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As Cidades da Amazónia

no Século XVIII
Belém, Macapá e Mazagão

Renato Malcher de Araujo

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Apresentação
José Eduardo Horta Correia
Dissertação de Mestrado, FCSH.UNL, 1992
As Cidades da Amazónia
no Século XVIII
Belém, Macapá e Mazagão

Renota Ma/cher de Araujo

Apresentação
José Eduardo Horta Correia

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Apresentação

Direcção editorial . Manuel Mendes


Projecto gráfico . lncomun A Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto tomou a esclarecida inicia­
Impressão e acabamento . Inova - Artes Gráficas tiva de publicar a dissertação da Arquitecta Renata Klautau Malcher de Araujo, As Cidades
1 _a edição do autor policopiada . 1992
da Amazónia no século XVIII: Belém, Macapá e Mazagão, trabalho que tive o gosto de
2: edição . 1998
Depósito legal n.º 129.452/98 orientar no âmbito do Mestrado em História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e
ISBN . 972-9483-34-5 Humanas da Universidade Nova de Lisboa e onde, de modo original, se refaz a fundamen­
© Renata Malcher de Araujo . 1998
© Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
tação da toda a História do Urbanismo Português desde o século XVI ao século XVIII.
Rua do Gólgota, 215 . 4150 Porto Renata Araujo filia os princípios epistemológicos da "escola portuguesa de arquitec­
tura e urbanismo" na aprendizagem teórica, ligada à actividade prática, do quinhentismo
português. Assiste-se assim à reconstituição de uma situação cultural de longo prazo, sem a
Todas os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro qual o escopo da dissertação - a urbanização da Amazónia - não seria perceptível.
pode ser reproduzida por processo mecânico, electrónico
ou outro sem autorização escrita do editor.
Atenta à vivencialidade de uma contínua praxis, a autora propõe-se inscrever nesse
processo a própria metodologia de projectação através de uma reconstituição histórica de
grande qualidade interpretativa. Inventa então a designação, hoje comummente aceite pela
comunidade científica, de "funcionários do urbanismo", feliz terminologia adequada à actu­
ação, a um tempo hierarquizada e criativa, dos engenheiros militares, os verdadeiros
obreiros do urbanismo português. E encontra no duplo pendor político-ideológico e cientí­
fico-cultural a razão de ser do urbanismo colonial e as principais características da sua acti­
vidade, integrando-a numa verdadeira "cultura urbana moderna".
Assim é possível reinterpretar a refundação pombalina da Amazónia como também
uma refonma urbana que, manifestando-se no terreno com todas as marcas de uma ideo­
logia "esclarecida", soube potenciar uma das formas mais maduras da colonização portu­
guesa: o urbanismo.
Associando uma exaustiva pesquisa documental e iconográfica a um extraordinário
trabalho de construção histórica, este contributo de Renata Araujo para a História das cidades
brasileiras constitui um marco incontornável da historiografia do Urbanismo Português.

José Eduardo Horta Correia


As Cidades da Amazónia
no Século XVIII
Belém, Macapá e Mazagão
Sumário

Abreviaturas ( 1 3)

Introdução ( 1 5)

parte 1 . "Das Cidades e dos Conceitos"

As Formas Urbanas da Expansão Portuguesa (25)


A Coroa e as Cidades - A Criação Urbana Colonial (25)
Os Funcionários do Urbanismo (28)
O Sistema dos Engenheiros - A Teoria e a Prática na Urbanização Colonial ( 3 7)

li
Pombal e as Cidades (6 /)
Pombalismo, Iluminismo e Urbanismo (61)
O Espaço da Cidade Pombalina (64)
Pombal e a Urbanização das Colónias (66)

parte li . "Da Amazónia e das Cidades"

Os· Primeiros Tempos da Ocupação da Amazónia (73)


Século XVI - da Miragem da Terra à Conquista do Território (73)
Século XVII - a Posse Efectiva da Colónia e o Início da Formação Urbana (78)
A Cidade e o Território (89)

li
A "Reforma Pombalina" na Amazónia (95)
A Amazónia da Primeira Metade do Século XVIII (95)
As Demarcações e o Novo Conceito de Território (100)
A Amazónia da Segunda Metade do Século XVIII (105)
A Refomra Urbana (115)

Ili
Macapá, a Vila do Amazonas (145)
As Terras do Cabo do Norte ( 14 5)
Os Procedimentos Instauradores da Povoação (148)
A Vila Eleita, Fomra e Símbolo (156)
A Antmética dos Legisladores (179)
A Fortaleza, os Engenheiros e a Vila (1 85)

IV
Belém, a Capital ( 19 9)
A Cidade do Pará ( 199)
A Cidade do Grão-Pará e Maranhão (203)
A Capital e o Arquitecto Régio (229)
Belém e os Engenheiros, a Cidade no Limiar do Século XIX (251)

V
Mazagão, a Memória das Conquistas (265)
Mazagão da África à Amazónia (265)
A Urbanização da Nova Vila (270)
Os Povoadores e a Vila (282)
Mazagão - "Projecto e Utopia" (286)
Abreviaturas
12
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

Conclusões (29 /)
AHE.RJ Arquivo Histórico do Exército - Rio de Janeiro
Apêndices (299) AHU Arquivo Histórico Ultramarino
Quadro Cronológico - 2.' metade do século XVIII (30 I) ANTT Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Quadro Urbano na Amazónia no Século XVIII (304)
APP Arquivo Público do Pará
Inventário da Documentação Levantada sobre os Engenheiros e as Vilas da Amazónia no Século
BNL Biblioteca Nacional de Lisboa
BNRJ Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
XVIII (307)
CI Casa da Ínsua
CP Casa de Palmela
Bibliografia (345)
GEAEM Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar
MI Mapoteca do ltamarati - Rio de Janeiro
Nota Final - Agradecimentos (357)
POMB Colecção Pombalina da Biblioteca Nacional de Lisboa
Introdução
Entre 1755 e 1759 fundaram-se na Amazónia cerca de 60 vilas e lugares. Todas no
Estado do Grão-Pará, nas capitanias do Pará e Rio Negro. É um-número consideravelmente
elevado para tão curto espaço de tempo e para espaço tão vasto.
A figura de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governador do Grão-Pará entre
1751 e 1758, liga-se a quase todas estas fundações. Mendonça Furtado era, como se sabe,
irmão de Sebastião José de Carvalho e Melo, o todo-poderoso ministro de D. José.
Do conjunto das vilas fundadas na Amazónia tem-se, para muitas delas, desenhos e
plantas originais, que geriram as suas ordenações ou transformações urbanas. Nestes, a
lógica geométrica está, via de regra, presente e evidente.
A associação elementar de tais dados conjuga-se numa cadeia de relações que
remete para uma série de aliciantes conjecturas. Porque se terão feito tantas vilas? Como se
as fez em tão pouco tempo numa tão grande região? Que conexão terá a actuação de
Mendonça Furtado na Amazónia com a do irmão em Lisboa? Que relação terão os planos
regulares das vilas da Amazónia com os planos da Lisboa pombalina?
Foi contexto destas perguntas, e outras similares, que surgiu a motivação deste
trabalho: inquirir sobre "As cidades da Amazónia no século XVIII".
Dos dados que se sabia aventaram-se as bases da pesquisa. Aqueles, indutivamente,
apontavam para o entendimento do trabalho urbanizador da região inserido num conjunto
dotado de unidade política, que, se não tivesse subjacente um programa concreto e defi­
nido, indicava pelo menos uma estratégia precisa. Do mesmo modo vislumbrava-se a
unidade em termos de desenho e proJecto das vilas executadas, ou orientadas, na maioria,
por engenheiros militares.
O quadro geral indicava, portanto, estar-se diante de um investimento urbanizador
direccionado e dirigido, tanto em termos políticos como técnicos. Os estudos efectuados
por José-Augusto França sobre a reconstrução de Lisboa e a tese de Horta Correia sobre
Vila Real de Santo António forneciam os elementos imprescindíveis para se supor um
vínculo entre as cidades da Amazónia e uma estratégia maior de urbanização do Marquês
de Pombal, que alcançasse a colónia.
No entanto, a conjuntura do espaço colonial obrigava, necessariamente, a uma abor­
dagem que não se podia estabelecer em termos de simples comparação com a metrópole.
Não só porque as relações de centro-periferia que se estabeleciam entre os dois espaços
comportariam, inevitavelmente, alguns dados diferentes, como também porque a própria
questão do urbanismo colonial como um todo esbarrava numa análise de certo modo
"tradicional" que, em princípio, o afastava dos padrões de planeamento que o urbanismo
18 ·19
As Cidades da Amazónia no Século XVIII Introdução

pombalino, assim como se definira nos dois trabalhos citados, exigia para o seu enten­ em certos aspectos - uma mais teórica e especulativa e a outra mais documental
dimento. permitindo, ambas, leituras autónomas.
A questão surge assim num contexto em que se tornava necessário rever tais A primeira parte divide-se em dois capítulos. No primeiro, a que se chamou "As
posturas "tradicionais" em que o urbanismo colonial português tinha sido catalogado, de ter Formas� Urbanas da Expansão Portuguesa", tenta-se fazer uma pequena síntese das expe­
sido feito sem planos, com rústica organicidade e repetindo mimeticamente os padrões das riências urbanísticas dos portugueses nos seus territórios de expansão, buscando os vínculos
cidades medievais da metrópole. principais que definem a sua história e as suas especificidades, focando mais detalhadamente
A revisão começara Já a ser feita, em vários pontos. O estudo citado de Horta o Brasil.
Correia apresenta o trabalho urbanizador. das colónias sobre uma base diferente de tal Do conjunto da análise que é feita neste primeiro capítulo sobressai a importância
versão, realçando o carácter de planeamento e a presença dos engenheiros militares ao que é dada ao papel dos engenheiros militares. Estes figuram não isoladamente num período
longo de todo o processo. No Brasil, o trabalho do Prof. Nestor Goulart Reis Filho apon­ determinado, mas fazem parte de todo o processo, e estão presentes virtualmente, quando
tara o mesmo caminho, seguido depois por outros historiadores. não fisicamente. Desta noção, de uma actuação constante e prolongada no tempo, que se
Alguns dentre estes avançaram, entretanto, uma posição intermédia entre a postura pretende seja comprovável pelos argumentos apresentados, surgirão os conceitos de uma
tradicional e a sua revisão, confirmando a atitude planeadora e o papel dos engenheiros mili­ "escola de engenharia militar portuguesa" ou "escola de urbanismo pori:uguês".
tares durante o século XVIII, mas isolando-o do conjunto anterior. Esclarece-se de antemão que estas expressões não pretendem significar uma
Situar correctamente a urbanização da Amazónia no século XVIII exigia-nos o enten­ vertente necessariamente original e exportável da engenharia ou do urbanismo português
dimento do urbanismo colonial, eivado de polémicas. No mínimo, para saber em que em relação à dos outros povos. A noção de "escola" é usada tão-somente no sentido de
posição se colocava a experiência urbanística da região: se inserida num conjunto mais esclarecer um processo, que tem as suas características específicas e que, acima de tudo, se
amplo ou se isolada num contexto de época e numa situação política específica. Assim, uma serve de um método de divulgação "escolar", no sentido que se fundamenta em "Aulas" e
abordagem retrospectiva do urbanismo colonial português impôs-se como uma das que implica uma passagem do conhecimento de mestres e discípulos, que se multiplicam no
premissas para a fundamentação do estudo das cidades da Amazónia. tempo e no espaço. É esta a "escola" a que nos referimos.
Sobre estas, por sua vez, viu-se que o estudo do conjunto de todas as cidades Assumidamente, é desnecessário estabelecer aqui comparações do urbanismo colo­
poderia fazer perder a noção do detalhe que se tornava imprescindível para a avaliação nial português com a experiência de Castela, nas suas colónias na América, fundo sobre o
específica do tema da criação urbana. Além disso, por circunstâncias que envolveram o qual se tem baseado a visão tradicional. A opção justifica-se em função de que a procura de
próprio processo da pesquisa nos arquivos, delineou-se um quadro em que, para serem uma abordagem diferente daquela em nada implica qualquer intuito de polémica, mas tão­
trabalhadas todas as vilas criadas na região, muitas lacunas se manteriam, em função da desi­ somente rever a questão por outro ângulo.
gualdade relativa de informação existente, em maior quantidade para umas e menor para Vários estudos vêm sendo efectuados sobre as cidades de fundação espanhola na
outras. Por tais motivos optou-se por trabalhar mais detalhadamente três exemplos urbanos América. É já considerável a quantidade e a qualidade dos textos publicados sobre a matéria,
específicos: Belém, Macapá e Mazagão, que se revelaram portadores de características mais que têm sido objecto de interesse de vários especialistas. Sobre o urbanismo colonial portu­
marcantes e dos quais se recolheu documentação mais minuciosa. guês, o quadro é ainda, infelizmente, bastante diverso. Faltam estudos sobre a maioria das
Deste conjunto de razões resulta, basicamente, a organização deste trabalho, que cidades de colonização portuguesa, e mesmo os estudos gerais ou regionais são poucos.
se dividiu em duas partes. Numa primeira parte, intitulada "Das Cidades e dos Con­ A análise comparativa das metodologias urbanizadoras dos portugueses e espanhóis
ceitos", procura-se estabelecer as bases sobre as quais se fundou a experiência urbani­ nas suas colónias é um assunto deveras interessante e importante. No entanto, a sua abor­
zadora da Amazónia, no contexto do urbanismo enquanto expressão artística e, em dagem exigiria um trabalho específico, e aprofundado, sobre as directrizes políticas e ideo­
especial, no - contexto do urbanismo colonial português. Numa segunda parte, então lógicas de ambas as coroas, assim como das diferentes condições de cada um dos territórios
chamada "Da Amazónia e das Cidades", procura-se finalmente ver mais de perto o pro­ colonizados. Para além do estudo concreto dos exemplos de criação urbana. Por todos os
cesso da urbanização da região no século XVIII, aprofundando a análise dos três exemplos motivos, tal pretensão não cabia neste trabalho. Daí termos preferido não adiantar compa­
seleccionados. rações e antes ensaiar uma aproximação apenas ao tema do urbanismo colonial português.
No entanto, torna-se importante estabelecer a relação feita entre ambas as partes No segundo capítulo da primeira parte, abordar-se-ão as principais questões que
do trabalho. Sem deixarem de estar intimamente ligadas e serem inter-referentes, em relacionam "Pombal e as Cidades". Trata-se menos de trazer qualquer novidade a nível
especial no que diz respeito à segunda parte, que se utiliza dos conceitos desenvolvidos na conceptual para esta questão já bastante estudada, mas apenas, por razões metodológicas,
primeira, estas não deixam de ter a autonomia indispensável aos seus contextos diversos deixar claros os principais conceitos operacionais, tais como pombalismo ou iluminismo,
20
As Cidades da Amazónia no Século XVIII
2. 1
Introdução

com que se vai lidar, em especial, na segunda parte do trabalho. Torna-se a referir que estes Os principais acervos documentais utilizados foram: a colecção das caixas do Grão­
são, em essência, os conceitos já estabelecidos nos trabalhos de José-Augusto França e José -Pará e a secção de cartografia manuscrita do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), os
Eduardo Horta Correia. códices do Arquivo Público do Pará (APP) ; a colecção pombalina e a secção de Iconografia
Na segunda parte do trabalho chega-se finalmente à Amazónia e às suas cidades. da Biblioteca Nacional de Lisboa (POMB-BNL), o Arquivo Histórico do Exército do Rio de
A opção tomada para esta parte adoptou uma abordagem que se apoia no processo histó­ Janeiro (AH E-RJ), a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ), a Mapoteca do ltamarati
rico da colonização da região. Pesa nesta escolha a compreensão primeira de que os fenó­ (ITA) e o Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar (GEAEM) onde, além
menos da História do Urbanismo se inserem, inevitavelmente, na História como um todo. do acervo próprio de mapas e plantas, visionaram-se cópias fotográficas de documentos do
E o método mais apropriado para os estudar pareceu ser o h istórico, cronológico, portanto. acervo da Casa da Ínsua (CI) e da Casa de Palmela (CP).
Também aqui não são alheias noções do quanto a História da Amazónia se situa a Ambos, textos e desenhos, revestem-se de importância similar para o trabalho de
nível periférico na própria História do Brasil (que dirá, na de Portugal) e que muitas situa­ pesquisa efectuado. Os desenhos, pelo motivo elementar de expressarem a linguagem do
ções específicas da região, se não abordadas, poderiam não encontrar base para a sua que fora planeado ou executado em termos urbanos. Os textos, não menos importantes,
compreensão. Deve-se dizer que, neste contexto, a necessidade de expor a História da na outra medida do plano, a medida ideológica, a do projecto urbano regional como um
Amazónia implicou, na maioria das vezes, uma anterior necessidade de a buscar, posto que todo e das cidades enquanto ideia.
é tão perifericamente considerada que nem sequer está feita. Os dois discursos sobre a cidade completam-se, o discurso no tempo - o ideário
Assim a documentação primária e de arquivo, já de si importantíssima, torna-se mais e as palavras - e o discurso no espaço - o desenho. Por tal motivo se quis valorizar
que nunca essencial, diante da carência de estudos, poucos no próprio contexto da História ambos enquanto argumentos e enquanto "provas" da realização u rbana, e não só os planos
Geral da região, menos ainda nas matérias mais próximas da H istória do Urbanismo. gráficos das cidades.
Os capítulos da segunda parte ordenam-se sequencialmente tratando o primeiro dos Assim, aos "textos essenciais", na medida do possível, optou-se por fazê-los acom­
"Primeiros Tempos da Ocupação da Amazónia". Revê-se, brevemente, a situação da panhar de facto o texto do trabalho fazendo pequenas transcrições das suas partes mais
Amazóni a, nos séculos XVI e XVII, procurando esclarecer as bases sobre as quais se significativas. A intenção de tal procedimento é a de contextualizar correctamente a acção
fundaram a conquista da região, o início da sua colonização e formação urbana no século urbanizadora, a partir do próprio discurso que a gerou < 1 >.
XVII e a relação que então se estabeleceu entre a cidade e o território. Acrescentou-se um pequeno inventário compilando os principais dados e do­
No segundo capítulo tratar-se-á da questão central do trabalho, focando o século cumentos recolhidos sobre o conjunto das vilas fundadas na Amazónia e sobre os enge­
XVIII e a administração pombalina da região, abordando a reforma urbana e a definição nheiros que actuaram na região. Tai inventário fez-se no i ntuito de sistematizar os dados
desta dentro do plano político do Marquês e do seu i rmão. obtidos no decorrer da pesquisa e apresenta-se no trabalho, a nível auxiliar, como acervo
Três outros capítulos tratam distintamente as três cidades escolhidas: Macapá, Belém informativo. Com a mesma i ntenção auxiliar, organizaram-se também alguns quadros crono­
e Mazagão. São estudadas como exemplo do conjunto maior da urbanização da Amazónia lógicos, incluídos no final deste volume.
no século XVIII e vistas dentro do seu contexto histórico. Mas são-no também, e essen­
cialmente, analisadas nas suas características específicas enquanto projectos. Aí fazem-se as
devidas análises formais dos seus planos, buscam-se as relações existentes com outros
planos e projectos, a génese das suas formas, a leitura dos seus símbolos e alegorias e o seu
significado ideológico.
As fontes deste trabalho são, essencialmente, documentos da correspondência
entre os envolvidos na administração colonial: governadores e funcionários na colóni a,
rei, Conselho e ministros na metrópole, enriquecida pela natureza mista da correspondência
do próprio Pombal com o inmão, que vai de um tom admin istrativo ao de cumplicidade
política nos projectos "secretos", além dos eventuais relatos, crónicas e trabalhos de
natureza descritiva encomendados pelo governo ou feitos por iniciativa particular. A somar
a este conjunto acrescem-se as cartas desenhadas e plantas, que enviadas como exem­
plos dos trabalhos executados na colónia são preciosos documentos para o nosso ( 1 ) O conjunto do trabalho apresentado à Universidade Nova de Lisboa incluía u m anexo documental
estudo. que não consta desta ed ição. Os desenhos, que também constituíam um volume separado, foram inse­
ridos ao longo d o texto.
parte 1 • "Das Cidades e dos Conceitos"
1
As Formas Urbanas da Expansão Portuguesa

A Coroa e as Cidades - A Criação Urbana Colon ial

Começa-se por estabelecer uma data - o ano de 1 500. Este é aqui colocado como
baliza inicial da abordagem que se pretende fazer do processo de expansão "urbana" do
Império colonial português. A visão que se segue é, necessariamente, sintetizadora, tendo­
-se procurado buscar as linhas mais significativas que, no nosso entender, norteiam o
processo da criação urbana colonial. A data escolhida é tanto histórica quanto simbólica, o
ano do descobrimento do Brasil. Serve como marco da inserção no Império do seu mais
vasto domínio territorial contínuo, e onde mais se realizou o seu trabalho de urbanização.
Deve servir também, como referência importante, para que se lembre que aquele trabalho
percorre os séculos XVI, XVII e XVIII, e insere-se, inequivocamente, em plena Modernidade.
Deixando de fora o início da colonização das ilhas atlânticas e as primeiras campa­
nhas expansionistas no Norte de África, realizadas ainda no século XV, temos, nos começos
do século XVI, a região da Índia como o principal ponto de ancoragem do império ultra­
marino. A expressão é lícita pois de ancoradouros, de facto, se tratava para um império que
se situava mais no mar que na terra. A estrutura comercial marítima servia-se, em terra, do
estabelecimento de feitorias. Estas, em princípio, pouco mais seriam que lugares de arma­
zenamento de mercadorias, estabelecidos no litoral, com a autorização dos governantes
locais.
Um elemento, no entanto, transformará a feitoria comercial em território do império
- a fortificação. O acto de "fazer fortaleza" aparece, citado, com orgulho nas crónicas da
Índia como garante da soberania portuguesa. À sombra das fortificações, no território por
elas estabelecido, surgiram as primeiras instalações urbanas. Na repetição deste processo
funda-se o paradigma inicial do urbanismo da expansão portuguesa, que associa a cidade à
fortificação.
Outro paradigma liga-se, por sua vez, a este e faz referência à presença tutelar do
Estado na formação urbana dos seus territórios. Em todo e qualquer momento da coloni­
zação dos territórios ultramarinos a Coroa portuguesa pretendeu estar presente. E os
fundamentos do urbanismo da expansão Jamais estiveram desligados de uma acepção
central da Coroa, mesmo quando isto aparentemente não é detectável.
Além de povoadores e colonos, o Estado português transferiu-se a si próprio para
os seus vastos territórios. Estabeleceu uma estrutura de controlo administrativo, que se
caracterizava, essencialmente, pela implantação de um complexo sistema de funcionários
26 27
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos''

régios, que se deviam encarregar do funcionamento de todas as actividades políticas, jurí­ modo, enquanto senhor da conquista, não o era apenas ideologicamente. Os territórios
dicas e económicas das colónias. Tai estrutura, assumidamente centralizada, norteava toda a conquistados pertenciam ao património concreto da Coroa, e na sua soberania última
administração colonial portuguesa. A Coroa estendeu aos territórios conquistados os tentá­ permaneciam.
culos do seu sistema burocrático e legislativo, impondo às colónias representantes deste Tornando como exemplo o sistema das capitanias hereditárias, onde os termos da
sistema, que reincarnavam nas províncias o mesmo aparelho estatal da metrópole 1 1 > . doação foram virtualmente pródigos na transferência de atribuições de poder em favor do
Neste contexto em que o Estado impõe a sua presença em todos os meandros da donatário, que além de deter a administração da justiça e dos sistemas de tributação e
colonização, voltamos a nossa assertiva de que a formação urbana também sempre esteve controlo económico também tinha liberdade, textualmente concedida, para criar vilas e
ligada a esses mesmos mecanismos de controlo, denunciando, como o resto das estruturas povoações. Ainda assim, percebe-se, pelo documento contratual, que tais concessões, da
coloniais, as relações de poder a eles inerente. parte do poder régio, jamais deixam de reservar, para si, a soberania máxima sobre a posse
É evidente que há salvaguardas a fazer, preservando o papel que outros elementos total do território, definido enquanto parte integrante do Reino de Portugal.
também tiveram na formação urbana colonial, como as missões religiosas, ou as iniciativas E quanto à criação urbana a Coroa outorgava aos donatários os poderes necessá­
particulares de desbravadores do território. No entanto, o que se quer ressaltar é que, rios à sua criação, mas de antemão estabelecia um rigoroso controlo na distribuição de
apesar de tais concessões imprescindíveis, o Estado procurou sempre suprir a falta da sua terras e na evolução do processo de implantação urbana. A carta de doação privilegiava o
presença inicial, tomando o controlo posterior do desenvolvimento dos núcleos, ou povoamento da costa, onde se podiam fazer tantas vilas quantas julgasse necessário o
vigiando-os a partir da sua estrutura de poder. capitão ( o que estava em correspondência com os interesses da Coroa em policiar o
Tai controlo tem um perfil específico, que condiz com o modelo da organização contrabando estrangeiro). Entretanto, a efectiva urbanização do território (no sentido de
administrativa, e não deve ser entendido como uma situação de rigor restritivo, mas antes distribuição da rede urbana) era mantida sob o olhar atento da metrópole.
como um conceito estratégico, em cuja definição pesam substancialmente os valores da
representação simbólica e do pragmatismo. "Outrosy me praz que o dito capitam e governador e todos os seus subcessores
Entretanto, e antes de qualquer modelo de estrutura administrativa, a posse em si possam per sy fazer villas todas e quaisquer povoações que nesta dita terra fizerem e lhe a
do território é uma prerrogativa básica do sistema colonial e uma contingência imprescin­ elles parecer que o devem ser, as quais se chamaram villas e teram termo e juridiçam, liber­
dível para a formação urbana. Aqui retorna-se à necessidade de defesa do mesmo território dades e insynias segundo foro e costume de meus reynos e isto porem se entendera que
e à fortificação que se lhe faz, à sombra da qual se constroem as suas primeiras cidades. podera fazer todas as que quizere das povoações que estyvere ao longo da costa da dita
Estado e fortificação apresentam-se assim como os elementos que instauram a terra e dos rios que se navegare, porque por dentro da terra fyrme pelo sertam as nam
génese do urbanismo colonial português. E serão também os elementos mais constantes do podem fazer menos espaços de seis leguas de uma a outra pera que se possam ficar ao
processo geral do urbanismo da Expansão. O Estado, pela presença em si, estrutural, do menos tres leguas de termo a cada hua das dittas villas, e ao mesmo tempo que se fizerem
sistema administrativo. As fortificações pela sua presença física, em grande parte dos casos, as tais villas, ou cada uma dellas, lhe lymytaram e assynaram logo termo pera ellas, e depois
ou mesmo não estando presentes, pela relação que com elas se estabelece, através do papel nam poderam da terra que assy tiverem dado per termo fazer mais outra villa sem a minha
desempenhado pelos engenheiros militares. lycença" (2) _
Na formação urbana de raiz portuguesa da Índia e Oriente não será difícil demons­
trar-se esta afirmação. Os pontos de fixação da estrutura do império comercial e a rede de Na verdade, mesmo no sistema das capitanias, em que a Coroa invocou particulares
fortalezas criadas, durante os séculos XVI e XVII, são as bases de todos os núcleos que para realizar o trabalho de colonização, concedendo-lhes terras e prerrogativas de poder,
vieram a ser urbanizados. As fortificações e os seus técnicos fazem-se presentes desde os esperou deles que administrassem o território concedido como província, e não como a
primeiros trabalhos de urbanização. E a Coroa pairava sobre as tarefas da fortificação e da propriedade privada que a aparência do texto indicava. A manutenção do domínio sobre a
criação das cidades com o mesmo papel que detinha em toda a empreitada das conquistas terra colonial era crucial para o Estado que, desdobrando a sua estrutura interna, faz uso do
ultramarinas. Era o titular máximo do empreendimento, desde o patrocínio das descobertas. particular como se fosse agente institucional 11>.
O rei era o "senhor do comércio, da navegação e da conquista". Os seus domínios, Repete-se o mesmo esquema, de certo modo, com os outros agentes intervenientes
aparentemente tão etéreos, eram de facto concretos e abrangentes. Por senhor do na acção colonizadora. De todos, o Estado espera e requisita colaboração, sem jamais
comércio e da navegação o rei definia-se não apenas como detentor político do poderio abdicar das suas prerrogativas últimas de poder. Dos missionários, inclusive, a Coroa espe­
dos mares para a armada do seu reino, mas como possuidor e senhor, de facto, do controlo rava que agissem em conformidade com os pressu postos do "serviço colonial" que lhes
sobre as relações comerciais e marítimas, sendo, inclusive, o seu principal agente. Do mesmo competia, de missionação, sem que esquecessem que pelo rei e pelo reino, é que
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"Das Cidades e dos Conceitos"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

"reduziam" os gentios. Note-se que, aos que supostamente não lembraram sempre desta também pagava ao clero secular, os "filhos da folha eclesiástica". A actuação dos agentes
máxima, os jesuítas, a Coroa não se esqueceu de lhes cobrar o compromisso l4l_ coloniais não terá sido, entretanto, dividida em campos tão rigidamente compartimentados.
Dos desbravadores e Bandeirantes também a administração da metrópole se servirá. Há, em todos os ângulos da administração da colónia, uma série de interpenetrações de
E numa política muito particular de selecção dos seus serviços, irá premiar uns e castigar competências. Do mesmo modo que é também constante a delegação de atribuições em
outros. Aos eleitos concederá, como prémio, a dotação patrimonial e o ingresso no sistema agentes externos (intencional ou aleatória), como já ficou dito.
administrativo, convertendo-os em agentes oficiais da metrópo le. E esta ú ltima prerrogativa No dizer bem humorado de Carlos Santos 15l, a situação retrata-se por uma grande
é, via de regra, a mais cobiçada. tensão. "Tensão entre as boas intenções abstractas que nos trouxeram, do tudo certinho
Este mecanismo denuncia o que antes dissemos, que é uma das características essen­ para agradar el-rey, e o salve-se quem puder das práticas possíveis".
ciais da administração colonial portuguesa, o investimento de poder na figura dos agentes De facto, as dimensões gigantescas que o território de administração portuguesa
da Coroa, os seus funcionários. Consubstanciando a transferência do sistema administrativo assumira invocavam uma certa noção de empenho que exigia a maleabilidade "das práticas
da metrópole para as colónias, o Estado fez associar ao corpus legislativo e jurídico os seus possíveis". Estas impunham, inclusive, que se convertessem em práticas comuns as delega­
agentes. Ou seja, estabeleceu uma situação tal de representação em que pesavam a lei, e os ções conjuntas de atribuições diversas a uma mesma pessoa. Ou o contrário, esperando-se
homens da lei, criando um sistema de poder dominado pelo funcionalismo público e pela de várias a mesma actuação, dependendo da oportunidade.
sua estrutura hierárquica e burocratizada. A criação e a formação urbanas, inseridas no conjunto das atribuições do Estado
É em tal conjuntura, em que o funcionário é a figura paradigmática da administração colonial, não escapam ao todo do seu funcionamento. Há ali também uma evidente conju­
colonial, que surgem os engenheiros militares, funcionários também, para cuidar, no seu gação de actuações e contribuições que podem vir de agentes diversos. No entanto, uma
nível hierárquico preciso, das questões relativas ao controlo do território. Respondiam não linha é claramente sensível, no decorrer do processo histórico, vinculando a actividade urba­
só pela sua defesa, perante os invasores, como também pelo seu conhecimento e medição nizadora aos fortificadores e engenheiros militares. A referência paradigmática da associação
e consequente domínio interno. Estes mesmos funcionários, encarregados do desenho de da cidade à fortaleza é o primeiro elo desta cadeia.
fortificações e de mapas, eram também os técnicos requisitados, sempre que possível, para No momento inicial da formação urbana da Expansão, a figura do urbanizador é a
o desenho das formações urbanas. do retrato polivalente do cavaleiro - capitão - conquistador e construtor, ilustrado magis­
Tai facto associa-se a uma série de razões que, tradicionalmente, colocaram os enge­ tralmente por Afonso de Albuquerque e pela sua actuação na Índia. Incluam-se ainda no
nheiros militares portugueses em papel privilegiado para o trabalho urbanístico, onde a mesmo quadro Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, e Martim Afonso de
própria situação da necessidade de defesa e fortificação do território colonial tem um Souza, capitão de S. Vicente. A este último deve-se a fundação da primeira vila do Brasil,
grande peso. Mas é especialmente significativo que a utilização desse seu trabalho nos terri­ São Vicente ( 1 53 2) e a Duarte Coelho a fundação e fortificação de Olinda ( 1 537). Ambos
tórios coloniais tenha sido realizada a partir de tal modelo de "serviço público". trabalharam pessoalmente na ordenação das vilas, do mesmo modo que participaram na
A Coroa espanhola forneceu às suas colónias um regulamento para a formação de construção de fortalezas no Oriente.
cidades. A Coroa portuguesa forneceu às suas funcionários que as fizessem. Funcionários do Ainda que os capitães se vissem envolvidos pessoalmente na construção das forta­
urbanismo, como os havia da fazenda, da justiça ou da religião. Esse entendimento do fazer lezas e cidades, aparecem já nestes primeiros tempos da Expansão mestres fortificadores
as cidades como um encargo do serviço público remete para um enquadramento do urba­ a acompanhá-los. Tomás Fernandes participou com Afonso de Albuquerque nas fortifica­
nismo de um modo intrinsecamente ideológico e intimamente ligado ao poder. E tal vincu­ ções de Angediva, Cochim, Cananor, Sofala, Moçambique, Goa, Malaca, Calicute, Pangim,
lação permeará toda a história do urbanismo colonial português, sendo decisiva, inclusive, Cou lão e Quiloa. Um J orge Gomes é citado, em 1 5 27, como mestre das obras da tarra­
na génese dos seus modelos formais mais significativos. cena da Ribeira de Goa, em 1 548, provavelmente o mesmo aparece nas obras da Sé de
Miranda e, em 1 559, é mestre das obras de Tânger, de onde teria " levantado planta e tirado
modelo" l•l.
André Fernandes era, em 1 53 1 , mestre dos muros de Chaul 17>. Trabalhando com
Os Funcionários do Urbanismo Jorge Gomes nas tarracenas de Goa encontramos um Jorge Dias, citado como pedreiro sob
as ordens daquele. Voltamos a encontrar Jorge Dias, possivelmente o mesmo, nomeado, em
1 545, para mestre de obras em Mazagão, cargo que este renuncia em favor de Pedro
O quadro dos servidores da Coroa na colónia dividia-se em quatro grandes grupos Gomes 1'l .
de funcionários: os oficiais da justiça, os da fazenda, os militares e em paralelo o Estado Começa-se a perceber dois dos factores que pesarão no decorrer do trabalho
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A s Cidades d a Amazónia n o Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

urbanizador dos territórios da Expansão. Por um lado, a formação prática dos mestres cons­ Se até então não se tinha feito referência ao aspecto formal do trabalho destes forti­
trutores e a sua ascensão a nível profissional. Por outro lado, a grande mobilidade da sua ficadores na criação urbana colonial, aqui cabe fazer-se a primeira e uma das mais perti­
actuação, trabalhando sucessivamente em vários pontos do império. nentes observações. Observação esta, aliás, feita por Mário Chicó, ao denunciar a relação
Essa característica é válida para todo o quadro funcional da Coroa nos territórios da das cidades portuguesas da Índia com o modelo da cidade ideal renascentista '"1. A icono­
Expansão. Como nota Gilberto Freire em Casa Grande & Senzaia, "os indivíduos de valor, grafia confirma a abordagem. Vejam-se em especial os conhecidos desenhos de Damão,
guerreiros, administradores, técnicos, eram por sua vez deslocados pela política colonial de Chaul, Baçaim e S. Tomé de Meliapor.
Lisboa como peças num tabuleiro de gamão: da Ásia para a América ou daí para a África Tais exemplos de urbanização das cidades da Índia remetem para análise da situação
( . . . ) Uma mobilidade espantosa. O domíni0 Imperial realizado por um número quase ridí­ contemporânea portuguesa, no que diz respeito à sua abertura à tratadística renascentista.
culo de europeus correndo de uma para outra das quatro partes do mundo, então conhe­ Percebe-se, pelo próprio processo seguido na evolução das fortificações construídas pelos
cido como num formidável jogo de quatro cantos" (9J_ conquistadores portugueses, que apesar de uma fase inicial em que se utilizam modelos de
A nomeação dos agentes coloniais para os vários pontos e cargos obedecia a crité­ cunho medievalizante há, em meados do século XVI, ,isi uma inevitável e irreversível
rios de selecção em que pesavam, a par do curriculum das actuações dos proponentes, o adopção dos preceitos da tratadística moderna. E não poderia ser diferente, na medida em
"predicamento" das localidades onde estes haviam de exercer. Uma hierarquização de que a própria eficiência e utilidade das fortalezas dependia da adopção de tais modelos.
pessoas e sítios perpassa todo o processo, estabelecendo centros privilegiados em relação Por consegu inte, é perfeitamente lógico que se assistisse na corte a um processo
a outros. A hierarquia dos sítios correspondia, evidentemente, aos interesses prioritários da crescente de interesse pelo tema da fortificação abaluartada e da tratadística. E tais matérias
administração colonial em cada momento. Os técnicos também não escapam às vicissitudes fazem entrada na metrópole pela via da sua intelectualidade ligada aos Descobrimentos.
do sistema e é possível ver-se o quanto a sua deslocação e investimento prioritário acom­ A mesma que desenvolvera o seu interesse pela matemática e a náutica, que lhes propor­
panham as grandes correntes da História colonial, concentrando-se nas regiões em que a cionara o domínio do mar e a conquista dos novos mercados e territórios, para cuja manu­
Coroa privilegiava. Tai situação é tanto mais pertinente na medida em que, inclusive em tenção era inevitável o conhecimento das técnicas modernas de construção.
termos numéricos, era preciso gerir os recursos humanos disponíveis para o trabalho colo­ Sabe-se que Pedro Nunes, o cosmógrafo-mor do Reino, regia, desde 1 559, uma aula
nial disperso em área tão grande. no paço, destinada aos jovens fidalgos que serviriam nas conquistas. Dentre os vários traba­
Assim, no decorrer de praticamente todo o século XVI, a Índia e o Oriente serão as lhos do cosmógrafo, conhece-se uma tradução sua de Vitrúvio, feita ainda em 1 54 1 . Em
bases físicas mais pertinentes e constantes da presença e da intervenção dos engenheiros 1 552, Isidoro de Almeida faz uma tradução do tratado de Dürer, e, em 1 573, publica um
fortificadores. Em 1 546, Francisco Pires partia para a Índia levando planos desenhados por livro intitulado "Das instruções militares" que conheceu grande divulgação no país ' 1 6l. Várias
Miguel de Arruda para fortificar Moçambique. Sabe-se que, no mesmo ano, o engenheiro outras obras certamente circulavam e eram conhecidas, no entanto, a sua divulgação fazia­
trabalhou na construção da nova muralha de Diu que tinha sido arrasada no seu segundo -se por meio de manuscritos, que ou estão de facto perdidos, ou ainda precisam de ser
cerco. Em 1 547, coordenou obras em Salsete e foi mandado a Ormuz para trabalhar na sua encontrados nos arquivos do país como é o caso do tratado de António Rodrigues, escrito
fortaleza ' 1 ºl. Jorge Cabral e João de Magalhães são referidos como responsáveis por um em 1 576, que mais detalhadamente veremos a seguir ' 17l.
plano para a fortaleza de Rachai ' 1 1 i . Em 1 55 1 , surge o nome de lnofre de Carvalho enviado Embora as atenções do século XVI colonial estivessem, de facto, mais concentradas
à Índia como "mestre de obras daquelas partes" ' 1 2i. na Índia e no Oriente, as crescentes questões com o contrabando nas costas do Brasil obri­
Outros nomes sonantes aparecem ainda, como Simão de Ruão e Filipe Brias que garam a Coroa a mudar a sua política de gestão do território brasileiro instituindo, em 1 548,
trabalharam com o vice-rei da Índia D. Luis de Ataíde ( 1 5 68-7 1 e 1 578-8 1 ). Simão era filho um Governo Geral na colónia. Uma nova política urbana também se estabelece com a
de João de Ruão, o escultor e arquitecto, e irmão de Jerónimo de Ruão, o autor da capela­ mesma medida, em que a criação de Salvador é o primeiro passo. Funda-se a cidade da
-mor dos Jerónimos. Projectara, em 1 5 67, a Fortaleza da Foz do Douro e na Índia aparece Bahia em 1 549. São conhecidas as condições em que o governador Tomé de Souza foi
como autor da fortaleza de Onor. Filipe Brias, que R. Moreira ' 1 3l crê ser o mesmo Filipe acompanhado por um mestrre fortificador, Luís Dias, que saíra da metrópole com "planos
Vries, escultor do Cristo dos Jerónimos, foi o mestre da construção da fortaleza de Braçalor. e amostras" para orientar a construção da cidade.
A grande figura da fortificação das praças da Índia é entretanto Giovanni Batista A actuação de Luís Dias é relatada por Gabriel Soares de Sousa ( 1 582), que diz que
Cairati, engenheiro de origem italiana que tem longa carreira iniciada em Malta, e terminada, o mestre, tendo acabado a cerca "arrumou a cidade dela para dentro, arruando-a por boa
com chave de ouro, nos domínios portugueses do Ultramar. Foi o "arquitecto-mor da Índia" ordem com as casas cobertas de palha ao modo do gentio, em as quais por entretanto se
de 1 5 83 até 1 596, quando faleceu. Cairati é o autor, entre várias outras obras, dos planos agasalharam os mancebos e os soldados" ''ª1 . É provável que esta seja a mais antiga e explí­
das fortificações de Chaul, Damão e Baçaim. cita referência vinculando o trabalho dos engenheiros militares à ordenação urbana do Brasil.
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As Cidades da Amazónia n o Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

Conjugada à fortificação, a cidade foi planeada no seu todo, como uma verdadeira cidade­ engenheiros. Em 1 647, é outra vez fundada a Aula de Fortificação e Arquitectura Militar, em
-fortaleza. Lisboa, regida por Luís Serrão Pimentel, o engenheiro-mor do reino.
D. João Ili pretendia "que a dita fortaleza e povoação por assim ter assentado que Com esta decisão de D. João IV vai-se reforçar a mais significativa base do processo
dela se favoreçam e provejam todas as terras do Brasil" 1 ' 9l. Neste contexto, Salvador surgiu urbanizador colonial português, insistindo na formação dos profissionais de engenharia
antes na dimensão política e depois na física. A concepção da cidade-capital foi planeada militar. Seguindo o modelo da Aula da metrópole foram instituídas aulas similares na Bahia
como ponto de fixação e distribuição do poder do Estado na colónia. A seguir viriam outras ( 1 696), no Rio ( 1 698), no Maranhão ( 1 699), no Minho e em Recife ( 1 70 1 ), em Peniche
fundações inseridas na mesma lógica. ( 1 7 1 9) , em Almeida e Elvas ( 1 73 2) e outra aula seria ainda criada, em 1 75 8, em Belém por
Em 1 553, Tomé de Souza escrelJeu ao rei sugerindo a conveniência da criação de Francisco Xavier de Mendonça Furtado 124i.
uma vila no sítio do Rio de Janeiro, para a defesa daquela costa, sujeita ao constante ataque A "Aula" instaura-se como a verdadeira "diferença" portuguesa na sua opção urba­
dos franceses, e também para a fixação do poder do rei com a presença da sua estrutura nizadora, pois reafirma como método o que a caracterizava em essência - a aprendizagem
administrativa e legislativa. " . . . e não ponha V.A isto em traspasso, porque além de ser vinculada à actuação. Ou seja, fundando-se na sua própria tradição, criada no decorrer dos
necessário pelo que digo (a defesa) devia V.A ali de ter outro Ouvidor Geral porque esta primeiros séculos da Expansão, de aprender fazendo, constata-se a aquisição do conheci­
em passagem para a toda a costa dali e desta cidade ser provida com justiça" 120i . mento e investe-se nela como metodologia. A experiência ensinara-lhes não só as matérias
A vinculação da estrutura militar à formação urbana é reforçada tanto pelo carácter que quiseram conhecer como o próprio método do conhecimento, e é isso que fazem na
de estratégia e defesa, exigido pela disputa com os interesses estrangeiros, como também sua escola 125l .
pela competência técnica que cada vez mais se lhes associava. Na mesma carta antes citada O processo de ensino é tão pragmático quanto a metodologia a ser ensinada e
diz Tomé de Souza sobre as vilas de São Vicente e Santos, que encontrara construídas sem fundamenta-se na nomeação de um engenheiro capaz e experiente designado para ensinar
defesa e em má ordenação das casas, que era urgente que se remediasse a situação suge­ aos que quisessem e tivessem talentos para aprender. Aqui eram basicamente consideradas
rindo que "deve-se logo prover nisso quem com razão o deve fazer porque doutra maneira as pessoas que servissem nas fileiras da própria estrutura militar, ou também outros que se
estão mal" 12 ' l. dispusessem à aprendizagem. Os talentos procurados fundavam-se no interesse, ou prática,
Quem com razão o devia fazer eram mais provavelmente os engenheiros militares, que os candidatos tivessem das matérias relativas à fortificação, com especial destaque para
que passaram a ser, progressivamente, requisitados para a colónia. Em 1 557, Pero de a geometria e as técnicas de medição <2•i.
Carvalhaes substitui Luís Dias na Bahia, que havia retornado em 1 554. Em 1 57 1 , enviou-se O modelo da carta régia instituindo as aulas estabelece o número básico de três
Francisco Gonçalvez, como mestre da fortificação do Rio de Janeiro. "discípulos de partido" q ue deveriam ter qualidades específicas. Para constatação do seu
Durante a administração filipina sabe-se que, em 1 588, foi nomeado Alexandre de aproveitamento "todos os anos serão examinados para se ver se adiantam nos estudos e se
Urbino, como "fortificador do Brasil". Na mesma altura, actuaram no norte, Baccio de tem genio para eles porque quando não aproveitem serão logo excluídos . . . " <27i.
Filicaccia e Batista Antonelli e seu ajudante Gaspar de Sampers, que se ligam à criação dos Via de regra, ao engenheiro era comunicada a obrigação de dar aulas logo na carta
núcleos urbanos de Filipeia Uoão Pessoa) ( 1 5 85) e Natal ( 1 599). Em 1 603, é nomeado da sua nomeação e, por vezes, era expresso que tal encargo devia ser executado sem que
Francisco Frias como engenheiro-mor do Brasil. Frias fora aluno da aula de arquitectura que recebesse maior soldo por isso, constituindo-se o ensino como parte do seu dever 12si.
Filipe li reinstituíra no paço em 1 594. A grande referência urbanística do trabalho de Frias é Talvez pela eventual falta de mestres qualificados, ou de discípulos talentosos, algumas vezes
a planta de S. Luís, que o engenheiro projecta e deixa ao governador para que este fizesse a sequência das aulas foi interrompida durante certos períodos, como no Maranhão ou em
a cidade "bem arruada e direita conforme a traça que ficava em poder do capitão-mor" 122i . Pernambuco. Na maioria dos casos, no entanto, o processo é praticamente contínuo e aos
No entanto, paralelas a estas cidades em que a Coroa directamente actuava com mestres podem eventualmente suceder os próprios alunos por eles ensinados. Tal é o caso
seus "funcionários", continuavam a fazer-se outras em que os moldes terão sido certa­ de José António Caldas, que foi discípulo da aula da Bahia e depois um dos seus mais talen­
mente menos académicos 123l. Torna-se a referir a situação de tensão antes citada que tosos mestres.
obrigou, menos por falta de interesse no projecto colonial e mais por uma real falta de A natureza do trabalho desenvolvido nas aulas, fundamentar-se-á num paciente
meios, a um equilíbrio entre o ideal e o possível. Associada a isto gera-se uma concreta processo de aprendizagem teórica, seguido sempre de perto pela prática. A qualidade
opção pelo pragmatismo e, inclusive, uma "estudada" manipulação dos meios particulares, destas aulas não deverá ser contestada e como provas vejam-se os códices que restam, no
como já foi dito. Arquivo Histórico Ultramarino, do material de trabalho dos alunos da Aula da Bahia. Vários
A guerra com os holandeses, no Nordeste do Brasil, e a Restauração na metrópole entre os mestres das Aulas também produziram, eles próprios, material teórico e didáctico.
aumentam as preocupações defensivas da Coroa, que reforça a formação de quadros de (fig. 1 , fig. 2 e fig. 3)
35
"Das Cidades e dos Conceitos"

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OcomclriaAuuó1-. UàJ111e1rw .

Fig. 1 . Página extr,!Ída do álbum de desenhos da Aula da Bahia, AHU, cartografia manuscrita Bahia 990- 1 028.
Fig. 3. Página extraída do álbum de desenhos da Aula da Bahia,
Fig. 2. Página extraída do álbum de desenhos da Aula da Bahia, AHU, cartografia manuscrita Bahia 990- 1 028. AHU, cartografia manuscrita Bahia 990- 1 028.
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A s Cidades da Amazónia no Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

Em Pernambuco o ensino terá sido iniciado com Diogo da Silveira Veloso, de quem " É que ao radicar-se, entre nós, o predomínio do princípio sobre a norma, pode
se sabe ter escrito dois livros, um intitulado "Geometria Prática, Dividida em três tratados" estar-se não só a abrir caminho à diversificação, como a empurrar a prática urbanística para
(Pernambuco, 1 699) e o outro "Arquitectura Militar ou Fortificação Moderna, d ividida em situações de "brecha", por onde se podem instalar processos menos ortodoxamente carte­
duas partes, a primeira Iconográfica e a segunda Ortográfica" (Pernambuco, 1 743) 129) _ José sianos ou mais libertariamente organicistas, visualistas ou teatrais, e por onde uma sociedade
Fernandes Pinto Alpoim, lente da Aula de Fortificação do Rio também escreveu livros didác­ de mental idade barroca poderá introduzir alguns dos seus valores espaciais mais q ueridos.
ticos para os seus discípulos: um "Exame de Artilheiros" ( 1 743) e outro " Exame de Assim a implantação isolada da igreja entrevista como ponto de fuga e inserida no topo de
Bombeiros" ( 1 746) <30). conJuntos viários de sentido perspéctico, ou a sua colocação numa plataforma tangente ao
A partir da segunda metade do• século XVII, e especialmente já no século XVIII, eixo da rua, ou no cimo de um escadório enquadrado por fundos paisagísticos geradores
assiste-se a um "boom" da urbanização do Brasil, em evidente coincidência com a concen­ de situações visualmente d inâmicas, pode permitir interpretar certos casos aparentemente
tração de interesses da metrópole no território, e a consequente d iminuição da importância menos planificados do urbanismo brasileiro como portadores de um d iscurso espacial
antes dada ao Oriente. Acrescem neste período tanto o número de criações urbanas como barroco." 133)
a proporção das que tornam evidentes, pelo tratamento formal, a presença do profissional No conjunto da variedade formal do urbanismo português da Expansão encontra-se
com qualificação, sendo senão o engenheiro pelo menos o "arruador" 13 '). a unidade que lhe advém da "escola" que o criou, desenvolvida pelos engenheiros militares
Com o decorrer dos anos deparamo-nos, portanto, com a progressiva evolução de portugueses, responsáveis por um método que, cremos, une o pragmatismo à segurança
uma escola fundamentada, com uma actuação mais programada e eficiente, dirigida a partir teórica.
dos centros políticos, onde se formavam os alunos. A situação representada pelo século Ao pretender desvendar os liames de tal unidade e encontrar as possíveis bases da
XVIII, em que o modelo da planificação urbana se encontrava já estabelecido, tendo uma composição urbana colonial portuguesa deparamo-nos, inevitavelmente, com a conjuntura
aparência mais hegemónica, terá dado azo a que se pensasse que ele só ali surgira. Mas as ideológica da sua formação, que liga as cidades do Oriente, do Brasil e da África num
suas raízes são anteriores e sólidas, e a elas se deve a segurança conquistada. conjunto amplo de uma estratégia de controlo e domínio. São estas duas bases, uma ideo­
No século XVIII vemos, inclusive, uma fórmula ser incorporada às cartas régias deter­ lógica e outra "científica", que adiante pretendemos tratar.
minando a fundação das cidades, que repete os preceitos da escola já existente. As normas
que se arvoram em lei são, na verdade, as mesmas que vinham gerindo o processo desde
há muito. Determinam a criação da praça e a instalação dos edifícios principais, a abertura
das ruas largas e direitas, em linha recta, e a definição de um modelo único de fachada para O Sistema dos Engenheiros - A Teoria e a Prática na Urbanização Colonial
que sempre se "conserve a mesma formusura das terras" <32).
As observações normativas contidas nas cartas régias são bastante sintéticas e simpli­
ficadas, conscientes da desnecessidade de serem restritivas ou impositivas. Em parte, porque Condicionantes históricas influíram, no século XVI, para associar de maneira inequí­
se fundam sobre a confiança nos técnicos que as executaria, e, em parte, porque partilham voca, a engenharia militar ao urbanismo . Tai assertiva, que é válida para toda a conjuntura inter­
a visão pragmática do processo, transformado em metodologia. A experiência, de sempre, nacional e para a própria criação do urbanismo moderno, devedor dos exercícios formais dos
mostrava q ue a maleabilidade era o princípio mais seguro. engenheiros tratadistas da Renascença, é-o mais ainda para o contexto de Portugal.
Assim, a concretização formal do urbanismo no Brasil colónia conheceu uma varie­ As conquistas ultramarinas envolveram o país em trabalhos para os quais a requi­
dade de modelos e disposições que, sem se desvincularem do método, têm aparências sição dos engenheiros era premente. A amplitude e a urgência de tais trabalhos, que deviam
bastante diversas. Encontraremos vilas com planos ortogonais, algumas com uma praça cobrir as possessões no Oriente, em África e depois no Brasil, exigiram ao mesmo tempo
central, outras com mais de uma. Os quarteirões via de regra são mais alongados e rectan­ destes profissionais uma actuação segura e polivalente. Por um lado, pela via prática os seus
gulares que quadrados. Não se excluem, entretanto, ordenações de cunho radial ou sobre trabalhos eram constantemente requisitados, por outro, a sua formação teórica não era
terrenos acidentados e vários outros exemplos se sucedem. Entre estes, inclusive, os que, descurada, fundando-se nas heranças de uma tradição matemática legada pelo empenho dos
de tão maleáveis, têm a aparência próxima das instalações espontâneas, em que alguns de Descobrimentos.
facto tiveram origem, como é o caso da maioria das cidades surgidas dos arraiais mineiros. A associação destes engenheiros fortificadores à produção urbana adveio tanto pela
No entanto, mesmo onde na origem a instalação urbana foi menos regulada, a meto­ sua experiência concreta, como pela hegemonia técnica que estes acabaram por deter, e
dologia da escola soube instalar-se ao apropriar-se da cidade pela "brecha" do barroco, que os fizera englobar no seu trabalho o que noutras circunstâncias poderia ter sido encargo
como explica Horta Correia: de arquitectos, dos quais tomaram, inclusive, a própria produção da arquitectura <34) _
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A s Cidades da Amazónia n o Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

Os engenheiros militares representaram em Portugal, num crescendo que começou um carácter que nos parece muito significativo. Insiste o autor que "a tera hou habytassão
no século XVI até ao século XVIII, um papel de elite técnica. Como vimos, os primeiros que hü ornem destes emtemdidos tinham se gloriava mais que aquela domde hos tais
investimentos do Estado na sua formação remontam aos anos iniciais da segunda metade homês não havia . . . ' ' 139> _
de Quinhentos ( 1 559), a partir de uma escola no paço destinada a jovens nobres, onde lhes Uma dupla leitura é possível desta afirmação. Por um lado, numa espécie de adver­
eram t1·ansmitidos ensinamentos pelo então cosmógrafo-mor do Reino, Pedro Nunes. tência ao país, reforça a necessidade de formar técnicos nacionais <40>, por outro lado esta­
Segue-se, em termos oficiais, a reinstituição de aula similar feita, em 1 594, por Felipe li, com belece uma relação directa da ciência em causa com o poder, na medida em que diz que
Terzi e Lavagna à frente. Se no sentido prático se pode identificar com esta primeira geração mais glória tinham os que a dominassem. No seguimento do texto cita Syracusa, Marselha
de engenheiros o trabalho de Caira.ti ria Índia, ou de Frias no Brasil, no campo teórico e Mazagão, defendidas por mérito dos peritos, e conclui com o exemplo dos romanos, que
também existe um representante possível no tratado de António Rodrigues <35>, "foram senhores do mundo, hos quais tamto que comessarão ha senhorear hasy comes-
Datado de cerca de 1 576, é uma fonte riquíssima de informações sobre o nível dos saram tãobem ha fazer seus edefisyos por melhor hordem que dãtes; " <4 1 >
estudos e das especulações teóricas e ideológicas acerca do urbanismo na corte portuguesa A referência a Roma é importante pois retoma a ideia da estrutura colonial e aponta
de Quinhentos. Depois de desenvolver um prólogo clássico, no género dos tratados de para outro símbolo da relação de poder, evocado no ordenamento das edificações ( ou
engenharia militar, em que relata os progressos da "malícia" no mundo e a necessidade povoações). A conjuntura nacional está outra vez presente, mesmo quando envolta num
encontrada pelos homens de se defender, o autor identifica esta necessidade com a cons­ discurso situado no passado. O mecanismo é tanto mais evidente, quando uma das cidades
trução das cidades e diz: citadas é Mazagão, que "se lyurou do poder de Molle Amete, por ter demtro de sy omês
"Dõde comessaram a buscar sytio comveniente pera seu viver sobre ho qual fizerão emtemdidos nestas hartes." <12i. O autor deixa a possibilidade de uma leitura metafórica
gramde emleisão haqueles que emtenderam hos emcõvynyemtes paçados, domde entre os romanos senhores do mundo e os portugueses, conquistadores do Oriente, África
concluyrão que ho ydefisyo hou povoasão se avia de fazer por nesesidade e não ha e Brasil.
cazo . . " (36) Não só pelo enquadramento ideológico do trabalho dos arquitectos/engenheiros o
texto de António Rodrigues é significativo. A abordagem epistemológica que o autor faz é
Rafael Moreira, na análise que fez do texto, identifica esta passagem, em que o autor reveladora de uma das principais bases teóricas do urbanismo português, fundado no
coloca o binóm io "necessidade x acaso", com uma citação similar também colocada por conhecimento experimental. Num parágrafo, o autor explana a sua teoria do conhecimento
Cataneo no seu tratado <3'>. O que nos parece significativo, além da erudição comprovada arquitectónico:
pela fonte, é que embora o autor situe o exemplo no passado dos homens, na verdade, a
referência a essa questão da formação de cidades, feitas por eleição e não ao acaso, é uma " Comvem que haquele que houver de fazer profição destas artes que tenha
problemática do tempo do autor que remete, necessariamente, para uma abordagem ideo­ engenho, por que syemsya sem emgenho não haproveita nada nem emgenho sem syemsya
lógica do urbanismo de colonização, no qual o seu país estava já envolvido. menos; portanto emtemdase ho que dis Vetruvio, que alem de hu ornem ser syemtico tenha
Além de justificar a formação urbana a partir de um conceito de necessidade, o autor descurso, por que esta arte creouse da fabrica e do descurso. Fabrica sam haquelas couzas
apresenta o saber fazer as povoações como um produto do conhecimento urbano e como que são nesessarias para se fazer ho edefisyo, hasy como he pedra, e call, e area, he tejolo
fruto de um saber acumulado. Identificando o urbanismo com o processo civilizador, uma e madeira, e pregadura, e telha, e os estrometos com que se estas couzas hapuram para se
vez mais remete-se para a ideologia do colonizador, que se apresentava aos povos conquis­ por hem hobra. Descurso é hemtemder as propiedaddes de todas estas couzas, e
tados como o portador da civilização. emtemder ho tempo que lhe e nesessario para se por em hobra, e emtemder ho laurar e
Na sequência da mesma apresentação ideológica do urbanismo enquanto matéria asemtar delas pera emtemder se estam em sua débita rezão lavradas e hasentadas; pera o
do conhecimento, o autor desenvolve a teoria da necessidade do "esperto" em tal disci­ qual dis Vetruvio que pera hü orne emtemder ysto que a mester largo tempo para ser aver­
plina. Em perfeita coerência com o modelo vitruviano apresenta uma listagem das quali­ sado nelas, e portanto dis 'descurso' ho qual descurso não he outra couza senão tempo" <41 >.
dades e atribuições imprescindíveis ao arquitecto e enumera as disciplinas a saber, incluindo
a geometria, a astrologia, a lógica, a retórica, a música e a fisica, entre outras <30>. A primeira parte do trecho é uma citação de Vitrúvio feita também por Cataneo
Tai definição do arquitecto é, de certo modo, um retrato padronizado, difundido (" . . . pero che essendo ingegnoso senza scienza, overo scientifico senza ingegno, non potrà
pela maioria dos tratados quinhentistas, inspirados nas proposições do texto de Vitrúvio. farsi perfetto architetto" <44>). Segue-lhe outra citação identificada de Vitrúvio apresentando a
Mas para além do que possa possui1· de leitura comum com os seus tratados congéneres e arquitectura formada por um binómio de "fábrica e discurso". O entendimento de tais expres­
contemporâneos, o texto de António Rodrigues aborda a questão do "esperto" ressaltando sões, ciência e engenho, discurso e fábrica, remetem para uma tradução lícita em termos de
40 41
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

teoria e prática. António Rodrigues, no entanto, faz deles uma abordagem que amplia as suas no ultramar, mais de 200 fortalezas e fundado cerca de 150 povoações. O pragmatismo
possibilidades de leitura. Rafael Moreira interpreta a abordagem do autor em moldes de visão resulta da mesma forma, da quantidade e da urgência dos trabalhos, e de uma concepção,
aristotélica, identificando a fábrica com a matéria e o discurso com a forma, em que a obra sempre confirmada no tempo, de aliar os resultados a um sistema persuasivo e de domi­
seria entendida como a forma que o "discurso", ou a razão humana, impõe às matérias l45J _ nação.
Esta interpretação permite avaliai- parte da base experimental da teoria de António O conceito de persuasão que aqui está em causa exige uma leitura dupla do meca­
Rodrigues, na medida em que identifica o discurso, ou seja, a ciência, a razão, enquanto nismo colonial. Por um lado remete para o imediatismo da relação de poder, já aqui abor­
produto de um trabalho concreto de conhecimento e moldagem da matéria, segundo as dada, que impõe a identificação inequívoca do Estado enquanto senhor da terra, enquanto
suas características próprias. conquistador dos povos e enquanto administrador da justiça e da economia, ou seja, uma
Mas, no nosso entender, a alusão ao tempo é que define o pensamento conceptual relação que deixe clara a hierarquia entre o centro e a periferia, entre o dominador e o
do autor. Referindo-se ao conhecimento teórico como a um processo no tempo, o autor dominado.
exalta na verdade a prática. Portanto o que seria o binómio clássico teoria e prática, torna­ Por outro lado, muito do complexo sistema de relações da metrópole com as coló­
-se no pensamento do português prática e teoria-prática, ou seJa, conhecimento experi­ nias deixaria de ser compreendido se não se levasse em consideração o entendimento, de
mental, saber acumulado no tempo. certo modo mítico, que o colonizador teve do seu papel nas colónias, encarando-se como
Daí que se empenhe, em seguida, em explanações sobre a constituição dos mate­ o legítimo portador da cultura e da civilização para povos bárbaros e perdidos do reino de
riais e em especulações acerca da eleição dos sítios urbanos e a avaliação das águas e dos Deus.
ares. O texto converte-se num manual que admite um uso prático. As questões do urba­ A mentalidade colonialista dos séculos XVI, XVII e XVIII encontrava-se impregnada
nismo são tratadas numa abordagem directa da problemática da implantação de novos sítios de uma visão catequizadora e regeneradora dos territórios conquistados. O sentido persua­
e, confirmando o entendimento colonial, as recomendações são dadas de modo a abarcar sivo da pregação é uma imagem efi ciente do processo mental do colonizador, que pretendia
as especificidades das várias regiões do globo 1"l . a conversão dos povos não apenas a uma nova fé, mas a todo um sistema cultural diferente.
No final do tratado aparece a Geometria num contexto, embora específico, não A pertinência da imposição de tal sistema encontrava justificações em todos os campos:
muito diverso da abordagem pragmática dos ensinamentos anteriores. Voltaremos a vê-la moral, político, religioso e económico. Todos confirmavam a ideia do processo civilizacional
inserida no conjunto de outras explicações, do mesmo teor, fornecidas como bases cientí­ como um legado de poder justificado pela conquista. Os métodos da pregação ideológica
ficas da formação dos engenheiros. recuperam então, um investimento no símbolo e no rito, que serviam a ambas as partes
Um século praticamente volvido depois da elaboração do texto de António envolvidas. Ao colonizado como instrumentos de persuasão e conquista, ao colonizador
Rodrigues, um outro engenheiro português publica um trabalho, que conheceu grande divul­ como processo de identificação mítica com o seu próprio poder.
gação no seu meio, e que compilou as bases vigentes da escola de engenharia militar. O A abordagem do urbanismo colonial português em termos de símbolo e rito é
"Methodo Lusitanico de desenhar as Fortificações das Praças Regulares & Irregulares . . ", de extremamente rica. O processo compositivo da forma urbana é o primeiro e mais significa­
Luís Serrão Pimentel, editado em Lisboa, em 1 680. Apresentava-se dizendo: "A disposição tivo dado da identificação simbólica e ritualística. A praça, usada como matriz geradora do
desta obra he que proponho em primeiro lugar hua facíllima prática, tal que por ella saberá desenho e identificada com o centro da cidade, estabelece uma referência simbólica inequí­
qualquer soldado facíllima & brevissimamente desenhar todo o genero de Fortificações, que voca, de contornos arquétipicos, de identificação do "centro do mundo", do berço da vida
hoje se practicão, com proporções apuradissimas . . . " 147J_ e da civilização, que a presença do pelourinho só vem reforçar, balizando com os atributos
O fio condutor do pragmatismo e da exaltação da experiência reaparece confirmado do poder, a carga simbólica do espaço central. Os contornos da praça, marcados pelos edifí­
no texto de Serrão Pimentel, denunciando um processo contínuo na formação básica dos cios mais representativos (a igreja, a câmara, a cadeia e o palácio dos governadores),
engenheiros nacionais. A teoria é novamente entendida numa relação dialéctica com a assumem o papel de envolventes do símbolo que o espaço-praça significa, e ao mesmo
prática e assume uma interpretação similar à do texto de António Rodrigues " . . . pois a tempo incorporam eles próprios o referencial simbólico das instituições que representam (a
Sciencia consta das (experiências) de muitos adcquiridas por longos tempos, & diuturnas religião e o Estado).
contemplaçoens sobre ellas." 149J Os edifícios da praça assumem assim uma relação dialéctica com o espaço, contri­
A essência do "Método Lusitânico" é pois a transferência de um conhecimento buindo e ao mesmo tempo usufruindo do seu simbolismo. Do mesmo modo, a arquitectura
prático, e além disso pragmático, que se queria de execução fácil e de resultado eficiente. de toda a cidade é simbolicamente definida pela sua relação com o espaço urbano. No texto
O trabalho colonial é mais uma vez a referência de tal base ideológica. O conhecimento normativo das cartas de fundação do século XVIII a recomendação régia prega que "em todo
prático advinha de uma experiência nacional concreta, que até 1 680 já tinha construído, só o tempo se conserve a mesma formosura da terra e a mesma largura das ruas" l49l, relacio-
42 43
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

nando para tal a uniformidade dos edifícios e a sua proporcionalidade para com o desenho texto de teor urbanístico surge. Encarado na sequência do trabalho de Azevedo Fortes e da
urbano. Essa conceptualização simbólica da uniformidade da arquitectura, preconizando um Dissertação de Manuel da Maia <521, o texto é bastante limitado no seu alcance teórico pelo
ideal de formosura no urbanismo de programa, atingiu o seu auge no século XVIII quando ao cunho demasiado utópico que encerra. No entanto, ainda que exagerando, confirma ambas
conceito estético se acoplou o entendimento ideológico da racionalidade iluminista. as bases do urbanismo português, a base ideológica e a base científica. O próprio título do
Por outro lado, a abertura das ruas, feitas a partir da praça, repetindo um método trabalho esclarece o seu teor: é o "Tratado da Ruação para a emenda das ruas das cidades,
tradicional de medições e alinhamentos com cordas, identificado pelo verbo "arruar", evoca vilas e lugares deste Reino ( . . .) oferecido a Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de
quase um procedimento ritual do nascimento das cidades. Os exemplos desse processo na Oeiras ( . . . ), por José de Figueiredo Seixas . . . " <53>_
formação urbana do Brasil são numeroso�. De Salvador, disse Gabriel Soares de Souza, que Além de recuperar e confirmar o termo da prática dos arruadores, assim intitulando
tinha sido "arruada por boa ordem" <50>: do Rio, afirma Paulo Santos, que a documentação o seu trabalho, Figueiredo Seixas também confirma a importância ideológica do controlo da
do século XVII é pródiga em informações dessa ordem: o regimento de São Luís é explícito ordenação territorial e urbana e chega a fazer uma utopia reguladora de dimensões incal­
na indicação para o seguimento do processo de "arruação" da cidade e os exemplos do culáveis: "E desta forma, sendo todo o Reyno demarcado em quadrados iguaes, parecera
século XVIII multiplicam por muitos os dos séculos precedentes, confirmando a perma­ um taboleiro de damas, e cada hum quadrado em sy demarcado com a regular correspon­
nência do processo e a pertinência do método. dência das courelas divididas com praças rua e estradas parecerá um jardim <54>". A obsessão
A presença do símbolo no u1-banismo colonial português antecede, inclusive, esse geométrica da sua utopia é indício da permanência e força de outra das bases do urbanismo
procedimento insediativo, porque remonta ao próprio desenho e à ideia de cidade em português, a geometria.
questão. Voltaremos a este ponto ao abordarmos as bases geométricas da composição Para entender as referências formais usadas pelos portugueses ao desenharem as suas
urbana e as suas relações simbólicas intrínsecas. cidades coloniais, há que falar antes das suas origens, ou seja, a ideia de cidade que nutriu os
O que entretanto importa salientar é que tal processo ritual de instauração de seus projectos. Poderemos encontrar a referência basilar dessa ideia na conjuntura do inte­
cidades pode, e deve, também ser entendido dentro da mesma base experimentalista que resse da Renascença pelo urbanismo. As razões condicionantes de tal interesse são sobeja­
a escola portuguesa de engenharia militar fundou para si. Ou seja, num procedimento similar mente conhecidas. Relacionam-se com uma situação realista que impunha a necessidade de
ao que fazia com o conhecimento teórico, convertendo a teoria, por definição, em acumu­ criação de novas cidades, dentro e fora do continente europeu, e associam-se também, numa
lação de p1-ática, assim também convertia a teoria urbana no urbanismo em si, isto é, no outra escala da conjuntura mundial, a todo um novo ordenamento sociocultural po1- que
fazer concretamente cidades. passava a História do Mundo. Nova ordem que implicara novos conhecimentos científicos,
O trabalho de arruar uma cidade é comparável a uma atitude de projecto efectuada que revolucionaram as noções acerca do próprio Mundo, e condicionaram um reposiciona­
no próprio terreno. Mesmo quando se fazia um projecto desenhado no papel, e fizeram-se mento da estrutura social.
muitos, a prática da arruação era a verdadeira metodologia de projecto do urbanizador A questão urbana surge, no seio das especulações do Renascimento, envolta em
português, que incluía na elaboração conceptual do desenho a avaliação prática da sua viabi­ factores de diversa ordem que incluíam desde a recuperação idealista da Antiguidade
lidade e adaptabilidade ao terreno. Os resultados de tal processo são comprovados pela Clássica, e a noção da polis enquanto representação da sociedade, em paralelo com as espe­
abundante documentação relativa ao Brasil e pelo próprio exemplo das cidades, onde a culações de ordem conceptual e abstracta que envolviam a noção de espaço.
averiguação da malha urbana ainda permite ver os méritos da composição. O espaço do Renascimento é um novo espaço. É novo no sentido que a abordagem
A confirmação "teórica" dessa metodologia prática surge novamente num texto que a Renascença lhe fez ampliava a noção vivencial, que vigorara na Idade Média, para uma
básico da engenharia militar portuguesa, o livro de Manuel de Azevedo Fortes ("O Enge­ possibilidade de abstracção conceptual, tanto em termos matemáticos como em termos
nheiro Português dividido em dois tratados . . . ", Lisboa, 1728-29). O primeiro tomo do formais e plásticos. É novo espaço, também, no sentido concreto de que o conhecimento
trabalho de Azevedo Fortes é dedicado à matéria da "geometria prática", que nada mais é geográfico e cósmico do Mundo havia sido totalmente modificado com os Descobrimentos
que a compilação ostensiva de métodos de medição. "Vai dividido o primeiro tratado da marítimos. E é espaço de algo novo porque é entendido como uma oportunidade de
geometria prática em 3 livros: o primeiro da longimetria, ou medida das distancias, o concretizar a diferença, de estabelecer um limite entre as trevas do passado e as luzes dos
segundo da planimetria, ou medida das superfícies, e o terceiro da stereometria, ou medida novos conhecimentos.
dos corpos . . . " <5 1 >. Medições que eram a base do trabalho dos arruadores e que funda­ A lida dos portugueses com o novo espaço dá-se no próprio espaço do novo
mentavam o seu projecto urbano concreto. Mundo, por eles descortinado e percorrido. Posição privilegiada essa, de perceber a ampli­
Depois de decorridos os anos da 1-econstrução de Lisboa e do grande implemento tude dos conceitos a partir da experiência. A literatura portuguesa contemporânea dos
da escola de urbanismo português por trabalho de tão larga escala e qualidade, um outro Grandes Descobrimentos é pródiga em narrativas carregadas do peso da identificação de
44 45
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

uma nova cosmogonia. Vide as célebres palavras de Pedro Nunes sobre as novas estrelas por extensão, a cidade dividem-se entre a instância do desenho, o projecto, e a da obra. No
descobertas ou os trabalhos de João de Castro. A verdadeira geometria ocupara as mentes desenho condensa-se a apreensão conceptual do espaço. É a ideia, a forma enquanto repre­
dos portugueses renascentistas que, efectivamente, mediram a Te1Ta. sentação do real.
A correcta avaliação de tamanho acervo mental é imprescindível para a abordagem É sabido que a obra de Sebastiano Serlio, "Os Cinco Livros de Arquitectura" ( 1 5 84),
da produção urbana portuguesa. A ciência geométrica foi a base mais constante da prepa­ foi uma das principais fontes teóricas do Renascimento em Portugal. O modo como este
ração académica dos engenheiros portugueses e o ponto fulcral para o desenvolvimento das autor situa a aprendizagem da geometria é p rofundamente esclarecedor. Advertindo que,
investigações formais que fizeram, tanto nos seus trabalhos urbanísticos, como nos arqui­ para os que conhecem a dita arte, as formas dizem sempre mais do que aparentam, Serlio
tectónicos. resume a simbiose de símbolo e de método que a geometria representa.
Paralelamente às viagens de deslocação no espaço, também as viagens no tempo da
cultura renascentista implicaram na nova apreensão conceptual do espaço urbano. A revisão "Quão prática e necessária a secretíssima Arte da geometria é para todo artífice e
dos vestígios espaciais das civilizações clássicas e a compreensão dos mesmos no conjunto da artesão, como aqueles que por muito tempo estudaram e trabalharam sem a mesma podem
busca humanista, fazem-nos convergir para uma visão mais abrangente do espaço urbano, muito bem testemunhar. Os quais desde que obtiveram o conhecimento da dita Arte, não
visto enquanto parte actuante na reconstituição da sociedade clássica. Da situação de irrele­ apenas sorriem e riem com a sua antiga simplicidade, mas na verdade podem muito bem
vância que o espaço material e a configuração formal do edificado assumiam na identificação admitir que tudo aquilo feito por eles antes, não era digno de contemplação" 156)_
da cidade medieval, estes passam à privilegiada posição de "documentos" da sua existência.
Mais que isso, os vestígios das cidades mortas advertem quanto à historicidade da Um dos principais pontos que gere a simbologia geométrica renascentista é a corres­
cultura e deste modo assumem-se conceptualmente enquanto seus produtos. As formas pondência das formas. Serlio chama a atenção para este ponto numa óptica pragmática,
arquitectónicas e urbanas surgem assim vinculadas à própria génese da sociedade civil e laica, referindo a lida do artesão que precisa saber aumentar e diminuir as figuras proporcional­
cultuada pelo Humanismo. O método de abordagem destes espaços segue o mesmo mente, e estabelecer relações entre as formas. A importância dessas relações é dada na
critério utilizado na releitura dos textos clássicos. São incorporados numa visão filógica de máxima de que as figuras se podem "transformar" em diferentes formas de modo a terem
procura das origens e bases da cultura que reflectem. "as mesmas partes" <57), isto é, que sejam correspondentes na sua área.
Em tal visão se fundamentam as bases da conceptualização do espaço urbano em Se para uma mente matemática contemporânea esta relação significa um procedi­
termos de uma escritura cultural, um legado hu mano dotado de potencial capacidade de mento de cálculo, para a mente geométrica renascentista equivalia a um processo sobre o
expressão, que importava ser lida, compreendida e reproduzida. Neste sentido investe-se qual o uso do verbo "transformar" é perfeitamente lícito, dado que a obtenção das formas
nas pesquisas in loco nas ruínas, nos levantamentos, e na revisão "arqueológica" dos espaços correspondentes umas às outras se processava pela via do desenho, partindo efectivamente
remanescentes da cultura clássica. Do produto das pesquisas, inventariam-se as formas que de uma delas. Uma série de métodos de transformação de triângulos em rectângulos ou de
resistiram ao tempo, ordenando-as num vocabulário iconográfico, que servia de referência círculos em quadrados, e vice-versa, enche as folhas do livro de Serlio e assim também do
à criação nele inspirada. tratado manuscrito de António de Rodrigues.
No entendimento do espaço urbano convergem as duas linhas conceptuais, o O que importa salientar dessa insistência didáctica é que, apesar da aparência extre­
conceito do espaço-matéria, dos geómetras e dos engenheiros, mensurável e formalmente mamente rudimentar dos processos ensinados, estes remetem para um acervo mental
moldável, e a compreensão do espaço documento cultural moldável também, mas ideolo­ muito mais complexo, onde a ideia da correspondência das figuras tem lugar no campo
gicamente. Dessa condensação surge o conceito da nova cidade, de facto inteiramente nova, conceptual ligado às formas. A expressão da "quadratura do círculo" resume em parte essa
pois o seu espaço urbano é compreendido, pela primeira vez na História, como dotado de referência, associando as duas formas geométricas numa simbologia comum de perfeição.
uma "formação discursiva autónoma" <55)_ Ou seja, à cidade, enquanto espaço edificado, dá­ Assim as reduções das figuras ao quadrado ou ao círculo que lhe corrresponda em área
-se-lhe atributos que não detinha, e que a transformam em organismo, não meramente assumem um carácter representativo da coerência da linguagem formal e estabelecem um
dependente das forças sociais, mas actuante no seu conjunto. código sistemático e preciso para a metodologia de desenho.
A pesquisa e especulação formal que se inauguram, tanto em termos do vocabulário Não cabe aqui, portanto, uma análise redutora do conteúdo dessas lições elemen­
arquitectónico como em termos do desenho urbano, advogam-se como portadores de uma tares de geometria, encarando-as como se representassem um parco conhecimento. Ao
lógica intrínseca, que os vincula à própria formação da sociedade. O instrumento de tal contrário, a lógica interna dos exercícios propostos por Serlio advoga um crescimento
pesquisa de formas é o desenho. Entendido enquanto linguagem representativa do edifi­ gradativo do domínio de uma expressão formal obtida a partir do processo gerativo das
cado, o desenho começa a assumir uma autonomia que até então não tivera. O edifício e, próprias formas.
46 47
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

Uma das proposições do texto de António Rodrigues é um bom exemplo da


complexidade que os processos de transformação das formas podiam atingir:

"Querendo saber ha sircumferencia do sirculo R quam cõprida he, partase ho seu


diametro hem sete partes yguais, como parese polos pomtos 1 2 3 4 5 6, he darão à sircum­
ferencia do dito syrcolo 22 dessas partes. He querendo reduzir este sircolo numa fegura
quadramgular he retamgular farão hüa fegura que tenha honze partes yguais do tamanho de
hüa das sete do diametro, he que tenha de largura tres e mea, como parese pola fegura F.
He querendo quadrar esta fegura num quadrado perfeito carrão com a linha BA as tres
partes e mea ate o pomto M, façase o simesyrcolo MBX, tiresse a linha AN ate a sircumfe­
rensya do simesyrcolo, ho qual achegou ao pomto N, he do pomto N ao pomto A hé o
lado do quadrado ANOY, o qual he ygual a fegura F. He partindo a linha diagonal AO hem
+----+- - +----+- - +----+- - 1--� D
1 O partes yguais, fazendo hu syrcolo que o seu diametro seyão 8 vira a ser ygual ao dito C �--+--+----+--

quadrado e ao syrcolo R" 1531 . (fig. 4)


Segundo a proposição tem-se que a circunferência R tem u m diâmetro igual a
A confirmação dessa proposição em termos algébricos é perfeita. O processo da 7x. e diz-se que o seu comprimento equivale a 22X, assim:

mudança das figuras inclui implícito o conceito da constante Pi e denota um conhecimento 2 n R = 22 X


n 7 ,x=;<
seguro da relação matemática das formas, além de indicar uma metodologia de medição n = 22 / 7 = 3. 1 4.
bastante elaborada, a partir do fraccionamento das linhas internas das figuras. Note-se que Segundo a proposição a área do rectãngulo ABCD é igual à da circunferência R,
assim:
a sequência da proposição parte de um círculo que se transforma num rectângulo, neste
rectângulo que é reduzido a um quadrado perfeito, e o fecho do exercício é novamente o 1 1 X . 3.5 X = n R2
38.5,:( = n (3.5)'1
quadrado transformado no seu círculo correspondente em área. A coerência e a simbologia n = J..fl2_ = 3. 1 4.
1 2,25
são patentes. O círculo e o quadrado são as figuras citadas por Vitruvio em correspondência
com as proporções do corpo humano e consequentemente dotadas de maior pertinência
Fig. 4. Figura relativa à proposição 1 6 do tratado de António Rodrigues.
em analogia simbólica.
A abrangência conceptual das representações do "Homo ad circullum" e do "Homo
ad quadratum" alcançam, na sua visão antropomórfica, um complexo sistema de referências
a uma simbologia do centro, que nutriu as mentalidades renascentistas. A perfeição das
figuras é correlata da sua capacidade de representação da suposta perfeição do cosmos,
vislumbrada em termos de uma imagem concêntrica, uma imagem em que a relação de
equivalência e hierarquia entre as partes se dá em compa1-ação com um ponto unitário e
convergente, o centro. Toda uma ideologia gerativa nut1-e este conceito, onde o centro
assume o papel irradiador e é associado a uma imagética antropomórfica ou cósmica.
A apropriação de tal simbolismo no desenho urbano renascentista é revelada por uma infi­
nidade de exemplos em toda a tratadística, em várias representações, quer de tramas orto­
gonais a partir de uma praça central, quer de modelos radiais.
Note-se que a coerência da associação simbólica perpassa o desenho urbano em
todos os níveis, desde a concepção do conjunto até à forma geradora em si, dotando o
mecanismo de projecto urbano de uma referência, de certo modo, canónica. Ou como diz
Muratore "É stato dimostrato che l'intenzionalità antropormofica e microcosmologica degli
architetti rinascimentali futalmente cogente da costituire per tutta la Rinascenza il canone
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

fondamentale per la realizzazione, sia teorica che pratica, di edifici, città e cittadelle" cssi _ remetendo para a forma da praça central, esta se pode estabelecer enquanto matriz e a
Neste mesmo contexto cabe a abordagem do procedimento insediativo do urba­ partir de decomposições proporcionais gerar todo o tecido urbano. O mecanismo é
nismo colonial português feito segundo um modelo irradiado a partir do centro, a praça, a porventura simples, mas de uma riqueza de possibilidades compositivas, que se adapta
qual também parte da eleição de uma figura de associação simbólica, que é o quadrado. perfeitamente à maleabilidade e ao pragmatismo que a intervenção real exige.
Não obstante o facto de outras figuras regulares fazerem parte do acervo geomé­ Atentando para essa preocupação de proporcionalidade e pragmatismo notemos as
trico dos engenheiros portugueses, que as usavam para determinadas fortificações ou obras observações urbanísticas de Luís Serrão Pimentel: " . . . todas as medidas sobreditas de mais
de arquitectura, é certo que o quadrado e as formas quadrangulares assumiram a primazia ou menos se entendem também, conforme a capacidade da povoação, sobre que o enge­
na eleição formal e compositiva dos setJs trabalhos de urbanização. Nas primeiras expe­ nheiro deve proceder com j uízo & boa consideração, tomando as medidas, & tirãdo a planta,
riências mais regulares na Índia nota-se que subsiste um padrão aproximado da malha orto­ para que no papel veja primeiro como em hum espelho a representação de toda a obra, &
gonal, com um tipo alongado de quadra rectangular. No Brasil, há uma aproximação maior que sítios lhe ficam para os edifícios, & casas de que diremos." 161 l _ O autor insiste ainda,
ao quadrado perfeito, enunciado no século XVII em São Luís e depois generalizadamente repetidas vezes, que toda a disposição interior se faça "conforme a grandeza da praça".
adaptado no século XVIII, como adiante veremos em alguns exemplos. No entanto, mesmo com a advertência ao bom senso e às relações de proporcio­
Além da associação do quadrado à simbologia do centro, as formas quadrangulares nalidade do desenho, Luís Serrão Pimentel não deixa de sugerir algumas medidas básicas
também fazem convergir para si outro quadro de referências importantes como são as rela­ para os itens elementares da construção urbana, como as praças, as ruas e os lotes. São
ções de proporcionalidade. Serlio inclui no seu livro dedicado à geometria alguns exemplos importantes estas medidas porque indicam uma preocupação com a sistematização do
que indica como as mais constantes relações de proporção, a partir do quadrado, e cita as projecto urbano, utilizando padrões métricos reconhecíveis que sejam funcionais e ao
figuras denominadas sexquiquorto, sexquitertio, sexquio/tero, superbicientertios, duplo e mesmo tempo guardem a indispensável hierarquia entre os núcleos maiores e menores.
diogoneo. A lógica dessa denominação latina é esclarecedora de um sistema absolutamente Esse mesmo processo sistematizador ter-se-á repetido no tempo com uma certa
racionalizado, em que a figura rectangular gerada mantém sempre uma relação definida em progressão de alguns valores das medidas-padrão, adaptadas às diferentes exigências dos
termos parciais a partir da figura geradora do quadrado. Um texto português do século séculos seguintes. Tentaremos observar tal processo a partir de alguns exemplos.
XVIII, "Artefactos Symetricos e Geometricos" ( 1 73 3 ) , de lgnacio da Piedade Vasconcelos, Antes da análise de tais exemplos, torna-se necessário esclarecer que a sua coerência
dedica um capítulo especial às relações de proporção e explica: só é compreensível a partir do sistema de medidas utilizado nos projectos. A escala das
medidas portuguesas, vigente nos séculos XVII e XVIII, cumpria a seguinte progressão:
"Estas proporções desiguais tem cinco generos, que são: multiplex, superporticuloris, 1 palmo = 8 polegadas
superportiens, multiplex superporticu/oris e multiplex superportiens. Multiplex he, quando uma pé 1 ,5 palmos

quantidade contem em si o utra da sua mesma grandeza . . . quando a um quadrado se lhe vara 5 palmos
acrescenta outro da sua mesma grandeza então sera proporção dupla, e se lhe acrescentam braça 1 0 palmos
dois sera tripla. As medidas urbanas eram geralmente dadas ou em palmos ou em braças, o que
. . . A proporção superporticu/oris he, quando a huma quantidade diversa em partes equivale a conversões simples de múltiplos de dez. Um palmo mede aproximadamente
menores, se lhe acrescenta uma parte das menores . . . Quando a hum quadrado diviso em 2 1 ,5 6 centímetros e uma braça, consequentemente, equivale a 2, 1 5 6 metros.
dous meyos se lhe acrescenta mais meyo, se chamará proporção sexquia/tero, e se lhe acres­ Embora as reduções a polegadas não fossem necessárias para efeitos de projecto
centa mais um terço, será sexquitertio . . . urbano, que podia contar com o palmo como medida menor, é interessante notar que o
Superpartiens he quando a huma quantidade divisa em partes menores se lhe processo não seguia a mesma progressão decimal, o que ocasionava que na passagem de
acrescentam duas, ou mais partes das menores, que he quando a hum quadrado em tres uma medida a outra os resultados se fraccionassem, fazendo surgir muitos "quebrados",
partes diviso se lhe acrescentarem mais duas terças partes, então será superbipartiens como se dizia na linguagem da época. Já Luís Serrão Pimentel faz referência à aritmética
tertias, e se lhe acrescentam tres quartas partes sera supertripartiens quartas . . . " C60l . decimal como "hum invento moderno excellente" C'2J para resolver tais problemas, mas é
Manuel de Azevedo Fortes que efectivamente a utiliza, citando o método de Monsieur
A progressão lógica e racionalizada desse sistema linguístico de denominação das Boulanger 163l e apresentando tabelas de conversão das tradicionais polegadas para os múlti­
relações de proporção tem, no urbanismo colonial português, uma apropriação em termos plos decimais do palmo, mais eficientes. A importância dessa conversão decimal 1-eside na
metodológicos. A sequência dos nomes indica um método que admite um variado número apropriação de um raciocínio sistematizador certame11te mais eficiente e é significativo que
de possibilidades de composição a partir da mesma figura geradora do quadrado. O que, Manuel de Azevedo Fortes saliente a metodologia confirmando o seu uso generalizado
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

pelos engenheiros militares portugueses no século XVIII. O grupo seguinte, de praças com dimensões aproximadamente duplas das anterio­
As medidas sugeridas por Serrão Pimentel (64l são: res, engloba os núcleos de dimensão média e equivalem, possivelmente, ao dimensiona­
para a praça central (lado) 1 20 a 200 ou 250 palmos mento da maioria das vilas que não tivessem importância específica. São assim os exemplos
para as estradas à volta das cortinas 20 a 30 ou 3 6 palmos de São João do Parnaíba no Piauí ( 1 76 1 ), que tem a praça com os 500 palmos exactos,
para as ruas principais 30 a 35 palmos assim como G uaratuba no litoral paranaense, ou as vilas citadas por José Manuel Fernandes
para as ruas secundárias 25 a 30 palmos no seu estudo sobre o Sul do Brasil, Desterro e Laguna, em Santa Catarina, e São Pedro e
para as praças diante dos baluartes (lado) 1 50 a 200 palmos Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, todas desenvolvidas na segunda metade do século
para as praças menores (lado) , 80 a 1 00 palmos XVIII (fig. 7).
para as casas (frente do lote) 24 a 3 6 ou 40 palmos A sequência indicada admite ainda um outro grupo entre a dimensão média dos 500
para as casas (fundo do lote) 68 a 70 ou 80 palmos palmos e os 1 000 da grande praça pombalina, que é um grupo situado em torno dos
para a casa do governador 80 x 40 x 25 palmos 750 palmos que, no Brasil, conta certamente com alguns exemplos. As vilas de Macapá
O livro de Pimentel foi escrito em 1 680. Em 1 747, uma Provisão Real destinada a ( 1 76 1 ) e Mazagão ( 1 770) podem ser incluídas como variantes desse grupo, como iremos
regular a instalação de povoações para receber imigrantes dos Açores preconizava assim as ver na sequência do estudo que lhe dedicamos.
medidas dos estabelecimentos: "No sítio destinado para o lugar se assinalará um quadrado Quanto às medidas preconizadas para as ruas nota-se que a variação relativa segue
para a praça de 500 palmos de face, e em um dos lados se porá a igreja, a rua ou ruas se uma certa proporcionalidade com os tamanhos das praças centrais e para os núcleos
demarcarão ao cordel com largura ao menos de 40 palmos, e por elas e nos lados da praça pequenos vai de 3 5 a 40 palmos, enquanto nos médios varia entre os mesmos 40 e
se porão moradas por boa ordem . . . " (65l. 60 palmos. O dimensionamento dos lotes urbanos segue um padrão de pouca variação e
Note-se que há um sensível aumento nas dimensões estabelecidas para a praça situa-se, via de regra, dentro dos limites propostos pelo texto de Luís Serrão Pimentel.
central, que passa dos 250 palmos sugeridos por Pimentel para 500 palmos. Se acrescen­ Uma análise geométrica dos desenhos permite avaliar as possíveis bases do seu
tarmos a esta sequência não mais um texto regulador, mas o próprio exemplo da Praça do processo gerativo, em que o sistema das relações de proporcionalidade fica patente. O prin­
Comércio em Lisboa ( 1 75 6), que tem 1 000 palmos de lado, pode-se estabelecer, como cipal sustentáculo do projecto é, geralmente, uma malha quadrangular, que estabelece o
propõe José Manuel Fernandes, u ma tipologia sistematizadora com vários níveis de dimen­ fundo da composição e enquadra as relações entre todas as formas. Na verdade, essa malha
sionamentos, correspondentes à importância e grandeza dos núcleos urbanos (66l . corresponde também a um procedimento metodológico, que servia, além de base compo­
Ter-se-ia assim uma sequência de grupos variando a partir de matrizes situadas cerca sitiva, como auxiliar da execução do desenho, funcionando como escala. É um processo
das medidas básicas de 250 palmos para os núcleos menores; de 500 palmos para os repetidas vezes recomendado em todos os manuais de desenho da época e essencialmente
núcleos médios e a extraordinária de 1 000 palmos para os grandes centros. Embora a utilizado nas técnicas de medição. Manuel de Azevedo Fortes cita-o na parte do seu
prática não siga com rigor as medidas-padrão, de qualquer modo ela confinma o raciocínio trabalho dedicada ao método de desenhar as cartas militares.
sistematizador. Entre os núcleos de que dispunhamos documentação iconográfica com indi­ Estabelecida a malha, o desenho enquadra-se no seu jogo de proporções, com uma
cação correcta de medidas podemos notar a existência de determinada progressão no coerência e correspondência por vezes espantosas. O exemplo do projecto da pequena
dimensionamento das povoações segundo a sua grandeza, que não escapam de todo às povoação de São José das M arabitenas é elucidativo. A malha escolhida tem como geratriz
medidas preconizadas pelos textos citados. o quadrado de 7 x 7 braças (70 palmos). Inserido nesta malha estão os lotes das casas com
Em torno da medida primeira de 250 palmos situam-se as praças dos pequenos 7 x 1 4 braças, que equivale à proporção dupla do quadrado gerador. Para fazer a rua, o
aldeamentos indígenas regularizados por planos ordenadores e os exemplos podem-se autor inseriu na malha u ma via com metade da medida do quadrado-base com 3 5 palmos,
encontrar em pontos distintos do território brasileiro como a Aldeia Santana, em Goiás correspondendo aos padrões vigentes para a escala da povoação. Completando a corres­
( 1 74 1 ), as povoações de N.' S.' da Conceição, N.' S.' da Lapa e N.' S.' das Necessidades, em pondência da malha, que ficaria perdida, inseriu a outra metade, ou a nova via, acima das
Santa Catarina ( 1 75 1 ), a Aldeia São Miguel, no Mato Grosso ( 1 765), ou a povoação de São quadras e nela situou a cabeceira da igreja, para poder fechar a forma total da povoação
José das Marabitenas, no Rio Negro ( 1 767). A Aldeia Maria a Primeira, em Goiás ( 1 782), num rectângulo com 49x98 braças, mantendo a mesma proporção dupla utilizada nos lotes
escapa a este dimensionamento primeiro, quase se incluindo no segundo (tem praça com e na igreja (fig. 6).
4 1 O palmos), pois foi feita em circunstâncias especiais, para a acomodação de várias nações Percebe-se assim uma lógica interna da composição urbana, extremamente elabo­
indígenas do grupo Caiapó e significou um empreendimento de muito maior escala que as rada, a despeito de um resultado virtualmente simples. Note-se, que o sete escolhido por
anteriores (fig. 5). Filipe Stunmm, o autor do projecto, é u m número primo, o que também implica uma certa
52 53
A s Cidades d a Amazónia n o Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

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Aldeia Maria a 1 .i Malha . l i palmos Aldeia Maria a ! .�


410
Goiás ( 1 782) Forma urbis . rectangulo em proporção dupla sexquiqurnta 55 x 1 2 1 braças.
Ruas . 50 palmos Góias ( 1 782)
400 400

t1m � m
180 50 180 medida em palmos Praça . quadrado 41 x 4 1 braças (malha 33 x 33 + ruas de 40 palmos) medida em palmos

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S. José das Marabitenas Malha . 70 palmos S. José das Marabitenas


