
•["" da para as zonas agrícolas. Eles trabalhavam em engenhos de cana-
1& -de-açúcar, como o engenho do Murutucu, nas cercanias de Belém,
""' e os das áreas do baixo Tocantins. Porém, não foi só na agricultura
que o trabalho escravo foi importante. Os escravos também traba-
lhavam na atividade pecuária, principalmente nas missões religiosas
que existiam na Ilha do Marajá. Além disso, os africanos escravizados
trabalharam em várias obras públicas, como a Fortaleza de São José
de Macapá. Contudo, você deve lembrar que a principal fonte de
riqueza na Amazônia durante o período colonial estava na extração
das drogas do sertão e, nesse aspecto, o escravo africano pouco aju-
dava, afinal, não conhecia a região tanto quanto o indígena.
De qualquer formá, é bom você saber que a introdução de es-
cravos na Amazônia não solucionou o problema da mão de obra na re-
gião. Isso ocorreu porque os escravos eram caros e a sua manutenção
também não era barata. Foi apenas no século XIX que o número de
escravos se tornou mais significativo. Porém, veremos essa história
em outro momento. No entanto, é importante que você saiba que Busto feminino
os africanos que chegaram à região contribuíram, e muito, para a em madeira,
história da Amazônia! província do
Zaire
43
"Interior de um ➔
navio negreiro",
litografia de
Rugendas
Peça e carga: A
documentação
da época trata os
negros africanos
como 'peças', isso
pode soar estranho
para a gente hoje.
Mas, é importante
lembrar que, naquela
época, os escravos
eram tratados
como objetos. Dessa
forma, quando eram
desembarcados
dos navios e
contabilizados na Na Amazônia, os africanos não foram distribuídos igualmente. A
sua totalidade,
eram tratados desse
maioria dos navios negreiros parava primeiro em São Luís. Lá, ficava
jeito. Os escravos grande parte dos escravos. Esse desequilíbrio na divisão da mão de
também passavam obra foi um ponto de discórdia entre os moradores da província.
pelo batismo católico, Como uma tentativa de solucionar o problema, o Rei de Portugal
recebendo, inclusive, ordenou, em 1702, que a 'carga' fosse dividida igualmente entre
nomes cristãos e,
por cada batismo, a
o Maranhão e o Pará e que ninguém teria o direito de escolher a
Igreja recebia uma 'peça' . Mesmo assim, o problema permaneceu. Os colonos do Pará
quantia. Assim, continuaram reclamando sobre o pequeno número de africanos que
podemos perceber que chegava à Capitania.
o tráfico de negros
africanos envolveu
não somente os
interesses de colonos
pela mão de obra,
mas também todos
os segmentos da
sociedade. Trata-se
de uma sociedade
que, durante muito
tempo, viu na
escravidão algo
normal e necessário
e que defendia a
,+.
O esquema do navio negreiro,
ideia de que o negro
feito por Robert Walsht, em
era um ser inferior,
1828, mostra que esse tipo
justificando assim
de embarcação era dividido
não só a escravidão,
em três partes: porão para
mas tudo que a
víveres, a falsa coberta para
acompanha, como
os escravos (detalhe ao lado),
os maus-tratos e a
e a coberta para a tripulação
desumanização de
um ser humano.
44
Vimos, ao longo desta unidade, que diversos grupos sociais con-
viveram na Amazônia durante o Período Colonial. Na imagem abaixo,
estão representados dois deles. Você sabe quais são? Quais grupos so-
ciais trabalhados na Unidade 2 não estão representados na imagem?
Padre Antônio •
Vieira e os índios
no -Brasil
45
u
N CONFLITOS NO
I I
D
A
PERIODO COLONIAL A.
D
E AMAZONICO
ln
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0 CAPÍTULO 9 0 CAPÍTULO 11
Quem não dependia do O Diretório dos Índios
trabalho indigena na
Amazônia colonial?
0 CAPÍTULO 1O
O Regimento das Missões
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p Quem não dependia do
Í
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u
trabalho indígena na
L
o Amazônia colonial?
O trabalh o ➔
indígena na
extração do
pau-brasil,
gravura de
André Thevet
(e. 1556)
48
Porém, não era só naquelas atividades que o trabalho
Resgate: Eram expedições
indigena era fu ndamental. Nos espaços urbanos, eles ta m- militares, chamadas tropas de
bém faziam de tudo: construiam as edificações, trabalha- resgate, autorizadas a recolher
vam para os moradores e religiosos , levantavam fo rtes e indígenas aprisionados em aldeias
fortalezas e até combatiam indigenas ou estrangeiros que indígenas. Isso ocorria depois de
guerras entre povos indígenas
ameaçavam o dominio da Metrópole portuguesa na região.
rivais. Os sobreviventes do povo
Agora , imagine o que seria da vida na colônia sem o traba- derrotado eram aprisionados
lho dos indigenas! pelos vencedores. Os indígenas que
viviam nessa condição, quando
resgatados pelas expedições
portuguesas, poderiam ser
transformados em escravos.
49
Expulsão dos ➔
Jesuítas, gravura
anônima, 1646
Expulsão dos Jesuítas: Durante grande parte dos séculos XVII e XVI 11, os aldeamentos
Durante a revolta de foram controlados pelos missionários. Nesse período, os colonos afir-
Beckman os jesuítas mavam que recebiam poucos trabalhadores e que os missionários
foram expulsos, mas
isso já havia acontecido
exploravam o trabalho indígena em benefício próprio. Já os missio-
antes. A primeira vez nários, que condenavam a escravização, afirmavam que os indígenas
que eles foram expulsos eram muito maltratados fora dos aldeamentos e que não recebiam
foi em 1661 . Nesse ano, qualquer tipo de educ~ção.
os colonos de Belém
atacaram o Colégio dos A Revolta de Beckman foi um exemplo de conflito entre colonos
Jesuítas e embarcaram e missionários jesuítas pela disputa da mão de obra. Em 1684, Ma-
os missionários para São
Luís. Lá, os m issionários
nuel Beckman e outros colonos da capitania do Maranhão reclama-
também foram vam da falta de trabalhadores. Para eles, os africanos, negociados
impedidos de ficar. Sem pela Companhia de Comércio do Maranhão, não eram suficientes e
alternativa, os jesuítas eram vendidos a um preço muito alto. Por outro lado, os trabalhado -
seguiram viagem para res indígenas aldeados eram controlados pelos jesuítas. Os colonos
o Reino. Co nseguiram
autorização real para
se sentiam prejudicados com a falta de mão de obra. Por isso, revol-
retornar à Colônia do taram -se contra os jesuítas e os expulsaram de São Luís. Os colonos
norte em 1663. de Belém também expulsaram os jesuítas no mesmo ano.
50
Os comerciantes da Metrópole, no entanto, tinham negoc10s
importantes com os Jesuítas estabelecidos em São Luís. A expulsão
desses missionários representava prejuízo para os jesuítas, para os
comerciant es e para a Metrópole. Por conta disso, o Rei de Portugal
condenou o movimento, puniu as lideranças e permitiu o retorno dos
jesuítas à colônia dois anos depois. Ele sabia, porém, que precisava
resolver o problema da mão de obra na Amazônia. Para apaziguar
os conflitos, o Rei prometeu enviar mais africanos a preços menores
e extinguiu a Companhia de Comércio do Maranhão, já que ela não
conseguiu atender as necessidades de mão de obra dos colonos.
Os jesuítas, quando retornaram à colônia , estavam amparados
pelo Regimento das Missões. Falaremos sobre a importância desse
Regimento no próximo capítulo. Vamos lá! O retorno dos
Jesuítas a Belém
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51
Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu, croqui de Benedito Calixto, séc. XIX
52
colonizados por
religiosos, índios
Antis, Paul
Marcoy (1848)
•
Padre Manuel
da Nóbrega
~ Indio defumando
o látex à beira do
rio Madeira
53
Igreja de Santo Um dos retornos dos jesuítas se deu em 1686. Nesse ano, foi
Alexandre em publicado um conjunto de medidas, chamado Regimento das Missões.
Belém, construída
com trabalho
As regras do Regimento das Míssões devolviam às ordens religiosas o
indígena controle sobre a mão de obra indígena. E você já sabe o quanto isso
era importante.
