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Exame 807 10.12.2003 [imprimr]

carreira

O futuro é logo ali | 10.12.2003


Computadores embutidos na pele, casas inteligentes, carros de filme de Spielberg. Pelas previsões dos
cientistas, a ficção científica começa em 2033

Por Fabrício Marques

É difícil conceber o cotidiano sem a internet, o telefone celular e os


computadores pessoais mas as pessoas viviam sem eles 30 anos atrás e nem
imaginavam o que estavam perdendo. Em 1973, o mundo era dado a outras
previsões. A colonização da Lua era uma delas (o homem não volta lá desde
1972). A ficção científica apontava 2001 como o ano em que os
computadores seriam tão inteligentes que comandariam naves espaciais e até
matariam seus criadores. Não se temiam os transgênicos, mas a iminência da
catástrofe nuclear. Também se afirmava que o mundo iria acabar no ano
2000, mas as incertezas podiam ser compensadas pelos benefícios, naquele presente, da Revolução
Sexual. Nem as mentes mais cruéis e retrógradas previam a Aids. O futurologista Herman Khan
assustava a humanidade com suas previsões sobre a necessidade de formar um gigantesco lago na
Amazônia para integrar as populações ribeirinhas já que as estradas eram engolidas pelo verde. Hoje,
suas teses soam tão estapafúrdias que comprovam a temeridade de enxergar com muita antecedência o
que vai acontecer. Mas ninguém resiste à tentação de prever o futuro. De um lado, porque gostam de
manter as mudanças sob controle, de viver num mundo previsível. De outro, porque a tecnologia avança
tão velozmente e faz tantas promessas que é impossível não se deliciar com as visões do mundo que a
próxima geração deverá herdar. Como será o mundo em 2033? Nas páginas a seguir, encontram-se
algumas sugestões de resposta a essa pergunta. Continuaremos a andar de carro, mas eles serão menos
poluentes, movidos por células de hidrogênio. Moraremos em casas de alvenaria e teremos computador
e internet mas eles devem mesclar-se a ponto de reunir todos os eletrodomésticos da casa ao comando
de um computador central, controlável pelo dono a distância. Robôs vão invadir nosso cotidiano, mas
não se espere aquela aparência de andróide que inspira os roteiros de cinema. Os endinheirados poderão
fazer passeios no espaço porque a pesquisa espacial precisa de mais dinheiro. Computadores serão tão
pequenos que acabarão acoplados à roupa. O mundo será mesmo assim? O futuro dirá.

Em 1957, a Monsanto ergueu na Disneylândia, na Califórnia, Estados Unidos, sua versão para a Casa do
Futuro, a residência em que os americanos deveriam viver 30 anos mais tarde. Como na época o
principal negócio da Monsanto era a indústria química, optou-se por uma estrutura de plástico (com a
atual vocação da empresa para os transgênicos, é de se perguntar do que fariam a casa hoje). Vista de
cima, a casa lembrava um trevo de quatro folhas: a estrutura, espetada no chão por uma coluna central
de concreto, ostentava quatro asas, que abrigavam os cômodos. Dentro, uma coleção de itens
tecnológicos. Alguns antecipavam o futuro: a cozinha tinha um fogão com microondas e uma câmera
instalada na porta divisava os visitantes. Outros não vingaram, como o lavador de pratos ultra-sônico e o
sistema para levantar e abaixar os lavatórios, adaptando-os à altura dos usuários. Mas é curioso como
aquela Casa do Futuro dos anos 50 mantém-se como um sonho de conforto e consumo. Algumas idéias
que não se viabilizaram como o controle eletrônico da temperatura e umidade, capaz até de purificar o
ar e eliminar o mau cheiro estão presentes em protótipos futuristas dos dias de hoje, como a Casa
Inteligente showroom tecnológico construído em São Paulo, em julho de 2002. Mesmo correndo riscos,
é possível fazer apostas sobre a casa dos próximos 30 anos. A tendência é ligar todos os equipamentos
eletrônicos a um computador central, com a opção de acioná-los a distância, pela internet ou pelo
celular. No subúrbio londrino de Watford, o construtor Laing Homes uniu-se à empresa de tecnologia
Cisco e ergueu a Casa da Internet. Ela é recheada de câmeras cujas imagens podem ser acompanhadas
pelo dono, por meio da internet. Temperatura e iluminação são controladas pela rede. Até o aspersor de
água no jardim e a cafeteira na cozinha podem ser acionados pela web. Soa como exagero, mas esse
potencial já está sendo explorado nos softwares que permitem ver pela internet as imagens de um
circuito interno de TV. Outra aposta fácil de acertar é o uso cada vez maior da tecnologia na segurança

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doméstica, como a identificação por impressão digital, pela íris ou por dados biométricos. Na mansão
do magnata Bill Gates, em Seattle, os visitantes só entram depois de ter as características biométricas
identificadas. Assim, são rastreados por câmeras e sensores espalhados pela casa. Saindo da
conectividade e da segurança, as previsões mergulham no imponderável. Como na casa-laboratório da
Philips, na Holanda. Não há fios, nem interruptores à vista, nem aparelhos de som ou de TV. Está tudo
embutido e, para acioná-los, basta um comando de voz: a imagem da TV se projeta na parede, o som é
ligado, a luz se acende.

Ele ainda é pesado e desconfortável como uma fantasia de Carnaval, mas, em poucas décadas, poderá
estar integrado à pele e às roupas de qualquer pessoa. Trata-se do computador de vestir, um projeto do
Massachusetts Institute of Technology (MIT), que propõe uma integração total entre homem e máquina.
A aparência dos protótipos atuais parece um exoesqueleto, com periféricos e um minicomputador
pendurados no corpo. Os capacetes dotados de câmeras lembram o filme Kika, de Almodóvar. O
canadense Steve Mann, um dos artífices do equipamento, explica: "É o walkman da computação.
Quando vou ao supermercado ou ao banco, me comunico com minha mulher, que também veste um
computador idêntico ao meu. Por meio de uma conexão sem fio, ela vê o que estou vendo e posso pedir
que me ajude a escolher as mercadorias". Evidentemente, não é para tarefas tão prosaicas que o
computador de vestir está sendo desenvolvido. Ele ajudaria, por exemplo, o trabalho de policiais, que
poderiam submeter as imagens do rosto de um suspeito, captadas pela câmera em sua cabeça, a um
banco de dados on-line com fotos de criminosos, orientando a decisão de prendê-lo ou não. A
parafernália poderá, de fato, anabolizar os homens com a força do computador. As lentes dos óculos se
tornarão displays transparentes exibindo informações como um monitor. Os sinais vitais do indivíduo
serão monitorados por eletrodos dispostos na roupa. Celular, computador de bolso e localizador por
satélite se fundiriam num mesmo equipamento o relógio de pulso. Documentos pessoais, informações,
cartão de crédito tudo estaria reunido num único cartão de bolso. A revolução pode começar mais cedo
do que se imagina. "A partir da década de 2010, os computadores ficarão tão pequenos que será possível
embuti-los", prevê Ray Kurzweil, autor dos livros A Era das Máquinas Inteligentes (1987) e A Era das
Máquinas Espirituais (1998).

Nunca como agora as câmeras digitais foram tão pequenas, produziram imagens com tamanha definição
e custaram tão barato. Nas próximas décadas, o equipamento que transformou o modo como guardamos
nossas fotos vai superar as novas fronteiras tecnológicas. Duas mudanças estão previstas, sustenta o
americano Mikkel Aaland, autor de sete livros sobre fotografia (o último deles, Shooting Digital, foi
publicado em julho). A mais curiosa envolve a capacidade de armazenar informações adicionais no
arquivo digital. Assim como as velhas câmeras informam a data em que a foto foi captada, as máquinas
do futuro poderão agregar dados sobre o tipo de câmera e de flash usado ou a velocidade da exposição.
Mais: com um aparelho de geoposicionamento acoplado à máquina, será possível até mesmo registrar o
ponto do globo em que se deu o clique."E, quando houver um sistema de reconhecimento de voz bem
desenvolvido, vai dar para identificar as imagens por meio de palavras. Basta dizer 'aniversário de
fulano' na hora H, que a informação será vinculada à foto", diz Aaland. Em vez dos sufixos JPEG e
TIFF, vem aí o RAW, que armazena a imagem em estado bruto, sem processá-la. Com isso, a imagem
pode se beneficiar dos avanços no futuro no processamento eletrônico. Esses arquivos são mais pesados
que os populares JPEG, mas isso já será compensado com a capacidade crescente dos cartões de
memória.

Esqueça o robô da série Perdidos no Espaço ou a arrumadeira cibernética do desenho Os Jetsons. Após
décadas de pesquisa, os robôs feitos à imagem e semelhança dos homens serviram para extasiar os
freqüentadores de feiras tecnológicas, mas não emplacaram. Ninguém arrumou serventia para os
protótipos com olhos e orelhas. Nas próximas décadas, a robótica ganhará aplicação comercial em
máquinas que se resignam à aparência de máquinas e executam tarefas que os humanos não querem ou
não conseguem fazer. A indústria já está lançando aspiradores de pó capazes de se desviar de objetos e
aparelhos deslizantes que distribuem prontuários em hospitais. Arqueólogos recorrem a braços
automatizados para explorar pirâmides egípcias. Um jipe cibernético passeou em Marte. A exploração
do planeta vermelho, diga-se, é um celeiro de idéias para novos robôs. Um deles tem asas e a aparência
de inseto. "Sua estrutura foi desenvolvida para voar na atmosfera de Marte, que tem baixa densidade",
diz o pesquisador Anthony Colozza, que desenvolve o protótipo no Instituto Aeroespacial de Ohio, em
Cleveland. O bicho cibernético, batizado de Entomopter, poderá sobrevoar a superfície marciana e
pousar suavemente (várias sondas já se perderam no impacto com o solo). Assim, colherá amostras
como quem poliniza uma flor e registrará imagens do planeta vermelho. O robô- inseto tem uma
aplicação óbvia no reconhecimento de terreno razão pela qual o projeto foi concebido e recebe verbas

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do Departamento de Defesa americano. Com a miniaturização prometida pela nanotecnologia, a ciência


das estruturas microscópicas, ele servirá para trabalhar como espião de posições inimigas.

Os telefones celulares aprenderão a ler o movimento dos lábios, numa versão tecnológica da habilidade
desenvolvida pelos surdos. Essa é a aposta da gigante da telefonia japonesa NTT DoCoMo. A empresa
está investindo num protótipo dotado de sensores que compreendem os movimentos da boca (mesmo se
o cidadão fingir que está falando, como na dublagem). Em seguida, transforma-os em som, por meio de
um sintetizador, ou em texto escrito, enviado por e-mail. Os primeiros testes com o software, capaz de
transformar caras e bocas em palavras, mostram que ele já consegue distinguir com eficiência as vogais,
mas ainda confunde as consoantes. Quais são as vantagens da tecnologia? Reza a etiqueta que pega mal
compartilhar a conversa ao celular com todo mundo que está por perto. No Japão, o cerco aos anti-
sociais com celular à mão já criou legislação que proíbe o uso do aparelho em transporte público. O
celular que não incomoda será um avanço tremendo. Outras vantagens hipotéticas são o uso do telefone
em lugares muito barulhentos ou a possibilidade de as pessoas mudas ou temporariamente afônicas usar
celular. Para os pesquisadores da NTT DoCoMo, as microcâmeras que começam a ser incorporadas aos
celulares ajudarão na tarefa de registrar os movimentos labiais com precisão. Softwares capazes de
reconhecer voz ou simplesmente traduzir os movimentos labiais permitirão o envio de e-mails pelo
celular sem o desconforto de digitar as palavras no minúsculo teclado do aparelho.

Imagine uma tela de computador fina e flexível como uma folha de papel. Agora, imagine as notícias de
seu jornal brotando nessa tela, todas as manhãs, por meio de uma tinta eletrônica que reage a cargas
elétricas e se agrupa de inúmeras maneiras, formando novos textos e fotos e apagando os antigos. Se
depender de dois gigantes da pesquisa tecnológica, o Centro de Pesquisa da Xerox e o Laboratório de
Mídia do Massachusetts Institute of Technology (MIT), o papel eletrônico ganhará escala comercial em
20 ou 30 anos. Protótipos surgiram há três anos e foram testados, mas os pesquisadores buscam agora
uma definição mais apurada do texto e maior uso de cores. Parcerias das instituições de pesquisa com a
indústria, como a IBM, a Philips e a Lucent, estimulam os avanços. Recentemente, cientistas dos
laboratórios Philips, na Holanda, deram sua contribuição ao criar um processo de "umedecimento
eletrônico", conseguindo manipular óleos coloridos nos pixels de uma página e gerando imagens com
ótima definição. Há cinco anos, os e-books, computadores de mão que armazenam livros, foram
lançados como sucessores dos volumes de papel mas nem de longe destronaram o formato universal. O
de pergaminho, semelhante à tela de um computador, não cativou os leitores. Constatou-se que o hábito
de folhear livros e jornais está arraigado demais na memória espacial das pessoas para ser substituído
sem traumas. O papel eletrônico, ao contrário, vai preservar a velha relação espacial dos homens com a
palavra escrita.

Nos laboratórios de pesquisa da Mitsubishi Electric, em Cambridge, está sendo moldado um copo capaz
de transformar a profissão de garçom nas próximas décadas. O sistema, batizado de iGlassware, envia
sinais de rádio do copo para o computador de bolso do garçom, avisando que a dose está acabando e é
hora de servir mais uma. O copo é recoberto por um material condutor e transparente. Ele registra o
nível da bebida e passa a informação para um microchip, instalado em sua base, semelhante às etiquetas
eletrônicas em mercadorias, que evitam roubo em lojas. As informações sobre a redução no nível da
bebida e o código identificador de cada copo são enviadas por ondas de rádio para um receptor na mesa
do restaurante e, de lá, retransmitidas também por radio-freqüência para o palmtop dos garçons ou para
um painel eletrônico, na cozinha. A idéia vem se aprimorando. A primeira versão era um copo de
plástico envolvido numa fita de cobre. O atual já se parece com um copo de cerveja transparente, e
transmite dados para o receptor da mesa mesmo quando se afasta um pouco dela. A aplicação da
tecnologia é garantida, diz Ronald Cole, especialista em administração de hotéis e restaurantes da
Universidade Delaware. Há uma correlação entre a presteza do garçom em servir a bebida e os índices
gerais de satisfação com o restaurante. "Se a bebida demora muito a vir, causa uma irritação que tira
todo o prazer do jantar", diz. A oferta mais freqüente exigirá dos clientes o discernimento de dizer não e
prevenir pileques. Para quem duvida do potencial da nova tecnologia em bares e restaurantes, convém
informar que existe uma boate em São Paulo que permite acesso às garrafas de uísque de cada cliente
por meio de um caríssimo sistema de reconhecimento da íris. A idéia é franquear a bebida apenas a
usuários cadastrados pelo dono da garrafa e bloquear o assédio dos aproveitadores do uísque alheio.

A explosão da música no formato digital MP3 vai transformar o aparelho de som da sala. Ele não vai
mudar de aparência, mas acumulará funções do micro e conectar-se à internet de banda larga. Afinal,
para que perder tempo baixando músicas no computador e transferindo-as para outro aparelho se é
possível executar a tarefa sem intermediários. O internauta usará o aparelho de som para acessar as

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estações mundiais de rádio, assim como os serviços de música digital por assinatura. O primeiro passo
foi dado pela Philips, que começa a lançar uma linha de equipamentos que toca diretamente música
disponível na internet, sem a intermediação de um computador pessoal. "Os consumidores querem
produtos fáceis de usar, querem se divertir da forma e no lugar que preferir", diz Gottfried Dutine,
presidente-executivo da divisão de bens eletrônicos de consumo da Philips.

