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OUSE

PRA
GERAL
DIREITO TRIBUTÁRIO

M ate r i a l d i sp o n i b i l i z a d o n o cu rs o :
PLENUS 2 - DEFENSORIA
SUMÁRIO

1.1 Princípio da vedação ao confisco............................................................................................... 3


1.1.1 Conceito.................................................................................................................................... 3
1.1.2 Tributação do patrimônio e as perspectivas dinâmica e estática.......................................... 3
1.1.3 Vedação ao confisco e as taxas e multas................................................................................. 4
1.2. Princípio da liberdade de tráfego.............................................................................................. 4
1.3. Princípio da uniformidade geográfica (art. 151, I, CF).............................................................. 6
1.4. Princípio da proibição da tributação federal diferenciada da renda da dívida pública e da
remuneração dos agentes, em âmbito não federal......................................................................... 7
1.5. Princípio da proibição das isenções heterônomas................................................................... 8
1.6. Princípio da não discriminação baseada em procedência ou destino.................................... 9
1.7. Exigência de lei específica para concessão de benefícios fiscais .......................................... 10
2. Imunidades Tributárias............................................................................................................... 11
2.1. Imunidades em espécie........................................................................................................... 13
2.1.1. imunidade tributária recíproca............................................................................................ 13
2.1.2. Imunidade tributária religiosa.............................................................................................. 17
2.1.3. Imunidade tributária dos partidos políticos, sindicatos de trabalhadores e entidades edu-
cacionais e assistenciais sem fins lucrativos................................................................................. 17
2.1.4. Imunidade tributária cultural............................................................................................... 19
2.1.5. Imunidade tributária da música nacional............................................................................ 21
2.1.6. Imunidades outras................................................................................................................ 22

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1.1 Princípio da vedação ao confisco

1.1.1 Conceito

O constituinte, ao definir no rol de limitações ao poder de tributar a vedação de


utilização pelos entes estatais do tributo com efeito confiscatório, buscou impedir a instituição
de tributos com incidência exagerada que acabasse por absorver parcela considerável do
patrimônio ou da renda produzida pelo particular. Vejamos a previsão constitucional do
princípio:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;

Apesar do referido princípio possuir conceito jurídico indeterminado, visto que a


tarefa de determinar o “efeito confiscatório” de dado tributo não está totalmente delineada
na lei, o STF tem buscado delimitar alguns parâmetros para que o juiz, de acordo com o caso
concreto, possa reconhecer a existência de abuso do direito de tributar.

No julgamento de medida cautelar na ADC 8, por exemplo, entendeu o STF que a


identificação do efeito confiscatório do tributo não poderia ser analisada isoladamente. Para a
Corte, dever-se-ia verificar a totalidade da carga tributária, isto é, a capacidade de que dispõe
o contribuinte - considerado o montante de sua riqueza - para suportar e sofrer a incidência
de todos os tributos que ele deverá pagar, dentro de determinado período, à mesma pessoa
política que os houver instituído.

O trecho seguinte, extraído de julgado do STF, resume satisfatoriamente a identificação


do caráter confiscatório de dado tributo:

“Resulta configurado o caráter confiscatório de determinado tributo,


sempre que o efeito cumulativo – resultante das múltiplas incidências
tributárias estabelecidas pela mesma entidade estatal – afetar,
substancialmente, de maneira irrazoável, o patrimônio e/ou os
rendimentos do contribuinte.” (STF, Tribunal Pleno, ADC-MC 8/DF, Rel.
Min. Celso de Mello, j. 13.10.1999, DJ 04.04.2003, p. 38).

1.1.2 Tributação do patrimônio e as perspectivas dinâmica e estática

No que se refere ao patrimônio, a tributação pode ser analisada sob a perspectiva


dinâmica ou estática. Conforme o professor Ricardo Alexandre, na perspectiva estática, analisa-
se a tributação em si mesmo, não havendo preocupação em se aferir potenciais mutações que
acresçam ao valor do bem tributado.

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No caso do IPTU, por exemplo, apenas por uma ficção jurídica se entende que ocorre
um fato gerador a cada 1º de janeiro, pois a propriedade estaticamente considerada é um fato
permanente, que se protrai no tempo. Deste modo, sob uma análise estática, o tributo teria
um caráter confiscatório, pois a riqueza do contribuinte estaria lentamente sendo retirada pelo
Estado.

Por outro lado, na perspectiva dinâmica leva-se em consideração as potenciais


mutações que constituam acréscimos patrimoniais, como é o caso do rendimento produzido
por um aluguel. Nesta perspectiva, o IPTU não possuiria efeito confiscatório, pois seria levado
em conta o valor que o imóvel é capaz de gerar anualmente por meio de rendimento de aluguéis.

Entretanto, vale salientar que tal classificação é muito divergente na doutrina,


existindo autores que analisam as mesmas classificações com sentido diverso do apresentado.
De toda sorte, o importante é perceber que o mesmo imposto sobre o patrimônio, a depender
da perspectiva analisada, pode ser confiscatório ou não.

1.1.3 Vedação ao confisco e as taxas e multas

Quanto às taxas, a verificação acima explanada de efeito confiscatório não é utilizada,


dado o caráter das taxas de contraprestação, em que se verifica o pagamento do contribuinte
em retribuição a prestação de uma atividade estatal específica. No caso das taxas, a aplicação
do princípio do não confisco parte da análise do custo da atividade estatal em comparação ao
valor que é cobrado a título de taxa.

