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Toxicologia Ambiental

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 1
Toxicologia Ambiental

1. Introdução à toxicologia:

1.1 Introdução:
Na natureza existem inúmeros de produtos químicos que podem exercer algum tipo
de toxicidade. Além disso, vivenciamos um aumento no número de produtos químicos,
sintetizados pelos seres humanos, que apresentam as mais variadas utilidades e,
portanto, constituições químicas distintas, tais como: medicamentos, conservantes de
alimentos, agroquímicos, produtos de limpeza, entre outros. A American Chemical
Society mantém um registro de produtos químicos desde 1907, no qual estão
atualmente registrados 43 milhões de substâncias orgânicas e inorgânicas. Um estudo
realizado pela Agência de Proteção Ambiental Dinamarquesa calculou que, dos cerca
de 4000 novos produtos químicos produzidos diariamente, 13,4% deles possuem
toxicidade aguda, 2,5%, toxicidade reprodutiva, 3,9% são mutagênicos, 1,8%,
cancerígenos e 3,5% são perigosos para o ambiente aquático.

Adicione a isso as numerosas substâncias naturais, inorgânicas e orgânicas, que


possuem potencial tóxico, e não é de se admirar que a sociedade manifeste
preocupação e mesmo, às vezes, pânico sobre os efeitos nocivos que estes agentes
podem exercer na sua saúde e no ambiente. Dezenas de milhares destes agentes
nunca foram submetidos a um teste de toxicidade detalhado.

Pode-se definir um veneno como um agente capaz de produzir uma resposta


prejudicial em um sistema biológico. Praticamente todas as substâncias químicas
conhecidas têm o potencial de produzir lesão ou morte caso estejam presentes em
quantidade suficiente. Agentes tóxicos são classificados em função dos interesses e

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das necessidades do classificador e podem ser discutidos em termos de seus órgãos-
alvo, origem, uso e efeitos:
• O termo toxina geralmente se refere a uma substância tóxica produzida por
sistemas biológicos, como plantas, animais, fungos ou bactérias.
• O termo toxicante é usado para caracterizar substâncias tóxicas (ou seus
subprodutos) produzidas em atividades antropogênicas.

Agentes tóxicos podem ser classificados em termos de seu estado físico, da


estabilidade química ou reatividade, da estrutura química geral ou de seu potencial de
intoxicação da população investigada.
A Tabela 1 abaixo mostra a dosagem de produtos químicos necessária para produzir
a morte de 50% dos animais tratados (DL50). É necessário perceber que as medidas
de letalidade aguda, como DL50, podem não refletir o espectro de toxicidade ou o
perigo associados à exposição a uma substância química. Alguns produtos químicos
com baixa toxicidade aguda, por exemplo, podem ter efeitos cancerígenos ou
teratogênicos em doses que não produzem nenhuma evidência de toxicidade aguda.

*DL50 = dose letal que se pressupõe que irá causar a morte de 50% da população
investigada.

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Tabela 1. Valores de DL 50

1.2 Introdução à ecotoxicologia

Os termos toxicologia, toxicologia ambiental e ecotoxicologia podem trazer a princípio


certa confusão. Toxicologia é uma área da ciência que estuda os efeitos nocivos
decorrentes das interações de substâncias químicas com o organismo. O termo
Ecotoxicologia foi primeiramente proposto por René Truhaut, em 1969, como uma
extensão natural da toxicologia, como a ciência dos efeitos ecológicos dos poluentes.
Esta definição de Ecotoxicologia pode ser ampliada como a ciência de prever os efeitos
de agentes potencialmente tóxicos sobre os ecossistemas naturais e espécies não alvo.
Ecotoxicologia geralmente não inclui os campos que não fazem parte dos ecossistemas
naturais, como toxicologia industrial, a saúde humana, animal doméstico e toxicologia
de culturas agrícolas. No entanto, seus efeitos se impõem sobre estes. Assim sendo,
mais recentemente, Newman definiu Ecotoxicologia como a ciência dos contaminantes
na biosfera e seus efeitos sobre os componentes da biosfera, o que inclui os seres
humanos.
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Historicamente, algumas das primeiras observações sobre os efeitos antropogênicos
ecotóxicos foram verificações de melanismo em mariposas (Figura 1 e 2), por volta de
1850, provavelmente devido ao início da Revolução Industrial e o consequente
lançamento de inúmeros poluentes na atmosfera.

Figura 1. Mariposa

Figura 2. Mariposa

No campo da Toxicologia aquática, Forbes (ano) foi um dos primeiros pesquisadores


a reconhecer a importância da presença ou ausência de espécies e comunidades de
peixes dentro de um ecossistema aquático, com base na tolerância de espécie em
zonas de poluição nos rios. Ao mesmo tempo em que alguns dos primeiros testes de
toxicidade aquática aguda foram originalmente interpretadas por Penny e Adams
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(1863) e Weigelt, Saare e Schwab (1885), que estavam preocupados com produtos
químicos tóxicos nas águas residuárias industriais. O primeiro método "padrão" foi
publicado por Hart et al. em 1945 e, posteriormente adotado pela sociedade americana
para testes e materiais. No que diz respeito à ecotoxicologia terrestre de
contaminantes antropogênicos que afetam a circulação livre dos animais selvagens, as
evidências começaram a acumular-se durante a Revolução Industrial. Estas incluíram
casos de poluição de arsênico e toxicidade de emissões de chaminé industrial.

Os objetivos dos estudos ecotoxicológicos são: compreender em qual grandeza as


substâncias químicas, isoladas ou em forma de misturas, são nocivas e, como e onde
manifestam seus efeitos.

Destino dos poluentes


Os destinos dos poluentes são basicamente três: ar; água: receptor final dos poluentes
e solos/sedimentos.

Os poluentes podem entrar nos ecossistemas como consequência da atividade humana


das seguintes formas:
• Liberação não intencional em atividades humanas (acidentes nucleares,
operações de mineração, naufrágios e incêndios);
• Eliminação de resíduos (efluentes industriais e esgotos);
• Aplicação deliberada de biocidas (por exemplo, controle de pragas e vetores).
Como resultado natural de processos como a meteorização das rochas (metais
e ânions inorgânicos) alguns dos produtos químicos lançados também podem
alcançar altos níveis localmente;
• /Atividade vulcânica com incêndios florestais associados (SO2, CO2 e
hidrocarbonetos aromáticos).

Como observado na introdução, é difícil definir o que constitui realmente a poluição.


Algumas autoridades preferem restringir os termos poluição e poluentes para as
consequências das atividades humanas. No entanto, em alguns casos é impossível

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determinar as contribuições relativas dos processos humanos e naturais que afetam o
ambiente em geral.

1.3 Caracterização, distribuição e movimentação de tóxicos ambientais

Os seres humanos podem ser expostos a um largo espectro de agentes tóxicos, desde
os que ocorrem na natureza até aqueles sintetizados antropicamente. Devido à
complexidade dos riscos ambientais típicos, avaliar a exposição humana a substâncias
químicas ambientais não é um processo trivial. Existem várias técnicas para avaliar a
exposição a tóxicos ambientais; no entanto, para compreender melhor o valor de cada
técnica de avaliação de exposição, é importante entender o destino biológico e
ambiental de um produto químico para que os procedimentos técnicos apropriados
possam ser usados (Figura 3).

Poluição de água, solo e ar


Três componentes da biosfera, solo, ar e água, podem servir como drenos
toxicológicos. Apesar de, muitas vezes, serem considerados separadamente devemos
compreender tais componentes como um sistema integrado. Assim, a chuva irá
transferir substâncias tóxicas para o solo e para a água; a água de superfície
evaporada do solo como vapor, pode transportá-las de volta para o ar, onde eles
podem ser transportados por grandes distâncias pelo vento.

Além disso, o escoamento superficial do solo, o esgoto e descarga industrial são as


principais fontes de contaminação da água. Escoamento em aquíferos profundos do
solo e águas superficiais também pode ocorrer, e reservatórios de água doce estão
ligados ao mar por rios e estuários. O solo, muitas vezes, torna-se o repositório de
muitos resíduos tóxicos e alimentos cultivados em solo contaminado podem absorver
produtos químicos, por esse motivo a pulverização de lavouras (Figura 4) com
agroquímicos tem sido uma questão de considerável preocupação de saúde pública.

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Figura 4. Pulverização

Figura 3. Troca de substâncias tóxicas em um ecossistema

A Poluição da água é de importância considerável por vários motivos. O mais óbvio


é a possibilidade que xenobióticos (compostos tóxicos) possam entrar nas reservas de
água potável e assim constituir uma ameaça direta para a saúde humana (Figura 5).

A contaminação dos peixes, crustáceos e moluscos obtidos tanto a partir do mar


(organismos marinhos), lagos de água doce e rios (organismos aquáticos) podem
ameaçar a saúde humana quando estes alimentos são consumidos. Peixes maiores (e
mais velhos), muitas vezes, têm níveis mais elevados de substâncias tóxicas. Muitas
substâncias tóxicas são consumidas inicialmente por organismos unicelulares que
servem como fonte de alimento para os maiores (mas ainda microscópicos) que, por
sua vez, são alimento para maiores e assim por diante. Este processo pode levar a

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concentrações cada vez maiores ao longo da cadeia alimentar, e isso é chamado
bioamagnificação. Organismos marinhos e de água doce são vulneráveis a substâncias
tóxicas que possam ameaçar a sua sobrevivência. Substâncias tóxicas podem deslocar
a vantagem de seleção para uma espécie, fazendo com que os mais resistentes
possam proliferar em detrimento dos mais sensíveis.

Toda água natural contém solo e todo o solo contém água, mas há uma variação
considerável na mistura. Na verdade, é necessário distinguir entre vários tipos, porque
o comportamento dos poluentes é diferente em cada um deles. Além disso, a natureza
da água em si pode variar em relação à dureza, pH, temperatura e penetração de luz
com consequências para o destino dos poluentes.

Figura 5. Poluição da água

A Figura 6 mostra uma representação esquemática de um corpo de água, evidenciando


as fontes de contaminação (chuva, escoamento, descarga de efluentes, percolação
através do solo) e alguns dos meios de transferência de substâncias tóxicas para os
organismos aquáticos.

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Figura 6. Corpo de água

Cabe ressaltar a dinâmica da camada da mistura de solo/água na interface inferior.


Isto é descrito como o sedimento ativo e contém, na superfície, uma camada de
partículas coloidais suspensas na água dos poros. O sedimento contém carbono
orgânico que tende a capturar substâncias lipofílicas tóxicas. Um estado de equilíbrio
é assim estabelecido com a água dos poros, que está em equilíbrio com a solução
aquosa em si.

O sedimento ativo é um ambiente rico para muitas formas de vida aquática, porém
pode concentrar muitas substâncias tóxicas nas partículas em suspensão.
Considerando que os organismos filtrantes consomem a água dos poros, a diluição da
toxicidade da água nos poros dos sedimentos irá remover uma fonte de contaminação
e, consequentemente, o sedimento ativo poderá ter um menor nível de toxicidade .
Portanto, este ambiente pode ser uma fonte ou um dreno de substâncias tóxicas de
acordo com as condições locais.

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Fatores que afetam a absorção de substâncias tóxicas do ambiente:
Os fatores modificadores são classificados como abióticos (não relacionados com a
atividade de formas de vida) ou bióticos (relacionados com a atividade de formas de
vida).

Abióticos modificadores
Modificadores de abióticos incluem:
pH. Como é o caso em qualquer interação soluto/solvente, o pH do solvente afetará
o grau de ionização (dissociação) do soluto. A forma não dissociada é a mais lipofílica,
o que influencia a absorção por organismos. O preservativo de madeira
pentaclorofenol, por exemplo, dissocia-se em meio alcalino, assim a chuva ácida
aumentaria sua biodisponibilidade favorecendo uma mudança para a forma lipofílica.
O cobre (Cu), que é muito tóxico para peixes e outras formas de vida aquáticas, existe
na forma do elemento Cu2+ em pH ácido, porém, ele é menos tóxico em ambientes
onde o pH é neutro.
Um aspecto importante do pH diz respeito à metilação de mercúrio por microrganismos
de sedimentos. Isto ocorre em uma faixa estreita de pH e um mecanismo de
desintoxicação que permite que os micro-organismos eliminem o mercúrio como uma
pequena molécula complexada. Cerca de 1,5% de mercúrio ao mês é convertido em
condições ótimas (pH 7).
Dureza da água. Carbonatos podem se ligar a metais como o cádmio (Cd), zinco
(Zn) e cromo (Cr), tornando-os indisponíveis para aquáticos organismos.
Temperatura. Alguns mamíferos, além de espécies aquáticas e marinhas, são
poiquilotérmicos, ou seja, a temperatura da água afeta grandemente a sua taxa
metabólica que, por sua vez, influenciará o tempo de circulação do sangue através de
brânquias, a atividade dos processos de transporte e, consequentemente, a taxa de
absorção de xenobióticos. As taxas de biotransformação e excreção também podem
ser afetada, e a temperatura também afetará a taxa de conversão de mercúrio em
metilmercúrio.
Carbono orgânico dissolvido. Estes complexos com uma variedade de substâncias
tóxicas lipofílicas servem como um coletor de contaminantes nos sedimentos e
partículas em suspensão. Novamente, um estado de equilíbrio vai existir e, quanto
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mais os tóxicos dissolvidos são removidos ou diluídos, maior a diluição destes no
ambiente. Sedimentos normalmente consistem de material inorgânico (areia, silte,
argila) revestido e misturado com matéria orgânica, animal e vegetal, viva ou morta.

Oxigênio. Como observado anteriormente, a depleção de oxigênio por flores de algas


vai comprometer outras formas de vida (incluindo os micróbios que formam o
metilmercúrio.) que podem, por sua vez, estarem envolvidas em processos de
intoxicação ou desintoxicação.
Estresse de luz. A radiação ultravioleta pode induzir mudanças químicas em
contaminantes que podem resultar em formas mais tóxicas de uma substância
química. Assim, a foto-oxidação pode aumentar a toxicidade de hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos (HAP) através da formação de radicais livres altamente reativos.
Em água clara, este efeito pode ser significativo a uma profundidade de 6 metros, e
pode ter um impacto marcante em níveis de substâncias tóxicas.

Modificadores bióticos
Estes modificadores são semelhantes aos fatores que podem afetar a resposta do
organismo a uma droga.

Espécies. Existem muitas diferenças quanto à sensibilidade de espécies de


substâncias tóxicas. Espécies salmonídeas são geralmente mais vulneráveis que as
carpas, que podem existir sob uma ampla variedade de condições ambientais.
Distúrbios do ecossistema natural pela introdução de espécies exóticas podem ter
consequências drásticas.
Superlotação. Isto constitui um fator de estresse adicional que pode influenciar as
respostas às substâncias tóxicas.
Nutrição. O nível de nutrição irá afetar fatores como o acúmulo de lipídeos (um local
de armazenamento importante para substâncias tóxicas lipofílicas) e a eficiência dos
mecanismos de desintoxicação. O estado nutricional, por sua vez, pode ser afetado
por fatores abióticos.

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Variáveis genéticas. Variáveis genéticas não identificadas são, sem dúvida,
significativas já que influenciam de formas diferenciadas as respostas dos indivíduos a
xenobióticos.

Poluição atmosférica.
Quando as substâncias potencialmente nocivas são descarregadas para a atmosfera,
há uma taxa que excede a sua capacidade para dispersá-las pela diluição e correntes
de ar, o acúmulo resultante é a poluição atmosférica. Esta pode assumir a forma de
neblina, poeira, névoa ou fumaça, e pode conter óxidos de enxofre e nitrogênio e
outros gases que podem irritar os olhos, vias respiratórias ou pele, além de poderem
estar presentes outras substâncias que podem ser prejudiciais ao meio ambiente ou à
saúde humana. Tais poluentes atmosféricos podem ser gases ou partículas sólidas ou
líquidas na natureza. ser.

A absorção dessas substâncias pode ocorrer em quantidades suficientes para causar


toxicidade sistêmica aguda ou crônica. A poluição do ar, obviamente, é um perigo de
saúde pública importante, porém a poluição atmosférica tem sido grandemente
subestimada como causa de doença e morte.

Poluentes gasosos. Estes são derivados de materiais que tenham entrado em


reações químicas ou processos de combustão. Eles incluem compostos de carbono
como hidrocarbonetos, óxidos e ácidos; enxofre em compostos como o dióxido de,
trióxido, e sulfetos; compostos de nitrogênio (amônia, aminas, óxidos); e substâncias
halogenadas (haletos orgânicos e inorgânicos).
Partículas. O tamanho das partículas ou gotículas pode variar de 0,01 a 100 µm de
diâmetro. As partículas menores são referidas como aerossóis e podem permanecer
suspensas, espalhando luz e comportando-se como se fossem um gás. Abaixo de 10
μm, as partículas são capazes de penetrar em todos os condutos no trato respiratório.
Partículas industriais são geralmente sólidas carbonáceas, metálicas, óxidos, sais ou
ácidos, e sua porosidade é tal que eles absorverão outros gases e líquidos.

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Smog. A palavra é uma combinação de fumo e de nevoeiro e é um termo popular
para uma mistura bastante uniforme de gases e partículas poluentes que se acumulam
nos centros urbanos e persistem nessas localidades por um período prolongado. A
poluição atmosférica (Figura 7) é uma névoa marrom ou amarela e geralmente ocorre
durante o fenômeno da inversão de temperatura, quando uma massa de alto nível de
ar frio e impedida de circular por uma massa de ar quente por baixo para evitar a
dispersão e mistura de agentes químicos poluentes. Um smog especialmente ruim,
chamado de "smog assassino” ocorreu em Londres, Inglaterra, em 1952. Durou mais
de uma semana e foi responsável por cerca de 4 mil mortes, principalmente causadas
por doenças respiratórias. Como resultado, o Clean Air Act foi aprovado em 1956,
proibindo o uso de carvão para aquecimento doméstico.

Figura 7. Poluição atmosférica

Fontes de poluição do ar
A poluição do ar pode surgir tanto de fontes naturais quanto de atividades humanas.
Erupções vulcânicas, incêndios florestais e tempestades de poeira são fontes naturais
cuja importância não deve ser subestimada. A explosão de 1980 no Monte Santa
Helena, no estado de Washington, pulverizou metade de uma montanha e lançou
milhões de toneladas de poeira na atmosfera. Em 1912, uma explosão semelhante de

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um vulcão no Alasca lançou na atmosfera cerca de 30 vezes mais poeira que o Mt. St.
Helena.
As fontes humanas de poluição incluem termoelétricas a carvão, as emissões
industriais, e o aquecimento doméstico; a poluição pode surgir de todas as fontes de
combustão industrial.
As fontes de poluição ligadas a atividades humanas incluem os meios de transporte
como automóveis, caminhões, locomotivas diesel etc. Fontes biológicas incluem micro-
organismos como vírus, bactérias e fungos, pólen e substâncias químicas de
decomposição de matéria orgânica.
As taxas de fontes de poluição atmosférica em países industrializados são
aproximadamente as seguintes: transporte 50%, indústria 18%, energia elétrica 13%,
aquecimento 16% e 3% de eliminação de resíduos.
O problema da poluição do arque envolve a fumaça do cigarro gera uma preocupação
considerável. Os perigos do fumo do cigarro estão firmemente estabelecidos e isto
levou ao aumento de restrições para fumar no local de trabalho e em locais públicos.
Entre 1982 e 1989, a incidência global de câncer aumentou 0,3% para as mulheres e
0,5% para os homens. Em contraste, a incidência de câncer de pulmão em mulheres
aumentou cerca de 43%, enquanto nos homens, aumentou em cerca de 8%. As
mortes por câncer de pulmão superam mortes causadas por outros três tipos principais
de câncer: mama, colo-retal e próstata.
A poluição do ar geralmente começa como um problema local, mas pode tornar-se
global se os poluentes entrarem no sistema de circulação atmosférico sob a forma de
gases, vapores (a partir de líquidos voláteis), gotículas de aerossol ou partículas de pó
fino.

Movimento na troposfera
A troposfera é a massa de ar da superfície terrestre até uma altitude de cerca de 10
milhas (aproximadamente 12km de altitude). No ar, dioxinas e compostos
semelhantes, principalmente de incineradores municipais e industriais, podem ser
espalhados por uma distância de 1500 km. Mercúrio é amplamente espalhado em todo
o mundo, chegando a níveis significativos mesmo nas regiões polares. Regiões polares

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são os primeiros lugares onde se podem observar os efeitos das alterações climáticas.
Em 1996, bifenilos policlorados (PCB) foram sendo detectados no Ártico.
Durante o inverno, poluentes, mercúrio e os hidrocarbonetos clorados inclusive, da
Europa Oriental e Rússia são transportados para o Ártico e estes reentram. r na
atmosfera através de sublimação do gelo e neve. O contínuo uso generalizado de
hidrocarbonetos clorados tais como DDT pode vir a aumentar a carga poluente no
Ártico.

Poluentes atmosféricos deslocados para o solo e para a água.