Ambientado no ano 2054, o filme Minority Report (2002), de Steven Spielberg, teve a consultoria de
um time de designers e especialistas em tecnologia automobilística para levar às telas o que seria o carro
do futuro. A maioria das apostas do filme, protagonizado por Tom Cruise, deverá permanecer no campo
da ficção. É pouco provável que, num intervalo de algumas décadas, os automóveis andem sem
motorista, sejam guardados na garagem por controle remoto, mudem de cor como um camaleão e se
auto-reparem quando sofrem colisões. E não por incompetência da pesquisa a serviço das montadoras.
A tecnologia automobilística não avança rápido assim porque os carros são bens relativamente caros e
seus proprietários não toleram vê-los mergulhar na obsolescência com a mesma velocidade dos
computadores pessoais. Mas há uma aposta do filme a que convém prestar atenção. Em vez dos motores
a combustão, os carros de Spielberg são dotados de células de combustível, conjunto de pilhas que
consome energia renovável, o hidrogênio, e não polui. Uma reação química entre o hidrogênio e o
oxigênio gera eletricidade que aciona o motor e movimenta o automóvel. Em vez de lançar carbono na
atmosfera, ele tem como resíduo o vapor d'água. A indústria automobilística e o governo americano
investem nas células de hidrogênio para substituir o petróleo, quando ele se esgotar. Há um ano,
montadoras e a administração Bush iniciaram um esforço conjunto para desenvolver motores
comercialmente viáveis. Em abril, o governo destinou 1 bilhão de dólares para financiar essa pesquisa.
"As células de combustível são o Santo Graal da indústria", diz Richard Wagoner, executivo-chefe da
General Motors, que, ao lado de montadoras como a Toyota, Honda e DaimlerChrysler, investe
pesadamente na pesquisa das células. Modelos conceituais movidos a células de combustível como o
HydroGen1, da GM, tornaram-se corriqueiros em salões automobilísticos. Mas há obstáculos a superar.
Um estudo do Laboratório de Energia e Meio Ambiente do Massachusetts Institute of Technology
(MIT) sugere que as células de hidrogênio só se tornarão realidade entre as décadas de 2020 e 2030.
Ainda falta desenvolver formas limpas de fabricar o hidrogênio combustível em larga escala. O jeito
mais conhecido de produzi-lo, por meio da queima de álcool ou hidrocarbonetos, gera poluição.

O americano Dennis Tito e o sul-africano Mark Shuttleworth foram os pioneiros. Em aventuras


separadas pelo intervalo de um ano, cada um deles entregou de 20 milhões de dólares da fortuna pessoal
à Agência Espacial Russa. Receberam, em troca, passagem e hospedagem modesta na Estação Espacial
Internacional, aquele laboratório habitado por astronautas, instalado a 400 quilômetros da superfície
terrestre. Shuttleworth é um milionário da internet e o investidor Tito, aos 60 anos, já passara da idade
de se meter em aventuras radicais sem risco para as coronárias. Eram apenas turistas com dinheiro
sobrando e atração por programas exóticos. Numa espécie de Big Brother da gravidade zero, viveram
dias de celebridade em órbita e voltaram felizes. Há quem aposte que a brincadeira excêntrica dos dois
amadores vai se tornar corriqueira e representará fonte de recursos para bancar a exploração espacial.
Foi a companhia americana Space Adventures que intermediou a viagem dos dois milionários. O
acidente com o ônibus espacial Columbia atrapalhou temporariamente até o envio de astronautas à
Estação. Mas a Space Adventures continua a vender passagem para vôos em aviões de treinamento,
aventura em que o cliente, pagando 16 000 reais, experimenta por dez minutos a gravidade zero. Num
horizonte de três décadas, aposta a empresa, haverá vôos comerciais ao espaço e, mais tarde, até mesmo
uma estação orbital para turistas, a Mini Station 1, projeto de 100 milhões de dólares com capacidade
para receber três tripulantes dois turistas e um astronauta-monitor. Protótipos de foguetes como o
Canadian Arrow ou o britânico Ascender estão sendo desenvolvidos por empresas privadas para realizar
passeios em órbita de 30 minutos. Esses e outros 18 projetos disputam os 10 milhões de dólares
prometidos pela Fundação Prêmio X ao primeiro grupo que realizar vôos suborbitais com passageiros e
sem financiamento governamental. O dinheiro do prêmio vem de doadores como o mestre da ficção
científica Arthur Clarke. A experiência com as estações espaciais tripuladas inspira projetos de centros
de lazer e hotéis de luxo no espaço. O Escritório de Projetos Avançados da Nasa foi além e idealizou
um gigantesco elevador espacial, de centenas de quilômetros de extensão, capaz de ligar os terráqueos à
estação orbital turística. O céu é o limite na imaginação dos pesquisadores.

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EXAME Edição(734) 09/02/2002 [imprimr]

arquivo

O futuro mora aqui | 09/02/2002


Cinco das mais modernas fábricas do Brasil compõem um retrato do que será a linha de produção do
amanhã

Por Cláudia Vassallo

A tarde está quente e os raios de sol atravessam as paredes transparentes dos quatro prédios de vidro,
concreto e metal que formam a nova fábrica da Natura, em Cajamar, município da Grande São Paulo.
Centenas de metros de corredores externos envolvem e ligam o conjunto, num modelo de arquitetura
que lembra um museu de arte moderna. No interior dos prédios, cerca de 3 000 pessoas trabalham em
sincronia para colocar diariamente no mercado 800 000 itens de produtos com a marca da empresa.

Máquinas, equipamentos e painéis eletrônicos - descendentes diretos do velho kan-ban japonês - estão
por todos os lados. Mesmo assim, a fábrica da Natura, uma das maiores produtoras de cosméticos do
país, é silenciosa, limpa e arejada. Uma potente rede de cabos de fibra óptica percorre toda a construção.
Por ela, podem correr desde os comandos para a produção até fitas de cinema. O projeto modular faz
com que a capacidade de produção possa ser duplicada em um fim de semana.

Não há muros cercando a nova fábrica. Suas estruturas translúcidas e minimalistas permitem que os
funcionários trabalhem em meio a uma paisagem formada por um pedaço preservado de árvores nativas
da Mata Atlântica, jabuticabeiras e uma ferrovia do início do século passado, desativada em 1983. As
bitolas estão sendo restauradas. A idéia é que, dentro de alguns meses, uma pequena locomotiva passe a
circular e, de tempo em tempo, traga levas de visitantes.

O Novo Espaço Natura, como a fábrica foi batizada, é uma revolução diante do que, em boa parte do
século 20, foi chamado de linha de produção. (Teóricos marxistas chegaram a definir a Ford, em seus
primeiros anos, como um campo de concentração gigantesco, fundado sobre o medo e a exploração
física dos trabalhadores.) As diferenças de aspecto, embora impressionantes, formam o lado menos
importante da mudança de um modelo para outro. A arquitetura é apenas um reflexo de conceitos e de
crenças corporativas que devem marcar o terceiro século da industrialização. "Queremos que este lugar
rompa com a idéia tradicional de fábrica", diz Pedro Luiz Passos, sócio e presidente de operações da
Natura. Enquanto observa um grupo de funcionários que aproveitam a hora do almoço para passear por
uma área que remete aos shopping centers de rua, Passos tenta enxergar o futuro em sua fábrica.

No mundo dos negócios, futuro é um conceito relativo. Ele pode chegar dentro de algumas horas para
certas empresas e levar décadas para atingir outras. O certo é que sua presença é sempre transformadora.
Fábricas continuarão a existir e a dar empregos enquanto o mercado precisar de bens prosaicos como
roupas, carros, CDs de rock, pipoca de microondas, sabonetes e computadores pessoais. Mas elas farão
tudo isso de forma diferente, com pessoas diferentes e, como conseqüência disso, exigirão um novo
modelo de gestão e de liderança.

A fábrica do futuro - seja qual for sua especialidade, tamanho e setor - está alicerçada em bases comuns:
capacidade de combinar tecnologia e talentos, gestão e disseminação do conhecimento, resposta rápida
às demandas de um mercado de gosto cada vez mais individualizado, flexibilidade, velocidade,
desenvolvimento sustentável. Nela, há pouco espaço para a distinção taylorista entre quem faz e quem
decide, quem pensa e quem executa. A ênfase está na qualidade e na busca permanente da integração
com o mundo exterior. Como definiram os americanos Ron Ashkenas, Dave Ulrich, Todd Jick e Steve
Kerr, autores do livro The Boundryless Organization, as organizações bem-sucedidas daqui para a frente
serão aquelas que conseguirem acabar com as fronteiras que separam pessoas, tarefas e lugares.

É difícil apontar - sem correr o risco de ser ingênuo ou simplista - um caso real de produção livre de

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barreiras. Mas já há corporações perseguindo esse novo mundo, e algumas de suas mais ousadas
iniciativas foram tomadas no Brasil pós-estabilização. "Algumas das fábricas instaladas aqui na década
de 90 iniciaram um círculo virtuoso", diz Paulo Apsan, presidente da filial brasileira da consultoria
americana Arthur D. Little. "Elas estabelecem um novo padrão, que vem sendo copiado mundo afora."

Nos últimos três meses, EXAME visitou algumas das mais modernas fábricas instaladas no país. O
ponto de convergência entre elas não é a perfeição nos processos, a redução nos custos, os recordes de
produtividade e a multiplicação da rentabilidade - embora esses sejam objetivos perseguidos (e muitas
vezes atingidos) por todas. O que as une é o fato de estarem, em vários aspectos e cada uma a seu modo,
à frente no tempo. São projetos visionários, com todas as oportunidades e riscos que isso traz. A nova
fábrica da Natura, com seus espaços para desenvolvimento dos funcionários, sua arquitetura projetada
como metáfora da transparência das relações entre a empresa e o mundo que a cerca, é um dos casos
analisados, que complementa e é complementado pelos demais:

Em Gravataí, no Rio Grande do Sul, a General Motors, maior corporação mundial, com vendas de 183,3
bilhões de dólares em 2000, ergueu sua mais moderna e ousada montadora. O complexo Arara Azul,
como foi batizado, foi concebido para ser uma espécie de marco da produção industrial na era da
Internet, um tempo em que o uso da tecnologia serve como a ponte mais rápida entre a produção e o
mercado. A tecnologia passa a ser, também, um instrumento para o foco em algumas das mais
valorizadas competências da indústria: pesquisa, desenvolvimento, serviços.

Em meio a uma plantação de mandioca, em Cosmópolis, a 150 quilômetros de São Paulo, o laboratório
americano Eli Lilly instalou sua mais avançada fábrica de antibióticos injetáveis. Trata-se de um lugar
quase deserto, silencioso, onde engenheiros, executivos e operários vestem-se, igualmente, como
cirurgiões. Na fábrica de Cosmópolis, a contaminação do ambiente é nula e a qualidade dos processos,
altíssima. Seus 300 funcionários são treinados para lidar com detalhes. É isso que a transforma numa
fábrica de classe mundial. Neste ano, o Food and Drug Administration, FDA, órgão americano
responsável pela inspeção de alimentos e medicamentos, deve certificá-la. A partir de então, seus
antibióticos poderão ser vendidos para qualquer lugar do mundo.

Os escritórios e as linhas de montagem se confundem na unidade da Volkswagen/Audi em São José dos


Pinhais, no Paraná. Em seu grande espaço comum - chamado de centro de comunicação - circulam
operadores de máquina de cabelos compridos e brinco na orelha, moças do escritório, pintores,
soldadores e executivos poliglotas vestidos de terno e gravata. Para lá também convergem os três
grandes braços da fábrica - a armação, a montagem e a pintura de automóveis. Carros semi-acabados
passam ao lado do restaurante suspenso e envidraçado. Lá embaixo, num dos aquários do setor
administrativo, fica o diretor da fábrica, um jovem executivo alemão de 37 anos. Thomas Schmall
assumiu o posto logo após a inauguração da fábrica, há dois anos. "O sucesso depende da troca de
informações e do uso que as pessoas farão delas", diz Schmall. "É preciso discutir, argumentar. Pegar o
abacaxi e passá-lo ao colega ao lado é mais fácil, mas não resolve os problemas."

Inaugurada há mais de 30 anos, a unidade gaúcha da Springer Carrier, líder de sistemas de


condicionamento de ar, poderia ser uma espécie de museu da obsolescência. Tudo nela parece levar ao
passado: operários usando macacões azuis, máquinas pesadas, graxa. Nada disso, porém, impede que a
fábrica, instalada em Canoas, na Grande Porto Alegre, seja um modelo de modernidade para a
americana Carrier, uma corporação presente em mais de 100 países, com 40 000 funcionários, e que
faturou 10 bilhões de dólares em 2000. Seus projetos de utilização racional da energia e da água seguem
os preceitos do crescimento sustentável - uma das grandes tendências deste século. Sua estratégia de uso
da Web é um dos orgulhos do americano Jonathan Ayers, presidente mundial da Carrier.

A visão conjunta dessas cinco fábricas e a análise dos sinais que cada uma delas emite compõem um
retrato possível da produção industrial do amanhã. O que está em jogo não é o tipo de tecnologia usada,
o grau de automação ou a ousadia arquitetônica. Tudo isso pode ser comprado, replicado, melhorado.
Por trás dos poucos muros que restam nas fábricas do futuro está o foco na destruição de fronteiras e a
construção de novos modelos de relacionamento. Os esforços de seus líderes giram em torno de cinco
grandes eixos.

Novas pessoas, novos líderes

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Nas décadas de 70 e 80, disseminou-se a crença de que a produção em massa poderia ser concentrada
nas chamadas fábricas escuras. Seriam ambientes povoados por robôs e máquinas e que dispensariam a
presença humana. A produtividade bateria recordes e a qualidade estaria assegurada. Não haveria perigo
de acidentes por desatenção ou cansaço. E, melhor, os gestores não precisariam mais ouvir desculpas
pelos atrasos ou reclamações por melhores condições de trabalho e de salário. Há cerca de 15 anos, a
Volkswagen montou uma dessas fábricas escuras em seu QG mundial, a cidade alemã de Wolfsburg. A
Ala 54, como era chamada, não prosperou como se imaginava. "Descobriu-se o óbvio: robôs não
pensam, não são flexíveis e, portanto, não conseguem evoluir", afirma Schmall, o diretor da Audi, em
São José dos Pinhais. "Numa fábrica, não há nada mais importante que gente."

As pessoas são os motores da produção do passado, do presente e tudo indica que o serão - ainda mais -
do futuro. A diferença entre o operário americano que montava o modelo T na Ford de 1917 e o homem
(ou mulher) que hoje ocupa o chão de fábrica é seu poder de influir, melhorar e inovar. Esse poder
é conseqüência direta do difícil, mas progressivo, desmanche da hierarquia, da democratização da
informação e do conhecimento, da formação de funcionários altamente capacitados e treinados para
realizar múltiplas tarefas, liderar e organizar. "No meu time de trabalho, uns devem ajudar e
complementar os outros", diz Helton Luís de Mello, 25 anos, soldador da linha do modelo A3,
produzido pela Audi em São José dos Pinhais. "Como entendemos o processo, podemos resolver a
maioria dos problemas sozinhos." A qualquer momento, Mello pode ser transferido para a linha de
montagem do Golf, o outro modelo produzido na unidade. Ele não precisa de intermediários para
discutir questões técnicas ou de qualidade com o diretor Schmall. Seu grupo, formado por oito
funcionários, quase todos jovens de visual descolado, tem um líder escolhido internamente. "No Paraná,
temos empresas dentro da empresa", diz o austríaco Herbert Demel, presidente da subsidiária brasileira
da Volks. "A fábrica se autogerencia, se auto-organiza e pode curar suas próprias doenças."

O empreendedorismo na linha de produção surge à medida que o velho gerente controlador perde sua
razão de ser. Incapaz de reter informação e lento em demasia para acompanhar a velocidade do
mercado, ele vem sendo descartado como intermediário. Seu papel, na nova fábrica, é absorvido por
quem está na base do processo. "O relacionamento entre trabalhadores de chão de fábrica será, cada vez
mais, regido por eles próprios", diz o consultor suíço Heinrich Zetlmayer, chefe da área de gestão
operacional global da Arthur D. Little.

Um excepcional exemplo disso é a fábrica de turbinas para aviões da General Electric, em Durham, no
Estado americano da Carolina do Norte. Cerca de 170 pessoas trabalham lá, mas há apenas um chefe: a
diretora da fábrica, Paula Sims, uma executiva baixinha, de rosto miúdo, emoldurado por grandes
óculos e iluminado por um aparelho ortodôntico.

Em Durham, as turbinas - inclusive as que equipam o Air Force One, o avião da Presidência dos
Estados Unidos - são produzidas por nove times. Seus integrantes recebem uma única orientação: fazer
a melhor turbina possível, com a melhor qualidade e os menores custos. O restante das decisões - quem
ficará responsável por essa ou aquela tarefa, férias, treinamentos, como aumentar a eficiência da
manufatura - fica por conta deles. Não há horários fixos. Cada um faz o seu. Cada técnico possui um
endereço eletrônico, acesso à Internet e cartão de visitas. Paula Sims, a chefe, senta-se num cubículo
aberto, no meio da fábrica. Turbinas pesando toneladas passam sobre sua cabeça.