Quanto às multas, é pacífico o entendimento do STF no sentido de que a restrição


imposta pelo princípio do não confisco também se aplica às multas tributárias (ADI551).
Ademais, salienta-se que há precedentes da 1ª e da 2ª Turma do STF (AI 838.302-AgR; RE
748.257-AgR) entendendo que é confiscatória a multa punitiva que ultrapasse o valor da própria
obrigação tributária, ou seja, implicitamente o Supremo estabeleceu um teto de 100% para as
multas de ofício, sob pena de configuração de confisco. Assim, há tendência de pacificação
pelo Supremo no que tange a estipulação de um limite exato a partir do qual considerasse o
efeito confiscatório do tributo.

1.2. Princípio da liberdade de tráfego

A Constituição Federal estabelece regra que objetiva garantir a liberdade de passagem


de bens e pessoas no território nacional, sem que seja possível que os entes políticos criem
tributos que restrinjam tal direito. Vejamos o dispositivo constitucional:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)

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V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de
tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de
pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público;

No que pese haver regra que excetua a aplicação do princípio, mesmo nessa
modalidade, deve haver limitações:

• Cobrança de ICMS interestadual: a cobrança de ICMS incidente sobre determinados


bens e sobre a prestação de determinados serviços destinados a outros Estados
acaba por constituir uma limitação ao tráfego de bens pelo território nacional, no
entanto é considerada válida, com fundamento constitucional;

• Cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público:


a Constituição Federal legitima a cobrança de pedágio pela utilização de vias
conservadas pelo Poder Público, ressaltando-se que a sistemática mais comum
atualmente é a atribuição da conservação da via a particulares em regime de
concessão.

A grande controvérsia gira em torno da natureza jurídica do pedágio, se deve ser


considerado tributo, e aí teria a natureza de taxa, ou se não possui natureza tributária, quando
então seria considerado preço público ou tarifa.

Vejamos as três principais correntes sobre o tema, bem como a posição do STF sobre
o assunto :
1

A corrente majoritária defende que o pedágio deve ser considerado taxa, portanto,
tributo, evidenciando os seguintes argumentos: 1) a CF/88 trata sobre o pedágio no art. 150, ao
falar sobre as limitações constitucionais ao poder de tributar. Em outras palavras, o pedágio
está inserido topograficamente em uma seção que trata sobre tributos; 2) o pedágio seria o
pagamento pela utilização de um serviço específico ou divisível, prestado ao contribuinte ou
posto à sua disposição, conceito coincidente com o de taxa; 3) não seria possível remunerar os
serviços públicos por outro meio que não fosse a taxa. Sendo uma espécie de tributo, somente
pode ser instituída e reajustada por meio de lei. Está sujeita ao princípio da legalidade estrita.

Outro grupo de doutrinadores oferece três respostas para se considerar pedágio como
tarifa: 1) a posição topográfica não é determinante e o que a CF/88 quis dizer é que, apesar de
não incidir tributo sobre o tráfego de pessoas ou bens, poderia ser cobrado o pedágio, espécie
jurídica diferenciada; 2) o pedágio somente pode ser cobrado pela utilização efetiva do serviço.
Não é possível sua cobrança em caso de utilização potencial. Logo, não se enquadra no conceito.
3) é possível sim remunerar serviços públicos por meio de tarifa, desde que esses serviços não
sejam de utilização compulsória. No caso, a utilização de rodovias não é obrigatória. A pessoa

1 http://www.dizerodireito.com.br/2014/07/pedagio-possui-natureza-juridica-de.html

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pode optar por não utilizar. Como não é tributo, o pedágio pode ser instituído e reajustado por
meio de atos infralegais. Não está sujeito ao princípio da legalidade estrita.

A terceira corrente defende que, se houver via alternativa, o pedágio deve ser
considerado tarifa. Se não houver alternativa deve ser considerado taxa. Essa posição é baseada
no seguinte raciocínio: se não houver via alternativa, a utilização daquela estrada com pedágio
será compulsória. Logo, o valor cobrado a título de pedágio será considerado taxa. Se houver
alternativa gratuita, a utilização da via com pedágio é uma faculdade do motorista. Então, o
valor cobrado seria reputado como tarifa.

O STF adotada a segunda corrente, considerando que o pedágio é tarifa (espécie de


preço público) em razão de não ser cobrado compulsoriamente de quem não utilizar a rodovia;
ou seja, é uma retribuição facultativa paga apenas mediante o uso voluntário do serviço. Assim,
o pedágio não é cobrado indistintamente das pessoas, mas somente daquelas que desejam
trafegar pelas vias e somente naquelas em que é exigido esse valor a título de conservação.
Veja-se:
TRIBUTÁRIO E CONSTITUCIONAL. PEDÁGIO. NATUREZA JURÍDICA DE
PREÇO PÚBLICO. DECRETO 34.417/92, DO ESTADO DO RIO GRANDE
DO SUL. CONSTITUCIONALIDADE. 1. O pedágio cobrado pela efetiva
utilização de rodovias conservadas pelo Poder Público, cuja cobrança
está autorizada pelo inciso V, parte final, do art. 150 da Constituição
de 1988, não tem natureza jurídica de taxa, mas sim de preço público,
não estando a sua instituição, consequentemente, sujeita ao princípio
da legalidade estrita. 2. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
improcedente. STF. Plenário. ADI 800/RS, Rel. Min. Teori Zavascki,
julgado em 11/6/2014 (Info 750).

Tal entendimento também foi consagrado pelo Supremo pela edição da Súmula 545
– STF: Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente
daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização
orçamentária, em relação à lei que as instituiu.

1.3. Princípio da uniformidade geográfica (art. 151, I, CF)

O princípio da uniformidade geográfica diz respeito à limitação imposta à União


de instituir tributo que não seja uniforme em todo território nacional, ou que este implique
distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento
de outro, admitida a concessão de incentivo fiscais destinados a promover o equilíbrio do
desenvolvimento socioeconômico em diferentes regiões do país.