Gases poluentes atmosféricos podem ser dissolvidos na água da chuva e as partículas
sólidas transportadas mecanicamente. A precipitação, portanto, carrega substâncias
tóxicas para solo e águas superficiais, podendo chegar aos oceanos, lagos e rios por
escoamento superficial das águas e por escoamento lateral causado pela erosão dos
solos. Os oceanos são o repositório final para os poluentes e a evaporação pode
conduzi-los de volta para a atmosfera. Vários estudos têm confirmado esta circulação
biosférica das substâncias tóxicas. Na década de 1950, testes atmosféricos de bombas
nucleares resultaram em ampla disseminação de precipitação radioativa. Uma
preocupação particular foi a presença de estrôncio 90, que apresenta características
químicas semelhantes ao cálcio, incluindo deposição no osso. Estrôncio 90 alcançou
níveis significativos no leite de vaca, outros produtos lácteos e em frutas e legumes, e
a preocupação com sua acumulação nos ossos de crianças foi um importante fator
para a suspensão dos testes nucleares atmosféricos. Atualmente, a maior preocupação
diz respeito ao problema da chuva ácida, cujo pH pode ser inferior a 4,0. Chuva ácida
pode precipitar longe de sua fonte de origem.
As principais rotas pelas quais os poluentes entram nas águas de superfície e no solo
foram identificados. É estabelecida uma distinção entre lançamentos deliberados e
regulamentados (por exemplo, aplicação de biocidas para controle de pragas) ou
vetores de doenças, e liberação acidental e não regulamentada (por exemplo,
acidentes nucleares, naufrágios e incêndios). Os poluentes são lançados por processos
naturais e por atividades dos seres humanos, tornando assim difícil determinar as
fontes dos problemas. Podemos incluir como exemplo a liberação de metais devido ao

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intemperismo da rocha e a produção de SO2, CO2 e hidrocarbonetos aromáticos,
através de atividade vulcânica e os incêndios florestais associados.

1.4 Conclusão:

É importante que sejam consideradas as interconexões entre a integridade ecológica,


ou saúde ecológica e saúde humana. É igualmente importante conhecer os efeitos de
determinados produtos nos elementos do ambiente. Pela determinação de como as
substâncias químicas ou os estressores antropogênicos degradam ecossistemas e
impactam o bem estar e a saúde humana, e vice-versa, obtém-se um entendimento
integral e dinâmico dos efeitos da contaminação ambiental.
Os modelo conceituais tentam elucidaras interconexões entre o sistema natural e o
social de uma maneira circular com retorno constante. O sistema natural produz para
o social tanto desfechos positivos (recursos naturais e matéria- prima bruta) como
negativos (doenças com as mais variadas características, alterações ambientais
drásticas e intensas).
A cultura e a instituição do sistema social, por sua vez, tratam os recursos naturais
com as tecnologias disponíveis, transformando-os e oferecendo, subsequentemente,
os produtos necessários positivos (bens de consumo e esforços de conservação) e
negativos (poluição e desmatamento). Esses desfechos influenciam a quantidade e a
qualidade de vida de todas as formas de vida do sistema natural, e o fluxo circular de
recursos cria continuamente condições que influenciam o bem-estar de indivíduos,
sociedades e ecossistemas. Esse modelo, bastante abstrato, formaliza as
interconexões, algumas bastante óbvias e intuitivas para a maioria de nós, entre saúde
humana e saúde ecológica. A contaminação química dos organismos aquáticos e
marinhos, a contaminação dos solos e da atmosfera são o resultado desta interação
bastante dinâmica. É notório que a compreensão dos processos que promovem a
contaminação destes elementos no ambiente é fundamental para que o equilíbrio dos
ecossistemas possam ser alcançados.

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Aula 2 - Toxicologia Ambiental

2.1 Introdução

Um aspecto crucial da dinâmica de fluxo de substâncias tóxicas entre compartimentos


ambientais é a transferência de substâncias tóxicas para diferentes organismos na
biosfera. As fontes de substâncias tóxicas que os organismos adquirem de seu entorno
podem ser divididas em três categorias gerais: aquelas que são ingeridas com comida
ou água e são absorvidos pelo sistema digestivo; aquelas que são absorvidos do
ambiente envolvente, especialmente por peixes que vivem na água, e aquelas que são
inaladas no ar e são absorvidas pelos pulmões.
Tóxicos lipofílicos pouco metabolizados tendem a persistir e aumentar a concentração
em níveis tróficos mais elevados, onde um nível trófico consiste de um grupo de
organismos que derivam sua energia da mesma porção da teia alimentar em uma
comunidade biológica. Isso pode levar a bioamagnificação de substâncias tóxicas em
organismos superiores na cadeia alimentar. Produtos tóxicos lipofílicos podem atingir
níveis particularmente elevados, como em algumas aves de rapina, que não apenas
estão no topo das cadeias alimentares, como também não apresentam mecanismos
metabólicos bem desenvolvidos para lidar com tais substâncias tóxicas.

2.2 Toxicologia de poluentes e metabolismos de xenobióticos

A mobilidade dos organismos, especialmente das aves, pode promover uma


disseminação das substâncias tóxicas, por grandes distâncias, em teias alimentares.
Substâncias tóxicas suspensas e dissolvidas em água podem ser transferidas
diretamente para peixes, invertebrados aquáticos e anfíbios que vivem na água. No
caso de peixes, substâncias tóxicas podem ser absorvidos principalmente através das
guelras e com os invertebrados aquáticos, através de superfícies respiratórias.
Também pode haver alguma absorção direta de água através da pele destes
organismos e anfíbios.
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Uma consideração importante na captação de substâncias tóxicas por organismos é a
biodisponibilidade de várias substâncias, que basicamente é a tendência de uma
substância para entrar no sistema do organismo após a exposição. A biodisponibilidade
do chumbo tem sido intensivamente estudada e, varia significativamente com a forma
química do chumbo. Mercúrio também apresenta diferenças significativas: é muito
tóxico quando ingerido e o vapor de mercúrio metálico é prontamente absorvida pelos
pulmões. Pela absorção através da pele é possível chegar a doses fatais de
dimetilmercúrio organometálico. No caso das plantas, as duas vias principais para a
absorção de substâncias tóxicas são através de seu sistema radicular e através dos
estômatos nas folhas. Estômatos são aberturas especializadas que permitem que o
dióxido de carbono necessário para a fotossíntese seja captado e o oxigênio e o vapor
de água liberados. No entanto, as substâncias tóxicas podem entrar nas plantas por
essas aberturas especializadas.

Bioconcentração
A tendência de uma substância química deixar a solução aquosa e entrar na cadeia
alimentar é importante na determinação de seus efeitos ambientais e é expressa
através do conceito de bioconcentração (Figura 8).
Bioconcentração aplica-se especificamente à concentração de materiais na solução
aquosa, disponíveis aos organismos que vivem na água, especialmente peixes (Figura
9).

Figura 8. Bioconcentração

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Figura 9. Bioconcentração

Figura 10. Bioconcentração

O modelo de bioconcentração (Figura 10) é baseado em um processo pelo quais os


contaminantes na água atravessam as guelras e o epitélio dos peixes e são
transportados pelo sangue através de tecidos altamente vascularizados até o tecido
adiposo, que serve como um coletor e armazenador de substâncias hidrofóbicas. O
transporte através do sangue é afetado por vários fatores, incluindo a taxa de fluxo
sanguíneo, o grau e a força de ligação a proteínas plasmáticas. Antes de atingir o
tecido adiposo, alguns dos compostos podem ser metabolizados para formas
diferentes. O conceito de bioconcentração é mais aplicável nas seguintes condições:
• A substância é absorvida e eliminada através de processos de transporte
passivo;

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• A substância é metabolizada lentamente;
• A substância tem uma solubilidade em água relativamente baixa;
• A substância tem uma alta lipossolubilidade relativa.

Substâncias que sofrem a bioconcentração são lipofílicas e hidrofóbicas e, portanto,


tendem a sofrer transferência do meio aquoso para o tecido adiposo. O modelo mais
simples de bioconcentração propõe o fenômeno com base nas propriedades físicas do
contaminante e não leva em conta as variáveis fisiológicas (tais como o fluxo de
sangue variável) ou o metabolismo da substância. Tal modelo simples constitui a base
do modelo de hidrofobicidade de bioconcentração, no qual a bioconcentração é
considerada do ponto de vista de um equilíbrio dinâmico entre a substância dissolvida
em solução aquosa e a mesma substância dissolvida no tecido lipídico.
Variáveis de bioconcentração
Existem diversas variáveis importantes na estimativa de bioconcentração.
Um requisito básico para a absorção de uma espécie química da água é a
biodisponibilidade. Normalmente a absorção é vista em termos de efetiva absorção da
solução aquosa. Biodisponibilidade pode ser severamente restringida para substâncias
de solubilidade extremamente baixa em água ou que são vinculados a partículas em
suspensão. Matéria orgânica dissolvida pode também se ligar a substâncias e limitar a
sua biodisponibilidade. A absorção de um produto por uma espécie biológica pode ser
um processo relativamente complexo, no qual o produto químico deve atravessar
membranas nas brânquias e pele para chegar a uma camada adiposa final. Algumas
evidências sugerem que o teor lipídico do organismo afeta a bioconcentração. Teores
mais elevados de lipídios no organismo podem estar associadas com fatores
relativamente maiores de bioconcentração (FBC). Os níveis de lipídios no local da
entrada (as brânquias em peixes) podem ser relativamente mais importantes do que
aqueles em todo o organismo.

Tamanho e forma molecular. Parecem ter um papel significativo na


bioconcentração. Há impedimentos estéricos, obstáculos à circulação de grandes
moléculas através das membranas, em comparação com as moléculas de
aproximadamente mesma massa mas com pequenas áreas transversais. Para
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moléculas maiores, isso resulta em transferência mais lenta e um baixo FBC. Embora
um modelo simples de bioconcentração assuma a rápida movimentação de
contaminantes hidrofóbicos através de um organismo, a distribuição pode ser
relativamente lenta. Neste caso, o fator limitante predominante é o fluxo de sangue.
O transporte lento para coletores de tecido adiposo pode resultar em valores de FBC
aparentes menores do que seria o caso se o verdadeiro equilíbrio fosse atingido.
Biotransferência de sedimentos. Em função da forte atração de espécies
hidrofóbicas para materiais insolúveis como matéria húmica, os poluentes orgânicos
em ambientes aquáticos são mantidos nos sedimentos em corpos d'água (Figura 11).
A Bioacumulação destes materiais deve, portanto, considerar a transferência do
sedimento para a água e para o organismo, conforme ilustrado no figura abaixo.

Figura 11. Dinâmica da bioconcentração dependente, do sedimento, solução aquosa e


espécie de peixe

Fator de bioconcentração. Particionamento de uma espécie química hidrofóbica


entre tecido adiposo, água e sedimentos. As setas mais largas indicam a preferência
do produto químico para o tecido adiposo ou para sedimentos (Tabela 2).

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 22
Fator de bioconcentração:

Xaquoso. X lipídico.

Usando Kc como a constante para o consumo e Ke como a constante para a


eliminação, é possível chegar à seguinte definição de fator de bioconcentração:

FBC = Kc/Ke = [x(lipídeo)] / [aquoso]

Tabela 2. Exemplo de fatores de bioconcentração

Fator de biotransferência.
Uma medida útil de bioacumulação de alimentos e água potável por animais terrestres
é o fator de biotransferência (FBT), definido como:

FBT = concentração no tecido / consumo diário

onde a concentração no tecido é geralmente expressa em mg/kg e o consumo diário


em mg/dia. Esta expressão pode ser modificada para expressar outros parâmetros,
tais como a concentração no leite. Como é o caso dos fatores de bioconcentração para
peixes na água, FBT mostra uma correlação positiva com valores de Kow (constante
octanol – água)

FBT representante e os valores para biotransferência de carne bovina e leite são dados
na Tabela 3.
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 23
Tabela 3. Exemplo de biotransferência

Bioconcentração em vegetais
Como peixes e mamíferos, a vegetação pode absorver contaminantes orgânicos. No
caso de vegetação, o fator de bioconcentração pode ser expressão em relação a massa
do composto por unidade de massa do solo. A expressão exata para vegetação é:

FBC = concentração no tecido vegetal / concentração no solo

Onde a concentração no tecido vegetal é dada em unidades de tecido de planta seca


mg/kg e a concentração no solo é em unidades de mg/kg de solo seco. A Tabela 4 dá
alguns valores típicos de FBC para plantas em relação ao logKow. É observável que
para a absorção de substâncias hidrofóbicas, pelas plantas, os valores FBC são
menores que 1 e tendem a diminuir com o aumento da Kow, o oposto da tendência
observada em animais. Isto é explicado pelo transporte de substâncias orgânicas pela
água do solo transportada para o tecido da planta, que aumenta com o aumento da
solubilidade do composto em água e, portanto, com a diminuição de Kow.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 24
Tabela 4. Exemplo de bioconcentração

2.3 Biomarcadores de contaminação ambiental

Um aspecto crucial da ecotoxicologia é a medição dos efeitos das substâncias tóxicas


em organismos em ecossistemas e nos ecossistemas como um todo. Isto foi feito
tradicionalmente determinando os níveis de substâncias tóxicas em organismos e
relacionando a estes níveis os efeitos prejudiciais sobre organismos. Alguns fatores
dificultam a identificação de produtos tóxicos, tais como: alto custo dos exames,
alterações bioquímicas de substâncias tóxicas, correlações entre níveis tóxicos e os
efeitos tóxicos observados. A análise química completa para todos os possíveis
contaminantes ambientais em solos, sedimentos, água, ar e todas as espécies e
amostra de interesse não só seria excessivamente cara, mas traria as dificuldades
técnicas para lidar com tantas amostras. Além disso, não há análise química que
estabeleça apenas a presença de contaminantes, sem revelar como disponíveis ou
ativo estavam no interior do organismo. Uma abordagem melhor é o uso de
biomarcadores.
Biomarcadores, às vezes chamados de Bioindicadores, consistem de observações e
medições de alterações em componentes biológicos, estruturas, processos ou
comportamentos imputáveis à exposição a substâncias xenobióticas.
Assim, um biomarcador pode ser estudado em uma determinada espécie para avaliar
o status dessa espécie ou em espécies sentinela para avaliar o status de habitat.
Indivíduos espécie sentinela podem ser aqueles que existem no local de interesse ou
podem ser organismos plenamente saudáveis trazidos para o local e mantidos em
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 25
aquários (peixe) ou capturados e recuperados (aves). Embora a maioria dos
biomarcadores sejam medidos em amostras de tecido extraídos de organismos de
estudo, a exposição em si deve ter ocorrido em um organismo vivo. As respostas
podem variar de pequenas alterações bioquímicas ou fisiológicas em organismos
individuais até respostas que evidenciem grande toxicidade (em um indivíduo, uma
espécie, uma comunidade, ou um ecossistema). Pelo menos, uma resposta do
biomarcador deve mostrar que um contaminante (ou contaminantes) está presente no
ambiente, e que atingiu o organismo. As variações dos danos toxicológicos vão de uma
simples resposta homeostática até a sua progressão para danos histológicos. A
progressão inclui respostas que indicam que um processo que pode provocar um dano
foi iniciado, sendo o processo definitivamente extensivo cujo efeito prejudicial pode
conduzir a morte ou a diminuição da reprodução para o indivíduo, ou que resultará em
prejuízos para a população. Para que um biomarcador seja eficiente, há um número
de propriedades de resposta que são desejáveis:
• Deve haver uma especificidade conhecida da resposta à presença de
contaminantes ou exposição;
• Alguma correlação quantitativa da presença ou magnitude da resposta a
concentração do contaminante presente;
• Conhecida relação temporal entre exposição e efeito;
• As amostras devem ser obtidas em quantidades necessárias para a medição.
• Os métodos de ensaio devem ser precisos e reprodutíveis;
• Os custos globais devem ser razoáveis em relação a equipamentos, suprimentos
e tempo de análise técnica quando comparado com análises que não fazem uso
de biomarcadores.

Embora os biomarcadores possam ser analisados individualmente, sua aplicação mais


eficaz pode ser feita com um conjunto de biomarcadores, a menos que a informação
necessária se refira a apenas um determinado contaminante ou classe de
contaminantes para o qual há um biomarcador altamente específico.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 26
Tipos de biomarcadores

Inibição da colinesterase
Na maioria dos casos uma resposta de bioindicador para um determinado
contaminante é fortuita porque contaminantes geralmente surgem de processos
antropogênicos independentes de processos específicos em peixes e vida selvagem.

No entanto, os pesticidas anticolinesterásicos, tais como os carbamatos e compostos


organofosforados, foram concebidos para causar a morte por inibição da atividade da
enzima colinesterase. Mesmo que concebido como inseticidas, eles são conhecidos
como agentes causadores de mortes de vertebrados selvagens e, como tal,
representam uma oportunidade incomum para avaliar a exposição de peixes e animais
selvagens. Embora a atividade da colinesterase esteja presente em muitos tecidos, tal
inibição em amostras ambientais geralmente é determinada a partir de amostras de
tecido cerebral ou de sangue (soro ou plasma) (Figura 12). O cérebro contém
principalmente a atividade da acetilcolinesterase, enquanto o sangue geralmente
contém ambas as atividades da acetilcolinesterase e butilcolinesterase.

Atividade colinesterásica diminuída no cérebro é indicativo de exposição significativa


de agorquímicos anticolinesterásicos, e a inibição da atividade pode permanecer por
várias semanas após exposição e se correlacionam bem com efeito.

Atividade colinesterásica diminuída no sangue ou plasma é indicativo de exposição a


pesticidas anticolinesterásicos, e a inibição da atividade é de curta duração. Apesar
dessas limitações de amostra de sangue, há a vantagem de não ser necessário
sacrificar os animais para amostragem.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 27
Figura 12. Atividade colinesterásica

Citocromo P450
O citocromo P450 é uma classe de proteínas presentes em todos os tecidos, mas
encontrado especialmente em altas concentrações no fígado (Figura 13). Eles são
indutíveis, isto é, o aumento de citocromos P450 específicos são encontrados após o
tratamento de organismos com uma variedade de produtos químicos orgânicos. É de
maior relevância para a biomonitorização pois, vários classes de contaminantes
ambientais induzem tipos específicos de citocromo P450. Embora, em estudos de
laboratório, a administração de grandes quantidades de agentes de indução podem
aumentar a quantidade total citocromo P450, estas induções nesta classe de proteínas,
são de magnitude maior em relação as verificadas ocorrer no ambiente. A exposição
ambiental a contaminantes que induzem a síntese de citocromo P450 geralmente
ocorre em concentrações muito abaixo aqueles por indução máxima em laboratório.
Assim sendo, utiliza-se métodos sensíveis para discriminar o citocromo P450 induzido
por substancias tóxicas. Esta classe de enzimas é fundamental na detoxificação, pois
tornam substâncias tóxicas relativamente apolares em polares pela introdução de
grupos funcionais polares não tóxicos. Desta forma os xenobiontes podem se
solubilizar no sangue e serem excretados pela urina.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 28
Figura 13. Citocromo P450

Problemas reprodutivos
O afinamento severo da casca de ovo pode resultar em sua quebra antes da eclosão,
impedindo a reprodução. Em tais casos, a determinação da espessura da casca dos
ovos quebrados (a espessura da casca pode ser medida diretamente com um
micrômetro ou o índice de espessura.) seria diagnóstico da exposição à substâncias
tóxicas, especificamente para DDE, que é um metabólito do DDT (Figura 14). Assim
sendo, tal fato é um biomarcador para a presença de DDT.

Figura 14. Ovos quebrados

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 29
Efeito teratogênico

Os contaminantes ambientais podem causar uma variedade de anormalidades no


desenvolvimento de organismos aquáticos e terrestres (Figura 15 e 16). No ambiente,
a exposição do embrião pode ocorrer através da mãe (formação de ovo ou
transferência placentária) e também (em casos como aves e peixes) através da
exposição direta dos ovos depois que eles são liberados. Algumas das relações mais
claramente estabelecidas entre terata e contaminantes incluem as fitas cruzadas de
DNA causadas por hidrocarbonetos clorados em água. Outras anormalidades são
causadas por selênio em aves aquáticas e aves marinhas.

Figura 15. Anormalidade Figura 16. Anormalidade

Biomarcador para atividade estrogênica nos machos - Vitelogenina


Desde a descoberta que os jacarés masculinos no lago Apopka, na Flórida,
apresentavam menor genitália externa do que o normal, tem havido a preocupação
sobre produtos químicos ambientais que modificam as atividades androgênica e
estrogênica. Este é um biomarcador sensível em organismos masculinos imaturos e
que não devem ter vitelogenina presente. Por outro lado, fêmeas maduras são menos
sensíveis ao biomarcador.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 30
Aberrações da síntese de hemoglobina - glóbulos vermelhos-
Ácido aminolevulínico desidratase (ALAD)
A atividade da ALAD, a enzima responsável pela condensação de duas moléculas de
ácido aminolevulínico para formar porfobilinogênio na síntese de hemoglobina nos
glóbulos vermelhos, é muito sensível à exposição ambiental ao chumbo. A inibição da
atividade de ALAD em células vermelhas do sangue tem sido claramente demonstrada
em vários estudos em humanos e em peixes e organismos de vida selvagem.

Figura 17. Rota biossimétrica do grupo heme

Porfiria
Um número de produtos orgânicos clorados afeta a síntese de hemoglobina em pontos
mais próximos à formação da hemoglobina e resultam em acúmulo de porfirinas
altamente carboxiladas que podem ser encontradas em diversos órgãos como fígado,
sangue, urina ou fezes (Figura 18 e 19).

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 31
Figura 18. Animal afetado

Figura 19. Porfíria:Urina escura

Danos ao DNA
Após a absorção pelo organismo, alguns produtos químicos e/ou seus metabólitos são
capazes de interagir com o DNA para modificar ou danificá-lo. Os métodos comuns
para avaliar tais interações baseiam-se na medição direta de danos estruturais de DNA,
avaliação da reparação do DNA, ou determinação de mutações presentes em
genomas. As formas ativadas de uma variedade de hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos podem tornar-se covalentemente vinculado ao DNA. Testes para avaliar a
presença de tais adultos podem ser geral ou específico.

