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cos 7° Ano

sociedade. amazôriica
.

EDITORA

.ESTUDOS.AMAZÔNICOS
Capitulo 1 Para que servjam as colônias? ......•••••••••.•.•....••..••••••••• 8

Capitulo 2 Para adm;n;strar a Amazôn;a: um novo Estado ••••••••••••••• 12

Capitulo 3 Extrativjsmo na Amazôn;a ....••.........•. ~ ............................. 16

Capitulo 4 Agricultura na Amazôn;a ••••••••••••••••••••••••.•••.•...•..•••••••• 20

Capitulo 5 Nobres, degredados, miUtares e açorjanos: portugueses na


Amazônia ......................................................................... 28
Capitulo 6 Capuchos, CarmeUtas, Mercedários e Jesuitas: as ordens
rel ;g;osas na Amazôn;a •••••••••••••••••••••..••••••••••••••••••..•••••.••••.••• 32

Capitulo 7 As populações ;ndigenas e a ocupação portuguesa da Amazôn;a .. 36

Capitulo 8 Bantos, M;nas e lotubás: africanos na Amazôn;a ........•••• 40

Capitulo 9 Quem não dependja·do trabalho ;ndigena na Amazôn;a


colonial? ............................. .. ........................................... 48
Capitulo 1O O Reg;mento das Mjssões ••••••••••••••.•.••.•••.•••....•••••.•. 52
,
Capitulo11 O o;retór;o dos lndios ................................................... 56
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N
I
EXTRATIVISMO E
D
A AGRICULTURA NA ,A,,.
D
E AMAZONIA COLONIAL

No livro anterior, refletimos um pouco a respeito da História da Ama-


zônia. Falamos da diversidade da região, das primeiras populações humanas
que a habitaram e da chegada dos europeus, no final do século XV. Aliás,
você lembra que os espanhóis chegaram à Amazônia antes dos portugueses?
Você lembra também que os franceses invadiram o Maranhão e lá ficaram
até 1615? O medo de que outros europeus tomassem conta do imenso terri-
tório amazônico foi um dos principais motivos que levou a Coroa portuguesa
a concentrar esforços para ocupar a Amazônia a partir do século XVII.

Arquivo Público
do Maranhão
inaugurado em 14
de novembro de 1932
'f

6
0 CAPÍTULO 1 0 CAPÍTULO 3
Para que serviam as Extrativismo na Amazônia
colônias?

0 CAPÍTULO 2 0 CAPÍTULO 4
Para administrar a Agricultura na Amazônia
Amazônia: um novo
Estado

Neste livro, abordaremos alguns aspectos desse grande esforço


Período Colonial
de ocupação . Vamos aprender sobre como a Amazônia foi i ncluída
amazônico:
nos planos comerciais da Coroa portuguesa. Trataremos dos desafios Chamamos de Período
por que passaram os colonizadores na difícil tarefa de conquista r a Colonial amazônico o
natureza, o vasto território e as pessoas que nele moravam. Aborda- espaço de tempo que
remos o papel de diversos atores sociais: indígenas de diferentes et- vai de 1616 até 1823,
ou seja, o período
nias, negros de diversos lugares da África, administradores da Coroa
que vai da Fundação
portuguesa, militares de várias patentes, missionários de diferentes de Belém, em 1616,
ordens religiosas, enfim, gente que, com múltiplos interesses, parti- até a Adesão do Pará
cipou da história da Conquista portuguesa na Amazônia . à Independência
do Brasil, em
Muito do que sabemos sobre o Periodo Colonial amazônico foi 1823. Durante esse
interpretado a partir de documentos produzidos por pessoas que vi- período, a região
veram naquela época . A maior parte dessa documentação nos aju - que chamamos -de
Amazônia esteve sob o
da a compreender como pessoas de diferentes origens e culturas se domínio de Portugal,
relacionaram na Amazônia nos primeiros séculos dessa ocupação. como parte de suas
Muitos desses documentos podem ser pesquisados em locais como o colônias na América.
Arquivo Público do Pará e o Arquivo Público do Estado do Maranhão.
Nesses arquivos, encontra-se uma parte de nossa história. Que tal Arquivo do antigo
fazer uma vi sita até o arquivo de seu estado ou de sua cidade? Você Estado do Grão-Pará,
pode descobri r muitas histórias por lá. Maranhão e Rio Negro,
desde 1894, hoje
Arquivo Público
do Estado do Pará
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A
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Í Para que serviam
T
u as colônias?
L
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Metrópole: Era como se chamava o


centro político-administrativo do qual
provinham as principais ordens para

Vamos começar o nosso estu -


do tratando de um período da história
organizar a ocupação da Colônia, defendê-
/a e determinar a sua estrutura de poder.
Era, por exemplo, na Metrópole que se
que foi muito importante para as na- definia os administradores da Colônia e
as leis que deveriam ser seguidas. Porém,
ções europeias, quando elas tiveram de
as determinações da Metrópole também
conquistar "novos" territórios. Os ter- eram influenciadas pelas dificuldades
ritóri os conquistados eram chamados enfrentadas pelos colonos e colonizadores.
de Colônias e as nações conquistadoras Exemplo disso foram as diversas alterações
eram chamadas de Metrópoles . Estamos nas leis que tratavam sobre a mão de obra
na Amazônia. Veremos, mais à frente, como
fa lando de uma época bem diferente da os colonos reivindicaram e conseguiram em
que vi vemos , há cerca de 500 anos . determinados momentos modificar os textos
legais a seu favor.

Carta decorativa e. 1527

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Os territórios conquistados por Portugal e Espanha no mundo

Nessa época, possuir Colônias significava, para a maio-


Colônias: Na Idade Moderna,
ria das nações europeias, ter mais terras, mais riquezas e as colônias eram territórios
mais poder. Esse foi um dos motivos que explicam por que conquistados por europeus fora do
a busca por territórios que pudessem ser colonizados au- seu continente. O grande exemplo
mentou a partir do século XV. Nesse pe·ríodo, Espanha e de território feito Colônia é o
continente americano. Esse espaço,
Portugal, por exemplo, dividiram o "Novo Mundo" entre
durante aproximadamente três
eles . Você se lembra do Tratado de Tordesilhas? Por causa séculos, foi considerado extensão
desse Tratado , Portugal ficou com uma faixa de terra do do continente europeu. Essa época
continente americano bem menor do que a que acabou ficou conhecida como Período
o'<-G por ocupar. Como vamos ver a seguir, Colonial. A expansão europeia teve
como um dos resultados a conquista
--t1'"' ç".:,/~-- Portugal aumentou a área de suas
~ • A , do continente americano. Para você
·colonias na America, mesmo agindo ter uma ideia, todos os países que
contra o que estipulava o Tratado conhecemos hoje da América Latina
de Tordesilhas. foram colônias de alguma nação
europeia. Por exemplo, o Brasil foi
~ Folha de rosto Colônia de Portugal. A Argentina, o
do Tratado de Peru, o Paraguai e a Bolívia foram
Tordesilhas (1494) algumas das colônias que a Espanha
teve na América, e a França e a
Holanda também tiveram Colônias
nas regiões das Guianas.

9
Os territórios cobiçados pelos europeus não eram desabitados.
Muito pelo contrário, neles viviam povos que conheciam bem o espa-
ço em que moravam. No entanto , os europeus, quando encontravam
essas terras, as tomavam como se fossem suas e, na maioria das
vezes, passavam a desconsiderar os costumes e os hábitos das popu-
lações nativas. Na Amazônia, não foi diferente. Falamos muito sobre
isso no livro anterior. Você lembra?

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL

Colonos: Eram aqueles


Colonos visitam uma habitação indígena,
que detinham terras,
"Visita ao M ura", Franz Xaver Nachtmann, e. 1823
mão de obra e m eios de
produção. Por exemplo,
o dono de uma sesmaria
poderia plantar, possuir
escravos e ferramentas
para a produção de uma Outro aspecto importante para nosso estudo é compreender-
lavoura. Diferente do mos um pouco melhor a relação entre a Metrópole e suas Colônias.
que se pode imaginar, Hoje, não podemos mais entender que a Colônia era um espaço
os colonos não eram,
simplesmente subordinado à Metrópole. Elas estavam ligadas por
necessariamente, pessoas
ricas. Em muitos casos, diversos fatores . Uma precisava da outra. Se a Metrópole precisa-
eles tinham dificuldade va das riquezas produzidas na Colônia, os colonos precisavam da
para manter sua lavoura Metrópole para transformar o produto de seu trabalho em riqueza,
e sustentar a família . tanto para eles quanto para a Metrópole.

10
O principal objetivo de uma Colônia, como as que Portugal teve
na América, era fornecer riquezas para a sua Metrópole. Por que
isso acontecia? São muitas as razões. Aqui, nós vamos tratar de uma
delas. Prest e atenção! Na Europa daquele período, os governos acre-
ditavam que havia duas formas de produzir riqueza. Uma delas era
por meio da descoberta de minas de metais preciosos. A outra era
pelo comércio.
Os europeus acreditavam também que no "Novo Mundo" havia
muitas minas de metais e pedras preciosas inexploradas. Contudo,
isso não era bem assim. Não havia minas de ouro ou prata em todos
os lugares da América. Na Amazônia, por exemplo, nenhuma mina
importante foi encontrada durante o Período Colonial. Nesses casos,
a Metrópole incentivava a produção de gêneros que pudessem ser
comercializados.
A Metrópole portuguesa via na Amazônia a possibilidade de con-
seguir produtos de grande interesse no mercado internacional. Agora
que nós sabemos disso, vamos descobrir como a relação entre Portu-
gal e sua Colônia na Amazônia se deu e também saber quem produzia
a riqueza e para onde ela era encaminhada. Vamos aprender mais
sobre isso?

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ÁFRICA

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· um novo Estado

J á vimos que a Metrópole portuguesa tinha


interesse no território amazônico. No entanto, até
Amazônia Legal: Vimos
no primeiro volume
desta Coleção os estados
brasileiros que fazem
o século XVII, ela ainda não tinha ocupado essa re- parte da Amazônia
gião. Nessa época, as cidades que hoje conhecemos Legal. São eles: Acre,
Rondônia, Roraima,
não existiam. O que havia era um grande territó- Amapá, Amazonas, Pará,
rio chamado de Maraíion. Esse território abrangia o Mato Grosso, Tocantins e
que hoje conhecemos como Amazônia Legal, mais uma parte do estado do
o atual estado do Ceará e do Piauí. Enorme, não é? Maranhão.

Mapa do território do Marai'lon, M. Bonne, 1780


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12
Trecho da costa brasileira de difícil navegação
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Modelo de caravela
usada no século XVII

Povoar: Povoar
era uma forma de
controlar e defender
o território, além
de torná-lo mais
produtivo. Para os
homens daquela
época, quanto
mais povoado
era um território,
mais riquezas
eram produzidas.
Nas colônias, o
povoamento era
Além de grande, o Maraíion era habitado por muitos povos indí- visto como uma
genas diferentes. Bem antes dos portugueses, ele foi explorado por forma de defender
espanhóis, franceses, ingleses e holandeses. A noticia de que esses o território: terras
povoadas eram
europeus estavam interessados nessas terras mobilizou a Metrópole mais difíceis de
portuguesa a promover um grande esforço para ocupar a região. A serem conquistadas
expulsão dos franceses do que hoje é o estado do Maranhão, a funda- que terras sem
ção da cidade de Belém e a criação do Estado do Maranhão e Grão- ninguém. No
·Pará fazem parte dessa história. entanto, você já
sabe que a região
Ocupar significava administrar, povoar e defender essa imensa era habitada há
região, tarefa nada fácil em uma época em que não havia estradas muito tempo por
milhares de pessoas.
nem mesmo veículos velozes. Além disso, Portugal tinha outro proble- As tentativas
ma: conseguir administrar a Amazônia a partir da capital da Colônia de povoamento
portuguesa na América, a cidade de Salvador, na capitania da Bahia. pensadas por
A navegação entre o território amazônico e o restante do Brasil era Portugal tiveram
de lidar com essas
tão difícil que muitas vezes os navios naufragavam ou se perdiam no pessoas. Vamos ver
trajeto. Você acredita que era mais fácil ir de Salvador para Lisboa, isso mais à frente.
em Portugal, do que para São Luís? Isso realmente acontecia.
13
O colono conhecendo
a cultura indígena,
fato importante para a
povoação da região,
"A caça de jacaré",
Henry Bates, c.1850

Como, então, proteger, controlar e administrar a Amazônia des-


Governador-geral da
Colônia: Em 1549, o
de Salvador? E mais: como o Governador-geral da Colônia consegui-
rei de Portugal, Dom ria controlar o fluxo de estrangeiros e a circulação de produtos e de
João III, resolveu pessoas de tão longe? Diante dessas dificuldades, a Coroa portuguesa
nomear um Governo- se convenceu da necessidade de dividir a Colônia brasileira em dois
geral no Brasil. estados: O Estado do Brasil e o Estado do Maranhão. Este último foi
Foi uma tentativa
de centralizar a
criado em 1621.
administração colonial
e melhor controlar Território brasileiro dividido em dois grandes estados:
as colônias. Tomé de
Souza foi o primeiro
Estado do Maranhão e Estado do Brasil (Mr Bonne, 1780)
o.
Governador-geral do
Brasil. "-
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14
Estado do Maranhão

"A caça de
jacaré",
Henry
Bates,
c.1850

Estado do
Maranhão:O
Estado do Maranhão
foi criado em 1621.
Ao longo dos anos,
a sua denominação
foi alterada: em
1654, ele passou a se
chamar Estado do
Maranhão e Grão-
Pará, cuja capital era
São Luís; quase cem
anos depois, o nome
foi mudado para
Estado do Grão-Pará
A criação do Estado do Maranhão gerou a necessidade de for- e Maranhão, com
capital em Belém.
mar uma nova administração no local. Era preciso indicar um novo Em 1772, esse Estado
governador e todos os outros cargos que garantissem o controle de foi desmembrado
Portugal sobre a região. Você percebeu que a Coroa portuguesa criou em outros dois: no
o Estado do Maranhão para melhor controlar o território amazônico? Estado do Maranhão
Porém, como será que esse novo Estado foi administrado? O que nele e Piauí e no Estado
do Grão-Pará e
se produzia? Como a região foi inserida no Sistema Colonial? É o que Rio Negro. Essa
iremos discutir nos próximos capitulas. divisão perdurou
até a Independência
e só depois dela
foram criadas novas
"Prospecto da Cidade de Sta. Maria de Belém divisões do território
do Grão-Pará", 1784, no período colonial, amazônico.
atribuído a J.J. Codina
t REPRODUÇÃO

IS
Vimos, nos capítulos anteriores, que a Amazônia era de gran-
de interesse para a Metrópole portuguesa. Os colonizadores acredi-
tavam que metais preciosos, o ouro especialmente, seriam encom-
1
trados na região. A expectativa era que se repetisse na Amazônia o
mesmo que ocorreu na Colônia espanhola, nos Andes. O ouro, porém,
não foi encontrado. Mas isso não impediu que outros produtos fossem
explorados. Foram esses produtos que fizeram a região participar das
trocas que conformavam o chamado Sistema Colonial.

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Extração do ➔
pau-brasil por
meio do trabalho
indígena, A tlas
Miller (detalhe de
um pergaminho
do século XVI)

16
Estamos f alando dos produtos da atividade extrativista. O ex-
trativismo é a coleta ou a captura de plantas , animais e frutos reti-
rados diret amente da natureza. Na verdade, o extrativismo já acon-
tecia antes mesmo da chegada dos europeus. Há séculos, já era
feito pelos diferentes povos indigenas que habitavam a região. Você
se lembra das primeiras populações amazônicas que viviam da caça
e da coleta que vimos no primeiro volume da coleção? Elas viviam do
extrativismo. Mesmo os povos indigenas de várzea, que desenvolve-
ram o cultivo de plantas, jamais deixaram de extrair os recursos da
natureza amazônica.

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"' A atividade extrativa foi muito importante na região. Isso se deu O uso da
porque os povos indigenas já a praticava·m há muitos séculos antes mão de obra
de os europeus chegarem ao continente americano. Os europeus se indígena na
extração do
aproveitaram do conhecimento dos povos indigenas nessa área. As pau-brasil
primeiras relações de troca entre europeus e povos indigenas tiveram
as atividades extrativas como base. Quem não se lembra da extração
e da comercialização do pau-brasil na costa atlântica brasileira? Na
Amazônia, da mesma forma, os primeiros contatos entre indigenas
e europeus se deram pela exploração das madeiras da região. Essa
exploração perdurou por todo o Periodo Colonial.
Porém , como era a atividade extrativa? O Padre João Daniel,
que viajou pela Amazônia no século XVIII, nos dá uma ideia. Em seus
escritos, ele esclarece que os moradores que pretendiam subir o rio
Amazonas em busca de riquezas às suas margens ou em matas próxi-
mas precisariam de licenças, além de indios para os guiarem até os
produtos, como cacau, salsa e cravo. Esse trabalho poderia durar de
6 a 8 meses! Os indios remavam as chamadas canoas do sertão.

17
Tijupares: Eram pequenas
Era um trabalho árduo, porque os indios tinham de vencer as
cabanas feitas no local correntezas dos rios, remando em canoas muito altas, o que dificul-
em que as expedições tava alcançar a água com as pás ou remos. O padre João Daniel nos
decidiam acampar. conta também que, depois de ancoradas as canoas, os indios faziam
as tijupares , ou feitorias, e, para isso, cortavam as matas, limpan-
Salgados e beneficiados:
Processo pelo qual passava
do o terreno. Lá, construiam canoas menores, as quais permitiam
o alimento perecível como navegar com maior agilidade e maior rapidez para a pesca. Outros
forma de preservá-lo por colonos dividiam os indios pelos diversos riachos ou rios pelo inte-
mais tempo. A carne de rior do território na busca por cacau e outros produtos. Os produtos
peixe ou de caça era limpa que achavam eram levados para as feitorias. Também faziam gran-
e depois banhada no sal. As
carnes ficavam dias secando des pescarias de peixes-bois, que eram salgados e beneficiados
ao sol. Esse é um processo de diversas maneiras. Além disso, os indios continuavam extraindo
feito ainda hoje em várias copaibas, baunilhas e tudo mais que podiam, até o momento de
regiões da Amazônia. voltar à cidade.

MARCELO NUNES E ALLAN BITTENCOURT

.
Modelo de
feitorias ou
tijupares
Com essa breve descrição feita pelo padre João Daniel, você per-
cebeu o quanto os colonos dependiam dos indigenas para realizarem
a atividade extrativa na região? Essa dependência não era apenas
porque os indigenas eram obrigados a dar conta de todo o trabalho
pesado. Os europeus também dependiam dos indigenas em razão dos
conhecimentos que eles tinham sobre o ecossistema amazônico.

18
No Período Colonial, os produtos
extraídos serviam tanto para a expor-
tação como para o uso das pessoas
que moravam na região amazônica.
Quer um exemplo? Vamos falar da ma-
deira. Ela era importante para as vilas
e povoados que estavam surgindo no
Estado do Maranhão, pois era essen-
cial para construção de quase tudo. As
casas, as carroças e até os fortes mi-
litares tinham a madeira como maté-
ria-prima principal. Essa estrutura era
essencial para a fixação dos colonos e
para a defesa do território.

Na Amazônia, as embarcações também eram muito importantes.


Elas serviam para transportar pessoas, tropas e facilitar a circulação

Construção do
"Forte do
de mercadorias. E adivinha do que eram feitas? De madeira! Da madei- Presépio"
com madeira da
ra também se extraíam diversas tinturas, muito valorizadas no mer-
região, detalhe
:5 cado europeu e de outros continentes. Assim como a madeira, outros da obra
! produtos também eram extraídos. Peixes, andiroba, cacau, cravo, "Fundação
; . baunilha, anil, breu, canela, copaíba, salsaparrilha, casca preciosa e de Belém",
'<
'" tartaruga são alguns exemplos. Muitos desses produtos ficaram conhe- Theodoro
} cidos como drogas do sertão. Braga, 1908
e
t
(j A alimentação na Colônia do norte em muito se
baseava nos produtos retirados da natureza. Os pei-
xes e variadas carnes de caça, ao lado da farinha de
mandioca, eram a comida do dia a dia na Colônia.
-··
Por exemplo, nas expedições pelo interior do terri- Farinha

6
tório, os produtos extraídos também eram importan-
tes. Afinal, as viagens eram longas, cheias de obstá-
culos e muitas vezes sem data certa para terminar.
Por isso, produtos como os peixes secos, as michiras Manteiga
(carnes de animais cozidas e conservadas em sua
própria gordura), a farinha de peixe, a manteiga, a ~
carne e o casco da tartaruga e a farinha de mandioca
eram muito usados pelos viajantes, uma vez que es-
~
Carne na gordura
ses alimentos não estragavam rapidamente.
Então, você percebeu o quanto o extrativismo
era importante para a ocupação do território ama-
zônico? A atividade extrativista atravessou todo
o Período Colonial. As razões para que isso tenha
acontecido são muitas. Entre elas, podemos citar:
a ocupação tardia da região; a falta de investimen-
tos da Coroa portuguesa; e a dificuldade para a
implantação da agricultura na região.
Por falar em agricultura, é sobre essa ativida-
de que trataremos no próximo capítulo. Vamos lá!
Carne de tartaruga

19
Você já sabe que o extrativismo foi muito importante para
a ocupação da Amazônia pelos portugueses. Durante o Periodo Co-
lonial, a Metrópole portuguesa também incentivou outras atividades
econômicas que rendessem riquezas e ajudassem na conquista do
território. Uma das mais importantes foi a agricultura. Vamos conhe-
cer as razões?
Importantes acontecimentos dos séculos XVI e XVII no Brasil

Fundação de
•.
Belém

As primeiras
expedtções

Estabelecimento
do Governo-geral

Auge da agricultura
no Nordeste

rodução sistemática
de scravos africanos

Brasil


20
Para a Metrópole, a produção agrícola poderia inserir a Colônia
do norte no comércio do Atlântico de forma mais organizada e fre-
quente do que a produção baseada na extração das "drogas do ser-
tão". A Metrópole portuguesa também acreditava que outra grande
vantagem da agricultura na Amazônia seria a fixação dos colonos,
que passariam a viver nas vilas e povoados das capitanias do nor-
te. Com mais gente morando na região, a agricultura também seria
muito importante para o abastecimento de alimentos para os seus
habitantes.
Como você pode perceber, a Metrópole portuguesa via algumas
vantagens na atividade agrícola: a primeira delas era o aumento da
produção, com geração de excedentes a serem comercializados no
mercado internacional; a segunda era a fixação dos colonos na re-
gião; a terceira era que a terra ocupada pelos colonos não poderia
ser tomada por estrangeiros; e, finalmente, a quarta vantagem era
que a agricultura abasteceria a Colônia de alimentos.
A ideia de Conquistar o espaço utilizando a agricultura não era
nova para os portugueses. Foi assim em várias colônias portuguesas,
entre elas o Brasil. Lembre-se de que, quando a colonização da Ama-
zônia ganhou força no século XVII, já havia quase cem anos de ocupa-
ção portuguesa nas capitanias do Nordeste, principalmente na Bahia
e em Pernambuco. Aliás, muito da experiência desenvolvida com a
agricultura nessas capitanias foi reproduzida na Amazônia. Mas será
que isso deu certo?

~ Plantação na
Amazônia orientada
pelos Padres
Jesuítas, desenho do
diário do Pe. João
Daniel, séc. XVII

Na Amazônia, há ·uma variedade de solos. A maioria deles é ina-


propriado para a agricultura tal como ela foi desenvolvida no Nor- Sistema de plantation:
deste - o sistema de plantation . Os tipos de solo na região não per- Agricultura baseada em
mitiram o desenvolvimento de uma monocultura da cana-de-açúcar, uma só cultura, feita
mas, não foi só isso. Além dos limites das propriedades do solo, ha- em grandes extensões
de terra. A produção
via pouca oferta de investimentos para a edificação de fazendas de
era destinada para o
grande porte. Sem investimentos, havia limites para a aquisição de mercado externo e a
trabalhadores e para a compra de maquinário, limitando o avanço da principal mão de obra
agricultura. era a escrava.