54
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O Regimento das Missões determinava também que os indígenas
Liberdade: É
descidos deveriam passar pelo menos dois anos nos aldeamentos, sob
importante lembrar
controle dos missionários, antes de serem distribuídos. No capítulo que, nessa época, a
anterior, vimos sobre o sistema de repartição, você se lembra? liberdade não tinha o
mesmo significado que
Os direitos e deveres dos indígenas também foram tratados no hoje. Naquele período,
Regimento das Missões. Pelo regimento, ficava proibido forçar um ser livre não significava
indígena a acompanhar um descimento caso não fosse a sua vontade. poder fazer o que se
quisesse. Geralmente,
Além disso, o regimento previa que o indígena aldeado teria liberda-
ser livre era não ser
de , direito à propriedade e o seu trabalho seria remunerado. escravo. No Regimento
das Missões, era assim:
Com o Regimento das Missões, as ordens religiosas ficaram com a liberdade concedida
mais poder, afinal, elas controlavam os aldeamentos e, com isso, aos indígenas
grande parte da mão de obra disponível na Amazônia no Período Co- significava que eles
lonial. Isso aconteceu porque os missionários ainda eram importan- não poderiam ser
tes para garantir a ocupação do território amazônico. Contudo, até escravizados. Só depois
de 1789, aos poucos,
quando os missionários interessaram à Metrópole? Vamos descobrir? a ideia de liberdade
"
-~ foi sendo alterada e
~ passou q significar
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_,·,. Índios trabalhando na p esca poder ser eJazer o que
.g junto aos colonos, gravura de se quisesse, dentro de
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" Frederico Füllgraf, c.1823 certos limites, é claro.
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55 ·
O conhecimento
No capítulo anterior, vimos que os missionários na Ama~ônia
eram os responsáveis pelos aldeamentos indigenas. A Metrópole por-
indígena tuguesa manteve esses religiosos na colônia por mais de um século.
sobre a região Isso ocorreu porque, durante muito tempo, ela precisou do trabalho
amazônica foi das ordens religiosas para efetivar a ocupação do território, mas, por
importante para
volta de 1750, o posicionamento da Metrópole em relação aos missio-
os missionários,
"Índios em sua nários mudou . Vamos saber quais foram as razões?
cabana" de J.
R ugendas
Uma dessas razões está associada ao Tratado de Madri. Você Cidadãos: Lembre-se de
se lembra desse acordo? Falamos sobre ele no capitulo 8. Esse Tra- que estamos falando de
uma sociedade do Antigo
tado foi assinado pelos reis de Portugal e da Espanha. Pelo Tratado
Regime. Essa sociedade
de Madri, as novas fronteiras entre as colônias portuguesas e es- · era hierarquizada e a
panholas na América seriam definidas pela ocupação de cidadãos noção de igualdade que
portugueses. temos hoje não existia.
Transformar os indígenas ·
Portugal, que havia conseguido expandir seu território para em cidadãos portugueses
oeste e para norte, precisava provar que ocupava a região para não significava, portanto,
que eles ocupariam a
ter direito a ela. Contudo, como fazer isso se a presença de colo-
mesma posição social
nos, cidad ãos portugueses, estava concentrada em áreas próximas do português vindo da
aos espaços urbanos? A solução foi transformar os indigenas em Europa. A posição social
cidadãos portugueses . Porém, como fazer isso? do indígena cidadão estava
abaixo dos portugueses, dos
homens brancos e livres.
Casamento interétnico:
Em 1754, foi editada
uma lei que estimulava o
casamento entre homens
livres (brancos e mestiços)
e m ulheres indígenas. Para
a Metrópole portuguesa,
o casamento misto seria
uma f orma de diminuir as
difere nças entre as duas
culturas e uma ótima
estratégia para povoar o
território. A lém disso, o
casamento interétnico era
uma forma de eliminar
física e culturalmente o
indígena da Amazônia
sem derramar uma gota
de sangue! Contudo, e
os colonos? Será que eles
casavam com as mulheres
indígenas pelas mesmas
motivações da Metrópole?
Não necessariamente.
A lguns casavam por afeto
e vontade de formar uma
•
Colonos administrando alde[!mento indígena, Porto de Marinha no rio Japurá,
Spix e Martius, século XIX
família; outros, no entanto,
se ap roveitavam do
casamento para submeter
as mulheres indígenas e
seus parentes ao trabalho.
Um das medidas da Metrópole foi retirar o controle dos a{de- Poderia haver também
amentos dos missionários. Isso não significava que a cristianização aqueles que casavam
deixou de ser importante. Ela, no entanto, não era mais o único interessados no prêmio
meio de civilizar ó indigena. A Metrópole portuguesa, nessa épo- ofertado pela Metrópole
ao noivo, constituído por
ca, criou outras estratégias para inserir o indigena na sociedade
instrum entos de trabalho,
colonial. Entre elas: o casamento interétnico, a educação e o terras, animais, entre
trabalho. Essas medidas foram regulamentadas e ampliadas com o outros benefícios.
Diretório dos Índios, em vigor entre 1757 e 1798.
57
O Diretório dos Índios foi uma lei colonial que concedia li-
Educação: A partir do berdade aos indígenas e previa que eles vivessem em espaços ad-
Diretório, adotou-se ministrados por suas próprias lideranças. Essa lei transformava os
o ensino obrigatório indígenas em vassalos do Rei de Portugal. A partir desse momento,
da língua portuguesa.
eles deveriam obedecer ao monarca e não mais aos missionários.
Antes, indígenas,
colonos e missionários se A partir do Diretório, os indígenas foram considerados cidadãos
comunicavam por meio portugueses com os mesmos direitos dos colonos. Poderiam ser do-
de uma língua chamada nos de terras, empregados remunerados e se inserir na hierarquia
nheengatu. O nheengatu militar.
foi um idioma criado pelos
jesuítas que associava a
língua dos Tupinambá
com a portuguesa.
Com a introdução das
medidas do Diretório, o
nheengatu foi proibido
na colônia. O ensino da
língua portuguesa passou
a ser fundamental para a
transformação do indígena
em cidadão português.
Trabalho: Quando a
Metrópole abordava o
trabalho como forma
de inserir o indígena
na sociedade colonial,
não estava falando de
qualquer trabalho. Para os
colonizadores, o trabalho
valorizado era o agrícola.
Essa, aliás, não era uma
novidade do Diretório. Os
missionários já ensinavam
técnica.< agrícolas aos
indígenas aldeados. Porém,
enquanto os missionários
objetivavam tornar os
indígenas mais dóceis
para aceitar a catequese
e a Conquista, a partir
do Diretório, a Metrópole
objetivava torná-lo um
camponês civilizado, capaz
de produzir alimentos
(e não simplesmente
Índios em suas práticas culturais sob olhar dos colonizadores, "Festa do Coroado",
coletá-los como acontecia
Spix e Martius, século XIX
na atividade extrativa,
lembra?)
58
Vilas e Lugares: 'í\.o final do
século XVIII a capitania do Grão
Pará contava cerca de setenta
núcleos populacionais estáveis.
Excetuando-se a cidade de Belém,
Capa do
havia oito vilas de brancos:
Diretório
Bragança, Cametá, Gurupá,
do Índios,
Macapá, Mazagão, Ourém, Viçosa
documento que
e Vigia. As povoações de índios
assegurava a
eram em número muito superior,
liberdade dos 61: as vilas de Almerim, Alenquer,
indígenas
Alter do Chão, Arraiolos, Aveiro,
Beja, Boim, Chaves, Cintra,
Colares, Conde, Espozende, Faro,
Franca, Melgaço, Monforte, Monte
Alegre, Monsarás, Nova Dei Rei,
Óbidos, Oeiras, Pinhel, Pombal,
Portel, Porto de Moz, Salvaterra,
Santarém, Soure, Souzel e Veiros; e
os Lugares de Alcobaça, Azevedo,
Baião, Barcarena, Benfica,
Bragança (povoação anexa à vila),
Carrazeda, Condeixa, Fragoso,
Gurupá (povoação anexa à vila),
Mondim, Nossa Senhora do
Socorro das Salinas, Odivelas,
Com o Diretório, os aldeamentos foram transformados Outeiro, Pena Cova, Penha Longa,
em vilas e lugares, e seus administradores poderiam ser in- Ponte de Pedra, Porto Grande,
clusive chefias indígenas. Porém, o Diretório dos Índios não Porto Salvo, Rebordelo, Santa
resolveu o problema de mão de obra da Amazônia. A econo- Ana do Cajari, São Bento do Rio
Capim, São João, Santarém Novo,
mia da região continuou dependente do trabalho indígena.
São Bernardo das Pederneiras,
É importante perceber, no entanto, que o Diretório ajudou São Francisco Xavier do Turiassú,
na definição de parte das fronteiras do que hoje chama- São José do Piriá, Serzedelo, Vilar,
mos de Amazônia brasileira. Além disso, as relações sociais Vilarinho do Monte-e Vizeu."
construídas nessa época contribuíram para a formação da Fonte: COELHO, Mauro Cezar.