Efeitos histopatológicos
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 32
Muitos contaminantes são capazes de danificar tipos de células específicas ou sistemas
de órgãos. Tais danos podem ser avaliados por técnicas histopatológicas. Devido à
variedade de tipos de células e muitos órgãos e sistemas presentes em qualquer
indivíduo, há um enorme número de abordagens histológicas para detectar os efeitos
de contaminantes. As principais limitações ao uso de abordagens histológicas são os
estudos de validação de campo na espécie em questão, a avaliação de se a
conveniência e o custo são melhores para esta abordagem, e se isto serviria como
parte de um conjunto de biomarcadores. Tumores são, provavelmente, a aberração
que é mais amplamente estudada por métodos histológicos. Tumores têm sido
observados em uma variedade de espécies de peixes de áreas contaminadas, com a
maioria das ocorrências comuns em peixes de fundo-moradia em áreas de
contaminação PAH. Há boas correlações entre níveis PAH de sedimentos e presença
de tumores em peixes.

Stress oxidativo
Contaminantes, tais como hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, hidrocarbonetos
aromáticos halogenados, metais pesados, selênio, solventes industriais e muitos de
seus metabólitos são capazes de causar danos oxidativos dentro de um organismo.
Em resposta ao estresse oxidativo, pode haver respostas adaptativas dos sistemas de
proteção (antioxidante), modificação de macromoléculas celulares e, finalmente,
danos a tecidos. Mudanças nos sistemas antioxidantes e macromoléculas modificadas
podem servir como bioindicadores para uma variedade de exposições de
contaminante.

Competência imune
Uma variedade de contaminantes são conhecidos por afetar o sistema imunológico.
Filogeneticamente, a presença de um sistema imunológico é generalizada e os efeitos
de contaminantes no sistema imunológico foram relatados desde minhocas (Lumbricus
terrestris) até mamíferos. O comprometimento do sistema imunológico por
contaminantes pode levar a sérios efeitos nos organismos aquáticos e terrestres.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 33
Metalotioneína
Metalotioneínas são uma classe de pequenas proteínas, ricas em cisteína e capazes de
ligação a íons metálicos. São proteínas cuja síntese é induzida por cádmio, cobre,
mercúrio, zinco, cobalto, bismuto, níquel e íons de prata. Pelo fato de serem induzidas
pelos íons metálicos citados acima, são biomarcadores de exposição a esses íons
metálicos.

2.4 Modelos animais para ensaios toxicológicos

Animais testes

Testes de toxicidade são ensaios laboratoriais, realizados sob condições experimentais


específicas e controladas, utilizados para estimar a toxicidade de substâncias, efluentes
industriais e amostras ambientais (águas ou sedimentos). Nesses ensaios, organismos-
testes são expostos a diferentes concentrações de amostra e os efeitos tóxicos
produzidos sobre eles são observados e quantificados. Os testes de toxicidade não
permitem obter uma resposta absoluta sobre o risco que uma determinada amostra
apresenta para a população humana, uma vez que é muito difícil extrapolar para os
seres humanos os resultados de toxicidade obtidos para os organismos em laboratório
e até mesmo correlacionar os resultados de toxicidade entre organismos de diferentes
espécies.

Os testes de toxicidade são ferramentas desejáveis para avaliar a qualidade das águas
e a carga poluidora de efluentes, uma vez que somente as análises físico-químicas
tradicionalmente realizadas, tais como demanda química de oxigênio (DQO), demanda
bioquímica de oxigênio (DBO), sólidos suspensos, concentrações de metais e de outras
substâncias de caráter orgânico ou inorgânico, cujos limites encontram-se
estabelecidos nas legislações ambientais, não são capazes de distinguir entre as
substâncias que afetam os sistemas biológicos e as que são inertes no ambiente e, por
isso, não são suficientes para avaliar o potencial de risco ambiental dos contaminantes.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 34
Apesar disso, os testes de toxicidade não substituem as análises químicas tradicionais.
Enquanto as análises químicas identificam e quantificam as concentrações das
substâncias tóxicas, os testes de toxicidade avaliam o efeito dessas substâncias sobre
sistemas biológicos. Assim, as análises químicas e os testes de toxicidade se
complementam. Em se tratando de amostras de natureza química complexa, como é
o caso de efluentes industriais, os quais são constituídos por uma variedade de
substâncias químicas, seria analítica e economicamente inviável detectar, identificar e
quantificar todas as substâncias presentes, mesmo que os padrões de emissão fossem
estabelecidos para cada uma delas. Além disso, somente com a identificação e a
quantificação dessas substâncias não seria possível estimar os efeitos que elas
apresentam sobre a biota, uma vez que a atividade biológica de uma substância pode
depender de suas interações com os outros componentes do efluente, incluindo
aqueles que não são tóxicos mas que afetam as propriedades químicas ou físicas do
sistema e, consequentemente, as condições de vida dos organismos. Assim, é
impossível identificar uma única substância como responsável por um determinado
efeito tóxico.

Como vimos, a toxicologia tem como principais objetivos identificar os riscos


associados a uma determinada substância e determinar em quais condições de
exposição esses riscos são induzidos. A ocorrência, natureza, incidência, mecanismo e
fatores de risco associados às substâncias tóxicas são parâmetros experimentalmente
investigados pela toxicologia. Ela não serve somente para proteger os seres vivos e o
ambiente dos efeitos deletérios causados pelas substâncias tóxicas, mas também para
facilitar o desenvolvimento de agentes químicos nocivos mais seletivos, tais como
drogas clínicas e pesticidas.

O uso de algas como indicador biológico é importante porque, como produtores


primários, elas se situam na base da cadeia alimentar e qualquer alteração na dinâmica
de suas comunidades pode afetar os níveis tróficos superiores do ecossistema. Dentre
as vantagens em se utilizar algas em testes de toxicidade podemos destacar sua
grande sensibilidade às alterações ocorridas no meio ambiente e o seu ciclo de vida
relativamente curto, o que possibilita a observação de efeitos tóxicos em várias
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 35
gerações. O efeito de inibição resultante sobre a população de algas, após um intervalo
de tempo pré-estabelecido (geralmente 3 ou 4 dias), é determinado comparando-se o
crescimento observado na presença de agente tóxico com o crescimento normal
observado em um sistema livre de agente tóxico, o qual é chamado de controle. Nesses
testes, a temperatura e a luminosidade devem ser rigorosamente controladas porque
podem afetar significativamente o crescimento das algas.

O crescimento algáceo pode ser determinado por contagem celular ao microscópio


ótico, ou com um contador eletrônico de partículas, ou pelo conteúdo de clorofila
medido por espectrofotometria ou fluorimetria, ou pela turbidez medida em 750 nm.
As algas verdes e unicelulares de água doce Chlorella vulgaris, Scenedesmus
subspicatus e Selenastrum capricornutum são frequentemente utilizadas em testes de
toxicidade porque crescem rapidamente e suas culturas são facilmente preparadas em
laboratório. Uma vez que a luz é um parâmetro imprescindível para o crescimento de
algas, amostras que apresentam cor, como corantes e efluentes de indústrias têxteis,
podem interferir nos testes de toxicidade com algas, levando a um resultado
superestimado. Nesses casos, é difícil afirmar se o crescimento da população de algas
foi realmente afetado pela interação da amostra com sítios alvos do organismo ou se
simplesmente foi afetado porque parte da luz foi absorvida pela amostra. Além disso,
como métodos ópticos como espectrofotometria e fluorimetria são sugeridos para
determinar a concentração das algas, amostras com cor acentuada podem ser
interferentes.

Crustáceos e peixes

Crustáceos de água doce da ordem Cladocera e do gênero Daphnia, os quais são


vulgarmente conhecidos como pulgas d’água, são bastante utilizados em testes de
toxicidade porque são amplamente distribuídos nos corpos d’água doce, são
importantes em muitas cadeias alimentares e são fonte significativa de alimento para
peixes, possuem um ciclo de vida relativamente curto, são facilmente cultivados em
laboratório, são sensíveis a vários contaminantes do ambiente aquático e porque,
devido ao seu pequeno tamanho, necessitam de menores volumes de amostras-teste
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 36
e água de diluição do que os testes realizados com algas e peixes. Além disso, a
reprodução assexuada desses crustáceos por partenogênese garante a produção de
organismos geneticamente idênticos permitindo, assim, a obtenção de organismos-
teste com sensibilidade constante.

Várias espécies de Daphnia são utilizadas em testes de toxicidade, mas, a mais


utilizada é a Daphnia magna, para a qual existe um grande número de informação
sobre as técnicas de cultivo, os requisitos de temperatura, luz e nutrientes e sobre sua
resposta a muitas substâncias tóxicas. As espécies de Daphnia são basicamente
diferenciadas pelo seu tamanho e essa característica tem influência sobre a toxicidade
das substâncias. No Brasil, Daphnia similis vem sendo bastante utilizada em testes de
toxicidade. Apesar de não ser uma espécie nativa, é facilmente cultivada em
laboratório e atende aos critérios estabelecidos pelos procedimentos padrões para a
seleção de espécies alternativas.

O crustáceo de água salgada Artemia salina também é uma espécie bastante utilizada
em testes de toxicidade. A utilização dessa espécie é interessante porque seus ovos
resistem à secagem e estocagem por longos períodos de tempo. Quando os ovos secos
são colocados em água do mar e incubados a aproximadamente 23oC, eles eclodem
dentro de 1 ou 2 dias e após isso os organismos já estão prontos para serem utilizados
nos testes de ecotoxicidade. Os ovos de Artemia salina podem ser adquiridos em
qualquer loja de artigos para aquários, uma vez que são utilizados como alimento para
peixes. Nessas lojas também pode ser adquirido sal marinho para preparar água
marinha artificial. O uso de Artemia salina é interessante quando se pretende avaliar
a toxicidade de efluentes que apresentam alta salinidade e, portanto, alta
condutividade, uma vez que esse parâmetro é um fator crítico para espécies de água
doce.

O efeito tóxico frequentemente avaliado em testes de toxicidade com microcrustáceos


é a imobilidade porque, devido ao pequeno tamanho desses organismos, é difícil
avaliar se estão mortos. Diversas espécies de peixes são utilizadas como
bioindicadores. No Brasil a espécie mais utilizada é o Danio rerio, o qual é vulgarmente
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 37
conhecido como peixe paulistinha ou peixe zebra. Pimephales promelas, o qual é
popularmente conhecido como “Vairão de cabeça grande”, também é utilizado em
testes de toxicidade. O parâmetro avaliado nos testes de toxicidade aguda com peixes
é a mortalidade e os testes de toxicidade crônica com esses organismos requerem
longos períodos de tempo, uma vez que seu ciclo de vida e seu período reprodutivo
são longos quando comparados aos de outras espécies.

Bactérias
Embora tradicionalmente algas, crustáceos e peixes sejam usados para medidas de
toxicidade aquática, esses testes requerem maiores tempo de exposição e volume de
amostra do que testes de toxicidade que utilizam bactérias. Dentre esses, o teste que
utiliza a bactéria marinha bioluminescente Vibrio fischeri e recebe o nome de Microtox
é, sem dúvida, o mais utilizado. Nesse teste é medida a redução da luminescência
emitida naturalmente pela bactéria quando ela é posta em contato com um agente
tóxico, o qual inibe a atividade da enzima luciferase. O tempo de duração do teste
varia entre 15 e 30 min. Microtox é um teste de toxicidade rápido, sensível, fácil de
executar e de baixo custo que pode ser utilizado no controle da poluição das águas e
efluentes industriais. Apesar dessas vantagens é um teste criticado por empregar uma
bactéria marinha de pouco significado ecológico.

2.5 Biomonitoramento de áreas impactadas

Ao longo das últimas décadas muitas mudanças ocorreram no campo de


monitoramento e gestão de fontes de dados de recursos ambientais. As mudanças
ocorreram devido aos avanços na tecnologia que permitem fácil acesso a grandes
conjuntos de dados e recursos aprimorados para avaliar, analisar e visualizar estes
dados. Desenvolvimentos em sensoriamento remoto, sistemas de informação
geográfica (SIG), a internet, computadores pessoais, dados pessoais e gravadores
forneceram os cientistas, gestores e público em geral a capacidade de acessar e avaliar
os dados de gestão. Hoje, mapas e gráficos podem ser gerados no local e servidos por
rede de conexões, permitindo ao público avaliar as opções imediatamente.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 38
Monitoramento é um termo que se tornou muito mais comum na gestão dos recursos
naturais.

As fontes identificadas fornecem uma visão para os enfrentados com determinação


como usar dados de biomonitorização para apoiar o manejo a longo prazo dos recursos
naturais. Monitoramento de dados, existentes e novos, pode desempenhar um papel
importante na concepção e avaliação de estudos ecotoxicológicos. Impactos
antropogênicos fornecem inúmeros estresses aos sistemas ambientais. O advento da
análise química de baixo nível e técnicas para avaliar os efeitos genéticos do estresse
ambiental fornecem novas ferramentas para os cientistas entenderem melhor como
os sistemas biológicos podem ser impactados por tensões químicas. No entanto, é
importante que os cientistas usem informações existentes de fontes identificadas, bem
como outros dados para identificar o grau e tipo de ação de gestão necessários e
entender como esta informação deve ser usada em contexto.

O Ministério da Saúde constituiu o Sistema Nacional de Informações Tóxico-


farmacológicas (Sinitox) em 1980. A ideia partiu da necessidade de criar um sistema
abrangente de informação e documentação em toxicologia e farmacologia de alcance
nacional. Dessa forma, a prioridade do governo era obter dados sobre medicamentos
e demais agentes tóxicos existentes no meio, a fim de que gestores e profissionais de
saúde pública e a população em geral pudessem ter acesso às mais diversas formas
de uso e proteção. Até 1986, o Sinitox era vinculado diretamente à Presidência da
Fiocruz mas posteriormente foi incorporado à estrutura do Centro de Informação
Científica e Tecnológica (Cict/Fiocruz), sendo hoje parte do Instituto de Comunicação
e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). O Sistema Nacional de
Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) tem como principal atribuição coordenar
a coleta, a compilação, a análise e a divulgação dos casos de intoxicação e
envenenamento notificados no país.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) criou, em 2005, a Rede Nacional


de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat) pela Resolução da
Diretoria Colegiada (RDC) nº 19 da ANVISA. Composta atualmente de 35 unidades
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 39
localizadas em 18 estados e no distrito federal, tem como função fornecer informação
e orientação sobre o diagnóstico, prognóstico, tratamento e prevenção das
intoxicações e envenenamentos, assim como sobre a toxicidade das substâncias
químicas e biológicas e os riscos que elas ocasionam à saúde. Atende tanto o público
em geral quanto os profissionais de saúde.

A ANVISA criou ainda o Disque-Intoxicação, meio pelo qual os profissionais de saúde


obtém informações sobre tratamentos, além de o público em geral poder tirar dúvidas
gratuitamente. Através do número 0800-722-6001, a ligação é transferida para o
Centro de Informação e Assistência Toxicológica mais próximo de onde está o usuário.
Por meio de uma rede de informação sistematizada é possível delinear um mapa da
situação do país em relação à intoxicação. Os profissionais dos Centros documentam
os atendimentos prestados e encaminham as fichas para um banco de notificações.
Posteriormente, as informações coletadas chegam à ANVISA e ao Sistema Nacional de
Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox).

2.6 Métodos de detoxificação

Biodegradação
A Biodegradação pode envolver relativamente pequenas alterações na molécula
absorvida, tais como substituição ou modificação de um grupo funcional para facilitar
sua remoção do corpo. Mais frequentemente, no entanto, o composto é
completamente degradado, e o resultado final é a conversão de compostos orgânicos
relativamente complexos para CO2, H2O e sais inorgânicos, um processo chamado de
mineralização. Geralmente os produtos de biodegradação são formas moleculares, que
tendem a ocorrer na natureza e que são em maior equilíbrio termodinâmico com seu
entorno.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 40
Aspectos bioquímicos de biodegradação
Deve-se ressaltar que a biodegradação de um composto orgânico ocorre de forma
gradual e geralmente não é o resultado da atividade de um organismo específico
(Figura 20).

Geralmente várias espécies de microrganismos, que muitas vezes existente em


sinergia, estão envolvidas. Estas podem utilizar diferentes vias metabólicas e uma
variedade de sistemas enzimáticos. Apesar de biodegradação ser normalmente
considerada como degradação de espécies inorgânicas simples, como dióxido de
carbono, água, sulfatos e fosfatos, deve sempre ser considerada a possibilidade de
formação de espécies químicas mais complexas ou mais perigosas. Um exemplo deste
último é a produção de formas metiladas voláteis, solúveis, tóxicas do arsênico e
mercúrio de espécies inorgânicas destes elementos por bactérias em condições
anaeróbias. Há alguns indícios que sugerem que o tolueno, um composto
antropogênico, pode ser produzido metabolicamente do aminoácido fenilalanina por
bactérias anaeróbias; este processo ocorrerá por desaminações sucessivas e
descarboxilação do seguinte modo:

Figura 20. Aspecto bioquímico de biodegradação

é sabido que as comunidades microbianas expostas a compostos xenobióticos


desenvolvem a habilidade de degradar estes compostos metabolicamente. Isto tornou-
se particularmente evidente a partir de estudos de produtos tóxicos no ambiente. Em
geral, esses compostos são prontamente degradados por bactérias que foram expostas
aos compostos por períodos prolongados, mas não por bactérias de locais não
expostos. O desenvolvimento de culturas microbianas com a capacidade de degradar
materiais a que estão expostas é descrito como adaptação metabólica. A rápida
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 41
multiplicação de culturas microbianas, adaptação metabólica pode incluir alterações
genéticas que favorecem microrganismos que podem degradar a um tipo específico
de poluente. Adaptação metabólica também pode incluir o aumento do número de
micro-organismos capazes de degradar o substrato em questão e indução enzimática.

Fatores na biodegradação
As taxas e a eficácia de biodegradação de matérias orgânicas dependem de vários
fatores. Estes incluem a concentração do substrato composto, a natureza e a
concentração do aceptor final de elétrons (mais comumente O2), a presença de
nutrientes, fósforo e nitrogênio, a disponibilidade de nutrientes como elementos traço,
a presença de um organismo adequado, a ausência de substâncias tóxicas e a
presença de condições físicas adequadas (temperatura, e meio de crescimento). Além
de suas propriedades bioquímicas, as propriedades físicas dos compostos, incluindo a
volatilidade, solubilidade em água, organofilicidade, tendência a ser sorvido por sólidos
e carga elétrica, desempenham um papel na determinação da biodegradabilidade de
compostos orgânicos.

Biodegradabilidade
A acessibilidade de um composto ao ataque químico por micro-organismos é expressa
em sua biodegradabilidade. A biodegradabilidade de um composto é influenciada por
suas características físicas, tais como solubilidade em água e a pressão de vapor; e
por suas propriedades químicas, incluindo massa molecular, estrutura molecular e a
presença de vários tipos de grupos funcionais, alguns dos quais fornecem um
identificador bioquímico para dar início à biodegradação. Com os organismos
adequados e, sob as condições certas, até mesmo substâncias que são biocidas para
a maioria dos micro-organismos podem sofrer biodegradação. Substâncias
recalcitrantes ou biorrefratárias são aquelas que resistem à biodegradação e tendem
a persistir e a se acumular no ambiente. Estes materiais não são necessariamente
tóxicos para os organismos, mas simplesmente resistem ao seu ataque metabólico.
Até mesmo alguns compostos considerados como biorrefratários podem ser
degradados por micro-organismos adaptados à sua biodegradabilidade. Exemplos de
tais compostos e os tipos de microrganismos que podem degradá-los incluem: endrina
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 42
(Arthrobacter); DDT (Hydrogenomonas); acetato de fenilmercúricos (Pseudomonas) e
borracha crua (actinomicetos).

2.7 Conclusão

Um ecossistema é composto por uma variedade de comunidades de organismos e seu


ambiente circundante, existentes em um estado geralmente estável. Um aspecto
importante dos ecossistemas é o fluxo de energia e matéria.

Em um ecossistema existem intricadas relações entre os organismos, uns com os


outros e com seu entorno, que podem ser perturbadas pelos efeitos de substâncias
tóxicas (Figura 21). O fluxo de materiais inerentes aos ecossistemas pode estar
envolvido na dispersão e exposição a substâncias tóxicas. Exposição à xenobióticos
pode alterar a homeostase (estado de equilíbrio ecológico no ambiente) de organismos
individuais, levando a efeitos sobre as populações de tipos específicos de organismos,
as comunidades de organismos e o ecossistema como um todo. Há muitas
interconexões entre os ecossistemas terrestres e aquáticos, e muitos ecossistemas têm
componentes tanto terrestres quanto aquáticos. A ecotoxicologia aquática é
relativamente mais simples do que a Ecotoxicologia terrestre.

A exposição de organismos de substâncias tóxicas em sistemas aquáticos é


normalmente feita através do contato direto dos organismos com a água contaminada,
que pode ser analisada quimicamente para a presença de substâncias tóxicas. Os
organismos em ecossistemas aquáticos são largamente confinados a áreas
relativamente pequenas, embora haja exceções, como o salmão, que migra ao longo
de grandes distâncias para se reproduzir.