É o que dispõe a Constituição Federal, especificamente em seu art. 150, I. Veja-se:

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Art. 151. É vedado à União:
I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional
ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao
Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a
concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do
desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País;

Trata-se de princípio, que, na verdade, traz verdadeira regra em seu bojo, protegida
por cláusula pétrea, dada a garantia que confere ao princípio federativo (art. 60, §4º, I, CF). É
vedação que se dirige à União a fim de evitar que esta institua tributos de forma distinta entre
os territórios dos demais entes federativos.

O dispositivo também traz a exceção à regra, ao possibilitar que se conceda incentivos


fiscais com o objetivo de diminuir as diferenças de desenvolvimento econômico entre as
diferentes regiões do País, em clara concretização aos objetivos da República Federativa do
Brasil (art. 3º, III, CF). Um grande exemplo é o caso da criação da Zona Franca de Manaus.

O STF tem se posicionado no sentido de que a isenção se funda em juízo de


conveniência e oportunidade, conforme se estabelece na própria CF. Dessa forma, não cabe
ao Poder Judiciário se substituir ao legislador, estendendo isenções a contribuintes não
contemplados pela lei, a título de isonomia (RE 344.331/PR).

1.4. Princípio da proibição da tributação federal diferenciada da renda da dívida pública e


da remuneração dos agentes, em âmbito não federal

A Constituição Federal dispõe a seguinte vedação em seu art. 151, II:

Art. 151. É vedado à União:


(...)
II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os
proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos
que fixar para suas obrigações e para seus agentes;

Trata-se de vedação aplicável apenas ao imposto de renda, estabelecendo também


regra protegida por cláusula pétrea, uma vez que configura garantia do pacto federativo (art.
60, §4º, I, CF).

Ricardo Alexandre sintetiza da seguinte maneira: “o que a Constituição Federal


impede no art. 151, I, é que a União tribute os rendimentos gerados pelos títulos estaduais e
municipais de maneira mais gravosa que aqueles gerados pelos títulos que ela própria emite” e
“impede que a União tribute os rendimentos dos servidores estaduais e municipais de maneira

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mais gravosa do que aquela estipulada para os servidores públicos federais”. Quanto aos
fundamentos, destaca-se o fato de que um tratamento tributário diferenciado nos casos do
dispositivo gera uma concorrência desleal da União, seja no “mercado” de títulos da dívida
pública, seja na seleção de servidores públicos.

1.5. Princípio da proibição das isenções heterônomas

Isenção é forma de exclusão do crédito tributário consistente na dispensa legal do


pagamento do tributo. Trata-se de um benefício fiscal concedido exclusivamente por lei, em
regra elaborada pelo ente que tem competência para a criação do tributo.

Dessa forma, deduz-se que isentar é decorrência natural de tributar. Não pode a
União isentar tributos distritais ou estaduais, bem como não podem os estados isentar tributos
municipais. A cada ente tributante cabe a iniciativa de isentar ou não os tributos que são de sua
“alçada”.

A CF/88, de forma inovadora em relação à constituição brasileira de 1967, prevê a


seguinte regra:
Art. 151. É vedado à União:
(...)
III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito
Federal ou dos Municípios.

Tendo em vista que o poder de conceder isenções é consequência do poder de


tributar, a constituição estabeleceu que é vedado à União, em obediência ao pacto federativo,
instituir isenções de tributos que não são de sua competência. Em respeito ao princípio da
simetria, não é possível que os Estados concedam isenções de tributos municipais.

Existem duas exceções a esta regra:

- 1ª exceção: O art. 155, §2º, XII, e, da CF, abaixo transcrito, permite que a União,
mediante lei complementar, conceda isenção heterônoma do ICMS incidente nas operações
com serviços e outros produtos destinados ao exterior. No entanto, destaca-se que essa
previsão perdeu a utilidade em razão da própria constituição ter passado a prever (após a EC
42/2003 – art. 155, §2º, X, a) imunidade sobre operações que destinem quaisquer mercadorias
para o exterior e sobre os serviços prestados a destinatários no exterior no que tange ao ICMS.
Todavia, não houve revogação expressa da exceção, o que se entende que pode haver cobrança
do dispositivo constitucional em provas de concursos.

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos


sobre:
(...)

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II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação,
ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
(...)
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
(...)
X - não incidirá:
a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre
serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção
e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e
prestações anteriores; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
42, de 19.12.2003)
(...)
XII - cabe à lei complementar:
(...)
e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o exterior,
serviços e outros produtos além dos mencionados no inciso X, “a”;

- 2ª exceção: está prevista no art. 156, §3º, III, da CF e possibilita que a União, mediante
lei complementar conceda isenção heterônoma do ISS da competência dos municípios nas
exportações de serviços para o exterior.

Há ainda a possibilidade de um tratado internacional conceder isenção de tributos


estaduais e municipais, sendo discutido pela doutrina e jurisprudência se essa seria mais uma
exceção ao princípio em comento.

O STF já entendeu que a concessão por meio de tratado não caracteriza afronta à
vedação do art. 155, III, da CF, sendo plenamente possível a isenção de tributos estaduais e
municipais mediante tratado internacional.

No entanto, para o Supremo, isto não configura uma isenção heterônoma uma vez
que o Presidente da República, ao firmar tratados internacionais, age em nome da soberana
República Federativa do Brasil e não em nome da autônoma União, pois atua como Chefe de
Estado (RE 229.096/RS).

