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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA
PSICOPEDAGOGIA
Todo o conhecimento começa com o sonho. Mas sonhar é coisa que não se ensina.
Brota das profundezas do corpo como a água brota das profundezas da terra. É das
pulsões, dos desejos, das faltas e ausências que cada ser humano é levado a ter a
vontade de buscar e, para tanto, pensar. Poderíamos afirmar que a “proteína mínima”
de qualquer educação é composta por três elementos: o pensar, o perceber e o
comunicar-se. (SALTINI, C. J. P. 1997, p.16)
Educar é uma ação complexa que envolve diversos aspectos relacionados ao sujeito
e ao meio sóciocultural em que ele vive. Não é só a transferência de conhecimentos de alguém
que é o “detentor do saber” para outro que “não sabe”. Essa dicotomia, que ainda existe, já é
ultrapassada diante dos estudos atuais em educação. Para Paulo Freire, “ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”( (FREIRE, P.
1996, p. 22, grifo do autor). O ensino deve compartilhar os conhecimentos de forma sensível,
inclusiva e contextualizada. Nesta perspectiva de construção do conhecimento, o professor e os
alunos estabelecem uma união, onde ambos tem conhecimentos, mesmo que diferentes, e buscam
ensinar e aprender juntos. E neste processo, as especificidades dos alunos são consideradas
importantes e tem o seu espaço no planejamento das atividades, nos conteúdos e no ensino. São
principalmente as características individuais dos alunos que influenciam em sua prórpia
aprendizagem, além de outros fatores. Por exemplo, quando um aluno gosta muito de Português,
ele terá mais facilidade em aprender os conceitos e as regras desta matéria. Porém, se o aluno não
gosta de História (por quaisquer motivos), ele sentirá dificuldades em aprender este conteúdo. Se
tem uma aluna que possui dificuldades em desenvolver conceitos abstratos, será mais árduo para
ela a matéria de Matemática, como também outras. Então o professor, além de sua
responsabilidade de compartilhar conhecimnetos, precisa estar atento a estas individualidades?
Sim, certamente. Como visto acima, o ensino busca produzir as possibilidades de construção do
conhecimento. O professor apresenta o conhecimento ao aluno, mas também constrói juntamente
com ele o caminho até o saber, buscando uma aprendizagem eficiente. E a Pscicopedagogia tem
muitas contribuições para o trabalho do professor.
2. A PSICOPEDAGOGIA E A EDUCAÇÃO
A Psicopedagogia, na sua origem, voltava-se somente para a área cognitiva do aluno,
ou seja, para a resolução de tarefas. O profissional era mais semelhante a um professor de reforço.
Ele não levava em conta as influências do psicológico nem do social na aprendizagem da criança.
E também não investigava as causas das dificuldades de aprendizagem, somente os sintomas.
Com os avanços nas pesquisas durante as décadas seguintes, os conceitos de aluno e
aprendizagem evoluíram progressivamente. A criança já era vista como um sujeito, possuidor de
opiniões, gostos, individualidades e ativo, e a compreensão acerca da aprendizagem se expandiu,
considerando todos os fatores que podem influenciar este processo. E o foco das investigações
tornou-se as causas das dificuldades de aprendizagem, e assim o trabalho tornou-se mais
específico e produtivo com cada aluno.
Um dos pontos fundamentais da Psicopedagogia é “a relação do sujeito com a
aprendizagem. Como ele aprende ou não é uma questão crucial [...]” e um outro também é “[...]
devolver a criança o anseio por saber, pois em algum lugar ela o perdeu.” (BASTOS, A. B. B. I.
2015, p. 21). O psicopedagogo tem a função de despertar o desejo de saber da criança e as
potencialidades ocultas dela.
Ao analisar estes aspectos, como não identificá-los também na função do professor?