21
Isso não significa , porém , que não houve agricultura na região.
Houve sim! Mas a experiência foi bem diferente da do Nordeste. Para
começar, na Amazônia , o uso da mão de obra indígena foi, durante
muito tempo, a principal alternativa dos colonos. Essa mão de obra
era fundamental para a agricultura , afinal, era necessário derrubar a
mata, limpar o terreno , preparar a terra, semear, colher e manter a
plantação. Então, quem faria todo esse serviço nas lavouras? Os indí-
genas. Essa foi uma das razões pela qual eles foram muito disputados
na Amazônia. Os religiosos e os colonos queriam controlar essa mão
de obra . Diante dessa situação, colonos e missionários pressionaram
Cultivo do cacau
por indígenas: a Coroa portuguesa para autorizar o tráfico de escravos africanos
derrubada, queimada, para a região amazônica.
preparação da terra,
plantação e
colheita do fruto
'f ALLAN BITTENCOURT

Mesmo com os problemas de mão de obra, várias tentativas de


implantar a agricultura na Amazônia foram feitas, tanto por colonos
quanto por missionários. Um exemplo desse esforço foi o cultivo do
cacau. A árvore do cacau era encontrada de forma dispersa na na-
turez~, o que dificultava a colheita. Os colonizadores, percebendo
essa dificuldade em meados de 1670, tentaram plantar o cacau. Para
isso, solicitaram , junto à Metrópole portuguesa, trabalhadores e in-
Dízimo: Imposto centivos. A Metrópole portuguesa estimulou o cultivo, decretando
cobrado pelos reis de que os missionários direcionassem alguns indígenas aldeados para o
seus súditos. Hoje trabalho na lavoura do cacau. A Metrópole também dispensou os mo-
em dia, o dízimo é
associado aos 10% radores que plantavam o cacau de alguns impostos, como o dizimo .
da renda pago às O gosto pelo chocolate na Europa garantiu um mercado certo para
Igrejas pelos seus o cacau. Essa produção se tornou uma das mais importantes para a
seguidores. economia da região amazônica .

22
Outros produtos também foram plantados: arroz, milho, tabaco,
cana-de-açúcar, café e alguns legumes. A agricultura foi uma tenta-
tiva de garantir a ocupação do território amazônico e inseri-lo na
economia colonial. Contudo, a produção agrícola na Amazônia não
alcançou os resultados esperados pelos colonos e pela Metrópole por-
tuguesa. A agricultura na Amazônia, durante o Período Colonial, ficou
concentrada em pequenas áreas, como pode ser observado no mapa
a seguir.

Ordens religiosas e principais plantações na Amazônia


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Cana-de-Açúcar Mandioca Ordens Religiosas Arroz
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A modesta produção agrícola da Amazônia colaborou para que


a atividade extrativa se mantivesse como a principal forma de pro-
dução de riqueza nesse período. É importante ressaltar que essas
diferentes atividades econômicas possibilitaram que pessoas com in-
teresses diversos se relacionassem nesse espaço. No entanto, que
pessoas eram essas? Como elas se organizavam e se relacionavam?
Veremos um pouco dessa dinâmica nos próximos capítulos.

23
O padre João Daniel também escreveu sobre a agricultura na Ama-
zônia. Em um de seus textos, ele descreve como a plantação de cacau
era feita pelos colonos. Abaixo, há um pequeno trecho do texto.

A plantação de cacaus mansos, que os


brancos costumam fazer em seus sítios é as-
sim: semeiam em tabuleiros levantados da ter-
ra com paus, e varas, a que chamam jiraus, os
canteiros, que querem, onde com água lhes vão
deitando, nascem, e vão crescendo as plantas;
depois de um ano as vão plantar no roçado, que
para isso já tem preparado, e talvez depois da
colheita da maniba*, e para que as plantas,
como tenras não desmaiem, murchem, ou se-
quem a grande terreiro do sol, lhes tem já de
antemão plantadas em boas fileiras, e ruas es-
paçosas árvores pacoveiras*, que fazem muita
sobra, e dão muitos frutos e por baixo delas,
depois de crescidas, e bem copadas [as] põem
a plantação de cacau na mesma ordem de ruas,
com distancia proporcionada; e só quando as
plantas do cacau se fazem já sombra a si mes-
mas, e entram a frutificar, o que ordinariamen-
te fazem no terceiro ano de sua plantação lhes
cortam as pacoveiras de cujos deliciosos frutos
até então se utilizaram; e se avaliam estes ca-
caus em tantos mil cruzados, quantos mil pés
são, para que se veja, quanto lucrosos são os
sítios ou quintas do Amazonas só por estes ca-
caus, além dos cafezais, e mais benfeitorias,
que lhes fazem.

DANIEL, João. Tesouro descoberto no rio Amazonas. Relatórfo da Diretoria


da Biblioteca Nacional, 1975. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976, p. 14-
15, Vol. 95, T. li.

*Maniba: palavra relativa à maniva, nome dado ao caule do pé de mandioca.

*Pacoveiras: como se chamava um tipo de bananeira.

24
Vimos nesta unidade como o extrativismo e a agricultura foram
importantes para os primeiros anos de ocupação portuguesa na re-
gião. A part ir de 1617, muitos religiosos vieram para a Amazônia com
a tarefa de catequizar e organizar a mão de obra indigena. Entre
eles, destacou-se o Padre João Daniel, jesuita que em 1741 chegou
ao Pará. O padre deixou registros sobre a natureza amazônica e sobre
o modo de vida das pessoas que nela habitavam. Leia atentamente o
texto abaixo e observe como o religioso abordou algumas dificulda-
des encontradas pelos colonos portugueses ao chegarem à Amazônia.

"Vão os europeos, e forasteiros para aquelas terras, e talvez fa-


mílias inte iras, chegam àquele delicioso clima onde sempre é verão,
e nunca se vê o inverno, e atraídos de seus saudáveis ares desejam
estabelecer-se para sempre; porém vendo aquelas tão grandes, e
espessas matas pasmam, e se desanimam, vem por outra parte, que
os antigos moradores se servem de muitos escravos para lhes roça-
rem semelhantes matas, e que usam nelas do cultivo da maniba, e
como se vêem sem este socorro desmaiam e lhes falta a resolução de
entrarem com suas mãos a fazerem algum roçado; e nesta desespe-
ração se dão a uma total calaçaria, e se põem a mendigar pelos si tios
dos ricos, e pelas portarias das religiões algum bocado de farinha de
pão para matar a fome"

DANIEL, João. Tesouro descoberto no rio Amazonas. Relatódo da Direto-


ria da Biblioteca Nacional, 1975. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976,
p. 136, Vol. 95, T. li.

Agora, construa em seu caderno um pequeno texto abordando


as dificuldades relatadas pelo Padre João Daniel e relacionando-as ao
conteúdo da unidade estudada.

LEITURA O Pau-Brasil, de Regina Casé; Estevão Ciavatta;


Eloar Guazzelli Filho (Ilustrador), 2010.

Fala da exploração do Pau-brasil desde a descoberta


do pais.
FILME Caramuru - A invenção do Brasil, de Guel Arraes, 2001.

Filme Brasileiro que aborda de modo humorado o descobrimento


do Brasil.

25
26
0 CAPÍTULO 5 0 CAPÍTULO 7
Nobres, degredados, As populações indígenas e
militares e açorianos: a ocupação portuguesa da
portugueses na Amazônia Amazônia

0 CAPÍTULO 6 0 CAPÍTULO 8
Capuchos, Carmelitas, Bantos, Minas e lorubás:
Mercedários e Jesuítas: africanos na Amazônia
as ordens religiosas na
Amazônia

Na unidade anterior, vimos que o projeto de ocupa-


ção da Amazônia foi algo que preocupou a Metrópole portu-
guesa. No entanto, quais os sujeitos que fizeram parte desse
projeto? Vamos discutir sobre isso nesta unidade.

Mapa da Amazônia
e a diversidade de
povos que nela se
localizavam

t
e
A
p
Nobres, degredados,
Í
T
militares e açorianos:
u
L portugueses na Amazônia
o

A Metrópole portuguesa, durante o Período Colonial, se pre-


ocupou em controlar o imenso território amazônico. Ela precisava
encontrar formas de evitar que ele fosse ocupado por outros reinos
europeus. Além disso, a ocupação portuguesa na Améri ca do Sul há
muito tempo já havia ultrapassado os limit es impostos pelo Tratado
de Tordesilhas. Com o fim da União Ibérica, em 1640, Portugal e Es-
panha entraram em conflito pela posse de vá ri os t erritórios na Amé-
rica. O Tratado de Madri foi uma tentativa de resolver esses confli-
tos. Nele, as fronteiras das colônias foram remarcadas, inclusive da
Amazônia , o que modificou sensivelmente o mapa da ocupação.

Período Colonial: Já estudamos sobre


isso, você se lembra? É o período que vai
de 1616 até 1823.
Tratado de Tordesilhas (1494)
Tratado de Madri: Com o término
da União Ibérica, Portugal e Espanha
entraram em desacordo em relação à
ocupação de suas colônias na América.
A tentativa para definir as fronteiras
entre as colônias dos dois Reinos foi
feita por meio de um Acordo chamado
Tratado de Madri, assinado em 1750.
Esse Tratado definia que a ocupação real
determinava o direito sobre o território.
Essa regra foi baseada no uti possidetis,
um princípio do direito romano que
dizia que quem possuísse as terras, de
fato, deveria possuí-las por direito. Isso
significava que os territórios ocupados
por Portugal durante 11 O anos (desde o
fim da União Ibérica até a celebração do
Tratado de Madri) seriam seus. O critério
de ocupação determinado pelo Tratado
ajudou a definir as fronteiras do Brasil.
Veja na próxima página como ficou a
divisão colonial depois do Tratado.

28
L

.
Mapa da região amazônica no Período Colonial, Jodocus Hondius (1563-1612)

Porém , como ocupar um território tão extenso como a Amazô-


nia? As estratégias foram muitas. Uma das alternativas foi estimu-
lar e até obrigar portugueses a se transferirem para a Amazônia.
Para familias nobres, por exemplo, a Metrópole oferecia terras,
cargos administrativos e privilégios. Essas famílias investiam na co-
leta das drogas do sertão e na agricultura, o que era muito impor-
tante para a Metrópole. Nós abordamos isso na unidade anterior.
Você se lembra?
Nobre ➔

O avanço dos portugueses Tratado de Madri ( 1750)


no território amazônico (1640)

29
~ /1
~~
) Açores (B
Madeira0
Açorianos: Pessoas Canárias0

naturais das ilhas


dos Açores. Açores
é um arquipélago
localizado no Oceano
Atlântico. Essa
região foi a primeira
colônia de Portugal.
Os portugueses
colonizaram as ilhas
açorianas desde 1431.
□ Território sob domínio de Felipe li
Lá, eles tiveram as
primeiras experiências
de como administrar
um território fora do
continente europeu.

União Ibérica: durante esse período (1578-1640), várias expedições organizadas por
portugueses e missionários expandiram a ocupação da Amazônia. Quando D. João IV
assumiu o trono de Portugal, a presença portuguesa já ultrapassava, e muito,
Hoje é um território
o Tratado de Tordesilhas. A Espanha reivindicou os territórios ocupados por Portugal.
autônomo da
O Tratado de Madri tentou solucionar a questão, mas Portugal já tinha construído fortes
República Portuguesa.
e aldeamentos, demarcando sua presença em grande parte da região amazônica.
Mazagão: É um
município no sul do
estado do Amapá. Nem todo português que vinha para colônia era nobre. Para a
Historicamente, foi Amazônia também vieram pessoas pobres que procuravam melho-
uma área escolhida rar de vida. Portugueses do Reino e até pessoas de outras colônias
para receber a portuguesas transferiram-se para a região. A Metrópole
população da
incentivou, por exemplo, açorianos a se mudarem
possessão portuguesa
de Mazagão, no para a Amazônia. A região de Mazagão ,
Marrocos, abandonada hoje localizada no estado do Amapá,
por ordem do Marquês recebeu muitos deles.
de Pombal, em 1769.
O povoado serviu de
apoio militar à Vila de
Localização do municipio de Mazagão
Macapá, que surgiu ao
redor da Fortaleza de
São José do Macapá.
A população inicial
de Mazagão é
originária de Marrocos
e trouxe da África
as lembranças das
batalhas com os
muçulmanos. Por isso,
todos os anos, no mês
de julho, é realizada
a Festa de São Tiago,
que tem seu ápice nos
dias 24 e 25, com o
"Baile de Máscaras"
e a dramatização da
cavalhada, com uma
reprodução das lutas
travadas entre mouros
e cristãos, com grupos
Açorianos
trajados a rigor.

30
Nesse periodo, houve também pessoas que foram obrigadas
a se transferir para a colônia do norte. Estamos falando dos
individuas punidos pela justiça portuguesa com a pena de de-
gredo. A pessoa condenada ao degredo era obrigada a deixar
sua terra natal por certo tempo. Enquanto o Brasil foi colônia
de Portugal , recebeu inúmeros degredados. Alguns foram
enviados para a Amazônia. Essas pessoas poderiam traba-
lhar em diversos serviços: na administração da colônia ou
se tornar soldados. Isso não significa que todo soldado
fosse um degredado, é claro!
Os soldados eram os responsáveis pela defesa das
fronteiras contra os inimigos de nações estrangeiras.
Os soldados também deveriam manter a segurança dos
moradores contra eventuais ataques de grupos indigenas.
Avida de um soldado na Amazônia colonial não era fá-
cil. Em documentos da época, há constantes queixas sobre
'atrasos do pagamento , falta de armas e de uniformes.
Você percebeu que as pessoas que vieram para a Amazônia
foram motivadas por diferentes razões? Em geral, os nobres
buscavam t erras, cargos administrativos e privilégios, as
pessoas pobres tinham a esperança de melhorar de vida
e os degredados vinham para cumprir
uma pena, mas muitas vezes acaba-
vam se integrando à sociedade como ,+.
Degredado
funcionários ou soldados.
Apesar de diferentes interesses e posições
sociais, na colônia, a vida não era fácil para Pagamento: A
ninguém. Dos mais ricos aos mais pobres, a remuneração era bem
diferente do que é
luta pela subsistência, por terra e por mo- hoje. Naquela época,
radia, era partilhada por todos. Em meio os soldados (e outros
a essas lutas, conflitos eram comuns. Da trabalhadores) eram
mesma forma, ali_ anças, amizades e re- pagos com produtos e
não com dinheiro. Eles
lações de convivência pacifica também
também reclamavam
aconteceram . das condições de
vida que tinham e da
Ao longo deste livro, ainda veremos falta de materiais de
muito mais sobre as relações entre colo- trabalho.
nos, colonizadores e outros grupos sociais.
Porém, vamos com calma! No próximo
capitulo, cuidaremos de um grupo social
que também foi muito importante no
processo de ocupação do território ama-
zônico. Vamos descobrir qual é?

~ Soldado colonial

31
e
A
p Capuchos, Carmelitas,
Í
T Mercedários e Jesuítas:
u
L
o
as ordens religiosas na
Amazônia

e orno dissemos, muitas pessoas foram importantes no pro-


cesso de ocupação da região amazônica. Durante o século XVII e boa
parte do XVIII, a Metrópole portuguesa não tinha recursos nem pes-
Catequização
soas suficientes para realizar a ocupação do extenso território ama-
de p ovos zônico . Uma das alternativas para solucionar esse problema foi per-
indígenas, mitir que ordens religiosas se instalassem na colônia . Elas ajudavam
"A ldeia de na Conquista, pois a catequização dos povos indígenas ajudava no
Tapuios " de processo de ocupação e geração de riquezas.
J. Rugendas,
século XIX
MUSEUVIRTUALPINTORESDORIO.ARTBLOG

32
Vamos saber como? Converter: A principal função dos missionários que vieram para a
Amazônia era fazer os povos indígenas tornarem-se cristãos. Para
Para a Amazônia, vieram mis- isso, os missionários ensinavam aos índios o que era o cristianismo,
sionários de diferentes ordens reli- quais as obrigações dos cristãos e tudo o mais que fosse necessário.
giosas. Os primei ros a chegar per- Todo esse ensinamento é chamado de catequese. Porém, a
tenciam à ordem dos Capuchos, no catequese não servia apenas para fazer com que os índios fossem
para o céu, como ela também ajudava no esforço de educação
ano de 1617. Depois deles, chega-
dos povos indígenas. Sabe o porquê? Para muitos religiosos e para
ram os Carmelitas, os Mercedários e quase todos os europeus, os indígenas eram pessoas sem cultura
os Jesuítas. Esses religiosos t inham e sem regras sociais. Muitos de seus costumes eram considerados
como princi pal missão converter os errados, como o de não usar roupas. A conversão e a catequese
povos indígenas em cristãos . Os mis- eram meios de levar aos povos indígenas os princípios da cultura
sionários procu ravam convencer os europeia. É claro que os povos indígenas não achavam nada disso.
Para eles, os estranhos eram os europeus!
indígenas a deixarem suas aldeias e
se transferi rem para os aldeamen- Aldeamentos: Espaços nos quais eram reunidos os índios descidos.
tos. A esse deslocamento , chama- Nos aldeamentos, os indígenas eram catequizados e aprendiam a
mos descimento. trabalhar de acordo com a cultura europeia. Esses locais poderiam
ser administrados tanto por religiosos quanto por colonos. Ali,
os indígenas podiam ser mais bem controlados pelos agentes
colonizadores. Mesmo assim, a fuga de indígenas dos aldeamentos
era comum. Foram muitos os aldeamentos construídos nessa
época. Vários deles foram núcleos de onde surgiram algumas
cidades da Amazônia. Vejamos abaixo alguns exemplos:
Vigia: Vila criada em 1693. Foi um aldeamento jesuíta que
catequizava os índios tupinambá. Os indígenas chamavam a
Franciscanos/ ➔ aldeia de Uruytá. Em 1702, o aldeamento já contava com uma
Capuchos ampla Igreja e um número grande de clérigos.
Cametá: Aldeamento dos frades da Província de Santo Antônio,
que dedicava seu trabalho missionário aos Camutás, criado
em 1635. O primeiro nome foi Camutá-tapera e, no ano de sua
fundação, o território foi reconhecido como Vila Viçosa de Santa
Cruz de Camutá.
Barcarena: No século XVIII, os jesuítas organizaram um
aldeamento para catequizar os índios Aruás. Depois o território se
tornou uma fazenda dos jesuítas com o nome de Gebrié, o rio que
corta a região.
Monte Alegre: Os padres Capuchos da Piedade organizaram um
aldeamento para catequizar os índios Gurupatubas, em 171 O.
O aldeamento tinha o mesmo nome dos indígenas aldeados. Em
1758, passou a se chamar Vila de Monte Alegre.

Dcscimcntos: Era como se chamavam os deslocamentos feitos


pelos indígenas de suas próprias aldeias para áreas controladas
pelos colonizadores. A partir da chegada das ordens religiosas na
Amazônia, no século XVII, muitos descimentos foram feitos. Os
missionários procuravam convencer os indígenas a se transferirem
para os aldeamentos pacificamente. Os religiosos argumentavam com
os indígenas de que lá estariam protegidos das violências cometidas
pelos moradores e da escravização. Os religiosos afirmavam que,
nos aldeamentos, os indígenas seriam livres, donos de suas terras, e
que seriam pagos por seus trabalhos. Essas promessas nem sempre
foram cumpridas pelos próprios religiosos, como veremos na próxima
unidade. Em muitos casos, os próprios indígenas escolhiam se deslocar
até os aldeamentos. Em geral, essa decisão era motivada pelo temor de
serem escravizados pelos colo11os.

i33
('
Nos aldeamentos, os indigenas aprendiam diversos costumes
europeus e a religião Católica. Eles aprendiam sobre histórias de
santos , aprendiam também a rezar, a cantar músicas religiosas e até
a esculpir imagens de santos católicos. Esses ensinamentos eram im-
portantes para os objetivos dos colonizadores, pois preparavam os
indigenas aldeados para se tornarem trabalhadores, muitas vezes es-
cravizados.
As missões não tinham apenas um caráter religioso. Os missio-
nários receberam grandes propriedades da Coroa portuguesa. Essas
terras se tornaram muito produtivas, pois os religiosos utilizavam os
indigenas como mão de obra. Essa prática, além de gerar riquezas
para as ordens religiosas, fazia parte da doutrina cristã, pois o traba-
lho era considerado um meio de salvação.
MARCELO NUNES

Os religiosos chegavam
à região, faziam
amizade com os índios,
Os indigenas realizavam muitos tra-
os catequizavam,
os batizavam e os balhos nos aldeamentos e fora deles. Eles
empregavam nas construiam as habitações; faziam as em-
plantações barcações; cuidavam da terra; plantavam e
mantinham as roças; trabalhavam nas lavou-
ras; coletavam as drogas do sertão, que eram
comercializadas pelos missionários, enfim, o
seu trabalho e conhecimento geravam rique-
zas para as ordens religiosas.
A ação desses religiosos na Amazônia por muito tempo interes-
sou à Metrópole portuguesa. Nós vimos as principais razões neste ca-
pítulo. Contudo, o controle sobre os índios aldeados provocou muitos
conflitos com os colonos. A razão desses conflitos é a dependência de
que todos na colônia tinham dos conhecimentos e da força de traba-
lho do indígena.
Mapa da ação missionária na Amazônia
. - - - - - - - - - - - - . . . ; . . . __ _...a.,__ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ , .,,

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UJ
u
~

Belém

Missões
Áreas de exploração
das drogas do sertão

Limites atuais

As disputas pela mão de obra envolvendo


religiosos e colonos ocuparam grande parte do
Período Colonial na Amazônia. Como a Metrópo-
le portuguesa via esses conflitos? Quais foram
as soluções encontradas pelos próprios grupos
envolvidos? Veremos algumas dessas situações
na terceira unidade. No entanto, antes vamos
tratar do grupo de pessoas mais numeroso da
região durante todo o Período Colonial: os indí-
genas da Amazônia.

Jesuíta ➔
e
A
p As populações indígenas
Í
T e a ocupação portuguesa
u
L da Amazônia
o

Ao longo desta unidade, estamos tratando


sobre os diversos grupos sociais que se inseriram na
Perlodo Colonial
amazônico: Chamamos
de Período Colonial
politica de ocupação da Amazônia pela Metrópole amazônico o espaço de
port uguesa, durante o Periodo Colonial. Já vimos que tempo que vai de 1616 até
1823, ou seja, o período
a convivência entre esses diferentes grupos sociais
que vai da Fundação
nem sempre foi pacifica. Muito pelo contrário, diver- de Belém, em 1616,~
sos tipos de conflitos foram registrados em documen- até a Adesão do Pant ·à
tos da época. lndigenas e colonizadores, por exem- Independência do Brasil,
plo, tiveram muitos embates durante todo o Período em 1823. Durante esse
período, a região que
Colonial. Isso não quer dizer, no entanto , que não chamamos de Amazônia
houve indigenas que se associaram aos colonizadores. esteve sob o domínio de
Os indigenas aliados lutaram , diversas vezes , contra Portugal, como parte de
os inimigos estrangeiros e até contra povos indigenas suas colônias na América.
que se recusaram a aceitar o colonizador.
,..,o
l>

.
Indígenas lutando contra outros indígenas, gravura de Theodor de Bry, 1590
-- - -
.

- - --.r
- --

------ \ 1.

..- ----.--. -. ~

Vimos, no capitulo anterior, que os indigenas realizavam todo


tipo de trabalho nos aldeamentos. Contudo, não pense que eles es-

Índios lutando
contra colonos
tavam lá apenas sendo explorados e se sujeitando às ordens dos re-
ligiosos. Muitas vezes, ir e permanecer nos aldeamentos missionários
era uma opção dos próprios indigenas. Isso ocorria porque, neles, os
indigenas se sentiam mais seguros. Lá, estavam mais protegidos con-
tra a escravização, feita pelos colonos, e contra os ataques de povos
indigenas rivais.
A Metrópole portuguesa não demorou a perceber que sem os in-
digenas as dificuldades para se estabelecer no território seriam ain-
da maiores. Como você viu na unidade 1, eram eles que conheciam
os melhores locais para se buscar as drogas do sertão. Os indigenas
também eram fundamentais para atividade agricola, pois trabalha-
vam no preparo da terra, no plantio e na colheita. Além disso, sem
esses trabalhadores, seria muito dificil erguer todas as construções
necessárias nos estabelecimentos coloniais.