1.6. Princípio da não discriminação baseada em procedência ou destino

Como já comentado, somente a União pode estabelecer tratamento diferenciado


entre Estados a fim de diminuir as desigualdades socioeconômicas existentes, sendo vedado
aos Estados e Municípios assim procederem. Tal regra visa garantir o pacto federativo, sendo
protegido por cláusula pétrea (art. 60, §4º, I, CF).

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Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer
natureza, em razão de sua procedência ou destino.

Defere-se dessa proibição constitucional a chamada cláusula do tratamento


diferenciado, que impõe a equivalência de tratamento entre o produto importado, quando este
ingressa no território nacional, e o produto similar nacional.

1.7. Exigência de lei específica para concessão de benefícios fiscais

A Constituição Federal, eu seu artigo 150, §6º, traz regra que possui como consequência
a impossibilidade de conceder benefícios fiscais por intermédio de qualquer ato infralegal,
sendo exigida a edição de lei formal. Vejamos o dispositivo constitucional:

§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão


de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas
ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica,
federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias
acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem
prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 3, de 1993)

Do disposto extrai-se que a constituição exigiu a edição de lei específica para


concessão de benefícios fiscais. A finalidade dessa restrição é impedir que tais benefícios sejam
concedidos em leis de conteúdo totalmente alheio àquele relativo ao benefício. Acrescenta-se
que o STF já entendeu que não se exige lei tratando exclusivamente de matérias tributárias,
mas que o benefício fiscal concedido tenha pelo menos “pertinência temática” (sejam inter-
relacionada) com a matéria objeto da lei (ADI 1.379).

Ponto importante já decidido pelo STF é acerca da impossibilidade de o Poder


Judiciário, invocando o princípio da isonomia, substituir o juízo discricionário do legislador
e estender a outras pessoas benefícios fiscais que a lei só destinou expressamente a
determinada categoria de contribuinte (STF, 1ª Turma, AI-AgR 142.348/MG, Rel. Min. Celso de
Mello, j. 02.08.1994, DJ 24.03.1995).

Quanto à ressalva prevista na parte final do §6º do art. 150 (“sem prejuízo do disposto
no art. 155, § 2.º, XII, g”), extrai-se que há uma restrição maior em relação à concessão de
benefícios fiscais do ICMS, com a finalidade de evitar a chamada “guerra fiscal”, na qual
os Estados-membros poderiam competir entre si por meio de benefícios fiscais para atrair
a instalação de empresas para seu território. Em razão disso, e conforme sintetiza Ricardo
Alexandre, “a concessão de benefícios fiscais relativos ao ICMS dependerá sempre de decisão
unanime dos Estados representados; a sua revogação total ou parcial dependerá de aprovação

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de quatro quintos, pelo menos, dos representantes presentes”. Essa deliberação conjunta dos
Estados e DF toma a forma de convênio celebrado no âmbito do CONFAZ (Conselho Nacional de
Política Fazendária). Essa matéria está regulada na lei complementar 24/1975.

Por fim, quanto a exigência de deliberação dos Estados e DF quanto a concessão


de benefícios relativos ao ICMS, há importante julgado do STF que relativizou tal restrição,
estabelecendo, em análise da constitucionalidade de lei paraense, que não há necessidade de
formalização de convênio autorizativo para a conceder isenção de ICMS nas contas de serviços
públicos de água, luz, telefone e gás utilizados por templos de qualquer culto, haja vista que
nesse caso não há risco de conflito ou guerra fiscal entre estados (ADI 3.421/PR).

2. Imunidades Tributárias

Antes de analisarmos os principais aspectos das imunidades tributárias previstas


na CRFB/88, cabe destacar outros institutos que com ela se assemelham: a isenção e a não
incidência.

Imunidade, isenção e não incidência são figuras que se relacionam em seu principal
efeito: a ocorrência de qualquer uma das três faz com que o tributo não seja devido.

Há imunidade quando a Constituição veda a criação e a consequente cobrança de


tributos sobre determinados fatos ou determinados sujeitos, retirando-os do espectro das
regras que delimitam a competência tributária, âmbito no qual, não fosse a regra imunizante,
tais fatos ou sujeitos estariam abrangidos. A imunidade, portanto, constitui impedimento
constitucional e, consequentemente, hierarquicamente superior.

Por seu turno, a isenção é estabelecida por lei. É o ente competente para criar o
tributo que edita norma mais específica que a norma de tributação, estabelecendo exceções
(hipóteses de isenção) nas quais o tributo não será devido.

Já a não incidência abrange todas as situações não descritas na lei como sendo
tributadas, constituindo mera decorrência lógica da enumeração legal das hipóteses de
incidência. Isso porque, por exclusão, o que não está indicado em lei como tributável configura
hipótese de não incidência. Se a hipótese de incidência do IPVA, por exemplo, é a propriedade de
veículos automotores, a propriedade de uma bicicleta não configurará fato gerador do tributo.

Dos conceitos acima expostos, é possível extrairmos importantes conclusões.

Em primeiro lugar, em relação a imunidade, perceba que o legislador não pode


revogá-la. Na verdade, no que se refere a muitas delas, nem mesmo o poder constituinte
derivado pode. Isso porque as imunidades, via de regra, garantem direitos fundamentais, de
modo que são imodificáveis mesmo por emendas constitucionais (art. 60, §4º, IV, da CRFB/88).

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Pelo mesmo motivo, as normas que tratam de imunidades são suscetíveis a
interpretação mais ampla do que as relativas às isenções, que, segundo o CTN, devem ser
interpretadas literalmente (art. 111, do CTN), isto é, no limite dos sentidos literais possíveis do
texto.