Este é o principal profissional que interage direta e diariamente com a aprendizagem do aluno. E
muito mais do que apenas compartilhar os conhecimentos específicos, o professor deve atentar-
se a todos estes fatores nas relações com os seus alunos. Ele não deve discriminar e tratar diferente
um aluno que não consegue aprender um assunto específico. Pelo contrário, o professor deve
buscar entender as especificidades daquele aluno e, de várias formas, tentar despertar o desejo
pelo conhecimento nele.
A Psicopedagogia, através da Psicanálise, fornece duas ferramentas importantes para
auxiliar o professor neste processo: o olhar e a escuta.
O olhar psicopedagógico é um olhar que possui
uma leitura ampla, contextualizada, integrada em seus aspectos cognitivos, afetivos e
sociais, familiares e motores. Um olhar que permita levantar hipóteses, formular
desafios, vusca as verdadeiras causas dessas dificuldades, para assim poder delineá-las
e intervir sobre elas por meio de uma perspectiva mais promissora. (Ibidem, p. 31, grifo
nosso)
Logo, este olhar é mais amplo do que apenas o que é visível no aluno, ou seja, os
seus sintomas. É uma investigação mais profunda do que está impedindo o sujeito de aprender.
O professor precisa desenvolver este olhar para perceber os sinais mais sutis que os alunos
apresentam e agir de forma preventiva ou, se não, de forma mais especializada de acordo com
cada dificuldade de aprendizagem identificada. Porém, o professor não é o responsável de realizar
o diagnóstico do aluno, pois além de não ter a formação específica para isso, o diganóstico é
realizado por uma equipe multiprofissional, para justamente analisar mais profundamente todos
estes aspectos que o professor observou. Para o seu trabalho em sala de aula, o olhar
psicopedagógio auxilia o professor em todos os processos de ensino, pois terá mais consciência
das dificuldades de aprendizagem dos alunos e de como não permitir que elas sejam uma barreira
no desenvolvimento deles.
A outra ferramenta que a Psicopedagogia fornece ao professor é a escuta
psicanalítica. Esta escuta, além de atentar curiosamente para a fala do aluno, os seus significados
e as suas falhas, sinaliza e pontua esta fala, “com o objetivo de problematizar, fazer pensar e
também fazer o sujeito se ouvir.” (Ibidem, p. 32) Ou seja, não é uma simples escuta, onde somente
uma pessoa fala e a outra presta-se a ouvir. Ela é uma escuta ativa, que intervem de forma direta
e mostra ao aluno uma nova perspectiva diante das sua dificuldades e dos seus atos. É através
dela que o professor identificará os medos, anseios e conflitos internos dos sujeitos e pontuará
aspectos importantes para o desenvolvimento da auto-confiança, entusiasmo e curiosidade deles,
porque todos estes aspectos influenciam diretamente no processo de aprendizagem.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino é uma ação complexa, permeada por vários aspectos de profunda relevância
que devem ser observados pelo professor. A aprendizagem, também complexa, envolve outras
características a serem analisadas, tanto externas quanto internas ao sujeito. E a Psicopedagogia
auxilia o professor nesta análise, com as contribuições sobre aprendizagem de importantes
teóricos como Freud e Henri Wallon. Com este auxílio, o professor desenvolve um olhar mais
amplo e detalhista, uma escuta mais sensível e ativa e a compreensão da influência que as relações
e as trocas de conhecimentos entre as crianças possui para o desenvolvimento delas. O professor
torna-se mais atento ao coletivo e ao individual dos sujeitos e observa em quais características
deve investir para despertar o desejo pelo conhecimento e os momentos para a sua construção.
Ele promove mais espaços para a expressão do subjetivo dos alunos e para a prática da
afetividade. Por fim, o professor torna-se mais humano, empático e humilde em sua prática
docente.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 36ª. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 148 p.
SALTINI, Claudio. João. Paulo. Afetividade e inteligência. 1. ed. Rio de Janeiro: Paulo Editora,
1997. 142 p.