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■ EDITORIAIS 249
250 alternativas energéticas é o melhor antídoto para bem como reduzir os contrastes sociais e de
estas dificuldades. saúde dentro de uma mesma nação?
b) Quais são as fontes energéticas que promo- O desenvolvimento de novas fontes de energia
vem menor impacto ambiental, seja em esca- e a produção de combustíveis devem ter os hori-
la global (minimizando os efeitos climáticos), zontes geográficos ampliados, especialmente nas
seja em escala regional (minimizando os efei- regiões menos favorecidas. Os combustíveis deri-
tos adversos da exploração e emissões)? vados da biomassa representam uma das alterna-
tivas para a expansão das fronteiras da produção
O aquecimento global, pelas emissões de CO2 de energia e riqueza, tanto em escala global, como
e metano, é uma questão que saiu da esfera técni- no caso dos países da África, quanto no Brasil.
ca da academia e da indústria para atingir o coti- O conjunto de situações anteriormente expos-
diano do cidadão comum. O mesmo pode-se di- tas indica claramente que o homem e a indústria
zer dos efeitos adversos das emissões veiculares, de produção de petróleo, gás e derivados criaram
que têm sido objeto de uma política de controle vínculos que, de tão íntimos, selaram os seus des-
cada vez mais restritiva, visando a preservar a tinos em um pacto implícito. O futuro da huma-
saúde humana. Em conseqüência desses proble- nidade, porém, depende de fontes crescentes de
mas, gerados pela queima de combustíveis deri- energia limpa e sustentável. Deste modo, o futu-
vados de petróleo e gás, cresce na sociedade um ro mercado de energia deve preparar-se desde já
sentimento que visa à redução das emissões de para atender aos anseios do homem por fontes
poluentes por fontes fixas e móveis e que deve ter que assegurem a estabilidade climática do plane-
implicações no mercado de combustíveis. ta, causem o menor dano possível à saúde huma-
É importante frisar que, no presente nível tec- na e reduzam a desigualdade socioeconômica.
nológico e para a maior parte das aplicações de Raras são as ocasiões em que a saúde humana
petróleo e gás, uma redução significativa das emis- foi considerada durante a definição da política
sões não será obtida somente por meio da melho- energética das nações – situação inadmissível que,
ria tecnológica do processo industrial ou da enge- hoje, faz com que os seres humanos arquem com
nharia dos motores, mas, necessariamente, pela as conseqüências da falta de planejamento ener-
consciência de que a composição do combustível gético. Neste cenário, no qual poluentes atmos-
é um fator determinante. Um exemplo claro é re- féricos acumulam-se devido à frota automotiva
presentado pelos veículos a diesel, nos quais a tec- crescente, as crianças, por possuírem menor ma-
nologia de catalisadores é dependente da formula- turidade das defesas respiratórias, maior taxa de
ção do combustível. Em outras palavras, a ventilação em relação à massa corpórea e por
manutenção de altos teores de enxofre, como os passarem fração significativa do tempo ao ar li-
atualmente presentes no óleo diesel vendido no vre, são as mais afetadas. As ilhas de calor urba-
Brasil, faz com que os veículos pesados emitam no causadas pela impermeabilização do solo e
muito mais poluentes que os mesmos veículos pelo acúmulo de poluentes nas camadas inferio-
vendidos para os países mais desenvolvidos. res da troposfera favorecem a desidratação infan-
A redução dos teores de enxofre do diesel ain- til e a inalação de agentes infecciosos.
da não foi implementada por razões econômicas. Na cidade de São Paulo, utilizando-se estima-
Esta é uma situação em que o lucro é internali- tivas conservadoras, estima-se que a poluição do
zado pelas empresas de petróleo, que não são ar seja responsável por cerca de 20% das admis-
compelidas pela legislação a investir em um sões de crianças por doenças respiratórias em
combustível mais limpo, enquanto o prejuízo unidades de emergência. No mundo, o aqueci-
devido aos efeitos à saúde é externalizado, sendo mento propicia a falta de alimentos, secundária à
pago, notadamente, pela população, em especial desertificação das áreas produtivas, o que tam-
no segmento menos favorecido, reafirmando o bém afetará predominantemente as crianças. As
chamado “racismo ambiental”. migrações e os acampamentos de refugiados, de-
vido ao abandono das áreas desertificadas, au-
c) Como o processo de produção de energia mentam muito as doenças infecciosas de veicula-
pode auxiliar na obtenção de uma equidade ção hídrica, tornando as crianças, mais uma vez,
socioeconômica entre nações ricas e pobres, alvo preferencial.
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Os profissionais da saúde que trabalham com sionais da saúde é de fundamental importância 251
crianças estão habituados a incorporar o estudo para que o tema da saúde humana seja conside-
do ambiente doméstico quando procuram deter- rado quando se discute a política de energia,
minar os fatores etiopatogênicos das doenças. É transporte e ocupação do solo das cidades.
importante refletir sobre a possibilidade de am- A defesa ambiental assegura o direito à vida,
pliar a análise do ambiente na patogenia das à saúde e à cidadania, especialmente para os seg-
doenças infantis, passando a considerá-lo dentro mentos da população que não podem fazê-lo, en-
de uma perspectiva mais ampla, com dimensões tre os quais estão as crianças.
regionais e mesmo globais. O papel dos profis-