Em segundo lugar, pode-se afirmar que, diante de uma imunidade, a falta de menção
expressa a ela na lei é irrelevante. Malgrado a lei municipal determine, sem ressalvas, a tributação
de imóveis pelo IPTU, por exemplo, está implícito que os imóveis de propriedade dos tempos de
qualquer culto não devem ser tributados. A lei, nesse caso, é interpretada conforme a CRFB/88,
como deve ser.

A isenção, por outro lado, enquanto decorrência da lei, deve ser nela expressamente
referida. Se não há norma concessiva da isenção ou se a norma isentiva é revogada, o tributo
passa a ser devido.

Por fim, as hipóteses de não incidência, não obstante decorram por exclusão da
própria enumeração das hipóteses de incidência, são às vezes referidas na lei, para fins didáticos.
É a chamada “não incidência legalmente qualificada”.

Esclareça-se, todavia, que mesmo que não existissem, o tributo ainda continuaria
não incidindo sobre as situações ou pessoas que mencionam, ao contrário das regras que
preveem isenções, em que a tributação ocorreria normalmente caso elas não existissem.

Tratando das diferenças entre imunidade e isenção, vejamos a tabela adiante:

IMUNIDADE  ISENÇÃO 
Opera no âmbito da delimitação de compe- Opera no âmbito do exercício da competên-
tência;  cia, em outras palavras, verifica-se no mero
  não exercício da competência; 
Está prevista na própria Constituição,  inde-  
pendente da nomenclatura, basta impedir a Está sempre prevista em lei;  
cobrança do tributo, limitando a competência  
tributária;  Ex.: Considerando que os estados  possuem
  competência tributária para instituir IPVA, de-
Ex.: Determinado estado, ao instituir o IPVA terminado estado edita a lei que abarca a in-
incidente sobre veículos automotores licen- cidência do imposto sobre o grande conjunto
ciados em seu território, estão constitucional- dos veículos automotores licenciados no esta-
mente limitados a incluírem os veículos auto- do em questão, porém ele opta por não exer-
motores oficiais no Âmbito de incidência da cer tal competência sobre veículos adaptados
regra tributária, em razão da imunidade pre- pertencentes a pessoas com deficiência.  
vista no art. 150, VI, a, da CF. 

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Cabe ainda mencionar as principais classificações doutrinárias das imunidades
tributárias: 
 

Quanto ao parâmetro para concessão, as imunidades podem ser: 


Subjetivas  Leva em consideração a pessoa beneficiada pela imunidade. 
Objetivas  Leva em consideração os objetos cuja tributação é impedida. 
Mistas  Leva em consideração a pessoa e o objeto imunizados.  
Quanto à origem, as imunidades podem ser: 
São aqueles que existiriam independente de previsão na Constituição,
Ontológicas  pois são fundamentais para atender ao princípio da isonomia e ao pacto
federativo. 
São aquelas que “visam a proteção de outros princípios em virtude de
Políticas 
uma opção política do legislador constituinte”.  
Quanto ao alcance, as imunidades podem ser: 
São as limitações de tributar que se aplicam a todos os entes tributantes,
Gerais 
abrangendo diversos tributos, em razão do valor protegido pela imunidade. 
São as limitações de tributar restritas a determinado tributo de
Específicas 
competência de determinada pessoa política. 
Quanto à forma de previsão, as imunidades podem ser: 
Explícitas   Imunidades expressas no texto constitucional. 
Imunidades decorrentes de princípios constitucionalmente consagrados,
Implícitas 
mas não expressamente previstas na constituição.  
Quanto à necessidade de regulamentação, as imunidades podem ser: 
Independe de regulamentação da norma constitucional que a prevê para
Incondicionadas  
gerar seus efeitos. 
A norma constitucional imunizante é de eficácia limitada, necessitando de
Condicionadas 
regulamentação para a imunidade gerar efeitos.  

2.1. Imunidades em espécie

2.1.1. imunidade tributária recíproca

Vejamos o que dispõe a Constituição Federal:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
VI - instituir impostos sobre:

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a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
(...)
§ 2º A vedação do inciso VI, «a», é extensiva às autarquias e às fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio,
à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às
delas decorrentes.
§ 3º As vedações do inciso VI, «a», e do parágrafo anterior não se
aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com
exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis
a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou
pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente
comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel.

A imunidade acima mencionada, referente a impossibilidade de cobrança de


impostos pelos entes federativos sobre o patrimônio, renda ou serviços uns dos outros, é
conhecida como imunidade recíproca.

Trata-se de imunidade justificada pela necessidade de proteção da forma federativa


de Estado, fundada em duas premissas: a) os entes federativos não podem exercer o poder
de tributar – uma faceta da soberania – uns sobre os outros; e b) não faria sentido que os
entes federativos participassem do pagamento de impostos, uma vez que o seu patrimônio já
pertence à coletividade.

Conforme se percebe pela leitura do dispositivo constitucional referido, essa


imunidade estende-se às autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no
que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços vinculados a suas finalidades essenciais ou
às delas decorrentes (art. 150, §2º, da CRFB/88).

Todavia, tal imunidade não se aplica ao patrimônio, a renda e aos serviços


relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a
empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou
tarifas pelo usuário (art. 150, §3º, primeira parte, da CRFB/88). Igualmente, não exonera o
promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel (art.
150, §3º, segunda parte, da CRFB/88).

Ambas as ressalvas se justificam. É que o Estado, enquanto atuante na economia,


em concorrência com os particulares, não pode se valer de benefícios não extensíveis às
empresas privadas (art. 173, II, da CRFB/88). Em relação à não abrangência do promitente
comprador, buscou-se evitar que este, malgrado já detentor da posse do imóvel – e já tendo
celebrado contrato de compra e venda –, arguisse em seu favor a mera circunstância formal de
o imóvel encontrar-se ainda registrado em nome da entidade pública, a fim de beneficiar-se da
imunidade.