Durham é uma combinação feliz de democracia e controle espontâneo. Na média, um quarto das
turbinas vendidas tem um único defeito, geralmente cosmético, como arranhões na pintura. As demais
são perfeitas. "Cada vez mais, meu trabalho envolve escutar as pessoas, os times, as idéias e tentar achar
soluções comuns", disse Paula em uma recente entrevista à revista americana Fast Company.

Turbinas são mais ou menos como antibióticos, produtos da modernidade que, normalmente, funcionam
tão bem que só são percebidos quando falham. Os funcionários da GE em Durham têm consciência de
que as turbinas produzidas por eles não podem falhar no ar. As cerca de 300 pessoas que trabalham na
fábrica de antibióticos injetáveis da Eli Lilly, em Cosmópolis, sabem que a saúde de muitas pessoas
pode depender da qualidade do produto feito por eles. Todas elas participam da definição de como
executar os processos da fábrica. "A partir de então, estabelecemos um compromisso", diz José Loureiro
Cardoso, diretor industrial da Eli Lilly no Brasil. "O compromisso de que aquelas determinações serão
religiosamente seguidas."

As chaves para que o grupo se mova com independência e autocontrole são informação e treinamento.

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Na fábrica de Cosmópolis, cada funcionário - incluindo os altos executivos - tem, em média, 10 horas
mensais de treinamento básico, com cursos que vão de liderança a gerenciamento do tempo e qualidade.
As informações a respeito são armazenadas nos crachás. São elas que determinarão se o funcionário
pode ou não desempenhar certas tarefas. "Passei uma semana inteira aprendendo como me vestir para
entrar no setor onde trabalho", diz Marcel Dedin, 28 anos, estudante do segundo ano de farmácia. "Foi
importante porque lá dentro tudo tem de ser perfeito e eu sou responsável por isso." Todos os dias, antes
de penetrar no asséptico e solitário mundo da cristalização estéril, um dos processos críticos da
produção de antibióticos injetáveis, Dedin entra na intranet da Eli Lilly. Seu objetivo é acessar as
novidades na área de desenvolvimento de produtos, tecnologia e obter informações sobre o desempenho
financeiro da empresa, sediada em Indianápolis, nos Estados Unidos. Como todos os outros 32 000
funcionários espalhados pelo mundo, ele é sócio da Lilly.

A fábrica do futuro depende de profissionais como Dedin. Eles devem usar menos as mãos e mais a
cabeça. Precisam ser permanentemente desafiados. Para isso, as linhas de produção precisam se
transformar em espaços de desenvolvimento contínuo, onde a gestão do conhecimento seja mais do que
um termo da moda. "Não podemos oferecer um emprego para toda a vida, mas podemos dar condições
para que nossos funcionários se tornem profissionais e pessoas melhores", diz o gaúcho Carlos Alberto
Renck, 40 anos, presidente da Carrier para a América Latina e membro do conselho mundial da
empresa. Há algum tempo a Springer Carrier banca toda a formação educacional dos 1 400 funcionários
da fábrica de Canoas. Hoje, 35% deles estão estudando. Entre os operários, há estudantes de engenharia,
mecânica e filosofia. Quem consegue o diploma recebe um lote de ações da corporação.

O que alguém faz com Platão e Jean-Paul Sartre numa linha de montagem de equipamentos de ar
condicionado? "Possivelmente muita coisa, mas não é essa a questão", diz Renck. "Se essa pessoa
acredita que seu potencial está na filosofia, que vá em frente." Logo na entrada da linha há um espaço
envidraçado - a Sala de Guerra. É nela que operários, gerentes, engenheiros e estagiários discutem,
quase que diariamente, questões ligadas à qualidade e à produtividade. Há também uma espécie de
totem multimídia, por meio do qual qualquer funcionário pode ter acesso a dados sobre o desempenho
da Springer. No ano passado, as equipes da fábrica de Canoas desenvolveram mais de 1 000 projetos de
melhoria da qualidade dos processos, que serão espalhados por toda a organização como exemplo de
melhores práticas. A subsidiária brasileira é responsável por 15% das patentes registradas pelo grupo no
mundo.

A fábrica transformada em comunidade

"As pessoas querem sentir que são parte de algo maior. Elas têm necessidade de compartilhar idéias,
problemas e objetivos", diz Marisa Caldas, 44 anos, gerente do Espaço Natura desde setembro do ano
passado. Marisa é a prefeita da fábrica. Seu dia-a-dia consiste em cuidar para que os funcionários
trabalhem em locais adequados, que as áreas de lazer funcionem e sejam conservadas, que as pessoas se
encontrem e dividam experiências - quaisquer que sejam elas. A existência de uma prefeita na fábrica da
Natura é um sinal da necessidade que as empresas hoje têm de se transformar em comunidades, com
ritos próprios, autenticidade, valores em comum e interseção entre trabalho e vida pessoal. "Paixão.
Criatividade. Compromisso. Essas são as qualidades mais necessárias para as empresas que quiserem
vencer no novo mundo dos negócios", diz o americano Jim Stuart, fundador do The Leadership Circle,
um programa de desenvolvimento para presidentes de empresas. "Essas são também as qualidades que
estão mais em falta na maioria das corporações. As pessoas ainda se sentem parte dos meios de
produção. Por quê? Porque os líderes as tratam dessa forma."

Os funcionários da Natura trabalham hoje numa espécie de minicidade, onde podem deixar a roupa para
lavar e as crianças na creche, ir ao banco, consultar livros numa biblioteca, ir com a família ao clube nos
fins de semana. O espaço está preparado para receber cerca de 10 000 visitantes por ano - um grupo
formado por estudantes, fornecedores e revendedoras da marca. Consumidores serão chamados a testar
novos produtos em ambientes que reproduzem quartos de bebê e clínicas de beleza. "A coisa mais legal
dessa empresa é que todo mundo procura fazer sempre melhor", diz Sandra Lia Dantas Barreto, 29 anos,
uma das operadoras do setor de perfumes da Natura. "As coisas estão sempre mudando, mas isso não
significa pressão ou sacrifício." Enquanto Sandra comanda as máquinas e ajuda a organizar a produção,
seus dois filhos, Caio, de 2 anos, e Lílian, de 7 meses, ficam no berçário da fábrica. Após o nascimento
da filha, Sandra pensou em deixar o emprego, mas desistiu. "A Natura faz parte da minha vida há muito
tempo."

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Para erguer esse espaço, a Natura investiu cerca de 200 milhões de reais. Uma fábrica convencional
certamente custaria bem menos. Pomares, piscinas, auditórios, salas de treinamento e berçários
significam um custo extra. A razão do investimento, segundo Passos, o presidente das operações, foi
criar um ambiente que revelasse - para o público interno e externo - seus valores básicos: qualidade,
transparência, equilíbrio.

O espírito comunitário muitas vezes se manifesta em tarefas rotineiras, em pequenas atitudes. Na


Springer, todos os anos, os funcionários param a produção por um dia para discutir aspectos ligados à
qualidade. "Ninguém é obrigado a vir. Eles poderiam aproveitar o dia para ficar com os filhos ou fazer
compras", diz Paulo Gilberto de Oliveira, um dos gerentes da fábrica gaúcha. "Mas esse se transformou
num dia de festa na empresa, e todo mundo faz questão de estar aqui."

No complexo industrial da GM em Gravataí, funcionários da montadora e de seus fornecedores, sejam


da fábrica ou da administração, usam o mesmo uniforme: calça cáqui, camisa branca, com o símbolo da
Arara Azul estampado na manga. Uma vez por semana - sempre às quintas-feiras, às 5 horas da tarde -
os líderes da montadora e de seus 17 sistemistas se reúnem para planejar o que será produzido nas seis
semanas seguintes. "Somos um só organismo", diz Alexandre Conversani, sócio da Polyprom,
fabricante de estampados metálicos que abastece a linha de produção do Celta, o carro popular da GM
montado em Gravataí.

O elo tecnológico - a fábrica conectada

A grande transformação das fábricas no período pós-industrial só acontece graças ao extraordinário


avanço da tecnologia. É ele que vem servindo como meio para transformar as relações na cadeia
produtiva, o perfil das equipes e de seus líderes, o foco da produção, a conquista do mercado global. A
GM de Gravataí talvez seja a mais ousada manifestação desses novos tempos. "Não encaramos essa
fábrica como um laboratório", diz José Eugênio Pinheiro, diretor executivo de manufatura da GM para a
América Latina. "Ela é uma evolução de tudo o que a corporação fez nas últimas décadas."

O complexo Arara Azul se alimenta de informação. Informação que flui para todos os lados. Do cliente,
em sua casa, para a montadora, da montadora para seus fornecedores, dos fornecedores para outros
fornecedores - numa espécie de sinfonia de dados e logística que, levada ao extremo, significaria o just-
in-time ideal. Seu objetivo maior é subverter o velho sistema inaugurado por Henry Ford, no início do
século 20, e conseguir entregar ao cliente exatamente o carro que ele gostaria de ter. "O mercado de
massa vive um processo de extinção", diz Jayme Bombo, diretor da consultoria A.T. Kearney. "A
tendência é a produção personalizada."

Ainda estamos longe disso. (Não é possível nem economicamente viável encomendar um Celta rosa
com bolinhas brancas.) O projeto Arara Azul é muito novo para que qualquer um aposte em seu sucesso
ou fracasso. Há uma série de ajustes a ser feitos. Mas isso não impede que a fábrica de Gravataí seja
atentamente observada pelo mundo dos negócios como uma pista de testes para a logística e as novas
relações entre as empresas e suas cadeias de suprimentos.

A gaúcha Kátia Rosane Oliveira da Rosa, de 28 anos, é uma das cerca de 100 mulheres que trabalham
na linha de montagem do Celta. Ela é uma peça da última etapa do ciclo logístico montado pela GM em
Gravataí. Sua função é operar a montagem na área de tapeçaria. Todos os dias, Kátia instala 260 peças,
entre baterias, freios e consoles, em automóveis encomendados pelos consumidores por meio da
Internet. Os estoques ficam ao alcance de suas mãos e duram cerca de 1 hora. É o tempo necessário para
que o sistema de informação do Arara Azul dispare pedidos eletrônicos aos sistemistas instalados a
poucos metros e que formam uma espécie de condomínio. Nessa hora, entram em ações as dollies,
carrinhos amarelos que fazem o transporte dos sistemas e percorrem diariamente 500 quilômetros na
fábrica de Gravataí. O resultado obtido era algo inconcebível nos primeiros tempos da indústria
automobilística: carros feitos sob demanda, com a velocidade da produção em massa. A cada 2 minutos,
um Celta sai da linha para o mercado.

Há uma mudança conceitual importante por trás do elo entre a GM e seus fornecedores do Arara Azul.
Algo que fica claro já na escolha do codinome do complexo. A arara-azul é um dos poucos animais que
permanecem fiéis a seus companheiros por toda a vida. Em outras palavras: nunca empresas e
fornecedores foram tão ligados, nem dividiram tanto os riscos e os resultados de um negócio. No

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conceito do passado, de verticalização da produção, a GM precisaria de cerca de 400 fornecedores para


montar um carro como o Celta. Na estrutura modular, na qual uma montadora assume sua essência -
montar - esse número cai para 17. O que empresas como a GM estão tentando fazer é reproduzir um
modelo já consagrado pela Cisco e pela Nike. Esse modelo explica parte da mudança da arquitetura das
fábricas mais modernas - mais compactas e especializadas. A fábrica da Audi, que usa um conceito
aproximado, equivale a um quinto da unidade instalada pela Volkswagen em São Bernardo do Campo,
no ABC paulista. A linha da GM em Gravataí é também uma fração da montadora erguida pela empresa
em São Caetano do Sul. O que elas produzem de verdade? Quase nada. Elas montam e administram
áreas que estão se tornando cada vez mais importantes daqui para a frente: desenho dos produtos,
marketing, distribuição, assistência técnica, gestão de marcas.

O vínculo com o cliente

Essa alteração no foco significa uma proximidade cada vez maior com o cliente e com o consumidor.
Aos poucos, a indústria se molda ao universo dos serviços. "Será preciso haver uma ligação direta entre
o chão de fábrica e o mercado", diz Bombo, da A.T. Kearney. "O homem da produção precisará
entender o comportamento do consumidor." Tome a operação da Siemens Computed Tomography, em
Forchheim, na Alemanha. Sua vocação é produzir sistemas eletrônicos de diagnóstico médico. A
Siemens poderia fazer o convencional - fabricar seu produto e entregá-lo ao mercado -, mas vai muito
além. Ela capta as necessidades do cliente, desenvolve e fabrica as máquinas, prepara o quarto da clínica
ou hospital onde o aparelho será montado, instala, testa e treina as pessoas que irão manipulá-lo. O
toque final é a colocação de câmeras nos locais de uso, que permitem o acompanhamento do
desempenho do produto. "A importância dos serviços na receita das indústrias crescerá", diz o consultor
Zetlmayer, da Arthur D. Little. "Eles serão responsáveis pela maior parcela dos lucros da operação."

Crescimento sustentável

Em novembro do ano passado, William Clay Ford Jr., presidente do conselho de administração da Ford
Motor Company, anunciou o redesenho e a reconstrução da Ford Rouge Center, nas cercanias de
Detroit. Erguida em 1917 por seu bisavô, o legendário Henry Ford, a fábrica viveu décadas de apogeu e
declínio. Atualmente emprega 7 000 funcionários e produz um só modelo, o Mustang.

A Rouge precisaria ser abandonada ou reconstruída. Foi então que Bill Ford enxergou na velha fábrica a
possibilidade de exercer o que ele chama de "manufatura sustentável", um conceito que combina
técnicas de produção que minimizam os prejuízos ambientais, flexibidade, computadores no chão de
fábrica e funcionários superespecializados. Segundo Jacques Nasser, principal executivo da Ford, o
novo projeto, de 2 bilhões de dólares, "será um ícone industrial tão revolucionário para o século 21
quanto o Rouge foi para o século 20".

Na Ford, a nova fábrica não é apenas encarada como uma iniciativa ecologicamente correta, mas como
um passo na perenização do negócio. "As companhias de sucesso no futuro serão aquelas que
conseguirem inovar de forma sustentável", diz o arquiteto americano William McDough, hoje o nome
mais importante do design sustentável no mundo.

Em Rouge, o presente é claustrofóbico, escuro e abafado. O amanhã deve ser iluminado por luz natural.
O teto será coberto por plantas, que ajudarão a reduzir o barulho provocado pela chuva e deixarão a
fábrica fresca no verão e mais quente no inverno. Com isso, haverá a economia de um ativo precioso:
energia. Espécies nativas da região de Michigan estão sendo plantadas ao redor da fábrica a fim de
resgatar o equilíbrio natural da região. A água da chuva será administrada, com o aproveitamento de
fossas naturais.

Na fábrica da Springer Carrier, em Canoas, um conceito semelhante vem sendo implantado. Até um ano
atrás, a linha representava um paradoxo para uma empresa que é líder mundial de equipamentos de ar
condicionado. Os funcionários trabalhavam 8 horas por dia num ambiente escuro, baixo,
insuportavelmente quente no verão e frio no inverno. Hoje, durante o turno do dia, a iluminação da linha
é natural, graças à instalação de um telhado de policarbonato. As luminárias elétricas são inteligentes.
Sempre que há luz natural em quantidade suficiente, a artificial se apaga automaticamente. Um sistema
de drenagem garante o aproveitamento da água da chuva.

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Até o fim de 2001, a refrigeração da fábrica funcionará com energia solar. Em dois anos, toda a
produção será alimentada com o sistema. Cerca de 15 milhões de dólares estão sendo investidos no
projeto - um dinheiro que deve retornar para a empresa em três anos. Apenas com as mudanças na
iluminação, a produtividade dos funcionários aumentou 15% e os custos de energia foram reduzidos em
meio milhão de dólares ao ano. "A fábrica do futuro não precisa ser algo de filme de ficção científica",
diz o gerente Oliveira. "As maiores inovações, muitas vezes, estão em coisas muito simples, que valem
em qualquer lugar do mundo."