A ecotoxicologia terrestre é complexa por uma série de fatores. Um grande número


de organismos existem em vários níveis tróficos, encaixando uma variedade de peças
de teias alimentares e ocupando uma variedade de nichos ecológicos. Animais
terrestres podem mover distâncias significativas como forragem, migrar, defender
seus territórios e procuram locais mais favoráveis à sua existência. Considerando que
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 43
um corpo de água apresenta um alto grau de inércia, particularmente em direção a
mudanças de temperatura por causa da alta capacidade de calor da água, ambientes
terrestres podem sofrer mudanças repentinas e dramáticas na temperatura, umidade
e outros fatores que afetam o meio ambiente. É neste contexto variável que a
ecotoxicologia terrestre deve tentar determinar os efeitos, muitas vezes sutis e
pequenos, de produtos químicos xenobióticos, que muitas vezes estão presentes em
concentrações baixas e variáveis tóxicas no sangue dos patos femininos e causando
envenenamento fatal como resultado

Efeitos sobre a distribuição populacional podem servir como prova de tipos de


substâncias tóxicas: uma diminuição acentuada no número de juvenis pode indicar a
presença de venenos reprodutivas; uma baixa população de indivíduos mais velhos
pode resultar da exposição a agentes cancerígenos, o que leva um tempo
relativamente longo para ocorrer, para que os membros mais velhos desenvolvam
câncer e morram.

Muitos dos fatores que podem afetar adversamente a organismos são estressores
inerentes, incluindo a disponibilidade de nutrição, qualidade da água, temperatura e
outros extremos climáticos, doença e predação. É importante ser capaz de separar os
efeitos dos estressores inerentes dos produtos químicos tóxicos. Existem muitas vezes
importantes relações sinérgicas entre estressores inerentes e os efeitos de substâncias
químicas tóxicas. Os organismos que estão sob estresse de estressores inerentes são,
provavelmente, mais suscetíveis aos efeitos dos xenobióticos e substâncias tóxicas. A
observação das mortes de organismos e resultantes declínios nas populações, embora
simples e inequívoca, são muitas vezes insuficientes para explicar os efeitos das
substâncias tóxicas sobre os ecossistemas. Também é importante considerar os efeitos
subletais, que podem causar efeitos nocivos em populações sem matar diretamente
os indivíduos. A exposição a substâncias tóxicas pode reduzir as taxas de reprodução
de organismos e afetar as taxas de sobrevivência dos juvenis à idade adulta. A
capacidade de evitar predadores pode ser restringida, as capacidades de
forrageamento podem ser reduzidas e instintos homing e migração podem ser
adversamente afetados.
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 44
Variados testes são usados para monitorar os efeitos subletais. Um determinado teste
examina a indução de enzimas oxigenase de função mista, que são produzidas por
organismos para metabolizar substâncias tóxicas. Alguns dos efeitos mais bem
estudados de substâncias tóxicas sobre os ecossistemas foram aqueles que lidam com
os efeitos do ácido sobre os ecossistemas de água doce. O declínio do pH de uma
variedade quase neutra de 6.5 a 7.5 para valores em torno de 5,5 a 6,0 têm sido
observado em alguns lagos escandinavos durante o período aproximado de 30 anos
após 1940. Estes declínios foram acompanhados de perdas dramáticas de populações
de truta e salmão comercialmente valiosos. Os lagos com valores de pH inferior a 5,0
tornaram-se livres de peixe. Estudos experimentais da acidificação do lago também
demonstraram alterações nas comunidades de fitoplâncton e zooplâncton, com uma
perda generalizada de diversidade da população. Em alguns casos, esteiras compostas
de apenas algumas espécies de algas verdes filamentosas, mudaram o caráter inteiro
dos lagos.

Figura 21. Efeitos da contaminação

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 45
AULA 3 - Compostos tóxicos e seu efeito na saúde humana

3.1 Introdução

O objetivo desta tópico é identificar e descrever os efeitos dos contaminantes


ambientais significativos e outros processos antropogênicos capazes de produzir
desequilíbrios em ecossistemas: hidrocarbonetos, HPAs, metais pesados, arsênico,
selênio, moléculas inorgânicas, resíduos perigosos, entre outros.

Hidrocarbonetos de fontes antropogênicas são encontrados em todo o mundo, em


todos os componentes dos ecossistemas. Mais da metade do petróleo no ambiente
como contaminante é originado de derramamentos e descargas associadas com o
transporte de petróleo. Outros hidrocarbonetos vem de despejos industriais,
municipais e domésticos, assim como de veículos motorizados. Chumbo (Pb) é um
metal pesado altamente tóxico, não-essencial, e todos os efeitos conhecidos de
chumbo em sistemas biológicos são deletérios; emissões de chumbo antropogênicas
presentes resultaram em solo e água contaminados e de várias ordens de magnitude
maiores do que o estimado para emissões naturais. A extensão geográfica
generalizada e as consequências negativas da poluição pelo mercúrio continuam a
solicitar a investigação científica considerável. Globalmente o aumento das
concentrações de metilmercúrio é encontrado na biota aquática, mesmo em locais
remotos, como consequência de múltiplas fontes antropogênicas e seus lançamentos
de mercúrio no ambiente. O selênio é um elemento de semimetálico natural que é
essencial para a nutrição animal em pequenas quantidades, mas torna-se tóxico em
maiores concentrações dietéticas que não são muito superiores às necessárias para a
boa saúde. A maioria dos impactos de vida aquática associados com urbanização são
provavelmente relacionados, a longo prazo, a problemas causados pelos sedimentos
poluídos e perturbações na cadeia alimentares por radiação de fundo natural; a
irradiação ocorre desde a operação normal de usinas nucleares e reatores de produção
de plutónio, acidentes nucleares, armas nucleares, testes e contato com ou vazamento
de locais de armazenamento de resíduos radioativos. Avaliar os impactos das
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 46
instalações de energia nuclear no ambiente das liberações de rotina e acidentais de
radionuclídeos de ecossistemas aquáticos e terrestres é importante para a proteção
destes ecossistemas e seus componentes da espécie. Anualmente quase 17 milhões
ha de florestas tropicais estão sendo liberados para novas terras agrícolas. Os efeitos
globais do desmatamento incluem a perda insubstituível de espécies, as emissões para
a atmosfera de gases quimicamente ativos e a retenção do calor rastreamento (dióxido
de carbono metano, óxido nitroso e monóxido de carbono) e o consequente
aquecimento global. .O desmatamento corresponde acerca de 25% do aquecimento
global calculado, como resultado de todas as atuais emissões antropogênicas de gases
com efeito de estufa.

3.2 Tóxicos orgânicos em água, solo e ar


A toxicológica de compostos orgânicos abrange uma área de estudo muito ampla. Hoje
se conhece mais de 18 milhões de compostos orgânicos, e aqui trataremos dos que
podem exercer toxicidade e, entre estes os mais usuais como os hidrocarbonetos,
compostos orgânicos constituídos apenas por carbono e hidrogênio.

Classificação dos hidrocarbonetos


Para fins de discussão das toxicidades de hidrocarbonetos no presente capítulo, os
hidrocarbonetos serão agrupados em cinco categorias:
• Alcanos;
• Hidrocarbonetos não aromáticos insaturados;
• Hidrocarbonetos aromáticos;
• Hidrocarbonetos aromáticos com anéis múltiplos policíclicos e
• Hidrocarbonetos mistos.

Toxicologia de alcanos
A exposição do trabalhador aos alcanos, tem maior probabilidade de acontecer por
inalação, especialmente dos compostos de baixa massa molecular.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 47
Metano e etano: Metano tem a fórmula CH4 e etano C2H6 e ambos são asfixiantes
simples, o que significa dizer que, em locais com altas concentrações destes gases, há
consequentemente decréscimo significativo na concentração de oxigênio, o qual é
necessário para suportar a respiração nestes locais.

Propano e butano: Propano tem a fórmula C3H6 e butano C4H8. todos os são
asfixiantes ,como o metano e o etano, e uma alta concentração de propano afeta o
sistema nervoso central.

Pentano até octano: Os alcanos com cinco a oito átomos de carbono consistem em
n-alcanos. Estes compostos são todos líquidos voláteis sob condições ambientais; os
pontos de ebulição de isómeros de cadeia linear são de 36,1°C para o pentano e
125,8°C para o octano. Além de seus usos em combustíveis, tais como na gasolina,
estes compostos são empregados como solventes em formulações para diversos
produtos comerciais, incluindo tintas, colas e vernizes. A exposição a estes
hidrocarbonetos em níveis elevados no ar através da rota pulmonar levaram à morte
animais experimentais. Os seres humanos que inalaram elevados níveis destes
hidrocarbonetos tornaram-se tontos e perderam a coordenação como resultado da
depressão do sistema nervoso central. Apolineuropatia (vários distúrbios do sistema
nervoso) tem sido relatada em vários casos de exposição humana a n-hexano, tais
como os trabalhadores japoneses envolvidos na produção de sandálias usando cola
com solvente n-hexano. Os trabalhadores sofriam de fraqueza muscular e insuficiência
da função sensorial de mãos e pés.

Alcanos acima de oito carbonos: Alcanos superiores estão contidos no combustível


de aviões, em querosene, no combustível diesel, no óleo mineral e no óleo combustível
destilado do petróleo. Como combustíveis de destilado médio têm um intervalo de
ebulição de cerca de 175 a 370° C fração de hidrocarbonetos de petróleo com
intervalos de densidade de 0,83 a 0,86 g/ml para óleo mineral leve e 0.875 para 0.905
g/ml para óleo mineral pesado. Os alcanos mais elevados não são considerados muito
tóxicos. A inalação é a via mais comum de exposição ocupacional e pode resultar em

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 48
torpor, dor de cabeça e tonturas. Em caso de exposição extrema, coma e morte podem
ocorrer.

Toxicologia de hidrocarbonetos não aromáticos insaturados.

Etileno é o químico orgânico mais amplamente utilizado. Quase tudo é consumido


como uma matéria-prima química para a fabricação de outros produtos químicos
orgânicos. Polimerização de etileno para produzir polietileno é ilustrada na Figura 13.4.
Por causa de sua ligação dupla (insaturação), o etileno é muito mais ativo do que os
alcanos. Ele sofre reações de adição, como mostrado nos exemplos a seguir, para
formar um número de importantes produtos:
Cloroetano (Cloreto de etila): Os produtos das reações de adição mostrados acima
são todos comercialmente, do ponto de vista toxicológico e ambientalmente
importantes. Óxido de etileno é um gás incolor altamente reativo, usado como um
agente esterilizante, fumigante e intermediário na produção de etileno glicol e
surfactantes. É irritante para os olhos e tecidos da membrana mucosa do trato
pulmonar; a inalação do mesmo pode causar edema pulmonar.
Etileno glicol é um líquido incolor e um tanto viscoso usado em misturas com água
como um líquido de alto ponto de ebulição e baixa temperatura de congelamento
(anticongelante e glicol) em sistemas de refrigeração. A ingestão deste composto
provoca efeitos no sistema nervoso central, caracterizados por estimulação inicial
seguida de depressão. Doses elevadas podem causar intoxicação devido à oxidação
metabólica do etilenoglicol com ácido glicólico,
Dicloreto de etileno: é um líquido incolor, volátil, com um odor agradável, que é
usado como um fumigante de solo e gêneros alimentícios. Tem efeitos toxicológicos,
incluindo efeitos adversos sobre os olhos, o fígado e os rins; e efeito narcótico no
sistema nervoso central. Um composto altamente inflamável, o etileno forma perigosas
misturas explosivas com o ar. É fitotóxicos (tóxico para as plantas). Etileno, em si, não
é muito tóxico para os animais, mas é um asfixiante simples. Em altas concentrações,
ele age como um anestésico para induzir a inconsciência. A exposição humana ao
etileno é feita através da inalação.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 49
Propileno: é um gás com propriedades químicas, físicas e toxicológicas muito
semelhantes de etileno. Também é um asfixiante simples. Seu principal uso é na
fabricação de polímero de polipropileno, um plástico duro e forte, do qual são feitas
as garrafas de injeção-moldado, bem como tubulações, válvulas, cascos de bateria e
partes de automóveis.
Butadieno é amplamente utilizado na fabricação de polímeros, particularmente de
borracha. A primeira borracha sintética a ser fabricado em larga escala e utilizada
como substituta para a borracha natural. Butadieno é um gás incolor em condições
ambientes, com um odor suave, um pouco aromático. Em doses pequenas o vapor é
irritante para os olhos e mucosas do sistema respiratório, e em doses maiores pode
causar inconsciência e até a morte.
Acetileno: é amplamente utilizado como combustível e matéria-prima química para
oxiacetileno em tochas. Acetileno é um gás incolor com um odor parecido com alho.
Embora não seja notavelmente tóxico, atua como asfixiante e narcótico e tem sido
usado para anestesia. A exposição excessiva pode causar dor de cabeça, tonturas e
distúrbios gástricos.

Hidrocarbonetos aromáticos

Benzeno e seus derivados


Estes compostos são muito significativos na síntese química, como solventes e na
gasolina sem chumbo.

Benzeno
Benzeno (C6H6) quimicamente é um hidrocarboneto muito significativo. Ele é usado
como uma material para a fabricação de inúmeros produtos, incluindo resinas fenólicas
e poliéster, poliestireno plásticos e elastômeros (através de intermediário estireno,
alquilbenzeno surfactantes, compostos de clorobenzeno, inseticidas e corantes).
Benzeno é líquido e ferve a 80,1ºC, volátil, incolor, altamente inflamável com um odor
característico. Benzeno tem efeitos toxicológicos a curto e longo prazo (agudos e
crónicos). O benzeno é um irritante da pele, e as exposições locais progressivamente
mais intensas podem causar vermelhidão da pele (eritema), sensações fluidas de
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 50
ardência, acúmulo de (edema) e bolhas. Normalmente é principalmente absorvido
como um vapor através do trato respiratório. A inalação de ar contendo cerca de 64
g/m3 de benzeno pode ser fatal em poucos minutos; cerca de um décimo desse nível
de benzeno provoca intoxicação aguda dentro uma hora, incluindo um efeito narcótico
no sistema nervoso central manifestando-se progressivamente por excitação,
depressão, insuficiência do sistema respiratório e morte. Os efeitos agudos da
exposição ao benzeno mais preocupantes são efeitos crônicos, sintomas inespecíficos
que incluem fadiga, dor de cabeça e perda de apetite. Mais especificamente,
anormalidades de sangue aparecem em pessoas que sofrem de envenenamento por
benzeno crônico, causando danos por benzeno na medula óssea, podendo causar
leucemia. Os níveis permitidos de benzeno no ambiente de trabalho tem sido bastante
reduzidos e substitutos, tais como tolueno e xileno, são usados sempre que possível.

Tolueno, Xilenos e Etilbenzeno


Tolueno é um líquido incolor que ferve a 101,4 ° C. A gasolina tem entre 5% a 7% de
tolueno e é a fonte mais comum de exposição humana. O tolueno está presente na
cola de sapateiro, e por isso é um dos solventes mais comuns inalados por
dependentes químicos. Ele é classificado como moderadamente tóxico por inalação ou
ingestão e tem uma baixa toxicidade por exposição dérmica. A exposição acima de
500 ppm pode causar dor de cabeça, náuseas, coordenação prejudicada sem efeitos
fisiológicos detectáveis. Em níveis de exposição maciça, o tolueno atua como um
narcótico, o que pode levar ao coma.
Xilenos e Etilbenzeno são constituintes da gasolina comum, solventes industriais e
reagentes, por esse motivo a exposição humana a estes materiais é comum,
principalmente através da absorção por inalação. O metabolismo e efeitos destes
solventes são geralmente semelhantes aos do tolueno.
Naftaleno: também conhecido como alcatrão de cânfora (Figura 13.10), são
importantes produtos químicos industriais. Usado para fazer bolas de naftalina,
naftaleno é um sólido cristalino branco volátil com um odor característico. Alcatrão de
carvão e petróleo são os principais fontes de naftaleno. Numerosos derivados químicos
industriais são fabricados com ele.
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 51
Exposição a naftalina pode causar uma crise hemolítica grave em alguns indivíduos
com um defeito metabólico genético associado com atividade insuficiente da enzima
glicose-6-fosfato desidrogenase em glóbulos vermelhos. Os efeitos incluem anemia e
marcada reduções nestas células. O contato de naftaleno com pele pode resultar em
irritação da pele ou dermatite. A ingestão de naftaleno pode causar dores de cabeça,
confusão e vômitos; a falência dos rins é geralmente a causa da morte em casos de
envenenamentos por naftaleno.

Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos


Benzo(α) pireno é o mais estudado dos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP).
Estes compostos são formados pela combustão incompleta de outros hidrocarbonetos.
Fontes de produção de compostos HAP incluem escapamentos de motor, fogão de
madeira, fumo, cigarro, comida, fumaça e churrasco. Alcatrão de carvão e resíduos de
petróleo têm níveis elevados de HAP.
Vários passos levam à formação do produto metabólito cancerígeno de benzo
(α)pireno, que é considerado cancerígeno pela capacidade de se ligar ao DNA. Devido
à inalação de fumo, especialmente o fumo do tabaco, os pulmões são os locais mais
prováveis de ocorrência de câncer pela exposição a compostos HAP. No entanto, estes
compostos também são encontrados em alimentos cozidos sob exposição direta às
condições de pirólise e são suspeitos de causar câncer no sistema digestório.
.
Hidrocarbonetos mistos

Compostos Organo-oxigenados
Um número muito grande de compostos orgânicos e produtos naturais contém o
oxigênio em suas estruturas e são tóxicos. São eles:

Álcoois: Compostos em que o grupo funcional hidroxila (OH) é ligado a um esqueleto


de hidrocarbonetos alifáticos ou olefínicos.

Metanol: é também chamado álcool metílico. A maior utilização de metanol é na


fabricação de formaldeído. Usos adicionais incluem a síntese de outros compostos
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 52
químicos, incluindo o ácido acético, aplicados como um orgânico solvente em adição
à gasolina sem chumbo para combustível.

Metanol tem sido responsável pela morte de muitos seres humanos que ingeriram
acidentalmente ou como um substituto para o etanol de bebidas. Metanol ocorre em
alguns alimentos e aguardentes de frutas destilada; tais como aqueles da fermentação,
podem conter algum nível de metanol. A dose fatal humana é de cerca de 50g a 250g
no corpo. Para doses subletais, sintomas iniciais de disfunção visual podem surgir
temporariamente, seguidos por cegueira causada pela deterioração das células
ganglionares, do nervo óptico e da retina. Exposição crônica em níveis mais baixos de
metanol pode ser resultado da inalação de fumaça.

Álcool etílico, etanol: um líquido claro, incolor, amplamente utilizado como um


ingrediente de bebidas, químico sintético, solvente, germicida, anticongelante e aditivo
de gasolina. O etanol é constituente de bebidas e é responsável por mais mortes do
que qualquer outro produto químico. Alcoolismo crônico é uma doença decorrente
geralmente a longo prazo de efeitos da ingestão sistêmica de álcool, e é a causa de
inúmeras fatalidades por motoristas embriagados envolvidos em homicídios. Muitas
vezes, a manifestação mais prejudicial de toxicidade por álcool crônico consiste de
efeitos adversos sobre o fígado (hepatotoxicidade induzida pelo álcool).

Em geral, estes efeitos estão relacionados à depressão do sistema nervoso central.


Efeitos leves tais como diminuição da inibição começam a aparecer por volta de 0,05%
etanol de sangue. A maioria dos indivíduos são clinicamente intoxicados em um nível
entre 0,15% e 0,3% etanol de sangue; entre 0,3% e 0,5%, estupor pode ser sentido;
e acima de 0,5%, coma e morte muitas vezes ocorrem. Dentre os mais sérios efeitos
tóxicos do álcool é seu papel como um teratógeno quando ingerido durante gravidez,
causando Síndrome alcoólica fetal que é manifestada por inúmeros efeitos, com talvez
mais a ser descoberto. Um dos efeitos mais frequentes destes é a ocorrência de
defeitos na estrutura da cabeça e face, anormalidades do sistema nervoso sendo uma
das principais causas de retardo mental não genéticos.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 53
Álcoois superiores: Numerosos álcoois contendo três ou mais átomos de carbono
são usados como solventes e produtos químicos intermediários e para outros fins.
Pode ocorrer a exposição a estes compostos e suas toxicidades são altas. É um álcool
importante em estudos de toxicologia n-octanol C8H17OH. Este composto é aplicado
para a medição do coeficiente de partição octanol-água, (Kow) que é usado para
estimar como compostos orgânicos tóxicos são transferidos da água para lipídios, uma
tendência que está geralmente associado com a capacidade de atravessar as
membranas celulares e provocar efeitos tóxicos.

Fenóis: álcoois arila, na qual o grupo OH é ligado a um grupo hidrocarboneto


aromático. O mais simples destes compostos é o fenol, em que a parte do
hidrocarboneto é o grupo fenil. Geralmente, os fenóis têm efeitos toxicológicos
semelhantes. Fenol é um veneno celular. Primeiros estudos médicos que
demonstraram assepsia com fenol bem como revelou a sua toxicidade. Fenol é
acusado de ter causado "um número surpreendente de envenenamentos" desde que
entrou em uso geral.
Doses fatais de fenol podem ser absorvidas através da pele. Morte pode ocorrer
apenas meia hora após a exposição. Seus efeitos toxicológicos agudos são
predominantemente no sistema nervoso central. A exposição crônica ao fenol danifica
órgãos como o baço, o pâncreas e os rins, sendo possível ocorrer também edema
pulmonar.

Formaldeído: Aldeídos e cetonas são compostos que contêm o grupo carbonila (C =


O). Destes compostos, formaldeído é excepcionalmente importante por vários motivos.
É amplamente utilizado em um número de aplicações e comportamento químico,
toxicológica de exposições que pode diferir substancialmente de outros aldeídos
comuns. O formaldeído é um gás incolor com um odor pungente, sufocante. É um
dos mais amplamente utilizados produtos químicos industriais. Em solução com
metanol produz-se formalina. O formaldeído é uma intermediário na produção de
resinas (particularmente fenólicas de síntese de resinas), bem como um grande
número de compostos orgânicos sintéticos, tais como agentes quelantes. Formalina é
empregada em antissépticos, fumigantes, tecidos, conservantes de espécime biológico
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 54
e fluido de embalsamamento. Nos ambientes industriais com contínua exposição ao
formaldeído a substancia é um agente cancerígeno pulmonar.