Do Sertão para o Mar - um
identidade regional Amazônica .
estudo sobe a experiência
portuguesa na América, a partir
da colônia: o caso do Diretório dos
Índios (1751-1798). Universidade
Índio Branco Negro de São Paulo, 2005. (Tese de
Doutorado)
f f f
Identidade regional amazônica:
No primeiro livro desta coleção,
trabalhamos com a noção de
identidade amazônica. Lá,
falamos de como a culinária
amazônica e outras expressões
culturais que hoje praticamos
nasceram nesse momento, a partir
do convívio entre os diferentes
povos que participaram da
História da Amazônia. Você se
lembra?
59
Nesta unidade, vimos que os conflitos de interesse fizeram parte
da sociedade colonial amazônica.
Faça uma redação utilizando suas próprias palavras sobre os
conflitos que ocorreram no período colonial. Nela, indique quais gru-
pos entraram em conflito na Amazônia nessa época. Aponte também
o que motivou a divergência entre esses grupos. Não se esqueça de
mencionar as soluções encontradas na época pelos agentes sociais
envolvidos.
Boa redação!
,
Trechos das resoluções do Diretório dos lndios
6º Sempre foi máxima inalteravelmente praticada em todas as
Nações, que conquistaram novos Domínios, introduzir logo nos povos
conquistados o seu próprio idioma (... ), nesta Conquista se praticou
tanto pelo contrário, que só cuidaram os primeiros Conquistadores
estabelecer nela o uso da Língua, que chamaram geral; ( ... ). Para
desterrar esse perniciosíssimo abuso, será um dos principais cuida-
dos dos Diretores, estabelecer nas suas respectivas Povoações o uso
da Língua Portuguesa, não consentindo por modo algum, que todos
aqueles Índios, ( ... ), usem da língua própria das suas Nações, ou da
chamada geral; mas unicamente da Portuguesa, ( ... ).
1Oº Entre os lastimosos princípios, e perniciosos abusos, de que
tem resultado nos Índios o abatimento ponderado, é sem dúvida um
deles a injusta, e escandalosa introdução de lhes chamarem Negros;
querendo talvez com a infâmia, e vileza deste nome, persuadir-lhes,
que a natureza os tinha destinado para escravos dos Brancos, Não
consentirão os Diretores daqui por diante, que pessoa alguma chame
Negros aos Índios( ... ).
· 17º Em primeiro lugar cuidarão muito os Diretores em lhes per-
suadir o quanto lhes será útil o honrado exercício de cultivarem as
suas terras; porque por este interessante trabalho não só terão os
meios competentes para sustentarem com abundância as suas casas,
e famílias; mas vendendo os gêneros, que adquirirem pelo meio da
cultura, se aumentarão neles os cabedais à proporção da lavoura, e
plantações, que fizerem ( ... ).
África
América do Sul
Oceano Pacifico
65
A história da Terra, como verificada no gráfico abaixo, é di-
vidida em eras, períodos e épocas. Cada fase revela os principais
fatos e fenômenos ocorridos no planeta desde o Big Bang, como,
por exemplo, o surgimento da atmosfera, a formação dos mares e
oceanos, o desenvolvimento das plantas e de grandes animais, a
extinção destes e o aparecimento do ser humano. Apenas no final
dessa trajetória é que se inicia a formação da região amazônica
como conhecemos hoje.
~,
1.6 Primeiros hominld-
·.;
(australopitecos)
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5 {l
..,
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MESOZOICA
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PALEOZOICA
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570
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CRIPTOZOICA
66
~ Um dos
fragmentos de
uma espécie
extinta: os
dentes foram
cruciais para
indentijicação
•
Direção do
deslocamento das
Até o período Terciário da era Cenozoica, a região onde hoje
placas tectônicas
está a Amazônia era intercalada por um conjunto de terras mais al-
tas chamado de escudo das Guianas, localizado ao norte, e escudo
brasileiro, localizado ao sul.
Depois, ainda no Terciário, a passagem para o Oceano Pacífico
foi bloqueada com a elevação da Cordilheira dos Andes, a oeste. A
Alteração da placa de Nazca, em contato com a placa sul-americana, formou a
direção das águas
Cordilheira dos Andes. Esse processo durou milhares de anos e alte-
dos rios com
a elevação da rou a direção das águas dos rios, que passaram a correr em direção
Cordilheira dos ao Oceano Atlântico.
ALLAN BITTENCOURT
O largo espa-
ço no meio da Ama-
zônia, ao longo do
tempo, recebeu se-
dimentos de areia e
argila.
~ Processo de
Esse material sedimentação
do solo, as camadas
proveniente das re- representam diferentes
giões mais elevadas tipos de materiais
foi transportado e depositados nos períodos
depositado pelos geológicos: Barreiras
(terciário) e Pós-Barreiras
rios, formando os
(quaternário)
tabuleiros, que se
apresentam como
terras baixas e sua-
vizadas.
Alguns exem-
plos desses depósi-
tos de sedimentos
são chamados de
Formação Barreiras
(veja na foto ).
Sobre as formas de relevo amazônico, os rios encaixaram seus
leitos e va les formando uma extensa rede hidrográfica. O solo sedi-
mentar foi coberto pela atual floresta amazônica, vegetação que se
desenvolveu com o clima quente e muito úmido.
No nordeste paraense, ainda no Terciário, há evidências de que
o mar teria avançado sobre o continente há aproximadamente 25 mi-
lhões de anos. Trata-se da Formação Pirabas, na região de São João de
Pirabas. Os fósseis de animais marinhos encontrados cravados e o tipo
de rocha calcária indicam que houve avanço das águas marinhas nessa
região. Atualmente, o recurso natural explorado, o calcário, é utilizado
na fabricação de cimento.
- ·, ~ Mina de Calcário
_.. , · da CIBRASA em
Capanema
Cerrado: Vegetação Na história do planeta, o periodo Quaternário foi marcado pe-
constituída por las oscilações climáticas: glaciais (periodos em que a temperatura
espécies que se do planeta ficou mais fria) e interglaciais (períodos mais quentes).
adaptam à estação Na região amazônica, essas oscilações foram caracterizadas por pe-
chuvosa e seca. Esse
ríodos úmidos alternados por periodos secos. Uma das implicações
tipo de vegetação
é caracterizado, de dessa dinâmica climática estaria na presença de manchas de cerra-
maneira geral, por do em área de domínio da floresta. As manchas de cerrados seriam
indivíduos de troncos testemunhos de um clima mais seco no passado, favorecendo sua
tortuosos e raízes expansão. Nos periodos úmidos, a vegetação de floresta teria se ex-
profundas.
pandido e se constituído na maior expressão de cobertura vegetal da
região amazônica.
Agora que você compreendeu como ocorreu a formação geoló-
Manchas de cerrado
(savanas de Roraima)
gica da Amazônia, você conhecerá outros elementos que formam as
atuais paisagens naturais.
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REPRODUÇÃO
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Texto complementar
Trópico de Cancêr
Equador
Trópico de Capricórnio
Círculo Polar Antártico
A posição do planeta em relação ao Sol influencia na quantidade Latitude: É a
de radiação solar que ele recebe. Portanto, sua variação climática coordenada geográfica
depende da localização de cada região nas diversas latitudes. Para ou geodésica definida
compreender por que isso ocorre, é necessário lembrar os seguintes na esfera da Terra,
que é o ângulo entre o
fatores que influenciam nos diferentes tipos de clima na Amazônia: plano do Equador e a
a zonalidade climática, a estrutura vertical atmosférica, a interação normal à superfície de
entre a atmosfera e o oceano e o movimento das massas de ar. referência. A latitude
é medida, para norte
Por zonalidade climática, compreendem-se as largas faixas so- e para sul do Equador,
bre o globo terrestre que estão relacionadas ao grau de energia solar entre 90° sul, no Pólo
recebido pelo planeta, como na figura abaixo: Sul (ou pólo antártico
ou negativo), e 90°
norte, no Pólo Norte
(ou pólo ártico ou
positivo). A latitude no
Equador é igual a 0°.
Esquema da incidência da
radiação solar sobre a Terra
t
73
Quando falamos de clima, relacionamos a ele os seguintes elemen-
tos: a temperatura , a precipitação, a umidade do ar e a pressão atmos-
férica. Alguns instrumentos são utilizados para medir esses fenômenos
climáticos, como pluviômetros, pluviógrafos e termômetros.
o
ºC
Pluviógrafo (A) e ➔
Termômetros ➔
Pluviômetro (B)
digital (A) e
analógico (B)
74
A água é um componente importante da região amazônica. São
muitos rios e igarapés que são alimentados pela chuva, de tal modo
que dizemos que seu regime é pluvial. A chuva não é distribuida de
maneira uniforme. Como a região possui terras também no hemisfé-
rio norte, t emos a seguinte formação: ao sul da Amazônia, as chuvas
de verão ocorrem de janeiro a março, enquanto que, ao norte, as
chuvas concentram-se de maio a julho. Esse fato contribui para que
nunca falte água nos rios da região.
