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rds - PLB | LEYS DATA S412 )89 | CO LADDD DDT “Perhaps the first thing that strikes the sociologist is that anthropologists are a tribe.” (D. MacRae, 1974) “Plus génératement, Ia photographie peut étre le prétexte & une libération de Vimagination, ou le plus souvent une tentative de compensation pour ceux qui ‘ne peuvent plus ‘vivre que par le souvenir’, et la tentation du bovarysme lorsqu'on ne pettt accéder au dépaysement en premiére personne.” (R. Castel, em Bourdieu, 1965) ‘Talvez seja uma ironia adequada a esta disci plina que se quer uma ciéncia do outro que ela tenha criado, em quase toda parte, tradigées an- tropoldgicas nacionais fundadas por estranget- ros: Franz Boas nos Estados Unidos, Curt Ni- muendaju no Brasil, Bronislaw Malinowski na Inglaterra. Seja como for que estrangeiro é de- finido, de certa maneira, integrantes dessa tr bo, somos todos estrangeiros (o que niio ¢ 0 mesmo que dizer, como Clitford Geertz, que “somos todos nativos”). Gada antropdlogo que conta sua historia pessoal relembra como veio ‘ de um outro campo do saber, de uma outra re- gido de seu pais, ou de outro, ou como perdeu qualquer outra referéneia inicial que possuia. Conta, em suma, como é um desenraizado, um excéntrico (1). Tronias de uma triko que talvez se defina, afinal, por pretender nao pertencer @ nenhuma outra que nao a antropoldgica. No caso brasilelro, se acrescenta ainda a esta ambigitidade, &s vezes uma harmonia, as vezes um descompasso, entre ‘como pensamos’ € ‘como nos pensam’. A trajetéria brasileira da disciplina 6, mais do que costumamos registrar MARIZA CORREA ‘Mariza Corsa — Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). 1—Em sua Histéria da Teorla Etnolégica, Lowle Jembra a intoleréncia de Mallnowskt para com os. “traflcantes do excéntrieo", 0 que ele considerava fru to de sua Imaginagio: comentirlo adequedo de um alemiio na América do Norte sobre um polonésna Inglaterra, os antropélogos no brasil dos anos 30 aos anos 60 TRAFICANTES DOEXCENTRICO RBCS no 6 vol, 3 fev. de 1988 Auvees /UERTICE explicttamente, parte tanto de seu percutso in- ternacional, quanto do imagindrio dos antropé- Jogos em geral: lembrando de novo 0 exemplo de Geertz, 6 de TéviStrauss que ole ests falando quando escreve “inito brasileiro” ao invés de seu nome (1983, p. 150). B, assim como os antro- pologos inventarnm “tradicGes tribais” para po- vos entre os quais elas nfo faziam sentido (Ci. Ranger, 1984), costumam eriar e re-criar as suas proprias: como diz Kuper, para toda umn gera- Gio, “a Antropologia Socia! nasceu em 1914 nas Ihas Trobriand” (1978, p. 11). As tradigGes aqui inventadas, se nto 0 fo- ram apenas por estrangeiros, tiveram uma forte participacao deles nessa invencio: se olharmos atentamente 0 mapa etnoldgico de Curt Nimuen- daju, quase poderemos ver as sombras dos pes- quisadores que tis estudaram projetando-se s0- bre 0s contornos diis comunidades indigenas por clos estudadas até a década de 40, projecio que nos ajudafia mais, entretanto, a entender a dis- tribuigio deles, pesquisadores, num territério disciplinar comum, do que a de seus objetos de interesse. Mas isto seria ainda apenas um esbo- 0 dos inicios de uma disciplina que se apropria, talvez indevidamente, ce uma historia que nao é exatamente, ou inteiramente, a sua. Ainda que grossciro, este esbogo ou rascunho indicaria que boa parte do contetido que se manteve em vigén- cia no interior do que hoje chamamos de Antro- pologin, destle este infcio mitico, o fex de certa forma incorporando as informagdes ai contidas, como se fosse um precipitado delas. Nao é sem interesse lembrar que 0 outro ramo mitico da disciplina, 0 dos estudos sobre negros, tem como her6i fundador Raimundo Nina Rodrigues: des- se cruzamento entre nativos que se interessa- vam pelo estudo de ‘estrangeiros’ (os “colons negros” como os chamava 0 médico maranhen- se) ¢ estrangeiros quo se interessavam pelos na- tivos, nasceu a tradigiio antropoldgica no Brasil. Antes de avaliar a harmonia e 0 descompasso mencionados, de analisar 0 didlogo mantido pe- los antropdlogos entre si nesses anos todos, con- yém entender um poveo melhor como se distr Duinm no pats os integrantes dessa ‘trio’, Algumas imagens podem ajudar a cit- cunserever os espagos ¢ 0s personagens de uma historia dificil de recuperar no detathe om todas as regides do pais: diferindo no singular, os an. tropélogos se reconheciam no plural em alguns momentos out certas situagées que, certamente TRAFICANTES nio por acaso, estio registrados nas (mesmas) fotografias que virios deles exibiram no decor: rer da pesquisa. Algumas dessas fotos vio ser Jembradas aqul Justamente porque expressam bem alguns daqucles momentos mm historia da Gisciplina, de certa mancira concentrando ins tantes de uma realidade que s6 avs poucos pode ser recuperada por quem no a viveu. Os trés momentos sio, eles mesmos, exemplares: nas décadas de trinta e quarenta, com a chegada do cinema falado (como iembra Almir de Castro, 1977), entrou também no pais a modernidade da Iingua inglesa — belas cartas de amigos de Eduardo Galvao, dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra, sugerem o impacto do modo de vida norteamericano sobre os brasileiros, assim como o registram os cronistas da época; na década de cingllenta, 0 esptrito de desenvol- vimento vigente no pais se expressou também na institucionalizagio das ciéncias sociais e, na década seguinte, muitas das inieiativas dos anos anteriores amadureceram, no obstante os obs- téculos politicos eonhecidos. » Roberto Da Matta (1985) chamou a ateh iio recentemente para uma foto de 1939 num. artigo tio interessante pelo que diz quanto pelo que deixa de dizer. Nela aparecem, da esquerda para a direita, Claude Lévi-Strauss, Ruth Lan- des, Charles Wagley, Heloisa Alberto Torres, Inis Castro Faria, Ralmundo Lopes e ¥dison Carneiro (Foto 1), Tirada no Jardim da Prin- cesa (2), no Museu Nacional, a foto parece em- blemétiea pela ‘toca de guarda’ que sinaliza tanto quanto pela posigtio ocupada pelos retra tados, enfatizada por Matta e levemente altera da em outra (Foto 2) Lévi-Strauss, ¢ com ele muitos outros inte- grantes das varias ‘missdes francesas’ que para 4 vieram na época, estava deixando 0 Brasil, logo apds uma viagem de pesquisa que teria im- porlineia marcante no seu trabalho e do qual participaram dois outros antropdlogos, um de- 7— Roberto Cardaso de Oliveira iceeu o Toca {4a foto, explicando que seu nome deriva da historia do que toda a louga quobrada no Palicio da Quinta {da Boa Vista ora recolhida e sous cacns serviam para Aocorar esse recanto, agora, comé na época da foto, facessivel pela ala da antropologia. Segundo Meétraux (1978), 0 eseritdrio de dona Heloise ficava na capela da Imperatriz. Escrevendo em fevereizo de 1939, ele desereve suas impresses do Museu e de sun diretora. DO EXCENTRICO les presente na foto (Castro Faria) (3). Ao vol tar por escrito, cont 0 sucesso do estruturalis- mo na década'de 60, teria passado por outra influéneia decisiva no seu pensamento, em sua estada nos Estados Unidos durante e logo apds a Segunda Guerra, influéncia que, a partir daf, seria notavel também no Brasil (4). Os dois ‘outros estrangeiros fixados pela eimera brast- loira, Ruth Landes e Charles Wagley, vindos de Columbia, aparentemente atendiam a um apelo feito por dona Heloisa a Boas (Wagley, 1977), no sentido de enviar pesquisadores treinados a0 pafs: ndo eram os primeiros antropélogos norteamericanos a chegar e nfo seriam os ulti mos, mas foi nessa época que a sua vinda se intensificou A presenga de ambos — e a do professor Donald Person, vindo da Universidade de Cica- go, que comegou a trabalhar no ensino e na pes- quisa em Sio Paulo no mesmo ano — indica uma mudanga de orlentagiio metodolégien e te6- rica que seria decisiva para os caminhos das ciéneias.sociais no pafs, ¢ para a antropologia em particular, até meados da década de 60, Ini- cialmente, ¢ em termos institueionais, Columbia p'Chicago deteriam esta influéncia, s6 mais tar- de compartilhada por Harvard e, depois, mul- tiplicada. Convém lembrar também a orlgem reglo- nal dos brasileiros fotografados: ladeando dona Heloisa e Castro Varia, ela carioca, ele flum! nense, esto © baiano ‘dison Carneiro (1912- 1972), principal guia de Ruth Landes nas suas pesquisas em Salvador e o ‘maranhense’ Ral- mundo Lopes (1894-1941), Ambos evocam, com sua presenga, a de outros maranhenses e baia: nos sefapre lembrados quando se fala nas ori- 3—0 outro em 0 também médieo Jehan Vellard que Dublicara um Jivro sobre os Guayaidi (ne Ciullization du MieD), No seu preficio u este livro, Paul Rivet con- ta que Vellard adotara uma menina india, cujos pro: Bressos Métraux registra, Para integrantes de outras issdes francesas (¢iplomética, militar) no pals, na ép0ca, ver também Mangus 1912), 4— Um. dos nomes que tev esta infludnela, Frank Bons (1858-192, (inka construtdo bow parte da base institucional sobre a qual se upoluva a antropologla no momento em que Lév-Struuss estove naquele pals o talvez seja também Indicative dos Ingos de relagées entre a nosste a antropologia em goral que Boas tena morride nos Dragos do dols olndlogos franocses — 0 prdprio LiviStrauss @ Paul Rivet (Cf, Lesser, 1981) — ambos personagens da historia da discipling no Bens! 81 gens da disciplina no pais (5). Segundo Matta, @ foto 6 de marco de 1939 e poderiamos conje- turar sobre os desencontros que impediram que outros pesquisadores estrangeiros, presentes no pais, figurassem nela, Alfred Métraux (1902. 