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As concepções existentes da relação entre desenvolvimento e aprendizado em crianças podem ser reduzidas em
três posições teóricas:
1) Inatista: O aprendizado é considerado um processo puramente externo que não está envolvido ativamente
no desenvolvimento, ou seja, consideram que o desenvolvimento é sempre um pré requisito para o aprendizado.
Logo o aprendizado escolar não influencia no desenvolvimento, pois se as funções mentais de uma criança
(operações intelectuais) não amadurecem a ponto de ela ser capaz de aprender um assunto particular, então
nenhuma instrução se mostrará útil.
Resumindo, essa concepção do aprendizado se baseia na premissa de que o aprendizado segue a trilha
do desenvolvimento e que o desenvolvimento sempre se adianta ao aprendizado, ela exclui a noção de que o
aprendizado pode ter um papel no curso do desenvolvimento ou maturação daquelas funções ativadas durante o
próprio processo de aprendizado. O desenvolvimento ou a maturação são vistos como uma pré-condição do
aprendizado, mas nunca como resultado dele. Para resumir essa posição: o aprendizado forma uma
superestrutura sobre o desenvolvimento, deixando este último essencialmente inalterado.
O principal autor dessa concepção é Piaget que considera o desenvolvimento biológico como ponto
central de sua teoria, centrando-se no pressuposto de que os processos de desenvolvimento da criança são
independentes do aprendizado. A perspectiva piagetiana é considerada maturacionista, no sentido de que ela
preza o desenvolvimento das funções biológicas – que é o desenvolvimento - como base para os avanços na
aprendizagem, ou seja, a maturação precede o aprendizado e a instrução deve seguir o crescimento mental.
2) Empirista: essa teoria postula que aprendizado é desenvolvimento, os dois processos ocorrem
simultaneamente. O aprendizado e desenvolvimento coincidem em todos os pontos, da mesma maneira que
duas figuras geométricas idênticas coincidem quando superpostas. Logo essa teoria não considera o predomínio
da maturação na relação de desenvolvimento e aprendizagem.
O principal autor dessa concepção é James que reduziu o processo de aprendizado à formação de
hábitos e identificou o processo de aprendizado com desenvolvimento; reflexo condicionado; desenvolvimento
como formação de hábito.
As teorias que se baseiam no conceito de reflexo têm pelo menos um ponto em comum com aquelas
teorias do tipo de Piaget: em ambas o desenvolvimento é concebido como elaboração e substituição de
respostas inatas.
3) Dualista: essa concepção é a união dos dois pontos de vistas apresentados anteriormente, a teoria que visa a
maturação e a teoria que visa o aprendizado. Dessa forma podemos compreender que se esses dois pontos de
vista podem ser combinados em uma teoria, é sinal de que eles não são opostos e mutuamente excludentes, mas
têm algo de essencial em comum.
Estudiosos dessa teoria afirmam que o processo de aprendizado não pode, nunca, ser reduzido
simplesmente à formação de habilidades, mas incorpora uma ordem intelectual que torna possível a
transferência de princípios gerais descobertos durante a solução de uma tarefa para várias outras tarefas. Desse
ponto de vista, a criança, durante o aprendizado de uma determinada operação, adquire a capacidade de criar
estruturas de um certo tipo, independentemente dos materiais com os quais ela está trabalhando e dos elementos
particulares envolvidos
O principal autor dessa teoria é Kofka que defende a maturação do desenvolvimento neurológico
mental, processo de aprendizagem.
Na teoria da Zona de desenvolvimento proximal, Vygotsky faz a relação que entre o desenvolvimento
e a aprendizagem está atrelada ao fato de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca para estes
dois processos
Em Vygotsky, o desenvolvimento, principalmente o psicológico/mental (que é promovido pela
convivência social, pelo processo de socialização, além das maturações orgânicas), depende da aprendizagem
na medida em que se dá por processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem
social, principalmente aquela planejada no meio escolar.
Ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie para realizar uma tarefa
se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que propiciem esta aprendizagem.
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), é a distância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja,
determinado pela capacidade de resolver problemas independentemente, e o nível de desenvolvimento
proximal, demarcado pela capacidade de solucionar problemas com ajuda de um parceiro mais experiente. São
as aprendizagens que ocorrem na ZDP que fazem com que a criança se desenvolva ainda mais, ou seja,
desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais desenvolvimento,por isso dizemos que, para
Vygotsky, tais processos são indissociáveis.
Considera que o aprendizado das crianças começa muito antes delas frequentarem a escola, qualquer
situação de aprendizado com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia.
Para descobrir as relações reais entre o processo de desenvolvimento e a capacidade de aprendizado.
Devemos que determinar pelo menos dois níveis de desenvolvimento: 1) nível de desenvolvimento real, isto é,
o nível de desenvolvimento das funções mentais da criança que se estabeleceram como resultado de certos
ciclos de desenvolvimento já completados. 2) nível de desenvolvimento proximal, isto é, se a criança resolve o
problema depois de fornecermos pistas ou mostrarmos como o problema pode ser solucionado, ou se o
professor inicia a solução e a criança a completa, ou, ainda, se ela resolve o problema em colaboração com
outras crianças.
Vale-se ressaltar que os testes psicológicos aplicados avaliam o nível de desenvolvimento real. Nos
estudos do desenvolvimento mental das crianças, geralmente admite-se que só é indicativo da capacidade
mental baseados em como e com que grau de dificuldade elas os resolvem.
A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que
estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado
embrionário. O nível de desenvolvimento real caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente,
enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente.
Assim, a zona de desenvolvimento proximal permite-nos delinear o futuro imediato da criança e seu
estado dinâmico de desenvolvimento, propiciando o acesso não somente ao que já foi atingido através do
desenvolvimento, como também àquilo que está em processo de maturação.
Resumindo, o aspecto mais essencial de nossa hipótese é a noção de que os processos de
desenvolvimento não coincidem com os processos de aprendizado, sendo o processo de desenvolvimento
progredindo de forma mais lenta e atrás do processo de aprendizado e disso resultam, as zonas de
desenvolvimento proximal.
Outro aspecto da teoria de Vygotsky, é que embora aprendizado esteja diretamente relacionado ao curso
do desenvolvimento da criança, os dois nunca são realizados em igual medida ou em paralelo. O
desenvolvimento nas crianças nunca acompanha o aprendizado escolar da mesma maneira como uma sombra
acompanha o objeto que o projeta.