37
Diante da dependência que os colonizadores tinham dos indige-
Escravizar os
nas, muitas estratégias foram tentadas para inseri-los na sociedade
indígenas: Nessa
época, havia diferentes colonial , desde o inicio da ocupação . Uma delas foi a proibição de
formas de tornar um escravizar os indígenas. A Metrópole portuguesa queria tornar os
indígena escravo. indigenas trabalhadores livres e remunerados. Essa era mais uma es-
Existiam até leis tratégia para garantir a ocupação do território e incentivar a ativi-
para isso! Saiba mais
dade agricola na Amazônia. Além de camponeses, eles poderiam se
sobre o tema no Texto
Complementar que tornar soldados, oficiais , funcionários públicos e até administradores
selecionamos para este de aldeamentos.
Capítulo.
Além dos indigenas, outro grupo social foi bastante importante
para a produção de riquezas na Amazônia. Esse grupo não veio da
Europa e não pertencia a nenhum Reino interessado em Conquistar
a Amazônia. Nele, havia gente de diferentes origens e culturas. As
pessoas que o integravam , na verdade, nem vieram para a Amazônia
por vontade própria. Será que você já sabe de que grupos estamos
falando?

Mão de obra ~
indígena na
extração do
pau-brasil,
mapa francês
do. século XVI
Texto complementar

A escravidão moderna
Se a escravidão africana tomou um novo impulso com o empreendi-
mento colonizador das Américas, ela não era exatamente uma novidade
na história europeia; ela foi uma realidade do mundo ocidental desde a
Antiguidade até o final do século XIX. Assim como outras formas de tra-
balho compulsório, a escravidão pode ser entendida, como mostra o his-
toriador Moses 1. Finley, como uma relação social marcada pela sujeição
de um ou mais individuas a um determinado grupo social que usufrui dos
beneficias de seu trabalho. Esta sujeição tende a se dar de forma com-
pleta, isto é, implicando em direitos, mais ou menos formalizados, do
grupo dominante sobre a própria pessoa escravizada. O modo como esta
sujeição aconteceu mudou de uma sociedade para outra, há aqueles que
se utilizaram em larga proporção do trabalho escravo em diferentes segui-
mentos de uma mesma sociedade. Segundo Finley, uma condição básica
para o surgimento do trabalho escravo na Antiguidade foi o fato de que al-
gumas familias dispunham de vastas extensões de terra, superiores à sua
capacidade de dispor de mão de obra. Para não abrir mão da terra, essas
familias passaram a recorrer a trabalhadores de fora do grupo familiar.
A escravidão de larga escala esteve presente, principalmente, nas
sociedades da Grécia antiga e no Império Romano, quando se constituiu
na principal forma de organização do trabalho, envolvendo centenas de
milhares de individuas escravizados, em sua maioria estrangeiros prove-
nientes de regiões da Europa do norte e central, que haviam sido captu-
rados em guerra.
Em grandes areas das colônias americanas modernas principalmente
na América portuguesa, no Caribe e na região da América inglesa, ocorreu a
formação de sociedades assentadas na grande propriedade territorial volta-
da para produção do mercado europeu. Esse fato, somado a inclusão do co-
mércio de escravos africanos entre uma das principais atividades econômi-
cas desenvolvidas por portugueses e outros comerciantes do sul da Europa,
fez com que grandes proprietários buscassem junto à população indigena
nativa e à população africana a mão de obra necessária à implementação
de seus empreendimentos.
A elevação desses povos à condição de cristãos em potencial trou-
xe à baila a problemática da conversão e, como contrapartida, regula-
mentação do resgate dos povos que resistissem à catequese. Já então a
conquista se fazia em duas frentes: a conversão dos gentios aliados e o
resgate dos rebelados.
SALES, Ricardo Henrique; SOARES, Mariza de Carvalho. Episódios de
história afro-brasileira. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2005.

39
e
A
p
Í
T Bantos, Minas e lorubás:
u
L africanos na Amazônia
o

Vmos, nas unidades anteriores, que o trabalho indígena


era muito importante para a produção de riqueza no território
amazônico. Porém , além dos indigenas, outros grupos sociais
também foram escravizados. Estamos falando dos africanos.

Mina, Negra da costa do


l orubá ouro, Albert Eckhout

't - 't

40
Localidades na África de onde saíram os escravos para a Amazônia

Etnia Minas,
Costa do Ouro
Etnia lorubá ,
Nigéria

Etnia Banto,
Angola

Durante muito tempo, afirmou-se que não havia africanos


escravizados na região amazônica. Hoje, muitos estudos mos- Companhia de Comércio
do Maranhão: O principal
tram que o trabalho africano foi muito importante no periodo
objetivo dessa Companhia era
colonial. No entanto, por que esses africanos foram retirados abastecer São Luís e Belém com
de suas terras e trazidos para a Amazônia? escravos vindos da África. A
Companhia, no entanto, não
Para responder a essa pergunta, vamos ter de lembrar resolveu o problema da mão
algumas informações obtidas na primeira unidade deste livro. de obra. A ideia era introduzir
Você deve se lembrar de que a atividade agrícola na Amazônia 10 mil escravos negros em 20
anos na Amazônia. Além de
não foi igual a que se desenvolveu nas capitanias do Nordeste.
transportar e comercializar
As tentativas de fazer prosperar a agricultura na região ama- escravos, a companhia também
zônica esbarraram em vários problemas. Um deles foi o da era responsável por levar e
pouca mão de obra disponível para os colonos desenvolverem vender os produtos da região,
suas plantações. Deve se lembrar também de que a mão de como madeira, cacau e algodão,
no mercado mundial. Porém, a
obra indígena, por muito tempo, foi controlada pelos missio-
companhia não prosperou. Uma
nários. A disputa por mão de obra na colônia era tão intensa das razões foi a resistência dos
que a Metrópole portuguesa muitas vezes teve de interferir colonos em pagar os altos preços
nessa questão. Uma das tentativas de solucionar os conflitos cobrados pela companhia. Em
foi a introdução de escravos africanos na colônia do norte. 1685, ela foi extinta. Em 1755,
já no Governo de Mendonça
Agora , já sabemos que africanos foram escravizados tam- Furtado, foi criada a Companhia
Geral de Comércio do Grão-Pará
bém na região amazônica. Contudo, como eles chegaram à re-
e Maranhão. Essa Companhia
gião? Na maioria das vezes, o africano era trazido diretamente foi responsável pela introdução
da África em navios. Ainda no século XVII, chegaram à região de mais de 12 mil escravos no
os primeiros navios negreiros. Para controlar o tráfico negrei- Estado Grão-Pará e Maranhão,
ro, a Metrópole portuguesa criou, em 1682, a Companhia de em apenas dois anos!
Comércio do Maranhão .
41
Vários conflitos continuaram ocorrendo pela disputa de traba-
Revolta de Beckman:
Trataremos novamente lhadores. Um deles ficou conhecido, em 1684, como a Revolta de
sobre esse assunto no Beckman . Alguns de seus resultados foram a concordância da Metró-
capítulo 9. Todavia, pole em aumentar o número de escravos africanos enviados para o
se você quiser saber Estado do Maranhão e Grão-Pará e em diminuir seu preço, a extinção
logo sobre esse conflito,
da Companhia de Comércio do Maranhão e a expulsão dos Jesuítas.
chegue ao fina l deste
capítulo e passe logo
ao outro.
...J
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z
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::.::
ti:,
o:,
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o:,

Vista do Maranhão, Você já sabe que o trabalho escravo africano fez parte da his-
Caspar Barlacus, tória da Amazônia. Porém , quantos africanos chegaram à região du-
1647, lugar onde
ocorreu a Revolta de
rante todo o período colonial? É difícil dizer ao certo. Porém, alguns
Beckmati estudiosos afirmam que foram mais de 53.000 pessoas! Eles vieram
de diferentes regiões da África e tinham cu lturas variadas; possuíam
línguas, religiões e hábitos diferentes entre si. Banto, Mina e lorubá
foram os principais grupos que chegaram ao Estado do Grão-Pará e
Maranhão. Eles vieram dos portos localizados na Costa do Ouro e da
região que hoje é a Angola .

42
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vi
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{l
e:,
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~
{i Em que trabalhavam os africanos escravizados quando chega- Ruínas do Engenho
] vam à Amazônia? Durante o Período Colonial, a maioria foi direciona- Murutucuem
Belém(PA)
•["" da para as zonas agrícolas. Eles trabalhavam em engenhos de cana-
1& -de-açúcar, como o engenho do Murutucu, nas cercanias de Belém,
""' e os das áreas do baixo Tocantins. Porém, não foi só na agricultura
que o trabalho escravo foi importante. Os escravos também traba-
lhavam na atividade pecuária, principalmente nas missões religiosas
que existiam na Ilha do Marajá. Além disso, os africanos escravizados
trabalharam em várias obras públicas, como a Fortaleza de São José
de Macapá. Contudo, você deve lembrar que a principal fonte de
riqueza na Amazônia durante o período colonial estava na extração
das drogas do sertão e, nesse aspecto, o escravo africano pouco aju-
dava, afinal, não conhecia a região tanto quanto o indígena.
De qualquer formá, é bom você saber que a introdução de es-
cravos na Amazônia não solucionou o problema da mão de obra na re-
gião. Isso ocorreu porque os escravos eram caros e a sua manutenção
também não era barata. Foi apenas no século XIX que o número de
escravos se tornou mais significativo. Porém, veremos essa história
em outro momento. No entanto, é importante que você saiba que Busto feminino
os africanos que chegaram à região contribuíram, e muito, para a em madeira,
história da Amazônia! província do
Zaire
43
"Interior de um ➔
navio negreiro",
litografia de
Rugendas

Peça e carga: A
documentação
da época trata os
negros africanos
como 'peças', isso
pode soar estranho
para a gente hoje.
Mas, é importante
lembrar que, naquela
época, os escravos
eram tratados
como objetos. Dessa
forma, quando eram
desembarcados
dos navios e
contabilizados na Na Amazônia, os africanos não foram distribuídos igualmente. A
sua totalidade,
eram tratados desse
maioria dos navios negreiros parava primeiro em São Luís. Lá, ficava
jeito. Os escravos grande parte dos escravos. Esse desequilíbrio na divisão da mão de
também passavam obra foi um ponto de discórdia entre os moradores da província.
pelo batismo católico, Como uma tentativa de solucionar o problema, o Rei de Portugal
recebendo, inclusive, ordenou, em 1702, que a 'carga' fosse dividida igualmente entre
nomes cristãos e,
por cada batismo, a
o Maranhão e o Pará e que ninguém teria o direito de escolher a
Igreja recebia uma 'peça' . Mesmo assim, o problema permaneceu. Os colonos do Pará
quantia. Assim, continuaram reclamando sobre o pequeno número de africanos que
podemos perceber que chegava à Capitania.
o tráfico de negros
africanos envolveu
não somente os
interesses de colonos
pela mão de obra,
mas também todos
os segmentos da
sociedade. Trata-se
de uma sociedade
que, durante muito
tempo, viu na
escravidão algo
normal e necessário
e que defendia a
,+.
O esquema do navio negreiro,
ideia de que o negro
feito por Robert Walsht, em
era um ser inferior,
1828, mostra que esse tipo
justificando assim
de embarcação era dividido
não só a escravidão,
em três partes: porão para
mas tudo que a
víveres, a falsa coberta para
acompanha, como
os escravos (detalhe ao lado),
os maus-tratos e a
e a coberta para a tripulação
desumanização de
um ser humano.

44
Vimos, ao longo desta unidade, que diversos grupos sociais con-
viveram na Amazônia durante o Período Colonial. Na imagem abaixo,
estão representados dois deles. Você sabe quais são? Quais grupos so-
ciais trabalhados na Unidade 2 não estão representados na imagem?

Agora, vamos tentar descobrir que mensagem o autor da tela


quis transmitir ao pintar esse quadro?
Para isso, é importante que você analise o que os personagens
estão fazendo! Em que lugar eles estão? Quem está no centro da
tela? Por quê? O que eles estão fazendo?

Agora, lembre-se da discussão que fizemos


principalmente nos capítulos 6 e 7. Qual é o prin-
cipal objetivo dos missionários? E os indígenas?
Será que os dois indígenas pintados na tela re-
presentam as diversas posições tomadas por es-
ses povos durante o Período Colonial?

Depois de responder a essas questões, dis-


cuta em grupo: que mensagem o autor tentou
transmitir ao compor o quadro dessa forma? Será
que você consegue resumi-la em uma frase? Es-
creva a mensagem em seu caderno e depois com-
pare com a de seus colegas.

Padre Antônio •
Vieira e os índios
no -Brasil

LEITURA O navio negreiro, de Castro Alves.


Descreve com imagens e expressões terríveis
a situação dos africanos arrancados de suas
terras.

FILME Amistad, de Steven Spielberg, 1997.


Baseado na história real do navio
negreiro La Amistad, que transportava
escravos para o Estados Unidos.

45
u
N CONFLITOS NO
I I

D
A
PERIODO COLONIAL A.
D
E AMAZONICO

as unidades anteriores, falamos sobre a produção de riquezas e sobre


os moradores da Amazônia colonial. Ao longo dos capitulas, vimos que muitos
conflitos ocorreram, principalmente entre colonos e missionários. Esses confli-
tos estavam relacionados ao controle da mão de obra indigena. Nesta unidade,
vamos falar mais sobre esse assunto e debater sobre o posicionamento da Me-
trópole portuguesa diante dessas questões.

ln
z
::>
z
...9
i
0 CAPÍTULO 9 0 CAPÍTULO 11
Quem não dependia do O Diretório dos Índios
trabalho indigena na
Amazônia colonial?

0 CAPÍTULO 1O
O Regimento das Missões

f suítas lutando contra colonos

--------
--
--
--~- ----
---- e - -----

- ---
~ -,,. .
~
e
A
p Quem não dependia do
Í
T
u
trabalho indígena na
L
o Amazônia colonial?

vimos, em capítulos anteriores, que, durante todo perí-


odo colonial, os povos indígenas foram a principal mão de obra. Os
colonos, os religiosos, os comerciantes e até os administradores da
colônia precisavam do trabalho indígena. Você se lembra de como os
indígenas eram importantes para as atividades extrativas e agrícolas?
Foi o que tratamos nos capítulos 3 e 4.

O trabalh o ➔
indígena na
extração do
pau-brasil,
gravura de
André Thevet
(e. 1556)

48
Porém, não era só naquelas atividades que o trabalho
Resgate: Eram expedições
indigena era fu ndamental. Nos espaços urbanos, eles ta m- militares, chamadas tropas de
bém faziam de tudo: construiam as edificações, trabalha- resgate, autorizadas a recolher
vam para os moradores e religiosos , levantavam fo rtes e indígenas aprisionados em aldeias
fortalezas e até combatiam indigenas ou estrangeiros que indígenas. Isso ocorria depois de
guerras entre povos indígenas
ameaçavam o dominio da Metrópole portuguesa na região.
rivais. Os sobreviventes do povo
Agora , imagine o que seria da vida na colônia sem o traba- derrotado eram aprisionados
lho dos indigenas! pelos vencedores. Os indígenas que
viviam nessa condição, quando
resgatados pelas expedições
portuguesas, poderiam ser
transformados em escravos.

Distribuição dos indígenas:


Uma da formas de distribuir os
trabalhadores indígenas era pelo
sistema de repartição implantado
na colônia. Por esse sistema, os
indígenas descidos deveriam ser
divididos em três grupos. Um grupo
ficaria na aldeia, outro grupo
seria dividido entre os colonos
e a terça parte ficaria com os
missionários. Entretanto, os colonos
constantemente reclamavam
às autoridades locais que os
missionários não cumpriam com as
determinações das leis referentes à
repartição dos indígenas.

Guerra justa: Entre as guerras


enfrentadas pelos indígenas,
algumas eram chamadas de justas.
No entanto, o que será que os
colonizadores consideravam como
uma guerra justa? Para eles, justa
era a guerra feita contra aldeias
indígenas consideradas inimigas,
,l ou seja, aquelas que atacavam os
Colonos conversam com os índios p ara conduzi-los para o trabalho, gravura colonizadores. Pela legislação da
de Franz Post (c.1647) época, os colonizadores só poderiam
fazer a guerra justa se os indígenas
Contudo, como se conseguia um trabalhador indigena? atacassem antes. Todavia, fica
Existiam várias alternativas. Um indigena poderia ser escra- claro na documentação da época
que muitas vezes os indígenas
vizado caso fosse resgatado ou feito prisioneiro por meio de apenas se defendiam dos ataques
uma guerra justa. Porém , a principal forma de se conseguir iniciados pelos colonizadores. E por
um trabalh ador indigena era por meio dos aldeamentos. Os que tantas guerras justas foram
aldeamentos, geralmente, eram administrados por religio- declaradas? Para os colonizadores,
a partir da guerra justa, esses povos,
sos , mas, em alguns momentos, os colonos também fo ram
considerados primitivos e bárbaros,
autorizados a administrá-los, como veremos no capitulo 11 . receberiam os ensinamentos cristãos,
A disputa pelo controle dos aldeamentos estava relacionada o que salvaria suas almas. Além
à dependência do trabalho indigena. O administrador do disso, segundo a lei da época, os
aldeamento definia a distribuição da mão de obra indigena . nativos apreendidos em guerras
justas poderiam ser escravizados.
Isso gerava grandes conflitos.

49
Expulsão dos ➔
Jesuítas, gravura
anônima, 1646

Expulsão dos Jesuítas: Durante grande parte dos séculos XVII e XVI 11, os aldeamentos
Durante a revolta de foram controlados pelos missionários. Nesse período, os colonos afir-
Beckman os jesuítas mavam que recebiam poucos trabalhadores e que os missionários
foram expulsos, mas
isso já havia acontecido
exploravam o trabalho indígena em benefício próprio. Já os missio-
antes. A primeira vez nários, que condenavam a escravização, afirmavam que os indígenas
que eles foram expulsos eram muito maltratados fora dos aldeamentos e que não recebiam
foi em 1661 . Nesse ano, qualquer tipo de educ~ção.
os colonos de Belém
atacaram o Colégio dos A Revolta de Beckman foi um exemplo de conflito entre colonos
Jesuítas e embarcaram e missionários jesuítas pela disputa da mão de obra. Em 1684, Ma-
os missionários para São
Luís. Lá, os m issionários
nuel Beckman e outros colonos da capitania do Maranhão reclama-
também foram vam da falta de trabalhadores. Para eles, os africanos, negociados
impedidos de ficar. Sem pela Companhia de Comércio do Maranhão, não eram suficientes e
alternativa, os jesuítas eram vendidos a um preço muito alto. Por outro lado, os trabalhado -
seguiram viagem para res indígenas aldeados eram controlados pelos jesuítas. Os colonos
o Reino. Co nseguiram
autorização real para
se sentiam prejudicados com a falta de mão de obra. Por isso, revol-
retornar à Colônia do taram -se contra os jesuítas e os expulsaram de São Luís. Os colonos
norte em 1663. de Belém também expulsaram os jesuítas no mesmo ano.

50
Os comerciantes da Metrópole, no entanto, tinham negoc10s
importantes com os Jesuítas estabelecidos em São Luís. A expulsão
desses missionários representava prejuízo para os jesuítas, para os
comerciant es e para a Metrópole. Por conta disso, o Rei de Portugal
condenou o movimento, puniu as lideranças e permitiu o retorno dos
jesuítas à colônia dois anos depois. Ele sabia, porém, que precisava
resolver o problema da mão de obra na Amazônia. Para apaziguar
os conflitos, o Rei prometeu enviar mais africanos a preços menores
e extinguiu a Companhia de Comércio do Maranhão, já que ela não
conseguiu atender as necessidades de mão de obra dos colonos.
Os jesuítas, quando retornaram à colônia , estavam amparados
pelo Regimento das Missões. Falaremos sobre a importância desse
Regimento no próximo capítulo. Vamos lá! O retorno dos
Jesuítas a Belém
f
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::::)
ou
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É
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...J
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51
Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu, croqui de Benedito Calixto, séc. XIX

. Você já sabe que os missionários, até meados do século XVIII,


foram muito importantes para a Metrópole no processo de Conquis-
ta da Amazônia. A Metrópole portuguesa precisava da ajuda das
ordens religiosas para manter e expandir a ocupação do território
amazônico. A ação dos missionários permitiu, por exemplo, que a
ocupação da região se desse para muito além do Tratado de Torde-
silhas. Você se lembra disso? Comentamos sobre esse assunto nos
capitulas 5 e 6.

52
colonizados por
religiosos, índios
Antis, Paul
Marcoy (1848)

Os missionários eram responsáveis pelo ensinamento da religião


católica aos indígenas. Isso também era muito importante para a
Conquista portuguesa, pois, para os europeus, a religião seria a for-
ma de ensinar aos indígenas a civilização, ou seja, os valores e o
modo de vida europeu.
Mesmo sendo importantes para a Conquista, os missionários,
principalmente os jesuítas, foram expulsos algumas vezes de São
Luís e de Belém. Você lembra os motivos? Acabamos de ver alguns
no capítulo anterior. Eles conseguiram, no entanto, retornar várias
vezes, pois a Metrópole ainda necessitava do trabalho dos missio-
nários para a manutenção do território e o ensinamento da religião
católica.


Padre Manuel
da Nóbrega

~ Indio defumando
o látex à beira do
rio Madeira

53
Igreja de Santo Um dos retornos dos jesuítas se deu em 1686. Nesse ano, foi
Alexandre em publicado um conjunto de medidas, chamado Regimento das Missões.
Belém, construída
com trabalho
As regras do Regimento das Míssões devolviam às ordens religiosas o
indígena controle sobre a mão de obra indígena. E você já sabe o quanto isso
era importante.

Nessa época, os jesuítas voltaram a ser os responsáveis pela or-


ganização e pela administração dos aldeamentos. Uma das medidas
que incomodou os colonos foi a proibição de morar nos aldeamentos.
Para os religiosos, essa era uma regra importante, pois impediria que
os colonos se aproveitassem da mão de obra indígena.

~ Detalhes do interior -►,


da Igreja de Santo
Alexandre f eitos
pelo trabalho de
indígenas

54
~ - - - - - - -~
O Regimento das Missões determinava também que os indígenas
Liberdade: É
descidos deveriam passar pelo menos dois anos nos aldeamentos, sob
importante lembrar
controle dos missionários, antes de serem distribuídos. No capítulo que, nessa época, a
anterior, vimos sobre o sistema de repartição, você se lembra? liberdade não tinha o
mesmo significado que
Os direitos e deveres dos indígenas também foram tratados no hoje. Naquele período,
Regimento das Missões. Pelo regimento, ficava proibido forçar um ser livre não significava
indígena a acompanhar um descimento caso não fosse a sua vontade. poder fazer o que se
quisesse. Geralmente,
Além disso, o regimento previa que o indígena aldeado teria liberda-
ser livre era não ser
de , direito à propriedade e o seu trabalho seria remunerado. escravo. No Regimento
das Missões, era assim:
Com o Regimento das Missões, as ordens religiosas ficaram com a liberdade concedida
mais poder, afinal, elas controlavam os aldeamentos e, com isso, aos indígenas
grande parte da mão de obra disponível na Amazônia no Período Co- significava que eles
lonial. Isso aconteceu porque os missionários ainda eram importan- não poderiam ser
tes para garantir a ocupação do território amazônico. Contudo, até escravizados. Só depois
de 1789, aos poucos,
quando os missionários interessaram à Metrópole? Vamos descobrir? a ideia de liberdade
"
-~ foi sendo alterada e
~ passou q significar
vi
_,·,. Índios trabalhando na p esca poder ser eJazer o que
.g junto aos colonos, gravura de se quisesse, dentro de
o
" Frederico Füllgraf, c.1823 certos limites, é claro.
~
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55 ·
O conhecimento
No capítulo anterior, vimos que os missionários na Ama~ônia
eram os responsáveis pelos aldeamentos indigenas. A Metrópole por-
indígena tuguesa manteve esses religiosos na colônia por mais de um século.
sobre a região Isso ocorreu porque, durante muito tempo, ela precisou do trabalho
amazônica foi das ordens religiosas para efetivar a ocupação do território, mas, por
importante para
volta de 1750, o posicionamento da Metrópole em relação aos missio-
os missionários,
"Índios em sua nários mudou . Vamos saber quais foram as razões?
cabana" de J.
R ugendas
Uma dessas razões está associada ao Tratado de Madri. Você Cidadãos: Lembre-se de
se lembra desse acordo? Falamos sobre ele no capitulo 8. Esse Tra- que estamos falando de
uma sociedade do Antigo
tado foi assinado pelos reis de Portugal e da Espanha. Pelo Tratado
Regime. Essa sociedade
de Madri, as novas fronteiras entre as colônias portuguesas e es- · era hierarquizada e a
panholas na América seriam definidas pela ocupação de cidadãos noção de igualdade que
portugueses. temos hoje não existia.
Transformar os indígenas ·
Portugal, que havia conseguido expandir seu território para em cidadãos portugueses
oeste e para norte, precisava provar que ocupava a região para não significava, portanto,
que eles ocupariam a
ter direito a ela. Contudo, como fazer isso se a presença de colo-
mesma posição social
nos, cidad ãos portugueses, estava concentrada em áreas próximas do português vindo da
aos espaços urbanos? A solução foi transformar os indigenas em Europa. A posição social
cidadãos portugueses . Porém, como fazer isso? do indígena cidadão estava
abaixo dos portugueses, dos
homens brancos e livres.