350 280 350
Rio Negro ( 1 767) Forma urb1s . rect:ingulo em proporção dup!a 49 x 98 braças.
Rio Negro ( 1 767)
Ruas . JS palmos
350 JS 210 JS 350 projecto Filipe Sturm Lotes . 70 x 140 palmos - propon;ao dupla medida em palmos
medida em palmos Igreja . 70 x 140 palmos - proporç.lio dupla

obs.: a medida d.:i malha é um número pnmo (7 braças)

Aldeia S. Miguel Aldeia S. Miguel


Mato Grosso ( 1 765) Mato Grosso ( 1 765)
300 Malha . 100 palmos
200 300
projecto José Mathias de Oliveira Forma urbis . rect�ngulo em propon;�o dupla supert>-porrrens teruas (30 x 80 br;iças) medida em palmos
Ruas . 35 palmos
medida em oalmos Lotes . ]O x ]O palmos

�;:�� : ��a��%)ó':2o br;iç.:is

Fig. 5. Desenhos das vilas Aldeia Maria a Primeira, S. José das Marabitenas e Aldeia de S. Miguel. Fig. 6. Desenhos das vilas Aldeia Maria a Primeira, S. José das Marabitenas e Aldeia de S. Miguel. Análise geo­
métrica.
54 55
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

170 40 100

170 200 200 l,ol 100

170 520 100

Guara.tuba
Par·aná ( 1 7 )
medida em palmos
Guaratuba
Paraná ( 1 7 )
medida em palmos

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� 1 � �
1
1

�l [J n □
1

1
□: n □ 520 500 270
São João da Pamaíba
Piauí ( 1 76 1 )
medida em palmos
São João da Pamaíba
Piaui ( 1 76 1 )
medida em palmos

Fig. 7. Desenhos das vilas de Guaratuba e S. João de Pamaíba. Fig. 8. Desenhos das vilas de Guaratuba e S. João da Pamaíba. Análise geométrica.
56 57
A s Cidades d a Amazónia n o Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

dosagem simbólica para a mentalidade setecentista. mais genuínas especulações formais como absorvem o seu perfil de cidades produto da
Outro número primo, o 1 1 , foi o escolhido para a malha do projecto da Aldeia Maria cultura e pólos de civilização. A urbanização do Brasil significou a introdução no país não
a Primeira, em Goiás. A povoação foi enquadrada num rectângulo em proporção dupla apenas de um modelo físico de implantação urbana, mas de uma verdadeira cultura urbana,
sesquiquinta, ou seja, ao quadrado de 55 x 55 braças acrescentou-se outro igual mais a sua moderna.
quinta parte ( 1 1 x 55 braças). A composição da aldeia obedece a uma simetria praticamente É relevante notar que na terminologia brasileira o termo cidade é a única denomi­
total, em que a igreja centraliza a composição situada no módulo acrescido à malha e os nação utilizada para todos os núcleos urbanos, ainda que sejam de pequenas dimensões ou
dois quadrados laterais se assemelham (fig. 6). estejam em ambiente rural - são as chamadas "cidades do interior". Os arraiais mineiros
Essa simetria só é rompida pelo barracão do lado direito da igreja, mas que de qual­ por breve tempo o foram e logo se converteram nas "cidades mineiras". As vilas fundadas
quer modo não escapa à malha básica, assim como o desenho das plantações e jardins que na Amazónia pombalina são as cidades da Amazónia de hoje. E é sobre este conceito do
lhe são posteriores. A igreja está fora das proporções do desenho e da malha, o que é assu­ urbano enquanto expressão de cultura e com toda a sua carga simbólica ligada ao poder
mido pelo autor e justificado como sendo uma alternativa "natural e acomodada as sircons­ que Pombal vai fundar a sua visão urbanística. Não criou possivelmente uma nova cidade,
tancias do sistema desse projecto" <67>. A praça forma-se da j unção de três módulos da mas potencializou o seu método.
malha, num quadrado de 33 braças de lado, a que são acrescidos mais 40 palmos à sua volta,
como ruas, perfazendo no total um quadrado de 4 1 braças de lado, tamanho significativo,
como vimos, que situa o empreendimento urbanístico quase fora do padrão dos aldea­
mentos indígenas, para o colocar no limite das d imensões das vilas. Novamente a coerência
é manifesta, com outro resultado também simples (fig. 6).
Mais simples ainda é o exemplo da aldeia de São Miguel, no Mato Grosso. Aqui a
malha é de I O braças, a praça formada por um quadrado de quatro módulos da malha, com
20 x 20 braças e o desenho da cidade inserido num rectângulo em proporção dupla superbi­
portiens tertios, em que os dois terços acrescidos enquadram a praça e dois barracões
dispostos na horizontal, enquanto os dois quadrados inserem os dois lados da praça, que
guardam simetria, excepto pela localização da igreja, no lado direito.
Nos núcleos maiores o processo da malha repete-se, e em alguns casos enquadra já
as ruas, fazendo uma base mais complexa que as anteriores, como é o caso da malha de
São João do Parnaíba, no Piauí (fig. 8), em que se estabelece um jogo de medidas entre as
quadras com 9 ou 1 8 braças de lado e as ruas com 35 palmos. Assim como em Mazagão,
a malha é também composta com quadrados de 5 6 braças, mais as ruas circundantes de
40 palmos <'ª1 •
A partir dessas observações preliminares sobre a prática urbana colonial portuguesa
vislumbra-se uma sistematização metodológica com uma abrangência espácio-temporal
impressionante. Povoações feitas em regiões diversas e em situações de implantação dife­
rentes contam com um liame sistematizador, que se manifesta em vários níveis. Por um lado,
há a ligação de fundo da metodologia do desenho gerado a partir da praça central, sistemati­
zado pelo trabalho pragmático dos arruadores, ou pela simples iniciativa local, que liga prati­
camente todos os núcleos urbanos coloniais, regulares ou não. Por outro, há todo um
conjunto de processos ordenadores (as relações de proporção e medidas, a eleição das figuras
geométricas a utilizar, as técnicas de medição . . . ), que surgem fundados em padrões seguros,
difundidos por uma "escola" que tem bases concretas, quer sejam ideológicas, quer científicas.
Esta escola não tem outro meio de inserção que a modernidade. As cidades que
implanta no Novo Mundo são-no, em essência, cidades modernas. Incorporam tanto as suas
Notas 59
"Das Cidades e dos Conceitos"

( 1 ) V. Raimundo Faoro, Os Donos do Poder, (2 1 ) idem, ibidem. de Fevereiro de 1 736, 5 de Agosto de 1 746, 3 de (54) idem, ibidem, p. 1 3 8 (p. 1 6 do tratado).
Formação do Patronato Político Brasileiro, 6:' edição, (22) V. Parte l i , cap. 1 deste trabalho. Março de 1 755 e 1 4 de Junho de 1 76 1 , que regulam (55) Françoise Choay, A Regra e o Modelo, sobre o
Editora Globo, Porto Alegre, 1 9 84, 2 vol., vol. 1 , cap. (23) V. Nestor Goulart Reis Filho, op. cit., pp. 85-87. a forrmação urbana de Vila Boa de Góias, Vila Bela da Teo rio do Arquitectura e do Urbanismo, Ed.
V, pp. 1 4 1 - 1 67. O autor faz u m quadro d a evolução d a rede urbana Santíssima Trindade, Vila de São José do Rio N egro Perspectiva, São Paulo, 1 985, p. 6.
(2) Transcrito em Nestor Gou lart Reis Fi l ho , do Brasil durante os séculos XVI e XVII. No e de Oeiras, publicadas por Paulo Santos, Formação
(56) Sebastiano Serlio, The Five Books of Architecture,
Contribuição ao Estudo d a Evolução Urbana d o Brasil, conju nto criaram-se cerca de 1 8 vilas no século XVI de Cidades no Brasil Colonial, in "Actas do Colóquio
on unobridged reprint of the english edition of I 6 / / ,
S. Paulo, 1 968, p. 67. e 3 8 no século XVI I . Internacional de Estudos Luso- Brasileiros", Coimbra.
Londres, Dever Publ ications, 1 982, foi. 1 .
(3) Cf nota 1 . (24) V. Parte l i , cap. li. (33) V. José Eduardo Horta Correia, op. cit., p. 508.
"How needfull and necessary the most secret Art
(4) Ver, no contexto da Amazónia, a disputa entre (25) V. pp. 42 deste capítulo. (34) A relação dos engenheiros militares portugueses those that for a long time have studied and wroght
os Jesuítas e Francisco Xavier de Mendonça Furtado (26) Idem, p. 39. com a produção da arquitectura nacional é um that time have attained unto any knowledge of the
tratada no cap. li da li parte deste trabalho. processo com raízes profundas desde o século XVI e said simpl icities, but in trueth may very well acknow­
(27) AHU, Pará Caixa 825 ( 1 1 O). Treslados de
(5) Carlos Nelson F. dos Santos, A Cidade como um com sequência inequívoca nos séculos XVII e XVI II. ledge not worth the looking on."
Cartas Régias. 1 5 d e Janeiro de 1 699. Ver Parte li,
Jogo de Cartas, Projeto Ed itores, São Paulo, 1 988, Ver George Kubler, Portuguese Plain Architecture
cap. 1, p. 83. (57) idem, ibidem.
p. 40. between Spices and Diamonds, Middletown­
(28) Como exemplo a nomeação de Custódio (58) R. Moreira, op. cit., fi. 36v do tratado.
Connecticut, 1 972, e José Eduardo Horta Correia,
(6) Souza Viterbo, Dicionário Histórico e Documentai Pereira para o Maranhão. Souza Viterbo, op. cit., vol.
Arquitectura - Maneirismo e «Estilo Chão», in "H istória (59) Giorgio Muratore, La città rinascimentoie. Tipi e
dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portu­ 11, p. 243. Ver Parte li, cap. 1.
da Arte em Portugal", vol. 7, Publicações Alfa. mode/i ottraverso i trattoti, M i lano, 1 975, p. 87.
gueses, Imprensa Nacional Casa da Moeda, fac-símile (29) Souza Viterbo, Expedições Científico Militares
(35) Idem, nota 1 7. ( 60) lgnacio da Piedade Vasconcelos, Artefactos
exemplar de 1 922, Lisboa, 1 9 88, 3 vol., vol. 1 , p. 4 3 1 .
enviadas ao Brasil, coord. Aditamentos e Introdução Symetricos e Geometricos, Lisboa, 1 73 3 , pp. 3 3 1 -334.
(7) Idem, ibidem, vol. 1 1 1 , p. 299. (3 6) Rafael Moreira, Um Tratado Português de
de Jorge Faro, Edições Panorama, Lisboa, 1 962, 2
Arquitectura do Século XVI, Dissertação de Mestrado, (6 1 ) Luís Serrão Pimentel, op. cit., p. 322.
(8) Idem, ibidem, vol. 1 , p. 278. vols., vol. li, p. 1 3 3 .
U N L, Lisboa, 1 982, foi. 3 do tratado. (62) Idem, ibidem, proemio.
(9) Gilberto Freire, Casa Grande & Senzaia, 22.' (30) V . J o s é Fernandes Pinto Alpoim, Exame de
(37) Idem, ibidem, p. 1 64. ( 63) Manuel de Azevedo Fortes, op. cit., proemio.
edição, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, Artilheiros, 1 744, rep. Fac-símile, Biblioteca
1 983, p. 9. Reprográfica Xerox, Rio de Janeiro, 1 987. (38) Idem, ibidem, fi. 1 O a 1 3 do tratado. (64) Luís Serrão Pimentel, op. cit., pp. 320-324.
( 1 O) Souza Viterbo, op. cit., vol. 11, p. 303. (3 1 ) V. p. 4 2 deste capítulo. (39) Idem, ibidem, fi. 4 do tratado. ( 65) José Manuel Fernandes, A Índio e o sul do Brasil
( 1 1) Idem, ibidem, vol. 1 , p. 253. (40) António Rodrigues ocupou o cargo de Mestre planos do urbontsmo português no século XVIII, comu­
(32) A expressão "formosura da terr-a" aparece
das Obras d'EI-Rei e certamente tem também um nicação apresentada no Colóq u i o " La Ville
( 1 2) Idem, ibidem, vol. 1 , p. 529. repetida em várias cartas régias reguladoras da
papel didáctico na Corte ensinando jovens enge­ Reguliére", Paris, 1 988.
( 1 3 ) Rafael Moreira, A Arquitectura Militar, in formação de cidades no Brasil colonial. É significativo
o contexto em q ue esta expressão surge, pois nheiros, de onde pode derivar a sua preocupação (66) Idem, ibidem.
"História da Arte em Portugal", vol. 7, Publicações
define um conju nto normativo extremamente com o ensino e a formação de técnicos nacionais. (67) AHU, cartografia manuscrita, Goiás 875-876.
Alfa, Lisboa, 1 986, p. 1 5 1 .
simpl ificado, mas deveras conciso, indicando um ( 4 1 ) R. Moreira, op. cit., fi. 4 do tratado. Plano Projectivo de u m novo estabeleci mento de
( 1 4) V. Mário Tavares Chicó, A Cidade ideal do
método de procedimento mais do que um modelo. (42) idem, ibidem, fi. 4 do tratado. lndios n a nação Caiapó criado na margem do Rio
Renascimento e as Cidades Portuguesas da Índia, in
É significativa também pelo conteúdo programático (43) idem, ibidem, fis. 4v e 5 do tratado. Fartura e denominado Aldeia Maria a Primeira . .
"Garcia de Orta", n.º especial, Lisboa, 1 956.
da expressão que associava o conceito de formo­ (44) Idem, ibidem, p. 1 66. 1 782.
( 1 5) A marca específica de tal mudança é a cons­
sura a um ideal de urbanismo de programa, com as (68) V. Parte li, cap. V.
trução da fortaleza de Mazagão, em 1 54 1 . V. Rafael (45) Idem, ibidem, p. 1 67.
casas todas iguais. E como diz Horta Correia, este
Moreira, op. cit.. (46) Idem, ibidem, fi. 7v a I O. O autor trata das
item é digno de nota pelo seu vanguard ismo. Ver
( 1 6) V. Rafael Moreira, A Arquitectura Militar do propriedades da água, da terra e do ar e faz consi­
para tal José Eduardo Horta Correia, "Urbanismo",
Renascimento em Portugal, in "A Introdução da Arte derações sobre a divisão do planeta em zonas.
in "Dicionário da Arte Barroca em Portugal", Ed.
da Renascença em Portugal", Coimbra, 1 98 1 , p. 290. Presença, Lisboa, 1 989, pp. 507-5 1 3 . (47) Luís Serrão Pimentel, Methodo Lusitanico de
( 1 7) Trata-se de u m manuscrito do século XVI, desenhar as fortificações das praças . . . , Lisboa, 1 680,
O trecho completo que aparece nos textos régios
estudado por Rafael Moreira, que lhe atribui a proemio.
assim diz:
autoria do engenheiro António Rodrigues. V. Rafael (48) Idem, ibidem.
determineis na vila o lugar da praça no meio da
Moreira, Um Tratado Português de Arquitectura do qual se levante pelourinho e se assinale a área para (49) Ver nota 3 2.
Século XVI, Dissertação de Mestrado, FCSH-UNL, o edificio da Igreja . . . , e que façais del inear por li nha (50) Ver nota 1 8.
Lisboa, 1 982. recta a area para as casas com seus quintaes, e se (5 1 ) Manuel de Azevedo Fortes, O Engenheiro
( 1 8) Gabriel Soares de Souza, Tratado Descritivo do designe o lugar para se edificarem a casa da Português, Lisboa, 1 728, tomo 1, prólogo.
Brasil ( 1 5 87), São Paulo, 1 9 83, p. 1 34. Camara . . e mais ofici nas publicas, e que todas (52) V. José-Augusto França, Lisboa Pombalina e o
( 1 9) Regimento de Tomé de Souza, citado por devem ficar na area determinada para as casas dos Iluminismo, Bertrand Editora, 3.' edição, Lisboa, 1 9 87,
Paulo Santos, Formação de Cidades no Brasil Colonial, moradores as quais pelo exterior sejam todas no pp. 3 1 1 -326.
in "Actas do V Colóquio Internacional de Estudos mesmo perfl, . . . de sorte que em todo o tempo se (53) Rafael Moreira, Uma utopia urbanístico pomba­
Luso-Brasileiros", Coimbra, 1 9 63, pp. 42-43. conserve a mesma ferrmosura da terra e a mesma lina, o « Tratado de Ruação» de José de Figueiredo
(20) ANTT gav 8, m 8, n 8, Carta de Tomé de largura das ruas . . " Seixos, in "Pombal Revisitado", vol. l i , Lisboa, 1 9 84,
Souza, 1 de Junho de 1 553. Ver este mesmo formulário nas cartas régias de 1 1 pp. 1 3 1 - 1 44.
li
Pombal e as Cidades

Pombalismo, I luminismo e Urban ismo

O Marquês de Pombal figura entre as personalidades da História de Portugal mais


discutidas e trabalhadas. Uma bibliografia, que já se pode considerar vasta, trata o ministro
de D. José como personagem principal, em estudos que vão desde a sua biografia à análise
da sua actuação política. Se já não é mais o tempo das acirradas polémicas sobre o papel
liberalista ou despótico do Marquês, este ainda mantém sobre a sua imagem o peso de
alguma controvérsia. Parte da qual subsiste, paradoxalmente, em função de um ponto em
que não há discordâncias, que reside na actuação profundamente marcada pela personali­
dade forte do ministro. Pombal, de facto, personaliza o seu Governo, e neste sentido cabe
a noção da existência de um conceito de "pombalismo".
A simples ideia de um conceito que defina a actuação de um homem não admite,
no entanto, determinismos. Mesmo as personalidades históricas mais redutíveis a estereó­
tipos não se deixam enquadrar com tanto simplismo e só as personagens dos folhetins de
cunho psicologista podem encarar os modelos maniqueístas dos bons e dos maus, inde­
pendentemente das relações que se lhes aponta. Na História não há destas personagens,
ainda que com elas se tenham feito muitas histórias.
Portanto, o que q uer que signifiq ue, o pombalismo tem tanto a ver com Pombal
como com o tempo de Pombal e as circunstâncias em que actua. O quadro que o conceito
gera é, e deve ser, amplo e complexo, legível no seu contexto maior, mas não desprovido
de contradições.
No entanto, contando com o interesse e os estudos que entretanto já se fizeram
sobre Pombal e o seu tempo, é possível estabelecer uma espécie de retrato sintético da sua
actuação. Repetimos, por concordância, o que ficou feito por Horta Correia na sua tese de
doutoramento.

"Diferente de todos os outros absolutismos seus contemporâneos, embora com


pontos de contacto com todos eles, o nosso absolutismo pombalino é já hoje susceptível
de ser caracterizado por meia d úzia de ideias-força, suas notas distintivas: tendência para a
sobrevalorização do Estado; galicanismo e regalismo na concepção e prática das relações
com a Igreja; reforma da Universidade e reorganização do ensino; valorização-reorganização
do aparelho do Estado; escopo teórico da governação na Felicidade Pública; reformas em
algumas estruturas fundiárias; nacionalismo económico; apadrinhamento-invenção de uma
62 63
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Das Cidades e dos Conceitos"

nova classe dirigente em que a burguesia declarada classe nobre tivesse papel determinante; ficar bem demonstrados na dupla lição da cidade: a prova da capacidade de realização do
visão instrumental e política da Religião, da Educação e da Economia" '' >. ministro e a coerência dos seus propósitos.
A cidade e o urbanismo são assim incorporados no projecto político de Pombal
Do conjunto sobressai a noção, confirmada por Horta Correia, do "reformismo" em como importantes peças do seu programa de actuação, quer tenha sido pelo oportunismo
que se fundamenta o projecto político do ministro. Reformismo "da sociedade e do do trabalho inevitável e em grande escala de Lisboa, quer fosse por inerência ao próprio
Estado" ">, que sobre as suas estruturas pretendeu actuar, buscando u ma relação política e pensamento político de Pombal, em atitude similar com outros governantes do seu tempo
social diferente, em que se inserissem novos meios de produção na economia e novas que também construíram cidades por toda a Europa. O facto é que a cidade pombalina
mentalidades na educação. A intenção de mudança e reforma do sistema vigente, a assume o discurso pol ítico "iluminista" do Marquês e a ele empresta, inclusive, os seus
despeito de se ligar indiscutivelmente a uma vivência de crise (económica em especial), símbolos mais duradouros. "É per questo che dall'opera complessiva de Pombal, proprio la
reflecte também o fundamento ideológico do programa pombalino. Pelo progressismo da ricostruzione de Lisboa resta forse la punta piú avanzata e el risultato piú duratouro" <9> _
sua reforma o pombalismo conjuga-se com o iluminismo. E se não é possível estabelecer com precisão o que terá surgido primeiro, se a reali­
Deste outro conceito sabe-se ainda o quanto a sua compreensão deve ter em conta zação urbana concreta funcionou como modelo do discurso, ou se o discurso, ao contrário,
as realidades plurais dos vários países sobre os quais o "fermento ideológico" C3> do ilumi­ é que a engendrou, o importante é que há uma inequívoca conjugação entre a cidade e o
nismo actuou. Do escopo das "Luzes" atribuídas ao século XVIII o reformismo pombalino projecto pombalino.
terá engendrado menos a certeza de uma conversão milagrosa dos sistemas e mais a inevi­ Se o ministro por si já valorizava a acção sobre a especulação, imagine-se o quanto
tabilidade dos processos de transformação, que a própria enciclopédia assume ''> . Encarna, não se terá comprazido com a coincidência do encontro com tão pragmático corpo de auxi­
assim, o iluminismo pombalino o pragmatismo, ou, no dizer de José-Augusto França, "na liares como os engenheiros militares, que na mesma lógica já há muito fundamentavam o
passagem da especulação à acção que define o "despotismo iluminado", ele (Pombal) está seu trabalho. Do feliz encontro com os técnicos em que se converteu o trabalho da urba­
m uito mais perto da acção: num certo sentido, ele é o mais oportunista dos déspotas do nização da capital, outras acções surgiriam ''º>. como as intervenções no Porto dos Almadas,
seu tempo" c5> _ a construção de Vila Real de Santo António e ainda a acção urbanizadora espalhada pelo
É por isso que, paradoxalmente, no Portugal de Setecentos, onde não se terão território colonial. Também ali, pragmaticamente, o ministro faz uso do corpo que o auxi­
produzido grandes teorias políticas ou económicas, se assistiu a reformulações concretas em liara na metrópole e aproveita e potencializa a escola de engenharia militar.
ambos os campos. Por este e por outros motivos, a realização urbana encarna, potencialmente, mais
De qualquer forma, o pragmatismo de que se sustenta Pombal é histórico. Há u m que qualquer das outras facetas do trabalho de Pombal, a simbiose que este contém entre
fio condutor n a administração portuguesa, em especial n a das colónias, q u e s e fundamenta pragmatismo e idealismo utópico. O urbanismo pombalino é talvez a mais eloquente mani­
na política pragmática de requisitar para a acção todos os meios disponíveis e coordená-los festação do seu pragmatismo, tanto pela "utilização" de Lisboa e dos corpos de engenharia,
da melhor maneira possível '6> . Pombal retoma este pragmatismo e fundamenta-o ideologi­ como pela incorporação no seu ideário discursivo.
camente com a transposição do programa reformista que pretendia para a cidade e para o O discurso que se representa na cidade não deixa dúvidas. A reforma surge a ela
país. O pragmatismo é ali tanto a consciência do método como parte do próprio plano (7)_ vinculada em todos os meios, a cidade novamente formada e renascida em Lisboa, ou em
Talvez pela mesma via também o urbanismo se tenha instalado na política pomba­ Vila Real de Santo António, ou a cidade "reformada" para abrigar o crescente comércio do
lina. O terramoto e a reconstrução de Lisboa significaram para o ministro de D. J osé a Porto <1 1 > . A visão galicanista não escapa à reforma urbana da Amazónia, na disputa com os
primeira "oportunidade" de que se soube m uito bem aproveitar. Da própria tragédia histó­ jesuítas e a reconversão das aldeias '">, e a reforma do ensino a ela se lhe une, assim como
rica, Pombal, pragmaticamente, se utilizou para reforçar o seu poder político 'ª>. a mudança das estruturas fundiárias. Ao fundamento económico do sistema, as cidades
A cidade para Pombal alcançou a escala de veículo de máxima difusão da ideologia respondem enquanto objectos de financiamento do comércio que as engendra. E, enquanto
do poder que este assume. Um poder que se via a si próprio como bem intencionado símbolos do poder do Estado, nada na realização pombalina se lhes equipara.
promotor do " Bem Público" e da "Felicidade dos Povos", e que para tal, numa atitude Na conclusão do seu trabalho sobre Lisboa, J osé-Augusto França diz: "A legislação
duplamente didáctica, concretizava a cidade que se impunha que se fizesse e na própria pombalina liga o facto urbanístico ao facto político, numa visão global, cultural e ecológica,
cidade expunha os seus méritos. A Lisboa racional e geométrica era a cidade que precisava social e económica. A cidade é entendida como um todo num processo de prática colec­
ser feita sobre os escombros da cidade soterrada. E na cidade que precisava ser feita tiva para que contribuem passado e futuro, tradição e modernidade, num único discurso
exaltou-se o fazer da cidade, exaltou-se mais que isto, o domar do espaço. O poder orde­ ideológico em que contam novos critérios de interesse público tanto como novos sentidos
nador e regulador - e por extensão reformador - e as suas qualidades intrínsecas deviam de espacialidade" < 11>.
64 65
"Das Cidades e dos Conceitos"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

O Espaço da Cidade Pombalina contexto do i luminismo que faz esta aproximação ideológica um pouco por toda a Europa,
renovando a conceptualização do espaço urbano enquanto espaço de representação
cultural, e fazendo ressurgir, no mesmo contexto, a utopia da representação formal do
O espaço da cidade pombalina é, de certo modo, um espaço emprestado. No urbano, a cidade ideal da Renascença recuperada.
entanto, sobre ele conjugam-se virtualmente "novos conceitos de espacialidade". É empres­ A cidade pombalina é, pois, conceptualmente um projecto urbano do iluminismo e
tado porque faz uso de um trabalho urbanístico que há muito se fundamentara em proce­ portanto um d iscurso do espaço submetido à lógica racional e à conceptualização da cidade
dimentos e escolhas que estabeleceram as bases sobre as quais o espaço das cidades enquanto espaço de cultura. Enquanto vocabulário formal, esta cidade, que já em si
pombalinas surge. O urbanismo pombalino vai entretanto potencializar estes procedimentos "herdara" as formas que da Renascença lhe tinham sido legadas por séculos de uso experi ­
e permitir que deles seja feita uma leitura ainda mais pertinente e clara. mental n a urbanização das colónias, vai uma vez mais renovar o s símbolos e o s métodos d e
Como muito bem notou Pedro Vieira de Almeida, a cidade pombalina "surge como tal vocabulário.
uma estrutura imagética articulada não em edifícios ou objectos urbanos particularmente Estes, valorizados, servirão de veículos do discurso ideológico sobre a cidade. O
significativos, nem em frentes-fachadas particularmente ricas, mas em espaços urbanos, traçado das ruas é destacado nas suas virtudes racionais e geométricas. O urbanismo de
espaços-rua, espaços-praça, esses sim carregados de significado, e neste caso o que cons­ programa e o ideal de padronização das fachadas é também valorizado, estabelecendo-se
titui o d iscurso urbano é o espaço-rua objectivado em si mesmo e por si mesmo consti­ leituras hierárquicas mais precisas. Vejam-se os casos da hierarquia das fachadas de Lisboa,
tuindo um valor" < 141_ ou de Vila Real de S 10 António. Enquanto veículo do discurso, a linguagem urbana é objec­

A estrutura urbana fundamentada no espaço-rua não é uma novidade, é uma meto­ tivada.
dologia estabelecida desde a práxis dos "arruadores", que criavam a cidade pelas suas ruas, A toponímia será aproveitada na oralidade da cidade, que se utilizará da sua
definindo os eixos do território a urbanizar. A valorização dos espaços-praça também não linguagem objectiva para veicular o seu discurso ideológico e simbólico. O exemplo de Vila
é original e marca sensivelmente o mecanismo instalador dos espaços coloniais e, i nclusive, Real é outra vez pertinente <"1, mas também pode ser incluído o de Macapá < 1 •1. Além do
é a mais evidente representação espacial do poder do colonizador. É pela praça que se dá nome das ruas, o das próprias cidades, como as cidades da Amazónia, farão parte do
início aos núcleos, é na praça que se instala o pelourinho e é na praça que se condensam discurso do urbano (201. E a legislação urbana, inclusive, referirá discursivamente sobre a
os edifícios principais. A própria escolha deli berada da simplicidade das frentes-fachadas e cidade: os alvarás e planos da construção de Lisboa e Vila Real e as posturas em Macapá.
da sua uniformidade consta do formulário urbanizador colonial utilizado nas cartas régias Além, evidentemente, dos textos e discursos sobre a cidade, em que a dissertação de
passadas ainda por D. João V 1 "l e portanto "herdado" pelo urbanismo pombalino. Manuel da Maia encabeça a lista, seguida pelo discurso de inauguração de Vila Real de Santo
A "d iferença" que o urbanismo pombalino inaugura é a ênfase dada ao d iscurso António 121 l, ou o discurso laudatório de José Gonçalves da Fonseca sobre o trabalho de
ideológico da cidade, o qual é potencializado. O conjunto urbano vale tanto quanto os seus Mendonça Furtado na Amazónia (22l.
elementos e exprime um discurso "objectivado em si mesmo e por si mesmo constituindo A cidade pombalina é a cidade eloquente, a forma que se pretende falante e persua­
um valor". A ordenação u rbana continua racional e pragmática como antes, mas sobre ela siva, que se advoga demiúrgica e capaz de civilizar os povos. A tipologia arquitectónica
interpõe-se o poder de maneira mais evidente e assumida, e não apenas enquanto refe­ encontra-se também submetida ao d iscurso da cidade, que o veicula pela lógica do seu
rência alegórica. E o espaço urbano privilegiado é o espaço público utilizado como afirmação conjunto. E sempre se retoma Lisboa como exemplo.
do poder sobre o espaço. No entanto, fundado possivelmente sobre o pragmatismo inerente à governação de
Na síntese que Gonçalo Byrne faz da actuação de Pombal na reconstrução de Lisboa Pombal, este soube por vezes fazer alguma cedência, quando necessária, para que se valo­
destaca-se os pontos sobre os quais se fundou o trabalho da urbanização da cidade: "um rizassem em especial alguns edifícios. Cremos poder ver isto nas opções urbanísticas
único d iscurso ideológico e programático; uma proposta urbana e arquitectónica coerente; tomadas em Belém (231, ou talvez na própria Igreja da Memória em Lisboa <24l, em que se
um apa1-ato jurídico-administrativo estimulante mas também repressivo; um sistema cons­ investe de certo modo na linguagem típica do barroco. Parece que em ambos os casos a
trutivo e tecnológico racionalizado" < 1 •1. Ou seja, uma cidade i ntegralmente "projectada" em ligação mental e discursiva entretanto não se perde, pois se investe no monumento no
todos os seus elementos, do desenho ao controlo da obra e, mais que isso, submetida a um sentido de monumentalizar a cidade.
"projecto" enquanto conceito urbano. Aqui, utilizando a conceptualização de Argan, de monumento enquanto "obra de
A cidade pombalina como um todo recupera a essência da cidade renascentista, no arte destinada a transmitir o seu valor histórico-ideológico" · <211, a cidade pombalina, em
sentido em que novamente se aproxima da idealização da "civitas", da cidade-documento e essência, assume-o. Pois mesmo que paradoxalmente se faça apresentar em moldes escor­
espelho da cultura 1 "1. Não diferirá por isso de um movimento mais amplo, inserido no reitos e pouco exuberantes, jamais pretendeu deixar de ser "monumental", ou seja, de
66 67
As Cidades da Amazónia no Século XVII I "Das Cidades e dos Conceitos"

comunicar o seu valor histórico e ideológico. E de continuar discursando sobre o seu rida por Paulo Tedim Barreto <34) e é certamente uma fonte importante para a avaliação do
próprio investimento e o seu "autor" que, como um contemporâneo seu, poderia ter dito: urbanismo pombalino no Brasil.
"Duremos na duração da obra, já que em nós mesmos é tão pouco o que duramos" (26). Assim também o trabalho urbanizador, citado por Paulo Santos, desenvolvido na capi­
tania de Porto Seguro pelo ouvidor José Xavier Machado Monteiro ( 1 767- 1 772), é significa­
tivo <35), Têm-se cartas, relatos e plantas dos núcleos criados ou reformados no AHU, que são
documentos preciosos 136). Importaria ver, se o conjunto pudesse ser ampliado, o papel que
Pombal e a Urbanização das Colónias tal ouvidor detinha e as relações que com ele se estabelecem para a sua criação urbana (37) e
averiguar a participação dos engenheiros militares em todo o processo, nesta e nas outras
capitanias.
Não é fácil falar neste tema que permanece tão pouco estudado. O que sabemos Envolvida numa situação similar à da Amazónia, de demarcação das fronteiras no
deve-se à própria investigação realizada para a Amazónia e, a partir desta base, é que se contexto do Tratado de Madrid, também a Região Sul do país foi palco de projectos urba­
especula que o quadro das intervenções urbanas, de algum modo ligadas à óptica pomba­ nizadores e reguladores. José Manuel Fernandes <3ª>, num trabalho sobre a área, refere-se à
lina, possa ser potencialmente maior no espaço colonial. Enumeraremos aqui algumas pistas fundação de Porto Alegre, Desterro, Laguna e São Pedro do Sul. Estes casos podem ser
que se nos afiguram promissoras. exemplos de uma conexão entre as cidades fundadas no Norte e no Sul do país que, em
Nas proximidades do espaço amazónico o contexto da criação da capitania de Mato função da falta de estudos mais específicos, não se pode aprofundar.
Grosso é certamente dos mais profícuos em termos de urbanização. A capitania foi criada, Entretanto, os exemplos dos projectos urbanos desenvolvidos na Índia na mesma
desmembrada da de São Paulo, em 1 748. Uma carta régia datada ainda de 1 746 determi­ altura, citados também por José Manuel Fernandes, são bastante pertinentes. Referem-se
nava que se fizesse uma nova capital, transferindo-a de Cuiabá l27). A vila entretanto só foi aos planos feitos para remodelação de Goa e para "Nova Goa", projectada no sítio de
fundada em 1 752, pelo governador D. António Rolim de Moura, em sítio por ele escolhido Pangim. Os projectos foram feitos, entre 1 774 e 1 777, pelos engenheiros João António
nas margens do rio Guaporé e denominada Vila Bela da Santíssima Trindade <28) . Águia Sarmento e José de Moraes Antas Machado (39), As circunstâncias da execução dos
Entretanto, durante a administração de Luís de Albuquerque de Melo Pereira e projectos por engenheiros, as suas memórias e tipologias urbanas, e inclusive a situação de
Cáceres ( 1 772- 1 789), a vila sofreu reformas e trabalhos de ampliação que Paulo Santos serem projectos de urbanização para uma capital remetem facilmente para a integração dos
refere terem sido da autoria do engenheiro Francisco da Mota 129). A planta da Vila Bela é mesmos dentro da política pombalina. As vicissitudes que levaram a que nenhum dos planos
das mais regulares do urbanismo colonial português, feita sobre um módulo quadrado, viesse de facto a ser executado como previsto e a análise dos outros factores que pesaram
embora com algumas variações na malha. A iconografia da capital da capitania de Mato na sua determinação seriam deveras interessantes para o estudo do urbanismo pombalino,
Grosso é também das mais ricas e do acervo da Casa da Ínsua constam várias versões da mesmo apresentando-se estes exemplos como "falências" do modelo.
sua planta. Em Angola, em 1 769, funda-se uma estrutura fabril que recebe o nome de
Durante o período da administração de Luís de Albuquerque fundou-se a maioria Nova Oeiras e que conta com um plano ordenador. da autoria de um engenheiro,
das vilas da capitania e executaram-se projectos de "regularização" de outras. Assim fica dito António Máximo de Souza Magalhães (4º), sobre o qual é perfeitamente l ícito especular
numa planta do AHU em que um sargento-mor dá conta da sua actuação no arraial de acerca das conexões com um programa maior de urbanização implementado nos anos
Amaro Leite, regulando-o conforme as ordens do governador 130). Outras fundações do de Pombal, e ainda porque a fundação de Nova Oeiras coincide com a administração
mesmo período possuem também iconografia bastante rica guardada na Casa da Ínsua. em Angola de D. Francisco de Sousa Coutinho ( 1 760- 1 770), que realizou várias obras
Vejam-se as plantas de S. Miguel, Lamego, Casal Vasco, Albuquerque, Vila Maria do Paraguai na capital, tais como a construção de um passeio público e intervenções no palácio dos
e Nova Coimbra 13 '), além dos desenhos do Real Forte do Príncipe da Beira, onde trabalhou governadores (4 ' ) .
o engenheiro Domingos Sambucetti, autor da planta de Mazagão. Em 1 770, a capital do arquipélago de Cabo Verde transferiu-se da cidade da Ribeira
Assim como o Mato Grosso, também as capitanias do Piauí e do Ceará podem ser Grande para a Cidade da Praia. Durante este período o arquipélago e Costa da Guiné encon­
interessantes estudos de exemplos de urbanização do período pombalino na colónia. Em travam-se sob a administração da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que
1 76 1 , criou-se no Piauí a Vila de Oeiras, rebaptizando a Vila Mocha, existente desde 1 7 1 8. se responsabilizara também pela construção da fortaleza de S. José de Bissau. O núcleo da
Entre 1 76 1 e 1 766, outras vilas foram fundadas <32) , sobre as quais uma riquíssima documen­ cidade de Bissau surge aí, e a própria mudança da capital de Cabo Verde pode estar ligada a
tação original lhes faz referência, incluindo as cartas régias determinadoras de suas fundações uma visão urbanizadora que se vincula ao trabalho realizado na Amazónia no mesmo período
e os seus autos de edificação. Esta documentação foi publicada por Paulo Santos 133 ) e refe- sob o patrocínio económico da Companhia.
68 Notas
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

O quadro geral do que possa ter sido no conjunto a política urbanizadora de Pombal ( 1 ) José Eduardo Horta Correia, Vila Real de Sto. ( 1 8) V. José Eduar·do Horta Correia, op. cit., pp. 489-
ainda está por fazer. Estas pistas podem ter, inclusive, indicações falsas, e podem, eventual­ António Urbanismo e Poder na Política Pombalino, -49 1 .
Tese de Doutoramento, FCSH-UNL. Lisboa, 1 984, ( 1 9) V. Parte l i , cap. I l i .
mente, ter também muitas lacunas. O certo é que é um tema aliciante que merece um pp. 1 2- 1 3 . (20) V. Parte l i , cap. l i .
maior desenvolvimento. (2) Idem, ibidem, p. 1 3 . (2 1 ) V. Horta Correia, op. cit., p p . 504-5 1 2.
(3) V. Pien·e Francastel, prefácio ao livro de José­ (22) V. Parte l i , cap. li.
-Augusto França, Lisboa Pombalino e o Iluminismo,
(23) V. Parte l i , cap. IV.
Bertrand Editora, 1 ª edição, Lisboa, 1 9 87, p. 8.
(24) V. J osé-Augusto França, op. cit., p. 1 97.
(4) V. Pierre Francastel, L'Esthetique des Lumiéres, in
(25) V. Giulio Cario Argan, E/ concepto de Espocio
"Utopie et l nstitutions au XVllle siécle", Paris, 1 969.
Arquitectónico desde e/ Boroco a nuestros dias, Buenos
(5) José-Augusto França, op. cit., p. 247.
Aires, 1 9 80, p. 56.
( 6) V. cap. 1 deste trabalho.
(26) Crf. Mathias Ayres, 1 728, citado in Paulo Varela
(7) V. José Eduardo Horta Correia, op. cit., p. 1 1 . "O Gomes, A Cultura Arquitectónica e Artística em
pragmatismo pombalino parece ultrapassar contra­ Portugal no século XVIII, Caminho, Lisboa, 1 988,
ditoriamente a categoria do empírico e guindar-se a p. 1 3 7.
instrumento do ideológico".
(27) A caria determinando a fundação de Vila Bela
(8) José-Augusto França, op. cit., p. 242. "Se a sua está publicada in Paulo Santos, Formação de cidades
acção já havia sido fecunda antes da catástrofe de no Brasil Colonial, . . . . pp. 60-62.
Lisboa, ela fez dele o homem providencial: a partir
(28) V. Henr·ique de Campos Ferreir·a Lima, Vila Bela
de 1 756, nomeado finalmente Secretário do Estado
do Santíssimo Trindode de Moto Grosso, o seu
do Interior, torna-se todo-poderoso - na sombra
fundador e a suo fundação, Lisboa, 1 940, p. 4.
de um Estado cada vez mais forte, cada vez mais
fechado, quer dizer, cada vez mais apto a suportar as (29) Paulo Santos, op. cit., p. 62.
suas reformas". (30) AHU, cartografia manuscrita, Mato Grosso 885.
(9) Paolo Sica, Storia dell'Urbanistica 1-11 Settecento, (3 1 ) Planta da Vila Maria do Paraguai ( 1 784) - Casa
Roma, 1 976, p. 1 6 1 . da Ínsua 68 A; Vila Maria do Par-aguai - Casa da
( 1 O) V. Walter Rossa. Além da Baixo - Indícios de Ínsua 45; Planta da Povoação de Índios do Lugar de
Planeamento Urbano no Lisboa Setecentista. Lamego ( . . . ) - Casa da Ínsua 1 9: Planta da Nova
Dissertação de Mestrado, FCSH-UNL, Lisboa, 1 990. Povoação de Casal Vasco ( . . . ) - Casa da Ínsua A 1 :
O autor apresenta a colaboração entre o s enge­ Plano do Novo Arraial de Casal Vasco ( . . . ) - Casa
nheiros e o ministro de uma maneira muito clara e da Ínsua 1 7: Perfil da Povoação de Albuquerque
proficua. Este, confiando no trabalho dos técnicos, e ( . . . ) - Casa da Ínsua 1 5 ; etc.
aqueles agindo com a segurança de quem há muito (32) lcó, Montemor e Aracati no Ceará, Oeiras,
pensara e ponderara sobre o assunto. V, em espe­ S. João de Parnaíba, Campo Maior, Valença, Marvão,
cial, os capítulos 2 e 3 do trabalho citado. Jurumenha, Penágua e S. Gonçalo de Amarante no
( 1 1 ) V. M.' Thérése Mardroux França, Quatre fases Piauí.
de /'Urbanisation de Porto ou XVII/e siécle, in (33) Paulo Santos, op. cit., pp. 44-52.
L'evolution de /'Urbonisme ou XVII/e siécle, "Colóquio (34) V. Paulo Thedim Barreto, O Piauí e a suo
/ Artes", Lisboa, 1 972, Jul. 1 4 (8). "L'urgence est de Arquitecturo, in Revista do SPHAN n.º 2, 1 93 8 ,
concevoir et d'imposer dans l'ordre, la cadre d'une p p . 1 87-223.
ville future, basée sur le comerce et digne de ses (35) Paulo Santos, op. cit., pp. 43-44.
contacts internationaux". (36) V. AHU, cartografia manuscrita, Bahia 983-985
( 1 2) V. Parte li, cap. l i deste trabalho. e 1 047, e documentação anexa.
( 1 3) José-Augusto França, op. cit., p. 3 0 1 . (37) No Pará também outros ouvidores foram
( 1 4) Pedro Vieira de Almeida, A Arquitecturo do encarregados pelo governador de efectuar a
século XVIII em Portugal - Pretexto e argumento poro elevação política das vilas e vigiar enquanto autori­
uma aproximação semiológico. in "Bracara Augusta" dades a execução do seu plano. Veja-se, em espe­
XXI I I (2), Braga, 1 973. p. 457. cial, a figura de João da Cruz Dinis Pinheiro,
( 1 5) Ver Parte 1 , cap. 1 , nota 32. envolvido na fundação de Macapá. V. Parie l i , cap. I l i .
( 1 6) Gonçalo Byrne, Ricostruire nella città - Lo ( 3 8 ) Ver Parte 1 , cap. 1, nota 65.
Lisbona di Pombal, in "Lotus lnternational", 5 1 , (39) Fizeram-se pelo menos três estudos para a
1 9 86/3, Milano, 1 987, p. 8. nova cidade de Goa entre 1 775 e 1 777. As plantas
( 1 7) V. Parte 1 , cap. 1 , p. 44. de todos estes encontram-se no GEAEM. Assim
70
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

como os projectos para a nova cidade de Goa a se


construir no sitio de Pangim. Possuem as seguintes
cotas: Projecto para a Nova Cidade de Goa . .
( 1 24 1 / 1 A- 9 - 1 3); Projecto da Cidade Goa por José
de Morais Antas Machado, Sargento-mor de
Infantaria com exercício de engenheiro em 1 775
( 1 237/ I A-9- 1 3); Projecto para Nova Cidade de
Goa ( . . . ) por João Águia Sarmento, capitão de
Infantaria com exer-cicio de engenheiro, Janeiro de
1 777 ( 1 240/ 1 A-9- 1 3); Planta lconográfrca do Sitio parte l i "Da Amazónia e das Cidades"
de Pangim ( . . . ) tirou e desenhou o sargento-mor·
engenheiro José de Morais Antas Machado com o
capitão João António Águia em Ma,-ço de 1 776
( 1 242/ 1 A-9- 1 3); Projecto para a Nova cidade de
Goa se construir no sitio de Pangim ( . . . ) fez e dese­
nhou José de Morais Antas Machado. ( 1 23 6/ 1 A­
-9- 1 3).
(40) Souza Viterbo, Dicionário . , vol. Ili, p. 75.
(4 1 ) V. Ilídio do Amar· a l, Ensaio de um estudo geográ­
fico da Rede Urbana de Angola, Lisboa, 1 962.
D. Francisco de Sousa Coutinho é pai do outro
D. Francisco de Sousa Coutinho que vai ser gover­
nador do Pará no frnal do século XVI II. V. Parte li,
cap. IV.
Os Primeiros Tempos da Ocupação da Amazónia

Século XVI - da Miragem da Terra à Conquista do Território

De entre as 1 5 capitanias em que D. João Ili dividiu o território do Brasil, a do


extremo norte foi concedida a João de Barros, Ayres da Cunha e Fernão Álvares de
Andrade. A despeito das expedições colonizadoras dos donatários e dos seus descendentes
terem entrado na H istória do Brasil colonial como malogras, a insistência das tentativas
requer uma maior atenção para aquelas que foram as primeiras acções concretas de i nter­
venção portuguesa no território amazónico.
No contexto das dificuldades que a colonização inicial do Brasil representou para a
Coroa há que ter em conta a própria credibilidade que o território d ispunha em termos de
compensações para o investimento que exigia. As vantagens esperadas eram de toda a
ordem, tanto económicas como políticas, mas especialmente as primei1·as, que seduziam
tanto os donatários quanto o próprio rei. No entanto, comparado com a Índia, que mu itos
lucros gerara e gerava para o Reino, ou o Norte de África, que havia proporcionado muito
poder, o Brasil era uma incógnita. Uma incógnita que se mostrava promissora, mas que
demandava grandes esforços iniciais.
É certo que a Coroa fazia concessões aos donatários, algumas inclusive de larga
monta. A contrapartida esperada era-lhe sobejamente compensatória, posto que sozinha
não teria capacidade de arcar com as dimensões desmesuradas que a Expansão Ultramarina
lhe proporcionara. Os eleitos donatários das capitanias, em bora aliciados pelas regalias de
poder que o título de capitão lhes conferia a si e aos seus herdeiros e pelos privilégios
acenados pela Coroa, ainda assim sabiam que os custos de investi mento que lhes exigiriam
os seus quinhões ultramarinos eram grandes e, não poucos entre aqueles aquinhoados,
descuraram do privilégio que lhes era concedido e, consequentemente, da tarefa que lhes
era ped ida.
Em tal circunstância, a abordagem que é feita do território brasileiro, efectivamente
desde o primeiro contacto, é perpassada por um acompanhamento crítico, no sentido de
prescrutar as eventuais possibilidades de exploração a todos os níveis. A experiência adqui­
rida em África e no Oriente autorizavam e abalizavam tal postura pragmática. A própria
"Carta de Achamento" de Pêro Vaz de Caminha denuncia a sua posição enquanto obser­
vador analítico da sociedade que se lhe apresenta, estudando as suas reacções e definindo­
-as em termos de maior ou menor d ificuldade de contacto com os colonizadores < 1 >.
Não obstante esse pragmatismo da visão portuguesa, ele convive com uma deter-
74 75
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

minada dosagem mítica. Esta em parte era autêntica, correspondendo ao contexto das uma "cidade dourada", contava também com a pressuposta hipótese de ser uma real
mentalidades quinhentistas, mas, por outro lado, terá sido também uma das fontes de ligação, através do rio, com o ouro menos fantasioso das regiões andinas.
sedução do Estado veiculada para os potenciais colonizadores. Diante das incógnitas, a E terá sido a miragem do ouro o principal atractivo dos donatários <4J_ Manuel
Coroa alimentava-os dos mitos que eram certamente mais estimulantes do que a projecção Severim de Faria, na biografia que fez de João de Barros, refere-se à capitania do Norte nos
das dificuldades. seguintes termos: " Era a capitania que lhe coube em sorte a do Maranhão, parte setentri­
Do mito da Idade do O u ro e da representação paradisíaca dos nativos da América onal do Brasil e mais ennobrecida delle, em grandeza de rios, fertilidade de plantas, abun­
a visão portuguesa fez uma leitura céptica. Avaliava as povoações com critérios de julga­ dancia de animais, e fama de riquíssimas minas" <5J _
mento civilizacional e via os nativos mai's como selvagens e incultos de que como puros e No entanto, as expedições organizadas pelos donatários fracassaram de todo. É
ingénuos habitantes do Paraíso. Os difíceis contactos com culturas diferentes experimen­ sabido que João de Barros ficou com grandes dívidas e enfrentou dificuldades financeiras em
tados pelos portugueses no Oriente deixava pouco espaço para o culto de imagens idílicas. função de tais malogras, além de ter quase perdido seus filhos, desgarrados com parte da
Mas, por outro lado, a inteligência nacional terá acentuado, com referências míticas, o tripulação que numa das expedições tinha ido parar ao Haiti.
carácter de disponibilidade dos nativos b1·asileiros no que dizia respeito às questões da fé O que importa salientar desse episódio será menos o fracasso em si que ele repre­
indígena não maculada por uma 1·eligião instituída e portanto aberta à ideologia cristã '2i . senta, enquanto tentativa de colonização, e mais o signo sobre o qual ele se funda, num
Cabe ver neste sentido a visão do próprio João de Barros do significado do terri­ misto de empenho concreto alimentado entretanto por objectivos, senão de todo míticos,
tório descoberto em termos de amplitude de espaço de conquista "espiritual" aberto aos pelo menos idealizados. No processo histórico da conquista e colonização da região amazó­
portugueses. No seu retrato da descoberta do Brasil ressalta "quão oferecido estava aquele nica há efectivamente algo de quixotesco a que nem o doutíssimo João de Barros pôde
povo pagão a receber a doutrina de sua salvação, se ali houvera pessoa que os pudera escapar e, salvaguardadas as diferenças ideológicas, o próprio projecto pombalino personi­
entender" <3i_ ficado em Francisco Xavier de Mendonça Furtado também não, como veremos.
A disponibilidade evocada por Barros e a sugestão de catequese fácil da população Mesmo quando limados os exageros da fantasia que engendrou muitos das perso­
nativa brasileira remetem para uma visão idealizada da tarefa de colonização que se impunha nagens reais da história da exploração da Amazónia, como Aguirre ou Ursua, por exemplo,
a Portugal. A conquista "espiritual" dos povos implicava, de facto, na sua conquista ideoló­ a visão da região não deixou Jamais de ser infl uenciada por uma abordagem megalómana
gica e virtual, a sua integração no sistema hierárquico vigente e a sua submissão ao domínio dos seus atributos. Se caberá aqui ressaltar que as especificidades do espaço amazónico, em
do colonizador. Assim, a imagem mítica do "bom selvagem", que é admitida em termos termos de grandeza e exuberância natural, facilmente o predispõem para este tipo de visão,
ideológicos, é a imediatamente correspondente à imagem também idealizada da colonização em parte portanto real, cabe também voltar a ver o quanto de manipulável tal imaginário
fácil, que seduzia a Coroa, e os colonizadores, como talvez o próprio João de Barros. da região proporcionava aos interesses da Coroa.
Entretanto, a par da idealização da disponibilidade do nativo à colonização, a natu­ Envolve o rio Amazonas um dos mais profícuos mitos da geografia brasileira, que foi
reza em si dos territórios descobertos foi também foco de abordagens míticas da sua prodi­ o da fantasiosa ligação que se supôs existir entre as bacias desse rio com a do rio da Prata,
galidade ou das suas excentricidades. Aqui, pese embora o natural cepticismo português já sugerindo o Brasil como uma espécie de grande ilha colada ao continente sul-americano.
abordado e a sua tendência crítica, basta notar que a denominação da região amazónica foi Essa como uma imagem geográfica foi divulgada pela cartografia portuguesa desde o século
determinada em função de uma visão imaginária das mulheres guerreiras que, acreditada de XVI até à primeira metade do século XVII sendo corroborada por grandes nomes, entre os
facto ou não, foi utilizada sem contestações. Mas a maior incidência fantasista em termos da cartógrafos nacionais e, por via destes, difundida em cartografias gerais publicadas no exte­
natureza das colónias terá sido menos no que diz respeito a visões de cunho mitológico e rior. Segundo J aime Cortesão <61 , essa suposta ligação entre as bacias teria tido origem num
mais em especulações sobre as suas potencialidades, especialmente as auríferas. A miragem mito indígena passado para os portugueses que, mais ou menos conscientemente, o teriam
do ouro associada às inexauríveis minas ou às cidades encantadas encandeou, e em alguns aproveitado por razões políticas. A definição de uma fronteira "natural" para o Brasil era de
casos virtualmente guiou, várias das tentativas de exploração de todo o território brasileiro interesse para a Coroa portuguesa, funcionando como argumento de su peramento da
durante o período colonial. abstracta linha de Tordesilhas. Assim, acreditassem ou não na configuração proposta pelos
No caso da Amazónia essa associação está presente desde o primeiro momento. É índios, os portugueses tê-la-iam adaptado em função dos seus objectivos políticos.
sabido que muito mais que os ideais catequisadores e civilizadores demonstrados no texto Com o evoluir dos conhecimentos geográficos e cartográficos tal mito foi sendo
de João de Barros, o que terá influenciado sobremaneira os esforços dos donatários da capi­ gradualmente superado. A postura da Coroa portuguesa em relação ao Brasil fica denun­
tania do Norte foi precisamente o imaginário do Eldorado que a região personificava. A ciada desde o princípio com essa apropriação imaginária de um espaço colonial coeso na
Amazónia, além de abrigar o mito indígena, logo apropriado pelos exploradores, de possuir América do Sul. A mesma posição será virtualmente reflectida na conj untura das conversa-
77
76 "Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

o domínio da entrada do grande rio terá sido o real estopim da conquista de São Luís e da
ções do Tratado de Madrid e dominará o quadro político e ideológico da administração
imediata sucessão da conquista para o norte com a fundação de Belém.
pombalina na Amazónia. De facto, se a definição das fronteiras de todo o território brasi­
O estabelecimento dos franceses no Maranhão começou a partir de uma feitoria
leiro é devedora dessa atitude "expansionista" portuguesa dentro do continente americano,
fundada por Charles de Vaux e Jacques Riffaut, cerca de 1594, na ilha de São Luís. No início
a delimitação da Amazónia é o exemplo mais eloquente, posto que detentor do maior
do século seguinte, o rei de França enviou Daniel de la T ouche, Senhor de La Ravardiére,
avanço em termos do limite inicial de Tordesilhas.
para examinar a região e avaliar a sua provável exploração. La T ouche, antes desta vinda ao
A par do mito cartográfico da Ilha Brasil, a própria configuração do rio Amazonas
Maranhão, tinha já percorrido o rio de Cayena e passado pelo Amazonas. Depois de ter
semeava ilusões geográficas. Foi persistente a confusão entre o Maranon dos espanhóis ( o
permanecido no Maranhão, por cerca de seis meses, retornou a França e obteve autori­
Amazonas) e o Maranhão dos portugueses ( o golfo de São Marcos diante de São Luís).
zação para fundar uma colónia na região. Em 1 662 volta a São Luís acompanhado de cerca
Posteriormente, também o rio Pará (que passa ao largo de Belém) seria outra vez confun­
de 500 colonos e, a partir desta data, os franceses ficaram instalados e fortificados no
dido com a foz do Amazonas.
Maranhão.
A sequência das viagens de exploração do rio Amazonas foram esclarecendo as
No mesmo ano, a reacção régia fez-se sentir e, em carta dirigida ao governador -geral
dúvidas quanto à sua configuração e percurso, mas não eliminaram o seu potencial simbó­
do Brasil, o rei exorta à participação de todos na "conquista" do Maranhão, oferecendo
lico, jamais deixando de se lhe referir com epítetos de grandeza. Nesse contexto conviviam
mercês e honras a quem participasse na expedição 17)_
em igualdade de condições tanto as referências cartográficas da região como os textos
No ano seguinte, enquanto a posse francesa no Norte procurava conquistar espaços,
descritivos produzidos durante o primeiro século da colonização.
fazendo o capitão La Touche uma expedição ao rio Pará, organizava-se, a partir de
O imaginário da Amazónia formou-se a partir de um conjunto de informações que
Pernambuco, o que seria a "Jornada do Maranhão". A expedição partiu em Agosto de 161 4,
em parte correspondiam às suas características concretas, no que dizia respeito à efectiva
com o objectivo da retomada da região aos franceses, comandada por Jerónimo de
imensidão do seu espaço. Mas comportava também algumas idealizações que, ligadas ao
Albuquerque e Diogo de Campos Moreno. Francisco Frias acompanhava- os como enge­
dimensionamento espacial, assumiam a desmesura daquele e ampliavam a sua abrangência.
nheiro da expedição.
Durante o século XVI, as principais fontes de divulgação desse imaginário amazónico foram
Os portugueses lograram obter uma efectiva vitória do contingente francês, em
os relatos das expedições dos donatários portugueses e das investidas estrangeiras de
Novembro de 1 614, na batalha de Guaxenduba, que tomou epítetos de "milagrosa", pela
exploração do rio Amazonas. Entre as mais famosas situam-se as viagens de Aguirre, Ursua,
grande diferença numérica entre portugueses e franceses. Seguiu-se um tempo de mais
Vicente Pinzón e Francisco Orellana, todas com narrativas heróicas, ou trágicas, em alguns
lutas, com algumas tréguas e negociações, entre os contendores até à chegada de reforços
casos.
portugueses, em 1 615. Em Agosto, chegou Francisco Caldeira Castelo Branco e, em
No final do primeiro século da descoberta do Brasil, a região amazónica era sobre­
Outubro, Alexandre de Moura, o governador de Pernambuco. Os franceses renderam-se
tudo imaginada e concebida míticamente a partir dos relatos dos seus eventuais explora­
definitivamente em 4 de Novembro, entregando aos portugueses o forte de São Luís.
dores que propriamente conhecida. E permanecia, de facto, inexplorada. Não seria correcto
No mês seguinte, no dia de Natal, parte de São Luís Francisco Caldeira Castelo
alegar descaso ou falta de interesse para que tal assim tivesse sucedido. As dimensões do
Branco, comandando uma jornada dirigida à foz do Amazonas com o objectivo de a forti­
território brasileiro exigiam da Coroa uma hierarquização das suas acções. A partir da insta­
ficar. Leva consigo o francês Charles de Vaux como piloto e intérprete, contando com O seu
lação do Governo Geral, em 1549, esta tinha assumido directamente a administração de
conhecimento prévio da região, e o piloto maior de Pernambuco, Vicente Cochado. Em
praticamente toda a colónia e o controlo da extensão do litoral permanecia sendo a prin­
apenas 18 dias de viagem chegaram ao sítio onde estabeleceram a fortificação que deno­
cipal dificuldade da administração colonial, que se debatia com os contrabandos e as inva­
minaram de Forte do Presépio e baptizaram a região de "Feliz Lusitânia", dando início, com
sões estrangeiras.
tal procedimento, ao que viria a ser a povoação de Belém.
A Amazónia, embora aparecesse aos olhos da Coroa portuguesa, e do mundo
André Pereira, participante desta expedição de Castelo Branco ao Pará, escreveu
quinhentista, como um repositório de riquezas, o imaginário também a povoava com as difi­
sobre ela um relato intitulado "Relação do que ha no Grande Rio das Amazonas
culdades, os perigos e os insucessos dos exploradores, o que a deixava menos exposta aos
Novamente Descoberto" ( 1 6 1 6). Note-se a importância dada à expedição, no sentido da
invasores do que a costa. Só no final do século a evidência do perigo da investida francesa
"redescoberta" do rio, a mesma referida na carta régia de 1 612 (81.
na costa maranhense virá alterar tal quadro e provocar a reacção portuguesa. Note-se que
A viagem ao Pará não pode ser entendida em separado da jornada do Maranhão. As
essa reacção terá sido motivada pela ideia ainda errónea que os portugueses (e espanhóis)
referências obtidas de La Ravardiére indicavam que "tudo que havia de bõ no Maranhão
faziam da foz do rio Amazonas-Maranhon, confundindo-a com a região do Estado do
estava naquelas partes" (9I (no suposto Amazonas, portanto). Também importante é a apro-
Maranhão, onde os franceses se tinham fortificado. O medo de que se pudesse estabelecer
78 79
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

pnação feita dos conhecimentos dos franceses. E, globalmente, a jornada significa uma
espécie de dupla reconquista portuguesa: a do território do Maranhão em si que é liberto
dos invasores e a do rio Maranon (o Amazonas) que é "redescoberto".
Neste contexto, de reconquista, o século XVII inaugurou finalmente o efectivo e
contínuo domínio português sobre o território da Amazónia. E as fundações de São Luís e
Belém, necessariamente entendidas em conjunto, marcam o início da formação urbana da
região.

Sécu lo XVI I - a Posse Efectiva da Colónia e o Início da Formação Urbana

É importante reforçar o quanto nos parece ser significativa, no quadro da evolução


urbana da Amazónia, a compreensão conjunta das fundações de São Luís e Belém. A histo­
riografia existente sobre as duas cidades não associa em mais pontos as suas fundações que
os da circunstância da expulsão dos franceses, e vê a criação de Belém mais no contexto de
um certo heroísmo que na efectiva óptica de planeamento que supomos haver regido a sua
instalação.
São Luís conta com uma referência documental muito importante na história do
urbanismo no Brasil. Alexandre de Moura, ao entregar o governo da vila recém-conquistada
a Jerónimo de Albuquerque, deixa-lhe um Regimento onde é dito explicitamente ao gover­
nador a necessidade de ordenar a formação da cidade a partir de um plano deixado deli­
neado para este efeito pelo engenheiro Francisco Frias de Mesquita. No mesmo fica Fig. 9. Planta da cidade de São Luís. Gaspar Baiiaeus, História dos Feitos Recentemente Praticados no Brasil ( 1 647).
determinado inclusive o modelo de habitação a ser utilizado. "Terá particular cuidado de
acrescimento desta cidade fazendo que fique bem arruada e direita confo rme a traça, que
fica em poder, e para seu exemplo o fação todos os moradores, fara hua casa e vivera
nella . . . " ( 1 0>.
O desenho de São Luís tem como base uma rectícula quadrangular, num traçado em
xadrez quase perfeito, que foi seguido, não obstante a topografia acidentada da ilha. Não
se conhece o original do projecto de Frias e a fonte mais próxima deste é uma planta da
cidade publicada por Gaspar Barlaeus, em 1 647 (I '>. Esse desenho, associado ao texto do
Regimento, esclarece em termos de um planeamento bastante definido a fomação urbana
da cidade (fig. 9).
Em 1618, três anos após a fundação, chegaram a São Luís cerca de 300 colonos
açorianos. O capitão de uma das naves que os levou, Simão Estácio da Silveira, escreverá na
volta a Portugal uma espécie de convocatória dirigida aos pobres do Reino, exortando-os a
emigrar. Reassumindo a herança mítica da região, o Maranhão é apresentado de forma para­
disíaca aos potenciais colonos. Desta feita o discurso mítico não era mais produto do desco­
nhecimento, mas, ao contrário, método conhecido, e eficaz, de persuasão: "Pello que não
pode esta breve Rellação deixar de influir uns desejos mui apostados, & eficazes de tão
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

louvável empreza nos animos dos ouzados & incansáveis portugueses, que noutros tempos credível que este não tenha sido delineado previamente, posto que nada confirma tal hipó­
emprehenderão com menos esperança coisas mais dificultosas . . . " < 1 2>. tese, mas orientado por alguém competente, algum dos "funcionários do urbanismo" do rei,
A conquista do Grão-Pará e a fundação de Belém enquadram-se no mesmo segundo a definição que sugerimos.
contexto da colonização do Maranhão. Com efeito, Alexandre de Moura, que representava Uma das possibilidades é a anteriormente proposta de que Francisco Frias tenha
ali a mais alta autoridade da conquista, assim como deixou o Regimento a Jerónimo de dado orientações a Castelo Branco e que este tenha deixado as directrizes básicas definidas
Albuquerque para administrar o Maranhão, também forneceu a Francisco Caldeira Castelo para que depois fossem seguidas pelos administradores subsequentes. Outra hipótese a
Branco, noutro Regimento, as directrizes da expedição que este devia fazer ao Pará. considerar é que o próprio Castelo Branco possa ter assumido o arruamento no conjunto
Além do Regimento, Castelo Branco levava documentação que incluía uma certidão da execução da fortaleza, ou utilizado algum dos componentes da expedição para realizar
de La Ravardiére, assegurando a verdade das afirmações que tinha feito sobre o Pará, e um tal tarefa. De qualquer dos modos, nada leva a crer que a arruação não tivesse sido motivo
auto em que todos os participantes da expedição do Maranhão concordavam que fosse de consideração senão de alguém de efectiva competência - um engenheiro - ou, ao
feita a jornada ao Pará e que coubesse o seu comando a Castelo Branco. Esse auto (auto menos de pessoa esclarecida -, um militar ou piloto que soubesse tirar o rumo e cordear
n.º 23) foi assinado, em São Luís, por Alexandre de Moura, Pavo Coelho de Carvalho, as ruas - pois a forma urbis de Belém não admite a hipótese de uma formação aleatória.
Francisco Caldeira Castelo Branco, Diogo de Campos Moreno e Francisco Frias de Vejamos: o terreno da instalação da Cidade Velha de Belém é caracterizado por um
Mesquita. A presença e participação do engenheiro-mor no contexto planeador e deci­ "teso", ou seja, uma espécie de terraço. Este era praticamente plano, com cota de cerca de
sório da expedição de fundação de Belém leva-nos a crer que entre as directrizes especí­ 7 metros, circundado pela baía do Guajará e pelo rio Guamá e isolado da terra firme, um
ficas da jornada pudesse também Castelo Branco ter contado com orientação (decerto de pouco mais baixa, por um grande alagado, o Piry. O terreno assim disposto não era no
cunho programático) sobre como dirigir a instalação física do núcleo que se determinava entanto de grandes dimensões, criando uma situação natural de delimitação da expansão
que fizesse. urbana e definindo uma forma concreta para o perímetro da cidade, numa espécie de ilha­
A importação de colonos açorianos para o Pará deu-se de modo similar ao do adop­ -fortaleza natural.
tado para São Luís. Em 1 6 1 8, há notícia da partida para Belém de casais que se dispunham Embora se tratasse de um terreno plano, e alto para o contexto da topografia local,
a colonizar o Pará e que se diziam pessoas fidalgas da cidade de Angra < 1 3> _ Este ano poderá sena um terreno coberto de vegetação certamente densa, dado que não era região de
ter marcado o início do processo efectivo de instalação do povoamento, posto que nos várzea onde a vegetação pudesse ser de campina. Assim, a abertura das ruas impl icava uma
anos anteriores a tropa que acompanhara Castelo Branco tinha estado ocupada em acção de desbaste do mato, o que teria de ser feito de qualquer modo, em função da
combates. Logo à chegada houve disputas com holandeses que se tinham instalado no própria eficiência do sistema defensivo da fortaleza, que exigia o seu espaço de tiro. Feita a
Gurupá e, no decorrer de 1 6 1 7, os índios tupinambás que habitavam a região circundante limpeza da área, o que se apresentava em dimensões definidas e delimitadas era o espaço
de Belém pouca trégua deram aos colonizadores. urbano concreto, ou seja, o espaço da instalação do plano, em escala real. Não caberá aí
No final de 1 6 1 8, Castelo Branco foi deposto em função de atitudes abusivas de nenhuma hipótese de crescimento aleatório num conjunto que se apresentava inteiro desde
poder. Numa carta de Frei António da Merceana, narrando a prisão do capitão-mor, o início.
aparece uma observação significativa acerca das preocupações de instalação dos colonos. O terraço natural onde se instalaram os baluartes do forte do Presépio definia, em
Fica clara a noção de que esta instalação deveria ser comandada por pessoa que entendesse última análise, a configuração da cidade pensada enquanto cidade-fortaleza, ainda que não
tal matéria. cercada por cortinas em todo o seu perímetro. O desenho do plano no terreno, ou seja, a
"O Capitão André Pereira troxe uma provisão de V. Mag. passada pelo Conde definição da direcção dos arruamentos, não poderia pois, escapar à compreensão de
D. Estevão de Faro de seu Conselho em que manda que duzentos mil reis que vinhão como conjunto da cidade-fortaleza.
socorro se guastem em fazer rossas e fazer mantimentos p.' commodidade da gente que se Note-se que o desenho das ruas da Cidade Velha segue uma intenção radiocêntrica
ficava se aprestando p.ª esta conquista. Os duzentos mil rs como informará o dito cap. André a partir da praça, a praça-de-armas, e o alinhamento da primeira rua coincide com a direcção
Pereira ficão carreguados ao Almoxarife p.ª q' em havendo ocasião q' sera em havendo índios cardeal norte-sul. As seguintes correspondem a leves inflexões, uma com inclinação de 5 º e
se faça o q' V Magde manda e sobre o lugar que avisa se escolha p.' fundar uma nova Colonia outras duas com inclinações respectivas de 1 5 º e 3 5 º . O cruzamento de tais ruas radiais é
não se pode de presente se fazer diligencia athe vinda dos indios e peçoa que bem entenda feito por transversais, que cruzam ortogonalmente a rua central, e depois inflexionam para,
a disposissão e luguar Emq' se possa fundar" < 1 4>_ outra vez, perfazer um ângulo recto com a via seguinte. A despeito de algumas "falhas" na
Não possuímos documentação similar à de São Luís que de facto esclareça a quem execução do conjunto, existe no traçado urbano da Cidade Velha de Belém uma clara
imputar a auto1-ia de um "projecto" para o desenho urbano de Belém. No entanto, parece noção de unidade de desenho (fig. 1 O).
82 83
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades''

As referências mais antigas que encontrámos do início da formação urbana de Belém


são os dados contidos em duas cartas de Maria Cabral, mulher de Castelo Branco, e nas
Belém. Estrutura do núcleo urbano inicial
respostas deste sobre a doação de terrenos dentro da cidade:
1. Fo1"te
2. s,
3 . $. João
4. lgreja do Carmo "Dona Maria Cabral molher do capitão mór Franc.º Caldeira de Castelbr.º primmr.º
5. Convento de S.'' António
6. Convento das Mercês descubridor, conquistador e povoador deste Grão Pará, famozo Rio das Amazonas, e seu
7. Misericórdia
8. Igreja de s:�. Alexandre Uesuitas) procurador qu'ella mandou fazer huas cazas grandes no sitio desta cidade de Belém, pela
ALAGADO ÓO PIRY
frente de Leste sobre o Rio, as quais são as primeiras de telha que aqui se fizerão. E tem

armado em madeirai outros appouzentos nos mesmos chãos, os quais começão junto ao pê
CAMPINA
da Arvore grande E corre pia Rua do Norte contra o Sul até outros aposentos que já estão
em madeirados dentro da dita serca E vão dar no Rio e Porto de que oje se serve a gente
q he nas ditas cazas os quais chãos e serca tem de comprimento pela face da Rua do Norte
e Sul 40 braças E dahy Rumo até o Rio" 1isJ_

BAIA DE GUAJARÀ A citação da Rua do Norte, exactamente assim denominada, esclarece a metodo­
Núcleo inicial d a cidade.
logia do arruamento a partir da orientação cardeal. Uma das transversais fixa também a
Século XVII
direcção leste-oeste marcando possivelmente o limite do perímetro inicialmente demar­
cado, que corresponderia à linha exterior (ou central, em termos futuros) do polígono que
inspirava a forma urbis da cidade . Seguindo a lógica interna do desenho, que sugere o espa­
çamento das radiais e as inflexões das transversais a cerca de cada 15 º, deduz-se que a figura
norteadora era um polígono de 24 lados, ou melhor, a sexta parte de tal polígono, que
Belém no final do século XVII

I, Santo Cristo
perfazia um ângulo total de cerca de 60 º dividido em 4 facetas (fig. 1 O).
2. Sé
1 S. João
A referência formal do polígono de 24 lados evoca a rosa-dos-ventos vitruviana defi­
4. lgr·eja do Carmo
5. Convento de $.'• António
nida em 24 partes da circunferência. Esta figura nada mais é que o elemento gerador e
6. Convento das Mercês
7. Misericórdia primordial das orientações de cunho urbanístico do texto de Vitrúvio que, por sua vez,
8. Igreja de s.� Alexandre
9. Igreja do Rosário ALAGADO DO PIRY também é em si referência básica de todo o urbanismo renascentista.
10. Palácio
Chega-se assim a um ponto em que é assente que a concepção da estrutura urbana
exigiu uma evidente conceptualização, que conta inclusive com fontes eruditas. E com tal à­
-vontade se terá utilizado esse vocabulário formal urbano de origem vitruviana, adaptando-
-o ao terreno e permitindo pequenos desvios, que é lícito perguntar até que ponto tal voca-
RIO GUAMÃ
bulário terá sido efectivamente parte de um acervo de erudição ou uma atitude de
formação impregnada da raiz erudita, mas diluída na prática da execução.
Posto isto, o quadro do desenvolvimento do núcleo urbano de Belém no século
XVII assume a dimensão que efectivamente lhe cabe. Um processo não aleatório ou
simplesmente cumulativo, mas norteado se não por um plano formal preestabelecido, certa­
Fig. 1 O. Plantas da cidade de Belém. Instalação urbana, século XVII .
mente por uma ideia do urbano nitidamente concebida. Notecse que a sequência da criação
dos principais pontos polarizadores da evolução urbana mantém uma relação inevitável com
a referência primordial à fortaleza enquanto "centro" gerador do núcleo.
Em 1 6 1 9, constrói-se a igreja matriz em frente ao forte, estabelecendo uma relação
directa com este e marcando a forma da praça, ao delimitar o lado do polígono que a
deveria definir. Em 1 622, Bento Maciel Parente, o então capitão-mor do Pará, constrói, à sua
84 85
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

custa, a primitiva Capela de São João. Situa-a na confluência do quarto eixo radial com a limites patrimoniais dos concelhos se refere expressamente à "légua em quadro", o que não
transversal que marcava a direcção leste-oeste, que seria, na altura, o limite do traçado acontece aqui. Embora seja lícito notar que a própria configuração geográfica da área em
urbano já demarcado (como veremos mais adiante num texto descritivo da cidade em que foi instalada a povoação não o determinasse assim, já que a cidade se situava numa
1 660). curva natural desenhada pelo contorno dos rios. De qualquer maneira, a própria percepção
O mesmo Bento Maciel Parente fará a doação de outro terreno nos limites da urbe de tal condicionante-gerador formal e sua utilização como matriz dão prova da adaptabili­
existente, para que os carmelitas instalassem lá o seu convento, em 1 626. O terreno situava­ dade mental dos fundadores.
-se na margem do rio, na continuidade da primeira rua. A situação relativa destes três Sendo limitada a área da instalação da "cidade" (entenda-se cidade-fortaleza) ao
primeiros templos da cidade acentua, ,uma vez mais, o modelo radiocêntrico da forma urbis, perímetro da plataforma de terreno alto e plano antes identificado, a continuidade da
posto que todos se situam em posições radiais centradas no forte, assim como indicam o expansão urbana dá-se no terreno de várzea, marginal ao rio, a nordeste da fortaleza. A
perímetro da cidade no primeiro quartel do século XVII (fig. 1 O). caracterização geográfica da área é claramente definida pela denominação que toma o
Já em 1 627, a Câmara obtém, do governador do Estado, a doação de uma légua de bairro que ali se instala, identificado como "Campina".
terra para seu património. A doação das terras ao concelho, que delas deveria dispor para Nesta campina foi construído, em 1 626, o primitivo Convento dos Frades Capuchos
o crescimento da cidade e rendimento da Câmara, era procedimento-padrão na adminis­ da Província de S.'º António de Lisboa. A primeira casa dos frades, no Pará, tinha sido um
tração colonial. A fórmula aqui utilizada aparece repetida em várias cartas régias emitidas, hospício instalado no Una, uma região na margem da baía de Guajará, afastada cerca de três
durante todo o século XVIII, estabelecendo, via de regra, o mesmo dimensionamento de 1 quartos de légua da cidade. Lá estiveram desde 1 6 1 8. A fundação do convento franciscano
légua. na campina estabelece um paralelo com a instalação, feita no mesmo ano, da casa dos
Com efeito, embora não se tenha documentação sobre a colocação dos primeiros carmelitas na "cidade", demarcando ambas os limites da urbe, os quais se manterão até o
marcos, o auto do procedimento demarcador executado, em 1 702, para repor os antigos século XVIII.
marcos, que tinham desaparecido, relata pormenorizadamente a metodologia do trabalho: Entre o Convento de S.'º António, situado no extremo da campina, e o forte insta­
lado na plataforma da cidade será construído, numa localização sensivelmente mediana
. . eu, escrivão da fazenda adiante nomeado e com o dito provedor e demarcador entre um e outro edifício, o convento dos religiosos de Nossa Senhora das Mercês, fundado
das terras desta Capitania, João Ribeiro Couto, com uma ampulheta de meia hora e na em 1 640. Em 1 650, ergue-se, numa rua paralela ao convento dos mercedários, a Igreja de
forma do estilo partimos desta cidade pela terra a dentro e pela Estrada Real que della vae S." Luzia pertencente à Santa Casa da Misericórdia, fundada naquele ano. Em 1 653, um
para o Engenho do Utinga, e sendo munido das ampulhetas requereu o procurador José da terreno também nas imediações do Convento das Mercês é dado aos jesuítas recém­
Costa, que justamente veio a esta demarcação, se pozesse o marco onde findava a dita -chegados para que ali construíssem a sua casa, o que efectivamente fazem, embora ainda
legoa de terra . . . e outrossim na mesma se demarcou e se mediu a légoa de terra a beira no mesmo ano se transfiram para outro terreno situado ao lado do forte.
mar começando do porto desta cidade rio acima a mão esquerda e indo sempre a beira A localização escolhida pelos jesuítas gerou uma grande polémica com os oficiais da
mar da banda desta cidade se achou findar a légua de terra onde está o marco do Engenho Câmara que alegaram, em várias cartas dirigidas ao Reino, o perigo de o colégio poder servir
do Utinga, acima do igarapá Tucunduba, defronte da bocaina que descobre o sitio da de padrasto à fortaleza. Parte desta polémica terá tido origem, certamente, no conflito
doutrina dos padres de Santo António de Guarapiranga, e bem assim da mesma forma se maior que envolvia os padres da Companhia com os moradores. É interessante notar que,
demarcou a legoa de terra pela banda de baixo, também em canoa e com a dita ampulheta segundo o cronista da Companhia de Jesus, a mudança foi efectuada por o primeiro terreno
indo a beira mar da mão direita e da mesma banda desta cidade achou chegar a legoa a Vai que lhes fora concedido, se situar na parte mais retirada da cidade, tendo os padres prefe­
de Caens, " <' 6) rido uma maior proximidade ao verdadeiro núcleo urbano, desenvolvido à volta do forte.
Assim tem-se o quadro urbano definido nos primeiros cinquenta anos da povoação.
Essa descrição, embora adiantada no tempo, sugere um p rocesso que é assumido Tanto o seu centro como a periferia encontravam-se já esquematicamente esboçados e
como feito na "forma do estilo" e portanto tradicional. A referência ao "demarcador" é pontuados por edifícios que funcionavam como marcos da expansão do desenho urbano,
clara, assim como aos instrumentos de medição. Além da evidência do método, esse docu­ antes mesmo que se desse a ocupação dos lotes. Uma descrição da cidade feita, em 1 660,
mento permite ainda outra observação de cunho formal. A demarcação do limite "in pelo padre jesuíta Felippe Betendorff dá conta do conjunto então existente:
extremis" da cidade, definido pela légua patrimonial, é feita também a partir de uma noção
radiocêntrica, com a mesma matriz geométrica geradora do tecido urbano. " . . . divide-se a Cidade em duas partes, uma para a banda do sul em sítio um pouco
T ai observação é pertinente, na medida em que muitas vezes o texto da doação dos mais alto e esta se chama cidade, outra em sítio um tanto mais baixo se chama campina.
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"Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

Para a banda do norte, bem no princípio da cidade, onde chamavam portão os antigos, está nomeação como governador a nomeação também do engenheiro Tomé Pinheiro de
o collegio de Santo Alexandre dos padres da Companhia de Jesus, virado com a portaria Miranda, para servir no Estado do Maranhão e Grão-Pará, tendo feito este a viagem acom­
para a praça assaz espaçosa. Della se reparte Norte para o Sul em quatro ruas principais, e panhando Pedro Cézar de Menezes. Consta que Tomé Pinheiro de Miranda, antes de vir ao
de Leste para Oeste em outras tantas que atravessam as primeiras. Está o Collegio, no prin­ Maranhão, trabalhara no Minho sob as ordens de Miguel Lescol e na sua carta de nomeação
cípio da terceira, tem a Matriz defronte, no cabo da praça para o Sul, entre a segunda e a o rei expressa o desejo de que o governador o deixe exercitar e fazer todas as obras e forti­
terceira rua; no princípio da primeira que está ao Norte e corre Norte e Sul, está a forta­ ficações necessárias ( 1 9>. Depois de Francisco Frias, este é o primeiro nome de engenheiro
leza de taipa de pilão sobre um alto de pedras, edificada em quadro com suas peças de arti­ militar que comprovadamente aparece destinado ao Maranhão e Pará e do qual se pode
lharia em redor, tem o rio bem largo � fundo para oeste e no mais cercada de muito poço atestar a permanência, pois foi designado sucessor para o seu trabalho em 1 685. É pois
seco. Correndo Norte para o Sul pela primeira rua, ocorre logo a ermida de Santo Christo, bastante provável que possa ter sido o engenheiro a dirigir a instalação dos colonos açoria­
mais adeante N. Sra. do Rozário e no cabo o Convento dos Religiosos de N. Sra. do Carmo, nos em 1676.
sito bem frente ao rio; indo da mesma fortaleza, Norte e Sul, pela segunda rua logo se Pedro de Azevedo Carneiro foi o engenheiro nomeado para substituir Tomé
oferece em praça a Casa da Câmara. Pela terceira rua adeante dá-se em o cabo com o Pinheiro de Miranda e veio acompanhar o governador Gomes Freire de Andrada que, coin­
Carmo Novo que se vai fazendo, na ultima rua que atravessa, a ermida de S João, de Leste cidentemente, também residiu em Belém. Azevedo Carneiro trabalhou no Estado do
a Oeste, e de lá de Leste para Oeste, pela primeira rua que se atravessa, se dá como Palácio Maranhão e Grão-Pará entre 1 685 e 1 692. Da sua actividade ressalta-se a obra do fo rte de
do Governador, assaz grandioso se fora de pedra e cal e não de taipa de pilão. A parte que João Dias no Maranhão e no Pará a fortaleza da Barra de Belém.
se chama Campina se reparte do mesmo modo, pouco mais ou menos, em ruas direitas e No início de uma memória sua intitulada "extracto da Planta do Forte que se está
travessas. A primeira vae do Collegio para o Norte, tem legoa e meia, armazem dei Rey, e fazendo na ponta de João Dias, barra da cidade de São Luís do Maranhão", diz o engenheiro:
depois, pello meio o convento de Nossa Senhora das Mercês sito bem sobre o rio. A " . . . pois que eram irremediáveis as dificuldades apontadas, e tão necessaria a fortificação a
segunda tem a campina e depois, à mão esquerda, a Misericórdia, lá muito adeante e ao aquela barra, me acomodey ao mais pequeno polígono que admite o nosso Methodo
cabo de tudo está Santo Antonio. As ruas travessas não tem nada de consideração digno Lusitâno, e ao mais pequeno perfil da taboada n.ª 7 sobre as grossuras dos fortes
de se relatar si não a Misericordia . . . " 1 ">. quadrados . . . " (2º>. Note-se que o documento data de 1 692, o engenheiro havia deixado o
Reino em 1 685 e o livro de Luís Serrão Pimentel fora publicado em 1 680. Há uma apren­
Note-se que a parte instalada no terraço, a cidade, encontrava-se já toda definida dizagem e utilização das fontes teóricas num sentido absolutamente contemporâneo.
dentro dos limites que a topografia naturalmente impunha, adoptando a malha de intenção Na mesma carta, depois de explanar a metodologia utilizada na concepção do
radiocêntrica. Na Campina, que previa uma expansão mais ampla, optou-se por uma malha projecto do forte em São Luís cita, a fortaleza da Barra de Belém, " . . . a qual hâ de ser
mais aberta, norteada pelos eixos paralelos à margem do rio, definida na linguagem do redonda como a torre do Bugio da Cidade de Lisboa, como se verâ da planta que fiz . . . " (2 '>.
cronista pelas tais "ruas direitas e travessas". Mais adiante, Carneiro refere-se à falta que se sentia de engenheiros na colónia
A metodologia do procedimento urbanizador aparece comprovada numa docu­ " • . . porq eu • sou sô, e não posso rezolver as duvidas, que se me poem sobre tão diversas
mentação referida por Baena "ª>, que descreve a instalação de 234 colonos açorianos fortificaçoens, e hu homem sô não pode rezolver, o que p.ª tão varios cazos se necessita, e
chegados ao Pará em 1 676. O "arruador" da cidade tinha mandado preparar o sítio e aberto eu sem ser quem me ajude não poderey assertar conforme o meo dez.º q' este hê acodir
uma rua para os instalar, que tomou o nome de S. Vicente. A rua aberta no lado oriental a todas as partes que careçam de minha assistencia." (22>. A metrópole certamente concor­
da travessa da Misericórdia constituiu o terceiro eixo da Campina. dava com o engenheiro e havia já nomeado, desde 1 69 1 , Custódio Pereira para ir servir no
O ano de 1 676 marca também uma decisão camarária de finalmente construir uma Maranhão e Pará.
casa para abrigar os governadores quando estes viessem a Belém, resolvendo o incómodo A actuação de Custódio Pereira, que permaneceu na colónia entre 1 692 e 1 7 1 8,
de desalojar os moradores das melhores casas da cidade obrigados a ceder as suas resi­ reveste-se da maior importância pois, em 1 699, uma carta régia detenmina que "por ser
dências para os instalarem. Esta decisão possui importantes premissas no contexto político, conveniente ao meu serviço, hei por bem que nesse Estado em que ha Engenheiro haja Aula
pois o 5.º governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará, Pedro Cézar de Menezes, em que elle possa ensinar a fortificação" <231_
empossado em 1671, resolvera residir em Belém, quando a capital efectiva ainda era São O procedimento da Corte é claro e a data da imposição de uma Aula no Maranhão
Luís. A Casa da Residência ficou concluída em 1 680. é próxima das da Bahia ( 1 696), do Rio ( 1 69 8) e de Recife ( 170 1 ), tendo sido provavelmente
O governo de Pedro Cézar de Menezes estabelece entretanto outro marco que se o mesmo modelo de carta régia utilizado. Com efeito, além da ordem de 1699, Custódio
reveste da maior importância para o contexto deste trabalho. Data da mesma época da sua Pereira foi relembrado da sua obrigação de mestre quando, em 1 705, foi promovido a
88 89
As Cidades da Amazónia no Século XVII I "Da Amazónia e das Cidades"

sargento-mor do Maranhão e a sua carta patente dizia "que sera obrigado a ensinar as cientes do interesse do Reino na autonomização do trabalho dos engenheiros e do seu
pessoas que quizerem aprender a engenheiros sem por isso levar sellario algum por ser em mecanismo de actuação na colónia, ligando-os ao poder central, mais pelo controlo da sua
utellidade daquelle Estado" 1"1 • formação académica que por imposições formais ao seu trabalho.
Entre as actividades profissionais de Custódio Pereira no Maranhão e Pará contam­
-se o projecto e a obra da Sé de São Luís, uma expedição ao Gurupá, onde assistiu por um
tempo e cuidou da obra da fortaleza, e o exame de sítio propício para defender e fortificai­
as vilas de ltapitúpera e Alcântara. Em função de uma notícia de guerra provável com A Cidade e o Território
Espanha, o engenheiro chegou a desenhar três fortes para defender a barra de Alcântara 1211.
Simultaneamente ao envio de Custódio Pereira para São Luís foi mandado para
Belém José Velho de Azevedo. A sua carta de nomeação refere-se ao exemplar trabalho Entretanto, a implantação dos núcleos urbanos principais, como Belém e São Luís,
anterior, executado por dez anos nas províncias da Beira e Trás-os-Montes, onde reformou não resume o quadro da colonização da Amazónia nesses primeiros tempos. A relação da
as praças de Bragança e Montalegre. Foi enviado como sargento-mor engenheiro por tempo cidade com o território (reconsiderando aqui a importância deste tanto virtual quanto no
de seis anos. Findo este tempo teve ordem de transferência para o Rio de Janeiro, como contexto do i maginário da região) caracteriza-se, na Amazónia, por uma situação de polari­
sargento-mor engenheiro ad honorem, com a incumbência também expressa de dar aula zação específica que define, embora dentro de um campo ideológico comum, abordagens
naquela capitania. Não deve no entanto ter podido seguir, pois a sua permanência no Pará diferentes para um e outro espaço.
comprova-se até pelo menos 1 727 1261. Do trabalho de José Velho de Azevedo no Pará dão Por definição conceptual, a formação de Belém assumiu o contexto de uma típica
prova alguns desenhos das fortificações de Belém e uma documentação do AHU que, certi­ "cidade-fortaleza" seiscentista, pensada em função de uma situação de defesa e ataque e
ficando as suas qualidades profissionais, atesta a sua partici pação nas obras da cadeia da traçada sobre um sítio eleito e circunscrito por alguns limites naturais aproveitados como
cidade <211. Uma carta do governador João da Maia Gama refere-se também a uma planta da defesa (o rio, a baía e o paul do Piry). No entanto, e em aparente contradição com o
cidade de Belém feita por este engenheiro, a qual infelizmente não encontrámos 1"i . conceito anterior, a mesma cidade assume, na sua relação com o seu espaço maior envol­
Já na primeira metade do século XVIII, aparecem trabalhando no Estado: Sebastião vente, a postura de uma "cidade-território", que possui ampla dotação de terras sob a
Pereira, que fora discípulo de Domingos Vieira na Aula do Reino por nove anos e que foi alçada da sua jurisdição, o que sintetizaria uma estrutura mais aberta da expansão do núcleo
nomeado para o Maranhão como sargento-mor engenheiro od honorem, em 1 7 1 8; e urbano, sem solução de continu idade para com o território.
Alexandre dos Reis, que fora provido ao posto de ajudante engenheiro pelo governador Com efeito, a resolução deste conflito aparente dá-se na medida em que ambos os
Bernardo Pereira de Berredo e foi confirmado pelo rei no mesmo posto em 1 7 2 1 <29i, Do conceitos actuam na definição da cidade e do território, mas conjugam-se em níveis
desenho de Alexandre dos Reis encontra-se no AHU uma planta de igreja a ser feita na vila distintos. A idealização do urbano no contexto da cidade-fortaleza é aceite enquanto
de Nossa Senhora do Rosário do rio ltapicuru, datada de 1 724 1301 . método de i mplantação física da cidade e funciona como símbolo de uma apropriação
Entretanto, a figura mais significativa da engenharia militar, no Estado, na primeira hierarquizada do território, situando no urbano em si, fechado e circunscrito, física e ideo­
metade do século XVIII, é a do sargento-mor Carlos Varjão Rolim que serviu no Pará, entre logicamente, o "centro" do poder. A idealização da cidade-território liga-se ao método de
1 727 e 1 755. Uma vasta documentação do AHU refere-se ao seu trabalho e à importância colonização, com a distribuição de grandes lotes aos colonos e o funcionamento do sistema
dada à sua opinião nos vários domínios da sua competência. A sua carta diz que servira na administrativo que estende a jurisdição dos funcionários a largas áreas. Funciona também
comarca de Santarém antes de ir para o Pará, onde actuava também como "professor de enquanto símbolo da mesma hierarquia do espaço, mas desta feita definindo a força do
engenheiro" e onde se exercitara por quase três anos "em tirar planta e configuração destas "centro" em função da amplitude do seu território.
cidades para a carta thopografica que dellas se mandou fazer" r311 . A cidade aparece, assim, como uma espécie de cabeça, coroada com seus baluartes,
Da sua actuação na Amazónia ressalta-se uma série de relatórios, vistorias e obras nas do território conqu istado. E este, por sua vez, apresenta-se como o largo corpo demons­
fortificações do Estado, importantes pareceres sobre a construção do Boqueirão, em São Luís, trativo da grandeza do domínio da cidade, ou seja, do colonizador.
intervenções e pareceres na obra do palá�io episcopal, em Belém, várias plantas e desenhos de Mas apesar desse quadro simbólico, da relação entre a cidade e o território, a reali ­
fortificações e inclusive uma curiosa ideia que teve para desumidificar o ar, referida em carta do dade d a colonização fa z intervir uma nova série de dados que, sem alterar a estrutura ideo­
governador ao rei, possivelmente com pouco crédito da sua eficiência r121 . lógica e simbólica, acrescenta uma noção de dicotomia entre o espaço urbano em si e o
A sequência ininterrupta no fornecimento de profissionais, aliada à clareza da território. A cidade, para tal fadada, concretizará a noção da civilização, inerente à postura
vontade régia, expressa na carta que determina a implantação da "aula", dão provas sufi- do colonizador que com ela se identifica e nela se faz identificar. Enquanto sobre o terri-
90 91
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

tório, apesar de supostamente "conquistado", recairá o estigma do selvagem, seu virtual pretendida posse sobre o território. O poder especificamente sobre o índio assumiu-se, na
possuidor. Tal dicotomia surge na medida em que a "conquista" pretendida pelo coloni­ mentalidade do colonizador, como a única possibilidade de poder real sobre o território,
zador é feita em primeira instância, não em função do indígena, que de facto ocupa o terri­ sedimentando ainda mais a noção de escravatura e exploração do trabalho indígena, que
tório, mas em função de outros possíveis colonizadores. sustentava a estrutura económica da colónia. No contexto desta mesma disputa de poder,
Jogando na mesma esfera de poder que o seu, Portugal investiu na conquista do deslocada já do domínio da terra para o domínio das gentes, situam-se as tensões entre os
território amazónico estabelecendo antes a representação do domínio que o domínio em colonos e os missionários.
si. A preocupação das definições dos limites fronteiriços e a contenção dos avanços dos Distribuídos geograficamente no território, dividido à maneira de grandes feudos,
colonizadores vizinhos foi primordiar, assim como o controlo das entradas fluviais (vide a actuaram na Amazónia: Carmelitas, Franciscanos da Ordem de S. Francisco da Província de
situação específica de Belém), precavendo também os invasores vindos de mais longe. Em Lisboa, Mercedários, Jesuítas, Franciscanos da Província da Piedade e outros franciscanos,
paralelo seguiram as disputas com o gentio. No entanto, ao ficar definido o contorno do denominados Antoninhos da Conceição da Beira e Minho. Não caberá aqui discutir o meri­
território, diante das outras potências estrangeiras, este foi dado como conquistado, mesmo tório trabalho das missões no contexto da colonização da Amazónia, mas talvez apenas
que de facto não o tenha sido aos seus reais possuidores, os índios. As expedições reali­ apontar, num esboço necessariamente incompleto, o cerne da questão que opôs sistemati­
zadas, por todo o século XVII, na Amazónia e as disputas com holandeses, ingleses e fran­ camente missionários a colonos e via de regra à própria administração colonial. Tal d isputa
ceses, além da construção de fortificações, dão o tom dessa noção de conquista ideológica. marcou o quadro social da região com grandes tensões que, permanecendo até ao século
Mas ela fica exemplarmente sintetizada no Auto da Posse, produzido pela expedição de XVI II, ainda farão parte do contexto da reforma de Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
Pedro Teixeira, ao alcançar o limite de Quito e a entrada do Rio Amazonas, em 1 639. A encargo dos missionários deixara-se a efectiva colonização do interior, aos quais,
a pár da conversão dos índios à fé cristã, se lhes pedia, em última análise, que domassem os
"Auto de Posse: - Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1 639, aos "selvagens" habitantes da terra, que eram ansiosamente esperados pelos colonos para os
1 6 dias do mes de Agosto, defronte das bocainas do Rio do Oiro, estando ali Pedro escravizar. As missões não descuraram de modo algum a tarefa colonizadora que lhes foi
Teixeira, capitão-mor de Quito e Rio das Amazonas, . . . declarou que elle trazia ordem do imposta, investindo inclusive no cultivo da terra, realizado pelos índios, revertendo tanto
Governador do Estado do Maranhão, conforme o regimento que tinha o dito governador para os fundos missionários (de que tanto foram acusados), como em proveito dos próprios
de Sua Magestade, para nesse descobrimento escolher um sítio que melhor lhe parecesse índios. Do mesmo modo construíram aldeamentos e realizaram a conversão desejada de
para nelle se fundar uma povoação; e porquanto aquelle em que de presente estavão lhe boa parte da população nativa. Negavam-se, entretanto, a cumprir a tarefa de fornecedores
parecia conveniente, . . . , o que visto pelo pello capitão-mor, em nome de EI Rey Felipe IV de escravos, alegando a liberdade dos índios, com o que passaram a ter de suportar as
nosso Senhor, tomou posse pela coroa de Portugal, do dito sítio e mais terras, rios navega­ acusações dos colonos que os indigitavam como sonegadores da mão-de-obra por eles
ções e comércios, tomando terra nas mãos, lançando-as ao ar e dizendo em altas vozes: - esperada, em função de a quererem utilizar apenas em proveito particular das missões.
Que tomava posse destas terras e do sítio em nome de el Rey Filipe IV nosso Senhor, pela A questão agravava-se por caber à Junta das Missões a selecção e distribuição dos índios
Coroa de Portugal. Se havia quem à dita posse contradissesse ou tivesse embargos que lhe para os colonos, renovando estes as acusações de que aqueles seleccionavam para si os
por, ahi estava o escrivão da Jornada e descobrimento que lhos receberia; porquanto ali mais fortes e deixavam-lhes as mulheres e os velhos.
vinham religiosos da Companhia de Jesus por ordem da Real Audiencia de Q uito, e porque Este esboço resume a principal problemática do processo colonizador da Amazónia
eram terras remotas e povoadas de muytos índios, não houve por elles e nem por outrem envolto no dilema da efectiva colonização - enquanto processo civilizatório - versus
quem lhe contradissesse a dita posse: pelo q ue eu escrivão tomei terra nas mãos e dei mão a simples exploração da região. As atitudes nesse sentido são imputadas a todos os inter­
do capitão e em nome de el Rey Felippe IV nosso Senhor, o houve por metido e investido venientes no processo: à Coroa, aos colonos e à Igreja. Os índios, como se viu, mais
na dita posse, pela coroa de Portugal, do sítio, terras, navegações e comércios refe­ que a própria terra, eram a base do sistema produtivo, pois sem eles os colonos não culti­
ridos . . . " (311• vavam nem recolhiam as drogas do sertão, a Coroa não construía e as missões não pro­
duziam.
Foram vicissitudes desta conquista de aparências que polarizaram a relação entre a Grande parte da actividade dos colonos destinava-se, ao invés do cultivo da terra, a
cidade e o território, inclusive nas suas relações sociais. O núcleo u rbano autodefinido expedições de "resgate" de índios da floresta. O sistema legal vigente permitia o cativeiro
enquanto sede do poder reclamava o domínio sobre o território, no qual pressupunha, que, embora enquadrado sob determinadas restrições, dava azo às mais variadas possibili­
como dado implícito, o domínio do habitante natural. Este, obviamente, negava-se a tal dades de burla. Uma generalizada penúria completa o dramático quadro da situação socio­
sujeição implícita e estabelecia resistência, o que concretamente acabava por denegar a económica da região. O pagamento dos "filhos da folha" - os funcionários do rei - era
Notas
92
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