Compostos de carbono inorgânico tóxico

Cianeto
Cianeto em forma de gás cianeto de hidrogênio (HCN) ou íon cianeto (CN–) (presente
na sais de cianeto como KCN), é notavelmente uma substância tóxica usada em várias
sínteses químicas. Cianeto é um veneno que age rapidamente e a dose oral fatal para
os humanos é apenas de 60 mg a 90 mg. Cianeto de hidrogênio e sais de cianeto têm
numerosos usos, são ingredientes dos venenos de pragas, fumigantes, Polimentos de
metais (prateado) e soluções químicas fotográficas. Portanto, a exposição ao cianeto
é certamente possível. Cianeto de hidrogênio é usado como um fumigante para matar
pragas, como roedores em armazéns, em locais de armazenamento de grãos,
escaninhos, estufas e porões de navios, onde sua alta toxicidade e capacidade de
penetrar ocupa espaços são amplos. Soluções de sal de cianeto são usadas para extrair
alguns metais como o ouro de minérios, no refino de metal, no chapeamento de metal
e para salvar prata do exposto fotográfico e filme de raio-x. Poliacrílico polímeros
podem evoluir para HCN durante a combustão, acrescentando que os gases tóxicos
são geralmente responsáveis por mortes em incêndios.

Algumas plantas contêm glicosídeos cianogênicos, substâncias saccharidal que contêm


o grupo – CN e que pode hidrolisar para liberar cianeto. Tais substâncias, chamadas

Cianogênios, incluem amigdalina, linamarina. Uma fonte potencial de envenenamento


por cianeto é mandioca, um amido da raiz Manihot esculenta usada como alimento em
grande parte da África. A raiz contém cianogênicos linamarina, que normalmente é
removida no processamento de preparo da raiz para o alimento. Casos generalizados
de um transtorno de medula espinhal chamado konzo e caracterizada por paralisia
espástica têm sido atribuídas a ingestão de linamarina da raiz de mandioca
inadequadamente processada.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 55
Monóxido de carbono, CO, é um gás tóxico industrial produzido pela combustão
incompleta de carbonáceos combustíveis. É usado como um redutor de minérios
metálicos, por síntese química e como combustível. Com toxicidade ambiental, é
responsável por um número significativo de intoxicações acidentais anualmente.
Observáveis efeitos agudos da exposição de monóxido de carbono nos seres humanos
abrangem uma vasta gama de sintomas e severidade, estes incluem deficiência de
julgamento e percepção visual em níveis de CO de 10 ppm no ar; tontura, dor de
cabeça e cansaço (100 ppm); perda de consciência (250 ppm); e morte rápida (1000
ppm). Efeitos crônicos da exposição de baixo nível a longo prazo ao monóxido de
carbono incluem doenças do sistema respiratório e o coração. Como prova das
disfunções cardíacas, este último, incluindo a arritmia e miocárdio isquemia
(deficiência de sangue nos músculos do coração), têm sido relatados em vítimas de
envenenamento por monóxido de carbono. As autópsias de tais vítimas têm mostrado
hemorragias dispersas por todo o coração.

Cianogênio, cianamida e cianatos

Cianogênio, NCCN, é um gás incolor e violentamente inflamável com um odor


pungente. Pode causar lesão permanente ou mesmo morte em indivíduos expostos e
vapores produzidos pela reação de cianogênio com água ou ácidos são altamente
tóxicos.
Cianamida, H2NCN e cianamida cálcica, CaNCN, são usados como fertilizantes e
matérias-primas. Cianamida de cálcio é empregada para a dessulfuração e nitridação
de aço. Inalação ou ingestão oral de cianamida provoca tonturas, abaixa a pressão
sanguínea e, por outro lado, aumenta taxas de pulso e respiração. Cianamida de cálcio
atua como um irritante primário da pele e dos tecidos do nariz e da garganta. O
principal produto metabólico de cyanimide é N-acetylcyanamide, que é encontrada na
urina de indivíduos expostos a cianamida.

Ácido ciânico, HOCN (ponto de ebulição (bp), 23,3 ° C; ponto de fusão (mp), – 86 °
C), é um perigoso líquido explosivo com um odor forte. Os sais de cianato ácido formas,

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 56
tais como cianídrico e KOCN, durante a decomposição de calor ou contato com ácido
forte ou ácido ciânico evoluem para gases muito tóxicos.

3.3 Tóxicos inorgânicos em água, solo e ar

Amônia, NH3 , é amplamente utilizada como um gás de síntese química, fertilizantes


e outras aplicações. Também é usada como uma solução de NH concentrado na água,
como reagente químico e como fertilizante. Tanques de amônia anidra liquefeita são
alvos comuns para os operadores de "laboratórios de metanfetamina" nas áreas
rurais, que roubam este produto químico perigoso para produzir anfetaminas ilícitas.
Sem dúvida, alguns do ladrões sofrem danos no processo, embora tais ferimentos
sejam raramente relatados. A evaporação da amônia líquida em contato com a pele
pode causar queimaduras. Amônia é um potente corrosivo a pele e pode danificar o
tecido do olho. Por causa de sua alta solubilidade em água, amônia é absorvida por
tecidos úmidos do o trato respiratório superior, quando inalada, a amônia provoca
constrição dos os bronquíolos, podendo causar danos aos pulmões como edema e
alterações na permeabilidade do pulmão.

Hidrazina, um comum nitrogênio inorgânico é composto. Hidrazina é hepatotóxica,


causando acúmulo de triglicerídeos no fígado, uma condição comumente chamado de
esteatose hepática. Estes efeitos podem estar relacionados com a capacidade da
hidrazina para aumentar a atividade das enzimas necessárias para produzir
diglicerídeos, esgotamento de ATP, ou inibição da síntese de proteínas. Hidrazina
agindo no fígado induz a hidrólise de glicogênio (amido animal) para liberar a glicose,
causando aumento excessivo nos níveis de glicose, uma condição chamada de
hiperglicemia. Isso pode resultar em depleção de glicogênio, levando para o efeito
oposto, hipoglicemia. Hidrazina inibe algumas enzimas, incluindo phosphoenol
pyruvatecarboxykinase e alguns transaminases que estão envolvidas no metabolismo
intermediário. Inchaço da mitocôndria celular tem sido observada após a exposição a

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 57
hidrazina e a exposição prolongada podem resultar na formação de grande
megamitocondria.

O mais grave efeito toxicológico de hidrazina é sua capacidade de causar indiretamente


metilação de DNA, levando ao câncer; inalação de hidrazina tem sido associada ao
câncer de pulmão.

Óxidos de nitrogênio
Óxido nítrico e Dióxido de nitrogênio são os dois óxidos de nitrogênio mais
comuns designados coletivamente como NxO. O óxido nítrico é produzido em
processos de combustão de combustíveis fósseis (especialmente carvão, óleo
combustível pesado e óleo de xisto)

Sob as condições de formação do smog fotoquímico, o óxido nítrico é convertido em


dióxido de nitrogênio: é geralmente considerado como o mais tóxico, apesar de todos
os óxidos de nitrogênio serem potenciais fontes tóxicas. Os efeitos tóxicos do No2 pela
inalação causam irritação severa das partes mais profundas dos pulmões, resultando
em edema pulmonar e bronquiolite fatal fibro-obliterante. A inalação, mesmo por
períodos muito breves, de ar contendo 200 a 700 ppm de NO2 pode ser fatal. Dióxido
de nitrogênio provavelmente atua como um agente oxidante.

Óxido nitroso, comumente conhecido como gás hilariante, é usado como um gás
oxidante e em cirurgias dentais como anestesia geral. É um depressor do sistema
nervoso central e pode agir como um asfixiante.

Fluoreto de hidrogênio (HF) pode ser em forma de uma clara, incolor líquido ou
gás. Forma vapores corrosivos quando expostos à atmosfera. A maior aplicação
comercial do fluoreto do hidrogênio é como um catalisador alquilante na refinação de
petróleo. Trabalhadores de quarto pote na indústria de alumínio primário estão
expostos a níveis de até 5 mg/m3 na atmosfera do local de trabalho e apresentam
níveis elevados de íon F–no seu plasma sanguíneo. O fluoreto de hidrogénio em solução
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 58
aquosa é chamado ácido fluorídrico, que contém HF de 30 a 60% em massa. Ácido
fluorídrico deve ser mantido em recipientes de plástico porque ele ataca vigorosamente
o vidro e outros materiais que contenham sílica (SiO2), produzindo o tetrafluoreto de
silício gasoso, SiF4. Tanto o fluoreto de hidrogênio e o ácido fluorídrico, referidos
coletivamente como HF, são irritantes extremos para qualquer tecido que entre em
contato. Áreas expostas tem difícil cicatrização, pode desenvolver-se gangrena, e
úlceras podem ocorrer nas áreas afetadas do trato respiratório superior. Sais de flúor,
como NaF, em níveis relativamente baixos, como cerca de 1 ppm, são usado em alguns
abastecimentos de água, posto que o flúor previne cáries. Em níveis excessivos o flúor
gera Fluorose, uma condição caracterizada por anormalidades dos ossos e dentes
causando manchas e perda de rigidez. O gado é especialmente suscetível ao
envenenamento pela precipitação de flúor na terra como resultado da poluição
industrial do pasto.

Cloreto de hidrogênio (HCl) pode ser encontrado como um gás pressurizado,


solução aquosa, ou líquida chamada ácido clorídrico, comumente denotada
simplesmente como HCl. O composto é incolor no estado puro e em solução aquosa.
Quando em estado de solução saturada a 36% HCl, o ácido clorídrico é um importante
produto químico industrial, com produção dos EUA de cerca de 2,3 milhões de
toneladas por ano. Ele é usado por químicos e na fabricação de alimentos, no
tratamento com ácido de poços de petróleo para aumento do fluxo de petróleo bruto
e processamento de metal. O cloreto de hidrogênio não é tão tóxico como HF, embora
sua inalação possa causar espasmos da laringe, bem como edema pulmonar e até a
morte em níveis elevados. Por causa de sua alta afinidade com a água, o vapor de HCl
tende a desidratar o tecido dos olhos e vias respiratórias. O ácido clorídrico é um fluido
fisiológico natural encontrado como uma solução diluída no estômago de seres
humanos e outros animais.

Acido hipocloroso e hipocloritos


Os halogênios formam várias oxiácidos e seus sais correspondentes. Destes, o mais
importante é o ácido hipocloroso (HOCl). O ácido hipocloroso e hipocloritos são usados
para branqueamento e desinfecção. A ação oxidante resultante é em grande parte
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 59
responsável pela toxicidade do ácido hipocloroso e hipocloritos como irritantes para
olhos, pele, e tecido de membrana mucosa.

Compostos inorgânicos de silício


Por causa de seu uso em semicondutores, o silício tem emergido como um elemento-
chave da tecnologia moderna. Simultaneamente a este fenômeno tem havido uma
tomada de consciência da toxicidade de compostos de silício, muitos dos quais,
felizmente, têm toxicidade relativamente baixa. Esta seção aborda os aspectos
toxicológicos de compostos inorgânicos de silício.

Sílica. O silício composto que provavelmente causou a maioria das doenças em seres
humanos é sílica SiO2. Silicone é uma substância mineral dura conhecida como quartzo
sob a forma pura e ocorrendo em uma variedade de minerais. Devido à ocorrência de
sílica em um grande número de materiais comuns que são amplamente utilizados na
construção, como areia de jateamento, fabricação de refratários, e muitas outras
aplicações industriais, a exposição humana ao pó de sílica é generalizada.

Essa exposição gera uma condição chamada silicose, um tipo de fibrose pulmonar.
Silicose causa fibrose e nódulos no pulmão, reduzindo a capacidade pulmonar e sendo
responsável por doenças pulmonares, como a pneumonia; pode também desenvolver
uma doença de pulmão denominada silicotuberculosis. Casos graves da silicose pode
causar a morte por oxigênio insuficiente ou por insuficiência cardíaca.

A exposição à sílica tem sido associada com maior incidência à Esclerodermia, uma
condição manifestada por endurecimento e rigidez do tecido conjuntivo. A este
respeito, acredita-se que a sílica atue por um mecanismo de adjuvante em que
melhora a resposta autoimune causada por outros agentes, tais como os silicones ou
parafina.

Amianto. Amianto descreve um grupo de minerais do silicato, tais como aqueles do


grupo serpentino, aproximado fórmula Mg3P(Si2O5)(OH)4, que ocorrem como fibras
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 60
minerais. Amianto tem muitas propriedades, como habilidades isolantes e resistência
ao calor, que possibilita numerosos usos. Ele era, até recentemente, utilizado em
materiais estruturais, telhas, caixas d’água e fabricação de tubulação. Seu uso foi
proibido. Infelizmente, a destinação inadequada e a quebra destes materiais pode
resuspender partículas de amianto e, a sua inalação danifica os pulmões e resulta em
um tipo característico de câncer de pulmão. Os efeitos tóxicos do asbesto são iniciados
quando as fibras de amianto no pulmão agem como irritantes locais e são fagocitados
por macrófagos (grandes células brancas do sangue). Os fragmentos de amianto
fagocitado são ocupados por lisossomos celulares, que secretam enzimas hidrolíticas,
digerindo-os. Este processo causa, nos alvéolos pulmonares, a formação de tecido
fibroso, rico em colágeno, promovendo o enrijecimento das membranas celulares e,
no pulmão como um todo

As três condições patológicas principais provocadas pela inalação de amianto são a


asbestose (um condição de pneumonia), mesotelioma (tumor do tecido mesoteliais
forro da cavidade torácica adjacentes aos pulmões) e carcinoma broncogênico (câncer
originado com as passagens de ar no os pulmões). Por causa destes efeitos na saúde,
o uso do amianto tem sido severamente controlados e programas generalizados foram
empreendidos para remover o amianto de edifícios. O câncer de pulmão de exposição
ao amianto tem uma forte relação sinérgica com a exposição à fumaça de cigarro. A
exposição prolongada ao asbesto, sozinho, aumenta em aproximadamente dez vezes
a incidência de câncer de pulmão.

Compostos de fósforo inorgânico

Fosfina, PH3 é um gás incolor que sofre autoignição em 100° C. É usado para a síntese
de compostos organofosforados. Sua produção inadvertida em sínteses químicas
envolvendo outros compostos de fósforo é um perigo potencial em processos
industriais e em laboratório. Gás fosfina é um irritante do trato pulmonar e depressor
do sistema nervoso central, é muito tóxico quando inalado e pode ser fatal. Sintomas
de exposição aguda incluem dor de cabeça, tonturas, queimação abaixo do esterno,
náuseas, vômitos, respiração difícil e dolorosa, irritação e edema pulmonar, tosse com
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 61
expectoração verde fluorescente, tremores, e fadiga. Convulsões têm aparecido em
algumas vítimas, depois de terem sido expostas à fosfina.

Trabalhadores expostos cronicamente a fosfina apresentam inflamação da cavidade


nasal e garganta, náuseas, tonturas, fraqueza e adversos gastrointestinais,
cardiorrespiratória, e os efeitos do sistema nervoso central. Os efeitos crônicos
também incluíram sintomas hepatotóxicos, icterícia, anormalidades do sistema
nervoso e densidade óssea aumentada.

Arsina pode ser gerada por processos quimicamente redutores na refinação de vários
metais. É uma substância altamente tóxica que pode causar casos fatais de
envenenamento. Seu principal efeito é sobre o sangue podendo causar colapso de
glóbulos vermelhos com liberação de hemoglobina (hemólise). Sintoma deste efeito é
a presença de hemoglobina na urina (Hemoglobinúria). Sintomas agudos de
envenenamento por arsina incluem dor de cabeça, falta de ar, náusea e vômitos.
Icterícia e anemia podem aparecer como sintomas, quando também ocorre de
envenenamento por arsênio.

Compostos inorgânicos de enxofre


Um dos elementos essenciais para a vida, o enxofre é um constituinte de vários dos
mais importantes compostos inorgânicos tóxicos. A forma elementar comum de
amarelo enxofre cristalino ou em pó, S8 , tem uma baixa toxicidade, embora a inalação
crônica possa irritar as membranas mucosas.
Sulfeto de hidrogênio (H2S) é um gás incolor com um odor fétido, semelhante a
ovo podre. É produzido em grandes quantidades, como um subproduto do carvão de
coque e refino de petróleo e quantidades maciças são removidas na limpeza do gás
natural ácido. Sulfeto de hidrogênio é liberado em grandes quantidades de vulcões e
fontes hidrotermais; é uma substância muito tóxica, que, em alguns casos, pode
causar uma resposta fatal mais rapidamente do que o cianeto de hidrogénio, com
efeitos tóxicos muito semelhantes.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 62
Como o cianeto, o sulfeto de hidrogênio inibe o sistema citocromo oxidase, essencial
para a respiração; afetando também o sistema nervoso central, causando sintomas
que incluem dor de cabeça, vertigem, e a comoção. Em locais em que o ar contém
mais de cerca de 1000 ppm de H2S, a exposição deve ser inferior a 30 minutos. Por
período maior pode ocorrer a morte por asfixia em consequência da paralisia do
sistema respiratório. Sulfeto de hidrogênio também pode causar efeitos tóxicos
localizados, um dos quais é o edema pulmonar.

Dióxido de enxofre e sulfitos


Dióxido de enxofre (SO2) é um intermediário na produção de ácido sulfúrico. É comum
em atmosferas poluídas, produzidos a partir da combustão de combustíveis fósseis,
siderurgia, metalurgia. Estas fontes adicionam anualmente milhões de toneladas de
dióxido de enxofre na atmosfera global e são em grande parte responsáveis pela chuva
ácida. O dióxido de enxofre é irritante para os olhos, a pele, as membranas mucosas
e o sistema respiratório. Como um gás solúvel em água, em grande parte é removido
no trato respiratório superior. Seu principal efeito é causar irritação no trato
respiratório, afetando as vias aéreas superiores e gerando o processo de
bronquioconstricção, resultando em aumento da resistência do fluxo de ar. Os
asmáticos podem sofrer bronquioconstricção após somente algumas inalações de ar
contaminado de dióxido de enxofre, no entanto o grau de resposta de quem sofre de
asma ao dióxido de enxofre é altamente variável. Dissolvido na água, o dióxido de
enxofre produz Ácido sulfuroso (H2SO3)

Ácido sulfúrico: é o produto químico mais produzido no mundo. Ele é usado para
produzir fertilizantes fosfatados, gasolina de alta octanagem e uma grande variedade
de produtos químicos orgânicos e inorgânicos. Grandes quantidades são consumidas
para limpeza e remoção dos óxidos superficiais no aço. O ácido sulfúrico é de especial
preocupação, como um poluente atmosférico. O ácido sulfúrico é dos principais
contribuintes para a chuva ácida. Emissões de dióxido de enxofre são quase sempre
acompanhadas por emissões de partículas que muitas vezes contém metais, tais como
vanádio, ferro e manganês. Estes metais podem catalisar a reação de SO2 para
gotículas de H2SO4. O resultado pode ser a formação de uma névoa de aerossol de
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 63
gotículas contendo ácido sulfúrico intensamente irritante. O ácido sulfúrico é um
agente venenoso e forte agente desidratante; o ácido prontamente penetra a pele
para atingir o tecido subcutâneo e provoca necrose dos tecidos, com efeitos parecidos
com os de queimaduras térmicas graves. Ácido sulfúrico na forma de vapores e névoas
pode agir como irritantes para os olhos e para o tecido das vias respiratórias. Em doses
inferiores, a inalação de ácido sulfúrico de fontes como precipitação atmosférica é
prejudicial ao trato pulmonar. Em comparação com o dióxido de enxofre, o ácido
sulfúrico é o mais potente irritante do tecido pulmonar. A exposição industrial causou
erosão nos dentes dos trabalhadores que trabalhavam perto do produto.

3.4 Resíduos perigosos

De acordo com a NBR 10004/2004 os resíduos perigosos devem apresentar as


seguintes características:
Inflamabilidade; Corrosividade; Reatividade; Toxicidade e Patogenicidade. Nesta aula
trataremos apenas dos resíduos que podem exibir toxicidade, e na próxima aula
discutiremos os resíduos perigosos de uma forma geral.

Ainda de acordo com a NBR 1004, “Um resíduo é caracterizado como tóxico se
uma amostra representativa dele, obtida segundo a ABNT NBR 10007, apresentar uma
das seguintes propriedades:
a) quando o extrato obtido desta amostra contiver qualquer um dos contaminantes
em concentrações superiores aos valores estabelecidos em norma.
constantes no anexo F. Neste caso, o resíduo deve ser caracterizado como tóxico com
base no ensaio de lixiviação, com código de identificação constante no anexo F;
b) possuir uma ou mais substâncias determinadas em norma e apresentar toxicidade.