O aquecimento da atmosfera favorece a formação de chuvas
de convecção. São chuvas causadas pelo movimento de massas de Chuvas de
ar mais quentes que sobem e condensam . Elas ocorrem , principal - convecção:
mente, devido à diferença de temperatura em camadas próximas da tipo de chuva
característico
atmosfera t errestre. São caracterizadas por serem de curta duração,
da região
porém, de alta i ntensidade e abrangem pequenas áreas. amazônica
'f
Resfriamento
Ar Resfriado
Ar Aquecido
75
Do registro do tempo atmosférico à classificação climática:
Uma manhã com muito sol e um fim de tarde chuvoso, como os
que ocorrem em Belém, indicam alterações do tempo atmosférico
em um mesmo dia. Essa variação também é constatada durante o
ano.
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Você j á sabe que a Amazônia está na zona intertropical. Isso
significa temperaturas médias elevadas, com pequena variação tér-
mica anual , ou seja, não há significativa diferença de temperaturas
ao longo do ano. Veja o conjunto de gráficos das cidades de Manaus
(AM), Rio Branco (AC) e Belém (PA). Esses gráficos foram elaborados
a partir de dados de temperatura e precipitação (chuva) obtidos
entre os anos de 1961 e 1990, pelo Instituto Nacional de Meteoro-
logia (INMET) .
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Fonte: http:/ / www.inmet.gov.br, acessado em 24 de outubro de 2011.
77
Observe agora essas duas imagens:
Interpretando o mapa:
Neste dia, o sol aparece en-
tre muitas nuvens e chove a
qualquer hora do dia no Acre
e no centro-oeste do Amazo-
nas. Já no centro-sul do To-
cantins, o sol brilha forte,
faz bastante calor à tarde e
o tempo fica seco. Em todas
as demais áreas do Norte, o
sol também predomina, mas
a nebulosidade aumenta
com o tempo abafado e são
esperadas algumas pancadas
de chuva a partir da tarde.
Fonte: climatempo.com.br
I
AMAZONAS PARÁ MARANHÃO
RONDÔNIA TOCANTINS
MATO GROSSO
LEGENDA
- Amazônia Ocidental
O 100 200 400 600 800
Amazônia Oriental Km
Fonte: IBAMA, 2010
Adaptação: VVeHngton Morais 2011
79
A atmosfera apresenta diferentes estruturas em função de sua al-
titude. Elas são conhecidas como camadas da atmosfera: a troposfera,
a estratosfera, a mesosfera, a termosfera e a exosfera. É na troposfera
que ocorrem os fenômenos climáticos que contribuem para caracteri-
zar o comportamento da atmosfera da região amazônica.
Dentro da circulação geral da atmosfera, existem três cinturões
de ventos que são observados em cada hemisfério do planeta Terra.
Eles sopram desde centros de alta pressão subtropical em direção às
baixas pressões na faixa equatorial. Os chamados ventos alísios são
ventos de baixos níveis atmosféricos, caracterizados por grande con-
sistência em sua direção. No hemisfério sul, eles sopram de sudeste
para noroeste e, no hemisfério norte, sopram de nordeste para sudo-
este. Os ventos alísios são responsáveis por trazerem grande massa de
vapor d'água do Oceano Atlântico para a região amazônica.
""e
~ VENTOS POLARES DO OESTE
VENTOS POLARES
DO NORDESTE
~
-----3Uº------
~
-----160 º- - - -
80
Texto complementar
MARCELO NUNES
Garoto subindo
ladeira
São chamadas de relevo as diferentes formas da superficie ter- Conjunto de
restre. O relevo é o conjunto dos desniveis dessa superficie. Ele faz serras da borda da
Bacia Sedimentar
parte do suporte da paisagem, pois é sobre ele que estão os outros
Amazônica
elementos, como a vegetação, a água dos rios e dos oceanos, as ci-
dades, as áreas agricolas, por exemplo. Outros elementos, embora
façam parte da atmosfera, como as massas de ar e os ventos , vão
interagir com as diferentes formas de relevo, estabelecendo uma
relação bastante dinâmica. lo ·ça e 1dóge o
(ou tectônicas):
Neste capitulo, você compreenderá como se constituem as for- Correspondem
mas de relevo da região amazônica. aos esforças que as
camadas da crosta
Quando pensamos na Amazônia, do ponto de vista das formas do terrestre sofrem
relevo, a primeira imagem é de um grande anfiteatro formado por como dobramentos,
planicies, colinas e tabuleiros. A região é constituida, predominante- falhamentos,
terremotos e
mente, por terras baixas, ou seja, de baixas altitudes, se comparadas
vulcões.
a outras áreas do território brasileiro. As ·formas de relevo resultam
de duas forças: uma que sai do interior do planeta (forças endóge- ·o ·o gen.
nas) e outra que atua na parte externa a ela (forças exógenas). (ou externas): São
forças que atuam
na parte externa
da crosta terrestre,
sendo responsáveis
Cordilheira dos Andes pelo modelado do
relevo. Exemplo:
Planalto das águas dos rios,
ventos, marés,
chuvas etc.
~ Representação do
Planalto anfiteatro da bacia
Brasileiro
amazônica
Depressões: São Os planaltos, depressões e planícies: as macroformas do rele-
terrenos situados vo amazônico
abaixo do nível do mar
(depressões absolutas) A superfície da Terra é formada por elevações e depressões. O
ou abaixo do nível relevo amazônico caracteriza-se pelas seguintes macroformas do
das regiões que são relevo: planaltos , planícies e depressões . As bordas dos planaltos
próximas (depressões
podem ser escarpadas ou em rampas suaves.
relativas), como é o
caso daquelas que estão
presentes na Amazônia.
de retirada de solo, .g
é maior que o de "'
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Microformas do ~
relevo de planalto
Observe o mapa das unidades de relevo da Amazônia, ao norte e
ao sul da região amazônica. O que você vê?
Cada cor no mapa representa uma unidade. Portanto, qual delas
predomina?
As depressões são as unidades de relevo predominantes na re-
gião amazônica. Elas estão classificadas em:
1) Depressão
da Amazôni a Oci- Mapa de relevo
dental: aparece UNIDADES DE RELEVO
a oeste no mapa. ~
Nesta unidade, os
terrenos são bai-
xos, mais ou menos
200 metros de al- !:
titude. São formas
suavizadas com co-
linas baixas.
2) Depressão ~
marginal norte-
-amazomca: está
na borda norte da
bacia amazônica. i
- Chapadas
estado do Amapá,
•
Serra do Navio, no
A planície do rio Amazonas é constituída por uma pequena uni-
dade intercalada entre unidades maiores, como as depressões e o
planalto oriental. Esses trechos periodicamente inundados são cha-
exemplo de
relevo residual mados de várzeas ou planícies de inundação. A parte mais alta da
várzea é chamada de dique marginal porque está ao lado do rio. Ele é
o último trecho a ser inundado e sobre ele desenvolve-se a vegetação
de floresta. No periodo de vazante, ou seja, no periodo não chuvoso,
alguns canais dos rios que cortam a planície amazônica revelam uma
paisagem semelhante à praia. São, na verdade, chamadas de barras
arenosas, que resultaram dos sedimentos levados pelas águas dos
rios e que foram depositadas no canal. A várzea é um importante am-
biente para a população ribeirinha que se adapta ao seu regime de
cheias e vazantes, pois se prepara para a plantação, para a criação
de gado e para a atividade extrativa.
Barra ➔
arenosa do
rio Purus
86
As marés, as ondas do mar, as correntes litorâneas e os ventos Marés: São
têm papel importante no modelado do relevo, pois ora depositam provocadas pelo
material que trazem de outros lugares, ora provocam a erosão do movimento de
relevo continental. rotação da Terra,
combinado com a
força de atração da
Lua. A variação do
movimento da maré ·
durante o dia consiste
em um período de
maré cheia ou de
Ação das
Nesse ambiente costeiro, existem outras unidades menores de ondas sobre
relevo, como as planicies de maré cobertas por vegetação de man- o relevo
gue, os cordões arenosos formados pelas ondas, chamados de restin-
gas, e as dunas que se originam do depósito de areia transportada
pelo vento .
Sobre essas formas de relevo, desenvolvem-se plantas e animais
que se adaptam à variação da salinidade (maior ou menor quanti-
dade de sais nas águas oceânicas) e ao solo arenoso das restingas e
dunas. Existem também várias construções humanas sobre as dunas
como as que ocorrem na praia do Atalaia, no munidpio de Salinópo-
lis. Veja na fotografia.
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correspondendo, ~
Você sabia que existem no litoral paraense marés muito altas
aproximadamente, às ~
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nova. estão na praia? Essas marés altas são chamadas de marés de sizigia . :ó:
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Ação das ➔
marés altas na
orla de Outeiro
88
RESOLUÇÃO Nº 303, DE 20 DE MARÇO DE 2002
Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preser-
vação Permanente.