( 1 ) Ver para tal matéria a opinião de José Sebastião (20) AHU, cartografia manuscrita, Maranhão 828-
feito em géneros: peixe e alimentos ou cacau e outras especiarias. Além disso, grassavam
da Silva Dias. Os Descobrimentos e o Problemático -829 e documentação anexa, 1 5 de Março de 1 692.
várias epidemias, não controladas, que dizimavam sazonalmente a população. Cultural do Século XVI, Editorial Presença, Lisboa, (2 1 ) Idem.
Será este o quadro que vai encontrar Francisco Xavier de Mendonça Furtado e será 1 9 88, p, 1 44, (22) Idem.
sobre ele que pretenderá marcar a sua actuação, numa apregoada "reforma", intencional­ (2) Idem, ibidem, p. 1 45 .
(23) AHU, Pará Caixa 825 ( 1 1 O), T reslados d e
( 3 ) Citado p o r José Sebastião da Silva Dias, op. cit., cartas régias, 1 5 de Janeiro de 1 699.
mente procurando atingi-lo em todas as suas vertentes: índios, m1ss1onános, economia, p. 1 47.
(24) Souza Viterbo, Dicionário . . , vai. li, p. 245.
educação, cidades e território. (4) V. Madalena da Câmara Fialho, A miragem do
(25) Idem, ibidem.
Oiro no capitania do norte do Brasil, in "Congr·esso do
(26) Idem, vai. Ili, p. 1 73 .
M u ndo Português", vai. X, Lisboa, 1 940, pp. 85-95.
(27) A H U , Pará Caixa 7 2 9 , 23/7/ 1 7 1 1 .
(5) Transcrito in Augusto Meira Filho, Evolução
Histórico de Belém do Grão Porá, Fundação e História, (28) AHU, Pará Caixa 730A, 30/8/ 1 727.
1 volume, I .' Edição, Belém, 1 976, p. 27. (29) Souza Viterbo, Expedições . . . , vai. 1, p. 46 e
(6) Referido in Alfredo Pinheiro Marques. O Papel vai. l i , p. 70.
dos Cartógrafos e dos Engenheiros Militares no Fixação (30) AHU, cartografia manuscrita, Maranhão 833.
dos Limites do Brasil, Portugal no Mundo, vai 5, (3 1 ) Souza Viterbo, Dicionário . . . , vol. Ili, p. 1 1 5 .
Publicações Alfa, Lisboa, 1 9 89, p. 1 8 1 . (32) AHU, Pará Caixa 730A, 4/ 1 1 / 1 728. Ver mais
(7) Transcrito in Augusto Me ira Filho, op. crt., p. 28. informações sobre os engenheiros que actuaram na
" para melhor poder conseguir a conqu ista, e Amazónia entre os séculos XVII e XVI I I no apêndice
Descobrimento das terras e Rio Maranhão, que vos deste trabalho.
tenho comettido conforme as minhas instruções; a
(3 3) Transcrito in Augusto Meira Filho, op. cit.,
qual he de tanta importancia ao meu serviço como
p. 260. A expedição de Pedro Teixeira é a mais
se deixa ver; e se animarem todos a ir servir nella
i mportante das expedições seiscentistas da
com mais vontade, sabendo, que mandarei ter conta
Amazónia, pois estabelece um marco da expansão
com o serviço que me fizerem: Hey por bem, e me
portuguesa, assumida desde o início pela Coroa,
praz, que signifiqueis por esta minha parte, que me
ainda que no período submissa à Espanha. O Auto
haverey por bem servido de todas as pessoas, que
de Posse será retomado pela diplomacia portuguesa
forem nesta jornada, para lhes fazer rnerçes, e
do Tratado de Madrid, como confi rmação da
honras, que conforme seus serviços e qualidades
ocupação portuguesa da região, que de facto
merecerem; e vos mando e a todos os meus m inis­
permaneceu praticamente i n explorada até à
tros, a quem pertencer que assim o cum prais e
chegada de Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
façais cumprir. Lisboa, 8 de Outubro de 1 6 1 2. REY".
(8) Idem nota 7.
(9) Citado in Augusto Meira Filho, op. cit., p. 43.
( 1 O) Anais do Biblioteca Nocional, Rio de Janeiro,
1 93 5 , vai. 26, p. 235.
( 1 1 ) Gaspar Barlaeus, Histórias dos feitos recente­
mente praticados no Brasil ( 1 64 7), Ed. Fundação de
Cultura do Recife, Recife, 1 9 80.
( 1 2) Simão Estácio da Si lveira, Relação Sumário dos
Cousas do Maranhão Dirigido aos pobres deste Reyno
de Portugal ( 1 624), Lisboa, Imprensa Nacional, 1 9 1 1 ,
p, 5 .
( 1 3 ) AHU, Pará Caixa 1, d o e 5 , 26/5/ 1 6 1 8
( 1 4) AHU, Pará Caixa / , doe 9, 27/ 1 / 1 6 1 8.
( 1 5) AHU, Pará Caixa 1, doe 1 1 , 1 5/9/ l 6 1 7.
( 1 6) Transcrito in Augusto Meira Filho, op. cit., p. 207.
( 1 7) Idem, ibidem, p. 409.
( 1 8) António Ladislau Monteiro Baena, Compêndio
dos Eras do Província do Porá, Belém, 1 9 69, p. 1 40.
( 1 9) Souza Viterbo, Dicionário Histórico . . . , vai. 1 1 ,
p. 277.
li
A "Reforma Pombalina" na Amazónia

A Amazónia da Primeira Metade do Século XVI I I

Ao findar o século XVI I, a ocupação d a vastíssima capitania d o Grão-Pará sintetizava­


-se nos seguintes números: uma cidade, Belém; quatro vilas, Vila Souza do Caeté ( 1 63 4), Vila
Viçosa de Santa Cruz de Cametá ( 1 637), Gurupá ( 1 63 7) e Nossa Senhora de Nazaré da
Vigia ( 1 69 3 ) : oito fortificações, três em Belém, forte do Presépio ou de Santo Cristo ( 1 6 1 6),
fortim de São Pedro Nolasco ( 1 665), fortaleza de Nossa Senhora das Neves da Barra
( 1 685), e cinco fora da cidade, o forte do Gurupá ( 1 623), o forte do Desterro ( 1 63 8) , o
forte de Araguari ( 1 660), a fortaleza de São José do Rio Negro ( 1 669) e o forte dos Pauxis
( 1 698): mais cerca · de 70 estabelecimentos missionários entre aldeamentos de índios
descidos e fazendas das missões.
Com excepção da Vila da Vigia, que teve origem num posto de controlo da entrada
de embarcações na foz do rio, as outras três vilas fundadas, no século XVI I, no Pará,
nasceram de intervenções dos seus capitães donatários.
O termo capitania era utilizado, no século XVII, num contexto um tanto diverso da
instituição joanina das grandes capitanias hereditárias, embora tenha sido retirada destas a
essência do seu sentido. Por um lado, a expressão passou a ser o designativo de uma divisão
territorial e admin istrativa da colónia. A capitania do Grão-Pará era uma subdivisão do
grande Estado do Maranhão e Grão-Pará que, desde 1 626, tinha o seu governo directa­
mente ligado à metrópole, completamente independente do outro Estado, o do Brasil " 1•
A capitania do Grão-Pará abrangia toda a extensão conq uistada até à entrada do
Amazonas. Era administrada por um capitão-mor, cuja escolha dependia da Coroa, e que
estava subordinado ao governador do Estado. Do mesmo modo o próprio Maranhão cons­
tituía outra capitania, abrangendo as áreas actuais do Piauí e Ceará, que também tinha um
capitão-mor subordinado ao governador. A capital do Estado e da capitania do Maranhão
era São Luís, enquanto Belém era cabeça apenas do Grão-Pará.
Neste sentido, continuará a ser usada a designação de capitania durante todo o
século XVIII, altura qm que será criada mais uma dentro do Estado, a do Rio Negro, num
passo deveras significativo da administração pombalina, como adiante veremos. Somente no
início do século XIX, quando todo o Estado passou a integrar o Império do Brasil, usará este
a designação de províncias para as suas divisões regionais.
No entanto, o mesmo tenmo servia também para designar as doações feitas a parti­
culares que, seguindo os moldes da instituição joanina, foram efectivadas no Pará. A primeira
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As Cidades d a Amazónia n o Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades''

capitania fora concedida pelo rei, em 1622, a Gaspar de Sousa, governador do Brasil entre as agoas, madei1-as e lenhas que se incluíram na dita datta . . . " 151. A medida do exagero da
1613 e 1 616, como recompensa pelos serviços prestados na conquista do Maranhão. dotação te1-ritorial concedida pode ser avaliada seguindo o raciocínio critico sob1-e tais
Em 1 624, autorizou-se o governador do Estado a criar capitanias particulares dentro doações, desenvolvido, já no final do século XVIII, pelo governador Francisco de Sousa
do seu território. A concessão inicial foi feita pelo primeiro governador Francisco Coelho de Coutinho:
Carvalho ao seu próprio filho Feliciano Coelho, em 1627. Deu-lhe a capitania do Caeté, mas
foi obrigado a retirar- lha, em 163 3 , por ter sido a mesma justamente a escolhida por Álvaro Meia legoa quadrada vem a ser um espaço de dois milhoens, duzentas, e cin­
de Sousa, filho de Gaspar de Sousa. É então criada pelo governador outra capitania, a do coenta mil braças quadradas. Hum Lav1-ador que tenha pouco mais, ou menos Cem
Camutá, que é doada novamente a seL:t filho em troca da primeira, passada a Álvaro de Sousa. Escravos de toda a idade, e sexo, de que venha a apurar trinta de cada sexo capazes de
Em 1637, foi obtida a confinmação régia da doação da capitania do Camutá a Feliciano Coelho t1-abalho, o mais que poderá extende1- os seus rossados de modo que os aproveite, e que
e, no mesmo ano, recebeu da Coroa Bento Maciel Parente a capitania do Cabo do Norte 121 . lhe possa dar a tempo o precizo beneficio, será talvez duzentas braças de frente com igual
Foram ainda feitas doações depois a António de Sousa Macedo, da capitania do Marajó, em de fundo segundo o que tenho podido alcançar a este respeito, e ouvido das pessoas de
1655, e a Gaspar de Sousa Freitas a capitania do Xingu, em 1681. Além dessas ficara a Coroa mais confiança na sua lntelligencia, que ainda duvidão que a tanto possão chegar, mas por
para si com a capitania do Gurupá, que antes fora concedida a Bento Maciel Parente. fazer seguro o cálculo imagine-se o dobro, e sejam em luga1- de quarente mil braças
Cabe uma vez mais ressaltar que a natureza da instituição da capitania no Brasil em quadradas oitenta mil as que um Lav1-ador possa cultivar annualmente: acha-se que dividindo
momento algum nega a soberania régia sobre o território. E aqui novamente a Coroa esta­ aquella a1-ea de dois milhoens, duzentas e cincoenta mil braças quadradas por esta de oitenta
belece com os donatários a mesma relação hierárquica, ainda que com a interposição do mil, o quociente vinte e oito indica que o Lavrado1- das referidas circunstancias em meia
governador como concedente autorizado. No entanto, é significativo que tal sistema tenha legoa de terra tera o que lhe baste para rossar e trabalhar por vinte e oito anos . . . " 161.
sido novamente usado na colonização da Amazónia, posto que estabelece uma medida do
redimensionamento que a conquista do Norte obriga à metrópole, em função da amplitude Sousa Coutinho segue depois o raciocínio expondo que, antes de doze anos
do seu espaço. É certo que as doações foram feitas, em tese, como prémios ao mérito de passados, voltavam as terras a recobri1-em-se de mato e permitiam outros roçados, mesmo
desbravadores da região, à semelhança inclusive do sistema inicial de divisão da costa brasi­ mantendo a técnica tradicional da região de se queimai- as matas para fertilizar o solo. A
leira doada à elite ligada à conquista do Oriente. Mas, outra vez, é visível a intenção régia dotação, portanto, pe1-mitia indefinidamente o uso da te1-ra e mais ainda se fossem benefi­
de estabelecer a colonização de um território vasto utilizando uma estrutura de poder, que ciadas. Para concluir, avança que "basta contemplar, que na confinante Colonia Holandeza
"faz uso dos particulares como se funcionários régios fossem" PI. de Surinam, onde ha tantos e tão poderozos colonos em estabelecimentos importantes e
A outra escala, a própria concessão de datas de sesmaria pode também ser enca­ em numero de Esc1-avos, a maior Sesmaria ou Concessão como chamão he de quinhentos
rada sob o mesmo prisma. O modelo do texto da carta de doação determina como o dono acres de terra que, . . . , vem a sei- a terça parte da area da meia legoa quadrada, sem que
deve proceder e estabelece um prazo para o cultivo da terra doada, caso contrário esta isto seja por que lhe faltem terras, mas porque não julgam precizas mais" 1'1•
seria considerada devoluta. Do mesmo modo, faz-se a ressalva das serventias públicas indi­ Considerando que tais observações fo1-am feitas para um te1-reno de meia légua
cando a necessidade de deixar espaço para caminhos, fontes e portos 1'1. A concessão era quadrada, imagine-se a desproporção da doação de Castel Branco, que perfazia 100 léguas
encargo do governador do Estado e, como as próprias capitanias, estas necessitavam de ser quadradas 1ª11
confirmadas pela Coroa nos prazos estabelecidos no documento da doação. Por várias vezes a Coroa tentou estabelecer limites controladores das doações. Em
Apesar de todo o controlo que a metrópole fazia da posse do seu território colo­ 1 697, advertia o rei ao governador António de Albuquerque: " . . . E pareceome dizervos que
nial, isso não impediu que fossem cometidos uma série de abusos pelos intermediários do na datta destas terras deveis seguir o que se vos esta ordenado, e não estender a vossa Juris­
poder. O principal deles consistiu na prodigalidade com que as doações foram feitas entre dição às que vos não tocai-em, e que as que de1-des de Sesmaria, não excedendo cada
os eleitos dos governantes, ou pessoas a eles próximas. Via de regra com exageros Sesmaria de tres legoas em comprido, e huma de largo, sejam a pessoas que as possam
evidentes na extensão da terra concedida, que ficavam mais ampliadas em função de demar­ cultivai- e tratar do seu Beneficio, com a clausula de que não as tendo povoado dentro do
cações pouco rígidas. termo da Ley que são obrigados e cultivalas afaçais executar tit-andolhas e dandoas a quem
O primeiro exemplo pode ser a doação logo feita por Caldeira Castel Branco a sua faça, o que eu ordeno em minhas Reaes ordens." 191.
mulher Maria Cabral, no ano seguinte da fundação da cidade de Belém. A mulher e os suces­ No final do mesmo ano, outra carta trata ainda do mesmo assunto: " . Por me ser
sores do fundador foram agraciados com "dez léguas de terra pelo rio Pará acima . . . de prezente pelos requerimentos que me fizeram algumas pessoas neste Reino para lhes
maneira que tenha dez legoas cada um dos quatro lados da dita datta e sesmaria com todas confirmai- dattas de terra de sesmarias, concedidas em meu nome pellos Governadores
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deste Estado, o excesso com que as concedem na quantidade de Léguas, e ainda sem sitio (comprado pelos religiosos, onde tinham molinete e produziam açúcar), uma fazenda em
determinado impossibilitando a cultura das ditas terras com semelhantes dattas. Me pareceo lgarapé que lhes foi deixada em herança, com escravos, outra fazenda deixada por Maria
mandarvos advertir, que somente concedais as Sesmarias de três Léguas em comprido e Teixeira e outra ainda, em Banhuema, também dada aos missionários em herança, com
huma de largo, . . . , porque mais he impedir que outros povoem, o que os que podem e cerca de 40 escravos 1 1 2l .
alcanção não cultivão." ( lo). O rol das terras e bens dos jesuítas chegou a sei- bem mais vasto que esta lista dos
r
Apesar das constantes advertências, os abusos e exageros continuaram. A posse do f ades do Carmo. No inventário que se fez dos seus bens após a expulsão arrolaram-se nada
território era entendida em dimensões latifundiárias, mas a sua exploração pouco uso efec­ menos que 25 fazendas de gado, 3 engenhos e I olaria. No entanto, a efectiva diferença de
tivo fazia da terra. Esta muitas vezes apenas servia para a recolha das drogas ou da própria riqueza e propriedade dos missionários e dos colonos jamais se poderia medir em termos
madeira. No caso da exploração da madeira, os agraciados com as datas de sesmaria utili­ de posses de terras. Estas eram tantas, e tão prodigamente distribuídas, e na mesma inten­
zavam em seu proveito, inclusive, a própria cláusula da devolução obrigatória caso a terra sidade não trabalhadas, que embora fossem grandes latifúndios, não era a posse de terras
não fosse cultivada. Ou seja, exploravam as madeiras de lei do pedaço que lhes era conce­ que se traduzia em riqueza e sim a de gente, ou seja, de escravos. Os índios primeiro e os
dido e depois que estas esgotavam nas suas terras devolviam-nas alegando infertilidade do negros depois.
solo e voltavam a recorrer a outras, das quais pretendiam apenas retirar a madeira. Nesta conjuntura as missões eram virtualmente "ricas" em comparação com a popu­
Quando a terra chegava a ser trabalhada era ou para o cultivo de cana e conse­ lação restante. A sua organização, à maneira de repúblicas, como se 1~eferiu o padre António
quente produção de açúcar em alguns engenhos, ou para efectuar os roçados de mandioca Vieira, mantinha-as auto-suficientes e autónomas, estabelecendo inclusive um regime
e produzi1- a farinha, que era a base da alimentação da região. Além de algumas poucas competitivo em termos económicos entre elas próprias. As missões detinham uma soma de
culturas de algodão e tabaco, a maioria dos outros géneros produzidos na região eram poder social e económico bastante superior à dos estabelecimentos dos colonos, que eter­
apenas recolhidos na floresta nativa. É o caso do cacau, o cravo, a salsa e outras ditas namente reivindicavam a falta de braços nas suas lavouras.
"drogas do sertão". Desta mais que incipiente economia vivia todo o Estado, com os Alegavam estes a "injustiça" da divisão de índios determinada pelos missionários,
próprios géneros servindo como moeda, especialmente o cacau. Da natureza da economia que, de facto, além de cercear o acesso da população a estes, podia também escolher os
também fazia parte o drama da escravatura indígena, posto serem eles a mão-de-obra de melhores entre os inevitavelmente destinados ao trabalho escravo. A questão da escrava­
tal sistema extractivista. tura do indígena situa-se pois no cerne de toda a problemática de colonização da Amazónia
Para completar o quadro geral da estrutura fundiária da região até à primeira metade e define tanto o contexto socioeconómico como o quadro ideológico da apropriação do
do século XVIII, há que citar, além das capitanias e sesmarias, as terras administradas pelas território, como antes vimos, ampliando a noção do poder conquistador do "domínio das
missões. A vasta extensão do rio Amazonas tinha sido "dividida" para o trabalho missionário. terras para o domínio das gentes" 1 13l.
Aos padres da Companhia tocava "tudo o que fica para o sul do Rio das Amazonas", os A riqueza das missões é também mensurável num outro plano, o da conquista "espi­
franciscanos de Santo António foram encarregados da parte que ficava ao norte do mesmo ritual" dos povos, de grande importância no sentido de persuasão e aliciamento que deter­
rio e o Cabo do Norte. Os franciscanos da Piedade foram contemplados com o hospício minava. Entre as principais batalhas ideológicas da intervenção pombalina na Amazónia vai
do Gurupá, devendo missionar os seus arredores e todas as terras para cima da aldeia de estar a difícil questão de conquistar a credibilidade do gentio, que desconfiava totalmente
Urubuquará até ao rio de Gueribí, compreendendo, portanto, os rios do Xingu e das dos colonos. Para tal desconfiança bastaria a sua própria experiência, mas nela pesava
Trombetas, e finalmente aos Carmelitas foram confiados os territórios desde o rio Gueberi também a influência dos missionários.
até à fronteira com Castela, ou seja, os rios Urubu e Negro e o próprio Solimões 1"l . A reivindicação de uma diocese independente pa1~a o Pará já vinha sendo feita pelos
No final da primeira metade do século XVIII, os jesuítas administravam 1 9 aldea­ colonos desde o século XVII, que pretendiam com isto conquistar uma maior autonomia
mentos, os franciscanos de Santo António 9, os franciscanos da Piedade outros 9, os da em relação às missões e o seu poder sobre os índios. A primeira tentativa, efectuada ainda
Conceição da Beira 7, os frades mercedários 2 e os carmelitas 1 6, num total de 62 aldea­ no reinado de D. Pedro li, em 1 684, foi frustrada pelo bispo do Maranhão, que tomou
mentos distribuídos desde a foz até à entrada do rio Napo no Solimões/Amazonas e ao posição contrária à reivindicação paraense . Em 1 7 1 9, foi finalmente conseguida a separação
longo dos vários afluentes deste. e estabeleceu-se, por bula do Papa Clemente XI, a diocese do Pará, com Bispado sufragâneo
Além das missões propriamente ditas, estes ainda possuíam fazendas e outras posses ao Patriarcado de Lisboa. O primeiro bispo, um carmelita, Frei Bartolomeu do Pilar, foi
que lhes eram deixadas como herança, além das terras que tomavam para seu uso, utili­ sagrado em Lisboa, em 1 720, e aportou no Pará para iniciar as suas fu nções eclesiásticas, em
zando o trabalho indígena para as explorar. Por exemplo, em 1 706, a Ordem do Carmo 1 724, onde ficou até à sua morte, em 1 73 3 .
possuía na região além dos três conventos (Belém, São Luís e Vigia) um sítio no rio Guamá A s relações entre o Bispado e a s missões nem sempre foram fáceis. Frei Bartolomeu
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do Pilar e depois o seu sucessor Frei Guilherme de São José entraram várias vezes em "posse" da Coroa portuguesa na entrada do rio Napo no Solimões, separando-o do terri­
conflito com os missionários, especialmente os jesuítas. Em 1 734, um grande inquérito, tório espanhol de Quito. A bandeira de Raposo Tavares ( 1 647- 1 65 1 ), marcando a
conduzido "in loco" pelo Bispado, averiguava denúncias feitas aos missionários de não ensi­ ocupação portuguesa, a leste do rio Mamoré, definiu a fronteira com a região da Bolívia e
narem a língua portuguesa, não permitirem as visitas paroquiais dos bispos, além de outras o trabalho missionário dos carmelitas no Rio Negro ( 1 695) estabeleceu, por sua vez, a fron­
acusações respeitantes à distribuição dos índios para os trabalhos. Os missionários saíram teira com as possessões castelhanas da Colômbia. Mas nenhum destes marcos tinha apoio
absolvidos do processo, mas em momento algum as tensões se dissiparam de todo. Assim legal, posto que o único texto regulador dos territórios coloniais na América continuava a
tinha sido desde sempre, com variações de tonalidade em função das posturas mais ou ser o velho Tratado de Tordesilhas, que tinha a sua linha divisória muito antes de qualquer
menos radicais tomadas pelos clérigos e os representantes do poder. destes pontos.
Em 1 66 1 , após uma série de contendas, os jesuítas já haviam sido expulsos do Estado A França, com intenções de expandir o seu território equinocial, contestou a posse
e com eles o padre António Vieira < ">. Voltaram em 1 663. Entre 1 667 e 1 678, novos inci­ po1iuguesa do Cabo do Norte, praticamente desde que se estabeleceu com mais segurança
dentes marcaram os governos de António de Albuquerque, Coelho de Carvalho, Pedro em Caiena, ao expulsar os ingleses e holandeses por volta de 1 676. Em 1 688, os franceses
Cézar de Menezes e lgnácio Coelho da Silva. Entre 1 707 e 1 7 1 8, no governo de Cristóvão chegaram a intimidar o capitão do forte de Araguari e, finalmente, em 1 697, conseguiram
da Costa Freire, houve um certo equilíbrio de forças, que logo foi rompido pelo seu conquistar as fortificações do Cumaú e do Paru, que logo depois foram retomadas para
sucessor Bernardo Pereira de Berredo ( 1 7 1 8- 1 722), que tomou atitudes radicais contra os Portugal.
missionários. João da Maia Gama ( 1 722- 1 728), ao contrário, foi defensor empenhado das Embora o Cabo do Norte (Macapá) estivesse novamente na posse física de Portugal,
missões e Alexandre de Sousa Freire ( 1 728- 1 732) procurou novamente o equilíbrio. Com os franceses insistiam na sua contestação e, num clima de negociações difíceis para os portu­
José da Serra ( 1 73 2- 1 736) de novo os ânimos se acirraram e o processo antes referido foi gueses, conseguiram que fosse assinado o Tratado Provisional de 1 700, que definia que o
instalado. E assim seguiram as tensões até à chegada de Francisco Xavier de Mendonça território ficasse neutro até 1 70 1 , prazo que as duas coroas teriam para apresentar argu­
Furtado, coadjuvado pelo terceiro bispo do Pará, Frei Miguel de Bulhões. mentação. Antes ainda de findar tal prazo, as circunstâncias da política europeia tinham levado
Se, como havíamos visto no início deste capítulo, o quadro regional, no final do Portugal a firmar um pacto de aliança com a França e a Espanha e a situação provisória do
século XVII, além dos estabelecimentos missionários, se resumia às quatro vilas e oito fortes Cabo do Norte foi dada como definitiva, mantendo o seu estatuto de território neutro.
citados, ao findar a primeira metade do século XVIII praticamente nada tinha mudado. Logo No início de 1 703, entretanto, novamente o confuso clima político europeu da
nos primeiros anos do bispado de Frei Bartolomeu do Pilar, em 1 727, Belém fora dividida sucessão espanhola voltou a colocar Portugal em posição contrária em relação a França,
em duas freguesias, a da Cidade e a da Campina. Em 1 725, sob a administração de João da desta vez aliado às potências marítimas da Grande Aliança (Inglaterra, Áustria e Holanda) e
Maia Gama, concluíram-se os trabalhos de uma estrada ligando São Luís a Belém, que desde a posse legal do Cabo do Norte voltou a ser requisitada por Portugal, que de facto nunca
há muito se tencionava finalizar. No mesmo contexto da construção da estrada, inaugurou­ tinha deixado o território.
-se, em 1 724, o correio entre o Pará e o Maranhão, desenvolvendo o núcleo da povoação Apenas em 1 7 1 3 a situação chegou a novo acordo, definido pelo Tratado de
de Ourém, que vai estar entre as primeiras a serem elevadas a vila já na segunda metade Utrecht, onde "para prevenir toda a ocasião de discórdia que poderia haver ent1-e os
do século. vassalos da Coroa de França e os da Coroa de Portugal, Sua Magestade Cristianíssima desi ­
No entanto, enquanto na conjuntura interna da capitania pouca coisa mudara, no sitirá para sempre, . . . de todo e qualquer direito e pretenção que pode ou poderá ter sobre
contexto externo a situação era diferente. as terrras do Cabo do Norte e situadas entre o Rio das Amazonas e o de Vicente Pinsão
(sic) sem reservar ou reter porção alguma das ditas terras, para que elas sejam possuídas
daqui em diante por Sua Magestade Portuguesa, . . . " <">.
Não obstante a clareza do texto e da declaração francesa da desistência dos pleitos
As Demarcações e o Novo Conceito de Território territoriais ao Cabo do Norte, estes não tardaram em apresentar novas reivindicações
propondo uma leitura diferente das marcas fronteiriças estabelecidas. Pretendiam que o rio
Oiapoque e o de Vicente Pinzon fossem dois, e não o mesmo, como realmente são, e assim
Durante o século XVII, tinham ficado definidas, em termos da ocupação "represen­ defendiam que a fronteira deveria estar cinquenta léguas abaixo de onde estava cabalmente
tativa" P 5> da Coroa portuguesa, praticamente todas as fronteiras da Amazónia. A doação da estabelecida, ficando estes com metade do território do dito Cabo do Norte, até ao rio
capitania do Cabo do Norte a Bento Maciel Parente ( 1 637) determinava os limites com as Araguari. Esta nova "leitura" do tratado, insistentemente repetida pelos franceses, voltou a
possessões francesas da Guiana. A expedição de Pedro Teixeira ( 1 639) deixara o marco da trazer o litígio para a fronteira do Norte, que assim permaneceria por quase dois séculos.
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Entre os portugueses e espanhóis a revisão de Tordesilhas seria de todos os modos jesuítas castelhanos estabelecidos a leste do rio Uruguai, em território que o tratado requi­
inevitável, e a situação chegou a um ponto de viragem quando os avanços portugueses sitava para Portugal.
sobre a Colónia do Sacramento, em 1 680, colocaram efectivamente em xeque o domínio Finalmente, convencido o rei espanhol, o Tratado de Madrid foi assinado, em 1 4 de
espanhol da região do rio da Prata. Imediatamente contestada pela Coroa vizinha, a posse Janeiro de 1 750, tendo ficado estabelecido que se deveriam realizar operações de demar­
portuguesa da Colónia foi, desde esta data até às resoluções finais do Tratado de Madrid, cação no próprio terreno, para clarificar de vez as l inhas estabelecidas no texto do Tratado.
em 1 750, o grande pomo de d iscórdia entre as nações e a virtual moeda de troca portu­ Ficavam as duas coroas com obrigação de nomearem as respectivas comissões para gerir os
guesa para a legalização de todos os outros territórios ocupados na América do Sul. trabalhos de demarcação a sul e a norte. As comissões portuguesas foram encabeçadas a
O Tratado de Madrid é uma dàs peças mais notáveis das relações l uso-espanholas e sul pelo capitão-general, governador do Rio de Janeiro, José Gomes da Costa Freire, e a
converteu-se numa negociação de justiça que merece o epíteto de salomónica, posto que, norte por Francisco Xavier de Mendonça Furtado, nomeado concomitantemente para
no fundo, ambas as coroas obtiveram o que mais lhes interessava: Espanha guardou para si capitão-general e governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão. Pela parte espanhola a
o domínio do rio da Prata, e acabou por recuperar a Colónia do Sacramento, que signifi­ sua comissão no norte deveria ser gerida por D. José de lturiaga e a sul coordenada pelo
cava uma sangria para as suas finanças caso tivesse permanecido em mãos estrangeiras (em Marquês de Vai de Lírios.
função do contrabando que permitia a sua posição no estuário); e Portugal pôde, embora Começadas as delimitações conjuntas a sul, levantou-se uma vez mais a difícil e deli­
devolvendo a Colónia a sul, prese1-var para si os territórios do actual estado brasileiro do cada questão do território das missões jesuítas. Na verdade, os espanhóis ao assinarem o
Rio Grande do Sul e confirmar perante o direito internacional as suas possessões conquis­ Tratado sabiam que estavam a conceder o que de facto não possuíam, ou seja, que lhes
tadas a noroeste e a norte, que perfazem hoje mais de 70% do território do Brasil. pertencia de direito mas que na prática não dominavam. Embora Madrid tivesse procurado
A marcha das negociações e a habilidade dos ministros portugueses d iante do rei a concordância geral dos jesuítas para passar os territórios das missões para o domínio
espanhol e seus ministros está magistralmente estudada e esclarecida no trabalho de Jaime português, e esta tivesse sido supostamente a orientação oficial dada aos padres locais, estes
Cortesão, "Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid" <">, para onde remetemos sobre não puderam, ou não quiseram, impedir a revolta dos índios, que enfrentaram em guerra
o essencial de tais questões, referindo-nos aqu i apenas sinteticamente aos resultados conse­ declarada as forças mil itares enviadas conjuntamente pelo governador de Buenos Aires e
guidos por tais homens. pelo capitão-general do Rio de Janeiro. Embora os índios não levassem a melhor nas bata­
A grande dificuldade das negociações terá sido defender diante dos espanhóis a legi­ lhas, a guerra era patente, e Gomes Freire de Andrada, que havia recebido instruções para
timidade dos avanços portugueses, que aqueles consideravam usurpação do seu território, não entregar a Colónia do Sacramento antes de receber os Sete Povos das Missões,
por significar a transposição do limite estabelecido em Tordesilhas, em 1 494. Mas a argu­ recusou-se recebê-los naquelas condições, e a troca acordada entre os dois territórios não
mentação portuguesa soube mostrar que a contrapartida dos 1 80 º meridianos para cada chegou a ser efectuada < 1 8l.
Coroa, estabelecidos por aquele tratado, se considerada a linha onde se a colocava, excluía Subsistindo um clima de desconfiança mútua, não se concretizaram de facto as deli­
da posse castelhana no Oriente as ilhas Filipinas e porventura também as ilhas Marianas. mitações previstas, nem a sul nem a sorte. No Sul, as guerras sucediam-se, da revolta guara­
Assim, a proposição dos avanços portugueses a ocidente ofereciam a contrapartida aos nítica ( 1 75 3 - 1 756) aos ataques espanhóis ao Rio Grande do Sul, iniciados no rescaldo da
respectivos avanços castelhanos a oriente. Guerra dos Sete Anos ( 1 75 6- 1 763) e continuados até 1 777. No Norte, quando finalmente
Após esta argumentação definitiva desenvolveram-se efectivamente as negociações, a comissão espanhola chegou à fronteira, em 1 759, já o governador se havia retirado. Neste
estabelecidas já no critério de uma e outra Coroa se compensarem das posses conquistadas clima foi celebrado, em 1 76 1 , novo acordo entre as duas coroas, o Tratado do Prado,
em território supostamente alheio, garantindo como argumento o "uti possidetis", ou seJa, suspendendo a vigência do acordo de 1 750.
o d ireito às conquistas efectuadas no próprio terreno. A posse da Amazónia e do territó1·io Continuadas as negociações, a situação das fronteiras dos dois impérios na América
de Mato Grosso é neste contexto apresentada pelos portugueses como mais que legítima, veio finalmente a ser definida pelo Tratado de Santo Ildefonso, assinado em 1 777. Os
alegando as expedições exploradoras: o marco de Pedro Teixeira e os limites estabelecidos termos deste Tratado eram sensivelmente os mesmos no que diz respeito aos limites a
por Raposo Tavares, ainda no século XVII. norte e a oeste, mas a sul, a conílituosa situação dos Sete Povos das Missões acabou por
No Sul, a aceitação da devolução da Colónia do Sacramento, na verdade indefen­ ser definida a favor de Espanha, que ficava na posse daquelas terras e da Colónia do
sável pelos portugueses e indispensável aos castelhanos, funcionava como outro argumento Sacramento. A situação voltou a mudar apenas em 1 80 1 , quando as conquistas luso-brasi­
de "justiça" da proposta portuguesa, que em contrapartida pretendia a consolidação do seu leiras voltaram a tomar posse do território das missões, estabelecendo o actual Estado do
território mais meridional, estabelecendo a linha d ivisória no rio Uruguai. Aqui encontrava­ Rio Grande do Sul e concretizando, meio século depois, a letra do acordo idealizado por
-se um dos pontos mais problemáticos das negociações, em função das missões guaranis dos Alexandre de Gusmão.
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A circunstância de a disputa entre as nações ibéricas se ter t1-ansferido para um questão ideológica, foi o surgimento de um novo conceito. Finalmente, confirmava-se a
contexto que envolvia a posse de te1Tas que estas alegavam lhes pertencer, mas que na posse da te1-ra, que não mais se baseasse numa suposição de domínio político mas que se
verdade não tinham domínio sobre elas, terá cont1-ibuído para que a noção da conquista do concretizasse de facto pelo poder de intervenção sobre o território. E era evidente que tal
ten-itó1-io colonial tivesse definitivamente um outro ângulo. A se1-iedade da questão com os poder precisava estar fundamentado em duas vertentes que se mostravam incontornáveis:
jesuítas no territó1-io dos Sete Povos mostrou que o domínio "rep1-esentativo" podia não ser o conhecimento concreto da região e a aliança com os seus habitantes naturais.
concretamente eficiente, caso os representantes da nação pudessem estabelecer um poder A necessidade do conhecimento geográfico da colónia ficara demonstrada cabal­
autónomo, como se demonstrava com os inacianos. mente em todo o processo das negociações do Tratado de Madrid. O peso dos argumentos
A evidência indicava que a posse 1-eal da terra pelos jesuítas era mais eficiente que a portugueses terá sido elevado à máxima potência em função da sapientíssima utilização, feita
alegada pelas coroas. Mesmo quando não se lhes dava o direito de dispor da terra em por Alexandre de Gusmão, de levantamentos astronómicos que encomendara a uma
te1-mos pat1-imoniais concretos, eles dispunham do poder de aliciamento sobre os índios, o missão de padres cartógrafos e matemáticos estabelecida no Rio de Janeiro, desde 1730 até
que, de facto, lhes garantia o domínio do território. O eclodir da guen-a guaranítica bem o 1748. A partir da posse e conhecimento de tais estudos, pode Gusmão impor a Castela a
demonstrara. aceitação do mapa, dito das Cortes, que serviu de base às negociações, em que a manipu­
É no contexto desta visão que se vai nortear a acção pombalina, quando este assume lação dos dados a favor de Portugal é evidente, minimizando as perdas espanholas e sobre­
a direcção do m inistério de D. José 1, que hei-dara todas as complicações das disputas terri­ valorizando as concessões portuguesas, de modo a mais eficientemente os convencer do
toriais com Espanha, ao subir ao trono em 1750. E é no mesmo contexto que deve ser vista ti-ato proposto. A evidência de que tal manobra só tinha sido possível em função de o
a actuação de Francisco Xavier de Mendonça Furtado nas demarcações do Norte, em espe­ vizinho ibérico não dispo1- de material levantado que contestasse aquele reforçava ainda
cial nas suas disputas com os Jesuítas. mais a necessidade de se insistir nos levantamentos, não apenas para se poder defender de
A princípio as relações entre os inacianos e o governador não eram más. O próprio manobra similar, como para estabelecer a defesa do território nos seus pontos cruciais 12 1 i.
Regimento levado po1- Mendonça Furtado privilegiava a relação com os jesuítas em detri­ Os frutos da missão dos padres matemáticos reforçavam a necessidade de medir e
mento dos demais missionários, defendendo os 1-esultados do seu trabalho de catequese de concretamente conhecer a te1Ta para alegar a sua posse. E aqui retornam os técnicos de
entre os índios. Sugeria-se, até, que as aldeias que eram recomendadas que se fizessem prio­ tais medições e explorações encarnados na figura dos engenheiros, matemáticos e astró­
ritariamente no Cabo do Norte fossem entregues aos jesuítas, assim como o governado1- nomos enviados nas expedições demarcadoras pai-a o Brasil. Estes, na prática, realiza1-am
não contesta o seminá1-io proposto pelo padre Malagrida 1 1 91 . uma nova conquista do ten-itório, fundamentada no conhecimento das suas ca1-actei-ísticas
Terá sido a percepção, "in loco", de Mendonça Furtado da força que estes repre­ e potencialidades.
sentavam na região, em função do domínio da mão-de-obra indígena, e ainda as desconfi­ Do mesmo modo, o novo território implicava também uma outra relação com os
anças acrescidas, depois dos incidentes no Sul e o eclodir da gue1Ta guaranítica que fizeram naturais, que deixavam de ser implicitamente considerados como posse do colonizador,
com que a situação se alterasse e se estabelecesse entre o governador e os padres uma para se tornai-em objectos privilegiados de uma renovada noção de conversão, desta vez
verdadeira guerra ideológica. Esta viria a culminar numa acusação feita pelo Governo de que fundada menos nos critérios religiosos e mais nas virtudes da civilização, a que se pretendia
os padres planeavam fazer eclodir uma revolta simila1- à do Sul ali no Norte. As peças da conquistá-los pela persuasão e aliciamento e não pela força. E dentro destas duas linhas de
acusação fundamentaram-se na existência de alguns canhões encontrados na aldeia de acção, conhecimento e persuasão ideológica, é que se movimentou a reforma pombalina na
Trocano, missionada pelos jesuítas. Amazónia, levada a cabo desde Francisco Xavier até João Pereira Caldas.
Diante dos estudos já realizados sobre os jesuítas na Amazónia 1201, torna-se difícil
contestar que a suposta sublevação de que foram acusados de estar preparando, a partir da
Missão de T rocano, não fosse ou uma deliberada invenção de Mendonça Furtado, para
concretizar e justificar a expulsão dos missionários, ou pelo menos um tão grave receio de A Amazónia da Segunda Metade do Século XVI I I
que estes usassem o poder, que o governador já sabia que dispunham e que se terá assim
adiantado às acções dos padres, supondo antes ·o que talvez viesse de facto a acontece1-
depois. Francisco Xavier Mendonça Furtado chegou a Belém em Setembro de 1751. A
Na verdade, em meio ao imb1-óglio em que se converteu a questão da suposta g1-ande novidade que a chegada do 1 9.º governador do Estado trazia à cidade era a sua
traição dos jesuítas na Amazónia, o que nos importa salientar é que ela se insere numa Já ascensão a capital do mesmo, ocupando o papel antes detido por São Luís. Tal mudança da
diferente visão da colónia. A principal lição das disputas territoriais, refo1-çada por toda esta situação logística do Governo do Estado foi feita de modo a não provocar grandes discór-
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

dias com os representantes do Maranhão. Estabeleceu-se, pela determinação régia de 1 9 de É pois este o homem a dar início ao processo que quis ver na Amazónia a concre­
Abril de 1 75 1 , que ambas as capitanias seriam divididas e teriam contacto directo com a tização de um programa de dimensões quase místicas, posto que se identificava com uma
metrópole a partir dos seus dirigentes, e que não haveria "submissão" do governador do verdadeira "ressurreição" dos povos e da terra. No mesmo sentido foi estudada, pelo Prof.
Maranhão ao do Pará. Entretanto, a denominação do Estado do Norte passava a ser Grão­ Horta Correia, a " Restauração-Ressurreição" do Algarve, pretendida por Pombal, e simbo­
-Pará e Maranhão, ao invés da anterior Maranhão e Grão-Pará. lizada na construção da nova Vila Real de Santo António <23> _ Assim, também o ministro e
A mudança trouxe de facto uma melhor gestão política de ambas as capitanias. seu irmão pretenderam "restaurar" a abandonada selva amazónica e tirar do obscurantismo
Contribuiu também, e prioritariamente, para a definição de um controlo do território muito os seus habitantes.
mais efectivo, na medida em que as tapitais detinham autonomia de gestão sobre áreas João Egas de Bulhões e Sousa, em carta enviada a Mendonça Furtado, em 25/3 / 1 753,
correspondentes às suas capacidades de actuação e de efectivo deslocamento no espaço. A diz a dada altura: "Vossa Excelencia dirige e governa huns povos, que agora tornaram a
posição anterior da capital de todo o Estado em São Luís levantava sérios problemas de barbaridade, e a indigencia em polidez e abundancia. Elles foram ditosos em Sua Magestade
administração das áreas internas da capitania do Pará devido às dificuldades de comunicação lhes dar um Governador de Tão alto merecimento e de hum zelo tão nobre, que todo este
com a capital. Lembre-se que a estrada entre Belém e São Luís só foi nonmalizada nos reino vive na infalível esperança de que Vossa Excelencia não somente o foi governar, mas
primeiros anos do século XVIII e era constituída por um trajecto que exigia várias trocas de Restaurar . . . " '24> .
meios de transporte, por rio ou por terra. Outros governos anteriores tinham já se aperce­ Nessa convicção tinha ido, efectivamente, o governador, instruído pelo irmão. E
bido de tais dificuldades e instalado as suas administrações na capital do Pará, mas até então ambos estavam convencidos de deter tal poder restaurador, fundados na fé do pensamento
São Luís ainda sediava o governo geral do Estado. iluminista de trazer a "felicidade dos povos", da qual se auto-indigitavam como portadores
A estratégia diplomática da criação de uma nova hierarquia na gestão do Estado e promotores, tanto na colónia quanto na metrópole.
setentrional preocupava-se em resolver a questão da prática administrativa e de controlo do A missão assumida pelos dois irmãos retrata-a José Gonçalves da Fonseca, na ,sua
território, mas não pretendia estabelecer nenhuma situação de instabilidade política. Assim, eloquência encomiástica, ao dizer que " . . . reconhecendo pois que a perturbação dominante
embora de facto a intimidade de Mendonça Furtado com o Governo da metrópole fosse naquellas colonias chamava por um valoroso Ercules, que ao mesmo tempo de cortar
bem maior que a do seu congénere no Governo de São Luís, este, pelo próprio Regimento daquella Hydra as gargantas, sediciosas, o socorresse um destemido Jolag que lhe cauteri­
secreto passado por Pombal ao seu irmão materno, não deveria ser melindrado. Neste zasse as feridas para se nam reproduzirem novas cabeças à discordia, venturozamente
aspecto as intenções de Pombal foram bem sucedidas e a gestão de ambas as capitanias ocorreu para estes empenhos de tanta honra, dois vassalos de completa fidelidade que,
desenvolveu-se bem melhor que nos governos anteriores e sem maiores conflitos entre os tendo por Ley da natureza a Fraternidade, para a união dos espíritos lhes distribuiu a
governantes. Providencia as virtudes proporcionadas para as produções do valor, de sorte, que ambos
O governador que chegara à nova capital do renovado Estado, já assim de início em obsequio do nosso adorado Soberano, ao mesmo tempo que hum lhe acabava na
marcado por um contexto de transformação, era por sua vez um homem que vinha deter­ America de Restaurar o Poder do Scetro, outro em Portugal dava principio a segurarlhe na
minado a empreender novas reformas. Foi uma personalidade polémica tanto no contexto cabeça a dignidade da coroa." c251 _
regional como no de toda a História política de Portugal. A imagem que dele terá ficado em A coerência do projecto iluminista pombalino, de restaurar a Amazónia, sustentava­
algumas crónicas, em similitude com outras descrições do seu irmão, é a de uma figura -se na convicção de que a região, portadora de tantos antecedentes míticos, desde o
despótica e dada a cóleras quando as coisas não corriam a seu gosto. Há quem defenda a deslumbre quinhentista do ouro ao ideal do paraíso natural propagado por Simão Estácio
hipótese de que a verdadeira perseguição declarada contra os jesuítas, durante o consulado da Silveira no século XVII, tivesse entrado numa profunda decadência, física e moral, denun­
pombalino, deva a este homem as suas mais acirradas tintas. No mesmo sentido, existe ciada pela pobreza generalizada das gentes e a falta evidente de progresso económico, e
quem advogue que a influência que o irmão exercia sobre a sua actuação não era menor pelo clima latente de conflitos entre os habitantes naturais e os do Reino. Dado que a reali­
do que a que ele próprio também exercia sobre o todo-poderoso mano mais velho <22> . dade efectivamente correspondia a este quadro desolador, o projecto assumia a dimensão,
Do conjunto genérico das "qualidades" imputadas a Francisco Xavier de Mendonça não de uma impossível utopia, mas de uma atitude revolucionária. E também nacionalista,
Furtado sobressai sempre uma inegável noção de poder e energia. Talvez não seja possível posto que o que se supunha estar em jogo no quadro político da Amazónia era "Restaurar
ilibá-lo dos ditos acessos de cólera e irritação, que o dominavam quando não era atendido uma Conquista Portuguesa a seu legitimo Senhor Usurpada" <261 •
nas suas vontades; cremos, no entanto, ser muito mais justo relativizar o contexto de tais Os usurpadores eram os missionários, que "escravizavam" os habitantes brancos e
atitudes, vendo-as inerentes a uma personalidade que encarnava o papel de reformador, índios; "huns e outros vassalos de Sua Magestade Fidelíssima, porém unicamente na deno­
que de facto foi. minação, que na essencia, se haviam convertido não só vassalos, mas escravos da República
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1 08 "Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

Missionária: os lndios por força das Leis do Estado, e os moradores por i ndigencia de depen­ canos eram demasiado caros, especialmente para quem até então tinha os índios, enfren­
dentes" <27>, tando disputas com os missionários, é certo, mas de graça.
A reforma era pois, assumidamente, uma situação de disputa de poder, o que a Entre os manifestantes contra a instalação da Companhia contavam-se comerciantes,
define em termos de uma estratégia política precisa. Esta po1- sua vez insere-se num tanto da colónia como do Reino, que adve1iiam para os perigos que esta poderia trazer,
contexto ideológico maior, da grande "Reforma do Mundo", pregada pelos ideais iluministas, restringindo o livre comércio dos bens produzidos pelos colonos. Ponderavam que, em
que advogavam o sair da Hu manidade da fase de trevas e desconhecimento para a luz do função do monopólio que detinha, a Companhia disporia de uma situação de poder exces­
saber. E insere-se também na conj untura específica do ilumin ismo português, capitaneado sivo sobre os preços dos bens produzidos fazendo trocas menos justas entre os escravos que
por Pombal, que veicula o discurso da 't:Jita reforma fazendo uso de uma linguagem que é tinha para vender e as mercadorias dos colonos de que era a única compradora permitida.
em parte de cunho revolucionário, pois que dá ao termo "restaurar" o sentido de o trono E a situação prevista por aqueles manifestantes, que por se pronunciarem contra o
recuperar o seu verdadeiro poder usurpado, e em parte também i ncorpora uma vertente projecto pombalino foram imputados do crime de lesa-majestade, de facto ocorreu. A insti ­
meio messiânica, aproximando o significado da mesma palavra "restaurar" ao de "ressus­ tuição d o monopólio d a Companhia, sobre todo o comércio d o Grão-Pará e Maranhão,
citar" 12ª>, fazendo convergir no papel do reformador o político, o conqu istador e o salvador. previra-se que durasse i n icialmente 20 anos e que depois se prolongaria o prazo, caso assim
No campo da actuação política a reforma fundamentava-se em duas peças-chave: a se decidisse. Em 1 777, uma representação à rainha pedia que não se prerrogasse o prazo
Lei da Liberdade dos Índios e a instituição da Companhia Geral do Grão-Pará e M aranhão. previsto, apresentando como argumentos do pedido de extinção da Compan hia as mesmas
A lei que abolia todas as espécies de cativeiro dos naturais, até então em vigor, foi promul­ razões que, em 1 755, ti nham já sido levantadas pelos det1-actores da sua criação. Durante
gada em 6 de Junho de 1 755, e vinha associada a outro alvará, assinado no dia segui nte, reti­ os anos da actuação da Companhia outras manifestações e protestos foram dirigidos ao
rando o domínio temporal dos missionários sobre os índios. No mesmo dia, 7 de Junho, foi Reino, que se esforçou por manter a imagem positiva do empreendimento, realçando o seu
também publicado o Alvará Régio de Confirmação da instituição da Companhia, que tinha papel dinamizador da economia regional, mas não impediu a sua extinção em 1 77 8 129> _
sido levado à aprovação no dia anterior. Indissociáveis e definidas num mesmo bloco, estas As intenções da instituição da Companhia foram, entretanto, em parte conseguidas.
medidas serão as bases em que se vai sustentar a admi n istração da Amazónia de Pombal. O projecto pombalin o pretendia incrementar a agricultura na região. A sua economia para­
A liberdade dos índios fazia parte das medidas prioritárias do programa de Governo lisava no esquema da recolha das drogas do sertão, dependente dos índi os, que só ali eram
de Francisco Xavier e vinha já determinada nas orientações que trouxera do Reino. Era uma i nvestidos e praticamente nada se produzia do cultivo da terra. A mão-de-obra africana era
medida realmente import ante, tanto no sentido de resolver a disputa de poder com os mais eficiente no trabalho agrícola, como ficava demonstrado pelo processo do Estado
missionários, como no interesse da preservação das fronteiras definidas nos acordos, que vizinho, o Brasil. A sua introdução na região visava pois criar uma evolução do sistema
exigiam uma situação pacífica e aliada com os naturais da terra. Embora estivesse determi­ económico obrigando-o a sair do ciclo quase exclusivamente extractivista em que se encon­
nado a implementar a liberdade, o governador, ciente da grave situação que a medida trava, o que de certo modo consegue.
geraria, teve de esperar para poder pô-la em prática. Fê-lo dentro do contexto da criação Ainda no campo da actuação política do projecto pombalino inseriam-se as demar­
da Companhia, usando a introdução da escravatura africana como argumento para amainar cações, para as quais Francisco Xavier fora designado como plenipotenciário. Assumindo a
os ânimos dos colonos. tarefa de decidir a conformação do território, o reformador e ncarnava o conquistador.
A Companhia, protegida pelos privilégios do monopólio, obrigar-se-ia ao transporte Em 1 753, chegaram a Belém os técnicos destinados à tarefa das medições astronó­
dos africanos e a sua venda aos lavradores paraenses. A acção concomitante da proibição micas e demarcação das fronteiras. Eram eles: o padre lgnácio Szentmartony, astrónomo;
do cativeiro dos indígenas impu nha a i nterru pção da sua utilização como mão-de-obra. Ao João Angelo Brunelli, matemático, Sebastião José da Silva, sargento-mor engenheiro; João
mesmo tempo que obrigava o investimento nos escravos africanos propostos, desferia um André Schewebel, capitão-mor engenheiro; Gaspar João Geraldo de Gronsfeld e Gregório
rude golpe no poder detido pelos missionários que deixavam de poder manipular a distri­ Rebello Ribeiro Camacho, também capitães engenheiros; Henrique António Galuzzi, Adam
buição dos trabalhadores, como até então faziam. Do mesmo modo, a determinação do Leopold de Breuning e Philippe Sturm, ajudantes engenheiros; Manuel Gotz, tenente, e José
cessar de todo o seu poder temporal sobre os naturais impedia-os também de manter qual­ António Landi, que foi designado como desenhador. Com estes homens partiu o gover­
quer tentativa de i nfluência dos próprios índios. nador, em 1 754, para a aldeia carmelita de Mariuá, no rio Negro, onde se decidiu que se
Tai política foi posta em prática apesar dos protestos que imediatamente se realizariam as conferências entre as duas comissões demarcadoras.
seguiram à instalação de ambas as medidas. Tanto da parte dos missionários, que se Esteve o governador e plenipotenciário basicamente sediado em Mariuá por cerca
sentiram claramente lesados, como da parte dos colonos, que temiam a novidade em de quatro anos, coordenando o trabalho das medições da sua parte e à espera da vinda dos
função das dificuldades financeiras que logo de i nício se lhes apresentavam. Os escravos afri - castelhanos. Mas o encontro previsto não ocorreu. Quando a comissão de Castela chegou
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

à fronteira, já o gove rnado r se tinha retirado e as duas coroas não mantinham a mesma retratar todas as povoações por onde passou a expedição e de faze r relatórios sob re o
p redisposição para as demarcações conjuntas. estado das fortalezas e suas necessidades de reparos e apetrechos. Galuzzi, que inicialmente
Mas o facto de não se te r concretizado o encont ro ent re as duas comissões, por respondeu por um p rojecto de construção dos marcos a se rem colocados na fronteira, foi
bizarro que pareça, assume na dimensão do projecto pombalino na Amazónia uma situação depois encarregado de faze r um dos mais importantes mapas da Amazónia, o do Bispado,
de pormenor de somenos importância. A actuação dos membros da expedição de 1 753, e com a delimitação das freguesias (fig. 1 1 ), que serviu de base para a formação dos municí­
demais outros p rofissionais enviados depois, tinha objectivos a cumprir dentro do p rograma pios futuros. Além de outros trabalhos, é também o autor do p rojecto da fortaleza de
pombalino que não se limitavam apenas às imprescindíveis tarefas da demarcação. Macapá.
Tinha sido dito a Gomes Freire de And rada no Sul, sob re o ap roveitamento dos O astrónomo Brunelli e o seu ajudante Sambucetti foram encarregados de observar
oficiais militares, especialmente os est rangeiros, que estes lhe tinham sido "enviados por Sua um eclipse da Lua ainda no ano da sua chegada. Sambucetti, que ve remos como o autor do
Majestade não para se rem emp regados nos serviços dos Tratado, tal como se achava indi­ desenho e p rojecto de Mazagão, fora como me ro auxiliar do matemático, mas com a p rática
cado na relação dos mesmos, mas sim, e tão somente, para que ele, Gomes Freire, ficando do seu trabalho na Amazónia completou a sua formação. Foi promovido a ajudante enge­
bem info rmado da p rofissão e g raduação de cada um, os emp regasse como melhor lhe pare­ nheiro por Mendonça Furtado e veio a ser depois o auto r do p ro jecto da fortificação do
cesse de sorte que se pudessem colher os f ructos da capacidade pessoal de cada um" 130>. Princípe da Bei ra. Do mesmo modo, out ro moço, que tinha ido com a recomendação da
É p rovável que Mendonça Furtado tenha sido o rientado pelo seu irmão com as Rainha-mãe, por ser enteado do seu boticário e de quem se dizia que tinha noções de
mesmas recomendações que haviam sido ditadas a Gomes F reire. O governador tinha geometria, foi entregue como ap rendiz ao padre Szentmartony. Este, de nome Henrique
planos para emp regar os técnicos de expedição em importantíssimas tarefas para as quais Wilkens, veio a ser depois um dos responsáveis por Macapá e, no final da sua carreira,
necessitava das suas habilitações. O que lhe importava era o carácte r de p rofissionais do chegou a ser comissário da segunda partida das demarcações.
território que estes homens encarnavam. Não apenas o te rritó rio enquanto espaço de O capitão G ronsfeld, também muito estimado pelo gove rnador, acompanhou-o em
acção da sobe rania nacional, que o simples trabalho delimitador das fronteiras deixaria defi ­ vá rias das suas viagens, relatando os problemas das fortificações e p ropondo planos de
nido, mas o te rritório enquanto base física da instalação da sociedade que o reformador se mudanças. É da sua autoria um dos mais interessantes p rojectos feitos para Belém, em que
propunha ali fazer. O te rritório também reformado, ou melhor, finalmente fo rmado. defende a const rução da sua circunvalação com baluartes e muralhas, ao qual tornaremos
A tarefa que Mendonça Furtado p retendia ve r feita po r tais técnicos no espaço da ao tratar da capital. Assim como, inevitavelmente, também há que voltar a refe rir Landi. É
Amazónia era a da conquista do seu conhecimento e não apenas dos seus limites. Aqueles dent re todos o que hoje detêm maio r fama, e que terá ido, no conjunto, com a menor
que e ram "oficiais escolhidos, soldados bem exe rcitados . . . e engenheiros com sciencia da qualificação apa rente, pois embo ra sendo de facto arquitecto integ rou a expedição como
matematica e instruídos na lição fundamental da geografia" <31 > vinham para exerce r a activi­ desenhador. A eloquência do seu t rabalho se rá revista em Belém e nas suas demais actu­
dade de geómet ras e geógrafos, para medir a terra amazónica e para refaze r a sua desco­ ações.
berta e conquista, reencarnando a t radição dos ve rdadeiros geómetras portugueses dos O capitão Philipe Sturm é outra das figu ras-chave da acção sob re o território. Menos
G randes Descobrimentos. estudado e valorizado do que deveria, Stu rm é o auto r dos projectos que t ransformaram a
A te rra medida e escrita pelos cartógrafos e engenheiros t ransformar-se-ia em outra aldeia de Mariuá na Vila de Barcelos. Também fez as fortalezas de São José das Marabitenas,
terra, que era a apregoada pela reforma. Do conhecimento do território, descodificado em no rio Negro, e de São Joaquim, no rio Branco, além de muitos projectos de palácios e
mapas, cartas e plantas, adviria a real possibilidade de domínio e intervenção sob re este. E igrejas. É dos que têm uma das actuações mais significativas no campo da intervenção urbana
é a partir desta noção que t rabalha a ideia t ransformado ra de Pombal na Amazónia. Assim, na região, tendo desenhado as vilas de Se rpa e Silves.
os homens da expedição não pararam de fazer levantamentos cartográficos, de desenhar Neste apanhado geral do t rabalho dos engenhei ros pombalinos da Amazónia, a
mapas de rios e de faze r relatos descritivos de roteiros de navegação e de t rajectos ter res­ última refe rência, mas não menos importante, vai para dois sargentos-mores, que vieram,
t res. A terra foi exaustivamente observada e traduzida em memórias e desenhos. A p rópria em 1 757, por pedido do governador. E ram eles Tomás Rod rigues da Costa e Manuel
Natu reza submeteu-se ao exame e à observação minuciosa. Vide o primei ro encargo dado Álvares Calheiros. Rodrigues da Costa foi imediatamente enca rregado da di recção das obras
pelo governador a Landi de organizar um catálogo com desenhos dos animais da região. de Macapá. Manuel Álvares Calheiros foi indigitado, pelo governador, para cump rir uma das
A p roficiência dos técnicos da expedição é incontestável. Embora não se possa aqui tarefas mais importantes da intervenção de Mendonça Furtado e que foi a recriação da
detalhar a sua actuação, é no entanto imprescindível referenciar alguns pontos p rincipais do "Aula de Engenharia" <33l que, como vimos, existira no Estado, sob a responsabilidade dos
seu t rabalho <l2l, engenheiros Custódio Pereira e José Velho de Azevedo.
Schewebel, um dos que mais elogios recebia pela sua actuação, foi encarregado de A c riação da Aula, activa du rante todo o pe ríodo da administ ração pombalina, e com
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"Da Amazónia e das Cidades"

bons resultados, segundo consta das notícias dadas pelo mestre ao governador, liga-se a
todo o conjunto formativo da engenharia portuguesa, como já aqui se discutiu na primeira
parte deste trabalho. Num contexto mais específico da região, tais directrizes gerais são
confirmadas por uma carta régia, datada de 22 de Novembro de 1752, que é dirigida ao
governador do Estado, reclamando a necessidade do estabelecimento de mais academias
militares por todo o Reino. O texto enviado é uma cópia do Decreto de 24 de Dezembro
de 1732 feito aquando da criação das academias de Elvas e de Almeida. Reproduzimos o
documento no anexo documental Cl-1>, pela importância de que se reveste ao comprovar a
continuidade do direccionamento seguido para a formação dos engenheiros. Mesmo o diri­
gismo da administração pombalina não abdica de manter a lógica da sequência e raciocínio
utilizado antes e durante o período joanino.
Note-se, ainda, outro factor importante no mesmo texto, que reforça o entendi­
mento unitário da escola de engenheiros em todas as latitudes do Reino, posto não esta­
belecer nenhuma diferença entre o modelo de Lisboa e as outras academias a serem
estabelecidas nos outros pontos, inclusive na colónia, como é notório no caso presente.
Também é significativa a referência à formação mais qualificada dos oficiais de menor nível,
como os pedreiros e carpinteiros, que serviam de medidores das obras civis, em que é
ordenado que "aprendam nas academias a parte de geometria pratica a que pertence as
medições e para exercitarem daqui em diante serão examinados pelo engenheiro-mor do
Reino que lhes passara certidão para poderem ter o dito exercício" 35>_
C

Retomando o quadro da política territorial da administração pombalina na


Fig. 1 1 . Mapa Geral do Bispado do Pará, t"epartido nas suas freguesias, que nelle fundou e erigia o Exm.º e Revm.º Snr D. Fr. Miguel de Amazónia, a Aula responde pela formação teórica, e na prática esta define-se pelas acções
Bulhões I l i Bispo do Pará &. construido e reduzido às regr"as da Geografia com observações geometricas e astronómicas pelo Ajudante
Engenheiro Henrique Antonio Galluzzi. M DCCLIX ( 1 759). Üt"iginal BNRJ de conhecimento e defesa levadas a cabo pelos engenheiros. A estrutura mercantilista da
Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão serve de base económica do
projecto político global, pagando as contas das fortificações, necessárias à sua própria segu­
rança e viabilidade e assim definido nos seus estatutos. A gestão administrativa é, por sua
vez, dividida numa óptica de maior eficiênciá e capacidade de controlo sobre o território,
uma vez conhecido e defendido.
A mudança da capital para Belém, em 1 75 1, fora já um movimento no sentido de
permitir maior eficácia e controlo da gestão do território setentrional. Em Março de 1 755,
foi criada a capitania do Rio Negro, desmembrada da parte mais ocidental da capitania do
Grão-Pará. A atitude era coerente com as dimensões desmedidas da região e pretendia,
prioritariamente, proporcionar uma defesa mais rápida da área em questão, confinante em
quase todos os seus limites com as possessões castelhanas. Já adiante retornaremos às ques­
tões que envolveram a escolha da capital desta nova capitania.
Mas, antes disso, a criação da capitania do Mato Grosso, em 1748, desmembrada da
capitania de São Paulo, adiantara em parte a mesma postura. No entanto, a decisão joanina
de criação do Mato Grosso diferia um pouco da óptica pombalina. A preocupação de
controlo sobre a região dos rios Guaporé e Madeira fora o principal motivo da criação da
capitania. A questão da fronteira com os territórios espanhóis era crucial, como também a
fiscalização dos arraiais mineiros existentes na região e o perigo de escoamento ilegal do
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

ouro pelos rios. Mas a atitude tomada pretendia controlar a região, isolando-a, proibindo deira ocupação da colónia. A esta tarefa fundamental da actuação pombalina na Amazónia,
toda e qualquer comunicação com o Estado do Grão-Pará. A intenção da proibição visava em que a noção da cidade-civilidade é o conceito central, resolvemos aqui dar-lhe o nome
precaver o escoamento do ouro e diamantes de Cuiabá, assim como o desvio de colonos de " Reforma Urbana".
do próprio Grão-Pará, que poderiam se encantar pelo sonho de riquezas e abandonar a
região, e impedir também a entrada dos castelhanos nas minas.
A esta lógica do reinado joanino, o raciocínio de Mendonça Furtado viria responder,
em memorável carta, com os argumentos da sua diferente gestão territorial, que ficam A Reforma Urbana
exemplarmente sintetizados neste trecho:

" . . . tal fundamento que ouvi ponderar em Lisboa, qual é que: aberto este caminho, "Lançado assim este primeiro delineamento ao Templo da Paz que S. Ex.ª intentava
seria necessário Sua Majestade fazer um gasto grande em fortificar o Pará, e que como tinha construir, traçou na Ideia as mais linhas com que havia de continuar a planta de tam impor­
feito outro grande gasto em fortificar o Rio de Janeiro, não devia consentir que se abrisse tante fabrica para que sendo-lhe preciso novas rnedidaz, determinou ir pessoalmente toma­
mais esta porta às mi nas, para o obrigar a segundo gasto exorbitante." -las em parte daquele mesmo terreno que havia de ocupar o âmbito de tam gloriozo
" Porém se houver alguém que, melhor instruído, e com mais conhecimento do edifício. E com este pensamento se embarcou no porto do G1-am Pará dirigindo a derrrota
Estado, assentar que é mais fácil o vedar- se a comunicação desta cidade com o Mato a Reconhecer as mais principais Povoações de lndios estabelecidos desde a emborcadura
Grosso: quisera me dissesse, se, por nós não frequentarmos aquele caminho, tiram os caste­ do Amazonas, até a garganta dele no Pauxix . . . '' <3'>.
lhanos das nossas terras as aldeias de Sta. Rosa de S. Miguel e de S. Simão, ( . . . ) e se deixam
de ir fazendo novas aldeias nas nossas terras ( . . . ). Logo, parece que o gasto que se quer O discurso laudatório de José Gonçalves da Fonseca refere-se com estas palavras à
poupar a S. Majestade é impossível de se remediá-lo, ou se frequenta aquele caminho, ou tarefa urbanizadora levada a cabo pelo governador Mendonça Furtado. O primeiro delinea­
S. Majestade ache mais conveniente o vedá lo, nunca se poderá excusar o gasto de se forti­
0 mento referido foram as determinações político-económicas: a liberdade dos índios e a
ficar o Pará com grande cuidado, porque, se nos quizerem invadir por esta parte e acharem criação da Companhia e a consequente paz, com o "domínio" sobre os missionários. O
a cidade sem fortificação, como está, e o caminho livre, não há mais do que entrar sem risco passo seguinte seria a urbanização da região, para o que o autor faz uma brilhante manobra
nenhum, embarcar nas canoas e ir logo fazendo viagem pelos rios acima; sem haver pelo retórica no di scurso, apropriando-se da linguagem de projecto arquitectónico, para, po1-
caminho quem lhes faça a mais leve oposição: Se, porém, acharem esta praça fortificada e metonímia, expor e reforçai- a coerência do projecto político pombalino, ele próp1-io
capaz de lhes fazer oposição, sempre os inimigos tem que entrar em uma ação que Deus "projectado" na realização urbana e arquitectónica.
sabe qual será o fim . . . " 13•i. Numa carta familiar, e secreta, enviada em 1 753, por Sebastião de Carvalho e Melo
ao irmão no governo do Pará, entre os vários _"meios" que lhe sugere para nortear a sua
Aqui encontram-se resumidos os principais critérios da gestão do território na óptica administração e conduzir as questões mais delicadas diz: "Setimo meyo. No mesmo tempo
pombalina. Advogando a sua defesa incondicional, investia na efectiva fortificação e na em favor da faculdade que EI Rey Nosso Senhor nos mandou fundar as fortalezas que
verdadei1-a ocupação da terra, desbravando os seus caminhos e fundando povoações. fossem necessarias as deveis tomar por motivos para junto dei las erigires villas, que também
A fortificação da região durante a gestão pombalina fundou-se, especialmente, nos se podem fundar em algumas fazendas grandes e populosas dos nobres deste Estado, i nspi­
seus principais pontos de acesso. Montou-se uma linha de defesa ímpar, que fiscalizava todos rando-lhes que peçam a Sua Majestade o senhorio dellas quanto ao honorífico, contanto
os extremos da expansão amazónica, definida pelos fortes: de São José de M acapá, no rio que fiquem sujeitos seus J u ízes e oficiais a Residencia e correição dos Ouvidores do Estado,
Amazonas; São Joaquim, no rio Branco, São José de Marabitenas e São Gabriel da Cachoeira, e que estas concessões se façam nos puros termos acima indicados e dabaixo de justas
no rio Negro, Tabatinga no Javari e a fortaleza de Bragança e o Príncipe da Beira já no condições. Com o que observando-se nos índios que forem habitar nestas vilas, sobre a
Guaporé. Um mapa demonstra a cobertura que tais fortificações proporcionavam, que era izenção da propria liberdade e outros privilégios . . . e fomentando-se a vaidade natural dos
coadjuvada, por sua vez, por outras fortificações do interior, como a fortaleza do rio Negro, mais poderosos destes Americanos, ou com a esperança de honorífico senhorio das vilas,
na confluência deste com o Amazonas, os fortes do Tapajós e de Pauxis, além das outras que fundares ou com outras honras que sejam i ndiferentes, Por uma parte hirão insensivel­
fortificações oriundas já do século anterior (fig. 1 2). mente dezaparecendo as Aldeyas que devem abolir-se, porque os lndios, vendo-se nelas
Enquanto as fortificações estabeleciam o controlo dos limites exteriores do terri­ tiranizados e vendo-se nas outras povoações favorecidos, he certo, que fugindo das
tório, a estratégia interior definia-se numa acção, quase ciclópica, de investimento na verda- primeiras encheraõ dentro em pouco Tempo as segundas. Por outra parte se hirão multi -
1 17
"Da Amazónia e das Cidades"

plicando, e florescendo povoações civiz, decoroas e uteis para o bem Comum da Coroa e
dos Povos . . . " <391 _
Dos conselhos do irmão, Mendonça Furtado terá procurado seguir o essencial; no
entanto, a sua acção é bem mais incisiva e directa que a sugerida por Pombal. A raiz da
criação urbana ao lado das fortificações é virtualmente seguida pelos motivos evidentes da
própria lógica de defesa. Mas a sugestão de contar com o apoio dos grandes senhores da
terra terá sido alterada por Mendonça Furtado.
• F. DE S. JOAQUIM
OOR!O BRANCO
Na verdade, o quadro regional, que Pombal terá feito por analogia a outros pontos
não se adequava para o espaço da Amazónia. A carência económica era tal que poucos
F, DES.Josl; DAS
• MARABIHNAS

F. OE MACAPÁ
entre os senhores eram realmente grandes, e os únicos que assim poderiam ser chamados
eram os missionários, de quem obviamente não se esperava a colaboração. Ironicamente,
.
• F.DES.GABA.IEL

.
DA CACHOEtRA

.
F.DE PAUXIS F.DE GURUP.A F. DE BELÉH
as únicas fundações urbanas feitas em fazendas, na Amazónia pombalina, foram-no em
propriedades de jesuítas, sustentando o governador uma grande e polémica d isputa com os

·' missionários em função da sua atitude <391_


F. DO RIO NEGRO F. 00 TAPAJÓS

• F. DE TABATINGA
O projecto de Mendonça Furtado vai extrair pois a essência do discurso do i rmão
/ fixando-se na i deia norteadora e básica de criar as povoações. Estas ali ditas "civis" no duplo
sentido de fazer um contraponto com as "religiosas" e de exaltar o seu papel simbólico
enquanto núcleos de vida civilizada, colonizada. A sua actuação vai adiantar-se ao subtil
plano de "insensivelmente" fazer desaparecer as aldeias pela atracção de outros núcleos, e
vai i nvestir na reconversão delas próprias. É aqui onde o reformador se vai revestir priori­
tariamente da figura do salvador, propondo-se transformar "a barbaridade e a indigência em
Fig. 1 2. Fortificações construídas na Amazónia até ao século XVIII. polidez e abundância" <•0>.
O primeiro procedimento instaurador da política urbana na administração de
Mendonça Furtado é, seguindo os termos do seu próprio Regimento, o cuidado com a
povoação da região do Macapá e do Cabo do Norte, em função dos problemas e perigos
que os franceses representavam. No capítulo específico sobre Macapá retomaremos com
maiores detalhes o processo de povoamento da região e os fundamentos da vila. Aqui fica
apenas a referência à sua prioridade e importância estratégica e, em parte, à sua posição
como "a preferida do governador".
Na sequência dos investimentos urbanos surge a fundação das vilas de Bragança e
Ourém. Em Bragança tratou-se de uma refundação, posto que feita na antiga Vila Sousa do
Caeté, que fora estabelecida no século XVII por Álvaro de Sousa, donatário da capitania do
Caeté, a que já referimos. Por determinação régia, a capitania fora passada novamente para
a Coroa. As opiniões sobre a Vila Sousa atestavam a sua decadência, e o investimento do
governador na sua reconstrução e refundação imprimem à atitude um carácter especial. Por
um lado, insere-se na preocupação inicial de Mendonça Furtado instalar convenientemente
os casais açorianos enviados como povoadores após a sua chegada. Por outro, o caminho
para o Maranhão fazia-se com paragem nesta vila e a sua manutenção, enquanto ponto de
contacto entre as duas capitanias, era muito importante.
Na comunicação passada à Corte onde fala da intenção de refundar esta vila, que
tencionava baptizar de Bragança, Mendonça Furtado diz que primeiro mandou fazer roças e
1 18 1 19
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

"casas para poder depois mandar as famílias com toda a comodidade". Na mesma carta que estão na direcção NE-SW. No eixo central da praça está projectada a "freguesia nova­
sugere também a criação de outra povoação, no sítio da chamada Casa Forte do Guamá, mente demarcada", ou seja, a nova igreja, com a fachada voltada para NE, na direcção do
onde pretendia pôr 1 50 índios. Diz que "esta nova vila é sumamente importante, porque rio. As casas antigas dos moradores vêm identificadas na planta e desenhados os "chãos
além de nela poder haver trabalhadores que ajudem aos lavradores do Rio Guamá a cultivar demarcados para os novos povoadores". No original aparecia, a vermelho, a dimensão dos
as terras, haverá nela canoas prontas para transportarem os generos do Cayté, e facilitar lotes em que se construiria a habitação e, a amarelo, a área dos quintais (fig. 1 4) .
assim a comunicação daquela vila com esta cidade" <4 1 J _ O governador- sugere que esta outra A planta d e Ourém tem uma praça rectangular, d e cerca d e 6 0 braças por 30, a
vila tomasse a denominação de Ourém. Diz ainda que pretende edificar outras povoações metade portanto da de Bragança, e perfaz um rectângulo em proporção dupla (embora não
tendo como povoadores os açorianos que estavam para chegar, uma no rio Tapajós e outra esteja fechado no lado da casa-forte). A igreja aqui está disposta no centro da praça, solta
no rio Xingu. da estrutura dos lotes, que se representam de maneira similar, com a área das habitações a
O procedimento fica melhor esclarecido no relato do ouvidor João da Cruz Dinis vermelho e dos quintais a amarelo. Aparecem as divisões dos lotes nos quarteirões e estes
Pinheiro, que diz: "Recomendando-me o lllm.' e Exm.º Sr General o estabelecimento das possuem uma área de 5 braças de frente por 20 braças de fundo. A praça também está
gentes das ilhas nas duas vilas de Bragança e Ou 1-ém novamente erectas, ( . . . ) . Passei com disposta nas direcções NE-SW e NW-SE. A estrada aberta pelo engenheiro e astrónomos
toda a diligencia a estes dous citios sem perdoar a despeza e trabalho, a fim de perpetuai­ está desenhada em linha recta na direcção de ce1-ca de 50 º NE (fig. 1 3) .
º seu nome na fundação de duas povoaçoins estaveis, e com meios de receberem conci­ Além das questões da própria formação e desenho das duas vilas e do seu papel,
deravel aumento para o tempo futuro, e de socorrer o dezamparo destes mizeraveis enten­ enquanto experiências-piloto do processo de formação urbana da região (salvaguardando a
dendo fazia neste particular um distinto serviço a S. Magde" primazia de Macapá), outras variantes importantes no âmbito deste trabalho cruzam-se no
" Para este effeito levei desta cidade a minha custa, Astrologos e Engenheiros, com estabelecimento de tais vilas. Cabe, por exemplo, referir que o ouvidor- João da Cruz Diniz
quem puz em execução a ldea de lhe facilitar a comunicação por terra, para que se Pinheiro estará novamente presente no processo de formação de M acapá, por ele inicial­
pudessem servir de Bois e cavalos sem o embaraço que cauza a navegação dos rios ( . . . ), mente accionado, sob as ordens do governador Mendonça Furtado. Do mesmo modo,
para o que lhe mandei abrir uma estrada por linha recta na distancia de quatro leguas com Galluzi será o engenheiro responsável pelo projecto da fortaleza de Macapá.
quarenta palmos de largo, que não só poz franca a comunicação mas a fez mais suave e Igualmente, o capitão nomeado para dirigir a vila de Bragança foi lgnácio de Castro
util ( . . . ). Por esta mesma estrada de uma e outra parte lhe reparti as terras que se manda1-ão de Moraes Sarmento, a quem iremos rever no comando da vila de Mazagão, já nos anos 70.
dar ficando todos, com a Comodidade de terem serventia comum, e tirei as madeiras que Neste contexto, vislumbra-se um envolvimento colectivo do aparelho estatal no investi­
poderião ser necessarias para a construção da Igreja, Caza de Came1-a e Corpo da Vila que mento urbano, onde é comum a transferência de funcionários experientes para as situações
tudo me pareceu necessario fazer- se por não haver na Antiga do Cayté mais do que nove de maior importância ou necessidade. Assim também funcionava a deslocação dos enge­
cazas de parede e cobertura de palha, e uma de terra, muito indigna que lhe servia, e serve nheiros. Eram enviados em várias viagens de vistoria, aos sítios e às fortificações, e acompa­
de Igreja . . . " <<2J. nhavam as visitas de correição dos ouvidores e juízes de fora, sempre investindo no controlo
A descrição do ouvidor vem demonstrada por sua vez no "Mappa dos Rios Guamá, da formação urbana.
Guajará e Cayté do Estado do Gram Pará aonde mostra-se o Caminho novamente aberto Em 1 75 8, por exemplo, ainda para as vilas de Bragança e Ourém, foi mandado em
por terra da Villa Nova de Bragança para a de Ourém p.ª o Comodo de seus moradores, o viagem o juiz de fora João lgnácio de Brito e Abreu, acompanhado também por um enge­
qual Mappa foi feito por Ordem do lllm.º e Ex.º Senhor FRANCISCO XAVI ER de nheiro, desta feita o tenente Manuel Gotz <431, para que se examinasse a qualidade das mari­
M ENDONÇA FURTADO, governador e Cap.º Gn.º dos Estados do Pará e Maranhão em o nhas que existiam junto de Bragança e se fizessem os benefícios necessários para a
anno de 1 754 pello Engenheiro F. A Galluzzi" (fig. 1 3 ) . Além do levantamento dos rios exploração do sal. Reproduzimos no anexo documental a carta enviada pelo juiz de fora
citados e da indicação do percurso construído, figuram também as plantas das duas vilas. narrando a viagem, por esta conter muitos dados descritivos das duas vilas e por elucidai­
A actuação do engenheiro na determinação do desenho destas é, pois, evidente. Os sobre algumas preocupações ligadas à questão urbana. Na mesma ocasião, o engenheiro foi
"astrólogos" citados no relato do ouvidor devem ter sido João Angelo Brunelli e, na altura encarregado de fazer um mapa dos rios percorridos e novas plantas das vilas visitadas.
seu ajudante, Domingos Sambucetti. O desenho de ambas as vilas conta com uma estrutura Outro ponto também importante que a fundação de Bragança evoca é a eleição do
simples, com a praça detendo o papel primordial e aglutinador do tecido urbano. topónimo das vilas fundadas na Amazónia. A evidência da escolha de nomes de vilas da
A planta de Bragança define-se por uma praça central quadrada, com cerca de metrópole não esclarece de todo o propósito de Mendonça Furtado, que detém um simbo­
60 braças de lado, que foi desenhada por detrás da única rua que resumia a antiga vila. Esta lismo maior que a simples evocação nacionalista.
foi por sua vez rectificada. Há aberturas de ruas nos ângulos da praça e no centro dos lados A primeira referência que encontrámos sobre este assunto foi numa carta de
121
"Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 1 3. Mapa dos Rios Guamá, Guajará e Cayté do Estado de Gram Pará aonde mostra-se o caminho novamente aberto por terra da
Vila Nova de Bragança para a de Ourém. Mapa feito por· ordem do lllmo. e Exmo. Snr. Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Fig. 1 4. Planta da Vila de Bragança a partir do mapa de Galluzzi.
em o anno de 1 754 pelo Engenheir-o F. A. Galluzzi. AHE.RJ. M I G 1 /028.B3.
1 22 1 23
Ás Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

Francisco Xavier ao bispo do Pará, datada de 24 de Julho de 1 756. A propósito da eleição perdida, ainda nos anos 70, quando se "refundar" no território amazónico Nova Mazagão,
do nome de Salvaterra, por parte do bispo, para baptizar uma vila a ser fundada na capitani a fazendo-se desta vez o elogio de todas as outras conquistas de espaços feitas pelos portu­
do Marajó, diz: gueses, como a praça do Norte de África.
Outro ponto importante que o documento realça é a citação da ordem régia de
"O nome que V. Exc.' quer impor a nova Vila do Marajá, não pode deixar de ser "mandar passar a vilas todas as aldeias. mudando inteiramente de systema". Aqui reside a
agradável a seu dono, pello gosto que faz da outra Salvaterra. Eu nas minhas fundações, en­ estrutura da mudança sugerida por Mendonça Furtado e por ele definida em termos legais.
quanto não vem o nome determinado pela corte, segui a ideia de lhe impor os nomes das O sistema a mudar era obviamente a administração missionária. O novo sistema a ser i ntro­
terras da Casa de Bragança, por cuja rezão se me vier ordem para por cá fazer novas funda­ duzido será o "Directório", a peça legal de sustentação do programa urban izador de
ções, a primeira vila que estabelecer ha de sem duvida algua ser a de Barcelos, que V. Exc.' Mendonça Furtado passado pelo governador, a 3 de Maio de 1 757, e confirmado pelo rei,
sabe muito bem que era o titulo dos primogenitos daquella Real Casa, e a estes se seguirão em Alvará de 1 5 de Agosto de 1 758. Trata-se de uma peça ímpar em termos da defi nição
mais alguns se Deus me der vida para continuar neste trabalho, e S Magde pella sua real ideológica do programa de Governo e o papel que nele ocupava o projecto de reforma
piedade me não livrar delle, como espero na frota que vem, e seria milhar que fosse urbana.
nesta . . . " <44). Em síntese, o que se propunha era, na sequência da legislação já aprovada da liber­
dade dos índ ios, a cessação total e completa do poder temporal dos missionários sobre os
O que aqui foi transmitido como uma ideia viria a ser depois utilizado como mais nativos e a consequente instituição de um admi nistrador em cada vila, o d irector. Da actua­
uma das peças do d iscurso político assumido pelo i nvestimento urbano na Amazónia. ção do d irector (que via de regra foi um militar) era d ito que a civilidade dos índios era a
Quando efectivamente iniciou o conjunto mais amplo das fundações das aldeias, em 1 757, sua principal obrigação e "por ser própria do seu min istério; empregarão estes um especia­
esta ideia tinha sido aprofundada e exposta à Corte, em carta de Francisco Xavier a Diogo líssimo cuidado em lhes persuadir todos aquelles meios que podem ser conducentes a tão
de Mendonça Corte Real, datada de 1 3 de junho de 1 757, nos seguintes termos: útil e i nteressante fim quaes são os que vou referir: . . . " <46).
Os meios eram, prioritariamente, o ensino da língua portuguesa e a separação das
"Como S. Magde foi servido por ley de 6 de junho de 1 755 mandar passar a vilas casas, dado que se considerava um hábito "indecente" a coabitação de várias famílias.
todas as aldeias que tivessem competente numero de gente para o dito effeyto, e as que Preceito este que terá influência na defi nição da tipologia arquitectónica das casas dese­
fossem mais pequenas a lugares, mudando inteiramente de systema, e como não seria justo nhadas nos projectos urbanizadores, e que implicava a remodelação do aspecto físico dos
em observancia daquellas reais intenções que conservassem os barbaras nomes que tinham aldeamentos. Além disso, cita, ainda no capítulo da civilidade, uma necessária mudança de
lhe impus os novos que constarão a V. Exc.' da Relação inclusa. Para a denominação das costumes dos índios e controlo dos vícios, especialmente a bebida.
novas vilas segui o systema de primeiramente exti nguir os nomes das vilas da Real Casa de Determinava também a gestão económica das vilas, obrigando à criação de uma área
Bragança que me lembrarão, logo alguas da Coroa, e imediatamente as das terras da Rainha de cultivo (roça) para utilização comum da população. Aliciava os índios para um investi­
Nossa Senhora, alguas do lnfantado, e ultimamente as da Ordem de Cristo, de quem são mento maior na agricultura e sugeria a introdução do arroz, do algodão e do tabaco.
os dízimos de todas estas conquistas. Os lugares são todos os dos. de algumas vilas da Concluindo o processo de incentivo da agricultura faz-se a exortação ao comércio. "Entre
mesma Real Casa de Bragança, que aqui ocorrerão. Se Sua Magde não for servido que se os meios que podem conduzir qualquer República a uma completa felicidade nenhum é
conservem estes nomes aqueles que o mesmo Senhor determinar lhe impurey logo e por mais eficaz que a introducção do Comércio". Segue-se a abordagem das conflituosas ques­
esses ficarão conhecidas as povoações . . . " <'51. tões da d istribuição dos índ ios para o trabalho fora das povoações e da imprescindível boa
convivência e respeito entre brancos e índios. Para tal instaura-se uma política de i ncentivo
É interessante notar, comparando as duas cartas, o evoluir da lógica das homenagens de casamentos mistos, insistindo na eliminação dos preconceitos e discriminações sofridos
de Mendonça Furtado. Um ostensivo elogio ao poder régio e, com a inclusão da própria pelos indígenas. No mesmo sentido é incentivada a introdução de população branca nos
Ordem de Cristo, uma também intencional mitificação da sua própria atitude de "recon­ aldeamentos obrigando-a à convivência com os índ ios.
quistador e salvador" da Amazónia selvagem. A coerência do discurso político expressa A ideia do urbano que preside, e é orientada por tal programa idelológico, vem
nesta opção toponímica fez com que o governador voltasse a seleccionar hierarquicamente descrita no item 74 do mesmo "Directório":
as escolhas dos nomes. Assim, Barcelos, que seria o nome da primeira vila a ser fundada,
não foi de facto a primeira no tempo, mas foi reservado para uma primeira em termos "A lastimosa Ruina a que se acham reduzidas as povoações dos índios, de que se
hierárquicos, a capital da capitania do Rio Negro. Do mesmo modo, a sequência não será compõe este Estado, he d igna de tão especial atenção, que não devem os directores omitir
1 25
1 24 "Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVII I

diligencia alguma conducente ao seo perfeito reestabelecimento. Pelo que recomendo aos Note-se a questão da abertura do caminho para o Mato Grosso, já aqu i completa­
directores que apenas chegarem às suas respectivas povoações, apliquem logo todas as mente assumida no conjunto da administração pombalina da região <49 l, integrando inclusive
providencias para que nelas se estabelçam casas de Câmara e cadeias públicas, cuidando a criação da nova vila. Atente-se, também, no teor regulador do documento quanto às
muito em que estas sejam erigidas com toda a segurança, e aquelas com a possível gran­ fundações e a atitude de "alinhamento das praças, ruas e edificios". No entanto, embora as
deza. Consequentemente empregarão os Directores um particular cuidado em persuadir os razões alegadas pela Coroa para a fundação das vilas se apresentem integradas e coerentes,
índios, que fação casas decentes para seus domicílios, desterrando o abuso e a vi leza de elas omitem outras razões tão ou mais importantes que as expressas nos documentos. E
viver em choupanas, a imitação dos que habitam como barbaras o inculto centro dos estas são as razões de cunho político ligadas aos missionários.
sertoens, sendo evidentemente certo qu'e para o augmento das povoações concorre muito São Francisco do J avari era um aldeamento de formação recente. Fora feito pelos
a nobreza dos edificios" <47l_ missionários carmelitas quase na confluência do rio Javari com o Solimões, com índios
Tecuna. A sua formação foi claramente estratégica, enquanto definição de um marco fron­
Assim, esclarece-se uma vez mais a coerência "discursiva" do urbano em todos os teiriço com os territórios castelhanos. A h ipótese de ser a capital da nova capitania foi cogi­
sentidos: enquanto linguagem estética - através da mensagem de beleza e nobreza da tada, também para estabelecer a vigia da fonteira. No entanto, acabou por ser mudada a
arquitectura e do desenho urbano -, e enquanto linguagem ética - através do mecanismo escolha para a aldeia de Mariuá (Barcelos), mais central e mais eficaz em termos adminis­
de persuasão efectuado pelo sistema instituído. Posto isto, retomemos a sequência das trativos e, inclusive, defensivos, dado ser de certo modo perigoso pôr a capital tão a desco­
fundações efectuadas. berto.
Veremos, após as fundações, em 1 753, de Bragança e Ourém, as de São José do A mesma opção estratégica pesa para a reforma urbana em Trocano, nomeada­
Javari e Borba-a-Nova, em 1 75 6. Ambas foram feitas reconvertendo aldeamentos missioná­ mente a questão do caminho de Mato Grosso já alegada. E mais ainda o facto de a aldeia
rios. São José do Javari fora a aldeia de S. Francisco Xavier do Javari e Borba-a-Nova, a antiga pertencer à administração jesuíta em região tão conflituosa e tão próxima dos outros aldea­
aldeia de Trocano. A conjuntura da fundação de ambas as vilas foi justificada pela Coroa no mentos (S." Rosa, S. Miguel e S. Simão), que os jesuítas castelhanos tinham feito no
âmbito da criação da nova capitania do rio Negro. A situação estratégica de fronteira com Guaporé, dentro do território da colónia portuguesa, e que Francisco Xavier faz referência
os territórios castelhanos fora o motivo da selecção da antiga aldeia de S. Francisco Xavier na carta que citámos. A aldeia do Trocano foi eleita entre as primeiras para passar a vila por
para vir a sei- a Vila de S. José do Javari, que se propunha ser a capital da nova capitania. Já um conjunto de razões que incluem em primeiro plano a intenção de "dar o exemplo", inici­
a criação de Borba-a-Nova foi requisitada ao governador nos seguintes termos: ando o processo atingindo os mais poderosos entre os missionários. Do mesmo contexto
não está alheio o processo de expulsão dos padres acusados de traição e, em especial, o
" Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Gov e Captam Gal do Estado do Grão­ padre Anselmo Eckart, missionário da dita aldeia do Trocano.
-Pará e Maranhão. Amigo. Eu EI Rey vos envio mu ito saudar. Por carta firmada pela minha Numa carta enviada ao irmão, em Outubro de 1 756, Mendonça Furtado retoma o
Real mão na mesma data desta houve por bem pelos motivos declarados criar neste Estado assunto das peças de a1iilharia e dos outros bens existentes na missão e expõe a questão
a nova capitania de São José do Rio Negro, com governo p úblico e civil, nos quais os mora­ em termos de conduzir o empreendimento de modo a, como dissemos, dar o exemplo dos
dores daquela parte occidental achem mais facil a administração da justiça, que he tão seguintes. Diz ser necessário " . . . tirar aos padres toda a presunção de que se houvesse novi­
necessaria para se conservar a paz, e boa ordem dos estados, e porque nos limites deste dade maior, lhes pudesse fazer deixar nas aldeias os outros bens mais importantes que nelas
novo governo se ha de compreender a aldeia do Trocano, e esta pela situação he a mais tem, porque do procedimento que houvesse com eles nesta primeira fundação haviam de
propria para acharem descanso e refresco os meus vassalos, que frequentando a navegação fazer argumentos para as outras, e por isso pelejei o que pude para poder nas outras obrar
deste Estado para o Mato Grosso, voltarem daquelas minas para o mesmo Estado. Sou mais livremente, nas quais o espólio há de ser mais importante, principalmente nas grandes
servido erigir a referida aldeia em uma nova villa a que impus o nome de Borba-a- Nova. E que estão mais perto da cidade" csoi _
hey por bem conceder a referida villa, e aos seus moradores todas as honras, prorrogativas, Nesta mesma carta constam outras acusações contra o padre Eckart, como a de ter
privilegios e liberdades, que pella sobredita carta concedo a outra futura villa de São José e retirado aquando da sua saída todas as fechaduras das casas da aldeia, assim como alegações
que na criação dos oficiais da camara, de justiça, alinhamento das praças, ruas e edificios, similares a outros missionários de outras aldeias, os quais levaram em seu poder imagens e
assim publicos como particulares, assignação de distrito para os logradouros e do terreno objectos como represália pelo facto de lhes ter sido retirado o poder temporal sobre os
para a j urisdição dos juízes, e para a repartição das terras, assim da camara como dos mora­ índios. Deste momento em diante ter- se-ão complicado cada vez mais as relações entre o
dores, observeis em ambas as referidas vilas o mesmo sem alguma diferença. Escrita em governador e os missionários, progredindo até às acusações mais graves de traição e culmi­
Lisboa a 3 de Março de 1 75 5 . Rey" 1481. nando na expulsão, em 1 759.
1 26 1 27
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

