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PROJETO DE PESQUISA
Autores: Profa. Dra. Patrícia Paraboni e Prof. Dr. Diego Frichs Antonello
Santa Maria
Outubro, 2017
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1 TEMA
A presente pesquisa pretende investigar a temática do trauma, sua relação com a questão
do corpo e da psicossomática a partir da perspectiva da psicanálise.
Para isso, se faz fundamental um retorno à Freud, mas também ao seu discípulo Sándor
Ferenczi, reconhecido por trabalhar com os ditos “casos difíceis”, os quais englobavam as
problemáticas que incidiam sobre a corporeidade dos sujeitos. Ainda pretende-se estudar as
contribuições de alguns autores franceses da Escola de Psicossomática de Paris. Além disso,
buscar conhecer a literatura presente no Brasil sobre essas temáticas, dentro da perspectiva da
psicanálise.
2 JUSTIFICATIVA
3 OBJETIVOS
3
4 RESULTADOS ESPERADOS
5 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
como se a anatomia não existisse, ou como se não tivesse conhecimento desta”. E acrescenta
que a histérica “toma os órgãos pelo sentido comum, popular, dos nomes que eles têm: a perna
é a perna até sua inserção no quadril, o braço é o membro superior tal como aparece visível sob
a roupa” (FREUD, 1893[1888-1893]/1996, p. 212).
Vale ressaltar que ao longo de sua obra Freud se dedica com mais afinco ao estudo das
psiconeuroses do que das neuroses atuais, mas após 1920, seus escassos escritos sobre a questão
oferecem pistas para pensarmos sua etiologia em articulação com a noção de trauma. Nesse
momento, ele elabora uma nova concepção de trauma. Freud (1920/1996) descreve como
traumáticas
Inspirados nas concepções freudianas, desde 1920, alguns autores do que se denominou
Escola de Chicago, fundada por Franz Alexander, passaram a desenvolver uma abordagem
psicossomática das patologias orgânicas. Tais teóricos mostravam as relações entre patologias
orgânicas, conflitos emocionais e estrutura da personalidade. Ancorado nessa perspectiva, em
1936, Selye considera que o estresse poderia ser atribuído à causalidade de patologias
orgânicas. Depois estudou-se a relação entre patologias somáticas, depressão, sistema
imunológico. Entre 1981 e 1984, entendeu-se que fatores psicológicos poderiam intervir na
gênese de doenças graves como o câncer (VOLICH, 1998, 2000).
Dejours (1998) critica o solipsismo das concepções de Freud e também de Marty, uma
vez que analisam os movimentos psíquicos unicamente em função do que se passa no interior
do sujeito tomado isoladamente, portanto, não consideram o mundo exterior e nem o outro. A
partir disso, Dejours (1998) propõe algumas ideias que fazem avançar na compreensão dos
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os eventos “psíquicos” do passado (infância) podem ter deixado para trás seus traços
mnêmicos somente na linguagem gestual (corporal) incompreensível para o nosso
consciente, sob a forma de “mnemos” orgânico-psíquicos; na época, talvez não
existisse sequer o pré-consciente, apenas reações emocionais (prazer-desprazer) no
corpo (traços mnêmicos subjetivos) – de modo que só são reproduzidos fragmentos de
acontecimentos exteriores (traumáticos). Talvez apenas os primeiros momentos do
traumatismo que ainda não puderam ser “recalcados” (deslocados para o corporal), em
consequência do elemento surpresa (ausência ou atraso do contrainvestimento)
(Ferenczi, 1932/2011, p. 308).
Assim, Ferenczi propõe uma forma de “conservação das vivências” que se dá em uma
memória corporal.
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Neste sentido, na clínica psicanalítica, o acesso a essa memória será pelas expressões
corporais. O contato com pacientes somáticos ensina que frequentemente eles utilizam o corpo
como imagem, solicitando do profissional um olhar e uma escuta capazes de figurar essa
imagem e descrevê-la em palavras. Nesses casos, eles parecem necessitar que o analista os
acompanhe na busca das palavras capazes de acolher os detalhes, os mais fortuitos, da sua fala
e colocá-los em relação com o que se passa no seu corpo. Portanto, trata-se de acolher e nomear
as sensações corporais (FERNANDES, 2003). No entender de Fernandes (2011, p. 59) “é por
meio da delicadeza da escuta, de uma leitura em filigrana das palavras, na sutileza da busca dos
detalhes, dos gestos, do olhar, do silêncio que o analista vai reencontrar as marcas das imagens
internas do analisando”. Somente a partir de uma escuta capaz de receber e conservar, muitas
vezes no próprio corpo (do analista), as marcas de dor do outro é que será possível compreender
melhor a diversidade do funcionamento psíquico que se revela na atualidade através das
imagens corporais do sofrimento.