Peter Drucker, o maior teórico da administração do século 20, viu as indústrias se transformarem.
Prestes a completar 91 anos, ele é contemporâneo do nascimento do fordismo e da moderna linha de
montagem em série, do aparecimento dos programas de qualidade e produtividade, do avanço das
técnicas japonesas, passando pela digitalização da produção e pelo surgimento da sociedade do
conhecimento. Drucker, do alto de sua experiência, não tem muitas dúvidas: serão poucas as fábricas
que sobreviverão à ruptura do modelo de produção em massa e às transformações que o futuro trará.
É preciso estar preparado desde já. "As mudanças serão profundas e duradouras", diz ele. "E nós
estamos apenas começando a entender o que tudo isso significa."

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INFO EXAME 14/01/2002 [imprimr]

tecnologia

Os games e a agorafobia | 14/01/2002


A alma da indústria de games é o jogo solitário. Você se bate contra a máquina

Por John C. Dvorak

Logo agora, quando parece que a desaceleração na área de computadores chegou ao fim, começa-se a
falar, na área de wafers, que as coisas não mudaram muito. Os fabricantes de wafers são aqueles que
fornecem placas de silício bruto. Se alguém sabe o que está acontecendo, são eles. Quem quiser fabricar
chips tem de comprar deles a matéria-prima. Isso não significa que as coisas estejam paradas. Na
verdade, em alguns segmentos de mercado, há até uma atividade bastante grande. A Microsoft lançou
seu console Xbox e são muito positivas as expectativas em torno do produto. Tudo leva a crer que essa
máquina seja uma vencedora em potencial. No entanto, fico me perguntando como o Xbox vai se
comportar no mercado internacional. Sony, Nintendo e Sega (que, recentemente, desistiu de sua
excelente máquina Dreamcast) brigam entre si, mas poucos notaram que a batalha é entre empresas
japonesas, a despeito do fato de a computação de games ter sido inventada por americanos. Com a saída
da Atari e de outros fabricantes de consoles, os japoneses dominaram o mercado. A Microsoft
representa o ressurgimento das máquinas de games projetadas nos EUA. Será que alguém, além de
mim, pensa que é estranho nenhum outro país ter entrado nesse mercado?

E, na área dos jogos propriamente ditos, onde estão os criadores internacionais?


Os EUA dominam mercados interessantes. É como se o país só pusesse a mão em mercados viçosos e
altamente lucrativos. Embora boa parte do mundo veja os EUA como um trator que passa por cima de
tudo, em todas as áreas, não é bem assim. Mesmo na área de computadores, as empresas americanas
apenas colocam seu nome em produtos comprados principalmente de Taiwan. Mas o processador vem
dos EUA. É a parte mais importante da máquina.

Na verdade, os americanos dominam apenas uns poucos mercados. Mas são grandes mercados. O ramo
aeroespacial é o melhor exemplo. Outro é o de armas. Também vêm à mente os microprocessadores e a
tecnologia de internet. Os japoneses e alemães são melhores em automóveis. Os franceses, em
agricultura e engenharia civil. A lista poderia continuar. Os americanos também são bons em
entretenimento, especialmente em filmes e programas de TV, que são distribuídos para o mundo inteiro.
Mas ainda se arrastam no negócio de games. No passado, as pessoas se divertiam jogando cartas com os
amigos ou se reunindo de várias maneiras. Os americanos começaram a se especializar no
entretenimento solitário, como a televisão, que não exige a presença de mais ninguém por perto. Os
jogos de computador pertencem a esse domínio. A alma dessa indústria é o jogo solitário. Não é
surpresa, portanto, que os jogos de paciência sejam tão populares entre usuários de computador. O
mesmo se dá com o jogo Campo Minado. Em ambos você se bate contra a máquina. O homem, claro, é
um animal social e, em qualquer país de cultura latina, onde a interação social é intensa, os jogos
tendem a ser disputados em equipe. Os jogos online representam uma forte tendência, não há dúvida,
mas os games solitários são mais fortes e estão crescendo. Freqüentemente, me pergunto: qual será o
efeito de longo prazo dessa popularidade dos jogos de computador? Os americanos sempre têm a idéia
de que uma força universal atua para nos manter em casa vendo TV ou então para sair apenas com o
objetivo de fazer compras. Pior ainda: essa força quer que fiquemos em casa assistindo à TV e
comprando coisas por meio de um sistema interativo de TV. Não sei se existem estatísticas
internacionais sobre isso, mas sou capaz de chutar que os americanos têm a maior porcentagem de
pessoas sofrendo de uma doença chamada agorafobia - o medo de lugares públicos e abertos. Volta e
meia, uma pessoa famosa contrai essa estranha enfermidade. A bela atriz Kim Basinger, por exemplo.

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É como se a estrutura da sociedade americana quisesse tornar essa doença um lugar-comum e usasse a
televisão e a tecnologia de computadores para fazer isso. Qualquer que seja o caso, você não pode sair
de casa e tem de garantir um monte de games para jogar. De volta à economia. A maioria dos
especialistas diz que os negócios vão reentrar nos eixos em meados de 2002. Se isso é correto, não sei,
mas com certeza a fotografia digital vai empurrar fortemente nesse rumo. À medida que a contagem de
pixels aumenta, tenho gasto mais e mais tempo fazendo fotos com câmeras digitais. Isso lembra a regra
imaginada por alguns pesquisadores anos atrás: quanto mais rápida sua conexão de internet, mais tempo
você passa online. A lógica desse pensamento leva à conclusão de que, se você tivesse acesso rápido,
entraria e sairia da internet de forma mais veloz. Mas na verdade o que o acesso rápido faz é
proporcionar a você uma experiência melhor e, por causa disso, você permanece mais tempo online.
Suspeito que um mecanismo idêntico esteja em ação.

Você obtém melhor experiência com fotografias digitais de alta resolução, e com isso tira mais e mais
fotografias. A revolução da banda larga ainda está posta no futuro, devido a uma série de fatores. Com a
fotografia digital, a história é diferente. Se minha teoria estiver correta, a próxima geração de câmeras
vai criar um mercado mais robusto e o desejo de tirar mais fotos - e isso terá conseqüências em vários
setores. Entre eles está o mercado de CD-ROM, uma vez que, no final, você vai ter de armazenar as
fotos em disco. Os fabricantes de memória também serão afetados positivamente, assim como a
indústria de discos rígidos. E não se esqueça o fato de que a fotografia tem sido o hobby número 1 no
mundo inteiro.

Bem, se ela não servir para muita coisa, pelo menos você provavelmente precisará sair de casa, deixar
de lado a TV e o computador e tirar fotos! Aí está uma cura para a agorafobia. Mas bom, mesmo, seria
se fosse mais fácil aprender e dominar todos os segredos do Photoshop...

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INFO EXAME 15/01/2002 [imprimr]

tecnologia

Celular movido a metanol | 15/01/2002


Baterias a combustível brotam nos laboratórios high tech de todo o mundo

Por FLÁVIA YURI

Celular na mão, bateria vazia e nenhuma tomada por perto? Esse problema não existiria se fosse
possível alimentar o celular com pequenas ampolas de combustível. Melhor ainda se esse combustível
garantisse até cinco vezes mais tempo de uso do que a recarga convencional, por energia elétrica.
Bingo! Estão aí os motivos que colocam as baterias movidas a combustível entre as inova-ções
tecnológicas mais quentes dos laboratórios high tech de todo o mundo.

Do MIT, nos Estados Unidos, à USP de São Carlos, no Brasil, passando pelos centros de pesquisas de
gigantes como Motorola e Samsung - já está em testes a miniaturização das células de combustível, as
chamadas fuel cell, para a substituição das baterias de lítio tradicionais pelas movidas a metanol. Além
da possibilidade de recarga imediata, a grande vantagem dessas baterias é sua longa duração. "Será
possível aumentar em até cinco vezes o tempo de uso de dispositivos que usem essa tecnologia. Isso é o
que conseguimos estimar com as pesquisas que temos hoje, mas num futuro próximo essa duração pode
ser ampliada", afirma Ernesto Rafael Gonzalez, professor do Instituto de Química da USP de São
Carlos.

Isso significa que, no caso dos celulares, as quatro horas de conversação, em média, que as baterias de
lítio proporcionam hoje podem saltar para 20 horas de uso ininterrupto. Economicamente, essa nova
tecnologia também pode trazer vantagens. "Com produção em escala, o uso de combustíveis como o
metanol sairá mais barato do que o gasto que se tem hoje com energia elétrica para esse tipo de
aplicação", afirma Enio Peres da Silva, secretário executivo do Centro de Referência em Energia do
Hidrogênio da Unicamp.

A ordem é encolher!
Os Ph.Ds. em baterias a combustível fazem coro para enumerar suas vantagens, mas também admitem
que tecnologicamente ainda têm um bom caminho a percorrer. São dois os principais obstáculos
técnicos que as baterias a combustível precisam enfrentar até chegar aos celulares. O primeiro deles é a
miniaturização em si. Entre os protótipos de baterias a combustível em testes hoje, o menor é o de
notebooks. Do computador portátil ao celular, é preciso diminuir o tamanho dos componentes da
solução em dez vezes - o que não é tarefa fácil. Hardware encolhido, é necessário encontrar uma forma
de produzir a combustão do metanol com o oxigênio sem a ajuda de ventoinhas, impraticáveis em
dispositivos tão pequenos. A solução seria adotar materiais que possibilitem à célula de metanol respirar
automaticamente o oxigênio do ar para que a combustão aconteça.

Uma das possibilidades em estudo é produzir baterias com ligas metálicas. Mas a preocupação com o
material que será usado não se restringe à viabilidade técnica. É preciso adotar componentes que
combinem eficiência técnica e comercial. "No universo dos protótipos quase tudo é possível, a questão é
transportar essas soluções para o mundo real", alerta o professor Silva, da Unicamp.

Em quanto tempo isso acontecerá? "Em dois anos, deveremos ter respostas para essas perguntas e
protótipos em funcionamento no Brasil", afirma Gonzales. A expectativa dos laboratórios é que até
2005 o metanol já possa, de fato, garantir longas conversas pelos celulares.

Versões king size

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As baterias movidas a combustível em versão king size já são velhas conhecidas dos laboratórios high
tech. Na década de 60, a Nasa mandou para o espaço a nave Apolo equipada com geradores que
dispensavam a energia elétrica. O hidrogênio, em combustão com o oxigênio, garantia a geração de
energia da nave espacial. Entre os bilionários recursos dessas aplicações aeroespaciais e o dia-a-dia de
meros mortais, a diferença é estratosférica. Por isso, gigantes de vários setores vêm trabalhando há anos
na adaptação dessa tecnologia para as mais diversas aplicações.

Nessa corrida, a pole position está com a indústria automobilística, que vem investindo pesado para usar
as baterias no lugar dos tanques de gasolina convencionais. O meio ambiente é quem, de cara, sai
ganhando. Com o hidrogênio, é possível gerar energia para o automóvel com grau zero de emissão de
poluentes. Esse modelo também possibilita a diminuição do consumo de combustíveis baseados em
petróleo em até três vezes - o que garantiria o prolongamento das reservas existentes hoje no mundo.
Tecnologicamente essa solução está pronta. Fiat, Ford, GM, Honda, Mercedes Benz e Renault são
algumas das montadoras que já exibiram seus automóveis movidos a bateria. O desafio agora é tornar o
sistema financeiramente viável para seu uso em escala. Ao que tudo indica essa solução está próxima. A
EMTU - Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos abriu licitação internacional para a adoção
desse tipo de bateria em seus ônibus. Se tudo correr como o planejado, em cerca de dois anos as baterias
a combustível estarão transportando passageiros em São Paulo.

Combustão em microchips
Veja como funcionam as baterias a combustível

1. As moléculas de metanol e água são quebradas quando entram em contato com a parede de um dos
eletrodos

2. Moléculas de dióxido de carbono são liberadas em forma gasosa

3. Os elétrons gerados movem-se entre os eletrodos através do circuito externo e os prótons movem-se
através da membrana, produzindo a corrente elétrica que alimenta o celular

4. O oxigênio do ambiente reage com prótons e elétrons no outro eletrodo e produz água (que pode sair
da bateria em forma líquida ou gasosa)

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INFO EXAME 31/01/2002 [imprimr]

tecnologia

Os bits quânticos | 31/01/2002


Diga adeus ao digito binário. A computação quântica trará uma nova onda de bits subatômicos que
podem ser, ao mesmo tempo, 1 e 0

Por MARK K. ANDERSON

A lei de Moore tem data marcada para morrer. Em uma ou duas décadas, o chip de silício estará
liquidado. E aí? Será no ano de 2015. Os computadores serão rápidos - realmente rápidos. Mas existe
uma caixa preta supercarregada que vai humilhar a corrida do microchip. Ninguém sabe agora como ela
será chamada, mas uma coisa é certa: a letra "Q" estará bem na frente. "Q" significa quantum e deve
simplesmente substituir o "e" e o "i" como prefixo técnico de escolha. Não conte logo com um qMac,
mas mesmo em seu estado embrionário o computador quântico já agita as pessoas. A tecnologia é
baseada em dois fatos da vida em nível submolecular. Primeiro, partículas quânticas tais como elétrons
podem existir em múltiplos estados ao mesmo tempo. Segundo, as partículas num grupo podem ficar tão
entrelaçadas que a ação de uma afeta todas as outras ao mesmo tempo, permitindo que os engenheiros
construam circuitos a partir de átomos individuais.

O lendário físico Richard Feynman observou no início da década de 80 que, colocados juntos, esses dois
traços abririam a porta para um inconcebível poder computacional. Um QC operacional de apenas
algumas centenas de bits poderia superar a monotonia de Moore, dobrando em quantidades
astronômicas para certos aplicativos. O que não se sabe é o número de concorrentes que estão lutando
para ser os primeiros a produzir uma máquina de hipervelocidade que deixará para trás as patéticas
avaliações de desempenho do silício, clássicas do século 20. Alguns, como Bruce Kane, da
Universidade de Maryland, estão trabalhando para levar a tecnologia de silício à escala microscópica.
Outros, como o veterano da Bell Labs Phil Platzman, querem substituir componentes eletrônicos de
estado sólido por uma nova geração de computadores super-refrigerados com líquido.

Zero e um
Hoje o bit é o rei. Um computador convencional é apenas uma série de centenas de milhões de chaves
cujas posições ligado-desligado representam os valores 1 e 0. Toda operação executada, seja calculando
a gorjeta do garçom, seja simulando a explosão de uma ogiva atômica, é reduzida a ações que alternam
as chaves de 0 para 1 e de volta para o zero. Mas no QC o bit é promovido a bit quântico, o qubit, que
não precisa escolher entre 1 e 0. Ele pode ser os dois ao mesmo tempo. Uma fileira de memória de n
qubits pode representar qualquer número entre 1 e 2n, simultaneamente.

A capacidade de um QC dobra a cada qubit. Pode ser humilhante que o maior QC do mundo tenha
apenas 7 qubits e mal possa processar números de um dígito. Mas um QC de 333 qubits poderia realizar
operações com qualquer número entre 1 e um googol (10100), valor maior que o número de átomos no
universo. Realizar a adição ou multiplicação de qualquer inteiro positivo entre 0 e 10100 levaria
quatrilhões de anos num supercomputador, pois este passa um número de cada vez. Mas o QC realizaria
o cálculo todo de uma só vez.

A tecnologia básica por trás do protótipo atual de 7 qubits do Laboratório Nacional de Los Alamos pode
ser familiar para qualquer pessoa que tenha passado por um exame de ressonância magnética. A RMN
funciona em nível subatômico, onde partículas são pequenas o suficiente para obedecer às leis Fuzzy da
mecânica quântica e os bits se transformam em qubits. O núcleo de um átomo é uma bola giratória
eletricamente carregada, fazendo que se comporte como um magneto de barra. Cada núcleo tem um
pólo norte e um pólo sul magnético que se agitam e giram juntos como uma bóia num mar

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eletromagnético revolto que responde aos choques das ondas contra sua lateral. Atingida a freqüência
ressonante da bóia, você pode girá-la como um caiaque e desvirá-la novamente. Dentro da molécula,
cada núcleo pode ser vinculado a seus núcleos vizinhos através do emaranhamento - um comportamento
quântico um-por-todos-todos-por-um, no qual a ação de um qubit afeta todos os outros que toca. Assim,
uma cadeia de átomos pode ser equipada com a lógica condicional - por exemplo, AND, OR, XOR -
para criar um computador.