O qu e nos importa sali entar de tal proce sso é a d efinição da inte rvenção prio ritária missionarios nas cab e ças, e sendo as d itas praticas feitas por mim, os pe rsuad i rão sem duvida
na Vila d e Borba em te rmos de soberania e d e poder. Do conjunto d e tal inte rvenção fazem alguma muito mais, do que fe itas por out ra pe ssoa como tenho experimentado quase
parte, além da d isputa evid ente com os missionários, outras questões ligadas à p rópria sempre." c54) _
sobrevivência do empreendim ento. Uma delas refere-se à povoação do me smo. Em re sumo a viagem d eu-se assim: Sai governador o d e Mariuá em 1 6/ 1 / 1 75 8, em
Entre os povoadores a se rem enviados para Borba, está um qu e tem papel significa­ direcção a Macapá, no dia 20 pára em A raticu, aldeamento j esuíta, e a baptiza como
tivo no âmbito deste t rabalho, pois trata-se de José António Landi. Com a assistência d e OEIRAS; no dia 23, pára em Guaracuru, também je suíta, e d el a faz M ELGAÇO; no dia 24,
Landi na vila recém-fundada, o gove rnador pretend ia garantir não apenas a pre sença de mais Arucara, jesuíta, vira PORTEL; em l /2 chega a Macapá e fica até ao dia 1 4; no dia 1 4 vai a
um colono c5 1 i, mas a actuação d e um intêrvento r abalizado no e spaço u rbano " re staurado". SANTA ANA, sai dia 1 5 e no dia 20 chega a Guarimuçu, dos pad res da Conceição, e a faz
Encarregou o arquitecto dos projectos e execução dos principais prédios: a igreja e a e m ARRAIOLOS; dia 2 1 , baptiza Tubaré, dos me smos padre s, e m ESPOSENDE; no dia 22
Câmara. Depois, possivelment e já sob o gove rno de João Pe re i ra Caldas, Landi terá fe ito chega à fortaleza do Gurupá e faz a vila ao lado com o nome de ALM EIRIM; no dia 24, tem
também a "Feito ria do Negócio", onde d eve riam funcionar os armazéns das m e rcadorias i ntenção d e e rigir Urubuquaqra em vila, mas fica como lugar, com o nom e d e OUTEIRO;
transportadas no caminho entre o Mato Grosso e o Pará, sob a administração da Com­ dia 28, Gu rupatuba, dos re ligiosos da Piedad e, vira MONTE ALEGRE; no d i a 4/3, chega à
panhia do G rão-Pará e Maranhão. ald e ia dos Tapajós, sai dia 6, no dia 7, faz da aldeia Borary a vila d e ALTER DO CHÃO; no
É provável que a intenção d e mante r Landi como morado r não se tenha conc reti- dia 9, Santo lgnácio vira VILA BOIM, e São José vira PIN HEL; dia 1 4, volta a Tapajós e esta
zado. Mas, p ela insistente dete rminação do gove rnador em recomendar o d esenho ao a rqui­ é fe ita SANTARÉM; dia 1 7 Cumaru passa a se r VILA FRANCA; a 20 Surubiu dos frad e s da
tecto e o preparo d e madei ras ao encarregado da vila, é certo qu e assim tenha sido Pi edade não chega a s er e recta po r falta d e gente; a 22 Pauxis, juntando a aldeia ao lado da
e x ecutado c ) , no entanto, salvo o proj ecto da "F e itoria do N e gócio" (figs. 1 5 e 1 6), não s e
52
fortaleza mais d uas ald eolas dos frad e s da Piedad e, virá a ser ÓBIDOS; dia 1 4/4 chega a
conhecem out ros d esenhos da vila. BORBA-A-NOVA, desce dia 1 6 até à aldeia dos Abacaxis, dos jesuítas, mas a população
Encarregado do estabe lecimento de uma vila na capitania do Marajó, o bispo do Pará quer se mudar e até lá aguarda-se para a fundação da futu ra SERPA; sai no dia 1 9 e no dia
refe re-se à fundação d e Borba como um exemplo . Diz ao gove rnador que "V. Exca m e ilus­ 4/5 chega outra vez a Mariuá, que no dia 6 é baptizada de BARCELOS c55) (fig. 1 9) .
trou neste importante negócio, participando-me o modo com que estabe l e ceo a Nova Vila Importa salientar nesta prime i ra viagem " reformadora", uma vez mais, a prioridade
de Borba, farei muito por imitar a V. Ex.' d entro dos limites da possibilidade" csi) _ Para a dada a M acapá, ond e o gove rnador ia finalmente realizar os actos rituais da fundação da vila.
fundação desta vila (Salvaterra) tinha já mandado um engenhei ro à ilha para examinar o sítio Outro ponto significativo do re lato da viagem é o seu término, com a fundação de Barcelos
(fig. 1 7). (fig. 20).
Fundam-se finalmente , em 1 757, não apenas uma, mas quatro vilas no Marajó, recon- Já nos tínhamos refe rido à importância detida por Barcelos, qu e se tornou a capital
ve rtendo as ald e ias d e Joanes, Caya, Menino Jesus e Conceição. São, re spectivame nte, as vilas da nova capitan ia d e São José do Rio N egro. Enquanto local escolhido para a realização das
d e Monforte, Monsaraz, Soure e Salvaterra, além do lugar d e Mondis, antiga ald e ia d e São confe rências entre as duas comissõ es demarcadoras, a ald e i a d e M ariuá fora palco d e
José. A cerimónia da elevação d e todas foi feita pe lo d es embargador ouvidor-ge ral Pascoal diversas intervenções urbanísticas. O discurso de José Gonçalves da Fonseca dá a medida
de Abranches Madei ra, qu e d e tal tinha sido encarregado pelo governador. Ainda no mesmo id eológica do empreend ime nto:
ano, o d esembargado r voltará ao Marajó para e rigir também a ald e ia d e Anajatiba na Vila de
Chave s. Há um p rojecto feito por Landi para a ord enação urbana d esta vila (fig. 1 8). " . . . S eguiu- se a S. Exca out ro cuidado d e importante consid e ração, que foi d elinear
Embora os preparos para a refo rma das ald e ias s e fizessem desd e 1 755, a partir da as e d ificaçoens essenciais, consist entes em Palácio para a sua Re sidência, quart ei s para o
elevação d e Borba, a efectiva cerimónia de fundação da maio ria delas acabou por se realizar, alojamento das tropas nacionais e Estrange i ras, e huma nobilíssima casa de Conf erência, em
e m conjunto, no início d e 1 758. Re produzimos no ane xo docume ntal a carta do gove r­
que haviam d e conferir os M inistros d e hua e outra Coroa, a concordar os Limites dos dois
nador, em que narra a viagem e descreve as cerimónias por ele efectuadas em cada uma monarcas; e diftcios todos que depois de completos em hum proporcionado t e rrapleno,
das ald eias reconve rtidas. A importância qu e o próprio dava à sua pre sença e o ritual d estas guardado desd e as origens do Mundo para esta p rimei ra Arquitectu ra civil naquele S ertam
fundações refl ecte-se nestas palavras: " . . . devo sair da d ita vila (Macapá) e i r pela costa deze nhada, que fazia d emonst ração ilust re , nam só do Pod e r Sobe rano que a mandou cons­
septentrional das Amazonas, assima fundar as novas villas nas Aldeias que nella estão esta­ trui r, mas tambem inculcava a nob re Id e ia do espí rito zeloso, que a p resenciou executar" c5•).
belecidas, como apraticar pessoalm ent e aquelle s mise raveis índios, para lhes faze r comp re ­
ender a sólida utilidad e que s e segue do novo systema a que passaram, cujas praticas se
Nova sequência de fundações s eguem-se à de Barcelos, feitas também durante uma
fazem indispensáve is, para os d e sabuzar dos d ezatinos, que lhes tem introduzido os seus viage m ritual pelo rio Negro. As ald e ias d e Nhamundá, P ed rei ra, Baracoa, Cumaru, Aracary,
128 129
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 1 5 . Alçado da Feitoria do Negócio em Borba. Landi (1) (e. 1 773). AHU, cartografia manuscrita, Pará 8 1 O. Fig. 1 6. Planta da Feitoria do Negócio em Borba. Landi (?) (e. 1 773 ) . AHU, cartografia manuscrita, Pará 8 1 1 .
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Fig. 1 7. Planta de uma parte da ilha do Marajá com a barra da cidade do Pará. Ano 1 759. Fig. 1 8. Planta da Nova Vila de Chaves, cuja se está fazendo. Landi ( 1 764). AHU Pará, cartografia manuscrita, s. n.
1 33
"Da Amazónia e das Cidades"


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Fig. 1 9. Mapa da Amazónia com as vilas fundadas no século XVIII.
Fig. 20. Vila de Barcelos. Mapoteca do ltamarati. Mss 77 1 .39/ B-235 cdj 1 760.
1 34 1 35
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

Jahu, Camará e Dary são transformadas, respectivamente, em FARO, MOURA, THOMAR, CASTRO DE AVELÃES, das aldeias de Abacaxis, Anibaré, Tefé, S. Pedro e S. Paulo,
POYARES, CARVOEIRO, AYRÃO, MOREIRA e LAMALONGA. E com estas encerra-se o Tracoatuba, Coary, Urauá e Maturá.
ciclo das elevações efectuadas pessoalmente por Mendonça Furtado. O governador Manuel Bernardo de Melo e Castro faz fundar no seu governo
_ .
Ainda no período do seu governo encarregará o ouvidor Pascoal de Abranches SAO JOSE DAS MARABITENAS e SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, ambas criadas de novo,
Madeira, que já fizera as fundações do Marajó, de efectuar outras no rio Xingu. Daí resul­ ao lado das recém-construídas fortalezas do mesmo nome. São José das Marabitenas segue
taram as vilas de POM BAL, VEIROS, SOUZEL e PORTO DE MÓS, reconvertidas das antigas um plano de Sturm, a que já nos referimos na primeira parte deste trabalho, em que a compo­
aldeias jesuítas de Piragury, ltacurussá e Aricará e da aldeia Maturu dos frades da Piedade e sição é toda feita segu indo uma lógica de proporções duplas C601 (fig. 2 1 ).
também a elevação da aldeia de Surubiu.' no rio Amazonas, que passa a ser ALENQU ER. Também Serpa e Silves foram projectadas pelo mesmo engenheiro. Serpa num
Várias preocupações e recomendações com os empreendimentos antecederam as plano original para a região, radiocêntrico e de forma hexagonal (fig. 22). O projecto de
fundações. Em carta ao tenente Ricardo António da Silva Leitão, director da Vila de Faro, Silves está indiscutivelmente ligado ao de Macapá, pois repete a mesma tipologia da dupla
diz o governador: "Recomendo a Vossa Mercê a eficassima mudança da aldeinha para essa praça 1" 1 (fig. 23).
vila e espero da sua actividade que as casas se fação em forma que não só os índios fiquem O investimento de Manuel Bernardo de Melo e Castro no aparelhamento defensivo
acomodados, mas que fique a povoação com formozura de ruas, postas em ordem, de do Estado é notório. Preocupa-se com a finalização das obras das fortificações e investe nos
maneira que se diferencie das outras que thé agora haviam neste Estado, e vamos imitando planos das que ainda eram necessárias fazer-se. Macapá, no seu governo, vai mais uma vez
as povoações civis da Europa" 1571. ser objecto de projectos de fortifi cação. O governador realizou aí uma importante viagem de
Ao alferes Manuel Lobo de Almeida, director de Almeirim: " . . . o principal do Acary vistoria, acompanhado do engenheiro Gronsfeld. Nesta mesma viagem, passando por Porto
veio na mesma canoa da salsa e pratiquei para que houvesse de mudar a sua povoação para Salvo e reconhecendo a pobreza da povoação, "manda fazer uma planta pelo Cappm
se incorporar com essa e creyo que vai contente . . . , e Vossa Mercê depois de o praticar lhe Gronsfeld, que de alguma sorte regule as habitações daqueles pobres moradores" C62J_
achar alguma repugnancia lhe dira que venha a minha presença, que della ira convencido, de Numa documentação trocada entre o governador e o desembargador ouvidor- geral
que outra nenhuma couza lhe convem senão esta mudança. Estes novos moradores devem planeia-se a execução coordenada de casas de Câmara e Cadeia e olarias, nas vilas fundadas,
fazer as ruas de suas casas ou continuando a povoação antiga para a campina, ou para a para que estas pudessem, finalmente, alcançar a formosura pretendida. Concluem ambos
montanha que esta por tras desta fortaleza para qualquer das partes que os índios gostarem que para tal efeito "Será bom Levar algum Risco feito por pessoa intelligente para as
mais, contudo que as ruas sejam largas, e direytas para a vila ficar mais fermoza " 1581. mesmas obras de Cazas de Camara e cadeyas" C631 .
O mesmo Ricardo da Silva Leitão é depois repreendido pelo pouco empenho no Sistematização similar à das casas de Câmara sofrem as igrejas paroquiais. Em carta
seu trabalho e a questão da ordenação urbana é novamente referida num contexto de do bispo do Pará dirigida a Tomé Joaquim da Corte Real remete-se "o Risco da Egreja de
maior importância: "O estabelecimento da vila vai se retardando mais do que era preciso e Vila Viçosa, pela qual se fez a da Vigia, e a de Santa Anna do lgarapé Mirim a cuja imitição
do que devera ser porque Vossa Mercê tem três povoações unidas nesta sua ordem e não se erigirão todas as mais egrejas, exceptuando a do Gurupá de que também envio a V Exca
lhe falta muita gente para as obras que se devem fazer e sentirey muito quando passar para o Prospecto" '6'J. O autor de tais projectos é Landi (figs. 24, 25 e 26).
baixo achar este estabelecimento em tal desordem e dezamparo como Vossa Mercê me Na mesma carta é feita referência a um mapa de toda a área do Bispado que tinha
diz. O Risco para vila me pareceu muito bem, o ponto está que não fique em pintura como sido executado por Galuzzi (fig. 1 1 ) , de que diz o bispo: "Nelle verá V. Exca os grandes e
lhe vou vendo geito, e he necessario que se reduza a obra, porque isto não he materia de famosos rios de que se compõe este Bispado, a origem d'elles, os seus nomes, e as suas
brinco, nem de zombaria, mas mui seria, a tal que ou pode ser a ruína de Vossa Mercê ou distancias; o número das Freguesias que são 83 e o das Povoaçãoes que são 70, as suas
a sua mayor fortuna . . . " '591. distancias e os seus nomes" <65l.
Ainda em 1 758, Francisco Xavier de Mendonça Furtado regressou a Portugal termi­ Nota-se a evolução comparada com o quadro que foi feito da Amazónia no início
nando o seu tempo de mandato. Foi substituído no governo do Estado por Manuel deste capítulo, no qual as vilas eram apenas quatro. É evidente ter- se tratado de um trabalho
Bernardo de Melo e Castro, que assume o posto em 1 759, ano da expulsão definitiva dos de reconversão das aldeias também já existentes, mas ainda assim (e embora se tenham às
jesuítas do Grão-Pará, Maranhão e rio Negro. No governo desta última capitania já estava vezes juntado mais de um aldeamento para constituir uma única vila) o quadro final será
por sua vez empossado, desde 1 757, Joaquim de Melo e Póvoas, sobrinho de Pombal. O computado por José Gonçalves da Fonseca como tendo sido "40 as aldeias convertidas em
trabalho da reforma urbana não é interrompido com nenhum dos dois. Póvoas repete os vilas, 23 em lugares, além de mais quatro vilas de que foi (Mendonça Furtado) fundador, no
mesmos rituais de fundação das vilas feitos pelo tio e, percorrendo a sua capitania, faz a Macapá, rio Negro, no Javari e no rio da Madeira" C661.
elevação de SERPA, SILVES, EGA, OLIVENÇA. FONTE BOA, ALVELOS, ALVARENS e De 1 7 63 a 1 772 dura o governo de Fernando da Costa de Ataíde Teive. Seguem-se
1 36
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

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Fig. 2 1 . Fortaleza de São José das Marabitenas e Fig. 22. Planta da Villa de Serpa erigida pello lllmo e
Povoação. AHU, cartografia manuscrita, Rio Exmo Snr Joaquim de Melo e Póvoas governador Fig. 23. Planta da Villa de Silvez erigida pello Snr Joaquim de Melo e Póvoas Gov.� desta Capitania. Dei. pello Captam lng. Philippe Stumi.
Negro 774 (e. 1 767). desta Capitania. Porj. e Deliniada pello Captam lng. BNL Iconografia D. l 99A.
Philippe Stumi. BNL Iconografia D.20 1 A.
1 39
1 38 "Da Amaz,orna e das Cidades"
. no Seculo XVIII
As Cidades da Amazó nia

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141
"Da Amazónia e das Cidades"
1 40
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

algumas elevações, especialmente de lugares, e o investimento fundador concentra-se na Vila


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-=�------7 de Nova Mazagão, que se estudará no capítulo respectivo. Ao mesmo tempo fazem-se
também grandes intervenções em Belém, que é encarada em termos monumentais como a
capital de Estado, de que também nos ocuparemos em capítulo próprio. Do mesmo modo
Macapá não está alheia ao processo representativo dos empreendimentos urbanos deste
governador e finalmente começam-se as obras do projecto definitivo da fortaleza.
Embora o último governador do período pombalino na Amazónia seJa João Pereira
Caldas ( 1 772- 1 780), pode-se d izer que o ciclo reformador se encerrou com o seu ante­
cessor. Pereira Caldas conta já com muitas d ificuldades, financeiras e políticas, para seguir o
projecto pombalino. Quase não há fundações feitas no seu período e as obras em que
investe são na sua maioria de manutenção dos trabalhos dos outros governadores. Em 1 778,
extingue-se a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão, num clima de
conflitos e entre muitas dívidas da população. Em 1 777, assinara-se o tratado de Santo
Ildefonso e a conjuntura europeia mudara. Com a posse do governador seguinte, José
Nápoles Telo de Meneses ( 1 780- 1 783), Pereira Caldas passa a plenipotenciário das demar­
cações recomendadas já no novo tratado.
A diferente mentalidade de Telo de Meneses, quanto ao projecto urbanizador da
região, de algum modo fica denunciada pela sua postura, destituída do cunho ideológico
iluminista do i rmão de Pombal. Ao escolher o nome de novas povoações recém-fundadas
diz que o faz "atendendo a boa política de renovar neste continente o nome das vilas e

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lugares já conhecidos do Reino" t61>. Como se fosse tão simplesmente como isso!
Seguem no governo do Estado Martinho de Sousa Albuquerque ( 1 783- 1 790) e
Francisco de Sousa Coutinho ( 1 790- 1 803). Aqui, já no fim do século, a leitura sobre a região
. e a sua administração é outra. É este o tempo da presença de Alexandre Rodrigues Ferrei ra
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e das memórias críticas do último governador. Este provavelmente não concordaria com a
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visão que escolhemos para terminar este capítulo, novamente fazendo uso das palavras de
José Gonçalves da Fonseca, que assim resume a sua visão, iluminista por certo, da inter­
venção pombalina na Amazónia:

Destes e outros muitos segredos foi S. Exca nesta viagem o primeiro sumilher
de cortina, descobrindo, como em Paiz incógnito, os mais importantes domínios da verdade,
e do seu averiguado cálculo a que S. Exca rezumiu toda a sua infatigavel diligencia, delineou
Fig. 26. Frontaria da Nova Igreja da Vila de Camutá. José António Landi fez. ( 1 758). BNRJ nos termos mais reverentes e sinceros a Configuração de todo o Estado para que subisse a
Iconografia E:B li - Are 30.
presença do Soberano, tão inteligível como exacto o Mapa de toda a situação em que se
achava assignalado as ocorrencias mais importantes que se faziam d ignas da sua Real
Procedencia. E esta foi a ocasiam primeira que teve entrada no Paço aquela brilhante tocha,
que tantas vezes se apagava, quantas nele se pertendia introduzir a mínima parte della,
porque para o conhecimento da sua Luz, havia mais de um século que o trono da
Magestade se achava coroado de Trevas" t•0>.
Notas 1 43
"Da Amazónia e das Cidades"

( 1 ) As comunicações entre Salvador e São Luís ou ( 1 O) AHU, idem. Carta de 7 de Dezembro de 1 697. tico dedicado ao l llmo e Exmo Senhor Sebastião (39) Tratam-se das fazendas de Curussá e
Belém eram bastante diflceis. Foi o próprio Gaspar ( 1 1 ) V. Pe M.M. Wermers, O Estabelecimento dos José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras, do Mamayassu qye foram "reformadas" com os nomes
de Sousa, governador- geral do Brasil, o primeiro a Missões Carmelitas no Rio Solimões ( / 69 5- 1 7 1 I), in Conselho do Rei Fidelíssimo Nosso Senhor, e seu de Vila Nova dei Rei e de lugar de Porto Salvo,
sugerir que aquelas capitanias tivessem uma admi­ "V Colóquio Internacional de Estudos Luso­ Secretário de Estado dos Negócios do Reino, por respectivamente. Os jesuítas reagiram com
nistração independente. A 20 de junho de 1 6 1 8, o -Brasileiros", Coimbra, 1 965, pp. 1 7- 1 9. José Gonçalves da Fonseca, Secretário que foi veemência diante da actuação do governador,
rei ordenou a criação do Estado do Maranhão que ( 1 2) Idem, ibidem, pp. 1 4- 1 5. daqueles Estados cinco triênios, e ultimamente na alegando que tais fazendas não se tratavam de
compreendia também as capitanias do Pará e do ( 1 3) Ver Parte li, cap. 1, p. 9 1 . mesma Conquista, por ordem do Soberano aldeias e portanto não se incluíam na ordem régia de
Ceará, que ficariam desligadas de qualquer subordi­ Comissário da exploração do Grande Rio da transformação das aldeias em vilas. A tal argumento
( 1 4) Sobre a conjuntura da primeira expulsão dos
nação ao Brasil. Essa autonomia, porém, só começou Madeira, té as Minas do Mato Grosso. Anno de Mendonça Furtado responderá afirmando que " .
jesuítas do Estado, ver J. Lúcio de Azevedo, Os
de facto a existir a partir da posse do primeiro 1 759", fi. 1 I V. sem embargo das dúvidas e requerimentos dos
Jesuítas no Grão-Pará, suas Missões e a Colonização,
governador, Francisco Coelho de Carvalho, em (26) Idem, fi. 1 4V. padres deixai as ditas chamadas fazendas erigir-se o
Lisboa, 1 90 1 .
1 626. Desde esta data e até à transferência da Corte (27) Idem, ibidem.
( 1 5) Ver Parte li, cap. 1, p. 90. Curussá em vila e o Mamayassu em lugar, por serem
portuguesa para o Rio de janeiro no século XIX,
( 1 6) Transcrito in Max Justo Guedes, Os Limites (28) Crf. José Eduardo Horta Correia, op. cit., p. 469. na verdade duas aldeias como todas as outras, sem
o Estado do Grão-Pará e Maranhão manteve-se
Territoriais do Brasil o Noroeste e a Norte, in "Portugal "Só o rei é o restaurador do Algarve, mas numa mais diferença do que haverem-na feito privativas
completamente autónomo do Brasil, ligado directa­
no Mundo", vol. 5, Publicações Alfa, Lisboa, 1 989, Restauração assimilada à noção de Ressurreição". aquelles religiosos por autoridade própria", BNL
mente à metrópole. Na verdade, só após a
p. 2 1 0. (29) Sobre a Companhia de Comercio do Grão­ Reservados cod. 1 1 4 1 5, documentos vários relativos
Independência é que estes são incorporados no
-Pará e Maranhão, ver em especial: António ao Pará, carta de Francisco Xavier de Mendonça
Império do Brasi l (não sem revoltas), tendo antes ( 1 7) V. Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o
Carreira, As Companhias Pombalinos do Grão-Pará e Furtado, de 20 de Outubro de 1 757, fi. 28.
respondido à Corte no Rio como respondiam à de Trotado de Madrid, Rio de Janeiro, 1 950.
Maranhão e Pernambuco e Paraíba, Editorial (40) POMB 6 1 8, fi. 63. Ver nota 24.
Lisboa. ( 1 8) Crf. Alfredo Pinheiro Marques, O papel dos
cartógrafos e dos engenheiros militares na (,xoção dos Presença, Lisboa, 1 983 e Manuel Nunes Dias, A (4 1 ) POMB 1 59, fis. 3-6, carta de Francisco Xavier
(2) Bento Maciel Parente é uma das personagens
/imites do Brasil, in "Portugal no Mundo", vol. 5, Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão de Mendonça Furtado a Diogo de Mendonça Corte
mais conspícuas da História da Amazónia.
Publicações Alfa, Lisboa, pp. 1 88- 1 89. Rio de Janeiro, 1 970. Real, 1 O de Setembro de 1 754. Idem AHU, Pará
Desbravador da região, ele próprio se autodesignava
como "conquistador do Amazonas". Teve um papel ( 1 9) Embora com algumas reticências da parte da (30) Marcus Carneiro de Mendonça, O Marquês de maço 1 774 1 0/9/ 1 754.
preponderante nas lutas com os índios, em especial Coroa, foi aprovada, em 1 75 1 , a instalação de semi­ Pombal e o Brasil, Companhia Editora Nacional, São (42) AHU, Pará Caixa 739 F ( 1 8) / 1 3 de Agosto de
as tribos T upinanbás, que ocupavam a região de nários no Pará, coordenados pelo Pe. Malagrida, Paulo, 1 960, p. 6. 1 755. Carta de João da Cruz Dinis Pinheiro a
Belém, e foi responsável pelos maiores massacres jesuíta que viria a ser depois um dos condenados da (3 1 ) POMB 1 39, "Conquista Recuperada . . ", fi. 22V. Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
que estes sofreram no século XVII. No contexto Inquisição, em 1 76 1 . (32) Para mais informações sobre os engenheiros (43) AHU, Pará Caixa 739 F ( 1 8) / 4 de Julho de
político da capitania, Bento foi mais de uma vez (20) Ver, em especial, J. Lúcio de Azevedo, op. cit.; ver Inventário, vi/as e Engenheiros da Amazónia no 1 758. Carta de João lgnácio de Brito e Abreu a
capitão-mor do Pará e assumiu o governo do Estado Pe. João Betendeorf, Crônica da Missão dos Padres da século XVIII, nos Apêndices deste volume. Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
entre 1 638 e 1 642. A doação que lhe foi feita da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão, in (33 ) POMB 1 59 fi. 1 00 / 25 de Outubro de 1 757. (44) POMB 1 6 1 fi. 1 20. Carta de Francisco Xavier
capitania do Cabo do Norte correspondia a uma "Revista do IHGB", tomo 72, Rio de Janeiro, 1 909, Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado a de Mendonça Furtado ao Bispo do Pará Frei
mercê da Coroa que lhe agradecia os serviços pres­ pp. 1 -697, e António Baena, Compêndio dos Eras do Tomé Joaquim da Costa Corte Real sobre a chegada D. Miguel de Bulhões, de 24 de Julho de 1 756.
tados, tendo sido ao mesmo tempo agraciado com Província do Pará, Pará, 1 969. dos engenheiros / POMB 1 59 fi. 1 45V / 2 1 de (45) POMB 1 59 fi. 5 1 V / 1 3 de Junho de 1 757. Carta
o título de fidalgo da Casa Real e cavaleiro do (2 1 ) Idem, nota 1 8. Fevereiro de 1 759 / Carta de de Francisco Xavier de de Francisco Xavier de Mendonça Furtado a Tomé
Hábito de Cristo. Essa capitania constituirá o terri­ Mendonça Furtado a Tomé Joaquim da Costa Corte Joaquim da Costa Corte Real.
(22) Ver as opiniões sobre Francisco Xavier de
tório do Amapá, onde se instalou a vila de Macapá, Real sobre o estabelecimento da Aula no Pará.
Mendonça Furtado em João Lúcio de Azevedo, (46) O texto integral do "Directório" foi publicado
no século XVI I I. Ver Parte li, cap. Ili. (34) APP códice 884 fi. 25. Carta régia datada de 22
Estudas de História Paroense, Pará, 1 893, e Artur em lgnácio Cerqueira Silva, Corogro(,a Porense, ou
(3) Ver Parte 1, cap. 1, p. 27. César Ferreira Reis, Estadistas Portugueses na de Novembro de 1 752 determinando que se insti­ Descrição Física, Histórica e Política do Pro víncia do
(4) AHU, Pará Caixa 1, 6 de Outubro de 1 6 1 7. "Carta Amazónia, Rio de Janeiro, 1 948. tuísse Aula e enviando cópia da determinação régia Grom-Pará, Bahia, 1 833, pp. 78- 1 1 2, e é esta a nossa
de data de léguas que pede na forma de sua petição (23) V. José Eduardo Horta Correia, Vi/a Real de de 24 de Dezembro de 1 73 2 sobre o mesmo fonte para as citações aqui feitas.
conforme a ordenação e regimento de S. Magestade". Santo António, Urbanismo e Poder na Política assunto. (47) Idem, p. 1 05 .
(5) AHU, Pará Caixa 1, 4 de Setembro de 1 6 1 7. Pombalino, Tese de Doutoramento, FCSH-UNL, (35) Idem.
(48) B N L Reservados cod. 1 1 393 fi. 1 06. Carta régia
Carta de data da sesmaria passada a D. Maria Cabral. Lisboa, 1 984, pp. 64-69, 85- 1 1 1 . (36) Transcrito in Marcus Carneiro de Mendon ça, de 3 de Março de 1 755 determinando a elevação da
(6) AHU, Pará Caixa 76 1 (48), 26 de julho de 1 797. (24) POMB 6 1 8, fi. 63, carta de João Egas de O Cominho de Moto Grosso e os (ort1(,cações pomba­ aldeia do Trocano a Vila de Borba-a-Nova.
Carta do governador D. Francisco de Sousa Bulhões e Sousa a Francisco Xavier de Mendonça linas do Amazónia, in Revista do IHGB, vol. 25 1 ,
(49) V. pp. 1 1 3 - 1 1 4 deste capítulo.
Coutinho à Rainha, sobre a situação das demarca­ Furtado. Aveiro, 25 de Março de 1 753. Abril-Jun ho, 1 96 1 , p. 1 2.
ções no Estado. (50) Transcrito in Marcus Carneiro de Mendonça,
(25) POM B 1 39 , "Conquista Recuperada e (37) POMB 1 39, "Conquista Recuperada . . . ", fi. 1 7. A Amazônia na Era Pombalino, correspondência
(7) Idem. Liberdade Restituída Promovida huma e outra (38) BNL Reservados cod 1 1 393 cópias de cartas do inédita do governador e Capitão General do Estado do
(8) 1 00 léguas quadradas correspondem a uma Felicidade nas capitanias do Gram Pará e Maranham, Pará. "Carta familiar e secretíssima em resposta das Grão-Pará e Maranhão ( 1 75 1 - 1 759), São Paulo,
medida de cerca de 300 Km', ou seja 43 000 no tempo em que o l llmo e Exmo Senhor Francisco que havia recebido nas datas do mês de novembro 1 963, 1 5 1 .• carta, pp. 939-942.
hectares. Xavier de Mendonça Furtado do Conselho de de 1 752 sobre o governo interior dos Estados do (5 1 ) Marcus Carneiro de Mendonça, op. cit., 1 45.•
(9) AHU, Pará Caixa 1 00 T reslados de cartas Régias S. Magestade Fidelíssima foi governador e Capitao Maranhão e Pará, datada de Lisboa 1 5 de Maio de carta, p. 880-88 1 . "O por gente de distinção nestas
1 668- 1 752. Carta de 9 de Janeiro de 1 697. General daquelles Estados em um discuro encomiás- 1 753", fis. 89- 1 05 , in AHU 1 774 1 5/5/ l 753. vilas me tem dado um grandíssimo cuidado porque
1 44 Ili
As Cidades da Amazónia no Século XVIII Macapá, a Vila do Amazonas

é bastante dificultoso e para o poder conseguir (66) POMB 1 39, Conquista Recuperada . . . , íl. 3 1 V.
tenho armado algumas ideias. Deus queira que vão (67) AHU, Pará Caixa 757 (4 1 ). Carta de José
adiante. Uma delas é ver se posso conseguir casar Nápoles Telo de Meneses ao capitão André
António Landi com a filha que ainda está solteira de Loureiro Monteiro da Vila do Caité, em 6 de
João Baptista de Oliveira, e para concluir este Novembro de 1 78 1 .
negócio estou esperando que chegue esta família do (68) POMB 1 39, Conquista Recuperada . . , íl. 2 1 .
Pará; e se efectuar este negócio, parece-me que
temos um bom morador para a vila de Borba".
(52) Uma série de cartas enviadas ao responsável
pela Vila de Borba várias vezes reitera que se prepa­ As Terras do Cabo do Norte
rassem as madeiras pois o arquitecto iria para a vila
para coordenar as obras. V. POMB 1 6 1 íls. 36, 94 e
1 54, cartas de Francisco Xavier de Mendonça
Furtado ao tenente Diogo António de Castro.
As terras costeiras situadas acima da margem norte do rio Amazonas eram identifi­
(53) POMB 623 íl. 52. Carta do bispo do Pará a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 1 2 de cadas como "As Ten-as do Cabo do Norte", devido a de um cabo que efectivamente existia
Fevereiro de 1 756. na costa, e que fora assim baptizado ainda no século XVII, estendendo-se depois a deno­
(54) POMB 1 59 íl. 1 23 / 4 de Julho de 1 758. Carta minação a toda a região. Conformavam-na, como limites naturais, a norte o rio Oyapoque
de Francisco Xavier de Mendonça Furtado a Tomé
Joaquim da Costa Corte Real. ou de Vicente Pinzon, a sul o próprio Amazonas, a leste o ma1- e a oeste o rio Jari. Toda
(55) Ver, no final deste volume, um quadro sinteti­ esta extensa área define hoje o Estado do Amapá, na República Federativa do B1-asil (fig. 27).
zando estas informações, assim como o lnventáno Estas ditas Ten-as do Cabo do Norte foram objecto de disputa entre portugueses e
das vilas.
franceses, como vimos no capítulo anterior, e antes d_i sso foram-no também, além deles,
(56) POMB 1 39, Conquista recuperada . . , íls. 23V­
-24. entre ingleses e holandeses. O actual Amapá situa-se, portanto, na mesma região que gerou
(57) POMB 1 62 n. 79. Carta de Francisco Xavier de o mapa do extremo norte da América do Sul, em que cada uma destas nações obteve o
Mendonça Furtado ao tenente Ricardo António da seu qu inhão, com a partilha das respectivas G uianas: a francesa, a inglesa, a holandesa e a
Silva Leitão, de 1 9 de Julho de 1 757.
(58) POMB 1 62 íl. 83. Carta de Francisco Xavier de portuguesa, o Amapá.
Mendonça Furtado ao alferes Manuel Lobo de A cronologia das disputas foi pacientemente historiada por Alexandre Rod1-igues
Almeida, de 29 de Julho de 1 757. Ferreira, quando escreveu a sua defesa intitulada "Propriedade e Posse das Terras do Cabo
(59) POMB 1 63 íl. 1 80. Carta de Francisco Xavier do Norte pella Coroa de Portugal deduzida dos Anaes Históricos do Estado do Maranhão
_
de Mendonça Furtado ao tenente Ricardo Antorno
da Silva Leitão, de 30 de Outubro de 1 758. e de algumas memórias e Documentos por onde se acham dispersas as suas provas" <'J. Ali
(60) Ver Parte 1, cap. 1, p. 5 1 . afirma a presença e insistência da Coroa portuguesa na 1-egião, que o naturalista defende
(6 1 ) Ver Parte 11, cap. Ili. como virtual proprietária com direito adquirido por "Descobrimento e Conquista, confir­
(62) BNL Reservados cod. 1 1 4 1 5. Documentos mado pello consentimento dos naturais, sustentado pellas despezas da Coroa e
vários relativos ao Pará, íls. 1 3 1 - 1 4 3. Relato da
viagem do governador Manuel Bernardo de Melo e Reconhecido e ratificado entre Portugal e F1·ança pellos Tratados" C2i.
Castro às vilas e povoações. Idem AHU, Pará Caixa No texto de Alexandre Rodrigues Ferreira a primeira referência da ocupação portu ­
739 1 (2 1 ).
guesa da região é um forte, construído em 1 62 3 , por Bento M aciel Parente. Fora feito sob
(63) AHU, Pará Caixa 739 J / Cartas trocadas entre
o governador Manuel Bernardo de Melo e Castro e a invocação de Santo António, no sítio de Mariocay, onde os holandeses constituíam perigo.
o desembargador intendente-geral sobre o estabe­ Depois, em 1 63 1 , uma expedição é enviada de São Luís para expulsar desta feita ingleses
lecimento de olarias nas vilas do Estado, datadas de instalados nas terras e destruir o seu forte, designado de Cumaú. Em 1 63 2, o dito forte foi
1 6, 22 e 23 de Agosto de 1 763. E em anexo carta
do desembargador Luís Gomes de Faria e Sousa a rendido e arrasado po1· Feliciano Coelho. Em 1 63 6, o te1-ritório do Cabo do Norte foi
Francisco Xavier de Mendonça Furtado sobre o passado em donata1·ia a Bento Maciel Parente, por carta régia de 1 6 de Junho.
mesmo assunto, datada de I O de Outubro de 1 763. Em meados do século XVII findou definitivamente a ameaça holandesa, que subsis­
(64) IHGB doe. n.º 1 1 3 / oficio de 23 de Fevereiro
de 1 759, do bispo do Pará dirigido a Tomé Joaquim tira até então na região do lago Mariocay. Nos últimos anos de Seiscentos são os franceses
da Costa Corte Real. que passam a encarnar os perigos do Cabo do Norte. O governador Gomes Freire de
(65) Idem. Andrade foi alertado, em 1 686, com uma carta régia determinando que " . podereis esco-
147
"Da Amazónia e das Cidades"

lher de novo o que a experiência vos tiver mostrado ser o (sítio) mais conveniente, mas
M�AA :�E R Rt10 :?._ F:_D ERAL-00- A MA:� -·­
também mandar fazer não só uma mas todas as fortalezas que julgar necessárias para
� L.. impedir quaesquer nações que entrem nas terras desta Coroa sem as condições necessá­
rias com que o devem fazer, valendo-vos ao mesmo tempo dos missionários capuxos de
Santo António que tem as missões do Cabo do Norte" (]) _
o
A fortificação foi construída em 1 688, com o nome de Santo António do Macapá.
O capitão António de Albuquerque Coelho fê-la sobre as ruínas do antigo forte de Cumaú
dos ingleses. Mas as providências tomadas não impediram a conquista francesa do forte, em
1697, pelo marquês de Ferroles. Os portugueses, sob o comando de João Moniz de
Mendonça Furtado e Francisco de Sousa Fundão, retomam a fortificação no ano seguinte.
Entretanto, instaurada a situação de litígio com a Coroa de França, esta perdurará, como

r vimos, até 17 13, com a assinatura do Tratado de Utrecht <•> .


Apesar da segurança representada pelo tratado, era imprescindível cuidar da efectiva
ocupação do Cabo do Norte, posto a Coroa portuguesa saber que nada de facto impedia
r
que os franceses, ou os ingleses e holandeses, também vizinhos, voltassem a tentar ocupá­
o -lo. Em 1738, constrói-se um pequeno reduto a cerca de duas léguas e meia de distância do
forte de Santo António. Em 1740, encomenda-se no Reino novo projecto de fortificação
para Macapá, de que é encarregado o sargento-mor Manuel de Azevedo Fortes, e deli­
neado, sob sua aprovação, pelo seu discípulo Manuel Luís Alves (fig. 44).
As preocupações com a região, entretanto, não estarão de todo terminadas até à

-�- --
ida de Mendonça Furtado. O governador, nas instruções reais secretas que lhe foram diri­
'- gidas pelo seu irmão, recebeu expressamente as seguintes determinações: "Recomendo-vos
muito a extensão da cultura e povoação de todo este governo, conforme a oportunidade
e ocasiões que tivereis para este effeito, porém mais particularmente encarrego-vos de
Fig. 27. Mapa da Região do Cabo do Norte, actual Estado do Amapá.
povoares o distrito do Rio Mearim, que fui servido mandar aldeyar . .. , e especialmente as
missões do Cabo do Norte, onde cuidareis logo em estabelecer não só povoações, mas
também defensa para fazer a barreira deste Estado, por esta parte, evitando por esta forma
as desordens e conquistas que por esta parte lhe podem fazer' os franceses e holandeses,
para cujo fim mandareis missionários, executando-se sem demora nem admitir escusa a
resolução que fui servido tomar a este respeito em 23 de julho de 1748" <5>_
Em 1 689, acordara-se entre os jesuítas e capuchos a questão das áreas respectivas
de missionação. Tendo sido determinado que a margem norte do Amazonas era da juris­
dição dos capuchos, estes herdaram, na área, a aldeia jesuíta de Urubuquara. Em 1702,
documentam os ditos frades terem feito descimentos de várias nações para o aldeamento
a saber: "Coapunas, Aracajuz do rio Paru, T ucujuz do T uaré, Aroans da Ilha Grande e outros
do Panhoão para a aldeia nova dos Araquizes" <6>. Tai aldeamento, entretanto, ficava muito
no interior, quase na confluência do rio Paru com o Amazonas. A área do Amapá conti­
nuava, de facto, desocupada, salvo pelo destacamento do Macapá, sediado perto da forta­
leza desde 173 8.
Era esta a situação com que se deparou Mendonça Furtado e que merecia o trata­
mento de urgência requisitado pela Coroa. Embora insista na recomendação aos capuchos
149
148 ·•oa Amazónia e das Cidades"
As Cidades d a Amazónia n o Século XVIII

anteri o r e inc l ui uma refe rência i m portante qu anto à fortificação da região . " Resta dizer a V.
para qu e fizessem m ais aldeias no territóri o, a atitude d o gove rnad o r, co erente com a
o rde m régi a e c o m o se u próprio pr o jecto urbanizad o r d a reg i ã o , é a d e i nve st i r p aralel a­
Exci a, que necessitam o s co m a brevidade po ssí vel faze i-m os junto àquel a povoação a l gu m a
m ente, e se m dem o ra, n a form ação de um p ovo ado co m c olono s aço ri anos . fortificação qu e a cubra e a defenda d e al gum as vi o l enci as ou insu lto que se intente contra
el a. Qu e eu nã o tenh o aqui ofici al a l gum aqu e m enca 1-regue e sta di l igenci a, p orqu e o

Engenheiro que aqui h á é velh o e sumamente esqu ecid o de s u a profi ssão " '" 1.
A l ém di sso, é fe ita aqui a notação da esco l h a do no m e da vil a, ass im ap1-esentada:
"Aqu el a po voação se fundo u co m a den o minação, por o ra, de São José de Macapá,
Os Procedimentos Instauradores da Povoação
e mquant o S. Magde. nã o é servido d e cla rar se q u e r seja cidad e o u v il a e o n o m e qu e de ve

ter. A mim m e pare ci a qu e co m o grande estabel e ci m ento que tem a po di a S. Magde . fazer
m es m o ano , Mend onça cidade , po rqu e de primeiros povoado res h á de ter perto de 600 pessoas b rancas que, certa ­
Tendo chegado a B e lém, em S etemb ro d e 17 5 1, ai nda n o
B aptista O l iveira, para fundar a mente, sem mesc la, não as tem nenhum a deste Estado, e e m po ucos an os m e pe 1-s u ado qu e
Furtad o envi o u um a exped i ção, sob o co m and o de João
a d e ser a m ai s fl ores c ent e de t o das , se ac aso as c o munidades os não fore m c o nquistar e
"n ova povoação e fortaleza d e Macapá".
e e ste devia cuidar em de ixare m aqu ele pedaço de T erra li vre aos S ecu lares, ass im com o te m suced ido até
Entre as in struções pas sadas ao co m andante fica d ito qu
as c as s r e gul ares) t o do s estes
a agor a " '121.
" adi antar os tupajares p ara qu e (enquanto não se fizessem
nder d o rigor d o tempo". Vári as Note-se a postura cl ara d o g overn adm de l imitand o e dife renciand o o seu investi ­
m orad ores s e possam c onse rvar co m co m odidade e defe
qu e os c o l ono s de facto cu lti­ m ento urbano d o dos m is sionários . Desde já avança razões porque terá feito de Macapá
outras reco mendações são feitas qu anto à necessid ade de
stas terras de que só os índios são um a el eita entre as v i las que fundo u na Amazóni a, pretendend o ver naqu ela u rbe , qu e el e
vasse m e não caíssem no " abuso que está arraig ado n e

o s qu e devem trabal h ar e qu e a t o do
branco é inju rio so o pegar em instrum ento s para gostaria qu e fosse uma cidade e não apenas uma vil a, uma representação mai s cuidad a do
se u projecto de "restauração " da terra am azónica.
cultivar as terras" <'1.
m esmo dia esc revia já o Os trabalho s de instal ação do povo ado são muitos e a co rrespondênc i a entre o
A expedição partira e m 1 9 de Dezembro de l 7S I e no
o . Em c a rta dir i g i d a a T om é g ove rnado r e o co mandante é constante. Ainda n o fina l de Jane iro d e 1752, João Bapti sta
governador a o R ei no d ando co nta d o pro cedim ento to mad
vagar, p or falta de m ei os , a expe­ d e O l iveira escreve d ando conta do s descimentos e so ldad os chegado s e dos avanço s da
J oaquim da Co sta C orte Real diz: "Vou fazendo ainda co m
otíc i as qu e me t e m ch egad o me povoação . Diz: "to do s o s m oradores se acham repar ad os do rig or do tem po e já tenh o m ais
dição da nova povo ação de São J osé do Macapá. To das as n
t er u ma terra rica, abundante e al gum a s c asas d evoluta s esp er ando os qu e fa ltam e s e v a i co ntinu ando em fazer o ut ras, e as
dão um as grandes esperanças d e qu e poderemos ai vir a
núri a e m qu e se ach a . H o je partiu casas para a ass istênci a d e V. Exci a que sam na mel h or part e da p rassa co m bastante
qu e po ssa remi r em parte a esta m i seráve l C apitani a d a p e
as que já lá e stava m c o mp let am l a rgu e za , e as qu e fasso para o senh o r Bi sp o sa m m a is pequ enas e ao pé da igreja, qu e
um a expedição p ara aquel a terra co m 68 pessoas, e co m
200, qu e espero transportá-l as depois ficarão para o vigá ri o . " < 131
0 número d e 302, fora sol dad os ; ainda me restam perto de
1 Em Feve reir o , novam ente o co m andante dá conta das nov idades das p lantações e
até 1 5 de J aneir o " 'ª .
utr a vez re l atando a o re i a m orad ores '"1 . e em Març o, tend o s id o info rm ad o que u ma e pide mi a estaria prejudicando
Pro m essa cumprida, em 25 de J ane iro de 1752, escreve o
ap á. "Pondo eu tod o o cu i dado os c o l on o s, o go vernador foi p e s so al m ente ao M ac apá, l ev and o consigo o único médic o
continu ação d o transpo rte das gente s das ilh as para o Mac
ac ap á, c o m o e xi stente n o Estado. Escre veu d ep o i s ao R e ino diz endo qu e "a p ovoação está muit o be m
o m a m aio r b re vidad e p ara o síti o d e M
e diligenc ia e m t ran sp o rtar est a gente c
ad es d e ir buscar os índi os as s itu ada em um síti o um p o uc o em i nente com l arguí ss ima vi sta, exce l l entes ar e s e igu aes
V. Majestad e ordena, me não foi po ssíve l em razão das di ficuld
águ as " '1 51•
a lde i a s p ar a rem arem qu e ta mbém aqui
h á bastante falta, pela decadênci a e m que estão os
i r a e xpedi çã o n o p rime i ro de As boas notícias ch egad as a Lisb oa merec eram com e ntári os elogi oso s. Co m o este ,
m orad ores, e con segui com g rand e tr ab al h o fazer a pr i me
mpo qu e as canoa s gastavam , e referido num a carta d e B ento d a Fonseca dirigida ao governador: "Chegaram os navios feliz­
Novembro , as quai s se foram repetindo a prop orção d o te
qu e ficaram e determ ino l evá-l os mente, e v o lta este a l evar casa is das i l h as, co m qu e V. Exci a. p oderá form ar o utra vi l la co m
m andei o s ú lti mo s a 2S d o presente, excepto un s doe ntes
9 s , c onc l u i qu e "To dos o s povoa­ o mesm o bom s uce s so com o fo rm o u a do C abo d o No rt e " < •1.
na minh a co mpanhia" , 1 _ Depo is d e fazer outras obse rvaçõe
1

e qu e a s terr as p ro m etem , mas Ent retanto, as obras segui am. Um a certidão passad a, em N ov em bro d e 1 752,
d ores se ach am co ntente s naque le síti o não só pel a fert i l idad 1 º1•
que co m algum trabalh o " < pel o co m andante da povoação confirm a o trabal h o dos índios nas obras , esclarecendo
também pel a abundancia de pe ixe que tiram do rio , ainda
da C o sta C o rte Real . a s u a actu ação c omo ofici a is pedre iro s e carpinteiro s. Um a carta do 1-e i ao gove rnado r,
Na m esm a data, o utra carta é d i 1-igid a a T om é Jo aqui m
s m esm as obs ervações da carta datada de Dezembro d e 1 752, felicita o acert o co m que foram destinadas as pessoas das
Participa ta mbém a co ndução concluída dos ilhéu s, re pete a
1 50 151
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

ilhas para "formarem uma nova povoação no distrito do Macapá" e diz da necessidde "qu e Galuzzi e os astrónomos para a fundação de Bragança e Ourém, em 1 754, podendo deles
havia de fazer na dita povoação uma igreja capaz de ser paróquia" l 1 7> _ perfeitamente ter recebido as instruções necessárias para a instalação da vila 12 1 >.
Nesta altura, no final de 1 75 2, o ouvidor João da Cruz Diniz Pinheiro vai para Os desenhos identificam-se como "Mapa da Povoação Antiga do Macapá e da nova
Macapá. A partir daí, até à sua morte, em 1 757, será o dinamizador da instalação do que se há de fazer" (figs. 28 e 29) e "Planta de Macapá" (fig. 30) . As plantas indicam que se
povoado. Dinâmico e supostamente bastante autoritário, o ouvidor vai . requisitar para si fez a nova povoação mais para o norte, após o lago. No local onde se sediara o núcleo inicial
todos os méritos da evolução dos trabalhos. Nega o que antes já tinha sido feito pelo formado pelo capitão João Baptista de Oliveira, terão sido instalados os militares, assumindo
capitão João Baptista de Oliveira, tecendo constantes comentários sobre a desgraça a que o que o próprio ouvidor diz na carta ao bispo, que apartava dos povoadores o corpo militar
estavam reduzidos os povoadores e as grandes dificuldades do estabelecimento. para evitar desordens <22>. O assento da povoação nova feita após o lago livrava do impedi­
As primeiras plantas de Macapá, que temos conhecimento, aparecem em cartas de mento de crescimento que este representava e aumentava o espaço da vila.
João da Cruz Dinis Pinheiro dirigidas a Mendonça Furtado e ao bispo do Pará. Assim apre­ Todo um conjunto de observações remetem para uma preocupação de largueza das
senta-as o ouvidor: dimensões do investimento denunciadas pelo Ouvidor. Ao referir-se à igreja nova que
"Resolvi formar o acento da povoação dando nelle a cada um dez braças de largo e deixava espaço para se fazer, diz que aquela precisaria ser grande e que o terreno que
trinta de fundo para formarem a sua casa, curral e quintal, o que determinei ser para a parte preparara de "noventa palmos de comprido, por trinta de largo não cabe nelle a maior parte
do Norte do lgarapé, na forma da Planta que remeto por me livrar de lagos e ser bõ sitio da gente por serem para sima de seiscentas pessoas" <23> _ Esta observação, considerando
e para o executar trabalhei dous dias desde o amanhecer até a noite em excesso por a elle pequena uma dimensão do plano que ele p róprio está executando, pode ser um indício de
me obrigar o desejo que tinha de fazer estavel o estabellecimento de V. Excia nesta terra que o tenha já levado antes e apenas o execute. As medidas dos lotes utilizados, de dez
que chamão má, com uma povoação constante, e de livrar aqueles miseráveis das vecha­ braças de largo por trinta de fundo, inserem-se na maior escala do quadro hierárquico das
çoins a que estavam reduzidos, e em que os pos quem consumiu o tempo, e tanta despeza proporções urbanas utilizadas no Brasil <24>_
que se tem feito em servir o Demonio e as vis conveniencias sem olhar para Deus nem para Mas as efectivas provas do dimensionamento privilegiado da vila ficam por conta das
uns miseráveis, que já não fosse para o serviço de EI Rey que procurão para o não execu­ duas grandes praças, cada uma delas definida já com tamanho suficiente para designar um
tarem, e com bem pezar meu vim ver aqui verdadeiro o ditto que a V. Excia disse quando grande centro (na planta de 1 75 5 com cerca de 65 x 70 braças cada e na de Gronsfeld, de
tive a honra de o acompanhar do Maranhão para o Pará, que não havia de achar metade 1 76 1 com 80 x 70). Voltaremos a esta questão do desenho de Macapá, revendo tanto as
de um homem que encarregasse de empenho semelhante, nem de outro qualquer que suas dimensões quanto a sua forma, quando, depois de ultrapassadas as dificuldades iniciais
fosse . . . " < 1 ª>. de instalação do povoado, este se ache finalmente consolidado, o que se concretizará a
Noutra altura da mesma carta diz, sobre a obra que fizera na igreja, que fora neces­ partir da administração da vila pelo sargento-mor engenheiro Tomás Rodrigues da Costa,
sário "servir eu de pedreiro e carpinteiro e se não fora a providência de levar comigo um em 1 757.
cai chão de ferramentas ( . . . ) não se faria nada porque hu soldado e hu ilhéo que achei que A notícia seguinte que temos do desenrolar dos acontecimentos na instalação da
fazia alguma couza de curiosidade, não as tinhão, e erão taes que nem um corte riscado Vila de Macapá é um longo relato do bispo do Pará ao governador, datado de 25 de Junho
acertavam fazer direito, e me rallaram a paciencia depois de ficar com a fama de imperti­ de 1 755, dando conta, basicamente, das actividades desenvolvidas pelo ouvidor naquela vila.
nente" (1) 1 1 9>_ Expõe as dificuldades provocadas pela fome, devido aos jesuítas (sic) não deixarem os índios
As plantas que são remetidas têm um desenho tosco, mas, na essência, representam venderem farinhas aos povoadores, o que ocasionava um levantamento dos soldados:
o que de facto será o embrião da vila, inclusive com a definição das duas grandes praças. aponta as medidas tomadas pelo ouvidor para resolver a situação trocando o comando da
Pela natureza enfática e pouco modesta do discurso do ouvidor é lícito, neste caso, questi­ vila, posto que são feitas graves acusações a João Baptista de Oliveira. Quanto à instalação
onar se terá sido de facto ele o verdadeiro autor do plano ou se, ao ser encarregado da física propriamente da povoação diz: "Tenho conferido com o dito Dez., que apenas partir
continuidade do estabelecimento da povoação, teria outras indicações para a instalação a frota há de tornar para o Macapá, assim para repartir as terras aos povoadores, como para
urbana. estabelecer a Igreja e hua fortaleza, na fonma que 5. Magde determina e também para conti­
Desde 1 75 2, em repetidas viagens, o ouvidor dirigiu-se à nova povoação para nuar o arranchamento das cazas dos ditos povoadores, o que elle já deu principio como
adiantá-la. Apenas em 1 754 há uma carta sua de Macapá que faz referência a cuidar da V. Excia verá destes dous Mappas" <25>_ Os mapas aqui referidos são certamente as plantas
arrumação das casas e quintaes dos moradores, recomendada pelo governador 120>. E, em já citadas (figs. 28 e 29).
1 754 e 1 755, aparecem as plantas e as narrativas da execução dos trabalhos. Note-se que A importância da fortificação do Macapá, sentida desde o início do governo de
em 1 75 3 haviam já chegado os engenheiros da expedição e que o próprio ouvidor levara Francisco Xavier, continuava, no entanto, por cuidar e a Corte insistia na sua urgência.
1 52 153
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades''

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Fig. 28. Mapa da Povoação Antiga do Macapá ( 1 754). POMB 627, fi. 8. Fig. 29. Planta da Nova povoação que se há de fazer· ( 1 754). POMB 627, fl. 9.
1 54 1 55
"Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

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. O governador, em Outubro de 1 755, fala da sua preocupação ao juiz de fora do Pará,
Francisco Rodrigues de Resende, dizendo-lhe que ali se deverá cuidar do "centro de força".
Diz que mandaria um "oficial alemão que se criou e que se empregou mu itos anos na obra
de fortificação da Ungria e Austria" para cuidar daquela vila que ele, governador, julgava ser
a "mais principal de todas" <26)_
Este oficial em princípio devia ser Gronsfeld. No entanto, ainda em Novembro, o
governador, provavelmente escusando-se, diz ao i rmão que não poderia confiar a tarefa de
fortificação do Macapá nem aos engenheiros que lá estavam, por serem na maioria estran­
geiros, nem ao sargento português Sebastião José, pois o julga inábil. Na mesma ocasião
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:n.t ·,.,. aproveita para pedir que viessem do Reino mais engenheiros nacionais e mestres pedreiros
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<;;;,nl?lt1n,� ,,,, para ensinar os índios <27)_
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! i,�:� A situação ter-se-á mantido em suspenso ainda por mais algum tempo. Em 1 756, vai

9';,,,..._;.JJ,,..,9"t, ;,,, à vila o sargento-mor engenheiro Carlos Varjão Rolim acompanhado por, em mais uma
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viagem, o ouvidor João da Cruz Dinis Pinheiro. Iam para "fundar a igreja, a fortaleza, os quar­
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.',.;á teis e a levantar as casas dos moradores de que a maior parte dei las se achava por terra por
<j]7"M (it,11= terem sido feitas de madeiras brancas" (29) _ Na mesma ocasião funda-se a nova fábrica de
panos de algodão, instalada entre Macapá e Santana, de que o ouvidor tinha sido também
/J,,9./j,,//4 encarregado <29)_
A fortaleza teria ainda de esperar bastante mais tempo. O bispo preferiu ficar com
os melhores engenheiros em Belém, embora soubesse que Rolim seria de pouco uso em
Macapá, pela sua avançada idade <30) _ Mas o pronto estabelecimento da vila exasperava a tal
ponto a todos, que o próprio bispo, depois de relatar a viagem do ouvidor, diz a Mendonça
Furtado que "se Macapá não acaba de se estabelecer desta vez, seguro a V. Excia, que de
todo lhe perco as esperanças" <3 1 )_
Mas no fundo não as perde, embora as coisas não se resolvam com a prontidão
desejada. Ainda em Julho de 1 756, o governador emite uma opinião das mais esperançadas,
dizendo que " Não pode deixar a Nova Vila de São José de Macapá de prosperar tanto
quanto nos todos desejamos" <32)_ Entusiasmado, faz elogios ao ouvidor João da Cruz Dinis
Pinheiro. Este responde ao governador dizendo que "será esta por ser a primeira criação de
V. Excia modello para as mais que se quizerem fazer capazes, e bem dezejarei eu vello nela
antes de a deixar, para ter o gosto de que visse uma especial vila naquela mesma parte em
que todos anunciavam Ruina aos que a fossem povoar" <33)_
Estava determinado que Dinis Pinheiro partisse para o Maranhão para assumir o
cargo de ouvidor do Piauí. A morte, no entanto poupou-o dos novos trabalhos. Em
Outubro de 1 757, quando o governador refere ao bispo que passaria em Macapá, na viagem
para a elevação das vilas, fala da morte do ouvidor e da perda que significara para a povo­
ação <3•).
Na mesma data em que escreve esta carta ao bispo, redige outra determinando que,
tendo chegado do Reino os sargentos-mores engenheiros Tomás Rodrigues da Costa e
Manuel Alves Calhei ros: "Estes dous oficiais faço tenção de mandar logo hu para o Macapá
para Intendente das obras e estabelecimento daquella villa, e o outro ficará por ora nesta
Fig. 30. Planta de Macapá ( 1 755). POMB 624, fi 65.
1 57
1 56 "Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

a cidade da foz do rio continuava ainda por fazer e Macapá viria finalmente suprir esta falta.
cidade e verei se posso conseguir estabelecer aqui hua Aula de Fortificação, fazendo vir a
Aqui a própria situação geográfica da instalação da vila, fundada mesmo na linha equinocial,
ella aqueles rapazes que me parecerem mais habeis, e de que se poder esperar alg(1
não nega o intencional simbolismo que se lhe pretendeu dar, fazendo-a simultaneamente a
fructo" (35l,
"vila do Amazonas" e a "vila no Equador".
Ambas as medidas se ,-evestem de grande importância para este assunto, tanto pela
Mas a principal justificação da prioridade ideológica, que Macapá também assumiu,
determinação do oficial que a partir daí seria o responsável por Macapá, quanto pela
estará ligada ao facto de ter sido pensada como uma experiência-modelo, que deveria espe­
intenção, efectivamente concretizada, de reestabelecimento da Aula no Estado.
lhar um projecto administrativo e político. A implantação dos colonos açorianos pretendeu
O engenheiro escolhido para Macapá é, como sabemos, Tomás Rodrigues da Costa.
aqui, mais do que nos outros lugares onde também foram colocados, encarna,- 0 tópico da
Com a circunstância desta escolha a situação da vila passará para um novo período da sua
civilidade "branca". O projecto da vila fez-se acompanhar de um projecto económico que
formação. No início de 1 758, ano em que o engenheiro assumiu o comando da vila, ela
se fundamentava no incentivo á agricultura e á pecuária (feito inclusive com doação de
pôde finalmente ser assim denominada, pois fora, com as cerimónias da praxe, elevada a tal
gados bovinos e equinos para os colonos), no fomento da indústria, em especial a fabricação
categoria.
de algodão, e uma tentativa de criação de bichos-da-seda. Todo este programa, em total
coerência com o projecto político maior, apontava para a Vila de Macapá como efectiva­
mente "uma das partes essenciais de que se havia de compor o governo", tanto O de
Mendonça Furtado como o dos seus sucessores incluídos no processo pombalino.
A Vila Eleita, Forma e Símbolo Ao proceder ás praxes que a elevavam á categoria de vila, em Fevereiro de 1 758,
Francisco Xavier fazia-as considerando o peso particular que esta tinha no seu projecto.
Demora-se em Macapá mais que em qualquer outra das aldeias "reformadas". O gover­
Na carta já citada do bispo do Pará ao governador, datada de 25 de Junho de 1 755,
nador, que ali chegara em I de Fevereiro, vindo de fundar Oeiras, Melgaço e Portel, nela
este faz o seguinte comentário. acerca de Macapá: "Enfim Exmo Sr, conheço evidentemente
permanecerá até ao dia 1 4 do mesmo mês. Esta fundação coincide, como já dissemos, com
a importancia daquela terra, a boa situação della, os bellos frutos que ella produz, os salus­
a nomeação do sargento-mor engenheiro Tomás Rodrigues da Costa pa1-a O comando da
tíferos ares e o excelente pano de algodão que já se principia a fabricar pelos novos povoa­
vila e para a direcção das obras que continuavam por fazer. O grupo de documentos que
dores. Conheço tambem o especial cuidado que esta povoação deve a V. Excia, e o grande
relatam as providências tomadas pelo governado,- e as recomendações passadas ao novo
empenho que V. Excia tem justamente no seu estabelecimento, sendo este huma das partes
comandante são esclarecedoras do contexto de que se revestia aquele investimento
essenciais de que se há de compor o seu gloriozo governo . . . " (361.
urbano.
Esta é apenas uma entre várias expressões do mesmo tipo repetidas por todos os
Em carta ao bispo, datada de 8 de Fevereiro de 1 758, diz o governador: " Logo
intervenientes do Governo de Mendonça Furtado na Amazónia, que posicionam Macapá .
depois que cheguei fui ver o estabelecimento da nova vila e fiquei inteiramente satisfeito
num contexto privilegiado, tanto na estima do governador como, sendo este o caso, no seu
porque além de se achar muito adiantada tem duas praças de mais de 800 palmos de
projecto político. As razões de tal "eleição" da vila referem-se, cremos, a uma série de
comp n do e de 700 de largo, na primeira das quaes esta a parochia na segunda lhe levantey
factores.
o pole1nnho, como desejara que V. Excia viesse a esta vila para a abençoar e desta sorte
Em primeiro plano está a efectiva prioridade do investimento, com a recomendação
receber a sua ultima felicidade. "
régia para a actuação impreterível na área do Cabo do Norte. Entendam-se aqui as razões
"Da igreja deixo ordem a o Sarg-mor que remeta logo n a primeira ocazião hua planta
estratégicas de tal prioridade - no quadro das disputas territoriais com a França - e as
para V. Excia ver o tamanho e figura della, alguns defeitos lhe achey, parte dos quaes se
representativas - no âmbito da imagem do poder da Coroa perante a Espanha que se
remediarão, outros, ainda que menos são irremediaveis mas ainda assim creyo que V. Excia
apresentava para as demarcações. Assim, Macapá foi de facto o "primeiro" investimento
não tera parochia no seu bispado melhor que esta." (3 71,
urbano da administração de Mendonça Furtado. Por isso, a sua primazia "afectiva" na eleição
Segue a carta relatando a distribuição de gados ( 1 62 vacas Já distribuídas num total
do governador.
que pretendia chegar a 3 00); diz das recomendações sobre o comércio dos géneros que os
Noutro contexto, poderá ter também influenciado a sua preferência pela vila a
moradores podiam e deviam fazer e desenvolve longos trechos sobre a necessidade de se
inegável força telúrica do local da sua instalação, na foz do Amazonas, diante de uma vasta
trocarem as coberturas de palha das casas por outras de telha, explicando o funcionamento
baía que, embora sendo rio, parece mar. Desde o século XVII que se pretendia fazer uma
da olaria que lá instala.
cidade na boca do grande rio. Ao se fundar Belém pensou-se que isto fora feito, pois
Nas instruções passadas ao sargento-mor, as preocupações com o aspecto formal da
julgava-se que o rio Pará fosse um dos braços da foz do Amazonas. Descoberto o equívoco,
1 58 1 59
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

vila revelam-se mais incisivas e o documento torna-se num verdadeiro índex programático tura assumidos pelo sargento-mor engenheiro, durante o período em que lá fica, de 1 758
para a actuação do comandante neste campo, de que não se pode deixar de transcrever até 1 759-60. As plantas que conhecemos desenhadas por Tomás Rodrigues da Costa são:
aqui. " Planta lchonografica das casas Novas erigidas e ajuntadas à Vil/a de São José Macapá
para os novos povoadores ou soldados que derão baixa em o anno de 1 759", com legenda
" . . . A primeira couza que V. Mercê deve cuidar com toda a actividade he em que explicativa, e mostrando o conjunto de casas dispostas ao lado e atrás da igreja, com as
se conclua a igreja parochial com aquela decencia e decoro com que se deve construir hua devidas plantas e alçados das que estão no alinhamento da igreja (fig. 3 1 ) .
casa dedicada ao serviço de Dz Sr Nosso, não perdoando a meyo algú de se conseguir com "Planta lchonografica da Igreja de São J osé de Macapá . . . Feita pelo Sargento Mayor
a maior brevidade aquele virtuoso fim." Engenheiro Tomas Rodrigues da Costa - Anno de 1 759" (fig. 3 2) .
" Logo deve seguir a Casa da Camara e imediatamente a do paroco, com aquela "Prospecto solido da Igreja d e São José d e Macapá ( . . . ) Feito Pello Sargento Mayor
decencia que he devida ao seu caracter." Engenheyro Thomas Rodrigues da Costa - Anno de 1 759" (fig. 33).
"As Viuvas e famílias desamparadas mandará V. Mercê ajudar para que construam as "Planta do Pavimento Superior d a Casa da Camara da Vil/a de São José de Macapá
suas pobres moradas em forma que fiquem muito bem e camadas e sem perigo de estarem ( . . . ) e Planta do Pavimento Inferior da Casa da Camara da Vila de São José de Macapá ( . . . )
expostas ao tempo como presentemente sucede. Quanto aos mais moradores observará Feita pello mesmo Sargto Mayor Engenher° - Anno de 1 759" (fig. 34).
V. Mercê exactamente na erecção dos novos edifícios a praxe que aqui estabeleceu o Dez.
João da Cruz Dinis Pinheiro não a alterando de forma alguma." De posse deste conjunto de referências, que é o somatório das cartas desenhadas
"Aos soldados que casarão com filhas de moradores ou que se acham aqui estabe­ e das recomendações programáticas, podemos ensaiar a análise da estrutura fonmal defini­
lecidos com famílias com o animo de penmanecerem nesta vila reputará V. Mercê como tiva de Macapá.
povoadores para edificação das casas, sem diferença algua dos outros, dando-lhe a mesma A primeira e mais marcante observação vai para a definição das duas grandes praças
extensão de terra que tiverão os mais povoadores, e pondo-lhe as casas nos termos da que compõem o desenho u rbano. Na planta de João da Cruz Dinis Pinheiro ( 1 755), elas já
praxe estabelecida pelo dito Min.º." aparecem, embora d imensionadas de maneira desigual: uma com cerca de 64 x 72 braças e
"As ruas se devem continuar na mesma forma e com a mesma perfeição com que a outra com 80 x 72 braças. Numa situação posterior elas assumirão o dimensionamento
estão feitas sem que morador algu se atreva a alterar o metod o com que estavam delinea­ definitivo, ficando ambas definidas por rectângulos de 84 x 72 braças. O que equivale a dizer
das, não podendo em cazo algu fazer deformidade nas ruas ou praças por que tudo se deve que foram convenientemente redesenhados para encarnarem uma relação proporcionada,
conservar na fo nma em que se achão." definida nos termos em época por "proporção sexquisestia", que é uma figura cujos lados
"Tão bem será sumamente conveniente que os edifícios por fora tenham _ todos a estão um para o outro numa relação de 7/6, ou seja, um rectângulo que se fonma a partir
mesma perspectiva, ficand o somente e liberdade para seus donos para por dentro as do quadrado acrescentado da sua sexta parte <39> (figs. 35, 3 6 e 37).
poderem reparti1- como lhes parecer mais conveniente as suas acomodações." A sequência de plantas das praças que se tem são: a de 1 75 5 (fig. 30), depois a
" Não poderá nunca esta vila conservar-se com decoro e decencia se nellla se penpe­ "Planta lchonografica", de 1 759, de Tomás Rod rigues da Costa (fig. 3 1 ) , e, após esta, uma
tuasse a cobertura das casas de colmo, a que aqui chamão de Ubussu ou de Uby, e para se planta, de 1 76 1 , feita por João Geraldo Gaspar Gronsfeld (fig. 3 6) , em que ambas as praças
extinguir este abuso, que só parece lícito aos índios pela sua necessidade, tenho mandado aparecem nas dimensões acima citadas.
estabelecer a fabrica de telha na mesma vila a que V. Mercê he notaria da qual depois de A partir da informação de Mendonça Furtado, datada de 1 758, de que as praças
telhados os edifícios, quais são a Igreja, a Casa de Camara e paroco, se deve repartir aos tinham mais de 800 x 700 palmos, sabemos que as diferenças que aparecem entre as plantas
moradores toda a telha que lhe for necessaria, pelos preços, modo e forma de pagamento de 1 75 5 e de 1 76 1 já tinham sido definidas antes da ida do governador, para que ele as
que vou apresentar a V. Mercê." <39J_ pudesse ter visto e comentado. Foram redefinidas, portanto, entre 1 755 e 1 758. Neste
Seguem-se vários parágrafos explanando tais medidas de fabrico e pagamento dos intervalo, duas hipóteses são possíveis: podem porventura ter sido modificadas ainda no
produtos da olaria, como também outras relativas à questão dos gados, do mesmo modo período em que o ouvidor tratava d a instalação de Macapá, provavelmente na altura em que
como foram explicadas ao bispo. Conclui a carta com observações sobre as terras e o seu este se deslocou para a vila acompanhado d o sargento-mor engenheiro Carlos Varjão
cultivo, retomando o tema do incentivo prioritário à agricultura. Rolim, em 1 756, como já vimos, ou poderão ter sido redefinidas já por Tomás Rodrigues da
A partir desta altura, após o ritual de fundação e as determinações claras que o Costa, entre a sua chegada, em 1 757, e a elevação da vila, em 1 758.
governador deixa para a estruturação da vila, esta finalmente tomará corpo mais definitivo. Se é significativo este aperfeiçoamento do desenho das praças, d otando-as de uma
O seu plano urbano consolidar- se-á com a actuação reguladora e os projectos de arquitec- coerência mais evidente em tenmos da linguagem projectual, as circunstâncias da sua própria
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"Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 3 1 . Pl anta lch on ografica das casas nova P . l 06. Engenheiro Th o mas Rodrigu es da Costa . Ann o 1 759. AHE.Rj M 1 3 Pa. l 08.
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"Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 3 3 . Prospecto sólido da Igreja de São J osé de M acapá ( . . ) feita pello Sargento Mayor Engenheiro Thomas Rodrigues da Costa. Anno Fig. 34. Planta do pavimento Superior da Casa de Câmara da Vila de S. José de Macapá . .
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pavimento Inferior da Casa da Câmara da Vil la de S. José de Macapá . . . feita pello mesmo
Sarg. Mayor Engenheiro. Anno 1 759. AHE. RJ MB.G 1 .024.F.6.5
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 35. Desenho: Macapá, junção das plantas de 1 754 e 1 755.


Fig. 36. Planta da Vila de S. José de Macapá. Tirada por ordem do lllmo e Exmo Snr. Manuel Bernardo de Melo e Castro, Governador
e Capitam General do Estado do Pará em o anno de 1 76 1 pello Capitão Engenheiro Gaspar João de Gronsfeld. AHU. cartografia
manuscrita Pará 798.
1 67
1 66 "Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

existência em termos conceptuais são ainda mais interessantes.


Já havíamos feito referência ao seu dimensionamento (no sentido do tamanho que
têm) e elas são de facto grandes. Note-se a singular observação de satisfação do governador
ao d izer que tinham mais de 800 palmos de comprido e 700 de largo 1401 . Na verdade, tais
medidas correspondem a padrões situados acima do nível médio das praças das cidades
fundadas no Brasil, preconizado em cerca de 500 palmos. Que tal grandeza se relacione com
a própria escala de espaços amazónicos é compreensível. Mas como se não bastasse o
tamanho de cada uma das praças, são duas, duplicando, portanto, a sua própria grandeza.
Mais uma vez a dimensão superlativa pode ser remetida tanto para o campo simbó­
lico - sendo assimilável a representação espacial da vila do "Grande Rio das Amazonas",
como para o discurso ideológico - enquanto parte integrante do programa da "Reforma"
pombalina na região, pretendendo encarnar na sua grandeza a daquela. No entanto,
mantém-se ainda a questão formal da duplicidade das praças, que se coloca em termos
pouco usuais dentro do urban ismo do Brasil colonial.
Alguns exemplos de praças duplas podem ser apontados, como os casos das funda­
ções de Prado, Portalegre e Vila Viçosa, na Bahia. Mas são todas posteriores a Macapá (datam
de final dos anos 60) e o seu desenho define-se em funç;;.o de uma intenção perspéctica, da
implantação da igreja isolada, que é visualizada de uma praça à outra. Situação esta que terá,
por sua vez, várias possibilidades de comparação, nas inumeráveis ocasiões em que o barroco
aflora no urbanismo colonial brasileiro, e M inas é disto o maior exemplo 14 ' 1. Mas não é o caso
da opção formal de Macapá, posto se situarem as suas praças numa relação de paralelismo
e igualdade que não admite a hierárquica perspectiva barroca.
Um dos exemplos mais próximos ao desenho de Macapá, dentro do quadro do
urbanismo brasileiro, encontrámos no Arquivo do Exército do Rio de Janeiro, no plano de
uma vila, coincidentemente também designada por Vila de São José, feita pelo sargento-mor
engenheiro Manuel Vieira Leão, que é muito similar a Macapá, guardada alguma diferença
de escala. A planta privilegia a representação do entorno, identificando-se como " Exemplo
de uma porção do Rio Tibiquary, e do lugar do seu paso, que precisa fortificar-se, com o
terreno próximo, donde se dili neou a Vila de S. José" 1421 (fig. 38).
Com um petipé que alcança as 500 braças, o desenho não permite o detalhe de
todas as dimensões da vila (ruas, quarteirões, etc.). Na sua forma urbana, entretanto, a vila
situa-se, comparativamente a Macapá, numa 1·elação de proporção definida por lados que
equivalem a 3/4 dos daquela. Ou seja, enquanto o rectângulo maior da forma urbis de
Macapá mede cerca de 260 x 1 30 braças, o da Vila de São José, no rio Tibiquary, mede
cerca de 1 80 x 90 braças 143i_
RIO D _A S .A M.I\ Z ONA S A relação que se faz entre esta Vila de S. José do Sul e a outra do Norte é, inevita­
velmente, em termos de coerência programática da administração pombalina, que teve no
Sul do Brasil outra importante área de intervenção urbanística, ligada também às questões
estratégicas das demarcações com os espanhóis, e que tem similitudes inclusive na política
de importação de colonos açorianos para ambas as regiões.
A planta citada tem duas praças, desiguais nas suas medidas, uma quad rada e outra
Fig. 37. Desenho: Macapá, remodelação da p1-aça. Sobreposição das plantas de 1 755 e de 1 76 1 .
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A s Cidades d a Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

rectangular, semelhante ao primeiro desenho, de 1755, de Macapá. Os quarteirões são


também rectangulares e as praças encontram-se separadas por um conjunto de dois quar­
teirões sobrepostos e cortados por uma rua. Do mesmo modo identificam-se três ruas hori­
zontais incluídas na definição das praças das duas vilas. (figs. 3 6, 38 e 39)
O próximo exemplo de dupla praça surge desta vez na própria Amazónia, com o
desenho da Vila de Silves (fundação em 1 759), feito por Filipe Sturm (fig. 23). A proximi­
dade a todos os níveis, geográfico, temporal e político-ideológico, entre as fundações não
deixa dúvidas da relação de correspondêrkia entre as duas.
Novamente a escala de Macapá é maior que a da outra vila, fundada também no rio
Amazonas. Esta é formada por um rectângulo de cerca de 1 30 x 65 braças, lados que têm
sensivelmente a metade das dimensões dos de Macapá, equivalendo portanto esta povo­
ação a 1 /4 daquela (fig. 39). As medidas dos lotes têm em Silves dimensões também redu­
zidas das de Macapá. Enquanto ali cada morador dispunha de lotes de I O x 30 braças, em
Silves tinham apenas 5 x I O braças. As praças, por sua vez, têm dimensões de 45 x 30
braças, incluindo ruas com 50 braças e não com as 40 de Macapá.
É evidente a correspondência dos planos destas fundações, e mais ainda, a coerência
das suas relações, tanto em termos de desenho como de proporções. Estabelecem, porven­
tura, um conceito de série, que pode ter ainda mais exemplos desconhecidos dentro do
urbanismo pombalino no Brasil. No entanto, embora se tenha levantado a hipótese da exis­
tência de uma série, a génesis da sua forma bipolarizada em duas praças continua por
explicar, posto que Macapá parece ser o caso pioneiro no Brasil.
A conexão mais próxima que se pode estabelecer para o plano da Vila de Macapá é
com o projecto de urbanização de que foi objecto o bairro da Magdalena, na Vila de EI Ferrol
na Galiza. Projectou-se "La Magdalena" no contexto da construção de um grande Arsenal
para a cidade de EI Ferro!. Vários engenheiros militares aparecem envolvidos em tais obras. De hua porçao do Rw T1b i ,
Os primeiros planos surgem entre 1 750 e 1751, assinados por Josep Petit de La q uarJ. eÍlo �ar )o Jeu pa.,o,9_u� precí• 1
Croix e depois por Jorge J_uan Santacilia. O processo de evolução dos desenhos passa da 1-a frt{icar Je, con1 olc.rr.cmo prox1mo,
definição formal de uma única praça central, pensada por La Croix, para a idealização bi­ 'don?• ,. ?dr niou a Yda "JeS. Jo�i

polarizada de Jorge Juan ( 1751 ), com duas praças nos extremos da vila. O plano de 1 751
vai sofrer ajustes feitos pelo próprio Jorge Juan, em 1762. Aproximando as praças, de modo A. Ífai; iÍ.11poria11le'oo 9,,'. fhbtqua,.J
a situá-las em posição equidistante dos limites da forma urbis, o arquitecto transforma a bi­ B. Ca'.n'.pelo''malo p.• o pa,o.
polaridade já existente em biaxialidade. Uma última ampliação será feita, em 1765, por Julián e i�aT p' afrt:JÍC� fâ1

Sánchez Bort, pouco mudando, entretanto, o projecto de Jorge Juan <44> (fig. 40).
,- ; . .
P faJo 'do· :Jlrr'{J o 'je 7le}cd trani;�_
.
Há vários dados nesta cronologia da construção do bairro da Magdalena que são
estranhamente parecidos com a de Macapá. As datas de início de instauração dos projectos
nos primeiros anos da década de 50 são coincidentes, assim também como o plano bipola­
rizado das duas praças surge em ambas, tendo estas dimensões diferentes. Posteriormente,
seriam modificadas também para uma situação biaxial em ambos os casos. Em Macapá já
definidas em 1758 e em EI Ferrol em 1762. O simples paralelismo dos acontecimentos
exclui de antemão as possibilidades de se estabelecer qualquer conexão de influência vero­
símil, ainda porque as duas vilas se encontravam separadas por uma distância física conside- Fig. 38. Exemplo d e uma porção do rio Tibiquary e do lugar do seu passo, que precisa forti­
ficar-se, com o terTeno próximo donde se delineou a Vila de S. José. AHE.RJ.
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

Macapá ( 1 758)

Vila de S. José
( 1 772')

Silves ( 1 759)

Fig. 39. Desenho: Macapá - comparação com S. José e Silves. Fig. 40. Desenhos EI Ferrol.
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

rável, e mais ainda política, dada a situação, senão de litígio concreto, ao menos de no seu plano menos a estrutura racionalista e homogénea de La Magdalena ou Macapá e
confronto entre as duas coroas ibéricas. mais a espectacularidade barroca. Se a forma urbis é um rectângulo, o seu interior é cortado
Os planos das duas vilas têm muitas similaridades, mas algumas opções as distin­ e recortado por uma variedade de outras formas, que admitem quadrados, hexágonos e
guem. A situação já identificada da biaxialidade vertical é patente em ambas, definida pelos círculos, uns formando quarteirões, outros abertos em praças, ligados por eixos de pers­
eixos centrais das praças. O eixo horizontal também é claro nos dois desenhos, marcado pectiva intencional e de direcções variadas.
pela rua central que atravessa as duas praças. Assim como a configuração geral da urbani­ Assume-se que a utilização de uma composição bi ou multipolarizada em mais de
zação, nos dois casos, se define pela figura rectangular, disposta com o lado maior paralelo uma praça encarnou, em dada altura, uma das especificidades do urbanismo barroco, que
ao rio, fazendo coincidir, deste modo, o insediamento topográfico das duas vilas. A situação fazia uso de efeitos de convergência monumental para os espaços abertos dentro do tecido
de interioridade das duas praças também é coincidente. No entanto, a forma das praças é urbano. É verdade que este é um vínculo que não escapa de todo ao plano de Macapá, que
diferente. Enquanto em Macapá elas são rectangulares, em La M agdalena são quadradas. abriga nas suas praças os principais edifícios públicos. No entanto, a questão já antes colo­
Aqui há um ponto importante, em especial porque denuncia a estrutura geradora do cada, da evidente falta de uma hierarquia entre as praças - desenhadas com igual tamanho
desenho urbano. e dispostas uma ao lado da outra -, levanta uma vez mais a dúvida quanto a outras hipó­
Na verdade, embora Alfredo Vigo T rasancos l45J pretenda negar o que diz Salvador teses do seu fundamento formal, admitindo a existência de uma que não excluindo a lógica
Tarragó 146!, de que os quarteirões rectangulares do plano de La Magdalena adviessem da barroca, conjugue-a de modo diverso, não hierárquico, como faz Macapá.
subdivisão da "quadra" original, que está ligada a toda a u rbanização colonial espanhola, este A comparação com La Magdalena, onde a não hieraquização das praças também é
facto acaba por ficar patente no plano do bairro do Ferrai, exactamente quando a forma patente, ventila a sugestão de um dispositivo que se pudesse justificar em função do equilí­
das praças o denuncia, posto ser formada pelo mesmo processo de supressão da quadra brio do próprio desenho urbano rectangular, supondo que este exigiria, geometricamente,
que tantas cidades gerara na América do Sul. a bipolaridade para se compor (assim como a figura alongada da elipse se forma a partir de
No caso de Macapá o desenho não nega que seja o quadrado a sua figura geradora, dois focos). Neste caso, a opção de Macapá, desdobrando o rectângu\o nas praças, dentro
mas, ao invés de ser exposto, ele está apenas implícito na construção formal. Ou seja, como do rectângulo maior da forma urbis, demonstra uma abordagem formal mais elaborada,
antes já havíamos sugerido, na primeira parte deste trabalho, ao estudar as bases metodo­ enquanto a outra, que marca as praças com quadrados, as reduz à sua condição de focos,
lógicas da composição urbanística dos portugueses nos territórios da Expansão, o quadrado sem as retrabalhar.
gera as formas que se resolvem finalmente no rectângulo 1471. Entretanto, apesar da distância temporal que as separa, um nobre exemplo da
Contemporâneo a La M agdalena conta-se também o plano de Barceloneta, urbani­ História do U rbanismo vem conectar-se a M acapá: Richelieu. A cidade fundada pelo cardeal
zação feita nas proximidades do porto, em Barcelona, em 1 753. A iniciativa da criação do de Luís XIV, em 1 63 3 , é provavelmente o primeiro exemplo moderno de um plano urbano
novo bairro portuário coube ao capitão-general da Catalunha, marquês da Mina, que encar­ bipolarizado e, por isso, a referência mais expressiva na génese formal do plano de Macapá.
regou do projecto o comandante-geral dos engenheiros militares Martin Cermeno. O plano, Aqui, muito embora não se possa excluir de maneira alguma o germe da intencionalidade
uma vez mais, inscreve-se num sistema compositivo dominado pelo quadrado explícito. A perspéctica barroca, há, no entanto, um cuidado equilíbrio entre as duas praças que as
forma urbis é um quadrado perfeito, marcado por 1 5 ruas cruzadas por outras três, e possui define em termos de igualdade dentro do plano. Estão dispostas ambas nos extremos, com
também duas praças no seu interior l4 9J_ dimensões iguais, e ligadas por uma rua central. Esta atravessa-as como eixo perspéctico,
Outros exemplos surgirão ainda em Espanha, de planos urbanos organizados com mas o foco de tal eixo não está em nenhuma delas e continua para o exterior da vila, não
duas ou mais praças. Entre os mais significativos situam-se San Carlos, na ilha de Leon, e La deixando por isso que uma das praças prevaleça sobre a outra (fig. 4 1 ).
Carolina, na Andaluzia. Escapam, entretanto, ao contexto de comparação pretendido com A coerência da composição de Richelieu tem no estudo de Philipe Boudon,
M acapá por vários motivos. O primeiro por lhe serem já posteriores, San Carlos foi projec­ "Richelieu, Vi\le Nouvel\e" 150J , um excelente ponto de apoio para observações que também
tado em 1 785 e La Carolina criada em 1 767. Quanto ao desenho urbano propriamente em Macapá podem fazer pensar. A primeira consiste na referência político-ideológica asso­
dito, San Carlos define-se por um amplo rectângulo, presidido não por duas, mas por quatro ciada à construção da vila. Esta é obra de clara representação de poder do cardeal, cons­
praças que, como em La Magdalena, resultam da supressão de alguns quarteirões l49l . truída anexa ao seu castelo familiar, e projectando-se como solene cenário perspéctico de
Diferenças de largura entre algumas ruas definem uma estrutura viária hierarquizada e de acesso a este. O topónimo das praças denuncia mais uma conexão ao poder, intitulando-­
clara intenção monumental que, uma vez mais, a afasta tanto de La Magdalena como de se uma e outra de "Place Cardinale" e "Place Royale". A circunstância óbvia da estrutura
M acapá. Aproxima-a entretanto da outra cidade citada, La Carolina. política da França contemporânea e do poder "divid ido", entre o rei e o poderosíssimo
Fundada para ser capital das colónias agrícolas de Serra Morena, La Carolina espelha cardeal, fica evidenciada no programa conceptual da vila. A equivalência formal e composi-
1 75
"Da Amazónia e das Cidades"

tiva das praças, no plano urbano, reflecte uma "equivalência", correspondente, ou preten­
dida, da própria estrutura de poder vigente no Reino. Assim, embora a vila como um todo
seja por si só uma representação no espaço do poder do cardeal, o seu interior desdobra­
-se, ainda, nas praças em espaço-símbolo de representação do poder.
Permitindo-nos aqui uma leitura diacrónica da História, não seria impossível
comparar, simbolicamente, o poder paralelo detido por Richelieu, na França do Rei-Sol, com
o de Pombal, no Portugal setecentista. Neste caso também seria possível entender as duas
grandes praças de Macapá numa alusão simbólica ao rei e ao seu ministro, em homenagem
que lhes era prestada pelo irmão daquele, na Amazónia. O topónimo das praças não exclui
de todo a hipótese comparativa. Uma delas chama-se "São Sebastião", mas a outra é "São
João". A designação do santo do rei vai, para além do nome da própria vila, para uma das
.. ., - .. �-........... suas ruas, a que é fronteira aos seus edifícios principais. Apresenta assim alguma inconsis­
tência a hipótese de uma alegoria do poder dividido. No entanto, a lógica das homenagens
é incontestável, e o santo do marquês está presente na toponímia de Macapá numa clara
alusão senão ao seu poderio em confronto com o do rei, pelo menos ao seu projecto de
exaltação do poder do Reino, expresso nas realizações urbanas.
A praça de São João não exclui a possibilidade de uma homenagem ao rei antecessor,
que fora o responsável pelas negociações do Tratado de Madrid e, portanto, pela concreti­
zação das demarcações que se faziam na Amazónia que, em última análise, fora um dos
motivos porque finalmente se fez Macapá. A vila toda, por sua vez, com seu nome de S. José,
fazia homenagem ao rei reinante, como a outra no Sul. Homenagem esta reforçada no nome
da rua principal, que liga as duas praças, e o trabalho dos dois homens nelas citados: o seu pai,
que dera princípio ás negociações, e o seu ministro, que efectivava a sua concretização 15 'l.
Outro factor associa ainda, em termos de referência compositiva, os planos de
Macapá e Richelieu, e outra vez o estudo de Boudon será o guia da análise. Parte o referido
autor da definição cartesiana do espaço para apresentá-lo como "une substance étendue em
longuer, larguer et profunditeur: or cela même est compris un idée que nous avons de !'es­
pace, non seulement de celui qui est pleine de corps, mais encore de celui qu'on appelle
vide" 112). A noção da substância do espaço "vazio" fornece a base de uma compreensão do
espaço das praças e da rua central que as une, destacado do resto da composição urbana,
Fig. 4 1 . Richelieu.
que é lido como forma "vazia" sobre o fundo "cheio" dos quarteirões construídos.
A valorização do espaço "vazio" que a praça representa, que é "preenchido" pela
noção de poder e ressaltado pela uniformidade do restante conjunto construído, será uma
das mais interessantes características de todo o urbanismo pombalino que fica claramente
definido nas palavras de Gonçalo Byrne, escritas a respeito de Lisboa. "Emerge nettamente
la prevalenza dei vuoto (strada, piazza) sul volume. li controlo architettonico introdotto con
la definizione delle facciate-tipo e la sezione trasversale, confermano questa tendenza che si
rafforza ulterormente a causa della differenza dei linguaggi architettonici fra il quartiere e le
piazze. Piano urbano e linguaggio architettonico si valorizzano reciprocamente in una rídon­
danza che trasforma questo íntervento in un vero e proprio progetto urbano dello spazio
publico in cui é difficile distinguire dove finisce la componente urbanística (morfologica) e
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

d ov e c omin cia qu e l l a a rchitett onica (tipo logica). " 1531 . Cabe aqu i fazer um com entári o que traz a l guns dad o
s para a qu estão em s i d a d upl a
E sta l api dar obse rvação tanto se aju sta a Lisboa como a Vil a Real de Santo Antón i o p raça. Desd e o iníci o d o sécu l o XVIII qu e c ome ç aram
a s urgir, em Be l ém, al gumas petiç õe
ou M acapá. A próp ri a situ ação e dimensioname n to das p raças deixam cl aro o pape l c onver­ s
da pa rte do c l ero, ale gand o que
a "p o l é" dis posta e m fre nte d a ig
reja m atriz re p re s entava
gente d e tod a a espacial idad e da vi l a, sin tetizad a no s e u espaç o púb l ico. As p l antas d e um d es respeit o a esta e que deveria ser mud ad a para
o utro síti o. Ju l gavam s er "ind eco ros
Tom ás Rod rigu es da Costa expõ em ain d a mai s o pro c es s o d e subm i ssão d a tipo l og i a u rbana o"
que a p rocis são d o San tís sim o S acram ento, qu e se
fazia to d os os mese s, e várias o ut ras
à con formação do "v azi o" d as praç as. V er em especia l a figu ra 3 1 , em qu e o engenheiro tivessem de rodea r o l ocal de c astigo d e d e l inquen te 1591_
s
ap re s enta a fach ad a pri n cipal d a p raç a d e S. S eb astiã o e m c o nju n to com as p l antas de distri­ Esta situ ação de "nojo" d o c lero diante d o aspecto práti
co, d o l ocal d e castigo, que se
buição internas d as casas dos moradores. • torna ra o pelo u ri n h o , não tinh a
fác i l resol ução, na medid a em que este conti nuava
N o m esmo d e senho aparec e também a pl anta da Casa d e Câmara d a Vil a. Nout ro sen do
símbolo do po de r, e re qu e ria, inevit
av el mente, po si ção ce ntra l e privi le
g i ad a d entro da est ru­
d esen h o d a séri e citad a o pro jecto d a Câmara é ap rese ntad o com mais d etal h e, m ostrand o tu ra urbana. A atitude co nci liató r
. ia, d e dispor d e praças d i sti ntas para as d i fe rentes r
os s eus d oi s pi sos (fig. 3 4). O a lça do v em d e monstrad o apena s na o utr a pI ant a co niunt a
(54)
. epre­
sentações, pod e em parte explicar o tipo d e opçã
o que aprese ntam Mac ap á, S ilves
A tipol ogia é bastante simplificada. Um dupl o qu adrad o de 1 00 x 50 palmos c onforma São José, ou as c i d ad es bai anas do o uvid or M ac had o
e
Monte iro, que antes c i támos 1601_ Em
0 edifício, que é centra l izad o internamente po r uma escada d e l ance único . Possui divisões to d as, a ig reja e a "po l é" estão s e p
ara d as. Conti n uam, n o entanto , send
o pouc os os ex emp lo s
simétricas em ambos os piso s. No primeiro, o cupam-no uma c el a e um "seg redo ", em c ad a no contexto maior d as várias outras fund aç ões, que
manti nh am a coniugação, num ún i c o
l ad o, d estinad os um aos h omens e o outro às mulhe res. No pavimento superio r, a divi são es paço, de todo s o s s ímbo l o s do p
o d er (pe lou rinho, igrej a e Cas a de
Câmara e cad eia).
uti l iza a base d o pavimento in feri or, subdividin d o o re ctâ n gul o que em baixo era ocupado A mesma atitud e atávic a, de juntar a arquit ectu ra de r
e pres enta çã o , pod e ter le va d o
pe l o segredo em du as pequ enas salas qu adrad as. No lado direito são d esti n ad as para os o c o mand ante d e Ma c apá a cons
t rui r, na me s ma praç a, i g reja e C
a s a da Câmara, quan do
c am ari stas e cartório d a Câmara, qu e tem a sua sal a d e sessões na divi são m aior d o me smo um raciocínio l ogicam ente c o rrecto poderia argument
a r q u e , d ado qu e se fazi a a divi s
l ad o. N o l ado e squ erd o , a sala maior é ap re sentada c omo uma ce l a livre e as d u as mais ão
espa cia l dos símb o l o s , era d e s e sup
or qu e a Câmara a c o mpa nh asse o
pelour i n h o, marc and o
pequenas uma c omo ce l a fech ad a e outra como c asa do carc erei ro . o po d e r civ i l di sti n tamente d o rel
igioso .
Ramom Gutie rrez n ota qu e " las c as as d e Camara y Cadeia brasil e n as presentam una Há, entretanto, no c ontexto d a situação po l ítica espe
cífica do Estad o d o G rão -Pará,
fisionomia más integ rada a l a arquitectu ra res id enci al" l55l , o qu e no ca so d e M acapá se torna naque l a precisa altura, uma espec ial "divisão " d e pod
eres , qu e d e al gum mod o b a ral h a
as
ve rdad eiro, d ad a a patente fa lta de m arcação do e difício c omparado d os d emais, d os quais pos sibi l id ad es d e s eparação n ítid a entre o rel igio so e
o civil. T rata-s e d a situa ção rep rese
difere unicam ente por ter d o i s piso s. Salv o e sta questão vo l umétrica, a sua fach ada em nada n­
tad a pelo bis po do Pa rá , F rei M i gue
l d e Bu l h õ e s, qu e p ratica me nte d ividi
a a a dminist raçã o
se dist i nguiri a d o c o njunto, c o mp o sta c o m a m esm a fe n e st raçã o , n ão tend o se q u er orn ato s do Estado c om o gov ernador, a ssumin do espe cial ment
e o c o ntro l o d a cap ita l, enquanto
56
e sp e cíficos no portal 1 l . M end onça Furtad o encontrava- se em Barc elos, à es
pe ra d o s c omissá1-ios espanhóis d as
Embora a tipo l o gi a d as casas d e Câmara, no geral, corre spond esse d e facto a uma demarc aç õe s.
id entificação qu e a aproximava d a arquitectu ra civil, e sta fazi a uso, vi a d e re gra, d e padrões O pape l do bi spo n a c o nstrução d e M ac apá é al iá
s notó ri o e c on firm ad o pe l o
"nobres" d a dita a rquite ctura, projectand o -se a o níve l d e " so lare s", que va riavam d e gran ­ número c o nsid erável d e refe rê n cias d e qu e a vil a foi
o bj e ct o n a c o rre sp o ndê n cia entre
d eza, n a p roporção di recta d a grand eza d as própri a s vil as qu e re p re s entavam. As sim, é
ele
e o g o vernad or. E ntre as suas preo
cupações conce rnentes à vil a, estava, obv iam en te, a c o
co rrente O uso de escadas externas a val ori zar a su a fachada, ou o trabalh o d e balcões e ns ­
tru ção d a su a igreja.
. .
sac ad as nas janel as do pi so superi or e, ev entu alm ente, torre s s ·1ne ·1 ras (57) . Em m ead o s do ano d e 1 758, algu n s p rob l emas po l íticos
co l o cam-s e para o c oman­
É s ignificativa a falta destes e l eme ntos d e nobilitação no edifício d e Macapá 158\ e é­ dant e da po voação d e Macapá, que se viu env o lvi
d o e m que stõe s c o m o s o ficiai s
da
-o aind a mais a circunstância da sua l o calização ter sid o mud ada d a s itu ação d e d estaqu e C,amara i• 1 i. A c r.i se fi1cara. supo stamente reso lvi da no fin
a l do ano, q u and o o governad or, e
que supostam en te usufruiria se ficass e em p raça dife rent e, com o e stava pre vi sto n o primeirn m
_ cartas c onci l iató rias, adverte tanto o engenheiro quanto
o s o fic iais que não ext rapole m as
pro jecto (figs. 29 e 30). O gov ernador re c omend ara ao co mand ante que cuidass e priorita­ s u as ju risprudê n cia s 162l . As ob ras d a
vi l a, entretant o, terão so fri do at rasos em fu n ção d estas
ri ame nte d a igreja e ime d i atame nte a seguir d a C asa d a Câmar a e d a d o pároc o , e e Ste po l émicas e, apenas no iníci o de 1 759, o comand ant
e e nvia uma c a rta- rel ató ri o a o go
ex e cutou- a s todas ju n t as, na m e sma p ra ç a. N a p l anta d a outra Vi la d e São J o sé, no Sul, n ão
ver­
nad or, dand o c o nta d e t o d o s o s p
ro c e dim en to s tomad o s na a dminis
tração d a vi l a. S obre as
é pos s ív el distinguir a l ocalização d a Ca sa da Câmara, mas na d e Sil ves e l a está d i spo sta na ob ras d a i g reja diz qu e :
p raç a d i stinta da d a igre ja, em po sição simétrica a esta, c omo estaria em Macapá no p rimei ro
pr oject o (fig. 23).
"Enquanto a Ig reja es tá inte iram ente ac ab ada a ob ra d e taipa e c obe rta po r cima
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

com palha de ubussu, a capela-mor do mesmo modo e para mais fermozura e clareza A tipologia utilizada para as casas também assume a simplicidade e o pragmatismo.
mandei fazer duas janelas rasgadas a Romana porque as que tinham eram muito indecentes Embora se permitisse aos moradores que mudassem a disposição interior das suas casas, se
para tão nobre edifício Os púlpitos mandei-os deitar abaixo e fazer outros a Romana, em o assim o quisessem, o engenheiro deixou estabelecido um projecto-padrão nas casas que
corpo da igreja lhe mandei fazer duas janelas por cada lado em o mesmo estilo romano, e construiu (fig. 3 1 ). A base do seu desenho era um duplo quadrado (de 6 x 3 braças), que
para se forrar o tecto da mesma igreja e capela-mor que há de ser apainelado, estão os se geminava a outro igual, em que a divisão interna era espelhada simetricamente. No inte­
oficiais com todo o cuidado preparando as madeiras para cujo ministerio mandei conduzir rior de cada moradia, uma das divisórias respeitava o eixo mediano do rectângulo marcando
trinta e oito madeiras de cedro. ( . . ). O Exmo e Revmo Snr Bispo ordenou que as torres dois quadrados de 3 x 3 braças. Estes subvidiam-se cada um em dois espaços, formados da
devem ser de pedra e cal para maior segl'.Jrança do edifício, e eu faço tenção de as fazer divisão do quadrado em um rectângulo de diagonal rebatida e outro rectângulo mais esguio.
pelo estilo romano, outavadas, com sineiras a mesma proporção com suas cúpulas e arre­ A lógica do desenho das casas não é de todo original. Esta mesma metodologia
mates seguindo o mesmo estilo. O mesmo senhor ordenou que se fizesse tudo o que fosse geométrica vinha sendo utilizada já há muito, e será muitas vezes ainda repetida. As casas
melhor para a segurança e fortidão mandando-me que fizesse um corredor pelas partes que na planta de Tomás Rodrigues da Costa vinham identificadas como "casas velhas"
exteriores da igreja pois estes não só eram para se fazer por eles serventias e também para também tinham sido desenhadas por processo similar. Menores que as anteriormente
ficar mais fortificado este edifício, além disso lhe é muito necessário fazer-se uns contrafortes citadas, eram formadas por um rectângulo de 5 x 3 braças, em proporção superbiportiens
em rezão de serem as paredes de taipa e não ficar com aquele sólido fundamento que é tertios, portanto.
preciso tanto para resistência do tempo, como de fortificação da mesma igreja." '63>. No alçado a imperava simplicidade. No modelo mais pequeno, uma porta central,
A julgar pelas plantas que se dispõe, assinadas pelo próprio Tomás Rodrigues da ladeada por duas janelas, definia a casa. Nas maiores, geminadas, a sequência fazia-se pelas
Costa, o programa de intenções do engenheiro apresentado nesta carta não pôde ser duas portas conjuntas, com três janelas de cada lado. Salvo um pequeno detalhe na moldura
cumprido na sua maior parte. A referência que, insistentemente, faz à forma "romana" do das duas portas geminadas, não havia mais nada de decorativo no projecto das moradias.
estilo que utilizaria na igreja não é detectável nos projectos que hoje conhecemos. É possível No fim do período da administração de Tomás Rodrigues da Costa ficam definidas
esclarecermos o processo por uma carta, que Manuel Bernardo de Melo e Castro, o então as bases espaciais da vila. A partir daí o processo encaminhar-se-á para o crescimento da
governador do Estado, envia a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, já no Conselho povoação e a concretização do projecto da fortaleza determinada nos planos do rei. Esta
Ultramarino, em que diz sobre o templo de Macapá que: fase de "fundamentação" da vila corresponde também ao próprio período de permanência
de Mendonça Furtado no Estado. Em 1 759, regressara ao Reino, para o Conselho
"O mesmo sargento-mor Engenheiro me remeteo hua planta da obra exterior que Ultramarino, e é substituído no Estado por Manuel Bernardo de Melo e Castro, como já
deve ter a igreja, a qual mandou ao Sr. Torne Joaquim da Corte Real, e examinando-a o aqui foi dito. O novo governador dará inequívoco seguimento ao trabalho de Mendonça
Lande, assentou que estava delineada conforme a arte, tanto para fortificação da dita igreja, Furtado, mantendo correspondência assídua com este. Em 1 760, o comando local da vila
como para ornamento e descencia della e nestes termos avisey ao dito Dezembargador e passa das mãos de Tomás Rodrigues da Costa, que já estava doente, para o sargento-mor
ao Sarg-mor que se executasse ( . . ) " Luís Fagundes Teles, que antes fora o comandante da guarnição de Belém.
"Estimarey que a dita planta seja d o agrado de Vossa Excelencia, e ainda que aquelle
official me remeteu outra antecedentemente, era de tanta fabrica que se não poderia
concluir em muitos anos, e assentou Lande que certamente cá se não executava, e faria
muito mais despeza que um grande templo de pedra e cal" '6'>. A Aritmética dos Legisladores