Segundo Fernandes (2011), Freud deixa claro que para ele as relações entre o psíquico
e o somático são de reciprocidade, ou seja, o que afeta o somático pode produzir alterações no
psiquismo e vice-versa. A clínica atual nos ensina que os acontecimentos da vida podem afetar
simultaneamente os dois registros, sem que se consiga determinar qual ordem de causalidade
teve primazia. A questão que permanece é certamente de saber como essas conexões entre o
somático e o psíquico ocorrem. Levando em conta a complexidade dessas relações é que
empreendemos esse projeto para buscar compreender melhor as questões envolvidas nas
manifestações corporais de sofrimento na atualidade e que se apresentam na clínica
contemporânea e que geram muitos desafios aos profissionais da saúde.
6 METODOLOGIA
Nesta pesquisa será realizado um estudo de revisão, no qual serão utilizadas fontes de
informações bibliográficas ou eletrônicas para obtenção de resultados de pesquisas de outros
autores, com o objetivo de fundamentar teoricamente um determinado tema. Há duas categorias
de revisão que podem ser encontrados na literatura: revisões narrativas e revisões sistemáticas.
Nesta pesquisa será feita uma revisão narrativa. Nas revisões narrativas não são informadas
previamente as fontes de informação que serão estudadas, a metodologia para busca das
referências, nem os critérios utilizados na avaliação e seleção dos trabalhos. Assim, a revisão
narrativa se constitui, basicamente, de análise da literatura publicada em livros, artigos de
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Para esta pesquisa pretende-se realizar leituras de textos de Freud, de Sándor Ferenczi,
de produções bibliográficas de contribuições de alguns autores franceses da Escola de
Psicossomática de Paris. Além disso, buscar conhecer a literatura presente no Brasil sobre essas
temáticas, dentro da perspectiva da psicanálise.
A pesquisa terá início em fevereiro e seu fechamento está previsto para dezembro,
podendo ser prorrogada por mais um ano se assim for possível. Os encontros do grupo de
pesquisa ocorrerão semanalmente, perfazendo duas horas-aula de estudo semanais. Em cada
encontro será discutido um texto escolhido previamente e disponibilizado aos alunos, os quais
deverão realizar a leitura e fichamento para discussão no grupo de estudos. Ao longo da
pesquisa pretende-se que os alunos elaborem propostas de trabalho para apresentação em
eventos científicos, assim como a construção de artigos para possível publicação. Além disso,
espera-se que essa pesquisa sirva como base para a implementação posterior de uma proposta
de projeto de extensão no campo da saúde.
7 CRONOGRAMA
Atividades Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Leitura e X X X X X X X X X X X
discussão de
textos
Ficha de leitura X X X X X X X X X X X
dos textos
estudados
(ATIVIDADE
AVALIATIVA)
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Escrita de um X X
resumo
expandido para
apresentação na
Mostra
Integrada da
FISMA
(ATIVIDADE
AVALIATIVA)
Apresentação X X X X X
da pesquisa em
eventos
científicos
Elaboração de X X X X X
artigo
(ATIVIDADE
AVALIATIVA)
Submissão de X X
artigo
8 ORÇAMENTO
Livros * R$ 800,00
Folhas * R$ 50,00
Canetas * R$ 10,00
Impressão * R$ 200,00
Hora-aula (35,58 X 36 R$ 2.777,76
semanas – 2 semestres X 2
horas-aula semanais)
9 REFERÊNCIAS
FERENCZI, S. (1931) Análises de crianças com adultos. In: ______. Obras completas –
Psicanálise IV, São Paulo: Martins Fontes, 2011, p. 79-95.
ROTHER, E. T. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta paul. enferm., São Paulo , v.
20, n. 2, p. v-vi, June 2007 . Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
21002007000200001&lng=en&nrm=iso . Acesso em 25 out. 2017
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002007000200001.