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12/0118173
Seminário de Pesquisa
Na capoeira angola, existe uma forte tendência que busca encontrar as raízes e
a origem da capoeira, em danças-rituais realizadas no sudoeste da África, região
habitada pelo grupo bantu, no qual dentre essas danças, destaca-se o N’Golo, que assim
como a capoeira, associam elementos como dança, luta e jogo. Sabendo que a capoeira
teve uma grande influência africana, e não descartando outras influências culturais que
também possam ter contribuído nesse processo, cabe no momento apontar quais foram
as primeiras manifestações e relatos da capoeira, e como lugares como a cidade do Rio
de Janeiro e Salvador, tiveram um papel fundamental na constituição de uma identidade
da capoeira e que foi central para sua consolidação em todo território nacional. Para
pensar essa questão do lugar, Trajano (2012) nos sugere que:
Abib (2005) no intuito de entender como a cultura popular articula uma série
de conhecimentos e saberes, escolhe cinco categorias como base (memória, oralidade,
ancestralidade, ritualidade e temporalidade), para entender como ocorrem as formas e os
processos de transmissão desses saberes. Desse modo, a cultura popular englobando
essas cinco categorias, trabalha segundo uma lógica diferenciada da racionalidade
ocidental moderna. Para realizar tal reflexão, o autor escolhe a Capoeira Angola, no
intuito de buscar os seus sentidos e significados, propondo assim instrumentos de
análise que sejam capazes de interpretar sua ritualidade, simbologia e ancestralidade,
"como parte de elementos da cosmogonia africana, enquanto sistema
religioso/simbólico que influencia consideravelmente essa manifestação". Na segunda
parte de seu livro, destina uma capítulo a analise da roda de capoeira, Abib também
analisa as experiências educacionais contidas nos processos que envolvem a transmissão
de saberes no universo da capoeira angola.
As pesquisas sobre capoeira, tem revisitado diversos temas que passam desde a
preocupação em entender a sua origem e suas manifestações em distintas regiões do
Brasil no passado, e a influência dessas regiões para a construção de um ethos da
capoeira, como em entender os processos de legitimação e reconhecimento frente ao
estado na primeira metade do século XX; os processos de escolarização e inserção da
capoeira nas escolas de ensino básico; o levantamento da biografia e da trajetória de
vida de importantes mestres; as práticas e performances corporais; a globalização da
capoeira e sua situação atual; os processos de aprendizagem; e por fim os estudos que
evidenciam o ritual da roda da capoeira e os elementos presentes nesse espaço.
Embora seja possível citar fontes que abordam o ritual da roda de capoeira,
como Abib (2005), Brito (2010), Varela (2012), não constam estudos que evidenciam o
processo de construção do lugar da roda, no qual se articulam diversos aspectos
cosmológicos, práticos e hierárquicos que estão intimamente ligados a transmissão de
conhecimentos e saberes dentro da capoeira angola. Desse modo, proponho uma análise
voltada para constituição do lugar a partir roda de Capoeira Angola, no qual busque
evidenciar quais são os elementos que agindo através de uma relação sistemática nesse
lugar, criam um espaço com uma dinâmica distinta, surgindo daí um tempo-espaço
próprio; um conjunto de etiquetas baseadas em relações hierárquicas e semirreligiosas,
uma vez que a Capoeira Angola possui um conjunto de normas ritualísticas e uma
relação estreita com o candomblé; e uma forma de ser e de se movimentar, muito ligada
ao que poderia se considerar como uma espécie de performance ritual.
Abordagem teórica
Metodologia
ABIB, Pedro Rodolpho Jungers. Capoeira Angola: cultura popular e o jogo dos saberes
na roda. Campinas, SP. UNICAMP/CMU; Salvador: EDUFBA, 2005.
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