14
No que tange à não extensão da imunidade às empresas estatais, vale ressaltar que o
STF tem diferenciado, em seus julgados, atividade econômica e serviço público.

Empresas públicas que exerçam atividade econômica, em regime de livre iniciativa


e concorrência, não estão abrangidas pela imunidade recíproca. Todavia, segundo a Corte, as
empresas públicas prestadoras de serviços públicos são atingidas pela imunidade. Sobre o
tema, observe o seguinte julgado:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS


E TELÉGRAFOS: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA: C.F., art. 150, VI,
a. EMPRESA PÚBLICA QUE EXERCE ATIVIDADE ECONÔMICA E EMPRESA
PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO: DISTINÇÃO. I. - As
empresas públicas prestadoras de serviço público distinguem-se das
que exercem atividade econômica. A Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos é prestadora de serviço público de prestação obrigatória
e exclusiva do Estado, motivo por que está abrangida pela imunidade
tributária recíproca: C.F., art. 150, VI, a. II. - R.E. conhecido em parte e,
nessa parte, provido. (RE 407099, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO,
Segunda Turma, julgado em 22/06/2004, DJ 06-08-2004 PP-00062 EMENT
VOL-02158-08 PP-01543 RJADCOAS v. 61, 2005, p. 55-60 LEXSTF v. 27, n.
314, 2005, p. 286-297).

Em relação à INFRAERO, o STF decidiu no mesmo sentido:

[...] Inaplicabilidade, à Infraero, da regra inscrita no art. 150, § 3º, da


Constituição. A submissão ao regime jurídico das empresas do setor
privado, inclusive quanto aos direitos e obrigações tributárias, somente
se justifica, como consectário natural do postulado da livre concorrência
(CF, art. 170, IV), se e quando as empresas governamentais explorarem
atividade econômica em sentido estrito, não se aplicando, por isso
mesmo, a disciplina prevista no art. 173, § 1º, da Constituição, às
empresas públicas (caso da Infraero), às sociedades de economia mista
e às suas subsidiárias que se qualifiquem como delegatárias de serviços
públicos (RE 363.412 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 7-8-2007, 2ª T, DJE
de 19-9-2008).

Conforme se extrai da leitura dos referidos julgados, o STF entende que a empresa
pública que presta serviços públicos em regime de monopólio não seria abrangida pela ressalva
à imunidade, já que essa almeja a, tão somente, resguardar a liberdade de concorrência.

Mesmo diante do exercício simultâneo de atividades em regime de exclusividade


e em concorrência com a atividade privada por empresas prestadoras de serviço público em

15
regime de monopólio (ex.: a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos também presta serviço
de “banco postal” e promove a venda de títulos de capitalização), segundo o STF, ainda assim
incidiria a imunidade recíproca, senão vejamos:

Recurso extraordinário com repercussão geral. 2. Imunidade recíproca.


Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. 3. Distinção, para fins de
tratamento normativo, entre empresas públicas prestadoras de serviço
público e empresas públicas exploradoras de atividade. Precedentes.
4. Exercício simultâneo de atividades em regime de exclusividade e
em concorrência com a iniciativa privada. Irrelevância. Existência de
peculiaridades no serviço postal. Incidência da imunidade prevista
no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal. 5. Recurso extraordinário
conhecido e provido. (RE 601392, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado
em 28/02/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-105 DIVULG 04-06-2013 PUBLIC 05-06-2013).

Isso porque, embora sejam atividades desempenhadas em regime de concorrência,


não se caracterizaria a concorrência desleal em relação à iniciativa privada, uma vez que a receita
obtida com tais atividades subsidiaria o desempenho de serviços que devem obrigatoriamente
ser mantidos pelo Poder Público (serviço postal e correio aéreo – art. 21, X, da CRFB/88). Haveria,
assim, um “subsídio cruzado” legítimo entre uma atividade e outra.

Ainda sobre a matéria, recentemente o STF decidiu que imóveis financiados pelo
Programa de Arrendamento Residencial – PAR, da Caixa Econômica Federal, têm imunidade
tributária e não pagam IPTU. Em regime de repercussão geral, foi fixada a seguinte tese: “Os
bens e direitos que integram o patrimônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento
Residencial - PAR, criado pela Lei 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária
prevista no art. 150, VI, a, da Constituição Federal” (RE 928902 RG, Relator(a): Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 17.10.2018).

Vale frisar, todavia, que a imunidade recíproca somente se aplica aos imóveis do PAR,
não à CEF, responsável apenas por operacionalizar o programa.

Por fim, em relação a parte final do art. 150, §3º, da CRFB/88, vale mencionar a
redação da Súmula 583 do STF:

Promitente-Comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é contribuinte


do imposto predial territorial urbano.

16
2.1.2. Imunidade tributária religiosa

Trata-se de norma de proteção da liberdade de culto (direito individual previsto no


art. 5º, VI, da CF/88). É considerado cláusula pétrea e está previsto no art. 150, VI, b, transcrito
a seguir:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
VI - instituir impostos sobre:
(...)
b) templos de qualquer culto;
(...)
§ 4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas «b» e «c», compreendem
somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as
finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.

Como já afirmado para a imunidade tributária recíproca, a imunidade tributária


religiosa também só se aplica aos impostos. A proteção abrange todo o patrimônio, todas as
rendas e todos os serviços das entidades religiosas, feita uma interpretação teleológica do
dispositivo mencionado acima (bem como do §4º do art. 150, da CF), e não meramente do
“templo” (local em que ocorra o culto) restritamente considerado.