Bifurcação
A computação em RMN é feita projetando pulsos de ondas de rádio afinadas com a freqüência
ressonante particular de cada núcleo em moléculas de uma solução líquida, como clorofórmio ou ácido
crotônico, e detectando as freqüências ressonantes emitidas pelo alinhamento nuclear resultante. Cada
freqüência ressonante do núcleo se altera, dependendo se seus vizinhos estão em seus estados 0 ou 1.
Assim, os pulsos de rádio podem ser usados como cães para pastorear os qubits através de um diagrama
de fluxo de algoritmo. Cada ramo de um diagrama de fluxo não representa uma escolha "um ou outro",
mas uma bifurcação: um estado do computador responde "sim" enquanto outro responde
simultaneamente "não", e vice-versa. Para o tipo certo de cálculo, por exemplo, na fatoração de números
grandes, essas bifurcações superimpostas criam uma vantagem de velocidade exponencial sobre a lógica
clássica baseada no bit. (O maior desafio para o programador é escolher qual das muitas respostas
simultâneas deve ser convertida de volta em 1s e 0s para a saída.)

No limite, entretanto, a computação RMN é um beco sem saída. Cada qubit e porta lógica precisa de sua
própria freqüência de assinatura ressonante e existem outros problemas envolvendo a inicialização e
exibição do sistema. "O RMN parará nos próximos anos em termos de número de qubits", diz o
matemático de Los Alamos Emanuel Knill, co-autor da máquina de 7 qubits. "Como no
desenvolvimento de computadores clássicos, em algum ponto tivemos de trocar válvulas de tubo
catódico por outra coisa."

"Meu sonho é combinar silício e RMN", diz Bruce Kane, pesquisador do Laboratório para Ciências
Físicas da Universidade de Maryland. Num artigo de 1998 para a revista Nature, ele propôs usar as
sementes da tecnologia da velha guarda para criar uma nova "raça" de dispositivos movidos a quanta.
Mas, fora o fato de ter a mesma origem mineral, um QC baseado em silício quase não se pareceria com
seu ancestral. A proposta de Kane, diferentemente do RMN, não tem limites previsíveis de tamanho. Ele
assume onde o RMN abandona, usando spins nucleares como qubits - num ambiente onde cada spin
individual de átomo pode ser isolado e endereçado. Diferentemente do RMN, que lida com sinais de
muitos trilhões de moléculas idênticas executadas no mesmo cálculo, o computador quântico de Kane
envolveria uma única treliça de átomos cuja dança computacional tenha sido coreografada até o último
núcleo e elétron.

Kane preconiza a dopagem de um cristal de silício com átomos de fósforo, de maneira muito parecida
como a feita hoje para microchips convencionais. Mas, devido à natureza extremamente delicada das
computações quânticas, o fósforo precisaria ser perfeitamente depositado na grade de silício, enquanto o
próprio silício precisaria ser 100%. Isso exigiria uma tecnologia de nanofabricação que ainda não existe.
O interior de um QC Kane se pareceria com o de computador convencional -exceto que, para cortar
qualquer ruído estranho de vibrações de moléculas, ele seria refrigerado até uma fração de grau acima
do zero absoluto, adicionando algumas centenas de milhares de dólares em equipamento de refrigeração
à lista de peças. Se essa arquitetura de grade pudesse ser dominada para construir uma máquina de 20 ou
100 qubits, as mesmas técnicas poderiam ser aplicadas para montar os QCs de megaqubits que todos
sonham.

"A propriedade ideal de um bit quântico é você ser capaz de configurá-lo para um determinado estado",
afirma Kane. "Ele sobreviveria por um longo período de tempo, de modo que você poderia efetivamente
realizar operações lógicas com ele. Um problema fundamental com o qual estamos lidando é a
incoerência quântica. Isso significa que informações quânticas não têm a característica permanente que
gostaríamos. Elas tendem a se deteriorar muito rapidamente. Seria preciso encontrar estados quânticos
na natureza com propriedades que poderiam durar um longo período."

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Jonathan Jones, pesquisador de RMN do Centro de Computação Quântica de Oxford, é otimista. "O
mais interessante da proposta de Kane é que ele não rompe qualquer lei da física. O problema é que
ainda não podemos realizar experimentos para testar se isso funcionaria", diz. Kane acredita que ele
saberá dentro de uma década. "Neste período de dez anos estaremos desenvolvendo as ferramentas.
Após isso, alguma coisa deve acontecer rapidamente."

No ano passado, um grupo de pesquisadores, incluindo Kane, publicou um trabalho anunciando uma
descoberta em nanofabricação - o posicionamento de átomos isolados de fósforo numa superfície de
silício - o que poderia aumentar as chances de que o QC proposto se torne operacional até 2015. O
aspecto mais complicado da construção de um QC de silício é o nível de nanomanipulação que precisa
ser dominado para tratar e refinar centenas de estados quânticos individuais ao mesmo tempo. É um
projeto de engenharia que poderia demandar pesquisa de nanotecnologia por anos e, mesmo assim,
falhar. Mas pode não ser necessário. Phil Platzman, do Bell Labs, que aceitou recentemente um cargo de
físico na Universidade da Califórnia de San Diego, tem estudado uma abordagem que supera
completamente o hardware atual. "Já existe um bom candidato a computador quântico que tem um
conjunto facilmente manipulável de qubits com tempos de coerência extremamente longos." Ele
escreveu há dois anos num trabalho em co-autoria com Mark Dykman da Michigan State University: "É
um sistema de elétrons flutuando na superfície de hélio superfluido a temperaturas muito baixas", tão
baixas que a fricção entre os átomos de hélio líquido desaparece.

Elétrons-sobre-hélio, dito de maneira mais curta, têm algumas das propriedades mais favoráveis que a
natureza pode oferecer. "É o sistema mais limpo, mais bem definido conhecido de qualquer pessoa", diz
Platzman. Os qubits aqui são os elétrons, pois eles flutuam no vácuo, suspensos por uma atração do tipo
mola que desenvolvem com a superfície do hélio líquido. O elétron em seu estado de energia mais baixa
representa 0, enquanto o primeiro estado excitado da partícula atômica é 1. As impurezas não existem: o
sistema inteiro é resfriado até 0,01 Kelvin, onde o hélio é a única substância que permanece líquida.
Qualquer impureza solta condensa em forma sólida e se deposita no fundo do tanque - apenas sedimento
- enquanto a ação de computação ocorre na superfície do hélio líquido.

"É um sistema estranho", diz Platzman. "Os elétrons estão realmente num vácuo - melhor que qualquer
outro que você possa conceber." Assim, a pureza e a manipulação de cada qubit são tão próximas do
ideal quanto se poderia esperar. E, porque os elétrons são tão móveis, podem ser separados por
distâncias relativamente grandes - os circuitos poderiam ser montados com as técnicas atuais de
microfabricação.

Manipulações quânticas
John Goodkind, da Universidade da Califórnia de San Diego, vem implementando as idéias de Platzman
e Dykman em laboratório. Ele diz que o método atual que está usando pode produzir fileiras tão grandes
quanto nossa hipotética fila de 333 qubits. Entretanto, acrescenta: "Ainda não temos a compreensão
teórica suficiente das interações entre tantos qubits para prever sua influência sobre os estados dos bits
individuais".

O melhor de tudo: Platzman não acha que levará uma década para conseguir que seu QC de hélio
comece a operar na realidade. "Dentro de dois anos, penso que poderemos colocar juntos esses bits e
peças. Seremos capazes de realizar números significativos de manipulações quânticas", diz. E não
exigirá enormes saltos em nanotecnologia. "Silício é muito, muito bom nos tamanhos atuais de chip.
Mas, na escala sobre a qual falamos, precisaríamos saber onde está cada átomo. Bruce Kane está
propondo levar o silício a muitas ordens de magnitude além de onde se encontra. Com os elétrons-
sobre-hélio, tudo o que sabemos sobre isso agora mesmo deve nos permitir montar um computador
funcional."

Se Platzman receia alguma coisa é que seu QC de elétrons-sobre-hélio seja visto como exótico demais.
"Muito dos sistemas escalonáveis têm alguma relação com o negócio dos semicondutores - arseneto de
gálio ou silício ou germânio", diz ele. "As pessoas querem usar silício, silício, silício - mesmo que
alguma outra coisa seja um pouco melhor. Uma imensa quantidade de dinheiro está indo para projetos
relacionados com semicondutores", diz ele. E por um bom motivo: a redução no tamanho de

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componentes de microchip está se aproximando rapidamente do ponto onde as forças quânticas os


afetarão. Por que não fazer disso uma virtude? O fim da lei de Moore é o início da era quântica.

A era do QCAD
A computação quântica tem um potencial monstruoso para processamento de alta velocidade, desde a
fatoração de números grandes - pense em criptografia - até a classificação e busca em grandes conjuntos
de dados ao mesmo tempo. Mas os qubits poderão ser excelentes simuladores, assim como calculadores.
Em suas famosas conferências no início da década de 80, na Caltech, Richard Feynman propôs usar
computadores quânticos para modelar a física subatômica, uma vez que seus portões lógicos seguiriam
as mesmas regras que regem o comportamento no mundo real. Mas os QCs também poderiam chegar na
hora certa para salvar o campo de batalha do design molecular, onde ambições próprias de deuses estão
limitadas pela potência dos computadores. Embora os químicos de hoje movimentem moléculas no
espaço virtual, o hardware clássico tem fortes restrições. Devido à natureza exponencialmente crescente
dos relacionamentos entre os átomos numa molécula, os melhores supercomputadores disponíveis
podem simular moléculas compostas de, no máximo, 100 átomos. Ainda assim, um polímero típico
pode conter milhares delas e uma molécula orgânica de corrente e vínculo, milhões. Imagine um mundo
onde arquitetos pudessem desenhar somente aquelas coisas menores que uma caixa de pão. Um
computador construído ao redor de qubits aumenta muito seu poder, à medida que os problemas de
design molecular crescem em dificuldade, tornando um sistema QC a ferramenta ideal para arquitetos
moleculares do futuro. Chamemos isso de QCAD. Poderia ser um dispositivo libertador que permite o
pensamento em escala Frank Lloyd Wright em tamanhos moleculares. A abordagem quântica
favorecida por Phil Platzman - elétrons flutuando sobre hélio superfluido - poderia ser perfeita para a
tarefa. A sugestão de Platzman: usar os qubits não como componentes intercambiáveis de uma máquina
abstrata, mas como um conjunto infinitamente manipulável de Lego. Devido ao qubit ser um único
elétron seguro - posicionado num vácuo sobre uma superfície líquida uniforme à qual tem uma ligeira
atração elétrica que o ancora em seu lugar - ele se transforma num marcador de lugar para um átomo
numa molécula, ou, talvez, um ou mais elétrons dentro de um átomo. Alguns qubits podem ser
espremidos para mais próximo de bits adjacentes para simular um agrupamento apertado. Outros podem
ser suspensos num estado de energia mais alto, ou agitados por uma fonte de energia externa. Usando
pulsos de microondas e uma grade de eletrodos acima e abaixo dos qubits, você poderia mover pseudo-
átomos como peças de jogo de damas num vasto tabuleiro, para ver como uma molécula se comportaria.
Primeiro organize os elétrons e ajuste suas energias em níveis calculados num computador
convencional. Em seguida, deixe rolar. A natureza se encarregará do trabalho pesado. "Se ativamos as
interações e deixamos a coisa esfriar, então pode parecer um pouco como a configuração da molécula
em repouso", explica Platzman. "Se você deseja calcular se a molécula absorve luz ou faz qualquer
coisa que deva fazer, pode ter que chutá-la uma ou duas vezes. Você pode ver por quanto tempo ela
permanece no alto e quanto tempo leva para voltar. É um sistema analógico real". É provável que
somente certos tipos de molécula possam ser projetadas com esse equipamento rudimentar - aquelas
com estruturas tridimensionais podem ser mapeadas até a camada bidimensional de elétrons. Mas não
há motivo para que a abordagem seja limitada a design molecular. Outros problemas de otimização
exponencialmente difíceis - desde a montagem de circuitos até telecomunicações e previsão do tempo -
também poderiam ser resolvidos mapeando seus parâmetros até o simulador quântico. A idéia parece
rudimentar se comparada aos portões lógicos universais e algoritmos discretos meticulosamente
desenvolvidos para computadores quânticos nas duas últimas décadas. Mas a melhor das primeiras
aplicações pode situar-se em algum ponto entre o ideal "qubitizado" e a abordagem analógica de
elástico.

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INFO EXAME 08/02/2002 [imprimr]

tecnologia

Uma casa conectada já? | 08/02/2002


Um lar cheio de trecos interligados sempre foi um sonho maluco. Mas a idéia começa a amadurecer

Por Marcelo Bauer

A Consumer Electronic Show, feira dedicada a equipamentos eletrônicos de Las Vegas, está se tornando
uma forte concorrente dos eventos de informática tradicionais. Em sua edição 2002, isso ficou bem
claro. Numa série de lançamentos de diferentes fabricantes, a CES deixou a impressão de que uma
antiga promessa da indústria - a da "casa conectada" - está menos distante de se tornar realidade do que
se pensava.

Casas "do futuro" sempre estiveram na imaginação de todos. O seriado Os Jetsons, dos anos 60, ou a
mansão de Bill Gates, construída ao longo da década passada, são dois bons exemplos. Mas agora os
sonhos parecem mais factíveis por um simples motivo: já estamos muito perto de uma verdadeira vida
doméstica digital. O que falta é simplesmente juntar todas as peças desse quebra-cabeça.

Explico. Até alguns anos, as idéias de criar maravilhas de entretenimento doméstico eram simplesmente
idéias - ou ideais. Não havia quase nenhum equipamento realmente digital. Agora a situação é diferente.
O avanço dos PCs, a banda larga, os videogames cada vez melhores, o crescimento das câmeras digitais,
o fenômeno do MP3, a TV via satélite e a TV digital, a produção de telas de alta resolução e o avanço
do hardware de armazenamento são os pilares da futura casa conectada. Mas, até agora, essas iniciativas
caminhavam de forma quase independente. O grande mérito da CES deste ano foi o de exibir produtos
pensados para garantir a convergência. O principal deles é o Moxi Media Center (MC). Produzido por
uma startup criada por um dos inventores da WebTV, O MC é uma espécie de setup box que permitirá
ver e gravar vídeos, tocar CD e DVD, brincar com jogos, mandar e-mail e realizar outras tarefas
semelhantes. Com um adaptador, as funções do MC poderão ser acessadas de outras tevês, ou de um
PC.

A Microsoft também percebeu a tendência. A diferença é que a empresa continua a apostar no PC como
centro do universo doméstico. Sua novidade na CES foi o Mira, uma tela de cristal líquido portátil que
se comunica com o PC. Ela possibilita acesso à web e pode controlar outros itens de entretenimento.
Com uma proposta menos mirabolante, a TiVo, um dos principais serviços de TV (quase) interativa dos
Estados Unidos, anunciou sua segunda geração de setup boxes com uma série de melhorias. Com um
HD de 60 GB, a caixinha da TiVo poderá gravar até 60 horas de programação em vídeo, além de se
conectar por porta USB a câmeras digitais ou equipamentos de MP3. Com isso, todos os arquivos
multimídia da família podem ficar reunidos num único ambiente.

Tudo bem... Há muitas razões para ser céptico. Basta ver exemplos de fracassos retumbantes, como o
Audrey, da Palm, ou de "revoluções" que não vieram, como a WebTV. Mas com a crescente
digitalização da diversão doméstica - caso da música e da fotografia - e com a experiência adquirida
pela indústria nos erros anteriores, pode ser que desta vez as coisas realmente comecem a fazer sentido
para o consumidor.

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INFO EXAME 21/03/2002 [imprimr]

tecnologia

Criptografando a voz | 21/03/2002


O criador do PGP avisa - sem criptografia, a internet pelo celular vai se dar mal

Por EDUARDO VIEIRA

Podemos chamar o cientista americano Phil Zimmermann, criador do famoso PGP (Pretty Good
Privacy, programa que se tornou padrão mundial de criptografia para troca de mensagens por e-mail), de
um cara polêmico. Em nome do direito de exportar seu software para fora dos Estados Unidos, ele já
brigou com o FBI, com a Casa Branca e com diversas empresas de segurança. Agora, como consultor,
Zimmermann arrumou encrenca com as empresas de telecom, cobrando esforços para tornar os
dispositivos wireless mais seguros. Em entrevista a INFO, ele fala sobre privacidade e o futuro das
tecnologias de segurança.

