A queda do muro de Berlim, ao final da década de 1980, foi interpretada por
muitos como o início de uma era pós-ideológica, triunfo da doutrina neoliberal. Contudo, a crise política que se espraiou pelo mundo na última década pôs a nu as fissuras da ordem vigente. A corrupção e o desencanto gradualmente erodem o appetitus societatis, o ímpeto (fundamental à preservação de toda e qualquer comunidade política) que leva os indivíduos a se engajarem em um projeto coletivo de organização social. Isolados pelo rancor e pelo medo, compomos uma massa, mas não um povo. A vitalidade de um Estado evidencia-se pela capacidade do jogo de alternância de poder de absorver (e fortalecer-se com) a pluralidade e a divergência. Em nossa sociedade, em contrapartida, os ódios ideológicos terminaram por minar o sentimento de pertença a um espaço comum. No Brasil, em especial, é notório o ceticismo que a população nutre, hoje, face à coisa pública – vista, não mais como bem de todos, mas como terra de ninguém. Nessa conjuntura, é imprescindível que a Academia resgate a discussão teórico-filosófica a propósito do republicanismo. As comunas renascentistas, espelhando-se na Antiguidade greco- romana, revitalizaram a noção de vita activa, quer dizer, o ideal de cidadania enquanto participação nos processos decisórios que ditam os rumos da polis. Desde suas origens, o humanismo, no Ocidente, sempre mostrou-se conectado à valorização da república, como família ampliada, esfera na qual todos os cidadãos podem se reconhecer. Pensadores tão diversos quanto Cícero, Nicolau Maquiavel e Hannah Arendt irmanam-se no esforço para fomentar as virtudes republicanas, o rol de princípios e hábitos indispensáveis à edificação de um corpo político-social assentado na liberdade, na igualdade e na fraternidade. Ora, o evento que propomos busca fazer jus a esse legado, abrindo um espaço para que se debata, a partir de um horizonte transdisciplinar, os valores necessários para reconstruir os laços entre a vida privada e a vida pública, a sociedade e a política. Para além do mito burguês segundo o qual são os vícios privados (a ganância, a inveja etc.) que produzem benefícios públicos (a riqueza das nações), é preciso refletir sobre o ethos que deve sustentar uma sociedade efetivamente justa. Conceitos como os de “democracia participativa” e “patriotismo constitucional” encontram-se na ordem do dia, mas é fundamental que os interpretemos à luz da multissecular tradição de pensamento que sedimentou o imaginário político de nossa civilização. É esse o intuito do simpósio. Novos arranjos institucionais (alterações no sistema de checks and balances, por exemplo) não suficientes para sanar a crise política que vivenciamos hodiernamente, caso não recuperemos, junto aos indivíduos, virtudes republicanas que os mobilizem na tarefa – urgente – de restauração do Estado Democrático de Direito. Convidando intelectuais de áreas diversas (como o Direito, a Filosofia e a História) para meditarem conjuntamente sobre o republicanismo, nosso evento pretende oferecer uma (modesta) contribuição a esse empreendimento. O direito à participação política é essencial à autorrealização da pessoa; desse modo, na esteira de um conjunto de simpósios que vem tornando a Faculdade de Direito da UFMG em um polo de reflexão sobre a dimensão filosófica da dignidade humana, é natural que o debate sobre os significados da república ganhe destaque.
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