O STF entende que se a entidade religiosa possui imóvel alugado, este não deixa
de ser vinculado às suas finalidades essenciais se os proventos obtidos com o aluguel forem
revertidos para as finalidades essenciais da instituição, permanecendo imune.

Por fim, cabe destacar outro entendimento do Supremo dispondo que a imunidade
dos templos de qualquer culto é aplicável aos cemitérios que funcionem como extensões de
entidades religiosas, não tenham fins lucrativos e se dediquem exclusivamente à realização de
serviços religiosos e funerários.

2.1.3. Imunidade tributária dos partidos políticos, sindicatos de trabalhadores e entidades


educacionais e assistenciais sem fins lucrativos

A imunidade tributária destinada aos partidos políticos e às fundações por eles


mantidas é corolário do Estado democrático de Direito e assegura o pluralismo político, ao
evitar que o Estado use do poder de tributar como pretexto para subjugar partidos políticos
cujas concepções contrariem aquelas adotadas por quem esteja no exercício do poder.

Nesse viés, ao imunizar as entidades sindicais, o constituinte quis proteger a liberdade


de associação sindical estatuída no art. 8º da CF. Todavia o benefício é exclusivo aos sindicatos
dos trabalhadores.

17
As entidades educacionais e assistenciais sem fins lucrativos também estão
protegidas, todavia devem atender os requisitos constantes em lei, conforme art. 150, VI, c, da
CF.
Vejamos o que dispõe a CF/88:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
VI - instituir impostos sobre:
(...)
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas
fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições
de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os
requisitos da lei;
(...)
§ 4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas «b» e «c», compreendem
somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as
finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.

Dessa forma, vê-se que essa espécie de imunidade tributária tem por objetivo garantir
o pluralismo político (fundamento da República Federativa do Brasil – art. 1º, VI, CF), proteger a
liberdade de associação sindical (art. 8º da CF) e as entidades educacionais e assistenciais sem
fins lucrativos.

Repise-se que somente a entidade sindical dos trabalhadores é abrangida pela


imunidade, tendo sido excluídas do benefício os sindicatos patronais (de empregadores).

No que tange à proteção das entidades educacionais e assistenciais sem fins lucrativos,
este deve ser atendidos os requisitos previstos em lei. Nesse ponto a norma imunizante é de
eficácia limitada, sendo necessária a edição de lei complementar para sua regulamentação.

Atualmente, o art. 14 do CTN é quem faz o papel de lei complementar da referida


norma constitucional, estabelecendo os seguintes requisitos para que as entidades educacionais
e assistenciais sem fins lucrativos possam usufruir da imunidade:

Art. 14. (...)


I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas
rendas, a qualquer título; (Redação dada pela Lcp nº 104, de 2001)
II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção
dos seus objetivos institucionais;
III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros
revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.

18
Destaca-se que o STF entende que há presunção de que o patrimônio, renda e servi-
ços de tais entidades encontram-se vinculados às suas finalidades essenciais, sendo exigido a
prova do contrário para se afastar a presunção e declarar a inaplicabilidade da regra imunizan-
te, para lançar os tributos devidos.

Assim como ocorre com a imunidade tributária das entidades religiosas, o fato de
entidade educacional ou assistencial sem fins lucrativos utilizar seu patrimônio em atividade
que gere renda, não afasta a imunidade, desde que os recursos obtidos sejam reinvestidos nas
suas finalidades essenciais.

Nesse sentido há a seguinte súmula vinculante:

Súmula Vinculante 52
Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da
Constituição Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas
atividades para as quais tais entidades foram constituídas.

Cabe ressaltar ainda que o STF também entende que a imunidade só abrange as
entidades de assistência social e não as previdenciárias. No entanto, nada impede que uma
entidade que tenha por objetivo assegurar aos filiados uma complementação dos benefícios
pagos pela previdência social seja considerada também assistencial. Nesse sentido há súmula
STF, vejamos:

Súmula 730
A imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem
fins lucrativos pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição, somente alcança
as entidades fechadas de previdência social privada se não houver
contribuição dos beneficiários.

2.1.4. Imunidade tributária cultural

Está prevista no art. 150, VI, d, da CF, vejamos o dispositivo:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
VI - instituir impostos sobre:
(...)
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.

19
Aproveitando a brilhante síntese de Ricardo Alexandre, temos que a imunidade
tributária cultural “visa a baratear o acesso à cultura e, por facilitar a livre manifestação do
pensamento, a liberdade de atividade intelectual, artística, científica e da comunicação e o
acesso à informação, todos direitos e garantias individuais constitucionalmente protegidos (CF,
art. 5º, IV, XI e XIV), configura, também, cláusula pétrea”.

A espécie de imunidade ora analisada é puramente objetiva, recaindo sobre os


objetos enumerado no dispositivo constitucional. Importante enfatizar que o STF já afastou
qualquer possibilidade de aferimento do valor cultural das publicações com o objetivo de
conferir-lhe ou não imunidade, isso porque não cabe ao aplicador da norma constitucional
afastar o benefício fiscal em razão de um juízo subjetivo sobre a qualidade cultural ou do valor
pedagógico da publicação.

Destacaremos agora os principais entendimentos sobre essa espécie de imunidade:

- As apostilas também são protegidas pela imunidade (RE 183.403/SP);

- Encartes com exclusiva finalidade comercial não podem ser considerados como
destinatários à cultura e à educação, não estando protegidos pela imunidade (RE 213.094/ES);

- A presença de propaganda no corpo da publicação, se inseparável dela, não lhe


retira a imunidade;

- Somente o papel, como insumo para produção de livro, jornal ou periódico


(destinados à impressão das publicações), é protegido pela imunidade. Nesse sentido também
há a seguinte súmula:

Súmula 657 - STF


A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da Constituição Federal abrange
os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e
periódicos.