Casamento interétnico:
Em 1754, foi editada
uma lei que estimulava o
casamento entre homens
livres (brancos e mestiços)
e m ulheres indígenas. Para
a Metrópole portuguesa,
o casamento misto seria
uma f orma de diminuir as
difere nças entre as duas
culturas e uma ótima
estratégia para povoar o
território. A lém disso, o
casamento interétnico era
uma forma de eliminar
física e culturalmente o
indígena da Amazônia
sem derramar uma gota
de sangue! Contudo, e
os colonos? Será que eles
casavam com as mulheres
indígenas pelas mesmas
motivações da Metrópole?
Não necessariamente.
A lguns casavam por afeto
e vontade de formar uma


Colonos administrando alde[!mento indígena, Porto de Marinha no rio Japurá,
Spix e Martius, século XIX
família; outros, no entanto,
se ap roveitavam do
casamento para submeter
as mulheres indígenas e
seus parentes ao trabalho.
Um das medidas da Metrópole foi retirar o controle dos a{de- Poderia haver também
amentos dos missionários. Isso não significava que a cristianização aqueles que casavam
deixou de ser importante. Ela, no entanto, não era mais o único interessados no prêmio
meio de civilizar ó indigena. A Metrópole portuguesa, nessa épo- ofertado pela Metrópole
ao noivo, constituído por
ca, criou outras estratégias para inserir o indigena na sociedade
instrum entos de trabalho,
colonial. Entre elas: o casamento interétnico, a educação e o terras, animais, entre
trabalho. Essas medidas foram regulamentadas e ampliadas com o outros benefícios.
Diretório dos Índios, em vigor entre 1757 e 1798.

57
O Diretório dos Índios foi uma lei colonial que concedia li-
Educação: A partir do berdade aos indígenas e previa que eles vivessem em espaços ad-
Diretório, adotou-se ministrados por suas próprias lideranças. Essa lei transformava os
o ensino obrigatório indígenas em vassalos do Rei de Portugal. A partir desse momento,
da língua portuguesa.
eles deveriam obedecer ao monarca e não mais aos missionários.
Antes, indígenas,
colonos e missionários se A partir do Diretório, os indígenas foram considerados cidadãos
comunicavam por meio portugueses com os mesmos direitos dos colonos. Poderiam ser do-
de uma língua chamada nos de terras, empregados remunerados e se inserir na hierarquia
nheengatu. O nheengatu militar.
foi um idioma criado pelos
jesuítas que associava a
língua dos Tupinambá
com a portuguesa.
Com a introdução das
medidas do Diretório, o
nheengatu foi proibido
na colônia. O ensino da
língua portuguesa passou
a ser fundamental para a
transformação do indígena
em cidadão português.

Trabalho: Quando a
Metrópole abordava o
trabalho como forma
de inserir o indígena
na sociedade colonial,
não estava falando de
qualquer trabalho. Para os
colonizadores, o trabalho
valorizado era o agrícola.
Essa, aliás, não era uma
novidade do Diretório. Os
missionários já ensinavam
técnica.< agrícolas aos
indígenas aldeados. Porém,
enquanto os missionários
objetivavam tornar os
indígenas mais dóceis
para aceitar a catequese
e a Conquista, a partir
do Diretório, a Metrópole
objetivava torná-lo um
camponês civilizado, capaz
de produzir alimentos
(e não simplesmente
Índios em suas práticas culturais sob olhar dos colonizadores, "Festa do Coroado",
coletá-los como acontecia
Spix e Martius, século XIX
na atividade extrativa,
lembra?)

Companlaia Geral de Os colonos temiam que a liberdade dos indígenas resultasse


Comércio do Grão Pará
e Mara~lião: Sobre esse em escassez ainda maior de trabalhadores. Para resolver os confli-
assunto, recorra à caixa de tos, a Metrópole criou a Companhia Geral de Comércio do Grão-
texto na página 41. -Pará e Maranhão, com o objetivo de abastecer a colônia do norte
com africanos escravizados.

58
Vilas e Lugares: 'í\.o final do
século XVIII a capitania do Grão
Pará contava cerca de setenta
núcleos populacionais estáveis.
Excetuando-se a cidade de Belém,
Capa do
havia oito vilas de brancos:
Diretório
Bragança, Cametá, Gurupá,
do Índios,
Macapá, Mazagão, Ourém, Viçosa
documento que
e Vigia. As povoações de índios
assegurava a
eram em número muito superior,
liberdade dos 61: as vilas de Almerim, Alenquer,
indígenas
Alter do Chão, Arraiolos, Aveiro,
Beja, Boim, Chaves, Cintra,
Colares, Conde, Espozende, Faro,
Franca, Melgaço, Monforte, Monte
Alegre, Monsarás, Nova Dei Rei,
Óbidos, Oeiras, Pinhel, Pombal,
Portel, Porto de Moz, Salvaterra,
Santarém, Soure, Souzel e Veiros; e
os Lugares de Alcobaça, Azevedo,
Baião, Barcarena, Benfica,
Bragança (povoação anexa à vila),
Carrazeda, Condeixa, Fragoso,
Gurupá (povoação anexa à vila),
Mondim, Nossa Senhora do
Socorro das Salinas, Odivelas,
Com o Diretório, os aldeamentos foram transformados Outeiro, Pena Cova, Penha Longa,
em vilas e lugares, e seus administradores poderiam ser in- Ponte de Pedra, Porto Grande,
clusive chefias indígenas. Porém, o Diretório dos Índios não Porto Salvo, Rebordelo, Santa
resolveu o problema de mão de obra da Amazônia. A econo- Ana do Cajari, São Bento do Rio
Capim, São João, Santarém Novo,
mia da região continuou dependente do trabalho indígena.
São Bernardo das Pederneiras,
É importante perceber, no entanto, que o Diretório ajudou São Francisco Xavier do Turiassú,
na definição de parte das fronteiras do que hoje chama- São José do Piriá, Serzedelo, Vilar,
mos de Amazônia brasileira. Além disso, as relações sociais Vilarinho do Monte-e Vizeu."
construídas nessa época contribuíram para a formação da Fonte: COELHO, Mauro Cezar.
Do Sertão para o Mar - um
identidade regional Amazônica .
estudo sobe a experiência
portuguesa na América, a partir
da colônia: o caso do Diretório dos
Índios (1751-1798). Universidade
Índio Branco Negro de São Paulo, 2005. (Tese de
Doutorado)
f f f
Identidade regional amazônica:
No primeiro livro desta coleção,
trabalhamos com a noção de
identidade amazônica. Lá,
falamos de como a culinária
amazônica e outras expressões
culturais que hoje praticamos
nasceram nesse momento, a partir
do convívio entre os diferentes
povos que participaram da
História da Amazônia. Você se
lembra?

59
Nesta unidade, vimos que os conflitos de interesse fizeram parte
da sociedade colonial amazônica.
Faça uma redação utilizando suas próprias palavras sobre os
conflitos que ocorreram no período colonial. Nela, indique quais gru-
pos entraram em conflito na Amazônia nessa época. Aponte também
o que motivou a divergência entre esses grupos. Não se esqueça de
mencionar as soluções encontradas na época pelos agentes sociais
envolvidos.
Boa redação!

,
Trechos das resoluções do Diretório dos lndios
6º Sempre foi máxima inalteravelmente praticada em todas as
Nações, que conquistaram novos Domínios, introduzir logo nos povos
conquistados o seu próprio idioma (... ), nesta Conquista se praticou
tanto pelo contrário, que só cuidaram os primeiros Conquistadores
estabelecer nela o uso da Língua, que chamaram geral; ( ... ). Para
desterrar esse perniciosíssimo abuso, será um dos principais cuida-
dos dos Diretores, estabelecer nas suas respectivas Povoações o uso
da Língua Portuguesa, não consentindo por modo algum, que todos
aqueles Índios, ( ... ), usem da língua própria das suas Nações, ou da
chamada geral; mas unicamente da Portuguesa, ( ... ).
1Oº Entre os lastimosos princípios, e perniciosos abusos, de que
tem resultado nos Índios o abatimento ponderado, é sem dúvida um
deles a injusta, e escandalosa introdução de lhes chamarem Negros;
querendo talvez com a infâmia, e vileza deste nome, persuadir-lhes,
que a natureza os tinha destinado para escravos dos Brancos, Não
consentirão os Diretores daqui por diante, que pessoa alguma chame
Negros aos Índios( ... ).
· 17º Em primeiro lugar cuidarão muito os Diretores em lhes per-
suadir o quanto lhes será útil o honrado exercício de cultivarem as
suas terras; porque por este interessante trabalho não só terão os
meios competentes para sustentarem com abundância as suas casas,
e famílias; mas vendendo os gêneros, que adquirirem pelo meio da
cultura, se aumentarão neles os cabedais à proporção da lavoura, e
plantações, que fizerem ( ... ).

Fonte: ALMEIDA, Rita Heloisa de. O diretório dos índios: um projeto de


"civWzação" no Brasil do século XVIII. Brasília: Editora UnB, 1997.
60
U~IDAD~
Capitulo 1 A história da formação das paisagens amazônicas ........... 64

Capitulo 2 Compreendendo o tempo e o clima da Amazônia ...•.......... 72

Capit ulo 3 Geomorfologia da Amazônia: o estudo das formas e da


dinâmica do relevo ......................................................................... 82

Capitulo 4 Rios, igarapés, furos e paranás: elementos da bacia


hidrográfica ....................................................................... 90

Capitulo 5 A cobertura vegetal da Amazônia ................................... 98

Capitulo 6 Reconstituindo a paisagem: o domínio morfocUmático


amazônico .............................................................................. 106

U~ 1DAD li 11 AMAZÔNIA: DEGRADAÇÃO AMBIENJAI! E CONF.LITOS SOCIAIS


Capitulo 7 Devastação da floresta: novas paisagens da Amazônia ..... 114

Capitulo 8 Fogo na mata: a prática de queimadas na Amazônia ....... 122

Capitulo 9 As consequências do desmatamento .............................. 128

Capitulo 1O Desmatamento e conflitos de terras na Amazônia .....•.. 134


A paisagem é um conjunto que expressa o resultado da relação
entre elementos naturais como a floresta, os rios e os animais e as ativi-
dades humanas, dessa relação resulta a paisagem urbana ou a paisagem
agrícola. Quando falamos de Amazônia, temos uma grande diversidade
de paisagens que resultaram de processos que se iniciaram no passado e,
no decorrer dos anos, foram modificados. Por isso, a paisagem é sempre
uma herança, como disse o geógrafo brasileiro Aziz Ab'Saber, seja do
ponto de vista da natureza, seja do ponto de vista da sociedade. Nesta
unidade, você compreenderá os processos de formação das paisagens
naturais amazônicas.

- ~ - Imagem de satélite dos


meandros do rio Purus
O que chama a sua atenção na imagem? O rio e a floresta
são os elementos que se destacam. No entanto, embaixo dessa
cobertura verde, está o solo, que sustenta a vegetação. Envol-
vendo esses elementos, estão os fenômenos climáticos. Eles po -
dem não ser visíveis na fotografia, mas correspondem à chuva,
ao vento, à temperatura, à umidade e à pressão atmosférica .
Observe também que a água corre sobre o leito do rio formando
várias curvas que chamamos de meandros.
Mas será que essa paisagem sempre foi assim?
Bacia Sedimentar Amazônica:
É uma depressão preenchida com
detritos (sedimentos) carregados

A Amazônia, pelo seu tamanho e exten-


são, constitui uma importante área dentro da
das áreas que estão em volta.
Por isso, ela é chamada de bacia
sedimentar. Esses detritos formam
camadas ou estratos. A bacia
zona tropical do planeta Terra. Tanto ao norte sedimentar pode coincidir com a
quanto ao sul da região amazônica, há um con- bacia hidrográfica, mas esta última
pode ser mais extensa, quando seus
junto de relevo bastante antigo chamado de es- rios drenam outros terrenos, além
cudos cristalinos que delimita a área rebaixada da área sedimentar.
que forma a Bacia Sedimentar Amazônica .
Extraído de GUERRA, A. T
& GUERRA, AJ. T Novo
Dicionário Geológico
Geomorfológico. 3. ed. Rio de
Imagem de satélite da Bacia Janeiro: Bertand Brasil, 2003.
Sedimentar Amazônica (adaptado)
'f
No passado, quando a América do Sul ainda estava ligada à Áfri-
ca, essa depressão era coberta pelo mar, formando um grande golfo,
onde as águas corriam para o Oceano Pacífico. Muitos sedimentos ma-
rinhos foram depositados na área da bacia amazônica durante a era
Paleozoica . Na regressão marinha ocorrida no período carbonífero
(ou carbônico) e durante a era Mesozoica, as terras ficaram emersas
e os rios iniciaram o processo de drenagem em direção ao Pacífico.
Plantas superiores:
Mas, como a Bacia Sedimentar Amazônica teria chegado à sua
São as angiospermas,
forma atual? ou seja, as plantas que
produzem flores.
Do ponto de vista do relevo e da vegetação, três eventos foram
determinantes na configuração da bacia do rio Amazonas: a Deriva Fonte: www.museu-
Continental , o desenvolvimento das plantas superiores (angiosper- goeldi.br
mas) e a elevação da Cordilheira dos Andes.

Representação do Gondwana: antigo continente do hemisfério sul


o
•<
I.>
::,
o
~
o..
~

África

América do Sul

Oceano Pacifico

65
A história da Terra, como verificada no gráfico abaixo, é di-
vidida em eras, períodos e épocas. Cada fase revela os principais
fatos e fenômenos ocorridos no planeta desde o Big Bang, como,
por exemplo, o surgimento da atmosfera, a formação dos mares e
oceanos, o desenvolvimento das plantas e de grandes animais, a
extinção destes e o aparecimento do ser humano. Apenas no final
dessa trajetória é que se inicia a formação da região amazônica
como conhecemos hoje.

Momentos da história geológica

Preunte Clvlllzaçio humana


~
1 ~
CENOZOICA 10.000 anos Homo aaplens õ;,
~
...;

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1.6 Primeiros hominld-
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(australopitecos)

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MESOZOICA

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PALEOZOICA

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570
__ , <>::

CRIPTOZOICA

Na era Paleozoica, a América do Sul estava atrelada ao con-


tinente africano. A região em que hoje está a Amazônia era uma
depressão coberta pelo mar. Os fósseis encontrados no interior da
Amazônia são evidências desse período.

66
~ Um dos
fragmentos de
uma espécie
extinta: os
dentes foram
cruciais para
indentijicação

Há cerca de 80 a 90 milhões de anos, antes da extinção dos dinos-


sauros, na era Mesozoica, a América do Sul e a África começaram a se
separar e a dividir o Gondwana. A América do Sul ficou isolada, como
uma ilha gigante.
Quando o mar recuou sobre o continente americano, fenômeno Exemplo de
que chamamos de regressão marinha, as terras ficaram emersas e os transgressão
rios começaram a drenar a região, correndo para o Pacifico. e regressão
marinhas
'f

A separação entre a América do Sul e o continente africano per-


mitiu que um novo oceano fosse formado, o Atlântico, que separou
gradativamente os dois continentes. O continente sul-americano ficou
à deriva (boiando) sobre o manto, em direção a oeste do globo terres-
tre até encontrar a placa tectônica de Nazca.
BRISA NUNES


Direção do
deslocamento das
Até o período Terciário da era Cenozoica, a região onde hoje
placas tectônicas
está a Amazônia era intercalada por um conjunto de terras mais al-
tas chamado de escudo das Guianas, localizado ao norte, e escudo
brasileiro, localizado ao sul.
Depois, ainda no Terciário, a passagem para o Oceano Pacífico
foi bloqueada com a elevação da Cordilheira dos Andes, a oeste. A
Alteração da placa de Nazca, em contato com a placa sul-americana, formou a
direção das águas
Cordilheira dos Andes. Esse processo durou milhares de anos e alte-
dos rios com
a elevação da rou a direção das águas dos rios, que passaram a correr em direção
Cordilheira dos ao Oceano Atlântico.

ALLAN BITTENCOURT
O largo espa-
ço no meio da Ama-
zônia, ao longo do
tempo, recebeu se-
dimentos de areia e
argila.
~ Processo de
Esse material sedimentação
do solo, as camadas
proveniente das re- representam diferentes
giões mais elevadas tipos de materiais
foi transportado e depositados nos períodos
depositado pelos geológicos: Barreiras
(terciário) e Pós-Barreiras
rios, formando os
(quaternário)
tabuleiros, que se
apresentam como
terras baixas e sua-
vizadas.
Alguns exem-
plos desses depósi-
tos de sedimentos
são chamados de
Formação Barreiras
(veja na foto ).
Sobre as formas de relevo amazônico, os rios encaixaram seus
leitos e va les formando uma extensa rede hidrográfica. O solo sedi-
mentar foi coberto pela atual floresta amazônica, vegetação que se
desenvolveu com o clima quente e muito úmido.
No nordeste paraense, ainda no Terciário, há evidências de que
o mar teria avançado sobre o continente há aproximadamente 25 mi-
lhões de anos. Trata-se da Formação Pirabas, na região de São João de
Pirabas. Os fósseis de animais marinhos encontrados cravados e o tipo
de rocha calcária indicam que houve avanço das águas marinhas nessa
região. Atualmente, o recurso natural explorado, o calcário, é utilizado
na fabricação de cimento.

- ·, ~ Mina de Calcário
_.. , · da CIBRASA em
Capanema
Cerrado: Vegetação Na história do planeta, o periodo Quaternário foi marcado pe-
constituída por las oscilações climáticas: glaciais (periodos em que a temperatura
espécies que se do planeta ficou mais fria) e interglaciais (períodos mais quentes).
adaptam à estação Na região amazônica, essas oscilações foram caracterizadas por pe-
chuvosa e seca. Esse
ríodos úmidos alternados por periodos secos. Uma das implicações
tipo de vegetação
é caracterizado, de dessa dinâmica climática estaria na presença de manchas de cerra-
maneira geral, por do em área de domínio da floresta. As manchas de cerrados seriam
indivíduos de troncos testemunhos de um clima mais seco no passado, favorecendo sua
tortuosos e raízes expansão. Nos periodos úmidos, a vegetação de floresta teria se ex-
profundas.
pandido e se constituído na maior expressão de cobertura vegetal da
região amazônica.
Agora que você compreendeu como ocorreu a formação geoló-
Manchas de cerrado
(savanas de Roraima)
gica da Amazônia, você conhecerá outros elementos que formam as
atuais paisagens naturais.
t
REPRODUÇÃO

f ' '
-
..... >. _.., .

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...
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• ,r ••
Texto complementar

O que são Regressões e Transgressões


marinhas?
A alternância de períodos glaciários e de períodos interglaciários
ocorridos no planeta tiveram como consequência indireta a modifica-
ção das linhas de costa, uma vez que durante os períodos mais frios
(glaciações) uma quantidade importante de água é transferida do
domínio oceânico para as calotas polares, ocorrendo uma diminuição
do nível médio das águas do mar e um fenômeno inverso durante o
período interglaciário.
Quando se verifica o recuo do mar, diz-se que ocorreu uma re-
gressão marinha.
Causas de transgressão marinha
O aumento da temperatura média global do planeta (períodos
interglaciários) vai provocar quer a expansão térmica dos oceanos,
quer a fusão das massas de gelo, o que origina um maior volume de
água. Esta situação pode levar a uma subida do nível médio das águas
e, consequentemente, ao avanço do mar relativamente à linha de
costa, ultrapassando o território onde se encontrava anteriormente
a faixa litoral.
Causas de regressão marinha
A diminuição da temperatura média global do planeta (períodos
glaciários) vai provocar quer a contração térmica dos oceanos, quer
a formação das massas de gelo, o que origina um menor volume de
água. Esta situação pode levar a uma descida do nível médio das
águas e, consequentemente, ao recuo do mar relativamente à linha
de costa, aumentando o território correspondente à faixa litoral.
Fonte do texto complementar: http://josejsg.net23.netlweb_docu-
mentsl1.2._zonas_costeiras.pdf (Texto adaptado)
A palavra clima significa "inclinação" na língua grega.
A inclinação do planeta Terra está relacionada a dois de seus mo-
vimentos: rotação e translação. Essa inclinação, de 23°27'33" ,
corresponde à posição dos trópicos.

Círculo Polar Ártico

Trópico de Cancêr

Equador

Trópico de Capricórnio
Círculo Polar Antártico
A posição do planeta em relação ao Sol influencia na quantidade Latitude: É a
de radiação solar que ele recebe. Portanto, sua variação climática coordenada geográfica
depende da localização de cada região nas diversas latitudes. Para ou geodésica definida
compreender por que isso ocorre, é necessário lembrar os seguintes na esfera da Terra,
que é o ângulo entre o
fatores que influenciam nos diferentes tipos de clima na Amazônia: plano do Equador e a
a zonalidade climática, a estrutura vertical atmosférica, a interação normal à superfície de
entre a atmosfera e o oceano e o movimento das massas de ar. referência. A latitude
é medida, para norte
Por zonalidade climática, compreendem-se as largas faixas so- e para sul do Equador,
bre o globo terrestre que estão relacionadas ao grau de energia solar entre 90° sul, no Pólo
recebido pelo planeta, como na figura abaixo: Sul (ou pólo antártico
ou negativo), e 90°
norte, no Pólo Norte
(ou pólo ártico ou
positivo). A latitude no
Equador é igual a 0°.

Esquema da incidência da
radiação solar sobre a Terra
t

73
Quando falamos de clima, relacionamos a ele os seguintes elemen-
tos: a temperatura , a precipitação, a umidade do ar e a pressão atmos-
férica. Alguns instrumentos são utilizados para medir esses fenômenos
climáticos, como pluviômetros, pluviógrafos e termômetros.
o
ºC

Pluviógrafo (A) e ➔
Termômetros ➔
Pluviômetro (B)
digital (A) e
analógico (B)

,._ ,._ ,._


A B A B ~
é.,
00
Na Amazônia, para a compreensão da dinâmica do clima, deve-se "'vi
'iü
considerar a posição da região na zona climática intertropical, a atuação --l
il
das massas de ar, a quantidade de rios e a cobertura vegetal. ,..,"'
1::
~
A região amazônica é cortada pela linha do Equador. Isso significa si"'
dizer que ela está localizada na zona climática intertropical do planeta ~o
e recebe muita luz e calor ao longo do ano. As temperaturas médias va- ~
·e
(.)
riam entre 24 º C e 27° C. ~
~
A região é também muito úmida, e essa umidade, que provoca as 1::
~

chuvas regionais, é proveniente da dinâmica das massas de ar carrega- ~


:!:l
Transpiração da das de vapor d'água que circulam nessa área. Esse vapor, por sua vez, ee,,,
floresta nacional vem da evaporação das águas do Oceano Atlântico, dos rios e da trans- ,g
de Carajás piração das plantas. -s"'e
~
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V,

Ciclo da água "'::,z


z
o-'
u"'
"'i

74
A água é um componente importante da região amazônica. São
muitos rios e igarapés que são alimentados pela chuva, de tal modo
que dizemos que seu regime é pluvial. A chuva não é distribuida de
maneira uniforme. Como a região possui terras também no hemisfé-
rio norte, t emos a seguinte formação: ao sul da Amazônia, as chuvas
de verão ocorrem de janeiro a março, enquanto que, ao norte, as
chuvas concentram-se de maio a julho. Esse fato contribui para que
nunca falte água nos rios da região.
O aquecimento da atmosfera favorece a formação de chuvas
de convecção. São chuvas causadas pelo movimento de massas de Chuvas de
ar mais quentes que sobem e condensam . Elas ocorrem , principal - convecção:
mente, devido à diferença de temperatura em camadas próximas da tipo de chuva
característico
atmosfera t errestre. São caracterizadas por serem de curta duração,
da região
porém, de alta i ntensidade e abrangem pequenas áreas. amazônica
'f

Resfriamento

Ar Resfriado

Ar Aquecido

75
Do registro do tempo atmosférico à classificação climática:
Uma manhã com muito sol e um fim de tarde chuvoso, como os
que ocorrem em Belém, indicam alterações do tempo atmosférico
em um mesmo dia. Essa variação também é constatada durante o
ano.