INFO: Dá para confiar nas ferramentas de segurança disponíveis hoje em dia?


Zimmermann: Sim, mas só se você souber exatamente como usá-las. Para ficar realmente protegido não
há como abrir mão de antivírus, firewall, software de detecção de invasões e criptografia de e-mail. Mas
não adianta ter tudo isso e não saber usar. A criptografia, por exemplo, não protege você dos hackers.
Reconheço que a interface desses dispositivos às vezes não é amigável, mas é preciso aprender a usá-
los.

INFO: Desde 1991, quando você criou o PGP, houve algum avanço significativo na política de
privacidade na internet?
Zimmermann: Infelizmente, não. Hoje, por exemplo, as empresas estão monitorando o comportamento
dos internautas para veicular ofertas de publicidade mais eficientes. Isso é ultrajante. É invasão de
privacidade.

INFO: O que podemos esperar das tecnologias de segurança nos próximos cinco anos?
Zimmermann: Os telefones celulares precisam de criptografia, tanto para dados como para comandos de
voz. Basta enviar uma mensagem pelo celular para esse sinal ser captado por qualquer pessoa mal-
intencionada que possua um receptor de rádio. Temos de desenvolver novos sistemas, para resolver o
problema, senão o futuro da internet móvel estará comprometido.

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INFO EXAME 26/03/2002 [imprimr]

tecnologia

Empresa quer colocar chip em seqüestráveis | 26/03/2002

Por Renata Mesquita, do Plantão INFO

SÃO PAULO - A americana Applied Digital Solutions pensou numa nova forma de combate aos
seqüestros: implantar chips nas vítimas, que poderão ser rastreadas via satélite.

De acordo com a BBC News, a empresa afirmou que seu principal público para o novo produto -
adivinhem - seriam os potencialmente seqüestráveis da América Latina. Alguma coisa a ver com o
Brasil?

A Applied é aquela empresa que está criando os chips implantáveis que conterão informações médicas
das pessoas. Mas, enquanto não for liberado pelo governo americano, o VeriChip não pode ser lançado
no mercado.

A BBC acha discutível o uso da tecnologia nesse nível, o que está sendo visto como "perigoso".
Especialistas - como Ian Pearson, da Britsh Telecom - acreditam que aceitar este envolvimento agora
significa que será praticamente impossível impedir que a mesma tecnologia seja utilizada, em um futuro
próximo, para vigiar e controlar pessoas. Na última edição de INFO, o colunista John Dvorak, que
revelou em primeiro lugar o teste do chip em brasileiros, afirma, como sempre polêmico, que esse tipo
de iniciativa pode levar ao fascismo.

Do outro lado da discussão estão os governos e seus cidadãos que andam, senão paranóicos, bastante
preocupados com as questões de segurança.

Chips que rastreiam pessoas não seriam exatamente uma novidade, diz a BBC - a mesma tecnologia já
vem sendo aplicada, em alguns lugares, para a localização geográfica de animais de estimação. A
matéria diz que, agora, vêm por aí sensores capazes de monitorar o sangue e o sistema nervoso (para
permitir o movimento em membros do corpo danificados) e chips capazes de interpretar sensações.

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INFO EXAME 17/04/2002 [imprimr]

tecnologia

Internet será essencial aos negócios, diz estudo | 17/04/2002

Por Renata Mesquita, do Plantão INFO

SÃO PAULO - O último estudo sobre internet da consultoria PricewaterhouseCoopers mostra que o uso
da internet nos negócios está cada vez mais sério. A aposta é que nos próximos dois anos as empresas
começarão a reavaliar os softwares por ela utilizados, colocando a web como o coração de seus
negócios.

O estudo, publicado pela BBC News, diz que a tendência é que empresas e fabricantes de software
definam, juntos, os padrões para que os programas troquem informações pela rede mundial de
computadores. Mas também, que, antes, há muito o que se fazer em termos de segurança, privacidade e
confiança na internet.

O relatório da PricewaterhouseCoopers tenta mostrar mais o que será popular nas empresas em 2004 -
os serviços web, de preferência como instrumento para a coordenação e gerenciamento do trabalho nas
companhias, dos grupos de negócios e mesmo de setores inteiros da indústria. E, é claro, para a troca de
dados.

Segundo a Price, nos próximos dois anos as empresas vão dedicar-se ao desenvolvimento de serviços
básicos de internet - enquanto a segurança dos protocolos de rede luta para se tornar mais resistente a
ataques, vírus e outros problemas.

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INFO EXAME 07/05/2002 [imprimr]

tecnologia

As áreas mais quentes | 07/05/2002


Veja onde centrar o foco para aumentar as chances de um bom emprego

Cobol, C++, Delphi, ERP, internet... Cada onda da tecnologia forma um exército de técnicos
muito bem qualificados. Quem é fera em alguma especialização de TI já está de saída mais
bem aparelhado para disputar a nata dos melhores empregos. "Há sempre espaço para os
especialistas, que são mais ou menos valorizados de acordo com o momento do mercado",
diz Rafael Galiano, presidente da J.D. Edwards. Veja a seguir quais os profissionais mais
procurados do momento na visão de quem mais entende do assunto: diretores de recursos
humanos de várias das empresas que mais contratam profissionais de tecnologia do país.

Arquiteto de soluções para 2,5G


Levar a banda larga para os telefones celulares - essa é a maior promessa da geração 2,5G
da telefonia móvel, que desembarcou no território brasileiro no fim do ano passado. A
chegada do 2,5G já começou a desencadear uma disparada na procura por profissionais
especializados em tecnologias móveis. "Essa área é uma das mais promissoras do momento
e deve ficar bastante aquecida este ano, com muitas contratações nos próximos meses e
uma explosão a partir de outubro", afirma Eduardo Pellegrina, diretor de recursos humanos da
Motorola. Juntamente com Telesp Celular, Ericsson, Oi e Siemens, a Motorola deve liderar as
contratações de arquitetos de soluções móveis para 2,5G. Somadas, essas empresas têm a
expectativa de abrir mais de mil vagas somente neste ano em diversas regiões do país.

O mercado procura profissionais com algum tipo de experiência em telefonia móvel, mas,
sobretudo, valoriza aqueles com conhecimentos das tecnologias GSM (Global System Mobile)
e GPRS (General Packet Radio Service), que serão a base da nova geração. Outros pré-
requisitos importantes são saber montar e administrar redes sem fio de voz e dados,
desenvolver aplicações em WML (Wireless Markup Language), conhecer Java e C++ e ter
familiaridade com tecnologias para handhelds, aparelhos cuja tendência é de integração total
com os telefones celulares. "Certamente haverá uma carência inicial de profissionais que
conheçam algumas dessas plataformas, especialmente GSM. Quem tiver alguma experiência
internacional e entender as particularidades do mercado brasileiro, então, deve levar
vantagem", comenta Dário Dal Piaz, diretor-geral da consultoria Yankee Group.
SALARIO: DE R$ 4 000 A R$ 9 000

Desenvolvedorde Java e .Net


A área de desenvolvimento de aplicações tradicionalmente oferece boas oportunidades no
mundo da tecnologia. No momento, se destacam as plataformas Java, da Sun, e .Net, da
Microsoft. "São as mais promissoras do momento", afirma o professor Paulino Michelazzo,
coordenador dos cursos de internet da Faculdade de Informática e Administração Paulista
(FIAP). "Dentro destas plataformas, há boas oportunidades principalmente para o
desenvolvimento de aplicações voltadas a dispositivos móveis", diz ele.

Os especialistas em Java chegam a ser tão disputados que a maioria deles parte para
trabalhar como consultor independente. De acordo com a Sociedade de Usuários Java
(SouJava), a carência é maior por profissionais que conheçem as linguagens J2ME (Java 2
Micro Edition, para dispositivos móveis) ou J2EE (Java 2 Enterprise Edition, para servidores).
"Esse tipo de consultor chega a cobrar 120 reais por hora de trabalho", afirma Monete

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Vallenari, diretora da Sun. "A tecnologia Java é aberta e permite a reutilização de códigos,
características que atraem cada vez mais gente", diz ela. Segundo dados da Sun, a procura
por cursos de Java aumentou 674% desde o ano 2000.

O mercado também promete ficar aquecido para os desenvolvedores com conhecimentos da


recém-chegada plataforma .Net. Segundo a Microsoft Brasil, os profissionais mais procurados
serão os especialistas nas três linguagens que compõem a ferramenta de desenvolvimento
Visual Studio.Net- o Visual Basic.Net, o Visual C++.Net e o Visual C#.Net.

O grande atrativo da nova tecnologia da Microsoft é a possibilidade de os desenvolvedores de


aplicativos para web criarem soluções para diversas plataformas. "Os recursos para
manipulação de documentos em XML tornam fácil a implementação de serviços e a
interoperabilidade com outros sistemas. Definitivamente essa linguagem é uma aposta para o
futuro", afirma Marcello Drewanz, CTO (Chief Technology Officer) do banco CSFB Garantia,
uma das empresas que já começa a utilizar a nova tecnologia no Brasil, juntamente com a
Alcoa e a Autodesk.
SALARIO: DE R$ 4 000 A R$ 12 000

Recuperadorde desastres
O mercado de storage sofreu uma grande reviravolta depois dos atentados terroristas de 11
de setembro, nos Estados Unidos. Ganhou força um profissional que figurava como um artigo
de luxo nas empresas: o recuperador de desastres. De modo geral, a missão do especialista
em disaster recovery é evitar que os negócios de uma empresa sejam suspensos em caso de
desastres, como incêndios, terremotos, enchentes, desabamentos, cortes prolongados de
energia ou ataques pesados de hackers.

Esse tipo de profissional atua em duas frentes: sua primeira missão é montar um projeto
completo de infra-estrutura de hardware e software para que nenhuma operação importante
da empresa seja interrompida devido a catástrofes. Já sua segunda missão é liderar a
implementação desse projeto, que deve ser à prova de falhas. De acordo com Armando
Andrade, presidente da EMC, a vivência em storage e o conhecimento de software são
importantíssimos na profissão. Outro requisito é conhecer técnicas de replicação de dados,
clustering, alta disponibilidade e ter noções de redes, para interligar servidores. "São
profissionais completos", diz Andrade.
SALARIO: DE R$ 10 000 A R$ 15 000

Analistade segurança
O perfil do especialista em segurança de sistemas sofreu algumas modificações importantes
nos últimos tempos. Se antes as empresas valorizavam mais os generalistas, que entendiam
um pouco de firewall, criptografia ou afins, hoje o mercado aposta em profissionais cada vez
mais especializados, cujo requisito principal é dominar uma ferramenta por completo.
"Queremos feras em criptografia, ou em firewall, ou em detecção de invasões. É
indispensável que o profissional conheça uma determinada tecnologia a fundo", diz Renata
Dourado, gerente de recursos humanos da Módulo.

Os "novos" analistas de segurança devem também se manter antenados sobre as ameaças


de vírus e sobre vulnerabilidades que vão sendo descobertas. Além disso, precisam conhecer
infra-estrutura, principalmente no que diz respeito a sistemas operacionais e redes
corporativas. Trocando em miúdos, isso significa que manjar de diversas plataformas
(principalmente Unix, Windows 2000 e Linux), VPNs e TCP/IP faz muita diferença para se
destacar no processo de seleção.

Outro fator importantíssimo é batalhar para tirar uma certificação, especialmente com as
grifes da Módulo, Checkpoint ou ISS. "É algo imprescindível, uma espécie de atestado de que
o profissional conhece realmente alguma ferramenta e não somente a viu de longe. A

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certificação não deve ser encarada como um objetivo final de carreira, mas como um meio de
subir na profissão", aconselha Renata. "Os profissionais de segurança com essas
características são muito procurados no mercado, principalmente na área financeira",
acrescenta Souvenir Zalla, consultor do Edge Group.
SALARIO: DE R$ 3 000 A R$ 8 000

Engenheiro deinfra-estrutura de telecom


As empresas de telecomunicações e os grandes fabricantes dessa área estão demitindo
gente à beça, mas os cortes não são lineares. O engenheiro de infra-estrutura de telecom não
só tem sido poupado como tem sido bastante disputado nesse mercado. O motivo é um só:
as redes corporativas estão cada dia mais complexas, mas o Brasil ainda não é capaz de
formar um número suficiente de profissionais que possam entender os meandros técnicos do
tráfego de voz e dados.

Deficiências de formação de mão-de-obra à parte, estruturar um projeto de voz sobre IP,


gerenciar backbones e configurar roteadores são habilidades que um bom engenheiro de
redes deve ter no currículo, tanto na teoria quanto na prática. "É importante que o profissional
tenha a capacidade de diagnosticar e solucionar problemas que acontecem ou poderiam
acontecer na infra-estrutura das empresas", explica Fernando Moura, diretor da Cisco.
Segundo ele, a procura é maior por profissionais com algum tipo de certificação,
especialmente a Cisco Certified Network Associate (CCNA) ou a Cisco Certified Internetwork
Expert (CCIE).
SALARIO: DE R$ 8 000 A R$ 12 000

Especialista emadministração de dados


Se você pensou no bom e velho DBA... está quase certo. Quase. As características dos
administradores de dados mudaram muito nos últimos tempos. "Agora não basta entender da
ferramenta em si, mas também de datawarehouse, integração de sistemas, hardware e novos
aplicativos", explica André Rapoport, diretor de recursos humanos da Oracle. Outro requisito
é que o profissional entenda de internet, pois, além de guardar e gerenciar um volume imenso
de palavras, gráficos e imagens, as novas ferramentas de banco de dados permitem que as
informações sejam acessadas a partir de um browser.

Achou pouco? Então inclua também uma certificação de primeira linha, conhecimentos de
storage, business intelligence e, de preferência, experiência em algum tipo de software de
gestão. "Além disso o profissional deve ter uma boa visão dos processos de tecnologia", diz
Eliane Leite, diretora de recursos humanos da Xerox. Os administradores de dados com esse
perfil são geralmente recrutados pelos IDCs (internet data centers), por empresas de sistemas
e grandes usuárias de tecnologia.
SALARIO: DE R$ 5 000 A R$ 10 000

Gerente de projetosde internet


É vantagem para a empresa trocar o banco de dados SQL Server pelo Oracle9i? Os
servidores estão dando conta do tráfego dos usuários- e possuem escalabilidade para
agüentar o tranco caso o volume de acessos dispare de uma hora para outra? O design da
página está leve e claro o suficiente para não embaralhar a cabeça do internauta? E a equipe
de desenvolvimento e webdesign está mesmo enxuta?

Se você pretende se tornar um gerente de projetos de internet, é bom estar preparado para
responder a perguntas como essas- e, de preferência, ter mais de uma resposta para cada
uma delas. O chamado e-project manager é o profissional que pensa no banco de dados, no
CRM (Costumer Relationship Management), na logística, na integração de sistemas e nas
ferramentas de personalização. Em suma, é o sujeito que assina como responsável de um
projeto para a web.

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Para a diretora de recursos humanos da IBM, Carmem Peres, o gerente de projetos deve ser,
antes de tudo, um especialista em software. "Esse profissional precisa decidir qual ferramenta
é mais adequada a um ou outro site", afirma. Habilidade para coordenar equipes
multifuncionais, conhecimentos profundos de tecnologias para a web, visão estratégica e tino
comercial também são requisitos indispensáveis no currículo de quem quer se habilitar a esse
cargo.
SALARIO: DE R$ 7 000 A R$ 12 000

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INFO EXAME 01/03/2002 [imprimr]

tecnologia

A era do chip implantável | 01/03/2002


Brasileiros se ofereceram para testar os chips de identificação pessoal. Objetivo: mais segurança

Por John C. Dvorak é um jornalista americano

Uma das mais novas tendências em curso nos Estados Unidos envolve tecnologias de segurança, com
novas empresas sendo criadas e empresas estabelecidas ganhando notoriedade. As razões para esse
súbito interesse em segurança são óbvias e uma nova palavra parece ganhar um lugar permanente nos
dicionários. Trata-se de "nine-one-one", em geral escrita como 9-11 ou 911, e se refere aos nefastos
eventos de 11 de setembro do ano passado.