Assumindo que o templo, a que se faz esta referência final, é o que se apresenta em
planta e perspectiva (figs. 3 2 e 33), nota-se o quanto a opção finalmente tomada simplifica A actuação de Manuel Bernardo de Melo e Castro ( 1 759- 1 763), tanto em Macapá
a ideia inicial descrita na carta do sargento-mor. A própria planta da igreja, que consta do como em todo o Estado, é balizada por uma noção de controlo. Controlo do trabalho feito,
desenho conjunto desta e das casas que se construíram atrás dela (fig. 3 1 ), mostra um para lhe dar continuidade, e controlo dos custos dos investimentos que eram necessários
projecto diferente, onde aparecem torres, e não apenas os contrafortes com sinos, assim fazer. Note-se a sua postura na decisão final para o projecto da igreja da vila, optando por
como a capela-mor e a sacristia ampliadas. Mas, apesar da simplificação sofrida, a igreja um modelo "decente", mas simplificado. No âmbito da sua política realizou algumas viagens
insere-se no conjunto, coroando o espaço central da praça de S. Sebastião e conformando­ às vilas recém-fundadas, vistoriando-as e implementando o programa imposto por Mendonça
-se com a escolha pragmática seguida para todo o projecto '65>. Furtado, com especial atenção na instalação de escolas e no ensino da língua portuguesa.
181
1 80 "Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

pelos lec i da pello lllmo e Exmo S n r F rancisco Xav i er de Me n donça Furtado e rat ificado pellas
Tarefa esta que se mant i nha d i fíc il, dado que até então a adaptação t i nha s i do feita
repet i das o rdens do lllmo e Exmo. Snr. Gor. Gene ral do Estado, nos p rospectos para a i gual­
colon os, que se comuni cavam na di ta "língua geral" dos n ativos e n ão o cont rário.
dade e regulari dade dos mesmos edific i os que n ão poderão ser alterados por fo rma algua
A vi agem do governador a Macapá faz-se no início de 1761 , i nserida num trajecto
, sem ordem expressa do lllmo e Exmo S r Gal. Com pena de quatro m i l Reis para o
de v i sto ri a de out ras v i las e lugares que incluíam Porto Salvo, V i gi a, Cametá, Azevedo
Nobre concelho" c68l .
Macapá, Gurupá, Melgaço e Portel. O ouvidor geral do Estado Feliciano Ramos
r­ As determinações legais da 8.' e 9.' posturas advertem quan to à con st rução de qua i s­
Mou rão, que acompa nhou o governador, fez um diári o da jorn ada. O documento é impo
dos p oced me tos tomados em cada uma quer ac rescentos às casas, proi b i n do po i a i s, degraus e escadas para fora das mesmas ou que
tan te tanto pelo que relata da viagem em s i e r i n
r em nas ja n elas se façam "alegretes, partelei ras, o qualquer outra i n stânc i a", con clu i n do com a
das localidades como, em especial, pela desc rição detalhada da actuação do gove rnado
da d i spos i ção final de que "qualquer que fizer o cont rario do determ i nado nestas posturas a
Macapá onde, além de abrir a escola, como fizera n outras, dá seguimen to ao "projecto"
respei to da regulari dade dos ed i fic i os, po r requeri mento da parte, ou ex offic i o, os offic i a i s
v i la.
da camara farão logo demoli r e desman char as obras repa radas que acha rem n o acto da
Em carta d i rigida ao govern ador Melo e Cast ro, em 1760, Pascoal de Ab ranches
São vistori a a custa das pessoas que as houverem feito" C69l.
Madeira, então ouvidor da comarca, lembrara-lhe que: " No estabelecimen to da Vila de
de As posturas I O.' e I I .' cu i dam da aparência das praças, obri gando os v i z i nhos que aí
José de Macapá, onde eu t i ve a honra de ass i st i r ao lllmo. e Exmo Snr. F ranc i sco Xavier
rit­ vivam a cap i n arem-nas duas vezes ao a n o, i mpedindo que n elas se façam "covas ou pavões",
Men donça Furtado, presenciei que o mesmo se nho r, lemb rado de que a verdade i ra a
felizes e que nada e a o dos mora­ dado que estes não só causam "desform i dade a direita s i metria e ret i dão com que devem
mética do legi slador era o número de pessoas que fazia r
c66l . De estar fo rmadas as povoações", mas também po r questões da saúde públ i ca. As segu i ntes
dores que t i nha estabelecido n aquela colo n i a se n ão cu i dasse n o seu augmento . . . "
o postu ras dizem respei to às plantações, ao gado, aos pad rões e med i das a serem usados no
tal aumen to cu i dará o governador, p revendo a expa n são da v i la e do seu pla n o, projectad
comé rcio dos géneros e ao protocolo das festas e procissões. Há que ressaltar que as cri a­
desta vez pelo en genheiro Gaspar João Geraldo de Gronsfeld, que levara consigo na viagem
ções eram severamen te controladas pelo Governo, i mpedindo em todos os casos o abate
(fig. 3 6) .
do gado sem prév i a autori zação, alega n do com i sso a necess i dade de aumentar o rebanho.
Paralela a esta i n tervenção fís i ca n a c i dade, o gove rnador actuará também como
As postu ras foram assinadas pelos vereadores e demais presentes, em 8 de Ma rço de 1761.
mediador de uma acção legislativa, que vai dar origem ao texto das postu ras da vila. Como
Os dese nhos feitos po r Tomás Rod ri gues da Costa, da i g reja e da Casa da Câmara
que reforçando as palavras do ouvidor, sobre a ari tméti ca dos legisladores, neste texto
as e, em conjunto, do modelo do alçado das casas dos moradores, da residê n c i a do v i gári o,
fazem-se co ntas, n ão só computa n do o aume nto da povoação - com os pesos e
as "med das" da dos quarté i s, e i nclusive das t i pologias ut i litári as do açougue e do hospital, completavam o
med i das da gestão económi ca -, como estabelecendo com ri gor também i
es. projecto urban ístico de Macapá. A rat i ficação que estas posturas lhe fazem, reforçan do o
sua forma - donde caberia não só falar da aritméti ca, mas da geomet ria dos legislador
Os p ri me i ros art i gos da lei mu n i c i pal t r atam das fontes públ i cas e dos cr i tér i os ca rácter regulador e normal i zador do p rojecto, i n tegram- n o ai nda ma i s na conce i tuação
desta até à I I .', o assu to p ­ clara de G. Byrne, de "um projecto u rbano do espaço públi co" c7oi _ A i n terven ção do Estado
bás i cos de l i mpeza e h i gien e da vila. Logo a 5.' postu ra, e n rin
assume o encargo u rbano en quanto projecto "seu" e, defini ndo a sua forma, d i v i são e
cipal será a d i ta "perspecti va" da vila, e as normas da sua manutenção.
Pri mei ro se d i rá que " . . . devem todos ed ifica r n os l i mites das braças de terra que aparê n c i a, determ i n a também condutas aos "moradores" que abriga n o seu espaço, reser­
vando-lhes, por delicadeza, a l i be rdade de o mod ificarem apenas nos seus apose ntos i n teri ­
lhes ass i g nalou o d i to (governador), para fazer janelas e portas pellas medi das e b i tola que
sem ores, as suas casas.
lhe determinou ( . . . ) Ninguém poderá abrir alicerce fazer casa de novo, portas, genellas,
edific os com Re i terando o texto das postu ras, as escr i turas dos lotes u rbanos relembram ao
que os officiais da Câma ra lhe façam v i storia, e lhe determinem se fação os i
ruas e possui do r que, para que destes "l i v reme n te" se pudesse serv i r como seu, era ob ri gado "a
Regulari dade, Simet ria, Ret i dão e senão possão tomar cousa alguma do publ i co das
e conservar nas casas, que ed i ficar a perspectiva que tem as mais moradas, sem que em tempo
Serventias do Povo . . . No caso de não estarem medidas as braças de terra com justiça
medi os d tos al cerces e obras, algum a possa mudar por fo ra, e só por dentro poderá fazer repart i mentos que lhe
por o rdem do Dez Intendente Geral manda r en cordoar e r i i
os parecer . . . " c7 1 i _
com s i gnaeis e co n frontações e darse-lhe a med i da para as portas e janelas, ficando
constar, Assentes as normas do func io namento u rbano, que se esperava garanti riam o
cordeamentos e medições registados nos l i vros da Camara para todo o Tempo
c 67i aumento e progresso da povoação, o governador cui dou também de dei xar estabelecido, e
com pe n a de t rês m i l Rei s para o Con celho" .
em regulado, o local de i nstalação dos futu ros povoado res. Estes seriam ou os filhos dos mora­
A postu ra seguinte faz referênc i a explíc i ta a Mendon ça Furtado dizen do: "Que
se ão edifi­ dores que "em chegando a idade competente já podem const i tu i r casa a parte" cni, ou mesmo
benefic i o da formozu ra desta vila e da comodidade publica dos habitantes que
n
estabe - novos povoado res v i ndos do Re i no, como os que chegaram em Outubro de 1 761 c73l _
quem casas com altura maior ou menor ou com S i metria diversa daquella que esta
1 82
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

O trabalho da extensão do plano é feito por Gronsfeld, na "perfeição", segundo o


governador, e não se lhe pode negar tal mérito. O engenheiro alemão incorporou a
linguagem do projecto existente e ampliou-o segundo as suas normas implícitas. Seguiu os
eixos viários estabelecidos e a sua modulação básica para fazer o prolongamento do plano.
O obstáculo que significava o lago a sul impedia qualquer extensão para aquela direcção; fê­
-la, portanto, segui ndo para norte e para oeste, ao mesmo tempo, de modo a manter a
coerência da figura rectangular da forma urbis, e não provocar demasiados desequilíbrios na
sua relação de proporção. (fig. 42)
O mesmo duplo quadrado que gerira o núcleo inicial aparece novamente no
conjunto maior. As opções tomadas quanto à abertura das novas vias do mesmo modo
respeitam também a lógica precedente. Estabelecem-se a partir de eixos hierárquicos, repre­
sentados, na direcção leste-oeste pela rua do lado norte da praça de São Sebastião e pela
rua central da praça de São João (não por acaso a que atravessa perspecticamente o pelou­
ri nho ), e na d irecção norte-sul pelas ruas limítrofes das praças no sentido horizontal (fig. 43).
Assim, as novas Rua das Flores e Rua da Campina, abertas respectivamente a norte
e a oeste dos limites da vila, marcam os novos eixos viários, respeitando a modulação esta­
belecida, concretamente, pelo desenho da própria vila no espaço. O governador aprovei ­
tará na altura d a abertura d e tais ruas para estabelecer o s nomes de todas as outras da
povoação.
As praças têm a denominação já referida de São Sebastião e São João. A rua que liga
e marca o limite oeste das praças, e que é fronteira à igreja e à Casa de Câmara, designa­
-se por Rua de São José. As duas travessas que fazem as laterais da igreja são as travessas
do Espírito Santo e a de Santo António e com estas resumem-se os topónimos da vila que
homenageiam santos, numa evidenciada alusão hierárquica. As outras denominações esta­
belecidas variam entre referências mais ou menos óbvias ao próprio local, como Rua das
Fig. 42. Desenho: Macapá, ampliação feita por Gronsfeld.
Fontes, Rua da Ponta, Rua do Sol (no sentido ocidente-oriente), Travessa do Lago ou a Rua
Direita (remanescente da instalação inicial do povoado); e outras mais genéricas, como
Travessa da Atalaya, Travessa de Valverde, Travessa da Espera, Travessa da Estrela, etc.
Outro dos motivos que levaram o governador a Macapá foi a vistoria das condições
da sua fortificação. Neste aspecto evidencia a pouca eficiência da existente e encarrega o
capitão engenheiro de "riscar uma planta que com pouca despeza e, em pouco tempo se
pudesse fazer de fachinada" <74i_
Executa-a Gronsfeld, seguindo os critérios do governador, e é seu o plano que
aparece na planta da vila. A forma escolhida é um reduto cujo polígono exterior forma um
pentágono irregular, com um baluarte na ponta proeminente da figura, com dois outros
baluartes ao lado e uma tenalha formando a "cauda de andorinha" na outra ponta (fig. 3 6).
Este reduto ficou concluído em 3 1 de Julho de 1 76 1 .
Finda a tarefa de ordenação da vila, a partir daí apenas seguiriam na povoação o
continuar das obras, em especial a cobertura das casas com telhas cerâmicas. As grandes
preocupações passam a ser, entretanto, com a fortificação. O reduto recém-feito serviria
apenas para remed iar a situação e impunha-se um projecto de fortificação definitivo.
1 85
"Da Amazónia e das Cidades"

A Fortaleza, os Engenheiros e a Vila

Relembrando a situação já comentada no início deste capítulo, sobre a importância


da fortificação da região do Cabo do Norte, vimos que, em 1 740, se tinha pedido ao
sargento-mor engenheiro do Reino, Manuel de Azevedo Fortes, que fizesse um projecto
para a praça, o qual foi executado por um discípulo seu e não chegou a ser construído

/ ·--
(fig. 44).
Em 1 75 1 , o capitão-mor João Baptista de Oliveira fora encarregado de instalar o
/.r ' ., .,,,. 1 J-,, {dalm •f� povoado e a fortificação. Esta se resumia então ao reduto construído ainda em 1 73 8. O
capitão não terá podido adiantar grande coisa da obra e, em 1 755, Mendonça Furtado pensa
em mandar para ali um "engenheiro alemão" para lhe fazer a fortificação. Não há notícia de
que tenha ido o alemão e apenas no ano seguinte, em 1 75 6, foi um português, Carlos Varjão
Rolim, engenheiro com vastíssima experiência de fortificação no Estado, mas naquela altura
já com bastante idade. Em 1 758 chegará Tomás Rodrigues da Costa para comandar a vila.
Engenheiro também mas imerso nos trabalhos da construção do povoado, pouco terá feito
em termos do seu forte, salvo reparos e quartéis.
Em 1 759, surgiu finalmente um outro projecto de fortificação para Macapá, feito por
Manuel Guedes, um ajudante engenheiro que tinha acompanhado o ouvidor João lgnácio de
R. 1 0 DA S A M.1\ Z ONA S Brito e Abreu em viagem feita à vila naquele ano C75l_ O projecto não foi construído. Previa
para a vila um belo forte, em forma de um pentágono regular com baluartes nos ângulos
(fig. 45). O que se construiu fi nalmente foi o citado reduto de fachina projectado por
Gronsfeld, em 1 76 1 , que já se sabia não poder ser definitivo.
- 1
Em 1 762, ainda durante o governo de Bernardo Manuel de Melo e Castro, este envia
para Macapá, com o fim específico de projectar e executar a fortificação da vila, os enge­
Fig. 43. Desenho: Macapá, eixos urbanos. nheiros Henrique João Wilkens e Henrique Antonio Galuzzi. Galuzzi era, como é sabido, um
dos integrantes da Expedição Demarcadora e já o tínhamos visto como autor das plantas
de Bragança e Ourém ( 1 754) e de um mapa do Bispado do Grão-Pará ( 1 759). Foi como
capitão de Infantaria com exercício de engenheiro para Macapá, posto a que fora promo­
vido em 1 7 6 1 .
Henrique Wilkens vai para Macapá como ajudante engenheiro. O seu percurso é
diferente de Galuzzi. Chega ao Pará, em 1 753, com uma carta de recomendação da Rainha­
-mãe, por ser enteado do seu boticário. Como dissesse que tinha noções de geometria, foi
entregue ao padre Szenmartoni como aprendiz e, em 1 754, dirige a Mendonça Furtado um
pedido para ser colocado no posto de ajudante engenheiro. Em 1 75 5 é atendido e por carta
régia de 1 5 de Março recebe a sua patente '76'.
Guardam-se no Arquivo Público do Pará algumas das cartas trocadas entre estes
engenheiros e o governador, que fazem o relato dos estudos, projectos e obras executadas.
Resumidamente, passamos a explanar o seu trabalho.
A primeira providência tomada fora, segundo as palavras de Wilkens, "tira r -se uma
exacta planta desta praça e dos seus lagos cincunvizinhos, tanto para podermos formar uma
1 86
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

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Fig. 45. Mapa geométrico de um pentágono regular projectado para fortificar a praça da Vila e S. José de Macapá no anno MDCCLIX.
Fig. 44. Planta da Fortaleza de Macapá ( 1 739). AHU, cartografia manuscrita, Maranhão 894. He copia de um projecto do Sargento-mor engenheiro Manuel Guedes (1759). CI 98.
1 88
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

exacta ideia da situação como para prevenirmos com a defensa necessaria a qualquer "\: Ili.
1-'1< ; 11
0 1 1 0
i nvasão" <77>, Depois, por ordem expressa do governador, ocuparam-se em refazer o reduto Pl l,�\ A l O RT J F ' I C.·\ C . \ Õ IJ.\. Pff \(. ' I•I _., J ')/I•
llO,\\ \ f \ P\.
que Gronsfeld fizera no ano anterior, por este estar completamente arrui nado. O projecto 1- .y/.. , ...
1 1. \l..,,
de uma nova fortificação é enviado em Julho deste mesmo ano ao governador, pelo coman­
dante da praça, Nuno da Cunha de Ataíde Varona. Os desenhos seguiam identificados
como "três cartas que mostram a planta desta praça e vila, o mapa topografico das suas vizi­
nhanças e projecto para fortificação da mesma praça" <'0>.
O projecto apresentado desta feita:, não é um polígono regular, mas uma linha de
fortificação que cobriria toda a parte de terra onde fora instalado primeiramente o povoado,
..
a sul do lago, seguindo aproximadamente a sua forma natural. O reduto já construído e
reparado servirira como uma obra anexa à fortificação (fig. 46). Embora aprovado o
projecto, não se iniciavam as obras. Galuzzi, já em Agosto, dirige-se directamente ao gover­
nador com um discurso pe1-emptório sobre a necessidade de defesa da área, dizendo:

"Pela situação de maior consequência para a conservação deste Estado do que a _Jo-1 .-J � -J -j
--1 ...J I..J Q -I ... -.J-..Ja
cidade do Pará porque depois de estar tomada e bem fortificada pelo inimigo de Cayena J J

lhe fica logo patente todo o Rio da Amazonas até comun icar-se com os domínios dos seus
aliados no Ori noco e na Proví ncia de Quito, ficando de fora a cidade do Pará a uma grande
distancia sem que dela dependa esta importantíssima comunicação de sorte alguma. Eu não
sou profeta, nem feiticeiro, porém não posso deixar de me persuadir que no próximo ano
teremos por cá alguma visita, por não ser conforme a razão nem a experiência que dois

--
inimigos tão poderosos e ambiciosos e intradependentes deixem de intentar a conquista de
tal país de que depende a dilatação e comun icação recíproca de seus domín ios visto princi­
palmente servir-lhes de um equ ivalente para a compensação do Canadá se lhes suceder
serem constrangidos a aceitar condições de paz. Não posso pois, nem levemente duvidar D A S _\ ,\\ ,\ .,_ l) � ,\ � ,
R I O
que V. Excia nos subministrará os meios necessarios e indispensáveis para pronta e abre­
viada execução do projecto que V. Excia dignou-se a aprovar com mão tão larga e com
medidas tão superabundantes" 179>.
j 1� ,. ,., .;,
Fig. 46. Projecto para a fortificação da Praça de Macapá com a planta da
vila ( 1 762). AHE.RJ M l 3.PA084.
Apesar da eloquência de Galuzzi, a execução foi adiada devido a se ter designado
i n icialmente a feitura de um outro reduto e vigia no lago Curiau. O capitão engenheiro
estava em total desacordo com tal medida e não poupou críticas ao comandante da praça.
Em outra carta, tão incisiva quanto a citada, dirá que "O engenheiro em chefe desta praça,
conforme o determinado no capítulo 1 2, do livro 8, tomo li do Engenheiro Português, que
é o Sr. Coronel Nuno da Cunha, faz parte das suas sérias ocupações em mandar pintar o
corpo de guarda do reduto, que ainda não está perfeitamente acabado e os cabidos das
armas e da palamenta, assintindo ao efetivo à estas importantes obras de manhã e de tarde,
e o mestre carpinteiro, que sou eu, assiste fora desta praça. " <00>
Concluirá a carta com a mesma ironia, dizendo: "Tenho repetidamente considerado
e criticamente reflectido, lllmo e Exmo Sr no que seria se nesta tão importante praça se
achasse um dos primeiros engenheiros que houve no mu ndo, como por exemplo entre os
1 90
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

franceses Vauban, entre os holandeses Schoenborg, e entre os alemães Ringler, com a obri­ ' p1 _ ,, 1 \ l•f ! I l i \\ \ 1 o 1 1 ,

gação de po-la em termos de alguma defensa e que no mesmo tempo se lhe embaraçasse
a devida e necessária jurisdição e mando sobres os trabalhadores e mais pessoas destinadas
' ·.· ' "'' • , .,, •
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para o trabalho ( . . . ) sobretudo quando pelas circunstâncias de uma receada su rpresa se


devesse refutar como precioso qualquer mínimo instante de tempo e sendo concluído e
acabado de assentar que o pobre homem não teria mais outro remédio que ou matar-se
mesmo desesperado ou arrebentar de raiva e ficar louco em poucos dias, e quanta maior
compreensão, aplicação e experiência tivesse mais cedo lhe deveria acontecer irreparavel­
mente um dos referidos desastres. Que será pois de mim agora que não sou nada a vista
de tão grandes homens, mas sim o maior ignorante que há entre os da minha profissão e j
J
totalmente indigno do cargo que ocupo em prejuízo do real serviço de Sua Majestade Não J
J ...J-__J _J - J ..J ..J .....J _J - .....1 ....l ..J - ...J J ....
acabarei eu de paixão em poucos dias? Ou não estarei eu já louco e totalmente sem _J 1
juízo?" 1" l . J J
Além de ser um interessante documento, pela referência a nomes significativos da
engenharia militar do séc. XVIII (notando-se a pertinente citação do livro de Manuel de
Azevedo Fortes como o grande manual português), esta carta evidencia também a morosi­
dade dos processos de construção, já de si lentos em função ·da parca mão-de-obra, e mais
ainda por desencontros políticos. Apenas em Outubro de 1 762 se deu início às obras
previstas, com o término da Vigia do Curiau.
Em Setembro de 1 763, assume o governo do Estado Fernando da Costa de Ataíde
T eive. Pede ao capitão Galuzzi uma planta demonstrativa do estado das obras da fortaleza.
O que nela se vê indica que apenas tinham sido construídos os parapeitos a leste e a sul, e
uma bateria baixa em meia-lua, diante do parapeito leste. O pouco adiantamento dos traba­
lhos e a própria postura do novo governador, mais afeito às grandes obras, devem ter sido
Fig. 47. Planta e Praça da Vila de S. José de Macapá como se acha no ano de 1 763 e tirada geometricamente debaixo das ordens do
as causas para que este encomendasse novo projecto ao engenheiro. lllmo e Exmo Snr Fernando da Costa de Atayde Te1ve . . . pello capitão engenheiro Henrique Antonio Galucio. AHE.RJ MB.G2. I 02.F.6.5.
O projecto que finalmente seria construído foi então feito por Galuzzi, no ano de
1 764. Previa uma fortificação regular, de forma quadrada, com baluartes nos ângulos e uma
série de obras exteriores: um fosso aquático que cercava a fortaleza a norte e oeste, e
diante deste dois revelins ligados ao corpo da praça por pontes; a sul e leste os fossos
seriam secos, cobertos por um pequeno revelim a sul e um hornaveque a leste (fig. 47) .
As obras da fortificação iniciaram-se em 29 de Junho do mesmo ano de 1 764, sendo
neste dia lançada a primeira pedra do baluarte de São Pedro. No ano de 1 769 morreu
Galuzzi e o comando das obras passou interinamente para Henrique Wilkens, que entre­
tanto, em 1 764, fora promovido a capitão.
Durante este primeiro período a povoação tinha recebido mais moradores em
92
1 764 < l e em 1 765, pelo mapa das populações do bispado, contava com 554 adultos e 248
menores, num total de 802 almas 183l. Em 1 770 o comando da vila é passado a Manuel da
Gama Lobo de Almada, que, paralelamente às obras da fortaleza, da responsabilidade de
Wilkens, cuidará da evolução do povoado e será responsável também pela instalação da
nova Vila de Mazagão, que próxima à sua se fará neste ano 1841.
Em 1 772, João Pereira Caldas assume o governo do Estado. Da fortaleza seguia
1 92 1 93
As Cidades da Amazónia no Seculo XVII I "Da Amazónia e das Cidades"

Wilkens dando repetidos relatos acompanhados de plantas. Neste ano anu nciava que as "Aqui se fundo u a praça de São José de Macapá, q u e dista desta vila q uinhentos
obras interiores estavam terminadas, mas não deixava de apontar defeitos e dificu ldades em passos po u co mais o u menos, . . que não tem havido cousa mais irregular para a Real
vários pontos e reclamava, em especial, do pouco número de operários de que dispunha <95>. Fazenda e para os Povos q u e nella trabalha e a quem se esta ainda devendo a maior parte
De posse do relatório de Wilkens o governador pede a Gronsfeld que o examine, de seus jornais . . . "
juntamente com Sambucetti, e que ambos dêem parecer sobre os reparos possíveis e os "Propuzeram ao mesmo Senhor, que este paiz hera fertil; e aprazivel, que nos o
custos. A resposta de Gronsfeld e Sambucetti não se faz esperar. Apontam os grandes males esperimentamos mu ito pello contrário, porq u e só a robustez das nossas nat u rezas, he que
da fortificação e sugerem remodelações no projecto 10•> . tem podido su portar o agreste e laboriozo trabalho da agric u ltura que temos vivido athe ao
O governador decide viajar para a vila, acompanhado de todos os oficiais enge­ presente" <9 1 >.
nheiros q u e existiam na Capitania e os melhores mestres pedreiros e carpinteiros, para q u e
se decidisse da sua obra. Estiveram presentes a esta "conferência": o sargento-mor João O comandante da vila defendeu-se das acusações que lhe eram feitas pelos mora­
Geraldo de Gronsfeld, o capitão director da obra Henriq u e João Wilkens, os ajudantes dores <92>. No entanto, o processo q u e estas denu nciavam, de u ma abordagem impregnada
Domingos Sambucetti, José Pinheiro de Lacerda e Alexandre José de So u sa e os mestres de mal-estar, não deixará de crescer. A situação política no Reino virava, literalmente, as
Jerónimo da Silva, José Francisco de Matos, Estanislau da Silva, António dos Prazeres e José costas ao projecto q u e os homens de Pombal haviam intentado fazer na Amazónia. Em
João <87>. Decidiu -se pelas sugestões já feitas por Gronsfeld e pela troca da pedra da cons­
1 782, de u -se por terminada a fortaleza de São José, deixando por fazer as obras exteriores
trução por outra de melhor q u alidade para evitar mais estragos no futuro. previstas que ainda não tinham sido realizadas. A ina u guração faz-se no dia do santo (3 de
Quanto à vila, a impressão do governador durante aquela su a estada não foi das Março), em gesto q u e soa a homenagem póst u ma ao rei, ao projecto d o se u ministro e à
melhores. Dirá que "as casas não tem nobreza alguma, e se conservão ainda cobertas de
própria vila, que é varrida neste mesmo ano por uma epidemia <93>_
palha como no principio da s u a fundação; contudo, os seus moradores vivem sofrivelmente Marcando o final do séc u lo XVIII, a administração da vila será tomada por o utro
com os provenientes da agricultura, e das suas lavouras, e em verdade se tem empregado, engenheiro, João Vasco Manuel de Braum. Personagem do seu tempo, Braum demonstra
e empregam com trabalho s u perior às suas possibilidades" <99>, Um mapa que envia ao interesses q u e se distribuíam ecleticamente pelos meandros da filosofia naturalista ou pela
Conselho Ultramarino, neste ano, dá como habitantes da vila u m total de 986 pessoas livres expectativa das novas descobertas técnicas. Veremos este engenheiro fazer um projecto de
e 3 2 1 escravos distribuídos por 245 fogos <99> _ uma máquina para alçar caixotes dos navios, ou um plano para o abastecimento de águas
Em nova viagem q u e faz à Vila de Macapá em 1 775, em conjunto com a vistoria de de Belém <94>, e ainda escrever textos com narrativas de viagens e, em especial, u ma
Mazagão e de Vila Vistosa, a impressão do governador é um tanto melhor. Diz ter havido "Descrição Corografica do Estado do Grão-Pará" <95> _
uma considerável diferença de "au mento e luzimento" da vila desde a sua anterior visita e A conclu ir este capítu lo apresentam-se três retratos da Vila de São José de Macapá:
faz elogios ao trabalho de Manuel da Gama Lobo de Almada <90>. No entanto, em 1 779, já u m retrato gráfico, a vista da Vila do Amazonas (fig. 48); a d escrição objectiva q u e lhe fez
sob a regência de D. Maria, os moradores não darão deste se u comandante a melhor Bra u m na obra citada; e o retrato mttico que José Gonçalves da Fonseca nos dá da s u a
impressão. A petição que dirigem à rainha é significativa já de u m outro tempo que se vive, fundação. Em qualq u er deles vislu mbra-se a vila e o se u significado.
onde afloram críticas ao período pombalino, e onde se negam as essências do projecto
urbano, q u e não é sequer considerado como u ma utopia não concretizada, mas como u m
deliberado engodo. "Oitenta léguas distante da capital, trez minutos ao norte da eq u inocial, em a costa
septentrional do Rio das Amazonas, se acha edificada a praça de Macapá, que até o ano de
1 75 8 foi somente povoada por familias q u e ali vieram das ilhas de Santa Maria e Graciosa,
" . . . Fomos convidados por u m Decreto real para virmos das ilhas, povoar esta nova por ordem do Sr Rei D. João V. E em 4 de Fevereiro do dito ano por ordem do Sr Rei
colonia, e animados do socorro que nos permitia pela real fazenda, dezamparamos as nossas D. José 1, se crio u vila, e no ano de 1 764 por determinação do mesmo senhor, se flanq u eo u ,
patrias e nos deixamos conduzir, mas as penas nos deitaram nesta situação ( . . . ), e nos obri­ e poz em defensa, com uma fortaleza, ou cidadella de pedra e cal, que importou além d e
garam violentamente a um serviço excessivo, de alimpar os matos deste terreno dentro de dois milhões; constando de u m quadrado fortificado pela maneira d e Vauban, gu arnecido
lagos, e sem o limitado sustento de farinha ( . . . ), e depois nos mandaram para o mato cortar com 84 peças de grosso calibre; um regimento de infantaria paga, e u m terço a u xiliai·,
madeiras, e conduzi-las para a factura das casas q u e só por conta da Real fazenda se composto de oito companhias de infanta1·ia e quatro de cavalaria: as suas campanhas são de
mandaram levantar dezoito pau s para cada uma, e cobertas de palha como ainda hoje se planície escalvadas, com diversas peq u enas matas, que cobrem o u tros tantos lagos que ali
costuma, e tudo o mais a nossa cu sta". formam as cabeceiras dos rios, e as águas das ch u vas: consta a sua população de 2000
195
"Da Amazónia e das Cidades"

pessoas brancas, 750 escravos e um certo número de índios assalariados" (961 .

"Portou S. Excia no Prezídio chamado de Santa Ana (sic) de Macapá, em cujo distrito
em sítio plano fundou uma vila, destinando para seus primeiros povoadores um bom
número de famílias insulares que da Terceira e outras dos Açores havia S. Majestade
Fidelíssima mandado conduzir a expensas da sua Real Fazenda para aquele estabelecimento,
no qual em demonstrando da sua bem ordenada piedade, os primeiros alicerces em que

'
mandou abrir foram aqueles em que se havia de construir Casa para Deus e levantar Altar
para o sacrifício, consagrando a lgreJa ao grande Patriarca S. José, com cuja sagrada deno­
minação apelidou a vila, não só em memória do glorioso nome do Rey Nosso Senhor, por
ser a primeira fundação do seu Feliz Reinado, mas também por dar àquela costa até então
deserta, hum tutelar, que bem pode ser o defensor dos Domínios de huma Monarquia que
se dignou chamar a sua, aquele mesmo Rey, de que o Santo Patriarca foi custódio" l97I_

,.

Fig. 48. Vista da Vila e P1-aça de S. José de Macapá tirada do ponto V. AHE.RJ PA. I 1 2A.
Notas 1 97
"Da Amazónia e das Cidades"

( 1 ) AHU. Pará Caixa 762 (46) - 24 de Abril de Carta de João da Cruz Dinis Pinheiro a Francisco (38) PO M B 1 62 íls. 1 3 8- 1 43 . I nstrução passada ao (56) Ver nota 54. Embora os dois vãos se integrem
1 79 2 / idem N.º 72 cat. Alexandre Rodrigues Xavier de Mendonça Furtado. sargento-mor Tomás Rodrigues da Costa. Macapá, no conjunto, a fenestração dupla para cada lado da
Ferreira / N.º 1 0.52 1 C.E.H.B. / publicado in Revista (2 1 ) V. Parte li, cap. li, p. 1 1 8. 1 2 de Fevereiro de 1 758. porta é mais cond izente com a modu lação seguida
do I H GB, t. 3, 1 • edição, 1 84 1 , pp. 3 89-42 1 . (22) Idem, nota 1 8 deste capitulo. (39) V. Parte 1 , cap. 1 , p. 48. par·a as o utr·as casas.
(2) Idem. (23) POMB 627 íls. 1 02- 1 03V. Carta de João da (40) Idem, nota 37 deste capitu lo. (5 7) Sobre tal assunto ver Paulo Thedim Barreto,
(3) Idem. Cruz Dinis Pinheiro ao bispo do Pará. i legível a data, (4 1 ) V. Parte 1, cap. 1, p. 37. Cosas de Câmara e Cadeia, in "Revista do SPHAN",
(4) Ver Parte l i , cap. l i , pp. 1 0 1 . ano de 1 755. ( 4 2) O autor de tal desenho é uma das mais inte­ n.º 2, Rio de Janeiro, 1 93 8 .
(5) POMB 626 íl. 1 7. Idem AHU, Pará Caixa 737A (24) V. Parte 1, cap. 1, pp. 50. ressantes figuras da engenharia militar no Sul do ( 5 8 ) Horta Correia assinala o mesmo facto no plano
( 1 4A) - 3 1 de Maio de 1 75 1 . (25) POMB 627 fis. l 6 l - l 64V / 25 de Julho de 1 755. Brasil. Discípulo de Alpoim, que inclusive assim se de Vila Real de Santo António. A ideia de nobilitar o
(6) Alexandre Rodr·igues Ferrei ra, op. cit. "Desci­ Carta do bispo do Pará, D. Frei Miguel de Bulhões. identificava numa das plantas que assina da fortaleza edifício da Câmara com sacadas não foi para a
mento" era um termo comum para designar os a Francisco Xavier de Mendonça Furtado. de Jesus Mar·ia José no Rio Grande do Sul ( 1 755). frente, inserindo-se esta no conjunto das edificações
transportes de índios que eram capturados nos (26) PO M B 1 6 1 íl. 1 2. Carta de Francisco Xavier de Foi um dos oficiais envolvidos na entr·ega da ilha de da praça sem mar·cações especificas. V. José Eduardo
matos e trazidos para as missões ou vi las. A palavra Mendonça Furtado ao desembargador Francisco Santa Catarina, onde trabalhara já com José da Silva Horta Correia, op. cit., p. 307. Tai facto, não escapa,
refere-se à "descida" dos rios subsidiários d o Rodrigues de Resende. 2 1 de Outubro de 1 755. Pais, e chegou a ser governador da fortaleza da Praia como é evidente, à lógica urbana pombalina, de não
Vermelha e do castelo de S. Sebastião do Rio de valorizar em especial qualquer edifício ( excepção
Amazonas e o caminho feito p o r estes. (27) Carta d e Francisco Xavier de Mendonça
Janeiro. feita às igrejas, quando necessário) e sim o conjunto
(7) " I nstrução que levou o capitão-mor João Furtado a Sebastião José de Carvalho e Melo, datada
(43) Aires do Casal, Corogrofio Brosilico . . . , Rio de urbano.
Baptista d e Ol iveira quando foi estabelecer a Nova de 1 4 de Novembro de 1 755. Publicada in Marcus
Carneiro de Mendonça, Amazónia Pombalina . . . , pp. Janeiro, 1 8 1 7, p. 3 3 . São José do Tibiquari é a actual (59) V. Parte 1 1 , cap. IV.
Vila de São José de Macapá", publicada in Marcus
Carneim Mendonça, Amazónia Pombalino . . . , pp. 8 3 2-835. cidade de Taquari no Rio Grande do Sul. (60) V. Parte 1, cap. li, p. 67 e p. 1 67 deste capitu lo.
I I S- 1 1 7. (28) POMB 628 fis. 50-5 1 . Carta d o bispo do Pará a ( 44) Cf Alfredo Vico Trasancos. Arquitecturo y (6 1 ) POMB 623 fls. 207-2 1 3 . Documentação da
(8) Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado Francisco Xavier de Mendonça Furtado. 1 2 de Urbanismo en e/ Ferro/ dei sigla XVIII, Colexio Oficial Cãmara de Macapá dirigida a Francisco Xavier de
a Tomé Joaquim da Costa Corte Real de 1 9 de Fevereiro de 1 756. de Arqu itectos de Galicia, Vigo, 1 984, pp. 1 3 5 - 1 5 1 . Mendonça Furtado. 1 7 de Julho de 1 758.
Dezembro de 1 75 1 , publi cada in Marcus C. (29) POMB 628 íl. 47. Carta do bispo do Pará a (45) Idem, ibidem, p. 1 5 6. (62) POMB 1 63 fis. l 62- l 64V. Cartas de Fr·ancisco
Mendonça, op. cit., pp. 1 1 8- 1 1 9. Francisco Xavier de Mendonça Furtado. 1 de (46) Salvador Tarragó Cid, E/ Borrio de lo Magda/ena Xavier de Mendonça Furtado a Tomás Rodrigues da
(9) Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado Fevereiro de 1 756. e e/ Urbanismo de los engenieros militares dei sigla Costa e aos oficiais da Câmara de Macapá. 1 5 de
ao rei de 25 de Janeiro de 1 752. Publicada in Marcus (30) POMB 628 fis. 86-87. Carta d o bispo do Pará a XVIII, in EI Barrio de La Magdalena dei Ferrai, Outubro de 1 758.
C. Mendonça, op. cit., pp. 208-209. Francisco Xavier de Mendonça Furtado. 28 de Santiago. 1 980, p. 1 2. (63) APP códice 4, Doe. 24. Carta de Tomás
Fevereiro de 1 756. Fala sobre a viagem de Carlos (47) V. Parte 1, cap. 1. Rodrigues da Costa a Francisco Xavier de
( 1 0) Idem.
Varjão Rolim a Macapá tendo o bispo escolhido (48) Idem, nota 46. Mendonça Furtado. 1 2 de Janeiro de 1 759.
( 1 1 ) Carta de Francisco Xavier de Mendonça
aquele engenheiro para acompanhar o ouvidor, (49) Referido in Alfredo Vico T rasancos, op. cit., pp. (64) AHU, Pará Caixa 739 1 (2 1 ) / 1 3 de Agosto de
Furtado a Diogo de Mendonça Corte Real de 25 de
escusando-se que Galuzzi se ocupava em Belém do 1 5 6- 1 57. 1 759. Cartas de Manuel Bernardo de Melo e Castro
Janeiro de 1 752. Publicada in Marcus C. Mendonça,
transporte das pedras para os marcos das demarca­ a Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
op. cit., pp. 2 1 0-2 1 1 . (50) Philipe Boudon, Riche/ieu, Vil/e Nouvelle, Essoi
ções e G ronsfeld precisava ficar na cidade por ser o (65) E m d ata que desconhecemos fizeram-se
( 1 2) Idem. d'Architecturologie, Bordas, Paris, 1 978.
responsável pelas suas fortificações. reformas na igreja de Macapá que modificaram a sua
( 1 3) POMB 625, íls. 8 1 -9 1 . Carta de João Baptista (5 1 ) Ver util ização simi lar do topónimo das ruas e
(3 1 ) POMB 628 fis. 1 56- 1 57. Carta do bispo do Pará fachada. O edifício foi ampliado e acrescentada uma
de Ol iveira a Francisco Xavier de Mendonça da vila utilizada também em Vila Real de Santo
a Francisco Xavier de Mendonça Furtado. 1 1 de torre lateral.
Furtado. Macapá, 3 1 de Janeiro de 1 752. António. A situação entr·etanto, da praça única, assu­
Maio de 1 756. ( 66) APP códice 2 Doe. 49. Carta de Pascoal de
( 1 4) POMB 625, íls. 96-98. Carta de João Baptista mindo a convergência da simbologia toponímica,
(32) POMB 1 6 1 íl. 1 1 O. Carta de Francisco Xavier Abranches Madeira a Manuel Bernardo de Melo e
de O l iveira a Francisco Xavier de Mendonça transforma aquele exemplo numa situação bem mais
de Mendonça Furtado ao bispo do Pará. 24 de Julho clara e precisa que a de Macapá. Ver José Eduardo Castro. 1 5 de Maio de 1 760.
Furtado. Macapá, 20 de Fevereiro de 1 752. de 1 756.
Horta Correia, Vila Real de Santo António. Urbanismo (67) AHU, Pará Caixa 739 1 (2 1 ) / 8 de Março de
( 1 5) Anoes do Biblioteca e Arquivo Público do Porá - (33) POMB 630 fi. 1 1 4. Carta de João da Cruz Dinis 1 76 1 . Posturas da Vila de São José de Macapá.
e Poder no Político Pombalino, Tese de Doutora­
As Fortificações da Amazónia. Torno IV, p. 282. Pinheiro a Francisco Xavier de Mendonça Furtado. mento, FCSH-UNL, 1 984, pp. 489-49 1 . (68) Idem, ibidem.
( 1 6) PO M B 63 1 fis. 36. Carta de Bento da Fonseca 28 de Outubro de 1 756. (52) Philipe Boudon, op. cit., pp. 46-47. (69) Idem, ibidem.
a Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Lisboa, 4 (34) PO M B 1 59 íl. 97. Carta de Francisco Xavier de
(53) Gonçalo Byrne, Ricostruire nello città, Lo Lisbono (70) V. p. 1 75 deste capitulo.
de Julho de 1 752. Mendonça Furtado ao bispo do Pará. 25 de Outu­ di Pombal, in "Lotus l nternational", 5 1 , 1 986/3, (7 1 ) AHU, Caixa 739 1 (2 1 ) / 8 de M arço d e 1 76 1 .
( 1 7) APP cod. 884 fi. 37. Carta régia de 4 de bro de 1 757. M i lano, 1 987, p. 1 2. Cópia de uma escritura.
Dezembro de 1 752. (35) PO M B 1 59 íl. 1 00V. Carta de Francisco Xavier (54) Há, no entanto, uma difer·ença entre as duas (72) AHU, Caixa 739 1 (2 1 ) / 6 de Maio de 1 76 1 .
( 1 8) PO M B 624 fis. 64-65 / 2 de Abril de 1 755. de Mendonça Furtado a Tomé Joaquim da Costa
p lantas, uma indicando apenas dois vãos de janelas Carta de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Carta de João da Cruz Dinis Pinheiro a Francisco Corte Real. 25 de Outubro de 1 757.
no alçado e a outra mostrando quatro aberturas. É Francisco Xavier de Mendonça Furtado remetendo
Xavier de Mendonça Furtado. Acompanha a Planta (36) Idem, nota 25 deste capitulo. mais provável que tenham sido utilizados os quatro a planta da Vila de Macapá feita por Gronsfeld.
de Macapá (fig. 30). (37) POMB 1 62 íls. 1 32- 1 37. Carta d e Francisco vãos indicados na planta de maior detalhe. (73) AHU, Pará Caixa 739 1 (2 1 ). 1 7 de Outubro de
( 1 9) Idem. Xavier de Mendonça Furtado ao bispo do Pará. (55) Ramon Gutierrez, Arquitecturo y Urbanismo en 1 76 1 . Carta de Manuel Bernardo de Melo e Castro
(20) POMB 627 íls. 6-7 / 1 5 de Fevereiro de 1 754. Macapá, 8 de Fevereiro de 1 758. lberoomerico, Cátedra, Madrid, 1 9 83, p. 278. a Francisco Xavier de Mendonça Furtado. "Fiz sentar
1 98 IV
As Cidades da Amazónia no Século XVIII Belém, a Capital

praça aos degredados que na presente frota (92) AHU, Pará Caixa 757 (4 1 ) / 23 de Julho de
mandou S. Magde pçtra este Estado, e fiz conduzir 1 78 1 . Carta de Manuel da Gama Lobo de Almada
logo a Vila de Macapá os que vier·am para povoa­ ao governador José Nápoles T elo de Meneses.
dores". (93) AHU, Pará Caixa 756 (42) / 30 de Dezembro
(74) AHU, Pará Caixa 739 1 (2 1 ) / 28 de Abril de de 1 782. Carta de José Napoles Telo de Meneses ao
1 7 6 1 . Carta de Manuel Bernardo de Melo e Castro Conselho Ultramari no. Ver Parte l i , cap. V.
a Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
(94) V. Parte l i , cap. IV.
(75) Idem, nota 64 deste capítulo.
(95) João Vasco Manuel de Braum, Descrição
(76) V. I nventário Engenheiros e Vilas. Corogróf,co do Estado do Grão-Pará que por ordem
(77) APP cod. 4 Doe. 89 / 25 de Maio de 1 762. A Cidade do Pará
alfabético descreveu João Vasco Manuel de Braum
Carta de Henr·ique João Wilkens a Manuel Bernardo governador da Praça de Macopó em o anno de 1 789,
de Melo e Castro. in "Revista do IHGB" tomo XXXVI, Parte 1 , Rio de
(78) APP cod. 4 Doe. 9 1 . Carta de Nuno da Cunha Janeiro, 1 873 , pp. 269-322.
de Ataíde Varona a Manuel Bernardo de Melo e No capítulo relativo aos primeiros tempos da ocupação da Amazónia vimos Belém
(96) Idem, ibidem.
Castro. 9 de Junho de 1 762.
(97) POMB 1 3 9, Conquista Recuperada . . , íl. 1 7V.
no final do século XVII com o seu traçado viário. já virtualmente definido, tanto na área da
(79) APP cod. 4 Doe. 1 23 / 8 de Agosto de 1 762. "Cidade" quanto na da "Campina" (fig. 1 O). Fez-se ali também referência à demarcação da
Carta de Henrique António Galuzzi a Manuel
Bernar·do de Melo e Castro. área patrimonial do concelho, realizada em 1 702, que veio ratificar a lógica da configuração
(80) APP cod. 4 Doe. 1 3 9 / 8 de Setembro de 1 762. urbana, delimitando a cidade com um arco de quadrante com uma légua de raio < 1 1 • Durante
Carta de Henrique António Galuzzi a Manuel a primeira metade do século XVIII, a cidade do Pará vai manter, em linhas gerais, este mesmo
Bernardo de Melo e Castm
quadro urbano já definido no século precedente. Os limites da urbe tinham sido demarcados
(8 1 ) Idem.
(82) AHU, Par·á Caixa 775 / 26 de Janeiro de 1 764. com dimensão suficiente para assegurar sua capacidade de crescimento e permaneceriam,
Carta régia enviada a Fernando da Costa de Ataíde ainda por bastante tempo, como tal. No tecido urbano, as modificações principais
T eive com a relação das famílias e voluntários que
relaciona.m-se sobretudo com intervenções de cunho arquitectónico, pouco aumentando a
passavam para o Macapá.
(83) AHU, Pará Caixa 740 (27) / 2 1 de Abril de malha viária.
1 765. Mapa das populações do Bispado do Pará. Ent1·e as intervenções arquitectónicas de maior vulto, contam-se as constrnções de
(84) V. Parie li, cap. V. mais duas casas conventuais na cidade e as reformas sucessivas nas já existentes. Os dois
(85) AHU, documentação anexa a cartografia
novos conventos foram: o de São Boaventura, dos frades Antoninhos da Conceição da Beira
manuscrita, Pará 805. 24 de N ovembro de 1 772.
Relatório de Henrique João Wilkens. e Minho, começado a constrnir em 1 706, e o hospício de São José, dos franciscanos da
(86) AHU, documentação anexa a cartografia Província da Piedade, construído em Belém em 1 749, embora os missionários estivessem na
manuscrita, Pará 798. 2 1 de Março de 1 773.
capitania desde 1 693. Ambos edificados em sítios que se poderiam designar de "extra­
Relatório de Gaspar Gronsfeld e Dom ingos
Sambucetti. -muros" , mesmo não tendo a cidade muralhas defensivas, pois situam-se após o seu fosso
(87) AHU, docume ntação anexa a cartografia natural, representado pelo alagado do Piri. O hospício de São Boaventura seguiu a implan­
manuscrita, Pará 798. 1 1 de Agosto de 1 773.
tação ribeirinha já utilizada pelo de S. António, das Mercês e do Carmo. Os frades da
10

Relatório de João Pereira Caldas a Gaspar


Gronsfeld Conceição construíram-no na margem do rio Guamá, cerca de 200 braças afastado do
(88) AHU, Pará Caixa 750 (35) / 8 de Novembro de convento do Carmo que continuava a definir o limite da malha urbana no Sul. O hospício
1 773. Carta de João Pereira Caldas a Martinho de
de São José foi feito a leste da cidade, na outra margem do Piri C2l .
Melo e Castro.
(89) AHU, documentação anexa a cartografia
O convento dos Carmelitas, que fora o primeiro a ser construído na cidade, em
manuscrita, Pará 798. 30 de J unho de 1 773. Mapa de 1 626, sofreu uma primeira reconstrução iniciada em 1 696. Em 1 708, começou-se a levantar

todos os fogos que existem na freguesia de S. José novamente a igreja em pedra e cal, numa campanha que terá ficado inacabada e da qual
de Macapá.
(90) AHU, Pará Caixa 750 (35) / 5 de Novembro de
restou o altar-mor. Este seria aproveitado para a definitiva igreja que se reconstruirá, em
1 775. Carta de João Pereira Caldas a Martinho de parte, cerca de 1 766, sob a direcção de Landi. O convento de S. António, cuja construção
10

Melo e Castro. primitiva era de 1 627, entrou em obras em 1 73 6 e foi reinaugurado, em 1 743.
(9 1 ) AHU, Pará Caixa 757 (4 1 ) / 1 O de Fevereiro de
1 779. Cópia do r·elatório que o Senado de Macapá
O convento dos Mercedários, estabelecido na cidade em 1 639, manteve com
enviou à r·ainha. pequenas reformas a sua construção de taipa até cerca de 1 748, quando começou a ser
200 20 1
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

refeito em pedra e cal. Landi intervirá também aqui, na segunda metade do século. A igreja As mesmas dificuldades e lentidão das obras do Bispado enfrentaram também os
primitiva dos jesuítas fora inicialmente construída em taipa, em 1 653 . Em 1 670, inaugurou­ oficiais do Senado na edificação da Casa de Câmara e cadeia, começada cerca de 1 73 7 e
-se a segunda igreja, que, em 1 700, foi outra vez reformada, e novamente inaugurada em apenas concluída em 1 750. Já em 1 720, os oficiais reclamavam das más condições do seu
1 7 1 9. edifício situando-as dentro de um contexto tão amplo, que alegavam de "má eleição" a loca­
Neste mesmo ano foi criada a diocese do Pará, separada da do Maranhão. Passando lização de toda a cidade e uma necessidade conjunta de se fazerem obras públicas, "como
a cidade a sede de Bispado investiu-se com mais atenção na obra da matriz, elevada a Sé. são pontes e calçadas, poços, por não ter fontes, e alguns portos" Iª>.
A respeito do estado em que se encontrava a matriz de Belém, repete-se tradicionalmente Em 1 73 4, o estado do edifício ter- se-á convertido de facto em ruínas e a necessi­
uma frase que teria sido dita pelo primeir© bispo do Pará, D. Frei Bartolomeu do Pilar, ao dade urgente de obras impunha-se. Várias cartas trocadas entre os oficiais e o governador
confrontar-se com ela na sua chegada em 1 724: "para Sé de palha, bispo de papelão". e entre os mesmos e o Conselho Ultramarino atestam a insistência dos pedidos de ajuda
Uma carta do provedor da fazenda José da Silva Távora dizia, em Outubro deste para a construção de um prédio novo, mais "decente" do que o que tinha caído por terra.
mesmo ano, que " . . . as paredes que são de barro e estão arruinadas e é preciso separá-las A requisição feita nas cartas é invariável. Mais que material, ou meios financeiros, pedem
e acrescentar as paredes da capela-mor até se fazer nova igreja" (3>, A obra da capela-mor índios para o trabalho de construção. Mais precisamente, requisitam uma aldeia que pudesse
decorreu durante os anos de permanência do primeiro bispo, até à sua morte em 1 73 3 , e ficar inteiramente sob a sua custódia para lhes proporcionar constantemente operários para
outros em que a Sé ficou vacante até 1 73 9 . O segundo bispo, D. Frei Gu ilherme de São as suas obras e encargos. Apenas em 1 744 terão conseguido o seu pleito diante do rei, que
José, terá dado continuidade às obras do templo. Colocou a pedra fundamental da nave em lhes assinalou a aldeia de Santo António do lgarapé Grande para as obras (91_
3 de Maio de 1 748, depois de decidir que deveria construí-la por fora das paredes arrui­ Entre 1 73 2 e 1 73 7, durante a administração do governador José da Serra não se
nadas da antiga igreja. deram início às obras da Câmara, e a nenhuma outra também, em função de um discutido
À chegada de D. Frei M iguel de Bulhões, o quarto bispo do Pará, em 1 749, as obras projecto do governador de construir uma cidadela defendendo a cidade. Apresentando-se
iam ainda em andamento. Em 1 755, estaria concluída a nave do cruzeiro ao altar-mor. Neste como um "governador soldado de profissão" 11 0>, José da Serra alegava que os edifícios
ano D. Miguel fará para a Sé a trasladação do Santíssimo Sacramento, que até então se grandes, construídos ao lado da fortaleza de S. 1° Cristo, constituíam perigoso padrasto para
encontrava na igreja de S. João Baptista, que servia, provisoriamente, de catedral. A previsão aquela e eram prejudiciais à cidade. Defendia não só que se não edificasse mais nada nas
do bispo era que em dois anos pudessem estar terminados o frontispício e as torres para proximidades do forte, como ainda se fizesse uma verdadeira cidadela à sua volta 1 1 1 1 . Um
dar por finda a obra. No entanto, estas foram interrompidas cerca de 1 76 1 , e apenas reto­ projecto similar a este voltaria a ser proposto por Gronsfeld, em 1 77 1 , e outra vez será
madas em 1 766, e ficaram finalmente concluídas só em 1 77 1 . considerado, como aqu i também, demasiado dispendioso.
Num processo com morosidade similar à das obras da Sé foram iniciadas, também na Entre as dificuldades impostas pelo governador José da Serra aos oficiais da Câmara
primeira metade do século XVIII, obras de um palácio episcopal, nunca concluídas. Após a para o início da obra da sua sede, estava portanto a localização do edifício nas proximidades
expulsão dos jesuítas, o colégio de S. Alexandre passou a ser a residência dos prelados, desis­
10
do forte. Mesmo vencido este obstáculo, e escolhendo-se novo terreno para a sua cons­
tindo-se de vez do paço inacabado. Do conjunto da documentação que faz referência ao trução, ela foi iniciada já na administração do governador seguinte, João de Abreu Castelo
processo da construção de tal palácio ressalta-se a importância que adquire a questão do Branco ( 1 73 7- 1 747) . Uma carta régia, passada em I O de Maio de 1 737, ordenara a urgência
arrendamento urbano. Várias vezes o prelado responsável refere-se ao alto custo dos aluguéis da construção do edifício 1 121, a que o gDvernador dá andamento, respondendo ao rei no ano
que a Coroa tinha de pagar enquanto a obra não se concluísse. Numa carta do governador seguinte que determinara que o sargento-mor engenheiro (Carlos Varjão Rolim) fizesse a
José da Serra ao Conselho Ultramarino este diz que " . . . nesta cidade os alugueis são maiores planta e cuidasse da obra 1 1 3> _
que os de Lisboa, ainda que as casas de nenhuma maneira possão comparar-se" 1'>. Quanto ao projecto do seu antecessor, de construir a cidadela, o novo governador
Tanto da Sé quanto do palácio episcopal não se sabe os nomes dos directamente envia parecer definitivo à Corte. Diz que: " . . . não posso deixar de reputar por algum tanto
responsáveis pelo seu projecto ou pela construção. Em 1 728, o bispo faz referência a um fantástico porque além de ser necessária a despeza de dous ou trez milhões para a fortifi­
"mestre velho" que tinha tomado o encargo das obras do paço, sem citar nomes 15>. Depois, cação da cidade, e construção da cidadela, e ser preciso guarnecer estas obras com regi­
apenas em 1 745, aparece-nos a assinatura de António Gonçalves, capitão superintendente mento de infantaria paga, me parece que seria materia de grande dúvida e ponderação o
das fortificações e obras da capitania, responsabilizando-se pela condução de materiais para ser, ou não ser conveniente o haver neste porto uma semelhante praça; porque não sendo
a obra do palácio episcopal 161 . E no ano seguinte, respondendo a consultas feitas pelo bispo impossível o poder ser atacada e rendida por algum poder inimigo, como tem sucedido a
sobre a possibilidade de construção de um seminário, vemos os nomes de Félix Gomes de outras mu itas, seria este o único meio de aqui se poderem conservar, e assenhorear-se do
Figueiredo e do engenheiro Carlos Varjão Rolim 171. país, o qual pela sua situação de mattos e rios que o fazem impenetravel he a maior defensa
202 203
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

desta capitania, e que, segundo o meu entender, bastam para fazer impossível a conservação A Cidade do Grão-Pará e Maranhão
de quaisque1- tropas, ou gentes estranhas, que fação dezembarque ou invasão neste ponto,
e suas vizinhanças. E como nestes termos não podem os edifícios vizinhos a este forte, e ao
de S. Pedro Nolasco causar prejuízo algum aos mesmos fortes ( . . ) me parece que não há A chegada de Francisco Xavier de Mendonça Furtado a Belém, em 24 de Setembro
fundamento algum para se haverem de demolir as casas, ou igrejas que estão junto deles, de 1 75 1 , ocorreu à noite, e a cidade recebeu o novo governador em ambiente festivo. Além
ainda que o seu perfil seja mais alto e fique superior às mesmas fortificações . . . " <">. do ritual de praxe de recepção do governante, as festas davam-se em louvor da própria
Desistiu-se afinal, do projecto da cidadela, e a defesa da cidade manteve-se a mesma cidade, que a partir daquele governo passaria a ser a capital do Estado, agora designado do
que desde o século precedente já se tinha construído: o forte de S.'º Cristo, o fortim de Grão-Pará e Maranhão, ao invés da diferente hierarquia da denominação anterior, de
S. Pedro Nolasco e a fortaleza da Barra. Maranhão e Grão-Pará.
Além da discussão em torno da cidadela e dos edifícios construídos à volta do forte, A marcação festiva da chegada do novo governador encarna um simbolismo de "rito
Castelo Branco herdara também do período do seu antecessor outra polémica envolvendo de passagem" para a urbe, que é elevada da condição de cidade de província a capital do
o espaço urbano de Belém. Desde o início do século os prelados contestavam a situação Estado. O simbolismo das festas reforça, com a sua linguagem teatral, a passagem do espaço
da "polé" e pelourinho, situados no centro da praça principal. Julgavam os bispos o instru­ urbano para um outro espaço de representação. A cidade transformara-se em sede de
mento de castigo pouco condizente com a passagem das procissões 1-eligiosas e com o poder e também em cena dos mecanismos de representação deste mesmo poder.
espaço em si, localizando-se mal entre "três igrejas, e duas de sacrário, que vem a ser a igreja O poder que ali se faria representar sabemos nós que se concretizaria no plano
matriz desta cidade, a igreja do colégio de Sto Alexandre e a do Santo Cristo e bem prático com muita veemência, impondo um conjunto de reformas e anulando as forças
próxima a Real Casa dos oficiais da Câmara de Vossa Majestade" < 1 5>. A contestação feita na opositoras à sua actuação. O quadro das disputas entre o Estado e os missionários e a
altura pelo governador, certamente baseando-se na representação simbólica do pelourinho, estratégia da administração pombalina na Amazónia, com a criação da Companhia de
alegava que este "estava erecto em seu lugar que era na praça e defronte da casa da camara Comércio e a Lei da Liberdade dos índios, já foram analisados noutro capítulo e para lá
e cadeia" <">. remetemos as observações pertinentes à sua caracterização. Importa-nos aqui rever a situ­
No entanto, como José da Serra não queria reconstruir a Casa da Câmara na praça ação da evolução urbana de Belém no contexto desta estrutura de poder que a situou
principal, o conflito resolveu-se pela decisão de se transferir pelourinho e Casa da Câmara como sede.
para uma outra praça. Mas a obra do senado acabou por não ser feita em praça, mas sim Entre as questões urbanas que marcam os primeiros anos da gestão de Mendonça
numa rua que por isso passou a designar- se de Rua da Cadeia. A praça do pelourinho só Furtado em Belém está a insistente polémica com os jesuítas por terrenos situados nas
será resolvida na segunda metade do século, durante a administração de Mendonça Furtado. traseiras do colégio, onde estava instalada a alfândega. A situação de conflito existia já há
Vemos assim um quadro de Belém no final da primeira metade do século XVIII. muito, desde a primitiva instalação dos missionários naquele local. A primeira objecção ques­
Apesar de pouco se ter expandido, a cidade mudara o seu perfil arquitectónico e volumé­ tionara a sua própria localização vizinha ao forte, pois os militares alegavam que o colégio
trico com a construção em pedra das igrejas e das casas e com as obras maiores do palácio constituía um perigoso " padrasto" à fortaleza, discurso que foi também sustentado pelo
do bispo. A imagem da cidade do Pará, antes de se tornar a capital, é dada pela descrição governador José da Serra, como vimos. Seguiu-se a disputa pelos terrenos vizinhos ao
de La Condamine, que a visitou, em 1 743 : edifício, que a fazenda real constantemente requisitava para instalação de armazéns, ou
"No dia 1 9 de Setembro, perto de quatro meses após a minha partida de Cuenca, outros fins, e os padres pretendiam para ampliações do colégio.
cheguei à vista do Pará, que os portugueses chamão Grão-Pará, ou seja grande rio na língua Em 1 73 2, pareceu que se tinha chegado a um consenso. Uma carta régia determi­
do Brasil; aportamos a uma habitação dependente do colegio dos PP. jesuítas. O provincial nava a cessão dos terrenos aos padres comprometendo-se estes a construírem às suas
nos recebeu e o reitor aí nos reteve oito dias e proporcionou-nos todos os divertimentos custas nova alfândega, noutro sítio, sob risco do engenheiro-mor José Velho de Azevedo < 10> .
do campo enquanto preparavam-nos acomodações na cidade. Achamos no dia 27, chegando A resolução não terá agradado ao governador, que não a cumpriu e a adiou, permanecendo
ao Pará uma casa comoda e ricamente mobilada, com um jardim donde se decobria o hori­ a situação, com mais ou menos agravos, até à chegada de Mendonça Furtado.
zonte do mar e numa situação tal que eu a teria desejado para o interesse de minhas obser­ Em 1 753, o procurador da Fazenda Real escreve ao rei, dizendo não ser possível
vações. ( . . . ) Afigurava-se-nos, chegando ao Pará e saindo das matas do Amazonas, ver-nos recolher as fazendas que vinham do Reino na reduzida alfândega de Belém, pedindo que
transportados à Europa. Encontrámos uma cidade, ruas bem alinhadas, casas risonhas, a maior fosse enviada a planta (sugere que fosse igual à do Maranhão) para se construir uma nova < 1 •>.
parte construída desde trinta anos em pedra e cascalho, magníficas igrejas . . . " < 1 11 . Em 1 75 6 outra carta régia determina, desta feita, que se suspendessem as obras da nova
alfândega devido aos seus custos <20>. A obra era feita no local da antiga e as disputas com os
204 205
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

missionários continuavam, pois estes tinham concretizado a compra de terrenos ao lado


desta e pretendiam fazer ampliações no colégio.
A tónica destas disputas interessa-nos menos pelos motivos alegados por ambas as
partes e mais pela situação específica de que aqui se reveste o espaço urbano, enquanto
palco de representação das tensões sociopolíticas da cidade. Os terrenos em questão situa­
vam-se na zona principal do núcleo urbano. Tal localização conferia-lhes um estatuto hierár­
quico, dotando-os de atributos simbólicos ligados ao poder. O facto de se disputarem áreas,
num espaço de representação do poder, rE!flecte, em última análise, uma disputa de poder
(ou pelo menos de representação de poder) . Disputa esta que de facto existia, para além
do campo espacial, entre os missionários e a administração pombalina na Amazónia.
Neste contexto é significativo notar que a questão espacial evoluiu num sentido
similar ao da própria questão política que a envolvia. Em 1 73 2, os jesuítas, que detinham
uma situação de poder mais clara dentro da região, tinham obtido parecer favorável para o
seu pleito, ganhando os terrenos que pretendiam. Em 1 758, a situação das forças políticas
era outra e a determinação régia reavaliou o caso favorecendo, desta vez, a Companhia
Geral de Comércio, que os disputava para a construção dos seus armazéns. Os termos da
carta régia que assim decide são taxativos:

" . . . sou servido ordenar- vos intimeis da minha parte aos peraldos (sic) das religiões
da Companhia de Jesus e de N. S. das Mercês ou quaisquer pessoas assim eclesiásticas como
seculares que pertençam o domínio útil ou o direito das propriedades referidas que sem
perda de tempo concluam a venda delas aos administradores da mesma Companhia pelo
preço que contratarem amigavelmente ou pelo que arbitrarem os louvados nomeados por
ambas as partes, judicial ou extra judicialmente, de sorte que cessando todo e qualquer
embaraço se proceda a pronta e indefectível execução desta ordem, possam os sobreditos
administradores da Companhia entrar efectivamente na posse das ditas propriedades e
mandar construir os armazéns pertendidos com a brevidade necessária em utilidade pública
do comércio. O mesmo fareis executar a respeito de outras quaisquer propriedades e
prédios urbanos que forem necessários para a maior extensão dos ditos armazéns, regu­
lando-os pela proporção que dizem ter o comércio presente e futuro na mesma Com­
Fig. 49. Primeira ideia do portal da Nova Alfândega. Landi (1). AHU, cartografia manuscrita,
panhia . . . " <2 1 >. Pará 796.

Assim ficou estabelecida a propriedade dos terrenos atrás do colégio para a


Companhia Geral do Comércio, incluindo, provavelmente, o próprio edifício que servia de
alfândega. Existem no AHU dois alçados designados por "Primeira Ideia do Portal da Nova
Alfandega" (fig. 49) e "Segunda Ideia do Portal da Nova Alfandega" (fig. 50), datados de
cerca de 1 757. Embora não estejam assinados é possível atribuí-los a Antonio José Landi. O
desenho da primeira ideia coincide basicamente com o projecto do arquitecto para os arma­
zéns e sede da Companhia Geral de Comércio, enviados ao Reino em 1 773 (fig. 80) . Deduz­
-se que a Companhia ter - se-á utilizado do prédio feito para alfândega, já sob o desenho de
Landi de 1 757, e depois encomendou ao mesmo arquitecto um projecto de ampliação para
206 207
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

abrigar a sua sede. Este novo projecto jamais terá chegado a ser executado e a Companhia
ter- se-á servido sempre do mesmo prédio da alfândega para os seus armazéns.
Após a expulsão dos jesuítas, em 1 760, o próprio prédio do colégio passou a ser
disputado. Em 1761, encarregou - se novamente Landi de transformar parte das lojas do
edifício em armazéns para os armamentos. O bispado, ainda ás voltas com a obra nunca
concluída do seu paço episcopal, requisita por sua vez o edifício confiscado aos padres para
paço e para seminário, alegando a proximidade da Sé e a correspondência mais imediata do

1r
seu desenho. Esta nova polémica em torno do prédio dos jesuítas permanecerá até ao final
do século, pois embora o colégio fosse entregue ao bispado, os prelados reclamaram das

1 condições em que fora cedido pois continuavam a ser utilizadas partes como armazéns de
armas e outros fins mi_
Outra questão herdada por Mendonça Furtado é a localização a dar ao pelourinho,
que devia ser retirado da praça da Sé. A opção tomada é deveras interessante e tem origem
numa encomenda feita por Mendonça Furtado aos engenheiros de uma "cortina baixa entre
os dois fortins da marinha ( . . . ) para melhor defensa da mesma cidade" (fig. 5 1 ). O encargo,
passado a Sebastião José, Gregório Rebelo e Filipe Sturm, previa já a construção da praça,
pois o desenho executado inclui na legenda a observação de que deixava "suficiente praça
para as obras que nella se pertendem fazer" ,231 _
O projecto dos engenheiros propõe a construção da dita cortina baixa entre o balu­
arte das Mercês e o forte de S. 1° Cristo, com a inclusão de um outro baluarte no eixo meri­
diano de ambos. Na esplanada deste baluarte é que seria feita a nova praça, projectada
sobre o rio. Por algum motivo terá sido frustrada a execução da obra no seu contexto de
defesa. No entanto, permaneceu o projecto para a instalação da praça, que se fez exacta­
mente onde se previra o baluarte, mudando-se a sua forma pentagonal para um semi-círculo
ou, na linguagem dos engenheiros que a fizeram, uma "meia-lua".
É patente a preocupação de centralidade e simetria que se impunha ao projecto
urbano com esta praça avançada sobre o rio. A sua linha central estabelece uma bissectriz
inequívoca (45º) entre o ângulo recto feito pelo eixo da rua do Norte (a direcção norte) e
o eixo de direcção leste que passa pelo fortim das Mercês (fig. 52) . O mesmo eixo segue
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dentro do tecido urbano e rasga uma pequena rua na quadra fronteira à praça, estabele­
cendo uma perspectiva axial ao pelourinho. Além disso, também é clara a revalorização, que
�,
__::, se faz do símbolo do pelourinho, que até então andara em polémicas sobre onde o colocar,
repondo-o em luga1· privilegiado e específico. Mais ainda, colocando-o mesmo diante da
Fig. 50. Segunda ideia do portal da Nova Alfândega. Landi (?). AHU, car­ própria cidade, numa praça avançada sobre o rio, para que fosse visto em comum com a
tografia manuscrita, Pará 796-7. urbe (fig. 53).
A apreciação da imagem da cidade detém uma importância significativa dentro do
contexto do imaginário setecentista. Herança ideológica das utopias urbanas do
Renascimento e das descrições das "cidades-ideais", o discurso urbanístico do século XVIII
envolve-as também em descrições em que se intenta projectar no leitor uma visão das
cidades transformadas em ícones. As "cidades-marítimas" em especial, pela sua situação
sobre o mar ou sobre os rios, predispunham-se a comparações de toda a ordem sobre a
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Fig. 52. Praça do Pelourinho.


Fig. 5 1 . Desenho de uma cortina baixa entre os dois fortins da marinha da cidade de Belém do Grão-Pará feita por ordem de Francisco
Xavier de Mendonça Furtado. assinado por Sebastião José, Gregório Ribeiro e Filipe Stunm em 1 753. AHU, cartografia manuscrita,
Pará 8 1 5.
211
"Da Amazónia e das Cidades"

grandiosidade ou a beleza dos seus perfis quando vislumbrados da água. A importância


deste tipo de apreciação surge acrescida dentro do imaginário português, fundada nas bases
marítimas da Expansão e no insediamento trad icional com que fizeram as suas cidades, privi ­
legiando situações de instalação litorânea ou na margem de rios <24l _
A descrição de Belém que é feita no discurso encomiástico de José Gonçalves da
Fonseca, já outra vezes citado, dá a med ida do privilegiado imaginário da cidade do Pará
dentro do imaginário maior das conquistas portuguesas.

"He hoje o Gram Pará, capital de todo o Estado, situada a hum grau e 28 ' minutos
de elevação Antartica ( . . . ) na margem Oriental da Embocadura do canal inferior do grande
Rio das Amazonas, que com mais de mil leguas de caminho vem este gigante fluido alabastro
a oferecer a imensidade das suas águas a outros confluentes pera nelas, como em plano de
cristal estampar-se a bela construção da sua perspectiva, que na verdade he de tão d istinto
e agradável aparato aos que de fora buscão o seu porto, que pode competir com Messina
e Goa, conhecidas pelas de melhor representação entre as cidades marítimas do Mundo" <251 _

q.,�?,�no,w(?_, ./º-"· <Â;;,'."""/4.-/.


· ·/..r/";/~-:'•9"-:'9. ,-,/ A imagem da "cidade-marítima" reforça-se com a realização de prospectos e vistas
da cidade (figs. 54 e 55). Um dos mais significativos, dentre os muitos desenhos que se

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fizeram de Belém durante os séculos XVIII e XIX, é uma imagem que conjuga a visão da
cidade a partir do rio com a visão do próprio rio pejado de barcos (fig. 54). Representa a
saída do governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado e da sua Comissão para as
Fig. 53. Prospecto da Praça do Pelourinho mandado fazer pelo gov. e cap. general D. Francisco de Sousa Coutinho. Demarcações. O desenho condensa tanto o discurso do imaginário da cidade como o imagi­
nário ideológico do poder, que ali vem representado na quantidade das embarcações e no
seu aparato.

"Compunha-se toda a tropa de 23 canoas grandes a saber:


Duas de S. Excia, em que entrava 1 . maior, armada à maneira de iate, com uma
câmara bastantemente espaçosa, forrada toda a damasco carmesim com filetes dourados;
era esta câmara guarnecida de caixões cobertos de coxins do mesmo damasco, e além
destes trazia mais 6 tambortes e 2 cadeiras estofadas ( . . . ) Tinha 4 janelas de cada lado e
2 no painel da côpa, que todo estava guarnecido de talha primorosamente aberta, e no
meio as armas reais, tudo bem dourado, e o resto da canoa era pintado de encarnado e
azul. Compunha-se a guarnição desta canoa de 26 remeiros, vestidos todos de cassas
brancas e calções azu is e barretes de veludo azul e seda cor de ouro, com chapas de prata
das armas de S. Excia. O jacumaúba, ou piloto, levava a libré da casa de S. Excia com um
talabarte de veludo e seda das mesmas cores, com um bom chinfarrote e uma grande capa
de prata com as armas . . . " <2•i .

Não apenas no que diz respeito à fixação da imagem da cidade foi esta praça do
Pelourinho, a mais significativa intervenção urbana em Belém durante a gestão de Mendonça
Furtado. Como vimos, a cidade permanecera, até à metade do século, dentro dos limites e
2 12
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

Fig. 54. Prospecto da Bahia ou da cidade do Pará. que fez o lllmo e Exmo Francisco Xavier de Mendonça
Fig. 55. Prospecto da cidade de S." Maria de Belém do Grão-Pará de 20 de Maio de 1 784. "Viagem Filosófica",
Furtado. Desenho de Schewebel. 1 754. Partida para Mariuá.
est 1 .
214 215
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

confirmações já definidos anteriormente. Começara apenas a modificar-se no seu perfil


. . ,,,, .,.,·., ,. , ,._.,,.- . . '
volumétrico e arquitectónico com a lenta reconstrução das igrejas e as obras no palácio dos - - --- -- - ----- -- -- -
bispos e na Casa da Câmara. ....; 1 A·- � �!..'!.
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Esta modificação de carácter volumétrico tinha sido o motivo sobre o qual José da ,cn
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Serra levantara a questão da cidadela, prevendo que a cidade pudesse ter necessidade de II
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se defender da sua própria magnitude. A praça do pelourinho, disposta em frente aberta, w.. ,.... .,... ,....

sobre uma cortina baixa, e projectada no próprio rio representa uma opção de todo ! -�
q ,.... ...... .,,.,.•...,,. . ,,.. ... .......,. •, ........,,
contrária à que o ex-governador levantara.• Assumia-se com tal postura que a cidade valo­
rizava o seu perfil e a sua volumetria. O significado de tal opção vai fazer-se notar ainda mais
a partir das intervenções de Landi, onde é clara a intenção de monumentalizar o espaço
urbano da capital.
Terminado o período de governo de Mendonça Furtado ( 1 75 1 - 1 758), a cidade
encontrava-se acrescida da praça do pelourinho, tinham começado as obras na Alfândega,
sob projecto de Landi, e continuavam as obras do palácio episcopal. No governo de Manuel
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Bernardo de Melo e Castro ( 1 759- 1 763) desistiu-se, como vimos, da obra do paço epis­ jl • ���- � . ' E
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copal (transferido para o colégio dos jesuítas) e a Sé seguia vagarosamente.


O governador viu-se obrigado a proceder, em 1 759, à demolição das casas que até
então serviam de residência dos governadores por estas ameaçarem ruína iminente. Melo e
Castro encomendou, no mesmo ano, um novo projecto de palácio a Landi, mas as obras
deste só se efectivariam na gestão do seu sucessor. Ainda durante o período de Melo e
Castro deu-se início ao Hospital Real, feito na praça da Sé, em 1 762, e ao Arsenal Real,
instalado no prédio que fora dos frades da Conceição da Beira e Minho, o Hospício de S.
Boaventura.
A importância da construção do arsenal relaciona-se directamente com a gestão da
Companhia Geral de Comércio. Não era nova a ideia de se montar uma estrutura de cons­ DO

trução naval na Amazónia, que aproveitasse as excelentes e infindáveis madeiras da região.


J',,r., ,,.,,,./••• ,._�C/1 .Jo N.........../, ,/, ,1,.,,.,/h,O ,,:._,/,~ J.. .�.. -•
Já no século XVII ( 1 644) o lisboeta J oão de Almada oferecera-se para ir para o Pará fazer
barcos, notando que " . . . tudo junto se acha no Estado do Maranhão e Grão-Pará, madeiras .f',<,'I',' ,J, .c,•.,.�, , Y.,f.,u_ f"•• ol',.,iil "

C•"� J,J,,11,,•...,,•
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1 Í

tais que algumas nem o buzano entra com elas q he grande bem, nem o tempo as gasta, -

muito breu e em grande abundanssia, muito algodão para fazer o velame, mta estopa para ,.,,.,,,.c'T=�--
calafetar e tudo finalmente E do Reino ri necessita de mais q de ferro para elevação e

! g51[ii-â@i,;�4t@?,;ª§§ª�êli��flt?B ��:;���1
ameiras, tem muitos índios carpinteiros, calafates, cordoeiros, ferreiros que com muito
pouco de jornal por um mes, que de ordinario ficarão contentes, per maneira que fará tão
pouco gasto que seria à fazenda Real de V. Magestade mais útil e de proveito . . . " c211 .
No entanto, apenas no século seguinte, e a partir dos interesses e fundos da � i
Companhia, se efectivou o projecto de construção de barcos em Belém. "Seis anos após a
sua criação, a Companhia dispunha de 1 8 navios de tonelagem diversa; e volvidos outros Fig. 56. Planta e perfil do Arsenal para a construção de uma nau de 50 peças (1761 ). AHU, cartografia
manuscrita, Pará 799.
seis anos ( 1 767), eles eram já 25" c2ª1 . No arsenal de S. Boaventura construíram-se naus que
passaram a integrar o património da Companhia. Mais tarde, também se fizeram ali navios
de Guerra, que serviram às explorações da costa.
A escolha do local do arsenal e o seu projecto de instalação (fig. 56) estiveram a
216 217
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

cargo dos engenheiros militares da cidade. Foi feito, em 1 76 1 , por Manuel Álvares Calheiros,
,. ' .
Henrique António Galuzzi e Manuel Fritz Gotz c29J _ Lembremos que Calheiros era na altura
o mestre da Aula de fortificação '3º1.
Uma análise das plantas de Belém, levantadas entre 1 75 1 e 1 763, permitirá ver que
o quadro da evolução urbana da capital continuava a apresentar uma mobilidade maior em
termos de reformas do seu parque arquitectónico e menor no sentido da expansão viária.
Os desenhos que identificamos do período contam com várias cópias, feitas a partir de
levantamentos executados por Schewebel•e Gronsfeld, entre 1 75 3 e 1 76 1 . Encontrou-se
também uma planta parcial da praça de Belém, datada de 1 75 1 (fig. 57). As plantas que,
supostamente, correspondem aos levantamentos são:
- Planta Geométrica da Cidade de Belém do Gram Pará (incluída na colecção de
desenhos de Schewebel da Casa de Palmela, datada de 1 758 / Casa de Palmela Arm 2. 1 1 )
(fig. 58).
- lchonografica da Cidade de Belém, Capital do Estado do Grão-Pará situada a
Hum Grao e 27' minut e 20" sec de Latitude austral e em 3 29 graos 6' minut e 30" sec de
Longitude da Ilha do Ferro, tirada por ordem do lllmo e Exmo Snr Manuel Bernardo de
Melo e Castro governador e Capitão General do Estado (e. 1 76 1 / desenho de Gronsfeld
- Acervo da Casa da Ínsua) (fig. 59).
- Planta da Cidade de Belém, Capital do Estado do Gram Pará e do que se tem
projectado para se fortificar a sua marinha por ordem do lllmo e Exmo Snr Manuel Bernardo
de Melo e Castro, governador e Capitão General do mesmo Estado ( 1 76 1 ) Desenho de
Gronsfeld (original AHE-RJ M5 . G 1 .022.C I O) (fig. 60) .

As cópias destes desenhos são muitas, provavelmente feitas em várias épocas, das
quais identificámos as seguintes:
1 • • • � .
- Planta da Cidade do Pará (AHE.RJ M5.G4.00 I .C 1 5) (fig. 6 1 ) .
- Planta da Cidade do Pará (AHE.RJ M5.G4.0 1 O . C 1 5) (fig. 62). ,
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- Planta da Cidade de Belém do Grão-Pará (AHE.RJ M5.G4.0 1 I .C 1 5) (fig. 63).

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- Planta da Antiga Cidade do Pará (BNRJ Iconografia - Colecção Viagem Filosófica .:
de Alexandre Rodrigues Ferreira est. 3) (fig. 64) . r , J.

A planta, de 1 758, de Schewebel, localiza na legenda os edifícios principais da cidade. ,,


São citados os conventos e igrejas: a Sé, a Misericórida, o Carmo, as Mercês, o Colégio da
Companhia, o seminário dos jesuítas, S. Boaventura, a igreja de S. 1° Cristo dos Soldados, as
igrejas do Rosário da cidade e da Campina (dos Pretos), a Igreja de S. João e uma pequena l l
I>
capela de Passos. Além dos edifícios religiosos constam da explicação: o palácio do gover­
/
nador, a casa do bispo, a casa de Câmara e Cadeia, a casa das canoas, os quartéis dos
soldados, a alfândega, o açougue, os fortes de S. 1° Cristo e de S. Pedro Nolasco, a forca, os
armazéns da pólvora e uma indicação das "melhores fontes que tem a cidade chamadas
águas de S.10 António".
A legenda básica da maioria das plantas posteriores continuará a dar a indicação dos Fig. 57. Planta da praça da cidade do Pará tirada em 1 75 1 . Mapoteca do ltamaraty, Ms. 77 1 .59B4 I I a.
218
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

Fig. 59. lchonográfica da Cidade de Belém, capital do Estado do Gram Pará, situada a Hum Grao e 27' e 20" sec de Latitude Austral
Fig. 58. Planta geométrica da cidade de Belém do Grão-Pará incluída na colecção de desenhos de Schewebel da e a 329 graos 6' minutos e 30" sec de Longitude da Ilha do Ferro, tirada por ordem do lllmo e Exmo Snr Manuel
_
Casa de Palmela, datada de 1 758. Casa de Palmela Anm. 2, 1 1 . GEAEM 1 0248/ 2A-27A- 1 O 1 . Bernardo de Melo e Castro governador e Capitao General do Estado. Desenho de Gronsfeld ( 1 76 1 ) . Casa da lnsua. GEAEM 1 0688
/2A-27A- 1 02.
22 1
"Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 60. Planta da Cidade de Bellem capital d o Estado do Gram Pará e d o que se tem projectado para se fortificar a sua marinha p or Fig. 6 1 . Planta da cidade do Pará. AHE.RJ M5.G4.00 1 .C 1 5.
ordem do lllmo e Exmo Snr Manuel Bernard o d e Melo e Castro governador e capitao general do mesmo Estad o . Desenho de
Gronsfeld ( 1 76 1 ). AH E.RJ MS.G 1 .022.C I O.
222 - .
As Cidades da Amazonia no Século XVIII

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· do Grão-Pará. AHE.RJ M5.G4.0 1 I .C 1 5.