1963), suigo criado na Argentina, aluno de Mauss ¢ Rivet, com um doutorado sobre os Tupi-Gua- Tani ¢, até sua morte, representando a Unesco na América Latina, viera desde Nova York no mesmo navio que trouxe Wagley e, em fevereiro, encontrou-se no Musett com dona Heloisa, Vel lard e Raimundo Lopes. Wagley, que se demo: rou um pouco mais no Rio, estudando o portu- gués e levantando fontes para a sua pesquisa com os Tapirapé na biblioteca do Museu, men: ciona ainda, além de Landes, William Lipkind, também de Cohimbia, e Buell Quain, que 0 acompanhou uma tarde ao Museu: os’ dois nham chegado um pouco antes ao Brasil, tam- bém para estudar nossos indios, Landes chega- Ta no ano anterior e, por recomendagio de Pier- son, fora apresentada por Arthur Ramos a “ami- g05 no Rio” (Acervo: correspondéneia D. Pier- son-Arthur Ramos), Dina Lévi-Strauss, primeira esposa do etndlogo, tendo adoecido durante a expedigio 20 Brasil Central, voltara um pouco antes para a Franca, Hisses encontros e desencontros de antro- Pélogos de regies © nacionolidades distintas, evocados pela foto de uma reunifio certamente nada fortufta no Museu Nacional — de onde dona Heloisa, “usando seu grande prestigio ¢ vasto efrculo'de amigos”, guiava os visitantes pela “intrineada burocracia que exigia o regis: tro de estfangelros, a permissio para realizar uma expedigéo cientifica e varios documentos 5 —O balano Balson Garnolro sempre negara, contra Arthur Rumos, a exlst@nela de uma ‘escola balana de ‘Antropotogia’, que teria tldo Nina Rodrigues como che- fe, Hste, que passou sua vida profissional na Bahia ‘ora maranhonso, Arthur Ramos, embora tendo nascide em Alagoas, fol sempre considerado balano por seus contemporéneos (Madurelra de Pinho, 1960). Sobre sua fnimlzade com Ruth Landes, ver Carneiro (1954). A ‘umlzade entre Landes © Carneiro 6 rememoradn por cla (1967, 1970), Quanto a Raimundo Lopes da Cunha, quo dolxou multos trabalhos sobre 0 Marunhio, ora naseldo oi Portugal, Na roodigio do sou conhecido Uma Regido Tropical (1910), uma nola parece indicar a Influéncla de sua estada no Museu: “Os Canela, na regifio serruna do Meurim, so mals rudes ¢ esquivos, 80 mosmo tempo agressivos e covardes”, Nota: “Assim penstvyamos em 1916, @ pensa ainda muita gente. Mas 6 preciso renunciar a julgar o fndlo segundo os seus Snimlgos, pelo menos..." (3970, p. 60), 82 ofictais” (Wagley, 1977) (6) — sugero uh dino: mismo da disciplina naquela época que desmen- te a imagem fixa desses personagens num anti. go negativo. Nao s6 podemos vé-los mover-se no contexto brasiletro como reaprendemos, acom- panhando este movimento, a importincia dos Jagos internactonats para a nossa antropologta, e o alcance nacional dela, Visto da dtica dos via- Jantes e pesquisadores de outros pafses que 0 Treqiientavam h4 muito tempo, o pals parecia quase sem frontelras internamente, como um. imenso cendrlo tinico para suas expedigdes e mesmo seus limites externos eram ténues para quem, como era miultas vezes 0 caso, acompa- nhava grupos indigenas em seus prolongamen- tos dentro e fora do pafs geopolitico (7). Os eon- tatos que eles estabeleciam, a partir de seu co- nhecimento da realidade ‘americana’, também os ajudaram a formar uma rede social importante tanto para a antropologia internacional quanto para a disoiplina no pais: a relagio entre Mé- traux e LéviStrauss 6 apenas um dos exemplos possiveis disso. © isolamento regional, retrospectivamen- te enfatizado hoje por muitos antropdlogos que viveram a década de 30 e 40 fora do eixo Rio- ‘Sio Paulo parece ser também sublinhado por comparagio & aceleragio das comunicagses na época contemporanea — na pratica, ele nunca impediu a sua circulagio e encontros como 0 registrado na foto do Museu. Mesmo os nativos 6 —Pilha de Alberto Torres, polftico @ intelectual im portante da Repibliea Velha, dona Heloisa (1895-1077), como fol sempre chamnada pelos que trabalbaram com ela, fol também personagem de um romance, premla- do'em 1932 ¢ sobre © qual Roberto Cardoso do Olt velta chamou minha atengio: No Pacoval do Carlmbé, de Bastos de Avila. Ver Castro Faria (1978). T= Observese, por exemplo, a niio transigiio nos carnets de Métraux em suas viagens peln América do Sul, a0 passar de um pals para outro (ele em geral enttava e safa do pals via BolémParamaribo). Anos depols, Baldus darla a um jovem candldato # etndlogo © conselho de comecar sous estudos sobre os indlos Drasllelros pela frontelra com s Guiana Ingless, para evitor a burocracia que dona Heloisa ajudava a vencer. (Maybury-Lewls, 1965). Em sua oracio de despedida a Métraux, em 1963, LéviStrauss relembraria seu pri melzo encontro, em feverelro de 1939, em Santos, bor- rando também’ as frontelras nacionais: "... um tdxl nos levou As pralas desertas mas quo ainda ostavam, para nés, habitadas pelas sombras dos fndios com que viveram Jean de Léry e Hang Staden © dos quals Mé- traux foi o inesquecivel historiador” (Métraux, 1978, p. a. TRAFICANTES cruzavam facilmente nossas fronteiras. Homens do Norte e do Nordeste ocuparam cargos no centro do*cenario institucional que nos interes- ‘sn,'0 da ‘antropologin, como Gilberto Freyre e Arthur Ramos, entre tantos — mas sé na década seguinte algumas poucas mulheres antropdlogas foram para a capital do pais — ainda que o in. yerso fosse menos comum. Nesse momento era bem maior também o niimero de estrangeiros que chegavam do que de brasileiros que safam do pais enquanto antropdlogos. Na Universidade do Distrito Federal, Gil- berto Freyre ocupou a cadeira de Antropologia Social e Cultural, além da de Sociologia, entre 1935 e 1936, ficando Arthur Ramos com a de Psi- cologia Social: Ramos assumiu depois a cadeira de Antropologia Fisica e Cultural na Faculdade Nacional de Filosofia que reiniclava as ativida- des interrompidas, Justamente nesse ano de 1939, da Faculdade de Ciéncias da Universidade do Distrito Federal com a criagio da Universi- dade do Brasil. Com excegiio de ambos, de Edi- son Carneiro, de RoquettePinto e da propria dona Heloisa, todos os integranteS da comuni- dade antropoldgica nacional nas trés décadas.se- guintes eram, entao, estudantes (8). Em Sao Paulo, estudantes de Donald Pierson, Emilio Willems e Herbert Baldus, todos estrangeiros, na Escola de Sociologia e Politica (fundada em 1933), ou dos professores franceses na Facul- dade de Filosofia, Ciéncias e Letras da Univer- sidade de Sio Paulo (fundada em 1934), onde também lecionava Willems e onde Roger Bastide (1898-1974) fof a Influéncia estrangeifa mais du- radoura, tendo permanecido id por dezesseis anos (Pereira de Queiroz, 1983). Herbert Bal- dus, desde este ano de 1939 catedratico de Etno- Jogia brasileira na Escola de Sociologia e Poli- S— Serla tnjusto nllo menclonar Manuel Nunes Pe rolra (1805-1985) como um dos integrantes da tribo dos ‘antropélogos nessa perlodo, J que suas pexqulsas na AmszOnia o tomaram Justamente conhectdo: como no caso de Curt Nimuendaju, originalmente Curt Unkel, antes de adoter © nome que recebeu em sua longa pormantnela ontro os indlos brasileiros, tratase de Treelancers cujo Impulso a disofplina vina de fora do sistema académico © bom antes de ele so formar. Nes: te trocho, tonto acompanbar alguns dos integrantes dessa comunidade empenhados .na construcio institu: clonal, na montagem dos aparelfids de reprodugio de lum saber especitieo em que, hole, si formados os antropdlogos. O préprio Gilberto Freyre tem uma pss- sagem réplda por este contexto a nivel nacional, em- enhado, ele, na construgio de uma institulcko regional. | DG _EXCENTRICO Cortesia Clara Galvio, tica, cargo que ocupou até morrer, foi, de certa forma, 0 contraponto ‘indigena’ do ‘africaniste’ Bastide, Arthur Ramos morrerla na década seguin- te e 0 fotografado Edison Carneiro nunca teve um posto académico, apesar (ou talvez por cau sa) de sua luta politica pelos direitos dos negros € das associagées religiosas de origem africana em Salvador. Roquette-Pinto, embora tenha pre- sidido a comissio organizadora da Primeira