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O que foi a Reforma Protestante? O que ela significa? Até os não religiosos têm
conhecimento do fato, visto que trouxe grande influência não só na Europa, mas em todo
mundo. A Reforma significa que a Igreja passou por uma restauração onde o clímax foi o
retorno à Palavra de Deus. Podemos dizer que o ponto alto da Reforma foi o retroceder de
uma igreja desviada da Palavra de Deus para os caminhos da verdade. Não foi algo
semelhante a uma simples reforma de uma casa. Não foi também uma simples mudança
estética ou a introdução de algumas novidades porque a Igreja precisava de coisas mais
atuais. Muitos entendem “Igreja reformada, sempre reformando” como a introdução de
novidades, inovações, na vida da Igreja. A Reforma foi uma volta à Palavra de Deus. Na
essência não somos Luteranos, não temos oficialmente um nome de um homem –
Calvinista – apesar da grandeza de Calvino, mas somos Reformados. Por quê? Porque
somos a igreja de Cristo, a noiva de Cristo, a Igreja que sempre existiu e existirá. Somos
uma Igreja que experimentou o processo de voltar à Palavra de Deus.
Somos a Igreja Católica que significa universal, a Igreja de Cristo em todo mundo. É uma
Igreja que se livrou das doutrinas e acréscimos dos homens e voltou para a Palavra de
Deus. Temos vários nomes: Igrejas Presbiterianas, Igrejas Reformadas... As igrejas
Presbiterianas vieram da Escócia e Inglaterra, enquanto que as Reformadas vieram da
Europa Continental como Holanda, Suíça, etc. As Igrejas Presbiterianas não têm um nome
de um homem, como dissemos acima (por exemplo, “calvinistas”), mas este nome foi
tirado do seu sistema de governo e isso é até uma confissão de fé. É Presbiteriana porque
não é uma Igreja hierárquica, episcopal, papal, onde existe um papa que manda em tudo. A
Igreja Presbiteriana é uma Igreja que voltou para a Palavra de Deus; tem a doutrina
Reformada, sua Confissão é Reformada e seu sistema de governo é bíblico. As autoridades
locais são os presbíteros que governam e não há forte distinção entre pastores e
presbíteros, pois todos são presbíteros: os docentes e os regentes. Esta Igreja enfatiza o
governo exercido por presbíteros e não por um “papa”. Mas é vergonhoso existirem Igrejas
Presbiterianas que não estão praticando o que o nome diz (Presbiterianismo) e estão
colocando novamente um tipo de “papa” (um homem só) que está mandando em toda a
Igreja.
Hoje existem muitas Igrejas Presbiterianas liberais, que têm se voltado para uma
hierarquia episcopal, papal. Não estão respeitando suas raízes. É claro que existem
também Confederações de Igrejas Reformadas que estão desviadas da verdade e são
liberais.
Como era a situação há 500 anos? Era uma situação terrível e triste porque o homem vivia
sob o medo; só conseguia ver um Deus irado, enraivecido, que ditava castigos e
julgamentos sobre a terra. Já no século XIV houve a peste bubônica que matou dezenas de
milhares de pessoas e até o século XVI, milhares de pessoas passaram por muitos
sofrimentos, aflições, catástrofes. A igreja se aproveitou disso para ensinar sobre um Deus
carrasco que, irado, bradava com o povo exigindo arrependimento. Mas o povo não tinha a
Bíblia para entender quem é Deus e como Ele se revela na Sua Palavra. O povo só tinha o
que o padre dizia em latim, na missa (um ritual apenas). Isso levou as pessoas a ficarem
ignorantes da Palavra e a consequência foi um povo extremamente supersticioso, vivendo
numa atmosfera de medo, onde havia muitas referências de ameaças sobre o inferno,
purgatório, pecado e a ira grotesca de Deus. As pessoas ficavam tremendo com a visão de
um Deus iracundo.
Muitas coisas eram vistas como algo demoníaco; viam-se bruxas e vultos em todo lugar.
Foi um período de muita superstição e não havia a luz da Palavra de Deus. O Salmo 119 se
refere à Palavra como uma luz, e essa luz faltava nessa época. Por isso o povo andava nas
trevas, obscurecido, confuso, perdido e triste. Sem essa luz, as pessoas não tinham uma
regra de fé e prática; não sabiam como fiscalizar o que os padres nas igrejas estavam
dizendo. Os padres, bispos, cardeais e o papa podiam inventar qualquer coisa e afirmar
que aquilo era o que Deus dizia. Na época, não era só a Palavra de Deus que era
autoridade, mas especialmente a tradição da Igreja (Deus falava através da Igreja).
Portanto, qualquer coisa que o Papa imaginasse isso era colocada como doutrina.