Fig. 63. Planta da cidade de Be 1 em
. AHE.RJ M5.G4.0 1 0.C 1 5.
Fig. 62. Planta da cidade do para.
225
224 "Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

mesmos edifícios, com algumas poucas variações e acrescentos. Definem eles a máxima
escala hierárquica dentro do conjunto urbano. E serão os mesmos os principais pontos de
intervenção sobre o tecido da cidade, a partir tanto do estabelecimento de relações uns
com os outros, como da definição de áreas nucleares. Adiante veremos como isto será feito,
especialmente a partir da intervenção de Landi.
No entanto, a mais significativa observação que se pode fazer deste primeiro conjunto
de plantas da cidade de Belém remete para a relação entre a estrutura da sua malha urbana
e a ocupação dos lotes. Todas as plantas mostram as áreas ocupadas em cada quadra, demar­
cando as frentes edificadas e as zonas de quintal. A planta de Schewebel, de 1 758 (fig. 58),
estabelece esta diferença com um cuidado de desenho ímpar, pois indica com grafismos
diversos a "vegetação" dos quintais e a "vegetação" das zonas não ocupadas (fig. 66).
Tai diferenciação permite-nos claramente ver que, a despeito de as quadras terem
ou não os seus l otes todos ocupados, elas não perdem jamais a sua configuração relativa­
mente ao conjunto. Ou seja, mesmo quando não está completa a sua frente edificada, a rua
não deixa de estar nitidamente estabelecida.
Esta observação, que é perfeitamente clara no desenho u rbano, não deixa dúvidas a
respeito da precedência da demarcação das vias antes da ocupação dos lotes. Note-se que
a prioridade do traçado é denunciada inclusive quando há alguma "transgressão ". Na mesma
planta de Schewebel (fig. 67), observa-se na rua axial à praça do pelourinho q u e esta tem
uma orientação definida, apesar do obstáculo estabelecido pelo pequeno lago ter provo­
cado um desvio. Do mesmo modo, também fica denunciada no desenho a disposição
"errada" das primeiras q uadras das ruas da Cadeia e da Paixão e o desenho "correcto" da
Fig. 64. Planta da antiga cidade do Pará. "Viagem Filosófica", est. 3.
rua é mostrado.
Caberá aqui fazer uma observação quanto à toponímia das ruas de Belém no sentido
de permitir a identificação dos eixos referidos. Em nenhuma das plantas que encontrámos
da cidade há qualquer identificação do nome das ruas. A historiografia tradicional ci , i dá-lhes,
entretanto, os seguintes topónimos, durante o século XVIII:
- Na cidade, a partir da margem do rio, e na direcção paralela a este, designavam
a primeira Rua do Norte, e as seguintes Rua do Espírito Santo, Rua dos Cavaleiros e Rua de
São João, q u e ao inflectir tomava o nome de Rua do Aljube. Entre a dos Cavaleiro s e esta
ficava a Rua da Alfama. Transversais a estas ruas dispunham-se, a partir da praça da Sé, a
Travessa da Residência, a Travessa da Atalaia, a Travessa da Água de Flores e a Travessa da
Barroca (fig. 65).
- Na campina, partindo também da margem do rio contavam-se a Rua da Praia
(que a partir do Convento das Mercês tomava o nome de Rua do Açougue) e, paralela a
esta, a Rua dos Mercadores (que depois da construção ali da Casa de Câmara e Cadeia
passou a ser identificada como Rua da Cadeia). A continuação da Rua da Cadeia até ao
Convento de S. António chamava-se Rua de S. António. Depois vinha a Rua da Paixão e,
10 10

após esta, a Rua de S. Vicente. Perpendiculares a estas ruas contavam-se, a partir da ponte
sobre a vala do Piri, as Travessas do Pelourinho, de S. Matheus, do Passinho, das Mercês, da
Misericórdia, das Gaivotas e dos Mirandas (fig. 65).
227
As Cidades da Amazônia no Século XVIII

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Fig. 66. Belém. Ocupação dos lotes.

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228 229
"Da Amazónia e das Cidades"
"Da Amazónia e das Cidades"

A evidência da predefinição da malha urbana fica facilmente demonstrada por estas


plantas. No entanto, continuariam por esclarecer as questões relativas a quem imputar tal
predefinição. Seguindo o raciocínio que já desenvolvemos no capítulo 1, lembramos que o
aparecimento contínuo e documentado de engenheiros na cidade data dos anos 70 do
século XVII e que, em 1 676, identifica-se a figura de um "arruador", que abriu a Rua de
S. Vicente para os imigrantes açorianos. Como vimos, a partir daí pouco cresceu a cidade
em termos viários. E torna-se evidente que, quando tal crescimento se deu, foi em perfeita
coerência com a definição primeira dos eixos que, implicitamente, o orientou.
Vemos assim os engenheiros da Comissão Demarcadora, ao chegarem à cidade em
1 75 3 , encontrarem-na com uma definição clara do seu desenho urbano, a despeito de
terem sido eles, supostamente, os primeiros a desenhar a sua planta 02>. O levantamento que
fazem evidencia a lógica do desenho da malha viária, que outra vez vai esclarecer e indicar
as bases das intervenções futuras. Tai ficará patente ao vermos o projecto de Teodósio
Constantino de Chermont, já no final do século XVIII, em que este propõe a abertura
extensiva de novas ruas, vencendo o Pântano do Piri, e "projecta" a própria cidade já exis­
tente, na sua expansão <33>_
Uma dedução lícita que cabe aqui fazer é a demonstração de que os fundamentos
Fig. 67. Belém. Eixos urbanos.
do plano da cidade de Belém, não se encontram numa tipologia-padrão, mas são claramente
visíveis dentro do desenho concreto da cidade. Ou seja, a estrutura formal da cidade é antes
de tudo auto-referente, e ao assim sei-, remete para uma atitude de cunho metodológico,
para uma valorização do "método" em detrimento do "modelo". Outra vez vem à tona a
formação dos profissionais do urbanismo e o seu quadro de referências formais, que
dotavam os seus desenhos da capacidade de indicar os códigos da sua própria leitura.

A Capital e o Arquitecto Régio

A despeito da capital ter merecido atenções durante os governos de Francisco


Xavier de Mendonça Furtado ( 1 75 1 - 1 758) e de Manuel Bernardo de Melo e Castro ( 1 759-
- 1 763), esta não foi, de facto, o foco principal dos seus investimentos na região. Mendonça
Furtado tinha sobre si o encargo das demarcações que, embora frustradas, ocuparam lite­
ralmente a maior parte do tempo da sua gestão. Coube-lhe também, enquanto irmão de
Pombal, papel primordial n a execução da ta1-efa "reformadora" da região, o que ampliava o
âmbito da sua acção administrativa e impossibilitava a gestão pontual da capital. Na verdade,
durante o seu período no governo do Estado a administração da cidade esteve a maior
parte do tempo entregue aos cuidados do bispo do Pará.
Manuel Bernardo de Melo e Castro, por sua vez, investiu num processo contínuo de
implementação da política de M endonça Furtado e também se ocupou, prioritariamente, da
230 23 1
As Cidades da Amazónia no Século XVII I "Da Amazónia e das Cidades"

reforma no contexto regional como um todo. Em termos de investimento urbano, Macapá Seguiu-lhe o primeiro projecto para a Residência dos Governadores, feito a pedido de Melo
mereceu mais as suas atenções que Belém. e Castro, em 1 759. Em 1 760, começaram as obras da matriz da freguesia de Santana, que
Nas administrações seguintes, de Francisco da Costa de Ataíde Teive ( 1 763- 1 772) e estariam terminadas apenas em 1 782. Em 1 762, projectou o Hospital Real. Fernando da
João Pereira Caldas ( 1 772- 1 780), a situação dos investimentos na capital alterar- se-á. Nela Costa de Ataíde Teive solicita-lhe um novo projecto para a Residência dos Governadores
permanecerão mais tempo os governantes, sustentados pela estabilidade económica garan­ cujas obras iniciam-se em 1 767 e duram até 1 772.
tida pela actuação da Companhia e por um certo equilíbrio na questão das fronteiras, que No ano anterior ( 1 766), já Landi começara a trabalhar na Igreja do Carmo. Na
só na segunda partida das Demarcações, já com João Pereira Caldas, viria outra vez mesma altura, entre os anos 60-70 terá intervido na fachada que se terminava da Sé do Pará
demandar grandes custos e deslocações do• governador. A cidade, fixada aqui como sede e na igreja das Mercês. Em 1 773 sagrou-se a igreja de São João Baptista, refeita sob projecto
efectiva do poder, receberá então maiores investimentos na sua imagem de capital. E a prin­ seu. Alega-se a intervenção de Landi também na obra da igreja do Rosário dos Pretos da
cipal figura de tais intervenções é o arquitecto italiano José António Landi. Campina, além de alguns outros edifícios de arquitectura civil, que lhe são atribuídos.
O percurso de Landi na Amazónia é singular. Chegou na comitiva dos técnicos das A completar o quadro geral da sua actuação na capital temos a ópera, de que se sabe da
Demarcações, em 1 753, identificado como "desenhador". A primeira impressão que causou existência entre 1 774- 1 79 1 , que nos parece lógico atribuí-la a Landi, e o projecto não cons­
ao irmão de Pombal não foi das melhores a nível pessoal, julgando-o o governador como truído dos Armazéns e sede da Companhia de Comércio do Grão-Pará.
arrivista e interesseiro, embora salvaguardasse os seus méritos profissionais. A despeito de tal Menos que fazer a análise arquitectónica de tais obras, que não cabe no contexto
opinião inicial pouco lisonjeira, a relação ent1-e o governador e o italiano evolui u no sentido deste trabalho, importará ver as especificidades da sua relação com o tecido urbano e o
da admiração pelo trabalho do arquitecto e este tornou-se num inequívoco "protegido" de papel que cumprem na definição da imagem da cidade.
Mendonça Furtado. A "carreira" de Landi seguiu então um processo que passou de dese­ A primeira abordagem que admitem as intervenções de Landi em Belém remete
nhador, que tinha sido contratado, a "arquitecto régio". A singularidade de tal percu1-so e as para uma leitura destas em termos de "monumentalização" do espaço urbano, como já se
características do seu trabalho fizeram de Landi a personagem mais conhecida entre os adiantou noutro ponto. Retomando a conceituação de Argan 13'1 do monumento enquanto
membros da Expedição Demarcadora e o mais trabalhado em termos bibliográficos. alegoria do poder, e da "cidade-monumental" enquanto alegoria, ela própria, da cidade­
Embora seja um tema deveras interessante, não podemos estudar a biografia de -capital do Estado Moderno, revê-se o campo ideológico e conceptual do trabalho urbanís­
Landi <"l. A abordagem que se pretende fazer das suas intervenções na cidade de Belém tico de Landi. " De este modo la concepcion urbanística monumental esta estrechamente
exige, no entanto, que se faça referência a outras obras da sua autoria no Estado, ou fora ligada a la función, nuevamente alegórica, propria de la ciudad. Porque la misma capital,
dele, estabelecendo alguns parâmetros de comparação entre elas. Com este intu ito apre­ siendo representativa, es practicamente la alegoria de la totalidad dei Estado " 1371 _
sentamos aqui um pequeno resumo das suas actuações documentadas mais significativas. A actuação de Landi em Belém, trabalhando de forma monumental a quase totali­
Giuseppe Antonio landi é natural de Bolonha, nascido em 29 de Outubro de 1 7 1 3 . dade dos edifícios religiosos da cidade, provocou uma mudança da sua escala volumétrica e
Aluno de Fernando Gali Bibiena, Landi saiu de Bolonha em 1 753 para ir ao Pará, já como do seu perfl urbano. Só por este aspecto podemos, de certo modo, assumir a "monumen­
membro da Academia Clementina, eleito em 1 743. Em Itália deixava publicados dois traba­ talização" da cidade, em especial, no contexto da definição da sua imagem, como já suge­
lhos em que tinha sido o gravador <311. Chegado à Amazónia, o governador encomenda-lhe, rimos noutra altura. No entanto, a "cidade-monumental" que se projecta em Belém, não se
inicialmente, um levantamento naturalista da região, encarregando-o do desenho de plantas manifesta apenas enquanto somatório dos edifícios de Landi. Mas estes inserem-se na cidade
e animais. Depois, é-lhe dada a fazer a decoração interior da capela de Santa Anna, em criando relações monumentais com o tecido urbano.
Barcelos. Cogitando de o enviar como povoador pai-a Borba-a-Nova, Mendonça Furtado Observem-se, por exemplo, as igrejas do Carmo, das Mercês e da Sé. Em todas estas
encarrega-o da elaboração dos projectos da Casa de Câmara e Cadeia e Igreja da nova vila. igrejas o trabalho de Landi é parcial. O arqu itecto teve que lidar com obras já iniciadas, ou
Ainda no contexto da reforma urbana pede-lhe também desenhos para vários pelourinhos. parcialmente construídas. Em todas, a sua actuação a nível das fachadas é significativa.
Já durante a administração de Manuel Bernardo de Melo e Castro, em 1 759, faz os Na igreja do Carmo o primeiro piso é definido por cinco arcos de volta inteira, sepa­
projectos das igrejas-padrão a serem implantadas nas vilas do interior, elaborando desenhos rados individualmente por pilastras únicas entre os arcos centrais e pilastras geminadas entre
específicos para as matrizes de Gurupá, Cametá e lgarapé-Mirim, esta última modelo estes e os das extremidades. Os três arcos centrais abrem-se a uma vasta galilé, e os das
também das vilas da Vigia e de Vila Viçosa e base para todas as outras (figs. 24, 25 e 26) . extremidades são entaipados e dentro deles abrem-se janelas. No segundo piso, separado
Em 1 76 1 desenha um proJecto para a reforma da Vila de Chaves, no MaraJó. A partir daí a por uma cornija, as pi lastras continuam a marcação do alçado, e as janelas são inseridas entre
maioria dos seus trabalhos serão feitos em Belém. os tramas, valorizando a janela central, mais alta que as demais. Nova cornija separa os dois
Na capital a actuação de Landi ter-se-á iniciado com a obra da Alfândega ( 1 757-5 8) . pisos do frontão (em forma de um pentágono irregular com as linhas oblíquas ondulantes),
232
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

inserido entre as duas torres. Um óculo marca o centro do frontão e dois pequenos reló­
gios repetem a sua forma, nas torres. Estas, com aberturas em arcos nas quatro faces, rece­
bendo os sinos, são arrematadas com cúpulas onde, novamente, pequenos óculos marcam
as faces (fig. 68).
Todo o conjunto da fachada faz um investimento visual no seu corpo central. As
pilastras geminadas separam, nitidamente, desde o primeiro piso, o corpo central das torres
e este valoriza-se na sequência das suas aberturas: a galilé, a janela central e o óculo do
frontão. Estabelece-se um inequívoco jogo perspéctico, em que o tratamento das aberturas
da fachada funciona como foco absorvente da visão e da luminosidade vindas da rua, rece­
bendo-as, e filtrando-as, nas suas "cavidades". Note-se que a rua em questão é o eixo da
Rua do Norte, a geratriz do desenho urbano (fig. 69). A fachada do edifício assume com tal
eixo um compromisso de continuidade, deixando-se prepassar por ele. Coloca-se como
uma espécie de diafragma permeável que - a galilé, em especial - projecta a continução
da cidade por dentro da igreja ºª1 .
Enquanto a fachada do Carmo estabelece esta relação de absorção do espaço
urbano, a fachada das Mercês assume uma postura de reflexão do mesmo espaço. O que
num edifício era, virtualmente, uma superfície côncava, no outro é, literalmente, uma super­
fície convexa.
Também nas Mercês o corpo central da fachada se encontra valorizado. O mesmo
artifício das pilastras geminadas separa-o das torres. Mas desta feita as pilastras estabelecem
uma marcação mais evidente, colocando-se numa superfície separada tanto das torres
quanto do corpo central, anunciando a sua curvatura. Abolidas as cornijas do primeiro piso
a superfície do corpo central desenvolve-se sem interrupções, marcada apenas pelas aber­
turas das portadas e janelas. O eixo central da fachada é reforçado pela sequência de aber­ Fig. 68. Prospecto da frontaria da Igreja dos Carmelitas Calçados e Ordem Terceira. Desenho de Codina. "Viagem Filosófica", est 6.
turas (portal-janela-óculo) e pela forma do frontão, de empenas onduladas (fig. 70).
A fachada convexa da Igreja das Mercês estabelece uma relação impositiva da sua
forma sobre o conjunto urbano. As torres, dispostas num plano posterior ao corpo central,
projectam ainda mais para a frente o edifício. A sua relação com a cidade dá-se adentrando
no espaço urbano e oferecendo-se-lhe como um grande espelho reflector dela própria.
O convento dos Mercedários situava-se mesmo à beira da praia de Belém. A superfície
reflectora que a sua fachada propõe à cidade funciona como uma alegoria da água que a
espelha, ou como uma tela que a limita, e projecta-a sobre si própria. Aqui não há um eixo
perspéctico direccionado por uma rua, mas uma praça que se abre diante do edifício. A
praça permite que a curvatura da fachada usufrua da sua maleabilidade e dinamize o espaço
urbano (fig. 70).
Na Sé, onde o arquitecto apenas terá projectado o frontão e as torres, são eles que
assumem toda a dinâmica do edifício. As torres do Carmo e das Mercês mantêm entre si
alguma semelhança. Ambas possuem a mesma marcação dos relógios e o tratamento clás­
sico das torres sineiras. Na cobertura aparecem as diferenças no formato das cúpulas, mas
ambas têm as mesmas lanternas circulares. Nas torres da Sé a base compositiva é similar à
das outras duas, com o relógio e as janelas sineiras idênticas. A cobertura, no entanto,
235
"Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 69. Igrejas do Carmo . Sé, Mercês, S. João e Santana. Implantação Urbana.
Fig. 70. Igreja e Praça das Mercês. Desenho de Codina. "Viagem Filosófica", est 4.
23 6 237
As Cidades da Amazónia no Século XVIII " D a Amazónia e das Cidades"

desdobra-se numa progressão de formas muito mais elaboradas que as das outras duas
igrejas. Os frontões t1-iangulares utilizados nas Mercês mudam-se em curvos, a cú pula é
acrescida por um tambor e desdobrada num pequeno lanternim, rematado por sua vez por
outro lanternim ainda menor. O frontão entre as torres perde o seu carácter de coroa­
mento do edifício para assumir a forma de um prolongamento do eixo central da fachada,
onde é colocado um nicho. Ladeando tal nicho dois pináculos completam o complexo jogo
formal do frontispício da Sé (fig. 7 1 ).
O desenho das torres e frontão confronta-se com a estrutura sólida e estável do
corpo da fachada, forçando-a a um dinamismo que não tinha. Esta atitude remete para um
confronto ainda mais evidente entre a "nova" Sé, assim conformada, e a Igreja do Colégio
dos jesuítas, diante de si. Com seu belíssimo t1-abalho de relevos sobre as paredes, a fachada
de Sto. Alexand re define-se numa estrutura de "retábulo" diante da praça. Um altar fixo e
opaco, contraposto ao espaço urbano. A Sé opõe-se-lhe não como outra parede fixa, mas
como supe1iície permeável. O edifício valoriza o espaço urbano da praça colocando-se
numa relação dinâmica e cenográfica diante deste.
A opção de Landi nos edifícios que desenhou integralmente é um tanto diferente da
que tomou nestes em que a sua actuação foi parcial. Ali, o jogo com o espaço urbano fazia­
-se, essencialmente, através das fachadas. Na Igreja de Santana e na Capela de S. João o
edifício incorpora-se na relação urbana como um todo, enquanto volume e forma. A fachada
trabalha já não autonomamente, mas inserida no conJunto da forma arquitectónica.
Em ambos, um elemento assume o papel catalisador- do desenho dos edifícios, a :
cúpula. Em Santana esta projecta-se sobre o alçado e é valorizada por uma progressão de
formas, que conjuga o frontão curvo do portal, a janela paladiana do segundo piso, a própria
cú pula e o seu lanternim encimado por nova cúpula menor (figs. 72 e 73). Na capela de
S. João a cobertura octogonal não se deixa ver no alçado principal, escondida atrás de um
segundo piso e de um frontão. M as adivinha-se a sua forma centralizada porque o volu me
do quadrado que define a nave é diferenciado do resto da igreja (figs. 74 e 75).
A escolha da forma centralizada e da cobertura em cúpula não é jamais aleatória
dentro da estética barroca. A cúpula, enquanto forma, era portadora inequívoca de uma
significação alegórica que associava à sua beleza o seu valor enquanto obra de construção
elaborada e difícil, encarnando a essência formal da cobertura perfeita, como a "cúpula" do
céu sobre a terra. Figuras de atracção potencial dentro do espaço u rbano, as cúpulas esta­
belecem com este uma relação de convergência, que os projectos das igrejas de Landi
assumem e exploram.
Landi faz das suas igrejas de Santana e S. João edifícios que agem como um todo
Fig. 7 1 . Prospecto e frontaria da Igreja da Sé. Desenho de Codina. "Viagem Filosófica", est. 7.
encarnando a forma das cúpulas que têm nas suas cobertu ras. Inserem-se no tecido urbano,
estabelecendo áreas de gravitação em torno de si. No caso de S. João, uma gravitação física
do próprio espaço, pois o edifício ocupa uma posição de convergência de eixos dentro da
malha urbana e encontra-se solto (fig. 69). No caso de Santana a gravitação é mais de
ordem ideológica, pois esta foi projectada para igreja matriz da freguesia da Campina, além
de se ter também procurado situá-la em ponto valorizado do bairro.
238 239
A s Cidades d a Amazónia n o Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

Fig. 72. Frontaria da Igreja Matriz de Santana da Cidade Fig. 74. Frontaria da capela de S. João da cidade do Pará.
do Pará. Landi. "Viagem Filosófica", est. 9. Landi. "Viagem Filosófica", est. 1 6.
Fig. 73. Planta da lgr·eja Matriz de Santana. Landi. Fig. 75. Planta da capela de S. João. Landi. "Viagem
"Viagem Filosófica", est. 1 O. Filosófica", est. 1 7.
240
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

Nos dois projectos integrais de Landi, em Belém, nota-se que estes são bem mais
sóbrios, enquanto formas, que os de intervenção parcial. Tai situação permite estabelecer
comparações com os outros projectos de igrejas feitos para as vilas do interior do estado,
em que se observa também uma certa contenção formal nos alçados. Veja-se a singeleza da
matriz de Gurupá (fig. 24) ou a sobriedade da fachada da matriz de 5. Anna do lgarapé
Mirim (fig. 25). Na igreja proposta para a Vila de Camutá (fig. 26), o desenho, um tanto
híbrido na conjugação de elementos, é mais pretensioso em termos formais, mas não tem
a "monumentalidade" que qualquer um dos executados para a capital tinha.
A mesma dimensão monumental geriu também, obviamente, a concepção arquitec­
tónica do Palácio dos Governadores. O projecto que foi construído foi a segunda versão
feita pelo arquitecto. Em 1 759, após a inevitável demolição da antiga residência, Manuel
Bernardo de Melo e Castro refere a encomenda que fizera a Landi de "uma casa decente
e sem superfuidades para Residência de Governadores, o qual executou na forma que
V. Excia constará da sua planta que remeto" <39i _ Não se conhece a planta referida. Em 1 767,
Fernando da Costa de Ataíde Teive renovou a encomenda ao arquitecto, pedindo desta
feita que fosse executado como convinha a representação do governo de 5. Majestade na
Amazónia <40J.
Landi desenhou então várias pranchas, com plantas, cortes, alçados e detalhes das
esquadrias e portadas, além de pormenores da decoração da capela e outros desenhos
complementares. O conjunto foi enviado a Lisboa, com folha de rosto com dedicatória do
arquitecto ao rei l4 1 l (figs. 76 e 77) . O aparato da apresentação do álbum do projecto corres­
ponde a uma intenção similar de aparato da própria obra. O palácio impõe-se no tecido
urbano pelo seu conjunto, englobando o ediflcio e um jardim. A sua demarcação nas plantas
da cidade, a partir daí, fará sempre a identificação de tal bloco unitário.
A planta do ediflcio é um rectângulo de cerca de 250 x 270 palmos, com um pátio Fig. 76. Portada da colecção de desenhos de La�di do _ Palácio dos Governadores do Pará. "Debuxos pertencentes ao Palácio que
interior de 1 20 x 70 palmos. Possui dois andares e apenas no corpo central da fachada prin­ o lllmo e Exmo Snr Fernando da Costa de Ata1de Te1ve governador e Capitão General da cidade de Belém do Grão-Pará man­
cipal ergue-se um terceiro piso. As fachadas mostram uma simbiose de tratamentos, denun­ dou nella edificar por ordem de S. Mag. de 1 77 1 ". POMB, 740, fi. 1 .
Fig. 77. Arco d o Triunfo da col ecção_ d e desenhos _de Landi _ d o Paláôo dos _ Governadores do Pará. "losepho I Portugaliae regi magni
ciadas por Smith 142l, que se tornam reveladoras da extrema versatilidade do trabalho de _ _
Para restauraton beneficent1ss1mo v1rtute ag omnibus laud1bus predito qu1 summo populi gaudio loani V dignus patre lulius suges­
_ _
Landi (figs. 78 e 79). s1t anoa partu v1rg1nis 1 750 - Ent ilh glona eterna - Antonius Landi architectus stududica". POMB 740, fl. 2.
Na fachada principal vê-se um ediflcio "baseado num tipo de residência portuguesa
a dois andares, no qual o sótão se revela com janelas unicamente na parte central do
telhado ( . . . ) que parece ter a sua origem em casas venezianas ilustradas nos tratados de
Sebastiano Serlio, cuja influência em Portugal desde o século XVI, como na Espanha, foi
enorme" <43l_ A fachada posterior, voltada para o jardim, é, ainda segundo Smith, a parte mais
italiana do desenho total, com uma varanda "ideada em aplicação continua do chamado
motivo veneziano ou paladiano, (que) lembra o quinhentista Palácio do Té de julio Romano
em M ântua, ou a fachada principal do Palácio de Holkham, construído pelo paladiano inglês
Guilherme Kent, a partir de 1 736" 1441 _
Estas observações remetem para a relação do palácio com ambos os espaços
para que dão as suas fachadas. A frontaria principal projecta-se sobre a grande praça da
cidade. Num desenho de 1 75 1 esta praça apresenta a disposição da casa de residência
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

anterior (fig. 57). A implantação do palácio de Landi reordena a disposição do edifício, colo­
cando-o em paralelo com a parede do antigo colégio dos padres da Companhia, rectifi­
cando a forma irregular da praça e transformando-a em um rectângulo. Na mesma altura
deve ter recomendado também a limpeza do terreno diante do palácio, onde era provável
que ainda existisse alguma ruína da construção, nunca terminada, do palácio dos bispos e
seminário episcopal. A praça finalmente rectificada e ampla servia a indispensável perspec­
tiva do palácio e ordenava um espaço urbano de vital importância na definição da imagem
da cidade.
Um investimento similar - tanto em termos de programa como de projecto - fora
feito no Rio de Janeiro, com a sistematização do Largo de Carmo, por Alpoim. Ou a reforma
da praça de Vila Rica (Ouro Preto), pelo mesmo engenheiro. Em ambos os projectos
investiu-se na regularização de um espaço público, de crucial importância no tecido urbano,
propondo-o como centro cívico da cidade, tanto em termos funcionais, como em termos
da sua imagem. Nos dois casos terão sido consideradas também as razões impostas pelo
contexto de "capitais" que ambas as vilas representavam. O Rio, que de facto era o grande
centro urbano do Brasil e que, em 1 763, passou a ser de direito a sua capital, e Vila Rica, a
capital das Minas <45>_
Para completar o projecto da "praça do novo palácio", Landi propõe que se execute
uma estátua do rei D. José e que se a coloque no centro da praça. Por conta desta estátua,
que não chegou a ser executada, conhece-se uma já célebre troca de cartas entre Reinaldo
Manuel dos Santos e o arquitecto italiano, em que discutem as suas opiniões sobre o
pedestal <4'>.
A proposta de Landi para a construção da estátua do rei, em Belém, coincide com
a colocação a concurso da execução da estátua equestre de D. José, na Praça do Comércio,
em Lisboa. A troca de cartas com Reinaldo Manuel deu-se em 1 770, ano em que se
contrátou Machado de Castro para a execução da escultura enquanto o próprio Reinaldo
Manuel é encarregado do pedestal. É significativo ressaltar esta coincidência de datas e, de
algum modo, também de propósitos.
Fig. 78. Prospecto da frontaria exterior do Palácio da Residência dos Exmos.
Generais da Cidade e Capitania do Pará. (Landi) Desenho de
Nas palavras de José-Augusto França "a estátua de D. José, sendo a "última pedra"
J. J. Codina. "Viagem Filosófica", est 1 8. da Lisboa pombalina, é, além disso, o símbolo do Portugal pombalino" <47>_ O programa
Fig. 79. Prospecto posterior do mesmo Palácio (dos Governadores) para a simbólico da estátua do Grão-Pará não seria muito diferente deste. Na carta enviada pelos
parte do jardim (Landi). Desenho de J. J. Codina. "Viagem Filosófica",
est 1 9. oficiais da Câmara de Belém a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, submetendo à sua
aprovação o projecto de Landi, pedem que: " . . . no lado da frente do pedestal, V. Excia seja
servido mandar-lhe gravar uma lnscripção dedicatoria, relativa a proteção de Sua Magde
para este Estado, e ao agradecido testemunho, que nos della pretendemos dar ao mesmo
Sr., objecto desta erecção" <4'>.
A filiação tipológica da praça centralizada por uma estátua régia é clara. Diz respeito
à série de "praças reais", que por toda a Europa se construíram, nos séculos XVII e XVIII, e
que é outro dos baluartes do urbanismo monumental. A filiação ideológica do projecto da
praça do Grão-Pará é mais clara ainda. Apoiada na imagem recriada da grande capital do
Reino, a capital da província se lhe refere, repetindo o seu símbolo, refazendo a sua praça
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

real. Por mais de um motivo esta capital colonial julga-se em tal direito. Também nela seria
o comércio, a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão a lhe financiar o projecto da sua
praça real. Do mesmo modo ela fora o espaço privilegiado da intervenção do grande
ministro que na dita praça do Comércio se homenageara.
A exaltação pombalina a que a praça se propunha, e por extensão todos os
projectos de Landi para a cidade, confirmam-se no empenho de Francisco Xavier de
Mendonça Furtado a que, agradecidos, os oficiais da câmara respondiam. "Assim se confirma
de facto o que V. Excia nos expressa no último período da sua carta, dizendo-nos, que para
tudo o que acharmos, que for da utilidade, e augmento e felicidade não só desta cidade,
mas deste Estado, se empregará com maior zelo e boa vontade, com que V. Excia o fês em
todo o tempo que nella residiu." <49>_
Por motivos que provavelmente se ligam à morte de Mendonça Furtado a estátua
não chegou a ser executada. Mas o palácio ficou terminado em tempo bastante curto para
a época e para as condições de trabalho mais comuns na Amazónia. Em 1772 estava
concluído e foi já ocupado pelo governador que substituiu a Fernando da Costa de Ataíde
Teive, João Pereira Caldas ( 1772- 1 780).
A completar o trabalho de Landi, em Belém, deveria ter sido construído o palácio
projectado para os Armazéns e Casa da Administração da Companhia Geral de Comércio
do Grão-Pará e Maranhão (fig. 80). Feito em 1773, o projecto relacionava-se com o palácio
dos Governadores terminado no ano anterior. Ocuparia o espaço já destinado à
Companhia, desde 1 757, nas traseiras do antigo Colégio dos jesuítas <50>,
Outro edifício que provavelmente terá sido obra de Landi, embora nada se saiba da
sua forma, foi a casa da ópera. Estava situada ao lado dos jardins do palácio dos governa­
dores, e próxima à Igreja de S. João. Entre as poucas referências existentes sobre a ópera,
um comentário de Alexandre Rodrigues Ferreira indica-nos que foi construída já ao tempo
de João Pereira Caldas ( 1772- 1780). Dizia entretanto o naturalista que "raras vezes se abre
o Theatro porque não tem cómicos pagos para este fim; e os que nelle representão algumas
vezes, são curiozos que dedicam este objecto aos senhores generais. He um theatro de
muito bom fundo, ao menos, proporcionado a grandeza e cumprimento da casa, que he
sufficientemente asseada, e não deixa de ter suas vistas de algum gosto" <5 1 )_
A provável relação de Landi com a construção de tal teatro de ópera em Belém
remete para um trabalho do arquitecto, editado em Itália, de um álbum de desenhos ceno­
gráficos <52>. Aluno, considerado dilecto, de Fernando Gali Bibiena, é lícito supor que tais
desenhos fossem exercícios do discípulo na senda do mestre. Esta circunstância, que nos faz
relembrar a formação do arquitecto, adverte também para a caracterização do seu perfil e Fig. 80. Frontarias da Casa da Administração da Companhia Geral do Comércio. Landi. AHU,
cartografia manuscrita, Pará 8 1 2.
do seu trabalho. Filho do seu tempo e da sua escola, Landi era barroco. Barroco no seu
projecto de cidade-capital que propõe, e executa, em Belém, na encenação de poder que
impregna nos monumentos que faz construir; e barroco também na encenação festiva a que
se propõe nas "festas".
Dois relatos, pelo menos, associam Landi a festas barrocas que se realizaram na
Amazónia. Um deles é do próprio arquitecto e refere-se à Festa de Santana, feita em
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

Barcelos no ano de 1756. Diz Landi que a festa "si celebró com una magnificenza grandís­ afinal assumido pelo poder, o projecto proposto, em 1773, por Gronsfeld. O discurso do
sima, ( . . . ) La notte della vigillia vi fu una particulare alegreza, non solo per la vaga illumina­ sargento-mor engenheiro apoia-se nas mesmas razões e relembra que a cidade se tratava
cionne di tuta questa Villa, mà molto piu per quella che se vedeva per acqua, ma ancora da "capital de hum Estado tão dilatado" sugerindo que "seria útil fortifica-la e fecha-la, ao
nella selva oposta. La grande Giangada de quatro piramide nel mezo, e il torreone de mezo, menos com um recinto de muralha" 1571. Apresenta ao governador João Pereira Caldas duas
richi de molte centenari di lumi, che riflectevano nell'acqua, con assieme la grande canoua, versões do seu projecto, uma propondo cercá-la como um todo e outra amuralhando
che la governava com um concerto de sinfonie, diedero un piacere non ordinario . . . " 153i _ apenas a área do núcleo inicial:
O outro relato consta numa carta do governador do Pará dando conta da festa que - ProJecto o qual mostra como se podia fortificar somente a cidade e não inclu­
se fez em Belém, em 1760, para a comemora'ção do casamento da princesa do Brasil com indo a Campina Pello methodo mais simplex que pode admitir o terreno pantanoso nem
o infante D. Pedro. Descreve a decoração esmerada da catedral, a cidade iluminada todas menos he projectado o lago do Pi ry que utilidade se pode tirar delle; primeiro com suas três
as noites, as máscaras, jogos e disputas e conclui o relato dizendo: " .. . Em todas as noites anteportas as quais feitas de vigas, faz a cidade inatacabile, segundo tira a Câmara grande
seguintes houverão encamizados, fogos de artifício e luminárias com diferentes invenções de donativo para os bens do conselho de pesca, terceiro tem os moradores as suas canoas
arquitectura; mas como a alegria dos corações de todos estes leaes vassalos de V. Magde seguras nos seus portos para que não se desencaminhem. Projecto oferecido ao lllmo e
parece que se não chega a satisfazer cabalmente com estas provas de amor aos seus legí­ Exmo Sr João Pereira Caldas do Conselho de S. Magde, governador e Capitão General do
timos príncipes, e adorados senhores, ainda ficam os estrangeiros que vivem neste Estado Gram Para, Maranhão Piauhy e Rio Negro &. (figs. 81 e 82).
pai-a nos trazerem o seu particular júbilo, sendo José António Lande um dos mais empe­ - Planta da cidade de Selem do Gram Para fortificada pello methodo mais simplez
nhados na plazibilidade do seu festejo." 15'1. e de menor despeza que pode admitir a irregularidade da sua figura e inegualidade do seu
Mas ao Landi barroco, das festas e monumentos, há que se associar também o arqui­ terreno em parte pantanoso e em parte cheio de obstáculos e dificuldades principalmente
tecto das fachadas sóbrias e clássicas de Santana e S. João, o autor dos projectos depurados sobre a margem do rio: Projecto que oferece ao lllmo e Exmo Sr João Pereira Caldas do
do Hospital Real e dos Quartéis de Belém e da simbiose que significam as fachadas do Conselho de S. M. F. governador e Capitão General do Gram Para, Maranhão, Piauhy & . .
palácio dos governadores. Aqui cabe ver no italiano o seu papel enquanto precursor, no Engenheiro Gaspar João Geraldo de Gronsfeld (fig. 83).
espaço brasileiro, de uma certa estética neoclássica.
O "neoclassicismo" de Landi permitiu-lhe fazer uso de um vocabulário formal diver­ O plano que sugere a fortificação apenas da "Cidade" está orçado em três milhões
sificado. Por um lado, a amplitude e a maleabilidade do seu repertório iconográfico facul­ e o que prevê o amuralhamento da Cidade e da Campir,a custaria quatro milhões. Noutro
taram ao arquitecto uma adaptação surpreendente às formas tradicionais da arquitectura documento o engenheiro sugere "que a despeza se fizesse pelo publico obrigando os mora­
portuguesa, realizando obras que, em boa verdade, um "português" teria feito. Como dores a pagarem um tento por cada remo das suas canoas quer do comercio interior quer
exemplo, saliente-se o palácio dos governadores, e a observação das suas características dos transportes dos effeitos agronomicos, as quais teriam no lagamar estância segura e inde­
"portuguesas" feitas por Smith 1551. Por outro lado, a sua formação na Academia Clementina, pendente da guarda dos escravos ... " 1581. Defendendo esteticamente o seu projecto dirá
onde o neoclassicismo se introduzira pela via do neopaladianismo, proporcionou-lhe o também que com ele a cidade "ficará sendo mais bella que a Adriática Veneza tão cele­
sentido de depuração que lhe permitiu fazer, por exemplo, a igreja de Santana. brada" 15'1•
No entanto, é da base ideológica do neoclássico que o arquitecto mais. se serviu, De facto, a mais interessante proposição do projecto do engenheiro diz respeito à
transformando os seus edifícios em "objectos arquitectónicos" <561 destinados a cumprir a questão do "Piri". O Piri, como já vimos, era uma área baixa, pantanosa, que se transformava
função social que lhes cabia, de exaltação do trabalho político de investimento na cidade. num lago na estação das cheias, e no verão secava. O projecto de Gronsfeld assume-o
E aqui o neoclassicismo de Landi cede os seus méritos estéticos ao programa ideológico do enquanto lago permanente, criando comportas para regular a entrada e saída de água. Deste
"pombalino". modo, isola de todo a cidade numa ilha completamente murada e defendida por baluartes.
Assim, a ideia de cidade resultante da actuação do arquitecto régio, apesar da monu­ O engenheiro sugere o loteamento das margens do lago para instalação de casas e, defen­
mentalidade barroca dos seus edifícios, corresponde à lógica do urbanismo de Pombal, onde dendo a sua ideia, apregoa as vantagens de tal situação, alegando a segurança das canoas, etc.
a cidade submete a arquitectura às suas razões. Em Belém estas razões sabiam conciliar a A opção pelo isolamento da Cidade Velha evoca a referência primordial do desenho
apetência de uma imagem monumental para a cidade-capital do grande Estado com a lógica de Belém, fundado nesta ideia da ilha-fortaleza 1601. Conquanto tal ideia signifique uma abor­
pragmática de fazer construir os elementos necessários para que esta pudesse dar, no seu dagem "correcta", em termos da estrutura básica do desenho urbano, ela aparece já ultra­
conjunto, a leitura correcta dos investimentos do poder. passada no contexto que a cidade então vivia. O circuito fechado de muralhas proposto por
Veja-se, de certo modo como contraponto do projecto urbano de Landi, que foi Gronsfeld implicava num cerceamento do crescimento urbano, especialmente acentuado no
249
"Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 8 1 . Projecto o qual mostra como se podia fortificar somente a cidade não incluindo a Campina pelo methodo mais simplex que Fig. 82. Planta em que se mostra como se pode fortificar uma parte desta cidade do Grão-Pará pelo methodo mais simplex que pode
pode admitir o terreno pantanoso, nem menos he aproveitado o lago do Piri que utilidade se pode tirar dele . . projecto que se ofe­ admitir o terreno pantanoso fazendo permanente o lago do Piri por onde fica inatacavel este projecto offerecido ao lllmo e Exmo Sr
rece ao lllmo e Exmo Sr João Pereira Caldas. Gaspar João Gronsfeld major-. AHU, cartografia manuscrita, Pará 809. Mapoteca do João Pereira Caldas. pelo sargento-mor engenheiro Gaspar João Geraldo de Gronsfeld, 1 773. AHU, cartografia manuscrita, Pará 806.
ltamaraty, Ms. 77 1 .59 B.4 1 . Mapoteca do ltamaraty, Ms. 77 1 .59 B.4 1 .
25 1
"Da Amazónia e das Cidades"

projecto que envolvia a cidade e a Campina. Mesmo com a sugestão do loteamento das
casas à volta do lago, a proposta implicava numa descontinuidade da expansão da urbe.
Assim como a cidadela de José da Serra, o projecto de Gronsfeld também foi ultra­
passado pela própria cidade. No entanto, ali foi finalmente abordada de frente a questão do
'· Piri, que existia enquanto obstáculo natural ao seu crescimento. No decorrer dos anos
,,.,
,. seguintes o alagado será motivo de várias considerações por parte dos responsáveis pelas
decisões urbanísticas. E o problema da cidade, que até então se concentrara em torno da
s·ua imagem (no qual o papel de Landi fora fundamental), passará doravante a ser discutido
considerando a sua expansão e, novamente, a sua ordenação.

. ,.

Belém e os Engenheiros, a C i dade no Lim iar do Século XIX

O período de governo de João Pereira Caldas no Estado do Pará terminou em 1 780.


Em 1 777, morrera o rei e começara o processo da "desgraça" de Pombal. No mesmo ano
de 1 777, em I de Outubro, assinou-se um Tratado Preliminar com Espanha, prevendo
novas Demarcações de Limites na Amazónia, que começaram em 1 780. João Pereira Caldas
foi designado plenipotenciário desta nova partida demarcadora e governador do Mato
Grosso. O Governo do Estado do Grão-Pará e Maranhão foi assumido, em Março de 1 780,
por José Nápoles Telo de Meneses, que o administrou até Outubro de 1 783. Um novo
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tempo começava na administração da Amazónia, findando o período reformador e instau­
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,mr 1,;,,w rando-se um processo crítico, nos padrões da "viradeira".
No curto tempo da gestão de Telo de Meneses a cidade foi sacudida por uma crise
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política, provocada pelas disputas entre o governador e o juiz de fora, Justiniano Oliveira
Fig. 83. Planta da Cidade de Belém d o Grão-Pará fortificada pelo método mais simplez e de menor despeza que pode admitir a irre­ Peixoto. A resolução compulsória do conflito entre ambos ficou marcada no espaço urbano
gularidade da sua figura e a inegalidade de seu terreno em parte pantanoso e em parte cheio de obstáculos e dificuldades e principal­ com a construção de um largo, designado de " Largo da Memória", onde se fez erigir um
mente sobre a margem do rio. Projecto que se oferece ao !limo e Exmo Sr João Pereira Caldas . . . Sargento-mor Engenheiro Gaspar
João Geraldo de Gronsfeld. AHU, cartografia manuscrita, 808. obelisco comemorativo. Além deste marco, o governador terá providenciado também,
durante a sua administração, a feitura das obras do cais de S.'º António e intentou fazer uma
mãe d'água no Largo do Palácio, que resultou depois improficua.
Entretanto, João Pereira Caldas coordenava no rio Negro as Demarcações,
contando com um quadro renovado de engenheiros e técnicos. Entre eles: Teodósio
Constantino de Chermont tenente coronel de artilharia com exercício de engenheiro,
primeiro comissário da quarta partida: Eusébio António de Ribeiros, sargento-mor de
Infantaria com exercício de engenheiro; Henrique João Wilkens, capitão de Infantaria com
exercício de engenheiro, 2. comissário da quarta partida; Pedro Alexandrino Pinto de Sousa,
0

capitão de infantaria com exercício de engenheiro: Ricardo Franco de Almeida Serra, idem;
Joaquim José Ferreira, idem; Joseph Simões de Carvalho, astrónomo, assim como José
Joaquim Victorio e Francisco José de Lacerda e Almeida <" >.
Enquanto estes homens serviam nas Demarcações, chegou ao Pará, em 1 783, junta-
252 253
"Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

mente com o novo governador Martinho de Sousa Albuquerque ( 1 783- 1 790), o naturalista cidade, o governador provoca a reacção de alguns vizinhos, pois impede-lhes, com tal cons­
Alexandre Rodrigues Ferreira. A presença de Rodrigues Ferreira na Amazónia ( 1 783- 1 792) trução, a serventia de um poço que existia no terreno. A questão resolver-se-á a favor do
estabelece, com a sua "Viagem Filosófica", um dos parâmetros da mudança de métodos da proprietário do engenho, que não é impedido de o construir, e assim veda o acesso público
administração colonial. ao poço. Os argumentos dos vizinhos apontavam para a situação já instituída do local
Embora, como nota Wilson Martins 162l, a formação académica do naturalista tenha enquanto serventia pública, alegando inclusive a denominação por que era conhecido, como
sido feita na Universidade de Coimbra reformada por Pombal, este, na Amazónia, vai de "praça do poço do povo" (fig. 84).
algum modo contribuir para a negação do que tinha sido o projecto do reformador na O interesse deste caso reside no facto de que os argumentos apresentados pelo
região. O seu papel "científico", de pesquisador naturalista, é paralelo de uma faceta de governador asserveram que tal terreno em momento algum estivera destinado para ser
"inspector colonial" 163', a que rigorosamente cumpre, dando notícias das suas observações praça, nas determinações que havia sobre o desenho da cidade. Eram lotes que tinham sido
sobre os mais variados campos. Assume aí uma postura crítica quanto aos resultados da já demarcados e tinham proprietários legítimos, que os venderam legalmente ao novo
Reforma, em especial da questão indígena e do directório, de que voltaremos a falar nas proprietário. Este tinha direito de construir, e nada indicava que o terreno devesse ficar
conclusões deste trabalho. devoluto. A lógica deste raciocínio denuncia, uma vez mais, o entendimento do traçado
Alexandre Rodrigues Ferreira ficou sediado em Belém, entre o ano da sua chegada, urbano enquanto valor modal, que fica expresso na frase do ouvidor: "Aquele lugar não tem
1 783, e a sua partida para o rio Negro, em 1 784. Sobre a cidade, escreverá um texto que comodidade algua para praça, em rezão de ser um canto de rua que vai seguindo o pres­
ele próprio intitula e descreve como uma "Miscellanea Historica para servir de explicação pecto da arrumação e formozura da cidade" 166>.
ao prospecto da cidade do Pará ( . . . ) complexo de observações gerais sobre diversos A questão da água voltará à baila durante a administração de D. Francisco de Sousa
objectos, (. . . ), que devem algum dia, depois de serem dirigidas differentemente, fazer parte Coutinho, governador do Estado entre 1 790 e 1 803. Regressado da Comissão Demarcadora,
da História Natural e Civil deste Estado." As observações referem-se tanto às edificações e o engenheiro Teodósio Constantino de Chermont faz, em 1 79 1 , uma planta da cidade de
ruas, como ao clima, às gentes, às produções da terra e à água 16''· Belém. Existem duas versões desta planta, ambas intituladas "Plano Geral da Cidade do Pará
No que diz 1-espeito à água, o naturalista aborda o que eram dois aspectos cruciais em 1 79 1 " (figs. 85 e 86). Em ambas vêm indicadas todas as "cacimbas do pao d'agoa" e a
da cidade, o abastecimento público e as questões de ordem sanitária, em função das águas "madre d'agoa suposta", ou seja, os poços utilizados pela população e o local onde se
estagnadas. Refere-se à frustrada "Mãe d'água", que Telo de Meneses mandara fazer, e pretendeu construir o reservatório principal.
descreve, com pormenor, a situação dos poços públicos que a população utilizava. Em torno M as o principal problema, que o plano de Teodósio Constantino volta a colocar, é
do problema do abastecimento de água em Belém vão girar as principais questões urbanas novamente o Piri, inserido no mesmo contexto das preocupações de ordem sanitária e de
da administração de Martinho de Sousa Albuquerque. Uma figura sobressai neste contexto, abastecimento de água da cidade. Projecta-se a construção de valas de escoamento das
a do engenheiro João Vasco Manuel de Braum, responsável pela maioria das acções e águas do pântano (fig. 87) que aparecem, numa das versões da planta do engenheiro, em
projectos e autor de um relatório sobre o assunto apresentado à Rainha, em 1 786 '65>. ruas projectadas sobre a área do alagado, sugerindo que estas se fizessem sobre as valas
A questão da construção de fontes na cidade fora, segundo a memória de Braum, (fig. 86).
matéria de preocupação de todos os engenheiros que o precederam, inclusive os membros A consecução de tal projecto só se fará no século XIX, com a secagem total do
da comissão demarcadora de 1 753. Achava-se que era questão insolúvel, devido às baixís­ pântano e o seu arruamento (figs. 88 e 89). Mas a planta de Constantino é já um primeiro
simas cotas altimétricas da cidade e à inexistência de qualquer manancial mais alto que passo dado neste sentido. Note-se que o tratamento "correctivo" a que é submetido o Piri
pudesse ser canalizado e conduzido. A despeito das dificuldades, encontrou-se um sítio, é o mesmo que também é dado aos caminhos irregulares existentes nos arredores da
designado de "pau / d'água", em que se poderia aproveitar e represar a água para uso público. cidade. O plano do engenheiro "passa" sobre eles, prevendo a sua rectificação para serem
Uma série de questões políticas, advindas ainda da administração de Telo de Meneses, inseridos no desenho urbano. As ruas já existentes são as orientadoras da continuidade do
fizeram com que os correctos trabalhos de represamento e canalização da água do dito "pau/ desenho urbano. A cidade impõe as normas do seu traçado ao território da sua expansão.
d'água" fossem adiados. A opção tomada por Martinho de Sousa Albuquerque foi a de adiá­ Outro passo que também é dado no mesmo sentido da conquista da zona alagada
-la ainda mais, e esperar pela chegada dos engenheiros da nova comissão demarcadora para é feito com a criação do Horto Público, fundado em 1 798. Foi instalado nos terrenos que
que, em conselho com João Vasco Manuel de Braum, resolvessem a situação. pertenceram ao antigo Convento de S. José, na outra margem do Piri '67>. Vindo em direcção
Em 1 787, um caso apresentado ao Conselho Ultramarino serve de exemplo da contrária, a ordenação do território aproximava-se da cidade.
anacrónica situação do abastecimento das águas em Belém. Ao dar a licença para a cons­ De todos os modos a observação mais pertinente adverte que se trata, afinal, de
trução de um pequeno engenho, em terreno situado nas proximidades dos quartéis da uma operação de ordenação do "território urbano". O sistema dos engenheiros retoma o
255
"Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 85. Plano geral da Cidade do Pará em 1 79 1 . Tirado por ordem do lllmo e Exmo Sr Dr.
Fig. 84. Planta da Praça do Poço do Povo ( 1 787). AHU, cartografia manuscrita, Pará s/n.
Francisco de Sousa Coutinho, governador e capitão-general do Estado do Grão-Pará e Rio
Negro. Levantado pelo tenente-coronel de Artilharia com exercício de engenheiro
Theodosio Constantino de Chermont (original). "Viagem Filosófica", est 02.
256 257
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

1-:\. l'I .IC \ C. \O. controlo da cidade e repete, na urbe, a atitude que lhe tinha sido requi sitada no território.
Faz-lhe o levantamento, o desenho e a demarcação. No mesmo processo inserem os novos
conhecimentos que a técnica da sua profissão adqui 1·ira e ampliam o seu campo de acção,
aplicando as novidades da hidráulica ou as curiosidades de alguns aparelhos mecânicos.
Neste contexto saliente-se a postura de João Vasco Manuel de Braum, quando cita "os
hidráulicos" t6ª1 no seu projecto para o abastecimento de água à cidade, ou quando inventa
um aparelho para retirar caixas dos navios <691 _
O sistema dos engenheiros absorve também as preocupações higienistas que o
findar do século traz. Junto com elas a visão de uma sociedade que se funda em critérios
pseudo naturalistas, determinadores de hierarquias entre os povos, a partir dos seus hábitos
culturais. Neste sentido o trabalho de Alexandre Rodrigues Ferreira conjuga-se na mesma
óptica do dos engenheiros demarcadores. Uns observavam o espaço e descreviam-no em
plantas, o outro observava as gentes, e também o espaço (no contexto das suas produções
e características naturais) e descrevia-o em texto.
Entregue outra vez aos "funcionários do urbanismo", o crescimento de Belém
seguirá os padrões já firmados pela escola. No século XIX vai aumentar consideravelmente,
quase triplicando a sua extensão. Na segunda metade de Oitocentos e na passagem para o
século XX, o "boom" económico proporcionado pela exploração da borracha vai outra vez
influir no crescimento urbano. Em toda a sequência da expansão da cidade, em nenhum
momento se perdem os vínculos formais do seu desenho. Também em Macapá o cresci­
mento urbano se dá em perfeita continuidade com a matriz geradora do século XVIII. Em
Mazagão a histó1·ia tem outro final.

Fig. 86. Plano geral da Cidade do Pará em 1 79 1 . Tirado por ordem do lllmo e Exmo Sr Dr. Francisco de Sousa
Coutinho, governador e capitão-general do Estado do Grão-Pará e Rio Negro. Levantado pelo tenente-coro­
nel de Artilharia com exercício de engenheiro Theodósio Constantino de Chermont (cópia). AHE.RJ M 1 3 PA
1 55.
258 259
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

Fig. 87. Planta do pântano Chamado Piri. João R. Nogueira. AHE.RJ MS.G 1 . 02 1 .C I O. Fig. 88. Carta topográfica da cidade do Pará extraída pelo engenheiro Hugo de Fournier, encanregado do arqui­
vo provincial desde 1 2 de N ovembro de 1 823. AHE.RJ MS.G 1 .002.C I O.
Notas

( 1 ) V. Parte li, cap. 1, p. 84. ( 1 7) Citado em Augusto Meira Filho, Evolução


(2) Os Franciscanos da Província da Piedade tinham, Histórico de Belém do Grão-Porá, Belém, 1 976, vol. 2,
pelo menos desde 1 706, uma ermida em Belém, de p. 534.
invocação de S. José, que lhes tinha sido deixada em ( 1 8) AHU, Pará Caixa 727A (6A) / 9 de Abril de
herança pelo capitão-mor Hilário de Sousa. Um 1 732. Carta régia (cópia) sobre a construção da
termo de composição assinado neste ano, entre nova alfândega.
estes religiosos e os do convento de 5." António, ( 1 9) AHU Pará maço 1 774 / 1 2 de Setembro de
exigia que os da Piedade não construissem 1 753. Carta do provedor da Fazenda Real ao
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convento ou hospital naquele local (AHU, caixa Conselho.
,1,. . 11....., 729 (3). 1 706). O Hospício, feito por volta de 1 749, (20) AHU, Pará Caixa 739F ( 1 8) / 3 de Novembro
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.1. .t ,,,.,, foi construido em local distinto daquela ermida. A de 1 756. Carta de Manuel Ferreira Leonardo ao
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planta de Gronsfeld de 1 76 1 (fig. 60) identifica sepa­ Conselho.
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J', ,.... u radamente um "São José Velho" e um "São José (2 1 ) APP códice 889 11. 33 / Carta régia de 1 5 de
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Novo". Julho de 1 758.
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(3) AHU, Pará Caixa 73 1 A (4A) / 5 de Outubro de (22) AHU documentação anexa à cartografia ma­
11 . /.,4, 1 724. Carta de José da Silva Távora ao Conselho. nuscrita, Pará 800 / Planta do Armazém de Armas /
/,1 . ,J.,t
IJ r.... , ..4.1. Y. A.d..., (4) AHU, Pará Caixa 732 / 1 4 de Agosto de 1 734.
ll : J.,,. K,.,.,';' , �.. 1 8 de Junho de 1 76 1 .
Carta de José da Serra ao Conselho Ultramarino.
" �·:z:. . . ..,Jz--·-1", ; (23) AHU cartografia manuscrita, Pará 8 1 5. Ver fig.
(5) AHU, Pará Caixa 730A (5A) / 26 de Setembro 51.
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. de 1 728. Carta do bispo do Pará ao Conselho (24) Sobre tal posicionamento ver José Manuel
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Ultramarino. Fernandes, "O Lugar da Cidade Portuguesa", separata
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(6) AHU, Pará Caixa 739A ( 1 2) / 27 de Fevereiro de
1 745. Carta de João de Abreu e Castelo Branco ao
da Revista Povos e Culturas n.º 2 A Cidade em
Portugal: Onde se vive, Centro de Estudos dos Povos e
-. 4....._ ,_,yt. ,e,...... ,

�; . .t,._ Conselho Ultramarino.


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, . Culturas de Expressão Portuguesa, Lisboa, 1 987.

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(7) AHU, Pará Caixa 739A ( 1 2) / 2 1 de Maio de (25) POMB 1 39, Conquista Recuperada . . . , 11. 5V.
J 1 r_,•. .,. ---'-- 1 746. Carta do governador João de Abreu e Castelo (26) "Diário da viagem que fez o lllmo e Exmo. Sr.
r
�� � Branco ao Conselho em resposta à consulta do rei Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governador
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sobre as obras do palácio episcopal. e capitão-general do Estado do Maranhão o fez para
(8) AHU, Pará Caixa 73 1 (4) / 20 de Junho de 1 720. o Rio Negro à Expedição das Demarcações dos
Carta dos oficiais da Câmara do Pará ao Conselho. Reais Domínios de Sua Majestade", publicado em
(9) AHU, Pará Caixa 73 8 ( 1 1 ) / 2 de Dezembro de Marcus Carneiro de Mendonça, Amazónia
Fig. 89. Plano do Pará. Cópia a lápis de cor. Baseado no desenho de Fournier. GEAEM 4573 1 / 1 A- 1 0A-53. 1 744. Carta dos oficiais da Câmara do Pará agrade­ Pombalina . . . , pp. 6 1 5-63 1 (p. 6 1 5).
cendo ao rei a cessão da aldeia de índios para as (27) AHU, Pará Caixa I doe. n.º 45 ( 1 644).
obras. (28) António Carreira, As Companhias Pombalinas do
( 1 O) AHU, Pará Caixa 727A ( 6A) / 3 de Outubro de Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e Paraíba,
1 732. Carta de José da Serra ao Conselho. Editorial Presença, Lisboa, 1 983, p. 52.
( 1 1 ) Idem, ibidem. (29) AHU, cartografia manuscrita, Pará 799. Ver fig.
( 1 2) AHU, Pará Caixa 825 / 1 O de Maio de 1 737. 56.
Treslados de Provisões e cartas régias. Provisão (30) V. Parte 11, cap. li, p. 1 09.
sobre se ordenar que se faça logo a obra da cadeia. (3 1) V. Manuel Barata, Fastos Paraenses, as primeiras
( 1 3) AHU, Pará Caixa 739B (9) / 29 de Setembro ruas de Belém, in Revista do IHGB, tomo LXXVII,
de 1 738. Carta de João de Abreu e Castelo Branco Parte 1, Rio de Janeiro, 1 9 1 5, pp. 1 1 1 - 1 29.
ao Conselho (capilha I O de Maio de 1 737). (32) Encontrou-se uma única referência a um
( 1 4) AHU, Pará Caixa 739A ( 1 2) / 1 2 de Novembro desenho de Belém do inicio do século XVIII, feito
de 1 744. Carta de João de Abreu e Castelo Branco por José Velho de Azevedo, que é citado numa
ao Conselho (capilha 27/2/ 1 745). carta (AHU Pará Caixa 730A (5A) / 30 de Agosto
( 1 5) AHU, Pará Caixa 729 / 15 de Julho de 1 700. de 1 727. Carta de João da Maya Gama ao
Carta do visitador do bispado do Maranhão, Conselho), mas o desenho em si não foi encon­
Francisco Tavares de Macedo ao Conselho ( capilha trado.
30 de Janeiro de 1 703). (33) V. p. 253 deste capitulo.
( 1 6) AHU, Pará Caixa 729 / 27 de Agosto de 1 702. (34) Os dados e a documentação que recolhemos
Carta do governador D. Manuel Rolim de Moura ao sobre este arquitecto estão listados, juntamente com
Conselho (capilha 30 de Janeiro de 1 703). os outros membros da Expedição Demarcadora, no
262 263
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

Inventário dos Engenheiros e Vilas, no final deste nistiche per la nuova capitale dei viceregno dei Documentação anexa, 1 O de Dezembro de 1 773.
volume. Brasile sono gia estate fatte. Anche se - coerente­ (59) Idem.
(35) Leandro Tocantins identificou na Bibl ioteca mente con il consueto pragmatismo portoghese - (60) V. Parte 1 1 , cap. 1, p. 8 1 .
Comunalle dell 'Arch igimnasio de Bologna dois esse non verrano in nessuno momento presentati (6 1 ) Ver mais dados sobre alguns destes enge­
álbuns assinados por Landi: u m designado por come tai dai loro ideatori e esecutori, ma sempre nheiros no Inventário, no final deste volume.
" Racolti di alcune Faciate di Palazzi e Cortili de piu ( . . . ) come soluzione de singole problemi pratici (62) Wilson Martins, Um Agente Secreto da Coroa
riguardevoli d i Bologna", composto de trinta ( . . . ). Realizato soltanto in parte, e con modificacione Portuguesa na Amazónia: Alexandre Rodrigues Ferreira
estampas e mais uma no frontispício, e outro álbum sostanzialli per quanto riguarda il programma archi­ ( 1 756- 1 8 1 5), in "Bu letin d'Études Portuguaises et
dedicado a um académico bolonhês, com 1 4 tettonico ( . . . ) il piano de Gomes Freire e dei Brésiliens", n.º 46.47, Ed Recherches sur les
estampas d e Landi e trinta e sete reproduzidas de , Brigadeiro Alpoim orientó in maniera decisiva il Civilisations, Paris, 1 987, pp. 1 7 1 - 1 83 .
trabalhos de outros desenhadores. V. Leandro sucessivo aviluppo urbano, pur senza condicionaria
(63) Idem, ibidem.
Tocantins, Landi, um Italiano Luso-topicalizado, sepa­ rigidamente". Giovanna Rosso dei Brenna, La Città
(64) I n cluído na Miscelânea de Observações
rata de "Estudos Políticos e Sociais", va i . VII, n.º 3, colonia/e portoghese. Rio de janeiro tra il XVI e il
Filosóficas . . . Ver nota 5 1 .
Instituto Superior de Ciências Sociais e Política XVIII secolo, in "Estudios sobre Urbanismo Ibero­
U ltramarina, Lisboa, 1 969, pp. 685-702. -Americano". Siglas XVI ai XVI I I , Junta de Andalucia, (65) AHU, Pará Caixa 802 (87) / 1 1 de julho de
Consejeria de Cultura, Asesoria Quinto Centenario, 1 796. Relatório de João Vasco Manuel de Braum.
(36) Cf. Giulio Cario Argan, E/ concepto de Espacio
desde e/ Barroco a nuestros dias, Nueva Vision, Sevilha, 1 9 88, pp. 448-462, p. 459. (66) AHU, Pará maço 1 5. ( 1 787).
Buenos Aires, 1 9 84, pp. 55-65. (46) AHU, Caixa 744 (30) / 21 de junho de 1 769 e (67) AHU, Pará Caixa 8 1 2 ( 1 798). Catálogo das
(37) Idem, ibidem, p. 60. 1 O de janeiro de 1 770. Cartas dos oficiais da câmara plantas do Horto.
(38) V. também a conceptualização de Argan das de Belém, a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, (68) AHU, Pará Caixa 802 (87) / 1 1 de julho de
fachadas barrocas, enquanto "organismo sensível ao remetendo as recomendações de Landi para o 1 796. Relatório de João Vasco Manuel de Braum.
exterior". Giulio Cario Argan, op. cit., p. 73. "Es decir pedestal da estátua de D. José, em anexo cópia da (69) AHU, cartografia manuscrita, Pará. Documen­
no se tiende más a imponer ai espacio exterior la carta de Reinaldo Manuel dos Santos sobre o tação Anexa / 1 6 de janeiro de 1 787.
plasticidad dada por las fomna arqu itectonicas ai mesmo assunto e resposta de Landi. Documentação
espacio interior, sino más bien a hacer de la fachada em parte publicada por Sousa Viterbo, Dicionário dos
un organismo sensible ai espacio exterior, um orga­ Arquitectos . . . , vai. l i , p. 54.
nismo que reacciona dejando mas ou menos pasar, (47) José-Augusto França, Lisboa Pombalina e o
dejando filtrar la espacialidad luminosa y atmosferica Iluminismo, Bertrand Editora, 3.' Edição, 1 987, p. 2 1 9.
dei exterior hacia el interior". (48) AHU, Pará Caixa 744 (30) / 2 1 de Junho de
(39) AHU, Pará Caixa 739G (20) / 28 de Maio de 1 769. Carta dos oficiais da Câmara de Belém a
1 759. Carta de Manuel Bernardo de Melo e Castro Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
ao Conselho. (49) AHU, Pará Caixa 744 (30) / 1 O de Janeiro de
(40) Antonio Ladislau Monteiro Baena, Ensaio 1 770. Carta dos oficiais da Câmara de Belém a
Corografico sobre a Província do Pará, Belém, 1 939, Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
p. 248. (50) V. p. 204 deste capítulo.
(4 1 ) POMB 740. "Debuxas pertencentes ao pallacio (5 1 ) Alexandre Rodrigues Ferreira, Miscelânea de
que o lllmo. e Exmo. Sr. Fernando da Costa de Observações Filosóficas no Estado do Grão-Pará (ano
Ataíde Teive governador e Capitam General da
de 1 784), n.º 57 Cat. Alexandre Rodrigues Ferreira
Cidade de Belém do Grão-Pará, mandou nella
BNRJ, citado por Augusto Meira Filho, op. cit., p. 722.
edificar por ordem de S. Magestade, 1 77 1 . Antonio
(52) V. nota 35.
jose Landi, Bolonhês, architec, fecit."
(53) António José Landi, Relacione dei principio che
( 4 2) Robert Smith, Antonio José Landi, Arquitecto
Italiano do século XVIII no Brasil, sep. das Actas do I l i ebe la capela de Santa Anna con li sucessi accaduti
Colóquio Internacional d e Estudos Luso-Brasi leiros,
fino ai presente I O Settembre, 1 786, in Revista do
I H GB, tomo 49, Parte 1 , Rio de janeiro, 1 886, pp.
Lisboa, 1 957, vai. li, Lisboa, 1 960, pp. 20-29.
1 3 9- 1 43 .
(43) Idem, p. 28.
(54) BNL Reservados Cod. 1 1 4 1 5 fis. 1 24- 1 28. 6 de
(44) Idem, ibidem.
Novembro de 1 760.
(45) Sobre tais empenhos veja-se a opinião de
(55) V. p. 240 deste capítu lo.
Giovanna Rosso dei Brenna que, referi ndo-se ao Rio
de janeiro, faz análises que também cabem para (56) Cf. Giulio Cario Argan, op. cit., p. 1 5 1 .
Belém. "Quando nel 1 763 si realizza il trasferimento (57) AHU, Pará Caixa 749 (34) / 1 8 de Maio de
della capitale da Salvador da Bahia a Rio de janeiro, 1 773. Relatório de Gronsfeld e Sambucetti sobre o
rendendo ufficiale un primatto che la città deteneva estado das fortificações do Pará.
da qualque decennio, le piu importante scelte urba- (58) AHU, cartografia manuscrita, Pará 806, 808-9.
V
Mazagão, a Memória das Conquistas

Mazagão, da África à Amazónia

Mazagão é, possivelmente, o nome mais evocativo entre as conquistas portuguesas


do Norte de África. Refere-se à praça por mais tempo guardada, a melhor fortificada, e com
uma história repleta de heróicos acontecimentos. Embora, por mais de uma vez, se tivesse
cogitado abandoná-la nas circunstâncias mais difíceis, esta permaneceu sob o domínio portu­
guês d�sde 15 14 até 1769. Neste ano, a hostilidade crescente das tribos à volta da forta­
leza e os ataques do sultão Sidi Mohamed ben Abdallah ( '> forçaram a evacuação.
Por carta de 1 6_ de Março de 1769, o governador do Grão-Pará, Fernando da Costa
de Ataíde e Teive, foi informado por Francisco Xavier de Mendonça Furtado da decisão
_régia de abandonar a praça marroquina e de transferir os seus moradores para o Pará. Alega
Mendonça Furtado que a Coroa pensava já há mais tempo realizar a retirada, que o cerco
do sultão marroquino veio apenas apressar.

"Havendo S. Magestade ha muitos anos conhecido o quanto inutil era sustentar a


praça de Mazagão, e a grande despeza, que era obrigado a fazer para a sustentar, e não se
seguindo fructo algum ao christianismo; porque era impossível o propagar-se por aquella
porta, pelo ódio irreconciliável que aqueles bábaros conservávão aos moradores da mesma
praça, por cuja causa também não podia fazer progresso algum o comércio, e em conse­
quência _acharem-se aqueles miseráveis moradores condenados a uma perpétua penúria,
sendo-lhes necessário até para terem uma pouca de lenha arriscarem as vidas, como todos
os dias estava sucedendo."
"E tendo S. Magestade na sua Real consideração todos estes objectos tinha resoluto
que se largasse a dita praça aos mouros debaixo de certa negociação em que se trabalhava."
"A ella se antecipou o Imperador do Marrocos, fazendo-lhe um sitio formal com um
exército de setenta mil combatentes, e todos os instrumentos de expugnação que neces­
sita em semelhantes ocasiões" t2>.

Na sequência da mesma carta, Mendonça Furtado narra a Ataíde T eive o transporte


efectuado dos habitantes da praça abandonada a Lisboa, e fala da transferência que destas
famílias se faria para a Amazónia. O governador adverte para que esteja preparado para
receber entre duas mil e duas mil e duzentas pessoas. Diz mais que:
266 267
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

"Com estas famílias ordena EI Rei Nosso Senhor, que se estabeleça uma nova 1 2 de Janeiro, enviada ainda a Mendonça Furtado, entretanto já falecido, relata assim a
Povoação na Costa septentrional das Amazonas, para se darem as mãos com o Macapá, e chegada dos mazaganistas:
com Vila Vistoza."
"Entre os Rios que vem por aquelas partes buscar as Amazonas lembra o Mutuacá, "A gente de Mazagão que S. Magestade foi servido enviar para este Estado, tem feito
o qual tendo campo capazes de gado e criações, parece o mais próprio, mas sempre será esta cidade assazmente populosa de sorte que não pode ter inveja as desse Reino. Elles
necessário que V. S.' mande explorar por pessoas capazes, que possam bem conhecer a estão summamente satizfeitos, achando aqui as mais prontas providências que a eficaz vigi ­
terra, se é capaz de creações e de produzir fructos para que os nossos moradores vivão em lância de meu Amo, o lllmo e Exmo. Sr Fernando da Costa de Ataíde T eive soube preme­
abundância, para se tirarem para sempre da miséria, em que nascerão, e se crearão." ditar. Parece que neste estabelecimento a Providência Divina teve uma grande parte porque
"Se porém se não acharem estas qualidades nas margens daquelle Rio, os explora­ chegou a mesma gente em ocasião que esta cidade se achava socorrida com seis sumacas
dores que V. S.' mandar, àquella diligencia, poderão escolher outro qualquer dos que desa­ carregadas de carne seca e a provedora da Fazenda Real superabundantemente cheia de
guão nas ditas Amazonas por aquella margem septentrional, que mais a propósito lhe farinhas e peixe; de sorte que os mazaganistas estão gostozamente agradados da boa vida
parecer para este utilíssimo estabelecimento; contemplando porém a pu reza dos ares; por que levão e da fartura que experimentão . . . " <•J _
que a caridade, e as positivas ordens de S._ Magestade recommendão a saúde destas mise­
ráveis gentes" 13 1_ A versão dos próprios mazaganistas desta sua recepção não terá sido tão optimista <7H
No dia seguinte, o inquisidor Geraldo José de Abranches escreveu ao Reino, dando conta, por
A carta termina indicando para breve o transporte das famílias (fala em 1 5 d ias). sua vez, da instituição de vigário para a "freguesia de Nossa Senhora da Assunção, com o
Exorta, uma vez mais, o governador a tomar as providências necessárias e avisa que seriam mesmo título de Mazagão" <01. Ao mesmo tempo, também designava a igreja de Santo
enviadas, juntamente com os povoadores, as ferramentas e munições que lhes deviam ser Alexandre para que os colonos recebessem o seu pasto espiritual enquanto permanecessem
dadas e o dinheiro para os pagamentos. na cidade de Belém. Estes ficaram na capital até pelo menos 1 77 1 , quando começaram a ser
A partida dos mazaganistas para a Amazónia acabou, entretanto, por esperar. Desde transportadas as primeiras levas de colonos para o sítio escolhido da povoação, no rio
o final de Março, quando estes chegaram a Lisboa, até ao final de Setembro, quando foram Mutuacá.
embarcados para o Pará. Durante este tempo, os retornados da praça africana foram O local da nova vila fora sugerido, como vimos, pelo próprio Francisco Xavie1· de
mantidos em Lisboa. Os fidalgos nas mercearias de D. Catarina e de D . Luís, em Belém, e Mendonça Fu rtado, na carta que enviara a Ataíde Teive. O governador, entretanto, seguindo
os plebeus recolhidos nos baixos do Convento dos Jerónimos e, algum tempo depois da também as recomendações do i rmão de Pombal, mandara o ajudante engenheiro
chegada, transferidos para o "Palácio da Quinta Velha", também em Belém. As condições Domingos Sambucetti examinar o sítio mais cómodo para o estabelecimento da vila. Desta
de saúde da maioria não eram as melhores. Vários foram os que tiveram de ser recolhidos diligência o engenheiro deu conta ao governador, escolhendo o "terreno místico ao lugar
nos hospitais, e mais de 300 ali morreram. de Santa Ana do Rio M utuacá", do qual fez a planta, desenhando a nova vila sobre o
Das d uas mil pessoas que Mendonça Furtado referira na sua carta ao governador do povoado já existente (fig. 90).
Pará, apenas passariam para aquele Estado 1 022, compondo 340 famílias. Muitos foram os Esta povoação de Santa Ana tivera origem num conturbado descimento de índios
mazaganistas que conseguiram evitar o seu embarque, além dos que estavam gravemente feito por Francisco Portilho. Portilho, que é citado como "apóstata" no discurso de José
doentes e dos que já haviam morrido em Lisboa. A resistência à viagem instalou-se conjun­ Gonçalves da Fonseca <•J, era um dos muitos "capitães" que faziam resgates e comércio de
tamente com requerimentos à Coroa devido ao facto de que, com a extinção da praça, indígenas. Em 1 753 resgatara 500 e os "descera" para Macapá. Proibido, por Mendonça
terem sido suspensos todos os pagamentos de tenças e ordenados aos seus "filhos da Furtado, de concretizar negócio com os d itos índios, Portilho aceita formar uma povoação,
folha" <41 _ Um alvará régio de Agosto de 1 770 irá, em parte, rever a situação dos mazaga­ que se instalou inicialmente na Ilha de Santana, próximo a Macapá. O próprio Mendonça
n istas neste aspecto. A posição do Governo pombalino foi, no entanto, a de forçar a Furtado participa da criação _do povoado, feita em 1 754. Deste primeiro sítio, que se terá
imigração de todos e impedir ao máximo que ficassem em Lisboa. revelado pouco saudável, mudou-se a povoação para as margens do rio Anarapecu, em
A expedição partiu, finalmente, em 1 5 de Setembro de 1 769. Na Relação que se fez 1 756. A localização no rio Mutuacá era a terceira, da mesma povoação, feita já em 1 769, no
das pessoas que partiram ficou anotado o nome das que deixaram de embarcar e decla­ mesmo ano da decisão de transferência dos mazaganistas.
radas as causas <5J_ O transporte foi feito em navios da Companhia de Comércio do Grão­ Desde 1 758, entretanto, que Mendonça Furtado cogitara já da instalação de um
-Pará e Maranhão: "São Francisco Xavier", "São Joaquim" e "Santana". Chegaram a Belém povoado naquele rio. Em carta sua, de Julho daquele ano, d i rigida a João lgnácio de Brito
em Janeiro de 1 770. O ouvidor do Estado, José Feijó de Melo e Albuquerque, em carta de e Abreu, juiz de fora do Pará, comentara o provável estabelecimento de "um novo núcleo
268 269
"Da Amazónia e das Cidades"
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

� ... ·1· ·J. - de fazenda e povoação de índios no rio Mutuacá, posto que tinha ótimos campos para
currais" 1 10>. Alguns meses depois, em carta dirigida ao ajudante José de Barros Machado,
. i comenta novamente o interesse que o principal "Tomás" manifestava em mudar-se para o

/ ! .,,,., :��,l'. -� -, i�-. '


Mutuacá, e o governador incentivava a mudança, pretendendo que se estabelecesse ali
1 -� �r/::�.. :ti����,:_ "uma povoação tão grande quanto a Vila de São José" 1 1 1>.
O interesse principal de Mendonça Furtado era, de facto, a Vila de S. José de Macapá.
Exortava a criação de outras povoações nas proximidades daquela vila, para que seus habi­
tantes pudessem servir de reforço aos soldados da guarnição de Macapá, em caso de perigo.
Neste contexto insere-se também a fundação da Vila Vistosa da Madre de Deus,
feita em 1 767. A vila foi fundada no rio Anarapecu, pelo desembargador Feliciano Ramos
Nobre Gusmão, de tal encarregado pelo governador Fernando da Costa de Ataíde T eive.
Segundo o relato da residência < 12> do desembargador, este "no breve espaço de seis meses
a edificou com 1 1 2 casas armadas de madeira para os seus habitadores, Igreja preparada
para os mesmos ouvirem missa, com casa de residência para o Parocho, tudo feito em bela
Regularidade . . . " < 13>, É a esta Vila Vistosa da Madre de Deus a que se refere Mendonça
Furtado quando sugere que a nova Vila de Mazagão se fizesse "para se darem as mãos com
·o Macapá, e com Vila Vistoza." 1 ">.
A conformação estratégica da Vila Nova de Mazagão não se resume, entretanto,
apenas à sua localização. Na "memória das Instruções e Ordens para a consolidação do
Plano de Segurança da capitania do Mato Grosso", feito por Pombal e aprovado pelo rei
em Julho de 1 770, justificava-se assim a instalação de novas feitorias no caminho entre o
. .. i:•, Pará e o Mato Grosso:
\:!�i<, e
"Primeira Instrução Secretíssima, q ue se deve comunicar ( . . . ) na conformidade do
Fig. 90. Planta do terreno místico ao lugar de Santana do rio Mutuacá. Casa da Ínsua 24. Paragrafo 2 1 do Referido Plano, à deputação particular da Junta da Companhia, para depois
de se haver tido com ella uma própria conferencia, determinandoselhe as feitorias que logo
deve estabelecer, de baixo do pretexto da passagem dos negros, e provimentos paras minas
de Mato Grosso, e do augmento que tem havido no comum daquelle Estado, depois de que
a elle foi transportada a povoação de Mazagão e que lhe acresceu o grande número de
povoadores que no ministério do meu irmão se fizerão passar aquele Estado . . . " < 1 5>_

Após a morte de Mendonça Furtado, ocorrida em 1 5 de Novembro de 1 769,


Pombal encarrega-se do envio de mais uma expedição de mazaganistas que tinham conti­
nuado em Lisboa. Seguiram em navios da Companhia de Comércio e da Coroa. Continuou­
-se a exercer um rigoroso controlo sobre as pessoas destinadas a serem transportadas,
dificultando-se, ao máximo, a possibilidade de poderem permanecer em Lisboa. Num docu­
mento, já de 1 5 de Setembro de 1 770, ainda se enviou ao Pará uma " Relação das pessoas
que estão em Lisboa, vindas de Mazagão, que deixaram de embarcar e que devem embarcar
para o Pará e os motivos, e idades", seguido de "outras que pretendem eximir-se de ir" < 1 6>.

O mesmo controlo continuaria a ser exercido em Belém. Os mazaganistas que conti-


270 27 1
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

nuavam na cidade, antes de serem transferidos para a nova vila, eram contados, nos censos administração de Bragança, após a sua "refundação" feita pelo ouvidor João da Cruz Dinis
que se começaram a fazer na década de 70, em itens separados dos habitantes normais da Pinheiro, em 1 75 3 12 1 >. O engenheiro que com ele trabalhara na altura fora Galluzzi. Outro
capital < 1 1>. Também ali procuraram evitar-se as deserções, impondo a todos a passagem para italiano acompanhava-o, mais uma vez, nos trabalhos da urbanização de Mazagão, Domingos
a vila. Sambucetti.
A fundação de Nova Mazagão insere-se num quadro inequívoco de "projecto de Já se falou do percurso peculiar deste engenheiro e da sua formação prática feita a
Estado", sendo a sua i nstalação submetida, passo a passo, ao controlo da Coroa, o que equi­ partir da sua experiência na Amazónia <22>. É lógico admitir, em se tratando de dois oficiais
vale dizer, na altura, ao controlo da administração pombalina. É lícito admitir que a transfe­ com experiência no trabalho urbanizador e funcionando dentro do sistema da coorporação
rência dos habitantes da praça marroquina para a Amazónia, e não para qualquer outro militar, que ambos tenham participado nas definições que se vieram a tomar para o projecto
lugar, tenha sido instigada por Mendonça Furtado, então no Ministério das Colónias (assim, da vila. Ressalve-se, entretanto, que a formação de engenharia militar de Sambucetti dotava­
implicitamente, o diz o irmão, no documento citado do Mato Grosso). Pretendera com isso, -o especialmente para a resolução das questões relativas à implantação e ao desenho da
certamente, promover o aumento da população do Estado, e a mais eficiente defesa da forma urbana. Assim, embora não estejam assinadas, é a este engenheiro que creditamos as
região de Macapá, como ele próprio admite na carta que envia a Ataíde Teive. seguintes plantas que fazem o corpus iconográfico da fundação da vila:
Cabe, entretanto, completar a leitura do gesto do irmão de Pombal, vendo-o como - Planta do terreno místico ao Lugar de Santana do rio Mutuacá (com explicação)
outro ponto na sequência que as suas fundações urbanas na região perfaziam. Ao "dar as (Casa da Ínsua n. 24) (fig. 90).
0

mãos com Macapá", Nova Mazagão, alegoricamente, fecharia um ciclo, na reforma urbana - Mappa Topográfico dos rios Preto, Mutuacá e seus repartimentos. Petipé de duas
da Amazónia. A própria manutenção do topónimo da praça africana faz referência, como já léguas comuas de 20 por grao (Casa da Ínsua n. 60A) (fig. 9 1 ).
0

dissemos, à "memória das conquistas" e, concomitantemente, insiste na linha de home­ - Planta da Nova Vila de Mazagão situada em 22' minutos de latitude austral, e na
nagem ao poder régio seguido pelas demais fundações. Aqui é possível especular, inclusive, longitude de 326º e 20' min, contado da Ilha do Ferro, em otimo e vantajoso terreno na
do agrado especial que tal topónimo possa ter dado a Mendonça Furtado e ao irmão, visto margem do rio Mutuacá, que correndo o rumo de leste pelo espaço de duas legoas
estar a sua família intimamente ligada àquela praça, tendo sido os Carvalhos seus governa­ desagoa na margem septentrional do grande rio das Amazonas. Projectada e executada
dores durante mais de meio século < 1 9>, sobre o terreno por mandado do & & (com legenda explicativa) (Casa da Ínsua n.º 23)
(fig. 92).
- Planta da Villa Nova de Mazagão (com explicação) (AHU, cartografia manuscrita,
Pará 822) (fig. 93).
A Urbanização da Nova Vila - Planta e Elevação das Casas que actualmente se edificão na V.' Nova de Mazagão
(AHU, cartografia manuscrita, Pará 807) (fig. 94).
- Carta Thopografica da circonferencia da Vila de Mazagam (Mapoteca do ltamarati
Seguindo as determinações de Mendonça Furtado e a própria metodologia reco­ Ms 77 1 .69 M529a/ 1 77-1 1 2547) (fig. 95).
mendada pelo ministro, o governador encarregou "pessoa capaz" para as operações preli­
minares da instalação da nova vila. O genovês Domingos Sambucetti foi o escolhido. De si A primeira planta, o levantamento da povoação que existia primitivamente no
e do seu trabalho ele próprio fez um retrato no oficio que enviou ao reino, pedindo para terreno, é, claramente, um desenho de trabalho. Os eixos cardeais atravessam o papel,
ser provido ao cargo de sargento-mor engenheiro, então vago. Diz que servia na capitania servindo de referência à orientação tomada para a conformação das quad ras, que se fazem
há já 1 3 anos, que participara em trabalhos nas fortalezas de Guru pá, Santarém, Almeirim e ortogonalmente, sobre as direcções de NE-SW e NW-SE, ou seja, a 45 º exactos dos eixos
na de Macapá inclusive, e o seu último trabalho fora "tirar a planta do terreno para a nova cardeais (fig. 90). Todas as linhas do desenho têm a aparência de esquissos. Algumas delas
Vila de Mazagão" em cujas diligências diz ter "padecido repetidos incómodos e riscos, dando estão inclusive, riscadas, como a indicar que se tratavam de erros do traçado inicial. A planta
de todo a devida satisfação de seu cargo" < 1 •>. possui uma série de anotações complementares, além da explicação sobre os seus itens
O governador destacou também outro homem para a instalação da nova vila: o específicos.
capitão lgnácio de Castro de Moraes Sarmento, que apresenta aos seus superiores como
"oficial de muita honra e bom préstimo" <2°>. São estes dois oficiais os principais responsá­ Tais itens identificam: a situação e a conformação do existente "Lugar de Sta. Anna"
veis pelo projecto de urbanização da nova vila. (AA) ; as estradas que faziam a ligação do lugar com o igarapé, o rio, ou as campinas (AB,
A lgnácio de Castro de Moraes Sarmento já o tínhamos visto como encarregado da BC. CD, EF e GH); o local que deveria ser roçado para a instalação do novo plano urbano
273
"Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 9 1 . Mapa topográfico dos rios Preto, Mutuacá e seus repartimentos ( 1 769, Sambucetti). Casa da Ínsua 60A. Fig. 92. Planta da nova Vila de Mazagão situada em 22' minutos de latitude austral e na l ongitude de 326° e 20'
1 min contado na Ilha do Fenro em otimo e vantajoso tenreno na margem do rio Mutuacá que correndo o numo

1 de leste pelo espaço de duas legoas desagua na margem meridional do grande rio das Amazonas. Projectada e
executada sobre o tenreno por mandado do . . . ( 1 769, Sambucetti) . Casa da Ínsua 23.