Reuniéo Brasileira de Antropologia, ja falecera quando da organizagio da Segunda cm que a Associngo foi fundada. Os nomes mais conheci- dos na antropologia no pais desde entao estavam ainda em infeio de carreira: Castro Faria, a épo- ca da foto, era ‘naturalista voluntério' no Museti Nacfonal, ‘para onde entrou por concurso em 1944, dois anos depois do de Eduardo Galvio (21921-1976), também ‘voluntério’ no final de 1939 e que estreou como antropélogo do mesmo modo que sett colega, numa expedigao dirigida por Charles Wagley no ano seguinte. Darcy Ri- beiro, que menciona a si mesmo como um dos tzés antropélogos da segunda geragio da ‘“fam{- lia dos etndlogos brasileiros” (em Galvio, 1978), em 1939 ainda nao tinha saido de Minas Gerais, de onde foi, pelas mos de Donald Pierson, para, 8 Escola de Sociologia ¢ Politica de Sio Paulo. Egon Schaden, recémicenciado na Faculdade de Filosofia, exaluno de LéviStrauss, fundava com seu pai, Francisco Schaden, a revista Pin- dorama, onde publicou, no ano anterior, seu pri- meiro artigo etnolégico, em alomio, lingua em que era editada a revista, Lévi-Strauss publica. ra, dois anos antes, o seu primeiro artigo etno- Iogico, em portugués, na Revista do Arquivo Mu- nicipal, Futuros presidentes da ABA (Associa- a0 Brasileira de Antropologia) como Thales de Azevedo, na Bahia, e René Ribeiro, em Pernam- buco, ainda publicavam apenas artigos médicos nessa época; Manuel Diégues Jr. comecava a se interessar pela antropologia através de um cur: 0 de Gilberto Freyre na Faculdade de Direito do Recife ¢, no sul do pais, Lourelro Fernandes (1903-1977) também se dedicava, com sucesso, a sua clinica médica. O quadro é certamente es: quemético, mas dé uma idéia dos componentes da tribo antropoldgica para o ano de 1939. Neste final da década de 30, era freqtiente também 0 cruzamento das fronteiras institucio- nais: Mario Wagner Vieira da Cunha, formado na Faculdade de Filosofia, fez seu doutorado em Chicago, estimulado por Donald Pierson, ¢ de- TRAFICANTES pols trabalhou com ele na Escola de Sociologia e Politica; Florestan Fernandes, também vindo Ga Faculdade, fez seu mestrado na Escola, com Baldus, defendendo 0 doutorado na Faculdade de Filosofia; Gloconda Mussolint, uma dos trés primelros mestres da Escola, foi trabalhar na Faculdade — e assim por diante. Como os exem- plos sugerem, as frontelras disciplinares eram faciimente atravessadas. A distingio entre antro- pologia e sociologia era bem menos marcada do que parece sé-lo atualmente; ver, por exemplo, a lista dos integrantes da Sociedade ge Sociolo- gia e a dos da Sociedade de Etnogratia ¢ Fol- clore: como sugere Lélia Soares (1983), havia uma sobreposigéo de ambas. A rede social dos intelectuais parecia cruzarse em multas dire: ges, em cada regitio — a dos ‘clentistas socials’, inovagao recente, em muitas mafs e J4 num sen- tide nactonal. A institugiio académica nfio era, também, © tinico ponto de cruzamento dag. biografias de estudantes e professores naquele momento: um dos professores da Escola de Sociologia,”por exemplo, Sergio Millet, trabathava também no Departamento Municipal de Cultura, dirigido por Mario de Andrade, e foi quem ofereceu es: pago do Departamento, num prédio ao lado do Mercado Municipal, para ser ocupado por Pier- son e seus Jovens assistentes de pesquisa (No- gueira, Depoimento). Outra iniciativa do Depar- tamento foi a criagio, por Mario de windrade, de um curso, dado por Dina Lévi-Strauss, com a duragio de um ano, sobre folelore, de onde se teria originado a Sociedade de Etnografia e Fol- clore, que encerrou suas atividades no ano de 1939, dois anos depois de ter-se iniciado. Do curso resultou também a publicagio de um ma- nual, Instrugdes Praticas para Pesquisas de An- tropologia Fisica e Cultural, primeiro do tpo a ser publicado em portugués, pelo Departamento, em 1936 (9). Sobre a Sociedade, diz, Mario Wag: ner Vieira da Cunba: 9—Dina, que fol “Scoretarlo’ do Bolelim publicado pela Sociedade (ver os facsimiles em Soares, 1983), também roristrou em filme a vida cotidiana dos Bo. roro, Os primetros passos de LéviStrauss na andlise de material indigena podem ser acompanhados nesses poueos mimeros do Holetim. Egon Schaden discorda de Mario Wagner’ na lembranga e afirma que 0 que hhavia no s6tio da Escola era um ‘laboratério de an- tropologia soclal’, eriado por Claude Lévistrauss. Ver LévtStrauss, Depoimento | Ss aa a att ch cis sos * publicagio dek DO_EXCENTRICO “Constituimos um pequeno grupo que queria, antes de tudo, voltar-se para o trabalho de cam- po. Nese pertodo, organizowse com Mario de Andrade 0 Depattdmento de Cultura, dando.o ‘apoio material necessdrio ao que se chamou, pri- meiro, Clube de Etnografia. Era chamado Clube justamente para ficar bem claro que ndo tinha nada do convencionalismo de soctedade. Acaba- mos caindo nas amarras do convencionatismo ¢ transformamos aquilo numa sociedade mesmo. Mas nunea teve mais vida do que nas reuntdes que se faziam, a3 segundas-fetras, na Escola de Coméreio Alvares Penteado, no sdtdo, onde ha- via mesmo um museu de etnografia, organizado desde logo pela Dina Lévi-Strauss, onde ela tinha reunido muitos cacos de cerémica, muita patha” (Citado em Soares, 1983). Quase em seguida, em 1941, Arthur Ra- mos criou no Rio de Janeiro a Sociedade Brasi- leira de“ Antropologia e Etnologia, da qual se tem escassa noticia: deveria estar ainda em fun- cionamento no final da déeada, pots em 1947 Ramos apresenta o livro de Nunes Pereira (1979) como 0 primeiro volume das publicagdes da So- ciedade e em 1948, segundo Florestan Fernan- des (1975, p. 167), saiu o livro do padre Atbisetti sobre os Bororo, também sob sua chancela, Em. 1984, Nunes Pereira lembrava apenas de outra um livro de Luisa Gallet, com- panheira €e Ramos. Arthur Ramos convidow Donald Pierson a fazer uma palestra para sous alunos no Rio, logo apés a sua chegada a0 Bra- sil ¢ manteve com ele uma correspondéncia re- gular alé morrer. Sua assistente e sucessora, Marina Sido Paulo Vasconcelos, seria, juntamen: te com dona Heloisa, elelta para a primeira di- retoria da ABA, como integrante de seu Conse! Iho Gientitico. 30 outro antropdiogo carioca reconhecido na época ¢ autor de um antigo Guia de Antropo- logia (1915), Edgard Roquette-Pinto, que fora Giretor do Museu Nacional antes de dona Heloi- sa (de 1926 a 1935), também mantinha reingdes com os intlectuais paulistas: Marlo de Andra- de recomendava 0 uso de sua “maquinjnha” em 1938, para expedigées ctnogriticas, x Fernando de Avevedo escreveu um sentido necrolégico, em que lembrava os passeios de ambos no “pequeno e velho Ford” de Roguette, a procura de um lu- gar para o Instituto de Educacio (10), Mas, nes: i — Mario de Andrade (22.3 1030), em Duarte (877) fe Fernanda de Azevedo (197i), Referindo-se a ento 85 sa época, ele estava JA interessado e muito en- volvido com o projeto do Instituto Nacional de Cinema Educativo que organizou em 1937 € do qual foi o primeiro diretor. Fora do eixo central do pais, em regides onde as Faculdades de Filosofia se instalariam mais tarde, seguindo aqueles modelos, e de- pendendo da regiio, a concentragio daqueles que seriam depois definidos ou reconhecidos como antropdlogos estava em torno de um mu se (caso do Museu Paraense Emilio Goeldi, por exemplo, de tradigio antiga), de um verso: nagem (como Gilberto Freyre, ja nessa epoca personagem nacional em Pernambuco), ou de um ‘movimento’ (0 da defesa do folclore, de Chmara Cascudo, em Natal, ou os Congressos Afro-Brasileiros, no Recife, em 1934, organizado por Gilberto Freyre, e na Bahia, em 1937, orga- nizado por ¥dison Carneiro). Que essas institu Ses, pessoas ou grupos eram os pontos de rele: réncia de uma territério antropolégico implici tamente reconhecido sto testomunhos os depoi- mentos daqueles que vinham de fora dele, como os antropdlogos estrangeiros, ou os antropdlo- 205 natives em sua cireulagdo interna: esses pontos, meneionados por todos, vio assim dese: nhando o perfil de um grupo que se reconhecia, ainda que nao se definisse explicitamente como tal, nos anos trinta e quarenta. Essa explicitaglio se faria na década de einglienta, com a fundagiio da Associagio Bro- sileira de Antropologia, durante a Segunda Rev- nio Brasileira de Antropologia, em Salvador, em 1955 (11), Diz a apresentagio de seus Anais: Projetada expedigao de LévtStrauss pelo Brasil Cen- tral, de 1998, diz Marlo: “Nao estou tazendo nada, a nfo ser as caceteagies que tive com essas viagens et- nogtificas bestas do LéviStrauss e do Oto Leonardos. G..) J4 com LéviStrauss, agora 6 tarde para voltar alts. Chega amanha agul! e conversarel com ele © 0 atirarel nas costas de voce e do Sergio. Se arranjem que preciso sossego”. (Idem, 3.4.1938). 