Você pode se perguntar por que durante todo o ano, na região


amazônica, as temperaturas são sempre elevadas se comparadas às
outras regiões do país. Porém, a pluviosidade é variável.

Por que consideramos o verão amazônico como o período em que


Chuva de final da chove menos, e o inverno amazônico, o período das chuvas frequentes?
tarde em Bélém
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Você j á sabe que a Amazônia está na zona intertropical. Isso
significa temperaturas médias elevadas, com pequena variação tér-
mica anual , ou seja, não há significativa diferença de temperaturas
ao longo do ano. Veja o conjunto de gráficos das cidades de Manaus
(AM), Rio Branco (AC) e Belém (PA). Esses gráficos foram elaborados
a partir de dados de temperatura e precipitação (chuva) obtidos
entre os anos de 1961 e 1990, pelo Instituto Nacional de Meteoro-
logia (INMET) .

lnstJtl.i:o Naaonal de Meteorologia • lt<HET lnsltlio Naoonal de Meteorok>gia • l~ET


0rMco dH Nom'IM$ Clm•k:i&OgtU& Gtllco dH Norm~, Cllmatdóglcas

o'--~ . . . . . _ _ . _ _ ~ ~ _ _ . . _ ~ _ _ . . ~ ~ ~
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- 1161 • 1990 - T""f), ltfdl• (fl'"- ttlt114) 1
~ ~ ~

lnsbtt.C:o Naaonal de Meteorolo98 • lt-lviET Instituto Naaonal de Meteorologia • INMET


GraAco das Norm•• cwnato1og1ea1 ar.kO dH Nom'l.il CIN'rlMOlogie,11

-
. ~~....._.....__.__~~~~--'-~~

f+ llo~.,.._~• lM1 ~• 1JtO •~ - - - - ...


Prtctptt..çlo{•) 1~ ~

Instituto Nacional de Meteorologta • INMET Instituto N8CIOnal de Meteorologla - INMET


GftOco dH Norma11 Cbm•taogic.1 Ortfleo dai NO!mln CllimMOIOglell

,.

Mn~•,1MJi1AtltW..Ãll'IJul
f.; .. l..... 1Nl • UfO • ftrtcl1tl\~tioo.. , 1
......
.....
Fonte: http:/ / www.inmet.gov.br, acessado em 24 de outubro de 2011.

Interprete os gráficos das três cidades e responda:

1 ) Quais são os meses em que a temperatura está mais elevada?


2) Quais são os meses de maior precipitação?
3) Qual é a relação entre a temperatura e a precipitação?

77
Observe agora essas duas imagens:

A primeira é uma ima-


gem da América do Sul, na
qual você pode localizar
a Amazônia e observar as
manchas brancas que es-
tão sobre ela. A imagem foi
registrada pelo satélite ar-
tificial GOES no dia 24 de
outubro de 2011 às 12:32.
Essas manchas brancas cor-
respondem ao sistema de
nuvens, parte da atmos-
fera do nosso planeta. A
imagem de satélite é uma
ferramenta importante
para entender a circulação
Fonte: climatempo.com.br, acessado em 24 de out. 2011 atmosférica.
É possivel, por meio da imagem de satélite, prever o tempo at-
mosférico, como mostra o mapa a seguir.

Interpretando o mapa:
Neste dia, o sol aparece en-
tre muitas nuvens e chove a
qualquer hora do dia no Acre
e no centro-oeste do Amazo-
nas. Já no centro-sul do To-
cantins, o sol brilha forte,
faz bastante calor à tarde e
o tempo fica seco. Em todas
as demais áreas do Norte, o
sol também predomina, mas
a nebulosidade aumenta
com o tempo abafado e são
esperadas algumas pancadas
de chuva a partir da tarde.

Fonte: climatempo.com.br

A classificação dos tipos climáticos depende do comportamen-


to do tempo atmosférico. Analisado esse comportamento por no
minimo 30 anos pode se t er a ideia de como se caracteriza o clima
daquela região.
A umidade do ar é um fator essencial para ser considerado na
análise do tempo e do clima. Na Amazônia, a quantidade de vapor
d'água que está presente na atmosfera é bastante elevada. No en-
tanto, seus índices variam nas diferentes porções da região e in-
fluenciam na formação da vegetação. O quadro abaixo foi baseado
no trabalho do geógrafo José Bueno Conti. Nele, o professor aponta
também os problemas ambientais relacionados a essas áreas.

Região de Características Pluviosidade Temperatura Vegetação Problemas


ocorrência do clima (em milímetros) média característica ambientais relevantes
Amazônia Superúmido 2.500 29,0ºC Floresta Desmatamento
Ocidental ombrófila
Amazônia Úmido 1.500-2.500 26,5°C Floresta; Desmatamento
Oriental e cerrado queimadas
meridional
CONTI, J.B. Clima e Meio Ambiente. São Paulo: Atual, 1998. (Adaptado)

Mapa da Amazônia: Oriental e Ocidental

I
AMAZONAS PARÁ MARANHÃO

RONDÔNIA TOCANTINS

MATO GROSSO

LEGENDA
- Amazônia Ocidental
O 100 200 400 600 800
Amazônia Oriental Km
Fonte: IBAMA, 2010
Adaptação: VVeHngton Morais 2011

79
A atmosfera apresenta diferentes estruturas em função de sua al-
titude. Elas são conhecidas como camadas da atmosfera: a troposfera,
a estratosfera, a mesosfera, a termosfera e a exosfera. É na troposfera
que ocorrem os fenômenos climáticos que contribuem para caracteri-
zar o comportamento da atmosfera da região amazônica.
Dentro da circulação geral da atmosfera, existem três cinturões
de ventos que são observados em cada hemisfério do planeta Terra.
Eles sopram desde centros de alta pressão subtropical em direção às
baixas pressões na faixa equatorial. Os chamados ventos alísios são
ventos de baixos níveis atmosféricos, caracterizados por grande con-
sistência em sua direção. No hemisfério sul, eles sopram de sudeste
para noroeste e, no hemisfério norte, sopram de nordeste para sudo-
este. Os ventos alísios são responsáveis por trazerem grande massa de
vapor d'água do Oceano Atlântico para a região amazônica.

Zonas de alta e de baixa pressão


~
~ VENTOS POLARES DO LESTE
Õ,:
-uJ

""e
~ VENTOS POLARES DO OESTE

VENTOS POLARES
DO NORDESTE

_ _ _ _ zona intertropical de convergência __ _

~
-----3Uº------
~
-----160 º- - - -

Relacionado à dinâmica atmosférica está o fenômeno da "fria-


gem" na Amazônia. Ele ocorre quando a massa de ar polar atlântica
(mPa) avança sobre a região resfriando a atmosfera . Esse fenômeno
ocasiona uma brusca alteração nas condições meteorológicas, cau-
sando uma diminuição da temperatura e da umidade do ar. Leia o
texto complementar para saber mais sobre o assunto.

80
Texto complementar

Acre registra novo recorde


de frio para 2010
A temperatura baixou um pouco mais no Acre na madrugada
desta terça-feira. Na capital, Rio Branco, a mínima foi de 15,2ºC,
segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. Este é o menor va-
lor registrado este ano. Ontem, a temperatura já havia chegado aos
16,5º(.
O frio é resultado da grande e forte massa de ar polar que co-
meçou a entrar no Brasil no fim de semana. No Acre, os primeiros
ventos frios foram sentidos no sábado. Em Cruzeiro do Sul, no oeste
do estado, a temperatura mínima foi de 18,6ºC.
A passagem do ar polar sobre áreas do norte do Brasil é conhe-
cido como o fenômeno da friagem. Como Acre, a temperatura baixou
também em Rondônia e no sul do Amazonas. A friagem atual é de
moderada intensidade. Alguns eventos podem ser mais fortes, como
ocorreu em julho de 2009. A temperatura em Rio Branco baixou para
11,6º(.
Uma das maiores e mais intensas massas polares que já foram
observadas sobre o Brasil ocorreu no inverno de 1994. O ar polar
avançou da Patagônia, no sul da Argentina, até ultrapassar a linha do
Equador, causando um resfriamento extremo até em Roraima. Duran-
te a passagem desta super onda de frio, a temperatura em Boa Vista,
capital do estado, chegou a 7,6ºC, no dia 26 de junho de 1994.
Fonte: http://www.climatempo.com.brldestaques/2010/05/ 111 acre-re-
gistra-novo-recorde-de-frio-para-20101, acesso em 24 de outubro de 2011.
I magine o caminho que você faz para ir a sua esco-
la. Você sobe e desce ladeiras ou anda por longos terrenos Geomorfologia: É a
ciência que estuda as
planos. Esse percurso que você faz ocorre sobre o relevo.
f armas de relevo, tendo em
Ele pode ser mais plano ou mais ondulado. Agora imagine vista a origem, a estrutura,
que essas formas foram construídas em um passado muito a natureza das rochas,
distante. Para essa compreensão, é necessário entender os fatores construtores
que o tempo geológico ou tempo da natureza, como você do relevo e os fatores que
modelam as formas da
estudou no capítulo 1, é diferente do tempo do ser huma-
superfície terrestre.
no. O estudo do relevo é realizado pela Geomorfologia.

MARCELO NUNES

Garoto subindo
ladeira
São chamadas de relevo as diferentes formas da superficie ter- Conjunto de
restre. O relevo é o conjunto dos desniveis dessa superficie. Ele faz serras da borda da
Bacia Sedimentar
parte do suporte da paisagem, pois é sobre ele que estão os outros
Amazônica
elementos, como a vegetação, a água dos rios e dos oceanos, as ci-
dades, as áreas agricolas, por exemplo. Outros elementos, embora
façam parte da atmosfera, como as massas de ar e os ventos , vão
interagir com as diferentes formas de relevo, estabelecendo uma
relação bastante dinâmica. lo ·ça e 1dóge o
(ou tectônicas):
Neste capitulo, você compreenderá como se constituem as for- Correspondem
mas de relevo da região amazônica. aos esforças que as
camadas da crosta
Quando pensamos na Amazônia, do ponto de vista das formas do terrestre sofrem
relevo, a primeira imagem é de um grande anfiteatro formado por como dobramentos,
planicies, colinas e tabuleiros. A região é constituida, predominante- falhamentos,
terremotos e
mente, por terras baixas, ou seja, de baixas altitudes, se comparadas
vulcões.
a outras áreas do território brasileiro. As ·formas de relevo resultam
de duas forças: uma que sai do interior do planeta (forças endóge- ·o ·o gen.
nas) e outra que atua na parte externa a ela (forças exógenas). (ou externas): São
forças que atuam
na parte externa
da crosta terrestre,
sendo responsáveis
Cordilheira dos Andes pelo modelado do
relevo. Exemplo:
Planalto das águas dos rios,
ventos, marés,
chuvas etc.

~ Representação do
Planalto anfiteatro da bacia
Brasileiro
amazônica
Depressões: São Os planaltos, depressões e planícies: as macroformas do rele-
terrenos situados vo amazônico
abaixo do nível do mar
(depressões absolutas) A superfície da Terra é formada por elevações e depressões. O
ou abaixo do nível relevo amazônico caracteriza-se pelas seguintes macroformas do
das regiões que são relevo: planaltos , planícies e depressões . As bordas dos planaltos
próximas (depressões
podem ser escarpadas ou em rampas suaves.
relativas), como é o
caso daquelas que estão
presentes na Amazônia.

Planícies: São terrenos


mais ou menos planos, !:.
:::,
de origem sedimentar, ou
z
pois recebem ~
ãi
sedimentos de outras z
<
áreas (dos planaltos, :::l
<
das depressões ou
das montanhas) e
geralmente estão em
baixa altitude. ~
oO
°'
vi
·.;
.....,
Planaltos: São terrenos
.g
mais ou menos planos, e:,

que se apresentam ""1::


'<
ondulados, situados "'
~
em altitudes variáveis,
o"."
onde o processo de e
~
degradação, ou seja, ·e
\..)

de retirada de solo, .g
é maior que o de "'
~
1::
acumulação. '<

1
"'12
"-
,g
<.,.

-€
12
&
<>:

Microformas do ~
relevo de planalto
Observe o mapa das unidades de relevo da Amazônia, ao norte e
ao sul da região amazônica. O que você vê?
Cada cor no mapa representa uma unidade. Portanto, qual delas
predomina?
As depressões são as unidades de relevo predominantes na re-
gião amazônica. Elas estão classificadas em:

1) Depressão
da Amazôni a Oci- Mapa de relevo
dental: aparece UNIDADES DE RELEVO
a oeste no mapa. ~
Nesta unidade, os
terrenos são bai-
xos, mais ou menos
200 metros de al- !:
titude. São formas
suavizadas com co-
linas baixas.
2) Depressão ~
marginal norte-
-amazomca: está
na borda norte da
bacia amazônica. i
- Chapadas

3) Depressão L J Cristais e Colinas


L J Depressoes
marginal su l-ama- - Escarpas e Reversos

zônica: na borda ! L J Patamares


- Planaltos
sul da mesma ba- L J Planicie
cia, envolvendo - Serras
O 100 200 400 600 800
L J Tabu leiros Km
também a Depres- Fonte: IBAMA, 2010
Adaptaçào. V';le!ington Morais, 2011
são do Araguaia e a
do Tocantins.
O planalto da Amazônia oriental apresenta um relevo ondulado
formado por t opos arredondados ou planos. Esse planalto sobre a bacia
sedimentar da Amazônia é conhecido também como baixos platôs e é
constituido por terraços do baixo curso do rio Amazonas. Quando seus
topos são planos, essa forma recebe o nome de tabuleiro, também
conhecido como terra -firme.
No limite entre esse planalto e a planície litorânea, ocorrem as
falésias que são formas de relevo (microrelevo), que se apresentam
muitas vezes de maneira abrupta, ou seja, com declive entre a su-
perfície mais alta e a mais baixa. As falésias resultam de um trabalho
de erosão do mar, das marés e das ondas sobre a superfície. No lito-
ral da Amazônia, no Pará, por exemplo, as falésias se constituiram
sobre o relevo sedimentar da Formação Barreiras, como você já viu
no capitulo 1.
,:?
~
Os planaltos residuais norte-ama-
~ zônicos se estendem desde o Amapá
>
º até o norte do estado do Amazonas.
Sua altitude está entre 600 e 1.000
metros, podendo atingir 3.000 me-
tros, como o Pico da Neblina. Nesta
unidade, destaca-se o relevo serrano,
como a Serra do Navio, no Amapá.
Os planaltos residuais sul-ama-
zônicos se constituem numa extensa
área cuja forma de relevo se apre-
senta em serras de formação antiga,
rodeada por uma área mais baixa e
aplainada, que é a depressão sul-ama-
zônica. A Serra do Navio, que aparece
na fotografia , é um exemplo dessas
áreas de relevo residual.

estado do Amapá,

Serra do Navio, no
A planície do rio Amazonas é constituída por uma pequena uni-
dade intercalada entre unidades maiores, como as depressões e o
planalto oriental. Esses trechos periodicamente inundados são cha-
exemplo de
relevo residual mados de várzeas ou planícies de inundação. A parte mais alta da
várzea é chamada de dique marginal porque está ao lado do rio. Ele é
o último trecho a ser inundado e sobre ele desenvolve-se a vegetação
de floresta. No periodo de vazante, ou seja, no periodo não chuvoso,
alguns canais dos rios que cortam a planície amazônica revelam uma
paisagem semelhante à praia. São, na verdade, chamadas de barras
arenosas, que resultaram dos sedimentos levados pelas águas dos
rios e que foram depositadas no canal. A várzea é um importante am-
biente para a população ribeirinha que se adapta ao seu regime de
cheias e vazantes, pois se prepara para a plantação, para a criação
de gado e para a atividade extrativa.

Barra ➔
arenosa do
rio Purus

A Planície Costeira, como o nome indica, está localizada no


litoral do Amapá, do Pará e de parte do Maranhão. Esse ambiente é
muito dinâmico porque recebe influência do oceano e também dos
rios que vêm do continente.

86
As marés, as ondas do mar, as correntes litorâneas e os ventos Marés: São
têm papel importante no modelado do relevo, pois ora depositam provocadas pelo
material que trazem de outros lugares, ora provocam a erosão do movimento de
relevo continental. rotação da Terra,
combinado com a
força de atração da
Lua. A variação do
movimento da maré ·
durante o dia consiste
em um período de
maré cheia ou de

Ação das
Nesse ambiente costeiro, existem outras unidades menores de ondas sobre
relevo, como as planicies de maré cobertas por vegetação de man- o relevo
gue, os cordões arenosos formados pelas ondas, chamados de restin-
gas, e as dunas que se originam do depósito de areia transportada
pelo vento .
Sobre essas formas de relevo, desenvolvem-se plantas e animais
que se adaptam à variação da salinidade (maior ou menor quanti-
dade de sais nas águas oceânicas) e ao solo arenoso das restingas e
dunas. Existem também várias construções humanas sobre as dunas
como as que ocorrem na praia do Atalaia, no munidpio de Salinópo-
lis. Veja na fotografia.

Ocupação irregular na➔


praia do Atalaia, em
Salinópolis (PA)

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Marés de sizígia:
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Ocorrem quando o
Sol, a Lua e a Terra
estão alinhados, -
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... . - ..'t .. ... I'
~
"'
(l
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....
correspondendo, ~
Você sabia que existem no litoral paraense marés muito altas
aproximadamente, às ~
fa ses da lua cheia e que provocam inundações e destruição de casas e de barracas que
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nova. estão na praia? Essas marés altas são chamadas de marés de sizigia . :ó:
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Ação das ➔
marés altas na
orla de Outeiro

As áreas de mangues, as matas que estão ao redor dos rios e dos


igarapés, assim como, os topos dos morros e as vertentes ingremes, são
consideradas por Lei Federal como Área de Preservação Permanente
(APP) , o que impede sua alteração. Mas será que essa lei é obedecida?

88
RESOLUÇÃO Nº 303, DE 20 DE MARÇO DE 2002
Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preser-
vação Permanente.
Considerando que as Áreas de Preservação Permanente e outros es-
paços territoriais especialmente protegidos, como instrumentos de re-
levante interesse ambiental, integram o desenvolvimento sustentável,
objetivo das presentes e futuras gerações, resolve:
Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:
1 - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em proje-
ção horizontal, com largura mínima, de: a) trinta metros, para o curso
d'água com menos de dez metros de largura;
li - ao redor de nascente ou olho d'água, ainda que intermitente,
com raio mínimo de cinquenta metros de tal forma que proteja, em
cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte;
Ili - ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem
mínima de: a) trinta metros, para os que estejam situados em áreas
urbanas consolidadas;
V - no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir
da curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da ele-
vação em relação a base;
VII - em encosta ou parte desta, com declividade superior a cem
por cento ou quarenta e cinco graus na linha de maior declive;
VIII - nas escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir
da linha de ruptura em faixa nunca inferior a cem metros em projeção
horizontal no sentido do reverso da escarpa;
IX - nas restingas: a) em faixa mínima de trezentos metros, medidos
a partir da linha de preamar máxima; b) em qualquer localização ou ex-
tensão, quando recoberta por vegetação com função fixadora de dunas
ou estabilizadora de mangues;
X - em manguezal, em toda a sua extensão;
XI - em duna;
Art. 4° O CONAMA estabelecerá, em Resolução específica, parâme-
tros das Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e
o regime de uso de seu entorno.
Fonte: http://ambientes.ambientebrasil.com.brl{lorestallartigos/area_de_
preservacao_permanente_ -_app.html (adaptado)
'' Ao entrar no rio Amazonas, a partir do Atlântico, fica-
-se inicialmente surpreso com o aspecto barrento da água. E, ades-
peito da coloração café com leite, as populações locais referem-se
ao Amazonas e aos tributários, que caracterizam grandes quantida-
des de sedimentos andinos, como rios de águas brancas. Ao beber um
copo de água do rio Amazonas, você também está engolindo um pe-
daço dos Andes, por causa do elevado teor de sólidos em suspensão
carreados rio abaixo desde as montanhas andinas."
GOULDING, Michael. História natural dos rios da Amazônia. Brasília: Socie-
dade Civil Mamirauá, 1997.

Amazonas: Rio drena mais de 7


milhões de quilômetros quadrados de
terras e é, por larga margem, o rio de
maior massa líquida, com uma vazão
anual média de 200.000 metros cúbicos
por segundo. Também é o mais extenso
com 6.885 km da nascente até sua foz.

Montanhas: São terrenos altos e


fortemente ondulados, como, por
exemplo, a cordilheira dos Andes, que
está localizada a oeste da Amazônia.
Os rios na Amazônia também são elementos que compõem as
paisagens amazônicas e, portanto, devem ser entendidos a partir da
relação com o clima, o relevo e a vegetação. Você não pode esquecer
que muitos animais estão presentes nesse ambiente aquático ou no
seu entorno.

Sob o aspecto social e econômico, os rios amazônicos sempre fo-


ram importantes para a organização socioespacial das populações da
Amazônia. Muitas cidades surgiram às margens dos rios. Em algumas
delas, o transporte de pessoas e de mercadorias ainda depende dos
rios dessa região, mesmo nos dias atuais.

Neste capitulo, você conhecerá a hidrografia da Amazônia. Hidrografia: Estuda


as águas correntes
(rios), as águas
paradas (lagos), as
águas oceânicas e as
águas subterrâneas.

Rio Amazanas no
município de Tefé (AM)
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91
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oe
~

Rede hidrográfica da ➔
Amazônia

Quando observamos a região Amazônica, vemos um conjunto de


rios interligados que se desenvolvem sobre as formas de relevo. Esse
conjunto formou as bacias hidrográficas. A ideia de bacia hidrográfica
está relacionada a uma forma e a um conjunto. A forma se apresenta
deprimida no meio com as laterais mais elevadas, por onde correm
os rios que, observados em conjunto, formam a rede hidrográfica,
como mostra a figura acima .
Os rios que estão ligados ao Amazonas são chamados de afluen-
tes. Perceba que alguns têm seu início no estado do Acre, a oeste;
outros, em Rondônia, a sudoeste do mapa. Ao norte também , você
observa que alguns rios surgem em Roraima, no Pará e no próprio es-
tado do Amazonas. Ao sul, os rios partem do estado do Mato Grosso,
todos se direcionando para o grande rio.

Exemplos de afluentes Os rios que nascem no planalto norte-oriental e no planalto sul-


do rio Amazonas -oriental (estudados no capítulo anterior) e se direcionam para o
f Amazonas contribuem para que ele tenha muita água durante o ano.
FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM - ABR GEPPAM ICMBIO-DIVULGAÇÃO

Guamá Tapajós

92
O centro, para Bacias hidrográficas na Amazônia Legal
onde converge toda a
água, é chamado de
fundo de vale. Nas bor-
das da bacia, estão as
nascentes dos rios que
vão em direção ao fundo
de vale. O topo, a par-
te mais alta, é chamado
de divisor de águas, ou
seja, separa uma bacia
de outra.
Destacam-se, na re-
gião, as bacias Amazôni- LEGENDA

ca, Tocantins-Araguaia, . . Paraguai


Bacia do Atltntiço Nordeste
Atlântico Norte, Atlânti- Attàntico Norte

co Nordeste e Paraguai, - Amazõn;ca


Tocantins-Araguaia

como você pode observar C umite Estadual


D Amazõnia Legal
O 100 200 400 600 ~
no mapa.

As nascentes de um rio estão localizadas em um lugar mais alto


que o relevo que está a sua volta. Assim, por força da gravidade, suas Nascente: É também
chamada de cabeceira de
águas correm em direção à foz , o lugar onde ele deságua, que pode
um rio. Geralmente, não
ser em outro rio ou no oceano. é um ponto, mas uma
área onde existem olhos
Na Amazônia, as nascentes recebem nomes regionais. São, por d'água que dão origem a
exemplo, chamadas de cacimbas no nordeste paraense. Veja uma um curso fluvial (de rio).
delas na fotografia abaixo.
Foz: É a boca de
descarga de um rio. Esse
desaguamento pode ser
feito no mar, num lago,
numa lagoa ou mesmo
em outro rio.