A igreja se aproveitou da situação para roubar o povo. Aproveitou-se do medo para roubar
o povo usando como pretexto ensinos como purgatório, inferno, um Deus enraivecido, e,
então, os clérigos conclamavam que dessem dinheiro para a Igreja, para Deus, e Ele
receberia estas pessoas caridosas. Dessa forma a Igreja conseguiu construir grandes
catedrais e os bispos e cardeais ficavam cada vez mais ricos e o povo mais pobre. Foi nesta
época que o padre João Tetzel teve uma missão especial. Ele ia por todos os lugares falado
“em nome de Deus e do Papa” dizendo: “Venham comprar este pedaço de papel, um
documento que garante perdão a todos os seus pecados e, assim, terão acesso ao céu. Além
disso, poderão comprá-lo para toda família e para pessoas que até já morreram. Se você
gostava muito de seu avô que já morreu, isso poderá livrá-lo do purgatório”. Primeiro ele
pregava sobre o purgatório, o inferno e do irmão de alguém que poderia estar sofrendo
muito no fogo. Depois ele oferecia este documento chamado de indulgência e num
momento, quando a moeda caísse dentro da caixa, a alma dos mortos pularia do
purgatório para o céu. Todos queriam comprar este papel de João Tetzel para ter a
garantia de que seus pecados e de seus familiares estavam perdoados, inclusive os que já
haviam morrido. Assim, depois de receberem o perdão, poderiam viver de qualquer forma,
fazendo o que desejavam, porque já haviam comprado o perdão e a salvação.
Lutero, vendo isso ficou irado, pois tudo era completamente contrário à Palavra de Deus. A
Igreja estava tratando o arrependimento com um ato e não como um estilo de vida. Essa
diferença é importante. A Bíblia na época era escrita em latim e o povo não tinha acesso a
ela. É verdade que os pastores e pregadores sempre precisaram saber as línguas originais.
Por isso os pastores reformados, em todo mundo, estudam as línguas originais para evitar
basearem seus estudos apenas numa tradução. Em Mateus 4:17, lemos: “Daí por diante
passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”. A
expressão “arrependei-vos”, na versão latina (latim), é: “fazei penitência”. Então, a Igreja,
sem olhar com cuidado o que isso significava, entendia que os filhos de Deus deveriam
fazer alguma coisa (penitência) para cobrir seus pecados. Assim, o arrependimento
tornava-se um ato. Você peca e depois faz penitência. Ora o Pai Nosso, reza a Ave Maria, dá
algum dinheiro, faz caridade ou outras coisas semelhantes. Mas, Lutero tomou a Bíblia no
grego, uma obra do erudito Erasmus de Roterdã, e viu que não era “fazei penitência” e sim
“arrependei-vos ou convertei-vos”. O verbo não significa um ato de fazer alguma coisa,
mas “humildemente tenha uma mudança de mente e de coração”. Por isso, em suas 95
teses, Lutero colocou como a primeira tese: “Nosso Senhor e mestre Jesus Cristo, em
dizendo, arrependei-vos, afirmava que toda a vida dos fiéis deve ser um ato de
arrependimento”. Então, essa mudança de mente e de coração deve se manifestar numa
vida de santificação. Isso tinha consequências importantes e práticas.
Vejamos o que Lutero estava denunciando no ponto 45 e 46 das suas teses.
“Deve ensinar-se aos cristãos: um homem que vê um irmão em necessidade e passa de lado
para dar o seu dinheiro para compra dos perdões, merece não a indulgência do Papa, mas a
indignação de Deus” (45).
As pessoas pensavam que para tirar o pecado e a culpa tinham de fazer alguma
coisa para Deus. Diziam: “Se for assim, eu vou dar dinheiro para Deus e receber um
documento que me absolve, uma indulgência. Dessa forma posso adquirir perdão e ser
santo.” Mas isso não tem sentido! Não podemos ver irmãos necessitados, famintos, em
sofrimento, e fazer vista grossa não assistindo o carente, mas em lugar disso, vamos
comprar nosso perdão. Ao invés de fazer o que a Bíblia diz, praticar a verdadeira religião
que é cuidar dos necessitados, viúvas, órfãos, vamos “comprar” a graça de Deus. Esta é
uma falsa doutrina.
“Deve-se ensinar aos cristãos que, a não ser que haja grande abundância de bens, são
obrigados a guardar o que é necessário para os seus próprios lares e de modo algum gastar
seus bens na compra de perdões” (46).
Lutero estava condenando aquele pai que, em lugar de suprir seu lar, esposa e
filhos, usava o dinheiro para comprar o perdão como se fosse a vontade de Deus ver seus
queridos sofrendo, tirando-lhes o pão e comprar da igreja o seu perdão. Isso era terrível.