Considerando que as Áreas de Preservação Permanente e outros es-
paços territoriais especialmente protegidos, como instrumentos de re-
levante interesse ambiental, integram o desenvolvimento sustentável,
objetivo das presentes e futuras gerações, resolve:
Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:
1 - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em proje-
ção horizontal, com largura mínima, de: a) trinta metros, para o curso
d'água com menos de dez metros de largura;
li - ao redor de nascente ou olho d'água, ainda que intermitente,
com raio mínimo de cinquenta metros de tal forma que proteja, em
cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte;
Ili - ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem
mínima de: a) trinta metros, para os que estejam situados em áreas
urbanas consolidadas;
V - no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir
da curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da ele-
vação em relação a base;
VII - em encosta ou parte desta, com declividade superior a cem
por cento ou quarenta e cinco graus na linha de maior declive;
VIII - nas escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir
da linha de ruptura em faixa nunca inferior a cem metros em projeção
horizontal no sentido do reverso da escarpa;
IX - nas restingas: a) em faixa mínima de trezentos metros, medidos
a partir da linha de preamar máxima; b) em qualquer localização ou ex-
tensão, quando recoberta por vegetação com função fixadora de dunas
ou estabilizadora de mangues;
X - em manguezal, em toda a sua extensão;
XI - em duna;
Art. 4° O CONAMA estabelecerá, em Resolução específica, parâme-
tros das Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e
o regime de uso de seu entorno.
Fonte: http://ambientes.ambientebrasil.com.brl{lorestallartigos/area_de_
preservacao_permanente_ -_app.html (adaptado)
'' Ao entrar no rio Amazonas, a partir do Atlântico, fica-
-se inicialmente surpreso com o aspecto barrento da água. E, ades-
peito da coloração café com leite, as populações locais referem-se
ao Amazonas e aos tributários, que caracterizam grandes quantida-
des de sedimentos andinos, como rios de águas brancas. Ao beber um
copo de água do rio Amazonas, você também está engolindo um pe-
daço dos Andes, por causa do elevado teor de sólidos em suspensão
carreados rio abaixo desde as montanhas andinas."
GOULDING, Michael. História natural dos rios da Amazônia. Brasília: Socie-
dade Civil Mamirauá, 1997.
Rio Amazanas no
município de Tefé (AM)
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Rede hidrográfica da ➔
Amazônia
Guamá Tapajós
92
O centro, para Bacias hidrográficas na Amazônia Legal
onde converge toda a
água, é chamado de
fundo de vale. Nas bor-
das da bacia, estão as
nascentes dos rios que
vão em direção ao fundo
de vale. O topo, a par-
te mais alta, é chamado
de divisor de águas, ou
seja, separa uma bacia
de outra.
Destacam-se, na re-
gião, as bacias Amazôni- LEGENDA
~ Nascente de igarapé
na vila de Pinheiro,
município de Curuçá
93
A foz de um rio pode ser classificada
de duas formas: foz em delta e foz em
estuário.
Observando a imagem de satélite da
foz do rio Amazonas, você pode notar que
se trata de um tipo de estuário. Embora
ele carregue grande carga de sedimentos,
esses são empurrados por uma corrente
maritima chamada sul-equatoriana. Essa
corrente impede que o Amazonas forme
,._ um delta em sua foz. É na parte ociden-
Imagem de satélite tal (oeste) da Ilha do Marajó, chamada de boca norte, que fluem as
da foz do rio
Amawnas
águas do Amazonas. Você observa que muitos furos longos e estreitos
aparecem neste local. Um deles contorna a porção sudeste da Ilha do
Marajó e forma a boca sul, onde está o rio Pará.
Foz em estuário:
É constituída por
um longo canal de
forma afunilada. FOZ ESTUÁRIO FOZ DELTA
São ambientes
costeiros, no entanto,
em virtude do
trabalho das marés, Um fator importante ocorre quando as águas oceânicas invadem
das ondas e das
correntes marítimas,
o estuário do Amazonas, provocando o fenômeno da pororoca, ou
não há significativa seja, uma enorme onda provocada pelo vento e influenciada pelas
deposição de marés. Nesse processo, o solo e a vegetação das margens dos rios são
sedimentos. arrastados pelas águas.
Momento da Pororoca
no rio Araguari
(Amapá)
94
~ Rios, furos e paranás
Os rios são reconhecidos pela cor das águas, pela largura das
margens, pelo volume de água, pela capacidade de formação de suas
várzeas. De acordo com a coloração das águas, os rios da Amazônia
podem ser classificados em: rios de água branca (água barrenta), como
o Amazonas, rios de água clara (esverdeada), como o Tapajós, e rios de
água preta, como o Negro.
95
Para o professor Harald Sioli, os rios de água branca são aqueles
que têm sua origem nas partes altas da Cordilheira dos Andes. Os
sedimentos provenientes dos processos erosivos são de cor barrenta
ou amarela. Os rios de água preta carregam poucos sedimentos e têm
águas transparentes e ácidas. Já os rios de águas claras têm origem
no relevo que está ao norte e ao sul. Pelo tipo de relevo, oferecem
menor possibilidade de erosão, portanto, menor quantidade de sedi-
mentos na água.
97
A vegetação é o elemento que se destaca nas diversas pai-
sagens da Amazônia. Se o relevo é o suporte, a vegetação é a cober-
tura. No entanto, é necessário compreender que o desenvolvimento
dos diferentes tipos de vegetação depende de fatores como o clima,
o relevo e o solo. Muitas vezes, a história dessa vegetação está rela-
cionada aos paleoclimas, ou seja, aos tipos de clima que existiram no
passado geológico da Terra.
Vegetação: É o conjunto
de plantas que cobre uma
região. Apresenta uma
estrutura, uma fisionomia
e uma composição bastante
variadas, conforme o clima
e o solo. Exemplos disso
são as savanas (cerrado),
as estepes (caatinga) e
as florestas ombrófilas
(amazônica e a mata
atlântica).
Fonte: www.ibge.gov.br
Cerrado
A floresta , composta por árvores altas de largas copas, é a pri-
meira imagem que se tem da Amazônia. Algumas condições locais de
solo, de umidade atmosférica, de topografia e de drenagem permi-
tem seu desenvolvimento. Assim, floresta de terra firme, de várzea e
de igapó e buritizais são exemplos dessa diversidade.
Na Amazônia, além da floresta que cobre grandes áreas, outros
tipos de vegetação surgem nesse contexto: o cerrado, a campinara -
na, os cam pos inundáveis e a vegetação litorânea, como as restingas
e os manguezais.
Portanto, a cobertura vegetal não é homogênea e precisa ser
estudada e preservada para manutenção do equilibrio ecológico e da
vida humana.
Porém , como a floresta se sustenta? Se os solos da Amazônia são
considerados pobres em nutrientes, qual é a explicação dada para o
desenvolvimento da floresta?
Na florest a, os nutrientes estão presentes na própria vegetação.
A ciclagem de nutrientes da floresta amazônica envolve a decomposi -
ção das folhas, dos frutos, das flores e dos troncos que são absorvidos
pelo solo, para depois voltarem para a vegetação através de suas ra -
ízes. Uma vez retirada a cobertura vegetal, esse ciclo de nutrientes
é interrompido.
O mapa da vegetação do Brasil apresenta diferentes tipos de
formações vegetais. Observe essas informações para a Amazônia.
99
Epí.fitas ------... e
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Lianas
Ouriço com as ➔
sementes da
castanha-do-pará
10'.)
Floresta de várzea e igapó
~ Seringueiro
retirando látex
na.floresta
101
Os Buritizais
Artesanato feito com São espécies encontradas às margens dos rios amazônicos e em
tala tirada das folhas certas áreas que possuem drenagem insuficiente, ou seja, em água
do huriti represada. O tronco dessa palmeira é utilizado pelas populações lo-
cais em artesanato, como a fotografia retrata. As folhas cobrem as
casas, e, dos seus frutos, fabricam-se os doces de buritis.
Buritizais ➔
em Mãe do
Rio (PA)
Manguezais
102
~ Rhiwphora mangle
no manguezal de
Curuçá (PA)
Campos do ➔
Marajó
Campina ➔
104
Manguezais: as florestas
da Amazônia costeira
Por: Moirah Paula Machado de Menezes e Ulf Mehlig
Os manguezais da costa amazônica, distribuidos por Amapá,
Pará e Maranhão, ocupam uma área de 9 mil km 2 e correspondem a
70% dos manguezais do Brasil. Os 679 km de linha de costa entre os O guará é uma das
estados do Pará e do Maranhão formam o maior cinturão continuo aves que frequentam
os mangues
de manguezais do mundo. Essas florestas de mangue com árvores
amazônicos. Esta
de grande porte, situadas no litoral atlântico e recortadas por rios e aquarela é do
canais de águas escuras e tranquilas, são o refúgio de diversas espé- holandês Albert
cies de crustáceos, peixes, moluscos e aves marinhas. Os mangues Eckhout, séc. XVII
amazônicos, porém, ainda são desconhecidos pela maioria dos f
brasileiros .