- Também estão imunes os filmes destinados à produção de capas de livros (RE


392.221/SP);

- Inexiste imunidade relativa a tributos incidentes sobre a importação de máquina


automática grampeadeira. Assim, a imunidade tributária cultural não abrange o maquinário
utilizado no processo de produção de livros, jornais e periódicos. A imunidade pode até abran-
ger material assimilável ao papel utilizado na impressão, como a tinta do jornal, mas não alcan-
ça o maquinário gráfico. (STF. 1ª Turma. ARE 1100204/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Alexandre de Moraes);

20
- RE 330817/RJ (Repercussão Geral): os aparelhos eletrônicos (E-readers, kindle etc.)
utilizados unicamente para ler livros também são imunes, desde que sirvam unicamente para
ler livros.

- Se o livro vier em CD ou DVD tornará o respectivo CD ou DVD imune, pois é utilizado


exclusivamente como suporte para leitura daquele livro. Da mesma forma, o áudio-livro tam-
bém é imune, pois a imunidade não é exclusiva do livro escrito.

- Tablet não é imune, pois serve para inúmeras outras finalidades além da leitura de
livros eletrônicos, ou seja, tablet não é utilizado exclusivamente para suporte à leitura.

2.1.5. Imunidade tributária da música nacional

Foi introduzida pela EC 75/2013, que incluiu a alínea “e” ao inciso VI do art. 150 da
Constituição, transcrito abaixo:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
VI - instituir impostos sobre:
(...)
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil
contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/
ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como
os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo
na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 75, de 15.10.2013)

É espécie de imunidade mista, por imunizar determinados objetos (Fonograma


musical - arquivo contendo música – e videofonograma musical - arquivo contendo música e
vídeo), mas com a exigência de certas características das pessoas a eles vinculadas (contendo
obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por
artistas brasileiros).

Destaca-se que deve ser necessariamente produzido no Brasil, sem exceções


e que todos os suportes, sejam materiais ou arquivos digitais, contendo fonogramas ou
videofonogramas imunes são também protegidos pela imunidade.

Há a ressalva de aplicação da imunidade: no caso de replicação industrial de mídias


ópticas de leitura a laser. Essa ressalva não se aplica ao vinil (não é mídia óptica), que possui
sua replicação industrial abrangida pela imunidade.

21
Ricardo Alexandre destaca que “somente estão abrangidos pela imunidade os
impostos que incidirem diretamente sobre os fonogramas e videofonogramas”.

2.1.6. Imunidades outras

Além dessas imunidades por memorizadas acima, a CF prevê outras imunidades


diversas, que nem sempre são detalhadas, mas que podem vir a serem cobradas em provas
objetivas.

Fundamento Tributo cuja incidência


Objeto da imunização
constitucional é impedida
Art. 5º, XXXIV Obtenção de certidões Taxas em geral
Art. 5º, LXXIII Ação popular, salvo má-fé Custas judiciais
Art. 5º, LXXVI Registro civil de nascimento e certidão de Emolumentos
óbito, para os reconhecidamente pobres
Art. 5º, LXXVII Habeas Corpus, habeas data e, na forma Custas judiciais e
da lei, atos necessários ao exercício da ci- emolumentos
dadania
Art. 149, § 2º, I Receitas decorrentes de exportação Contribuições sociais
e de intervenção no
domínio econômico
Art. 153, § 3º, III Exportação de produtos industrializados IPI
Art. 153, § 4º, II Pequenas glebas rurais, definidas em lei, ITR
exploradas por proprietários que não
possua outro imóvel.
Art. 153, § 5º, c/c Ouro definido em lei como ativo financeiro Tributos em geral, salvo
ADCT, art. 74, § 2º ou instrumento cambial CPMF e IOF
Art. 155, § 2º, X Exportação de mercadorias e serviços; ICMS
operações que destinem a outros Estados
petróleo, inclusive lubrificantes, combus-
tíveis e energia elétrica; prestações de ser-
viços de comunicação nas modalidades de
radiodifusão sonora e de sons e imagens
de recepção livres e gratuita.
Art. 155, § 3º Operações relativas a energia elétrica, ser- Impostos em geral,
viços de telecomunicações, derivados de exceto II, IE e ICMS
petróleo, combustíveis e minerais do País

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Art. 156, § 2º, I Transmissão de bens e direitos incorpora- ITBI
dos ao patrimônio de pessoa jurídica em
realização de capital; Transmissão de bens
ou direitos decorrentes de fusão, incorpo-
ração, cisão ou extinção de pessoa jurídi-
ca, salvo se, nesses casos, a atividade pre-
ponderante do adquirente for a compra e
venda desses bens ou direitos, locação de
bens imóveis ou arrendamento mercantil
Art. 184, § 5º Operações de transferência de imóveis de- Impostos em geral
sapropriados para fins de reforma agrária
Art. 195, II Rendimentos de aposentadoria e Contribuição
pensão concedidas pelo regime geral de previdenciária
previdência social
Art. 195, § 7º Entidades beneficentes de assistência so- Contribuições para
cial que atendam às exigências estabeleci- financiamento da
das em lei seguridade social
Art. 226, § 1º Celebração ao casamento civil Taxas em geral
Art. 85 do ADCT Objetos diversos que dizem respeito à ex- CPMF
tinta CPMF
Adaptado (ALEXANDRE, Ricardo. Curso de Direito Tributário, 2017. pag. 239)

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