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INTRODUÇÃO
Graburn (2009) aponta que o mínimo que se pode dizer a respeito do turismo, é
que essa prática envolve movimento de pessoas de um lugar para outro.
Dentro dessa ótica, as pessoas viajam para viver, para relaxar, para ficarem
satisfeitas e esquecerem a vida maçante e corriqueira que possuem. “a seguir, voltamos
para casa, mais ou menos em forma, para suportar o cotidiano durante certo tempo- até
a próxima vez” Com essa frase, Krippendorf argumenta a sensação de satisfação não é
permanente, ela cria uma espécie de ciclo, de repetição, onde o desejo de viajar
novamente é criado logo após a volta.
Krippendorf (1989) afirma que as pessoas viajam porque não estão mais a
vontade no local onde moram, estão fugindo do cotidiano. As carências sentidas no
cotidiano podem ser descobertas em outro lugar. O próprio, atenta para a relação
“trabalho-moradia - lazer- viagem”. Ele denomina essa tipologia como o ciclo da
reconstituição do ser humano na sociedade industrial. Assim:
Em uma sessão posterior, iremos discorrer sobre essa última parte da citação de
Krippendorf, que se refere às conseqüências e efeitos ocasionados pelo turismo nas
regiões visitadas.
Tipologia do turismo:
Turismo étnico
Turismo cultural
Turismo histórico
Turismo ambiental
Turismo recreacional
Turista explorador
Turista de elite
Turista de massa
Viajante individual
Mochileiro
Viajante de grupo
Dentre as tipologias apresentadas por Bruner, buscaremos abordar nesse
artigo as de turismo histórico, cultural e também de turismo ambiental (ou ecoturismo).
Para isso, faremos um breve histórico sobre a cidade de Alagoa Grande, destacando
seus principais atrativos turísticos, focalizando no turismo ambiental. Feito isso, iremos
também destacar alguns dos impactos ocasionados pelo turismo na região.
O termo ecoturismo começou a ser discutido por volta de 1960, para explicar o
relacionamento entre os turistas, meio ambiente e as culturas existentes nessa interação.
É um conceito que apresenta diversas explicações, que por sua vez, são questionadas e
redefinidas. O conceito mais estreito delineia a atividade de pessoas que praticam
atividades turísticas orientadas à natureza. O ecoturismo é também chamado de turismo
ecológico, turismo ambiental, turismo de natureza. Segundo Wallace & Russel (2004) o
ecoturismo, por sua vez, é um tipo de turismo baseado na natureza que respeita as
culturas tradicionais e preconiza a preservação e conservação do meio-ambiente,
visando, dessa forma manter o equilíbrio da natureza. Os ecologistas “lutarão para que
as paisagens bucólicas não sejam entulhadas com instalações para divertimentos de
todos os tipos” (KRIPPENDORF, 1989:18).
O primeiro nome da cidade foi lagoa do Paó, depois Lagoa Grande e por
ultimo em 1865 foi nomeada como Alagoa Grande, esse foi o mesmo ano do mesmo da
fundação da igreja. A cidade só foi emancipada e considerada com cidade apenas com a
fundação da igreja, pois no século 19 um dos critérios para se ter uma cidade era a
presença de uma igreja matriz.
A zona rural de Alagoa Grande é uma síntese do que o brejo pode oferecer em
termos de turismo ecológico. Engenhos, cachoeiras, quilombo fazem desse um
verdadeiro passeio na história da cidade. Além do aspecto natural é enfatizado também
o lado cultural. Alguns esportes também foram incorporados dentro dessa região de
matas e cachoeiras, aparecendo como uma nova forma de integração de lazer com o
meio natural. São eles, o rapel, trekking, tirolesa, escalada, mountainbiking e enduro. A
preservação do patrimônio é importante para o turismo, mas em Alagoa Grande ainda se
prioriza a agricultura, nesse caso, a preservação do patrimônio histórico, arqueológico,
artístico, cultural, natural e paisagístico ainda fica em segundo plano.
Além destes a cidade conta ainda com uma grande quantidade de trilhas e
cachoeiras não reconhecidas que permanecem em processo de identificação e
mapeamento pelo guia turístico e também funcionário da secretaria da cultura e do
turismo de Alagoa Grande, Allan Marcus.
O acesso a cachoeira de Serra Grande se dá passando pela ponte que corta o rio
Mamanguape e seguindo rumo ao canavial. O caminho do canavial é reto e uniforme,
mas depois deste é necessário enfrentar os 650 metros de atitude da Serra do gavião.
Até 2010 o acesso à cachoeira se dava através da Fazenda Serra Grande, no entanto, a
fazenda foi vendida em meados do corrente ano, e o novo proprietário deu ordem a seus
empregados de não deixar ninguém passar por lá, o que acrescentou o trajeto em dois
quilômetros de subida, dificultando o acesso ao local.
Antes de ser reconhecido pelo IBAMA, o trajeto era feito pela propriedade
Serra Grande, passando pelo quintal da fazenda, seguindo uma breve trilha rumo ao Rio
Mundaú.