~ Nascente de igarapé
na vila de Pinheiro,
município de Curuçá

Descubra se no lugar onde você mora existe outro nome para as


nascentes dos rios. Anote e comente com seus colegas.

93
A foz de um rio pode ser classificada
de duas formas: foz em delta e foz em
estuário.
Observando a imagem de satélite da
foz do rio Amazonas, você pode notar que
se trata de um tipo de estuário. Embora
ele carregue grande carga de sedimentos,
esses são empurrados por uma corrente
maritima chamada sul-equatoriana. Essa
corrente impede que o Amazonas forme
,._ um delta em sua foz. É na parte ociden-
Imagem de satélite tal (oeste) da Ilha do Marajó, chamada de boca norte, que fluem as
da foz do rio
Amawnas
águas do Amazonas. Você observa que muitos furos longos e estreitos
aparecem neste local. Um deles contorna a porção sudeste da Ilha do
Marajó e forma a boca sul, onde está o rio Pará.

Foz em delta: São


ambientes localizados
na desembocadura
(foz) dos rios que
se caracterizam
pela deposição de
sedimentos feita pela
água. A deposição é
maior que a dispersão
desses sedimentos.

Foz em estuário:
É constituída por
um longo canal de
forma afunilada. FOZ ESTUÁRIO FOZ DELTA
São ambientes
costeiros, no entanto,
em virtude do
trabalho das marés, Um fator importante ocorre quando as águas oceânicas invadem
das ondas e das
correntes marítimas,
o estuário do Amazonas, provocando o fenômeno da pororoca, ou
não há significativa seja, uma enorme onda provocada pelo vento e influenciada pelas
deposição de marés. Nesse processo, o solo e a vegetação das margens dos rios são
sedimentos. arrastados pelas águas.

Momento da Pororoca
no rio Araguari
(Amapá)

94
~ Rios, furos e paranás

Os rios, os igarapés, os furos e os paranás são nomes regionais


que recebem os corpos d' água da Amazônia e eles estão carregados
de significados para a população dessa região.

Todo esse conjunto de corpos d'água é importante para os habi-


tantes da região porque eles fornecem água e alimento e são as prin-
cipais vias de transporte e de comunicação entre as várias localidades.

Os furos são cursos d'água que interligam rios, lagos e braços de


rios. São exemplos o Furo das Onças e o Furo de Breves. Os paranás são
braços de rios que contornam as ilhas fluviais.

Os rios são reconhecidos pela cor das águas, pela largura das
margens, pelo volume de água, pela capacidade de formação de suas
várzeas. De acordo com a coloração das águas, os rios da Amazônia
podem ser classificados em: rios de água branca (água barrenta), como
o Amazonas, rios de água clara (esverdeada), como o Tapajós, e rios de
água preta, como o Negro.

~ Encontro das águas


dos rios Tapajós
e Amazonas, em
Santarém (PA)

95
Para o professor Harald Sioli, os rios de água branca são aqueles
que têm sua origem nas partes altas da Cordilheira dos Andes. Os
sedimentos provenientes dos processos erosivos são de cor barrenta
ou amarela. Os rios de água preta carregam poucos sedimentos e têm
águas transparentes e ácidas. Já os rios de águas claras têm origem
no relevo que está ao norte e ao sul. Pelo tipo de relevo, oferecem
menor possibilidade de erosão, portanto, menor quantidade de sedi-
mentos na água.

Os rios, além de serem mais extensos e largos que os igarapés,


recebem também muita luminosidade, o que influencia na diversida-
de de vegetação e de animais.
o
•«
u-
«
'::,:3
>
ê5
Ribeirinho ➔
transportando
caça

Os igarapés são mais estreitos e adentram as matas. Na história


da ocupação da Amazônia, eles foram importantes para povoamento
da região. Igarapé significa "os caminhos da canoa". Em Tupi, igara
significa "canoa escavada em tronco de madeira" e apé ou pé significa
"caminho".

A dinâmica dos rios amazônicos, nas cheias e nas vazantes, é acom-


Hidrelétrica panhada pelas populações que moram no seu entorno. A água tem gran-
de Tucuruí de valor para a sobrevivência dessas populações, desde o aspecto bioló-
'f gico ao aspecto cultural.
Os rios Araguaia e Tocantins
pertencem ao contexto amazônico.
O Araguaia é um afluente do Tocan-
tins, e este deságua ao sul da ilha do
Marajá. Esses dois rios nascem em
áreas do Planalto Brasileiro, portan-
to, de altitude mais elevada. Por
isso, são favoráveis à produção de
energia. No munidpio de Tucuruí,
foi construída uma usina hidrelétri-
ca, a usina de Tucuruí, no rio Tocan-
tins. A energia produzida abastece
os projetos de exploração mineral,
em Carajás, no sul do estado do
Pará, e as indústrias de transforma-
ção de minérios, em Barcarena.
Hidrelétricas na Amazônia
Nelson Soares Wisnik

Físico, professor un;vers;tár;o. No período de 2002 a 2008 res;-


d;u na Amazôn;a a bordo do barco Nheengatu
Usinas hidrelétricas geram eletricidade a partir de dois fatores,
a queda d'água e a vazão do rio. A potência de uma usina hidrelétrica
está associada ao produto destes dois fatores.
O aproveitamento hidrelétrico na Amazônia, para ser economi-
camente viável, requer a formação de grandes reservatórios, com
alterações ambientais de consequências imprevisíveis e altos custos
sociais.
Os povos tradicionais, nativos e quilombolas residentes na re-
gião amazônica não são contemplados com os benefícios da energia
ali gerada. Há um vazio energético na região, basta consultar os ma-
pas disponibilizados pela ONS - Operador Nacional do Sistema. Pior
que isso, a parca energia disponibilizada tem o maior custo dentre
as regiões do Brasil, o que pode ser constatado através do documen-
to "Indicadores de Competitividade na Indústria Brasileira", emitido
pelo CNI - Confederação Nacional da Indústria.
Tomando-se como exemplo a usina hidrelétrica de Tucuruí, fo-
ram construídos milhares de quilômetros de linhas de transmissão de
energia elétrica para conectá-la ao SIN - Sistema Integrado Nacio-
nal, mas nenhum para energizar as cidades e comunidades da mar-
gem esquerda do Rio Amazonas, a região ·chamada Calha Norte.
A Compensação Financeira rateada entre os Estados e Municí-
pios afetados na área de produção da energia corresponde a 6% do
faturamento calculado pela TAR - Tarifa Atualizada de Referência,
enquanto que os estados consumidores recebem mais de 25% através
do ICMS.
Há um preceito financeiro que estabelece que não se pode gas-
tar mais do que se recebe. Isto também deve ser seguido com relação
à energia. O modelo desenvolvimentista está baseado puramente no
cresciment o, não na estabilidade sustentável. Há um limite e, quan-
to mais cedo a ele nos adaptarmos, se oportunidade ainda houver,
menos traumático será.
Fonte: http://jornaldedebates.uol.eom.br/debate/hjdreletrkas-na-
-amazonfo/13360 (adaptado)

97
A vegetação é o elemento que se destaca nas diversas pai-
sagens da Amazônia. Se o relevo é o suporte, a vegetação é a cober-
tura. No entanto, é necessário compreender que o desenvolvimento
dos diferentes tipos de vegetação depende de fatores como o clima,
o relevo e o solo. Muitas vezes, a história dessa vegetação está rela-
cionada aos paleoclimas, ou seja, aos tipos de clima que existiram no
passado geológico da Terra.
Vegetação: É o conjunto
de plantas que cobre uma
região. Apresenta uma
estrutura, uma fisionomia
e uma composição bastante
variadas, conforme o clima
e o solo. Exemplos disso
são as savanas (cerrado),
as estepes (caatinga) e
as florestas ombrófilas
(amazônica e a mata
atlântica).

Fonte: www.ibge.gov.br

Cerrado
A floresta , composta por árvores altas de largas copas, é a pri-
meira imagem que se tem da Amazônia. Algumas condições locais de
solo, de umidade atmosférica, de topografia e de drenagem permi-
tem seu desenvolvimento. Assim, floresta de terra firme, de várzea e
de igapó e buritizais são exemplos dessa diversidade.
Na Amazônia, além da floresta que cobre grandes áreas, outros
tipos de vegetação surgem nesse contexto: o cerrado, a campinara -
na, os cam pos inundáveis e a vegetação litorânea, como as restingas
e os manguezais.
Portanto, a cobertura vegetal não é homogênea e precisa ser
estudada e preservada para manutenção do equilibrio ecológico e da
vida humana.
Porém , como a floresta se sustenta? Se os solos da Amazônia são
considerados pobres em nutrientes, qual é a explicação dada para o
desenvolvimento da floresta?
Na florest a, os nutrientes estão presentes na própria vegetação.
A ciclagem de nutrientes da floresta amazônica envolve a decomposi -
ção das folhas, dos frutos, das flores e dos troncos que são absorvidos
pelo solo, para depois voltarem para a vegetação através de suas ra -
ízes. Uma vez retirada a cobertura vegetal, esse ciclo de nutrientes
é interrompido.
O mapa da vegetação do Brasil apresenta diferentes tipos de
formações vegetais. Observe essas informações para a Amazônia.

Mapa da vegetação do Brasil


à Regiões fitoecológicas ou tipos de vegetação
Floresta ombrófila densa (Floresta tropical densa)
D Floresta ombrófila aberta (Fasciações da
• Floresta ombrófila densa)
• Floresta ombrófila mista (Floresta de araucária)
'""":,aoRAN;;-
00
, "0R,.:: ·-
=D Floresta estacionai semidecidual
tropi cal subcaducifólia)
(Floresta

~- ~,., • Floresta estacionai decidual (Floresta


,_ tropical caducifólia)
ALAGOAS

- " D Can pinara na (Caatinga da Amazônia ,


Caatinga-gapó e Campina da Amazônia
O Savana (Cerrado)
D Savana estápica (Caatinga do Sertão Árido,
\. Campos de Roraima, Chaco Sul-Mato-
Grossense e Parque do Espinilho da Barra do
Rio Quara í)
= D Estepe (Campos do Sul do Brasil)
Áreas das formações pineiras
• Vegetação com influência marinha, fluviomarinha
e fl uviaí
Áreas de tensão ecológica
D Contato entre tipos de vegetação
.,. Área antropizada ~
• Área antropizada
- - - -- --
Font, : IB6E, Diff.to.ia ele ~m:ias, COOfdrn~Jo ele R,:i:urso<. Natu<11is , Estu<io5 Amb~nbil.

99
Epí.fitas ------... e
z

l
Lianas

Florestas de terra firme


Epífitas: São plantas
que crescem sob as
As florestas de terra firme são também chamadas de ombrófilas,
árvores amazônicas.
Bromélias, orquídeas, que significa, em latim, " amigo da chuva". Elas estão localizadas em
imbés e cactos são áreas que não sofrem inundação. Podem se apresentar em aspectos
exemplos de epífi tas. diferentes, como, por exemplo, as florestas densas, onde as árvores
Essas plantas são são altas e o dossel (copa da árvore) é fechado, não permitindo a
importantes para
passagem de muita luz do Sol para o interior da floresta. Nesse am-
a fauna que vive
exclusivamente nos biente, há um rico sub-bosque de plantas em vários estágios de de-
galhos e nas copas senvolvimento. Além disso, muitas lianas e epifitas são componentes
das árvores. Dentre desse conjunto. Esse tipo predomina em 80% da região.
os animais que se
integram à comunidade As florestas de terra firme sempre foram utilizadas pelas popu-
epífita, tem os os lações tradicionais da Amazônia . Índios, ribeirinhos e quilombolas
macacos, os saguis, as
extraem da mata a madeira, os frutos, os óleos e as sementes. A
jaguatiricas, os gatos-
do-mato, os lagartos, as castanheira (Bertholletia excelsa) é um dos exemplos de espécies
araras, os papagaios, os utilizadas na obtenção de renda dessas populações.
tucanos e muitos outros
que se especializaram Nas áreas mais secas, surgem as flo-
nesse habitat acim a do restas semiabertas, ou seja, dosséis
solo. São consideradas que permitem a passagem da lumino-
plantas ornamentais, sidade. Destacam-se nesse tipo de
portanto são usadas
para decoração. Com
floresta as espécies de palmeiras,
o corte das árvores como o babaçu.
ou a comercialização
demasiada, as epífi tas
desaparecem e, com
elas, toda a fau na que
depende delas.

Ouriço com as ➔
sementes da
castanha-do-pará

10'.)
Floresta de várzea e igapó

A várzea é a planície de inundação de um rio. Durante as cheias,


as águas transbordam o canal dos rios e invadem as enormes áreas de
várzeas. A inundação é sazonal porque a distribuição da chuva ocorre
em diferentes períodos no ano, como você aprendeu no capítulo 2.
As plantas que crescem à beira dos rios e
lagos, em geral espécies arbustivas, ficam com-
pletamente submersas de 7 a 1O meses por ano
e devem florir e frutificar no período curto de
tempo em que ficam acima da linha d'água.
A mata de igapó permanece constantemen-
te inundada. As espécies vegetais desenvolvem
adaptações nesse ambiente. Algumas plantas
têm raízes aéreas para poderem respirar.
Nesse ambiente, desenvolve-se um tipo
de vegetação florestal que se adapta às cheias
periódicas dos rios. A população ribeirinha, co-
nhecendo essa dinâmica, constrói suas casas de
acordo com as cheias e as vazantes dos rios e
dos igarapés. Além disso, retira da várzea as
sementes, as fibras e os frutos para se alimen-
tar e para comercializar.
A seringueira (Hevea brasiUensis) é uma
espécie encontrada na várzea. Dela se retira
o látex para a borracha. No passado, ele tinha
tinha grande valor comercial e seu produto era
exportado para o mundo. Atualmente, os serin-
gueiros, como são chamados os trabalhadores
dos seringais, ainda dependem dessa espécie
para seu sustento.

~ Seringueiro
retirando látex
na.floresta

101
Os Buritizais

Artesanato feito com São espécies encontradas às margens dos rios amazônicos e em
tala tirada das folhas certas áreas que possuem drenagem insuficiente, ou seja, em água
do huriti represada. O tronco dessa palmeira é utilizado pelas populações lo-
cais em artesanato, como a fotografia retrata. As folhas cobrem as
casas, e, dos seus frutos, fabricam-se os doces de buritis.

Buritizais ➔
em Mãe do
Rio (PA)

Manguezais

A vegetação de mangue desenvolve-se na zona costeira, adapta-


da à água com elevado teor de salinidade e as variações das marés.
Os manguezais ocorrem em toda a costa atlântica. Na Amazônia,
podem ser encontrados do Amapá ao Maranhão. Abaixo, a imagem de
satélite mostra o recorte do litoral paraense onde se desenvolve este
tipo de vegetação.
Litoral paraense: demarcação de manguezais

..-...-w Fonte. INPE. 2010 / IBAMA, 2010


Ad~teçio: Welngton Motm., 2011

102
~ Rhiwphora mangle
no manguezal de
Curuçá (PA)

Esse litoral amazônico abriga uma parcela significante dos man-


guezais brasileiros, apresentando riqueza de recursos naturais e pos-
sibilidade de vários usos pelas populações locais.
As espécies mais caracteristicas são o mangue vermelho (Rhi-
zophora mangle) e o mangue branco (Rhizophora racemosa). Além
dessas duas espécies, há também a siriúba (Avicennia nitida) e o Tirador de
tinteiro (Laguncularia racemosa). caranguejo

O tinteiro é um exemplo de es- 'f


pécie que se desenvolve como pio- E
N
neira nas planicies de marés, ou seja, ~
►·
<
são aquelas que se instalam primeiro o
!.;
,..,,
na área. z
n
;;;
~
O mangue vermelho apresenta ~-
raizes escoras, que sustentam a plan-
ta no terreno lamoso caracteristico
do manguezal. Já, a siriúba se fixa
nos solos mais secos desse ecossiste-
ma. A fauna do manguezal encontra
ambiente propicio para a sua repro-
dução. São caranguejos, camarões,
peixes, garças, guarás, entre tantas
outras espécies de fauna.
A população tradicional da costa amazônica é formada princi-
palmente por pescadores artesanais e pequenos agricultores. Além Reserva
Extrativista: É
do peixe, os pescadores retiram o caranguejo, os mariscos e os uma Unidade de
turus. Da venda do peixe e do caranguejo, o pescador adquire seu Conservação de
sustento e o de sua familia. A preservação desse ecossistema é tam- Uso Sustentável
bém a preservação do modo de vida das populações tradicionais que permite que os
recursos naturais
litorâneas. A instituição de Reservas Extrativistas Marinhas é uma
sejam utilizados
forma de preservação que tem sido defendida pelas populações lo- pela população de
cais para valorização dos recursos do manguezal e do modo de vida forma racional.
dos pescadores artesanais.
103
Cerrado, campinaranas e campos na Amazônia
No meio da floresta amazônica, ocorrem as manchas de cerra-
dos, de campinaranas e de campos. Esses tipos de vegetação apre-
sentam aspecto fisionômico diferente da floresta. Geralmente, têm
dossel mais aberto, são indivíduos arbóreos, arbustivos e herbáceas,
no caso dos campos.
o
•<
':t
':3
:::,
>
ci

Campos do ➔
Marajó

Na Ilha do Marajá (veja o mapa de vegetação), em terra firme,


desenvolve-se, além da floresta, o cerrado. Na outra porção da ilha,
na planície costeira, ocorrem os campos inundáveis com vegetação
herbácea adaptada ao ambiente aquoso sazonal. Os campos natu-
GEPPAM
rais inundáveis são conhecidos regionalmente como os
campos do Marajá e são formados por espécies de gra-
míneas e ciperáceas. A maioria desses campos é inun-
dável durante o inverno amazônico. As águas de inun-
dação tanto podem ser originadas do transbordamento
do leito dos rios, quanto da acumulação causada pelas
águas da chuva. Os tesos são uma denominação local
e se constituem nas partes mais altas dos campos, li-
vres de 1nundação, onde cresce vegetação arbórea e
gramínea.
,.,
Cerrado As campinaranas cobrem cerca de 30.000 quilômetros de área,
na região do rio Negro, sob um solo de areias brancas. Uma das expli-
cações para existência .das manchas de cerrado e de campinarana na
Amazônia é a ocorrência de um clima mais seco no passado geológico
de~sa área (ver capítulo 1).

Campina ➔

104
Manguezais: as florestas
da Amazônia costeira
Por: Moirah Paula Machado de Menezes e Ulf Mehlig
Os manguezais da costa amazônica, distribuidos por Amapá,
Pará e Maranhão, ocupam uma área de 9 mil km 2 e correspondem a
70% dos manguezais do Brasil. Os 679 km de linha de costa entre os O guará é uma das
estados do Pará e do Maranhão formam o maior cinturão continuo aves que frequentam
os mangues
de manguezais do mundo. Essas florestas de mangue com árvores
amazônicos. Esta
de grande porte, situadas no litoral atlântico e recortadas por rios e aquarela é do
canais de águas escuras e tranquilas, são o refúgio de diversas espé- holandês Albert
cies de crustáceos, peixes, moluscos e aves marinhas. Os mangues Eckhout, séc. XVII
amazônicos, porém, ainda são desconhecidos pela maioria dos f
brasileiros .
Os manguezais, que ocorrem em todas as regiões cos-
teiras tropicais e subtropicais do mundo, caracterizam-se
pelo sedimento lamacento e salino, inundado diaria-
mente pela maré. Sobre esse sedimento formam-se
bosques de árvores que apresentam adaptações
para sobreviver à salinidade e à inundação. Essas
florestas peculiares têm grande importância eco-
lógica porque são áreas de reprodução e atuam
como berçários para várias espécies marinhas,
em especial crustáceos e peixes, que encontram
nas águas tranquilas e escuras o refúgio ideal para
suas larvas e filhotes.
Muitas aves frequentam os mangues amazônicos, mas
merecem destaque a garça (Ardea alba), o guará (Eudocimus
ruber), com sua plumagem de um vermelho intenso, quando adul-
to, e diversas espécies de maçaricos. As aves procuram o mangue
para reprodução, chegando a formar grandes ninhais, ou para encon-
trar alimento. Mamiferos também visitam o mangue em busca de ali-
mento, destacando-se o guaxinim (Procyon cancrivorus), o tamanduá
(Tamandua tetradactyla), o macaco-prego (Cebus apella), cuicas e
morcegos. Diversos peixes, crustáceos e moluscos também cumprem
ao menos parte de seu ciclo de vida nos mangues.

Fonte: http:lldendahoje.uol.com.brlrev;sta-ch/rev;sta-
-ch-2009/264/manguezajs-as-florestas-da-amazonfo-coste;ra

105
S empre se acreditou que a Amazônia fosse um conjunto ho-
mogêneo formado por uma extensa planície de baixas altitudes. No
entanto, as pesquisas mais detalhadas, com uso de imagens de radar,
imagens de satélites e trabalho de campo, possibilitaram obter maio-
res informações sobre a região.

Garoto observando
paisagens
amazônicas
t
Após conhecer os elementos que com-
põem as diferentes paisagens amazônicas,
você perceberá que, ao serem relaciona-
dos, eles formam um conjunto bastante di -
ferente de outras paisagens brasileiras. Se
esse conjunto for observado em escala mais
ampla, em que os detalhes não podem ser
vistos no mapa, temos uma umidade espa-
cial que chamamos de dominio. Neste ca-
pitulo, você compreenderá o conceito de
dominio morfoclimático, em particular o do-
minio amazônico.
Na década de 1970, o geógrafo brasi-
leiro Aziz Ab ' Saber, estudioso das paisagens
brasileiras, explicou que o território brasilei- ,+.
ro comportava uma grande variedade de paisagens do mundo tropi- Em 1952, o professor
cal, formando um diversificado "mosaico paisagistico e ecológico". Aziz Ab 'Saber
fez sua primeira
Cada peça desse mosaico recebeu o nome de dominio morfoclimá- viagem à Amazônia,
tico e fitogeográfico . O "dominio" é um grande conjunto espacial publicando, a partir
onde há semelhanças entre formas de relevo, tipos de solo, formas daí, diversos trabalhos
de vegetação e condições climáticas. sobre a região. Parte
dessas obras está
no livro Amazônia:
do discurso a práxis,
publicado em 1996

Entenda o
significado
das palavras
Morfoclimático e
Fitogeográfico

Morfo: vem de
forma e está
relacionado ao
relevo.

Climático: está
relacionado ao
clima.

Fito (vegetação)
+ geográfico
= relacionado à
distribuição da
vegetação.

107
A vegetação é o elemento marcante dessa região, onde predo-
mina a formação de florestas, que se mostra muito diversificada, ou
seja, com grande variedade de espécies vegetais. Esse ambiente é
favorável aos animais que precisam da floresta para viver.
O dominio amazônico é uma forma de ver essa diversidade na-
tural, em uma escala espacial que valoriza os elementos de forma
integrada.

Observe o mapa dos dominios morfoclimáticos brasileiros.

Mapa dos Domínios Morfoclimáticos Brasileiros


70"0'0"W flJ"O'O'W fll"O'O"'W 40º0'0-W

LEGENDA
Amazônico
Araucárias
Caatinga


Cerrados
Mares de Morro

- Pradarias
Áreas de Transição O 150 300 600 900 1.2~°n,

70' O'O'W 80' 0'O'W 40' 0'0"W Fonta: AB'SABER. 1979


Adaptaçto: Welington Morais, 2011

Nele, você percebe seis grandes áreas integradas e separadas por


faixas de transição: o domínio morfoclimático amazônico: terras baixas
florestadas da Amazônia; o domínio do cerrado: chapadões centrais re-
cobertos por cerrados, cerradões e campestres; domínio dos mares de
morro: relevo mamelonar tropical atlântico coberto por floresta; domí-
nio das caatingas: depressões interplanálticas semiáridas do Nordeste,
domínio das araucárias: planaltos subtropicais com Araucárias; dominio
das pradarias: vegetação de campo no sul do pais.