11 — Sobre @ ABA ver Cardoso de Olivelra (1986). A comissio organizadora da Primeira Reunllio: Roquet: tePinto, presidente, Castro Faria, secretérlo e Helotsa A. Torres, Eduardo Galvio, Darcy Ribeiro, dison Car: nolro, 3, Bustos de Avila, Maria Julln Pourchet Passos, Mantiel Didguas Jr, José Bonitiiclo Rodrigues © LA, Costa Pinto, A mesa que presidiu os trabalhos: Her bert Baldus (SP), presidente, acidentado ¢ substituldo por Thales de Azevedo (BA), José Loureiro Fernandes (PR), Manuel Diégues Jr, (RJ) © René Ribeiro, Para A composigio da diretoria eleita em Salvador © nos encontros subseqilentes, ver 0 quadro em ancxo. Dos 47 registrados na lista’ dos Anais da Bahia, 31 eram homens e 16 mulheres, “Em dots aspectos diferiu nitidamente a primet- ra da segunda Reunléo, Enguanto aquela fora iniclativa do Museu Nacional ¢ se reattzara sob © patrocinio do Mintstérlo de Educagiio ¢ Cul tura por intermédio da Reitoria da Universida- de do Brasit, « tittima jd fot uma iniciativa dos proprios antropologistas alt reunidos, marcando @ tendéncia & constituigio de um éreio profis- sional que néo se organizou formatmente na ocasiao devido a dificuldade de encontrar uma Jormuta satisfatoria, mas que veio a constituir- se na reuntéo da Bahia, (...) ‘Apesar de functonar, em parte, com o cardter de congresso, a Reunido niio se perdeu em for- ‘malismos ou convencionalidades que, tantas ve- zes, ajetam as assembléias cientificus; teve, antes, ‘0 cunho'de um semindrio, de uma troca informal de experiéncias e conhecimentos, de um esforco de colaboragao, entre os partictpan- tes, para o progresso dos estudos antropoldgicos ¢ para a criagio de uma consciéncia profissional entre os antropologistas brasileiros” (Anais, 1957, énfase adicional). Estavam na reuniio “47 antropologistas € estudantes", alguns presentes na foto de uma das sessoes (Foto 3). Na primeira fila, da es- querda para a direita, estavam Thales de Aze- vedo, Camilo Cecchi, Froes da Fonseca, Castro Faria ¢ Darcy Ribeiro; na segunda, Herbert Bal- dus, Charles Wagley, Carlos Eduardo da Rocha Consuelo Pondé; na terceira, Harry Hutchin: son, Carmelita Junqueira Alves Hutchinson, Jo- sildeth da Silva Gomes (Consorte) e yon Scha- den, Nessa foto meio apagada, 0 professor ‘Tha- les de Azevedo reconhecett ainda Maria Thetis Nunes e Lygia Estevao de Oliveira (12). O grupo se ampliara desde 1939, mas s6 a partir da Ter- ccira Reuntio (1958), seus integrantes passe Tiam a se definir como antropdlogos, a0 invés de antropologistas, um indieador, na linguagem, da influéncia norteamericana na disciplina. i2— Boa parte dos nomes Uislados, como acontece fem todas as reunises, era de pesqulsadores locals, eo: ‘mo Consuelo Pondé, Josildeth Gomes, hoje professora em Sto Paulo, Marla ‘T, Nunes e Lygia E. de Oliveira, de Pernambuco, filha de Estevio de Oliveira, diretor do Museu Paraense, Carmelita J. Ayres, de familia bals- ‘ba, casnrase com Hutehinson depois da pesquisa quo ambos fizeram para o projeto BuhiaColumbia e nio yoltou & profissiio depois desses anos. A versio final desta pesquisa dovers contor uma informacio blogrd- fea mais detalhada dos personagens aqul mencfondos Fapidamente, TRAFICANTES Aldm das instituigdes existentes no perio- do anterlor — 0 Museu Nacional, 0 Museu Pate lista, 0 Musou Parnense, n Faculdade de Filoso- fla 6 a'Hscola do Sociologia e Politica de Sio Paulo, outras estavam presentes na lista das que enviaram representantes a Reunido: 0 Museu do Indio, crlado em 1953; @ Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionals, oficialmente criado em dezembro de 1955, e representado por Wagley, B, Hutchinson ¢ Josildeth Gomes; 0 Instituto Joaquim Nabuco de Ciéncins Sociais, crindo em 1949, representado por René Ribeiro; a Faculda- de de Filosofia da Bahia, criada em 4943, entre outras, Basicamente, as ampliagdes Se fizeram seguindo © pontilhado esbogado pelos nticleos Tegionais ou institucionais presentes antes, com duas inovagdes importantes que serio, por 1550, tratadas em outro texto: a forte ligagio das Ciencias Sociais com a Educacéo, através dos centros de pesquisas edueacionais do Instituto Nacional de Estudos Pedagdgicos, Grglio do Mi- nistérlo da Educagio, e da intluéneia de Anisio Teixeira e Darcy Ribeiro, e a participagdo de antropdlogos brasileiros ¢ estrangeiros em.pro- jetos do longo alcance, Isto ¢, os grandes’ mu- Seus tradicionais continuaram abrigando o tra- baiho de antropdlogos e, em alguns casos, com Baldus no Museu Paulista desde 1949 e Galvao no Museu Paraense a partir de 1955, ampliaram suas segdes de Antropologia; as faculdades de filosofia continuaram a seguir 0 parametro esta- belecido pela USP e depois pela Nacional de Filosofia (13), até que 0 novo padrio, configu- redo com a criacio da Universidade de Brasilia, comegasse a ter vigencia na década de 70 e a influéneia tedrica e metodoldgica mais impor- tante continuou a ser a da Antropologia norte- americana, quase hegemOnica até o final da dé- cada de 60. Se a organizagio da Segunda Reuniio — distribuida em sessées sobre Arqueologia, An- tropologia Fisica, Linglfstica, Antropologia Cul- tural, Aculturacao e Ensino da Antropologia — mostra como os antropélogos definiam a disci plina naquele momento, o indice dos trabalhos apresentados constitul um pequeno 1éxico dos Interesses e orientagdes dos pesquisadores. Os 13 — A lel que institulu nacionalmente a cadeira de Etnogratia Brasileira © Lingua Tupi fol sancionada pe- Io governo Café Filho, em 1954, mas em Sio Paulo esta cadelza 4 existia desde os anos trinta e seu primelro ocupanto fol Plinto Ayrosa, AL duininasethaank Saati } Publicada nos Anais da If Reuntio Brasileira de Antropologla, Banta, 195%, cortesia Thales de Azevedo. estudos de “Etnologia Indigena”, além de uma sessiio, mereceram duas conferéncias, uma felta por H. Baldus, a outra por Darey Ribeiro; as outras duas conferénelas trataram de “Cultura e Personalidade” (René Ribelro) e de “Acultu- ragéo” (gon Schaden). Os termos mats fre- qiientes, a denotar os temas e/ou orientagéo da Antropologia em geral, na época, eram acultu- ragdo ye comunidade, mas havia lugar também para Contato inter-racial, possessdo, messianis- mo e imigragéo, indicativos, todos, do que foi publicado pelos antropéiogos na década de 50. Se a foto de 1939 sugere que os temas dominantes na disciplina eram entdo os estu- dos indigenas (Wagley e Lévi-Strauss) ¢ as ques- tes racials (Landes e Carneiro), a de 1955 in- dica que esses temas permanecem, com uma nitida preeminéneia agora dos primeiros (IT. Baldus, Darcy Ribeiro, Egon Schaden) e um des- amento sutil dos estudos de relacdes racials, que estavam passando do terreno dos médicos- antropdlogos para 0 dos socidlogos — e saindo do ambito do nordeste — inflexio cuidadosa- mente anotada por Gilberto Freyre (1943), e que comecum a ser apresentados de manelra mais roiterada os estudos do comunidades rurais ou tribals. A Antropologia Fisica, ainda presente, tenderé a atenuar cada vez mais sua participa: fio nessas reuniées enquanto que o ensino da Antropologia, j4 problematizado (Schaden, 1954; Durham e Cardoso, 1961), reaparecers com ra. zodvel frexligneta desde entio nos debates da associagao Uma avaliagio geral, ainda que suméria, sobre essas reuniGes, mostra que aquela defini- io e a configuracio tematica, apesar da mudan- ca de terminologia ¢ de énfase, tem se mantido constantes desde 4 fundagilo da ABA. Seis de seus Coze presidentes sio, ou eram a época da eleigio, especialistas em assuntos indigenas — e todos os outros mantiveram o tema em primet- ro plano em suas gestdes (14), 14 — A contribulglo dos lingllfias © dos acquéologos tem sido feita também predominantemente no terreno dos estudos de grupos Indfgenas; a dos antropélogos {isicos também o fol em boa parte, Sobre os midicos antropdlogos, ver Azevedo (1979), ele préprio e René Ribeiro formados em medicina, mas é ema Ribelro (c 1052) que esin formagio & mals evidente, Sobre a 88 Quanto a circulagio de antropélogos na- cfonais © estrangelros pelo pais, ela continuou 4 ocorrer, agora com maior freqtléneia. No ano anterior & erlagio da ABA, por ocastio do IV Centenario de fundacio da cidade de Sio Paulo, pelo menos dois encontros importantes perml- tiram a reunifio de varios dos personagens des- sas fotos, e outros que nelas nfo aparecem: 0 T Congresso de Soctologin, em Junho, e 0 XXXI Congreso Internacional de Americanistas, em agosto. Como que rememorando as relagies es- treitas entre socidlogos e antropdlogos desde a década de trinta, Fernando de Azevedo, pres dente do Congresso e também da Sociedade Bra- sileira de Sociologia, citava varias vezes a ambos como seus intérlocutores preferencinis na sua “oragiio Inaugurdl”: deverlam estar a ouvilo, pelo menos, Egon Schaden, Herbort Baldus {ambos do Conselho Fiscal da Sociedade), Cas- tro Faria, Heloisa A. Torros, Eduardo Galvio e Edison Carneiro, a julgar pelos registros da épo- ca (15), mas apenas dois dos oradores da reu- nifo da Bahia apresentaram trabalhos no con- gresso, Egon Schaden ¢ Maria Isaura Pereira de Queiroz. Fernando Henrique Cardoso, Octa- vio Tanni e Renato Jardim Moreira, que nao se apresentaram neste Congreso, no entanto en- bre suns pesquisas a respeito das relagdes ra- ciais no sul do Brasil. J& no Congresso dos Americanistas, esti- veram presentes quase todos os que participa: ram da fundacdo da ABA e muitos dos que esta- vam apenas no congresso de Sociologia. Flores- tan Fernandes e Charles Wagley, presidente vice-presidente do encontro, organizaram um. “Simposium Etno-Sociolégico sobre Comunida- des no Brasil” — confirmando a importaneia do tema para socidlogos e antropéloges, entre os Anlropologia Fisica, ver Castro Faria (1952, 190) @ MJ. Pourchet, cltada por Melatti (1884): ein, J. Bastos de Avila, Froes da Fonseca, Renato Locchi e’ José Lou- reiro Femandes, dos cltados, eram antropélogos tis! cos, os quatro tiltimos formados em medicina. 