Era uma falsa doutrina. Não era alguma coisa de pouca importância como se apenas fosse
um pequeno ensino diferente da Bíblia sem maiores consequências . Ao contrário,
devemos dizer que falsa doutrina é um perigo para a Igreja, pois destrói a vida das
pessoas. A falsa doutrina é uma força destrutiva.
Lutero vendo tudo isso e comparando com a Palavra de Deus concluiu que não
deveria ser assim. Ele leu Romanos 1:16-17, e finalmente entendeu sobre a justiça de Deus
que nós precisamos para entrar na Sua presença, para termos comunhão com Ele. O Salmo
15 diz: “Quem pode entrar na presença de Deus?”. “Quem, Senhor, habitará no teu
tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?”. A resposta é: Ninguém —se não for
completamente santo e limpo.
Então, só o homem justo pode ter comunhão com Deus. Mas como adquirir esta
justiça que Deus requer? Como conseguir um nível de santidade e perfeição que permite
entrar na presença de Deus e viver com Ele para sempre? Lutero, como a maioria da Igreja
da época, pensava que era através de fazer coisas; de fazer boas obras, de fazer por onde
merecer o favor de Deus e se esforçar para chegar a este nível. Mas ele chegou a terrível
conclusão de que era impossível conseguir a perfeição diante de um Deus santíssimo. Cada
vez que tentava, via o quanto era um terrível pecador aos olhos deste Deus Santo. Ao ler
Romanos 1:16 e 17, Deus abriu seus olhos para que visse claramente que a justiça de Deus
é revelada: “...visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho” (Rm1:17) - “é revelada”.
Ou seja, que Ele está revelando na Sua Palavra e dizendo: “Minha justiça, que é meu Filho
Jesus Cristo, eu a estou revelando”. Este é o dom de Deus que nos é dado como um
presente para termos comunhão com Ele; para todos aqueles que, pela fé, vão a Cristo.
Lutero, nesta época entendeu estas coisas e afixou suas noventa e cinco teses na
porta do Castelo de Witemberg e provocou uma “explosão” no mundo de então. Numa
época em que a Igreja e Estado estavam juntos as coisas que aconteciam na Igreja
repercutiam em toda sociedade. Este é mais ou menos um resumo do que estava
acontecendo naqueles dias.
2) A voz do Espírito Santo não só é ouvida quando Deus fala através das
Escrituras.
As igrejas de hoje estão buscando novas revelações do Espírito. Toda vez que
falamos que há uma possibilidade do Espírito de Deus falar além das Escrituras, a Bíblia
“perde” todo seu valor. Isso aconteceu também na Idade Média. A Bíblia só tinha um valor
supersticioso, pois se era usada, não era para levar instrução sobre a obra de Cristo e Sua
salvação. Mas apenas se usava um texto de uma forma mágica para tirar “mau olhado”.
Hoje se faz a mesma coisa quando vemos nos carros a figura de uma Bíblia aberta para que
Deus evite algum acidente ou de alguma ação demoníaca. O mesmo que acontecia na Idade
Média está acontecendo nas igrejas ditas evangélicas de hoje, porque a Bíblia não mais é a
voz do Espírito Santo, mas Deus pode falar ao homem à parte das Escrituras através de
revelações e através da voz direta de Deus.
A igreja de hoje não está usando a Bíblia como a única regra de fé e prática, mas
está perdida, confusa, nas trevas.
Outra consequência deste ponto é que as pessoas não estão dando o valor nem a
atenção devidos ao ensino da Palavra de Deus. Na Idade Média não se dava nenhum valor
ao ensino da Palavra, mas procurava-se por milagres. Hoje, quando alguém recebe uma
revelação extraordinária, todo mundo quer ouvir. Isso é estar no mesmo “buraco negro”
da Idade Média.
3) A presença de Deus está nas mãos de um líder, de alguém que tem “poder”. O
poder de Deus está nas mãos de um líder, alguém especial, uma pessoa “ungida” que pode
comunicar o poder do Espírito através de meios físicos. Na Idade Média essa pessoa era o
padre com seu poder místico que podia controlar os mistérios de Deus. Quando ele dava a
hóstia, ele estava dando Jesus Cristo e o povo não entendia nada, pois o clérigo falava em
latim. Mas o povo pensava que ele podia dar um pouco de Cristo quando colocava a hóstia
na boca dos “fiéis” e tirar seus pecados e colocar graça. Hoje vemos o mesmo nas igrejas,
na TV, nos cultos de igrejas chamadas evangélicas, onde há um grande líder da igreja que
Diz: “Espírito de Deus, vem!”. Vemos isso nos movimentos neo pentecostais e carismáticos,
onde até se controla o Espírito. Não há muita diferença da Igreja Católica Romana.
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Mensagem proferida pelo Pr. Kenneth Wieske, das Igrejas Reformada do Brasil - 2001