Quando se dá ênfase a tecnologias especializadas como segurança, acaba-se gerando o aparecimento de


produtos desenvolvidos por causa da tendência. Muitos desses produtos são criados pelos militares ou
outros setores do governo e, em geral, não são comercializados imediatamente. Só quando os
empreendedores conseguem pôr a mão nessas invenções é que elas se tornam produtos utilizáveis pelo
consumidor comum. A demonstração mais clara disso foi dada pelo programa espacial da Nasa e do
governo americano. Dele resultaram muitas tecnologias de chips hoje usadas por todo mundo.

Por volta de 11 de setembro, anunciou-se a criação de chips implantáveis sob a pele que, no futuro,
facilitariam a identificação de qualquer pessoa, além de permitir sua localização. Antes daquela data,
todo mundo pensou que um tal chip seria uma intolerável invasão de privacidade.

Logo se imaginou que certas classes sociais ou raças poderiam ser discriminadas com o uso de uma
tecnologia desse tipo. Depois, essas considerações foram esquecidas e agora o chip é visto como uma
"boa idéia". Enquanto os americanos tentavam decidir se se trata de uma boa ou má tecnologia, cidadãos
de outros países se ofereceram como voluntários para utilizá-la e receber o implante.

O Brasil está no topo da lista. Os primeiros "chipados" (um termo emergente que significa ter um chip
implantado no corpo) foram quatro cidadãos da Flórida, mas autoridades brasileiras estão vindo para os
EUA para receber o implante, devido à recente onda de seqüestros em São Paulo. Segundo fontes,
ocorre um seqüestro a cada 35 horas na cidade. Tenho certeza de que isso não é um bom cartão-postal
para o turismo. Boa parte da América Latina sofre com esse problema.

Na Cidade do México, alguns anos atrás, contaram-me que lá poucas pessoas que têm dinheiro se
arriscam a dirigir um Mercedes. Para não se tornar alvos de seqüestradores, os endinheirados optam por
velhos Fords e Volkswagens.O chip implantável é desenvolvido pela Applied Digital Solutions, de Palm
Beach, Flórida. É um pequeno dispositivo em formato de cápsula chamado VeriChip. Ele incorpora
chips conhecidos como radio-frequency identification (RFID) e um transmissor embutido num pacote
de silicone e vidro, com11 milímetros de comprimento por 2 de largura. Sua utilização original deveria
ser a coleta de informações médicas, a fim de identificar portadores de doenças como diabetes. Agora
está surgindo o uso do VeriChip como instrumento de identificação pessoal.

Embora esse chip não inclua um circuito de rastreamento no estilo GPS para localizar pessoas a longa
distância, acredita-se que seja apenas uma questão de tempo até que novas versões incluam essa
capacidade. Basta que o primeiro chip seja aceito pelo público e logo virão outros, inclusive para ser
usados contra seqüestros e outros crimes. Na verdade, quando essa tecnologia estiver em toda parte, os
criminosos também terão acesso a ela e serão capazes de desabilitar o dispositivo implantado nas
vítimas de seqüestro.

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Tecnologias de rastreamento como essas só funcionam se não forem muito populares. Nos EUA existe
um sistema anti-roubo automático chamado Lojak, que é um pequeno transmissor que sempre informa
onde está o carro. Como se trata de uma solução cara, esse aparelho é eficaz porque poucos automóveis
o têm e os ladrões não esperam encontrá-lo. Se todos os carros tivessem o Lojak, a primeira coisa que
um ladrão faria seria encontrá-lo e desativá-lo. Assim, as vantagens da tecnologia seriam reduzidas a
zero. Nesse nível, ou a tecnologia morre porque não tem outros usos ou se torna universal e, portanto,
não confere vantagem.

Hoje a computação de mesa aponta para a universalidade. Embora ela não ofereça mais uma vantagem
competitiva, ninguém quer usaruma máquina de escrever ou fazer contabilidade manualmente. O chip
implantado pode assumir um rumo similar. Poderá parecer normal monitorar as crianças com essa
tecnologia ou entrar e sair das lojas e efetuar transações em tempo real, já que você está sendo rastreado.
Imagino que certas pessoas vão enxergar tudo isso como algo muito chique e esperto. Pessoalmente, não
gosto desse tipo de coisa porque, invariavelmente, leva ao fascismo.

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EXAME 811 11.02.2004 [imprimr]

empresas

Máquina de vender | 11.02.2004


Um mergulho na Casas Bahia, gigante do varejo de eletrodomésticos e móveis, apontada
por pesquisadores da Michigan Business School como benchmark mundial no mercado da
baixa renda

Por Nelson Blecher

A baixa renda tornou-se um alvo prioritário no mundo corporativo. Grandes


corporações, a exemplo da gigante anglo-holandesa Unilever, já fizeram sua
opção preferencial pelos pobres. Há cada vez mais empresas de olho no
potencial dessa faixa de consumidores que no Brasil movimentou 372
bilhões de reais em 2003. Mas não se trata de uma tarefa fácil. Não é para
A primeira Casa Bahia em
São Caetano, nos anos 50: quem quer. Vender para as classes C, D e E é para quem sabe. No país, há
império do varejo nasceu de meio século a universidade para aprender a fazer negócios com a baixa renda
uma pequena loja
chama-se Casas Bahia. Trata-se de um caso sem similar também no varejo
mundial, como descobriu a equipe do indiano C.K. Prahalad, professor na universidade americana de
Michigan e um dos mais respeitados especialistas em temas de estratégia. Prahalad elegeu a rede como
um dos 12 casos que ilustrarão seu próximo livro, dedicado ao mercado popular, e despachou para São
Paulo dois pesquisadores de Michigan para estudá-lo. A Casas Bahia tornou-se o fenômeno no varejo
nacional. Guardadas as devidíssimas proporções, a rede está para o Brasil como a Wal-Mart para os
Estados Unidos. Seu faturamento de 6 bilhões de reais no ano passado é mais que o dobro do rival mais
próximo, o Ponto Frio, e equivale à soma dos cinco maiores. O poder conferido à Casas Bahia pela
escala de compras é sem precedentes. Em menos de uma década, suas 100 filiais multiplicaram-se para
as atuais 350, em sete estados e no Distrito Federal. Suas vendas de móveis decuplicaram, as de
refrigeradores e freezers multiplicaram-se por sete, e as de aparelhos de televisão triplicaram,
ultrapassando 1 milhão de unidades no ano passado. "Aqui, agora se vende ao ritmo de 2 000 reais por
segundo", afirma Michael Klein, primogênito do fundador da rede, Samuel Klein. Hoje, se a Casas
Bahia der um espirro, a indústria brasileira de eletroeletrônicos pega uma baita gripe.

Qual o segredo da Casas Bahia?


A habilidade para entender as necessidades emocionais e os hábitos de compra dos clientes da baixa
renda e a capacidade de viabilizar seu sonho de consumo por meio do acesso ao crédito resultaram num
modelo de negócios único no que diz respeito ao varejo. Foi o que concluiu o pesquisador de Michigan
Sami Foguel, que, orientado por Prahalad, veio a São Paulo, em maio passado, acompanhado do colega
de MBA Andrew Wilson. "A Casas Bahia prova minha tese a respeito da importância e da rentável
oportunidade de mercado existente na base da pirâmide de renda", disse Prahalad, que batizou seu novo
livro de The Fortune at the Botton of the Pyramid ("A fortuna na base da pirâmide").

Por se manter fiel ao seu modelo de vendas pelo crediário, forjado na cultura do ex-mascate Samuel, a
Casas Bahia pôde se dar ao luxo de ignorar modismos e tendências dos negócios. Não vende pela
internet, e seus carnês devem ser pagos somente nas lojas. Numa era em que a terceirização da produção
já chegou até mesmo aos grandes fabricantes, a Casas Bahia possui três fábricas somente para produzir
os móveis que comercializa. Samuel já foi criticado por manter uma frota própria de entregas, coisa da
época pré-reen genharia. Inabalável, comprou mais 157 caminhões pesados no ano passado, que se
juntaram a outros 1 200. Em um gigantesco centro de distribuição que ergueu em Jundiaí, a Casas Bahia

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mantém estoques para dois meses, no mínimo, mais do que o dobro do perseguido pelas outras redes de
varejo.

Nos calcanhares
A Casas Bahia é líder no varejo de móveis, eletrônicos e
eletrodomésticos do país, mas enfrenta concorrência de grandes
redes e hipermercados
Faturamento em N° de
Empresa Sede
2003* lojas
São Caetano do Sul,
Casas Bahia 5 987 350
SP
2 500 ** 335 Rio de Janeiro, RJ
1 070 346 Farroupilha, RS
900 175 Franca, SP
770 ** 130 Salto, SP
764 54 São Paulo, SP
520 ** 240 São Paulo, SP
Lauro de Freitas,
500 ** 54
BA
320 63 São Paulo, SP
* Em milhões de reais
** Estimativa do mercado Faturamento em 2003
Fonte: empresas

Enquanto a Casas Bahia crescia nos anos 90, alguns concorrentes tradicionais, como Mesbla, Mappin e
a rede G.Aronson, sumiam do mapa. Outros, concordatários, ressurgiram enfraquecidos, caso da
Arapuã. É verdade que nesse tempo avançaram redes como o Magazine Luiza, com sede em Franca, no
interior paulista, além de hipermercados como o Extra e o Carrefour. Nenhum deles, porém, com
musculatura suficiente para fazer sombra à rede da família Klein.

Devoção à simplicidade
Choques entre sócios, executivos engalfinhados em brigas pelo poder, nenhuma das mazelas que
costumam tumultuar a vida das empresas, levando-as à inevitável perda de foco, é vista na Casas Bahia.
A empresa é governada monoliticamente: em torno do patriarca Samuel e dos filhos Michael e Saul há
um pequeno grupo de executivos, pratas da casa, com mais de 20 anos no grupo. "Os custos
corporativos são mínimos e não sobrecarregam os departamentos", afirma o consultor Ricardo Jacob,
ex-executivo dos rivais Extra e Arapuã.

As questões que realmente importam são debatidas na sala de almoço da diretoria, no 5o andar da sede,
em São Caetano do Sul. É preciso reduzir os juros ou dilatar as prestações? Eis o fórum. Num almoço
recente, Samuel apresentou a idéia de um cliente: por que a Casas Bahia não vende também material
escolar? Aparentemente estapafúrdia para uma rede que a vida toda trabalhou com móveis e
eletrodomésticos, a sugestão nem por isso foi descartada. Ao contrário, foi examinada nos detalhes:
quanto espaço ocuparia da loja? Seriam vendidos apenas os itens básicos? Embalados em kits, como
fazem os supermercados? Um dos diretores ficou encarregado de testar a viabilidade da proposta.

Foi também num desses almoços que Samuel, tempos atrás, expôs seu plano de perdoar a dívida de
quase 1 milhão de clientes que estavam com a ficha suja no SPC. A anistia estava condicionada a que
comparecessem a uma loja da Casas Bahia para esclarecer a razão do calote. Com isso, cerca de 10%

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dos inadimplentes, os que puderam apresentar explicações convincentes, voltaram imediatamente às


compras. Do episódio resultou também uma lição. Os analistas da rede constataram que quase a metade
dos devedores havia emprestado o nome para um terceiro fazer as compras. Desde então, o
financiamento passou a ser liberado apenas se o endereço do cadastro e o da entrega do produto for o
mesmo.

A cultura devotada à simplicidade espalha-se pelas lojas. Com 25 000 funcionários, incluídos os
terceirizados e os temporários, a Casas Bahia opera com apenas três níveis hierárquicos, do vendedor à
diretoria. Há uma equipe auditando todo o tempo os caixas, os estoques e o layout das lojas. Se uma loja
fatura abaixo da previsão, a equipe formula um diagnóstico para atacar o problema. Por enquanto, os
preços estão padronizados, assim como o layout das lojas. Isso facilita a operação, mas por vezes pode
limitar oportunidades. Um programa interno recentemente desenvolvido permitirá a prática do chamado
micromarketing, com mix de produtos adequados a cada região.

Escala gigante
A começar pelo seu depósito, o maior do país entre as empresas de
varejo, até sua carteira com cerca de 14 milhões de clientes, os
números da Casas Bahia impressionam
Funcionários: 22 519
Frota própria de veículos: 1 707
Fornecedores: cerca de 3 000, que fornecem mais de 17 000 itens
Carteira de clientes: cerca de 14 milhões
Clientes ativos: 7,2 milhões/mês
Depósito principal: 240 000 m2 (área construída)
Lojas: a rede possui 350 lojas em sete estados (São Paulo, Rio de
Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Goiás) e no Distrito Federal
R$ 500 mil é o faturamento mensal mínimo admitido por loja
Investimento médio por loja inaugurada: R$ 1 milhão
24 milhões de unidades vendidas em 2003

Com suporte tecnológico sofisticado, executado por uma equipe própria de 80 técnicos (mais uma vez,
na contramão da tendência geral de terceirização da TI), a informação corre em tempo real. É possível
conferir, pela intranet, toda a movimentação da rede. As 350 lojas estão ligadas eletronicamente. Os
Klein podem monitorar as vendas por grupos de produtos ou de lojas. Da tela de seu monitor, Michael
tem condições de saber, a qualquer momento, quantos novos carnês foram abertos e em que prazo. Seu
irmão Saul, responsável pela operação das lojas, pode avaliar se os estoques do centro de distribuição
estão de acordo com as vendas e qual volume de encomendas projetará para o próximo mês.

A rede Bahia é movida pela massificação dos volumes. "O valor médio do tíquete de compra, de 400
reais, não cresce desde o início do Plano Real", diz Michael. "A lógica, então, é aumentarmos a base,
abrir lojas em novas cidades." No ano passado, 30 lojas foram inauguradas. Outras 30 deverão ser
abertas neste ano. Para selecioná-las, a diretoria vale-se de informações do Serviço de Proteção ao
Crédito. O helicóptero Agusta, de 4,3 milhões de dólares, que serve à diretoria, não é um luxo. A bordo
dele, Michael sobrevoa a periferia paulistana em busca de novos pontos, de preferência em áreas de alta
densidade populacional.

Foco, foco e foco


De cada 100 clientes da Casas Bahia, cerca de 70 não têm como comprovar renda. São vendedores
ambulantes, empregadas domésticas e pedreiros com ganhos equivalentes a dois salários mínimos
mensais. Vivem em casas com até sete pessoas, em média, situadas em bairros densamente povoados --
37 000 habitantes por quilômetro quadrado. De acordo com uma análise da consultoria Booz Allen, a
Casas Bahia penetra hoje em 40% dos lares de baixa renda. Um dos principais diferenciais da rede é a

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capacidade de explorar no limite o conceito de "acessibilidade". Ao oferecer opções de pagamento que


chegam a se estender por 18 meses, o cliente ganha acesso a bens que, sem o carnê, ficariam no sonho.
Como bem compreendeu a Casas Bahia, o sonho da baixa renda, ao contrário do que se possa imaginar,
é consumir as mesmas marcas reverenciadas pela classe média -- se gundo o relatório dos pesquisadores
da Michigan Business School. Para que a inadimplência seja mantida em nível suportável, os
vendedores da Casas Bahia são treinados para "ensinar" o cliente a comprar de acordo com sua renda
mensal. "Vestir o produto no cliente" é a expressão em voga entre os vendedores da rede. Se o cidadão
deseja um aparelho de TV de 27 polegadas, mas seu orçamento não cabe nas prestações, o vendedor o
convida a sentar-se (nenhuma negociação é feita de pé) e lhe oferece um modelo de 20 polegadas. "O
processo de educação do cliente é um fator-chave para a rede", afirma o estudo da Michigan.

Verticalização do varejo
É com a venda de móveis que a Casas Bahia colhe os melhores resultados. Nesse departamento é que
ficam evidentes as sinergias vantajosas obtidas pela empresa. Para começar, a margem bruta é 40%,
quase o dobro da obtida com os eletrodomésticos. Tão ou mais importante é saber que a média de
inadimplência nas vendas de dormitórios, mesas e estofados cai para 4%, a metade em relação aos
eletrodomésticos. No setor de varejo como um todo, 6,5% dos clientes deixam de pagar a prestação.
Mas essa média sobe para 16% quando se avalia a taxa de inadimplência dos concorrentes no mercado
popular, o dobro da Casas Bahia. "É mais fácil aprovarmos um crédito para a compra de uma cama do
que para uma TV", diz Michael. Por quê? "Móveis são bens de primeira necessidade e de difícil
revenda." Quando há atraso no pagamento, quase sempre o cliente procura renegociar a dívida, em vez
de simplesmente devolver a mercadoria. Assim, engrossar a participação de móveis no faturamento
global tornou-se crucial para que a Casas Bahia consiga reduzir a taxa de inadimplência.