Os manguezais, que ocorrem em todas as regiões cos-
teiras tropicais e subtropicais do mundo, caracterizam-se
pelo sedimento lamacento e salino, inundado diaria-
mente pela maré. Sobre esse sedimento formam-se
bosques de árvores que apresentam adaptações
para sobreviver à salinidade e à inundação. Essas
florestas peculiares têm grande importância eco-
lógica porque são áreas de reprodução e atuam
como berçários para várias espécies marinhas,
em especial crustáceos e peixes, que encontram
nas águas tranquilas e escuras o refúgio ideal para
suas larvas e filhotes.
Muitas aves frequentam os mangues amazônicos, mas
merecem destaque a garça (Ardea alba), o guará (Eudocimus
ruber), com sua plumagem de um vermelho intenso, quando adul-
to, e diversas espécies de maçaricos. As aves procuram o mangue
para reprodução, chegando a formar grandes ninhais, ou para encon-
trar alimento. Mamiferos também visitam o mangue em busca de ali-
mento, destacando-se o guaxinim (Procyon cancrivorus), o tamanduá
(Tamandua tetradactyla), o macaco-prego (Cebus apella), cuicas e
morcegos. Diversos peixes, crustáceos e moluscos também cumprem
ao menos parte de seu ciclo de vida nos mangues.
Fonte: http:lldendahoje.uol.com.brlrev;sta-ch/rev;sta-
-ch-2009/264/manguezajs-as-florestas-da-amazonfo-coste;ra
105
S empre se acreditou que a Amazônia fosse um conjunto ho-
mogêneo formado por uma extensa planície de baixas altitudes. No
entanto, as pesquisas mais detalhadas, com uso de imagens de radar,
imagens de satélites e trabalho de campo, possibilitaram obter maio-
res informações sobre a região.
Garoto observando
paisagens
amazônicas
t
Após conhecer os elementos que com-
põem as diferentes paisagens amazônicas,
você perceberá que, ao serem relaciona-
dos, eles formam um conjunto bastante di -
ferente de outras paisagens brasileiras. Se
esse conjunto for observado em escala mais
ampla, em que os detalhes não podem ser
vistos no mapa, temos uma umidade espa-
cial que chamamos de dominio. Neste ca-
pitulo, você compreenderá o conceito de
dominio morfoclimático, em particular o do-
minio amazônico.
Na década de 1970, o geógrafo brasi-
leiro Aziz Ab ' Saber, estudioso das paisagens
brasileiras, explicou que o território brasilei- ,+.
ro comportava uma grande variedade de paisagens do mundo tropi- Em 1952, o professor
cal, formando um diversificado "mosaico paisagistico e ecológico". Aziz Ab 'Saber
fez sua primeira
Cada peça desse mosaico recebeu o nome de dominio morfoclimá- viagem à Amazônia,
tico e fitogeográfico . O "dominio" é um grande conjunto espacial publicando, a partir
onde há semelhanças entre formas de relevo, tipos de solo, formas daí, diversos trabalhos
de vegetação e condições climáticas. sobre a região. Parte
dessas obras está
no livro Amazônia:
do discurso a práxis,
publicado em 1996
Entenda o
significado
das palavras
Morfoclimático e
Fitogeográfico
Morfo: vem de
forma e está
relacionado ao
relevo.
Climático: está
relacionado ao
clima.
Fito (vegetação)
+ geográfico
= relacionado à
distribuição da
vegetação.
107
A vegetação é o elemento marcante dessa região, onde predo-
mina a formação de florestas, que se mostra muito diversificada, ou
seja, com grande variedade de espécies vegetais. Esse ambiente é
favorável aos animais que precisam da floresta para viver.
O dominio amazônico é uma forma de ver essa diversidade na-
tural, em uma escala espacial que valoriza os elementos de forma
integrada.
LEGENDA
Amazônico
Araucárias
Caatinga
♦
Cerrados
Mares de Morro
- Pradarias
Áreas de Transição O 150 300 600 900 1.2~°n,
1<:B
-----
Cada um desses domínios possui características diferentes,
no tipo de clima, no aspecto do relevo, na quantidade de rios,
nos tipos de solo na formação da cobertura vegetal etc. A área
entre os domínios é chamada de zona de transição, onde as es-
pécies que constituem os domínios se misturam. É a passagem de
um domínio para o outro.
•
Cerrado •Mares de Morro
•
Caatinga •
Araucárias
Agora que você conheceu as diferenças entre os domínio mor-
•Pradarias
109
O passado da floresta amazônica
Por: Alexander Kellner
A descoberta de fósseis preservados em âmbar ajuda a entender
a diversidade da mata há mais de 1O milhões de anos
Todos que assistiram ao filme Jurassic Park, de Steven
Spielberg, sabem o que é o âmbar. De forma simplifi-
cada, essa substância é basicamente resina vegetal
fossilizada. No filme, é por meio de pernilongos
preservados no âmbar que se obtém o sangue
dos dinossauros que forneceram seu DNA para
serem revividos. Bom, isto é a ficção.
Não deve ser muito difícil imaginar a sa-
tisfação da equipe liderada por Pierre-Olivier
Antoine, do Centro Nacional de Pesquisa Cien-
tifica (CNRS) em Toulouse, na França, ao en-
contrar fósseis preservados no âmbar. E isto
em plena floresta amazônica!
Mais precisamente, o material descrito
pelos pesquisadores e publicado com destaque
•
O corpo da lagartixa
pré-histórica,
pela revista PNAS é procedente da localidade de
Tamshiyacu, situada às margens do rio Amazonas, a
cerca de 30 quilômetros de lquitos, no Peru. O material foi en-
encontrado dentro de contrado em rochas formadas entre 18 e 1O milhões de anos atrás e
um pedaço de âmbar, contém um raro registro de um ecossistema que existia no passado
que é uma espécie na floresta amazônica.
de resina vegetal
fossilizada. O estudo do material ainda está no inicio, mas já revelou al-
Sabe-se que as árvores
(principalmente os
guns dados interessantes. Várias árvores podem produzir o âmbar,
pinheiros) cuja resina sobretudo as coníferas. Apesar de não se saber ao certo exatamente
se transformou em qual espécie produziu o âmbar em questão, sabe-se pelos fósseis
âmbar viveram há encontrados que a região tinha uma floresta diferente da atual, com
milhões de anos em grandes áreas abertas, conforme indicam pólens de gramíneas.
regiões de clima
temperado. Nas Os estudos preliminares demonstram que, já naquela época, ha-
zonas cujo clima era
via uma especial diversidade de plantas e insetos na região amazô-
tropical, o âmbar foi
formado por plantas nica, indicando que se tratava de uma região quente e úmida, bem
leguminosas. tropical desde aquele tempo (Mioceno).
Fonte: http://dendahoje.uol.com.brlcolunas/cacadores-de-fosseislo-
-passado-da-floresta-amazonica/?searchterm=floresta amazônica ( adapta-
do) acesso em 30 de novembro de 2011.
110
Lembre do que você estudou nesta
· unidade e responda às questões abaixo:
1 - Quais os fatores ou eventos geológicos que influenciaram na
configuração da bacia do rio Amazonas?
SAIBA MAIS
LEITURA Revista Sdenti ·e American Brasil
~ a l Amazônia, São Paulo, v. 1, 2008.
Ma;s jnformações: http: / lwww2.uol.com.br/
sdam/mult;m;d;a/ amazonja/
SITE www.;npe.br
111
a unidade anterior, você estudou sobre como Impacto ambiental: É
se comportam os elementos que compõem as diversas a expressão utilizada
paisagens amazônicas. Percebeu que existe uma relação para caracterizar uma
série de modificações
de interdependência entre eles e que seu conjunto for- causadas ao meio
ma o domínio morfoclimático amazônico. No entanto, ambiente, influenciando
essas paisagens são constantemente ameaçadas pelas na estabilidade dos
atividades humanas, resultando em impactos ambien- ecossistemas.
tais e sociais, muitas vezes, de grandes proporções.
Nesta unidade, você compreenderá como determi-
nadas atividades econômicas transformam as paisagens
naturais, criando novas paisagens.
. . .-.- ---
.
.
•
, 1
'
I
..