15 —- Um resumo das apresentagbes fellas nos dots, congressos est na Revista de Antropotogia, 22), 1054 — ela também inloiada este ano por Egon Schaden; ver também 0s Anais do XXXT Congreso Internaclo- fal de Americanistas, Anherbl, SP, 1955 ¢ 05 Anais do T Congresso Brasileiro do Sociologia, Grifica Sa ralva, SP, 1055, TRAFICANTES 18 grupos de trabalho, apenas este e 0 sobre arqueologia sulamericana tiveram duns eu nides. $6 foram superados polo grupo sobre Etnplogia Brasileira que, sompre presidido por estrangelros, so rouniu trés vezes. Os “estudos afroamericanos” mereceram uma sessio. J4 estava presente 20 congresso David Maybury: Lewis numa das sessdes (chamado de ‘David Maybury') que, gragas ao conhecimento com Baldus no congresso anterior, em 1952 na Ingla- terra, decidira pesquisar no pais. Isto indica que também neste momento as frontelras instituclonais ¢ disciplirares (com mais 6nfase no caso da Sociologia, mas incluin- do a Lingiiistica e a Arqueologia) eram ainda facilmente atravessadas. Darey Ribeiro, no Rio desde 1947, foi responsdvel pola ida de muitos paulistas para Jé, excolegas de seu tempo de estudante em So Paulo, como pesquisadores ¢/ou protessores dos cursos de aperfeigoamento e treinamento que, desde 1955, promoveu, pri- meiro no Museu do Indio e depots no CBPE e que, de certa forma, tiveram continuidade nos cursos oferecidos no Museu Nacional desde 1960 (Castro Faria, 1957; Cardoso de Oliveira, 1962) Esses cursos foram assistidos por muitos jo- vens pesquisadores de outros esiados (da Bahia, do Parand, de Minas Gerais) onde 0 ensino da Antropologia se dava apenas na graduagio das faculdades de Filosotia (em cadeiras ocupadas muitas vezes por um velho médico que, nlio obs- tante conseguia inte vag mente, na Antropologia, como relembra Roque Laraia de sua experiéneia em Minas), e vérios desses estudantes sio hoje professores nas uni- versidades brasileiras. Nao sé a formacao pro- fissional néo estava ainda associada definitive: mente A universidade, como o financiamento de pesquisas se fazia, com mais freqléneia, fora dela, como foi 0 caso dos centros regionals de pesquisas educacionals e dos projeios tinancia dos por agéneias internacionais, acoplados ou no a agéncias nacionais, nfo necessariamente ligadas & drea académica: a CAPES oferecett bol sas aos estudantes dos cursos mencionados, no Rio, assim como financiava, indiretamente, atra vés do CBPE, pesquisas enr.s40 Paulo, ¢ 0 entio Conselho Nacional de Pesquisas patrocinou alguns estudos ¢ pesquisadores —- mas a atual Fundagio SESP (Servigos Especiais de Satide Publica), na década de 49 e a Companhia do ‘Vale do Sio Francisco, na década de 59, por DO_EXCENTRICO exemplo, também financiaram projetos de pes- quisa (16) Isto ndo significa que 0 treinamento unt- versitério no tenha sido importante para a maioria desses pesquisadores/professores mas sim que, sendo ainda restrita a formagio espe: ializada na década de cinglienta (neste momen- to, e apenas desde 1947, s6 a USP oferecia o titulo de mestre ¢ doutor em Antropologia, Sociologia ¢ Giéncia Politica; a Escola de Sociologia © Po- Iitica ¢ Universidade do Brasil ofereciam o tt tulo de mestre e doutor em Ciéncias Sociais), aqueles que a obtinham faziam 0 papel de mu! liplicadores desse conhecimento no pais, sendo ou nao nativos dele, endo apenas nas institui- goes académicas. Nesta década, Charles Wagiey teve, na Bahia e no Rio, um papel equivalente a0 de Donald Pierson na década anterior em Sio Paulo, Formado em Chicago, Pierson ainéa ropresentava a confluénela da Sociologia e da Antropologia e foi estimulador do desenvolvi- mento de ambas as disciplinas; Wagley, decidi- damente um antropdlogo, ou antropologista, co- mo dizia, a0 chegar, trouxe a influéncia de Co- lumbia e de Sinton ‘para as pesquisas feitas na Bahia e no Rio, no Ambito dos projetos Behia- Columbia (Azevedo, 1964; Wagley, 1970) © da «cblaboragio com o CBPE, além de’sua mais co- nhecida coptribuigio aos estudos sobre a Ama- zonia (ver, por exemplo, Margolis & Carter, 1978), Sendo também um grupo reduzido este que atendia pelo nome de cientistas sociats, mul- tos doles estavarn presentes nas varias institul- Ges concomitantemente ou sucessivamente cria- das para desenvolver essas pesquisas. Entre os antropdlogos, Darcy Ribeiro é 0 exemplo mais flagrante nesse momento, por sua miiltipla atua- cdo, dcente (na Escola de Administragio Pu- blica da Fuindagso Getilio Vargas, na Faculdade Nacional de Filosofia, no Museu’ do” fndio, no IBPE. onde, intermitentemente dou, cursos de tnografia “Brasileira” ¢ de “Antropologia Cul- tural”), administragdo (no Servico de Protecio aos tndios, no CBPE, no Instituto de Ciéneias Socials) © dv pesquisa. Esta muttipticidade, no entanto, ainda que em menor escala, foi assu- 16 — Sobre @ SSP, vor Wagloy (1953, 197TH) © Pega nha (1075); sobre 6 Vale do Séo Francisco, Pierson (2987). A avaliagsio dessa partieipagio de Sredos pu bilcos, ¢ ayéncias Internacionals, nas pesquisas de An. tropologia da época ser feita’ em conjunto com a andlise dos projetos de longo ul 89 mida por quase todos os personagens centrais das comunidades antropolégicas, 2 nivel nacio- nal e estadual, na década de 50. investimento desses multiplicadores na formacao de pesquisadores para as Ciéneias So- ciais nem sempre foi bem-sucedido no sentido de torni-los profissionais de wma disciplina: no Rlo de Janeiro, entre os doze alunos citados por Darcy: Ribeiro como “orientandos com pesqui- sa de campo” na década de 50, s6 um ocupa hoje a posigaio de professor de Antropologia nu- ma universidade (17) os outros tendo se torna- do professores de Sociologia, administradores, diplomatas, burocratas... Em Sio Paulo, na Fa culdade de Filosofia, Ciéncias ¢ Letras, seis titu- Jos de mestrado e doutorado (18) foram obtidos até o final da década na drea das Ciéncias So: ciais — e nenhum em Antropologia. A slluagio se alterarla um pouco nos anos seguintes, mas 0 grande crescimento do nimero de profissionais titulados se daria no final dos anos sessenta e inicio dos setenta. Este descom- asso entre a atuagio pritica dos antropdlogos ‘como docentes, pesquisadores, orientadores de pesquisa de campo e administradores, e a sua titulagio — quase impensdvel trinta anos depois — sugere que os pardmetros universitdrios 36 passaram a ser decisivos para a profissio com ‘@ quase recriagio da universidade que represen- tou a reforma instituidora dos cursos de pés- graduagiio num novo formato, em 1968, A tran sigho 6 perfeitamente legivel também nos nomes eleilos para a diretoria e 0 conselho cientifico da ABA, a partir da déeada de 70 ainda que, a0 invés de uma ruptura tenha havido uma con- fluéncia entre os representantes de um e outro momento — expresse também pela permanén- cia, naquelas posices, até hoje, daquele que dirigiu a I Reuniio Brasileira de Antropologia. 