Já há um plano em marcha para fazer com que os móveis, que representam 25% das vendas, passem a
responder por 40% até 2005. Uma iniciativa nessa direção foi a inauguração da terceira unidade da
Indústria de Móveis Bartira, o braço industrial da Casas Bahia, erguida ao custo de 25 milhões de reais.
A Bartira -- que nomeia as linhas de armários de cozinha, dormitórios e estantes -- produziu um terço
dos cerca de 13 milhões de móveis comercializados pela Bahia no ano passado. Os estofados ainda são
negociados com outros fornecedores. "Somos o maior consumidor individual de placas de madeira
aglomerada do país", diz Joseph Gelschyn, de 54 anos, diretor da Bartira, que começou a trabalhar com
Samuel aos 16. Quando a Bartira foi adquirida, em 1981, Samuel o convocou para assumir a direção. A
força do negócio passou a ser a produção de peças avulsas. Como a maioria dos clientes não tinha
dinheiro para comprar o dormitório completo, a Casas Bahia passou a vender separadamente a cama ou
o armário. Com o tempo, o contato direto com a freguesia gerou produtos sob medida para moradores
que vivem em minúsculos apartamentos de conjuntos habitacionais.

Empiricamente, os executivos da rede e da fábrica de móveis há muito aplicam na prática uma tendência
que só agora desponta nos negócios. Chamada de integração vertical reversa, a prática consiste em
produzir em casa as mercadorias com base no conhecimento das necessidades do consumidor. "Estamos
assistindo à volta da verticalização através do varejo", afirma o consultor paulista Marcos Gouvêa de
Souza. "Empresas como Casas Bahia, Zara e C&A conseguem administrar velozmente todo o ciclo que
vai da produção, em sintonia com a escala de demanda, à venda na loja."

As equipes das fábricas e das lojas trabalham como siamesas: nada é lançado sem que antes seja
planejada uma ação em conjunto. Semanas atrás, Allan Barros, diretor da área de móveis da rede,
encomendou a Gelschyn, da Bartira, um lote de guarda-roupas de um modelo chamado Agreste. Àquela
altura, Barros já havia esboçado uma campanha de vendas com o publicitário Sílvio Matos, presidente
da Young & Rubicam, a agência da Casas Bahia. O lote desapareceu num fim de semana, assim que a
campanha passou a ser veiculada na TV. É Barros, presente no set de filmagem, quem passa as
orientações para as campanhas. Detalhes em relação ao preço da mensalidade ou à ênfase em um ou
outro produto fazem a diferença entre vender muito e vender pouco. "Trabalhamos com pistas de
preço", diz Barros. "A prestação de um conjunto estofado popular não deve passar de 39 reais."
Acompanhado de Matos, ele visita a cada semana as lojas, conversa com vendedores e clientes. O mote
"Quer pagar quanto?" foi ouvido de um vendedor numa dessas ocasiões e acabou inspirando o bordão

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de Fabiano Augusto, o garoto-propaganda da Casas Bahia, maciçamente veiculado na TV.

A cada ano são produzidos de 200 a 300 comerciais, além de spots de rádio e veiculação em jornais.
Toda essa mobilização custa uma fortuna, certo? Os institutos especializados em avaliar os
investimentos em mídia atribuem à Casas Bahia uma verba até cinco vezes superior aos cerca de 143
milhões de reais declarados pela empresa no ano passado. Seria assim caso fosse praticado o preço de
tabela e não entrasse em ação o fator Klein. A mes ma lógica que orienta a compra de móveis e
eletrodomésticos -- "comprar bem comprado", como diz, e traduzindo: grandes volumes pelo menor
preço possível -- vale também para os investimentos publicitários.

"Vender bem vendido"


Estima-se que as cinco maiores redes varejistas tenham comercializado 45% dos 7,2 milhões de
unidades da linha branca e 15 milhões de unidades das linhas de áudio e vídeo no ano passado. A fatia
da Bahia é calculada pelos fornecedores entre 18% e 20% do total. No ano passado, de cada 100
celulares, aparelhos de TV e de DVD, 20 saíram de uma loja da rede número 1, a Casas Bahia. Essa
proporção é mais elevada em relação a máquinas de lavar (36%) e geladeiras (25%). É possível que
esses percentuais oscilem um pouco, uma vez que são calculados com base nas estatísticas de vendas
dos maiores fabricantes. "Só de itens de linha branca, compramos de 19 fornecedores", diz Michael.

Mas basta lembrar que, do faturamento de 6 bilhões de reais registrados pela Casas Bahia no ano
passado, 600 milhões foram originados de marcas da Multibrás, maior fabricante de linha branca no
país, para ter uma idéia da importância do freguês. Tanto é assim que há um acordo tácito entre as duas
empresas: se pretender reduzir as encomendas, a Bahia deverá notificar a Multibrás com três meses de
antecedência para que a produção seja redimensionada sem grandes transtornos.

"Com o estreitamento do mercado, os fornecedores ficaram dependentes da Casas Bahia, Ponto Frio,
Magazine Luiza e Lojas Cem", diz o consultor Gouvêa de Souza. "A Bahia tem uma posição de caixa
privilegiada e acaba negociando ou à vista ou antecipado, o que é vital para os fornecedores." Sua
folgada liderança possibilita cumprir à risca um dos mandamentos do fundador: "Comprar bem
comprado, vender bem vendido". Isso só se obtém com escala. "Chegamos a adquirir 120 000 aparelhos
de TV por mês", diz Samuel. "Se o fornecedor não der uma colher de chá para nós, compraremos de
quem der melhores preços e condições." Não fechar um acordo com a Bahia pode ser arriscado. "Em
2002, a Mitsubishi ficou de fora de nossas lojas de junho a dezembro", diz o diretor Barros. "Em seis
meses, a marca caiu da terceira para a 15a posição em vendas de televisores no Brasil." Ainda segundo
Barros, a Casas Bahia não repassa para a sua margem o que obtém com suas barganhas. "A Bahia não é
de queimar preços", diz Eduardo Moreno, diretor comercial da Semp Toshiba. Uma das frases lapidares
de Samuel foi dita a um amigo, o empresário Girsz Aronson, bem antes que sua rede, G.Aronson, fosse

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à lona: "Se você é o inimigo número 1 dos preços altos, você é seu próprio inimigo".

Essas vantagens obtidas nas negociações são transferidas para os financiamentos e para arcar com os
custos de serviços aos clientes. A rede emprega, por exemplo, 4 000 funcionários encarregados de
instalar os móveis na casa dos clientes. "Em vez de focar economias a fim de minimizar o capital, a
Bahia prefere negociar com seus fornecedores volumes elevados a preços baixos", afirma o relatório da
Michigan Business School. Em relação à Bahia, os fornecedores demonstram uma atitude ambígua. Há,
de um lado, uma visível preocupação com a excessiva dependência à rede. "Já se nota um movimento de
desconforto entre os fornecedores", afirma Juraci Parente, professor do centro de excelência do varejo
da Fundação Getulio Vargas. Há pelo menos um fornecedor que não concede descontos nos níveis
pretendidos pela Casas Bahia: a Philips. "A corporação tem uma política mundial contrária à
concentração de vendas", diz Michael.

Por outro lado, a Casas Bahia é vista pelos fabricantes como uma formidável máquina de vendas, que
evita os riscos de inadimplência dos pequenos e médios varejistas. "Queremos aumentar nossa
participação", afirma o empresário Eugênio Staub, presidente da Gradiente, que escoa 15% de suas
linhas de áudio e vídeo nas lojas da rede. Uma das diretrizes da Casas Bahia é não reconhecer pressões
individuais por reajustes de preço. A rede simplesmente interrompe as encomendas e transfere os
pedidos correspondentes aos concorrentes.

Homens e máquinas
A máquina de financiamento próprio faz a Casas Bahia assemelhar-se a um banco. São quase 14
milhões de clientes cadastrados, dos quais 7,2 milhões são ativos. Se fosse mesmo um banco, a Casas
Bahia só perderia em clientela para o Itaú, o Bradesco e o Banco do Brasil. Cerca de 85% das vendas
são financiadas. No entanto, criar um banco próprio nem sequer passa pela cabeça dos Klein. "Meu
negócio é vender: se eu passar a oferecer crédito, seguros, poupança e investimentos, meus clientes vão
mandar para o banco alguns reais que deveriam estar gastando conosco", diz Michael.

Outra chave para entender a veloz expansão da rede, de acordo com o trabalho dos pesquisadores da
Michigan, diz respeito aos investimentos em tecnologia. Antes da chegada dos computadores, eram
necessários 30 analistas de crédito por loja. Cada cliente era tratado como se aquela fosse sua primeira
compra. Inexistia histórico de crédito. Com o processo automatizado desde meados da década passada,
o tempo de espera dos clientes em compras de até 600 reais, que não exigem comprovação de renda, foi
reduzido de 30 minutos para 1. A tecnologia também ajudou a reduzir as fraudes, proporcionando à rede
uma economia de 400 milhões de reais a cada ano. Note: os programas são desenvolvidos em casa. Com
isso, a Casas Bahia investe 0,8% do faturamento em tecnologia, ante 3%, a média nacional.

Uma novidade, introduzida em 1995, foi o sistema automático de carnês, que, impressos, passaram a ser
enviados à casa dos fregueses. Tudo parecia perfeito e a rede economizaria 4 milhões de reais. Para
surpresa geral, depois de todas essas providências, a inadimplência havia disparado. Ao se apurar as
razões do fiasco, descobriu-se que a causa era um detalhe prosaico mas altamente relevante: como o
novo carnê não cabia no bolso, ia parar numa gaveta, e o cliente esquecia a data do vencimento. O
sistema foi refeito de modo a reduzir o tamanho do talão. Além disso, o cliente foi convidado a retirar o
carnê na loja, assegurando e certificando o recebimento do documento em mãos.

Feita para durar?


Até que ponto o modelo da Casas Bahia, que até agora vem se mostrando implacável com os
concorrentes, poderá se sustentar no futuro? Algumas ameaças vêm de mudanças de hábitos da baixa
renda, o público preferencial da rede. Há cada vez mais con sumidores dessa faixa portando cartões de
crédito. Se os clientes optarem por eles nas compras, em vez dos carnês, as visitas às lojas devem
diminuir, e com isso abalar o sistema. Por enquanto, a maior parte do crescimento das transações
eletrônicas -- de 4% para12% -- deve-se a clientes da classe média, que começaram a afluir às suas
lojas.

Estrelas de vendas
Os móveis são as grandes estrelas de vendas da Casas Bahia. Em

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segundo lugar, vêm os aparelhos de TV, com vendas que ultrapassam


1 milhão. (Unidades vendidas em 2003)

12 700 000 móveis 1 044 000 televisores 820 000 fogões

665 000 474 500 347 000 máquinas de


refrigeradores liquidificadores lavar
Fonte: empresa

A Casas Bahia quer, sim, atraí-los mais e mais. Algumas lojas em bairros nobres serão preparadas para
receber essa clientela abonada. Isso exigirá investimentos, aluguéis ou imóveis caros, o que contradiz
com o paradigma de um operador de baixo custo. Um teste nessa direção foi a megaloja aberta em
dezembro no Anhembi, em São Paulo, com a presença de artigos mais sofisticados, como TVs de
plasma, equipamentos de home theater e refrigeradores de inox. Quase a metade das compras foi paga
com cartão. Clientes do topo da pirâmide também costumam ser mais exigentes. Compram mais
equipamentos eletroeletrônicos do que móveis, a área mais lucrativa da rede. A questão é: ao atacar todo
o espectro das classes de consumo, será possível para a Casas Bahia manter o foco, fator crítico para seu
sucesso até agora?

O próprio crescimento da rede, ao ritmo de 30 novas lojas anuais, coloca o desafio de monitorar
centenas de caminhões, milhões de entregas e segurar a inadimplência de um gigantesco banco de
clientes. Os Klein consideram que agora poderão tirar vantagem competitiva da escala. Acreditam que
vai ficar mais barato crescer. E quanto ao fator humano? Ao longo dos anos, a política de recursos
humanos da Casas Bahia foi moldada em bases paternalistas. Os benefícios são comuns, dos faxineiros
aos diretores: 14o salário, cesta de alimentos mensal, premiações por metas em lojas e alguns trocados
em vésperas de feriados.

Há, finalmente, a questão da rentabilidade. Na mais recente edição de Melhores e Maiores, relativa aos
resultados de 2002, a Casas Bahia se destaca na terceira posição entre os melhores do varejo graças à
pontuação obtida com sua liderança de mercado e a riqueza gerada por empregado, bem acima da
média. O lucro líquido nominal atingiu 18 milhões de dólares. Ajustado à inflação do período, converte-
se em prejuízo de 132 milhões de dólares. Além disso, a empresa apresentou um endividamento de 470
milhões de reais. "A Casas Bahia é a empresa com o maior capital circulante líquido", afirma o
professor Ariovaldo dos Santos, da Fipecafi, da Universidade de São Paulo, responsável técnico de
Melhores e Maiores. "Porém seus resultados estão muito expostos aos efeitos da inflação." Por se tratar
de uma empresa de capital fechado, é difícil saber nos detalhes como os Klein manejam suas finanças.
O fato é que a Casas Bahia opera num dos setores que, em passado recente, demonstraram grande
vulnerabilidade às ciclotimias da economia. Também vitimada pela boataria, alguns bancos exigiram da
Casas Bahia a antecipação do pagamento de dívidas de longo prazo. Na década passada, uma operação

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de securitização de debêntures coordenada pelo Unibanco serviu para ajustar o fluxo de caixa. "A
exemplo do que fazemos com outros clientes do varejo, acompanhamos os movimentos da Casas Bahia
e periodicamente avaliamos sua capacidade de receber o que vendeu", diz Fernando Sotelino, presidente
da área de atacado do Unibanco e credor da Casas Bahia. "Neste segmento, o lado financeiro gera um
fator de risco."

A exemplo da maior parte dos grandes grupos familiares brasileiros, perpetuar o negócio é uma
preocupação dos Klein. No entanto, mais uma vez na contramão, eles descartam o receituário seguido
por grupos como Pão de Açúcar, Suzano e Odebrecht, entre outros, que profissionalizaram a gestão e
separaram o patrimônio da família do da empresa. "Tudo o que a família possui, por filosofia, é
investido na empresa", diz Michael. Na Casas Bahia o processo sucessório seguirá a tradição judaica:
Michael, por ser o mais velho dos irmãos, é quem sucederá ao pai, garantindo o controle familiar -- no
que depender dos Klein, dificilmente a Casas Bahia abrirá seu capital. "Quem tem sócio tem patrão", diz
Samuel.

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EXAME 19.03.2004 [imprimr]

empresas

Vendas da Casas Bahia crescem 30% em 2003 | 19.03.2004


A Casas Bahia, maior varejista de eletrodomésticos e móveis do país obteve uma receita de 6 bilhões de
reais em 2003. Se descontado o impacto da inflação, esse valor representa um crescimento de 30% em
relação a 2002.

A rede também emitiu 12,5 milhões de carnês de crediário, como resultado de uma política agressiva de
concessão de crédito. Em 2003, as compras feitas pelo crediário responderam por 80% das vendas da
empresa. O cartão de crédito ficou com uma fatia de 15% e as compras à vista representaram apenas
5%. A taxa de inadimplência, que segundo a rede foi de 8,5% em 2002, caiu para 8% no ano passado.

Em relação às expansões, a Casas Bahia informou que abriu 25 novos pontos de venda em 2003. Com
isso, a rede é hoje composta de 150 lojas: 197 no estado de São Paulo, 73 no Rio de Janeiro, 24 em
Minas Gerais, 20 no Paraná, 12 no Distrito Federal, oito em Santa Catarina, cinco no Mato Grosso e 11
em Goiás. Este ano, a rede planeja um investimento de 15 milhões de reais para abrir mais 30 lojas em
cidades que tenham, no mínimo, 50 mil habitantes, nos estados onde a rede já está presente.

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