- ·•
"
'. 1
Área desmatada na
•
Amazônia
Povos e Comunidades
• Transamazônica,
trecho de Anapu
(sul do Pará)
115
O ranking do desmatamento na Amazônia
25.000
20.000
25.000
10.000
5.000
■ 2001 ■ 2002 ■ 2003 ■ 2004 ■ 2005 ■ 2006 2007 2008 2009 ■ 201 O
Fonte: INPE (2010) - Levantamento do sistema de desmatamento
Atividade ➔ 1.._~_.
madeireira
u6
Área desmatada nos estados da Amazônia em 1990, 2000 e 2010 (INPE, 2010).
~ Rondonópolis (MT)
- Colheita de soja em
fazenda localizada
no município mato-
grossense, um dos
principais polos
produtivos do país.
Na década de 90,
a cidade chegou
a ser denomidada
capital nacional do
agro negócio
117
A atividade madeireira
A extração de madeiras na Amazônia é uma atividade antiga. A
retirada de madeira até a década de 1960 era feita nas áreas de vár-
zeas e transportadas pelos rios Pará, Tocantins e Amazonas.
Exterior
Centro -oes e
- Transporte rodoviário
27%
24%
16%
- -
11% 9% 7% 6%
1111
Nordeste Exterior Sudeste São Paulo Sul Pará Centro-oeste
n8
Observe que grande parte da produção da madeira do estado do
Pará atende ao mercado brasileiro, de modo que apenas 24% é ex-
portada. Dentre as espécies mais exploradas, estão o ipê (Tabebuia
sp), o cedro (Cedrela odorata), o freijó (Cordia sp), a maçarandu-
ba (Manilakara sp), o angelim pedra (Hymenolobium sp), o angelim
vermelho (Dionizia excelsa), o jatobá (Hymenaea sp), o louro (Nec-
tandra sp) , a muiracatiara (Astronium sp), o tauari (Couratari sp),
a faveira (Pterodon sp), o cumaru (Dipteryx sp), o piquiá (Caryocar
sp), o tatajuba (Bagassa guianensis) e o marupá (Simaruba amara).
•
Angelim pedra •
Angelim vermelho •
Jatobá
~ Área de desmatamento
na fazenda Nossa
Senhora Aparecida em
Goianésia (PA)
119
A exploração mineral
Cassiterita:
Minério de estanho, A atividade de extração mineral ou mineração foi uma das estra-
muito utilizado na tégias governamentais utilizada para incentivar a ocupação da Ama-
fabricação de latas zônia. Foi iniciada na década de 1950, com a exploração da Serra
de óleo.
do Navio, no Amapá, rica em manganês. Para escoar a produção do
Bauxita: Minério minério, foram construidos a ferrovia e o porto de Santana. Costu-
de alumínio, muito ma-se dizer que a serra não está mais lá, pois se tornou uma outra
utilizado no nosso paisagem.
cotidiano, como em
latinhas, janelas, A atividade de exploração mineral foi intensificada nos anos de
portas, entre outros 1970, com a exploração da cassiterita , bauxita e hematita .
produtos.
Para a exploração mineral, também é necessário retirar a ve-
Hematita: Minério
de ferro, utilizado getação que está sobre o solo. As empresas mineradoras recebem
em várias indústrias uma autorização para essa exploração. O nome dessa autorização é
de construção civil. licenciamento ambiental. Nele, está escrito que, após a exploração
dos minérios, as empresas devem recuperar as áreas que foram de-
gradadas.
Será que a paisagem se recompõe como antes?
Porém, o grande problema está com os garimpas clandestinos.
Eles retiram toda a vegetação e abandonam a área após a explora-
ção. As grandes crateras no solo são as marcas deixadas onde funcio-
navam os garimpas, como mostra a fotografia em seguida.
Garimpo clandestino ~
de ouro em Centro
Guilherme, no estado
do Maranhão
121
As queimadas e os incêndios florestais no Brasil
atigem, anualmente, grandes áreas. São mais de 300 mil fo-
Queimada:
Não é sinônimo
de incêndio. A
queimada é uma
cos de queimadas por ano. As queimadas constituem-se em
tecnologia agrícola,
prática agrícola usual, utilizadas para o controle de pragas, praticada há
para a limpeza de áreas para plantio, para a renovação de milhares de anos
pastagens e para a colheita da cana-de-açúcar. pelos indígenas
brasileiros (coivara ),
A maior parte desses focos de queimadas ocorre na incorporada à
Amazônia, responsável por cerca de 85% dessa prática prática agrícola
agricola no país. Se, por um lado, essa prática favorece dos povoadores
portugueses do
os agricultores, por outro, provoca impactos negativos ao século XVI e também
meio ambiente. pelos agricultores
italianos, alemães,
poloneses, japoneses,
entre outros que
migraram para o
Brasil, a partir do
final do século XIX e
início do XX.
Fonte: http://
queimadas.
cptec. inpe.
br!-rqueimadas!
material3os!
embrapa_
comunicatecnico_
am2005.pdf
123
A prática de queimadas está relacionada ao desmatamento na
Amazônia. Quando o fogo entra na floresta, ele mata as árvores. As
espécies atingidas servem de combustível para que o fogo continue.
O sub-bosque da floresta resseca e o risco de outras queimadas au-
menta de forma considerável.
Nas florestas da Amazônia, o fogo se espalha como uma linha de
chamas em movimento lento no sub-bosque. Depois de várias quei-
madas, a área fica devastada a ponto de aparecer como desmata-
mento nas imagens de satélite que você viu na página 122.
Fogo ➔
penetrando
na floresta
ElNino: É um
f enômeno atmosférico-
oceânico caracterizado
por um aquecimento
anormal das águas
superficiais no Oceano
Pacífico Tropical, pode São considerados incêndios os eventos que não foram planeja-
afetar o clima regional dos e, se comparados às queimadas, estão em menor número. No
e global, mudando caso dos incêndios, o fogo fica fora de controle e, geralmente, nin-
os padrões de vento guém quer se responsabilizar pelo incidente. Pode ser que um incên-
em nível mundial e
afetando, assim, os dio ocorra de forma acidental ou criminosa. Quando atinge grandes
regimes de chuva em áreas, causa prejuízos ao ambiente.
regiões tropicais e
de latitudes médias. Nos períodos de seca na Amazônia, quando há influência do El
No setor leste da Nino, é possível que um agricultor perca o controle da área que
Amazônia e na região está sendo queimada e provoque um incêndio. Por isso, o contro-
Nordeste, ocorre le do fogo e a diminuição das queimadas merecem uma atenção
uma diminuição nas
chuvas. especial. A poluição do ar, os problemas de saúde da população e
a destruição da rede elétrica são alguns dos prejuízos provocados
pelo fogo fora de controle.
Observe os mapas realizados pelo CPTEC/INPE sobre as queimadas
CPTEC: Significa
na Amazônia entre os anos de 2004 e 2005. Perceba que a área coincide
Centro de Previsão
também com o que você aprendeu sobre o Arco do Desmatamento. do Tempo e Estudos
Climático.
Nos mapas, a cor verde representa as áreas onde houve redução
nas queimadas na comparação entre os mesmos períodos de 2004 e INPE: Instituto
2005. A cor branca representa as áreas onde o número de queimadas Nacional de Pesquisas
Espaciais. ·
manteve-se igual entre 2004 e 2005 . Segundo os dados da pesquisa,
na maioria das vezes, as áreas em branco são locais onde não exis-
tem atividades humanas e o número de queimadas é nulo.
Legendas
D Nenhum D Nenhum
1-5 . ........ pontos 1·5 .. .... ... pontos
6-14 .. . .. .. pontos 6-14 ....... pontos
■ 15-32 ....... pontos Autorn: Evorlsto Eduardo df' Mirando
■ 15· 32 .... ... pontos
11.utwl!'s:EvorisroEduardodl!Mlranda
■ 33 -219 .. ... pontos OsvoldoTadatomoOshiro ■ 33-134 .. ... pontos OsvolOOTodotomoOshfro
AMAZÔNIA LEGAL
Evolução das Quei madas entre 2004 e 2005
• Mapa de evolução
das queimadas
entre 2004 e 2005
na Amazônia.
Elaborado pelo
CPTECIINPE
e publicado em
http://queimadas.
cptec. inpe.
Legendas
■ ·185-·1 .. pontos (21,26% das quadriculadas)
br/-rqueimadasl
D Nenhum .... .. ... (57,67% das quadriculadas) material3os/
1-5 . .. . .. pontos (11,43 das quadriculadas)
6-14 .. .. pontos (6,03% das quadriculadas) embrapa_
■ 15-32 .. .. pontos (2,92% das quadriculadas)
■ 33-1 12 .. pontos (0,68% das quadriculadas)
comunicatecnico
Antores,EvoriuoEduardo~Miranda
OsvaldoTodotomoOshiro
am2005.pdf
125
Alternativa para o agricultor: a queimada controlada
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Aceiros: São faixas, {l
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ao longo das cercas ou ~
indesejáveis. ...eõ:
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V,
Construção
de aceiro
126
Impactos ambientais: desmatamentos e
queimadas
127
N os capítulos anteriores desta unidade, você conheceu a
história do desmatamento na Amazônia e verificou que os fatores que
provocam a devastação da vegetação estão relacionados às ativida-
des econômicas que buscam o lucro a partir da exploração dos recur-
sos naturais, como o uso do solo para monoculturas, a exploração do
subsolo, a exploração da madeira e o uso indevido da água.