77 — Bram: Marcelo Moretziion de Andrade, Maria Lals Mousinho Guidi, Maria David do Azevedo (Bran- dio), Carlos Moreira’ Neto, Dallon Moreira de Araujo, Jorge Guimaries de Ollvelra, Lygla Esteviio de Olive! ra, Maria Heloisa Fénelon Costa, Ursula Albersheim, Klaas Woortmann — hoje antropdiogo na Universidade dy Trusilia — Roberto Zus Casas @ Olmar Paranhos Montonogro, 18 — Os titulos foram obtidos por Gilda Rocha de Mello e Souze (doutorado, 1950), Plorestan Fernandes (outorado, 1951), Femando Henrique Cardoso (mes trado, 1953), Antonio Candide de Mello e Souza (dou. torado, 1954), Octavio Tanni (mestrado, 1957) e Maria Mee Fornecht’ (mestrado, 1959) — tados om Sociolocia, Defenderam a livredooéncla Plorestan Fernandes (1953! “e Egon Schaden (1054), este em Antropolorin ‘A década se encerra com uma nota triste, que é ainda, assim mesmo, um eco das relagées | estreitas entre a Antropologia e a Sociologia: a Sociedade Brasileira de Sociologia e 0 Museu Paulista, representados por H, Baldus, F. de Azevedo, F. Altenfelder Silva, Antonio Candido, Schaden, D. Moreira Leite, Aziz Simao, F. H. Cardoso, O. Ianni e Renato Jardim Moreira, re- cebiam, em abril de 1958, os despojos do pai mitoldgico da Antropologia, exunndos por Ha- rald Schultz, na Amaznia (Revista do Museu Paulista, N.S. XI, 1959). Seu nome, no entanto, seria airida ressuscitado muitas vezes para legt timar posigdes opostas no campo da Antropo- Jogia, ou para indicar uma insubordinagio em relagio a posigdes vigentes, fossem quais fos- sem como 0 exemplifica a votagtio que rece- beu para o Conselho da ABA em 1984 (19), A frase que parece melhor retratar Nimuendaja esta numa carta enviada por dona Heloisa a Eduardo Galviio, entio no campo, acompanhan- do os pesquisadores James e Virginia Watson, mencionando o curso que ele estava dando trés vezes por semana no Museu: “Ele recomenda muito que vocés deixem toda iniciativa sobre decisdes de negdcios indigenas aos préprios in- dios” (Acervo: HAT a EG, 7.10, 1948). Posigio dificil de manter nas décadas seguintes, ola ser- vird niio obstante como forte ponto de referén- cin para os etndlogos brasileiros, © terceiro momento dessa histéria de trinta anos poderia ser expresso de varias ma- neiras — hi, por exemplo, duas fotos escolhidas por Carlos Guilherme Mota (1977) para retra- tar, entre outras, as vicissitudes da ‘cultura bra- sileira’ nos anos 60, € que nos dizem respeito iretamente: a foto de Darcy Ribeiro abragado a sua mie, deixando 0 pais, e a do prédio da Fa- culdade de Filosofia da USP em chamas. A que esta aqui representa, entretanto, certos. tragos ausentes ou diluidos, nas fotos anteriores, e tam- 19 — Curt Nimuendaju (10831945) deixou um rastro de curiosidade depois de sun morte — ver os comen- tirios de Nunes Pereira, eliados por métraux e os dele mesmo (197) — e nio 6 menos curioso que tendo tido tantas vineulagdes com 0 Museu Nacional e com o Museu Paraense, seus restos mortais neabassem no ‘Musou Paulista ondo iniciou sua oarveira. Ver também polémiea entre Darey Ribeiro e Roberto Da Matta em 1979 em toro da publicagao dos trabalhos de Ni- muendaju, entre outras colsas. Luiz Henrique Passador encontrou a noticia de Tela Hartmann (Revista do Museu Paulista, NS, vol. XXVIII, 1961/02) sobre o enterro de Nimuendaju em 1961 TRAFICANTES bém uma certa continuidade entre os trés mo- mentos, mais do que rupturas. & certo que, a0 deixar © pafs, Darcy Ribeiro rompeu com uma cadeia de acontecimentos nos quais a sua figura - teve iniportancia central, mas nem tudo o que -forn-construido desmoronou com a saida das lider’inas carismaticas. Ao queimar, a Maria Antonia (como era conhecido 0 coraglo da unt versidade e bem de acordo com a concepgio de seus fundadores) deixou um ressalbo amargo em muitos dos personagens centrais da década anterior na histéria das Ciéncias Sociais. Flo- estan Fernandes, dos ultimos a sair,do prédio, parecia pressentir em sua tristeza o tue aquela queima simbolizava (20). Bla sinalizou também uma aproximagio talvez difieil antes, de inte- grantes de uma geragio cujo empenho nas lutas pela transformagio educacional do pais nao pode ser exagernda: alguns anos depois, Flores: tan Fernandes evocava o espirito de certas frases de Darcy Ribeiro, ditas alguns anos antes (21) A amargura verbal, ¢ tantas vezes por escrito, que ambos expressaram, ao voltarem & cena in- telectual, sugere que eles enfatizavam, como as fotos mencionadas antes, mais as rupturds do que as continuidades entre as décadas de 60 ¢ 70, So uma parte da estrutura educacional montada pelos responsaveis por ela desde 0 int cio dos anos 50 ficou em pé ¢ certas propostas foram lentamente digeridas pelos novos empre- sdrlos da educagio, também muitas iniciativas tomadas antes, ao amadureceram no final dos anos 60, foram ironicamente assimiladas a uma ‘nova ordem’ quando eram expressio de uma mais antiga (22). Menos do que pela contin: 2) — Ainda esta por ser feita uina iconografia dos locais em que as Ciéneias Sociais se abrigaram, e a sua histérla: 0 prédio da rua Maria Antonia abrigou inicialmente 0 Centro de Pesquisas Fdueaclonats de iio Paulo, 21 — Comparar Fernandes (1974) e Wbelro (1962), por exemplo, 22 — Darey Ribeiro fot responsével, por exemplo, pela vinda do Summer Institute of Linguistle ao Bracil, fom 1950, para estimular a pesquisa das linguas indi enas, assim como ele e Anisio ‘Telxeira proplelaram a vinda de muitos outros técnicos norte-americanos ‘a0 pals, nun contexto de ‘modernizagio’ educacional ue inciula o estimulo as pesawisas em Ciéncias So- lais © que, lide de outro angulo depois de 1968, adqui iu novo significado, Basta lembrar que Charles Wa. ley integrava a primeira comissio da USAID, em 1963 (Cunha 1986) que, assim como a presenga do ‘Summer, se tornou alvo da critica das goragses mals Jovens logo depois de 68, Sobre 0 Summer, ver om: DO EXCENTRICO Ge institucional, no entanto, 0 trago pelo qual se Gistingue a constituigio da Antropologia como Gisciplina no perfodo, 6 definido por caracteris ticas, por assim dizer externas (metodologia, abordagem te6rica), tanto quanto pelo seu con- tetido. Isto 6, a partir da década de 90, cada voz que um novo impulso tedrico ou metodoldgico fol dado & Antropologia, ele se expressou em pesquisas, depois tornudas exemplares também para outras dreas, cujo objeto so as sociedades indigenas (28), Também por isso, a foto escolhi- Ga para expressar um terceiro momento dessa constituigio 6 de Biorn, filho do antropélogo inglés David Mayhury-Lewis, junto a um Xavan- te no Brasil Central, em 1988 (Foto 4). Bla bem poderia ser a ilustragdo do livro om que aparece (0 Seloagem e 0 Inocente), ape- sar da legenda irdnica (“ameagando a cimera”, quando talvez esta é que ameagasse 0 indio em segundo plano), nfo fosse o empenho de May- buryLewis ao longo do texto em desmontar cuidadosumente qualquer residuo das nogdes Tomanticas sobre quem & selvagem e quem é inocente nesta histdria toda das relagées entre indios ¢ pesquisadores. Maybury-Lewis publicou suas impressées da viagem ao Brasil em 1965, sntes de editar a monografia mais tradicional sobre 0 grupo que estudou (1967). O primeiro sinal de continuidade que a foto estabelece com 4 nossa histéria 6 banal: hd muito tempo vis- Jantes estrangeiros registram suas impress6es de nossa terra e nossa gente (ainda que poucos com tanto gusto literdrio); os outros tinham sk do até agora tocados 56 de passagem. A perso- nagem central do livro, mais do que 0 etndgrafo, € Pia, sua mulher, e sio suas reagdes e sua atua- gio — numa situagio quase inverossimil vista de hojt: (ou talvez nem tanto, conforme o relato de outros‘antropélogos que nunca registraram por escrito suas experiéncias) — 0 que primeiro nos chama a atengao, Alguma coisa }é tem sido escrita sobre a importincia das esposas dos etndgrafos om situagdo de pesquisa, mas este relato, antes que tal citagdo entrasse na moda, de certa maneira langa luz sobre uma participa: mero 7 (981) de Religito ¢ Sociedade , para uma autoavaliagéo de sua utuaeio no periodo anterior, as cartas de Darey Ribeiro a Anisio Telxelra no CPDOG da Fundacéo Getilio Vargas do Rio de Janeiro. 23 — Aqui, wntando acompanhar minimamente as tra jetOrias dos personagens principals dessa historia nes. ‘0 perlodo, ¢ impossivel avallar também # sua produ. 0 intelectual —- objeto de outro texto, Publicada em Maybury:Lewls, 1065. 