Para avaliação dessa toxicidade, devem ser considerados os seguintes fatores:


• Natureza da toxicidade apresentada pelo resíduo;
• Concentração do constituinte no resíduo;

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 64
• Potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação,
tem para migrar do resíduo para o ambiente, sob condições impróprias de
manuseio;
• Persistência do constituinte ou qualquer produto tóxico de sua degradação;
• Potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação,
tem para degradar-se em constituintes não perigosos, considerando a
velocidade em que ocorre a degradação;
• Extensão em que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação,
é capaz de bioacumulação nos ecossistemas;
• Efeito nocivo pela presença de agente teratogênico, mutagênico, carcinogênico
ou ecotóxico, associados a substâncias isoladamente ou decorrente do
sinergismo entre as substâncias constituintes do resíduo.

c) ser constituída por restos de embalagens contaminadas com substâncias constantes


nos anexos D ou E;
d) resultar de derramamentos ou de produtos fora de especificação ou do prazo de
validade que contenham quaisquer substâncias constantes nos anexos D ou E;
e) ser comprovadamente letal aos seres humanos;
f) possuir substância em concentração comprovadamente letal aos seres humanos, ou
estudos do resíduo que demonstrem uma DL50 oral para ratos menor que 50 mg/kg
ou CL50 inalação para ratos menor que 2 mg/L, ou uma DL50 dérmica para coelhos
menor que 200 mg/kg.”

A NBR 10007/2004 fixa os requisitos exigíveis para amostragem de resíduos sólidos.


Na Tabela 5 abaixo é mostrado o procedimento de amostragem para alguns resíduos
perigosos.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 65
Parâmetro Método de preservação Tempo de
armazenagem

Bifenilas policloradas Refrigerar a 4°C, em 14 dias


(PCB ausência de luz
Carbono orgânico total Refrigerar a 4°C, em 28 dias
(TOC) ausência de luz

Boro Refrigerar a 4°C 180 dias


Sulfato Refrigerar a 4°C
Sulfeto reativo Refrigerar 4°C, em 24 h
ausência de luz
Solventes halogenados Refrigerar 4°C, em 14 dias
ausência de luz
Pesticidas, herbicidas e Refrigerar a 4°C, em 14 dias
inseticidas ausência de luz
Cromo VI Refrigerar a 4°C 24 h

Dioxinas e furanos Refrigerar 4°C, em 14 dias


ausência de luz
Fosfato total Refrigerar a 4°C
l

Hidrocarboneto Refrigerar a 4°C, em 14 dias


poliaromático (PAH) ausência de luz

Hidrocarbonetos totais Refrigerar a 4°C, em 14 dias


de petróleo (TPH) ausência de luz

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 66
Mercúrio total Refrigerar a 4°C 28 dias

Metais totais - 180 dias

H3PO4 ou H2SO4 até pH < 2 28 dias


Refrigerar a 4°C, em 14 dias
Compostos orgânicos ausência de luz
voláteis (VOC)

Cianeto total Refrigerar a 4°C, em 14 dias


ausência de luz
Cianeto total Adicionar Refrigerar a 4°C, em 14 dias
NaOH até pH >12, ausência de luz

Demanda bioquímica de Refrigerar a 4°C 48 h


oxigênio (DBO)

Demanda química de Analisar assim que 28 dias


oxigênio (DQO) possível ou adicionar
H2SO4 até
pH < 2; refrigerar a 4°C

Dióxido de carbono 24 h
(CO2) -

Fenóis Refrigerar a 4°C, 7 dias


adicionar H2SO4 até
pH< 2
Fluoreto - 28 dias

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 67
Fósforo total Adicionar H2SO4 até 7 dias
pH< 2, refrigerar a 4°C
Mercúrio Adicionar HNO3 até pH 28 dias
< 2,

Tabela 5. Amostragem para alguns resíduos perigosos

3.4.1 Radioativos, metais pesados, cancerígenos e mutagênicos

Muitos elementos químicos são capazes de emitir radiação, que pode ser
compreendida como um fenômeno que ocorre em átomos que, por alguma razão
física, se encontram em estado instável (Figura 22). A emissão de radiação é a forma
que estes átomos utilizam para alcançar a estabilidade química. O átomo emitirá
radiação até se tornar estável. Alguns elementos levam milhões de anos para
estabilizar-se, enquanto outros podem levar apenas milissegundos. A emissão de
radiação pode promover uma série de alterações moleculares, e pode formar células
cancerosas. A radiação nuclear pertence a esse grupo, podendo ser utilizada para
finalidades médicas trazendo benefícios aos seres vivos, mas em excesso pode ferir
ou até mesmo matar. A radiação emitida por um elemento químico pode ser de
natureza particulada ou ondulatória (eletromagnética). Os tipos de radiações nucleares
são:

Partícula α (alfa): é uma partícula que possui dois prótons e dois nêutrons, o que a
torna o núcleo atômico do hélio. Possui um baixíssimo poder de penetração, sendo
barrado mesmo por uma folha de papel, mas possui maior massa e energia dentre as
partículas radioativas sendo, portanto, mais destrutiva.
Partícula β (beta): um dos nêutrons do núcleo atômico se transforma em um próton,
um elétron e um antineutrino. O núcleo expulsa o elétron e o antineutrino, mas
mantém o próton, o que faz com que se transforme em outro elemento. A partícula
radioativa é então o elétron lançado do núcleo, que possui pouca massa e energia,
mas é capaz de uma penetração maior do que a existente na partícula alfa. É

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 68
necessário enfatizar que de que esse elétron não é um dos que está na camada de
valência, mas sim um que surgiu da transformação do nêutron.
Raio gama: Quando um átomo emite uma partícula alfa ou beta, é necessário
desfazer-se da instabilidade reminiscente no núcleo. Esse excesso de energia atirado
para fora é a radiação gama, que não possui massa ou carga elétrica. Não é uma
partícula, mas sim uma onda, com muita energia ionizante e poder de penetração
superior às outras partículas.

Figura 22. Radiação

Isótopos mais
Elemento Tempo de meia vida
estáveis

Tecnéco Tc-91 4.21 x 106 anos

Promecio Pm-145 17.4 anos

Poloniuo Po-209 102 anos

Astatinea At-210 8.1 horas

Radônio Rn-222 3.82 dias

Frâncio Fr-223 22 minutos

Radiuo Ra-226 1600 anos

Actínio Ac-227 21.77 anos

Thorio Th-229 7.54 x 104 anos

Protactínio Pa-231 3.28 x 104 anos

Uranio U-236 2.34 x 107 anos

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 69
Neptúnio Np-237 2.14 x 106 anos

Plutônio Pu-244 8.00 x 107 anos

Amerício Am-243 7370 anos

Cúrio Cm-247 1.56 x 107 anos

Berkelio Bk-247 1380 anos

Califórnio Cf-251 898 anos

Einstéinio Es-252 471.7 dias

Férmio Fm-257 100.5 dias

Mendelévio Md-258 51.5 dias

Nobélio No-259 58 minutos

Laurêncio Lr-262 4 horas

Rutherfordio Rf-265 13 horas

Dubnio Db-268 32 horas

Seaborgio Sg-271 2.4 minutos

Bohrio Bh-267 17 segundos

Hassio Hs-269 9.7 segundos

Meitnerio Mt-276 0.72 segundos

Darmstadtio Ds-281 11.1 segundos

Roentgenio Rg-281 26 segundos

Copernicio Cn-285 29 segundos

Ununtrio Uut-284 0.48 segundos

Flerovio Fl-289 2.65 segundos

Ununpentio Uup-289 87 milisegundos

Livermorio Lv-293; 61 milisegundos

Ununseptio Desconhecido

Ununoctio Uuo-294 1.8 milisegundos


Tabela 6. Elementos Radioativos. Fonte: Atomic Energy Agency. Database (2010)

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 70
Metais
Grande parte dos elementos químicos que compõem a tabela periódica está presente
no organismo humano. Tais elementos aparecem de forma combinada nas mais
variadas substâncias, desempenhando diferentes funções. É importante destacar,
ainda, vários outros metais sem os quais a vida humana não existiria. Entre eles estão
o crômio, o manganês, o cobalto, o níquel, o cobre e o molibdênio, envolvidos em
processos metabólicos que regulam a produção de energia e o bom funcionamento do
corpo humano. A ausência de alguns deles pode ocasionar sérias doenças. Alguns
metais e semimetais, por sua vez, quando presentes no organismo humano, podem
causar intoxicações. São exemplos clássicos: o arsênio, o chumbo, o cádmio e o
mercúrio. A falta ou o excesso de metais ou de quaisquer outros elementos químicos
é que pode ser prejudicial à saúde.

Mercúrio
Mercúrio (Hg) existe em três formas: mercúrio elementar, compostos inorgânicos e
compostos orgânicos. O mercúrio elementar provoca toxicidade quando o vapor de
mercúrio é inalado ; a principal fonte de mercúrio elementar no ambiente é a
desgaseificação natural da crosta terrestre. Estimativas do nível de mercúrio atingir a
atmosfera variam de 25.000 para 150.000 toneladas/ano e a atmosfera representa um
importante mecanismo para transporte global de mercúrio metálico. Por outro lado,
fontes antropogênicas são responsáveis por emitir 10 mil toneladas/ano.

O mercúrio é usado na fabricação de cloro e hidróxido de sódio pelo processo de célula


de mercúrio, em conservantes de tinta e na indústria eletrônica. É um subproduto da
fundição de processos (a maioria dos minérios contêm mercúrio) e é liberado durante
a combustão de combustíveis fósseis. O mercúrio metálico e seu vapor podem ser um
perigo industrial. Na forma de vapor, o mercúrio elementar é bem absorvido tanto
pelos alvéolos dos pulmões quanto pela barreira sangue-cérebro. A intoxicação aguda
ocorre geralmente dentro de algumas horas gerando sintomas como fraqueza,
calafrios, gosto metálico, salivação, náuseas, vômitos, diarreia, dificuldade respiratória,
tosse e aperto no peito. No caso de exposição mais prolongada, pneumonite intersticial
pode ser desenvolvida. A recuperação é normalmente completa, no entanto pode
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 71
persistir uma perda residual da função pulmonar. A exposição crônica a vapor de
mercúrio resulta em distúrbios no sistema nervoso central, incluindo tremor e uma
variedade de mudanças de comportamento tais como: depressão, irritabilidade,
timidez, instabilidade, confusão e esquecimento. Sais inorgânicos, como o cloreto de
mercúrio, podem causar toxicidade grave e aguda. Nas membranas das células da
mucosa bucal, proteínas são precipitadas, dando-lhes uma cor cinza na boca e faringe.
Dor abdominal intensa e vômitos são comuns.

O metilmercúrio é a espécie mais tóxica do mercúrio e o interesse em seu estudo deve-


se principalmente à capacidade de ser bioacumulado através da adsorção em corpos
superficiais, na ingestão de alimentos, principalmente de peixes, bem como sua
entrada antrópica no ambiente, em até um milhão de vezes ao longo da cadeia
alimentar aquática. Nos sedimentos o metilmercúrio é consideravelmente mais tóxico
que o mercúrio inorgânico, apesar de representar, em média, apenas cerca de 1,5%
do mercúrio total. Partículas ricas em Hg2+ são transportadas para o sedimento, onde
o metal pode ser metilado por bactérias sulfato-redutoras.

O metilmercúrio é a causa mais comum de envenenamento mercurial orgânico e o


mais importante do ambiente. É extremamente bem absorvida pelo trato
gastrointestinal (90%) e depositado no cérebro. Por causa de sua alta afinidade por
grupos SH, o metilmercúrio se vincula a cisteína e isto pode, em seguida, substituir
para metionina e ser incorporado em proteínas. A captação renal de mercúrio é rápida
e se acumula nos rins. Os principais sinais e sintomas são neurológicos e consistem
em distúrbios visuais, falta de coordenação motora, fraqueza, perda de sensibilidade,
perda de audição, dor nas articulações, deterioração mental, tremor e em casos
graves, paralisia e morte. Vários surtos de intoxicação por metilmercúrio ocorreram; o
mais extensamente conhecido começou em Minimata, Japão, em 1953, perto de uma
fábrica de acetaldeído e que descarregada cloreto de metilmercúrio (MeHg+Cl−) na
Baía de Minimata. Pessoas que comeram grandes peixes e moluscos da Baía e
desenvolveram os sintomas que vieram a serem conhecidos como doença de
Minamata. Muitas mortes ocorreram neste caso, e devido à elevada toxicidade fetal de
mercúrio muitos bebês nasceram deformados. Outra fonte de toxicidade do mercúrio
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 72
é o consumo de grãos de sementes tratadas com cloreto de methilmercurio como um
fungicida. Várias intoxicações em massa ocorreram em todo o mundo. No Iraque, em
1972, um episódio resultou em mais de 6500 casos de mortes por envenenamento.

Figura 23. Contaminação

Chumbo
As fontes de chumbo são numerosas: baterias automotivas, esmaltes de louças, solda
em latas e panelas e tubos para despejos de esgoto. Ocorrem ainda exposições
ocupacionais da mineração de chumbo, fundição e fabricação de produtos
empregando chumbo e também com o uso de tintas à base de chumbo.

As crianças também podem ser expostas a chumbo frequentemente por causa da tinta
velha em edifícios mais antigos – síndrome dos edifícios antigos. Em crianças, a
característica dominante da toxicidade aparece no sistema nervoso central;
começando com vertigens e irritabilidade, progredindo para delírios, vômitos e
convulsões. A taxa de mortalidade é de cerca de 25% se for tratada, e cerca de 65%
se não for tratada.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 73
Em lactentes, a exposição produz deterioração mental progressiva após 18 meses,
com perda de habilidades motoras, retardado no desenvolvimento do bebê e
hipercinese em alguns casos. As crianças não são as únicas vítimas de envenenamento
pela tinta com chumbo. Jateamento de edifícios velhos pintados com tinta
contaminada por chumbo podem, ao longo do tempo, causar envenenamento crônico
por chumbo em trabalhadores que inalam o pó. Os respiradores apropriados e roupas
protetoras são necessários para os trabalhadores que utilizam aparelhos de
jateamento nas paredes de edifícios antigos.

Aquecimento de um quartilho de chumbo a uma temperatura suficientemente elevada


pode liberar gases de chumbo que podem ser inalados, tochas de corte podem
produzir calor suficiente para fazer isso, e em todos os indivíduos expostos, a
toxicidade sincrônica pode envolver interferência com a síntese do heme mitocondrial
em vários níveis, tendo como resultado uma pequena anemia microcítica hipocrômica
resultante e palidez.

A absorção gastrointestinal de chumbo provavelmente ocorre através de canais de


cálcio, como o chumbo é um cátion divalente (Pb2+). Ele aparece inicialmente em
células vermelhas do sangue, depois nos hepatócitos e nas células epiteliais dos
túbulos renais. Ele gradualmente é redistribuído para cabelo, dentes e ossos, onde
95% do elemento é armazenado sem causar danos. O T1/2 no sangue dura de 30 dias,
nos ossos, 25 anos. O cérebro adulto é pouco atingido, o cérebro infantil sofre maiores
danos. A excreção renal é a principal via de eliminação.

Cádmio
Cádmio (Cd) está presente naturalmente no ambiente em níveis muito baixos, sendo
solubilizado durante o intemperismo da rocha (níveis são por volta de 0,03 μg/g de
solo, 0.07 μg/mL de água doce e de 1 ng/m3 de ar). O cádmio dissolvido pode formar
uma série de compostos orgânicos e inorgânicos, solúveis e insolúveis. O cádmio é
quimicamente similar ao zinco e está presente no minério de zinco em uma proporção
de cerca de 1/250. A maior parte do cádmio é produzido como um subproduto de
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 74
fabricas de zinco eletrolítico. Ele é usado no chapeamento de metal, na fabricação de
baterias de níquel-cádmio, na fabricação de pigmentos, em plásticos estabilizadores,
e pequenas quantidades são usadas em produtos químicos fotográficos, catalisadores,
em fungicidas utilizados em campos de golfe.

Emissões ambientalmente significativas vêm principalmente de operações de fundição


de cobre, chumbo e zinco, de autoescape e fabricação de pigmentos e ligas (a maioria
das baterias de níquel-cádmio são importadas no Canadá). O cádmio é prontamente
absorvido por plantas e armazenado nas folhas e sementes; e está presente nos
adubos de lodo de esgoto (recomendados máximo 20 ppm). A poluição da água com
cádmio pode resultar em níveis elevados de contaminação em peixes e especialmente
em moluscos. As principais fontes de contaminação na dieta humana são carnes de
órgãos (cádmio acumula-se no fígado e nos rins), grãos de cereais, moluscos e
crustáceos.

Cádmio é aprisionado no rim e no fígado por uma proteína de cisteína (ou seja, rico
em SH) chamada metalotioneína com uma elevada afinidade para cádmio e zinco.

A síntese de metalotioneína é induzida pela presença do cádmio. Doses elevadas, que,


excederem a capacidade de ligação cádmio-proteína, o metal excedente permanece
livre para poder se ligar a outros componentes celulares essenciais, tais como a
membrana basal do glomérulo renal. Os rins são os principais órgãos afetados pela
toxicidade. Cerca de 200 μg /g de cádmio no rim, indica ser a concentração crítica no
córtex renal.

Cádmio causa dano celular provavelmente por ligação a grupos SH das proteínas
celulares essenciais. Trabalhadores em refinarias de metal podem ser expostos a altos
níveis de vapores de cádmio e desenvolvem dificuldades respiratórias. A exposição
crônica pode provocar enfisema e doença pulmonar obstrutiva. Estudos em animais
mostraram cádmio como cancerígeno e há uma sugestão que possa aumentar a
incidência de câncer de próstata em homens idosos. Outros metais, nomeadamente
arsénio, cromo e chumbo, também têm sido implicados como agentes cancerígenos.
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 75
Arsénio (ou Arsênico)
A poluição das águas superficiais e subterrâneas é uma das principais fontes tóxicas
deste elemento. Arsénio, em uma concentração de 50 μg/L em água, pode causar
problemas de saúde durante 10 a 15 anos. Arsênico no ambiente surge a partir do
intemperismo da rocha e de emissões da fundição de ouro, prata, cobre, zinco e
minérios de chumbo, combustão de combustíveis fósseis e a utilização da substancia
na agricultura como herbicidas e pesticidas. Partículas suspensas no ar podem viajar
distâncias consideráveis e penetrar profundamente nos pulmões. O envenenamento
agudo por arsênio causa dor abdominal e é raro.

A intoxicação crônica provoca fraqueza muscular e dor, pigmentação da pele,


distúrbios gastrointestinais, danos nos rins e fígado e neurite periférica com paralisia
eventual. As unhas desenvolvem linhas brancas, que podem ser usadas para
determinar quando ocorreu a exposição. Arsina é a forma gasosa de arsênio resultante
de processos eletrolíticos e é extremamente tóxica e tem cheiro semelhante ao alho,
produzindo hemólise rápida e muitas vezes fatal.

Arsênio é absorvido por plantas e o grau de absorção varia com o tipo de solo; solos
ricos em argila e material orgânico inibem esse processo. Arsênio também pode entrar
em corpos hídricos através de escoamento superficial e de precipitação.
Arsênio pode ser absorvido pelo trato gastrointestinal, pelos pulmões, e por toda a
pele e membranas mucosas. O T1/2 de arsênico é de cerca de 10 h e a excreção é
principalmente pelos rins.

Crômio: Derivado do cromo (Cr) é usado na produção de aço inoxidável, cromagem,


pigmentos e na indústria química. O crómio tem dois estados de oxidação: Cr+3 e
Cr+6. O último é muito mais tóxico, causando severas irritações respiratórias quando
inalado e, possivelmente, após longa exposição crônica, câncer de pulmão e danos
renais.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 76
A forma trivalente prontamente vincula a doação de elétrons ligantes como
macromoléculas como o RNA, mas não atravessa facilmente a membrana celular. Por
outro lado, a forma hexavalente prontamente atravessa as membranas celulares e é
reduzida para a forma trivalente intracelular. A toxicidade, portanto, é normalmente
relacionada com a presença da forma hexavalente no ambiente. Ar a níveis tão baixos
quanto 10 μg/m3 de Cr+6 pode produzir irritação respiratória. Cromo é distribuído na
biosfera da mesma forma que o arsênio e pode ter efeitos similares.

Outros metais
Praticamente qualquer metal, se tomado em quantidades excessivas ou por uma via
incomum, pode causar toxicidade. Assim, a inalação de qualquer pó de metal pode
causar fibrose pulmonar.

Alumínio
Os rins não limpam alumínio muito eficientemente e em casos de insuficiência renal
pode acumular-se a níveis tóxicos. Os níveis de alumínio estão presentes em alimentos
e água, e se a água livre de alumínio não é usada em máquinas de diálise, os pacientes
podem acumular elevados níveis sanguíneos de alumínio ao longo do tempo. Esse
acúmulo pode causar anemia microcítica que pode ser tratada com a quelante
desferoxamina, que remove o alumínio do sangue. Antes que o problema com o
alumínio e a diálise fosse identificado, alguns pacientes desenvolveram níveis muito
elevados de alumínio no sangue, além de sinais e sintomas de demência semelhante
à doença de Alzheimer.

Manganês
A preocupação pública tem aumentado pelo risco de uma forma de manganês inalável,
o aditivo de combustível tricarbonila de metilciclopentadienil manganês (MMT).

O MMT é um intensificador de octanagem empregado pela indústria de petróleo. Um


grupo da OMS realizou um estudo com trabalhadores em Quebec, Canadá, que haviam
sido expostos ao vapor de manganês e poeira durante a fabricação de ligas metálicas.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 77
Os trabalhadores demonstraram problemas com coordenação motora e atividade
mental.

Manganismo é uma condição na qual os sinais e sintomas como de Parkinson,


aparecem: tremores, perda de memória, irritabilidade, insônia, dificuldades com a fala
e, em casos graves, insanidade.

