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Peço licença para fazer uma pequena confissão: não sou professora, nem
consultora, assim como não atuo na área pedagógica. Sou uma advogada de 30 anos com
um amor extremo e crescente pela Literatura Infantil.
Por intermédio deles, a nossa coleção sempre aumentava. Apesar da beleza dos
contos clássicos internacionais, eu era apaixonada pela inteligência e irreverência dos
nossos escritores. Ana Maria Machado, Ziraldo, Monteiro Lobato, Ganymedes José e a
minha favorita: Ruth Rocha. Se era lançamento da Ruth, eu já surrupiava antes mesmo
de chegar às mãos da minha mãe. Os livros me ofereceram múltiplas possibilidades. Criei
mil fábulas diferentes só com as ilustrações, empilhei para fazer torres, li para os meus
ursinhos e fiz de cadernos para a minhas bonecas. Não risquei nenhum (mentira, risquei
uns dez! Mas foi pouco!). Hoje, contemplo o nosso acervo e concluo que cada livrinho
de capa gasta carrega ainda mais histórias do que quando saiu da editora.
Cresci e tornei-me uma amante da leitura para crianças. Uma apaixonada. Uma
defensora. “Mas você não acha que deveria estar numa escola transmitindo esse amor?”,
me perguntam. E eu respondo: não. Minha vocação é ser uma não-professora, tentando
mostrar à sociedade que a literatura é livre, que todo lugar é propício para formar leitores
e que todos nós podemos ser parte nesse processo. Minha vocação é tentar fazer o cheiro
de livro ser como o cheiro de terra molhada do jardim ou como o cheiro do bolo da vó –
a memória gostosa que transpõe os nossos corações e nos acompanha por toda a vida.
Minha vocação é a leitura como experiência afetiva-familiar.
Me inscrevi no curso “Leitura Para Bebês”, oferecido pela Nova Escola, devido
ao amor enorme que tenho pela promoção da leitura desde a vida uterina. Como me senti
feliz em ver as estratégias para permitir a autonomia das crianças, a confiança nelas para
que extraiam todas as possibilidades dos livros. Muitas vezes, vejo pais e educadores
preocupados com a possibilidade da criança não dar atenção, preferir um livro de franquia
a uma literatura de qualidade. E eu sempre tento ajudar dizendo: promova a convivência
com o livro. Mesmo que as reações não sejam as esperadas. Mesmo que as escolhas, a
princípio, não sejam as desejadas. A fruição da leitura não acontece de maneira uniforme
e, ao criar um ambiente de convivência com a boa literatura, abrimos a janela para que a
própria criança aprenda a identificar as diferenças de estrutura e qualidade nos títulos que
chegam às suas mãos. Essa formação do senso crítico enquanto caminho individual, é
inesquecível e muito enriquecedora.