91 92 do que parece ter sido mais constante do que nds acostumamos a registrar (24). Se, com o trabalho que entio iniciava, Maybury-Lewis comecava a romper com uma, tradigio de andilise das sociedades J que vinha desde Nimuendaju (Da Matta, 1981), a0 mesmo tempo continuava outra que, desde os trabalhos, dos naturalistas alemes, passando pelos fran- ceses e chegando até os norte-americanos numa nha quase continua antes de se multiplicar de- pois dos anos 70, assinala a importancia do trabalho orfentado, em pessoa ou 4 distéincia, por pesquisadores estrangeiros no nosso pats, particularmente com relagio as sociedades tri- bais (25). Sua colaboragio com o Museu Nacio- nal, quando jé estava trabalhands em Harvard, e particularmente com Roberto Cardoso de Ol- veira e seus estudantes, através do projeto Har- vard-Brasil Central, é de certa forma 0 equiva- 24 — Um capitulo ainda a ser escrito, este, na histé- ria da Antropologia e quo bem poderia levar o titulo de ‘LéviStrauss et sa femme’, que é como Maugé rel- teradamente se referia & Dina ¢ Métraux as outras es posas do antropélogo. Ver as observagées do K. Dwyer (1919) sobre a divisio de trabalho entre marido e mulher em vérlas pesquisas de campo. D. Pierson. (1987) menciona tanto a contribuigho de Helen, sua esposa, como a das esposas dos outros pesquisadores em sous projetos; Charles Wagley registra seu uso do iério mantido por Cecilia numa das viagens nos Ta- pirapé (OTT) © Da Matta descreve sua mulher Celeste como “uma pesquisadora notavelmente humana e dis. posta” (1981). Ver também o engragado pustlcho dos Inovitavels agradocimentos Az esposas nos toxios on tropoldgicos em GERTRUDE, "Postface a quelques préfaces”, Cahiers d'Mtudes ' Africaines/65, XVIIC), 2— Esta tradigio tem se mantido razoavelmente constante na historia da disciplina no pais. Ao falar sobre as “possibilidades de desenvolvimento autOnomo do ensino © da pesquisa” em Etnologia no pais, Flo- estan Fernandes, escrevendo em 1956, comecava ob- servando: “A Etnologia se desenvolveu no Brasil, até © primeiro quattel do presente século, principalmente através das obrns ¢ das realtengGes de investigadores estrangeiros”. (1975:119). Seu artigo é, ole mesmo, um bom indicador de que as coisus no’ tinham mudado muito na década de 50. Além do fato de que alguns pesquisadores estrangeiros publicaram aqui e em por tugués seus primeiros estudos — e de que alguns bra. sileiros publicaram seus primelros em outras linguas nao deixa de ser irdnico que o trabalho do alemio Curt Unket tenha recebido 0 apoio do alemio Robert Lowie nos Estados Unidos: sua correspondéncla, par: te em alemio, parte em portugués ¢ inglés expressa bem esta ironia, Ver — Lowle (1959), Uma listagem muito proliminar dos estrangeiros presontes no pals, esses Uinta anos, 6 apresentadn em anexo; E. Scha: den (1920), Thea Hartmann (1977) ¢ Damy ¢ Hart ‘mann (1986), acreseentam multos nomes & sta: TRAFICANTES lente, na década de 60, da relagao estabelecida na déeada anterior entre Columbia e a Univer- sidade da Bahia, através de Charles Wagley e ‘Thales de Azevedo. Este tipo de colaboracio que, no caso do Museu, ¢ em cardter mais infor- mal vinha sendo posto em pritica hd mais tem po por dona Heloisa e, conforme Castro Faria (1977), jé antes dela, por Roquette-Pinto, parece tor sido especialmente bem-sucedido, em termos da formacio profissional de antropdlogos bra: sileiros, por ter coincidido com a reformulacao legal dos programas de pésgraduagio no pais ¢ sua instituigao no Museu Nacional. Como Ger- holm ¢ Hannerz (1982) observam para a cena internacional, tal colaboragio ainda se expres- sava-num niimero maior de estrangeitos vindo para ensinar, ou pesqulsar, ¢ de brasilelros sain- ‘do para estudar, mas foi a partir daf que a situa- Gio, se nao se inverteu, comegou a mudar, com @ participagao, cada vez mais freqtiente, de an- tropdlogos brasileiros em semindrios internack nais e, em alguns casos, como pyofessores visi tantes de universidades em outros paises. Isto 6, degde meados da década de 70, a Antrofolo- gia brasileira tem sido considerada como um in terlocutor, no piano internacional, A ligaciio de Maybury-Lewis com o Brasil comegara, cinco anos antes daquela foto ser tira- da, quando ele chegou a Sio Paulo para dar aulas de inglés © estudar, durante dois anos, com H. Baldus, na Escola de Sociologia e Poli- tica (26). Justamente naquele ano, Roberto Car- doso de Oliveira, que estudara na USP, estava, saindo de Sio Paulo, a convite de Darcy Ribeiro, que também havia sido aluno de Baldus, para trabalhar no Museu do Indio no Rio de Janeiro — iniciativa de Darcy no Ambito do entio Servi. go de Protecdo aos Indios: ambos sairiam de 14 em 1956, para o CBPE (27). Cardoso de Oli 36 — Tan 1805, Maybury-Lewis descrevia Baldus, sem eltar sou nome, como “a german professor of ‘great personal charm who now holds a chair in Brazil Darey Ribelro definia Baldus como “poeta-cientist teutdnieo, mulherengo, prussiano, roméntico e antl tascista,”” (om Galvdo, 1978) 21 — Eduardo Galvfio, que também trabathara 4, j8 hhavla saldo no ano anterior, para o Musou Paraenso, Junto com outros pesquisadores do CBPE (como Klaas Woortmann, Roberto Las Casas ¢ Carlos Moreira. Ne- to) ou do Museu do Indio. Com excegao de um breve erfotlo em que coordenou o Instituto de Citncias Hu- manas em Brasilia, Culvio passaria no Museu o ree tanto de sua earreirs. Ele deve ter sido dos poucos, serio 0 unleo, pesqulsador brasileiro na area das DO _EXCENTRICO veira, a partir de 1960 e até inicios dos anos 70, quando transferiu-se para Brasilia, ficou no Mu- seu Nacional; Darey Ribeiro delxaria a Divistio de Estudos e Pesquisas Sociais do Centro, para wrabalher na implantaggo da Universidade’ de Brasilia, em 1962 0 impuiso dado & Antropologia no Rio de Janeiro com os cursos dados por ambos no Mu- seu do indio, primeiro, no CBPE depois — con- tinuados por Cardoso ‘de Oliveira no Musett e, por um perfodo oxtremamente curto estimula- dos por Darey Ribeiro em Brasilia — fez com que repercutissem mais 14 do que em Sao Paulo as influéncias das instituig6es paulistas, jé que muitos dos formados sob esta influéncia foram convidados a participar daquelas experiéncias. Em Sto Paulo, dada a grande expansio da So- ciotogia — do que é um bom indice o némero de teses’ de mestrado e doutorado defendidas na década de 60 (35, por contraste com as 5 de Antropologia) — a disciplina se desenvolveu, a nivel institucional, mais lentamente, Se obser- varmos 0 elenco da diretoria e do Conselho da ABA hoje, no entanto, veremos que boa parte de seus integrantes cariocas que passaram pe- los cursos promovidos nas décadas de 50 ¢ 60 , Ou, mais tarde, pela pés-graduagio do Museu Nacional, ou completaram a sua formagao no exterior off se doutoraram pela USP na década de 70. Isto 6, na déeada de 60, os protisstonats nascidos entre os anos 30 e 40 estavam entio iniciando sua carreira como estudantes; os do- centes @ pesquisadores nascidos entre 03 anos 20 e 30 conelujam sua formagao, mais freqlien- temente no pais do que no exterior (28). Eduar- do Galvio (1921-1976) parece ter sido o tnico antropélogo de sua geragio a obter o titulo de Doute¥ fora do pais (em Columbia, em 1952), 0 que, na geragio de seus alunos, tornow-se mais comum (29). Wagley em Columbia e Maybury- Lewis em Harvard eslimularam e apoiaram a ida de estudantes brasilelros para osses centros Gienctas Socinis & ter a sua alividade profiselonal In telramente financlada, desde entlo, pelo CNPq, Sobre os cursus do CBPE e a relaglo entre Edueagio ¢ Cién- As Soclais, ver Corrdu (1906), 28 — Para os pritelros, vor ns rominiectnolas do Da, Mattn sobre seu tempo como estudnnte (1001); para 05 oulros, ver 0s depoimentos de Cardoso de Oliveira, Florestun’ Fernandes, MayburyLowis, 29—A ADA esti rentlzando um endastramonto do seus sdclos, o que permitird estabelecer com mals pre- elsio a origem instituclonal dos titulos dos antropé- Jogos brasiletros como um todo, 93 — estimulo que se ampliou para outros eentros, fosse pela presenca de Wagley, a partir dos anos 70 na Florida, fosse pela de seus exalunos em outras universidades norte-americanas (30). Com a excegio de casos isolados, isto se deu, no en- tanto, com mais freqiiéncia depois que 'o novo sistema de pés-graduacio se institulu no pais. © grande acontecimento da década, no Ambito do ensino, fol a criagio, e quase imediato desmantelamento, da Universidade de Brasilia, © gue fez também com que voltassem para suas Jnstituigdes de origem varios docentes e pesqui- sadores da drea da Antropologia 14 reunidos. 0 resultado do trabalho de representantes de duas geragdes em eentros mais antigos, como 0 Mu- seu Paraense, para onde voltou Galvdo ou a Uni versidade da Bahia, para onde foi Pedro Agos- tinho da Silva, entio estudante em Brasilia, ou nas novas faculdades de Filosofia, criadas com ‘© impulso das reformas educacionais de 1968, ainda estd para ser avaliado. Na Associagio de Antropologia, da qual Darey Ribeiro tinha sido eleito presidente em 1959, 0 impacto dessas re- formas, aliado ao grande crescimento do nimero de estudantes nas universidedes brasileiras no final da déeada, se fard sentir bem mais tardo, a partir da reunido de 1974, quando elas reto- mam também a periodicidade das reunives das décadas do 50 © 60. ¥ como se tivesse havido uma hilato, nessas rounldes, entre a efervescéncia po- Mtica de 1963 (Durham, 1963) e a lenta retoma- da dos trabalhos em 1974; a reuniio de 1966, programada para ocorrer em Brasilia, acabou sendo realizada dentro do Simpésio ‘sobre a Biota AmazOnica, organizado pela ‘Associagio de Biologia Tropical, em Belém e contou com a presenca de apenas doze sécios; em 1971, 0 pro- fessor Egon Schaden fez um esforgo para reu- nir 0s antropdlogos em Séo Paulo, por ocasitio de outro encontro, promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP, mas sé na reunizio ‘30 — Talves soja um oxagoro a afirmagio de Margolis f Garter (1070) do quo os exalunos de Wagley domina- ‘vam entiio 0 campo