Urânio
Urânio é nefrotóxico. Liga-se à albumina e ânion bicarbonato que são filtradas pelos
rins, onde ele se dissocia. O cátion de uranilo livre liga-se às proteínas no túbulo
proximal e os danifica. Metais tóxicos podem também substituir os metais fisiológicos,
como quando o chumbo e estrôncio 90 são depositados nos ossos e dentes como o
cálcio.

Antimônio
Antimônio é um contaminante industrial com distribuição e toxicidade essencialmente
similar ao arsênio.

3.5 Sistemas de medição de tóxicos em água, solo e ar

O princípio fundamental na qual toxicidade de todos os testes são baseados é o


reconhecimento de que a resposta dos organismos vivos à presença de agentes tóxicos
(exposição) é dependente da dose (nível de exposição) do agente tóxico. Usando este
princípio, testes de toxicidade aquática são projetados para descrever uma relação
concentração-resposta, conhecida como a curva concentração-resposta quando o
efeito medido é plotado graficamente contra a concentração do tóxico.

Testes de toxicidade aguda


Medem os efeitos dos agentes tóxicos a curto prazo sobre espécies aquáticas durante
um curto período de sua vida útil. Estes testes avaliam os efeitos na sobrevivência ao
longo de um período de 24 horas a 96 horas. Várias espécies são utilizadas para testes
em água, e as espécies mais frequentemente usadas são: truta arco-íris
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 78
(Oncorhynchus mykiss), bagre americano (Ictalurus punctatus), Daphnia magna,
Ceriodaphnia dubia, anfípodes (Hyalella azteca), algas verdes (Selenastrum
capricornutum), algas marinhas (Skeletonema costatum), camarão (Mysidopsis
bahia), vermes marinhos (Nereis virens), ostras (Crassotrea virginica), mexilhão
(Mytilus edulis) e moluscos marinhos (mandala sp.).

Testes de toxicidade aguda geralmente são realizados por meio de cinco


concentrações do agente químico, um controle e um veículo (ou seja, apenas o
solvente em que o agente químico é solubilizado). Nesses testes, geralmente 10 a 20
organismos são utilizados por cada ensaio. Mais diretrizes regulatórias requerem níveis
de exposição duplicados, embora isso não seja necessário para o registro de pesticidas.
Parâmetros de qualidade de água sobrejacente geralmente são obrigados a estar
dentro dos seguintes intervalos: temperatura, ± 1°C; pH, 6,5 a 8,5; dissolvido o
oxigênio, maior que 60% da saturação; dureza (moderadamente dura), 140-160 mg/L
CaCO3

Testes de toxicidade crônica


Projetados para medir os efeitos de substâncias tóxicas para as espécies aquáticas ao
longo de um tempo maior do ciclo de vida do organismo, tipicamente um décimo ou
mais da vida do organismo. Testes com algas duram normalmente 3 a 4 dias.

Estudos crônicos avaliam os efeitos subletais de tóxicos na reprodução, crescimento e


comportamento devido a distúrbios fisiológicos e bioquímicos. Efeitos na sobrevivência
são avaliados mais frequentemente, mas nem sempre são o objetivo principal do
estudo.

Testes de toxicidade em fluxo contínuo.


Projetados para substituir a água de diluição e também tóxica continuamente (testes
de fluxo contínuo) ou em intervalos regulares intermitentes (testes de fluxo
intermitente). Estudos de longo prazo são normalmente executados dessa maneira.
Como eles são muito mais eficientes em manter um alto nível de qualidade da água,
garantem a saúde dos organismos teste. Ensaios em fluxo contínuo geralmente
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 79
eliminam preocupações relacionadas com o acúmulo de amônia e oxigênio dissolvido,
bem como garantem que a concentração tóxica permaneça constante. Esta
abordagem permite que mais organismos teste sejam usados.

Testes em sedimentos.
A ciência dos testes de toxicidade de sedimentos expandiu-se rapidamente.
Sedimentos em sistemas naturais e em sistemas de teste muitas vezes agem como
um sumidouro de contaminantes ambientais, frequentemente reduzindo a sua
biodisponibilidade. Biodisponibilidade refere-se a fração do contaminante presente que
está disponível para absorção pelos organismos aquáticos e é capaz de exercer um
efeito tóxico. Na medida em que a biodisponibilidade é reduzida em sedimentos, é
dependente das propriedades físico-químicas do teste químico e das propriedades dos
sedimentos. Agora é amplamente reconhecido que o teor de carbono orgânico do
sedimento é o componente mais importante por controlar a biodisponibilidade de
compostos orgânicos (apolares) não iônicos. Para alguns metais (cádmio, cobre, níquel
e chumbo, prata e zinco) o conteúdo de sulfeto ácido volátil (SAV) mostrou controlar
a biodisponibilidade de metais em sedimentos. O reconhecimento de que sedimentos
são ambos um dreno e uma fonte de produtos químicos em ambientes naturais
levaram ao interesse aumentado em sedimentos e ao desenvolvimento de padrão de
testes. Nos sedimentos são realizados estudos agudos, bem como estudos de
toxicidade crônica.

Bioensaios de sedimentos típicos são usados para avaliar a toxicidade potencial de


produtos químicos ou a bioacumulação. Sedimentos podem ser recolhidos do campo
ou preparados com compostos adequados no laboratório. Deve haver cuidado na
escolha de locais para teste, coleta, manipulação e armazenagem dos sedimentos.
Testes de sedimentos em campo não são baseados em um número definido de
concentrações, mas dependem de uma comparação de amostras de referência e
controle com sedimentos de lugares de interesse.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 80
3.6. Conclusão

Nesta aula, os principais poluentes foram classificados em cinco grupos: íons


inorgânicos, poluentes orgânicos, os compostos metálicos e organometálicos, isótopos
radioativos e produtos perigosos. Suas estruturas, propriedades e ocorrência foram
descritos resumidamente. Esses poluentes foram abordados por constituírem os
principais problemas ecotoxicológicos verificados e os causadores de maior número de
fatalidades. Relacionou-se as propriedades dos compostos individuais com seus
destinos ambientais, sua toxicidade para os organismos individuais e seus efeitos sobre
as populações, comunidades e ecossistemas. Foram vistas também as influências de
propriedades tais como a polaridade, ponto de fusão, coeficiente de partição e
estabilidade molecular sobre a circulação e distribuição de produtos químicos
ambientais. Os testes de toxicidade normalmente utilizados para verificar o efeito de
substâncias tóxicos foi comentado. Ficou evidente que os seres vivos estão expostos
a uma quantidade enorme de contaminantes e a aplicação da legislação protetora
vigente, testes de toxicidade e monitoramento são essenciais.

AULA 4 - Gerenciamento de resíduos tóxicos

4.1 Introdução

O conceito de resíduos perigosos é bastante amplo porém, pode ser compreendido


como as substâncias com propriedades físico-químicas capazes de propiciar risco à
saúde pública, provocando mortalidade, incidências de doenças ou acentuando seus
índices, causando risco ao meio ambiente ou quando o resíduo for gerenciado de forma
inadequada.

A Convenção de Basileia, em 1989, tratou do controle dos movimentos


transfronteiriços de resíduos perigosos. No documento oriundo desta convenção, fica
estabelecido em seu artigo I, anexo I que: “resíduos perigosos são aqueles cujas

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 81
propriedades tóxicas, infecciosas, radioativas ou inflamáveis, colocam em riscos reais
ou potenciais a saúde dos seres humanos, outros organismos vivos ou o ambiente”.

Além disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) identificou algumas propriedades
físico-químicas que possibilitam classificar um determinado produto como perigoso:
temperatura, pressão, toxicidade, corrosividade, radioatividade, inflamabilidade,
potencial de oxidação, explosividade, reação espontânea, polimerização,
decomposição, infectantes, entre outras.

Na atividade de transporte são considerados produtos perigosos aqueles listados pela


ONU e, no caso do Brasil, pelo Ministério dos Transportes. Essa listagem, que é
atualizada periodicamente, possui mais de 3.000 produtos. Cabe ressaltar que os
produtos considerados perigosos são imprescindíveis à vida moderna o que torna
inviável o desenvolvimento de nossa atual sociedade sem esses produtos.

4.2 ABNT NBR 10004

A classificação dos resíduos sólidos de acordo com sua periculosidade à saúde humana
e ao meio ambiente está baseada na NBR 10.004/2004 da Associação Brasileira de
Normas Técnicas – ABNT e estão enquadrados da seguinte forma:
• Resíduos perigosos ou Classe I;
• Resíduos não perigosos ou Classe II.

Os resíduos não perigosos são classificados em inertes – Classe II-B e não inertes –
Classe II-A.

Os resíduos Classe II-A tem propriedades de biodegradabilidade, combustibilidade e


solubilidade em água, como resíduos orgânicos, por exemplo. Os resíduos Classe II-B
“quando amostrados de forma representativa, e submetidos a um contato dinâmico e
estático com água destilada ou desionizada, à temperatura ambiente, não tiverem

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 82
nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões
de potabilidade da água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor”.

Os resíduos sólidos Classe I – Perigosos, possuem uma ou mais características como


inflamabilidade, corrosividade, toxicidade, reatividade e patogenicidade.
a) Inflamabilidade – os resíduos são classificados como inflamáveis se apresentam
uma ou mais destas características:
• Ser líquido com ponto de fulgor inferior a 60º C, com exceção das soluções
aquosas com menos de 24% do volume em álcool (ABNT NBR 14.598/2007);
• Não ser líquido, mas em condições de temperatura de 25º C e pressão de 01
atmosfera produzir fogo por fricção, absorção de umidade ou alterações
químicas espontâneas, queimando de modo vigoroso e persistente dificultando
a extinção do incêndio;
• Ser oxidante, substância que pode liberar oxigênio estimulando a combustão
ou aumentando a intensidade do fogo em outros materiais;
• Ser gás comprimido inflamável de acordo com as regras para o transporte de
produtos perigosos (Portaria 204/1997 do Ministério dos Transportes).

b) Corrosividade – os resíduos são corrosivos quando apresentam uma ou mais


destas características (ABNT NBR 10.007/2004):
• Ser aquoso, possuir pH (potencial hidrogeniônico) inferior ou igual a 2, superior
ou igual a 12,5 e quando misturado com água na proporção de 1:1 em peso
produzir uma solução com PH inferior a 2 ou superior ou igual a 12,5;
• Ser líquido e quando misturado com água na proporção 1:1 em peso produzir
corrosão no aço maior que 6,5 mm/ano em temperatura de 55º C.

c) Toxicidade – Os resíduos são classificados como tóxicos quando apresentam uma


ou mais destas características (ABNT NBR 10.007/2004):
• Possuir contaminantes em concentrações superiores aos valores constantes no
anexo F da NBR 10.004/2004;

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 83
• Possuir uma ou mais substâncias constantes no anexo C da NBR 10.007/2004
e apresentar toxicidade, avaliadas de acordo com os seguintes critérios:
o Natureza da toxicidade apresentada;
o Concentração dos constituintes tóxicos;
o Potencial do constituinte ou produtos tóxicos de sua degradação em migrar para
o meio ambiente em condições impróprias de manuseio;
o Persistência do constituinte ou produtos tóxicos de sua degradação;
o Potencial do constituinte ou produtos tóxicos de sua degradação em produtos
não perigosos, considerada a velocidade da degradação;
o Extensão em que o constituinte ou produtos tóxicos de sua degradação causam
bioacumulação nos ecossistemas;
o Efeitos nocivos por agentes teratogênicos, mutagênicos, carcinogênicos ou
ecotóxicos de substâncias isoladas ou decorrentes da sinergia entre os
constituintes do resíduo;
o Constituir-se de restos de embalagens contaminadas com as substâncias
constantes dos anexos D ou E da NBR 10.007/2004;
o Resultar de derramamentos de produtos fora das especificações ou prazo de
validade que contenham substâncias dos anexos D ou E da NBR 10.007/2004;
o Possuir substâncias letais aos seres humanos em concentrações que
demonstrem uma DL50 (dose letal) oral para ratos menor que 50 mg/kg, CL50
(concentração letal) inalada por ratos menor que 2 mg/l ou DL50 dérmica em
coelhos menor que 200 mg/kg.

Observação: a NBR 10.007/2004 da ABNT contém os anexos A, B, C, D, E, F e G com


instruções normativas e o anexo H com informações.

d) Reatividade – os resíduos são reativos quando apresentam uma ou mais destas


características:
• Serem instáveis e reagirem de forma violenta e imediata sem detonar;
• Reagirem de forma violenta com a água;
• Formarem misturas potencialmente explosivas em contato com a água;

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 84
• Gerarem gases, vapores ou fumaças tóxicas em quantidades suficientes para
quando misturados à água, provocarem danos à saúde pública ou ao meio
ambiente;
• Possuírem na constituição os íons CN (cianeto) ou S2- (íons de enxofre) em
concentrações acima de 250 mg de HCN (cianeto de hidrogênio) liberável por
kg de resíduo (USEPA SW 846)
• Quando confinados, produzirem explosões ou detonações sob estímulo, ações
catalíticas ou temperatura ambiente
• Produzirem reações ou decomposições detonantes ou explosivas a 25º C e 01
atmosfera de pressão;
• Serem explosivos, fabricados com substâncias que produzam explosões ou
efeitos pirotécnicos.

e) Patogenicidade – os resíduos sólidos patogênicos são os que contêm ou suspeita-


se conter micro-organismos associados a doenças, proteínas virais, ácidos
desoxirribonucleicos ou ribonucleicos (DNA e RNA), organismos geneticamente
modificados, plasmídeos, cloroplastos, mitocôndrias e/ou toxinas capazes de alterarem
as condições normais de saúde em seres humanos, animais e vegetais.
• Grupo A – todos os componentes com possíveis agentes biológicos que por suas
características de virulência ou concentração apresentam riscos de infecções.
Exemplos: lâminas e placas de laboratórios, tecidos e restos orgânicos, bolsas
de transfusões sanguíneas.
• Grupo B – todas as substâncias químicas com possibilidades de apresentarem
riscos à saúde pública ou ao meio ambiente, de acordo com as características
de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Exemplos:
reagentes de laboratórios, resíduos com metais pesados, medicamentos
apreendidos ou vencidos.
• Grupo C – todos os materiais que contenham radioatividade em quantidades
superiores às especificadas nas normas da Comissão Nacional de Energia
Nuclear – CNEN, como os utilizados nos serviços de radioterapia e outros
serviços da medicina nuclear.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 85
• Grupo D – todos os materiais que não apresentarem riscos biológicos, químicos
ou radioativos e que podem ser equiparados aos resíduos sólidos domiciliares
como descartes na preparação dos alimentos, sobras de alimentos não
contaminadas, resíduos das áreas administrativas e gerenciais.
• Grupo E – todos os materiais perfurantes e cortantes como lâminas, agulhas,
bisturis, ampolas de vidro, espátulas e outros produtos utilizados nos serviços
de saúde pública ou em atividades privadas nesta área.

4.3 Transporte de Resíduos Perigosos

O expressivo aumento dos deslocamentos de veículos transportando produtos


perigosos, eleva o grau de interesse, por parte das instituições, em ter à sua disposição
informações que dizem respeito à atividade rodoviária mas, também, leis, normas,
resoluções, que, de forma direta ou indireta, encontram-se relacionadas à atividade
de transporte rodoviário de produtos perigosos (Figura 24).

Por outro lado, com o desenvolvimento econômico das nações, muitos produtos
perigos são produzidos pelas indústrias e transportados por diferentes modais. No caso
do Brasil o modal mais expressivo é o rodoviário, no entanto, uma consequência quase
que inevitável diz respeito ao número de acidentes envolvendo veículos de transporte
de resíduos perigosos, trazendo grande preocupação para a sociedade (Figura 25).
Da necessidade de regular e normatizar o transporte de resíduos perigosos no Brasil,
foram criadas leis, decretos, portarias, regulamentos técnicos e Normas Técnicas
Nacionais, que determinam não só os critérios de segurança como também de saúde
e meio ambiente, os quais envolvem todas as etapas do processo, destacando-se a
Lei nº 96.044/1988 e a Resolução ANTT nº 420/2004.

Estimativas da Organização das Nações Unidas admitem a existência de


aproximadamente quatro milhões de diferentes produtos químicos disponíveis e
conhecidos em todo o mundo. Estima-se atualmente que cerca de 10% do consumo
mundial são de produtos químicos. Hoje, em média, circulam 130 mil produtos
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 86
químicos no mercado mundial, portanto no meio ambiente; e cerca de 2.000 mil novos
produtos químicos entram anualmente no mercado comercial, sem que os seus efeitos
sejam previamente avaliados.

Para que não haja interpretação equivocada de conceitos, apresento as definições de


carga perigosa e resíduos perigosos. Segundo a definição do DNIT (2005), carga
perigosa é a reunião de diversos produtos perigosos compatíveis, embalados ou a
granel (art. 7º do Decreto Lei nº 96.044/1988, compatibilidade entre produtos),
segregados por conteúdos externos (contêineres) ou compartimentados
(compartimentos de carga). Esse termo é geralmente usado em transporte marítimo
pelas normas internacionais (IMO), adotadas pelo Brasil, em que é comum uma
mesma embarcação (navio-tanque) levar sempre mais de um produto perigoso
(gasolina, óleo diesel, etc.), como no caso do navio de carga (portando contêineres
com diversos produtos). Segundo a ANTT (2004), produtos perigosos são substâncias
ou artigos encontrados na natureza ou produzidos por qualquer processo que, por
suas características físico-químicas, representem risco para a saúde das pessoas, para
a segurança pública ou para o meio ambiente, conforme relacionado na Resolução
ANTT nº 420/2004. E considera-se carga perigosa, de forma geral, qualquer tipo de
carga sendo transportada de forma inadequada, mal acondicionada, estivada etc.”

Sobre o modal rodoviário, o transporte rodoviário é utilizado para o transporte de


mercadorias e pessoas por veículos automotores (ônibus, caminhões, veículos de
passeio, etc.). Como possui, na maioria dos casos, preço de frete superior ao
hidroviário e ao ferroviário, é adequado para mercadorias de alto valor ou perecíveis,
produtos acabados ou semiacabados.

Características do transporte rodoviário de carga no Brasil: Possui a maior


representatividade entre os modais existentes; adequado para curtas e médias
distâncias; baixo custo inicial de implantação; alto custo de manutenção; muito
poluente com forte impacto ambiental; maior flexibilidade com grande extensão da
malha; transporte com velocidade moderada; os custos se tornam altos para grandes

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 87
distâncias; baixa capacidade de carga com limitação de volume e peso; integra todos
os estados brasileiros.

Figura 24.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 88
Figura 25.

A respeito das características da malha rodoviária brasileira, os dados (DNIT, 2015)


mostram que está distribuída em:
• 1,7 milhão de quilômetros de estradas: Estradas pavimentadas:12,9% (221.820
quilômetros); Estradas não pavimentadas: 79,5% (1.363,740 quilômetros);
Estradas planejadas: 7,5% (128.904 quilômetros);
• Rodovias estaduais: 14,8% (255.040 quilômetros); Rodovias municipais.
78,11% (1.339,26 quilômetros); Rodovias federais: 7% (119.936 quilômetros);
• Rodovias pavimentadas em obras: 13.830 quilômetros; Rodovias duplicadas:
9.522 quilômetros; Rodovias simples 192.569 quilômetros. Fonte: DNIT.
(Atualizado em Setembro/2014 - Sistema Viário Nacional).

4.3.1 Decreto 96.044/88 - Regulamento para o Transporte Rodoviário de


Produtos Perigosos

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 89
O transporte de produtos perigosos no Brasil possui um potencial de risco maior,
devido à condição precária de manutenção e saturação do sistema viário, base do
transporte de cargas (ANTT, 2008). Devido a estas condições adversas, é fundamental
o aprimoramento dos motoristas, aumento da fiscalização e a necessidade de uma
atuação mais responsável dos setores empresariais envolvidos com a produção e
transporte de produtos perigosos. A ocorrência de acidentes envolvendo produtos
perigosos, devido às suas peculiaridades, tende a atingir uma grande quantidade de
pessoas que tem suas vidas ameaçadas, mesmo que na fase incipiente do ocorrido
nada tenham a ver com o acidente. Esta é uma das características de todo e qualquer
acidente envolvendo produtos perigosos: a ameaça ao meio ambiente, o risco à saúde
e à vida de cidadãos desprotegidos.

Importante destacar que o Brasil foi o primeiro país da América Latina a criar uma
regulamentação para o transporte de produtos perigosos. O primeiro documento legal
elaborado sobre o assunto foi o Decreto-Lei No 2.063, de 6 de outubro de 1983,
regulamentado pelo Decreto nº 88.821, de 6 de outubro de 1983. Revisado pelo
Decreto nº 96.044, de 1988, o qual cancelou e substituiu o Decreto nº 88.821/83.
Importante dizer que o Decreto nº 96.044 encontra-se em vigor. O Decreto nº
96.044/88 foi complementado pela Portaria MT nº 291, de 31/05/88.

Em 1997, o Ministério dos Transportes publicou a Portaria MT nº 204, de 20/05/97, a


qual continha Instruções Complementares ao Decreto nº 96.044/88. Em 2004, a
Agência Nacional dos Transportes Terrestres – ANTT, publicou a Resolução nº 420, de
12/02/04, que revogava a Portaria MT nº 204, de 20/05/9. Esta resolução contém
instruções complementares ao Decreto 96.044/88. Assim sendo, encontram-se
vigentes os seguintes dispositivos legais que regulam o transporte rodoviário de
produtos perigosos no Brasil: Decreto nº 96.044/88 e Resoluções ANTT nº 420/04 e
701/04, sendo esta última um complemento da Resolução nº 420.

