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DE AZEVEDO.
Resumo
Introdução
O Brasil, nas primeiras décadas do século XX, apresentava uma vida econômica centrada
na produção agrícola, voltada para exportação e tinha o café como principal produto gerador
de riqueza nacional. De acordo com Caio Prado Jr (1970, p 199):
A economia brasileira estava assim presa num círculo vicioso de que somente
transformações futuras de vulto a poderiam livrar: ela se fundava e hauria suas forças
precisamente naquilo que construía sua fraqueza orgânica, a grande lavoura produtora
de gêneros de exportação. Se era nesta que se baseavam a riqueza e a produtividade
nacionais, era ela também, em última análise, a responsável pelas acanhadas
perspectivas do país. Disfarçava-se momentaneamente esta profunda contradição
graças ao virtual monopólio, de que gozava o Brasil, da produção de um gênero cuja
procura nos mercados internacionais não cessava de se expandir: o café.
processo de produção. Para tanto, era necessário que os trabalhadores tivessem um cabedal
mínimo de conhecimentos aliando-se leituras, cálculos e operações mecânicas, ou seja, era
necessário que fossem escolarizados com uma educação básica emergencial. Nesta exigência,
o Estado foi chamado a ofertar este tipo de educação à classe trabalhadora, que se concentrava
nos grandes centros urbanos. Impulsionada pelo processo de industrialização, a mesma se
deparava com situações precárias de moradia e falta de emprego. Essa precariedade, nas
condições de vida dos trabalhadores refletia-se na própria organização de fluxo do capital.
Para permitir uma contínua expansão do mercado e consumo, circulação e
movimentação de mercadorias, ou seja, para atender as exigências do capitalismo em
expansão, foram feitas medidas de infra-estrutura urbana. O processo de urbanização incluía
implantação do sistema viário urbano, melhorias no sistema de comunicação. Entretanto,
havia outra questão a ser resolvida: o sistema de saneamento básico, que era insuficiente,
sobretudo nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Essas condições permitiam a
proliferação de epidemias gravíssimas. Na tentativa de resolução dessas condições, foram
estabelecidas políticas preventivas e medidas de saneamento e higiene, mas que precisavam
do convencimento da população para se efetivar.
No entanto, o grupo de higienistas aliava as reformas de infra-estrutura a uma nova
consciência de progresso e desenvolvimento, isto é, era necessário convencer a população
para uma nova postura diante da construção de uma nação em desenvolvimento. Para alguns,
as doenças se relacionavam com o atraso cultural e com a pobreza predominante na classe
trabalhadora.
É nesta dinâmica em emergência que a educação adquire uma função voltada para o
desenvolvimento social, tirar o país do atraso cultural e de contribuir com um projeto de
modernização nacional. Incluía-se nesse projeto uma educação voltada para a classe
trabalhadora. É neste projeto que os debates e discursos pedagógicos tornam-se conflituosos e
divergentes, como ocorrem algumas convergências.
Dentre os defensores desse projeto de modernização nacional, destacam-se: Rui
Barbosa, Monteiro Lobato, Osvaldo Cruz e educadores como Fernando de Azevedo, Anísio
Teixeira, Lourenço Filho, Carneiro Leão, entre outros.
Rui Barbosa apresenta um projeto educacional em defesa da escola pública que tem
como referência o modelo educacional norte-americano. O seu projeto está contido nos dois
pareceres sobre educação: A reforma do ensino secundário e superior (1882), e A reforma do
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da escola nova era justamente o de recrutar, selecionar e preparar as elites para as mais
diversas esferas de atuação social.”