Segundo Allan Marcus, nosso guia e informante, o novo proprietário não
estava se sentindo à vontade com o grande fluxo de pessoas que estava freqüentando a
região, visando à preservação das áreas pertencentes à sua propriedade, o mesmo
impediu o acesso por meio desta. Em decorrência de tal fato, o grau de da trilha
aumentou , dificultando acesso a mesma. Dessa forma, o movimento de pessoas
diminuiu um pouco, o que se apresenta como um aspecto positivo para os
ambientalistas locais, já que o acesso foi dificultado para os chamados “devastadores de
paisagens”.
O local ainda conserva suas características originais sem ter tido contato com
a intervenção do homem. Não há bares, nem restaurantes por toda a localidade. O único
ponto comercial existente é a bodega de Seu Cornélio localizada no final da ladeira do
Gavião, por sua vez, distante ainda cerca de 40 minutos da cachoeira. Local simples,
humilde e bastante rústico, tipicamente rural. Os donos são agricultores, que em
decorrência da sua profissão nem sempre é possível encontrar a bodega aberta.
Urry (2001) assegura que o turismo de massa vem sendo estruturado desde o final
do século XIX. De acordo com Smith (1989) o turismo de massa é caracterizado por
um fluxo constante e contínuo de visitantes. Krippendorf (1989) destaca que “o turismo
de massa constitui uma das formas de lazer mais marcantes, de maiores conseqüências e
de impactos menos controláveis”.
Muitos autores afirmam que a relação existente entre o ser humano e natureza
resulta em impactos negativos ao meio ambiente. Com o grande fluxo de pessoas,
as paisagens, perdem dia-a-dia um pouco de sua aparência natural. Krippendorf (1989)
enfatiza que as pessoas não vêem os sintomas da crise, não se preocupam com os danos
irreparáveis que suas práticas irão causar ao ambiente.
Para evitar o impacto ambiental, Allan afirma que são necessários programas de
incentivos à preservação dos bens naturais e do patrimônio da cidade. Os ambientalistas
e a secretaria do turismo de Alagoa Grande se empenham nessa causa visando à
diminuição do turismo recreacional nas áreas de matas e cachoeiras de Alagoa Grande,
uma vez que, os impactos causados por esse tipo de turismo são bastante intensos. “A
verdade é que, a menos que modifiquemos nossa mentalidade e alteremos o sistema,
nada poderemos fazer a não ser contemplar os efeitos que o turismo de massa causará
na ecologia e nos campos psicológico e socioeconômico” (KRIPPENDORF, 1989: 21).
É importante que a população seja conscientizada dos males ocasionados pela poluição
do meio ambiente, assim como de políticas que revertam tal situação.
Outro local que foi afetado pelo turismo é a Escadaria do cruzeiro do Sul. O
local é o ponto de tráfico da cidade de Alagoa Grande. Quando a noite chega, as
escadarias se transformam em pontos de venda de drogas, principalmente do crack. O
movimento é grande na parte da noite. Pessoas subindo e descendo as escadas com
freqüência, cheiros de fumaça e restos de piolas, palitos de fósforos e latas jogadas pelo
chão. E dia-a-dia a cena se repete e os restos de droga vão se acumulando ao longo da
escadaria.
Além de tal fato as pessoas vão até o mesmo para praticarem relações sexuais.
É comum ver preservativos jogados ao longo das escadarias. As pessoas estão
dessacralizando o local. Este passou a ser “coisificado” sendo usado e explorado pelo
homem segundo seus interesses. O cenário que o turista se depara não é mais aquele que
havia outrora cercado de simbolismo religioso, agora se encontra feses, urina, latas,
lixo, cigarros, garrafas de bebidas, preservativos, etc. pelo caminho.
De acordo com informações que obtivemos através do nosso guia/informante
Allan Marcus, podemos destacar que o próprio cenário foi modificado ao longo do
tempo. Antigamente só existiam as escadarias, hoje existem casas ao longo de todo o
cruzeiro, da base até o topo do mesmo. O cruzeiro do sul hoje em dia é situado no topo
de uma favela.
O esforço dos ambientalistas é para que essa não seja uma prática que se resuma
apenas a um determinado período do ano, mas que a conscientização e preservação
natural e cultural sejam praticadas em todo e qualquer momento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRUNER, E. 2005. “Introduction: Travel Stories Told and Retold”. In: Culture on
Tour: Etnografhies of Travel. Chicago: The university of Chicago press.
GMELCH, S. 2004. “Why Tourism Matters?” In: Gmelch, S. (ed.) Tourists and
Tourism: a reader. Long Grover: Waveland Press.
PIRES, Paulo S. Dimensões do ecoturismo. São Paulo: Edit. SENAC São Paulo, 1985.
SILVA, Marina Medeiros de Araújo, SILVA, Pollyana Karla & Silva, Mônica Maria
Pereira. Impactos Ambientais causados em decorrência do rompimento da Barragem
Camará no município de Alagoa Grande, PB. Revista de Biologia e Ciências da Terra.
Volume seis. Número 1, 2006.
WALLACE, Gillian & Russell, Andrew. 2004 “Eco-cultural tourism as a mean for the
sustainable development of culturally marginal and environmentally sensitive regions.”
Tourism Studies.