Neste capítulo, você compreenderá os impactos provocados
pelo desmatamento. Eles são de ordem ambiental e social. Observe
a imagem e reflita.
O desmatamento
prejudica a vida animal
e o regime de rios e
lagos dificultando a
vida na região
t
A retirada da vegetação ou a supressão da vegetação provoca
impactos sobre a dinâmica natural das paisagens. Podem ser relacio-
nados com os impactos do desmatamento os seguintes casos:
Perda da biodiversidade
Uacari-branco ~
(Cacajao calvus):
Espécie de
macaco com uma
distribuição muito
restrita em torno
dos rios Solimões,
Japurá e o Auati-
Paraná, no norte
da Amazônia
brasileira, limitado
pelas .florestas de
águas brancas
preservadas e
sazanalmente
inundadas (várzeas).
É conhecido no
Brasil somente na
região do Estirão do
Equador (margem
direita do rio
Javari), até o rio
Ucayali, e ao sul,
até o rio Urubamba.
Regime hidrológico
Mudanças no regime hidrológico
(ou regime fluvial): É
a variação das águas
Você se recorda do conceito de bacia hidrográfica foi apresentado
de um rio durante um no capitulo 4? Então, você deve saber que o desmatamento também
ano. O escoamento interfere na dinâmica das bacias hidrográficas amazônicas.
das águas depende
do clima. Por isso, Quando a floresta é substituida por pastagens, a água que deve-
existem rios de regime ria se infiltrar para alimentar o lençol freático escorre rapidamente
nival, aqueles que pela superficie formando as enxurradas. O impacto da água sobre
recebem água devido
o solo dá inicio à erosão, por exemplo, ao ravinameto. A redução
ao derretimento das
neves, e rios de regime da floresta e da quantidade de água do lençol freático interfere na
p luvial, que são quantidade da umidade do ar, ou seja, na água em estado de vapor
alimentados pela água presente na atmosfera .
das chuvas.
1 Precipitação
"'
a:,
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N
:::,
"'u
o
z
~
z
<
131
Perda de produtividade
Erosão do solo em ➔
propriedade rural
no estado do Mato
Grosso
,.,.,
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°'V")
iu
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o
,.,.,
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O manejo florestal é uma alternativa para preservação da flores- "
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~ "'
z
n
o
e
=l
Etapas do manejo ➔
florestal:
1) floresta,
2) seleção da árvore
para o corte,
3) transporte de
madeira,
4) replantio
132
O que é Código Florestal?
Pode não parecer, mas o Código Florestal tem a ver com a qua-
lidade de vida de todos os brasileiros. Desde 1934, quando surgiu, o
Código parte do pressuposto de que a conservação das florestas e dos
outros ecossistemas naturais interessa a toda a sociedade. Afinal, são
elas que garantem, para todos nós, serviços ambientais básicos - como
a produção de água, a regulação do ciclo das chuvas e dos recursos
hidricos, a proteção da biodiversidade, a polinização, o controle de
pragas, o controle do assoreamento dos rios e o equilibrio do clima
- que sustentam a vida e a economia de todo o pais. Além de tudo
isso, é a única lei nacional que veta a ocupação urbana ou agricola de
áreas de risco sujeitas, por exemplo, a inundações e deslizamentos
de terra.
É o código que determina a obrigação de se preservar áreas
sensiveis e de se manter uma parcela da vegetação nativa no interior
das propriedades rurais.
São as chamadas áreas de preservação permanente (APPs) e re-
serva legal.
Fonte : http://www.agb.org.brldocumentoslcartUha CF20012011.pdf
133
-
Nem pensar!
Estas terras são Conversa entre grileiro
minhas e tenho as e posseiro
documentações
"originais"
"'
co
«
Constituição
Federal (1988):
Estabelece que cada
proprietário pode ter,
no máximo, 2.500
ha de terras.
135
Na grilagem "legal" é utilizada a técnica da procuração, onde
Procurador: É aquela
pessoa responsável por o latifundiário consegue um procurador para representar várias fa-
representar legalmente milias. De posse das assinaturas das familias, o procurador reúne
outra pessoa, como, outros documentos, como declarações falsas de que naquelas terras
por exemplo, um
advogado que não existem posseiros nem povos indígenas. Tudo isso para entrar
representa um cliente com pedido de aquisição de terras nos Institutos de Terras dos esta-
em ações judiciais. dos. No Pará, esse instituto é o ITERPA .
•
ITERPA, Instituto
de Terras do Pará,
A partir daí, são emitidos pelo órgão público os títulos de pro-
priedade da terra para todas as famílias representadas pelo pro-
sede em Belém-PA curador. Sendo muitas vezes o próprio latifundiário, ele se torna o
proprietário de todas as terras. Esse processo é responsável pela con-
centração de terras na Amazônia.
A especulação da terra é o principal motor do desmatamento
da floresta amazônica. A pessoa que adquire ou ocupa um pedaço
de terra a vê como um grande investimento econômico, cujo valor
é maior se ela estiver desmatada. A floresta é explorada e transfor-
mada ora em agricultura familiar, ora em pastagens para a criação
extensiva de gado nas grandes propriedades .
Com o tempo, as áreas de pastagens sofrem rápida degradação
pelo pisoteio do gado que compacta o solo, diminuindo a reprodução
do pasto que alimenta o gado. Muitas áreas cedem lugar à agricul-
tura mecanizada, principalmente àquela ligada às culturas de soja
e algodão.
136
Constitufdas as propriedades rurais, o desmatamento é condu-
zido de forma diferente entre partes diferentes da região, variando
ao longo do tempo. Veja o que diz o pesquisador Philip Fearnside, do
Instituto de Pesquisa da Amazônia (INPA):
"Os atores e as forças que conduzem ao desmatamento variam
entre partes diferentes da região, e variam ao longo do tempo. Em
geral, os grandes e médios fazendeiros respondem pela grande maioria
da atividade do desmatamento, mas os pequenos agricultores podem
atuar como forças importantes nos lugares onde estão concentrados.
Em Mato Grosso, grandes plantações de soja têm se alastrado em dire-
ção ao norte a partir da área de cerrado. A parte norte do Mato Grosso
e muito das partes sul e leste do Pará são dominadas por grandes fa-
zendas de pecuária. Em partes do Pará (tais como focos de desmata-
mento em Novo Repartimento) pequenos agricultores representam a
força principal. Em Rondônia e ao longo da rodovia Transamazônica no
Pará e no Amazonas, pequenos agricultores são agentes importantes.
O mero anúncio de projetos de construção e de melhoria de rodovias
leva a uma corrida especulativa de terra, com 'grileiros' (grandes pre-
tendentes ilegais de terra) frequentemente tomando posse de áreas
extensas em antecipação de lucros oriundos do rápido aumento do pre-
ço da terra, uma vez que a rodovia esteja completa"
Posseiro: É o
A especulação de terra trouxe sérios problemas e conflitos vio- pequeno agricultor,
lentos entre as populações indfgenas, posseiros, extrativistas e lati- pobre, que ocupa
fundiários. terras abandonadas.
Com o tempo de
As terras que pertenciam às populações tradicionais foram, ao permanência na terra,
longo da história do Brasil, ocupadas de forma ilegal e violenta. pode reclamar a posse
A demarcação de terras indfgenas e de reservas extrativistas (RE- definitiva. É a Lei do
Usucapião.
SEX) são tentativas de garantir o direito à terra desses povos. No
entanto, elas também são constantemente ameaçadas, resultando
em assassinatos encomendados, como, por exemplo, o ocorrido em
Nova lpixuna-PA, em 2011 .
...
oL,,J
137
Grileiros invadem e ameaçam indios no
sul do Amazonas e FUNAI pede Força de
Segurança
138
Agora vamos refletir sobre o
que aprendemos nesta unidade,
respondendo as questões abaixo.
1- O que é o Arco do Desmatamento? Quais são os estados da Ama-
zônia Legal que estão envolvidos?
SAIBA MAIS
LEITURA O desafio amazônico, de Samuel Murgel Branco
139
AB'SABER, Aziz Nacib. Domínios de Natureza no Brasil. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003 .
_ __ . Amazônia: do discurso à práxis. São Paulo: Edusp, 2004.
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