Neste sentido, não se tratava de reproduzir o ideário cultural das elites existentes e
menos ainda de buscar uma conciliação de interesses deste grupo, ao contrário, sua concepção
é a de superação de uma cultura hegemônica, centrada nos interesses da elite dirigente, para a
inclusão de todas as camadas sociais. E um dos meios mais eficientes para a realização era a
organização de um sistema de ensino que contemplasse todas as etapas da vida dos cidadãos,
desde o contato inicial com a cultura organizada e sistematizada, até a construção de outra
cultura por meio de estudos rigorosos e científicos, voltados para a compreensão da sociedade
em sua totalidade. O autor entendia que as ciências sociais cumpririam esse papel. É nesta
compreensão que o autor pensa um modelo de universidade, que não se prendesse apenas à
formação de quadros profissionais, mas também de quadros dirigentes.
Para evitar que a universidade seja reflexo apenas, em vez de agente de mudança,
cumpre ressaltar a importância da liberdade na vida universitária. Processo de
transmissão de símbolos, valores e representações, a educação consiste em uma
transferência de cultura; não é, entretanto, processo que se realiza mecanicamente,
mas, vivo e dinâmico, é feito através de resistências e conflitos, por meio dos quais as
gerações novas sofrem a ação das gerações adultas e reagem sobre elas, podendo ter
ação renovadora, que não fica sem efeitos sobre o processo das transformações
econômicas e sociais ( AZEVEDO, 1960, p. 99).
necessário que ela mesma tivesse uma autonomia, e se essa autonomia não fosse possível nas
etapas iniciais de escolaridade e ensino secundário, no ensino superior se tornava quase que
uma obrigatoriedade, e, neste sentido, a universidade deveria cumprir este papel, entretanto
ela tinha que prezar pela “pesquisa livre e desinteressada”.
profissional. Também não é possível associar o termo “desinteressado” com alienação, até
porque Fernando Azevedo se posicionou em favor de uma educação universal, para todos e
que contemplasse tanto as elites dirigentes como a classe trabalhadora.
A educação é compreendida em Fernando Azevedo como uma condição fundamental
para romper a hegemonia burguesa e latifundiária do país, considerada por ele como uma
herança colonial, ou em outras palavras, a burguesia brasileira ainda não tinha assimilado o
espírito liberal das burguesias européias. Assim, a mudança de mentalidade era uma
necessidade histórica, e esse papel a escola teria que realizar.
Esse vínculo entre educação e cultura é marcada na sociologia de Fernando de
Azevedo, tendo em vista que ele não concebe educação sem os elementos produzidos
culturalmente na sociedade e nem desvincula a cultura de uma educação produtora de uma
nova mentalidade. Entretanto, essa nova mentalidade não seria adquirida por meio do ensino
tradicional, alvo de críticas intensas de autores como Fernando Azevedo e Anísio Teixeira.
Aliás, Fernando Azevedo ao apresentar uma pesquisa, denominada popularmente de
“Inquérito” (1926), apontou as falhas do sistema e concluiu afirmando a necessidade de um
projeto educacional amplo no país, embora o “Inquérito” se refira ao ensino no Estado de São
Paulo, mas que as características identificam a situação deficitária em todo o país.
O inquérito de 1926 foi publicado mais tarde sob o título de Educação na
encruzilhada e se constitui como um documento histórico à medida que revela as
contradições de uma época de transição e porque os problemas enfrentados não foram
superados pela sociedade atual. De acordo com Fernando Azevedo (1960, p. 17),
nenhum momento se posiciona diante de uma educação homogeneizadora, até porque sua
análise sobre a cultura levava em conta as especificidades regionais.
O que deixa transparecer na defesa do autor é exatamente essa profunda ligação entre
a cultura e a educação, e via nesta forma de gestão a possibilidade de um gerenciamento que
atendesse aos interesses culturais de uma forma mais próxima, embora, para isso os gestores
devessem ser guiados pelo espírito científico e não pelo político. Sobre este aspecto, há
algumas controvérsias, pois a leitura sobre a escola-comunidade pode ser feita em duas
esferas: a pedagógica e a política.