1<:B

-----
Cada um desses domínios possui características diferentes,
no tipo de clima, no aspecto do relevo, na quantidade de rios,
nos tipos de solo na formação da cobertura vegetal etc. A área
entre os domínios é chamada de zona de transição, onde as es-
pécies que constituem os domínios se misturam. É a passagem de
um domínio para o outro.

Observe as fotografias relacionadas aos domínios morfocli-


máticos brasileiros e perceba as diferenças entre os tipos de for-
mação vegetal.
RENATO ARAÚJO-ABR GEPPAM


Cerrado •Mares de Morro


Caatinga •
Araucárias
Agora que você conheceu as diferenças entre os domínio mor-
•Pradarias

foclimáticos brasileiros, veja como o domínio amazônico se desta-


ca no mapa pela extensão de sua área. Em todos eles, a vegetação
natural já foi alterada de forma progressiva, na medida em que
as atividades econômicas e a expansão urbana foram ocupando a
paisagem natural.

No domínio amazônico, esse conjunto tem sido ameaçado,


principalmente pelas atividades econômicas de grande escala de
produção, como a mineração, a atividade madeireira e a agropecu-
ária. Consequentemente, elas levam ao desmatamento, à perda da
biodiversidade, à poluição das águas, à concentração fundiária e à
exclusão das populações locais, que são problemas socioambientais
na região. Você verá essas questões na próxima unidade.

109
O passado da floresta amazônica
Por: Alexander Kellner
A descoberta de fósseis preservados em âmbar ajuda a entender
a diversidade da mata há mais de 1O milhões de anos
Todos que assistiram ao filme Jurassic Park, de Steven
Spielberg, sabem o que é o âmbar. De forma simplifi-
cada, essa substância é basicamente resina vegetal
fossilizada. No filme, é por meio de pernilongos
preservados no âmbar que se obtém o sangue
dos dinossauros que forneceram seu DNA para
serem revividos. Bom, isto é a ficção.
Não deve ser muito difícil imaginar a sa-
tisfação da equipe liderada por Pierre-Olivier
Antoine, do Centro Nacional de Pesquisa Cien-
tifica (CNRS) em Toulouse, na França, ao en-
contrar fósseis preservados no âmbar. E isto
em plena floresta amazônica!
Mais precisamente, o material descrito
pelos pesquisadores e publicado com destaque


O corpo da lagartixa
pré-histórica,
pela revista PNAS é procedente da localidade de
Tamshiyacu, situada às margens do rio Amazonas, a
cerca de 30 quilômetros de lquitos, no Peru. O material foi en-
encontrado dentro de contrado em rochas formadas entre 18 e 1O milhões de anos atrás e
um pedaço de âmbar, contém um raro registro de um ecossistema que existia no passado
que é uma espécie na floresta amazônica.
de resina vegetal
fossilizada. O estudo do material ainda está no inicio, mas já revelou al-
Sabe-se que as árvores
(principalmente os
guns dados interessantes. Várias árvores podem produzir o âmbar,
pinheiros) cuja resina sobretudo as coníferas. Apesar de não se saber ao certo exatamente
se transformou em qual espécie produziu o âmbar em questão, sabe-se pelos fósseis
âmbar viveram há encontrados que a região tinha uma floresta diferente da atual, com
milhões de anos em grandes áreas abertas, conforme indicam pólens de gramíneas.
regiões de clima
temperado. Nas Os estudos preliminares demonstram que, já naquela época, ha-
zonas cujo clima era
via uma especial diversidade de plantas e insetos na região amazô-
tropical, o âmbar foi
formado por plantas nica, indicando que se tratava de uma região quente e úmida, bem
leguminosas. tropical desde aquele tempo (Mioceno).
Fonte: http://dendahoje.uol.com.brlcolunas/cacadores-de-fosseislo-
-passado-da-floresta-amazonica/?searchterm=floresta amazônica ( adapta-
do) acesso em 30 de novembro de 2011.

110
Lembre do que você estudou nesta
· unidade e responda às questões abaixo:
1 - Quais os fatores ou eventos geológicos que influenciaram na
configuração da bacia do rio Amazonas?

2 - Explique os fenômenos de regressão e transgressão marinha.


Aponte suas causas e consequências.

3 - Qual a função do pluviômetro e do termômetro nas análises do


tempo e do clima?

4 - A grande quantidade de vapor d'água na atmosfera influencia no


nivel das chuvas. Na Amazônia quais fatores colaboram para o acu-
mulo de vapor d'água na atmosfera?

5 - Qual a diferença que há entre forças endógenas e exógenas e


quais suas influências no relevo?

7- Compare a formação da vegetação de várzea, igapó e terra


firme.

8- Qual é a ideia de dominio morfoclimático e fitogeográfico apre-


sentada pelo professor Aziz Ab'Saber?

SAIBA MAIS
LEITURA Revista Sdenti ·e American Brasil
~ a l Amazônia, São Paulo, v. 1, 2008.
Ma;s jnformações: http: / lwww2.uol.com.br/
sdam/mult;m;d;a/ amazonja/

SITE www.;npe.br

VIDEO Alter Do Chão - O Mafor Reservatór;o Subterrâneo D'água Doce Do


Planeta; Placas Tectônkas. Acesso em: http:/ /geppam.blogspot.
com/p/geov;deos.html

111
a unidade anterior, você estudou sobre como Impacto ambiental: É
se comportam os elementos que compõem as diversas a expressão utilizada
paisagens amazônicas. Percebeu que existe uma relação para caracterizar uma
série de modificações
de interdependência entre eles e que seu conjunto for- causadas ao meio
ma o domínio morfoclimático amazônico. No entanto, ambiente, influenciando
essas paisagens são constantemente ameaçadas pelas na estabilidade dos
atividades humanas, resultando em impactos ambien- ecossistemas.
tais e sociais, muitas vezes, de grandes proporções.
Nesta unidade, você compreenderá como determi-
nadas atividades econômicas transformam as paisagens
naturais, criando novas paisagens.

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I
..
- ·•
"
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Área desmatada na


Amazônia
Povos e Comunidades

Um dos problemas ambientais que mais tem chama-


do a atenção do mundo é o desmatamento da floresta amazô-
Tradicionais: São
grupos culturalmente
diferenciados e que se
reconhecem
nica. O desmatamento coloca em risco o equilíbrio ecológico como tais, que possuem
do imenso dominio amazônico, pois afeta a evaporação, re- formas próprias de
duz a infiltração da água no solo e diminui o abastecimen- organização social, que
to dos lençóis freáticos. Além disso, interfere na biodiversi- ocupam e usam territórios
dade, tanto de plantas quanto de animais. Muitas pessoas, e recursos naturais
como condição para sua
principalmente povos e comunidades tradicionais por serem reprodução cultural,
extrativistas, são afetadas pela redução da biodiversidade. social, religiosa, ancestral e
econômica, utilizando
conhecimentos, inovações
e práticas gerados e
Tailândia (PA) - Viaturas escoltam caminhões que transmitidos pela
transportam para Belém madeira apreendida na tradição.
Operação Arco de Fogo
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1-
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• Transamazônica,
trecho de Anapu
(sul do Pará)

A década de 1970 marca o inicio do desmatamento na Amazô- Década de 1970: Nessa


nia. Você deve saber que é nesse periodo que teve origem a ocupa- época o governo militar
ção mais intensa da região. Atualmente, embora em algumas áreas deu início aos grandes
projetos de colonização
ainda existam extensas florestas, a derrubada da mata é crescente.
e desenvolvimento
Dentre os fatores que provocam o desmatamento estão: a pecuá - da Amazônia, como
ria extensiva, a atividade madeireira, a mineração, o avanço das o Programa de
plantações de soja na região e, consequentemente, a infraestrutura Integração Nacional
para escoamento da produção como hidrovias, ferrovias e rodovias. (1970 ), o Programa
Poloamazônia (1974),
Perceba no mapa que a atual área de desmatamento na Amazô- o Programa Grande
Carajás (1980) e o
nia forma um arco que foi batizado como "arco do desmatamento",
Programa Polonoroeste
ao longo das bordas sul e leste da região. Inclui os estados do Mara- (1983). Esses
nhão, Pará , Tocantins, Mato Grosso, Rondônia e uma pequena parte grandes programas
do Amazonas e do Acre. institucionais tinham
como objetivos
Mapa do arco do desmatamento na Amazônia Legal principais o incentivo às
l atividades econômicas
e à colonização de
grandes extensões de
terra. Para atingir
o primeiro objetivo,
o governo investiu
bilhões de dólares na
construção de infra-
estrutura, na forma
de portos, aeroportos
e, principalmente, na
construção de estradas
que atravessariam
a floresta, como a
Cuiabá-Porto Velho
(BR-364, em 1968),
a Transamazônica
(BR-230, em 1972) e a
Cuiabá-Santarém (BR-
163, em 1973).

O 100 200 400 600 800 Fonte: http://www.


p eriodicos. ufpa. br/
Plano Amazônia Sustentável: Diretrizes para o desenvolvimento sustentá- index.php/amazonica!
vel da Amazônia brasileira. Brasília: MMA . article!view/ 156/229

115
O ranking do desmatamento na Amazônia

Observe os gráficos abaixo e tire suas conclusões.

Desmatamento anual na Amazônia


30.000

25.000
20.000

25.000
10.000
5.000

■ 2001 ■ 2002 ■ 2003 ■ 2004 ■ 2005 ■ 2006 2007 2008 2009 ■ 201 O
Fonte: INPE (2010) - Levantamento do sistema de desmatamento

De acordo com o gráfico, de 2001 a 2004, na Amazônia, observa-


-se um aumento crescente no tamanho da área desmatada. A partir de
2005, verifica-se uma tendência à redução dos índices de desmatamen-
tos. Em 2009, a área florestal desmatada na Amazônia foi de 7.464 qui-
lômetros quadrados, o que representou uma queda de 42% em relação
ao ano anterior. Em 201 O, o desmatamento caiu novamente, apresen-
tando seu número mais baixo nos últimos 20 anos, 6.451 quilômetros
quadrados. Vamos observar como ele ocorreu nos estados.
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Atividade ➔ 1.._~_.
madeireira

u6
Área desmatada nos estados da Amazônia em 1990, 2000 e 2010 (INPE, 2010).

AC 550 547 273


AM 520 612 474
AP 250
MA 1100 1065 679
MT 4020 6369 828
PA 4890 6671 3.710
RO 1670 2465 427
RR 150 253
TO 580 244 60
Amazônia 13. 730 18. 226 6.451

Você observou na tabela que os estados do Pará e Mato Grosso


são aqueles que apresentam maior extensão de área desmatada.
A expansão do desmatamento teve inicio com a pecuária e ga-
nhou força com a introdução da soja. No estado do Mato Grosso, por
exemplo, as fazendas de soja empurram a pecuária para outras áre-
as, continuando a desmatar lugares ainda florestados.

~ Rondonópolis (MT)
- Colheita de soja em
fazenda localizada
no município mato-
grossense, um dos
principais polos
produtivos do país.
Na década de 90,
a cidade chegou
a ser denomidada
capital nacional do
agro negócio

117
A atividade madeireira
A extração de madeiras na Amazônia é uma atividade antiga. A
retirada de madeira até a década de 1960 era feita nas áreas de vár-
zeas e transportadas pelos rios Pará, Tocantins e Amazonas.

Mercado de Madeira Processada no Estado do Pará (1998)

Exterior

Centro -oes e

- Transporte fluvial e marítimo

- Transporte rodoviário

27%
24%
16%

- -
11% 9% 7% 6%
1111
Nordeste Exterior Sudeste São Paulo Sul Pará Centro-oeste

Fonte: lmazon, Polos Madeireiros no Estado do Pará, 2002

Com a construção de rodovias, houve um aumento da explora-


ção porque as estradas facilitaram o escoamento da produção para
atender ao mercado interno e externo. No mapa acima, você pode
observar o que acontece com a madeira produzida no estado do Pará.

n8
Observe que grande parte da produção da madeira do estado do
Pará atende ao mercado brasileiro, de modo que apenas 24% é ex-
portada. Dentre as espécies mais exploradas, estão o ipê (Tabebuia
sp), o cedro (Cedrela odorata), o freijó (Cordia sp), a maçarandu-
ba (Manilakara sp), o angelim pedra (Hymenolobium sp), o angelim
vermelho (Dionizia excelsa), o jatobá (Hymenaea sp), o louro (Nec-
tandra sp) , a muiracatiara (Astronium sp), o tauari (Couratari sp),
a faveira (Pterodon sp), o cumaru (Dipteryx sp), o piquiá (Caryocar
sp), o tatajuba (Bagassa guianensis) e o marupá (Simaruba amara).


Angelim pedra •
Angelim vermelho •
Jatobá

A consequência da exploração florestal sem manejo é o dese-


quilíbrio ecológico. Como há gradativa perda do recurso florestal,
os madeireiros migram do leste e sul do Pará (veja o mapa do arco
do desmatamento) para regiões ainda florestadas. Deixam para trás
paisagens desoladoras, como esta que você vê na foto:
"'a:,
<(

~ Área de desmatamento
na fazenda Nossa
Senhora Aparecida em
Goianésia (PA)

119
A exploração mineral
Cassiterita:
Minério de estanho, A atividade de extração mineral ou mineração foi uma das estra-
muito utilizado na tégias governamentais utilizada para incentivar a ocupação da Ama-
fabricação de latas zônia. Foi iniciada na década de 1950, com a exploração da Serra
de óleo.
do Navio, no Amapá, rica em manganês. Para escoar a produção do
Bauxita: Minério minério, foram construidos a ferrovia e o porto de Santana. Costu-
de alumínio, muito ma-se dizer que a serra não está mais lá, pois se tornou uma outra
utilizado no nosso paisagem.
cotidiano, como em
latinhas, janelas, A atividade de exploração mineral foi intensificada nos anos de
portas, entre outros 1970, com a exploração da cassiterita , bauxita e hematita .
produtos.
Para a exploração mineral, também é necessário retirar a ve-
Hematita: Minério
de ferro, utilizado getação que está sobre o solo. As empresas mineradoras recebem
em várias indústrias uma autorização para essa exploração. O nome dessa autorização é
de construção civil. licenciamento ambiental. Nele, está escrito que, após a exploração
dos minérios, as empresas devem recuperar as áreas que foram de-
gradadas.
Será que a paisagem se recompõe como antes?
Porém, o grande problema está com os garimpas clandestinos.
Eles retiram toda a vegetação e abandonam a área após a explora-
ção. As grandes crateras no solo são as marcas deixadas onde funcio-
navam os garimpas, como mostra a fotografia em seguida.

Garimpo clandestino ~
de ouro em Centro
Guilherme, no estado
do Maranhão

Centro Guilherme (MA)


Operação Arco de fogo aplica RS 31, 3 Base da operação
"Arco de Fogo",
milhões em multas em três estados Tailândia (PA)

Folha OnUne - 02/04/2008

A Operação Arco de Fogo, de combate à extração


e venda clandestina de madeira na Amazônia Legal, já
aplicou RS 31 ,3 milhões em multas e apreendeu 25,8 mil
m 3 de madeira em tora e serrada no Pará, Mato Grosso e
Rondônia, onde está sendo realizada a ação integrada das
forças federais desde o inicio de fevereiro.
Segundo o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Am-
biente e dos Recursos Naturais Renováveis), a maioria Base da operação "Arco
das multas foi aplicada em madeireiras por depósito ou de Fogo", Machadinho
venda de matéria-prima sem licença. Além das multas, a D'Oeste (RO)
Policia Federal prendeu 11 pessoas, instaurou 40 termos
circunstanciados de ocorrência e abriu 15 inquéritos.
Diferente de ações anteriores, quando o autuado fi-
cava como fiel depositário da madeira ilegal, instituições
estaduais estão retirando o produto florestal apreendi-
do dos pátios das serrarias. No Pará, o governo do Es-
tado transportou para um depósito localizado na região
metropolitana de Belém mais de 23 mil m 3 de madeira.
Em Rondônia, as prefeituras de Ariquemes e Machadinha
D'Oeste recolhem a madeira que será doada a institui- Base da operação "Arco de
ções sociais. Fogo", Sinop (MT)

Operação Base da operação


"Arco de Fogo",
As ações da "Arco de Fogo" têm como base as cidades Alta Floresta (MT)
de Tailândi a (PA), Machadinha D'Oeste (RO), Sinop e Alta
Floresta (MT). Nesses três municipios e em áreas vizinhas
foram fiscalizadas 56 empresas, além de propriedades
particulares. Dessas, 38 foram fechadas por irregularida-
des. Quatro serrarias clandestinas foram desmontadas.
Mais de 1.000 fornos foram destruidos. Entre os bens
apreendidos encontram-se 34 veiculas utilizados na práti-
ca do crime ambiental, 27 motosserras, quatro armas e 44
equipament os empregados no beneficiamento de madeira.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.brlfolhalbrasWul-
t96u388274.shtml, (adaptado).

121
As queimadas e os incêndios florestais no Brasil
atigem, anualmente, grandes áreas. São mais de 300 mil fo-
Queimada:
Não é sinônimo
de incêndio. A
queimada é uma
cos de queimadas por ano. As queimadas constituem-se em
tecnologia agrícola,
prática agrícola usual, utilizadas para o controle de pragas, praticada há
para a limpeza de áreas para plantio, para a renovação de milhares de anos
pastagens e para a colheita da cana-de-açúcar. pelos indígenas
brasileiros (coivara ),
A maior parte desses focos de queimadas ocorre na incorporada à
Amazônia, responsável por cerca de 85% dessa prática prática agrícola
agricola no país. Se, por um lado, essa prática favorece dos povoadores
portugueses do
os agricultores, por outro, provoca impactos negativos ao século XVI e também
meio ambiente. pelos agricultores
italianos, alemães,
poloneses, japoneses,
entre outros que
migraram para o
Brasil, a partir do
final do século XIX e
início do XX.

Fonte: http://
queimadas.
cptec. inpe.
br!-rqueimadas!
material3os!
embrapa_
comunicatecnico_
am2005.pdf

~ Focos perto de Porto


Velho, Rondônia,
capturados pelo
satélite Aqua
,t
Coivara: preparação
O fogo é muito utilizado na agricultura brasileira. Na pecuária, da terra para
para limpar o terreno e renovar a pastagem, a queimada é uma prá- agricultura e
tica comum. Os agricultores e os criadores de gado, ao usar o fogo, pecuária
buscam a eliminação de plantas daninhas e acreditam que novas
plantas que nasceram depois serão mais fortes porque são alimen-
tadas pelos nutrientes do solo, liberados pelo fogo. Eles estão par- Plantas daninhas:
cialmente corretos, já que, à primeira vista, as plantas que nascem São plantas que
crescem onde não
após o fogo surgem com mais força e melhor aparência do que as
são desejadas.
existentes inicialmente.
Ao contrário dos incêndios, as queimadas agricolas atingem pe-
quenas áreas. O agricultor, na maioria das vezes, controla a área
atingida do começo ao fim. Eles utilizam o fogo como uma técnica
agricola, desde o preparo da terra até a colheita. Seus danos am-
bientais são limitados. Entretanto, ao longo dos anos, essa prática
provoca degradação tisico-química e biológica do solo e traz prejuí-
zos ao meio ambiente.

123
A prática de queimadas está relacionada ao desmatamento na
Amazônia. Quando o fogo entra na floresta, ele mata as árvores. As
espécies atingidas servem de combustível para que o fogo continue.
O sub-bosque da floresta resseca e o risco de outras queimadas au-
menta de forma considerável.
Nas florestas da Amazônia, o fogo se espalha como uma linha de
chamas em movimento lento no sub-bosque. Depois de várias quei-
madas, a área fica devastada a ponto de aparecer como desmata-
mento nas imagens de satélite que você viu na página 122.

Fogo ➔
penetrando
na floresta

ElNino: É um
f enômeno atmosférico-
oceânico caracterizado
por um aquecimento
anormal das águas
superficiais no Oceano
Pacífico Tropical, pode São considerados incêndios os eventos que não foram planeja-
afetar o clima regional dos e, se comparados às queimadas, estão em menor número. No
e global, mudando caso dos incêndios, o fogo fica fora de controle e, geralmente, nin-
os padrões de vento guém quer se responsabilizar pelo incidente. Pode ser que um incên-
em nível mundial e
afetando, assim, os dio ocorra de forma acidental ou criminosa. Quando atinge grandes
regimes de chuva em áreas, causa prejuízos ao ambiente.
regiões tropicais e
de latitudes médias. Nos períodos de seca na Amazônia, quando há influência do El
No setor leste da Nino, é possível que um agricultor perca o controle da área que
Amazônia e na região está sendo queimada e provoque um incêndio. Por isso, o contro-
Nordeste, ocorre le do fogo e a diminuição das queimadas merecem uma atenção
uma diminuição nas
chuvas. especial. A poluição do ar, os problemas de saúde da população e
a destruição da rede elétrica são alguns dos prejuízos provocados
pelo fogo fora de controle.
Observe os mapas realizados pelo CPTEC/INPE sobre as queimadas
CPTEC: Significa
na Amazônia entre os anos de 2004 e 2005. Perceba que a área coincide
Centro de Previsão
também com o que você aprendeu sobre o Arco do Desmatamento. do Tempo e Estudos
Climático.
Nos mapas, a cor verde representa as áreas onde houve redução
nas queimadas na comparação entre os mesmos períodos de 2004 e INPE: Instituto
2005. A cor branca representa as áreas onde o número de queimadas Nacional de Pesquisas
Espaciais. ·
manteve-se igual entre 2004 e 2005 . Segundo os dados da pesquisa,
na maioria das vezes, as áreas em branco são locais onde não exis-
tem atividades humanas e o número de queimadas é nulo.

As cores amarela e vermelha são as áreas onde o número de


queimadas aumentou.

Segundo essa pesquisa, em termos de área, na maior parte do


estado do Pará, houve redução nas queimadas. Porém, alguns mu-
nicípios como São Félix do Xingu, Marabá, Tucumã, Novo Reparti-
mento, Eldorado dos Carajás, ltupiranga, São Domingos do Araguaia,
São José do Araguaia e partes de Santana do Araguaia apresentaram
aumento expressivo no número de pontos de queimada.
AMAZÔNIA LEGAL -2004 AMAZÔNIA LEGAL -2005

Legendas
D Nenhum D Nenhum
1-5 . ........ pontos 1·5 .. .... ... pontos
6-14 .. . .. .. pontos 6-14 ....... pontos
■ 15-32 ....... pontos Autorn: Evorlsto Eduardo df' Mirando
■ 15· 32 .... ... pontos
11.utwl!'s:EvorisroEduardodl!Mlranda
■ 33 -219 .. ... pontos OsvoldoTadatomoOshiro ■ 33-134 .. ... pontos OsvolOOTodotomoOshfro

Pontos de queimadas observados em 2004 e 2005 na Amazônia


Fonte : CPTEC / INPE,2006.

AMAZÔNIA LEGAL
Evolução das Quei madas entre 2004 e 2005

• Mapa de evolução
das queimadas
entre 2004 e 2005
na Amazônia.
Elaborado pelo
CPTECIINPE
e publicado em
http://queimadas.
cptec. inpe.
Legendas
■ ·185-·1 .. pontos (21,26% das quadriculadas)
br/-rqueimadasl
D Nenhum .... .. ... (57,67% das quadriculadas) material3os/
1-5 . .. . .. pontos (11,43 das quadriculadas)
6-14 .. .. pontos (6,03% das quadriculadas) embrapa_
■ 15-32 .. .. pontos (2,92% das quadriculadas)
■ 33-1 12 .. pontos (0,68% das quadriculadas)
comunicatecnico
Antores,EvoriuoEduardo~Miranda
OsvaldoTodotomoOshiro
am2005.pdf

125
Alternativa para o agricultor: a queimada controlada

Como muitos agricultores dependem da queima da cobertura


vegetal para produção, a prática da queimada controlada pode im-
pedir os riscos como incêndios, se ela for realizada corretamente.
Depois de eliminar a matéria seca dos desmatamentos, ou o
excesso de plantas daninhas das pastagens nativas e das áreas culti-
vadas , a queimada orientada também serve como uma barreira para
evitar os incêndios naturais ou os provocados pelo ser humano.
Observe na figura como ela é planejada.