Decreto Nº 96.044/1988.
Regulamento para o transporte rodoviário de produtos perigosos das disposições
preliminares
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 90
Art. 1º O transporte, por via pública, de produto que seja perigoso ou represente risco
para a saúde de pessoas, para a segurança pública ou para o meio ambiente, fica
submetido às regras e procedimentos estabelecidos neste Regulamento, sem prejuízo
do disposto em legislação e disciplina peculiar a cada produto. § 2º No transporte de
produto explosivo e de substância radioativa serão observadas, também, as normas
específicas do Ministério do Exército e da Comissão Nacional de Energia Nuclear,
respectivamente.

Dos Veículos e dos Equipamentos


Art. 2º Durante as operações de carga, transporte, descarga, transbordo, limpeza e
descontaminação os veículos e equipamentos utilizados no transporte de produto
perigoso deverão portar rótulos de risco e painéis de segurança específicos, de acordo
com as NBR-7500 e NBR- 8286.
Art. 3º Os veículos utilizados no transporte de produto perigoso deverão portar o
conjunto de equipamentos para situações de emergência indicado por Norma Brasileira
ou, na inexistência desta, o recomendado pelo fabricante do produto.
Art. 4º Os veículos e equipamentos (como tanques e contêineres) destinados ao
transporte de produto perigoso a granel deverão ser fabricados de acordo com as
Normas Brasileiras ou, na inexistência destas, com norma internacional aceita. Seção
II Da Carga e Seu Acondicionamento

Da Carga e Seu Acondicionamento


Art. 6º O produto perigoso fracionado deverá ser acondicionado de forma a suportar
os riscos de carregamento, transporte, descarregamento e transbordo, sendo o
expedidor responsável pela adequação do acondicionamento segundo especificações
do fabricante. § 1º No caso de produto importado, o importador será o responsável
pela observância ao que preceitua este artigo, cabendo-lhe adotar as providências
necessárias junto ao fornecedor estrangeiro. § 2º No transporte de produto perigoso
fracionado, também as embalagens externas deverão estar rotuladas, etiquetadas e
marcadas de acordo com a correspondente classificação e o tipo de risco.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 91
Art. 7o É proibido o transporte, no mesmo veículo ou contêiner, de produto perigoso
com outro tipo de mercadoria, ou com outro produto perigoso, salvo se houver
compatibilidade entre os diferentes produtos transportados.

Do Itinerário
Art. 9º O veículo que transportar produto perigoso deverá evitar o uso de vias em
áreas densamente povoadas ou de proteção de mananciais, reservatórios de água ou
reservas florestais e ecológicas, ou em que delas sejam próximas.
Art. 10. O expedidor informará anualmente ao Departamento Nacional de Estradas e
Rodagem - DNER os fluxos de transporte de produtos perigosos que embarcar com
regularidade, especificando:
I - classe do produto e quantidade transportada; II - pontos de origem e destino.

Do Estacionamento
Art. 14. O veículo transportando produto perigoso só poderá estacionar para descanso
ou pernoite em áreas previamente determinadas pelas autoridades competentes e, na
inexistência de tais áreas, deverá evitar o estacionamento em zonas residenciais,
logradouros públicos ou locais de fácil acesso ao público, áreas densamente povoadas
ou de grande concentração de pessoas ou veículos.

Do Pessoal Envolvido na Operação do Transporte.


Art. 15. O condutor de veículo utilizado no transporte de produto perigoso, além das
qualificações e habilitações previstas na legislação de trânsito, deverá receber
treinamento específico, segundo programa a ser aprovado pelo Conselho Nacional de
Trânsito (CONTRAN), por proposta do Ministério dos Transportes.
Art. 16. O transportador, antes de mobilizar o veículo, deverá inspecioná-lo,
assegurando-se suas perfeitas condições para o transporte para o qual é destinado e
com especial atenção para o tanque, carroceria e demais dispositivos que possam
afetar a segurança da carga transportada.
Art. 17. O condutor, durante a viagem, é o responsável pela guarda, conservação e
bom uso dos equipamentos e acessórios do veículo, inclusive os exigidos em função
da natureza específica dos produtos transportados.
TOXICOLOGIA AMBIENTAL 92
Outros artigos relevantes desta lei:
Art. 24. Em caso de acidente, avaria ou outro fato que obrigue a imobilização de veículo
transportando produto perigoso, o condutor adotará as medidas indicadas na Ficha de
Emergência e no Envelope para o Transporte correspondentes a cada produto
transportado, dando ciência à autoridade de trânsito mais próxima pelo meio
disponível mais rápido, detalhando a ocorrência, o local, as classes e quantidades dos
materiais transportados.
Art. 25. Em razão da natureza, extensão e características da emergência, a autoridade
que atender ao caso determinará ao expedidor ou ao fabricante do produto a presença
de técnicos ou pessoal especializado.
Art. 26. O contrato de transporte deverá designar quem suportará as despesas de
correntes da assistência de que trata o artigo anterior.
Art. 43. Das infrações e penalidades. A aplicação da multa compete à autoridade com
jurisdição sobre a via onde a infração foi cometida. A aplicação da penalidade de
cancelamento no Registro Nacional dos Transportadores Rodoviários - RTB compete
ao Ministro dos Transportes, mediante proposta justificada do DNER ou da autoridade
com jurisdição sobre a via.

4.3.2 Resolução ANTT 420/2004 - Instruções Complementares ao


Regulamento do Transporte Terrestre de Produtos Perigosos.

Resolução Nº 420, de 12/02/2004. Cabe à agência Nacional de Transportes


Terrestres (ANTT) a atribuição de expedir atos complementares e as modificações de
caráter técnico que se façam necessários para a permanente atualização dos
Regulamentos e obtenção de níveis adequados de segurança no transporte desse tipo
de carga. Este Regulamento especifica exigências detalhadas aplicáveis ao transporte
terrestre de produtos perigosos. Exceto se disposto em contrário neste Regulamento,
ninguém pode oferecer ou aceitar produtos perigosos para transporte se tais produtos
não estiverem adequadamente classificados, embalados, marcados, rotulados,
sinalizados conforme declaração emitida pelo expedidor, constante na documentação

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 93
de transporte e, além disso, nas condições de transporte exigidas por este
Regulamento.

As expedições com origem ou destino aos portos ou aeroportos, que atendam às


exigências estabelecidas pela Organização Marítima Internacional (OMI) ou pela
Organização Internacional de Aviação Civil (OACI) serão aceitas para transporte
terrestre.

Produtos perigosos importados já embalados no exterior, cujas embalagens atendam


às exigências estabelecidas pela OMI, OACI ou às exigências baseadas nas
Recomendações para o Transporte de Produtos Perigosos das Nações Unidas, serão
aceitos para o transporte terrestre no país, desde que acompanhados de documento
que comprove a importação do produto. (Incluído pela Resolução ANTT n.º 1644, de
29/12/06) (Alterado pela Resolução ANTT n.º 2657, de 18/04/08)

Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT aplicáveis ao transporte


terrestre de produtos perigosos

No transporte terrestre de produtos perigosos, as seguintes Normas da ABNT devem


ser atendidas:
• ABNT NBR 7500 - Identificação para o transporte terrestre, manuseio,
movimentação e armazenamento de produtos;
• ABNT NBR 7503 - Transporte terrestre de produtos perigosos - Ficha de
emergência e envelope - Características, dimensões e preenchimento;
• ABNT NBR 9735 - Conjunto de equipamentos para emergências no transporte
terrestre de produtos perigosos;
• ABNT NBR 10271 - Conjunto de equipamentos para emergências no transporte
rodoviário de ácido fluorídrico;
• ABNT NBR 14619 - Transporte terrestre de produtos perigosos -
Incompatibilidade química.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 94
A classificação de um produto considerado perigoso para o transporte deve ser feita
pelo seu fabricante ou expedidor orientado pelo fabricante, tomando como base as
características físico-químicas do produto, alocando-o numa das classes ou subclasses
deste Regulamento.

Classes, subclasses
Definições

Substâncias (incluindo misturas e soluções) e artigos sujeitos a este Regulamento são


alocados a uma das nove classes de acordo com o risco ou o mais sério dos riscos que
apresentam. Algumas dessas classes são subdivididas em subclasses. Essas classes e
subclasses são:

Tabela 7. Classes de Risco


Algumas subclasses: de Explosivos.
• Subclasse 1.1: Substâncias e artigos com risco de explosão em massa;
• Subclasse 1.2: Substâncias e artigos com risco de projeção, mas sem risco de
explosão em massa;
• Subclasse 1.3: Substâncias e artigos com risco de fogo e com pequeno risco de
explosão ou de projeção, ou ambos, mas sem risco de explosão em massa;

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 95
Tabela 8. Número de Risco

Sinalização
A sinalização da unidade e dos equipamentos de transporte é feita por meio de rótulos
de risco, painéis de segurança e demais símbolos aplicáveis. Após o descarregamento,
os veículos e equipamento de transporte que não apresentem contaminação ou
resíduo dos produtos transportados, devem ter a sinalização obrigatoriamente
retirada. Caso após o descarregamento apresentem contaminação ou resíduo dos
produtos transportados, a sinalização deve ser mantida até realizadas as operações de
limpeza e descontaminação.

Rótulos de Risco
Devem estar afixados nas laterais e na traseira do(s) reboque(s) ou semirreboque(s)
que compõem a unidade de transporte. Alternativamente, os rótulos de risco podem
estar afixados diretamente nos equipamentos de transporte, como nos contêineres e
tanques portáteis.

Os rótulos afixados devem corresponder a cada um dos produtos transportados. No


caso de os produtos apresentarem risco subsidiário, também devem ser colocados
rótulos de risco correspondentes aos riscos subsidiários adjacentes ao rótulo de risco
principal (exceto nas unidades carregadas com mais de um produto fracionado da
mesma classe ou subclasse de risco).

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 96
Os rótulos de risco devem conformar-se com os modelos apresentados na Figura 5, e
ter dimensões mínimas de 250x250mm. Pode-se atender ao padrão estabelecido pela
ABNT de 300x300mm. O fiscal deve verificar se os rótulos de risco afixados
correspondem à Classe e à Subclasse de Risco, conforme o caso, informadas na
descrição do produto no documento fiscal para transporte. Em caso de dúvidas, devem
ser consultadas as Colunas 3 e 4 da Relação de Produtos Perigosos.

Painéis de Segurança
Devem estar afixados à superfície externa das unidades e dos equipamentos de
transporte, em posição adjacente ao rótulo de risco, para advertir que seu conteúdo é
composto de produtos perigosos e apresenta riscos. Devem também estar afixados na
frente das unidades de transporte.

Alternativamente, os painéis de segurança podem estar afixados diretamente nos


equipamentos de transporte, como nos contêineres e tanques portáteis. Os painéis de
segurança devem ter o número de risco e o Número ONU correspondentes ao produto
transportado em caracteres negros, não menores que 65 mm, num painel retangular
de cor laranja, com altura não inferior a 150 mm e comprimento mínimo de 350 mm,
devendo ter borda preta de 10 mm ou atender ao padrão estabelecido pela ABNT de
300x400mm.

O fiscal deve verificar se o Número ONU apresentado corresponde ao disposto no


documento fiscal para transporte. O número de risco correspondente a cada um dos
números ONU está disposto na Coluna 5 da Relação de Produtos Perigosos. A Figura
26 apresenta um exemplo de painel de segurança.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 97
Tabela 9. Cores e significados

Figura 26. Painel de segurança

Número de Identificação do Produto ou Número da ONU


Trata-se de um número composto por quatro algarismos, proposto pela ONU que
identifica e fornece informações sobre produtos ou substâncias químicas. Deve ser
fixado na parte inferior do Painel de Segurança, servindo para a identificação de uma
determinada substância ou artigo classificado como perigoso (Figura 27 e 28).

Estão isentas de apresentar o Número ONU e o número de risco nos painéis, devendo
somente apresentar o painel laranja sem nenhuma inscrição, as expedições de:
produtos fracionados em unidades de transporte carregadas com dois ou mais

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 98
produtos perigosos; um único produto perigoso (última entrega), resultante de um
carregamento, contendo inicialmente dois ou mais produtos perigosos.
Expedições de produtos perigosos da Classe 1 – Explosivos, devem estar identificadas
por meio de painel de segurança, contendo somente o Número ONU.

Figura 27. Número de identificação Figura 28. Número de identificação

Tipos de resíduos perigosos.


Explosivos são certamente uma das mais perigosas classes de risco (Figura 29).
Acidentes envolvendo explosivos são pouco comuns quando comparado com as
demais classes de risco. O explosivo é uma substância que é submetida a uma
transformação química extremamente rápida, produzindo simultaneamente grandes
quantidades de gases e calor.

Os gases liberados expandem-se a altíssima velocidade e temperatura, gerando um


aumento de pressão e provocando o deslocamento do ar. Esse deslocamento de ar é
suficientemente elevado para provocar danos às pessoas (ruptura de tímpano, por
exemplo) e edificações (colapso parcial ou total).

Figura 29. Tipos de resíduos perigosos

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 99
Gases. Esta classe de risco é uma das mais envolvidas nas emergências, já que o
volume movimentado é muito grande, pois tais produtos são utilizados na indústria,
comércio e residências (Figura 30). Gás é um dos estados físicos da matéria.

Nesse estado, os materiais apresentam a capacidade de moverem-se livremente, ou


seja, expandem-se indefinidamente no ambiente. Outra característica dos gases é que
são influenciados pela pressão e temperatura. A maioria dos gases pode ser liquefeita
com o aumento da pressão e/ou diminuição da temperatura.

Figura 30. Gases

Líquidos. A maioria dos acidentes rodoviários com produtos perigosos envolve


líquidos inflamáveis, principalmente combustíveis como gasolina, álcool e óleo diesel
(Figura 31).
Líquidos inflamáveis são líquidos, mistura de líquidos ou líquidos contendo sólidos em
solução ou em suspensão, que produzem vapores inflamáveis a temperaturas de até
60,5ºC num teste padrão em vaso fechado. Portanto, a maioria desses materiais pode
queimar facilmente na temperatura ambiente.

O conceito de líquido inflamável refere-se aos produtos que podem gerar uma reação
de combustão. Combustão é reação química entre dois agentes, o comburente,
normalmente oxigênio, e o combustível, em proporções adequadas, provocada por um
terceiro agente, a fonte de ignição. Caracteriza-se por alta velocidade de reação e pelo
grande desprendimento de luz e calor. Os três agentes formam o conhecido triângulo
do fogo, constituindo-se em elementos essenciais ao fogo. Se um desses elementos
não estiver presente, não haverá fogo.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 100


Figura 31. Líquidos inflamáveis

Combustíveis. Os produtos dessa classe apresentam a propriedade de se inflamarem


com facilidade na presença de uma fonte de ignição, até mesmo em contato com o ar
ou com a água (Figura 32).

Os produtos dessa classe de risco são, em sua grande maioria, sólidos, portanto
apresentam baixa mobilidade no meio quando da ocorrência de vazamentos.

Figura 32. Combustíveis

Oxidantes. Esta classe reúne produtos que, em sua maioria, não são combustíveis,
mas que podem liberar oxigênio, aumentando ou sustentando a combustão de outros
materiais. Devido à facilidade de liberarem oxigênio, estas substâncias são instáveis e
reagem quimicamente com uma grande variedade de produtos, podendo gerar
incêndios, mesmo sem a presença de uma fonte de ignição.

Esses materiais são incompatíveis em particular com os líquidos e sólidos inflamáveis.


Alguns produtos dessa classe reagem com materiais orgânicos, portanto em caso de
vazamentos não deverá ser utilizado terra ou serragem para contenção, sendo a areia
úmida mais recomendada para essa operação.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 101


Figura 33. Oxidantes

Substâncias tóxicas
Essa subclasse contempla as substâncias capazes de provocar a morte ou sérios danos
à saúde humana, se ingeridas, inaladas ou por contato com a pele, mesmo em
pequenas quantidades. Portanto, são produtos de alta toxicidade e representam um
grande risco às equipes de resposta às emergências químicas, independente do estado
físico do produto ou mesmo da quantidade envolvida num acidente.

Infectantes: São aquelas que contêm micro-organismos ou suas toxinas. Podem


provocar a morte de pessoas ou afetar a saúde. Por exemplo, o lixo hospitalar:
Normalmente são transportados de hospitais para laboratórios de pesquisa em
embalagens apropriadas e por pessoal altamente treinado. Embora não se tratem de
produtos químicos, foram incluídos na classe 6, em razão dos riscos que apresentam
às pessoas, aos animais e ao meio ambiente. Os produtos desta classe são controlados
pelos Ministérios da Saúde e da Agricultura, pois são largamente utilizados para fins
medicamentosos e agrícolas.

Figura 34. Infectantes

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 102


Materiais radioativos. São essenciais para a sociedade moderna pois são utilizados
na medicina, em pesquisa médica e industrial, geração de energia em usinas atômicas,
etc. Materiais radioativos são materiais fisicamente instáveis que sofrem modificações
espontaneamente na sua estrutura. Essas modificações ocorrem quando há
transformação nos elementos que passam a emitir energia sob a forma de radiação.

Dá-se o nome de radioatividade justamente à propriedade que tais elementos têm de


emitir radiação. Exemplos: Urânio 235, Césio 137, Cobalto 60 e Tório 232. Materiais
radioativos são capazes de penetrar e atravessar vários tipos de materiais e até mesmo
o corpo humano, ocasionando doenças muito graves e podendo levar pessoas à morte.

Figura 35. Radioativos

Corrosivos. Esta classe representa o segundo maior volume transportado pelo modal
rodoviário, perdendo apenas para a classe 3 – líquidos inflamáveis. Substâncias
corrosivas são aquelas que podem causar severas queimaduras quando em contato
com tecidos vivos, e também podem causar corrosão ao aço. Podem existir no estado
sólido ou líquido.
Basicamente, existem dois principais grupos de materiais que apresentam essas
propriedades, e são conhecidos por ácidos e bases. Como exemplo de produtos desta
classe pode-se citar entre os ácidos: ácido sulfúrico, ácido clorídrico, ácido nítrico e,
entre as bases o hidróxido de sódio (soda cáustica) e hidróxido de potássio. Algumas
substâncias corrosivas liberam, mesmo na temperatura ambiente, vapores irritantes e
tóxicos. Outras reagem com a maioria dos metais gerando hidrogênio, um gás
inflamável, acarretando assim um risco adicional.

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 103


Figura 36. Corrosivos

Substâncias perigosas: Esta classe engloba os produtos que apresentam riscos não
abrangidos pelas demais classes de risco. Nessa classe encontram-se os produtos que
oferecem elevados riscos de contaminação ambiental. Exemplos de produtos desta
classe são: óleos combustíveis, poliestireno granulado, dióxido de carbono sólido (gelo
seco), amianto azul, farinha de peixe estabilizada e baterias de lítio.

Figura 37. Substâncias perigosas

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 104


Figura 38. Exemplos de sinalização das unidades de transporte:

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 105


TOXICOLOGIA AMBIENTAL 106
Alguns documentos exigidos:

Toda a expedição de produtos perigosos deve estar acompanhada da documentação


exigida, devendo o fiscal solicitar os seguintes documentos ao condutor do veículo:
• Documento fiscal para o transporte;
• Declaração do expedidor;
• Ficha de emergência;
• Envelope para o transporte;
• Autorização ou licença da autoridade competente;
• Demais declarações; e
• Certificado de inspeção para o transporte de produtos perigosos a granel - CIPP
e certificado de inspeção veicular - CIV.

4.4 Conclusão.

Sendo uma das principais áreas logísticas e uma das atividades de maior custo
empresarial, o transporte é dito como tudo aquilo que gera movimentação, indiferente
daquilo que está sendo movimentado.

Os meios de transporte para cargas dividem-se em cinco: ferroviário, dutoviário,


rodoviário, aeroviário e aquaviário; deve-se analisar qual o melhor modal a ser usado
de acordo com o que será transportado e por onde está carga será levada, dando-se
a devida importância a acomodação de cargas, para que isto ocorra de forma
econômica e segura, principalmente ao transportar produtos que exponham riscos.

O transporte rodoviário é favorável para viagens curtas, permitindo entregas diretas,


ou seja, é desnecessário o carregamento ou descarregamento antes da chegada ao
destino final; é um serviço constante e com fácil disponibilidade, tendo também uma
velocidade boa. Entretanto, não possui grande capacidade de cargas, nem variedade

TOXICOLOGIA AMBIENTAL 107


desta em um mesmo carregamento, geralmente suas cargas são compostas de
instrumentos, metais, bebidas, móveis e vários outros itens.

O Brasil foi o primeiro país da América Latina a criar uma regulamentação para
transporte de cargas perigosas; até 1983, a “Lei da Faixa Branca” era a única
referência legal existente no Brasil.

Em 1983 que surgiu o Decreto-Lei nº 2.063, emitido depois que uma carga de “pó da
China” (pentaclorofenato de sódio) ocasionou um acidente no estado do Rio de Janeiro
com seis vítimas.

Em 18 de maio de 1988, surgiu o Decreto nº 96.044, que ainda se encontra em vigor.

Em 20 de maio 1997, surgiram as primeiras Instruções Complementares ao Decreto


nº 96.044/88, quando o Ministério dos Transportes anunciou a Portaria MT nº 204.

Já em 12 de fevereiro de 2004, surgiu a Resolução nº 420, promovida pela Agência


Nacional dos Transportes Terrestres, que complementava o Decreto nº 96.044/88 e
anulava a Portaria MT nº 204.

Atualmente encontram-se vigentes no Brasil, o Decreto nº 96.044/88, a Resolução


ANTT nº 420/04 e o complemento desta, a Resolução ANTT nº 701/04 (DER, 2014).

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