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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

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Fig. 94. Planta e Elevação das Casas que actualmente se edificam na VIia Nova de Mazagão
Fig. 93. Planta da Vila Nova de Mazagão, com explicação (1770) AHU, cartografia manuscrita, 822.
( 1 773). AHU cartografia manuscrita 807.
277
"Da Amazónia e das Cidades"

(R) ; e a localização da igreja, da casa do vigário, das casas do sargento-mor, do capitão, do


alferes e do ajudante, o armazém e a casa do director ( 1 -8). Logo abaixo da explicação vem
indicado o petipé de 200 braças e uma legenda de conversão deste que indica " 1 linea = 4
braças" , Dispersos no desenho aparecem ainda alguns números: uns soltos nas bordas,
outros sobre as quadras. lndentificámos ambos como o número possível de casas a constar
em cada quadra e nas bordas, as contas dos totais das quantidades apuradas. Uma outra
pequena observação marginal anota o comprimento, largura e área da planta (fig. 90).
O "Mapa Topográfico dos rios Preto, Mutuacá e seus repartimentos" é também um
desenho de trabalho, onde uma vez mais aparecem os eixos cardeais orientadores e os
erros de traçado (rio Preto). Mostra o local da povoação de Santa Ana e a situação dos
"repartimentos" da área, ou seja, da divisão das terras, indicando os limites das propriedades
da zona. É um desenho complementar ao levantamento anterior (fig. 9 1 ) .
A seguinte "Planta da Nova Vila de Mazagão", embora seja ainda um desenho de
trabalho, é já uma cópia, "passada a limpo" do levantamento inicial. Aqui já não aparece a
povoação de Santa Ana, da que apenas se aproveita a capela já existente. Esta vem identi­
ficada na legenda como "igreja de índios". Da mesma legenda constam as indicações: do rio
Mutuacá e do braço deste rio que comunica com o rio Preto (como aparece no mapa ante­
rior) (AA, B); dos igarapés e várzeas, q ue correspondem aos terrenos alagáveis no Inverno
e portanto não utilizáveis em termos de instalação de casas (C, D); da igreja matriz que se
pretende fazer, a dita igreja de índios, as moradas de casas que se especificam que tenham
CiR,CONFE ll"ENClA, dez braças de frente, a casa de câmara e cadeia e o pelourinho ( 1 -5); há mais uma indicação
DAVÍILA
DE MAZAGAM .
dos caminhos das campinas e das várzeas (6-7), mas os números indicados na legenda não
aparecem na planta (fig. 92).
Estes desenhos são, concretamente, o projecto da nova vila. Representam, a todos
os níveis, uma documentação deveras significativa. Indicam a sequência metodológica
Fig. 95. Carta Thopografica da circonferência da Vila de Mazagam. Mapoteca do ltamarati, Ms. 77 1 .69 M.529a/ 1 77- 1 1 2547.
seguida pelos urbanizadores, configurando-se ainda mais como "projecto" - enquanto
processo que é - e, por serem rascunhos, apresentam observações marginais que escla­
recem vários pontos do desenho que, normalmente, não constam nas cópias.
A planta do AHU é já uma dessas cópias (como várias outras que existem nos
arquivos do Brasil) . Na sua legenda vêm apenas referidos os elementos que ali constam
normalmente: a casa de câmara e cadeia, o pelourinho e a igreja matriz, mais a indicação das
casas do mestre de campo e de outras que se faziam com "dois quartos mais" (fig. 93). Esta
cópia terá sido feita, por volta de 1 773, já com as obras da vila adiantadas, e indica as casas
que tinham sido construídas. O conjunto completa-se com a apresentação do padrão tipo­
lógico usado na construção das moradias (fig. 94).
A "Carta Thopografica da Circonferência da Vila de Mazagam" é, por sua vez, uma
cópia mais elaborada, e decorada, do esquisso que representava o mapa topográfico dos
rios Preto e Mutuacá. É um desenho que terá servido mais como espécie de carta de apre­
sentação da vila, indicando algumas coordenadas indispensáveis à sua localização (fig. 95).
O desenho urbano de Mazagão faz-se a partir de uma estrutura em malha recticu­
lada, que incorpora na sua modulação as diferentes medidas das quadras e das ruas. Isto é,
278 279
As Cidades da Amazônia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

1
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a cidade desenha-se sobre uma rectícula que já é em si a sua estrutura viária. O módulo
utilizado espaça linhas horizontais e verticais na sequência de 5 6-4-56-4 . . . (braças). Esta
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modulação possui apenas uma variante estabelecida por dois eixos na direcção NW-SE que
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tem um espaçamento de 28 braças, ou seja, a metade do módulo de 56 braças (fig. 9 6).
É um desenho simples, na medida em que a estrutura é visível e orienta todo o
processo. A praça faz-se pela supressão de uma das quadras e toma as dimensões de
64 x 64, do módulo de 5 6 braças mais as suas laterais de 4 braças. A metodologia básica de
tal plano é a mesma que orientou a maioria- das criações urbanas da América espanhola.
Outros casos de desenhos como este aparecem no urbanismo brasileiro, de que a própria
cidade de São Luís pode ser um modelo. Vejam-se também os exemplos de Guaratuba, em
São Paulo, e o mais próximo, de S. João de Parnaíba no Piauí, onde do mesmo modo a
malha incorpora as ruas e a praça faz-se por supressão de uma quadra (figs. 7 e 8).
No projecto de Mazagão uma variação é introduzida no desenho pela disposição da
frente das casas, que ocupa apenas dois dos lados das quadras, permitindo combinações
diferentes. A disposição adaptada tem, de resto, uma expressão um tanto aleatória, que dá
bastante movimento ao plano urbano. Os lotes têm, na maioria, 7 braças de frente e as 28
braças de fundo que correspondem a metade da quadra. Alguns lotes, que vêm indicados,
têm larguras maiores, de I O braças de frente. A ambos correspondem diferentes dimensões
de moradias (fig. 94).
A tipologia das casas é também bastante simples. Tanto em termos da proporcio­
nalidade do desenho, como na divisão interna, estas são bastante semelhantes ao modelo
utilizado para Macapá. A casa de menores dimensões (70 x 40 palmos) corresponde ao
tipo identificado como "casas velhas" do desenho de Rodrigues da Costa de 1 759 (fig. 3 1 ) .
Estas tinham e m Macapá u m tamanho menor (50 x 3 0 palmos) que a experiência, prova­
velmente, terá julgado melhor ampliar. A divisão interna é, entretanto, exactamente igual,
inclusive com a mesma localização dos vãos de portas. A metodologia utilizada no seu
desenho é curiosa, esta faz-se a partir de dois quadrados que se entrecruzam, as linhas­
-limite de cada um são paredes internas da casa (fig. 94). O processo das casas pequenas
de Macapá é idêntico (fig. 3 1 ).
As casas maiores ( 1 00 x 40 palmos) já não são iguais às de Macapá, mas mantêm a
simplicidade como tónica. Na fachada este modelo apresentava mais dois vãos de janelas
que o anterior. Em ambos a fenestração é simétrica, com a porta centralizando o alçado
(fig. 94). As janelas são dimensionadas quase ao mesmo tamanho da porta e como tal
também funcionam. Uma única casa destas ainda existe em Mazagão onde foi acrescentada
uma sacada de ferro nas janelas.
O padrão da tipologia das casas de Mazagão também não difere muito do utilizado
em Barcelos, por Sturm (figs. 1 00 e I O 1 ). Os telhados fazem-se sempre em quatro águas, Fig. 96. Mazagão. Estudo da malha urbana.
cobrindo uma casa, se for isolada, ou um conjunto, quando geminado. A simetria na distri­
buição dos vãos da fachada é invariavelmente respeitada em todos os exemplos. A casa de
Armas e Ferraria de Barcelos é bastante similar ao modelo maior das casas de Mazagão, tanto
na planta como no alçado, com a porta central e as três janelas de cada lado (figs. 94 e 1 00).
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

A metodologia da escola dos engenheiros militares está outra vez presente nesta unificação
das tipologias de habitação dos núcleos urbanos formados.
Entre os pontos mais significativos do projecto de Mazagão nota-se, em especial, a
apreensão do método do engenheiro. A sequência dos desenhos indica um procedimento
contínuo que liga a actividade de levantamento e medição do terreno ao acto de projectar
a própria forma urbana. As medidas da malha estabeleceram-se partindo do conjunto da
área levantada, subdividindo o espaço num número x de quadras. Diante da necessidade de
contornar elementos físicos existentes no terreno, algumas das quadras tiveram que ser
suprimidas. Outras foram então acrescentadas, nos locais onde a topografia permitia.
A configuração do sítio participa como elemento da configuração da vila, no entanto, a
forma desta não perde a sua unidade, pois a malha estabelecida continua para além das
interrupções. Do mesmo modo também a simetria não se perde, pois há a preocupação de
procurar manter a equivalência entre os acrescentos. O eixo central do plano passa pelo
meio da praça e ali se localiza o pelourinho (fig. 97).
Outro ponto a ressaltar do projecto refere-se à orientação escolhida para o desenho
da malha. Note-se que Sambucetti segue as mesmas direcções NE-SW e NW-SE, que já
tinha o ordenamento da povoação de Santa Ana. Caberá lembrar a possibilidade de esta
atitude ter como referência as preocupações com a questão do Sol ou dos ventos. Velhos
apontamentos vitruvianos.
Mas a questão mais interessante levantada pelos esquissos diz respeito ao cálculo da
capacidade da vila, feito em função do número de habitantes que deveria receber. As anota­
ções marginais da planta da nova vila mostram uma série de contas somando as quantidades
de moradias que cada quadra podia conter. Tai questionamento sobre as dimensões da
urbe envolve um evidente sentido prático, dado que se sabia de antemão o número de
colonos a instalar ali. Mas, além disso, remete também para uma abordagem da "dimensão"
da mesma em sentido alegórico, ou seja, o significado da fundação da vila.
Embora se instale sobre uma estrutura urbana preexistente, o projecto de Mazagão
define-se como uma fundação "ex-novo". O "Lugar de Santa Ana" é praticamente despre­
zado por Sambucetti, que desenha a malha da nova vila ignorando a da antiga povoação de
índios. Mesmo a igreja, que é o único edifício preservado, não se insere completamente na
nova estrutura proposta, ficando marginal a esta.
Essa atitude pode ser associada a um problema de escala, considerando-se que a
povoação existente tinha dimensões muito reduzidas para a quantidade de colonos novos
que receberia. Sempre seria necessária uma ampliação do seu tecido urbano. O facto deste
ter sido, no entanto, submerso sob o novo projecto, ao invés de simplesmente ampliado,
aproxima a hipótese escolhida de uma atitude intencional de demarcação entre os dois
momentos. Fig. 97. Mazagão. Estudo da configuração da vila.
A grandeza do investimento que se fazia não se coadunava com a escala humilde da
povoação de índios. A relação de proporção entre a nova vila e o antigo lugar expressa-se
em medidas radicais: as dimensões de apenas duas quadras de Mazagão (60 x 60 braças
cada) são equivalentes a todo o conjunto da antiga povoação (cerca de 1 20 x 60 braças), e
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As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

cada quadra desta (25 x 25 braças) media cerca de 1 /4 das novas quadras construídas. vila. E provavelmente já não foram mais, porque o número dos que restavam em Belém
A constituição do projecto explora uma certa dubiedade nos conceitos da vila que permaneceu praticamente o mesmo nos anos seguintes 12'l.
se fazia "novamente" - fundando outra vez a Mazagão africana na Amazónia, e a que se Para evitar a sua ida, os colonos remetiam insistentes pedidos à coroa, alegando os
construía "de novo" - a "vila nova" e grande, que abrigaria os colonos. A acção realizada mais variados motivos. Na petição de Inácio Ferreira da Fonseca este solicitava autorização
sobre o espaço da antiga aldeia, fazendo construir a nova vila sobre a velha povoação, para estabelecer-se por conta própria em Belém, e não ir para Mazagão, como deveria, por
reforça ambas as acepções. A cidade que se faz é tanto uma nova cidade como uma cidade "padecer de uns achaques". Acrescenta, entretanto, que assim poderia diminuir o custo que
"refonmada". Assim como, porventura, também se pretendia fazer ver a situação da a Fazenda Real vinha tendo no seu sustento. Face a este último argumento, o próprio gover­
Mazagão deixada em África, reconstruída na A.-mazónia, sob nova forma e reformada. nador do Estado concorda com o requerente 125l_
É inevitável o paralelo com a situação descrita por Horta Correia para Vila Real de Na verdade a Fazenda Real apresentava contas bastante deficitárias. No mapa dos
S.'º António, assim como já o fora o próprio conceito de Restauração-Ressurreição válido rend imentos reais da Capitania em 1 773 o balanço geral indicava um considerável exce­
para o contexto do Algarve e da Amazónia no período pombalino 123l_ dente das despesas em relação às receitas. Entre aquelas incluíam-se os gastos com Mazagão
Enquanto, alegoricamente, e em termos políticos, a vila pretendia representar tal e Vila Vistosa ao lado das contas da folha militar, eclesiástica e civil e das fortificações e
imagem, em termos práticos tinha custos bastante consideráveis. A contabilidade do inves­ hospitais, entre outros 126l.
timento feito em Mazagão foi várias vezes computada pelos governadores e a vila era refe­ Em todos os anos do seu governo, as referências aos problemas ·da instalação de
rida nas suas cartas à metrópole como motivo de grandes preocupações. Os custos Mazagão preenchem muitos dos itens das cartas de João Pereira Caldas. Entre 1 773 e 1 775,
principais envolviam o dispêndio das obras em si (com materiais e operários), mais o boa parte da correspondência do governador com a metrópole diz de algum modo respeito
dinheiro necessário para sustentar os colonos enquanto estes estavam em Belém e não à vila.
podiam trabalhar, e depois outra quantia que lhes era dada ao serem transferidos para inici­ Em carta, datada de Janeiro de 1 773, em que é enviada uma listagem dos empre­
arem o cultivo das terras. gados na obra da vila, o governador retrata assim a situação dos seus custos: "faltando fazer
A referência a tais valores é uma constante na correspondência oficial. Mas os custos uma quantidade de moradas de casas, para preenche r - se o número de quinhentas ou mais
maiores eram, sem dúvida, os maus dividendos da inadaptação dos colonos à nova vila. que se precisão, para acomodar toda a gente, pois ainda aqui estão duas partes della, que
em alugeres de casas e sustento e em hospital, motivam outro desembolso desproporcio­
nado aos rendimentos do Estado, e aos socorros que a elle se destinam, havendo mais as
despezas dos transportes e de continuar por um ano o sustento das familias que tudo com
Os Povoadores e a Vila as conduções de gêneros que daqui he necessario remeter, faz maior o desembolso . . . " 1'7l.
Já aqui, Pereira Caldas, pretendendo a redução das despesas da fazenda real, sugere
que se pudessem aproveitar os mesmos colonos para outros estabelecimentos já fixados,
Desde o início que os magazanistas levantaram dificuldades à sua instalação na como o Macapá, diminuindo os custos da implantação da nova vila. Em 1 775, o governador
Amazónia. Boa parte deles pretendeu escusar-se da vinda de Lisboa. Depois, chegados à faz uma viagem de vistoria à Vila Vistosa e a Mazagão. Ali opta por instalar os colonos
capital do Pará, alegaram variadas razões para não passarem ao Cabo do Norte. E ao serem "dobradamente" nas mesmas casas já construídas, colocando mais de uma família em cada
levados, sem alternativa, para a nova vila, lá, uma vez mais, alegaram outros tantos motivos uma 12•l. A mesma intenção de reduzir despesas o animava. E a construção da vila seguia em
para saírem. Na razão directa do controlo que a Coroa pretendia exercer sobre a sua insta­ ritmo lento.
lação estes estabeleciam a resistência. Entretanto, continuavam as requisições dos próprios habitantes pedindo licenças à
Bastará ver a sequência decrescente dos números das suas sucessivas transferências. Corte para abandonarem a vila. A partir de 1 778 a situação chega a um ponto de conflito
De Mazagão para Lisboa saíram cerca de 2000 pessoas. De Lisboa para Belém vieram já só evidente. Não por coincidência, já no período do reinado de D. Maria, os vereadores da
cerca de 1 000. De Belém para Nova Mazagão o processo foi feito em levas. Em 1 773, o câmara da nova vila dirigem à rainha uma carta em que reivi ndicam um "tratamento"
censo anual indicava a presença de 1 1 07 mazaganistas ainda na capital. Em 1 774, o número melhor:
destes em Belém é de 1 076, o que, embora considerando a possibilidade de nascimentos
no período, indica que poucos tinham efectivamente passado à nova vila. Em 1 775, há uma " . . . Divulgou-se serem destinados ao estabelecimento do Pará e sentiram logo
transferência um pouco mais significativa, deixando de q ualquer modo na capital ainda repugnância ao transporte para um clima tão distante já porque reconhecião não ser esta a
842 indivíduos. Em 1 776, 343 mazaganistas conseguiram escapar ao embarque para a nova recompensa merecida por seus serviços ( . . . ) transportados violentamente ao referido
284 285
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

Estado do Pará tem nele chegado ao último ponto da miséria, a que ordinariamente só pobres são sogeitos a similhantes infermidades" <33I_ Na declaração dos mestres carpinteiro
chegam aqueles que para fogirem ao castigo merecido por seus atrozes crimes se oferecem e pedreiro a argumentação final resume-se também ao mesmo ponto, os moradores não
a Povoar novos descobertos e colonias, e não um Povo sempre fiel, sempre constante e só tinham condições sequer para consertar as suas casas, ainda que estas fossem muito
exercitado nos estrondos da guerra" <291 _ simples <3•1.
Mesmo quando invocavam os ares pestilentos, as doenças e a insuficiente acomo­
Nesta reivindicação se esclarece boa parte da resistência estabelecida pelos maza­ dação, a peça de resistência do discurso dos mazaganistas era, inevitavelmente, a miséria a
ganistas. A sua pretensão de tratamento mais condigno é o principal fundamento das suas que se tinham reduzido. Acrescentam, inclusive, entre os papéis enviados, uma certidão do
queixas. Os outros motivos, todos, que acresc;entam nas petições dirigidas à rainha, surgem contratador de dízimos, a comprovar o magro rendimento da povoação.
como justificações confonmativas do descaso de que se julgavam vítimas. Arrolaram no Na sequência deste raciocínio, o governador José Nápoles T elo de Meneses ( 1 780-
conjunto das reclamações a má qualidade dos ares e da terra, a ração insuficiente, as condi ­ - 1 783) expõe o seu parecer à Corte admitindo que as suas misérias eram "principalmente
ções de trabalho penosas e as habitações de material pouco nobre. Tudo somado diziam­ originadas pela fantástica persuasão que alguns imprudentes nacionais seus lhes sugerem da
-se doentes, mal alimentados e pobres. E insistiam em que deixassem sair, assumindo um Corte: de que não se aplicando a diligenciar as suas comodidades, e clamando com repe­
tom de grave ofensa no seu discurso: tida eficácia esta aparente necessidade, conseguiram da virtuosa e reconhecida Piedade da
Rainha Nossa Senhora, o restituí-los ao Reino que especialmente ambicionam" <35J_
"Soberana e Augustíssima Senhora he impossível que na aspereza daqueles matos Admitindo embora que a pobreza alegada fosse verídica, pois havia de facto atrasos
possão subsistir huns vassalos de V. Magde ( . . . ) sem meios de poderem reparar as no pagamento das tenças e no fornecimento de víveres, ainda assim, o quadro real da situ­
suas chamadas casas por falta de forças, mas cada vez mais obrigados a oferecer ao rigo­ ação dos mazaganistas condizia com o comentário do governador. A sua resistência ao
rozo e indecente trabalho de hum remo, de hum machado, de huma foice, de huma enxada, projecto era tal, que mesmo se porventura se lhes resolvessem os problemas alegados, não
aqueles braços que tão gloriosamente empregaram na defensa da Augustíss ima deixariam de insistir na hipótese de voltar ao Reino e abandonar a selva. Chegaram inclusive
Coroa . . . '' P01. a propor ao Conselho que se lhes fizesse um "mais sólido e conveniente estabelecimento
no Reino do Algarve" 1361, a que não são certamente alheias as notícias que porventura
Nota-se uma vez mais o quanto pesavam nas reclamações as razões de ordem ideo­ tinham de Vila Real de S.10 António.
lógica. Reivindicavam-se guerreiros e encaravam a transferência para o Pará como um Neste clima de resistência, a administração questiona o investimento feito, espan­
degredo desmerecido. Ali instalados, não pretendiam cultivar a terra, sem que se lhes forne­ tando-se de que possa ser possível tal rejeição. O governador classifica, o requerimento dos
cesse mão-de-obra escrava, porque não assumiam outra relação de trabalho que não esta. mazaganistas, como uma "imprudente e inattendível portenção de abandonar hum
Ofendiam-se com ter os seus filhos incluídos na tropa paga, porque se lhes negava o privi­ Estabelecimento fonmado já de tantos anos e com despeza de cabedais tao consideráveis à
légio de "cidadãos" 13 ' 1 que julgavam merecer. Sua Real Fazenda" 13 71. Os custos materiais, que já João Pereira Caldas apontava como
Enfim, os mazaganistas não assumiam o papel de colonos que se lhes impunha, e o elevados, voltam a entrar em linha de conta no questionamento da existência da vila. Aqui
próprio governador João Pereira Caldas tal reconhecia. "Pois esta gente, ainda que viva e a postura do novo governador é, entretanto, não mais a de poupar, mas a de salvaguardar
muito própria para o exercício das anmas em que foi criada, não o he para lavoura; assim os investimentos já feitos.
pela dita razão de ser outra a sua creação, como porque sendo uma grande parte daquelas Aos comentários feitos pelos mestres pedreiros e carpinteiros sobre a qualidade das
famílias de qualidade distinta e educada, nunca seria a pertender esperar, que por si mesmas, casas construídas e a sua pouca durabi l idade, o governador responde enfaticamente. Diz
se sugeitassem aos laborozos e pesados serviços que a Lavoura neste Paiz obriga." <321. que: "He não menos falso dizerem os representantes na sua suplica que a cobertura
Entre 1 778 e 1 783 as reivindicações tornaram-se cada vez mais insistentes. daquelas casas só dura, quando muito, o tempo de quatro anos: quando he sem duvida que
A Câmara da vila providenciou o envio de sucessivas cartas para o Conselho Ultramarino, as ditas são cobertas todas de obussu, e que experiência mostra ter de duração neste
defendendo os seus argumentos com várias certidões. Dele constam, entre outros ofícios: Estado, de ordinario, o espaço de dez e mais de doze anos" <3'1 .
uma certidão do cirurgião-mor de Macapá e outra dos mestres carpinteiro e pedreiro das Defenderá sempre Telo de Meneses a possibilidade de manter o estabelecimento.
obras da vila. No entanto, uma grave epidemia ocorrida na zona em 1 783 (que afectou também Macapá
O médico reconhecia o mal das "obstruções" que os mazaganistas insistentemente e Vila Vistosa), fez com que se liberassem os pedidos de licença para os doentes virem à
alegavam, mas admite que "a experiência de mais de vinte e cinco anos que tenho de curar capital para se tratarem. O contexto terá sido também próprio para mais petições dos
os habitantes que vivem debaixo deste Ceo, me tem feito observar seriamente que só os mazaganistas à Corte, reforçando as suas razões da insalubridade dos ares da terra.
286 287
As Cidades da Amazónia no Século XVIII "Da Amazónia e das Cidades"

Assim, neste ano de 1783, conseguem finalmente o seu intento, e obtêm da rainha dade, e nas sucessivas perdas, converteu-se, cada vez mais, em "projecto", sonho apenas.
permissão para deixarem a vila e instalarem-se onde mais lhes aprouvesse dentro do Estado Há que admitir que de tal projecto se esperava talvez mais do que a utopia comum
do Pará. Recomenda a carta régia, entretanto, que "seria muito conveniente que ali se dos projectos. As cidades do Iluminismo, descendentes legítimas da "cidade-ideal" do
conservassem algumas famílias, e que se não desamparasse de todo um estabelecimento de Renascimento, reincorporaram daquelas a ideia da capacidade demiúrgica do urbanismo.
que não deixa de ser útil a sua conservação" l39J_ Com a coerência do desenho e a clareza das formas pretendiam influenciar os homens.
Mais significativa que a concessão em si feita pela rainha, é a memória do Conselho Quiseram que as cidades fossem discursos persuasivos e que, porventura, fossem também
Ultramarino em que se baseou a decisão régia. Os conselheiros fundamentam o seu parecer capazes de modificar os seus habitantes. De Mazagão exigia-se muito. Ali era preciso recon­
favorável ao pedido dos mazaganistas aceitando que estes continuariam sendo úteis à quistar os próprios "conquistadores", colonizar os colonos que se negavam a ser.
Coroa, mesmo em outros estabelecimentos do Estado, e que era viável dar-se-lhes a possi­ A leitura dos significados que Mazagão assumia fica abalada devido às dificuldades em
bilidade de escolha do local de instalação, posto "não terem cometido nenhum crime que que se inseriu a concretização urbana. Ao peso da resistência dos colonos, soma-se também
os obrigue a sugeição involuntária" 1'ºl. Quanto à vila, os ministros vaticinam que se os natu­ a imponderável questão da própria conjuntura política que se modificara. O projecto da Vila
rais de Mazagão a abandonassem de todo, que fosse então povoada pelos naturais da terra Nova de Mazagão criou-se no exacto ano da morte de Francisco Xavier de Mendonça
e não fosse totalmente perdida. Furtado. Produto ideológico do ministro, este apenas pôde organizar a viagem da primeira
A decisão régia implicou, praticamente, o fim da vila, que foi, de facto, abandonada leva dos colonos. Apesar do próprio irmão ter dado continuidade ao processo, parte da sua
por muitos. Já no século XIX começou-se a instalação de um novo núcleo urbano nas suas força ficou imediatamente perdida.
proximidades e aquela que fora baptizada de Nova Mazagão, passou a ser Mazagão Velho Em toda a região, aliás, chegava-se a um ponto em que a eloquência da reforma
em função da que se criou, desta vez chamada apenas de Mazagão. A sede do município urbana enfraquecia a sua voz. Mazagão foi, de facto, a última vila fundada no período
transferiu-se para ali e "Mazagão Velho" passou a ser freguesia desta outra "novíssima" pombalino na Amazónia. Durante a administração de João Pereira Caldas criaram-se apenas
Mazagão. mais alguns lugares e freguesias 1•2i.
A fundação das vilas fora uma das bases da actuação política de Mendonça Furtado
na Amazónia, seguido pelos seus sucessores. Num corpo conjunto que unia a instalação do
sistema do Directório, o baptismo dos nomes portugueses e a ordenação física dos edifí­
Mazagão - "Projecto e Uto p ia" 1"l cios, a criação urbana sintetizava o próprio programa de reforma do governo pombalino na
região. O seu enfraquecimento correspondia ao enfraquecimento daquele.
A própria atitude de Pereira Caldas, preocupado com os custos excessivos que a
As circunstâncias específicas que envolvem a história de Mazagão, com a transfe­ nova vila significava para os cofres do Estado, demonstra que o investimento urbano deixara
rência da população da antiga praça africana, a sua instalação no espaço amazónico, a de ter dividendos que compensassem os gastos. No entanto, é significativo observar- se que
rejeição que se lhe segue e o "fim" da vila, são dados importantes de uma reflexão possível o tom do questionamento que envolveu a construção da vila, por parte deste último gover­
sobre o processo - e também o "fim" - do projecto urbano pombalino da Amazónia. nador pombalino, tenha sido fundado em razões económicas. Sabe-se o quanto estas
A impossibilidade em que se converteu a própria existência da Vila de Mazagão pesavam no contexto do seu governo, em especial, porque foi aí que se desfez a Com­
transfere-a para um domínio verdadeiramente utópico. Mesmo que se tenham construído panhia de Comércio.
as casas, instalado algumas pessoas e criado as estruturas da Câmara, a cidade não existiu O questionamento pragmático do investimento urbano, em termos de custos, não
(ou não resistiu), foi um sonho, uma utopia. foi, de qualquer modo, motivo suficiente para desmontar a sua complexa teia de significados.
Utopia enquanto criação urbana, na medida em que a sua concretização no espaço Pois embora se reavaliassem as relações entre os gastos e os resultados práticos da insta­
é efémera, aproximando-se da visão literária de Moro, em que o narrador admite ter lação das vilas - em termos de comunicação umas com as outras, as suas possibilidades de
perdido as referências espaciais da ilha e da fantástica cidade que visitou. subsistência e produção, etc. - não se questionou, no conjunto, sobre a validade da sua
É utopia também enquanto projecto, na medida em que as suas bases todas, espa­ criação.
ciais e ideológicas, foram questionadas. Resistiram os povoadores a instalarem-se, A importância política da urbanização era crucial e as vilas continuavam a representar
contestou-se a escolha do sítio, rejeitaram-se as edificações, discutiram-se as normas da a mais concreta realização do programa pombalino na região. O Directório e a instituição
instalação e da gestão da cidade e questionou-se, inclusive, o dinheiro gasto na obra. Em do sistema de administração municipal ligado ao Estado criaram uma verdadeira unidade
suma, todo o projecto, ideia, forma e concretização, esbateu-se no contacto com a reali- política, onde antes existiam feudos dirigidos pelas diferentes missões. Além disso, a exis-
288 Notas
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

tência das vilas e de toda uma rede urbana estabilizada representava, finalmente, a evidência ( 1 ) Robert Picard, Le Transport ou Brésil de lo vil/e dos Habitantes e Fogos de Belém / 1 774. idem /
Portugoise de Mozogon, in "Hesperis", Archives 1 775. idem / 1 776. idem / AHU, Caixa 752 (38).
da colonização com a ocupação do espaço.
Berbéres et Bulletin de l'lnstitut des Hautes Études 1 777. Mapa Geral dos Habitantes e Fogos de Belém.
Se em Mazagão, a existência física do estabelecimento é, em parte, fcustrada, a exis­ Marocaines, n.' 24, 1 -2, Paris, 1 937, pp. 1 39-42, p. / AHU, Caixa 755 (39). 1 778. Mapa Geral dos
tência simbólica e ideológica não o é de todo. Há ali como que uma permanência da utopia, 1 39. Habitantes e Fogos de Belém.
(2) Transcrito in Francisco A. de Oliveira Martins, ( 1 8) Cf. António Dias Farinha, História de Mazagão
a despeito da falência do projecto.
A Fundação da Vila Novo de Mazagão no Porá, durante o período Filipino, Centro de Estudos
Os mazaganistas negaram-se a assumir o papel de colonos, mas Mendonça Furtado Subsídios poro o História do Colonização Portuguesa no Históricos Ultramarinos, Lisboa, 1 970, p. 33. "A
e Pombal julgavam que esta era uma das imposições que se lhes devia fazer, e fizeram-na. Brasil, Lisboa, Sociedade Nacional de Tipografia, 1 938, família dos Carvalhos manteve-se no governo da
pp. 5-7. praça, exceptuando pequenos intervalos, até 1 607".
No programa do Iluminismo de Pombal, a situação de privilégio que aquelas pessoas preten­
(3) Idem, ibidem. O primeiro donatário de Mazagão da família
diam não lhes caberia pelas alegações que faziam, dos seus méritos pseudoguerreiros. Se Carvalho foi Álvaro de Carvalho, que antes havia
(4) Francisco A. de Oliveira Martins, op. cit., pp. 1 0-
produzissem e fizessem comércio mereceriam mais créditos. - 1 5. sido capitão de Alcácer Ceguer. A sua nomeação foi
feita em 30 de Abril de 1 55 1 .
Com mais este carácter didáctico de reeducação dos seus habitantes, ainda que (5) AHU, Pará Caixa 8 1 4 / 24 de Agosto de 1 77 1 .
Relação das pessoas que vieram de Mazagão e ( 1 9) AHU, Pará Caixa 744 (30) / 9 de Janeiro de
fossem "brancos", também se fez o programa ideológico da cidade. E aqui o peso das impo­ 1 770. Oficio de Domingos Sambucetti ao Conselho
deixaram de embarcar para o Pará na expedição
sições logrou algum mérito, porque mesmo quando se permitiu aos mazaganistas que aban­ que se fez, em 1 5 de Setembro de 1 769, pelas Ultramarino.
donassem a vila, não se lhes deu l icença para abandonarem a colónia. causas declaradas. (20) AHU, Pará Caixa 744 (30) / 1 3 de Janeiro de
(6) AHU, Pará Caixa 744 (30) / 1 2 de Janeiro de 1 770. Carta do governador Fernando da Costa de
Do mesmo modo, no projecto conjunto da urbanização da região amazónica, a vila Ataide Teive a Francisco Xavier de Mendonça
1 770. Carta de José Feijó de Melo e Albuquerque a
não deixou de ser um passo importante. Ainda porque, mesmo enquanto erro, esta signi­ Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Furtado.
fica um dos actos essenciais do processo de colonização, que de ensaio muito se fez. (7) V. p. 283-284 deste capitulo. (2 1 ) V. Parte li, cap. li.
(22) V. Parte li, cap. li.
Esta vi la, que invoca no seu nome uma outra vila que se abandonou foi, por sua vez, (8) AHU, Pará Caixa 744 (30) / 1 2 de Janeiro de
1 770. Carta de Geraldo José de Abranches a (23) V. Parte li, cap. li.
também abandonada. No entanto, assumindo a alegoria de ser uma cidade "ressuscitada", (24) Idem nota 17 deste capitulo.
Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
surpreendentemente, ressuscitou outra vez, nas proximidades daquela, com o mesmo (9) POMB 1 39, Conquista Recuperada . . . , fl. 1 5. (25) AHU, Pará Caixa 750 (35) / 24 de Dezembro
nome. Não deve haver prova mais concreta da persistência da utopia. ( 1 O) POMB 1 63 fls. 47-50. Carta de Francisco Xavier de 1 774. Petição de lgnácio Pereira da Fonseca ao
de Mendonça Furi.ado ao desembargador João Conselho Ultramarino.
lgnácio de Brito e Abreu, juiz de fora do Pará. 24 de (26) AHU, Pará Caixa 749 (34) / 3 de Abril de 1 773.
Julho de 1 758. Mapa dos Rendimentos e Despesas do Reino.
( 1 1 ) POMB 1 63 fl. 1 67V. Carta de Francisco Xavier (27) AHU, Pará Caixa 749 (34) / 5 de Janeiro de
de Mendonça Furtado ao ajudante José de Barros 1 773. Carta de João Pereira Caldas a Martinho de
Machado. 1 6 de Outubro de 1 758. Melo e Castro.
( 1 2) Este sentido de residência refere-se, segundo o (28) AHU, Pará Caixa 750 (35A) / 5 de Novembro
Dicionário do Língua Portuguesa de Francisco Solano de 1 775. Carta de João Pereira Caldas a Martinho
Constâncio, a "informação que se tira a respeito de de Melo e Castm
como procedeu nas cousas do seu oficio ou cargo o (29) AHU, Pará Caixa 753 (37) / 20 de Julho de
governador ou juiz". 1 778. Carta dos oficiais da Câmara de Mazagão diri­
( 1 3) AHU, Pará Caixa 8 1 8 / 28 de Junho de 1 767. gida à Rainha.
Residência do Desembargador Feliciano Ramos (30) AHU, Pará maço 1 774 / 1 8 de Março de 1 783.
Nobre Mourão. Carta dos oficiais da Câmara de Mazagão.
( 1 4) V. Carta de Mendonça Furtado, p. 265 deste (3 1 ) Referem-se aos "Privilégios dos cidadãos da
capitulo. cidade do Porto" que possuíam por direito os
( 1 5) AHU, Pará Caixa 744 (30) / 1 O de Julho de eleitos para o Senado da Câmara e que, entre
1 770. Memória das lnstrucções e ordens que se outras prerrogativas, eximia os seus descendentes
devem expedir para a consolidação do plano de directos de servir na milícia.
segurança ( . . . ) aprovado e confirmado por el Rey (32) AHU, Pará Caixa 755 (39) / 5 de Fevereiro de
Nosso Senhor em Resolução de I O de Julho de 1 779. Carta de João Pereira Caldas a Martinho de
1 770. Melo e Castro.
( 1 6) AHU, Pará Caixa 744 (30) / 1 5 de Setembro (33) AHU, Pará Caixa 784 (69) / 26 de Dezembro
de 1 770. Relação de pessoas que estão em Lisboa de 1 778. Certidão do cirurgião-mor da Vila de
vindas de Mazagão que deixaram de embarcar . . Macapá.
( 1 7) AHU, Pará Caixa 750 (35) / 1 773. Mapa Geral (34) AHU, Pará Caixa 784 (69) / 1 9 de Dezembro
290
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

de 1 778. Certidão dos mestres carpinteiro e


pedreiro da Vila de Mazagão.
(35) AHU, Pará Caixa 784 (69) / 1 3 de Maio de
1 782. Carta do governador José Nápoles Telo de
Meneses a Martinho de Melo e Castro.
(36) AHU, Pará maço 1 774 / 1 8 de Março de 1 783.
Carta dos oficiais da câmara de M azagão.
(37) idem nota 35.
(38) idem, ibidem.
(39) AHU, Pará maço 1 774. Carta régia de 29 de • Conclusões
Julho de 1 783.
(40) AHU, Pará Caixa 784 (69) / 19 de Setembro
de 1 783. Memória e parecer do Conselho
Ultramarino sobre a situação de Mazagão.
(4 1 ) Pedimos aqui "emprestado" o título do livro de
Manfredo Tafuri, Progetto e Utopia. Edição portu­
guesa, Projecto e Utopia, arquitecturo e desenvolvi­
mento do capitalismo, Editorial Presença, Lisboa,
1 985.
(42) Ver quadro das vilas fundadas na Amazónia no
século XVI II nos apêndices deste volume.
Em cada um dos capítulos deste trabalho julgamos que, de algum modo, tenham sido
já apresentadas as principais conclusões a que podemos chegar sobre "As Cidades da
Amazónia no século XVIII" e, em especial, sobre os três exemplos de Macapá, Belém e
Mazagão. De cada uma delas, em síntese, poder-se-á dizer que tem um papel específico na
história urbana da Amazónia. Mas, ao mesmo tempo, uma relação inequívoca liga-as a todo
o conjunto das cidades da região e ao projecto da "Reforma urbana" pombalina. Esta, por
sua vez, revela-se enquanto produto de um processo político, que soube, entretanto, poten­
cializar uma das formas mais maduras da colonização portuguesa - o urbanismo.
Fundado na experiência de dois séculos de acção concreta, o urbanismo português
de Setecentos era um repositório ímpar de conhecimentos. Com bases cada vez mais
seguras e fundamentadas vinham-se fazendo as cidades dos territórios da Expansão desde
o século XVI. A geometria e as ciências da fortificação formavam o acervo teórico dos urba­
nizadores, requisitados entre os engenheiros militares. A segurança do conhecimento
norteava a sua actuação que, por princípio, se fez versátil e pragmática. Prescindindo de
modelos rígidos, o urbanismo colonial português enriqueceu a experiência urbanizadora da
modernidade com uma imensa variedade de exemplos e situações diferentes. No século
XVIII, a amplitude deste quadro permite que se lhe d iga que era uma forma madura.
A sua maturidade também se mede pela sistematização que engendrou do fazer
cidades instituído como um legado do processo civilizatório. A criação urbana era, para a
Coroa portuguesa, um encargo e uma prerrogativa do colonizador. Incluindo-a entre os
trabalhos da administração colonial, a Coroa encarrega tal função a um corpo de funcioná­
rios. E, lucidamente, investe na sua formação e aperfeiçoamento, instituindo aulas e
distribuindo mestres pelos seus vários territórios. Uma "escola" cria-se, e renova-se conti­
nuamente numa metodologia, que tendo evoluído na experiência prática, d ivulga-se da
mesma fonma.
Pombal ou, no caso da Amazónia, Mendonça Furtado fazem uso dos métodos e dos
homens desta "escola de urbanismo português", para criar o dito "urbanismo pombalino".
São "funcionários do urbanismo", os técnicos que utilizam nos seus projectos, valorizando
o seu pragmatismo e, ao mesmo tempo, contando com a sua segurança e conhecimento.
Enquanto no Reino actuava a elite da Casa do Risco, na Amazónia trabalhava, na "Reforma
urbana", o corpo, não menos qualificado, dos técnicos da Expedição Demarcadora.
Entre as cidades criadas na região, Macapá é o exemplo mais representativo do
modelo do projecto refonmador, enquanto programa idelológico e enquanto forma. É a vila
planeada, desenhada com um método preciso, com relações formais que permitem a leitura
295
294 Conclusões
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

alegórica dos seus elementos. Nas praças, no nome das ruas e na forma urbis lêem-se as quando muito relacionadas com as outras aldeias administradas pela mesma missão. E ainda
alegorias do poder régio instaurador da vila. assim, o contacto que porventura tinham era escasso, e feito mais pelos padres que pelos
Mais do que isso a vila é, ela própria, alegoria da cidade, em essência, que se queria próprios índios.
fazer na região. Com posturas precisas regulando a vivência urbana nos mais elementa1-es É curioso que a falência mais notória do processo urbanizador se tenha dado na mais
detalhes, com a forma urbana legível e clara, Macapá é o modelo da vila civil e civilizada que "branca" das cidades fundadas na Amazónia, Mazagão. Curioso também que a despeito da
a Reforma pregava. Queria também ser o exemplo da vila colonial que verdadeiramente se grande referência simbólica que significou o nome dado à Vila de Barcelos, esta também
constituísse de colonos, a cuidar da terra e a fazer produzir o território. tivesse sido outra das falências, pois a cidade que foi a primeira capital do rio Negro hoje,
Belém é a capital, a sede do poder, e! única cidade que tem de facto este título. Aqui praticamente, não existe. Ironia provável do destino, com o grande projecto de Mendonça
a actuação da Reforma é mais modeladora que formadora. O espaço da sede do poder é, Furtado. Como já se tinha dito noutra altura, a Amazónia reserva-se o direito de ironizar os
por contingência, o espaço da disputa do poder. E a evolução urbana da capital faz-se com sonhos dos conquistadores e reformadores. Mas a verdade é que a maioria das o utras vilas
muitas disputas, repercutindo no espaço as tensões que a sociedade vivia. - as que nasceram dos aldeamentos reformados, as vilas de índios - estas sobreviveram.
Conjugam-se nas intervenções urbanísticas de Belém o peso da representação e a Transferiram-se índios inclusive para a vila que os destinatários brancos abandonaram. Os
importância da imagem. A linguagem que assume o urbano é o jogo das relações entre os mesmos que, por sua vez, tinham sido de lá tirados para colocar os mazaganistas. Um cerco
seus edifícios. Da sobreposição das imagens destes faz-se a imagem da cidade. É uma fechara-se. Se entre os objectivos da Reforma constava a real posse do território colonial,
linguagem barroca, de um arquitecto, que se faz entretanto sobre um tecido que é produto ela ali se fez. Durante todo o século XVII a posse interna da Amazónia não esteve garan­
do método básico dos engenheiros militares. E entre a malha e o volume nenhuma contra­ tida. As fronteiras encontravam-se virtualmente definidas, mas a terra não pertencia, concre­
dição se impõe. tamente, à Coroa. Era domínio dos índios - mais no sentido do conhecimento e da
A Vila Nova de Mazagão representa a utopia de que se nutriu o programa da ocupação que do poder. E era domínio das missões - que sobre os índios detinham algum
Reforma urbana. É a vila dos não-colonos, dos que se negaram a assumir o território poder. A transformação que se efectuara, submetendo a população indígena ao controlo
enquanto espaço de trabalho e de cultura. Não-colonos estes, como muitos outros, que directo do sistema político-administrativo da Coroa, permitira, finalmente, o domínio desta
desde o início da ocupação da Amazónia a povoavam. Aqui a Reforma ter-se-á obrigado a sobre a terra.
contrastar a intenção com a realidade. O seu programa que fora feito para "civilizar" os Neste contexto cabe outra vez falar de urbanização do espaço no sentido da orde­
índios incultos era necessário também para os próprios brancos, ditos civilizados. E Mazagão, nação do território. Com o estabelecimento dos termos das vilas e a divisão das suas áreas
ainda que desenhada sob o mesmo método, não logrou o intento de reformá-los. de jurisdição, tanto civis como eclesiásticas, estruturou-se, verdadeiramente, o mapa da
Mas, de certo modo, poder- se-ia dizer que não são estas as verdadeiras cidades da região amazónica. Estabelecida uma diferenciação entre as partes do território, este definiu­
Amazónia do século XVIII. Os três exemplos são de cidades que se fizeram para os brancos, -se de maneira mais específica. Os vários núcleos populacionais que representavam as novas
que são poucas entre as muitas outras que se fizeram para os índios a partir da reconversão vilas instituíam uma outra relação entre os conceitos de espaço rural e urbano. A situação
das aldeias. No entanto, aceitar tal argumento seria negar o objectivo da Reforma, que quis inicial do imenso território rural ligado apenas a Belém convertera-se numa estrutura com
anular a diferença. A intenção era que aqueles deixassem de ser índios, que encarnassem o níveis hierárquicos intermédios, o que representava um controlo mais preciso sobre a terra.
papel de colonos, que os outros não eram. Note-se a lei da liberdade e a política dos casa­ Mesmo que não se tenham anulado as relações prioritárias de centro-periferia que
mentos mistos e da "nobilitação" dos indígenas, com a determinação expressa no Directório, a capital estabelecia por si só com o território, este passou a ser mais conhecido e explo­
que estes fossem tratados sem infâmias, ao mesmo nível dos brancos. rado a partir da criação dos pequenos núcleos. E a ordenação que se fez no século XVIII foi
A vida urbana, civilizada, era a principal referência do novo status social que se lhes a base sobre a qual se realizaram todas as estruturações futuras por que passou o espaço
pretendia dar. E aí os exemplos de cidades deveriam fundir- se. Macapá ou Silves podiam ser da região. O mapa que Galluzzi desenhara com a divisão das freguesias serviu, no século
indiferentemente iguais, na forma inclusive ( como o são). Serpa, São José das Marabitenas, XIX, para a delimitação dos municípios criados durante o Império. Do mesmo modo as
Santarém, Óbidos ou Alenquer, com desenhos distintos e populações de tribos diferentes, grandes capitanias do Grão-Pará e do rio Negro deram origem às províncias imperiais e,
deviam, de qualquer modo, manter o mesmo significado essencial, o de serem "vilas" e não posteriormente, aos estados da República.
"aldeias de índios". Uma vez mais volta-se ao trabalho dos engenheiros na definição da urbanização da
E a grande diferença aqui residia. Pois só com a conversão das aldeias é que se pode Amazónia, entendida como um todo que engloba cidades e território. Os "funcionários do
de facto falar em urbanização do espaço amazónico, dado que só aí se estabeleceu uma urbanismo" marcaram a sua actuação nos dois campos concomitantemente. Com as medi­
rede de núcleos urbanos interligados uns aos outros. Antes, as aldeias missionárias estavam ções e demarcações do território, deram-no a conhecer e a explorar. Com a construção
296 297
Conclusões
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

das fortalezas estabeleceram a sua linha de defesa e soberania. Com o desenho e a "re­ Bastará para tal ver o exemplo da revisão do sistema educativo que o governador
forma" das cidades reproduziram, no espaço, o discurso da Reforma ideológica. propôs. À reforma instituída por Pombal, que exigia o ensino do latim, gramática e retórica,
E a importância que o sistema dá ao trabalho destes profissionais reflecte-se nas Sousa Coutinho contrapõe que " . . . ler, escrever e a doutrina Christam a todos he útil, e
preocupações que tem com a sua formação. A criação de Aulas na região, tanto no século necessária; Gramatica, Rethorica e Filosofia, em paiz tao atrazado como este, e donde em
XVII como no XVIII, atesta a valorização e a necessidade do seu trabalho e a continuidade nove anos apenas tem ido a Universidade dois . não sei que sirvão de utilidade a moci­
do processo educacional, que se repete nos mesmos moldes nos dois séculos em que a dade, que se destina a viver das suas lavouras ou a a servir na tropa . . . " (2)_
formação é feita na actuação. As lições são dadas pelo mestre experiente aos alunos que Da preocupação do poder pombalino em instituir uma "nova retórica para o seu
aprendem trabalhando. No quadro regional,•em que tantos profissionais qualificados foram novo discurso" <3l, passa-se ao simplismo da não-retórica. A opinião de Sousa Coutinho
contratados, é significativo ver que dois, dentre os que mais se distinguiram, formaram-se na sobre a aula de filosofia é também enfática: "Felizmente porém achou sempre poucos
própria região por este método: Wilkens e Sambucetti. [alunos], e por isso não teve meio de espalhar a libertinagem e dissolução revolucionária da
No final do século XVI I I , e já noutro tempo político, o governador do Estado, infeliz invenção deste século, que intimamente professava . . . " <•1 .
D. Francisco de Sousa Coutinho, reforçando uma vez mais a formação dos engenheiros, O contexto das ideias deste último governador setecentista da Amazónia não
continuará dizendo acerca das demarcações que: "Em trabalhos taes he forçoso que inter­ poderia escapar a esta referência à Revolução Francesa. Muito menos a própria região ficaria
venha o geometra, he preciso o socorro da trigonometria" < 1 1 . ilesa às suas influências, a despeito dos cuidados e das novas "reformas" impostas. As
D. Francisco de Sousa Coutinho foi o último governador da Amazónia no século primeiras décadas do século seguinte serão tempos conflituosos na Amazónia, que vai
XVI I I ( 1 790- 1 80 1 ). O contexto da sua actuação define-se pela maneira como impõe abrigar um questionador movimento liberal e depois uma verdadeira revolução, a
padrões comparativos aos procedimentos da reforma pombalina. Dez anos apenas haviam "Cabanagem".
passado desde o governo de João Pereira Caldas, o último dos administradores do período Contudo, o conjunto de reformas com que se concluíra o século das Luzes da
de Pombal. A postura de D. Francisco com relação a estes revela-se ao mesmo tempo Amazónia não deixa de ter sido também revolucionário. Mudara drasticamente o quadro da
crítica e respeitosa. Na grande variedade de memórias que escreveu sobre a gestão da região, e no contexto urbano, as vilas e cidades que deixou feitas, foram as mesmas que
região, o governador faz avaliações dos resultados da Reforma pombalina, em que, embora perduraram por mais um século. Já só no século XX, praticamente, a Amazónia voltou a ver
não a poupe de críticas, não deixa de apontar as suas "boas intenções". vilas e cidades novas serem fundadas, feitas em função da outra penetração no território
A dinâmica do seu governo e a multiplicidade de campos em que actua também, em provocada pela abertura das estradas, em especial, a Transamazónica e a Belém-Brasília.
vários pontos, é comparável com a amplitude das acções de Mendonça Furtado. Sousa E estas são tão recentes quanto a nova capital do Brasil.
Coutinho fez planos para o Estado que envolviam, inclusive, a conquista da Guiana Francesa. Brasília, aliás, é um bom pretexto para reinvocar a vanguarda da metodologia da
Planeou o estabelecimento de um serviço de correios e comunicações em toda a região, urbanização das cidades da Amazónia no século XVI I I feitas, como a capital, sobre o discurso
reformou o arsenal da marinha e fomentou a construção de navios para a marinha mercante do poder que as constituía. Serve também para lembrar a permanência da "utopia" que,
e de guerra portuguesa e criou uma pequena esquadra de lanchas rápidas para a defesa da inevitavelmente, paira sobre tais projectos .
costa. Levantou o censo do Estado, e experimentou a fundação de uma organização
bancária com o capital dos colonos. Além de escrever e ponderar sobre as principais ques­
tões do Estado, envolvendo a agricultura, as demarcações de terras, a questão dos índios e
o ensino.
As suas atitudes são também, em certa medida, reformistas e, em alguns aspectos,
condizentes com as reformas de Mendonça Furtado. Para ambos não se questionava o esta­
tuto da colónia e os investimentos na região visavam, no todo, a ideia do Reino que se forta­
lecia. Mas o cunho "utópico", e num certo sentido "revolucionário", do projecto reformador
pombalino, que se julgava capaz de fazer a Restauração-Ressurreição da Amazónia, perde­
-se. Sousa Coutinho não deixa de ser reformista, mas a sua reforma é-o apenas no sentido
crítico da reordenação. A sua acção, mais que tudo, é pautada por um cunho pragmático
que, se questiona o contexto administrativo colonial, o faz apenas com intenções de torná­
-lo mais eficaz.
Notas

(1) AHU, Pará Caixa 761 (48) / 26 de Julho de 1797.


Carta de D. Francisco de Sousa Coutinho à Rainha.
(2) AHU, Pará Caixa 805 / 29 de Janeiro de 1799.
Carta de D. Francisco de Sousa Coutinho à Rainha.
(3) V. Maria Leonor Buescu, Uma Novo Retórico poro
um Novo Discurso, in "Pombal Revisitado", vol. 1,
Editorial Estampa, Lisboa, 1984, pp. 169-180.
(4) idem, nota 2.

Apênd ices
Quadro Cronológico - 2.' metade do século XVI I I

Ano Amazónia Portugal


1 750 D. José é proclamado rei.
Tratado de Madrid.
Sebastião José de Carvalho e Melo, Secretário
dos Negócios Estrangei ros e da Guerra.
Diogo de Mendonça Corte Real, Secretário de
Estado da Marinha e Ultramar.
1 75 1 Governador do Estado do Pará FRANCISCO
XAVIER DE MENDONÇA FU RTADO
( 1 75 1 - 1 759).
Transferência da capital do Estado de
S. Luís para Belém.
Aprovação da i nstalação do seminário em
Belém, Padre Gabriel Malagrida.
Governador envia uma expedição para Macapá
com colonos açorianos.
1 753 Chegada dos técnicos da Expedição.
Demarcadora de Limites.
1 754 Instalação de colonos açorianos em Bragança.
Primeira planta da povoação de Macapá.
1 755 Instalação da Companhia Geral de Comércio Real Junta do Comércio.
do Grão-Pará e Maranhão.
I ntrodução da moeda no Estado. Terramoto e destruição de Lisboa.
Decreto régio tirando o poder temporal dos Manuel da Maia entrega a primeira parte do
missionários sobre os índios. memorial sobre a reconstrução da cidade.
Criação da Capitania de S. José do Rio Negro.
1 756 Chegada dos primeiros escravos negros Sebastião José de Carvalho e Melo assume a
trazidos pela Companhia. Secretaria de Estado dos Negócios do Reino.
Instalação da fábrica de panos em Santana Tomás da Costa Corte Real assume a
(Macapá). Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar.
Manuel da Maia entrega a segunda parte do
memorial sobre a reconstrução de Lisboa.
Constituição da Casa do Risco.
Companhia de Pesca da Baleia.
Companhia de Agricultura das Vinhas do
Alto Douro.
1 757 Posse do primeiro governador da Capitania do
Rio Negro JOAQUIM DE MELO E PÓVOAS.
"Directório" dos índios.
Concessão do exclusivo do comércio de
Cabo Verde à Companhia do Grão-Pará e
Maranhão.
Chegada dos engenheiros Manuel Álvares
Calheiros e Tomás Rodrigues da Costa.
1 758 Retirada dos Missionários de S.'º António da Atentado contra D. José 1.
Piedade e da Conceição da Beira e Minho.
Tomás Rodrigues da Costa assume o comando
de Macapá.
Elevação oficial de Macapá a vila.
Viagem do governador de fundação das vilas.
Recriação da Aula de Fortificação em Belém,
com Manuel Álvares Calheiros.
302 303
As Cidades da Amazónia no Século XVIII Apêndices

1 759 Partida de Francisco Xavier de Mendonça Sebastião José de Carvalho e Melo é feito 1 772 Posse do governador JOÃO PEREIRA Reforma da Universidade de Coimbra.
Furtado para Portugal. Conde de Oeiras. CALDAS ( 1 772- 1 780).
Posse d e MANUEL BERNARDO D E MELO Companhia de Pernambuco e Paraíba. Planos para a capela de S. João Baptista Reforma da Inquisição.
E CASTRO como governador do Estado (Landi).
( 1 759- 1 763). Posse do 5.' bispo do Pará, D. Frei João Nova Refornna do Exército.
Decreto de Expulsão dos Jesuítas do Estado. Evangelista Pereira ( 1 772- 1 782).
1 760 Frei Miguel de Bulhões, 3.' bispo do Pará Francisco Xavier de Mendonça Furtado assume 1 773 Companhia Geral das Pescar-ias do Reino do
( 1 749- 1 760), renuncia ao Bispado do Pará a Secretaria de Estado d a M arinha e Ultramar. Algarve.
para assumir o bispado de Leiria. 1 774 Edificação de Vila Real de S." António.
D. Frei João de São José e Queiroz a�sume o Carlos Mardel sucede a Eugénio dos Santos na 1 775 Viagem do governador a Macapá, Mazagão e In auguração da estátua equestre de D. José 1,
Bispado do Pará ( 1 760- 1 763). Casa do Risco. Vila Vistosa. em Lisboa.
1 76 1 Divisão das fazendas dos Jesuítas no Marajá. Nasce D. José, Príncipe da Beira. Estrada para o Piauí e Maranhão.
Construção do Arsenal em Belém. 1 77 6 Festas de Inauguração do obelisco e de Vila
Inicio da construção d a lgr·eja de Santana em Real de Santo António.
Belém (Landi). Pro1ecto para Nova Goa.
Elaboração das Posturas de Macapá. 1 777 Abertura da Sé de Belém ao público. Tratado de Santo Ildefonso.
Planta de Gronsfeld d a Vila de Macapá e Fim das obras da igr·eja de São João Baptista Morte de D. José 1.
projecto de fortificação. (Landi).
1 763 Posse de FERNANDO DA COSTA D E Governo do Brasil passa para o Rio d e J aneiro. D. Maria I sobe ao trono.
ATAÍDE TEIVE como governador do Estado
Desgraça de Pombal
( 1 763- 1 772).
1 778 Extinção da Companhia Geral de Comércio do
Sé vacante, o 4.' bispo do Pará, Frei João de Miguel Ângelo Biasco sucede a Carlos Mardel
Grão-Pará e Ma,·anhão.
S. José, é chamado á corte. na Casa do Risco.
Reivindicações dos mazaganistas para
Chegada do padre inquisidor Geraldo José de
abandonar a vila.
Abranches e inicio da visitação do Santo Oficio
1 780 Posse de João Pereira Caldas como
da Inquisição no Estado ( 1 763 - 1 769).
Plenipotenciário das demarcações e do
Construção das olarias e casas de câmara
engenheiro Teodósio Constantino de
nas vilas do Estado.
Chernnont como I .º Comissário.
1 764 Inicio da construção do plano definitivo da In icio do Passeio Público em Lisboa.
Posse de JOSÉ NÁPOLES TEL0 D E
fo rtaleza de S . José d e Macapá, d e autoria
M ENESES como governador do Estado
de Galluzzi. ( 1 780- 1 783).
1 767 Inicio das obras do palácio dos governadores 1 78 2 Inauguração da fortaleza de S . José de Morte do Marquês de Pombal.
em Belém (Landi).
Macapá no dia de S. José.
1 769 Estátua do Rei em Belém, polémica entre Sebastião José de Carvalho e Melo é feito 1 783 Chegada de Alexandre Rodrigues Ferreira e
Landi e Reinaldo Manuel dos Santos Marquês de Pombal.
seus desenhistas e inicio da "Viagem Filosófica".
( 1 769- 1 770).
Posse de MARTI NHO DE SOUSA
Exame do local de instalação da nova Decisão de abandonar Mazagão em Áfri ca e
ALBUQUERQUE como Governado,· do Estado
povoação de M azagão e planta feita por transferir a população para a Amazónia. ( 1 783- i 790).
Domingos Sambucetti.
Posse do 6." bispo do Pará, D. Frei Caetano
Morte de Galuzzi. Morte de Francisco Xavier de Mendonça
Brandão ( 1 783- 1 790).
Furtado.
Permissão dada aos mazaganistas para
1 770 Chegada dos primeiros mazaganistas a Belém. Reinaldo Manuel dos Santos assume a direcção
abandonarem a Vila Nova de Mazagão.
d a Casa do Risco.
1 790 Posse do governador D. FRANCISCO
Inicio dos trabalhos de instalação d a povoação Martinho de Melo e Castro assume a
INOCÊNCIO DE SOUSA COUTINHO
de Nova M azagão. Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar.
( 1 790- 1 803).
Designado como oficial responsável pela nova Morte de Paulo de Carvalho. 1 79 1 Morte de Landi. Mo1ie de Reinaldo Manuel dos Santos.
vila, lgnácio de Castro de Moraes Sarnnento.
Pl anta Geral de Belém de Teodósio
1 77 1 Final das obras d a Sé (Landi). Constantino de Chermont.
Final das obras do Palácio dos Governadores
(Landi).
Projectos de Gronsfeld para Belém.
Quadro Urbano da Amazónia no Século XVI I I 3 05
Apêndices

Ano Localidade Oficial presente Categoria Aldeia Missão 1 758 Tomar Mendonça Furtado vila Bararoá Carmelita
1616 Belém cidade 1 758 Poiar·es Mendonça Furtado lugar Cumaru Carmelita
1 637 Cametá vila 1 758 Carvoeiro Mendonça Furtado lugar Araçary Carmelita
1 639 Gurupá vila 1 758 Ayrão Mendonça Furtado lugar Jahu Carmelita
1 693 Vigia vila 1 758 Moreira Mendonça Furtado lugar Camará Carmelita
r
1 747 Cachoeira f eguesia 1 758 Lamalonga Mendonça Furtado lugar Dary Carmelita
1 750 Abaetetuba freguesia 1 758 Acará Mendonça Furtado freguesia
1 752 lgarapé-Miri Frei Miguel de Bulhões freguesia 1 758 Viseu Frei Miguel de Bulhões freguesia
1 754 Bragança Ouv. Dinis Pinheiro vila 1 758 S. Domingos Frei Miguel de Bulhões freguesia
1 754 Ourém Ouv. Dinis Pinheiro vila 1 758 Guamá Frei Miguel de Bulhões freguesia
1 754 S." Ana Mendonça Furtado lugar 1 758 Beja vila Sumauma jesuíta
1 754 N.' S.• Piedade Frei Miguel de Bulhões freguesia 1 758 Vilar·inho lugar Cavhiana Piedade
1 754 Moju Frei Miguel de Bulhões freguesia 1 758 Villar lugar Guainazes
1 754 Turiassú lugar 1 758 Nogueira lugar
1 755 Cintra Ouv. Feliciano Mourão vila Maracanã Jesuíta 1 758 Carrazeda lugar Arapijó Piedade
1 756 Borba Mendonça Furtado vila Trocano Jesuíta 1 759 Serpa Joaquim Melo e Póvoas vila Abacaxis jesuíta
1 756 S. José Javari Mendonça Furtado vila Javari 1 759 Silves Joaquim Melo e Póvoas vila Anibaré Mercês
1 757 Colares lugar Coaby Jesuíta 1 759 Ega Joaquim Melo e Póvoas vila Tefé Carmelita
1 757 Rebordelo lugar Piye 1 759 Olivença J oaquim Melo e Póvoas vila S Pedro Carmelita
1 757 Condeixa lugar 1 759 Fonte Boa Joaquim Melo e Póvoas lugar Tracotuba Carmelita
1 757 Muaná Frei Miguel de Bulhões freguesia Muaná 1 759 Alvelos Joaquim Melo e Póvoas lugar Coary Carmelita
1 757 Monfor-te Des. Pascoal Madeira vila Joanes S.'º António 1 759 Alvarens Joaquim Melo e Póvoas lugar Urauá Carmelita
1 757 Monsaraz Des. Pascoal Madeira vila Caya Conceição 1 759 Castro Avelãs Joaquim Melo e Póvoas lugar Maturá Carmelita
1 757 Soure Des. Pascoal Madeira vila M. Jesus S.'º António 1 759 S." Ana lugar
1 757 Salvaterra Des. Pascoal Madeira vila Conceição Conceição 1 759 S." Bárbara lugar
1 757 Mondins Des. Pascoal Madeira lugar S. José S.'º António 1 760 Marabitenas M. B. de Melo e Castro lugar Fortaleza
1 757 Chaves vila Anajatiba S.' António
0
1 76 1 S. Bernardo M. B. de Melo e Castro lugar
1 757 V. N . dei Rey Ouv. Dinis Pinheiro vila Curussá Jesuíta 1 76 1 N.' S.' de Nazaré lugar Fortaleza
1 757 Porto Salvo Ouv. Dinis Pi nheiro lugar Mamayassú Jesuíta 1 763 S. Gabriel lugar Fortaleza
1 757 Odivelas Ouv. Feliciano Mourão freguesia S. Caetano jesuíta 1 766 Tabatinga lugar Fortaleza
1 758 Oeiras Mendonça Furtado vila Araticu Jesuíta 1 768 S. Fernando F. C. Ataíde Teive lugar
1 758 Melgaço Mendonça Furtado vila Guaracuru Jesuíta 1 769 Baião lugar
1 758 Portel Mendonça Furtado vila Arucará Jesuíta 1 769 Vila Vistoza vila
1 758 Macapá Mendonça Furtado vila Fortaleza 1 770 Mazagão vila
1 758 Arraiolos Mendonça Furtado vila Guarimocu Conceição 1 772 S. Mathias lugar
1 758 Esposende Mendonça Furtado vila Tubaré Conceição 1 772 Loreto lugar Maçarabi
1 758 Almeirim Mendonça Furtado vila Paru S.'º António 1 774 S." Isabel João da Maia Gama lugar
1 758 Outeiro Mendonça Furtado lugar Urubuqua. S.'º António 1 775 S . Joaquim M. Gama Lobo Almada lugar Fortaleza
1 758 Monte Alegre Mendonça Furtado vila Gurupatu. Piedade 1 780 Alcobaça J. N. Telo de Meneses lugar Fortaleza
1 758 Alter do Chão Mendonça Furtado vila Borari Jesuíta 1 780 N.' S.• Socorro J. N. Telo de Meneses freguesia
1 758 Vila Boim Mendonça Furtado vila S. Inácio Jesuíta 1 78 1 Aveiro J. N. Telo de Meneses lugar
1 758 Pinhel Mendonça Furtado vila S. José Jesuíta 1 78 1 Mortágua Ouv. André Monteiro lugar
1 758 Santarém Mendonça Furtado vila Tapajós Jesuíta 1 78 1 Vai de Açores Ouv. André Monteiro lugar
1 758 Vila Franca Mendonça Furtado vila Comaru Jesuíta 1 78 1 Cantanhede Ouv. André Monteiro lugar
1 758 Óbidos Mendonça Furtado vila Pauxis Piedade 1781 Tentúgal Ouv. André Monteiro lugar
1 758 Barcelos Mendonça Furtado vila Mariuá Carmelita 1 782 S Pedro J . N. Telo de Meneses lugar
1 758 Vila do Conde vila Mortigura Jesuíta 1 783 Breves J. N. Telo de Meneses lugar
1 758 Pombal Des. Pascoal Madeira vila Piragury Jesuíta 1 784 S. Marcelino lugar
1 758 Veiros Des. Pascoal Madeira vila ltacurusá Jesuíta 1 784 N : S: da Guia lugar
1 758 Souzel Des. Pascoal Madeira vila Aricará jesuíta 1 784 Penacova lugar
1 758 Porto de Mós Des. Pascoal Madeira vila Maturú Piedade 1 796 Santarém Novo lugar
1 758 Alenquer vila Surubiu Piedade 1 797 S. J. Araguaia lugar
1 758 Faro vila Nhamundá Piedade 1 798 Juriti lugar
1 758 Moura Mendonça Furtado vila Pedreira Carmelita
Inventário da Documentação Levantada sobre os Engenheiros
e as Vilas da Amazónia no Século XVI I I
Observações Gerais

A organização deste pequeno inventário fez-se no intuito de sistematizar· a documentação e a informação


bibliográfica recolhida sobre os engenheiros que trabalharam no Grão-Pará, nos séculos XVII e XVIII, e sobre as vilas
que no mesmo período se fundaram. Não se pretendeu fazer um levantamento completo sobre o assunto, mas apenas,
como já se disse, sistematizar os resultados da recolha efectuada.
Sobre cada engenheiro (ou outros técnicos ligados à urbanização) fez-se uma listagem das refer·ências encon­
tradas a seu respeito, tanto na bibliografia específica, como na documentação manuscrita. Em cada item os dados estão
organizados por ordem cronológica, com a indicação da data dos documentos que os mencionam.
Muitas das car1as trocadas entre o governador e o bispo do Pará trataram de assuntos relacionados com os
engenheiros fazendo, via de regra, referências conjuntas a vários deles. Esta documentação foi listada num item desig­
nado "vários", disposta também em ordem cronológica.
Os itens relativos às vilas contêm um breve texto com alguns dados históricos e nos casos em que se encon­
trou documentação ou iconografia especifica, estas também vêm indicadas.

Algumas abreviaturas utilizadas neste inventário: *

Nomes Pr·óprios
FXMF - Francisco Xavier de Mendonça Furtado
MBMC - Manuel Bernardo de Melo e Castro
SJCM - Sebastião José de Carvalho e Melo

Indicações Bibliográficas
VITERBO, x, y - Sousa Viterbo, Dicionário Histórico e Documental dos Engenheiros e Construtores Portugueses,
3 volumes, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1 899- 1 922; seguido do número do tomo e da página do verbete
citado.
FARO, s, y - Sousa Viterbo, Expedições Científico Militares enviados ao Brasil, Coordenação, Aditamentos e
Introdução de Jorge Faro, 2 volumes, Edições Panorama, Lisboa, 1 962; seguido do número do tomo e página do
verbete.
MCM, AP, x - Marcus Carneiro de Mendonça, A Amazónia no Era Pombalino Correspondência Inédita do
Governador e Capitão General do Estado do Grão-Porá e Maranhão ( 1 75 1 - 1 759), São Paulo, GráfLca Carioca, 1 963.
BAENA, x - António Baena, Ensaio Corográfico sobre o Província do Porá, Pará, Typografia de Santo & Menor,
1 839.
Viagem Filosófica - Alexandre Rodrigues Ferreira, Viagem Filosófico pelos Capitanias do Grão-Porá, Rio Negro,
Moto Grosso e Cuiobá, 1 783- 1 792, Conselho Federal de Cultura, Rio de Janeiro, 1 97 1 (as citações referem-se, especi­
almente ao volume de Iconografia).

* As referências documentais fazem uso das abreviaturas listadas na página 1 3 e seguem os preceitos gerais
utilizados nas notas.
Índice Engenheiros < 1 > Índice Vilas

Vários Alenquer Moreira


Francisco Frias de Mesquita ( 1 6 1 5) Almeirim Moura
Tomé Pinheiro de Miranda ( 1 66 1 - 1 685) Alter do Chão Muaná
Pedro de Azevedo Carneiro ( 1 685- 1 692) Alvaraens Vila Nova dei Rei
Custódio Pereira ( 1 69 1 - 1 724) Alvellos Óbidos
José Velho de Azevedo ( 1 693- 1 7 1 1 ) Anrayolos Odivelas
Sebastião Pereira ( 1 7 1 8) Aveiro Oeiras
Alexandre dos Reis ( 1 72 1 ) Ayrão Olivença
Carlos Varjão Rolim ( 1 727- 1 755) Barcelos Ourém
Carlos Ponzoni ( 1 750) Beja Outeiro
Desidério Sales Correia ( 1 752) Vila Boim Pinhel
Adam Leopoldo Breuning ( 1 75 3- 1 755) Borba Poiares
Gregório Rebelo Camacho ( 1 753- 1 755) Bragança Pombal
Sebastião José da Silva ( 1 753- 1 758) CachoE:; ,ra do Arari Portel
João André Schewebel ( 1 753- 1 757) Camutá Porto de Mós
Henrique Galuzzi ( 1 753- 1 769) Carrazeda Rebordelo
João Ângelo Bruneli ( 1 753) Carvoeiro Salinas
Domingos Sambucetti ( 1 753- 1 77-) Castro de Avelans Salvaterra
Felipe Sturm ( 1 753- 1 775) Chaves Santarém
Gaspar Gronsfeld ( 1 753- 1 773) Cintra Santarém Novo
António José Landi ( 1 753- 1 79 1 ) Colares S. Gabriel da Cachoeira
Henrique Wilkens ( 1 754- 1 77-) Vila do Conde S. Joaquim do rio Branco
Manuel Alvares Calhei ros ( 1 757- Condeixa S. João de Araguaia
Tomás Rodrigues da Costa ( 1 757- 1 76 1 ) Ega S. José das Marabitenas
Manuel Guedes ( 1 759) Esposende Serpa
Manuel Gotz ( 1 76 1 ) Faro Silves
Florêncio Bastos ( 1 767- 1 789) Fonte Boa Soure
José Pinheiro de Lacerda ( 1 773) Vila Franca Souzel
Alexandre José de Sousa ( 1 773) Gurupá Tabatinga
João Vasco Manuel de Braum ( 1 780- 1 79-) Lamalonga Tomar
Teodósio Constantino de Chermont ( 1 780- 1 79-) Manaus Tu,·iassú
Oficiais Mecânicos Melgaço Veiros
Mondim Vigia
Monforte Vilarinho do Monte
Monte Alegre Villar
Monsaraz Viseu

( 1) As datas entre parêntesis referem-se aos anos de


permanência dos engenheiros na Amazónia.
Engenheiros 3 13
Inventário

VÁRIOS fez uma grande desordem no caminho. O padre logo, que não tinham nesta cidade nada que pertender tas que mostr.im o prospecto da Sé e de outras igrejas.
1 752 Samartoni fica mais na razão e os italianos são os mais além do seu soldo, que era unicamente o que haviam de (AHU, Caixa 739G (20))
contumazes, sendo o desenhador inteiramente protegi­ cobrar". Fala do caso de Gronsfeld que o bispo interce­
1 /7/ 1 752 Carta de Manuel de Campos de Lisboa, "Aqui
do pela companhia". (MCM, AP, p. 72 1 ) dera a seu favor e que o governador julgando ser um
veio um mapa do Maranhão o qual tem tido uma uni­ 1 76 1
1 3/7/ 1 75 5 Famosa carta de FXMF dando a sua opinião pedido de ajuda de custo diz que esta não cabia no seu
versal estimação e disse-me um douto engenheiro que o 23/6/ l 76 I Cópia da carta de MBMC assinada por· ele e
sobre todos os integrantes da expedição. (MCM, AP, poder. Ver Gronsfeld. (POMB 1 6 1 , fis. 9 1 V e 92)
viu, que estava excelente, e que não sabia quem estava os engenheiros sobre a escolha do local do Arsenal.
pp. 764-765) 1 /7/ 1 75 6 Carta de FXMF ao bispo falando de todos os
no M aranhão que o pudesse fazer e, enquanto ando a Assinam MANUEL CALHEIROS, HENRIQUE ANTÓ­
1 9/7/ 1 75 5 Carta de FXMF a SJCM. Fala de um moço ita­ engenheiros que tinham deixado o anrayal para Belém
caça delle, que finalmente me ha de chegar a mão, deze­ NIO GALUZIO e MANUEL FRITZ GOTZ.
liano* muito hábil nas observações astronómicas que desde o início do ano. Em Janeiro fora GRONSFELD,
jaria saber quem he o autor"*. (POMB 63 1 , fi. 52) 1 6/ 1 1 / 1 76 1 Carta de MBMC com uma cer"tidão do
ultimamente LANDI para tratar das coisas do casamen­
* poderia ser de Varjão Rolim pedia para ser admitido como ajudante-engenheiro. O engenheiro constnutor da nau. Cita Belidor. (AHU, Caixa
to, fala também de BRAUNIG que já havia morrido e de
governador é de parecer favorável mas não diz o nome 7391 (2 1 ))
1 4/ 1 1 / 1 75 2 Carta régi a determinando a constnução de GREGÓRIO REBELO que tinha já ido para o Reino.
do moço. (MCM, AP, p. 777)
uma fortaleza no rio Br·anco dizendo que deviam ser
ouvidos os "engenheiros que nomearei para este * provavelmente Sambucetti (POMB 1 6 1 , fi. 84)
FRANCISCO FRIAS DE MESQUITA
1 8/ 1 1 / 1 75 6 "Car"ta com o rol da cousas que são preci­
exame". (APP cod. 884, fi. 1 2) 27/7/ 1 75 5 Carta do bispo a FXMF. Fala de GRONS­
sas para as reais obras de SM". Feito ou por· um enge­ 1 6 1 5- 1 64-
22/ 1 1 / 1 752 Carta régia sobre o estabelecimento de FELD e GALUZZI, ambos na cidade. O pr·imeiro tinha
nheiro ou um mestre de obras. (AHU, Caixa 739F ( 1 8)) 1 603 . . . Foi para o Brasil em 1 603 e assumiu o encargo
mais academias militares, acompanhada da cópia d a ficado para cuidar das fortificações e queria ir para o
de fo rtificador do país. Fez o plano de São Luís em 1 6 1 5.
carta régia de 24/ 1 2/ 1 732. (APP c o d . 884, fis. 25 e 26) arraial e o segundo estava para fazer os marcos e as
1 759 Não se sabe exactamente quando regressou do Brasil.
canoas que os transportassem. (POMB 627, fi. 1 88-9)
2/ 1 / 1 75 9 Carta de MBMC. "também devo dizer que Nos primeiros anos da década de 40 já estava no Reino.
1 6/8/ 1 75 5 Car"ta do bispo ao governador sobre expedi­
1 753 para aqui vieram 2 astronomos sendo três as tropas que (VITERBO, 1, 376)
ção a Joanes e escolha do tenreno para uma vila e forti­
Junho/ 1 75 3 Referência a uma planta de fortificação par·a se devem expedir, e tb do corpo dos engenheiros faltam
ficação. Refere a necessidade de levar engenheiros.
Joanes. (AHU, Caixa 737 ( 1 4)) o s�r·gento mo,: SEBASTIÃO JOSÉ DA SILVA, o capitão TOMÉ PINHEIRO DE MIRANDA
(AHU, Caixa 796)
1 753 Listagem dos membros da expedição com os res­ JOAO ANDRE SCHEWEBEL que for.im para lá e o 1 66 1 - 1 685
1 4/ 1 1 / 1 75 5 Carta de FXMF a SJCM. Fala da importância
pectivos soldos. (MCM, AP, p. 384) tenente BRAUNING que faleceu nesta cidade, e tam­
de M acapá e da necessidade de se construir um forte; 1 66 1 Depois de ter trabalhado no Minho sob as ordens
8/ I O/ 1 75 3 Carta do gov. FXMF acusando a chegada dos bém faltam o ajudante HENRIQUE GALUZZI para ir
julga que não tem engenheiros à altura por os que o de M iguel Lescol, foi para o M aranhão em 1 66 1 acom­
instrumentos pedidos pelos astrónomos lgnácio com João Pereira Caldas para a capitania do Piauy, cuja
poderiam fazer serem estrangeiros. Fala mal de panhando o governador Pedro Cézar· de Menezes.
Stermartoni e Ângelo Bnuneli. Inclui lista dos instnumen­ diligência não poderá concluir com menos de três anos.
Sebastião José, inábil e incapaz para este trabalho e pede (VITERBO, li, 277)
tos e livros de geografia. (AHU, Caixa 737 ( 1 4)) Além dos 2 astrónomos que acima digo. Acham-se aqui
o envio de mais engenheiros, citando o regresso de
d e engenheiros o capitão JOÃO GERALDO DE
Gregório Rebelo e a mor"te de Adão Leopoldo. Pede PEDRO DE AZEVEDO CARNEIRO
GRONSFELD, o capitão FELIPE STRURM e o tenente
1 754 também que sejam remetidos "dez ou doze oficiais de
1 685- 1 692
MANOEL GOTZ e além desses dous ajudantes,
6/3/ 1 754 Carta de FXMF ao bispo "enquanto não che­ pedreiros bons para serem mestres de obra e ensinarem
DOMINGOS SAMBUCETTI e HEN RIQUE WILKENS 1 685 Foi nomeado em 1 685 para substituir Tomé
gar o ministro de Castela estarei no Branco com os bastantes índios, que em pouco tempo, suposta a habili­
que a ambos o Exmo. Sr FX aqui proveu acha-se tam­ Pinheiro de Miranda. Viajou com o governador Gomes
engenheiros a examinar a parte onde melhor se possa dade que tem, os ajudariam muito bem e adiantariam a
bém o sargento-mor MANOEL ÂLVARES CALHEIROS Freire de Andrade. Foi o autor d a fortaleza d a Barra no
fundar a nova fortaleza que S. Mag. determina". (BNL, obra bastantemente" (MCM, AP, p. 835)
que ainda que se ocupando com a leitura da aula, me Pará e do forte de João Dias no Maranhão. Num docu­
cod. 1 1 4 1 5) não poderei dispensar de o mandar para cima, por·que mento por ele assinado, em 1 692, faz referência a estes
9/3/ l 754 Carta de FXMF a SJCM falando de um rapaz*, 1 756 ainda que me foi mandado para esta diligencia sempre dois fortes e a utilização do Método Lusitânico na cons­
enteado do boticário da rainha-mãe que como tinha 28/2/ l 756 Carta do bispo a FXMF, sobre CARLOS creio que será muito necessário naquele anraial. Deste tnução do segundo, posto que o primeiro fizera "circular
noções de geometria tinha sido entregue ao Pe. VARJÃO ROLIM, GALUZZI e GRONSFELD, e a viagem corpo de astrónomos e engenheiros verá VE se é preci­ como o forte do Bugio". (VITERBO, 1, 78 e AHU, carto­
Samartoni para ser educado na engenharia e este agora do ouvidor a M acapá. (POMB 628, fis. 86-87) so maior numero, porque devendo as tropas levar ofici­ grafia Maranhão 828-829, 830-83 1 )
pedia o posto de ajudante engenheiro, que ele encami­ 6/3/ 1 75 6 Carta do bispo a FXMF. Pede que algum dos ais dobrados bem se compreende que não chegam estes
nhava ao rei o pedido. Fala também de uma petição de engenheiros desenhe o risco dos reparos a serem feitos nas para a dita exposição". (BNL, cod. 1 1 4 1 5, fi. 26)
CUSTÓDIO PEREIRA
STURM. (MCM, AP, p. 535) várias fortalezas para evitar gastos inúteis. Galuzzi já chega­ 4/ 1 / 1 759 Carta do governador do Pará ao governador
* provavelmente Wilkens ra ao anraial aonde tinha ido com as pedras. Gronsfeld rei­ do Maranhão. "O engenheiro'' que VS me fala, natural­
1 69 1 - 1 724

r 1 69 1 Foi nomeado em 1 69 1 como capitão, para substi­


vindica ir para o ar aial. (POMB 628, fis. 98-99) mente deverá ir com o Sr João Pereira se poder reduzir
tuir Pedro de Azevedo Carneiro. Trabalhou como arqui­
1 755 1 4/4/ 1 75 6 Carta do bispo a FXMF. Pede que o gover­ algum a que saia daqui a gosto, porém não me parece
tecto, fez o projecto da sé de S. Luís. Em 1 705 assume
nador permita que se paguem aos engenheiros seus sol­ que poderá por ora ahy por AULA, porquer he preciso
7/7/ 1 75 5 Carta de FXMF a SJCM "Devo ultimamente o posto de sargento·- mor engenheiro e passa a ter obri­
dos enquanto estiverem de licença em Belém, posto que para as grandes demarcações do Piauhy". (POMB 1 50,
informar a VE que entre todos os oficiais que vieram, o gação de dar aula. Trabalhou em ltapitupara, Gunupá e
fi. 4)
ajudante FELIPE STURM se não meteu nunca em parci­ sem eles não se podem sustentar. Cita a morte de Adão
alidades, e que tem procedido na forma que em outra Leopoldo quando voltava para o Arraial para buscar * Irá Galuzzi. Notar o interesse pela instalação d a Aula Alcântara. (VITERBO, li, 245)

no Piauí. 1 5/ 1 / 1 699. Treslado de carta régia sobre haver AULA e


aviso a VE e que o capitão (SCHEWEBEL) ainda que foi dinheiro, e o trabalho e Gronsfeld, que não podia rece­
o engenheiro ensinar fortificação. (AHU, Caixa 825 ,
atacado para aquela união se retirou dela logo e me veio ber. (POMB 628, fis. l 23- l 24V) 1 4/2/ 1 759 Carta de FXMF sobre a constnução do
maço 1 , fi. 27)
dar parte e tem vivido neste arraial com quietação e ser­ 29/6/ 1 75 6 Carta de FXMF ao bispo referindo-se aos sol­ Boqueirão de S. Luís afirma que deveria ir um engenhei­
vido com préstimo. O outro o capitão GRONSFELD, dos dos engenheiros que saíam de licença do arraial para ro com o governador do Piauhy o qual enquanto esti­
tem também préstimo e como não lidei com ele mais do a cidade "Na conformidade do que acima digo verá VE vesse esperando monção poderia se ocupar de dese­ JOSÉ VELHO DE AZEVEDO
que na jornada, porque logo que aqui chegou foi doen­ que não so não enganei estes homens, perque o não nhar a obra. (POMB 1 59, fi. 1 3 3) 1 693- 1 7 1 1
te para o Pará, não sei se emendaria da causa com que costumo fazer a ninguem, mas antes lhes declarei aqui 28/3/ 1 75 9 Referência numa carta do bispo a umas plan- 1 693 Carta patente de José Velho de Azevedo em que
3 14 315
As Cidades da Amazónia no Século XVIII Inventário

diz que o engenheiro tinha trabalhado nas províncias da do seminário. Suge,·e que seja contíguo ao palácio epis­ ADAM LEOPOLDO DE BREU NING Engenheiro Sebastião José da Silva pa,·a governar o arrai­
Beira e Trás-os-Montes e que for-a mandado passa,- ao copal e que importa,·á em 1 8 até 20 000 cnuzados. 1 753- 1 755 al enquanto Mendonça Furiado foi fundar a Vila de
Pará por período de 8 anos como sargento-mor enge­ (AHU, Caixa 739A ( 1 2)) l /6/ 1 75 3 Carta de recomendação de Adam Leopoldo Borba-a-nova. (MCM. AP, 886-888)
nheiro. Em 1 689 foi nomeado sargento-mor ad honorem 20/9/ l 747 Resposta do governador Pedro de Gu�ão Breuning passada por Manuel Saldanha e Albuquerque. 25/ 1 l / 1 758 Carta de FXMF dizendo da petição que o
da capitania do Rio de Janeiro com obrigação de aí da,­ sobre uma intimação que tinha sido feita ao engenheiro (POMB 625, íl. 1 49) engenheiro lhe tinha feito, por· ter vindo em 1 753 e já
aula. (VITERBO, 111, 1 73) Cai-los Varjão Rolim para este ir a S. Luís ver· as possibi­ estar com idade avançada, que fosse mandado de volta
1 9/71 1 755 Carta de FXMF a SJCM fala de Gregório
8/7/ 1 695 Planta da fortaleza da Barra do Pará com carta lidades da obra do boqueirão. É dito que não podia por Camacho (ver) e de Adão Leopoldo Breuning que tinha para o Reino, o que lhe é concedido dado que o gover­
do engenheiro. (AHU, cariografia Pará 789) estar ocupado com reparos na fortaleza de Santo Cristo. pedido licença para ir ao Reino e que lhe tinha sido con­ nador efectivamente não lhe via préstimo e que já lá
2/3 / 1 696 Planta da fortaleza da cidade do Pará. (1) (AHU, Caixa 739A ( 1 2)) cedida para ir à cidade* apenas, no entando a opinião do estavam os dois novos sargentos-mores. Refere a uma
(AHU, cartog,-afia Pará 792) 5/ 1 O/ 1 747 Carta ,-elatório de Carlos Varjão Rolim sobre governador é de que o engenheiro não era de todo recomendação ,·égia de dispensa,- quem não interessas­
o estado das fortalezas no Par-à. (AHU, Caixa 739A ( 1 2)) necessário. (MCM p. 776) se ao serviço como fizera Gomes Freire no Sul. (POMB
23/7/ l 7 I I Maço com vár-ios documentos. Dossier sobre
1 59, íl. 1 1 7)
José Velho de Azevedo (certidões, etc.). Numa certidão 1 3/3/ l 750 Carta régia consultando o governador sobre * no regresso desta viagem a Belém o engenheiro mo,- ­
assinada pelo capitão-mo,- diz-se que José Velho teria seu parecer para a constnução do boqueirão de S. Luís. reu. s/d Desenho de uma cortina entre os fortins da marinha
participado na constnução do "frontispício do xad,- ez da Diz para pedir a opinião de Carlos Varjão Rolim. (APP de Belém, com Gregório Rebelo e Filipe Sturm. (AHU,
cidade". (AHU, Caixa 729 (3)) cod. 882, íl. 1 3) cartografia Pa,-á 8 1 5)
GREGÓRIO REBELLO GUERREIRO CAMACHO
e. 1 750 "Planta do sitio e terreno onde se pertende abrir
1 753- 1 755
SEBASTIÃO PEREIRA hua vala . . . " (AHU, carta Maranhão 835-836) JOÃO ANDRÉ SCHEWEBEL
17 1 3 Gregório Rebello Guer-reiro Camacho nasce em
1 5/2/ 1 75 4 Caria-pedido para a formação da Companhia 1 753- 1 757
1 7 1 8- Lisboa. Fidalgo, assenta pr-aça no exército em 1 734. Em
1 7 1 8 Foi discípulo da aula do reino, examinado por
do Grão-Pará e Maranhão com a assinatura, entre 1 73 5 passa ao Alentejo. É admitido no número de discí­ 1 75 3 - 1 757 Várias plantas de Schewebel. (VITERBO,
outr-as, de Carlos Va�ão Rolim. (AHU, Caixa 736 ( 1 5)) Ili, 27)
Domingos Vieira e nomeado em 1 7 1 8 capitão enge­ pulos do número da Aula de Foriificação, obtendo em
nheiro ad honorem da capitania do Maranhão. (FARO, li, 1 7/8/ 1 75 5 Carta do bispo. Em anexo dois autos de vis­ 1 748-49 o posto de ajudante de Infantaria com exercício e. 1 754 Mapa hidrográfico dos rios Amazonas e Negro
46) toria do palácio e da casa da pólvora sobre o estado de de engenheiro. Parte, em 1 75 3 , junto com os outros levantado pelos oficiais engenheiros Sebastião José da
nuína de ambos, em que foi relator o engenheiro Carlos membros da expedição destinada ao Pará. Permaneceu Silva, Schewebel, Sturm e Adão Breuning . . (Map.
Va�ão Rolim e um mestre carpinteiro. (AHU, Caixa 796) no Pará e rio Negro até 1 755. De volta a Lisboa é envol­ ltamaraty, Ms 77 1 , cdc 1 754s)
ALEXAN DRE DOS REIS
s/d Planta da Fortaleza da Barra da Cidade de S." Ma,·ia vido nos trabalhos da reconstnução da cidade. Em 1 756 7/7/ 1 755 Carta de FXMF a SJCM Fala de Schewebel
1 72 1 -
de Belém do Pará. (MI Ms 77 1 .59 hkmf-B- 1 74-R 14890, foi nomeado por Manuel da Maia para fazer o projecto fazendo elogios aos seus desenhos da viagem a Mariuá.
1 72 1 Foi provido no posto de ajudante engenheiro por 14892) do muro de guarda da parte do Forno do Tijolo. Faz tra­ (MCM, AP, 7 1 2-7 1 3)
Bernardo Pe,·eira de Berred. Trabalhou na fortaleza da balhos em Peniche e nas Berlengas. Em 1 759 é nomeado
s/d Planta do Forte de Santo Cristo. (MI Ms 77 1 .5 hkmf­ 25/7/ l 755 Em carta do bispo sobre o Macapá há uma
barra de S. Luís. (FARO, li, 70) pela junta dos Três Estados para examinador dos alunos
-SC- 1 74-R 14886) ,-eferência ao parecer de Schewebel sobre o local da
1 6/6/ l 724 Planta da Nova Igreja de N. S.' do Rosário do da Aula Militar de Fortificação. Em 1 778 foi promovido a povoação no Marajá. (POMB 627, íls. 1 6 1 a 1 64)
s/d Planta do Forte do Panu. (MI Ms 77 1 .5 hkmf- Pr- 1 74-
Rio ltapicunu pelo ajud. Alexand,·e dos Reis. (AHU, ca,-­ sargento-mor. Morre em 1 794. (VITERBO, 1, 469)
-R 14889) 28/7/ 1 75 6 Carta de FXMF a Schewebel: "Como se ofe­
tografia Maranhão 833) 26/5/ 1 75 3 Carta de recomendação de Gregório Rebello
s/d Planta do Forte dos Pauxis. (MI Ms 77 1 .5 hkcmf- P r ­ receu ocasião de VM ir convaslecer a cidade do Pará da
feita por Manoel de Campos que diz ter sido mestre do queixa que padece, no caminho se informará nas forta­
- 1 74-R 14887)
CARLOS VARJÃO ROLIM recomendado e que ele era "suficientemente instnuído lezas por onde passar de tudo que necessitão assim de
s/d Planta da Fortaleza de S.'º António do Gunupá. (MI
nas materias". Pede que seja dispensado logo depois de petrechos como de obras e fará de tudo uma exacta
1 727- 1 755 Ms 77 1 -5 hkcmf- SAG- 1 74-R 1489 1 )
"acabada que seja esta cosmográfica e fortificatória ope­ info rmação." (POMB 1 6 1 , íl. 1 22)
26/4/ l 727 Carta patente de Carlos Varjão onde se diz s/d Planta do Fortim de S . Pedro Nolasco. (MI Ms 77 1 .5 ração" pois alega que o dito tem família no Reino. 24/ 1 O/ 1 757 Carta de FXMF sobre o recolhimento à
que o engenheiro servira em Santa,·ém e na Madeira hkcmf-SP- 1 74-R 14888) (POMB 6 1 8, íl. 99) Corte do engenheiro a partir de recomendação passada
antes de ir para o Pará como sargento-mor por tempo
1 9/7/ 1 75 5 Carta de FXMF a SJ CM dizendo que em Abril. Muitos elogios ao seu trabalho, diz que é "sem
de seis anos. (VITERBO, Ili, 1 50)
CARLOS FRANCISCO PONZONI Gregório Rebello tinha vindo fazer um pedido para se,­ dúvida nenhuma o milhar entre todos enginheiros que
4/ I 1 / 1 728 Vários documentos sobre as fortificações no
1 750- remetido novamente ao Reino pois estava doente. vieram para a Expedição" . . Fala dos prospectos das
Pará e em S. Luís. Carta do engenheiro com relatórios
1 / 1 O/ 1 750 Carta do Conselho do rei dizendo da nome­ A opinião do governador é profundamente desfavorável vilas e das cartas geográficas feitas pelo engenheiro.
sobre as nuínas das fortificações. O engenheiro José
ação do desenhador-·' Carlos Francisco Ponzoni para ir ao engenheiro e diz que lhe daria a licença mesmo se a (POMB 1 59, íl. 1 0 1 )
Velho de Azevedo é também citado como consultado
servir na América e que deveria ir inicialmente ao Pará. não pedisse e que assim sentia-se poupado. Foi remeti­ 26/ 1 1 / 1 757 Carta de FXMF a Paulo d e Carvalho. Sobre
pelo governador. Cita um proJecto de Varjão Rolim para
(AHU, Caixa 735 ( 1 3)) do de volta à corte. (MCM, AP, 776) a remessa dos desenhos das vilas para Pombal, pede que
retirar a humidade do ar e uma planta da cidade. (AHU,
Caixa 730A (5A)) * não há outra notícia sobre este desenhador que terá os conserve em seu poder, dizendo que são "preciosos",
sido susbtituído por Landi. SEBASTIÃO JOSÉ DA SILVA (POMB 629, íl. 1 80)
22/3 / 1 730 "Treslado de provisão sobre mandar-se cor­
1 753- 1 758 s/d Planta Geométrica da cidade de Belém do Grão­
rer a costa o engenheiro Carlos Varjão Rolim", (AHU,
DESIDÉRIO DE SALES CORREIA 2 1 /5/ 1 753 Carta de Vitória de Lencastre a FXMF fazen­ -Pará. Colecção da Casa de Palmela. (MI Map. 1 758-
Caixa 825, maço 3, fi. 86)
do a recomendação de Sebastião José pedindo para ele -negativo GEAEM 1 0688. 2A-27A- 1 02)
28/4/ l 738 Carta régia que dá ordem ao governador do 1 752-
estado João de Abreu e Castelo Branco para investigar a a protecção do governador. (POMB 6 1 8, íl. 1 29)
1 1 / 1 / 1 752 Petição do ajudante das fortificações e obras
situação do soldo e patente de Carlos Varjão Rolim, Desidério de Sales Correia, pedindo um sargento ou sol­ e. 1 754 Mapa hidrográfico dos rios Amazonas e Negro HENRIQUE ANTÓNIO GALUZZI
"por este estar exercendo havia 8 anos tal função sem dado que o ajudasse nas obras. (POMB 630, íl. 54) levantado pelos oficiais engenheiros Sebastião José da 1 75 3 - 1 769
nota alguma no seu assento". Resposta datada de Silva, Schewebel, Sturm e Adão Breuning . . (Map. 1 75 3 - 1 769 Galuui foi contratado em Mântua para inte­
7/8/ 1 75 5 Representação feita pelo ajudante das fortifica­
Setembro de 1 738. (AHU, Caixa 739 ( 1 O)) ltamaraty, Ms 77 1 , cdc 1 754s) grar a Expedição das Demarcações. Viterbo reproduz
ções e obras reais Desiderio Correia e carta do bispo
2 1 /5/ 1 746 Parecer do engenheiro sobre a constnução sobre a nuína da casa das canoas. (AHU, Caixa 979) 5/ l 2/ 1 75 5 Instrução que ficou ao sargento-mor uma carta de recomendação passada pelo governador
316 317
As Cidades da Amazónia no Século XVIII Inventário

da cidade atestando os seus bons serviços. Cita também palavra logo ele vai com muito boas vontades". (POMB, 9/8/ 1 756 Carta de FXMF a Brunelli desejando boa via­ Ajudante engenheiro Domingos Sambucetti que estava
um memorial da sua viúva, D. Sebastiana Gemaque, com 1 62 fi. 1 69V) gem ao astrónomo e que tenha muito boas notícias de na fortaleza do Gur-upá. (AHU, Caixa 739J (25))
quem casou no Pará. Aí é feita uma descrição geral dos e. 1 759 Mapa Geral do Bispado do Pará. (Mapa sua casa. (POMB 1 6 1 ) 1 3/9/ 1 763 E m carta de Manuel da Mota Sequeira data­
serviços prestados por Galuzzi no Pará, citando o traba­ ltamaraty, bibli. 1 759-3 - 4 1 -1 2765) 22/ 1 1 / 1 756 Carta de FXMF a Caetano José da Gama. da do Gurupá há uma referência a Domingos
lho em Bragança, a construção e condução dos mar-cos, Pede que trate bem o Dr. Angelo Br-unelli e o Ajudante Sambucetti ter vindo do Xingu para aquela vila. (APP
1 759 "Mapa dos rios Guama, Guajará e Cayté aonde se
a ida para o Maranhão, entre 1 759- 1 76 1 , e a ida para Sambucetti na viagem que faziam para ver o eclipse da cod. 8, doe. 1 O)
mostra o caminho novamente aberto por ter-ra da nova
Macapá em 1 762, onde ficou até à sua morte, em 27 de Lua. (POMB 1 6 1 )
Vila de Bragança para a de Ourem por· concordo destes 1 3/ 1 / 1 770 Extracto da carta de Ataíde Teive a FXMF
Outubro de 1 769. Citam-se alguns desenhos seus. 22/ 1 1 / 1 756 Carta de FXMF ao Dr. Brunelli. Fala da pro­
moradores o qual mapa foi feito embaixo das ordens do sobre a criação da Vila de Mazagão, e sobr·e se mandar
(VITERBO, 1, 407) moção de Sambucetti a ajudante engenheiro, diz que
limo e Exmo. Sr. FXMF . . . em o ano de 1 759 pelo eng examinar um sítio cómodo para estabelecê-la, com o
1 4/5/ 1 75 3 Carta de Joseph Moreira a FXMF fazendo E. A Galuzzi." (AHE.RJ M 1 , G2, B3) estima que na próxima remessa o astrónomo receba parecer do ajudante Domingos Sambucetti. (AHU,
recomendações de Galuzzi e pedindo a protecção do notícias da sua casa e que espera que Landi as tr·aga Caixa 744 (30))
1 760 "Mapa Geografico da Capitania do Piauhy delinea­
governador. (POMB 6 1 8, fi. 1 09)
do pello Ajudante Eng. Henrique Antonio Galucio em o quando se recolher· ao arraial, dado que ainda não tinha xixi 1 77 1 Carta de Domingos Sambucetti pedindo a
6/ 1 1 / 1 754 Carta de Francisco Rodrigues de Rezende a ano de 1 760". voltado de Belém. (POMB 1 6 1 ) mercê do hábito de Cristo pelos seus trabalhos por 1 3
FXMF: "trabalha-se na canoa para a condução de pedr<1 1 5/ 1 0/ 1 757 Carta de FXMF a Bruneli e a WILKENS dei­ anos na Amazónia. Dá a sequência das suas actividades
1 1 /6/ 1 76 1 Carta régia detenminando a nova patente de
e com elas ira Galuci, athe quando chegar· porque ainda xando-os livres para ir a Barcelos se quisessem. (POMB até aquela data. Rio Negro, Gurupá, Santarém e
Galuzzi como capitão de Infantaria com exercício de
estou incredulo no bom exito desta obra . . . " (POMB 1 62) Almeirim, novamente Gurupá, Macapá e depois a planta
engenheiro com soldo dobrado. (APP, cod. 892, fi. 80)
624, fi. 43) de Mazagão. (AHU, Caixa 8 1 6)
1 4/6/ 1 762 Carta de Galuzzi datada de M acapá* ao
30/ 1 1 / 1 754 Carta do bispo a FXMF Fala de um projecto 1 77 1 Colecção de desenhos da Vila Nova de Mazagão
governador Manuel Bernardo de Melo e Castro. (APP DOMINGOS SAMBUCETTI
de Galuzzi e Gregório Ribeiro. (POMB 627, íl. 20-2 1 V)
cod. 4, doe. 1 1 O) 1 753- 1 77- da Casa da Ínsua*.
1 / 1 2/ 1 754 Carta do bispo a FXMF: "Relação do que se
* Galuzzi chega a Macapá em 1 8/4/ 1 762. 1 753- 1 770 Viterbo publica um requerimento de * Figs. 90, 9 1 e 92.
entregou aos engenheiros Galuzzi e Rebello, incluindo
2/8/ 1 762 Carta de Galuzzi a Manuel Bernardo de Melo Sambucetti em que pede para ser provido no cargo de s/d Planta da nova Vila de Mazagão*. (AHU, cartografia
tomos de obras de La Condamine, 1 tratado de Limites,
e Castro reclamando o atraso das obras da fortaleza por sargento-mor, listando as suas actividades no Estado: manuscrita Pará 822)
Ephemerides de La Laille, e trigonometria de Ozaman".
os índios estarem empregados em outras actividades. reedificação da fortaleza de Gurupá, reconhecimento * Fig. 93.
(POMB 627, fi. 72)
(APP, cod. 4, doe. 1 24) das fortalezas de Santarém e Almeirim e projecto para a 1 8/5/ 1 773 Planta e elevação das casas que actualmente
1 5/ 1 / 1 755 Carta de Francisco Rodrigues de Rezende:
sua reedificação e a planta da nova Vila de Mazagão.
"Fui a Ribeira com Galucci para desembarcar· o tal enge­ 8/8/ 1 762 Carta de Galuzzi a Manuel Bernardo de Melo se edificam na Vila Nova de Mazagão*. (AHU, cartogra­
(VITERBO, Ili, 7)
nho da barca das pedras, e resolveu-se em duas canoas, e Castro sobre a urgência da construção da fortaleza de fia manuscrita Pará 807)
Macapá e a necessidade de que tivesse disponível os tra­ 1 l /8/ 1 75 5 Em carta do bispo a FXMF há uma referência
com (ileg.) por mais prudente acordo. Estão se fazendo, * Fig. 94.
balhadores e os meios. (APP, cod. 4, doe. 1 23 ) de que Sambucetti estava pronto para partir para a fun­
mas he pouca a gente, vão devagar . . . " (POMB 624, 1 8/5/ 1 773 Relatório do eng. Gronsfeld e Sambucetti,
dação da Vila de São Francisco Xavier*. (POMB 627, fi.
íl. 46V) 8/9/ 1 762 Carta de Galuzzi a Melo e Castro sobre o cita o plano de Gronsfeld para murar a cidade. (AHU,
222)
1 / l 2/ 1 755 Carta do bispo a FXMF. Fala da Expedição mesmo assunto. (APP, cod. 4, doe. 1 39) Caixa 749 (34))
* ainda como auxiliar de Brunelli.
Galuzzi e Sambucetti para o Arnyal. Sambucetti levava 1 2/ 1 O/ 1 762. idem (APP, cod. 4, doe. 1 50) e. 1 773 Planta do rio Madeira de Domingos Sambucetti.
os instrumentos e Galuzzi os marcos que tinha feito. "O 1 / 1 2/ 1 755 Sambucetti vai para o Arraial. (POMB 627, fi.
1 763 "Planta da Praça e Vila de São José do Macapá, (MI, Ms. 77 1 -3 cdc M5 1 - l 773s)
ajudante Galuzzi amanhã dá principio ao embarque dos 27 1 )
como se acha no ano de 1 763, e tirada geometricamen­ Obs. Depois da sua estada no Grão-Pará, Sambucetti
marcos para o que ja se lhe fez uma canoa ideada por 9/8/ 1 756 Carta de FXMF a Sambucetti desejando-lhe
te debaixo das ordens do limo e Exmo. Sr. Fernando da será requisitado pelo governador do Mato Grosso, Luís
ele mesmo que aqui afirmava que poderia conduzir· boa viagem até ao Arraial (Mariuá) onde espera encon­
Costa de Ataíde Teive . . Pelo capitão engenheiro de Albuquerque de Melo Pereira e Cácer·es, com quem
todas as pedras, depois reduziu-se ao número de dezoi­ trá-lo brevemente. (POMB 1 6 1 )
Henrique Antonio Galucio". (AHE.RJ M8, G2, 1 02/ F.6.5) trabalhar·á no projecto e construção do Real Forte do
to, agora não sabe se a canoa poderá levar doze, que * ali Sambucetti é promovido a ajudante pelo governa­ Príncipe da Beir<1, do qual a Casa da Ínsua guarda uma
1 764 "Planta de uma fortificação regular, fácil e resumi­
vem a ser três marcos. Estou vendo de toda esta ideia dor. grande colecção de desenhos.
da pera se defender com uma limitada guarnição e apli­
vem a parar em se não conduzir pedra alguma . . . " 20/6/ 1 762 Carta de Sambucetti escrita do Gurupá
cada ao tenreno mais ventajoso da praça de São José de
(POMB 627, fis. 27 1 -27 1 V) pedindo uma vela para fazer sombra aos operários na
Macapá e projectada em execução das ordens do limo FELIPE STURM
5/ 1 2/ 1 755 Carta do Bispo sobre o mes·m o assunto dos construção do forte. Ê provável que o engenheiro tenha
e Exmo. Sr. Fernando da Costa de Ataíde Teive . . . Pelo 1 753- 1 775
marcos. Acabou por se conduzir apenas dois em cada substituído Gronsfeld no Gurupá que teria viajado para
capitão engenheiro Henrique António Galuzzi, 1 764".
canoa. (POMB 627, fi. 279) o Tapajós. No entanto, em carta de Agosto de 1 762, 1 753- 1 775 Viterbo lista alguns desenhos de Stunm feitos
(AHE.RJ, M l 3 , PA l 04)
1 6/5/ l 756 Carta do bispo falando de uma petição de Sambucetti faz referência a ter sido ele também, requi­ no r·io Branco. (VITERBO, Ili, 78)
2/ 1 0/ 1 773 Carta régia dizendo que não havia na vila da
Galuzzi para ter o seu soldo em Belém; dá um parecer sitado para fazer a fortificação do Tapajós (?) e diz que e. 1 754 Mapa hidrográfico dos rios Amazonas e Negro
capitania do Piauhy casa destinada para a residência do
favorável. (POMB 1 6 1 , fi. 3 1 ) sairá do Gurupá quando a sua presença já não for tão levantado pelos oficiais engenheiros Sebastião José da
governador citando urna planta feita por Galuzzi, que
24/ I 0/ 1 757 Carta de FXMF dando infonmações sobre importante. Em Setembro de 1 762 ainda lá estava no Silva, Schewebel, Sturm e Adão Breuning. (Map.
tinha ido para Macapá sem ter feito o orçamento. (AHU,
Galuzzi, sugerindo que não se desse penmissão para a comando das obras da fortaleza. (APP, cod. 6, does. 45, ltamarati, Ms. 77 1 , cdc 1 754s)
Caixa 798)
sua mulher ir ao Reino mas também pedindo que se lhe 47 e 52) 7/7/ 1 755 Carta de FXMF a SJCM. Fala muito bem de
dê uma nova patente para compensar o desgosto. e. 1 762 Planta da Fortaleza de Santarém de Sambucetti. Sturm, diz que era casado com uma portuguesa, logo
(POMB 1 59, fi. 62) JOÃO ANGELO BRUNELLI (MI, bibli. 1 762) quase nacional, que era de muitos bons préstimos e que
20/6/ l 758 Carta de FXMF ao juiz de fora João lgnácio 1 753- 1 0/ I 0/ 1 763 Carta do intendente geral dando a relação o governador pensava em mandá-lo para a importante
de Brito e Abreu. Fala que para delinear a estrada que 29/5/ 1 75 3 Carta de recomendação de Brunelli assinada de algumas coisas necessárias para as obras das fábricas tropa de Mato Grosso. Encarregava-o de todas as obras
tinham planeado fazer entre o Caeté e o Maranhão nin­ pelo Marquês de Tancas que pede também pelo seu de olarias e casas de Câmara e Cadeia. Pede oficiais e em Mariuá. (MCM, AP, 7 1 2-7 1 3)
guém melhor que Galluzzi: "o qual eu tenho destinado ajudante DOMINGOS SAMBUCETTI (POMB 6 1 8, sugere que seja necessário levar um risco feito por· uma 1 6/5/ 1 756 Carta do bispo do Pará dizendo ter recebido
para essas obras, e em o Sr. Bispo lhe dizendo meya fi. 223) pessoa inteligente, dizendo que se os deveria pedir ao a petição que mandava ao governador pedindo que lhe
318 3 19
As Cidades da Amazónia n o Século XVIII Inventário