A pedagógica se refere ao atendimento das necessidades locais emergentes no sentido
de se priorizar a oferta de cursos relacionados à realidade na qual está inserida. Dessa forma, a
criação de uma universidade deve contemplar pesquisas científicas que implementem e
melhorem qualitativamente a vida social da comunidade ou região. A política se refere à
forma de gestão, levando-se em conta as condições econômicas regionais, a fim de que a
qualidade seja mantida em qualquer oferta de ensino.
Embora não tenha sido implantada na década de 1930, a idealização da Escola-
Comunidade retornou com intensidade a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases para
a Educação Nacional (1996), sob forma de novas leituras: a municipalização e os regimes de
cooperação e parcerias. A municipalização foi estabelecida em um processo de massa. Os
regimes de cooperação e parceria se instituíram na forma de Organizações não
Governamentais (ONGs), subsidiados pelo Estado. Em alguns casos, conclamou-se à
comunidade para participar de forma engajada na vida escolar como “amigos da escola”. O
aporte teórico fundante desta caracterização é o da privatização e minimização do Estado,
difundido a partir dos princípios liberais contemporâneos, denominados por muitos de
“neoliberalismo”.
Não foi esta idealização de Fernando de Azevedo. Entretanto, algumas idéias não se
realizam no seu tempo, mas são invertidas e deturpadas na sua materialização sob forma de
lei.
Considerações finais
criar condições para civilizar o povo e constituir uma sociedade moderna, cuja direção deveria
caber a uma elite ilustrada e competente. A reconstituição de suas trajetórias evidencia a
construção de um discurso pedagógico oposto à pedagogia tradicional, na qual havia sido
educado.
O discurso pedagógico da modernidade inaugurou algumas reflexões acerca de
reformas e lutas pela defesa da escola pública. Destaca-se nesse autor a conotação liberal e
suas respectivas atuações individuais no campo educacional. Dentre as temáticas deste autor,
destacam-se: o papel da Sociologia da Educação; a visão da educação pública; a idéia de
reforma; o significado de democracia na educação e o projeto de universidade.
O papel da sociologia da educação para Fernando de Azevedo era resgatar a
capacidade do homem de intervir na sociedade, portanto; um instrumento de mudança que
inclui cientificamente a educação e a pedagogia.
A educação pública em Fernando de Azevedo, deveria estar voltada para a elite para
que esta educasse o povo. Faz-se-ia necessário a criação de um sistema público de ensino que
abrangesse desde a Universidade até a educação primária.
A idéia de reforma, estava fundada em modelos de civilização, consideradas como de
cunho liberal, mas que deveria assegurar essencialmente a democracia e a igualdade de
oportunidades.
A criação de Universidade no Brasil compreendia uma finalidade prática com vista a
uma alteração qualitativa da ordem social, mas com fundamentação científica, caso contrário
incorreria em um utilitarismo classista e de envergadura política perversa.
A cultura é o objeto de análise de Fernando de Azevedo; no entanto, como a cultura
não se constitui como um fim em si mesmo, o autor toma como pilar de sua construção, a
educação. Neste sentido, sua pesquisa na área educacional e o projeto de reconstrução
nacional, via educação, incorre necessariamente na mudança e na produção de uma cultura
que tenha aspectos qualitativamente construídos sob bases científicas. Em síntese, o autor
busca, via educação, uma unidade de formação para o povo.
O termo cultura brasileira é tratado sempre no singular. Azevedo não considera as
diferenças, mas também não as nega. Quando aparecem, são tratadas como contradições
inerentes ao processo de construção e são analisadas como condições necessárias para que
ocorra a superação. Para a construção de uma consciência nacional, o autor articula um saber
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REFERÊNCIAS
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MACHADO, Maria Cristina Gomes. Rui Barbosa. Recife: Fundação Joaquim Nabuco,
Editora Massangana, 2010.
PRADO Jr. Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1970. 12ª ed.
SHELBAUER, Analete Regina. Idéias que não se realizam: o debate sobre a educação do
povo no Brasil de 1870 a 1914. Maringá: EDUEM, 1998.