do “esiudos brasilelros", mas a Usta dos que pesquisaram no Brasil ¢ sun distribulgio ‘nus universidades dos Estados Unidos 6 impressionan. to. Waxley prosidiu a Amorlean Ethnologleal Society no flnal dos anos 500 a American Anthropologleal As: soelation no infelo dos 70. MayburyLewls crlow e pre. sido deste a década de 70 0 Cultural Survival, secre. tarlado por Pla, © um empreendimento internacional do hpolo grupos socials quo 10m sua sobrevivencia ameagada no mundo contemporineo, com sede em Harvard, 94 seguinte se fez 2 eleigho de um presidente, nio realizada desde 1966, {sto 6, num periodo de oito anos. Em 1980 a presidéncla sorta, pela primolra vez, ocupada por uma mulher ¢, também pela primeira vez, por uma docente da Universidade de Sao Paulo — Eunice Durham (31). © 56 a partir dai que a presenga paulista seria visivel na Associacio. Na década de 60, com a excecdo da Universidade de Brasilia, as instituigées em que eram realizadas pesquisas antropoldgicas cram as mesmas que abrigavam na década ante- rior: desde entiio 0s grupos se multiplicaram ¢ a avaliag&io das contribuigdes de pesquisas indi- viduais ou institucionais em Antropologia € me- Ihor feita quantitativamente — 0 que tem sido levado @ cabo polas agénclas federais de finan- ciamento ¢ administragio dos programas de pés- graduagio no pais (32). © que parece claro para o perlodo dos anos trinta aos anos sessenta ¢ que, se houve uma profissionalizagio crescente dos antropé- Jogos no pais, ela se expressou na sua aglutina- 0 em torno de uma identidade profissional comum, definida através da ABA e, se houve uma, ‘especializagio crescente da disciplina no Ambito das Ciéncias Sociais, ela se expressou pela én- fase dada aos assuntos indigenas, na pesquisa tanto quanto na atengio politica de parte dos antropélogos ao tema, Aqui, como em outros paises, 0 traco distintivo da Antropologia em re: Jago &s outras disciplinas das Clénclas Sociais tem sido a pesquisa de campo e esta, seja pela énlase que Ihe foi atribulda pelos professores/ pesquisadores internacionais na sua atuagio no pals, seja pelo lugar que ocupou nas instituicdes que tém formado antropdlogos, parece ser mais amplamente posta em pritica entre os grupos indigenas nacionais. Nenhuma outra area da dis- ciplina ocupa, sozinha, a dimenséo simbdlica ¢ politica que tem esta: a distingdo que Ihe atri- buem os antropdlogos pode ser medida também POF Ser @ tinica para a qual existe uma biblio- 3 — Até ontio, © Unleo presidente da Assosiagio vin do de Sio Paulo tinha sido H. Baldus (em 1961) que, como se sabe, nunca obleve lugar na USP. A reuniso de 1900 foi também quase uma recringio de ABA: alteraramse os estatutos, para permitir elcigées dire- tas ¢ a ampliagio dos eritérlos para associarse, In- cluindo estudantes de pdseraduacéo, © iniciouse a ctiagio de suas regionals, atualmente em nimero de tres (Sio Paulo, Brasilia © Nordeste) 32 — Ver w sérle Avatiago & Perspectivas, publicada Fegularmente polo CNPq desde o inicio dos anos 70. TRAFICANTES grafia slstematicamente atualizada desde que Baldus a inlelou (Baldus, 1954), a tinica que me- rocou:dos antropslogos 0 investimento de tra- balho coletivo numa outra entldade que nio 2 sua Assoclacio (a Comissio Pré-tndio, criada em 1978, em Sio Paulo) e, ainda por ser a ques- tio indigena a que tem hoje concentrado a maior contribuigio da ABA aos trabalhos da Assem- biéia Nacional Constituinte. A foto de Biorn com o Xavante evoca assim alguns tragos distintivos da atuago dos antropélogos no Brasil que tinhatn ficado ate- nuados no acompanhamento sumario 4ue se fez aqui da constituigio de uma comunidade, ou uma tribo, antropolégica nacional: 0 trabalho de campo ¢ a forte presenga do indio na defini- go da disciplina. As sombras de Léry ¢ Staden, percebldas por Lévi-Strauss numa praia deserta e Bs quais ele acrescentava o nome de Métraux, © nds podemos acrescentar 0 seu proprio, po- dem ser somados varios outros nomes, alguns Jembrados aqui e todos insepardveis dos grupos que estudaram — com a condigao de que tenha- mos claro que, ao falar sobre esses grupos, seus pesquisadores esto também, ou esto com mais freqliéncia, falando uns com os outros. O que traz de volta a forte preseaga de pesquisadores estrangelros no pais, evocando a questiio sem- pre flusérla da nacionalidade, Como observa Milton Singer: “As etiquetas nactonais estio des- locadas, {4 que o ‘britanico’ Radeliffe-Brown de- riva seu trabalho do de Morgan e da escola so- cloldgica francesa, enquanto que 0S antropdlo- gos culturais ‘americanos’ o derivam de Tylor e, via Boas, dos difusionistas alemies.” (1968) Nao 6 preciso lembrar que Radeliffe-Brown também assou por aqui ou que, sob as mesmas influén vias sofridas por Boas, mas & distancia, o sergi- pano Tobias Barreto fazia reflexes muito seme- Ihantes as dele sobre a cultura no século passa- do, ou acrescentar que somos todos estrangel- Tos em Telagao ao objeto privilegiado de nossa disciplina, para sublinhar um descentramento to entranhado em sua histdria que 6 0 que a define, para bem ou para mal, No exemplo bra- silelro da disciplina, um certo cosmopolitismo que est4 na moda (33), foi-nos quase impingido 3 " Rabinow propoe o cosmopolllismo como saida para os impasses da interpretagio e da autoridade dos autores: “Let us define cosmopolitanisin as an ethos of macrosnterdependencies, with un acute consclous- hess (often forced upon people) of the Inescapablllties DO _EXCENTRICO 95 desde 0 inicio de sua histéria: vejamos como isto se expressa no seu universo textual. ‘and particularities of places, charactors, historical tra Jectories, and fates. Although we are all cosmopolitans, Homo suplons has done rather poorly in interprating tbls condition. We seem to have trouble with the ba lancing act, preferring to relfy local identities or cons: truct Universal ones. We live tn-botween". (1988, p.'258), Bese texto 4 parte do um trabalho om andamento ‘o- bre a Iistorla da Antropologia no Brasil nosse porfodo: tentel explicltar 05 trechos que rometem a outros tex? os, 0 que nem sempre consegul. Agradego @ todos os entrevistados do projoto 0 generoso empréstimo de folos eo estimulo constante, aos pesqulsadores. da UNICAMP que vém trabalhando comigo desde 1984, 2 equipe do projeto Wistéria das Ciénciaa Socials do IDESP a leitura critica e 0 apolo da PAPESP, do ‘ONPq e da FINEP. Bibliograt AZEVEDO, Fernando de. (1923), Piguras de meu com vivio, Sho Paulo, Livraria Duns Cidades. AZEVEDO, Thales. 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Henry J. Henry ‘Harvard:M.Naclonal/c, 12 | a esq. - ‘B. Moggers: B, Moggers: ‘B. Moggers: ©. Evan . Evans . Evans P, Rivet A Leeds | 8. Dreitus i W. Hohonthat \ A, Hohenthal | 5. Leacock i ’ fee R, Leacock : i 3. Emperaire | 4A. LEmperalre | ‘ R. Cametro i P. P, Mibert ‘ J. Comas i : W. Crocker W. Crocker 1 G. Snake j Equipe Summer (1950. equipo Summer ! ‘Equipe Japonosus A lista ¢ incompleta e serd methor entendida por antropotégos neste estdgio da pesqutsa, As datas assina- ladas indicam o periodo de permanéncia do pesqutsador no pals (e + indtea que morreu aqui): obscrve-re que o mimero de easals de pesquisadores aumenta desde a década de 50, Fontes no tezto, 98. ABA. - Composigio da Diretoria ¢ do Conselho Cientiice 1953 1955 1958 1959 1961 1963 1965 1971 1974 1976 1078 1900 3992 1964 1986 ( ) , RoquettePinto (Rd) HLA. Torres (B3) E. Galvio (RD) D, Rbelro (Bd) E, Camelro (R3) B. de Avila (3) M. J. Pourchet (3) M. Diggues Jr. (RD) J.B. Rodrigues (R9) L.A, Costa Pinto (3) L, Castro Faria (SP) H. Baldus (BA) T. Azevedo (PR) L. Fernandes (BE) R. Ribelro (SP) E. Schaden (BJ) B. Cardoso Ouvelra (8) M. Vasconcelos (SP) R. Loccht (RD) Froes Fonseca (PR) Mattoso Camara x ox (SP) P. Altentoldor 8. (SP) 0. C, Eduardo (PR) Aryon Rodrigues (Ba) P. Prikel (SP) F. Salzano (Bd) R. DA Matta (PA) N. Figuelredo (SC) 8. Coelho Santos (SP) J.B.B. Perelra (DP) R. Laraia T (RD ¥. Leite (RD) Wagner Rocha (DR) J. €. Melaitl (sp) Alba Zoluar (SP) E. Durham (RD G. Velho (SP) A.A, Arantes (SP) Peter Fry (PE) E.D.B. Menezes (BA) P. Agostinho S. (RD) B Ollven {SP) R, Cardoso (SP) M.M.C, Cunha x oP (RD) RB. Alvin Tr (SP) C. C. Macedo ° (DF) 14, Veloso. (SE) B. G. Dantas (SP) ©. Junquelra (SP) Lux Vidal . (PA) B. Maués xx xs Novo Estatuto-El * Dir. Reg. SP/DF. as WS SUK KHER AHR ~ Peery 4 nH ne Reunio sem Eleisées a HR HH HK * aK He em a errr. Kean x AMHR KH RAO MH HM ne wx a Rana SD aerer) Io it i Vv vi Vi vil im XxX MM Kil xm XIV XV RJ BA PE PR MG SP PA SP SC BA PE RJ SP DF PR P — Presidente; $ — Secrotério; ‘T — Tosoureiro; X — Integrante do Conselho Clentitlco ‘A unidade da federagio 6 a da filacho institucional dos antropdlogos. © levantamento, como os outros, é reliminar,

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