Técnica para evitar ➔


que o fogo
ultrapasse o aceiro

..,
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...;
·,.
-4

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--:
'"
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~
e
~
(3
Aceiros: São faixas, {l
.,,.
ao longo das cercas ou ~

divisas, cuja vegetação ~


foi completamente {
removida da superfície Após definir a área que será queimada, o agricultor a isola com ~
e
do solo, com grade a construção de aceiros , que impedem o fogo de se alastrar. "-
,g
..,.
ou lâmina acoplada "6
e
a um trator, ou com
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UJ
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ferramentas manuais, ~

com a finalidade de ....ôu-


prevenir a passagem ...
u
z
do fogo e a ocorrência :::,
::E
o
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de incêndios UJ

indesejáveis. ...eõ:
~UJ
V,

Construção
de aceiro

A partir da leitura do texto, dos mapas e das tabelas, quais são


as conclusões que você tira sobre as queimadas? Anote suas observa-
ções e discuta com os colegas.

126
Impactos ambientais: desmatamentos e
queimadas

Foco de atenção do mundo todo, o desmatamento das florestas


da Amazônia é um dos agentes responsáveis pelas grandes mudanças
da paisagem da região. Segundo dados do Instituto Nacional de Pes-
quisas da Amazônia (INPA), até o fim da li Guerra Mundial, a presença
humana no meio ambiente quase não trouxe modificações à cobertu-
ra vegetal nat ural da Amazônia. Um novo período foi iniciado, contu-
do, com as políticas - principalmente no Brasil - visando a expansão
das frontei ras agrícolas e o assentamento de imigrantes, oriundos de
regiões densamente povoadas e/ou carentes.

Atualmente, diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o


objetivo de analisar os impactos que a ação humana vem causando
no funcionamento e na biodiversidade dessas florestas.

As atividades agropecuária e madeireira, realizadas principal-


mente nos últimos trinta anos, são responsáveis por grande parte dos
desmatamentos ocorridos nessas florestas. De acordo com o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), já foram devastados cerca de
550 mil quilômetros quadrados da floresta amazônica brasileira, o
que equivale a 13,7% da mata. Desse total, 200 mil quilômetros fo-
ram abandonados pelos exploradores assim que os recursos naturais
se esgotaram .

As queimadas são ainda responsáveis pela emissão significativa


de gases que causam o efeito estufa, como o gás carbônico (CO2).
Por outro lado, as plantas retiram esse gás da atmosfera , utilizando-
-o para seu crescimento. O problema é que, atualmente, as quei-
madas produzem muito mais gás carbônico do que as plantas podem
absorver.
Pesquisas recentes indicam que uma floresta queimada , tem
probabilidade muito maior de pegar fogo novamente. A segunda
queimada é sempre mais intensa e a mortalidade das árvores é mui -
to maior. O fogo que queima pela segunda vez é alimentado pela
material seco resultante da primeira queimada. Este fogo é aproxi-
madamente duas vezes mais alto, duas vezes mais largo e mais vul-
nerável a novos incêndios. Outro grande impacto das queimadas nas
florestas é o da extinção de espécies nativas, com grandes prejuízos
à biodiversidade.
Fonte: http://www. comciencia .br/reportagens/ amazonialamaz 14.htm
(adaptado)

127
N os capítulos anteriores desta unidade, você conheceu a
história do desmatamento na Amazônia e verificou que os fatores que
provocam a devastação da vegetação estão relacionados às ativida-
des econômicas que buscam o lucro a partir da exploração dos recur-
sos naturais, como o uso do solo para monoculturas, a exploração do
subsolo, a exploração da madeira e o uso indevido da água.
Neste capítulo, você compreenderá os impactos provocados
pelo desmatamento. Eles são de ordem ambiental e social. Observe
a imagem e reflita.

O desmatamento
prejudica a vida animal
e o regime de rios e
lagos dificultando a
vida na região
t
A retirada da vegetação ou a supressão da vegetação provoca
impactos sobre a dinâmica natural das paisagens. Podem ser relacio-
nados com os impactos do desmatamento os seguintes casos:
Perda da biodiversidade

O que você entende por biodiversidade?

A biodiversidade refere-se à variedade de vida no planeta Terra, Biodiversidade (ou


à variedade de espécies da flora e da fauna, de fungos macroscópicos diversidade biológica):
É a diversidade
e de microorganismos, à variedade de funções ecológicas desempe-
da natureza viva.
nhadas pelos organismos nos ecossistemas e à variedade de comuni- No século XX, a
dades, habitats e ecossistemas em conjunto. preocupação com a
extinção de espécies
A devastação das florestas tropicais reduz a biodiversidade da Ter- e com a degradação
ra. O desmatamento da Mata Atlântica, por exemplo, ocasionou o em- do meio ambiente
pobrecimento da flora e da fauna nos fragmentos florestais que ainda levou ao uso mais
frequente do conceito
permanecem, principalmente, entre as espécies que são endêmicas.
de biodiversidade
entre os governos e a
Na Amazônia, a riqueza da flora compreende aproximadamente
sociedade civil.
30.000 espécies, cerca de 10% das plantas de todo o planeta. São
cerca de 5.000 espécies arbóreas. A diversidade de árvores varia en-
tre 40 e 300 espécies diferentes por hectare. O desmatamento colo-
ca em risco essa riqueza, uma vez que as espécies precisam de condi-
ções ambientais específicas para seu desenvolvimento. A redução da
vegetação implica a redução das espécies animais: mamiferos, anfí-
bios, répteis, insetos, aves e peixes que tem na floresta seu habitat.

Uacari-branco ~
(Cacajao calvus):
Espécie de
macaco com uma
distribuição muito
restrita em torno
dos rios Solimões,
Japurá e o Auati-
Paraná, no norte
da Amazônia
brasileira, limitado
pelas .florestas de
águas brancas
preservadas e
sazanalmente
inundadas (várzeas).
É conhecido no
Brasil somente na
região do Estirão do
Equador (margem
direita do rio
Javari), até o rio
Ucayali, e ao sul,
até o rio Urubamba.
Regime hidrológico
Mudanças no regime hidrológico
(ou regime fluvial): É
a variação das águas
Você se recorda do conceito de bacia hidrográfica foi apresentado
de um rio durante um no capitulo 4? Então, você deve saber que o desmatamento também
ano. O escoamento interfere na dinâmica das bacias hidrográficas amazônicas.
das águas depende
do clima. Por isso, Quando a floresta é substituida por pastagens, a água que deve-
existem rios de regime ria se infiltrar para alimentar o lençol freático escorre rapidamente
nival, aqueles que pela superficie formando as enxurradas. O impacto da água sobre
recebem água devido
o solo dá inicio à erosão, por exemplo, ao ravinameto. A redução
ao derretimento das
neves, e rios de regime da floresta e da quantidade de água do lençol freático interfere na
p luvial, que são quantidade da umidade do ar, ou seja, na água em estado de vapor
alimentados pela água presente na atmosfera .
das chuvas.

1 Precipitação
"'
a:,
<
N
:::,
"'u
o
z
~
z
<

Anapu (PA) -Área ➔


desmaiada da
floresta amazônica às
margens da rodovia
Transamazônica

Os rios são alimentados pela chuva, pela neve, ou ainda pelos


dois, como é o caso da bacia hidrográfica do rio Amazonas.
A chuva é formada a partir da condensação do vapor, estado que
a água adquire com seu aqueci mento, como mostra a figura. Parte
da água presente na superficie da Terra, presente nos rios, lagos e
plantas, é aquecida pela energia solar e transformada em vapor. A
floresta amazônica tem grande contribuição na umidade do ar dentro
da á,rea da própria bacia hidrográfica e também influencia a umidade
de outras regiões , como na região Centro-sul.
A devastação da floresta reduz gradativamente sua contribuição
na composição da umidade do ar, o que afeta o volume de água dos
rios. Muitos rios são utilizados para produção de energia elétrica. A
redução das chuvas reduz também o volume de água de que depen-
dem as hidrelétricas.
Você percebeu quantos elementos estão relacionados à manu-
tenção do regime hidrológico?
Emissões de gases de efeito estufa Dióxido de carbono:
É um gás importante
A quei ma dos combustíveis fósseis e os incêndios que destroem para o reino vegetal,
as florestas tropicais, como a floresta amazônica, influenciam na li - pois é essencial
beração de gases de efeito estufa. na realização
do processo de
O dióxido de carbono, quando lançado na atmosfera, bloqueia fotossíntese das
a passagem da radiação infravermelha terrestre . Em função disso, plantas (processo
há na atmosfera um aumento da temperatura média da Terra . Esse pelo qual as plantas
transformam a
fenômeno é chamado de efeito estufa. A grande quantidade de dió-
energia solar em
xido de carbono na atmosfera é prejudicial ao planeta, pois ocasiona energia química).
o efeito est ufa e, por consequência, o aquecimento da atmosfera. Esse gás é liberado
no processo de
respiração (na
O planeta Terra sofre expiração) dos seres
com a poluição dos humanos e também
seres humanos na queima dos
combustíveis fósseis
(gasolina, diesel,
querosene, carvão
mineral e vegetal).

131
Perda de produtividade

Ao retirar, sucessivamente, a vegetação que cobre a Amazô-


nia outra situação é observada: a erosão, a compactação do solo e
a exaustão dos nutrientes.

Como consequência desses processos, o solo perde qualidade


e a produtividade da agricultura também diminui.

Erosão do solo em ➔
propriedade rural
no estado do Mato
Grosso

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"ao~
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iu
--l
{l
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O manejo florestal é uma alternativa para preservação da flores- "
""i;

ta e do solo. Com o manejo, a porção da floresta onde as árvores são ~"


<:)

extraidas é dividida em vários pedaços, conforme o tamanho da área. ~


(l
Nesses pedaços, chamados de talhões, há o corte de árvores um pe- -8
.,,.
riodo por ano. Cada talhão fica um periodo de 25 anos em descanso . ~
'i::
Durante esse tempo, a vegetação tem oportunidade de se reconstituir. ":
.g

t
<:)

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1'"e'
z
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~ "'
z
n
o
e
=l

Etapas do manejo ➔
florestal:
1) floresta,
2) seleção da árvore
para o corte,
3) transporte de
madeira,
4) replantio

132
O que é Código Florestal?
Pode não parecer, mas o Código Florestal tem a ver com a qua-
lidade de vida de todos os brasileiros. Desde 1934, quando surgiu, o
Código parte do pressuposto de que a conservação das florestas e dos
outros ecossistemas naturais interessa a toda a sociedade. Afinal, são
elas que garantem, para todos nós, serviços ambientais básicos - como
a produção de água, a regulação do ciclo das chuvas e dos recursos
hidricos, a proteção da biodiversidade, a polinização, o controle de
pragas, o controle do assoreamento dos rios e o equilibrio do clima
- que sustentam a vida e a economia de todo o pais. Além de tudo
isso, é a única lei nacional que veta a ocupação urbana ou agricola de
áreas de risco sujeitas, por exemplo, a inundações e deslizamentos
de terra.
É o código que determina a obrigação de se preservar áreas
sensiveis e de se manter uma parcela da vegetação nativa no interior
das propriedades rurais.
São as chamadas áreas de preservação permanente (APPs) e re-
serva legal.
Fonte : http://www.agb.org.brldocumentoslcartUha CF20012011.pdf

Senado aprova Código Florestal que


prevê anistia para desm_a tadores

Com 26 emendas acatadas pelo relator e 60 rejeitadas, a vo-


tação do novo Código Florestal foi concluida no fim da noite desta
terça-feira pelo Senado. O relator, senador Jorge Viana (PT-AC), aco-
lheu 20 emendas de mérito e seis de redação que mudam pouco os
contornos gerais do texto que ele defendeu em plenário.
O novo Código Florestal anistia as multas do produtor rural que
desmatou áreas de preservação (APP) até julho de 2008 e traça os
limites entre a preservação de vegetação nativa e as diversas ativi-
dades econômicas, tanto no campo quanto nas cidades, volta agora
à Câmara dos Deputados, que deve deliberar sobre a matéria até o
fim do ano.
Fonte: http://correiodobrasil.com .brlsenado-aprova-codigo-florestal-
-que-preve-anistia-pa ra-desma ta dores/ 3390251

133
-

O desmatamento na Amazônia é histórico e tem


início com a ocupação da região, sendo explicado por di-
Agronegócio: O
termo é usado quando
se refere a um tipo
especial de produção
versos fatores. Podemos citar como exemplo: as politicas agrícola, caracterizada
pela agricultura em
de colonização que, a pretexto da resolução de tensões
grande escala, baseada
sociais em outras regiões, estimularam intensa migração no plantation ou na
para muitos estados amazônicos. Os conflitos pela posse criação de rebanhos e
da terra e a pressão para a reforma agrária envolvem cam- em grandes extensões
poneses de um lado e fazendeiros de outro. Mais recente- de terra. Esses
negócios, via de regra,
mente, juntaram-se a esses fatores a pecuária, a explora- se fundamentam
ção da madeira e o agronegócio. Desse último, decorrem na propriedade
as obras de infraestrutura relacionadas à abertura de ro- latifundiária bem
dovias, hidrovias e portos para escoamento da produção, como na prática de
por exemplo. arrendamentos.

Nem pensar!
Estas terras são Conversa entre grileiro
minhas e tenho as e posseiro
documentações
"originais"
"'
co
«

Todos esses fatores que envol-


vem os vários atores sociais refle-
tem negativamente nas populações
locais que dependem da floresta e
da terra para viver. Neste capítulo,
você terá contato com as conse-
quências sociais do desmatamento.
O processo de desmatamen-
to, normalmente, começa com a
abertura de estradas que podem
ser oficiais ou clandestinas. Essas
estradas permitem a ocupação por
populações que se deslocam de um
mesmo estado ou de outros estados Estrada clandestina
e regiões, que transformam a floresta em agricultura e pastagem. na região
Muitas dessas pessoas são pequenos agricultores; outras representam amazônica
os grandes proprietários que estabelecem latifúndios monocultores.
Na apropriação de terras na Amazônia, estão presentes alguns Terras devolutas:
elementos que você precisa conhecer! São aquelas que
não são registradas
Um deles é a especulação de terras, também chamada de espe- como propriedade
culação imobiliária. Trata-se de um processo pelo qual alguém adquire particular. Por
grandes quantidades de terras, algumas delas devolutas. Ele aguarda determinação
Constitucional,
sua valorização para vendê-las por um preço maior do que ele com- fazem parte do
prou. Quanto mais próxima das regiões mais produtivas, maior será patrimônio da
o preço da terra. Esse personagem recebe o nome de grileiro, que é União.
aquele que falsifica títulos de propriedade para vendê-las.
Grilagem: O
Para o geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, na Amazônia, nome surgiu da
técnica utilizada
há a chamada grilagem "legal", feita pelos latifundiários para obter
pelos falsificadores.
extensões de terras maiores do que a área prevista na Constituição A técnica de
Federal. envelhecimento,
que consiste em
colocar documentos
falsificados dentro
de uma gaveta com
~ Antigo processo grilos,faz com que
utilizado para o documento fique
envelhecimento amarelado devido
de documentos aos excrementos
e ao roído dos
insetos, dando
mais veracidade ao
documento.

Constituição
Federal (1988):
Estabelece que cada
proprietário pode ter,
no máximo, 2.500
ha de terras.

135
Na grilagem "legal" é utilizada a técnica da procuração, onde
Procurador: É aquela
pessoa responsável por o latifundiário consegue um procurador para representar várias fa-
representar legalmente milias. De posse das assinaturas das familias, o procurador reúne
outra pessoa, como, outros documentos, como declarações falsas de que naquelas terras
por exemplo, um
advogado que não existem posseiros nem povos indígenas. Tudo isso para entrar
representa um cliente com pedido de aquisição de terras nos Institutos de Terras dos esta-
em ações judiciais. dos. No Pará, esse instituto é o ITERPA .


ITERPA, Instituto
de Terras do Pará,
A partir daí, são emitidos pelo órgão público os títulos de pro-
priedade da terra para todas as famílias representadas pelo pro-
sede em Belém-PA curador. Sendo muitas vezes o próprio latifundiário, ele se torna o
proprietário de todas as terras. Esse processo é responsável pela con-
centração de terras na Amazônia.
A especulação da terra é o principal motor do desmatamento
da floresta amazônica. A pessoa que adquire ou ocupa um pedaço
de terra a vê como um grande investimento econômico, cujo valor
é maior se ela estiver desmatada. A floresta é explorada e transfor-
mada ora em agricultura familiar, ora em pastagens para a criação
extensiva de gado nas grandes propriedades .
Com o tempo, as áreas de pastagens sofrem rápida degradação
pelo pisoteio do gado que compacta o solo, diminuindo a reprodução
do pasto que alimenta o gado. Muitas áreas cedem lugar à agricul-
tura mecanizada, principalmente àquela ligada às culturas de soja
e algodão.
136
Constitufdas as propriedades rurais, o desmatamento é condu-
zido de forma diferente entre partes diferentes da região, variando
ao longo do tempo. Veja o que diz o pesquisador Philip Fearnside, do
Instituto de Pesquisa da Amazônia (INPA):
"Os atores e as forças que conduzem ao desmatamento variam
entre partes diferentes da região, e variam ao longo do tempo. Em
geral, os grandes e médios fazendeiros respondem pela grande maioria
da atividade do desmatamento, mas os pequenos agricultores podem
atuar como forças importantes nos lugares onde estão concentrados.
Em Mato Grosso, grandes plantações de soja têm se alastrado em dire-
ção ao norte a partir da área de cerrado. A parte norte do Mato Grosso
e muito das partes sul e leste do Pará são dominadas por grandes fa-
zendas de pecuária. Em partes do Pará (tais como focos de desmata-
mento em Novo Repartimento) pequenos agricultores representam a
força principal. Em Rondônia e ao longo da rodovia Transamazônica no
Pará e no Amazonas, pequenos agricultores são agentes importantes.
O mero anúncio de projetos de construção e de melhoria de rodovias
leva a uma corrida especulativa de terra, com 'grileiros' (grandes pre-
tendentes ilegais de terra) frequentemente tomando posse de áreas
extensas em antecipação de lucros oriundos do rápido aumento do pre-
ço da terra, uma vez que a rodovia esteja completa"
Posseiro: É o
A especulação de terra trouxe sérios problemas e conflitos vio- pequeno agricultor,
lentos entre as populações indfgenas, posseiros, extrativistas e lati- pobre, que ocupa
fundiários. terras abandonadas.
Com o tempo de
As terras que pertenciam às populações tradicionais foram, ao permanência na terra,
longo da história do Brasil, ocupadas de forma ilegal e violenta. pode reclamar a posse
A demarcação de terras indfgenas e de reservas extrativistas (RE- definitiva. É a Lei do
Usucapião.
SEX) são tentativas de garantir o direito à terra desses povos. No
entanto, elas também são constantemente ameaçadas, resultando
em assassinatos encomendados, como, por exemplo, o ocorrido em
Nova lpixuna-PA, em 2011 .
...
oL,,J

°'°'o ◄ O casal de líderes


u
o extrativistas José
°'oz Claudio Ribeiro da
~ Silva e Maria do
Espírito Santo da
Silva foi executado
na cidade de Nova
Ipixuna, no sudeste
do Pará, cidade a
390 quilômetros de
Belém

No próximo livro, do 8° ano, serão tratadas as questões agrárias


e os conflitos no campo. Até lá!

137
Grileiros invadem e ameaçam indios no
sul do Amazonas e FUNAI pede Força de
Segurança

A pressão de invasores e grileiros na Terra lndigena (TI) do povo


tenharim, no sul do Amazonas, vem aumentando nos últimos dois anos
e se agravou mais ainda nas últimas semanas. As ameaças contra a vida
dos indigenas também passaram a ser frequentes e deixaram se der
veladas.

A denúncia é de um servidor do posto da coordenação regional do


Madeira da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) localizado no munici-
pio de Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus), que na semana passada
também sofreu ameaças de madeireiros residentes no distrito de Santo
Antônio do Matupi, em Manicoré (a 332 quilômetros de Manaus), vizi-
nha de Humaitá. O servidor está orientado pela FUNAI a não se identi-
ficar por medida de segurança.
Vulneráveis - Na semana passada, o servidor junto com outros
funcionários da FUNAI, identificou dois quilômetros de terra desmata-
da na Gleba B e Sepoti, uma das quatro áreas que compõem a TI dos
indios tenharim. Dentro da TI Tenharim também foi encontrado um
acampamento contendo vários maquinários, como trator, motosserras,
além de armas, automóveis e motos.
A terra indigena dos Tenharim é homologada pela FUNAI e está
localizada em uma das áreas de maior pressão por parte de grileiros do
sul do Amazonas. Seus 1.309 hectares são praticamente cercados por
áreas da União invadidas.

As duas áreas mais vulneráveis são justamente a Gleba B e a Sa-


poti, onde vivem os indigenas constantemente ameaçados, segundo o
funcionário da FUNAI. As outras duas áreas são Igarapé-Preto e Tenha-
rim-Marcelo. A população de indios tenharim é de 2,5 mil pessoas.
Conforme Maria Lucio Reis, superintendente do IBAMA, apenas
uma pessoa foi autuada como autora do desmatamento. Ele disse
ainda que não há relatos por parte do IBAMA em Humaitá de que te-
nha ocorrido conflitos entre funcionários do órgão e os madeireiros.
(Fonte: A criticai AM)
Fonte:http://noticias.ambientebrasU.com.brlclipping/2011 /08117/73504-
-grileiros-invadem-e-ameacam-indios-no-sul-do-amazonas-e-funai-pede-forca-
-de-seguranca-16082011.html, acessado em 19 de novembro de 2011, adaptado.

138
Agora vamos refletir sobre o
que aprendemos nesta unidade,
respondendo as questões abaixo.
1- O que é o Arco do Desmatamento? Quais são os estados da Ama-
zônia Legal que estão envolvidos?

2- Quais são as atividades econômicas que causam a devastação da


vegetação na Amazônia?

3- Analisando o gráfico do capitulo 7, qual é a tendência da área


desmatada no periodo de 2005 a 201 O?

4- Explique a diferença entre queimada e incêndio florestal.

5- Quais são as informações que trazem os mapas de evolução de


queimadas da Amazônia Legal, na página 125?

6- O que é a técnica de queimada controlada?

7- Quais são as causas e as consequências do desm~tamento na Ama-


zônia? -

8- Quais são os principais motivos da especulação de terras na Ama-


zônia? Como isso está relacionado às práticas de desmatamento?

SAIBA MAIS
LEITURA O desafio amazônico, de Samuel Murgel Branco

Neste livro, o autor mostra detalhes sobre fatores fisicos da Amazônia


e como a sociedade tem provocado a devastação de extensas áreas pelo
desmatamento, exploração de minérios, pastagens e extrativismo mal
orientado, com prejuizo para a flora, a fauna e o clima.
SITE
www.sosflorestas.com.br
Amazonia em chamas, de John Frankenheimer, 1994.
FILME
Baseia-se na história de Chico Mendes, seringueiro e
ambientalista que dedicou sua vida a lutar contra a
exploração dos trabalhadores e o desmatamento da
floresta amazônica e foi assassinado por pistoleiros.

139
AB'SABER, Aziz Nacib. Domínios de Natureza no Brasil. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003 .
_ __ . Amazônia: do discurso à práxis. São Paulo: Edusp, 2004.
_ __ . Escritos Ecológicos. São Paulo: Lazuli, 2006.
ADAMS, C. As florestas virgens manejadas. Boi. do Museu Paraense Emílio Goeldi, série Antropologia. Belém, vol. 1O, n. 1, 1994.
ALVES FILHO, Armando; SOUZA JUNIOR, José Alves; BEZERRA NETO, José Maia. Pontos de história da Amazônia. Belém:
Produção Independente, 1999, 1 vol.
BARRETO, Mauro. As sociedades indígenas na Amazônia antes do contato com os europeus. ln : FONTES, Edilza (Org.) Contando
a História do Pará: da conquista à sociedade da borracha (séculos XVI-XIX). Belém: e.motion, 2002 , p. 03-26.
CARDOSO, Alirio Carvalho; CHAMBOULEYRON, Rafael. Fronteiras da cristandade: relatos jesuíticos no Maranhão e no Grão-
-Pará (século VXII). ln: PRIORE, Mary Dei; GOMES, Flávio (Orgs.). Os senhores dos rios: Amazônia, margens e História. Rio de
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CLEMENT, Charles R .. JUNQUEIRA, André B .. Plantas domesticadas, uma história fascinante. ln: Scientific American Brasil.
Especial Amazônia: a floresta e o futuro . Vol. 1. Origens. São Pau)o : Duetto Editorial, 2008, p. 42-49 .
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