dessem o seu soldo naquela cidade para o poder enviar Moura Plenipotenciario das demarcações da parte do ANTÓNIO JOSÉ LAN D I uma protecção nos negócios que o governador lhe que­
a sua mulher. O parecer do bispo é favorável. (POMB norie. Dei e executado pelo Captam Eng Filipe Sturm•·. 1 753- 1 79 1 ria dar. (POMB 623. fi. 209)
1 6 1 , fi. 28V) (BNL, iconografia D.202A) 1 753- 1 79 1 Landi merece um verbete com muitas infor­ 1 0/ I 1 / 1 756 Carta de FXMF a Diogo Castro e Meneses.
2 l /4/ 1 757 Carta resposta de FXMF a Sturm agradecen­ * Fig. 99. mações no dicionário de Viterbo, que se refere aos Landi continuava em Belém e o governador insistia que
do os desejos que este lhe tinha feito de boa viagem e desenhos de animais e plantas existentes na Biblioteca assim que chegasse iria para Borba, sendo necessário
boa saúde. Sturm estava em Bar-celas e Mendonça JOÃO (GASPAR) GERALDO DE GRONSFELD Pública do Porto, aos desenhos incluídos na "Viagem cuidar da sua acomodação. (POMB 1 6 1 )
Furtado em Belém. (POMB 1 62) Filosófica" existentes na Biblioteca Nacional do Rio de 1 2/ I O/ 1 756 Caria de FXMF a SJCM. Fala de Borba, da
1 753-
l /1 1 / 1 757 Carta de FXMF a Sturm. Diz ter recebido Janeiro e cita alguns documentos. Entre estes, as cartas fundação e das relações com o padre Anselmo Eckart:
28/5/ 1 756 Carta de FXMF ao capitão Gronsfeld esti­
carta deste oficial pedindo licença para ir a Belém. Pede trocadas entre Landi e Reinaldo Manuel dos Santos e "Foi com o j u iz comandante o segundo desatino fazen­
mando suas melhoras e esperando que o bispo o dis­ outras cartas de FXMF dirigidas ao arquitecto. (VITER­
que o espere no Arraial. "Estimo que as obras estejão do uma oração e entrega das casas em que residia ao
pensasse para ir ao Arraial e fala também de uma peti­ BO, li, 54)
tão adiantadas como VM me participa e dezejarei se aca­ desenhador António José Landi, porque soube que eu o
ção, de soldo provavelmente, que o governador alega
bem antes de ai chegar p.' que o Sr Gov desta capitania 1 5/7/ 1 755 Carta pessoal de FXMF a Paulo de Carvalho. mandava naquela vila com sua mulher, e que lhe tinha
ser da dependência de S. M. (PO M B 1 6 1 , fi. 56) publ ica­
veja que ahy há alguma coisa que não parece certão". Transmite ao irmão um pedido de material feito por remetido as casas para morarem, fez então aquela abso­
da por Viterbo. (VITERBO, 1, 26 1 )
(POMB 1 62, fi. 1 1 3) Landi, encarregado na altura dos desenhos de Histór·ia luta a que eles dão o nome de auto possessório, para
1 1 /6/ 1 75 6 Carta de FXM F ao bispo falando de Natural. Em anexo está o rol de pedidos de Landi assi­ mostrar que da sua mão as recebia e não da minha
e. 1 757 Elevação das novas c·asas feitas par·a a residência
Gronsfeld. Diz que aquele achava bem que nos fosse nado e em folha emoldurada: tintas, um microscópio e como governador·. É bem verdade que o tal Landi se
do governo desta capitania. Por Felipe Sturm. (MI, Ms.
enviado para o Arraial mas que dependia da opinião do outros materiais de desenho. (POM B 629 fis. 72 e 1 1 2) achava no Pará naquele tempo, comprando o que lhe
77 1 .39/B-235 cdj 1 760? 1 922)
bispo. Faz elogios ao trabalho do engenheiro. (POMB era necessário para o seu procedimento, de onde ainda
e. 1 762 Vila de Barcelos. (MI, Ms. 77 l .39/B-235a 1 762s) 27/6/ 1 755 Carta do bispo a FXMF: "Estimei muito a
1 6 1 , fi. 72) não se ,·ecolheu, e sem lhe vir· ao pensamento esta for­
planta dos sepulcros que por direcção do Landi se fize­
1 2/3/ 1 763 Carta de Manuel Bernardo de Melo e Castro
1 76 1 "Planta da Vila de São José de Macapá tirada por rão nesta aldeia (Mariuá) e na ermida de Santa Anna. tuna se achou com aquela doação a seu favor·, sem
a FXMF citando um mapa feito por Sturm de todo o rio ordem do limo e Exmo. Sr·. Manuel Bernardo de Melo e Estão ideados com belo gosto e todo elle he um mero embargo da qual eu mandei tomar posse das tais casas,
Negro. Refere que o engenheiro teria representado ao Castro em o ano de 1 76 1 pelo capitão engenheiro effeito do grande coraçaõ de V. Exc.' no qual se concili­ que não valem muito, pela fazenda real; e os oficiais d a
governador sobre a impossibilidade de se fortificar a Vila Gaspar João de Gronsfeld".'' (AHU, cartografia Pará 789) am perfeitamente os cuidados de servir Deus e a el Câmara o quizeram assim lançando o Auto n o s livros d a
de Barcelos. (AHU, maço 775 (2))
* Fig. 36. Rey . . . " . (POMB 627 fi. 1 85) mesma câmara . . ". ( M C M , AP, 94 1 )
1 0/8/ 1 767 Planta da Nova Fortaleza dos Marabitenas,
1 76 1 Planta da cidade do Pará com legenda feita por 1 4/7/ l 755 Carta de FXMF com a opinião sobre os vári­ 8/3/ l 757 Carta de FXMF a Diogo de Castro. "A José
pelo eng Felipe Sturm. Anexo oficio de Joaquim Tinoco
Gronsfeld.* (AHE.RJ M5. G4. O I O. C 1 5) os integrantes da Expedição. Sobre Landi o governador Antonio Landi mando ordem pa,·a que vá a esta vila deli­
Valente·•. (AHU, cariografia manuscrita Rio Negro 774)
* Fig. 62. conta uma história que o arquitecto dissera que por niar a igreja e casa de câmara, e creio que VM terá
* Fig. 2 1 . dinheiro era capaz de se deixar· bater, pois acabadas as promptas as madeiras, e de tudo a que falta,· para se
1 6/6/ 1 7 6 1 Carta régia determinando a patente de
e. 1 775 Mapa do rio Branco. (MI, Ms. 77 1 .3 cdc-B732- pancadas a dor passaria e ficaria corn o di nheiro no concluírem estes dois edifrcios me remeterá VM um rol
Gronsfeld que passaria de capitão de i nfantaria com
- l 775 Se A-IV-6-2/37) bolso. (AHU, Caixa 737 ( 1 4)) exacto para daqui lhe mandar todo o preciso." (POMB
exercício de engenheiro para sargento-mor de infantaria
s/d Planta dos Palácios para os Exmos. Plenipotenciários, 22/ 1 1 / 1 75 5 Carta de FXMF a SJCM. Refere a intenção 1 62)
com o mesmo exercício e o soldo dobrado. (APP, cod.
Casa de Conferência e Quartéis para os oficiais e solda­ do governador de casar Landi com a filha de João 25/4/ l 757 Carta de FXMF a Landi. Fala do roubo, que
892, fi. 9 1 )
dos castelhanos que por ordem do limo e Exmo. Baptista de Oliveira e de o transferir para Borba. (MCM, Landi tinha sido vitima, exorta-o ao trabalho e diz que o
l /2/ 1 762 Carta de Gronsfeld escrita de Gurupá onde diz
FXM F. . foram projectados e executados neste arrayal AP, 880-88 1 ) vai ajudar. Fala de que sua estadia em Belém se prolon­
que chegou à vila em 27 de Janeiro. Fala do forte e de
de Mariuá, pelo Ajudante Filipe Sturm*. (AHE.Rj M 1 3 , 2/5/ l 756 Carta de FXMF ao tenente Diogo António de garia por mais tempo e que o casamento não espere
reformas que julga necessário fazerem-se. (APP, cod. 6,
AM.089) Castro da Vila de Borba. "Pelo que toca ao pelourinho, mais. Diz ter· pedido ao Sargento-Mor que o repr·esente
doe. 37)
'' Fig. 98. José António Landi vai para esta villa com a sua família, na cerimónia e convida-se para o baptizado do primeiro
3/3/ 1 762 Carta de Gronsfeld datada de Gurupá dando filho. (POM B 1 62. Publicada por Viterbo)
s/d Planta da Vila de Si lves erigida pelo limo e Exmo. Sr elle o levará, e mais algumas couzas que são precisas
conta dos avanços da obra do forte. Fala do envio de
Joaquim de Melo e Póvoas governador desta capitania, para se principiar a igre1a e casa de camara e VM lhe te,·á 27/4/ 1 757 Carta de FXMF ao sargento-mor Gabriel de
planta de um pro1ecto seu para o forte. Fala de o gover­
delineado pelo cap eng Filipe Sturm* (BNL, iconografia mandado cortar as madeir·as, de 40 palmos de compri­ Sousa. Fala do casamento do Landi e das novas funda­
nador o ter mandado ir para o Tapajós mas a falta de
D l 99A) do para aquelas obras." (POMB 1 6 1 , fi. 36) ções. "VM mandará logo fazer três pelourinhos para as
índios o impediu. (APP, cod. 6, doe. 40)
* Fig. 23. 6/6/ 1 756 Carta de FXMF para o tenente. Diogo António tres villas deste rio, para que se Deus for servido que eu
30/3/ l 762 Carta ainda do Gurupá*, pedindo a favor· de chegue a ele estarem promptos para a fundação dellas,
de Castro Meneses. "Persuado-me de que José António
s/d Planta da casa da residência do Visitador e Vigário um alferes que deveria ser repreendido por ter manda­ Landi virá para esta vila e será preciso que VM lhe con­ CUJO Risco deve fazer José Antonio Landi." (POMB 1 62,
desta Vila de Barcelos*. (BNL, iconografia D.258V) do uma canoa para o sertão por sua conta. (APP, cod. 6 serve um quarto das casas que foram do padre da fi. 28V)
• Fig. 1 00. doe. 42) Companhia para elle se acomodar· se acaso levar famí­ 1 5/5/ 1 757 Carta de FXMF a Landi. Carta pessoal em
s/d Elevação das casas que se estão fazendo em hum dos * É provável que entre Março e Junho Gronsfeld tenha lia". (PO M B 1 6 1 ) que demonstra grande estima pelo arquitecto e prome­
lados da Nova Praça para os moradores soldados caza­ finalmente viajado para o Tapajós posto que a partir te apoio e ajuda em função do roubo sofrido por Landi
3/8/ l 756 Carta de FXMF ao tenente Diogo António de
dos desta terra*. (BNL, iconografia D.200A) de Junho as cartas do Gurupá são enviadas por "tudo o que não for prejudicar a terceiros hei de fazer
Castro e Meneses. Fala da ida do Pe. Samartori para
* Fig. 1 0 1 . Sambucetti. fazer a observação de um eclipse do Sol no dia 25 e para que VM consiga aquele fim". (POMB 1 62, fi. 30)
s/d Planta da Vila de Serpa erigida pelo limo e Exmo. Sr 1 8/5/ 1 773 Relatório do estado das fortalezas por sobre Landi que ainda não tinha ido por antes ter pas­ 1 6/5/ 1 757 Alçados da primeira e segunda ideias do por·­
Joaquim de Melo e Póvoas Gov desta capitania. Proj. e Gronsfeld e Sambucetti. Cita o plano de Gronsfeld de sado em Belém, e assim que regressar será enviado. tal da Nova Alfândega"'· (AHU, Pará cartografia 796-797)
Delin Pio Cap Eng. Filipe Sturm*. (BNL, iconografia murar a cidade. (AHU, 749 (34)) (POMB 1 6 1 ) * Figs. 49 e 50.
D.20 1 A) 1 773 Plantas de Gronsfeld para fortificar· a cidade ou a 20/8/ l 75 6 Carta de FXMF a Diogo Castro e Meneses. 1 3/6/ l 757 Carta de FXMF ao bispo. Narra a circunstân­
* Fig. 22. cidade e a campina*. (AHU, cartografia Pará 806, 808 e Landi ainda não havia voltado de Belém. (POMB 1 6 1 ) cia de Landi ter sido roubado em Barcelos durante a
s/d Planta de cima do palacio novo feito por ordem do 809) 2/ 1 1 / 1 756 Carta do bispo a FXMF falando que Landi revolta de alguns soldados "passando depois em casa do
Gov JMP. para o limo e Exmo. Sr. D. António Rolim de * Figs. 8 1 , 82 e 83. tinha já prontos os seus papéis de casamento e sobre desenhador Lande a rouba r -lhe mais 600$000 reais em
3 20 32 1
Inventário
As Cidades da Amazónia no Século XVIII

generos, e dando-lhe em pagamento um escrito ou con­ assinado pelo arquitecto. (AHU, Caixa 754 (40)) MANUEL ÁLVARES CALHEIROS * Fig. 34.
signação para a fazenda real". (BNL cod. 1 1 4 1 5) Obs.: Aqui foram inventariados os documentos que 1 757- 1 759 Prospecto sólido da lgr-eja de S. José Macapá . .
1 /7/ 1 757 Carta de FXMF a Gabriel de Sousa. "Pelo que encontrámos que mencionavam o arquitecto. Existem 1 75 1 Viterbo diz que Calheiros cursara com distinção as (AHE.RJ, M8, G 1 , 024/F.6.5)
respeita as ferramentas que VM tomou ao Landi ou as mais infonmações sobre a sua obra e dados da sua bio­ academias da corte e do Alentejo e fora nomeado aju­ * Fig. 3 3 .
pode pagar· na mesma espécie, ou se elle quizer· e julgar gr·afia que já foram tratados e publicados. Ver·, na biblio­ dante-engenheiro em 1 75 1 Em 1 760, é designado para 1 76 1 Thomas Rodrigues da Costa é substituído no
mais conveniente receber a sua importância em dinhei­ grafia deste trabalho, os títulos que se lhe referem. ir ao Pará Já com patente de sar·gento-mor engenheiro. comando da Vila de Macapá por Luís Fagundes de
ro pode mandar dizer a quem quer que se lhe entregue (VITERBO 1, 1 59) Almeida.
que pontualmente será satisfeito trazendo de lá a guia da 25/ 1 O/ 1 757 Caria de FXMF sobre a chegada dos dois Obs.: Tanto Thomas Rodrigues da Costa como Manuel
H ENRIQUE WILKENS
Faz Real para pela mesma repartição se lhe dar a suma sargentos-mor·es engenheiros Manuel Álvares Calheiros Álvares Calheiros pariicipar·am directamente na equipa
1 754- 1 794
importância". (POMB 1 62) e Thomas Rodrigues da Costa, avisando da intenção de de reconstrução da Lisboa Pombalina. Ambos assinaram
1 764- 1 784 O verbete do dicionário de Viterbo publica
5/7/ 1 757 Carta de FXMF a Landi e a Gabriel de Sousa mandar um par-a o Macapá, "para Intendente das obr·as uma planta de Lisboa (par·cial) mandada delinear· por
as cartas de promoção de Wilkens de ajudante para e estabelecimento daquela villa e o outro ficar·á por or·a
dando penmissão a Landi para ter 25 índios e ir na colhei­ Manuel da Maia, em 1 756. (MC. cota 1 3 84)
capitão ( 1 764), de capitão para sargento-mor e ao nesta cidade e verei se posso conseguir estabelecer aqui
ta das drogas para levantar dinheiro, e também índias
mesmo tempo 2.º comissário das Demarcações no rio uma AULA DE FORTIFICAÇÃO". (POMB 1 59, fl. 1 00V)
para trabalhar nas manteigas. (POMB 1 62, fl. 72-73)
Negro ( 1 780) e daí para tenente coronel ( 1 794). MANUEL GUEDES
2/8/ 1 757 Carta de FXMF a Landi felicitando-o pelos 26/7/ 1 75 8 Caria de FXMF a Manuel Álvares Calheims
Refere-se também a um filho seu, José Joaquim Wilkens 1 759-
bons negócios das suas canoas. (POMB 1 62, fl. 84) agr-adecendo as boas novas sobre o andamento da Aula
que também seguira a carreira militar. (VITERBO Ili, 1 96) 1 759 "Mappa geometrico de hum pentagano regular
1 4/8/ 1 759 Landi dá opinião sobre o projecto de Tomás de Engenharia. (POMB 1 62)
9/3/ 1 754 Carta de FXMF a SJCM falando de um rapaz, projectado par-a fortificar a pr-aça de da Vila de S. José de
Rodrigues da Costa para a Igreja de Macapá. (AHU, 2 1 /2/ 1 759 Carta de FXMF falando da Aula e dos pro­
enteado do boticário da rainha-mãe, que como tinha Macapá no anno de MDCCLIX. He cópia de hum pro­
Caixa 739G (20)) gressos nela feitos pelo mestre Manuel Álvares
noções de geometria, tinha sido entregue ao Pe. jecto do Sarg mor eng Manoel Guedes e a explicação
4/ 1 1 / 1 760 Sobre a Olaria de S. José: Novo método; cer­ Calheiros. Diz que o colocou no posto assim que che­
Samartoni para ser educado na engenharia. Este agora acima hé verba ad verbum do mesmo author sapien­
tidão de remate da olaria e fomos, relação dos gastos da gou do rio Negro. O interesse da caria reside no facto
solicitava o posto de ajudante-engenheiro. (MCM, AP, p. tiss.º". (CI 98)
de se referir a encomenda de livros e instr·umentos feita
olaria, certidão do capitão Luís Gonçalvez dizendo que
535)
pelo professor (a lista deveria estar noutra carta, eram
* Fig. 45
fez sociedade com o arquitecto Landi; conta o que se
7/7/ 1 755 Carta de FXMF a SJCM. Refere-se a uma carta 24 jogos). (POMB 1 59, fl. 1 45V) Obs.: Não se encontraram outras referências sobre este
tem feito na olaria, lista dos produtos e preços com a
recebida, datada de 1 5 de Março, em que se ordena pas­ engenheiro.
assinatura de Landi, etc. (AHU, Caixa 739G (20)) 23/6/ 1 76 1 Cópia da carta de Manuel Bernardo de Melo e
sar patente de ajudante-engenheiro a Wilkens. (MCM,
6/ 1 1 / 1 760 Carta de autor ilegível narra os festejos do Castro assinada por ele e pelos engenheiros sobre a esco­
AP, p. 7 1 2)
casamento da princesa do Brasil com o infante D. Pedro lha do local do Ar-senal. Assinam Manuel Álvares MANUEL GOTZ
2/8/ 1 756 Carta de FXMF ao missionário da aldeia dos Calheiros, Henrique António Galucio e Manuel Fritz Gotz.
e a activa participação de Landi nas festas e fogos. 1 76 1 - 1 767
Abacaxis. Diz ter mandado planos pelo ajudante
"sendo António José Landi um dos mais empenhados na s/d Caria do rio MaraJo-Assu da Ilha Grande de Joanes 1 7/6/ 1 76 1 Carta régia determinando que Manuel Gotz
Wilkens. (POMB 1 6 1 )
plazibilidade do seo festejo". (BNL cod. 1 1 4 1 5 fls. 1 24- e das fazendas do gado. (MI, Ms. 77 l .553a-C 1 75-2534) passasse de tenente de infantaria com exercício de
- 1 28) 3/9/ 1 756 Carta do missionário dos Abacaxis em que fala engenheiro par·a capitão de infantaria com o mesmo
ter recebido encomendas das mãos do ajudante exercício e soldo dobrado. (APP, cod. 892, fl. 95)
4/6/ 1 76 1 Carta do governador Melo e Castro dando THOMAS RODRIGUES DA COSTA
Wilkens. (POMB 622, fl. 207)
conta do pedido feito de se recolherem ao reino o 1 757- 23/6/ 1 7 6 1 Cópia da caria de Manuel Bernardo de Melo
Dr. Angelo Brunelli e Landi, tendo o primeiro ido de 25/5/ 1 762 Carta de Wilkens de Macapá a Melo e Castro e Castro assinada por ele e pelos engenheiros sobre a
1 757 Viterbo apenas cita a nomeação conjunta de
bom grado e o segundo ficado sob a aprovação do dizendo da sua chegada à vila em 8 de Maio de 1 762. escolha do local do Arsenal, assinam Manuel Álvar·es
Tomás Rodrigues da Costa para ir ao Pará na mesma
governador depois de o ter casado, como já o tinha ten­ (APP, cod. 4, doe. 89) Calheiros, Henrique António Galucio e Manuel Fr-itz
altura que Calheiros. (VITERBO li, 404)
tado o gov FXMF, com a filha do sargento-mor. Cita 1 2/6/ 1 762 Carta de Wilkens ao governador dando Gotz.
25/ 1 0/ 1 757 Carta de FXMF sobr·e a chegada dos dois
também como motivo para a sua retenção a construção conta da situação em Macapá e apresentando o projec­ 24/ l 2/ 1 767 Carta régia determinando que Manuel Gotz
sargentos-mores engenheiros Manuel Calheiros e
em curso da igreja de Santana. (AHU, Caixa 7391 (2 1 )) to que tinha feito com Galuzzi. (APP, cod. 4, doe. 1 08) passasse de capitão para sargento-mor. Refere que o
Thomas Rodrigues da Costa. (POMB 1 59, fl. 1 00V)
1 8/6/ 1 76 1 Planta do Anmazém de Anmas no Colégio 6/7/ 1 762 Carta de Wilkens ao governador narrando as engenheiro estava casado em S. Luís do Maranhão.
1 75 8 Passagem de Thomas Rodrigues da Costa par·a
dos Jesuítas. (AHU, cartografia Pará 800) circunstâncias da construção do reduto em Macapá e (VITERBO 1, 464)
Macapá.
3/7/ 1 76 1 Carta de Melo e Castro a FXMF com planta perguntando pela sua promoção. (APP, cod 4, doe. 1 1 4)
1 2/ 1 / 1 759 Carta de Thomas Rodrigues da Costa a
inclusa assinada por Landi. Planta de CHAVES*. (AHU, 9/8/ 1 762 Carta de Wilkens ao governador dando conta FLORÊNCIO MANUEL DE BASTOS
Francisco Xavier de Mendonça Furtado namrndo todas
cartografia manuscrita, s. n.) das obras pouco avançadas em Macapá pela falta de tra­
1 769- 1 784
* Fig. 1 8. balhadores e pela utilização em outros serviços. (APP,
as ocorrências em Macapá dur·ante a sua administração.
(APP, cod. 4, doe. 24) 1 769 Foi nomeado, em 1 769, como ajudante engenhei­
2 1 /6/ 1 769 Questão do pedestal para a estátua de cod. 4, doe. 1 24)
1 759 "Planta Iconográfica da Igreja de S. José do ro. Este faz referência numa carta de que er-a discípulo
D. José, polémica com Reinaldo Manuel dos Santos. 24/8/ 1 762 Idem (APP, cod. 4, doe. 1 32)
Macapá".* (AHE. RJ, M 1 3 , Pa. 1 08) da aula criada na capitania, por FXMF. Vai para Angola,
(AHU, Caixa 744)
* Fig. 32.
1 8/9/ 1 762 Idem (APP, cod. 4, doe. 1 49) em 1 784, como capitão engenheiro. (VITERBO 1, 9 1 )
8/ 1 1 / 1 773 Alçados e plantas das casas da administração 1 3/ 1 0/ 1 762 Carta de Wilkens ao governador ainda
1 759 Planta ichnografica das casas novas erigidas e ajunta­
da Companhia Geral do Grão-Pará. (AHU, cartografia dando conta das circunstâncias e dificuldades da obra
das a Vila de S. José de Macapá . . ·• (AHE.RJ, M 1 3, Pa. 1 06) JOSÉ PINHEIRO D E LACERDA
manuscrita, Pará 8 1 2, 8 1 3 , 8 1 4) em Macapá e tratando de questões pessoais. (APP, cod.
1 5/ 1 1 / 1 775 Inventário das dividas que os moradores do 4, doe. 1 56) * Fig. 3 1 . ALEXANDRE JOSÉ DE SOUSA

1 759 Plantas dos pavimentos superior e inferior da 1 773-


Pará tinham para com a Companhia. Landi devia Obs.: Depois da morte de Galuzzi, em 1 769, Wilkens
366$ 1 1 5. (AHU, Caixa 750 (35)) câmar·a da vila de S. José de Macapá feita pelo sarg maior· Citados por· Gmnsfeld no relatór-io sobre a forialeza de
assumirá interinamente o comando das obras da fortale­
Thomas Rodrigues da Costa.* (AH E. RJ, M 8 , G 1 , Macapá como ajudantes. (AHU, cart. 1 8/5/ 1 773) (VI­
1 9/ 1 1 / 1 780 Landi pedindo índios para o engenho do za de Macapá. Há uma série de relatórios seus sobre a
04 1 /F.6.5) TERBO li, 276 Ili, 69)
Murucutu. Fala da olaria e da sua produção. Documento fortaleza no AHU.
322 323
As Cidades da Amazónia no Século XVIII Inventário

JOÃO VASCO MANUEL DE BRAUM Citam-se vários trabalhos seus. (VITERBO 1, 2 1 1 ) pedindo que se lhe passasse carta de mestre-de-obras
1 780- 1 797 30/9/ 1 78 7 Requerimento de TCC pedindo o cargo de reais da cidade com salário competente. (AHU, Caixa
coronel da tropa do Estado, com vários atestados dos 8 1 6)
1 75 2 Viterbo faz um longo relato sobre este engenhei­
ro, natural de Estremoz e filho de outro engenheiro. governadores dos serviços por ele prestados. Fala João 1 /2/ 1 776 Cartas escritas ao Marquês de Pombal pelo
Pereira Caldas, em seu abono, de obras de escomento governado,· do Pará sobre outras ,·ecebidas do governa­
Assenta praça em 1 752. Em 1 76 1 trabalha em Setúbal.
de águas e drenagem nas praças, e de pontes e armazéns dor de Mato Grosso. Incluso um pedido do segundo ao
Em 1 788 é nomeado governador da praça de Macapá.
que fez. (AHU, Caixa 758 (44)) primeiro para envio de oficiais marceneiros e pedreiros
Em 1 797, já na metrópole, é nomeado tenente-coronel.
para as obras da Vila Bela. (AHU, Caixa 733 ( 1 7))
Cita-se uma lista de trabalhos seus. (VITERBO 1, 1 32 E Ili 1 79 1 Plano geral da cidade de Belém do Grão-Pará em
257) 1 79 1 tirado por ordem do limo e Exmo. Sr D. Francisco 23/ 1 l / 1 782 Carta de Cypriano Antunes Vieira, artífice
de Sousa Coutinho . . levantado pelo tenente coronel das reais obras de S. Magestade, sobre a confecção dos
27/ 1 1 / 1 780 Carta de José Nápoles Telo de Meneses a
de artilharia com exercício de engenheiro Theodosio sinos, para o que pedia te1Tenos. (AHU, Caixa 756 (42))
Ma,iinho de Melo e Castro. Cita o envio da planta 'da
fortaleza, na margem oeste do rio Tocantins, feita pelo Constantino de Chemnont.* (AHE.Rj, M 1 3 , PA 1 55)
engenhe i ro no luga,· de N: S.' de Nazaré na povoação * Fig. 86.
de Alcobaça. (AHU, Caixa 754 (40))
e. 1 780 Planta da Fortaleza N.• S.• de Nazaré na povoa­ OFICIAIS MECÂNICOS
ção de Alcobaça que se há de erigir no rio Tocantins por 1 5/2/ l 727 Dossier com os documentos de Lourenço da
ordem do limo e Exmo Sr José Nápoles . . (AHE.Rj, Silva, mestre pedreiro, morador e casado na cidade do
M l 3 , PA I 1 8) Pará que, com 73 anos, pede que lhe sejam dados alguns
e. 1 78 1 "Descrição do Rio Tocantins desde Alcobaça índios para cuidar somente da sua lavoura. Diz que tra­
inthé Pombal". (MI 779 3cdc T83- l 78 I M 1 4) balhou tanto em obras públicas como privadas. (AHU,
1 782- 1 783 Documentos pessoais em abono do com­ Caixa 730A (5A))
portamento próprio e competente administração do 1 732 Pedido dos carpinteiros e calafates para que seja
governo de Telo de Meneses. Certidão n.º 1 6 de João aumentado o seu jornal. Pedido aceite. Parecer do
Vasco Manuel de Braum, cita a planta da fortaleza de Conselho e ordens do governador para que assim seja
Nazaré da povoação de Alcobaça, a fundação de feito e pago o novo valor. (AHU, Caixa 727A (6A))
Penacova, a construção de um aqueduto (sic) para uma 6/3/ 1 73 7 Carta do provedor da fazenda Félix Gomes de
praça da cidade, um quartel, planta da casa de armas Figueiredo que refere alguns detalhes de um contrato
munições, casas de aluguer, nova casa para fiscalizar o feito com um maquinista holandês para as obras do for­
peso, cais e molhe para abrigo das canoas, rectificação tim. Arnaldo Holandez. (AHU, Caixa 739B (9))
de estradas, etc. (AHU, Caixa 799) 2/4/ 1 740 Petição de José Lopes, mestre do oficio de
1 786 Dossier contendo cartas do governador, atestados pedreiro, que pede para ,·eceber o mesmo salário do
e parecer do engenheiro Braum sobre o abastecimento falecido que ele estava su bstituindo, sendo uma parte
de águas da cidade e a construção de uma fonte pública paga em Lisboa a sua mulher e outra a ele (2 cruzados).
no sitio chamado "pao d'água". (AHU, Caixa 802) "pertence ao oficio desde 1 73 3. em pedido por se
9/ 1 O/ 1 786 "Roteiro Corografico da Viagem e revista que achar em total serviço de SM nos palácios que se fazem
o limo e Exmo. Sr Martinho de Sousa Albuquerque, gov para morar o Exmo. e reverendíssimo Sr Bispo . . "
e Capitão general do Estado, determinou fazer a antiga (AHU, Caixa 739 ( 1 O))
capitania do Cayaté de que é capital a Vila de 27/ 1 0/ 1 742 Sobre eleições na Câma,·a para almotaceis
Bragança, . . . O sargento-mor Eng João Vasco Manuel de de "homens incapazes" especificamente um carpintei­
Braum". (Catálogo dos mapas existentes na Biblioteca ro/pedreiro e um açougueiro. (AHU, caixa 739 ( 1 O))
do Arquivo Nacional do Rio de janeiro, Memórias, vol. 28/ I 1 / 1 744 Referência a um carregamento de cacau
6.º, fls. 1 42- 1 54) feito no navio N.' S.• da Conceição e Santana, em favor
28/ 1 O/ 1 789 "Mapa de todas as famílias de São José de da mulher de um pedreiro que trabalhava na capitania
Macapá, da fo1·ça de suas lavouras e serviços e colheitas Uosé Lopes), pedreiro das fortificações e das obras de
que elas produziram em todo o ano de 1 788. ass JVMB" S. M. (AHU, Caixa 738 ( 1 1 ))
(AHU, Caixa 8 1 3) 2/3/ l 747 Petição de Manuel da Si lva, mestre carpinteiro
de obra branca, que vivia há alguns anos em Belém e
THEODOSIO CONSTANTI N O DE CHERMONT solicitava ser admitido como mestre das obras reais.
1 780- 1 79- Carta do conselho pedindo parece,· do governador em
3/4/ 1 747. Resposta negativa I O/ 1 1 / 1 747.
1 760- 1 792 Viterbo indica que este engenheiro era filho
de milita,·. Em 1 760 er-a tenente em Estremoz e foi 1 7/8/ 1 755 Carta do bispo sobre a Sé. Cita uma certidão
nomeado capitão de infantaria do regimento de Belém assinada pelo mestre da obra Manuel João da Maya.
onde deveria servir 6 anos. Em 1 780 foi nomeado sar­ (AHU, Caixa 8 1 2)
gento-mor engenheiro e assumiu o posto de 1 .º comis­ 1 1 / 1 1 / 1 7 63 Contas de obras nos armazéns do colégio.
sário das Demarcações no rio Negro. Em 1 792 foi pro­ Pagamento dos oficiais. (AHU, Caixa 739) (25))
movido a coronel de infantaria do regimento de Macapá. 1 774 Petição de Jerónimo da Silva, mestre pedreiro,
Vilas
3 25
Inventário

Povoação: ALENQUER La Condamine passou por esta aldeia na descida do rio


demar·cador·a de limittes. Conferência aos dois plenipotenciários. "Viagem Filosó­
Dados Histór·icos / Observações: Amazonas em 1 744.
Uma completa descrição da vila é dada por· Alexandre fica". Estampa 79. (fig. 1 02)
Vila fundada em 1 75 8 na antiga aldeia Surubiú dos mis­ r
Rodrigues Ferreira na "Viagem Filosófica" (pp. 305-370), Alçado da f ente do Octógono dos plenipotenciários.
sionários capuchos da Província da Piedade. Situa-se na Povoação: ARRAYOLOS "Viagem Filosófica" Estampa 80. (fig. 1 03)
onde consta a narr·ativa de Landi sobr·e a construção da
mar·gem do lago Surubiú na região do Baixo-Amazonas, Dados Históricos / Observações: capela de Santa Anna. Pro specto da Vila de Barcelos, antiga aldeia Ma,·iuá, eri­
defronte da foz do rio Tapajós. Vila fundada em 20 de Fevereiro de 1 758 com a pre­ Filipe Sturm foi o encarregado de todas as obras na vila. gida capital da capitania de S. José do rio Negro . .
Na descrição de Baena em 1 839 "as casas, a cadeia e a sença de Mendonça Furtado e do desembargador Fez o projecto para dois palácios destinados aos pleni­ "Viagem Filosófica". Estampa 74.
casa de câmara, são cobertas de folhagem, dispostas Pascoal de Abranches Madeira. potenciários e uma casa de conferência octogonal que Prospecto do quar-i:el da tropa da guarnição da Vila de
com regularidade, . . . em três ruas" (Baena, p. 290) Era a antiga aldeia Guarimocu dos padr·es da Conceição ficaria a meio de ambos. (fig. 98) Bar-celos, constr1Jído por Joaquim Tinoco Valente, por·
da Beira e Minho, localizada no rio Tocr-é, um pequeno Um dos palácios começou a ser construído e o outro ordem do governador João Per·eira Caldas. principiado
Povoação: ALMEIRIM afluente da margem norte do Amazonas. jamais foi iniciado. em 1 775. "Viagem Filosófica" Estampa 75.
Dados Históricos / Observações: Segundo João Vasco Manuel de Br-aum, na sua Descrição Sturm fez depois outro palácio para a residência do Prospecto da pintura que fez o capitão António José
Corugráfica do Estado, contava em 1 789 com 268 pessoas. governador· da capitania. Na mesma altura faz projectos Landi na capela-mor· da igreja matriz da vila capital de
Vila fundada em 22 de Fever·eiro de 1 758 com a presen­
No Ensaio Corogr·áfico de Baena ( 1 839) possuía 425 de casas para soldados, casas novas para armazém e Barcelos, em 1 785. "Viagem Filosófica". Estampa 76.
ça de Mendonça Fur-i:ado e do desembargador Pascoal
vizinhos e er-a formada por uma "única pr·aça orlada de outra par-a o vigário. Todos estes projectos individuais Prospecto da pintura dos lados da capela-mor· da igr·eja
de Abranches Madeira.
28 mor-adas que são todas humildes e frágeis as paredes; completam o conjunto que está representado na planta matriz de Barcelos. Landi. "Viagem Filosófica". Estampa 77.
Er-a a antiga aldeia do Par1J dos missionários de Santo
e fora d'este contorno aqui e ali tem mais cinco também da vila executada pelo mesmo engenheiro em 1 762, da Primeira planta feita pelo capitão engenheiro Filipe
António, criada nas ma,·gens do Amazonas, pr·óximo da
de tecto de folhagem. No centro da Pr-aça está ficando qual existe uma cópia do século XX, na mapoteca do Sturm, por· ordem de Fr·ancisco Xavier de Mendonça
foz do rio Pan.r, um aíluente do Amazonas a nor-i:e. Nas
um esteio de acapú a que chamam pelourinho". (Baena, ltamaraty. (figs. 20, 99, 1 00 e I O 1 ) Furtado, para o palácio ,·esidência que n a aldeia de
proximidades da vila existia uma for"taleza constr1Jída
p. 285) O que esta planta indica é que o projecto de Sturm de Mariuá deveria residir o plenipotenciário espanhol
cerca de 1 639 por Manuel da Mota Sequeira.
1 762 abdica já da construção do segundo palácio dos ple­ D. José de lturriaga. A construção não foi executada.
Em 1 780, tinha 3 3 0 pessoas e em 1 839 a sua população
Povoação: AVEIRO nipotenciários, criando a "praça nova", onde fora o sítio "Viagem Filosófica". Estampa 78.
er-a de 305 indivíduos.
Dados Históricos / Observações: destinado para o octógono. Do mesmo modo, os quar·­ O lllmo e Exmo. Snr João Pereir·a Caldas e a respectiva
A forma da vila é descrita por· Baena como um "semicir·­ téis projectados para alojamento dos oficiais castelhanos expedição de limites chegando ao porto da Vila de
Lugar criado em 1 78 1 pelo governador José Nápoles
culo de palhoças, e no centro uma pequena igreja de são esquecidos, sendo feitos novos alojamentos para os Ba,·celos . . Mapoteca do ltamarati, Ms 770. fab (4). Ba
Telo de Meneses, no rio Tapajós, no termo da Vila de
pedra e cal cober-i:a de telha a que dedicar·am a N. Sr-a. soldados da própria vila mesmo diante do palácio. 1 780. (fig. 1 04)
Pinhel.
da Conceição". (Baena, p. 287) A estrutura da vila que inicialmente tinha sido pensada
Em 1 839 Baena diz que as casas da vila estavam cober­ Vista da Vila de Bar-celos. "Viagem filosófica". (fig. 1 1 2)
Em 1 890, a vila foi elevada à categoria de município. para a situação da conferência é depois remodelada em
tas de palha e só a igr·eja tinha tecto de telhas. A povo­
função da sua nova posição de capital da capitania. Assim
ação constava de 200 pessoas. Povoação: BEJA
Povoação: ALTER DO CHÃO o atestam o novo palácio par-a o governador e as obras
Encontrou-se um desenho da vila, no AHU, que a mos­ Dados H istóricos / Observações:
empr·eendidas nas casas e edificios utilitários, e a p,·eo­
Dados Históricos / Observações: tr·a como um enftleir·ado de casas dispostas par·alelamen­ Vila criada em 1 758 reconver"l:endo a antiga aldeia
cupação com a construção de mais uma igreja, na nova
Vila cr-iada em 7 de Mar·ço de 1 758 com a pr·esença de te em três ruas, com a igreja ao centro da pr·imeira Sumaúma dos padres da Companhia de jesus. Localizada
praça criada.
Mendonça Fu,-i:ado. defronte do rio. na entrada do rio Abaeté na costa ocidental da baía do
O projecto total, no entanto, parece não conter uma
Era a antiga aldeia Borary, dos missionários jesuítas, loca­ Documentação / lconogr-afia: Marajá.
metodologia abrangente, assemelhando-se mais a uma
lizada no ,·io Tapajós. 1 78 1 - 1 782 No conjunto de uma extensa documenta­ Segundo a descrição de Baena a vila constava de "tr·inta
atitude de ordenação parcelar.
Em 1 780, tinha 53 1 pessoas e em 1 839 contava com ção abonatória do tr·abalho do governador José e nove casas palhoças que acompanham o âmbito de
Na verdade a situação de destaque da vila e a sua pró­
8 1 8 habitantes. Nápoles T elo de Meneses há uma car-i:a em que consta um grande largo". (Baena, p. 293)
pria posição enquanto capital da capitania duraria pouco,
o "risco da plataforma do lugar· de Aveiros. . O risco
Possuía uma matriz cober-i:a de telha e as casas de mora­ e ainda no final do século XVIII o governo transferiu-se
não leva divisões necessárias de casa a casa e pouco vão Povoação: VILA BOIM
dores, câmara e cadeia cobe,-i:as de palha ainda em 1 839 pa1·a a Barra do rio Negro, na vila de Manaus.
místicas humas as outras, o que se lhe far·á quando se
(Baena, p. 288). Não há indicação da sua forma. Documentação / Iconografia: Dados Históricos / Observações:
entrar a levantar as casas". (AHU, Caixa 799 1 5/4/ 1 782)
(fig. 1 08) Vila de Barcelos. Mapoteca do ltamaraty. Mss. 77 1 .39/ B- Vila fundada em 9 de Março de 1 758 com a presença de
Povoação: ALVARENS 235 cdj 1 760. (fig. 20) Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Era a antiga
aldeia Santo lgnácio, dos jesuítas, localizada no rio Ta­
Dados Histór·icos / Observações: Povoação: AYRÃO Planta dos palácios para os Exmos. Plenipotenciários,
pajós.
Lugar criado em 1 759 por Joaquim de Melo e Póvoas Casa de Conferência e Quartéis para os oficiais e solda­
Dados Históricos / Observações: Em 1 780 contava 600 pessoas e em 1 839 tinha 780 indi­
onde foi uma aldeia carmelita denominada Ur-auá, locali­ dos castelhanos . . Filipe Sturm. AHE.Rj M 1 3 AM. 089.
Lugar· dependente da jurisdição da Vila de Moura, criado víduos.
zada junto à margem de um rio do mesmo nome, na (fig. 98)
por Mendonça Fur-i:ado em 1 75 8 onde for·a a aldeia jahu
capitania do rio Negm Planta de Sima do palácio nouvo . . Filipe Sturm. BNL
dos religiosos carmelitas, localizada no rio Negro.
Iconografia D.202 A. (fig. 99) Povoação: BORBA
Planta da casa de residência do padre visitador e vigá­ Dados Históricos / Observações:
Povoação: ALVELLOS Povoação: BARCELOS
rio . . Filipe Sturm. BNL Iconografia D 258 V. (fig. 1 00) Vila criada em I de janeiro de 1 756 por Mendonça
Dados Históricos / Observações: Dados Históricos / Observações:
Elevação das casas que se estão fazendo em um dos Furtado, na aldeia do Trocano, missionada por jesuítas,
Lugar· fundado em 1 759 por Joaquim de Melo e Póvoas, Vila erigida em 7 de Maio de 1 758 por· Francisco Xavier· no rio Madeira.
lados da nova praça para os moradores soldados caza­
onde foi a aldeia Coary, dos carmelitas, localizada no rio de Mendonça Furtado, na antiga aldeia Mariuá, dos reli­ dos nesta Vila de Barcelos. BNL Iconografia D.200A. * Ver Parte li, cap. li
Coary, na capitania do rio Negro. Fazia parte do termo giosos carmelitas no rio Negro. Na aldeia o governador (fig. 1 0 1 ) Para esta vila quis o governador Mendonça Furtado
da Vila de Ega. instalara-se, desde 1 754, com os membros da comissão
Planta do Octógono erigido para servir de Casa de mandar Landi como morador. O arquitecto terá projec-
326 3 27
A s Cidades da Amazónia n o Século XVIII Inventário

tado para ali a casa de Câmara e cadeia, a igreja e uma 1 78 O Prospecto da Vila de Cametá . . "Viagem Povoação: COLARES aldeia Nhamundá, dos missionários capuchos da
casa destinada a "feitoria do negócio" financiada pela Filosófica". Estampa 57. Dados Históricos / Observações: Piedade, localizada na entrada do ,·io Nhamundá, afiuen­
Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará. Vista da Vila de Cametá. "Viagem filosófica", estampa 57. Lugar criado em 1 757 na antiga aldeia Coaby dos te da margem norie do Amazonas. Este rio fazia o limi­
Em Borba pousou a 3 .' partida das Dema,·cações de (Fig. 1 1 0) Jesuítas, localizada numa ilha próxima à costa de Belém te entre as capitanias do Pará e do ,·io Negro.
Limites composta pelos engenheiros Rica,·do Franco de e defronte da Vila da Vigia. Em 1 780 a Vila de Faro tinha 300 pessoas.
Almeida Serra e Joaquim José FerTeira e os astrónomos Funcionava no século XVIII como ponto de registo d a Documentação / Iconografia:
Povoação: CARRAZEDO
António Pires da Silva Pontes e Francisco José de entrada d o s barcos que passavam a Belém.
Dados Históricos / Obse,-vações: 30/ 1 O/ 1 758 Carta de Mendonça Furiado ao tenente
Almeida e Lacerda.
Lugar criado em 1 758 pertencente à jurisdição da Vila de Ricardo António da Silva Leitão, di,·ector da povoação
Povoação: VILA DO CONDE de Faro. Faz referência a um desenho da vila. (POMB
Gurupá. Era a antiga aldeia Arapijó administrada pelos
Povoação: BRAGANÇA Dados Históricos / Observações: 1 63 , fi. 1 80)
capuchos da Piedade, que ali tinham um hospício, o qual
Dados Históricos / Observações: durou até ao ano de 1 786. Vila criada em 1 75 8 a partir da aldeia Moriiguará dos
Vila recriada em 1 754 com a presença do ouvidor João Jesuítas, localizada na margem meridional da baía do
Tinha, em 1 780, 1 20 pessoas e em 1 839, 40 1 morado­ Povoação: FONTE BOA
da Cruz Dinis Pinheiro na antiga Vila Sousa do Caeté. Marajá.
res no local. Dados Históricos / Observações:
A antiga vila fora fundada em 1 634 pelo capitão donatá­ Segundo Baena, em 1 839 a vila consistia "em uma
rio da capitania do Caeté Álvaro de Sousa. pequena corda de casas palhoças em torno de uma igre­ Lugar criado em 1 759 por Joaquim de Melo e Póvoas,
Presente na recriação d a vila estava o engenheiro
Povoação: CARVOEIRO ja" (Baena, p. 299). Da dita igreja diz que era de exce­ onde foi a aldeia Tracotuba dos canmelitas, no rio
Henrique Galuzzi que fez a sua planta. Dados Históricos / Observações: lente construção o que pode indicar· ser uma das pro­ Amazonas (Solimões).
Lugar sob a jurisdição da Vila de Mou,-a, criado em 1 758, jectadas a parti,- dos modelos de Landi. A vila em 1 839 era formada por "Trinta e cinco fogos
Documentação / Iconografia:
por Mendonça Furtado, onde foi a aldeia Araça,i dos fazem uma praça que em 1 776 já tinham existido 200"
1 3/8/ 1 755 Carta de João da Cruz Dinis Pinheiro a
carmelitas, no rio Negro. Povoação: CONDEIXA (Baena, p. 4 1 4)
Francisco Xavier de Mendonça Furtado sobre a abertura
da estrada entre Bragança e Ourém. (AHU, Caixa 739F) Documentação / Iconografia: Dados Históricos / Observações:
20/ I 0/ 1 755 Carta de João lgnácio de Brito e Abreu a Prospecto do Lugar de Carvoeiro, antiga aldeia Araça,·i Lugar criado em 1 757 a uma légua de distância da Vila Povoação: VILA FRANCA
Francisco Xavier de Mendonça Furtado sobre Bragança situada na margem meridional do rio Negro, desenho de de M onsaraz, na ilha do Marajá.
Dados Históricos / Observações:
e Ourém. Codina. "Viagem Filosófica". Estampa 6 1 .
Vila fundada em 1 7 de Março de 1 75 8 com a pr·esença
1 754 Mapa dos Rios Guamá, Guajará e Cayté do Estado Povoação: EGA
de Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Era a antiga
do Gram Pará onde mostra-se o caminhos novamente Povoação: CASTRO DE AVELANS Dados Históricos / Observações:
aldeia Comar"Ú dos jesuítas, localizada na entr-ada do ,·io
aberto por terra da Vila Nova de Bragança para a de Dados Históricos / Observações: Vila criada em 1 759 por Joaquim de Melo e Póvoas na r
Tapajós em f ente à Vila de Santa,·ém.
Ourém . . pello ajudante engenheiro Henrique António antiga aldeia canmelita de Tefé, localizada na foz do rio
Lugar criado em 1 759 por· Joaquim de Melo e Póvoas
Galuzzi. . AH E.RJ M I G l /028.B3 (fig. 1 3 ). No final do século XVIII instituiu-se um pesqueiro nesta
onde fo r·a a aldeia Matur;\ dos canmelitas, no rio Tefé.
vila, que em 1 780 tinha cer-ca de 1 000 morado,·es.
Nhamundá. Baena diz que no ano de 1 777 a vila tinha uma rua à beira­
Povoação: CACHOEIRA DO ARARI -rio e outras duas perpendicula,·es à praia. (Baena, p. 4 1 2)
Dados Históricos / Observações: Teve aposento na vila a quarta partida das Demarcações Povoação: GURUPÁ
Povoação: CHAVES
Freguesia criada em 1 747 na ilha do Marajá, em sítio na da qual pariiciparam os engenheiros Theodósio Dados Históricos / Observações:
Dados Históricos / Observações:
margem do rio Arari, a qual extraiu o nome da fazenda Constantino de Chenmont, Henrique João Wilkens e Vila criada em 1 639 e situada na margem sul do
Vila criada em 1 758 onde era a antiga aldeia de Eusébio António de Ribeiros e os astrónomos José
do capitão-mor André Fernandes Gavinha, seu fundador. Amazonas, onde existia uma pequena fortaleza constr-u­
Anajatiba, dos frades de S.'º António, na ilha do Marajá. Simões de Carvalho e José Joaquim da Costa.
A fonma da povoação é descrita por Baena com uma ída em 1 623 por Bento Maciel Parente.
Para a Vila de Chaves há um plano feito por Landi para Foi em Ega que, em 1 784, se reuniram o Plenipotenciário
única fila de casas à borda do rio. (Baena, p. 362) Existiam na vila um convento dos canmelitas, fundado
a sua instalação urbana. (fig. 1 8) João Pereira Caldas e o comissário D. Francisco Requena
em 1 645 e demolido em 1 674, e um hospício dos capu­
Documentação / Iconografia: da parte dos espanhóis par·a prosseguir a demarcação.
Povoação: CAMUTÁ chos da Piedade começado a construir em 1 692.
Planta do Porto e Vila de Chaves na ilha do Marajá.
Dados Históricos / Observações: Segundo a descrição de Baena, o Gurupá era fonmado em
( 1 854) AH E.RJ M4.G3.009.C (fig. 1 05) Povoação: ESPOSENDE
Vila fundada em 1 637, na margem do rio Tocantins pelo 1 839 por "trinta e sete casas palhoças e sete telhadas, fo,-­
Dados Históricos / Observações:
capitão donatário da capitania do Camutá, Feliciano mam duas ruas, uma denominada de Santo António e a
Coelho. Tinha o nome de Vila Viçosa de Santa Cruz do Povoação: CINTRA Vila criada em 2 1 de Fevereiro de 1 758 com a presença
outra de S. José, e duas pequenas praças, a do pelourinho
Camutá e hoje o município é identificado simplesmente Dados Históricos / Observações: de Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Era a antiga
e a da Aldeia contígua da parte do sul, cuja primitiva deno­
por· Cametá. aldeia T ubará dos padres capuchos da Conceição da
Vila criada em 1 755 na antiga aldeia Maracanã dos minação foi a de Mariocay". (Baena, p. 304)
Beira e Minho, localizada na margem direita do rio
Baena descreve a vila em 1 839 com "Três ruas paralelas Jesuítas com a presença do ouvidor Feliciano Ramos
Aramocu. Documentação / Iconografia:
ao rio, e dous largos, o da Matnz e o dos Mercês, f o r ­ Nobre Mourão. Localiza-se na foz do rio Maracanã no
Baena refere a existência ainda em 1 839 do pelourinho Prospecto da fortaleza de Gurupá e da sua povoação.
mam esta vila: cuja população e m 1 749 s e continha em litoral do Pará.
original, em madeira, colocado por Mendonça Furtado e Colecção de desenhos de Schewebel. Casa de Palmela.
uma pequena rua de casa humildes e só duas com Segundo a descrição de Baena em 1 839: "Tem uma só
diz que a vila não tinha mais que 363 moradores. (Baena, Prospecto do sítio de Aycajó que deriva o seu nome de
cobertura de telha." (Baena, p. 297) praça e quatro pequenas ruas, que são a do Mar, a das
p. 30 1 ) uma ponta de ten·a passando a fortaleza de Gurupá.
Para a igreja matriz de Camutá Landi executou um dese­ Flores, a Direita e a do Espírito Santo: nas quais há cento
nho em 1 758. e vinte e três casas, oitente e duas telhadas e quarenta e Colecção de desenhos de Schewebel.

Documentação / Iconografia: huma de palha." (Baena, p. 295)


Povoação: FARO 1 762. Várias cartas do engenheiro Domingos Sambucetti
Dados Históricos / Observações: enviadas do Gurupá, enquanto ali estava consertando a
1 758 Frontaria da nova igreja da Vila de Camutá. Landi No século XIX, o município voltou a ser chamado
fez. BNRJ, lconogr-afia E:B li Are 30. (fig. 26) Ma,·acanã. Vila fundada em 27 de Dezembro de 1 758, na antiga foriificação. (APP, cod. 6, does. 24, 40, 42, 45, 52)
328 329
As Cidades da Amazónia no Século XVIII Inventário

Povoação: LAMALONGA Abranches Madeira, na antiga aldeia de Joanes, dos mis­ Povoação: MUANÁ Xavier de Mendonça Furtado na antiga aldeia de Araticu
sionários de S.'º António. na ilha do Marajá. Dados H istóricos / Observações: dos jesuítas. localizada na entrada do rio Araticu.
Dados Históricos / Observações:
Lugar criado em 1 758 por Mendonça Furtado. no rio Baena refere a vila contando com "38 casas colmadas de Freguesia criada em 1 757. na ilha do Marajá, pelo bispo Documentação / Iconografia:
Negro, onde fora a aldeia Dary dos religiosos carmelitas. palma e dispostas em ordem regular". (Baena, p. 3 65) do Pará, D. Frei Miguel de Bulhões. Prospecto das casas da Vila de Oeir-as. situada na margem
O lugar estava sujeito à Vila de Tornar. setentrional do rio Araticu duas léguas acima da sua foz
Documentação / Iconografia: Povoação: MONTE ALEGRE Povoação: VILA NOVA DEL REI - desenho de Codina. "Viagem Filosófica". Estampa 57.

Prospecto da aldeia Dary dos religiosos carmelitas. Dados Históricos / Observações: Dados Históricos / Observações:
Colecção de desenhos de Schewebel. Casa de Palmela. Vila criada em 28 de Fevereiro de 1 75 8 por Mendonça Vila criada em 1 757 reconvertendo a fazenda Curussá Povoação: OLIVENÇA
Prospecto do lugar de Lamalonga, antiga Dan, desenho Furiado, reconvertendo a aldeia Gur-upatuba, localizada dos Jesuítas, situada na margem esquerda do rio Curussá. Dados Históricos / Observações:
de Fr·eir·e, 1 785. "Viagem Filosófica". Estampa 83. em um terreno alto na entrada do rio Gurupatuba, A elevação desta fazenda a vila foi muito contestada Vila erigida em 1 759 por Joaquim de Melo e Póvoas.
pequeno afiuente do Amazonas na margem norte. pelos jesuítas. onde fora a aldeia de S. Pedro dos religiosos camrelitas,
Povoação: MANAUS A aldeia de Gurupatuba foi inicialmente criada pelos Hoje a povoação voltou a ser identificada por Curussá. na margem do rio Amazonas.

Dados H istóricos / Observações: jesuítas e depois passada aos capuchos da Piedade.


Documentação / Iconografia:
Onde ho1e é a capital do estado do Amazonas era. até Documentação / Iconografia: Povoação: OURÉM
20/ I 0/ 1 75 7 Carta de Mendonça Furtado a Diogo de
ao ano de 1 79 1 . apenas um lugar designado de Barra do Prospecto da frontaria da igreja matriz e casa da resi­ Mendonça Corte-Real dando conta da elevação a vila Dados Históricos / Observações:
rio Negro, onde existia uma foriificação desde o século dência da vila de Monte Alegre. "Viagem Filosófica". das antigas fazendas dos jesuítas Curussá e Mamayassú. Vila fundada em 1 754 com casais açorianos ali instalados
XVII. Estampa 58. (POMB 1 59. fi. 69) em 1 753. Fundação feita pelo ouvidor João da Cruz
Em 1 695, os carmelitas fizeram no local uma pequena Igreja e Casa Paroquial. Viagem Filosófica. estampa 58. Dinis Pinheiro, no local onde, desde 1 727, existia uma
igreja. (fig. 1 09) pequena casa-forte, no r·io Guamá.
Povoação: ÓBIDOS
Em 1 79 1 , o governador Manuel da Gama Lobo de Dados Históricos / Observações: Galluzzi, presente com o ouvidor Dinis Pinheiro, dese­
Almada transfere para a Barra a sua mor-adia e o gover­ Povoação: MONSARAZ nhou uma planta da vila em 1 754. aquando da abertura
Vila fundada em 22 de Março de 1 758 por Mendonça
no da capitania por Julgar ser melhor a posição daquela Dados Históricos / Observações: da estrada ligando Ourém a Belém e a Br-agança. (fig. 1 3)
Furtado, no local onde existia uma pequena fortificação
vila em relação à de Barcelos. Em 1 799, por determina­
Vila criada em 1 758 com a presença do desembargador denominada de Forte de S.'º António dos Pauxis e uma
ção régia, é obrigado a retomar o governo para
Pascoal de Abranches Madeira. no antigo aldeamento aldeia missionada pelos capuchos da província da Piedade. Povoação: OUTEIRO
Barcelos, mas em 1 804 voltará para a Barra.
missionário dos capuchos da Conceição. denominado A localização da Vila de Óbidos é o ponto mais profun­ Dados Históricos / Observações:
O nome de Manaus será dado ao município em 1 856 Caya. na ilha do Marajá. do do rio Amazonas, conhecido por "estreito de Lugar criado em 24 de Fevereiro de 1 758 por Francisco
em função da tribo dos Manaós. os índios naturais da
Óbidos". Xavier de Mendonça Furtado na antiga aldeia de
região do rio Negro.
Povoação: MOREIRA Pela descrição de Baena em 1 839 sabe-se que "os mora­ Urubuquara, missionada pelos frades de S.'º António,
Dados Históricos / Observações: dores da vila habitam casas arruadas; e suposto que localizada na margem esquerda do Amazonas. perio da
Povoação: MELGAÇO algumas sejam colmadas de fo lhagem contudo tem seu
Lugar cr-iado em 1 758 por Mendonça Furtado onde era entr·ada do rio Paru.
Dados Históricos / Observações: alinho, o que tudo com a boa praça que tem faz uma
a aldeia Camará, administrada pelos camrelitas, no rio
Vila criada em 23 de Janeiro de 1 758 por Mendonça Negro. vivenda agradável".
Povoação: PINHEL
Furtado na antiga aldeia Guaracuru dos jesuítas, localiza­ Documentação / Iconografia:
Baena diz que "Há vestígios de que antigamente os lares Dados Históricos / Observações:
da numa ilha diante da Vila de Portel. Fortaleza de Pauxis. Colecção de Desenhos de
eram em número que fomravam duas praças e duas Vila criada em 9 de Março de 1 758 por· Francisco Xavier
Os jesuítas possuíam na vila um hospital que em 1 785 grandes ruas".* (Baena, p. 420) Schewebel. Casa de Palmela.
de Mendonça Furtado. Era a antiga aldeia S. José missio­
estava completamente anruinado.
* Possível infiuência de Macapá. Planta demonstrativa da situação reciproca das fortifica­ nada pelos jesuítas, no rio Tapajós.
Em 1 839, a vila possuía mais de 1 000 vizinhos. ções de Óbidos em 1 858. (AHE.RJ M 1 3 PA 1 28)
Documentação / Iconografia:
Documentação /Iconografia: (fig. 1 06)
Prospecto do lugar de Moreira chamado antes de Povoação: POIARES
Prospecto da Aldeia Guaracuru dos padres da Caboquena, desenho de Freira. "Viagem Filosófica".
Dados Históricos / Observações:
Companhia. Colecção de desenhos de Schewebel. Casa Estampa 8 1 . Povoação: ODIVELAS
de Palmela. Lugar criado em 1 758 por Mendonça Furtado, no rio
Dados H istóricos / Observações:
Negro. numa aldeia camrelita denominada Cumarú.
1 5/7/ 1 758 Carta de Mendonça Furtado escrita à Cãmara Freguesia fundada em 1 757 pelo ouvidor Feliciano
Povoação: MOURA
da Vila de Melgaço estabelecendo os limites do seu Ramos Nobre Mourão, onde era a antiga aldeia de S.
Dados Históricos / Observações:
temro. (POMB 1 63 , fis. 9 1 -94) Caetano dos Jesuítas. A localidade passou a ser identifi­ Povoação: POMBAL
Vila criada em 1 758 por Mendonça Furtado na antiga
cada como São Caetano de Odivelas. Dados Históricos / Observações:
aldeia Pedreira dos religiosos carmelitas no rio Negro.
Povoação: MONDIM Segundo a descrição de Baena a povoação assim se apre­ Vila criada em 1 2 de Setembro de 1 758, pelo desem­
Pela descrição de Baena a vila possuía "280 fogos distri­
Dados Históricos / Observações: sentava em 1 839: "Todas as casas são palhoças e em bargador ouv. Pascoal de Abranches Madeira, no rio
buídos por uma espaçosa praça com tr·ês ruas, uma ime­
Lugar criado em 1 757 pelo desembargador Pascoal de rosto delas. e de uma igrejinha bonita consagrada a N. S.' Xingú onde era a aldeia Piragury, dos jesuítas.
diata a igreja, outra dirigida a nascente e outra ao poen­
Abranches Madeira, no temro da Vila de Soure na ilha do Rosário, existe um largo amplo, regular e limpo, que
te, a qual era orlada de laranjeiras e limoeiros" (Baena, p.
do Marajá. Era a aldeia S. José dos Frades de S.'º António. faz toda a graça da povoação". (Baena, p. 3 1 6) Povoação: PORTEL
4 1 9)
Documentação / Iconografia: Dados Históricos / Observações:
Povoação: MONFORTE Povoação: OEI RAS Vila criada em 24 de Janeiro de 1 75 8 por Mendonça
Prospecto da Aldeia de Pedreira. dos religiosos camreli­
Dados Históricos / Observações: tas . . Colecção de desenhos de Schewebel. Casa de Dados Históricos / Observações: Furtado na antiga aldeia Arucará, missionada pelos jesuí­
Vila criada em 1 757 pelo desembargador Pascoal de Palmela. Vila fundada em 20 de Janeiro de 1 758 por Francisco tas, localizada na margem sul do rio Acicurá.
330 33 1
A s Cidades da Amazónia no Século XVIII Inventário

Segundo Baena "uma igreja de duas naves, de paso, Povoação: SANTARÉM Documentação / Iconografia: Povoação: SOUZEL
grande, pintada no tecto e paredes, dedicada a N:' S.' da Dados Históricos / Observações: Fortaleza de 5. José das Marabitenas e povoação. AHU, Dados Históricos / Observações:
Luz, e colocada no meio de uma comprida ala de casas, Vila fundada em 1 4 de Março de 1 758 por Mendonça cartografia manuscrita, rio Negro 774 (e. 1 767). (fig. 2 1 ) Vila criada em 14 de Setembro de 1 75 8 pelo
umas de girau, outras disfonmes, negras, e arruinadas, Furtado, na antiga aldeia dos Tapajós, localizada na entra­ Prospecto da fortaleza e povoação de 5. José das Desembargado,· Pascoal de Abranches Madeira. Era a
constitui a perspectiva da vila". (Baena, p. 325) da do mesmo rio, missionada pelos jesuítas desde 1 66 1 . antiga aldeia Arica,·i, dos jesuítas, no ,·io Xingú.
Ma,-abitenas - desenho de Freire, 1 785. "Viagem
Documentação / Iconografia: No local existia um forte designado de fo rtaleza do Filosófica". Estampa 97. Segundo Baena, em 1 834 a vila "consta de uma praça,
Prospecto da aldeia de Aricurá dos padres da Com­ Tapajós, construido em 1 697 por Manuel da Mota Fortaleza e Povoação de 5. José das Ma,-abitenas. Viagem em que fab,·icaram a igreja, e duas ruas desfalcadas de
panhia. Colecção de desenhos de Schewebel. Casa de Sequeira. filosófica, est. 97. (fig. 1 1 1 ) casas que apenas tem 1 4 tujupares e I O casas de sebe
Palmela. Santarém é hoje a segunda cidade mais importante do sem emboço telhadas com folhagem". (Baena, p. 33 1 )
Estado do Pará.
Povoação: SERPA
Documentação / Iconografia: Povoação: TABAT I NGA
Povoação: PORTO DE MÓS Dados Históricos / Observações:
Fortaleza de Tapajós. Colecção de desenhos de Dados Históricos / Observações:
Dados Histó,icos / Observações: Vila criada em 1 759 por Joaquim de Melo e Póvoas,
Schewebel. Casa de Palmela. Lugar criado em 1 7 66, pelo major Domingos Franco, no
Vila erigida em 1 6 de Setembro de 1 75 8 pelo desem­ governador do rio Negro, no local onde er-a a aldeia dos
rio Solimões (Amazonas) próximo da embocadura do
bargado,- ouvidor Pascoal de Ab,-anches Madeira. Era a Abacaxis.
Povoação: SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA rio Java ri. Este lugar ma,- cava o limite ocidental do Estado
antiga aldeia Maturu dos frades da Piedade, localizada no O aldeamento tivera mais de uma localização, mudando­
Dados Históricos / Observações: do Grão-Pará.
1-io Xingú. -se várias vezes em função dos constantes ataques que
Lugar criado em 1 763 em função da fortaleza mandada Existia no local um destacamento criado pelo coman­
lhe faziam os índios Muras.
Baena descreve a vila como "um largo nominado do dante da Vila de S. José do Javari e uma fortificação. A
construir pelo governador Manuel Bernardo de Melo e O engenheiro Filipe Stunm fez pa,-a esta vila um projecto
pelourinho com nove casas palhoças e treze tujupares e Companhia de Comércio fez construir em Tabatinga um
Castro.
de urbanização dispondo-a em fonma de um hexágono.
uma igreja inaugurada a S. João Baptista também com entreposto.
tecto de folhagem". (Baena, p. 327) Po,ventura não foi realizado tal plano, pois a descrição
Povoação: SÃO JOAQUIM da vila feita por Baena em 1 839 diz que esta "teve 1 200
Povoação: TOMAR
Dados Históricos / Observações: fogos em 1 778, fonmando uma vistosa e ampla praça de
Povoação: REBORDELO feição de um paralelogramo" (Baena, p. 448)
Dados Históricos / Observações:
Lugar criado em 1 775 pelo governador do rio Negro
Dados Históricos / Observações: Vila c,iada em. 1 75 8 por Francisco Xavier de Mendonça
Manuel da Gama Lobo de Almada, no local onde foi Documentação / Iconografia:
Furtado situada na margem direita do rio Negro, onde
Lugar criado em 1 757 onde fora a aldeia Piye na ilha da construida uma fortaleza denominada de S. Joaquim do Planta da Vila de Serpa erigida pello limo e Exmo. Sr
estava instalada a aldeia Bararoá, missionada pelos car­
Caviana, uma das ilhas do arquipélago do Marajó. rio Branco. Joaquim de Melo e Póvoas governador desta capitania.
melitas.
O lugar era da jurisdição da Vila de Chaves. O projecto da fo 1ialeza foi feito pelo engenheiro Filipe Po�. e Dei. pelo Captam lng. Philipe Stu,m. BNL.
Stunm. Iconografia D.20 1 A (fig. 22)
Em 1 792 a povoação sofreu um incêndio que destl"uiu a
Povoação: TURIASSÚ
Povoação: SALINAS Dados Históricos / Obse,vações:
maior pa1ie das casas já construídas.
Dados Históricos / Obse,vações: Povoação: SILVES
Documentação / Iconografia: Lugar- o-iado em 1 754 e localizado na margem esquerda
Dados Históricos / Obse,vações:
Lugar criado em 1 78 1 , situado na entrada da barra do do rio Turiassú próximo da frontei,-a que separa o Pará
Prospecto da fortaleza de S. Joaquim no rio B,-anco.
Pará, onde funcionavam desde o século XVII as Salinas Vila erigida em 1 759 por Joaquim de Melo e Póvoas na do Maranhão.
"Viagem Filosófica". Estampa 67.
Reais e onde em 1 656 foi erguida uma atalaia. margem norte do Amazonas. Era a antiga aldeia Anibaré Segundo Baena, duas ruas paralelas ao rio, com algumas
Planta da fortaleza de 5. Joaquim. "Viagem Filosófica". dos religiosos da Mercês.
Lugar submetido à jurisdição da Vila de Cintra. Servia casas cobertas de telha outras de palha e uma pequena
Estampa 68
O engenheiro Filipe Stunm fez um projecto para a insta­ igreja definiam o lugar em 1 839. (Baena, p. 3 3 6)
como residência dos pilotos práticos da banra.
Cópia do risco que deu o capitão engenheiro Felipe lação da vila, dispondo-a de maneira similar a Macapá,
Em 1 884, foi elevada à categoria de vila. Sturm, comandante da fortaleza do rio Branco para a com duas praças.
Povoação: VEIROS
Documentação / Iconografia: capela e residência do capelão da tropa de guarnição -
* Ver Parte li, cap. Ili.
desenho de Codina. "Viagem Filosófica". Estampa 69. Dados Históricos / Observações:
Planta das Salinas Reais. AHU, cartografia manuscrita Em 1 839 Baena descreve entretanto a vila dizendo que Vila criada em 1 2 de Setembro de 1 758 pelo desem­
Maranhão 832. (fig. 1 07). "os domicílios estão dispostos de modo que fo,mam um bargado,· ouvidor Feliciano Ramos Nob,·e Mourão. Era a
Povoação: SÃO JOÃO DE ARAGUAIA
largo comprido, em cujo centro se alça a igreja com a antiga aldeia ltacu,·usá missionada pelos Jesuítas. no rio
Dados Histór·icos / Observações: casa de câmara em rosto, e um caes quase todo des­
Povoação: SANTARÉM NOVO Xingú.
Lugar criado no sul do rio Tocantins em 1 797, estabele­ compaginado (sic)". (Baena, p. 446)
Dados Históricos / Observações: A descrição de Baena refere a vila como com "uma só
cido como ponto de controlo do contrabando do ouro Documentação / Iconografia:
Lugar criado em 1 796 no termo da Vila de Cintra. rua ornada de 1 3 casas". (Baena, p. 340)
das minas de Goiás, por ali efectuado.
Planta da Vila de Silvez erigida pello Sr. Joaquim de Mello
Povoação de pescadores, na margem do rio Maracanã.
e Póvoas governador desta Capitania. Dei. pelo Captam Povoação: VIGIA
Povoação: SÃO JOSÉ DAS MARABITENAS lng. Philipe Strum. BNL, Iconografia D. l 99A. (fig. 23)
Povoação: SALVATERRA Dados Históricos / Observações:
Dados Históricos / Observações:
Vila criada em 1 693 localizada na foz do rio Pará que
Dados Históricos / Observações: Lugar criado em 1 760 no local onde se fez construir uma Povoação: SOURE servia de controlo da entrada de embarcações, daí o seu
Vila criada em 1 757 pelo desembargador Pascoal de for taleza de nome 5. José das Marabitenas, no ,io Negro. Dados Históricos / Observações: nome de Vigia. No local existira um aldeamento de índi­
Abranches Madeira, na ilha do Marajó, onde era a aldeia A fortaleza e a povoação foram projectadas pelo enge­ os tupinambás denominado Uruitá.
Vila criada em 8 de Março de 1 757 pelo desembargador.
N.' S.• da Conceição dos frades capuchos da Conceição nheiro Filipe Stunm.*
Pascoal Abranches Madeira, na ilha do Marajó, onde e,-a Em 1 7 1 2. instalam-se na Vigia cerca de 200 casais de
da Beira e M inho. * Ver Parte 1, cap. 1. a aldeia Menino Jesus dos Frades de 5.'º António. índios.
333
332 lnventârio
As Cidades d a Amazónia n o Século XVIII

Os jesuítas construíram na vila um colégio e uma igreja, AM- 089


cerca de 1 702, que é uma das obras-primas do barroco
do Norte do país.
Os frades das Mercês, em 1 73 3 , estabeleceram um c,·::� �>-,.. �
10

pequeno hospício na vila e, em 1 734, seguiram-se os �---,.,,,;.


carmel itas com novo hospício e igreja.
Em 1 76 1 , após a expulsão dos jesuítas, a igreja da Madre
de Deus passa a ser a matriz da vila.
Da igreja dos carmelitas restam apenas 11Jínas. •1
Faziam parte do termo da Vila da Vigia os lugares d�
�1
Porto Salvo e Penha Longa. Porto Salvo foi antes a
i
fazenda Mamayassu dos Jesuítas.
1
Povoação: VILARINHO DO MONTE ·I
Dados Históricos / Observações:
Lugar criado em 1 758, subordinado à Vila de Gurupà, ,:_,
onde antes fora uma aldeia missionada pelos capuchos
da Piedade, denominada aldeia Caviana.
A descrição de Baena fala de uma forma semicircular
para a povoação. (Baena, p. 3 3 8)

1 ,.
1 -··

Povoação: VILLAR
Dados Históricos / Observações:
Lugar criado em 1 758, na ilha do Marajá, onde fora a
· 1 --- -r---;
aldeia dos Goyanases.
!
1

Povoação: VIZEU
Dados Históricos / Observações:
Freguesia criada em 1 758 pelo bispo Frei Miguel de -·;,:.._
Bulhões, localizada na mar-gem esquerda do rio Gurupi.

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Fig. 98. Planta dos palácios para o Exmos. Plenipotenciarios, Casa de Conferência e
Quarteis para os oficiais e soldados castelhanos que por ordem de Sua Excia o
lllmo e Exmo. Snr Francisco Xavier de Mendonça Furtado . . . foram projectadas e exe­
cutadas neste anrayal de Mariuá pelo Ajudante Philippe Sturm. AHE.RJ M 1 3 AM. 089.
334
As Cidades d a Amazónia n o Século XVIII

1,

Fig. 100. Planta d a casa d e Residência d o P . Visitador e Vigario desta Vill a d e Barcellos e Elevação da casa Nova
das Armas e Ferraria. Filipe Sturm. BNL Iconografia D.2S8V.
Fig. 99. Planta de Sima do palacio Nouvo feito por ordem do lllmo e Exmo. Snr
Joaquim de Melo e Póvoas Gov desta capitania para o limo e Exmo. Snr D.
Antonio Rolim de Moura Plenipotenciario das Demarcações da parte do
Norte. Dei e Extado pelo Capm lng. Filipe Sturm. BNL Iconografia D.202A
336 337
As Cidades d a Amazónia n o Século XVIII Inventário

N.IIJ

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Fig. 102. Planta do octógono erigido pelo mesmo auto1· (Stumr) para servir de Casa de
Fig. 1O I . Elevação das casas que se estão fazendo em um dos lados da Nova Praça para os moradores soldados Conferência aos dois plenipotencários. "Viagem Filosófica" est. 79.
cazados nesta Vila de Barcelos. Stumr. BNL Iconografia D.200A. Fig. 103. Alçado de frente do Octogono dos Plenipotenciários. "Viagem Filosófica" est. 80.
338 339
As Cidades d a Amazónia n o Século XVIII Inventário

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Fig. 1 04. O lllmo e Exmo. Snr João Pereira Caldas chegando e a respectiva expedição de limites Fig. 1 05. Planta do Porto e Vila de Chaves na Ilha do Marajá. Vista de Chaves do ponto V ( 1 854) AHE.RJ
chegando ao porto da Vila de Barcelos, capital da capitania de S. José do rio Negro em 1 7 de M4.G3.009.C.
Outubro de 1 780 . . . José Simões e Carvalho. Mapoteca do ltamarati, Ms. 770. fab (4).4 Ba 1 780.
340
As Cidades da Amazónia no Século XVIII
34 1
Inventário

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1

Fig. 1 06. Planta Demonstrativa da Situação. Recíproca das fortificações de Óbidos em 1 858. AHE. RJ M 1 3 PA Fig. 1 07. Planta das Salinas Reais. AHU, ca1iog1-afia manuscrita Ma1·anhão 832.
1 28.
342 343
As Cidades da Amazónia no Século XVIII Inventário

Fig. 1 08. Planta da Povoação de Aveiro. AHU cartografia manuscrita Pará s. n.


Fig. 1 09. Monte Alegre Igreja e Casa Paroquial. "Viagem Filosófica", est. 58.
Fig. 1 1 O. Vista da Vila de Cametá. "Viagem Filosófica", est. 57.
Fig. 1 1 1 . Fortaleza e Povoação de S. José das Marabitenas. "Viagem Filosófica", est. 97.
Fig. 1 1 2 . Vista da Vila de Barcelos "Viagem Filosófica".
Bibliografia
A. Fontes
A. 1 Fontes Manuscritas

1. Arquivo Histórico do Exército (Rio de - 1 794)1 79-794 ( 1 772- 1 807)/ 8 1 -796 ( 1 75 1 - 1 805)/ 82-
Janeiro) _797 ( 1 75 1 - 1 806)/ 83-798 ( 1 754- 1 806)/ 84-799 ( 1 78 1 -
- 1 783)/ 85-800 ( 1 784- 1 807)/ 87-802 ( 1 752- 1 825)/ 88-
1. 1 . Cartografia
-803 ( 1 790- 1 807)/ 89-804 ( 1 752- 1 807)/ 90-805 ( 1 740-
Amazonas: M l 3-Am037, M I 3-Am089, M I 3-Am 1 04, - 1 809)/ 9 1 -806 ( 1 754- 1 8 1 0)/ 92-807 ( 1 74 1 - 1 829)/ 93-
M9-G4-032. -808 ( 1 750- 1 828)/ 94-809 ( 1 752- 1 828)/ 95-8 1 0 ( 1 750-
Pará: M I 3-PaOO 1 , M I 3-Pa03 I , M l 3-Pa044, M l 3-Pa077, - 1 800)/ 96-8 1 1 ( 1 775- 1 83 1 )/ 97-8 1 2 ( 1 744- 1 826)/ 98-
M l 3-Pa078, M l 3 -Pa08 I , M l 3-Pa083, M l 3-Pa084, M l 3- -8 1 3 ( 1 765- 1 834)/ 99-8 1 4 ( 1 753- 1 829)/ 1 00-8 1 5
-Pa086, M l 3-Pa088, M l 3-Pa090, M l 3-Pa09 I , M l 3 - ( 1 752- 1 827)/ 1 0 1 -8 1 6 ( 1 74 1 - 1 8 1 1 )/ 1 02-8 1 7 ( 1 748-
-Pa097, M l 3-Pa098, M I 3-Pa 1 00, M I 3-Pa 1 04, M I 3- - 1 827)/ 1 03-8 1 8 ( 1 756- 1 822)/ 1 04-8 1 9 ( 1 754- 1 829)/
-Pa l 05, M I 3-Pa I 06, M l 3-Pa l 08, M l 3-Pa l 1 0, M l 3- 1 1 0-825T ( 1 668- 1 755)/ 1 1 1 -826 (S/D)/ 1 1 2-827 (S/D)/
-Pa 1 1 2, M I 3-Pa 1 I 2a, M I 3-Pa 1 1 4, M I 3-Pa 1 1 7, M I 3- li. 2. Códices
-Pa l 1 8, M I 3-Pa l 20, M l 3-Pa l 33, M l 3-Pa l 82, M I -G2-
-B3- I 05, M4-G3-C 1 0-009, M5-G I -C 1 0-002, M5-G I - Cods. n.' 1 2 1 3 1 2 1 4 - ( / 752) Catálogo das cartas que
-C 1 0-02 1 , M5-G I -C í 0-022, M5-G4-C 1 5-00 1 , M5-G4- instruem sobre as Demarcações e Tratado de Limites e
-C l 5-0 I I , M7-G4-D I 2-00 I , M8-G I -F6.5-00 I , M8-G I - sobre o estabelecimento das leis sobre as Missões e Sobre
-F6.5-002, M8-G I -F6.5-003, M8-G I -F6.5-004, M8-G I - a liberdade dos índios.
-F6.5-024, M8-G I -F6.5-033, M8-G I -F6.5-037, M8-G I - Cod. n.' 1 275 - ( 1 79 7) Colecção de cartas e ordens
-F6.5-04 I , M8-G I -F6.5-048, M8-G2-F6.5- I 02, M8-G2- régias dirigidas ao Senado da Câmara.
-F6.5- l 36/I 42, M8-G2-F6.5- l 43, M8-G2-F6.5- l 44, M8- Cod. n.' 1 790 - ( I 7 78) Relação das famílias de
-G2-F6.5- l 45, M8-G2-F6.5- l 46, M8-G2-F6.5- l 47. Mazagão.
Bahia: M9-G4-006. Cod. n.' 1 99 1 - ( 1 769) Registo do vencimento a fazer na
Ceará: M7-G4- D I 2-003, M8-G I -F6.5-052. Corte e no Grão-Pará às famílias de Mazagão.
Cod. n.' 2 1 07 - ( I 655) Regimento do governador André
l i . Arquivo Histórico Ultramarino Vida/ de Negreiros para o povoamento e ocupação das
capitanias do Pará, Ceará e Maranhão.
li. 1 . Caixas do Pará
li. 3. Cartografia Manuscrita
N.' Caixa - N.' de Ordem (Datas da documentação)
Cabo Verde: 1 1 7, 1 1 8, 1 1 9, 1 23, 1 30, 1 3 1 , 1 4 1 .
1 -728 ( 1 6 1 6- 1 650)/ 1 A-728 ( 1 650- 1 678)/ 2-734 ( 1 679-
- 1 686); 2A-734 ( 1 687- 1 700)/ 3- 729 ( 1 70 1 - 1 706)/ 3A­ Guiné: 1 53, 1 54- 1 57, 1 58, 1 59, 1 60, 1 6 1 , 1 62.
_729 ( 1 707- 1 7 1 5)/ 4A-73 I ( 1 7 1 6- 1 723)/ 4A-73 I S. Tomé e Príncipe: 1 70, 1 7 1 - 1 73, 1 74- 1 75, 1 76, 1 77.
( 1 724)/ 5-730 ( 1 725- 1 726)/ 5A-730 ( 1 727- 1 728)/ 6- Angola: 235, 236, 239-240, 243-248, 255, 256-257, 272,
727 ( l 729)/ 6A-727 ( 1 730- 1 73 1 )/ 6B-727 ( 1 732)/ 7-726 273.
( 1 733)/ 8-732 ( 1 734)/ 8A-732 ( 1 735)/ 9-739B ( 1 736- Rio Negro: 773, 774, 775, 776, 777, 778, 779.
- 1 737)/ 1 0-739 ( 1 738- 1 739)/ 1 OA-739 ( 1 740- 1 742)/ 1 1 - Pará: 788, 789, 792, 793, 794, 796-797, 798, 800, 804-
-738 ( 1 743- 1 744)/ I 2-739A ( 1 745- 1 746)/ I 2A-739A -805, 807, 808-809, 8 1 2-8 1 4, 8 1 5, 822.
( 1 747- 1 748)/ 1 3-735 ( 1 748- 1 750)/ 1 4-737 ( 1 770-
Maranhão: 826, 827, 828-829, 830, 83 1 , 833, 834, 835-
- 1 796)/ I 4A-737 ( 1 75 1 - 1 753)/ 1 5-736 ( 1 755)/ l 6-739E
-836, 843, 845, 846.
( 1 753- 1 754)/ I 6A-739E ( 1 755- 1 769)/ 1 7-733 ( 1 774-
- 1 776)/ l 8-739F ( 1 756- 1 758)/ l 9-739H ( 1 760)/ l 9A- Piauí / Ceará: 847, 848.
-739G ( I 759)/ 20-739G ( 1 760)/ 2 1 -7391 ( 1 76 1 )/ 22-742 Mato Grosso: 850, 85 1 , 852, 853, 854, 855, 856.
( 1 76 1 )/ 23-739C ( 1 762)/ 24-739D ( 1 762)/ 25-739J Goiás: 868, 869-87 1 , 874, 875-876, 877.
( 1 763)/ 26-74 1 ( 1 764)/ 27-740 ( 1 765)/ 28-743 ( 1 766)/ Paraíba: 882, 885.
29-745 ( 1 767- 1 769)/ 30-744 ( 1 769- 1 770)/ 3 1 -747 Pernambuco: 887-888, 889, 890, 89 1 , 894, 895-897,
( 1 770- 1 790)/ 32-746 ( 1 77 1 - 1 772)/ 33-748 ( 1 772)/ 34- 898, 899, 900, 907-9 1 7, 929-94 1 .
-749 ( 1 773)/ 35-750 ( 1 774)/ 35A-750 ( 1 775)/ 36-75 1
Bahia: 959, 96 1 -962, 963, 964, 965, 967-968, 973, 977,
( 1 776- 1 777)/ 37-753 ( 1 777- 1 778)/. 38-752 ( 1 778)/
983, 984, 985, 988, 989, 990- 1 028, 1 029- 1 034, 1 035,
38A-752 ( 1 778)/ 39-755 ( 1 779)/ 40-754 ( 1 780)/ 4 1 -757
1 036, 1 039- 1 043, 1 047.
( 1 780- 1 78 1 )/ 42-756 ( 1 782)/ 43-759 ( 1 783- 1 785)/ 44-
-758 ( 1 786- 1 788)/ 45-763 ( 1 790- 1 79 1 )/ 46-762 ( 1 792- Espírito Santo: 1 049- 1 05 1 .
- 1 794)/ 47-764 ( 1 795- 1 796)/ 48-76 1 ( 1 797)/ 49-765 Rio de Janeiro: 1 052, 1 053, 1 058- 1 059, 1 060, 1 06 1 ,
( I 798)/ 49A-765 ( 1 798)/ 49-760 ( 1 799)/ 59-774 ( 1 707- 1 062, 1 063, 1 064, 1 065, 1 07 1 - 1 072, 1 073, 1 074, 1 077-
- 1 783)/ 60-775 ( 1 74 1 - 1 769)/ 6 1 -776 ( 1 770- 1 799)/ 69- - 1 080, 1 089, 1 094, 1 095, 1 097- 1 098, 1 099, 1 1 29- 1 1 30,
-784 ( 1 760- 1 808)/ 7 1 -786 ( 1 796- 1 800)/ 72-787 ( 1 782- 1 1 49- 1 1 50.
- 1 806)/ 73-788 ( 1 773- 1 825)/ 74-789 ( 1 760- 1 807)/ 75- Minas Gerais: 1 1 5 1 , 1 1 52, 1 1 53, 1 1 54, 1 1 55, 1 1 56, 1 1 57,
-790 ( 1 773- 1 806)/ 77-792 ( 1 760- 1 8 1 0)/ 78-793 ( 1 772- 1 1 59, 1 1 6 1 - 1 1 62.
3 49
348 Bibliografia
As Cidades da Amazónia no Século XVI II

São Paulo: 1 1 84, 1 1 88, 1 200, 1 204, 1 2 1 1 , 1 2 1 2. V. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro A. 2 Fontes I mpressas
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- 1 227, 1 228, 1 229, 1 230, 1 233, 1 234. Are 4- 1 - 1 3, Arc-4-3- 1 6, Are 4-3- 1 9 , Are 4-7-6, Are 9-2-
Rio Grande do Sul: 1 235, 1 237, 1 243. -36, Are 1 2-3- 1 6, Are 1 7-7-2 1 , A,-c 22-4-3, Are 23-4- 1 3,
Colónia do Sacramento: 1 245, 1 246, 1 247. Are 24- 1 -22, Ar·c 25-2- 1 , A,-c 24-2-6, Are 24'2-7, Ar-e
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( 1 753- 1 789), Cod. 888 ( 1 754- 1 755), Cod. 890 ( 1 755), ( 1 792), in "Revista do IHGB", tomo Ili, I .• edição, Rio de
Cod. 89 1 ( 1 756), Cod 892 ( 1 757- 1 76 1 ), Cod. 893 2A-27A- 1 O I n.º: 1 0248. ALPOIM, José Fernandes Pinto, Exame de Artilheiros. Janeiro, 1 84 1 , pp. 389-42 1 .
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- 1 780), Cod. 896 ( 1 780- 1 789) 3-38-52 n.º': 4588, 4596 46 1 6, 4639, 4645, 4756. de janeiro, 1 987. FORTES, Manuel de Azevedo, O Engenheiro Português:
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IV. Biblioteca Nacional de Lisboa BETENDORF, João, Chronica do Missão dos Padres da de a Geometria prática sobre o terreno, o uso dos instru­
VII. Mapoteca do ltamarati Companhia de Jesus no Estado do Maranhão (séc XVII), ,n mentos mais necessários aos engenheiros, o modo de dese­
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"Revista do IHGB", tomo 72. Rio de janeiro. 1 909, pp. 1 - nhar e dar aguadas nas plantas militares e no apêndice a
Cod. 93- 1 - Cortas vários manuscritas do Grão-Pará Amapá: Ms 77 1 .6a- 1 728; Bibli. 1 740; Bibli 1 76 1 ; Ms
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Cod. 1 1 4 1 5 - Documentos vários dos arquivos do Porá 77 l .69/M-529a- I 77-
fortificação regular e irregular: o ataque e defensa das pra­
Cod. 1 1 570 - Documentos vários relativos ao Pará e ao Amazonas: Map. 1 750; Ms 77 l .39B/-235 cdj 1 760; Ms BRAUN, João Vasco Manuel de, Roteiro Chorogro(,co do ças e no apêndice o uso das armas de guerra, Lisboa,
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Maranhão 1 728-29.
His 1 780. nou fazer ao Rio dos Amazonas em a parte que (,ca com­
Cod. 1 1 589 - Listas de manuscritos relativos ao Pará e
Maranhão
Maranhão: Ms 773. l 2aj- l 789c 1 1 1 9. preendida no Capitania do Grão-Porá tudo em destino de LANDI, António José, Extrato do Diario de Viagem ao Rio
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356 Nota Final - Agradecimentos
A s Cidades d a Amazónia n o Século XVIII

Em todas as fases que implicaram a elaboração deste trabalho, contámos com a cola­
Teorias e História da Arqwtectura, Editorial Presença,
boração de muitas pessoas: os familia,·es e amigos, que não faltaram com o seu incentivo e soli­
Lisboa, 1 979.
dariedade, e os professores e colegas que, concretamente, contribuíram com os seus conheci­
TAVARES, Aurélio de Lyra, A Engenharia Portuguesa na mentos e ajudas. Os do primeiro gnupo sei que, de bom grado, dispensam as referências exp,·es­
Constnução do Brasil, Rio de Janeiro, 1 965. sas e sabem do sincero reconhecimento da dívida que lhes tenho.
Aos do segundo tenho a ob1·igação e o prazer de agradecer. Inicialmente, ao Doutor
TZONIS, Alexandre; LEFAIVRE, Liane, E/ Bastion como Horta Correia, director desta dissertação, que nos forneceu as bases, todas, de conhecimento,
menta/idad, in "La Ciudad y las Murallas", Ed. Catedra, método e incentivo que a sustentam. Sem a sua orientação e apoio sabemos que não nos teria
Madrid, 1 99 1 . sido possível concretizar este trabalho.
Ao Prof. Nestor Goulart Reis Filho, da Faculdade de Arquitectura da Universidade de
VIGO Trasancos, Alfredo, Arquitectura y Urbanismo en E/ São Paulo, e à Dr: Beatriz Bueno agradeço, especialmente, entre as muitas atenções, o favor que
Ferro/ dei Sigla XVIII, Colexio de Arquitectos de Galicia, , se constituiu a doação que me fizeram de reproduções fotográficas de mapas e plantas existen­
1 984. tes nos arquivos brasileiros.
Aos funcionários do Arquivo Histórico Ultrama,ino agradeço tanto o eficiente atendi­
VITERBO, Sousa, Dicionário Histórico e Documental dos mento como a amizade gerada durante o convívio. Aos professores e funcionários do
Arquitectos, Engenheiros e Construtores Po11ugueses, Departamento de História da Arte, e aos colegas de curso, a todos agradeço pela ajuda que, de
Reprodução fac-símile dos exemplares de 1 899- 1 922 da variadas maneiras, prestaram.
I mprensa Nacional Casa da Moeda, 3 vols., Lisboa, 1 988. A edição que agora se faz deste trabalho deve-se, essencialmente, a duas pessoas a
Expedições Científico Militares enviadas ao Brasil, quem também tenho grande prazer em agradecer: ao arquitecto Alexandre Alves Costa, que pro­
Coordenação, Aditamentos e Introdução de Jorge Faro, pôs a publicação, para minha gratíssima surpresa, no próprio dia da defesa da dissertação, da qual
Edições Panorama, Lisboa, 1 962. foi arguente, e ao arquitecto Manuel Mendes, que desde o princípio tem acompanhado o pro­
jecto deste livro com atenções que ultrapassam o meu merecimento.
VITRUVIO, Marco, Los Diez Libras de Arquitectura, Por fim, devo também referi,- aos que, felizmente, fazem parte, ao mesmo tempo, do
Reprodução fac-símile da edição da Imprensa Real, primeiro e do segundo gnupo, os amigos e colegas que me ajudaram especialmente durante a
Madrid, 1 787, Edito,·ial Alta Fula, Barcelona, 1987. redacção da dissertação e, depois, na preparação desta edição. À Zelinda Cohen e à Ana Isabel
Ribeiro, pela leitura atenta em diferentes fases do trabalho, e à Isabel Rodrigues e ao Daniel
WILKINSON, Catherine, Renaissance Treatises on
Tércio, pelo apoio constante ao longo de todo o processo e pelas discussões e sugestões sem­
Mi/itary Architecture and the Science of Mechanics, ln "Les
pre bem vindas.
T raités d'Architecture de la Renaissance", Paris, 1 988.
Séne 1 . Ensaios "Numa primeira parte, intitulada "Das Cidades e dos Conceitos", procura-se estabelecer
3
as bases sobre as quais se fundou a experiência urbanizadora da Amazónia, no contexto
do urbanismo enquanto expressão artística e, em especial, no contexto do urban ismo
colonial português. Numa segunda parte, então chamada "Da Amazónia e das Cidades",
procura-se finalmente ver mais de perto o processo da urbanização da região no século
XVIII, aprofundando a análise dos três exemplos seleccionados."

Renato Araujo (Belém, 1 963) é licenciada em arquiteetura pelo CESEP, Pará, mestre em História da
Arte pela UNL Prepara tese de doutoramento sobre "A urbanização do Mato Grosso no século
XVIII".

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Publicação patrocinada pelo Instituto Po1-tuguês do Livro e das Bibliotecas

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